reeducação psicomotora para dislexicos

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DISLEXIA EM QUESTÃO: PSICOMOTRICIDADE E LUDICIDADE NUMA PERSPECTIVA FACILITADORA DYSLEXIA CONCERNED: PSYCHOOTOR AND RECREATION VIEW IN A FACILITATOR Aluno-autor: Maiara P. Assumpção; Orientadora: Prof. Ms. Edelvira de C. Q. Mastroianni; Colaboradores: Prof. Rafael C. Ferrari, Prof. Dr. Irineu A. Tuim Viotto Filho. Câmpus Presidente Prudente, Universidade Julio Mesquita Filho – FCT/UNESP. [email protected] . Bolsa PROEX. Palavras chaves: Dislexia; psicomotricidade; atividades lúdico-pedagógica Keywords: Dyslexia; psychomotor; recreational activities and pedagogical INTRODUÇÃO A Dislexia é um fenômeno que tem centralizado atenções no contexto educacional e, nas últimas décadas, este distúrbio de aprendizagem é o que mais acomete crianças em idade escolar. Os distúrbios de leitura atingem cerca de 10% das crianças em idade escolar (CAPOVILLA et al. 2007), e segundo estatísticas da Associação Brasileira de Dislexia (ABD) cerca de 5 a 17 % da população mundial é disléxica. Em relação à população brasileira, a dislexia, é considerada a dificuldade de maior incidência nas salas de aula, devido ao elevado índice de crianças com dificuldade na aprendizagem. O Laboratório de Atividades Lúdico – Recreativas (LAR), da Faculdade de Ciência e Tecnologia – UNESP, campus de Presidente Prudente realiza um trabalho de intervenção lúdico-pedagógico em crianças que apresentam necessidades educacionais e especiais, a partir da psicomotricidade, mediante reeducação psicomotora, possibilidades de superação e/ou amenização dos déficits no desenvolvimento motor. É importante ressaltar que a adoção das atividades lúdicas como recurso para a aprendizagem, além de possibilitar experiências favoráveis e necessárias a seu desenvolvimento, torna a criança sujeito da sua história e proporciona a interação em sua relação familiar e com o ambiente em que vive. Com isso, foi estruturado com o objetivo de realizar atividades de reeducação psicomotora, através de atividades lúdico- recreativas, voltadas a superação de dificuldades de aprendizagem que porventura estivesse relacionada a questões psicomotoras. Partindo desse contexto e considerando a grande demanda de crianças encaminhadas com o diagnóstico de Dislexia, verificou-se a relevância de se desenvolver um projeto que analisasse a influência da abordagem psicomotora no desenvolvimento motor e da aprendizagem de crianças em idade escolar que apresentavam dificuldades na leitura e escrita, tendo em vista o alto índice desse fenômeno nas escolas. Diante disso, houve a preocupação em se desenvolver estudos e práticas de intervenção especiais, com a finalidade de entender as crianças que apresentavam dificuldades e intervir de forma a minimizá-la em casos neurológicos e superá-las em casos de aprendizagens sociais inadequadas/insuficientes. Capovilla & Capovilla (2007) descrevem dois tipos de dislexia do desenvolvimento: Dislexia Fonológica caracterizada por falha no estabelecimento da relação som/símbolo gráfico, dificultando a leitura de palavras não-familiares e palavras inventadas (pseudopalavras), as dificuldades residem na operação da rota fonológica. Dislexia Morfêmica ou Semântica em que a dificuldade maior encontra-se no 8037

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DISLEXIA EM QUESTÃO: PSICOMOTRICIDADE E LUDICIDADE NUMA PERSPECTIVA FACILITADORA

DYSLEXIA CONCERNED: PSYCHOOTOR AND RECREATION VIEW IN A FACILITATOR

Aluno-autor: Maiara P. Assumpção; Orientadora: Prof. Ms. Edelvira de C. Q. Mastroianni; Colaboradores: Prof. Rafael C. Ferrari, Prof. Dr. Irineu A. Tuim

Viotto Filho. Câmpus Presidente Prudente, Universidade Julio Mesquita Filho – FCT/UNESP. [email protected]. Bolsa PROEX.

Palavras chaves: Dislexia; psicomotricidade; atividades lúdico-pedagógica Keywords: Dyslexia; psychomotor; recreational activities and pedagogical INTRODUÇÃO A Dislexia é um fenômeno que tem centralizado atenções no contexto educacional e, nas últimas décadas, este distúrbio de aprendizagem é o que mais acomete crianças em idade escolar. Os distúrbios de leitura atingem cerca de 10% das crianças em idade escolar (CAPOVILLA et al. 2007), e segundo estatísticas da Associação Brasileira de Dislexia (ABD) cerca de 5 a 17 % da população mundial é disléxica. Em relação à população brasileira, a dislexia, é considerada a dificuldade de maior incidência nas salas de aula, devido ao elevado índice de crianças com dificuldade na aprendizagem. O Laboratório de Atividades Lúdico – Recreativas (LAR), da Faculdade de Ciência e Tecnologia – UNESP, campus de Presidente Prudente realiza um trabalho de intervenção lúdico-pedagógico em crianças que apresentam necessidades educacionais e especiais, a partir da psicomotricidade, mediante reeducação psicomotora, possibilidades de superação e/ou amenização dos déficits no desenvolvimento motor. É importante ressaltar que a adoção das atividades lúdicas como recurso para a aprendizagem, além de possibilitar experiências favoráveis e necessárias a seu desenvolvimento, torna a criança sujeito da sua história e proporciona a interação em sua relação familiar e com o ambiente em que vive. Com isso, foi estruturado com o objetivo de realizar atividades de reeducação psicomotora, através de atividades lúdico-recreativas, voltadas a superação de dificuldades de aprendizagem que porventura estivesse relacionada a questões psicomotoras. Partindo desse contexto e considerando a grande demanda de crianças encaminhadas com o diagnóstico de Dislexia, verificou-se a relevância de se desenvolver um projeto que analisasse a influência da abordagem psicomotora no desenvolvimento motor e da aprendizagem de crianças em idade escolar que apresentavam dificuldades na leitura e escrita, tendo em vista o alto índice desse fenômeno nas escolas. Diante disso, houve a preocupação em se desenvolver estudos e práticas de intervenção especiais, com a finalidade de entender as crianças que apresentavam dificuldades e intervir de forma a minimizá-la em casos neurológicos e superá-las em casos de aprendizagens sociais inadequadas/insuficientes. Capovilla & Capovilla (2007) descrevem dois tipos de dislexia do desenvolvimento: Dislexia Fonológica caracterizada por falha no estabelecimento da relação som/símbolo gráfico, dificultando a leitura de palavras não-familiares e palavras inventadas (pseudopalavras), as dificuldades residem na operação da rota fonológica. Dislexia Morfêmica ou Semântica em que a dificuldade maior encontra-se no

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reconhecimento visual de palavras irregulares e longas e a dificuldade se encontra na leitura via rota lexical. OBJETIVO Analisar a influência das técnicas lúdicas baseadas na psicomotricidade e das intervenções pedagógicas Em relação à minimização e/ou superação, Dos déficits psicomotores e de linguagem escrita e de leitura mediante o desenvolvimento de um programa individual de atividades lúdico-recreativas. METODOLOGIA A metodologia utilizada foi a Psicomotricidade e as técnicas Lúdicas. A intervenção pedagógica foi centrada na reeducação da linguagem escrita e de leitura, em simbiose com as atividades lúdicas. Este trabalho caracterizou-se como qualitativo, na modalidade estudo de caso. Participou desta pesquisa uma criança do sexo masculino, na faixa etária de 11 anos e diagnosticada disléxica por especialistas da área de psicologia e fonoaudiologia. As sessões de atividades são realizadas semanalmente nas dependências do LAR- Laboratório de Atividades Lúdico-Educativas da FCT /UNESP, com duração de 45 minutos, durante o período de março a junho de 2010. As avaliações psicomotoras foram realizadas, mediante aplicação de testes como a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) – (NETO, 2002), a qual avalia os seguintes aspectos psicomotores: motricidade fina e global, equilíbrio, esquema corporal/rapidez e organização espaço-temporal. O teste é composto por uma bateria de testes padronizados relacionado com os aspectos citado acima e, tem por objetivo avaliar o nível de desenvolvimento motor e verificar se a idade biológica é compatível à idade cronológica da criança.

Realizou-se a Sondagem do Nível de Aquisição da Escrita (FERREIRO & TEBEROSKY) com objetivo de identificar e analisar o nível de desenvolvimento da linguagem escrita do sujeito (pré - silábico, em que o sujeito não diferencia letras, números e desenhos, bem como não compreende a quantidade de letras que deve usar para escrever determinada palavra; nível silábico, que demonstra que há noção de sílaba e hipótese de escrita e o nível Alfabético, em que o aprendiz já compreende o sistema de escrita, necessitando somente das intervenções ortográficas.

Em seguida aplicou-se o Teste de Competência de leitura de Palavras e Pseudopalavras (CAPOVILLA & CAPOVILLA,2007) que consiste em: 70 cartões, cada qual com um par composto de uma figura e de uma palavra ou pseudopalavra escrita (i.e., par figura-escrita). A escrita é feita em letras maiúsculas para permitir manipular o efeito de similaridade visual. A tarefa da criança é falar se esta correta ou não a palavra-figura ou pseudopalavra-figura. Há sete tipos de itens (i.e., pares figura escrita, todos distribuídos aleatoriamente ao longo das tentativas, com dez itens de teste para cada tipo (CAPOVILLA, F.C., RAPHAEL, W.D., 2001). Estes testes estão distribuídos em 7 categorias de palavras ou pseudopalavras (palavras inventadas), são elas: 1) Palavras corretas regulares, 2)Palavras corretas irregulares (ex. carro, “rr”, brigadeiro, “br”, isto é, com dificuldades silábicas) 3)Palavras com incorreção semântica, isto é, a imagem indica uma figura, no entanto a palavra escrita é outra (por exemplo: imagem de uma “casa” e a palavra escrita “telefone”), 4) Pseudopalavras com trocas visuais (ex: “forimga”, para a imagem de uma “formiga”) , 5) Pseudopalavras com trocas fonológicas (ex: “sanduíje”, para a imagem de um “sanduíche”), 6) Pseudopalavras homófonas, isto é, com escrita semelhantes, assim como os aspectos fonéticos também, no entanto são palavras ortograficamente incorretas, portanto consideradas, neste caso, pseudopalavras (ex: páçaro para indicar a imagem de um

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pássaro), 7) Pseudopalavras estranhas (ex.: imagem de um “coelho” e a palavra “fotis”). As palavras corretas regulares e irregulares devem ser aceitas enquanto que as demais devem ser rejeitadas. Em caso de insucesso na aceitação de palavras corretas irregulares (item 2), pode indicar dificuldade no processamento lexical, ou falta dele. É importante ressaltar que no léxico há o repertório vocabular do sujeito, com relação à memória visual da escrita, inclusive a ortografia (léxico ortográfico), assim como o significado da palavra (léxico semântico). A não rejeição de pseudopalavras homófonas (item 6), também sugere dificuldade no processamento lexical, ou falta dele, num nível ainda mais acentuado, isto é, falta de representação apropriada no léxico ortográfico. Segundo os autores (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2007) quando a criança já foi bastante exposta a textos, porém apresenta erros na rejeição de pseudopalavras homófonas, provavelmente está lendo pela rota fonológica, decodificando grafofonemicamente. O insucesso na rejeição de pseudopalavras com trocas fonológicas (item 5), pode indicar falta de recurso ao léxico, mas com agravante de dificuldades no processamento fonológico. A não rejeição de palavras semanticamente incorretas (item 3) sugere falta de acesso ao léxico semântico, já o insucesso na rejeição de pseudopalavras com trocas visuais (item 4) sugere dificuldade no processamento fonológico, utilizando a estratégia de leitura logográfica, segundo os mesmos autores esta é a leitura feita através de símbolos e imagens (ex: a criança vê o símbolo da logomarca coca-cola e já diz que é esse produto sem fazer a leitura propriamente dita da palavra escrita). Finalmente a não rejeição de pseudopalavras estranhas indica graves problemas de leitura, com “ausência de processamento lexical, fonológico e, mesmo, logográfico” (CAPOVILLA & CAPOVILLA,2007).

RESULTADOS Os resultados e discussão do trabalho estão apresentados abaixo sendo que na fig.1 encontram-se os resultados das avaliações motoras e na fig.2 os resultados do teste de competência de palavras e pseudopalavras. Vale também ressaltar que na sondagem do nível de aquisição da escrita a criança participante do estudo mostrou-se nível alfabético, isto é, já compreendia todo o sistema de escrita, no entanto apresentou erros ortográficos, trocas de letras e inversões de sílabas, características do distúrbio.

Fig.1: Resultado da avaliação motora

Conforme apresentado na figura acima a criança analisada apresentou na primeira avaliação motora os seguintes resultados: motricidade fina (11 anos) motricidade global (08 anos) equilíbrio (11 anos) Esquema Corporal (08 anos), Organização Espacial (09 anos) e Organização Temporal (10 anos). Depois do processo de intervenção realizou-se uma segunda avaliação motora e a criança obteve os seguintes resultados: motricidade fina (11 anos) motricidade global (11 anos) equilíbrio (11 anos) Esquema Corporal (11 anos), Organização Espacial (11 anos) e Organização Temporal (11 anos).

Considerando os dados coletados, observa-se que em relação à avaliação motora a criança avaliada apresentou melhora significativa em todos os aspectos que apresentava defasagem.

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Outro ponto de destaque do trabalho foi que a criança não apresentou dificuldade na motricidade fina, isso levanta a possibilidade de se pensar que as crianças disléxicas, provavelmente desenvolvem positivamente a questão do tônus e dos movimentos finos como os de pinça e de preensão, e que este aspecto está diretamente ligado com a escrita. Esse resultado nos remete a refletir que tal aspecto não influencia no processo de aprendizagem de leitura e escrita.

Teste de Competência de Palavra e Pseudopalavra (TCPP)

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

1 2 3 4 5 6 7

Aspectos avaliados

Por

cent

agem

de

ace

Série1

Fig. 2 Resultado do TCPP

Nos itens avaliados no Teste de Competência de Palavras e Pseudopalavras (fig.2), a criança obteve 100% de acerto em quase todos os aspectos, sendo estes itens apresentados na seguinte ordenação : 1. palavras corretas regulares, 2. palavras corretas irregulares, 3. palavras com incorreção semântica, 4. paseudopalavras com trocas visuais, 5. pseudopalavras com trocas fonológicas, 6. pseudopalavras homófona e no item 7. as pseudopalavras estranhas. Observou-se que a criança apresentou somente 20% de erros na rejeição de pseudopalavras homófonas, o que sugere dificuldade no processamento lexical e indica um repertório vocabular restrito e, com isso, dificuldades no armazenamento da escrita correta das palavras e suas regras ortográficas. Segundo Capovilla e Capovilla (2007), a maioria das crianças em seus estudos, apresentavam dificuldades no processamento fonológico, isto é, maior dificuldade na correlação fonema e grafema e na decodificação das palavras. No entanto as crianças avaliadas nesse estudo apresentaram maior dificuldade no processamento lexical, conforme já mencionado.

Essa diferença de resultados sugere algumas hipóteses acerca de questões sociais mais amplas que podem estar influenciando nesses resultados. Vale ressaltar, então, a importância de se ir além da identificação de aspectos presentes na manifestação da Dislexia, mas procurar a relação entre as causas de caráter orgânico e social que produzem e mantém a dificuldade na vida do sujeito, comprometendo suas ações, sobretudo na escola. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através das avaliações realizadas e dos resultados obtidos por este trabalho, mostra-se a importância da intervenção psicomotora mediante programa interventivo focado na ludicidade, partindo da realidade da criança, onde esta participa de maneira mais espontânea direcionando assim a possibilidades de maior envolvimento na sessão, ou seja, no sentido de garantir o desenvolvimento a partir das suas necessidades, assim como e simultaneamente, a intervenção pedagógica, pois entende-se que tais aspectos são fundamentais para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra adequadamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS - CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F. C. Teoria e pesquisa em Avaliação Neuropsicológica. São Paulo: Memnon, 2007. -FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto alegre: Artmed,1989. - NETO, F.R. Manual de Avaliação Motora. 1.ed. Florianópolis, 2002.

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