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Paulo Gracino REFLEXÕES DE UM MENDIGO CORDEL – 2014

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Page 1: Reflexões de um mendigo - Paulo Gracino

Paulo Gracino

REFLEXÕES DE UM MENDIGO

CORDEL – 2014

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PAULO GRACINO

REFLEXÕES DE UM MENDIGO

CORDEL2015

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REFLEXÕES DE UM MENDIGO Paulo Gracino

Venho aqui me apresentar Pra quem quer me conhecer, Porque sei que eu existo, Mas o povo não vai ver. Quando me vê desconhece, Quem me conheceu, esquece E assim eu vivo a viver.

Apesar de invisível Pra sua sociedade Sou aquele que você Só enxerga a maldade, Não passo de um bandido, Sou mais um caso perdido Em meio à realidade.

Sei que comumente sou Chamado de vagabundo, De marginal e desgraça, Que só atraso seu mundo. Pra você sou o safado Que já está condenado Ao sofrimento profundo.

Sou tudo que envergonha Este mundo tão bonito. Pras crianças inocentes Sou o sujeito esquisito. Pra o adulto consciente Eu nem chego a ser gente, Sou o atraso infinito.

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Paulo Gracino_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

Se todos me vêem assim, Não sou de fato invisível, Pois pra me vê desse jeito Eu preciso estar visível. Se pareço um animal Feroz e que faz o mal, Não me vê é impossível. Isso é só contradição E vamos deixar de lado, Mas eu quero confessar Que você não está errado. Se roubo, sou criminoso. Se mato, sou perigoso. Está mais que confirmado. Quando furto, por exemplo, Teu moderno celular, Aquele que te coloca Com o mundo todo a falar, Sou bandido e marginal Porque sei que afinal Nem tenho pra quem ligar. Sei que realmente mancho A beleza destas praças. Minhas roupas são bem sujas E roídas pelas traças, Nunca esbanjo alegria, Eu nem tenho moradia Pra sair destas desgraças. __________________________4

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_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Re flexões de Um Mendigo_.

Daí, eu sou vagabundo Só por não ter moradia. Quem me vê passa por longe, Muita gente se arrepia, Dá logo uma coceira, Depressa sai na carreira, Dizendo ter alergia. Confesso, sou marginal, Causando o seu sofrimento. Porque o certo seria Ter um bom comportamento Pra não lhe causar tristeza, Porque isto com certeza Causa-lhe constrangimento. Aliás, o mais correto Seria eu ser educado, Andar limpo e cheiroso E muito bem arrumado. Nem vê essa vida feia, Sempre de barriga cheia No meu carrão importado.

Mas se isso assim fosse, Dava prá reconhecer. Mas já que sou marginal, É assim que tem que ser. Por isso é que sou safado, Mereço ser espancado, Humilhado até morrer. ____________________________5

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Paulo Gracino_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

Sou safado porque fico Das “quebradas”, espiando A tua linda esposa Que passa na rua andando, Elegante e bem cheirosa, Muito bonita e charmosa, Parece estar desfilando. Às vezes, até sabemos Que ela está a desfilar, Doidinha que o povo olhe E fique a lhe apreciar, Mas eu sendo um coitado, Se olhar já sou tarado E estou querendo estuprar. Daí é que eu lhe digo: É tudo porque Deus quer. Até porque é pecado Cobiçar outra mulher. E o correto seria Eu ter minha moradia E uma linda mulher.

Pra quando eu chegar em casa Ela vir me abraçar, Fazendo muito carinho, Beijando vir me amar. Juntar toda criançada, Cairmos na gargalhada Sem de nada lamentar. ____________________________6

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_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Re flexões de Um Mendigo_.

Isso seria um sonho, Sem ter nada de real, Porque afinal de contas Eu sei que sou marginal, Não tenho nem profissão E adoro a destruição Desta ordem natural. A ordem que Deus criou E ninguém vai destruir. A ordem em que você brilha E eu pareço sumir, Crescendo a tua autoestima, Empurrando a te pra cima, Mas pisando pra eu cair. Por destruir esta ordem, Um novo nome eu ganhei. É um nome bem bonito, Até já me acostumei De ser chamado de Vândalo, Que aceito sem escândalo. Assim sou, assim serei.

Mas se eu sou isso tudo Não dá pra acreditar Que sou um ser invisível, Pois estou em todo lugar. Onde exista um abrigo Tu encontrarás comigo Sem sequer me procurar. ________________________7

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Paulo Gracino_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

Mas se ainda persistes Em achar que não existo, O problema não é meu, Nada tenho a ver com isto. Tens que acreditar em mim, Não fui eu quem quis assim, Foi o Pai de Jesus Cristo. Às vezes nem sei quem sou Com tanta definição. Cada nome que recebo Só aumenta a frustração, Quase sempre me confundo Sem saber se neste mundo Sou realmente um cristão. Você também se esquece De aceitar a verdade, Não entende que vivemos Na mesma sociedade. Pare com seu devaneio, Somos produtos do meio, Encare a realidade.

Eu concordo com você E entendo seu ideal. Sei que isto não é justo, Está fora do normal. Como eu posso atrapalhar A paz que vive a reinar No seu mundo colossal? ___________________________8

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______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________ R eflexões de Um Me ndigo_.

Reconheço a minha culpa Por viver sempre a errar. Vou tentar andar na linha, Buscando me equilibrar No eixo bom da moral, Porque sei que afinal Preciso me acostumar. Preciso me habituar A conviver no meu mundo. Catar comida no lixo, Dormir um sono profundo No meio de cobra e rato, Percevejo e carrapato No porão do submundo. Outra coisa que preciso, Buscar na minha vivência, É ajudar ao seu mundo No combate à violência, Pois é assim que se faz, Afinal eu vivo em paz, Sem precisar de clemência. A minha paz é eterna, Muito justa e soberana. Viver assim como vivo É uma coisa bacana. Sei que sou iluminado, Não posso ser comparado Com a famosa raça humana. ______________________9

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Paulo Gracino_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

Raça humana que insiste Em matar pra ter a paz, Que busca através da guerra O bem que lhe satisfaz, Que vê nos problemas seus, Erros que remete a Deus Ou então ao Satanás. Por isto peço desculpas Pelo fato de existir. Prometo me adequar E aprender não fugir Do meu honroso presente, Tentando ser bem contente, Muito feliz a sorrir. Só não sei por quanto tempo A promessa vai durar, Porque viver esta vida Sem nunca te incomodar, Confesso ser impossível, Mesmo sendo invisível, Não dá para acreditar. Perceba que os humanos, Cada qual é diferente. Existe o sujeito mau, Existe o bom e decente. Por isso, bom cidadão, Guarde no seu coração: Mendigo também é gente. _________________10

FIM

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