reencarnação - a explosão populacional e o intervalo entre vidas

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Tradução de um capítulo de um livro de Sylvia Cranston sobre reencarnação

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Page 1: Reencarnação - A explosão populacional e o intervalo entre vidas

Reencarnação - A explosão populacional e o intervalo entre vidas

Publicado em 1984, “Reincarnation – A New Horizon in Science, Religion

and Society” é um livro que continua a ser fundamental, apesar de conter

alguns dados datados (como seja em relação a sondagens à população sobre a

crença na reencarnação, embora numa breve pesquisa que fiz as percentagens

continuem a ser muito semelhantes) e de existir, por exemplo, mais

investigação na área das Experiências de Quase Morte (EQM).

É difícil entender porque nunca foi este livro traduzido para português, quer

em Portugal quer no Brasil. A reedição de 1999 feita pela Theosophical

University Press (TUP) – ligada à Sociedade Teosófica de Pasadena - refere

na contracapa a opinião de várias pessoas que recomendam vivamente o livro

escrito por Sylvia Cranston e Carey Williams (o pseudónimo de Caren M.

Elin).

São exemplos Elisabeth Kübler-Ross uma respeitada médica norte-americana

que lutou intensamente contra o tabu da morte, tendo publicado vários e

excelentes livros sobre o tema (faleceu em 2004) e Brian Weiss, outro médico

que reavivou os relatos de vidas passadas sob regressão hipnótica (um método

controverso, mas que teve o mérito de trazer para a ribalta o fenómeno da

reencarnação). A opinião expressa é de que é um livro único, com imensa

informação e rigoroso.

Page 2: Reencarnação - A explosão populacional e o intervalo entre vidas

Brian Weiss

Sylvia Cranston é o pseudónimo de Anita Atkins. Nascida a 12 de Dezembro

de 1915, ela não chegou a frequentar a universidade, ficando apenas pelo

liceu. Tornou-se uma autodidacta. Os pais de Anita frequentavam a Loja

Unida dos Teosofistas (LUT) em Nova Iorque e Anita teve os seus primeiros

contactos com a literatura teosófica através dos relatos que o seu pai trazia das

reuniões na Loja. Tímida e envergonhada, Anita levou tempo até ir

presencialmente a uma reunião. A partir desse momento tornou-se numa

presença regular na Loja. Nunca casou, dedicando toda a sua vida à Teosofia,

dando palestras e escrevendo livros, cujas receitas eram destinadas à causa

teosófica e não ao proveito pessoal.

Conhecedora de toda a literatura deixada por Blavatsky (que leu mais do que

uma vez) tinha particular interesse pelo tópico da morte e reencarnação, e por

isso desde os 16 anos compilou informação sobre o que grandes escritores,

filósofos, pensadores, artistas, psicólogos e compositores disseram sobre o

tema. Essa é a origem dos primeiros três livros publicados por Cranston, que

têm Joseph Head como co-autor. São eles “Reincarnation: An East-West

Anthology” (1961), “Reincarnation in World Thought” (1967)

e “Reincarnation: The Phoenix Fire Mystery” (1977). O seu quarto livro é

aquele que referi no início do texto e que foi escrito em colaboração com

Carey Williams, “Reincarnation: A New Horizon in Science, Religion and

Society” (1984).

Page 3: Reencarnação - A explosão populacional e o intervalo entre vidas

Anita Atkins (Sylvia Cranston)

O último livro de Sylvia Cranston, está traduzido para português e é a

biografia de Helena Blavatsky, “Helena Blavatsky: A Vida e a influência

extraordinária da fundadora do movimento teosófico moderno”. Inicialmente

publicado em 1993, teve uma edição revista em 1994, tendo aparecido em

língua portuguesa em 1997. Cranston sofria da doença de Parkinson já durante

a escrita do livro, e viria a falecer a 20 de Junho de 2000.

Esta pequena biografia de Cranston foi retirada do site Theosophy Forward.

“Reincarnation – A New Horizon in Science, Religion and Society” está

estruturado em quatro partes. A primeira poder-se-á considerar como

introdutória. Dá um panorama geral e contém uma palestra dada por Cranston

na Universidade de Harvard em Outubro de 1979.

A segunda parte intitula-se “Cientistas investigam a reencarnação” e engloba

referências ao trabalho de Ian Stevenson (estudo de casos sugestivos de

reencarnação), Raymond Moody Jr. (Experiências de quase morte) entre

outras. É feita também referência às “cassetes Bloxam” que continham

regressões a vidas passadas por meio de hipnose. Resultam do trabalho de

Arnell Bloxham, presidente da Sociedade Britânica de Hipnoterapeutas e

deram origem a um famoso documentário da BBC em 1976. Cranston colocou

no livro a transcrição de um caso de um homem que tinha sido um marinheiro

Page 4: Reencarnação - A explosão populacional e o intervalo entre vidas

numa fragata britânica durante o século XVIII. É uma parte muito cativante

pois os detalhes e as expressões usadas são impressionantes e foram

analisadas por especialistas. Contudo no livro, há um claro alerta para o perigo

das regressões via hipnose e aos danos psicológicos que podem causar.

Prof. Ian Stevenson

Na terceira parte, Cranston investiga o tema da reencarnação nas principais

religiões: Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo, Budismo e Judaísmo e na

quarta e última secção do livro, a autora avalia o potencial impacto na vida

humana e na sociedade da generalização da aceitação da reencarnação como

um facto. Isso traria impactos positivos com o aumento da preocupação pela

destruição da Natureza, na mediação de conflitos, na discriminação sexual,

etc…

É dedicado também um capítulo à questão do suicídio, que tem estado na

ordem do dia, nos países mais afectados pela crise como Portugal. É certo e

sabido que quer as religiões, quer a Teosofia e o espiritismo condenam e

desaconselham a prática do suicídio, pois esta não vem resolver

absolutamente nada, continuando o suicida em sofrimento moral no plano não

físico.

Page 5: Reencarnação - A explosão populacional e o intervalo entre vidas

Avancemos para a tradução do capítulo “Reencarnação e a explosão

populacional”, que consta da secção IV do referido livro.

“Desde a Roma Antiga, o espectro de um mundo com demasiada gente –

demasiadas bocas para alimentar, vestir e abrigar – tem assombrado as mentes

das pessoas da Terra. O pai da igreja Tertuliano ficava perturbado com o

aumento alarmante de população nas zonas de influência de Roma nos

primeiros séculos da era cristã. Por essa razão, nos seus argumentos contra a

reencarnação, ele desconsiderava a doutrina porque ela não conseguia explicar

de onde aquele acréscimo de população provinha. Ele não se deveria ter

preocupado com o problema da população, pois durante a Idade Média, a

população na Europa diminuiu para um nível inferior.

Nos anos mais recentes, os demógrafos têm vindo a projectar cenários

desastrosos de aumentos populacionais assombrosos. Isto cada vez mais

parece um falso alarme. Com base nas estatísticas presentes, o colunista Ben

Wattenberg do New York Post, intitulou a sua coluna do dia 28 de Abril de

1991, “Boom populacional está em falência” e escreve:

“Trezentos milhões de pessoas desapareceram durante a última década. A

maior parte dessas pessoas era de países pobres. Desapareceram. Perdidas

para sempre.

Estas pessoas não foram vítimas de uma fome cruel nem da repressão de um

tirano, mas de taxas de natalidade em queda. Os trezentos milhões de

indivíduos do Terceiro Mundo em falta são obviamente um artefacto

estatístico. São pessoas que, em 1968 os demógrafos das Nações Unidas

previram que nasceriam por volta do ano 2000. Mas em 1970, com os

nascimentos em queda, os mesmos demógrafos previram que esses 300

milhões de pessoas não nasceriam na mudança de século.

Estas alterações de projecções apontam para um facto dos tempos modernos

que tem recebido pouca atenção. É que a chamada “explosão populacional”

está a regredir e de forma muito rápida na maior parte dos sítios…O bizarro

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“Global 2000 Report” da responsabilidade do Presidente Carter menciona

uma projecção leviana de uma população mundial de quase 30 mil milhões

nos próximos 120 anos [NT: até 2100, portanto]. Hoje, o valor inferior dos

intervalos de projecções moderadas é de 10 mil milhões, embora alguns

demógrafos dêem ainda valores mais baixos, na ordem dos 8 mil milhões…

[NT: Este recente relatório das Nações Unidas confirma o cenário dos valores

inferiores, estimando-se uma população de 9 mil milhões em 2100. A

população deverá começar a diminuir já a partir de 2075. Seja como for é

praticamente adivinhação fazer uma previsão a 90 anos…mas o mesmo

estudo aponta para uma população em 2300 semelhante à de 2100!]

O que vemos portanto é um padrão que é observável noutros domínios da

nossa sociedade: o de darmos brado e politizar tendências negativas que

podem até não ser más ou que podem nem ser tendências.”

Um artigo do New York Times intitulado “Fertilidade mundial em rápido

declínio de acordo com novo e extensivo estudo” informa sobre os resultados

do “Estudo Mundial sobre a Fertilidade”, uma iniciativa multinacional

iniciada em 1972 e já reconhecida como o maior projecto de investigação de

ciências sociais jamais lançado”. O NY Times escreve que o estudo concluiu

que “a inquirição de 400 mil mulheres em 61 países mostra que a explosão

populacional que afectou grande parte do nosso planeta está aliviando. A

fertilidade e a taxa de natalidade nos países do terceiro mundo e nas nações

mais desenvolvidas tem diminuído de forma significativa na última década,

conclui o estudo “ (15 de Julho de 1980).

O editor de ciência do New York Daily News, Edward Edelson, escreve que

nos Estados Unidos “o declínio da taxa de natalidade nos anos mais recentes é

uma das tendências mais marcantes na história americana” (10 de Maio de

1980).

Dois anos antes, o Serviço de Censos dos EUA publicou um relatório (19 de

Novembro de 1978) onde se refere que a tendência de crescimento da

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população mundial inverteu-se, numa reviravolta sem precedentes. Embora a

população esteja ainda a aumentar, a taxa de crescimento decresceu

substancialmente. No Fundo das Nações Unidas para Actividades

Populacionais, um porta-voz disse que os novos números mostram que “a

tendência decrescente é suficientemente impressionante para eliminar

qualquer dúvida de que a fertilidade está a cair acentuadamente”. Os

demógrafos dizem que não existe uma explicação clara para a inversão da taxa

de crescimento. “Ninguém realmente sabe a razão”, diz o director de

informação do fundo, Trazie Vittachi. Ele acrescenta que “ninguém deve

pressupor que o problema populacional está resolvido. Continua a ser uma

questão de repartição dos recursos mundiais. Mas existe uma luz ao fundo do

túnel” (The Star-Ledger, 2 de Novembro de 1978).

Quantas pessoas já viveram na Terra? Não há dúvidas de que a população

cresceu enormemente durante o século XX e portanto o argumento levantado

por Tertuliano contra a reencarnação, sobre de onde vinha esta população

extra, parece à primeira vista ser válido. O Dr. Ian Stevenson, na sua

investigação na área da reencarnação, abordou uma vez este problema. Isso

aconteceu em 1974, antes da tendência decrescente na população mundial se

ter tornado evidente. Ele escreveu o seguinte em resposta à questão “Se a

reencarnação existe, como se explica a “explosão populacional?”:

“Dado que várias pessoas parecem ter ideias equivocadas sobre o número de

seres humanos que já viveu na Terra, justifica-se que eu aprofunde esta

questão. O recente grande aumento da população mundial, caso continue,

pode trazer dificuldades para a hipótese da reencarnação, mas isso não

acontece para já. Para além disso, só existem estimativas toscas do número de

seres humanos que já viveram na terra desde a origem do Homem.”

Esses cálculos, diz Stevenson, dependem de vários pressupostos, tal como

estimativas da data da origem do homem. Até há pouco tempo, as datas desse

acontecimento variavam entre 600 mil e os 1,6 milhões de anos. Contudo,

devido a descobertas surpreendentes em 1976 o número cresceu até 3,75

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milhões de anos, mas escavações subsequentes feitas em 1984 por uma

expedição patrocinada pela Universidade de Harvard e os Museus Nacionais

do Quénia, revelaram que os nossos remotos ancestrais viveram há 5 milhões

de anos e existem projecções que apontam para que oito milhões de anos seja

a data mais provável.

[NT: Com efeito, nos anos 90 foi descoberto um hominídeo com 4,2 milhões

de anos, em 2000 um com 6 milhões e em 2001 uma caveira do que se supõe

ser um antepassado do homem moderno (por ser bípede) com 7,2 milhões de

anos!]

Quem pois pode dizer com certeza quantas pessoas viveram durante um tão

grande intervalo de tempo? Grandes civilizações têm-se erguido e caído, sem

que tenham deixado registos sobre estatísticas populacionais. “Temos pouca

informação fiável sobre taxas de crescimento da população para períodos

antes do início da demografia moderna nos séculos XVII e XVIII”, nota

Stevenson.”E quanto mais distante é o alvo da nossa indagação-o passado

remoto e proto-histórico-mais substituímos os factos por suposições.” Os

demógrafos têm produzido estimativas da população mundial total [NT: isto é,

desde a origem do Homem] que variam entre os 69 mil milhões (Keyfitz,

1966) e os 96 mil milhões (Wellemeyer et al., 1962). [NT:Cada estudo, dá um

número diferente, este por exemplo aponta para os 108 mil milhões.]

Prof. Ian Stevenson

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Para efeitos de debate, Stevenson traça uma média entre estes dois números e

usa uma estimativa conservadora de 80 mil milhões. Ele escreve:

“A população mundial de hoje é de cerca de 4 mil milhões. Portanto,

assumindo de forma conservadora 80 milhões de vidas humanas no total, cada

alma humana (para usar uma expressão conveniente) pode ter tido, em média,

a oportunidade de encarnar 20 vezes. A estimativa atrás mencionada -

terrivelmente crua como é - assume de forma bastante injustificada que o

intervalo entre a morte e a renascimento se tem mantido constante ao longo da

existência humana. Mas talvez o intervalo entre vidas já tenha sido muito

maior do que é hoje em dia. Nessa altura muitas almas existiriam no estado

(seja qual ele for) entre vidas na Terra e poucas estariam encarnadas. Nos

séculos mais recentes as condições podem se ter alterado, por forma a que

mais almas estejam encarnadas e menos permaneçam na condição de

desencarnadas.”

“Desta forma”, diz Stevenson, “nós podemos, se quisermos, pensar num

número finito de almas” com ligação à Terra, “que estão agora a reencarnar

mais rapidamente depois da morte, do que anteriormente”.

Que o intervalo entre vidas era antes mais comprido, é algo que está de acordo

com os pontos de vistas dos antigos. Platão assevera no “Fedro” que salvo

certas excepções, “muitas eras” se sucedem entre vidas. N’ “A República” ele

menciona um ciclo entre encarnações de mil anos. Virgílio faz o mesmo na

“Eneida”. Krishna no “Bhagavad-Gita” também fala numa “imensidão de

anos” entre vidas. A vida diária naqueles primeiros tempos corria a uma

velocidade menor do que hoje em dia. Tudo está acelerado no nosso mundo

moderno. Até as crianças amadurecem mais depressa. Talvez seja pois natural

que o tempo entre encarnações seja menor que anteriormente.

Mas este tipo de especulações não esgota as possibilidades, pois tal como

aponta Stevenson: ”podemos ao menos conceber que as almas humanas

evoluíram de animais sub-humanos para corpos humanos, apesar de não

termos provas que suportem directamente esta conjectura. Finalmente - e aqui

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aproximamo-nos da ficção científica - almas humanas podem ter migrado de

outros sistemas solares para o nosso planeta.”

Um factor ainda a ser mencionado deve ser considerado como contribuindo

para o recente crescimento populacional: as pessoas estão a viver mais tempo

na Terra do que no passado. Um texto da UPI [NT:United Press International]

informava que “a esperança de vida média nos Estados Unidos aumentou 26

anos neste século [NT:século XX] de 47 para 73 anos. As estatísticas de

esperança de vida ao longo das últimas oito décadas indicam que por volta do

ano 2000 a esperança média de vida será de 82,4 anos. (The New York Times,

18 de Julho de 1980). [NT: As estatísticas mais recentes mostram que outros

países até já superam a esperança média de vida de 82,4 anos, mas não os

Estados Unidos que no ranking mundial estão imediatamente atrás de Cuba e

à frente de Portugal com 78,2 anos.]

Há alguma inteligência por trás do nivelamento do crescimento populacional ?

Um relatório relacionado com “a espantosa reviravolta nos destinos da

demografia mundial,” cita Jonas Salk que refere que a nova tendência pode

ser o resultado de um novo imperativo evolutivo. Ele deu como exemplo as

moscas da fruta cujas populações disparam a uma taxa exponencial, mas que

depois se equilibram. (The Saturday Review, 3 de Março de 1979).

Se as moscas podem fazer isto, não será razoável pensar que na evolução

humana haverá um nivelamento semelhante?

Que possa existir algum factor regulatório inteligente nos nascimentos de

seres humanos que previna os excessos extraordinários, é algo que pode ser

inferido do facto detectado pelos demógrafos nos países em que no pós-

guerra, onde nascem mais bebés masculinos que femininos. Normalmente

acontece ao contrário.

“Estes números”, diz Stevenson, “podem ser interpretados como um indicador

da capacidade da Natureza de compensar o aumento do número de homens

que morrem durante as guerras." "O conceito de reencarnação fornece uma

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explicação de como um tal processo pode funcionar através do facto de mais

personalidades masculinas quererem encarnar depois de guerras onde

morreram mais homens que mulheres”, acrescenta Stevenson."

Publicado em http://lua-em-escorpiao.blogspot.pt em três partes a 13, 20 e 27 de outubro de

2012