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Diagramação do livro Reféns do Medo. Para mais informações acesse: http://aureliosimoes.wix.com/aureliosimoes

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AgrAdecimentos

Escrever um livro é algo muito, mas muito difícil mesmo. Quem é escritor sabe do que estou falando. No entanto, encontramos pessoas que nos ajudam nessa tarefa tão árdua. Esta obra não teria sido concluída se não fosse a ajuda de algumas pessoas, que considero muito especiais. Meus queridos betas danielle Peçanha, Leonardo rezende e rachel simões. Obrigado pelas críticas e sugestões. Ao amigo Índio, por ter colaborado nas questões investigativas do livro. Ao amigo mauro césar, pelas dúvidas em relação aos presídios. Ao escritor samuel cardeal, pela elucidação referente ao DNA. A eliane dias, pela foto da orelha do livro. Enfim, a todos os amigos e familiares que me apoiaram e que me apoiam nessa loucura e paixão que é ser escritor no Brasil. Muito obrigado!

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Dedico este livro ao amor que considero mais sublime: o amor de mãe.

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Primeira Parte

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RIO DE JANEIRO, 14 DE JUNHO DE 2010

EXAUSTO, ALLAN REIS TENTAVA SE DESVENCILHAR, mais uma vez, das correntes que impediam a sua liberdade. No entanto, era inútil. Mesmo que encontrasse um modo de quebrar as fortes correntes presas aos seus pés, não conseguiria ir muito longe. Além de seu corpo estar demasiadamente fraco, o casebre onde se encontrava fi cava em uma fl oresta distante, a uns 20 km da civilização. Estava desesperado. Sabia que seria morto naquele dia. Os demônios, como ele os chamava, haviam avisado. A única esperança que tinha agora era pedir clemência. E foi o que fez quando ouviu a porta se abrir.

— Pelo amor de Deus, não me matem. Deixa eu ir embora. Por favor.

Os demônios entraram, rindo, e ignoraram o pedido de misericórdia da vítima. Um deles pegou um enorme machado. O outro posicionou uma câmera de vídeo, em um tripé, em frente à vítima. O terceiro espalhou baldes ao redor de Allan. Após isso, segurou um galão com líquido infl amável e o abriu. Em seguida, perguntou:

i Capitulo 1

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— E aí? Já podemos começar? — direcionou a pergunta ao demônio que posicionava a câmera.

— Já. Podemos começar a festinha.O pavor tomou conta de Allan Reis. Sabia que seriam seus

últimos minutos de vida. Voltou a pedir clemência:— Pelo amor de Deus... Por favor... Deixa eu ir... Allan foi novamente ignorado. Um dos demônios disse ao

que segurava o machado:— Não se esqueça que a primeira é na cabeça.

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RIO DE JANEIRO, 2014

EM FRENTE AO ESPELHO DO BANHEIRO, BRENDA ELLEN acabava de retocar a maquiagem. Ouviu a campainha tocar e gritou:

— Lucas?! Abre a porta pra mim! Deve ser a Monique!Lucas, que estava em seu quarto acessando um site,

minimizou a página e respondeu:— Já vou!Levantou-se e atendeu a porta. — Oi, lindão — disse Monique ao entrar.— Oi, Monique.— Cadê a sua mãe?— Está no banheiro se arrumando.— Ainda? Nossa, mas ela tá enrolando muito. Peraí que já

vou lá perturbar.Monique se dirigiu até o banheiro e disse, batendo à porta:— Como é que é, senhorita? O mundo lá fora nos espera.Brenda já estava pronta. No entanto, fi cou algum tempo se

olhando no espelho, indagando se deveria ou não sair naquela

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noite. Embora há um bom tempo estivesse precisando se divertir, estava preocupada. Não se sentia confortável em deixar Lucas sozinho, mesmo que ele já tivesse seus 16 anos.

Brenda, enfim, abriu a porta. Monique, ao vê-la, percebeu no rosto a mensagem “não estou muito a fim de sair” e protestou:

— Mas que cara é essa, amiga? Nós vamos para a balada, não para um enterro. Vamos logo melhorando essa cara, hein.

— Você sabe meus motivos, Monique.— Eu sei, Brenda. Mas vai ficar tudo bem. Vamos lá conversar

com o seu filhote.Brenda e Monique foram até o quarto de Lucas. Este, ao

perceber que as duas se aproximavam, novamente minimizou a página que acessava.

— Lucas, você acredita que a sua mãe está preocupada em te deixar sozinho? — indagou Monique ao entrar.

Lucas olhou para a mãe e ficou incomodado. Afinal, ela estava linda em um ousado vestido preto. Sentia ciúmes, embora não assumisse. Mas ele também tinha seus motivos, já que Brenda era uma daquelas mulheres impossíveis de não se notar. Loira, alta, com hipnotizantes olhos azuis. Não havia quem não ficasse fascinado por sua beleza.

Conquanto o rosto de Lucas traduzisse “mãe, não vá e fique aqui comigo”, ele engoliu o egoísmo e respondeu:

— Pode ir, mãe. Vai ficar tudo bem.— Ouviu? — indagou Monique.— É. Acho que não tem nada de mais você ficar sozinho

aqui. Mas, pelo amor de Deus, me liga se precisar de alguma coisa. Meu celular estará ligado. Tranque a porta e não abra para ninguém. E...

— Ih, Brenda! Chega! — interrompeu Monique. — Você já deve estar repetindo isso pela milésima vez. O Lucas não é um bebê. Ele sabe se cuidar. Que paranoia!

— Não é paranoia! — repreendeu Brenda. — Mãe é assim mesmo. Você não sabe por que ainda não é mãe.

— Não sou mãe e nunca quero ser. Deus me livre! Gosto muito da minha liberdade. Aliás, falando em liberdade, lembrei

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da festa. E lembrando de festa, me lembrei do seu aniversário — olhou para Lucas.— Não se esqueça que eu estarei lá, hein. Vou tentar ficar mais bonita que a sua mãe e tentar ficar com todos os gatos.

— Para de falar besteira, Monique. Só vão os amigos do Lucas. E eles na maioria têm 15 anos, no máximo, 17 — criticou Brenda.

— Não tem problema nenhum nisso. Sou uma mulher informada, querida. Pedofilia é antes dos 14 anos. Se o cara é hétero e bonito, eu tô pegando. Não quero nem saber.

— Ah, é? Tenta ciscar sua asinha para cima do meu filho para ver se você não toma uma coça.

— Ih, Brenda, tá doida? Claro que jamais faria isso.— Oh, oh, vamos parar com esse assunto estranho — pediu

Lucas.— Ah, filho. Agora que lembrei. Você já decidiu se vai

prestar vestibular para Direito? É pra eu já começar a pesquisar um cursinho pra você.

— Não, mãe, ainda não — respondeu Lucas no maior desânimo.

— Brenda, para de enrolar. Vamos logo que a noite promete!— Calma. Já estamos indo.Brenda se aproximou do filho e o beijou na testa, dizendo:— Filho, fique com Deus. Qualquer coisa...— Você me liga — completou Monique com voz de deboche.

— Ai, que mãe grudenta. Putz. Vamos logo, Brenda!E as duas foram embora. Lucas então voltou a acessar um

site de modelos profissionais.

Situada no centro do Rio de Janeiro, a Acid House era uma das casas noturnas mais badaladas da cidade que tocava House Music. Seus principais atributos: grandiosidade e luxo. A boate tinha capacidade para comportar até duas mil pessoas, sendo

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a infraestrutura uma das mais modernas e requintadas. Só os melhores DJs tocavam lá.

Naquele sábado, a casa estava completamente lotada. Brenda e Monique se espremiam entre as quase duas mil pessoas, que se divertiam ao som ensurdecedor do House.

A única que não parecia se divertir muito era Brenda. Além de ela não estar curtindo o som extremamente alto, achou-se velha demais dentre aqueles jovens de 19 e 28 anos, no máximo. Sem pisar os pés em uma balada há mais de 10 anos, entendeu que ela, agora aos 35 anos, tinha outro ritmo. Mesmo tomada de vontade de sumir daquele lugar, decidiu não estragar a noite da amiga e se comprometeu a permanecer até o fim. Isso se conseguisse falar com o filho para ficar mais tranquila. Dessa forma, gritou no ouvido da amiga que iria ao banheiro para telefonar. Chegando lá, logo na entrada, avistou uma menina encostada à parede, com a alma consumida pelo álcool. Deu mais alguns passos e encontrou outra garota vomitando em um dos reservados. Meu Deus, o que eu estou fazendo aqui? Por que fui dar ouvidos à doida da Monique?

Por fim, decidiu entrar em um dos reservados e discou o número do filho. Não obteve sucesso. O telefone chamou diversas vezes, e Lucas não atendeu. Será que ele já está dormindo? Olhou a hora no celular, já era uma e meia da manhã. Ligou mais uma vez para o filho, sem sucesso. Desesperou-se. Saiu andando depressa do banheiro e voltou para a pista de dança, até o local onde deixara Monique. Contudo, ela não estava mais lá. Caraca, onde está essa maluca agora? Se não encontrá-la rápido, eu vou embora.

Procurava pela amiga quando sentiu alguém a segurar pelo braço. Ela direcionou seus olhos para a pessoa e descobriu que era um rapaz notavelmente bêbado. Brenda soltou-se dele, mas ele novamente a incomodou, puxando-a, dessa vez, pela parte de baixo do vestido. Brenda o empurrou, com as duas mãos, porém o sujeito insistiu mais uma vez e abusou, passando a mão na bunda dela. Aquilo foi a gota d’água. Brenda, que já estava irritada com a impertinência, agora ficara furiosa. Não pensou

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duas vezes em acertá-lo com um chute na barriga. O golpe fora tão violento que o jovem caiu no chão.

As pessoas próximas se dispersaram, esbarrando umas nas outras, iniciando um tumulto. Logo os seguranças perceberam o que estava acontecendo e se dirigiram até o local. O moço bêbado, com muito esforço, conseguiu se levantar e, mais uma vez, partiu para cima de Brenda, que se defendeu dando outro chute na barriga dele, fazendo-o se encontrar de novo com o chão.

Os seguranças chegaram e apartaram a briga. Brenda argumentou algo, porém a regra da casa era clara: os brigões deveriam ser expulsos. Enquanto Brenda era carregada por um dos seguranças até a saída, avistou Monique aos beijos com um rapaz. Quando se achou mais próxima da amiga, gritou:

— Monique?! Monique?!Monique olhou em direção aos berros e arregalou os olhos

ao ver Brenda sendo carregada por um segurança. Disse, no ouvido do seu acompanhante, que voltaria logo e seguiu a amiga. Meu Deus, o que a doida da Brenda aprontou? Depois eu é que sou a maluca.

Quando Monique percebeu que o segurança estava levando a amiga para a saída, deduziu o que havia acontecido. Não acredito que era a Brenda que estava envolvida naquela briga. Eu não creio nisso. Assim que o segurança deixou Brenda na porta de saída da boate, disse:

— É melhor você ir embora agora. Para o seu bem. Ah, antes de ir, me tire uma dúvida. Eu vi as porradas que você deu no maluco pelo vídeo de segurança. Judô ou Caratê?

Meio sem graça por causa das pessoas que a olhavam, Brenda respondeu quase sussurrando:

— Judô.— Valeu.Assim que o segurança virou as costas, Monique se

aproximou, dizendo:— Eu não acredito que isso aconteceu.— Pô, Monique. O cara passou a mão na minha bunda.

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— Ele pelo menos era bonitinho?— Vai à merda, Monique. Eu... Eu já estava indo embora

mesmo. Eu liguei para o Lucas e...— Ai, não acredito nisso! — disse, interrompendo-a. — Você

ligou para o Lucas, ele não atendeu e aí você ficou paranoica? Passou algum momento na sua cabecinha que ele poderia estar dormindo?

— Passou, mas...Nesse momento, o celular de Brenda começou a tocar. Ela

pegou o aparelho e ficou surpresa ao ver na bina que era o Lucas.— Oi, meu filho. Está tudo bem?— Está, mãe. Estava dormindo.— Ah tá, meu filho. Desculpe. É que eu tava preocupada.— Sem necessidade, mãe. Vou voltar a dormir. Tchau.— Tchau.— Viu, Brenda? Você tem que parar de ser tão paranoica.

Mesmo se você não arrumasse essa briga, com certeza me perturbaria para ir embora por causa do Lucas.

— Você está certa, amiga. Eu vou tentar mudar. Desculpe ter atrapalhado o seu amasso lá dentro.

— Ai, nem fala. — Ué, você pode voltar. Eu volto sozinha, sem problema.— Claro que não, né, Brenda. Viemos juntas, voltaremos

juntas. Deixa para eu beijar outro dia. — Você que sabe.— Mas me conta. O cara que passou a mão na sua bunda era

bonitinho ou não era?

Após deixar Monique em casa, Brenda chegou à rua do prédio em que morava por volta das 4h. Sempre cautelosa, independentemente do horário, jamais entrava no prédio sem antes dar uma averiguada nas proximidades. Essa precaução era devido ao tempo de abrir e fechar da garagem, que levava mais ou menos um minuto, o suficiente para ocorrer um roubo.

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Após dar duas voltas pelas ruas mais próximas, Brenda se achou segura e, enfim, entrou na garagem sem nenhum problema. Estacionou o carro e se dirigiu até o elevador. Ao chegar ao apartamento, deixou a bolsa em cima do sofá da sala e foi até o quarto de Lucas. Abriu a porta vagarosamente e ficou tranquila ao ouvir o ronco do filho. Fechou a porta e decidiu tomar um longo banho quente.

Após sair do banheiro, vestiu o pijama, mas, como ainda não estava com sono, deitou-se em sua cama acompanhada do notebook. Apertou o botão de ligar e nada aconteceu. Tentou novamente sem sucesso. Achou que era falta de bateria do aparelho e, por isso, ligou-o na tomada. Mais uma vez apertou o botão, e o aparelho sequer acendeu alguma luz. Por fim, entendeu que o equipamento precisava de conserto. Contudo, como estava muito a fim de navegar pela internet, retornou ao quarto do filho vagarosamente e, com muita cautela, pegou o notebook que ficava em cima de um rack de madeira.

Em seu quarto, deitou-se na cama e o ligou, porém logo percebeu que precisaria de uma senha para entrar. Brenda a digitou sem maiores problemas. Não que ela soubesse, mas descobriu ali na hora. Por saber que a mãe frequentemente o inspecionava, Lucas havia criado uma senha para que somente ele tivesse acesso à máquina. No entanto, Brenda aprendera a descobri-las, e mal sabia Lucas que era inútil trocá-las.

Alguns segundos depois, o notebook iniciou, e Brenda clicou no ícone do navegador. Antes de buscar assuntos do seu interesse, resolveu investigar o que Lucas andava vendo, começando pelo dia anterior. Franziu o cenho quando descobriu, pelo histórico de navegação, que o filho acessara um site de modelos masculinos profissionais. De imediato, não entendeu a razão pela qual ele visitara aquele tipo de página. Para tirar conclusões mais precisas, pesquisou três dias anteriores e percebeu que Lucas buscava na internet aquele assunto com certa frequência.

Atentou às outras páginas que ele acessara naquele mesmo dia e clicou em uma delas para saber do que se tratava exatamente. Começou a navegar pelo site e descobriu que ele

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não era parecido com o anterior por mais que tratasse do mesmo assunto. Entretanto, aquele dava dicas para quem desejava se tornar modelo. Ao continuar com as buscas, ratificou o que já vinha desconfiando. A última página que abriu era especializada em produzir books.

Enfim suspirou, pois acabara de descobrir um segredo de Lucas: ele pretendia ser modelo. Jamais passara pela sua cabeça que seria esse o desejo do filho. Afinal, ele nunca demonstrara interesse por aquele tipo de profissão. Brenda estava surpresa. No entanto, mesmo que sonhasse com uma carreira formal e mais estável para ele, decidiu, naquele momento, que se o desejo dele fosse realmente se tornar modelo, ela faria o possível para ajudá-lo a concretizar esse sonho.

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ASSIM QUE SOUBE DO DESEJO DE LUCAS EM SE TORNAR modelo, Brenda logo se identifi cou com ele. Afi nal, ela também não havia seguido uma carreira formal como todos de sua família esperavam. Nessa questão, intitulava-se a ovelha negra da família. Com o exemplo de sucesso de médicos, advogados e engenheiros, ela foi a única que escolheu um caminho completamente oposto e, talvez, mais difícil: o de empresária.

No início, todos foram contra a ideia dela, não queriam aceitar a escolha tão inusitada. Brenda não teve apoio de ninguém para começar o próprio negócio. A única pessoa que deu forças para ela foi Monique, sua amiga, que trabalhava como gerente em uma loja de roupas femininas. Como o empreendimento que Brenda resolvera investir era exatamente esse, Monique forneceu todo o conhecimento que possuía.

Apenas tendo o apoio da amiga, assumiu o risco; pegou um empréstimo altíssimo e investiu na B&L Moda e Acessórios Femininos. Perguntada pela amiga o que queria dizer as iniciais do nome da empresa, ela respondeu: B de Brenda e L de Lucas. No dia, ela ainda disse que o nome do fi lho era para dar sorte. E realmente dera. Em exatamente três anos, não só Brenda havia

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pagado o empréstimo como já desfrutava dos lucros. A loja, em pouco tempo, tornara-se uma das mais conhecidas de roupas femininas do centro do Rio de Janeiro. Com o notório sucesso, chamou Monique para ser a gerente; claro que na mesma hora a amiga topou. A partir daí, Brenda, Monique e mais três funcionárias guerreavam dia após dia para alcançar o seu mais recente objetivo: abrir uma filial.

Naquela manhã de segunda-feira, a loja, que abria às 9h, lá pelas 10h já estava cheia. Brenda, Monique e mais duas funcionárias se desdobravam para atender aquela demanda de mulheres ávidas por bolsas, sapatos e vestidos. Em meio ao turbilhão, Brenda conseguiu se aproximar de Monique e perguntou:

— Cadê a Renata? — É 38 ou 40, senhora? Tá. Vou pegar — respondeu

Monique a uma cliente. Ela se virou para Brenda. — Não sei. Ela anda chegando atrasada. Eu vou conversar com ela hoje.

— Não. Deixa que eu converso. — Tudo bem. É 49,90, senhora. Qual tamanho?Mal acabaram de falar sobre a funcionária e ela entrou na

loja, apressada, e logo foi atendendo uma cliente. Após isso, aproximou-se de Brenda e se desculpou pelo atraso. Embora Brenda estivesse incomodada com os recentes atrasos de Renata, nada disse. Apenas pediu que ela fosse mais ágil naquele dia, pois a loja estava cheia.

Eram 14h quando o movimento ficou mais tranquilo e, com isso, Brenda foi almoçar. Convidou Monique para ir com ela, pois queria conversar. As duas então se encaminharam a uma pensão self-service que ficava na esquina da loja. Após se servirem, sentaram-se em uma das mesas e pediram dois sucos de laranja.

— Nossa, hoje eu tô quebrada — desabafou Monique, emitindo uma voz de cansaço.

— É. Hoje tá complicado. Mas não podemos reclamar. Só agradecer.

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O garçom chegou e serviu os sucos. Brenda tomou um gole e questionou:

— Monique, você acha o Lucas bonito?Monique franziu o cenho e indagou:— Por que essa pergunta agora?— Responde, por favor.— É bonito. Claro que é bonito. Só não pego porque...— Você não é maluca. Eu tô perguntando isso porque fucei

no notebook dele outro dia e descobri que ele está interessado em ser modelo.

— Jura? — Pois é. Também foi uma surpresa para mim.— E você perguntou por que ele era bonito para...— Para saber se ele tem condições de ser um, ora.— Ué, amiga, acho que sim. Ele tem até altura para isso. Os

modelos não são altos? Bonito ele é. Agora como chegar lá é que eu não sei.

— É. Eu também não sei nada. Mas também eu ainda nem conversei com ele sobre isso. Pode ser apenas uma curiosidade, e eu já tô inventando ideia. A certeza que eu tenho é que ele não está interessado nem um pouco em Direito. Não achei nada que pudesse dar algum indício de que ele esteja a fim de prestar vestibular para isso.

— Eu sabia. Não é a cara dele. — Pois é. Mães são todas iguais. Lembrei agora da minha

que queria que eu estudasse Medicina, mas eu nunca quis. É. Às vezes é muito difícil não ter quase ninguém da minha família para compartilhar minha vida. Deve ser por isso que eu sou tão agarrada ao Lucas. Eu só tenho ele.

— Ih, amiga, vamos mudar o rumo dessa conversa. Pelo amor de Deus.

A madrugada estava inquieta. Brenda virava de um lado para o outro na cama, tentando vencer a insônia, não conseguindo.

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Seu sono era perturbado por lembranças ruins que novamente voltaram a assombrá-la. Lembranças essas que causavam muita dor. Não entendia por que em determinados dias ou noites aquelas recordações retornavam. Suava frio, seu coração batia acelerado.

Angustiada, levantou-se da cama e ficou andando de um lado para o outro no quarto com as mãos na cabeça, como se pudesse diminuir a dor. Contudo, ela sabia que só havia um jeito de eliminá-la. Por mais que evitasse tomar calmante, era o único modo de se livrar do sofrimento. Pegou de dentro do guarda-roupa o vidro do calmante, abriu-o e pôs dois comprimidos na mão. Após tomá-los, agora era só uma questão de tempo para sentir os efeitos. Pelo menos naquela noite, ela conseguiria se livrar da dor, mesmo sabendo que voltaria a atormentá-la.