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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
REFLEXÕES ACERCA DA EFICÁCIA DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE INTERNAÇÃO À LUZ DO ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
EDMAR EVERSON ALVES
Itajaí, 24 de maio de 2006
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
REFLEXÕES ACERCA DA EFICÁCIA DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE INTERNAÇÃO À LUZ DO ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
EDMAR EVERSON ALVES
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professora Especialista Débora C. F. Scheikmann
Itajaí, 24 de maio de 2006
AGRADECIMENTO
À Prof. esp. Débora C. F. Scheikmann, minha Orientadora, que contribuiu de forma decisiva para a conclusão deste trabalho e que me honrou com sua sapiência e rigor científico desta pesquisa.
iii
DEDICATÓRIA
A minha Mãe, Maria Mendes da Silva
Alves pelo exemplo de abnegação aos
seus filhos.
Aos meus familiares, pelo incentivo e
por acreditarem no meu sucesso.
iv
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, 24 de maio de 2006
Edmar Everson Alves Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Edmar Everson Alves, sob o título
REFLEXÕES ACERCA DA EFICÁCIA DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE
INTERNAÇÃO À LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, foi
submetida em 24 de maio de 2006 à banca examinadora composta pelos
seguintes professores: MSc. José Hildefonso Bizato, Esp. Fabiano Oldoni e Esp.
Débora C. F. Scheikmann e aprovada com a nota 9.8 (nove ponto oito).
Itajaí , 24 de maio de 2006
Esp. Débora C. F. Scheikmann Orientador e Presidente da Banca
MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
vi
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CBIA Centro Brasileiro para a Infância e a Adolescência
CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
DCA Departamento da criança e do Adolescente
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
FCRIA Fundação da Criança e do Adolescente
FEBEM Fundação Estadual do Bem Estar do Menor
FUNABEM Fundação Nacional do Bem Estar do Menor
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ILANUD Instituto Latino Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e do Tratamento do Delinqüente
IML Instituto Médico Legal
NAI Núcleo de Atendimento Integrado
ONU Organização das Nações Unidas
OIT Organização Internacional do Trabalho
PNABEM Política Nacional do Bem Estar do Menor
SAM Serviço de Assistência a Menores
UI Unidade de Internação
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Adolescente
É o indivíduo na adolescência, que se entende como período que sucede à
infância. Inicia-se com a puberdade e acaba com a maioridade. Deriva do Latim
adolecere, que significa crescer.1
Quem tem entre 12 anos completos a 18 anos incompletos.2
Ato Infracional
O ato infracional nada mais é do que a conduta descrita como tipo ou
contravenção penal, cuja denominação se aplica aos inimputáveis.3
Criança
Na acepção jurídica, assinala o período que vai do nascimento à puberdade.4
Pessoa natural que conte menos de 12 (doze) anos de idade.5
Doutrina da proteção integral
Esta doutrina baseia-se na concepção de que criança e adolescente são sujeitos
de direitos universalmente reconhecidos, não apenas de direitos comuns aos
adultos, mas, além desses, de direitos especiais, provenientes de sua condição
1 DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 165. 2 TAVARES, José de Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 8. 3 OLIVEIRA, Raimundo Luis Queiroga de. O Menor Infrator e a Eficácia das Medidas Socio-educativas. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4584. acesso em 27 fev. 2006. 4 DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 145. 5 TAVARES, José de Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 8.
viii
peculiar de pessoas em desenvolvimento, que devem ser assegurados pela
família, Estado e sociedade. 6
Eficácia
É a qualidade da norma vigente de produzir, no seio da coletividade, efeitos
jurídicos concretos, considerando, portanto não só a questão de sua condição
técnica de aplicação, observância, ou não, pelas pessoas a quem se dirige, mas
também a de sua adequação em face da realidade social, por ela disciplinada, e
dos valores vigentes na sociedade o que conduziria ao seu sucesso. A eficácia
diz respeito, portanto, ao fato de se saber se os destinatários da norma ajustam,
ou não, seu comportamento, em maior ou menor grau às prescrições normativas,
ou seja, se cumprem, ou não, os aplicam ou não. Trata-se da eficácia jurídica.7
Eficiência
Do latim efficientia, capacidade de produzir um efeito. [...] Capacidade de um
indivíduo ou de um sistema de trabalho de obter bons desempenhos num
determinado tipo de tarefa.8
Estatuto da Criança e do Adolescente
O Estatuto da Criança e do Adolescente é um documento legal inovador, por
tratar a criança e o adolescente como indivíduos em desenvolvimento, com todos
os direitos do adulto, que sejam aplicáveis à sua idade, além daqueles que lhe
são devidos, por suas próprias características etárias.9
Internação
Consiste a internação em afastar temporariamente o adolescente do convívio
sócio-familiar, colocando-o em instituição, sob responsabilidade do Estado. 10
6 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar. 1996. p. 28. 7 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998. p.273. 8 LAROUSSE. Grande dicionário cultural de língua portuguesa. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 341. 9 JUSTEN, Chloris Casagrande. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Instituição
Escolar. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, 1993. p.6. 10 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente: Uma proposta interdisciplinar.
p. 572.
ix
Medida Sócio-Educativa
A medida socioeducativa é uma mistura complexa e pluridimensional que não se
limita apenas na proposta material interventiva – intromissão e ingerência estatal
– e externa, mas também, compõe-se de razões profundas, das quais tal
proposição se origina e quais os valores fundamentais que traz em si. A medida
socioeducativa, por si só, já se configura numa intervenção – ingerência – exterior
sobre a pessoa do adolescente autor de um comportamento contrário à lei.11
11 RAMIDOFF, Mário Luiz. Lições de direito da Criança e do Adolescente. Curitiba: Juruá,
2006. p. 82.
x
SUMÁRIO
RESUMO.......................................................................................... XII
INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS LEGISLAÇÕES RELATIVAS A DIREITOS DO MENOR ATÉ O ADVENTO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE...................................................... 3 1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ..............................................................3 1.2 A PROTEÇÃO DA INFÂNCIA NOS DOCUMENTOS INTERNACIONAIS.......4 1.3 HISTÓRICO DA CONSOLIDAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE NO BRASIL ................................................................................7
CAPÍTULO 2 .................................................................................... 23
DO ATO INFRACIONAL E DAS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS. 23 2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES. ...........................................................23 2.2 DO ATO INFRACIONAL.................................................................................23 2.3 DA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL .....................................................25 2.4 DAS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS ..........................................................32 2.4.1 DA ADVERTÊNCIA .....................................................................................32 2.4.2 DA OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO.................................................35 2.4.3 DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE ....................................37 2.4.4 DA LIBERDADE ASSISTIDA......................................................................39 2.4.5 DO REGIME DE SEMILIBERDADE ............................................................41 2.4.6 DA INTERNAÇÃO. ......................................................................................43
CAPÍTULO 3 .................................................................................... 49
REFLEXÕES A RESPEITO DA EFICÁCIA DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. ..................................................... 49 3.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES. ...........................................................49 3.2 DA DISTINÇÃO DOS CONCEITOS DE EFICÁCIA E DE EFICIÊNCIA DA NORMA JURÍDICA...............................................................................................50 3.3 DOS CENTROS DE INTERNAÇÃO. ..............................................................52 3.3.1 A INEFICIÊNCIA DA EXECUÇÃO MEDIDA DE INTERNAÇÃO – COMO PARADIGMA O COMPLEXO DO TATUAPÉ ......................................................54 3.3.2 DA EFICÁCIA DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO PREVISTA NO ECA. .......60 3.4 DO SENTIMENTO DE IMPUNIDADE E DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL. .................................................................................................................67
xi
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 72
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 76
RESUMO
A presente monografia tem por tema uma reflexão acerca da
Eficácia da Medida Sócio-Educativa de Internação prevista no Estatuto da Criança
e do Adolescente. Seu objeto é a reflexão sobre a viabilidade ou não da medida
de internação, como meio ressocializador do adolescente infrator. Tem como
objetivo fazer algumas reflexões a respeito da eficácia da Medida de Internação,
haja vista que, na atualidade, o Estatuto tem sofrido sérias críticas e
questionamentos como instrumento eficaz para ressocialização do adolescente
infrator. Verifica-se que, a Medida Sócio-Educativa de Internação prevista no
Estatuto da Criança e do Adolescente, na maior parte dos Centros de Internação,
não possuem condições de executabilidade, pois deixam de ministrar aos
adolescentes em conflito com a lei, a reeducação indispensável para a sua
reinserção na sociedade, conforme prevê o ECA. Por um outro lado, quando os
Centros de internação são estruturados conforme os princípios orientadores do
ECA, verifica-se que a medida torna-se eficaz. Por conseguinte, quando o Estado
não cumpre com sua responsabilidade para o exato cumprimento das Medidas
Sócio-Educativas, o que se verifica é algo que destoa da medida de internação, a
qual, a priori, não ressocializa o adolescente. Já quando o Estado está presente e
implementa as medidas previstas ocorre uma resposta positiva deste
adolescente, corroborando com o entendimento de que se aplicada de forma
correta a medida de internação se reveste de plena eficácia.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto uma reflexão acerca
da eficácia da medida sócio-educativa de internação, à luz do Estatuto da Criança
e do Adolescente.
Seus objetivos são: institucional: produzir uma monografia
para obtenção do grau de bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí,
UNIVALI; geral: verificar, com base, principalmente, na doutrina, legislação e
dados estatísticos a questão da medida sócio-educativa de internação;
específicos: verificar por meio da obtenção de dados estatísticos e doutrina, a
eficácia da medida de internação, aprofundando o conhecimento a respeito deste
instituto.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de
apresentar a evolução e consolidação das legislações referentes à proteção da
Criança e do Adolescente, tanto no âmbito interno quanto externo. Sob o
contexto interno tratará das legislações desde o Brasil Império até o advento da
Doutrina de Proteção Integral que culminou no Estatuto da Criança e do
Adolescente. Já no âmbito externo, discorre-se, cronologicamente, a respeito das
principais legislações, as quais representaram e representam ainda, conquistas
da criança e do adolescente à uma legislação especial.
No Capítulo 2, enfocará a questão do ato infracional e da
sua apuração, haja vista que é em conseqüência deste que ocorrerá a
conseqüente aplicação da medida sócio-educativa. E a posteriori, tratar-se-á as
medidas sócio-educativas, discorrendo a respeito destas de forma individualizada,
explicitando seus objetivos, funções e peculiaridades como resposta da sociedade
ao ato infracional cometido pelo adolescente.
No Capítulo 3, tratará de refletir a respeito da eficácia da
medida de internação, se está é realmente eficaz, analisando a questão da
medida sócio-educativa. Discorrer-se-á ainda sobre os Centros de Internação, as
2
experiências positivas e negativas para verificar a eficácia ou ineficácia da medida
sócio-educativa.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões
sobre a eficácia da medida de internação.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:
�� Os mecanismos e os meios utilizados no instituto da internação para a ressocialização do adolescente infrator não condizem com as orientações previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, haja vista que não respeita os princípios da proteção integral instituídas pelo ECA;
�� O aparato Estatal atual é deficiente no aspecto estrutural, não há instituições adequadas, munidas de espaço físico, apoio educacional e psicológico ao adolescente que lá é internado. Desta feita, verifica-se que os Centros de Internação são incapazes de reeducar, resgatar e manter a dignidade do adolescente em conflito com a lei;
�� Na atualidade, é possível constatar a ineficácia da medida sócio-educativa de Internação.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados
o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa
Bibliográfica.
3
CAPÍTULO 1
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS LEGISLAÇÕES RELATIVAS A DIREITOS DO MENOR ATÉ O ADVENTO DO ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A constituição de uma norma Jurídica decorre das
aspirações, da evolução de uma sociedade. Há de ter em mente que a medida
que esta interage com as relações sociais depara-se com novos problemas, os
quais são sanados, adequando ou mesmo criando novas normas para a
satisfação e a boa convivência social.
A princípio, para efetuar toda e qualquer análise quanto a
possíveis temas elencados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, deve-se
conhecer como esta Lei foi concebida, que carga cultural está engendrada e a
evolução do pensamento relativo aos direitos da criança e do adolescente ao
longo da história.
Desta feita, seria falho efetuar uma análise do Estatuto da
Criança e do Adolescente sem antes entender como este se consolidou. E assim
sendo, analisar-se-á a evolução histórica das legislações referentes ao menor
desde o Brasil colônia até a os dias atuais. Há de se ter em mente que os fatores
econômicos e sociais estão vinculados diretamente na gênese de legislações
relativas à proteção do menor.
Este capítulo trabalhará as legislações no âmbito
internacional e ainda internamente, mesmo as mais incipientes, instituídas no
Brasil. Contudo, é mister a análise de cada legislação em seu momento histórico,
haja vista que o contexto social definirá o que é necessário para a concepção de
proteção ao menor.
4
1.2 A PROTEÇÃO DA INFÂNCIA NOS DOCUMENTOS INTERNACIONAIS
Os primeiros passos no sentido da proteger a infância pode
ser visualizada por meio dos esforços da Liga das Nações e da Organização
Internacional do Trabalho, as quais tinham com meta abolir ou controlar o trabalho
infantil e o combate ao tráfico de crianças.
Sobre este tema aduz Ana Maria Lima Lobo12:
Na extinta Liga das Nações e na Organização Internacional do Trabalho (OIT) promoveram-se discussões a respeito dos direitos da criança. Assim é que a OIT, em 1919 e 1920 adotou três Convenções que tinham por objetivo abolir ou regular o trabalho infantil. Já a Liga das Nações, em 1921, estabeleceu um Comitê especial com a finalidade de tratar das questões relativas à proteção da criança e da proibição do tráfico de crianças e mulheres.
Será em 1924 com o advento da Declaração de Genebra
que começa a ser desenvolvida a idéia de que a criança e o adolescente
necessitavam de uma legislação especial, a qual determinava a necessidade de
dar a criança uma proteção especial.
Expõe Andrade13 quanto aos motivos que determinaram a
Declaração de Genebra:
A situação crítica vivida pela infância ainda no início deste século, agravada pelo flagelo que representou a Primeira Guerra Mundial, levou a Sociedade de Nações, precursora da atual ONU, a adotar a primeira Declaração em que se recolhiam os direitos da criança, no ano de 1924, conhecida como Declaração de Genebra. Tal Declaração –um texto breve e genérico, composto de cinco artigos–, não obstante a ausência de coercitividade, representou um marco inicial. Assentava as bases para o reconhecimento e
12LOBO, Ana Maria. ��� ������� ��� ������� �� ��������� ��������� ��������� ���
http://www.apriori.com.br. Acesso em 23 fev. 2006. 13 ANDRADE, Anderson Pereira de. A Convenção sobre os Direitos das Crianças em seu
décimo aniversário: Avanços, efetividade e desafios. In: Âmbito Jurídico, ago/00. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/aj/eca0005.htm. Acesso em 23 fev. 2006.
5
proteção dos direitos da infância, além de cristalizar mudanças em relação à concepção sobre a autonomia e os direitos da criança e do adolescente. A Declaração de Genebra trazia à luz ademais o importante conceito denominado interesse superior da criança, mais tarde retomado e desenvolvido pela Convenção de 1989.
Souza14 afirma que o Tratado de Genebra não obteve
realmente êxito quanto ao reconhecimento internacional dos direitos da criança e
do adolescente devido ao contexto social, em virtude do insucesso da Liga das
Nações. Contudo, será com o advento da Declaração Universal dos Direitos do
Homem é que se reconhecerá, em âmbito internacional, a necessidade de
cuidados especiais referentes às crianças.
No relativo à proteção especial da criança, preceitua
Souza15:
Somente com a Declaração Universal do Homem, contudo, reconheceu-se, pela primeira vez, universalmente, que a criança deve ser objeto de cuidados e atenções especiais. Tal reconhecimento deu-se por força do item 2 do artigo XXV, onde se dispôs claramente que “a maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especial. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesmo proteção social”.
Apesar de todos os esforços dos tratados acima citados,
será a Declaração Universal dos Direitos da Criança que se consolidará como um
instrumento eficaz de abrangência internacional tanto na esfera privada com
pública.
14 SOUZA, Sérgio Augusto G. Pereira de. A Declaração dos Direitos da Criança e a Convenção
sobre os Direitos das Criança. Direitos Humanos a proteger em um mundo em guerra. Jus Navegandi, Teresina, ª 6, n. 53, jan. 2002. Disponível em: htpp://jus2.uol.com.Br/ doutrina/texto.asp?id2568. Acesso em 26 fev. 2006.
15 SOUZA, Sérgio Augusto G. Pereira de. A Declaração dos Direitos da Criança e a Convenção sobre os Direitos das Criança. Direitos Humanos a proteger em um mundo em guerra. Jus Navegandi, Teresina, ª 6, n. 53, jan. 2002. Disponível em: htpp://jus2.uol.com.Br/ doutrina/texto.asp?id2568. Acesso em 26 fev. 2006
6
Neste sentido entende Souza16:
O primeiro instrumento específico a surgir com real importância dentro da nova ordem internacional que se estabelecia foi a Declaração Universal dos Direitos da Criança, no ano de 1959. Essa Declaração tornou-se um guia para a atuação, tanto privada como pública.
A posteriori, em 1969, tem-se a Convenção Interamericana
de Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, o
qual se consolidou como um forte instrumento que visava coibir os abusos e os
maus-tratos sofridos pelas criança e adolescentes.
Sobre essa temática explica Schreiber17:
O pacto de San José da Costa Rica é um poderoso instrumento na proteção dos interesses das crianças e adolescentes, contra toda a sorte de abusos e maus-tratos. Convém ressaltar que qualquer pessoa, grupo ou entidade não governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-Membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação às dispoisições da Convenção América por um Estado Parte.
Em 29 de novembro de 1985 institui-se a Resolução 40.33
da Assembléia Geral da ONU – Regras de Beijyng que estabeleceram normas
mínimas para a administração da Justiça da Infância e Juventude.
No relativo as Regras de Beijyng aduz Colpani18:
16 SOUZA, Sérgio Augusto G. Pereira de. A Declaração dos Direitos da Criança e a Convenção
sobre os Direitos das Criança. Direitos Humanos a proteger em um mundo em guerra. Jus Navegandi, Teresina, ª 6, n. 53, jan. 2002. Disponível em: htpp://jus2.uol.com.Br/ doutrina/texto.asp?id2568. Acesso em 26 fev. 2006
17 SCHREIBER, Elisabeth. Os Direitos Fundamentais da criança na violência intrafamiliar. Porto Alegre: Ricardo Lenz, 2001. p. 65.
18 COLPANI, Carla Fornari. A responsabilidade do adolescente infrator e a ilusão de impunidade. Jus Navegandi, Teresina, a. 8 n. 162, 15 dez. 2003: Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4600. Acesso em 23 fev. 2006.
7
[...] estabelecem como orientação fundamental a necessidade de promover o bem estar da criança e do adolescente, bem como de sua família, prevendo que a Justiça da Infância e da Juventude será concebida como parte integrante do processo de desenvolvimento de cada país.
Em 20 de novembro de 1989, a Convenção sobre os Direitos
da Criança foi adotada por unanimidade, pela Assembléia Geral das Nações
Unidas. Diferentemente da Declaração, a Convenção tem força coercitiva
engendrada em sua estrutura.
Sobre o caráter coercitivo inserido na Convenção entende
Souza19:
A convenção tem características próprias, dentro das quais uma das mais importantes é o seu caráter de Lei Internacional, ou seja, sua força obrigacional não é passível de discussão pelos Estados que a ele aderem. O compromisso assumido pelos Estados Partes tem reflexos imediatos na ordem interna de cada Estado, o que confere aos Direitos da Criança uma força até então inédita.
Após ter demonstrado cronologicamente a evolução das
legislações internacionais que visavam e visam a proteção da criança e do
adolescente, discorrer-se-á sobre as legislações protetivas da criança e do
adolescente no âmbito interno, ou seja, ao longo da história do Brasil.
1.3 HISTÓRICO DA CONSOLIDAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE NO BRASIL
Na visão de Veronese20, os primeiros atos que visavam,
ainda que de forma incipiente, a proteção do menor no Brasil ocorreu na
19 SOUZA, Sérgio Augusto G. Pereira de. A Declaração dos Direitos da Criança e a Convenção
sobre os Direitos das Criança. Direitos Humanos a proteger em um mundo em guerra. Jus Navegandi, Teresina, ª 6, n. 53, jan. 2002. Disponível em: htpp://jus2.uol.com.Br/ doutrina/texto.asp?id2568. Acesso em 26 fev. 2006
20 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. São Paulo: Ltr, 1999. p.11.
8
Constituinte de 1823, quando José Bonifácio apresentou um projeto que visava o
menor escravo. Projeto este que consistia na redução de horas de trabalho a
partir do terceiro mês da mãe (escrava) gestante e a posteriori quando do
nascimento da criança teria mais três meses de convalescência, e, durante um
ano não trabalharia longe de sua prole. Salienta-se que tal medida era mais de
interesse econômico que propriamente de direitos da criança.
A posteriori, em 1862, verifica-se a efervescência dos
movimentos abolicionistas, e a conseqüente pressão social, pretendendo que o
Senado aprove uma lei, de autoria de Silveira da Mota, que entre outras ações
proibia a venda de escravos sob pregão e exposição pública, como também a
venda de escravos separados de sua família, ou seja, o filho do pai e, o marido da
mulher.21
Paulatinamente, a questão da escravidão vai se tornando
insustentável, e com o advento da Lei do Ventre livre em 1871, verifica-se,
gradativamente, a extinção da escravidão infantil.
Aduz liberati22, que:
A Lei n. 2.040, de 28.02.1871, também conhecida como Lei do Ventre Livre ou Lei Rio Branco, promulgada pela Princesa Isabel, concedia liberdade às crianças nascidas de mães escravas, objetivando impedir que a escravidão continuasse por meio dos filhos dos escravos.
A respeito do declineo da escravidão infantil preceitua
Matoso23:
21 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato infracional. Medida Sócio-educativa é pena.
São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2003. p. 27. 22 FREITAS, Marcos Cezar de. História Social da Infância no Brasil. 2 ed. São Paulo: Cortez
Editora, 2003. p. 27. 23 MATOSO, Kátia M. de Queirós. Ser Escravo no Brasil. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1982, p.
176.
9
[...] em 28 de setembro de 1871 foi aprovada a Lei n. 2.040, chamada Lei do Ventre Livre ou Lei Rio Branco, promulgada pela então regente do Império, princesa Isabel, na ausência de D. Pedro II, seu pai. Essa Lei concedia liberdade às crianças nascidas de mães escravas, tendo por objetivo a paulatina extinção da escravidão infantil [...].
A medida que o sistema escravocrata entra em declínio,
começa a surgir uma nova configuração política, econômica e social. É
interessante ressaltar que esta nova situação de social no âmbito econômico
alicerçou-se no trabalho assalariado. Em decorrência disto verificou-se um
considerável aumento nos centros urbanos e a partir deste momento o menor se
vê alijado desta estrutura econômica. O menor passa a ser um estorvo e assim
acentua-se a sua rejeição. Desta feita, em 1896, surgiu a Casa dos Expostos
onde instituiu-se uma roda, na qual as famílias ali depositassem o menor rejeitado
de forma anônima.24
Salienta ainda Freitas25, concernente à Roda dos Expostos:
A roda dos exposto foi uma das instituições brasileiras de mais
longa vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa
História. Criada na Colônia perpassou e multiplicou-se no período
imperial, conseguiu manter-se durante a República e só foi extinta
definitivamente na recente década de 1950. [...]
Mas essa instituição cumpriu importante papel. Quase por século
e meio a roda de expostos foi praticamente a única instituição de
assistência à criança abandonada em todo o Brasil.
As primeiras legislações que serviram de alicerce para a
estruturação das organizações que objetivavam à assistência à infância desvalida
se consolidou por meio dos Decretos n. 439 e 658 de 1890.26
24 A Roda, na concepção de FLORO DE ARAÚJO MELO, [1986, p. 31-32], era uma grande roda
giratória pra recolher crianças abandonadas que para aí, podiam ser levadas, sem precisarem os pais aparecer e se expor.
25 FREITAS, Marcos Cezar de. História Social da Infância no Brasil. 2 ed. São Paulo: Cortez Editora, 1999. p. 51.
10
Com o nascimento da República tem-se por conseqüência
toda uma reestruturação social que incidirá diretamente quanto a questão da
assistência ao menor. Neste novo panorama social já não é mais aceitável a
indiferença quanto aos direitos da criança.
Explica Veronese27:
Com o advento da República, as transformações sócio-políticas e econômicas também se refletiram sobre a prestação de assistência. O problema exigia providências oficiais por parte dos organismos governamentais. Tornara-se visível que a ação fundamentada na iniciativa privada filantrópica, na assistência caritativa da Igreja e no trabalho de alguns homens públicos não era suficiente.
Em 1924, instaura-se o primeiro juizado de menores no
Brasil, tendo como seu mentor o jurista e legislador Mello Mattos, que de acordo
com Veronese28, iniciou-se um novo período focado na ação social.
Na visão de Pereira apud Veronese29 seria reservado ao juiz
“o papel de declarar a condição jurídica da criança se abandonada ou não, se
delinqüente, e qual o amparo que deveria receber”.
Pereira30 explica que o Código de Menores, instituído pelo
Decreto n. 17.943 de 13/10/1927, representou uma abertura significativa do
tratamento à criança para a época, focado nas considerações sobre o estado
físico, moral e mental da criança, e ainda a situação social, moral e econômica do
país, visto que até então, não existia no país qualquer legislação específica para a
tutela das crianças e adolescentes.
26 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. p.19. 27 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. p. 21. 28 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. p.11 29 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. p.11 30 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente: Uma proposta interdisciplinar.
p. 16.
11
Pereira31 enfatiza a conotação social do Código Mello
Mattos, afirmando que o magistrado tinha o respaldo de declarar a condição
jurídica da criança, se abandonada ou não, se delinqüente, e qual o amparo que
deveria receber.
Afirma Rizzini apud Liberati32 :
Essa “ação social” do juízo de Menores foi considerada um “diferencial” entre os magistrados, que preferiram desempenhar uma função mais voltada para o “social”, cuja prática permaneceu vigorosa até a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que privilegiou o aspecto jurídico.
Dispõe Veronese33que:
O Código de Menores veio alterar e substituir concepções obsoletas como as de discernimento, culpabilidade, penalidade, responsabilidade, pátrio poder, passando a assumir a assistência ao menor de idade, sob a perspectiva educacional. Abandonou-se a postura anterior de reprimir e punir e passou-se a priorizar, como questão básica, o regenerar e educar. Desse modo, chegou-se à conclusão de que questões relativas à infância e à adolescência devem ser abordadas fora da perspectiva criminal, ou seja, fora do Código Penal.
Ressalta ainda Veronese34:
Sobre o Código de Menores de 1927, convém ainda ressaltar que, apesar dos esforços de Mello Mattos e seus sucessores, estes tiveram como uma barreira praticamente intransponível, em virtude da política da época, a falta de recursos e de autonomia para manutenção dos institutos já existentes e a implantação de
31 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente: uma proposta interdisciplinar.
p. 309. 32 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato infracional. Medida Sócio-educativa é pena.
p49. 33 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. p. 27 - 28. 34 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. p. 31.
12
novos. De forma que as reclamações oriundas dos juízes de menores nesse sentido eram constantes.
Devido a esta problemática, tentou sanar o problema com a
tentativa de se criar uma espécie de autarquia cujo nome era Patronato Nacional
de Menores, contudo tal possibilidade não foi adotada esta possibilidade.
Posteriormente, na Constituição da República Federativa do
Brasil de 1937, verifica-se uma mudança da conotação jurídica na descrição do
problema dos menores para uma caracterização de cunho da infância e do
adolescente.
Sobre esta temática aduz Rizzini35:
[...] a infância e a juventude devem ser objeto de cuidados e garantias especiais por parte do Estado, que tomará todas as medidas destinadas a assegurar-lhes condições físicas e morais de vida sã e de harmonioso desenvolvimento de suas faculdades. O abandono moral, intelectual e físico da infância e da juventude importará falta grave dos responsáveis por sua guarda e educação, e cria ao Estado o dever de provê-las de conforto e dos cuidados indispensáveis à sua preservação física e moral. Aos pais miseráveis assiste o direito de invocar auxílio e proteção do Estado para a subsistência e educação da sua prole.
Ao ser outorgada pelo Presidente Getulio Vargas a 3ª
Constituição Federal Republicana, verifica-se a ampliação da proteção a criança
desde a infância, devendo o Estado assisti-la nos casos de carência e abandono.
Verifica-se também a previsão sanções aos pais que abandonavam seus filhos.
Em consonância com esta previsão legal discorre Liberati36:
Em 1937, durante o Estado Novo, Getúlio Vargas outorgou a nova Constituição, que previa a assistência à infância e a juventude,
35 RIZINI, Irma. A Assistência a Infância no Brasil: Uma analise de sua construção. Rio de
Janeiro: Ed. Univ. Santa Ursula, 1993. p. 136. 36 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato infracional. Medida Sócio-educativa é pena. p.
31.
13
assegurando-lhes condições físicas e morais para o desenvolvimento de suas faculdades. Penalizava os pais pelo abandono dos filhos e permitia que os pais carentes recorressem ao Estado, a fim de pedir um auxílio para a subsistência e educação dos filhos.
Contudo, em 1941 é criado, por meio do Decreto-lei n.
3.799, o Serviço de Assistência a Menores (SAM) 37, cuja finalidade é:
A) Sistematizar e orientar os serviços de assistência a menores
desvalidos e delinqüentes, internados em estabelecimentos
oficiais e particulares;
b) Proceder à investigação social e ao exame médico-psico-
pedagógico dos menores desvalidos e delinqüentes;
c) Abrigar os menores a disposição do Juízo de Menores do
Distrito Federal;
d) Recolher os menores em estabelecimentos adequados, afim de
ministrar-lhes educação, instrução e tratamento sômato-psíquico;
e) Estudar as causas do abandono e da delinqüência infantil para
a orientação dos poderes públicos;
f) Pomover a publicação periódica dos resultados de pesquisas,
estudos e estatísticas.
Ressalta ainda Veronese38:
[...] com a tarefa de prestar, em todo território nacional, amparo social aos menores desvalidos e infratores, isto é, tinha-se como meta centralizar a execução de uma política nacional de assistência, desse modo, portanto, o SAM se propunha a ir além do caráter normativo do Código de Menores de 1927.
37 RIZINI, Irma. A Assistência a Infância no Brasil: Uma analise de sua construção. p. 277. 38 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. p. 32.
14
O Serviço de Assistência a Menores, doravante denominado
SAM, apesar de ser em tese, mais arrojado que o Código Mello Mattos, na visão
de Veronese39 de que “[...] em virtude de sua estrutura emperrada, sem
autonomia e sem flexibilidade e a métodos inadequados de atendimento, que
geraram revolta naqueles que deveriam ser amparados e orientados”.
Em virtude dessa problemática em tela, em 1964, por meio
da Lei n. 4.513/64, institui-se a Fundação Nacional do Bem Estar do Menor,
doravante denominado FUNABEM, a qual foi concebida em virtude da ineficácia
do SAM. E como afirma Liberati40 foi a solução encontrada, para responder aos
apelos das elites frente ao problema da infância, agravado pelo SAM.
Ainda é importante ressaltar o contexto histórico e a postura
política deste momento em relação às questões da criança e do adolescente.
Sobre o tema preceitua Liberati41.
O início das atividades da FUNABEM coincide com a implantação do governo militar de 1964, que decide enfrentar o drama da criança brasileira como um problema social e, por conseguinte, integrado aos preceitos da segurança nacional. Com essa ideologia, o Governo cria a Política Nacional do Bem-Estar do Menor – PNABEM.
A partir deste momento o Brasil passa a ter uma nova visão
sobre menores infratores e as crianças abandonadas. Neste período estes
menores passaram a ser questão de segurança nacional, onde o Estado devia
disciplinar, reprimir, reeducar para que a criança abandonada, futuramente, não
se tornasse oposição ao sistema democrático capitalista.
No entanto, a FUNABEM possuía uma política
assistencialista, assim como a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor,
39 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. p.32. 40 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. Medida Sócio-educativa é pena.
p.32. 41 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. Medida Sócio-educativa é pena. p.
32.
15
doravante denominado FEBEM não diferenciaram em nada quanto às políticas
adotadas anteriores. Suas ações limitavam-se a práticas imediatistas, paliativas e
filantrópicas. E com o decorrer do tempo houve o desvirtuamento dos objetivos
primeiros.
No relativo ao desvirtuamento das propostas originais da
FUNABEM e FEBEM preceitua Pereira42:
[...] passou diretamente a atuar diretamente como agente,
desvirtuada dos objetivos inicialmente previstos, em nome
de sua finalidade educacional de atendimento em internatos
e semi-internatos, conduziu a sua atuação através de
programas indefinidos, marcados por irregularidades e
mesmo regimes carcerários de internação.
Sobre o tema aduz Liberati:43
A Política Nacional do Bem-Estar do Menor e a própria FUNABEM forma instrumentos de controle da sociedade civil. A política institucional que o Brasil adotara não supria as necessidades das crianças carentes e marginalizadas, que aumentavam, em número, a cada dia. Além disso, seu método era ineficiente e incapaz de reeducar todas aquelas crianças, que eram consideradas sujeitos passivos e clientes de uma pedagogia alienada.
Em 1979 com o advento do novo Código de Menores, o qual
teve como maior propagador o juiz de Menores Alyrio Cavallieri, neste momento,
verificam-se mudanças significativas, em especial, nas terminologias pelas quais
se designava a criança. Cavallieri cunhará uma nova expressão, definida como:
“Situação Irregular”, visando abranger os estados que caracterizam o destinatário
42 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente: Uma proposta interdisciplinar.
p. 18 - 19.
43 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. Medida Sócio-educativa é pena. p.
32.
16
das normas de Direito do Menor. O termo passa a ser empregado para a criança
abandonada, infrator, vadios, libertinos, etc...
Afirma Liberati44 que:
Com esse novo Código de Menores, Inaugura-se uma nova visão sobre o problema do menor: a da “situação irregular”. O próprio Código de Menores tratou de definir, no art. 2º, as hipóteses em que o menor se encontrava naquela situação: “I – privado de condições essenciais à sua saúde e instrução obrigatória, ainda que, eventualmente. Em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibi8lidade dos pais ou responsável para provê-las; II – vítima de maus-tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III – em perigo moral, devido a: encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV – privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V – com desvio de conduta, em virtude de graves inadaptação família ou comunitária; VI – autor de infração penal.
Ainda, no relativo à questão da situação irregular comenta
Nogueira apud Pereira45:
[...] Para ele, as situações irregulares eram definidas como “situações de perigo que poderão levar o menor a uma marginalização mais ampla, pois o abandono material ou moral é um passo para a criminalidade... A situação irregular do menor é, em regra, conseqüência da situação irregular da família, principalmente com as sua desagregação”.
Machado46 faz referência ao artigo 2º do Código de Menores
define a expressão situação irregular:
44 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. Medida Sócio-educativa é pena. p.
33. 45 PEREIRA, Tânia da Silva. O melhor interesse da Criança e do Adolescente: Uma proposta
interdisciplinar. p. 12. 46 MACHADO, Antonio Luiz Ribeiro. Código de Menores Comentado. 2 ed. Atual. E ampl. - São
Paulo: Saraiva, 1987. p. 5.
17
Art. 2º. Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor:
I – privado de condições essenciais à sua saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de:
a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável, manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las;
II – vítima de maus-tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável
III – em perigo moral, devido encontra-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes;
b) exploração em atividade contrária as bons costumes;
IV – privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável;
V – com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária;
VI – autor de infração penal.
Parágrafo único: Entende-se por responsável aquele que, não sendo pai ou mãe, exerce, a qualquer título, vigilância, direção ou educação de menor, ou voluntariamente o traz em seu poder ou companhia, independentemente de ato judicial.
18
Cavallieri47 expôs de forma didática, por meio de um quadro
sinótico, a definição da Situação Irregular.
I (por)
Privado de condições subsistência falta (de) Essenciais (mesmo saúde ação
Eventualmente omissão pais atualmente) quanto a instrução impossibilidade responsável Obrigatória manifesta II Vítima de maus tratos ( impostos pais Ou castigos imoderados por) ou responsável
III por encontrar-se habitualmente em ambiente contrário MENOR EM Em perigo moral aos bons costumes SITUAÇÃO IRREGULAR IV por exploração por terceiro em atividade contrária aos bons costumes
privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável.
familiar Com desvio de conduta em virtude de grave inadaptação Comunitária VI Autor de infração penal
Segundo Veronese48 apesar de representar um grande
avanço em relação ao Código de 1927, o novo Código continha alguns aspectos
controversos, como tais características inquisitórias, não permitindo o
contraditório, nos processos que envolviam crianças e adolescentes, apesar de
que já havia sido garantida ao maior de 18 anos a ampla defesa; existência de
prisão cautelar para os menores de 18 anos, nos casos de suspeita de infração
penal, como fins de verificação.
Até 1979, o legislação brasileira tratava os menores baseada
na Doutrina do Direito Penal do menor, que se preocupava simplesmente com a
delinqüência praticada por este, baseando a imputabilidade na “pesquisa do
discernimento”.
47 CAVALLIERI, Alyrio. Direito do Menor. 2 ed. Rio de Janeiro, Feitas Bastos, 1978. p. 49. 48 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos da Criança e do Adolescente. p.32.
19
Pereira49 ao explicar esta teoria, faz referência a Siqueira, o
qual esclarece que “ao juiz se atribuía à conclusão sobre um impúbere era ou não
capaz de dolo, e, para tal fim, levaria em conta a vida pregressa, seu modo de
pensar, sua linguagem, não justificando basear-se apenas numa razão,
obrigando-o a pesquisar o conjunto dos elementos informadores”. Ou seja,
imputava-se ao menor infrator responsabilidade penal de acordo com o
discernimento sobre a ilicitude da ação delituosa.
A doutrina da proteção integral, na visão de Pereira50
começou a tomar força a partir da década de 80, mais especificamente a partir de
1985, quando foi reforçado no país um imenso debate sobre diversos aspectos da
proteção de crianças e adolescentes. No entanto, há muito tempo já se vinham
fazendo diversas manifestações em âmbito internacional tendo como objetivo
reconhecer uma proteção especial para crianças e para os adolescentes.
Cury, Garrido e Marçura 51 discorrem sobre os principais
movimentos que deram origem à efetivação da Doutrina da Proteção Integral:
[...] a Declaração de Genebra de 1924 determinava “a necessidade de proporcionar à criança um proteção especial”; da mesma forma que a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas (Paris, 1948) apelava ao “direito a cuidados e assistência especiais”; na mesma orientação, a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Pacto de São José) alinhavava, em seu art. 19: “ Toda criança tem direito às medidas de proteção que na sua condição de menor requer, por parte da família, da sociedade e do Estado”.
Ainda mais recentemente, as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude – Regras de Beijing (Res. 40/33 da Assembléia-Geral de 29/11/85);
49 PEREIRA, Tânia da Silva. O melhor interesse da Criança e do Adolescente: Uma proposta
interdisciplinar. p. 19.
50 PEREIRA, Tânia da Silva. O melhor interesse da Criança e do Adolescente: Uma proposta interdisciplinar. p. 22.
51 CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado/ Cury, Garrido & Marçura. 3 ed. Ver. E atual. São Paulo: Editora dos tribunais, 2002. p.47.
20
as Diretrizes de Riad (assembléia-Geral da ONU, novembro/90); bem como as Regras Mínimas da Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade (Assembléia-Geral da ONU, novembro/90), lançaram a bases para a formulação de um novo ordenamento no campo do Direito e da Justiça, possível para todos os países, em quaisquer condições em que se encontrem, cuja característica fundamental é a nobreza e a dignidade do ser humano criança.
Pereira52 relata ainda que, após diversas articulações já em
âmbito nacional o Fórum DCA – Fórum Nacional Permanente de Direitos da
Criança e do Adolescente, passou a ser o principal articulador na mobilização
pela Emenda Constitucional, que contou com mais de 250 (duzentos e cinqüenta
mil) assinaturas, fornecendo com isto, subsídios ao legislador constituinte, para
que pudesse elaborar normas de proteção à infância e a adolescência,
introduzindo no texto Constitucional os princípios básicos da Convenção
Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989 e ratificada pelo
Decreto 99.710, de 21/11/90.
A Convenção representa uma ruptura radical em termos de
enfoque jurídico da infância, embasando o texto Constitucional53, que passou a ter
a seguinte redação:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los à salvo de todo a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Com isso, o Brasil passa a adotar a Doutrina Jurídica da
Proteção Integral ressaltando a criança como ser humano dotado de direitos, os
quais devem ser concretizados.
52 PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente: Uma proposta interdisciplinar.
p.22. 53 CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 137.
21
Sobre a proteção integral afirma Neto54:
[...] a necessidade de especial respeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento; responsável pela continuidade de seu povo e sua espécie; reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que torna as crianças e adolescentes merecedores de proteção integral por parte da família, da sociedade e do Estado, o qual deverá atuar através de políticas específicas para promoção e defesa de seus direitos.
Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente
instituiu-se o CBIA – Centro Brasileiro para a Infância e a Adolescência, mas por
questões políticas foi extinto. A posteriori, em 1995, em substituição ao CBIA, é
instituído o DCA – Departamento da Criança e do Adolescente.
Aduz Kayayan55:
[...] Com a substituição do Código de Menores pelo ECA, em 1990, foi criado o Centro Brasileiro para a Infância e a Adolescência (CBIA) visando um reordenamento institucional e efetiva melhoria das formas de atenção direta. Por razões políticas, este órgão foi extinto antes que pudesse completar o reordenamento das estruturas herdadas da Funabem.
A partir de 1995 foi criado o Departamento da Criança e do Adolescente (DCA), órgão integrante da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, que assumiu a coordenação nacional da Política de Promoção e Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.
54 NETO, Gercino Gerson Gomes. O sistema de garantias dos Direitos da Criança e o ECA, a
Constituição da República e a Convenção sobre o Direito da Criança, aprovada pela Assembléia da ONU em 20 de novembro de 1989. Disponível em: http://www.mp.sc.mp.sc.gov.br. Acesso em 23 agos.. 2005.
55 KAYAYAN, Agop. Análise situacional e algumas experiências inovadoras no atendimento sócio-educativo aos Adolescentes auto-res. de Ato Infracional no Brasil. Disponivel em: http://www.socialtec.org.br/Downloads/InfanciaJuventude/AgopKayayan_AdolescentesInfratores.doc. Acesso em 28 abr. 2006.
22
Ao comentar a Doutrina da Proteção Integral Pereira56
esclarece que, a Constituição de 1988 ao conhecer em seu art. 227, com
prioridade absoluta a condição das crianças e dos adolescentes como sujeitos de
direitos fundamentais, além de que lhes “[...] proporcionar toda a oportunidade e
facilidade a fim de lhes facultar um bom desenvolvimento físico, mental, moral
espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade” ou seja “[...] as
crianças e os jovens, em qualquer situação, devem ser protegidos e seus direitos,
garantidos, além de terem reconhecidas prerrogativas idênticas as dos adultos”.
Por fim, em 13 de julho de 1990 é sancionado o Estatuto da
Criança e do Adolescente, doravante denominado ECA, o qual segue as
orientações constitucionais e a doutrina da proteção integral.
Aduz Martins57:
Seguindo o que prescreveu o texto constitucional, o Estatuto da Criança e do Adolescente ratificou a condição das crianças e dos adolescentes enquanto sujeitos de direitos, de modo que a doutrina anterior, que os tratava como objetos passivos das relações jurídicas, foi completamente superada, baseando a nova ordem nos Direitos Fundamentais que lhes forma assegurados pela Constituição.
Na atualidade, o Estatuto da Criança e do Adolescente é
considerado pelos especialistas como uma das legislações mais avançadas do
mundo, no tocante à sua modernidade, sua abrangência e seus princípios. Uma
vez demonstrada a evolução histórica até o advento do ECA, passar-se-á a
discorrer no próximo capítulo a respeito do ato infracional, suas implicações e as
medidas sócio-educativas.
56 PEREIRA, Tânia da Silva.Direito da Criança e do Adolescente: Uma proposta interdisciplinar.
p. 14. 57 MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente & Política de atendimento.
Curitiba: Juruá, 2003.p.49.
23
CAPÍTULO 2
DO ATO INFRACIONAL E DAS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS
2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.
O presente capítulo tem por objetivo discorrer sobre as
medidas sócio educativas. É mister primeiramente, discorrer sobre o ato
infracional e sua apuração, haja vista que é em decorrência do cometimento por
adolescentes que se aplicará a medida sócio-educativa mais adequada.
As medidas sócio-educativas previstas no artigo 112 do
ECA, apresentam-se na modalidades: advertência; obrigação de reparar o dano;
prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de
semiliberdade; internação em estabelecimento educacional, as quais serão
tratadas de forma individualizada, discorrendo sobre seus objetivos, finalidades e
especificidades.
2.2 DO ATO INFRACIONAL
O ato infracional é a figura jurídica, a qual está inserida no
Estatuto da Criança e do Adolescente.58
Art. 103 – “Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”.
Este tratamento é direcionado à criança e ao adolescente,
sendo que à criança caberá as medidas de proteção elencadas no ECA e ao
58 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 4 ed.
São Paulo: Malheiros, 1997. p. 70.
24
adolescente caberá as medidas sócio-educativas. É interessante ressaltar que o
tratamento dado ao adolescente distingue-se do adulto infrator.
Na revista virtual de Direitos Humanos número 2, ano 2 de
2002, Pereira59 discorre sobre a responsabilidade pela infração:
Ato Infracional é a conduta considerada crime ou contravenção pela lei. A comprovação da autoria e materialidade da infração é condição necessária para que o adolescente seja responsabilizado. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera autores de infração apenas os adolescentes: pessoas de 12 a 18 anos incompletos. No Brasil, o menor de 18 anos responde por um infração de forma diferente do adulto: não responde penalmente, mas tem responsabilidade social, podendo ser aplicado a estes as medidas sócio-educativas.
Diniz60 define ato infracional como: “É o tipificado como
crime ou contravenção penal pelo Estatuto da Criança e do Adolescente”.
Oliveira a tratar a questão do ato infracional não se limita em
apenas defini-lo, mas discorre sobre os fatores contribuintes para a ocorrência
desta ilicitude.
Oliveira61 define ato infracional como:
O ato infracional nada mais é do que a conduta descrita como tipo ou contravenção penal, cuja denominação se aplica aos inimputáveis. Ocorre que, na maioria das vezes, esses menores não praticam atos condizentes com a sua condição legal de incapacidade, quando surge então a delinqüência juvenil, que segundo diversos doutrinadores e diferentes opiniões, apresentam causas diversas, menor está exposto, outros entendendo-o como um modo de viver escolhido pelo uns vislumbrando o fato como
59 PEREIRA, Tânia da Silva. Revista Virtual de Direitos Humanos. N. 2, ano 2, de 2002. p. 70.
Disponível em: http://www.oab.org.br/comissoes/cndh/revista02.pdf. Acesso em 12 abr. 2006. 60 DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. p. 19. 61 OLIVEIRA, Raimundo Luis Queiroga de. O Menor Infrator e a Eficácia das Medidas Socio-
educativas. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4584. acesso em 27 fev. 2006.
25
resultado de uma situação de abandono a que o próprio adolescente, não raras vezes estimulados pelos pais, entregando-se à atividade delitiva conscientes do caminho escolhido.
Verifica-se que no caso da conceituação de ato infracional
doutrina não há divergência quanto ao entendimento do conceito de ato
infracional
2.3 DA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL
O ato infracional será apurado segundo normativa
especializada, isto em virtude da proteção integral prevista no artigo 227, § 3º da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, doravante denominada
CRFB. Os princípios do contraditório e a ampla defesa serão amplamente
respeitados quanto aos direitos pertinentes à criança e ao adolescente, e, neste
sentido Liberati62, faz referência ao artigo 111 do ECA afirmando que: “Fica, pois
assegurada a ampla defesa, em procedimento contraditório, de adolescente autor
de ato infracional, constituída pelo conhecimento da atribuição infracional, pela
igualdade na relação processual e pela defesa técnica”.
Dois fatores deve-se ponderar quando da apuração do ato
infracional, o primeiro fator apresenta-se em três momentos distintos: o primeiro
momento o da fase policial, o segundo ao ser apresentado ao Ministério Público e
por fim a fase judicial. Outro fator que é necessário distinguir as medidas
aplicadas as crianças e aos adolescentes, haja vista que os artigos 171 a 190 do
ECA referenciam somente o adolescente, as quais são atribuídas as medidas
sócio-educativas. Já a criança ao cometer ato infracional, deverá ser
encaminhada ao Conselho Tutelar63.
62 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 150. 63 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente
Comentado. 4 ed ver., aum. E atual. Por Paulo Lúcio Nogueria Filho. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 279 – 295.
26
2.3.1 DO PROCEDIMENTO NA FASE POLICIAL
Na fase judicial, somente o adolescente será apreendido, em
virtude de flagrante de ato infracional ou mediante ordem escrita e fundamentada
do juiz da infância e da juventude.
Uma vez que o adolescente é apreendido em flagrante por
ter-lhe sido imputada a prática de ato infracional, será levado à autoridade
competente, ou seja, o juiz da infância e da adolescência. E se este ato for
praticado mediante violência ou grave ameaça, a autoridade policial lavrará o auto
de apreensão, oitiva do infrator e testemunhas, apreender o produto e os
instrumentos da infração e por fim requisitar perícias ou exames. Já no caso de
não se caracterizar a violência ou grave ameaça, a lavratura do auto será
substituída por boletim de ocorrência circunstanciada, conforme prevê o parágrafo
único do artigo 173 do ECA.
Neste sentido afirma Nogueira64:
O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade policial competente, que lavrará o auto de apreensão, ouvindo as testemunhas e o adolescente, apreendendo produtos e instrumentos da infração e requisitando exames periciais necessários à comprovação da materialidade e autoria da infração.
Quando houver a prática de ato infracional em co-autoria
com maior, e existindo delegacias especializadas ao atendimento do menor
infrator, a estas serão encaminhadas o adolescente para os procedimentos
necessários, e, a posteriori, o encaminhamento deste adolescente à autoridade
Judiciária, e o maior de idade à delegacia adequada, conforme o delito praticado.
Esta determinação está amplamente prevista no ECA65:
64 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado.. p. 284 - 285. 65 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 151.
27
Art. 172, parágrafo único – Havendo repartição policial especializada para atendimento de adolescente e em se tratando de ato infracional praticado em co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria.
Em virtude do artigo 227 da CRFB de 1988 dispor que cabe
ao Estado e a sociedade assegurar à criança e ao adolescente a convivência
familiar. E assim sendo, o adolescente que comete ato infracional poderá ser
liberado pela autoridade policial, uma vez que compareça na repartição policial
um dos pais ou responsável, os quais assinarão um termo de compromisso e
responsabilidade para que o adolescente seja apresentado ao promotor de
justiça, no mesmo dia ou o mais rápido possível.
Aduz Elias66:
Não é bom que o menor se distancie de sua família, para tanto, que conforme o preceito constitucional do art. 227, um dos direitos que lhe deve ser assegurado, pelo Estado e pela sociedade, é o da convivência familiar.
Portanto, via de regra, a autoridade policial, comparecendo um dos pais, o tutor ou, então, o guardião do adolescente, deverá liberá-lo, salvo em casos mais graves. Importa que o responsável pelo menor se comprometa, sob termo, a apresentá-lo ao Curador da Infância e da Juventude, se possível no mesmo dia ou, caso contrário, no dia seguinte.
Somente haverá restrição ao preceito constitucional, o qual
garante ao adolescente o convívio social nos casos em que o ato infracional
venha causar comoção social e que possa por em risco a própria segurança do
adolescente.
Entende Nogueira67:
66 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo:
Saraiva, 1994. p. 152.
28
O artigo 174, que dispõe sobre a entrega do adolescente ao pai ou responsável, prevê uma exceção, quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública, o que pode ocorrer, por exemplo, quando houver ameaça de linchamento.
Tão logo haja a impossibilidade da liberação do adolescente
infrator, deverá este ser encaminhado ao representante do Ministério Público,
com o devido auto de apreensão ou boletim de ocorrência. Na impossibilidade de
imediata apresentação do adolescente à autoridade policial, será recolhido a uma
entidade especializada, a qual tem por obrigação de apresentá-lo, no prazo de 24
horas ao representante do Ministério Público. Caso não haja entidade de
atendimento, caberá a autoridade policial a apresentação.
Destacamos a previsão legal contida na Lei 8.069/9068:
Art. 175 – Em caso de não-liberação, a autoridade policial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial encaminhará o adolescente a entidade de atendimento, que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta de repartição policial especializada, o adolescente aguardará a apresentação em dependência separada da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
67 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 286. 68 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 153.
29
Entende Nogueira69 que desde que o seja liberado, com
compromisso de se apresentar ao Ministério Público, a autoridade policial
encaminhará imediatamente cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência
à respectiva autoridade.
Quando não se configurar flagrante delito e houver indícios
de envolvimento de adolescente em ato infracional, deverá a autoridade policial
enviar o relatório das investigações ao Ministério Público.
Sobre tal temática entende Elias70:
É natural que, nos casos em que houver indícios de participação de adolescente na prática de ato infracional, se encaminhe ao representante do Ministério Público o relatório das investigações e demais documentos, uma vez que ele é o titular da ação sócio-educativa.
Tendo como fundamento a doutrina de proteção integral e a
previsão do artigo 18 do ECA, veda-se toda e qualquer agressão física e
tratamento humilhante ou vexatório. Devido a isso, é proibido o transporte do
adolescente em compartimento fechado de veículo policial.
Elias71 assevera que:
Primeiramente, quer-se preservar a sua dignidade. O artigo 18 do Estatuto refere-se ao dever de todos de zelar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório e constrangedor. Não há dúvida de que transportar o menor em “camburão” atenta contra a sua dignidade.
Desta feita verifica-se que independentemente da infração
praticada por adolescente não se justifica repreensões de ordem física ou moral.
69 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 288. 70 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 155. 71 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 155
30
2.3.2 DA FASE JUDICIAL
Cabe ao representante do Ministério Público, após a
apresentação do adolescente infrator, vistas dos auto de apreensão, já
devidamente autuado pelo cartório, oitiva das testemunhas e as partes envolvidas
e análise da vida pregressa do adolescente – arquivar, conceder remissão ou
representar à autoridade judiciária para aplicação da medida sócio-educativa.
Este entendimento encontra respaldo nos artigos 179 e 180 do ECA. 72
Caso o Ministério Público após análise da situação do
infrator entender que é passível de arquivamento ou mesmo de remissão, deverá
fundamentar seu entendimento. Faz-se necessário este procedimento em virtude
de que será enviado à autoridade judiciária para homologação. Havendo
divergências, é remetido os autos ao Procurador Geral de Justiça, o qual poderá
ratificar o arquivamento ou a remissão ou ainda designar outro representante do
Ministério Público para representar.
Entende Nogueira73:
O pedido de arquivamento deverá ser homologado pela autoridade judiciária, que, discordando, fará remessa dos autos ao Procurador-Geral da Justiça, mediante despacho fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro membro do Ministério Público para apresentá-la ou ratificará o arquivamento, quando então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar.
Ressalta ainda Nogueira74 se inadvertidamente o
representante do Ministério Público não requerer o arquivamento ou a remissão,
será a representação oferecida por petição expondo o resumo dos fatos e a
classificação do ato infracional e rol de testemunhas.
72 TAVARES, José de Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente.2 ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1998. p. 147- 148. 73 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 291. 74 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 291
31
Liberati75 explica que verificada a hipótese de o adolescente
permanecer internado provisoriamente, o prazo máximo e improrrogável para a
conclusão do procedimento será de 45 (quarenta e cinco) dias.
Como já fora salientado anteriormente, o adolescente
quando privado de sua liberdade, deverá ser recolhido em local adequado. Uma
vez que não exista instituição especializada na cidade, será transferido para
localidade mais próxima. Contudo, verificado a impossibilidade de transferência,
adequar-se-á local distinto dos adultos. A remoção de tal local terá o prazo
máximo de 5 dias.
É o que prevê o ECA76:
Art. 185 – A internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características definidas no art. 123, o adolescente devera ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de responsabilidade
Por fim, os artigos compreendidos 187 a 190 do ECA
abordam, tão somente, questões relativas à ausência das audiências de
apresentação, possibilidade de remissão, a possibilidade de não aplicação das
medidas sócio-educativas e por fim sobre intimação.77
75 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 165. 76 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 151. 77 CHAVES, Antônio. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2 ed. São Paulo:
LTr, 1997. p. 691- 696.
32
2.4 DAS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS
As medidas sócio-educativas são medidas aplicadas ao
adolescente em virtude do cometimento de ato infracional. Estas medidas seguem
as orientações da Doutrina de Proteção Integral e tem por objetivo a reeducação,
a ressocialização do adolescente infrator.
Dependerá do tipo e da gravidade do ato infracional haverá
uma medida sócio-educativa específica, as quais estão previstas no artigo 112 do
ECA, e que agora passar-se-á a discorrer.
2.4.1 DA ADVERTÊNCIA
A advertência é a primeira medida sócio-educativa das
previstas no ECA. O artigo 115 da Lei 8.069/90 78 preceitua que “a advertência
consistirá em admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada”. Ou
seja, é uma forma de censura verbal feita pelo promotor de justiça ou pelo juiz. É
a medida mais simples e branda prevista no ECA.
No relativo à advertência preceitua Volpi79:
A advertência constitui uma medida admoestatória, informativa, formativa e imediata, sendo executada pelo juiz da Infância e Juventude. A coerção manifesta-se no seu caráter intimidatório, devendo envolver os responsáveis num procedimento ritualístico. A advertência deverá ser reduzida a termo e assinada pelas partes.
O objetivo precípuo desta medida é de caráter pedagógico e
não punitivo, uma vez que o juiz demonstra, claramente, através da leitura do ato
cometido pelo adolescente e o comprometimento de que a situação não se
repetirá. Esclarecerá ainda, das conseqüências em caso de reincidência. Desta
78 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: Doutrina e Jurisprudência. 5 ed.
São Paulo: Atlas, 2004. p. 196. 79 VOLPI, Mário. O adolescente e o ato infracional. São Paulo: Cortez, 1997. p. 23.
33
feita, verifica-se que o objetivo é a conscientização de que cometeu um ato
infracional e não a punição por este ato.
Ainda fundado no caráter pedagógico, é de fundamental
importância que seus pais ou responsáveis estejam presentes em audiência, na
qual será feita a advertência, haja vista que é dever destes prestar assistência ao
adolescente. E assim sendo, o objetivo é cientificá-los da ilicitude do adolescente
e por conseqüência tomar medidas acautelatórias a fim de manter o bom
desenvolvimento do adolescente.
Liberati80, ratifica a idéia de caráter pedagógico e da
necessidade da presença dos pais ou representantes legais para a eficácia da
ressocialização do adolescente ao afirmar que:
Para atingir o objetivo colimado pela aplicação da medida singela, é necessária a presença dos pais ou responsável na audiência, para que também sejam integrados no atendimento e orientação psicossociais, se houver necessidade.
Sobre tal tema discorre Nogueira81:
Toda medida aplicável ao adolescente deve visar fundamentalmente à sua integração sócio-familiar, por isso a advertência deve ser a mais usada, como forma de tomada de consciência e de alerta, tanto para o adolescente como para o próprio pai ou responsável que esteja concorrendo para o ato infracional.
A advertência será aplicada aos atos infracionais leves, ou
seja, ao adolescente que praticar pela primeira vez o ato infracional, os que
praticam atos de pouca gravidade, e que não tenham antecedentes de atos
infracionais.
Aduz Liberati: 82
80 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 83. 81 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 176.
34
Deve também a advertência ser aplicada nos casos de adolescentes primários, ou seja, daqueles que pela primeira vez praticam o ato infracional, ou daqueles jovens que eventualmente cometeram algum ato infracional caracterizado pelo excesso próprio dos impulsos da juventude.
A princípio, não seria necessário a constituição de processo
ou sindicância para a aplicação da medida de advertência, sendo necessário
apenas que haja indícios de autoria, ou obtendo um boletim de ocorrência ou
relatório policial. Contudo, é de fundamental importância respeitar do devido
processo legal, o contraditório e a ampla defesa, mesmo em se tratando de
advertência. Salienta-se o entendimento do Superior Tribunal de Justiça apud
Nogueira83: “Admitir-se a aplicação da advertência, sem o devido processo legal,
subverte e tumultua a ordem constitucional, que agasalhou o princípio antigo
retratado na Magna Carta de 1215 (art. 5º, LIV) (STJ, Lex, 51:362)”.
Em consonância ao entendimento do STJ afirma Nogueira84:
[...] dado o formalismo do processo legal, que pressupõe contraditório e amplitude de defesa, assim como apego às formalidades, também a advertência como medida sócio-educativa não pode prescindir do processo legal, como, aliás, tem reconhecido os Tribunais.
É importante salientar que para a eficácia da medida de
advertência, é necessário que tão logo o adolescente incorra em ato infracional, o
mesmo deve ser advertido, a fim de que se sinta coibido a cometer um novo ato
infracional. Uma vez que a medida não cumprida de imediato, ou então que a
advertência seja efetuadas por várias vezes, pode dar ao menor infrator a idéia
de que não tem efeito este procedimento e que pode continuar a cometê-los, pois
não serão responsabilizados na prática.
82 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 83. 83 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 175. 84 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 170.
35
2.4.2 DA OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO
Ao se constatar prejuízos na esfera econômica em virtude
de ato infracional cometido por adolescente, a vítima pode ver seu prejuízo
patrimonial reparado.
Dispõe o ECA85 que:
Art. 116 – Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada.
A aplicação da medida de obrigação de reparar o dano é
uma medida personalíssima e intransferível do adolescente. É de cunho coercitivo
e pedagógico, pois, a medida que o adolescente devolve a coisa, ou suporte com
os custo do dano ou de qualquer outra forma consiga reparar o prejuízo da vitima,
ele estará tomando conhecimento e reconhecendo a ilegalidade de seu ato e por
conseqüência conscientizando-se sobre as normas de convívio social.
Sobre este tema preceitua Volpi86:
A reparação do dano se faz a partir da restituição do bem, do ressarcimento e/ou compensação da vítima. Caracteriza-se como uma medida coercitiva e educativa, levando o adolescente a reconhecer o erro e repará-lo. A responsabilidade pela reparação do dano é do adolescente, sendo intransferível e personalíssima. Para os casos em que houver necessidade, recomenda-se a aplicação conjunta de medidas de proteção (artigo 101 do ECA). Havendo manifesta impossibilidade de aplicação, a medida poderá ser substituída por outra mais adequada.
85 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. p. 197. 86 VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional. p. 23.
36
Há de se ressaltar ainda que só será possível esta medida
ser aplicada uma vez que o adolescente ou os pais ou responsáveis tenham
condições de suportar com o encargo. A medida não pode privar o adolescente
das condições mínimas necessárias a seu desenvolvimento, e, desta feita, deverá
o juiz substituir por outra medida sócio-educativa adequada. Tendo como
parâmetro o parágrafo único do artigo 116 da Lei 8.069/90, Liberati87 discorre: “Se
por acaso o adolescente ou seus pais ou responsáveis não puderem cumprir a
obrigação imposta de reparar o dano, a medida poderá ser substituída por outra
adequada”.
Assim como na advertência, a obrigação de reparação de
dano deve seguir a formalística processual, devendo ser respeitado os princípios
do contraditório e da ampla defesa. Nesse sentido afirma Nogueira88 que “a
medida de obrigação de reparar o dano deve ser imposta em procedimento
contraditório, pois cabe ao adolescente fazer a sua defesa devidamente assistido
por advogado”.
É interessante ressaltar que ao juiz cabe tentar uma
composição entre o adolescente infrator e a vítima, a fim de reparar o dano. Uma
vez que a imposição desta medida é questionável constitucionalmente, pois como
argumenta Nogueira89 “[...] que nem mesmo ao adulto condenado criminalmente
pode ser imposta pelo juiz criminal a obrigação de reparar o dano causado [...]”.
Portanto, à criança e ao adolescente também torna-se impossível esta imposição.
Todavia, uma vez firmado um acordo entre as partes, e não
sendo satisfeita a obrigação, converter-se-á em título executivo judicial. De posse
deste título caberá a vítima requerer a execução da sentença.
Ratificando este entendimento preceitua Martins apud Nogueira90:
87 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 85. 88 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 179. 89 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 180 90 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 180.
37
O acordo firmado no Juizado de Menores do qual se lavrará termo circunstanciado em audiência, com a presença das partes interessadas, terá efeito civil imediato, pois, se não cumprido, dará direito a se converter em título executivo judicial, para a imediata força legal da ação de execução forçada com citação e penhora na forma do Processo Civil.
Portanto, é interessante salientar que a obrigação de reparar
o dano é uma medida facultativa, haja vista que depende da aceitação e da
viabilidade do cumprimento desta modalidade de medida.
2.4.3 DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE
A prestação de serviço à comunidade caracteriza-se pela
realização de tarefas gratuitas de interesse social pelo adolescente infrator.
Contudo, estas tarefas limitam-se por um período não superior a seis meses, e
não podendo ultrapassar oito horas semanais.
Esta medida não deverá prejudicar a atividade escolar ou o
trabalho daquele menor. Caberá ao juiz definir onde o adolescente deverá cumprir
a medida com base em sua aptidão, e sempre mantendo a integridade física e
moral do adolescente. Sobre a prestação de serviço à comunidade, Nogueira91
afirma que esta: “além de dignificar quem trabalha, tem ainda um sentido social,
que é servir e ser útil à sociedade”.
Este entendimento encontra respaldo na Lei 8.069/9092 que
preceitua:
Art. 117 – A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.
91 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 182. 92 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. p.
200.
38
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho.
Muller93 entende que o papel desta medida é:
Promover a educação do adolescente dentro da perspectiva de
sua manutenção no grupo de vivência e convivência;
Oferecer condições para que o adolescente utilize de modo
construtivo a sua liberdade;
Proporcionar ao adolescente a oportunidade de desenvolver
atitudes construtivas, despertando o sentimento de solidariedade
e a consciência social;
Tornar a comunidade co-responsável no atendimento ao
adolescente que estiver prestando serviço à comunidade.
O controle do desenvolvimento do trabalhado instituído pela
medida sócio-educativa ficará a cargo da autoridade judiciária, do Ministério
Público, de técnicos sociais, os quais acompanharão e supervisionarão os
trabalhos executados pelo adolescente.
A colaboração da comunidade para a aplicação desta
medida é de fundamental importância, pois a imposição por si só não garante o
êxito da medida. Liberati94 afirma ainda que a “prestação de serviços comunitários
deverá ser fiscalizada pela comunidade, que, em conjunto com os educadores
sociais, proporcionará ao adolescente infrator uma modalidade nova de
tratamento tutelar em regime aberto”.
93 MULLER, Sônia Raquel. O papel e a eficácia das medidas sócio-educativas para o menor
em conflito com a Lei. Tijucas, fev., 2002. p. 57. 94 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 86.
39
2.4.4 DA LIBERDADE ASSISTIDA
A liberdade assistida tem suas origens no Direito Penal onde
era chamado de liberdade vigiada. Esta foi inserida na Legislação da Infância e
Adolescência no Código de Mello Mattos de 1927. Posteriormente, em 1979, este
termo evolui e passa ser chamado de liberdade assistida inserido no art. 38 da Lei
nº 6.697.
Sobre os termos liberdade assistida e liberdade vigiada,
explica Cury95:
O conceito de liberdade assistida não é totalmente novo. No entanto, os arts. 118 e 119 do Estatuto põem ênfase na palavra “assistida”, entendendo os adolescentes já não como objetos de vigilância e controle – caso da liberdade vigiada – senão como sujeitos livres e em desenvolvimento, que requerem apoio ou assistência no exercício de sua liberdade, para desenvolver à plenitude.
A liberdade assistida está prevista nos artigos 118 e 119 da
Lei 8.069/90, sendo aplicada ao adolescente que incorre em ato infracional, o qual
estará sujeito a orientação e assistência social por técnicos especializados ou
associações.
Preceitua Liberati96:
Constitui-se numa medida coercitiva quando se verifica a necessidade de acompanhamento da vida social do adolescente (escola, trabalho e família). Sua intervenção educativa manifesta-se no acompanhamento personalizado, garantido-se os aspectos de: proteção, inserção comunitária, cotidiano, manutenção de vínculos familiares, freqüência à escola, e inserção no mercado de trabalho e/ou cursos profissionalizantes e formativos.
95 CURY, Munir, et al. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários jurídicos e sociais. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 403. 96 VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional. p. 24.
40
Ainda sobre este tema entende CURY97:
Trata-se de uma medida judicial de cumprimento obrigatório para adolescente que dela é sujeito. No entanto, pela natureza da medida, considera-se importante que esta se realize com o maior grau possível de voluntariedade e ativo protagonismo do adolescente, tendo como objetivo não só evitar que este seja novamente objeto de ação do sistema de Justiça Penal mas, também, apoiá-lo primordialmente na construção de um projeto de vida.
Ela será aplicada aos infratores reincidentes ou habituais,
medida esta de extrema importância, pois estabelece o acompanhamento do
menor visando a recuperação, integração social e procurando mantê-lo junto da
família.
Nogueira98 afirma que caberá a Liberdade Assistida nos
seguintes casos:
A liberdade assistida deve ser aplicada ao adolescentes reincidentes ou habituais na prática de atos infracionais e que demonstrem tendência para reincidir, já que os primários devem ser apenas advertidos, com a entrega aos pais ou responsável.
A liberdade assistida não poderá ser fixada por período
inferior a seis meses, contudo não há prazo máximo estipulado para o seu
termino. Salienta-se que esta medida pode ser alterada a qualquer tempo,
podendo ser reduzida, extinta ou substituída por outra medida sócio-educativa,
dependendo apenas da oitiva do orientador, do Ministério Público e do defensor.
Uma vez instituída esta medida caberá ao juiz eleger um
orientador social, o qual terá como encargo de reintegrar o adolescente ao
convívio social, e, se necessário, integrando-o em programas de assistência
social. Deve ainda monitorar o desempenho acadêmico do adolescente e buscar
97 CURY, Munir, et al. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários jurídicos
e sociais. p. 403. 98 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. p. 184.
41
na medida do possível a inserção dele no mercado de trabalho. E por fim deve o
orientador apresentar relatórios de acompanhamento do caso nas datas pré-
estabelecidas pela autoridade judicial. Encargos estes contidos no artigo 119 e
seus incisos da Lei 8.069/90.99
2.4.5 DO REGIME DE SEMILIBERDADE
O regime de semiliberdade está previsto no artigo 120, § 1º
e § 2º da Lei 8.069/90 e tem por objetivo a permanência do adolescente infrator
em instituição especializada determinada pelo Juízo da Infância e da
Adolescência. Contudo, determina a lei que este adolescente, compulsoriamente,
desenvolva atividades externas que possibilite a sua profissionalização e a sua
educação. Para estas atividades, dispensa-se a autorização judicial.
Sobre o regime de semiliberdade entende Liberati100:
Por semiliberdade, como regime e política de atendimento, entende-se aquela medida sócio-educativa destinada a adolescentes infratores que trabalham e estudam durante o dia e à noite recolhem-se a uma entidade especializada.
Já no relativo à necessidade de escolarização e
profissionalização entende Elias101:
A possibilidade de atividades externas é inerente a esta espécie de medida e não depende de autorização judicial. Dependerá, evidentemente, do responsável pelo estabelecimento em que estiver o menor, com base em um estudo multiprofissional, que observará a sua conveniência.
99 TAVARES, José Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 102 -
103. 100 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 89. 101 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 98.
42
Sendo imprescindível ao pleno desenvolvimento da personalidade do menor, são obrigatórias a escolarização e a profissionalização. Há de se procurar, como quer o dispositivo, os recursos que a comunidade oferece. Nada impede, e isso muitas vezes ocorre, que os estabelecimentos tenham os seus próprios cursos.
É interessante salientar ainda que a resolução de 05 de
dezembro de 1996 do CONANDA102 regulamenta a execução da medida de
semiliberdade, estipulando nos seus artigos.
Resolução n. 47
Art. 1º O regime de semiliberdade, como medida sócio-educativa autônoma (art. 120 caput, início), deve ser executada de forma a ocupar o adolescente em atividades educativas, de profissionalização e de lazer, durante o período diurno, sob rigoroso acompanhamento e controle de equipe multidisciplinar especializada, e encaminhado ao convívio familiar no período noturno, sempre que possível.
Art. 2º A convivência familiar e comunitária do adolescente sob o regime de semiliberdade deverá ser, igualmente, supervisionada pela mesma equipe multidisciplinar.
Parágrafo único. A equipe multidisciplinar especializada incumbida do atendimento ao adolescente, na execução da medida de que trata este artigo, deverá encaminhar, semestralmente, relatório circunstanciado e propositivo ao Juiz da Infância e da Juventude competente.
Art. 3º O regime de semiliberdade, como forma de transição para o regime aberto (art. 120, caput, in fine), não comporta, necessariamente, o estágio familiar noturno.
102 Resolução 47, de 5 de dezembro de 1996, do CONANDA. Disponível em:
http://www.mj.gov.br/sedh/ct/conanda/resolucao47_1996.htm. Acesso em 02 mar. 2006.
43
Art. 4º A convivência familiar e comunitária do adolescente sob o regime de semiliberdade, em transição para o regime aberto, deverá ser integrada às atividades externas do adolescente.
Art. 5º O descumprimento desta Resolução implicará o encaminhamento de representação ao Ministério Público para os procedimentos legais, além de outras sanções eventualmente cabíveis.
O Estatuto da Criança e do Adolescente no artigo 121, §1º e
2º e a resolução 47/96 do CONANDA, institui e regulamenta respectivamente a
medida sócio-educativa de semiliberdade. Sendo que está se caracteriza como
um meio termo entre as medidas sócio-educativas, haja vista que ela não é tão
branda quanto a advertência e nem tão agressiva como a internação. A
semiliberdade restringe parcialmente a liberdade do adolescente e ao mesmo
tempo não o afasta do convívio social.
2.4.6 DA INTERNAÇÃO.
A internação é o último recurso utilizável para
ressocialização do adolescente. É a medida mais rigorosa, a qual tem como
conseqüência a privação da liberdade do adolescente que pratica ato infracional
grave ou que seja reincidente. É interessante salientar ainda que esta medida
deve ser de curta duração e somente será utilizada quando as demais elencadas
no artigo 112 e incisos da Lei 8.069/90 não sejam possíveis de aplicabilidade e
eficácia no sentido de ressocializar.
Sobre a internação afirma Elias103:
Diferentemente do que ocorria no regime do revogado Código de Menores a medida de internação poderia ser aplicada no caso de cometimento de qualquer infração penal ou até por desvio de conduta, atualmente somente o será em caso de ato infracional
103 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 101.
44
cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou então, por reiteração de outras infrações graves, podendo-se destacar, entre estas, os crimes contra o patrimônio, em que não há violência ou ameaça a pessoa, como são os casos de furto, apropriação indébita e estelionato.
Liberati104 entende que:
A medida de internação será necessária naqueles casos em que a natureza da infração e o tipo de condições psicossoaciais do adolescente fazem supor que, sem um afastamento temporário do convívio social a que está habituado, ele não será atingido por nenhuma medida terapêutica ou pedagógica e poderá, além disso representar um risco para outras pessoas da comunidade.
A aplicação da medida sócio-educativa da internação está
alicerçada sobre alguns aspectos fundamentais na visão de Cury, tais como:
determinação de tempo para a duração da internação; esta modalidade só será
imposta se não for possível as demais, e, a condição da pessoa em
desenvolvimento deve ser analisada na decisão judicial, como também se esta
medida é a mais recomendável.
Cury105 define:
Três são os princípios que condicionam a aplicação da medida privativa de liberdade: o princípio da brevidade enquanto limite cronológico; o princípio da excepcionalidade, enquanto limite lógico no processo decisório acerca de sua aplicação; e o princípio do respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, enquanto limite ontológico, a ser considerado na decisão e na implementação da medida.
104 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 92 -
93. 105 CURY, Munir, et al. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários
jurídicos e sociais. p. 415.
45
A internação não pode imposta para afastar o adolescente
infrator do meio social, mas deve ter como função o aprimoramento deste ser.
Neste sentido, por meio da educação e do tratamento psicológico é que se obterá
a ressocialização do adolescente.
Garrido de Paula apud Liberati106:
A internação tem finalidade educativa e curativa. É educativa quando o estabelecimento escolhido reúne condições de conferir ao infrator escolaridade, profissionalização e cultura, visando a dota-lo de instrumentos adequados para enfrentar os desafios do convívio social. Tem finalidade curativa quando a internação se dá em estabelecimento ocupacional, psicopedagógico, hospitalar ou psiquiátrico, ante a idéia de que o desvio de conduta seja oriundo da presença de alguma patologia, cujo tratamento em nível terapêutico possa reverter o potencial criminógeno do qual o menor infrator seja o portador.
Um aspecto interessante é que o ECA não faz referência, de
forma taxativa, a estipulação de tempo mínimo de privação da liberdade do
adolescente. Contudo, devido a compulsoriedade de reavaliação a cada seis
meses, verifica-se que não se poderá estipular período inferior a seis meses, haja
vista que uma reavaliação ocorrer somente após seis meses.
Explica Liberati107:
À evidência, nota-se que o art. 121 e seus parágrafos não fixaram o prazo mínimo para a internação. Mas, como é prevista a reavaliação da medida a cada seis meses, para sua manutenção ou não, o juiz deve fixar o prazo mínimo, inicial, de seis meses, pois determinar a internação sem prazo mínimo constitui violação do princípio constitucional da anterioridade da lei, previsto no art. 5º, XXXIX.
106 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 93. 107 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 92.
46
É de fundamental importância entender que, dependendo do
tipo de ato infracional, pode haver diferenciação no período de internação, a qual
pode ter o limite máximo de três meses aplicada aos crimes de menor gravidade,
nos quais não há violência ou agressão a pessoa. Ou ainda, com o limite máximo
de três anos, para os casos em que há violência ou agressão.
É importante frisar que haverá liberação compulsoriamente
da internação ao completar vinte e um anos em decorrência da prescrição. Visto
que legalmente não encontrar respaldo legal para manter o adolescente
internado.
Relata Ishida108a respeito da prescrição:
Aos vinte e um anos cessa a aplicação de qualquer medida socieducativa, por força do art. 2º parágrafo único do ECA. Nesta idade, a jurisprudência (v. TJSP, Ap. 24.045-0/0, Rel. Lair loureiro) faz referencia a incidência da prescrição educativa e executiva. Educativa porquanto não mais se pode reeducar o jovem-adulto e finalmente executiva, porquanto fica obstada a execução da medida socioeducativa.
Uma vez que haja o recolhimento do adolescente à
instituição especializada, deve-se ter em mente que a internação não se confunde
com pena privativa de liberdade. E assim sendo, o adolescente tem direito a
tratamento digno, sendo vedado todo tipo de humilhações ou abusos.
Liberati109 entende que:
Ao efetuar a contenção e a segurança dos infratores interno, as autoridades encarregadas não poderão, de forma alguma, praticar abusos ou submeter a vexame ou a constrangimento não autorizado por lei. Vale dizer que devem observar os direitos do adolescente privado de liberdade, alinhados no art. 124.
108 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. p.
211. 109 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 92 e
93.
47
O Estatuto da criança e do adolescente é taxativo quanto a
inimputabilidade do menor de 18 anos e em virtude disto, jamais poderá ser o
adolescente recolhido à uma prisão comum. Deverá ser encaminhado à
instituição especial, na qual pó meio de triagem, serão separados dos outros
levando em consideração o ato infracional praticado e aspectos físicos do
adolescente a fim de evitar possíveis abusos entre os menores.
Entende Elias110:
A separação por critério de idade e da compleição física é desejável, posto que pode evitar prevalência de uns sobre outros menores, com abusos de ordem sexual e outros que, infelizmente, podem suceder a influência no tocante a uma “escolarização”, para a prática de atos infracionais. Embora seja difícil na prática, bom seria que todos esses critérios fossem obedecidos.
Por fim ainda há de se ter em mente que é responsabilidade
do Estado os cuidados físico e mental do adolescente infrator que se encontra
internado, haja vista que não está mais sobre o crivo de seus pais ou
responsáveis. Entendimento este previsto no artigo 125 do ECA.
Sobre o tema discorre Ishida111:
A responsabilidade pelo zelo da integridade do adolescente interno é do Poder Publico. A responsabilidade abrange a conduta comissiva ou omissiva, apurada por meio de ação pública, por meio de responsabilização individual e de ação de indenização.
Entende Cury112:
110 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 102. 111 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: Doutrina e Jurisprudência. p.
218. 112 CURY, Munir, et al. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários
jurídicos e sociais. p. 423
48
O zelo pela integridade física e mental dos adolescentes privados de liberdade é um dever inarredável do Estado. A adoção de medidas de contenção e segurança por parte das autoridades responsáveis pela implementação da política de atendimento deve ser uma preocupação constante, pois este é um ponto dos mais vulneráveis do sistema de atendimento herdado do Antigo Código de menores.
A idéia central da pesquisa apresentada até o presente
momento, após ter dissertado a respeito da consolidação da legislação de
proteção a criança e ao adolescente, do ato infracional e suas peculiaridades, e,
sobre as medidas sócio-educativas elencadas no artigo 112 do ECA. Estes
tópicos convergem a uma reflexão a respeito da eficácia da medida de internação
como um meio ressocializador do adolescente infrator, o qual será objeto de
estudo no próximo capítulo.
49
CAPÍTULO 3
REFLEXÕES A RESPEITO DA EFICÁCIA DA MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE INTERNAÇÃO.
3.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.
Os mecanismos criados pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, visando a ressocialização do adolescente que incorre em ato
infracional, vêm sendo questionados pela sociedade. Isto fundado em um
sentimento de impunidade, veiculado pela mídia, quanto a atos infracionais
praticados pelos adolescentes resultantes do expressivo aumento da delinqüência
juvenil e pelo que, em uma análise superficial, verifica-se a ineficácia dos meios
de controle destes atos.
Partindo deste pressuposto verifica-se, na atualidade, uma
discussão sobre a redução da maioridade penal, haja vista que a maioria dos
crimes que causam comoção social estão sendo praticados por adolescentes.
Antes de entrar especificamente nesta seara, é importante
ressaltar toda a evolução histórica relativa as conquistas e conscientizações, ao
longo dos séculos. Tanto no âmbito interno quanto no âmbito internacional relativa
aos direitos da Criança e do Adolescente, as quais já foram tratadas nos capítulos
anteriores e que por fim, vem a culminar em uma legislação especial de consenso
mundial, ou seja, a Doutrina da Proteção Integral.
Hoje vivemos um paradoxo para não dizer um retrocesso
relativo às conquistas e entendimentos quanto aos direitos da criança e do
adolescente. Direito este, que fora lapidado através dos séculos XIX à XXI após
muitos debates, culminaram na sua gradual conquista e hoje parece que estamos
voltando ao arcaísmo, a visões retrogradas e paliativas, visando solucionar os
problemas atuais que se apresentam. Ao propor a redução da maioridade penal,
verifica-se a afronta à doutrina da proteção integral.
50
Para tratar desta problemática inserida na atualidade, há
necessidade de uma refleção sobre os atuais instrumentos sancionatórios
previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Indagações são realizadas
acerca da eficácia destes instrumentos sancionatórios. Se o Eca não funciona ou
se é o sistema que é falho? Ou ainda, sobre de quem será a responsabilidade de
tantos menores infratores, se da família, da mídia, da sociedade ou do governo?
A redução da maioridade penal soluciona o problema? Estes são
questionamentos necessários para melhor compreensão deste problema.
É fundado nestes pressupostos que passar-se-á a discorrer
neste capítulo, sobre a eficácia das medidas sócio-educativas na sua
aplicabilidade de fato. Tratar-se-á, especificamente, a questão da privação de
liberdade do adolescente, ou seja, a internação, a qual, na atualidade, é motivo de
consideráveis críticas.
3.2 DA DISTINÇÃO DOS CONCEITOS DE EFICÁCIA E DE EFICIÊNCIA DA
NORMA JURÍDICA.
Eficiência e eficácia são conceitos que merecem uma
definição a fim de que se tenha uma maior compreensão acerca do tema que
passar-se-á a discorrer neste capítulo.
Ferreira113 define a eficácia da norma jurídica:
Do latim efficacia, de efficax (que tem virtude, que tem propriedade, que chega ao fim). Quer significar a vigência da norma jurídica, após a sua promulgação, seja em relação ao tempo de sua obrigatoriedade, seja em relação ao território em que passa a vigorar e tem aplicação.
113 FERREIRA Megbel Abdala Tanus. Repensando a Norma Jurídica e sua Estrutura.
Disponível em: http://www.suigeneris.pro.br/direito_id_15.htm. Acesso em 25 abr. 2006.
51
Sobre estes conceitos explica Gusmão.114
A eficiência do direito depende do fato de sua observância no meio no qual é vigente. Eficaz é o direito capaz de se fazer ser observado e de atingir sua finalidade. A eficácia é um fato, consistindo na observância efetiva da norma por parte de seus destinatários e, no caso de inobservância, na sua aplicação compulsória pelos órgãos com competência de aplicá-la. Significa, com palavras de Kelsen, direito que é "realmente aplicado e obedecido”. [...] O simples fato de a norma jurídica ser inobservada não lhe retira a eficácia, salvo se cair em desuso, ou seja, se não for aplicada, habitual, uniforme e constantemente pelo poder público. Assim, o direito pode ter vigência e não ter eficácia, pois pode viger e não ser observado, mas não pode ter eficácia sem vigência. A norma pode ser hoje eficaz e amanhã tornar-se ineficaz [...].
Sobre a questão da eficiência aduz Modesto115:
O termo eficiência não é privativo de nenhuma ciência; é um termo da língua natural, apropriado pelo legislador em sua acepção comum ou com sentido técnico próprio. São os juristas, como agentes ativos no processo de construção do sentido dos signos jurídicos, os responsáveis diretos pela exploração do conteúdo jurídico desse princípio no contexto do ordenamento normativo nacional.
Sobre esta temática aduz Chiavenato116
A eficiência não se preocupa com os fins, mas simplesmente com
os meios. O alcance dos objetivos visados não entra na esfera de
competência da eficiência; é um assunto ligado à eficácia.
114 GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
p.62. 115 MODESTO, Paulo. Notas para um debate sobre o princípio da eficiência. Disponível em:
http://orbita.starmedia.com/jurifran/ajefic.html. Acesso em 25 abr. 2006. 116 CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 4ª ed., São Paulo:
McGraw Hill do Brasil, 1993. p. 238.
52
O conceito jurídico de eficiência pode ser elaborado à luz desse
conceito administrativo. A eficiência refere-se aos meios,
enquanto a eficácia está relacionada com os resultados.
Diante dos conceitos acima explicitados verifica-se que
eficiência é fazer certo, é o meio para se atingir um resultado, é a atividade ou
aquilo que se faz. A eficácia, por sua vez, é a coisa certa, é a obtenção dos
resultados pretendidos. E é de suma importância a entendimento destes dois
termos para melhor compreensão desta pesquisa.
3.3 DOS CENTROS DE INTERNAÇÃO.
No Brasil há diversos Centros de internação de adolescentes
infratores, e o que se verifica é a falência generalizada destes sistema de
reeducação do adolescente infrator. Isto põe em xeque a eficácia da medida
sócio-educativa de internação prevista no ECA.
Em pesquisa realizada no ano de 2002 pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, doravante denominado IPEA117, identificou-se
que:
No que se refere ao Ambiente Físico das unidades, 71% não são consideradas adequadas às necessidades da proposta pedagógica. As inadequações variam desde a inexistência de espaços para atividades esportivas e de convivência até as péssimas condições de manutenção e limpeza. É preciso ainda salientar que, dentre aquelas consideradas adequadas, algumas o são mais para a manutenção da segurança do que para o desenvolvimento de uma proposta verdadeiramente sócio-educativa, visto que muitas unidades mantêm características tipicamente prisionais. Além disso, muitas unidades, em que pese
117 PAIVA, Denise Maria Fonseca. Mapeamento Nacional da situação do Atendimento dos Adolescentes em cumprimento de Medidas Sócio-educativas. Disponível em: http://www.anped.org.br/26/outrostextos/sedenisemariafonsecapaiva.doc. Acesso em 05 abr. 2006.
53
possuírem equipamentos para atividades coletivas, os mesmos não são utilizados.
A presente pesquisa relata ainda que há no país em torno de
10.000 (dez mil) adolescentes cumprindo a medida sócio-educativa de internação.
Por conseguinte, que é uma parcela ínfima de adolescentes que estão sob
internação, visto que há em torno de 33 (trinta e três) milhões de adolescentes no
país.
Sobre esta temática explicita Paiva118:
Existem no Brasil cerca de 10 mil adolescentes internos em instituições de privação de liberdade. Este número é muito pequeno quando comparado com o total de adolescentes na idade de 12 a 21 anos existentes no Brasil (em torno de 33 milhões). Isto significa que, para cada 10.000 adolescentes brasileiros, existem menos de três adolescentes privados de liberdade.
No relativo à etnia, escolaridade, situação sócio-econômica
verificou-se o seguinte perfil do adolescente infrator119:
São adolescentes do sexo masculino (90%); com idade entre 16 e 18 anos (76%); da raça negra (mais de 60%); não freqüentavam a escola (51%), não trabalhavam (49%) e viviam com a família (81%) quando praticaram o delito. Não concluíram o ensino fundamental (quase 50%); eram usuários de drogas (85,6%); e consumiam; majoritariamente, maconha (67,1%); cocaína/crack (31,3%); e álcool (32,4%).
Por fim, verifica-se que os Centros de Internação passam
por sérios problemas. Uma instituição que bem exemplifica esta situação é a
118 PAIVA, Denise Maria Fonseca. Mapeamento Nacional da situação do Atendimento dos
Adolescentes em cumprimento de medidas Sócio-educativas. Disponível em: http://www.anped.org.br/26/outrostextos/sedenisemariafonsecapaiva.doc. Acesso em: 05 abr. 2006.
119 PAIVA, Denise Maria Fonseca. Mapeamento Nacional da situação do Atendimento dos Adolescentes em cumprimento de medidas Sócio-educativas. Disponível em: http://www.anped.org.br/26/outrostextos/sedenisemariafonsecapaiva.doc. Acesso em 05 abr. 2006.
54
FEBEM, a exemplo o Complexo do Taubaté que em virtude da total inadequação
para a privação de liberdade dos adolescentes, encontra-se hoje em fase de
desativação.
3.3.1 A INEFICIÊNCIA DA EXECUÇÃO MEDIDA DE INTERNAÇÃO – COMO
PARADIGMA O COMPLEXO DO TATUAPÉ .
O IPEA constatou em pesquisa a falência dos centros de
internação, sendo que verificou-se que de 71 (setenta e um) % destes são
inadequados à ressocialização do adolescente infrator, haja vista que a forma
como é executada a medida sócio-educativa de internação diverge das diretrizes
preceituadas no Estatuto da Criança e do Adolescente, e assim sendo, gera a
limitação ou ainda a ineficiência da mesma.
Sobre esta temática explica Nogueira120:
Infelizmente, a improvisação tem sido uma constante na solução de diversos problemas em nosso país, pois muitos pensam que basta promulgar uma lei, baixar uma medida provisória e o problema estará resolvido, quando o necessário é discutir a questão em face dos meios existentes e da nossa realidade social.
Desta feita, analisar-se-á, em princípio, a instituição FEBEM
do Estado de São Paulo, em virtude de seus problemas que urgem por solução
imediata, e que devido a estes problemas suscitando em fervorosos debates
sobre a eficácia do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em vistoria realizada pelo Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente, doravante denominado CONANDA, em novembro de
2005 ao Complexo do Tatuapé da FEBEM, constatou-se inúmeras irregularidades
que se contrapõem ao ECA. Constatou-se a falta de projeto pedagógico, tortura,
120 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 194.
55
maus-tratos, falta de capacitação dos funcionários e ambiente arquitetônico
prisional inadequado.
No relativo à questão do projeto pedagógico o Grupo de
Trabalho121 constatou que no “Complexo Tatuapé não há nenhum programa ou
projeto pedagógico sendo executado; cada Unidade tem a sua própria dinâmica e
estão superlotadas”.
Sobre projeto pedagógico entende Volpi122:
Cada internato será uma unidade com denominação própria, estilo e proposta identificada pela equipe de professores, orientadores, profissionais das ciências humanas, trabalhadores sociais e dos adolescentes internos dela participantes.
O que caracteriza tais estabelecimentos é o fim social a que eles se destinam. Para esse fim estarão voltados os meios pedagógicos utilizados em sua dinâmica. Tal fim social é o exercício da cidadania plena pelo adolescente submetido por lei à medida socioeducativa. O conteúdo pedagógico estará voltado, portanto, para os elementos que compõem o artigo 6º do Estatuto: os fins sociais do bem comum: os direitos e deveres individuais e coletivos; a condição peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimento.
A superlotação, condições precárias de higiene e saúde são
problemas que as unidades do Complexo do Tatuapé tem enfrentado. Problemas
estes, que ferem não apenas os princípios elencados no ECA, mas também os
Direitos Humanos. A Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos123
relata que:
121 Relatório de visita ao Complexo do Tatuapé da FEBEM – São Paulo/SP. Disponível em:
http://www.mj.gov.br/sedh/ct/conanda/relatorio_febem.pdf. Acesso em 08 abr. 2006. 122 VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional. p. 30. 123 Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 17 de novembro de 2005.
Disponível em: http://www.corteidh.or.cr/seriee/febem_se_01_portugues.doc. acesso em 06 abr. 2006.
56
Uma média de seis jovens compartilham cada um dos seis dormitórios, sem suficiente iluminação ou ar fresco. Não existe acesso a sanitários adequados ou duchas. Muitos dos jovens têm doenças relacionadas com a falta de higiene;
A estrutura das unidades é semelhante a dos presídios para adultos e se encontram em péssimo estado de conservação, assim como os sistemas de saneamento de água e eletricidade. A alimentação dos adolescentes que estão confinados não cumpre com as condições de higiene adequadas, e;
O Complexo do Tatuapé não possui pessoal médico para o atendimento das crianças e adolescentes que estão detidos, somente contam com enfermeiros.
No relativo à problemática de maus tratos e tortura de
internos, parece ser algo rotineiro em várias unidades da FEBEM, salienta Volpi124
que “é preciso lembrar que espancamento e tortura são crimes e não
instrumentos pedagógicos”. Verifica-se agressões de funcionários aos internos
desde simples castigo à isolamento em solitárias.
Sobre este tema relata o CONANDA125:
Ao visitar a UI 16, dia 19/11/05, sábado, conversou-se com o Coordenador, que mostrou as dependências da Unidade: os dormitórios dos adolescentes, com camas beliche de ferro e o refeitório onde também assistem televisão. Ele informou, ainda, que, às vezes, os adolescentes saem para atividades externas como, por exemplo, jogar futebol no SESC. Conforme se andava pelos corredores, viu-se uma sala trancada, com porta de ferro, e pediu-se para que o Coordenador a abrisse. Lá estava um adolescente, sozinho, sentado no chão. Perguntado há quanto tempo estava ali, respondeu que 01 (um) dia (era sábado) e que ficaria mais 02 (dois) dias, ou seja, até segunda-feira para conversar com os técnicos. Neste local, parecido com uma
124 VOLPI, Mário, O Adolescente e o Ato Infracional. São Paulo: Cortez, 1997. p. 32. 125 Relatório de visita ao Complexo do Tatuapé da FEBEM – São Paulo/SP. Disponível em:
http://www.mj.gov.br/sedh/ct/conanda/relatorio_febem.pdf. Acesso em: 08 abr. 2006.
57
“solitária”, não havia colchão para o adolescente dormir. Perguntou-se ao Coordenador por que aquele adolescente estava lá? Respondeu que não havia técnicos no final de semana e o adolescente ficaria ali até segunda-feira para conversar com aqueles profissionais.
Em 26 de janeiro de 2005, a revista Isto É apud Berti126
publicou matéria relativa à tortura de adolescente na FEBEM, sendo que o
Secretário de Justiça do Estado de São Paulo e Presidente desta instituição,
Alexandre de Moraes relatou:
[...] recebi a notícia de manhã de que dois adolescentes tinham sido torturados e transferidos para a unidade de Tatuapé (zona leste de São Paulo). Apurei depois que foram 84. E encontramos os instrumentos; [...]
[...] no dia 11, a tropa de choque da PM entrou para uma revista periódica, revistou os adolescentes e retirou todos os armamentos, isqueiros e celulares. Os adolescentes foram trancados nos quartos e nenhum tinha lesão. No dia seguinte, apareceram totalmente quebrados. Só os funcionários do turno é que tiveram contato com eles. O IML foi lá e analisou as lesões, que eram recentes. Mais de duas dezenas de instrumentos foram encontrados. E estavam em almoxarifados aos quais só os monitores têm acesso. Vários adolescentes reconheceram os agressores por foto ou fisicamente. Ficou muito claro e evidente que houve a tortura; [...]
Ainda, sobre a questão de tortura, verificou-se em vistoria
realizada pelo CONANDA127 que em virtude da demissão de 1700 (um mil e
setecentos) funcionários da FEBEM os monitores efetuaram retaliações que
culminaram na morte de Jonathan Felipe Guilherme Lima um dos internos:
126 BERTI, Alana Ágda. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Eficácia das Medidas
Sócio-educativas como condição de Salvaguarda da Cidadania da Criança e do Adolescente. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Set. de 2005. p. 58.
127 Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 17 de novembro de 2005. Disponível em: http://www.corteidh.or.cr/seriee/febem_se_01_portugues.doc. acesso em 06 abr. 2006.
58
[...] no dia 21 de fevereiro de 2005 deu-se a morte de Jonathan Felipe Guilherme Lima, de 15 anos de idade, após ter sido brutalmente espancado por alguns de seus companheiros da Unidade 39 da FEBEM, situada no Complexo do Tatuapé. O jovem Guilherme Lima tinha sido ameaçado desde o mês de outubro de 2004 por parte de outros internos, o que motivou sua reclusão isolada em um dormitório. De acordo com os representantes dos beneficiários, no dia 17 de fevereiro de 2005, quando se produziu a despedida em massa de mais de 1.700 funcionários da FEBEM, os monitores da Unidade 39, em represália, teriam entregue as chaves dos dormitórios aos adolescentes que estavam nas área de sol, mesmo sabendo que tinham vários rapazes em reclusão isolada por ameaças de morte. O jovem Guilherme Lima não recebeu ajuda por parte de nenhum funcionário enquanto estava sendo espancado e muito menos atenção médica oportuna.
A falta de investimento, da valorização, da capacitação
profissional, que tem contato direto com o adolescente infrator podem gerar maus
tratos. Esta é a própria constatação relatada por monitores128 do Tatuapé
afirmando que:
Conversou-se com monitores de outras UIs que disseram da falta de investimento no funcionário; que “o funcionário não é valorizado”; que “não preparam os funcionários para trabalhar com os adolescentes” e que, um ou outro, às vezes, ”extrapola nas atitudes com os adolescentes”.
Ainda sobre o despreparo e a falta de investimento
profissional aduz Volpi129:
A conhecida figura do infrator confinado em pátios de imensos pavilhões sob a “guarda” de um corpo despreparado de monitores, vigilantes, inspetores etc. deve ser definitivamente abolida. Ela Não atende, em hipótese alguma, aos fins sociais a que se dirige o Estatuto. Mesmo que os agentes hoje denominados monitores,
128 Relatório de visita ao Complexo do Tatuapé da FEBEM – São Paulo/SP. Disponível em:
http://www.mj.gov.br/sedh/ct/conanda/relatorio_febem.pdf. Acesso em 08 abr.2006. 129 VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional. p. 37.
59
vigilantes, inspetores etc. sejam “preparados”, a experiência já tem demonstrado que não passam de carcereiros sem nenhuma carga pedagógica para formação da cidadania.
Já no tocante ao aspecto arquitetônico das unidades de
internação verificou-se a total inviabilidade, haja vista que tais estruturas mais se
assemelham-se mais a cárceres que a um Centro de Internação para
ressocializar o adolescente infrator.
Em seu relatório o CONANDA130 dispõe:
A arquitetura do Complexo não contempla o espaço que propicie o cumprimento dos direitos do adolescente privado de liberdade. A superlotação, a não possibilidade da divisão por idade, por peculiaridade da prática do ato infracional, por compleição física, tudo remetendo a uma adequação das UIs com a similitude dos espaços prisionais (cadeias).
Sobre o projeto arquitetônico entende Volpi131:
De acordo com o espírito do ECA, fortemente centrado no aspecto pedagógico e avaliação contrária as grandes internatos do passado, que já demonstraram sua ineficácia, recomenda-se que o internamento seja feito em pequenas unidades, com capacidade para 40 adolescentes infratores. Ao Mesmo tempo, esse é um número que permite otimizar recursos Humanos e materiais. Permite também a individualização e a personalização necessária ao tipo de adolescentes com o qual se trabalha.
Por fim, verifica-se que as práticas aplicadas nos Centros de
Intenação da FEBEM, não condizem com os princípios norteadores do ECA. Na
prática, constata-se a distorção na execução e aplicação da medida de internação
e por conseguinte a ineficácia da norma devido a não aplicabilidade no mundo
fático.
130 Relatório de visita ao Complexo do Tatuapé da FEBEM – São Paulo/SP. Disponível em:
http://www.mj.gov.br/sedh/ct/conanda/relatorio_febem.pdf. Acesso em 08 abr. 2006. 131 VOLPI, Mário. O Adolescente e o Ato Infracional. P. 39.
60
3.3.2 DA EFICÁCIA DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO PREVISTA NO ECA.
Na atualidade, já é possível constatar a viabilidade de alguns
centros de internação, os quais executam as medidas de privação da liberdade do
adolescente infrator em consonância com as orientações previstas no Estatuto da
Criança e do Adolescente, e assim se tem resultados positivos, muito próximos
dos idealizados no Estatuto.
Sobre a eficácia da medida de internação aduz Liberati132:
Ela terá eficácia, no entanto, se for um meio para tratar o adolescente, e nunca um fim em si mesma, adotando um critério rígido de triagem, para permitir o tratamento tutelar somente daqueles que dele necessitam. Disso decorre que a internação deve ser cumprida em estabelecimento especializado, de preferência de pequeno porte, e contar com pessoal altamente especializado na áreas terapêutica e pedagógica e com conhecimentos de Criminologia.
Uma experiência que vem a dar respaldo ao entendimento
de Liberati sobre a eficácia da medida de internação é o Núcleo de Atendimento
Integrado, doravante denominado NAI, o qual vem tendo resultados positivos.
Este centro foi inaugurado em 16 de março de 2001 sendo Fruto da parceria da
Prefeitura Municipal de São Carlos e governo do Estado de São Paulo tendo por
objetivo a celeridade e eficiência nos procedimentos relativos à apuração dos atos
infracionais.
Sobre os objetivos do NAI aduz Lima e Neto133:
A prática exitosa do NAI/São Carlos traz no seu bojo a integração de diversos órgãos, como Segurança Pública, Poder Judiciário, Ministério Público, Assistência Social, Saúde, Educação, Defensoria e FEBEM, num mesmo espaço físico. A agilização dos procedimentos (em média de quatro a doze dias), centrados na
132LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 93. 133 LIMA, Agnaldo Soares; NETO, Newton Lima. FEBEM: Mudança de nome ou de conceito.
Disponível em: http://www.salesianos.com.br/forum/. Acesso em 08 abr. 2006.
61
pessoa do adolescente e sua família, trabalhando-o junto à comunidade através da L.A134., PSC135 e Semiliberdade, conseguiram reduzir os índices de prática de delitos graves, de reincidência, de internação na FEBEM e, sobretudo, conseguiram mudar o perfil dos adolescentes que praticam ato infracional. Ao perceber as conseqüências rápidas do delito praticado, o adolescente abandona mais facilmente sua trajetória na criminalidade. Desta forma, hoje é perceptível no trabalho de São Carlos que, mesmo no caso de infrações mais graves, estes são fatos pontuais na vida do jovem. Isto significa ter na prática um autor de ato infracional sempre mais com cara e jeito de adolescente e cada vez menos com vivência escolada no mundo da criminalidade, o que facilita sua recuperação.
Fundado no pressuposto de que a resolução n. 46/1996 do
CONANDA que estabelece que nenhuma unidade de internação pode ultrapassar
o número de 40 (quarenta) adolescentes, o Internato Vila Conceição se aproxima
bastante dos preceitos elencados no ECA. O internato possui 60 (sessenta)
adolescentes e está obtendo boas respostas.
Conforme matéria veiculada na revista Veja em 23 de março
de 2005 apud Berti,136 vem a corroborar a potencialidade da ressocialização dos
adolescentes, relatando que:
No Internato Vila Conceição, um dos oito do gênero em São Paulo, os adolescentes têm – além das aulas que vão do ensino fundamental ao 2º grau – cursos de marcenaria, artesanato, informática e panificação, entre outros. São atividades semelhantes às que estão à disposição de internos do Complexo do Tatuapé, por exemplo. A diferença é que, ao contrário dos adolescentes das unidades maiores, os dos internatos se interessam em fazer os cursos. Em Vila Conceição, 100% dos internos atendem às aulas, contra 30% dos jovens do Tatuapé. “Aqui, o educador tem mais facilidade em estabelecer um vínculo com o adolescente e convencê-lo de que estudar vai ser bom para
134 L. A – liberdade assistida 135 PSC – prestação de serviços à comunidade. 136BERTI, Alana Ágda. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Eficácia das Medidas
Sócio-educativas como condição de Salvaguarda da Cidadania da Criança e do Adolescente. p. 64.
62
ele. A relação é muito mais próxima”, explica Carlos José Vieira, diretor de Vila Conceição. O internato, que abriga sessenta infratores, se parece muito mais com uma escola do que com um presídio. Os quartos e banheiros são limpos, funcionários chamam os internos pelo nome e infratores primários lá não se misturam com reincidentes. Nos últimos dez meses, período em que está em vigor a atual administração, a unidade não registrou nenhuma fuga ou rebelião. Detalhe: a Vila Conceição não custa um centavo a mais do que o Tatuapé. O estado repassa às duas unidades o mesmo valor: 1 700 reais mensais por adolescente.
O auto grau de aproveitamento do Centro de Internação Vila
Conceição se dá em virtude de um tratamento terapêutico e pedagogia adequado.
Nesse sentido explica Machado apud Liberati:137
Nesse aspecto, Antônio Luiz Ribeiro Machado, que já presidiu a FEBEM/SP, alerta que “a moderna pedagogia que orienta o tratamento do menor de infração penal, a tradicional disciplina imposta pela força e pela coação, deve ser substituída por um amplo processo que leve o menor a descobrir o seu próprio valor e, conscientemente, passe a orientar sua conduta segundo as normas de autodisciplina e de autocontrole, tendentes a ressocialização. Em suma, a verdadeira terapia deve visar: a) à formação de uma personalidade sadia, despertando no menor a autoconfiança e auto-estima; b) ao domínio da agressividade; c) à sua readaptação social.
A revista Veja de 23 de março de 2005 apud Berti138 expõe
um quadro comparativo em duas entidades da Febem destinadas a atender
adolescentes que receberam medida sócio-educativa de internação, que
demonstra de maneira clara e objetiva a realidade:
137 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. p. 93. 138 BERTI, Alana Ágda. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Eficácia das Medidas Sócio-educativas como condição de Salvaguarda da Cidadania da Criança e do Adolescente. p. 65.
63
Dois retratos da FEBEM
COMPLEXO DO TATUAPÉ
Os especialistas concordam: quanto menor o internato,
melhor ele é
INTERNATO VILA
CONCEIÇÃO
1380 Número de internos 60 Infratores primários
e reincidentes
Quem são os menores
Infratores primários
30% Porcentagem de adolescentes que
participam de cursos e
atividades diárias
100%
um colchão para cada dois internos
Situação do alojamento
Um colchão para cada
interno um para
cada oitenta menores
Número de Monitores por interno
Um para cada dez menores
307 Número de fugas em 2005
Nenhuma
�
�
Por fim, em análise quadro ao comparativo, verifica-se o
perfil de duas estruturas, a do Complexo Tatuapé demonstra-se ineficaz como
medida sócio-educativa e oposição ao sistema mais próximo do recomendado
pelo ECA, o Internato Vila Conceição, o qual obteve melhores resultados na
ressocialização dos adolescentes.
Uma outra forma de organização social em prol da
ressocialização do adolescente infrator pode ser constatada no Amapá, onde o
Estado promoveu uma reformulação de todo o sistema de atendimento ao
adolescente.
Soares139 afirma que em decorrência desta reformulação
houve a criação da Fundação da Criança e do Adolescente, doravante
denominada FCRIA, sendo que “a principal meta é atender crianças e
139 SOARES, Bezinha Lopes da Cunha. Educar em vez de punir. Disponível em:
www.polis.org.br/dowload/arquivo_boletim_30.pdf. Acesso em 08 abr. 2006.
64
adolescentes demandantes de proteção especial, principalmente aqueles
sentenciados ao cumprimento das medidas sócio-educativas previstas no ECA”.
A respeito deste programa ressalta ainda Soares140 que: “O
programa vai além de simplesmente cumprir o que está no ECA, buscando
estabelecer uma nova mentalidade norteadora de comportamentos no trato com
os adolescente, priorizando a educação e não a punição”.
Um fator de destaque que distingue este programa dos
demais existentes em todo país é a gestão compartilhada, a qual visa o
planejamento e a solução de problemas com a colaboração de todas as áreas,
pessoal envolvidos no processo de ressocialização do adolescente infrator,
inclusive com a participação do próprio adolescente infrator. Esta gestão
compartilhada se consolida através de avaliações trimestrais por meio da
participação de todos.
Por gestão compartilhada141 entende-se:
Isto é, todo o planejamento e todas as decisões são tomadas com a participação de todos (servidores, técnicos, educadores sócio-ambientais, professores e adolescentes) e, a cada três meses ocorre uma avaliação, também nestes moldes. Nas avaliações discute-se, entre outras coisas, a organização do espaço físico e as atividades para os próximos três meses.
Pode-se referenciar como exemplo da gestão compartilhada
o Centro Educacional Aninga142, o qual:
No Centro Educacional Aninga, são atendidos 36 internos de 14 a 21 anos. A cada três meses, o Centro realiza a Oficina de Integração e Responsabilidade, com a participação opcional dos
140 SOARES, Bezinha Lopes da Cunha. Educar em vez de punir. Disponível em:
www.polis.org.br/dowload/arquivo_boletim_30.pdf. Acesso em 08 abr. 2006. 141 SOARES, Bezinha Lopes da Cunha. Educar em vez de punir. Disponível em:
www.polis.org.br/dowload/arquivo_boletim_30.pdf. Acesso em 08 abr. 2006. 142 A reeducação pelo diálogo. Programa de Medidas Socioeducativas – Amapá. Disponível
em: http://inovando.fgvsp.br/conteudo/documentos/historias2000/HBrasil2000/Macap%E1-1.rtf. Acesso em 07 abr. 2006.
65
adolescentes, de seus familiares e da equipe interdisciplinar que coordena a unidade. Na Oficina, discutem-se as regras de convivência na unidade, a realização de atividades externas, a organização do espaço físico e o planejamento de atividades para o trimestre seguinte.
Este sistema está em consonância com os preceitos do
ECA143, visto que:
Busca principalmente a ressocialização dos adolescentes. Para tanto, acompanha os sentenciados ao cumprimento das medidas sócio-educativas de semiliberdade e internação promovendo seu desenvolvimento pleno, visando seu retorno ao convívio familiar e social. Garante a matrícula do adolescente na rede formal de ensino, oferece capacitação para o mercado de trabalho, promove atividades culturais, esportivas e de lazer, e busca fortalecer o vínculo familiar do adolescente, envolvendo sua família neste processo de ressocialização.
O programa também oferece defesa técnica dos adolescentes, por meio da defensoria pública, mantendo o adolescente informado a respeito de sua situação processual. Com tudo isso, amplia-se a garantia de direitos, utilizando o máximo possível de serviços da comunidade no atendimento ao adolescente.
Em decorrência destas medidas verifica-se a mudança de
mentalidade, distanciando da idéia de punição ao adolescente infrator e se
aproximando das orientações do ECA.
Aduz Soares144:
Um dos principais resultados do programa da FCRIA é a mudança de uma lógica de punição para uma lógica de educação. Embora isto esteja previsto no ECA, nem sempre se encontra um desenho instituicional que garanta esta mudança de mentalidade.
143 SOARES, Bezinha Lopes da Cunha. Educar em vez de punir. Disponível em:
www.polis.org.br/dowload/arquivo_boletim_30.pdf. Acesso em 08 abr. 2006. 144 SOARES, Bezinha Lopes da Cunha. Educar em vez de punir. Disponível em:
www.polis.org.br/dowload/arquivo_boletim_30.pdf. Acesso em 08 abr. 2006.
66
Verifica-se ainda que, neste sistema de gestão
compartilhada145 contribui consideravelmente na redução de reincidência, haja
vista que:
Os benefícios da nova política implantada pela Fundação da Criança e do Adolescente do Amapá são demonstrados pelo depoimento dos jovens. Eles contam que os espaços criados favorecem o estabelecimento de relações de reciprocidade com a equipe de apoio. Outra demonstração eloqüente é o fato de nunca ter havido casos de reincidência entre os adolescentes atendidos na Casa de Semiliberdade.e de não ter ocorrido, desde 1995, nenhuma rebelião nas duas unidades de atendimento. Embora haja uma diferença de escala entre essas unidades e alguns dos locais de internação de jovens infratores em grandes centros urbanos do país, a filosofia do Programa pode servir de referência para aqueles que desejam implementar mudanças no modelo repressivo ainda prevalecente nessa área.
Enfim, a partir dos dados elencados nesta pesquisa,
constata-se que quando os Centros de internação se moldam aos preceitos do
Estatuto da Criança e do Adolescente, a medida sócio-educativa de internação
surte o efeito esperado, revestindo assim a norma jurídica de plena eficácia. Já
nos centros de internação que divergem do princípio da Doutrina de Proteção
Integral vislumbra-se a inviabilidade da eficácia da medida sócio-educativa.
Ou seja, a atual norma é viável e eficaz basta que haja a
devida implementação dos meios que possibilitem a execução do Estatuto da
Criança e do Adolescente e não a criação de novas leis. Salienta-se ainda que a
ressocialização do adolescente somente terá êxito se houver o comprometimento
de toda a sociedade, uma vez que este é um problema social.
145 A reeducação pelo diálogo. Programa de Medidas Socioeducativas – Amapá. Disponível
em: http://inovando.fgvsp.br/conteudo/documentos/historias2000/HBrasil2000/Macap%E1-1.rtf. Acesso em 07 abr. 2006.
67
3.4 DO SENTIMENTO DE IMPUNIDADE E DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE
PENAL.
A sociedade, hoje, vislumbra a necessidade de mudanças
urgentes na legislação em virtude do entendimento de que o ECA não está
cumprindo com os objetivos precípuos pelos quais fora criado, no tocante à
questão das medidas sócio-educativas. Atualmente, em virtude destes problemas,
há um debate sobre a redução da maioridade penal como um meio de solução
para estes problemas. Leal146 relata que fora efetuado pesquisas, as quais
tiveram o seguinte resultado: “aproximadamente, 70% dos brasileiros são
favoráveis à diminuição da idade penal”.
Afirma ainda Leal147:
As rebeliões e conseqüentes atos de vandalismos, de violência e de mortes, mostrados pelos meios de comunicação de forma passional e sensacionalista, criam no imaginário da população a falsa opinião de que os adolescentes infratores não estão sujeitos a nenhum tipo de controle jurídico.
Transmite-se a falsa idéia de que os adolescentes podem cometer os atos infracionais mais violentos e hediondos e continuam livres para praticar outros tantos. [...]
Isto explica facilmente o alto índice das intenções favoráveis à redução da idade penal, levantado em pesquisas realizadas logo após a ocorrência de atos infracionais gravíssimos, cometidos com requinte de violência e de perversidade.
Há de se ressaltar ainda que a questão da inimputabilidade
penal do adolescente não deve ser confundida com impunidade. Tal instituto está
146 LEAL, João José. Menor Infrator e Maioridade Penal. Disponível em: www.univali.br. Acesso
em 04 abr. 2006. 147 LEAL, João José. Menor Infrator e Maioridade Penal. Disponível em: www.univali.br. Acesso
em 04 abr. 2006.
68
previsto no artigo 228 da CRFB de 1988 e que constitui cláusula pétrea no
ordenamento constitucional vigente.
Sobre esta temática aduz Amorin148:
Inimputabilidade é a não atribuição de crime. O artigo 228 da Constituição Federal determina que são penalmente inimputáveis os menores com idade entre 12 e 18 anos. Inimputabilidade não significa impunidade. O adolescente é responsável legalmente pela sua conduta, estando sujeito a uma jurisdição e apuração especial com medidas sancionatórias, chamadas sócio-educativas. Este artigo (228) é independente do 227, cuja regulamentação é feita através da Lei n. 8.069/90.
Já no relativo à possível redução da maioridade penal
D’Urso149 afirma que tal idéia é uma ficção jurídica e que:
Neste contexto, articula-se raciocínio pelo qual um jovem com 17 anos, ou até 16 anos, saberia muito bem o que está fazendo, de modo que a maioridade penal deveria ser rebaixada para aquelas idades, asseverando que um jovem de 16 anos e meio, que mata, deveria ser tratado como se adulto fosse, isto é, tratando-o como maior para efeitos penais e tal se daria com o rebaixamento da maioridade penal brasileira.
Esse raciocínio traz o mesmo equívoco observado anteriormente, pois também, num passe de mágica o jovem com 15 anos, onze meses e vinte nove dias não entenderia sua conduta, ao passo que instantes depois, ao completar 16 anos, passaria a compreender o caráter criminoso de sua ação, permanente a ficção jurídica.
Na atualidade, há alguns fatores que vem a corroborar com
a idéia da redução da maioridade penal, quais sejam a exacerbação do problema,
148 AMORIN, Durval da Silva. Infância e Juventude, não à redução da imputabilidade penal.
Disponível em: www.mp.sc.gov.br. Acesso em 04 abr. 2006. 149 D’URSO, Luiz Flavio Borges. A questão da maioridade penal e a febem. Disponível em:
www.escritorioonline.com. Acesso em 04 abr. 2006.
69
tornando-o muito maior que realmente é; o aumento da delinqüência juvenil e por
fim a aparente impunidade do menor infrator.
Sobre o tema Saraiva150 discorre:
Mário Volpi, em diversos estudos publicados, sustenta a existência, em relação ao adolescente em conflito com a lei, de um tríplice mito a animar os arautos do catastrofismo, sempre de prontidão a encontrar no adolescente uma, se não a principal, causa da problemática da segurança pública.
Os mitos são: do hiperdimensionamento do problema, da periculosidade do adolescente, da impunidade.
Os dois primeiros mitos (do hiperdimensionamento do problema e da periculosidade do adolescente) resultam de uma crescente manipulação de informações, em especial por parte da mídia. A idéia que se faz passar à opinião pública é no sentido de que cada vez há mais adolescentes envolvidos com a criminalidade, que este número é gigantesco e que os atos infracionais praticados por estes jovens revestem-se cada vez mais de intensa violência.
É interessante ressaltar ainda que, no tocante ao
hiperdimensionamento e a questão da periculosidade, os argumentos carecem de
fundamentação. É o entendimento de Saraiva151 que aduz:
Nenhuma das duas informações se faz verdadeira. Não há quaisquer dados que autorizem afirmar um crescimento da delinqüência juvenil, tão pouco do incremento da violência, ao ponto de afirmar a periculosidade alarmante destes agentes.
Outro fator que tem contribuído muito para o sentimento de
impunidade é conseqüência da não aplicabilidade das medidas sócio-educativas
150 SARAIVA, João Batista Costa. Desconstruindo o mito da impunidade. um ensaio de direito
(penal) juvenil. Brasília, 2002. p. 61. 151 SARAIVA, João Batista Costa. Desconstruindo o mito da impunidade. um ensaio de direito
(penal) juvenil. p. 61.
70
previstas no ECA. Ou seja, a discrepância entre o real e o ideal, em síntese, o
que o Estatuto prevê e o que na prática é aplicado. A falta de condições
estruturais para a aplicação das medidas previstas legalmente, a pouca
participação do Estado enquanto gestor e executor das medidas sócio-educativas
desvirtuam os objetivos precípuos elencados no ECA.
Aduz Saraiva152:
A questão da responsabilização do adolescente infrator e a eventual sensação da impunidade que é passada para a opinião pública decorre não do texto legal nem da necessidade de sua alteração - mesmo se admitindo não ser o Estatuto da Criança e do Adolescente uma obra pronta e acabada. A questão toda se funda na incompetência do Estado na execução das medidas sócio-educativas previstas na Lei, a inexistência ou insuficiência de programas de execução de medidas em meio aberto e a carência do sistema de internamento (privação de liberdade), denunciado diariamente pela imprensa, com raras e honrosas exceções.
Saraiva153 complementa sua argumentação ressaltando que:
O modelo preconizado pelo ECA é totalmente eficaz e adequado, e estão aí as experiências onde houve uma efetiva aplicação a demonstrar o que afirmo, responsabilizando e recuperando jovens, devendo sim ser efetivado o que Marcel Hope vaticina: O Estatuto é a receita, que a nós cumpre aviar.
Ainda no relativo à viabilidade da medidas sócio educativas,
Amorin ratifica o entendimento de que “onde o sistema é corretamente aplicado, a
eficácia é quase plena, pois a exceção está na utopia em querer acabar com a
incidência da criminalidade e da violência no Brasil”.154
152 SARAIVA, João Batista Costa. Desconstruindo o mito da impunidade. um ensaio de direito
(penal) juvenil. p. 61. 153 SARAIVA, João Batista Costa. Desconstruindo o mito da impunidade. um ensaio de direito
(penal) juvenil. p. 61. 154 AMORIN, Durval da Silva. Infância e Juventude, não à redução da imputabilidade penal.
Disponível em: www.mp.sc.gov.br. Acesso em 04 abr. 2006.
71
Há de se ressaltar ainda que a redução penal não soluciona
o problema da violência, e sim acaba sendo mero paliativo, soluções inócuas.
Sobre esta temática o Instituto Latino Americano das Nações
Unidas para a Prevenção do Delito e do Tratamento do Delinqüente – ILANUD)155
entende que:
A redução da idade penal, com a aplicação de pena e encaminhamento de adolescente a presídios, não conseguirá resolver nem tão pouco diminuir a questão dos adolescente infrator. Como prova disso basta ver a ineficácia da Lei de Crimes Hediondos: o tratamento mais rigoroso a determinados crimes além de não ter diminuído a violência acabou colaborando com a superlotação dos presídios e cadeias.
Diante do exposto acima apresentado, verifica-se que há é
um exagero ao tratar das questões referentes aos atos infracionais cometidos por
adolescentes. Sendo que quando são efetivamente aplicadas, as medidas sócio-
educativas, surtem efeito.
Por fim, verifica-se que a questão central que se encerra não
é a necessidade de ser reformular o ECA, por ser considerada uma legislação
ineficaz, mas sim, exigir do Estado a aplicabilidade desta.
155 ILANUD. O Adolescente é o principal agente da violência no país? Disponível em:
www.ilanud.org.br. Acesso em 08 abr. 2006.
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude da polêmica acentuada na atualidade, sobre a
necessidade de reformulação ou não do Estatuto da Criança e do Adolescente,
por acreditarem que a legislação vigente não supre as necessidades sociais por
ser este ineficaz, é que a presente pesquisa teve por objetivo, em particular,
verificar se a medida sócio-educativa de Internação é um meio eficaz de
ressocialização do adolescente que pratica ato infracional grave.
Para tanto, no Capítulo 1, discorreu-se a respeito das várias
legislações ao longo do tempo que tratavam especificamente sobre a questão da
criança e do adolescente. Verificou-se, desde os tempos do Brasil Império até a
atualidade; as diferentes visões a respeito da criança e do adolescente, do
entendimento de que o menor em situação irregular até a consolidação da
Doutrina de Proteção Integral, a qual culminou no Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Abordou-se ainda, cronologicamente, a respeito das
principais legislações, as quais serviram de alicerce as conquistas da criança e do
adolescente à uma legislação especial, ou seja, o Estatuto da Criança e do
Adolescente.
No Capítulo 2, abordou-se a respeito das medidas sócio-
educativas, discorrendo de forma individualizada, explicitando seus objetivos,
funções e peculiaridade como resposta da sociedade ao ato infracional cometido
pelo adolescente. E para melhor compreensão da medida sócio-educativa de
internação, tratou-se a respeito do fato gerador desta sanção, ou seja, sobre o
ato infracional e sua apuração, visto que é em conseqüência deste que haverá a
conseqüente aplicação da medida sócio-educativa.
No Capítulo 3, pretendeu-se fazer uma reflexão a respeito
da eficácia da medida de internação, com a finalidade de verificar se o problema
central que limita, restringe a medida de internação é em função da ineficácia da
norma jurídica ou se é em decorrência dos meios empregados para por em
73
prática tal medida. Em função deste pensamento, trabalhou-se a questão da
redução da maioridade penal, assunto polêmico nos dias de hoje, e por
conseguinte, o anseio social por mudanças ao Estatuto da Criança e do
Adolescente, por considerá-lo inócuo.
Procurou-se ainda, discorrer a respeito dos Centros de
Internação, as experiências positivas e negativas. Entender como certos Centros
de Internação conseguem resultados positivos, demonstrando assim a viabilidade
da norma, enquanto que outros a exemplo do complexo do Tatuapé verifica-se a
total falência desta medida. Ressalta-se que ambos são regidos pela mesma
norma jurídica, por conseguinte, há de se refletir se o cerne do problema está na
ineficácia da norma ou na implementação desta.
Finalmente, relativo às hipóteses levantadas no decorrer da
pesquisa, verificou-se:
Primeira hipótese: Os mecanismos e os meios utilizados no
instituto da internação para a ressocialização do adolescente infrator não
condizem com as orientações previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente,
haja vista que, não respeita os princípios da proteção integral instituídas pelo
ECA.
Restou parcialmente confirmada, haja vista que na maioria
dos centros de internação a execução da medida desta, nada se assemelha aos
preceitos elencados no Estatuto da Criança e do Adolescente. O tratamento dado
ao adolescente infrator na maioria dos Centros de Internação, nada mais é que os
mesmos prestados àqueles que estão na prisão. Contudo, verificou-se que há
centros que implementaram as medidas de acordo com a previsão legal.
Segunda hipótese: O aparato Estatal atual é deficiente no
aspecto estrutural, não há instituições adequadas, munidas de espaço físico,
apoio educacional e psicológico ao adolescente que lá é internado. Desta feita,
verifica-se que os Centros de Internação são incapazes de reeducar, resgatar e
manter a dignidade do adolescente em conflito com a lei.
74
Esta hipótese restou parcialmente confirmada, em virtude de
que a grande maioria dos centros de internação possuem os problemas, onde
constata-se que o adolescente é internado sem condições mínimas de
ressocialização. Por outro lado, verificou-se que nos Centros de Internação onde
seguem as diretrizes estipuladas no Estatuto da Criança e do Adolescente há
efetiva ressocialização deste adolescente.
Terceira hipótese: Na atualidade, é possível constatar a
ineficácia da medida sócio-educativa de Internação.
Esta hipótese não restou confirmada, em virtude de que o
problema central está na implementação, na execução da norma e não no
simples fato de reformulá-la. Pretende-se reformular uma norma por acreditar na
sua ineficácia antes mesmo de colocá-la em prática. Exemplos atuais de Centros
de Internação, comprovam a viabilidade desta medida, contudo desde que seja
executada, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Após ter discorrido de forma detalhada a respeito da medida
de internação, trabalhado suas causas, conseqüências e peculiaridades, verificou-
se que a eficácia de uma norma jurídica está vinculada diretamente a
implementação da mesma.
Constatou-se com o presente trabalho que nos centros onde
foram respeitados as orientações previstas no Estatuto da Criança e do
Adolescente há uma correspondência entre a aplicação da medida de internação
e o efetivo resultado ressocializador desta medida. Por outro lado, nos centros
onde há uma discrepância entre o previsto no ECA e o que é executado, verifica-
se, tão somente, a falência do sistema que a princípio tem como objetivo
recuperar o adolescente infrator trazendo-o novamente ao harmônico convívio
social.
Por fim, verifica-se que como já foi explicitado nos capítulos
anteriores que o Estatuto da Criança e do Adolescente é uma legislação arrojada,
moderna, e, que antes de pensar em reformular esta norma há de se ter
75
condições de colocá-la em prática. Salienta-se que as poucas experiências onde
fora realmente implementada em consonância com o ECA obteve-se resultados
positivos. Exemplo explícitos da viabilidade, da eficácia da norma são os centros
de internação como Centro Educacional Aninga do Amapá, Vila Conceição de
São Paulo e Núcleo de Atendimento Integrado - São Carlos/SP.
Há de se ter em mente que a pura e simples criação de
normas por si só não solucionarão a questão da violência juvenil. A criação de
novas leis sem a sua devida implementação, estarão predestinadas a não sair do
papel, tornando-se totalmente ineficazes.
Colocar em prática os preceitos contidos no Estatuto da
Criança e do Adolescente é um trabalho árduo que se consolidará gradualmente.
A necessidade da aceitação e mobilização de toda a sociedade para a viabilidade
destes, haja vista que o problema do adolescente infrator nada mais é que um
problema social.
76
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