reflexões sobre alfabetização - emilia ferrero

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 REFLEXÕES SOBRE ALFABETIZAÇÃO Emília Ferreiro   PREFA CIO Telma We isz, ao escrever o prefácio do livro de Emília Ferreiro, afirma que o mesmo não traz para o leitor nenhum novo método, nem novos testes, nada que se pareça com uma solução pronta. orém, a autora !Ferreiro" oferece ideias a partir das quais é  possível repen sar a prática esco lar da alfa#etizaç ão, por meio dos resultados o#tidos em suas pesquisas científicas. Emília Ferreiro, $outora pela universidade de %ene#ra, teve o privilé&io de ter sido orientanda e cola#oradora de 'ean ia&et. Ferreiro realizou suas pesquisas so#re alfa#etização, principalmente, na (r& entina, país onde nasceu e tam#ém no )é*ico. (nteriormente +s pesquisas de Ferreiro, a crença implícita quanto + questão de alfa#etização era de que tal processo começava e aca#ava na sala de aula e que a aplicação do método correto &arantia ao professor o controle do processo de alfa  #etização dos alunos.  -a medida em q ue um nmero ma ior de alunos pas sou a ter acesso a educaç ão, ampliouse tam#ém o nmero do fracasso escolar. -a aus/ncia de instrumentos para repensar a prática falida e os fracassos escolares, passouse a #uscar os culpados0 os alunos, a escola e os professores. Tal momento promoveu uma revolução conceitual,  principalmente no q ue se refere + alfa #etização. (s pesquisas de Ferreiro e de seus cola#oradores romperam o imo#ilismo lamuriento e acusat1rio, impulsionando um esforço coletivo na #usca novos caminhos para que o educador rompa o circulo vicioso da r eprodução do analfa#etismo.  APRESENTA ÇÃO  Por Emília Ferreiro. Ferreiro afirma que o livro apresenta quatro tra#alhos produzidos em momentos diferentes, porém dentro da mesma linha de preocupaçã o que é o de contri#uir para uma refle*ão so#re a intervenção educativa alfa#etizadora, a partir de novos dados oriundos das investi&aç2es so#re a psicogênese da escrita na criança. 3uas investi&aç2es evidenciam que o processo de alfa#etização nada tem de mec4nico, do ponto de vista da criança que aprende. $estaca que a criança desempenha um papel ativo na busca da compreensão desse objeto social, complexo, que é a escrita.

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REFLEXÕES SOBREALFABETIZAÇÃO

Emília Ferreiro 

 PREFACIO

Telma Weisz, ao escrever o prefácio do livro de Emília Ferreiro, afirma que o mesmonão traz para o leitor nenhum novo método, nem novos testes, nada que se pareça comuma solução pronta. orém, a autora !Ferreiro" oferece ideias a partir das quais é

 possível repensar a prática escolar da alfa#etização, por meio dos resultados o#tidos em

suas pesquisas científicas.

Emília Ferreiro, $outora pela universidade de %ene#ra, teve o privilé&io de ter sidoorientanda e cola#oradora de 'ean ia&et. Ferreiro realizou suas pesquisas so#realfa#etização, principalmente, na (r&entina, país onde nasceu e tam#ém no )é*ico.

(nteriormente +s pesquisas de Ferreiro, a crença implícita quanto + questão dealfa#etização era de que tal processo começava e aca#ava na sala de aula e que aaplicação do método correto &arantia ao professor o controle do processo de alfa

 #etização dos alunos.

 -a medida em que um nmero maior de alunos passou a ter acesso a educação,ampliouse tam#ém o nmero do fracasso escolar. -a aus/ncia de instrumentos pararepensar a prática falida e os fracassos escolares, passouse a #uscar os culpados0 osalunos, a escola e os professores. Tal momento promoveu uma revolução conceitual,

 principalmente no que se refere + alfa#etização.

(s pesquisas de Ferreiro e de seus cola#oradores romperam o imo#ilismo lamuriento eacusat1rio, impulsionando um esforço coletivo na #usca novos caminhos para que oeducador rompa o circulo vicioso da reprodução do analfa#etismo.

 APRESENTAÇÃO

 Por Emília Ferreiro. 

Ferreiro afirma que o livro apresenta quatro tra#alhos produzidos em momentosdiferentes, porém dentro da mesma linha de preocupação que é o de contri#uir para umarefle*ão so#re a intervenção educativa alfa#etizadora, a partir de novos dados oriundosdas investi&aç2es so#re a psicogênese da escrita na criança. 3uas investi&aç2esevidenciam que o processo de alfa#etização nada tem de mec4nico, do ponto de vista dacriança que aprende.

$estaca que a criança desempenha um papel ativo na busca da compreensão desseobjeto social, complexo, que é a escrita.

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Capítulo17

 A REPRESENTAÇÃO DA LINGUAGE E O PROCESSO DE ALFA!ETI"AÇÃO

Ferreiro destaca que, tradicionalmente, a alfa#etização é considerada em função da

relação entre o método utilizado e o estado de 5maturidade5 ou de 5prontidão5 da criança.6s dois p1los do processo de aprendiza&em quem ensina e quem aprende - t/m sidoconsiderados sem levar em consideração o terceiro elemento da relação que é anatureza do objeto de conhecimento envolvendo esta aprendizagem.

( partir desta constatação, a autora a#orda de que maneira este o#7eto de conhecimentointervém no processo utilizando uma relação tríade0 de um lado, o sistema derepresentação alfabética da linguagem com suas caractersticas especficas! por outrolado as concepç"es de quem aprende #crianças$ e as concepç"es dos que ensinam#professores$, sobre este objeto de conhecimento.

1. A Escrita como Sistema de Rerese!ta"#o

 % escrita pode ser considerada como uma repre#e$ta%&o da linguagem ou como $mc%di&o de tra!scri"#o &r'(ica das $!idades so!oras. ( autora destaca que a invençãoda escrita foi um processo hist&rico de construção de um sistema de representação enão $m sistema de codi(ica"#o. 

$essa forma, se considerarmos o sistema de representação do nmero e o sistema derepresentação da lin&ua&em, no início da escolarização, as dificuldades que as criançasenfrentam são dificuldades conceituais semelhantes +s da construção do sistema e porisso podese afirmar que, em am#os os casos, a criança reinventa esses sistemas, ouse7a, para poderem se servir desses elementos como elementos de um sistema, as crianças devem compreender seu processo de construção e suas re&ras de produção, o quecoloca o pro#lema epistemol1&ico fundamental0 qual é a natureza da relação entre oreal e a sua representação.

( partir dos tra#alhos de 3aussure 7á conce#emos o si&no lin&uístico como a uniãoindissolvel de um si&nificante com um si&nificado. 8 o caráter #ifásico do si&nolin&uístico, a natureza comple*a que ele tem e a relação de referencia o que está em

 7o&o.

(s escritas do tipo alfa#ético, e mesmo as silá#icas, poderiam ser caracterizadas comosistemas de representação cu7o intuito é representar as diferenças entre os si&nificantes9enquanto que as escritas do tipo ideo&ráfico poderiam representar diferenças nossi&nificados.

3e conce#ermos a escrita como um c%di&o de tra!scri"#o do so!oro ara o &r'(ico privile&iandose o si&nificante !&rafia" dissociado do si&nificado, destruímos o si&nolin&uístico por privile&iamos a técnica e a mecanização.3e conce#ermos aprendera lngua escrita como a compreensão da construção de um

 sistema de representação em que a grafia das palavras e seu significado estãoassociados, #apropriação de um novo objeto de conhecimento$ estaremos realizando

uma aprendizagem conceitual.

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) * As co!ce"+es das cria!"as a reseito do sistema de escrita

( criança realiza e*ploraç2es para compreender a natureza da escrita e isto pode sero#servado através das suas produç2es espont4neas, que são valiosos documentos que

 precisam ser interpretados para poder ser avaliados.

(s escritas infantis t/m sido consideradas como &aratu7as e 5puro 7o&o5. (prender a l/las, ou se7a, interpretálas é um aprendizado que requer uma atitude te1rica definida.

 -as práticas escolares tradicionais, há uma concepção de que a criança s1 aprendequando su#metida a um ensino repetitivo. -o entanto, elas i&noram que devem pedir

 permissão para começar a aprender. 3a#er al&o a respeito de certo o#7eto não si&nificasa#er al&o socialmente aceito como 5conhecimento5. '(aber' significa ter construdoalguma concepção que explica certo conjunto de fen)menos ou de objetos da realidade.

Ferreiro, analisando as produç2es espont4neas das crianças, através de suas pesquisasconfirmou que as mesmas possuem hip&tese * ideias * teorias sobre a escrita,

apresentando uma evolução psicogenética. 

(s primeiras escritas infantis aparecem, do ponto de vista &ráfico, como linhasonduladas ou que#radas, contínuas ou fra&mentadas, ou como uma série de elementosdiscretos repetidos. ( apar/ncia &ráfica não é &arantia de escrita, a menos que seconheçam as condiç2es de produção.

 -o referencial tradicional, as professoras prestam atenção nos aspectos &ráficos das produç2es das crianças, i&norando os aspectos construtivos. $o ponto de vista construtivo, a escrita infantil se&ue uma linha de evolução surpreendentemente re&ular e podemser distin&uidos tr/s &randes períodos no interior dos quais ca#em mltiplassu#divis2es.

ara e*ecutar suas ideias !em seus escritos" a criança0a" faz distinção entre a modo de representação ic:nico !fi&urativo" e não ic:nico !nãofi&urativo".

 #" constr1i formas de diferenciação9 faz diferenciação intrafi&ural que consistem noesta#elecimento de propriedades que um te*to deve possuir para poder ser interpretável.6s critérios intrafi&urais se e*pressam so#re o ei*o quantitativo !mínimo de tr/s letras"e so#re o ei*o qualitativo !variação de caracteres"9 faz a diferenciação interfi&urais queé a criação de modos sistemáticos de diferenciação entre uma escrita e a se&uinte, para

&arantir a diferença de interpretação que será atri#uída,c" desvela a fonetização da escrita !desco#re a relação som ; &rafia", começa com o período silá#ico e culmina no período alfa#ético.Ferreiro, analisando a evolução da escrita infantil reconhece quatro períodos, quedenomina como0 perodo pré-sil+bico, perodo sil+bico, perodo sil+bico-alfabético e

 perodo alfabético.

a, -eríodo -r*Sil'/ico

(s crianças escrevem sem esta#elecer qualquer correspond/ncia entre a pauta sonora da palavra e a representação escrita. Escreve coisas diferentes apesar da identidade o#7etiva

das escritas e relaciona a escrita com o o#7etivo referente !E*. coloca mais letras na

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 palavra <elefante5 do que na palavra #or#oleta =ealismo -ominal".E*emplos de escrita présilá#ica0 

IL0STRAÇÃO l a. Escrita sem diferenciaç2es interfi&urais !(driana >,? anos".

@. 6 que voc/ desenhouA Bm #oneco.C. onha o nome. !=a#isco." !a"D. 6 que voc/ colocouA (le !seu irmão".>. $esenhe uma casinha. !$esenha"?. 6 que é issoA uma casinha.. onha o nome. !=a#isco" !#".. 6 que voc/ escreveuA GasinhaH. Ioc/ sa#e colocar o seu nomeA !Juatro ra#iscos separados" !c".K. 6 que é issoA (driana.@L. 6nde diz (drianaA !(ssinala &lo#almente"@@. or que tem quatro

 pedacinhosA... porque sim.@C. 6 que diz aquiA !@M" ([email protected] aqui !CM" (l#erto ! seu pai".@>.E aquiA !DM". (le !seu irmão".@?.E aquiA !>M" Tia icha.

 

@. pei*e9 !C" o &ato #e#e leite9 !D" &alinha9 !>" fran&uinho9 !?" pato9 !" patos

 

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l L0STRAÇÃO ) Escrita com diferenciação interfi&urais !Garmelo ,C anos".

 

!@" Garmelo Enrique Gastilho (vellano !uma letra para cada nome".!C" vaca.!D" mosca!>" #or#oleta!?" cavalo!" mamãe como tacos !comida típica me*icana"

/, -eríodo Sil'/ico

 % escrita sil+bica é o resultado de um dos esquemas mais importantes e complexos que se constroem durante o desenvolvimento da leitura escrita. quando se d+ a descober-ta de que as representaç"es escritas têm um vnculo com a pauta sonora da palavra!uma letra para cada slaba tantas letras quantas slabas. -o mesmo período em#oranão necessariamente ao mesmo tempo as letras podem começar a adquirir valoressonoros silá#icos relativamente estáveis as partes sonoras semelhantes entre as palavras.

IL0STRAÇÃO a. Escrita silá#ica !letras de forma convencional, mas utilizadas sem seu valor sonoroconvencional" cada letra vale por uma síla#a !'or&e, anos".

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!@" &a to !&ato"!C" mariposa !#or#oleta"!D" ca#aNlo !cavalo"!>" pez !pei*e"!?" mar !mar"!" el&ato#e#eleche5!o &ato #e#e leite"!(s palavras foram mantidas no ori&inal espanhol para que o processo aqui ilustradofaça sentido".

 

IL0STRAÇÃO /. Escrita silá#ica !va&ais com valor sonoro convencional"0 cada letra vale por uma síla#a!Francisco, anos".@. F=(-GN3G6 !Francisco"C. )(=N63( !#or#oleta"D. (O6)( !pom#a">. ('(=6 !pássaro"?. %(T6 !&ato"

. ( T6 !pato". EP !pei*e"H. EP !CQ tentativa" !pei*e R CQ tentativa "

2, -eríodo Sil'/ico*Al(a/tico 6 período silá#icoalfa#ético marca a transição entre os esquemas prévios em via deserem a#andonados e os esquemas futuros em vias de serem construídos. 6s conflitos

 provenientes do meio social desesta#ilizam a hip1tese silá#ica e a criança tem cora&emde se comprometer em um novo processo de construção.

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IL0STRAÇÃO 3 Escrito silá#icoalfa#ética !'lio Gésar, anos"

!@" &ato !&ato"!C" mariposa !#or#oleta"!D" ca#aNlo !cavalo"!>" pez !pei*e"!?" mar !mar"!" el &ato #e#e leche !o &ato #e#e leite"

!(s palavras foram mantidas no ori&inal espanhol para que o processo aqui ilustradofaça sentido".

c" eríodo (lfa#éticoGonsiste no período que a criança desco#re que a síla#a não pode ser considerada comounidade, mas que ela é por sua vez, reanalisável em elementos menores.

 -este momento, deve haver uma estruturação dos vários elementos que comp2em osistema de escrita. Tratase de conhecer o valor sonoro convencional.a" pelo lado quantitativo não pode esta#elecer re&ularidade duplicando a quantidade deletras por síla#a !7á que há síla#as com @,C,D, ou mais letras".

 #" pelo lado qualitativo, pro#lemas orto&ráficos !a identidade de som não &aranteidentidade de letras nem a identidade de letras a de sons".

2aít$lo ) * AS 2O42E-ÇÕES SOBRE A L5460A S0BA2E4TE 8 -R9TI2A:O2E4TE

(s discuss2es so#re a prática alfa#etizadora t/m se centrado so#re os métodosutilizados0 analíticos versus sintéticos9 fonético versus &lo#al, etc.

 -enhuma dessas discuss2es levou em conta as concepç2es das crianças so#re o sistemade escrita.

( nossa compreensão dos pro#lemas, tal como as crianças os colocam e da sequ/ncia de

soluç2es que elas consideram aceitáveis, é, sem dvida, essencial para um tipo de in

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tervenção adequada á natureza do processo real da aprendiza&em. =eduzir estaintervenção ao método utilizado é limitar nossa inda&ação.

8 til se per&untar por meio de que tipos de práticas a criança é introduzida nalin&ua&em escrita e como se apresenta este o#7etivo no conte*to escolarA

Sá práticas que levam as crianças a supor que o conhecimento é al&o que os outros possuem e que s1 pode o#ter da #oca dos outros, sem participar dessa construção9 há práticas que levam a pensar que <o que e*iste para se conhecer< é um con7unto,esta#elecido de coisas, fechado, sa&rado, imutável e não modificável. Sá práticas quelevam a criança a ficar de <fora< do conhecimento, como espectador ou receptormec4nico, sem nunca encontrar respostas aos porqu/s.

 -enhuma prática peda&1&ica é neutra e estão apoiadas nas concepç2es do processoensino e aprendiza&em, #em como o o#7eto dessa aprendiza&em. 3ão essas práticas enão os métodos, que t/m efeitos no domínio da lín&ua escrita ou em outros

conhecimentos. ( refle*ão psicopeda&1&ica necessita se apoiar em uma refle*ãoepistemol1&ica.

( autora destaca que das suas diferentes e*peri/ncias com profissionais de ensinoaparecem tr/s dificuldades conceituais iniciais que necessitam ser esclarecidas0

a" a visão adultoc/ntrica !adulto 7á alfa#etizado"9 #" confusão entre escrever e desenhar letras9c" e a redução do conhecimento do leitor ao conhecimento das letras e seu valorconvencional.Esclarecendo essas dificuldades iniciais, é possível realizar a análise das concepç2esso#re a lín&ua escrita su#7acentes a al&umas dessas práticas0a" (s pol/micas so#re a ordem em que devam ser introduzidas as atividades de leitura eas de escrita.

 #" $ecis2es metodol1&icas0 a forma de se apresentar as letras individuais #em como aordem de apresentação de letras e de palavras, o que implica uma sequ/ncia do fácil<ou <difícil<.

( autora descreve as e*peri/ncias peda&1&icas realizadas por (na Te#erosUV, emarcelona, #aseada em tr/s ideias simples, porém fundamentais0

a" $ei*ar entrar e sair para #uscar informação e*traescolar disponível, com todas asconsequ/ncias disso9 #" 6 professor não é mais o nico que sa#e ler e escrever na sala de aula9 todos podemler e escrever, cada um ao seu nível9c" (s crianças não alfa#etizadas contri#uem na pr1pria alfa#etização e na doscompanheiros quando a discussão a respeito da representação escrita de lin&ua&em setorna prática escolar.

CONCLUS'ES 

8 importante ter claro que as mudanças necessárias para enfrentar so#re #ases novas a

alfa#etização inte&ral não se resolvem com $m !o;o mtodo de e!si!o< nem com!o;os testes de ro!tid#o< nem com !o;os materiais did'ticos.

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3e&undo Ferreiro, é preciso mudar os pontos por onde n1s fazemos passar o ei*o centraldas nossas discuss2es. ara ela, temos uma ima&em empo#recida da lín&ua escrita euma ima&em empo#recida de criança que aprende, um !o;o mtodo não resolve os pro

 #lemas.  preciso reanalisar as pr+ticas de introdução da lngua escrita.

Ferreiro acredita ter che&ado a momento de se fazer uma revolução conceitual a respeitoda alfa#etização.

Capítulo ( ) A COPREENSÃO DO SISTEA DE ESCRITA* CONSTRUÇ'ESORIGINAIS DA CRIANÇA E INFORAÇÃO ESPEC+FICA DOS ADULTOS 

 E#,rito por Emília Ferreiro e A$a Te-ero#/

( leitura e a escrita, há muito são consideradas como o#7eto de uma instruçãosistemática e cu7a aprendiza&em, suporia o e=ercício de $ma srie de >a/ilidadesesecí(icas. )uitos tra#alhos de psic1lo&os e educadores t/m se orientado neste

sentido.

(s autoras realizaram pesquisas so#re os processos de compreensão da lin&ua&emescrita e a#andonaram estas ideias, pois, para elas, as atividades de interpretação e de

 produção da escrita começam antes da escolarização como parte da atividade da idade préescolar. Essa aprendiza&em se insere em um sistema de concepç2es previamenteela#oradas e não pode ser reduzida a $m co!?$!to de tc!icas erceti;o*motoras. 

( escrita não é $m rod$to escolar@ mas sim um objeto cultural que cumpre diversas funç"es e tem meios concretos de existência especialmente nas concentraç"es urbanas.

1. Co$#tru%0e# Orii$ai# 2a# Cria$%a#

or meio de diferentes situaç2es e*perimentais, as autoras o#tiveram dentre osresultados o se&uinte0

X apro*imadamente aos quatro anos, as crianças possuem s1lidos critérios para admitirque uma marca &ráfica possa ou não ser lida9X o primeiro critério é a de fazer uma dicotomia entre o <fi&urativo<, por um lado, e o<nãofi&urativo<, pelo outro !ic:nico e nãoic:nico". 3ur&e o critério de <quantidade<mínima de caracteres0 am#os são construç2es pr1prias da criança.

3. I$4orma%0e# E#pe,í4i,a#

 -o desenvolvimento da lin&ua&em e*iste uma série de concepç2es que não podem seratri#uídas a uma influ/ncia direta do meio, !a escrita em sua e*ist/ncia material". 3ãoconcepç2es acerca das propriedades estruturais e do modo de funcionamento de certoo#7eto.

(o contrário, e*istem conhecimentos específicos so#re a lin&ua&em escrita que s1 podem ser adquiridos por meio de outros !leitores adultos ou crianças maiores".

 % criança que cresce em meio letrado est+ exposta a interaç"es, se vê continuamenteenvolvida, como agente e observador no mundo letrado. 6s adultos lhes dão a possi

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 #ilidade de comportarse como leitor, antes de s/lo, aprendendo precocemente oessencial das práticas sociais li&adas + escrita.

(. Aluma# Impli,a%0e# Pe2a5i,a#

( dimensão das quest2es pode suscitar de imediato uma per&unta0 se a compreensão daescrita começa a se desenvolver antes de ser ensinada, qual é o papel, principalmentedos professores no que tan&e + aprendiza&emA E a escolaA

( transformação desta prática é difícil, mas a Escola pode cumprir um papel importantee insu#stituível, a7udando as crianças, especialmente as filhas de pais analfa#etos ousemianalfa#etos. 6 professor é quem pode minorar esta car/ncia, adaptando o seu pontode vista ao da criança.

(l&uns aspectos so#re os quais os professores deveriam estar atentos0

a" 3e a escrita remete de maneira 1#via e natural + lin&ua&em, estaremoss$er;aloria!do as caacidades da cria!"a $e pode estar lon&e de ter desco#ertasua natureza fonética.

 #" Em contrapartida, poderíamos menosprezar seus conhecimentos ao tra#alhare*clusivamente com #ase na escrita@ como c%ia e so!oria"#o dos &ra(emas. c" -ão desvalorizar seus esforços para compreender as leis do sistema tratando suasrod$"+es como ra/iscos. d" (valiar tendo em vista os processos e intenç2es e não apenas como certo o$ errado@do ponto de vista orto&ráfico.e" Ynfase na rod$"#o de tra"ado reduz a escrita a um o#7eto 5em si5, de naturezae*clusivamente &ráfica.f" 6s pro#lemas que a criança enfrenta em sua evolução não estão su7eitos áqualificativos em termos de CsimlesC o$ Ccomle=osC. 3ão os pro#lemas que ela

 pode resolver de forma coerente e não aleat1ria.&" Finalmente, se s% !os diri&irmos Ds cria!"as $e comartil>em al&$!s de !ossosco!>ecime!tos dei*aremos dei lado uma &rande parte da população infantil estacionadaem níveis anteriores a esta evolução condenandoa ao fracasso.

6. Pro,e##o# 2e A7ui#i%&o 2a Lí$ua E#,rita $o Co$te8to E#,olar 

Estamos acostumados a considerar a aprendiza&em da leitura e da escrita como um

 processo de aprendiza&em escolar !controle sistemático", que há &rande dificuldade emconsiderar que o desenvolvimento da leitura ; escrita acontece antes da escolarização.

(s crianças i&noram este controle e desde que nascem estão construindo o#7etoscomple*os de conhecimento e o sistema de escrita é um deles.

( construção de um o#7eto de conhecimento é muito mais que uma coleção deinformaç2es. Nmplica a construção de um esquema conceitual, que permite interpretardados prévios e novos dados, isto é, que possa rece#er informação e transformála emconhecimentos9 um esquema conceitual que permita processos de interfer/ncia acercadas propriedades nãoo#serváveis de um determinado o#7eto e a construção de novos

o#serváveis, na #ase do que se antecipou e do que foi verificado.

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6 prop1sito de controlar o processo de aprendiza&em sup2e que os procedimentos deensino determinam os passos na pro&ressão da aprendiza&em.

Ferreiro adverte que os estudos de ia&et nos o#ri&aram a reconhecer a import4ncia deconsiderar os processos da criança no desenvolvimento co&nitivo, o#ri&andonos a

a#andonar o ponto de vista do adultocentrismo.( pesquisa de Ferreiro, além da análise qualitativa, apresenta dados quantitativos procurando evidenciar que não se está referindo a uma minoria de crianças.

ro7eto de esquisa na $iretoria %eral de Educação Espacial)inistério de Educação do)é*ico @[email protected]#7etivo rincipal rático conhecer e descrever o processo de aprendiza&em queocorre nas crianças antes de serem rotuladas como <crianças que fracassam<.

6#7etivo Te1rico sa#er se as crianças que in&ressam no @M. %rau em níveis préalfa#éticos de concepção leitura;escrita, se&uirão com a mesma pro&ressão evidenciada

 por outras crianças antes de entrarem para a escola, a despeito do fato dos métodos e procedimentos de ensino procurarem conduzilos diretamente ao sistema alfa#ético daescrita.

opulação (lvo !crianças repetentes ou evadidas" de tr/s cidades !)é*ico centro,)onterreV R norte e )érida sul" @ escolas índice maior de <fracassos< e @?K classesde @Q série que entravam pela primeira vez na escola.(mostra K?K crianças, entrevistadas a cada dois meses e meio9 finalizouse o tra#alhocom HH dessas mesmas crianças.

Testa&em foram propostas quatro palavras dentro de um dado campo sem4ntico !nomede animais ou de alimentos" com variação sistemática no nmero de síla#as !de @ a >síla#as".

Eventos HLZ de crianças começaram o ano pré silá#icas9 @D crianças nível alfa#éticoe @@ crianças não terminaram a testa&em. 6s totais finais de HC crianças e D.>>Hentrevistas.adr2es Evolutivos (o lon&o do ano escolar0

X DDZ passam de um nível de conceitualização sem omitir passo.X DHZ se&uiram passos semelhantes, porém omitindo o nível silá#icoalfa#ético.

X @DZ não mostraram qualquer pro&ressão de um nível ao se&uinte e nenhuma permaneceu no silá#icoalfa#ético.X !C?" crianças que entraram no nível silá#icoalfa#ético não tiveram pro#lemas.X @Z passaram do présilá#ico ao alfa#ético !cumprem as e*pectativas da escola".X @Z passaram por outros tipos de escrita.X ?CZ passaram pelo silá#ico !>?@ crianças".X HZ in&ressaram ao nível silá#ico e che&aram ao alfa#ético.$e outra parte, as crianças que in&ressaram no présilá#ico !LH" não che&aram aoalfa#ético na mesma proporção.X ??,?Z !das DKD" che&aram ao alfa#ético.X @>,?Z !@LD" che&aram ao silá#icoalfa#ético.

X @?Z !@L" che&aram ao nível silá#ico.

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7/21/2019 Reflexões Sobre Alfabetização - Emilia Ferrero

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X @>,HZ !@L?" permaneceram ao lon&o do processo sem compreender a relação escritana pauta sonora das emiss2es.

CONCLUSÃO( partir dos dados, o#servase que s1 as crianças de nível silá#ico ou silá#icoalfa#ético

apresentamse <maduras< para in&ressar no @M &rau. Nsto si&nificaria dei*ar HLZ dascrianças fora da escola sendo que são as que mais necessitam de escolarização.

CAP+TULO 9 ) DE:E)SE OU NÃO SE DE:E ENSINAR A LER E ESCRE:ER NA PRE)ESCOLA; U PRO!LEA AL COLOCADO

( pol/mica so#re a idade 1tima para o acesso + lín&ua escrita ocupou milhares de pá&inas escritas por vários pesquisadores.6 pro#lema sempre foi colocado tendo por pressuposto serem os adultos que decidemquando essa aprendiza&em deverá ou não ser iniciada.ara Ferreiro, a função da pré-escola deveria ser de permitir /s crianças que não

tiveram convivência com a escrita, informaç"es b+sicas sobre ela, em situaç"es de uso social #não meramente escolar$.

ara tanto é necessária ima&inação peda&1&ica para dar +s crianças oportunidades ricase variadas de intera&ir com a lin&ua&em escrita0

X Formação psicol1&ica para compreender as respostas e as per&untas das crianças.X Entender que a aprendiza&em da lin&ua&em escrita é muito mais que a aprendiza&emde um c1di&o de transcrição e sim a construção de sistema de representação.