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1 REFLEXÕES SOBRE OS CONTEÚDOS CURRICULARES DA HUMANITAS RETÓRICA DE CÍCERO PEREIRA MELO, José Joaquim (DFE/PPE/UEM) Marco Túlio Cícero (106-43 a.C), que se destacou na política, na filosofia e na oratória, transformou-se em um dos maiores nomes da cultura latina. No entanto, sua preocupação não ficou limitada a essas esferas de ação; ele dedicou também suas reflexões à organização de um modelo formativo, o do homem ideal, o orador. Como não poderia ter sido diferente, sua humanitas teve papel significativo nessa formação, ao condicionar a técnica retórica à cultural geral, de forma que o orador fundamentasse suas argumentações em assuntos essenciais para homem. Em Cícero, esse procedimento também podia ser entendido como uma forma de transmissão da cultura geral, cujo elemento de sustentação era a linguagem. Assim, embora ele próprio considerasse que existiam limites na obtenção dessa cultura e que não era conveniente nem possível dominá-la totalmente, entendia também que esse fato não impedia o orador de transitar pelas mais diversas áreas do saber, de se capacitar e enfrentar com segurança as tarefas tidas como verdadeiramente importantes. Vale lembrar que o fundamento, a essência e a dinâmica da humanitas ciceroneana relacionavam-se ao seguinte princípio: “La abundancia de ideas engendra la abundancia de palabras. Y si hay nobleza en las cosas mismas de que se habla, en el esplendor de la materia se reflejan las palabras” (CICERÓN, 1943, p.241). Por esse motivo, não via sentido em se ensinar a retórica separada de outros saberes e considerava necessário conjugá-la com a formação intelectual e moral, ingredientes que davam efetividade à educação, às diversas virtudes, e eram inseparáveis. Ao mesmo tempo, entendia também que o ensino da arte retórica poderia constituir um perigo, caso fosse ministrado a homens que, desprovidos de sabedoria e virtudes, poderiam empregá-la para fins não nobres. Com essa argumentação, Cícero colocou-se em oposição ao ensino meramente instrumental ou funcional da retórica. Essa forma de ensino era praticada pelos sofistas na Grécia e, depois, em Roma, pelas escolas de oradores, que faziam apologia, especialmente,

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REFLEXÕES SOBRE OS CONTEÚDOS CURRICULARES DA

HUMANITAS RETÓRICA DE CÍCERO

PEREIRA MELO, José Joaquim (DFE/PPE/UEM)

Marco Túlio Cícero (106-43 a.C), que se destacou na política, na filosofia e na

oratória, transformou-se em um dos maiores nomes da cultura latina. No entanto, sua

preocupação não ficou limitada a essas esferas de ação; ele dedicou também suas reflexões à

organização de um modelo formativo, o do homem ideal, o orador.

Como não poderia ter sido diferente, sua humanitas teve papel significativo nessa

formação, ao condicionar a técnica retórica à cultural geral, de forma que o orador

fundamentasse suas argumentações em assuntos essenciais para homem. Em Cícero, esse

procedimento também podia ser entendido como uma forma de transmissão da cultura geral,

cujo elemento de sustentação era a linguagem.

Assim, embora ele próprio considerasse que existiam limites na obtenção dessa cultura

e que não era conveniente nem possível dominá-la totalmente, entendia também que esse fato

não impedia o orador de transitar pelas mais diversas áreas do saber, de se capacitar e

enfrentar com segurança as tarefas tidas como verdadeiramente importantes.

Vale lembrar que o fundamento, a essência e a dinâmica da humanitas ciceroneana

relacionavam-se ao seguinte princípio: “La abundancia de ideas engendra la abundancia de

palabras. Y si hay nobleza en las cosas mismas de que se habla, en el esplendor de la materia

se reflejan las palabras” (CICERÓN, 1943, p.241).

Por esse motivo, não via sentido em se ensinar a retórica separada de outros saberes e

considerava necessário conjugá-la com a formação intelectual e moral, ingredientes que

davam efetividade à educação, às diversas virtudes, e eram inseparáveis. Ao mesmo tempo,

entendia também que o ensino da arte retórica poderia constituir um perigo, caso fosse

ministrado a homens que, desprovidos de sabedoria e virtudes, poderiam empregá-la para fins

não nobres.

Com essa argumentação, Cícero colocou-se em oposição ao ensino meramente

instrumental ou funcional da retórica. Essa forma de ensino era praticada pelos sofistas na

Grécia e, depois, em Roma, pelas escolas de oradores, que faziam apologia, especialmente,

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das técnicas oratórias e convertiam a eloqüência em simples técnicas de convencimento

(PINA POLO, 1997), cujo resultado era a destruição do brilho e do encantamento que ela

dava à oratória.

O PAPEL DA CULTURA GERAL NA FORMAÇÃO DO ORADOR

Segundo Cícero, para se tornar o homem ideal — orador — era necessário, conforme

já mencionado, que o sujeito trilhasse um processo formativo, composto por amplos

conhecimentos, ou seja, a eloqüência deveria se apoiar na cultura geral.

Dessa forma, ele orientou a seleção e a demarcação de conhecimentos significativos

para o exercício da oratória. Os esforços e o tempo dedicado à formação teórica não deveriam

ser excessivos a ponto de desviar a atenção do discípulo das atividades da esfera prática, que,

para ele, era a mais importante.

Por meio das palavras de Crasso, personagem central do seu Sobre o orador, diálogo

em que aborda a formação ideal para esse homem, Cícero explicita essa orientação:

Pero si perguntas, oh Catulo, lo que pienso de esta enseñanza, te diré que un hombre ingenioso ocupado en el foro, en la curia, en las causas y en la república, no necesita tanto tiempo como el que se toman los que en aprender gastan la vida. Todas las artes son tratadas de diverso modo por los que las aplican a la práctica y por los que, absortos en el arte mismo, no hacen outra cosa en la vida (CICERÓN, 1943, p.230).

Importa lembrar que, numa passagem anterior desse mesmo diálogo, Cícero já havia

se manifestado a respeito da extensão e do alcance da cultura no orador perfeito. Ele tinha

marcado posição ao defender que este homem, tido como ideal, não podia prescindir de uma

instrução universal nas ciências e nas artes. Ou seja, o orador devia conjugar ao correto uso da

palavra um profundo domínio das várias áreas do conhecimento e, de modo especial, a

filosofia (PINA POLO, 2005). Estes conhecimentos adornavam e enriqueciam o discurso,

que, em outras circunstâncias, na visão ciceroniana, limitava-se a um exercício vazio, a mera

verbosidade (CICERÓN, 1943, p.14) a uma prática recorrente entre homens desprovidos de

condições objetivas para a oratória, mas que se inscreviam para o exercício da oratória.

Por isso, Cícero ponderava com as dificuldades que se colocavam para o orador, em

razão da complexidade da vida naqueles dias: “No impondré yo a todos, y menos a nuestros

oradores, en medio de las muchas ocupaciones de esta ciudad y de esta vida, una carga tan

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pesada como la de que nada ignoren, aunque la profesión del orador parece exigir el que de

cualquier asunto pueda hablar con ornato y elegancia” (CICERÓN, 19473, p.14). Apesar

delas, o orador devia dedicar-se com a máxima seriedade ao que lhe cabia estudar e aprender,

sempre tendo em conta as suas necessidades práticas.

Cícero dignificou o comportamento e a ação dos homens que se dedicavam a oratória,

os oradores consumados, destacando que eram sempre “[...] los primeros en las contiendas de

los ciudadanos, en los peligros y en las deliberaciones públicas” (CICERÓN, 1943, p.240),

uma vez que tinham “[...] la possesión de toda esa sabiduría y doctrina”(IDEM). Ao mesmo

tempo, em sua argumentação, assumia uma postura de denúncia em relação aos que

desfrutavam do ócio, enquanto o orador se mantinha ocupado, e “[...] se apoderavon (dela)

como si se tratava de cosa abandonada y baldia” (p.241). Sua fala, neste caso, assumia um

tom de lamento e crítica: “y después de esto, o se burlan del orador con cavilaciones, con hace

Sócrates en el Gorgias, o escriben sobre el arte oratória algunos libillos que llaman retóricos”

(IDEM).

Cícero considerava usurpadores os filósofos, na medida em que tentavam tomar para

si, de maneira exclusiva, o estudo da “verdade”, enclausurando ao orador na limitada esfera

do jurídico “[...] como si fuera un esclavo, sujeto e una tahona” (CICERÓN, 1943, p.22).

Conforme denunciou, os responsáveis por essa separação foram ninguém mais ninguém

menos do que Sócrates e Platão: “[...] esa discordia entre el pensamiento y a lengua, absurdo

ciertamiente, inútil y digno de reprensión, como si a unos estuviera concedido el recto juicio y

a otros el bien decir” (CICERÓN, 1943, p.222).

No entanto, ele não eximiu os retóricos da responsabilidade, lembrando que eles

aceitaram essa condição ao se orientarem, cada vez mais, para o fácil domínio da palavra. Não

se esqueceu Cícero de que os grandes nomes da oratória do passado eram sábios, filósofos

que argumentavam sobre temas múltiplos e compreendiam as diversas áreas do saber, mas no

recôndito de suas salas. Ao orador estava reservado o privilégio de poder se expressar, com

encanto, amparado pela nobreza da eloqüência, sobre os mesmos temas já expostos de modo

árido e pouco pulsante.

Cícero não negou que alguns conhecimentos eram da competência daqueles que lhes

dedicaram a vida, mas, nem por isso, os reconheceu como oradores plenos. Esse

reconhecimento cabia àqueles tinham trânsito por todos os temas e podiam desenvolver uma

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eloqüência variada e pródiga (GALINO, 1973), própria daqueles privilegiados pelos dotes

naturais da arte do “bem falar”.

OS CONTEÚDOS NECESSÁRIOS À FORMAÇÃO RETÓRICA

À primeira impressão, Cícero estaria sinalizando para uma cultura limitada a interesses

imediatos, mas não foi bem assim. Ao contrário, sua orientação foi a de que o orador deveria

se respaldar em um vasto conhecimento, apropriar-se de muitas noções, sem as quais o

domínio da palavra constituir-se-ia em um exercício vazio e inútil.

Nesse sentido, ganharam destaque, em Cícero, aqueles ensinamentos que ele

acreditava essenciais para uma oratória plena, significativa, brilhante e convincente, enfim

que revestissem de respeitabilidade e admiração quem se preparava para a arte do “bem

falar”:

[...] el mismo discurso ha de brillar no sólo por la elección sino también por la construcción de las palabras; ha de conocer el orador las pasiones humanas, porque en excitar o calmar el ánimo de los oyentes consiste toda la fuerza y valor de la oración. Añadase a esto cierta amenidad y gracia, erudición propia de un hombre culto, rapidez y oportunidad en el responder y en el atacar, unido todo a un estilo agudo y urbano. Debe ser profundo el orador en el conocimiento de la antiguedad, y no profano en el de las leyes y el derecho civil (CICERÓN, 1943, p.13-14).

O perfeccionismo ciceroniano não se limitou a esta orientação. Quando descreveu a

concreticidade do ofício, ele definiu também todo o leque de conhecimentos que considerava

necessários ao orador:

“Léanse los poetas, conózcase la historia, recórranse los escritores y maestros en todo gênero de humanas letras; y, para ejercicio provechoso, alábeseles, interpréteseles, corríjaseles, virtupéreseles y refúteseles. Defiéndanse en toda discusión las dos partes contrarias, y así se comprenderá lo que hay de probable en cada una: hay que aprender el derecho civil, conocer las leyes, la antiguidad, la organización del Senado, las instituciones de la república, los derechos de los aliados, los tratados de paz, el estado de império, en una palabra (CICERÓN, 1943, p.50).

Essas proposições referem-se ao conjunto de conteúdos, ao esquema curricular da

formação do orador, e que podem ser agrupados em dois grandes blocos: um, que traz consigo

a rubrica do “real”, ou seja, o das artes liberais, da história, da filosofia e do direito; outro, que

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se caracteriza pelas disciplinas da dimensão metodológica: a gramática, a literatura, a dialética

e retórica (REDONDO; LASPALAS, 1997).

Assim, o cultivo da cultura universal era condição precípua para se chegar à plenitude

da eloqüência: “[...] nadie merece el título de orador si no está instruído en todas las artes

próprias de un hombre libre; pues, aunque no las usemos en el discurso, siempre se conoce y

resulta claro si somos en ellas ignorantes o no” (CICERÓN, 1943, p.28). Como, em tese, o

orador seria solicitado a tratar de todos os tipos de casos, necessitava de um grande

conhecimento. Cabia a ele vencer todos os campos do saber.

Já que o conhecimento universal seria inesgotável, Cícero optou por aquelas matérias

que, pela importância e por seu caráter prático, se faziam indispensáveis para a formação do

orador , a exemplo da história, da jurisprudência e da filosofia.

OS ESTUDOS GERAIS EM CONTRAPOSIÇÃO À TÉCNICA RETÓRICA

Em Cícero, o conhecimento histórico assumiu valor significativo no processo

formativo do orador. Sua orientação, que foi uma constante ao longo de sua carreira de

orador, era de que as argumentações deveriam ter sustentação nas reflexões sobre a história.

O valor paradigmático de se transitar pelo conhecimento histórico foi afirmado e

destacado em Sobre o orador: “La historia misma, testigo de los tiempos, luz de la verdad,

vida de la memoria, maestra de la vida, mensajera de la antiguedad, ?con qué voz habla a la

inmortalidad sino con la voz del orador” (CICERÓN, 1943, p.97). Ao apresentar esta

concepção, Cícero criou condições para a digressão sobre a história, ao mesmo tempo em que

destacou a importância de uma produção comprometida com a realidade.

Ya hábeis visto cuán próprio es del orador el escribir historia, y no sé si es la empresa más alta, atendida su variedad y la riqueza que ha de darse al estilo; y sin embargo, no encuentro sobre ella preceptos especiales en las obras de los retóricos: será porque son claros y evidentes? Pues quién ignora que la primera ley de la história es que el escritor no diga nada falso, que no oculte nada verdadero, que no haya sospecha de pasión y de aborrecimiento? Éstos son los fundamentos conocidos de todos (CICERÓN, 1943, p.105).

Segundo ele, a narrativa pedia ordem no tempo e na descrição das regiões e das

grandes realizações, nas quais se devia considerar primeiramente o propósito, depois o fato e,

por fim, o resultado. O historiador devia indicar não apenas o que foi feito e dito, mas o fim

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para o qual se fez e o modo de fazê-lo, mostrar as causas, distinguir o que coube ao acaso, à

sabedoria e à temeridade, biografar personalidades, retratar usos e costumes, proceder para

que o estilo fosse cuidado, fluente e agradável.

Em seu livro O orador, Cícero defendeu com grande clarividência suas idéias sobre a

história, mostrando a necessidade de uma formação plena para o orador (PEREIRA, 2002).

Concluiu de forma lapidar sua reflexão: “Desconecer que és lo que ha ocurrido antes de

nuestro nacimiento es ser siempre un niño (CICERÓN, 2004, p.80).

Sua referência à história põe em discussão uma lacuna da educação romana, que, em

certa medida, era ministrada pelos grammaticus, possivelmente por meio de conferências.

O estudo de poetas, como Enio (239 a.C a 169 d.C) e Névio (III a.C), oferecia os

discípulos algumas ideias gerais sobre os acontecimentos, mas o mesmo não se podia dizer de

outros escritores, já que não era prática estudar escritores da prosa nas escolas. Quando estes

eram estudados, suas qualidades, segundo Cícero, deixavam a desejar, já que não eram o que

ele esperava encontrar na história: “[...] la primera ley de la historia es que el escritor no diga

nada falso, que no oculte nada verdadero” (CICERÓN, 1943, p.105).

É interessante apontar essa lacuna na educação romana, especialmente quando se

considera a importância que, em Roma, se atribuía aos costumes e às tradições, ao estudo

cuidadoso dos acontecimentos sobre os quais se assentavam suas mais nobres tradições.

Embora alguns conhecimentos históricos fossem abordados nas escolas de retórica, não se

chegava a aprofundá-los. Além disso, quando se estudavam alguns temas da história romana,

estes eram direcionados, muitas vezes, para o exercício da declamação. Acrescente-se, ainda,

que esses temas, ao que parece, eram superados pelos da história, mitologia e fábulas gregas

(DOBSON, 1947).

A intimidade de Cícero com a história concedeu-lhe a condição de primeiro latino a

compreender as implicações teóricas dessa importante área do conhecimento (PEREIRA,

2002). Por exemplo, a discussão sobre a jurisprudência foi colocada em tela por Cícero, por

intermédio dos personagens Crasso e Antônio, de Sobre o orador. No diálogo dos dois sobre

a necessidade de o orador ser um esperto nas leis, o autor fez Antônio se posicionar contra

esta possibilidade, para em seguida, mostrar que, ao contrário de Antônio, Crasso defendia

que o orador tivesse formação nas leis. Ou seja, eram necessários, para a formação devida do

orador , os adequados conhecimentos possibilitados pela área do direito (PINA POLO, 2005).

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O passado romano foi referência para afirmar que: “[...] entre muitos outros costumes

sabiamente estabelecidos por nossos antepassados, a ciência e a interpretação do direito foram

sempre honrosos” (CÍCERO, 2002, p.104).

Antecipando a possibilidade de se levantar um problema de interpretação a respeito da

suposta superioridade do direito quando cotejado com a retórica, Cícero completou o seu

raciocínio para desfazer qualquer sinal de mal entendido. Para ele:

“Outra arte vizinha dessa, ainda mais útil e mais brilhante, é a eloqüência. Com efeito, nada supera a eloqüência, seja pela admiração que provoca, seja pela confiança que dá aos que dela necessitam, seja pelo reconhecimento que inspira aos que foram por ela socorridos. Entre as artes da paz, nossos pais a colocavam em primeiro plano” (CÍCERO, 2002, p.104).

Na contundência de sua crítica, asseverou que as leis e a jurisprudência teriam pouco

valor ou até nem um, caso não fossem defendidas com o vigor da eloqüência diante aqueles

que as fragilizavam com discursos hábeis e enganosos.

Pues, ?quién tiene dudas de que, en nuestro estado, el primer lugar en los asuntos internos y en los períodos de paz civil, lo que ha ocupado siempre la elocuencia, y el segundo el conocimiento del derecho? Y es que en la primera está el mayor favor, gloria, y seguridad, y en el segundo las reglas de las acciones y de las cauciones, este último solicita ciertamente con frecuencia ayuda a la elocuencia y, cuando ésta se opone a él, a duras penas puede defender su território y sus limites? (CICERÓN, 2004, p.91-92).

Por outro lado, alertou que não era conveniente confundir o direito, ciência que

distinguia o justo do injusto, com a habilidade de interpretar as leis positivas ou com a prática

da advocacia. Estas atividades, em absoluto, deveriam ser comparadas com a retórica, já que

tinham um caráter menos formativo, que ele discutia de duas maneiras.

Primeiro, porque a experiência da jurisprudência e da advocacia não incorporavam

relevância ao fazer político, ao contrário da habilidade retórica, que se tornava útil a esse

exercício (PEREIRA, 2002).

Para Cícero, a oratória pública, em razão de sua importância, era um excelente

instrumento da influência política, privilégio da aristocracia, que preservava para si a

responsabilidade de dirigir os destinos do Estado, como o fez, de fato, pela fala persuasiva dos

seus representantes no comando da República (KOESTER, 2005).

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Por esta mesma razão, ele afirmava que a palavra “tem o poder de abalar os espíritos

do Senado, do povo e dos que ministram a justiça” (CÍCERO, 1974, p.134). Utilizava, como

argumento, seu próprio exemplo: “[...] pela eloqüência, refreie, por vezes, os furores dos

tribunos, que vergue o povo alvoroçado” (IDEM).

Quando ainda jovem, Cícero já afirmava em seu diálogo Sobre a invenção, onde

discutiu a prática retórica, que a arte da persuasão possibilitava o avanço civilizacional da

humanidade. Era pelo ato de falar que o homem se distinguia dos outros animais. Assim, a

capacidade do homem de se expressar assumia a condição de medida da sua humanitas

(PEREIRA, 2002).

A importância atribuída por Cícero ao processo comunicativo e à capacidade

persuasiva do orador levou-o, em suas reflexões teóricas sobre o orador e sobre o estado, a um

cotejamento e a uma ponderação, explícitos ou implícitos, entre a palavra/persuasão e a

violência/guerra como estratégias políticas. Contrapôs, dessa forma, o político-orador ao

político-imperador. Por considerar a oratória um bem superior do homem público, ela deveria

ter primazia sobre a esfera militar:: cabia ao político-orador dirigir os destinos da res-public,

e, ao político-imperador, a defesa do Império e a glória decorrente de seus feitos militares

(PINA POLO, 1997).

Dessa forma, Cícero proclamou a superioridade da eloqüência em comparação com a

guerra e do orador em relação ao general, mesmo quando reconhecia a importância dos feitos

bélicos para a criação, expansão e consolidação do Império romano (PINA POLO, 2005).

O segundo motivo de Cícero considerar a jurisprudência e a advocacia menos

formativas e, portanto, inferiores à retórica relaciona-se ao fato de se tratarem de disciplinas

especializadas. Por isso, ele objetava com ironia: “[...] se vós azedardes as entranhas, a mim

que sou um homem muitíssimo ocupado, em três dias declarar-me-ei jurisconsulto”

(CÍCERO, 1974, p.136).

A crítica ciceroniana ganhou novos contornos quando denunciou que Roma se

afastava do que era “justo” para se enveredar na prática de criar, analisar, empregar e aplicar

normas legais. Além disso, preocupava-o o fato de que “[...] uma grande soma de regras

tivesse sido excelentemente estabelecida pelas leis, a maioria delas foi adulterada e viciada

pela imaginação dos jurisconsultos” (CÍCERO, 1974, p.135).

Quanto à relação que o orador devia estabelecer com a filosofia, segundo Cícero,

deveria ser de posse. Ele teria o direito de se servir da reflexões filosóficas como se fossem

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suas propriedades. Devido à sutileza do orador no tratamento dos fatos, ele é que reunia as

melhores condições para perscrutar e assimilar as partes da filosofia que lhe fossem

fundamentais, bem como levantar e seguir as orientações dela advindas. No entanto, Cícero

não tinha dúvidas: o orador deveria estar alerta nessa relação, pois nem tudo o que era

fundamental para o filósofo o era na oratória (GALINO, 1973).

Por esse motivo, ele informava que tinha aprendido a oratória no âmbito da Academus,

mas sem os exercícios realizados na escola de retórica do rhetor Apolônio Mólon, em Rodes,

já que considerava que suas palavras eram vazias.

A rigor, mesmo com a ampla preocupação pelo saber enciclopédico dos gregos, Cícero

o subordinou à ação, às atividades de caráter prático e público que privilegiava. Nesse sentido,

o conhecimento de ordem geral devia ser apenas a base, um instrumento importante para

emoldurar sua personalidade oratória e política, para auxiliá-lo a atingir o supremo bem social

e saber responder às necessidades do Estado (LOURENÇO, 1999), militância que foi uma

constante em sua vida.

Esta preocupação levou-o à seguinte divisão da filosofia: “[...] la filosofía abraza tres

partes: primera, los secretos naturales; segunda, el arte lógica; tercera, la vida y costumbres”

(CICERÓN, 1943, p.27). Com isto, Cícero mostrou a sua opção, não sem uma dose de ironia:

“[...] desejemos las dos primeras en obsequio a nuestra pereza” (CICERÓN, 1943, p.27). Para

ele, poderia, até mesmo, ocorrer certa negligência com as partes constitutivas da primeira e da

segunda, ou seja, da cosmologia e da lógica, nas quais se encontrava obscuritatem e

substilitatem, mas o orador deveria se entregar plena e efetivamente à terceira parte, à ciência

dos costumes e da vida (GALINO, 1973). Esta parte, segundo ele, sempre foi domínio da

eloqüência, portanto, do orador. Por isso, sem ela, o orador não poderia chegar à verdadeira

grandeza. Quanto às duas outras, ainda que não precisasse se preocupar com elas, poderia,

sempre que possível, de acordo com as suas necessidades e interesses, respaldar-se nos

conhecimentos que elas lhe propiciavam (CICERÓN, 1943, p.27).

O orador deveria ter claro que a filosofia proporciona material para a oratória, o que

implicava um estudo cuidadoso e aprofundado da filosofia, exemplo que podia ser tirado do

próprio Cícero, sempre preocupado com o conhecimento filosófico. Portanto, um simples

acesso técnico aos dogmas filosóficos não seria suficiente para viabilizar uma boa formação

na área (PINA POLO, 2005). Por esse motivo, ele considerava que os saberes e

conhecimentos próprios do orador eram os mesmos que os “[...] filósofos discuten acerca de

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la justicia, el deber, el regimen y gobierno de las ciudades, el método de vida y hasta la

naturaleza de las cosas” (CÍCERON, 1943, p.241).

Dessa maneira, como os dotes do orador eram o conhecimento e a perspectiva do

filósofo e a habilidade do retórico, ele era superior a esses dois sábios. Por outro lado, um

bom filósofo poderia não ser um bom orador.

Mesmo com as restrições levantadas por Cícero, a filosofia teve lugar privilegiado no

curriculum do seu orador, o que se distanciou em muito do que se ensinava nas escolas de

retórica em Roma.

Em seu Sobre o orador Cícero combateu a instrução que se ministrava em Roma,

considerando-a inadequada, insuficiente para a preparação de um verdadeira orador. Segundo

ele, essa situação era responsabilidade dos próprios romanos (GALINO, 1973). Posição clara,

principalmente quando se tem em vista que a retórica, há décadas anteriores à sua, era

ensinada em Roma por pensadores gregos.

Cícero destacou-se na educação romana pela importância que atribuía à preparação

para as funções públicas (KOESTER, 2005). Os mestres anteriores ensinavam por meio de

métodos técnicos trazidos da Grécia, mas que, embora excelentes em seus aspectos formais,

eram estranhos a mentalidade romana e se distanciavam da sua experiência (GALINO, 1973).

O resultado desse processo na formação do orador mereceu a crítica ciceroniana, que via

nesse modelo de ensino uma dupla deficiência.

O purismo e o formalismo eram a “pedra angular” do sistema latino de retórica e a

adaptação da retórica grega tinha um caráter eclético e deficiente quanto a matérias

fundamentais, em especial, a filosofia. Todas as contribuições possíveis da oratória legal e da

retórica foram herdadas da tradição helenística, cujo resultado, para Cícero, eram a

superficialidade e uma prática oratória marcada pela vontade de se fazer eficaz (KOESTER,

2005), de acordo com o consagrado nesse modelo formativo.

Essa situação resultou, em 92 a.C, na adoção de alguns procedimentos oficiais para

fechar a escola do rhetor Lucius Plotius Gallus. Constava na publicação do édito a

justificativa de que a escola era contrária à tradição (PEREIRA, 2002).

Difícil mesmo para Cícero era a aquisição e o domínio da “arte de falar”, que, para ele,

versava sobre temas comuns: “sobre las leyes y costumbres humanas. Y así como en las

demás artes es lo más excelente lo que se aleja más de la comprensión de los ignorantes, en la

oratória, por el contrario, el mayor vicio está en alejarse del sentido común y del modo usual

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de hablar” (CICERÓN, 1943, p.12). Duas questões se colocavam inseparáveis em seu

conceito de eloqüência: o cultivo do estilo com base nas técnicas retóricas e a assimilação

daquilo que era essencial na filosofia e no direito.

Nem todos ou muito poucos, segundo ele, chegariam a esse domínio, em razão das

dificuldades que se apresentavam no processo formativo (REDONDO;LASPALAS, 1997). A

amplitude do programa requisitava um grande trabalho de ordem pessoal, que passava

necessariamente pelo “[...] oír, ver, pensar, meditar y leer mucho” (CICERÓN, 1943, p.69).

Por isso, por meio das palavras de Antônio, ele representava a dúvida quanto à possibilidade

da sua realização.

De qualquer maneira, o homem preparado por uma ampla formação é que seria capaz

de transitar pelos três fins da eloqüência: provar, agradar e comover. Ele é que teria as

habilidades para despertar a multidão ou refrear seus excessos. Para ser senhor destas

condições, o homem teria que ser objeto de uma longa formação (PEREIRA, 2002).

Para Cícero, somente com uma formação consciente seria possível ao orador abordar

as questões tradicionais: “[...] de la naturaleza, de los vícios y pasiones de los hombres, del

dolor, de la muerte” (CICERÓN, 1943, p.27), bem como aquelas outras que não apareceriam

nos livros de retórica do seu tempo, apesar da importância que tinham para o fundamento do

próprio Estado: “[...] todo lo que en la república se estabelece acerca de los Dioses in

mortales, de la educación de la juventud, de la justicia, [...], y das demás instituiciones sin las

que las ciudades no pueden existir o ser bien governados” (CICERÓN, 1943, p.31).

Por fim, o último dos problemas levantados por Cícero foi o referente ao

conteúdo/matéria que deveria coroar e dar unidade ao ciclo de estudos destinados a formação

do orador.

Como não poderia ser diferente, sua solução para o problema estava na retórica, que se

constituía, para ele, na matéria que tinha por fim/objetivo favorecer/contribuir para a

aquisição da eloqüência, a principal qualidade do orador (REDONDO;LASPALAS, 1997).

Para Cícero, enquanto as demais “matérias” tinham esferas de ação bem definidas (a

medicina, que cuidava das enfermidades; a aritmética , dos números; a geometria, da

magnitude), a retórica — a arte do bem falar — precisava definir um domínio no qual pudesse

se circunscrever com tranqüilidade (GALINO, 1973).

Estas considerações põem à luz as razões de ele considerar como áridas as doutrinas

ensinadas nas escolas. Suas contundentes declarações em Sobre o orador revelam que suas

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teorias em nada se aproximavam das dos mestres da retórica. Também em O orador, onde

teorizou sobre o orador justo e ideal, fica claro que sua condição de orador não se forjou nas

escolas dos mestres de retórica, mas nos domínios da Academia (PEREIRA, 2002).

Deste modo, Cícero evidenciou que não entendia a retórica como uma simples técnica,

mas como um instrumento para fazer política em favor da comunidade, o objetivo maior. O

orador devia ser sábio, conhecedor da teoria da comunicação, e consciente de que a prática era

mais importante.

Esse posicionamento foi recorrente nas reflexões ciceronianas. À margem de

considerações estatísticas, sua maior preocupação era que o processo formativo não fizesse do

orador um simples estudioso da técnica retórica, mas um homem de grande cultura, que

dominasse o conhecimento do maior número possível de disciplinas. Sua argumentação tinha

como base a idéia de que o conhecimento proporcionado pela matéria a ser tratada devia

preceder as palavras e não o inverso, como era comum em Roma (PINA POLO, 2005).

Suas reflexões sobre o tema revelaram uma profundidade que se contrapunha à

artificialidade da retórica helenística tardia, além de ter um caráter essencialmente romano.

Em lugar do purismo formalista, modismo promovido pela influência do aticismo (estilo que

pregava as emoções em favor da racionalidade do discurso), e da tenuidade do conhecimento

de cunho especializado, Cícero ordenou a disciplina da linguagem, segundo o que considerava

como o autêntico conhecimento da matéria. Por isso, exortava o orador a ser persuasivo por

meio da clareza e a se conter diante dos artifícios da retórica (KOESTER, 2005). Em Cícero,

essa questão era insofismável. “[...] habiendo nacido así el arte de la elocuencia, y no la

elocuencia del arte” (CICERÓN, 1943, p.47).

Esse posicionamento, quase um lamento, deve-se ao que ele considera um triunfo da

retórica sobre a eloqüência. Em toda a sua reflexão, ele se posicionou contra o que entendeu

como inversão de valores, contra aquele que fazia da retórica um fim e não um elemento

subordinado à eloqüência. Esta, por seu turno, circunscrevia-se a um âmbito bastante discreto

entre as regras da arte que, desde a sofística, tentavam ganhar espaço e se efetivar (GALINO,

1973).

A parte mais difícil, para Cícero, era defender a tese de que a filosofia e a dialética

deveriam ser subordinadas a retórica, principalmente porque essa questão já havia sido

discutida em Fedro, onde Platão defendeu a superioridade da filosofia sobre a eloqüência,

convertendo a retórica em simples aplicação da dialética.

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Embora a argumentação de Cícero encontrasse sustentação nas próprias reflexões

platônicas, ganhou uma orientação que se contrapunha à do filósofo grego: o cultivo da

linguagem, a forma, tinha maior excelência que o enriquecimento da inteligência. Cícero

entendia que, no fundo, a segunda não se realizaria sem a primeira.

Ao finalizar sua argumentação, Cícero até mesmo admitiu a possibilidade de a

dialética ser superior à retórica no plano “teórico”, já que ela ajudava a matéria preocupada

com o tratamento do discurso. Porém, no plano “prático”, para ele, o essencial, a

superioridade, estava na retórica, por conceder ao orador a possibilidade de se tornar

persuasivo e convincente, por resultado, admirado, reconhecido e prestigiado (REDONDO;

LASPALAS, 1997).

As questões, conforme se colocam, vão ao encontro deste amplo e variado programa

formativo que, em um primeiro momento, tinha por preocupação oferecer matérias e

conteúdos destinados ao exercício da compreensão e, somente em um segundo momento,

enveredar pelo caminho da especialização oratória, propriamente dita. Por isso, Cícero

alertava para o perigo avindo da tendência de se desviar o processo formativo do orador de

uma sólida base de cultura geral, para privilegiar uma especialização prematura, situação já

posta na educação romana e contra a qual ele dirigiu toda a sua reflexão (GALINO, 1973).

Vale considerar que Cícero tinha claro o duplo perigo resultante de tão amplo

programa formativo: primeiro, o discípulo poderia se perder em estudos sucessivos sobre as

diversas áreas do saber e sua vida seria curta para dominá-las efetivamente; segundo, poderia

ocorrer um deslumbramento por parte do pretendido orador, já que os objetivos propostos

pela retórica eram de prepará-lo para discorrer sobre qualquer temática, o que resultaria num

verbalismo vazio.

Para descaracterizar essa interpretação, Cícero esclareceu as razões da importância

atribuída aos estudos gerais, em contraposição à simples especialização retórica,

(REDONDO; LASPALAS, 1997), e mencionou os “[...] justos limites” (CICERÓN, 1943,

p.103), o que traziam consigo, como exigência, não se perder, não importando a situação, no

“[...] aparato de controvérsia, ni sua disputa de palabras” (IDEM), ao contrário de muitos

gregos aos quais, na concepção ciceroniana, a “controvérsia de palabra ha atormentado

sempre [...], más amantes de la polémica que de la verdad (CICERÓN, 1943, p.22).

Nesse esforço de teorização, Cícero procurava construir um projeto para formar um

homem ideal, o orador consumado, justo e perfeito, adequado à República romana

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(LEONHARDT, 2003). Ele tinha ciência da dificuldade que o discípulo enfrentaria no estudo

aprofundado das diversas áreas do conhecimento, que, para ele, era responsabilidade dos

respectivos especialistas, mas isso não o impediu de atribuir ao orador o direito de transitar

por esses conhecimentos e assim argumentar com segurança sobre todos os temas

pretendidos.

Com este encaminhamento, Cícero voltou-se para as questões gerais, ao menos no que

diz respeito à ética e à moral, ao conceito de educação que procurava esboçar. Embora esse

ideal de homem proposto por Cícero estivesse direcionado para a aristocracia, o que

importava para o momento eram os preceitos éticos e morais, por ele defendidos, que não se

limitaram a setores sociais específicos, mas, por isso mesmo, ganharam caráter universal. Em

outras palavras, a formação etico-moral ciceroniana brindou seu tempo e os futuros. com

normas de vida perenes que transcenderam tempo, espaço e cultura, ratificando sua condição

de atual.

REFERÊNCIAS

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Dos deveres. São paulo: Martin Claret, 2002.

CICERÓN, Marco Tulio. Bruto. Madrid: Alianza Editorial, 2000.

CÍCERO, Marco Tulio. Defesa de Murena. Lisboa: Verbo, 1974.

CICERÓN, Marco Tulio. Diálogos del orador. Buenos Aires: EMECÉ Editores, 1943.

DOBSON, J.F. La educacion antigua. Buenos Aires: Editorial nova, 1947.

LEONHARDT, Jürgen. Filosofia entre ceptismo e confissão. In: ERLER, Michael;

GRAESER, Andreas (orgs.) Filósofos da Antiguidade. Do Helenismo à Antiguidade

tardia. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003.

GALINO, María Ângela. Historia de la educación. Edades Antigua y Media. Madrid:

Editorial Gredos, 1973.

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KOESTER, Helmut. Introdução ao novo testamento. História, cultura e religião do

período helenístico. Vol I. São Paulo: Paulus, 2005.

LOURENÇO, João Daniel. Cícero. Lisboa: Editorial Inquérito, 1999.

PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de história da cultura clássica. Vol II. 3º ed.

Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.

PINA POLO, Francisco. Marco Tulio Cicerón. Barcelona: Ariel, 2005

PINA POLO, Francisco. Contra arma verbis. El orador ante el pueblo en la Roma

tardorrepublicana. Zaragoza: Instituición Fernando el Católico, 1997.

REDONDO; Emílio; LASPALAS, Javier. Historia de la educación. I Edad Antigua.

Madrid: Editorial Dykinson, 1997.