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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local IARA LAMAS REEDUCAÇÃO ALIMENTAR: um estudo com ênfase nos aspectos subjetivos relacionados à mudança de hábito Belo Horizonte 2015

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

IARA LAMAS

REEDUCAÇÃO ALIMENTAR: um estudo com ênfase nos aspectos

subjetivos relacionados à mudança de hábito

Belo Horizonte

2015

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Iara Lamas

REEDUCAÇÃO ALIMENTAR: um estudo com ênfase nos

aspectos subjetivos relacionados à mudança de hábito

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Inovações Sociais, Educação e Desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Educação e Desenvolvimento Local.

Orientadora: Dra Matilde Meire Miranda Cadete.

Belo Horizonte

2015

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Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras

L215r Lamas, Iara

Reeducação alimentar: um estudo com ênfase nos aspectos subjetivos

relacionados à mudança de hábito. / Iara Lamas. – 2015.

139f.

Orientadora: Profa. Dra. Matilde Meire Miranda Cadete.

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2015. Programa

de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.

Inclui bibliografia.

1. Hábitos alimentares. 2. Desenvolvimento social. I. Cadete, Matilde

Meire Miranda. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658.114.8

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Para os meus filhos, André e Isabella,

que são o meu orgulho,

meu espelho e continuidade da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A minha recente trajetória acadêmica foi marcada por várias mulheres sábias e

mestras maravilhosas.

Sinto-me uma pessoa privilegiada por ter sido orientada pela querida Professora

Matilde Meire Miranda Cadete. Durante esta caminhada, construímos juntas o

nosso trabalho e a cada dia fui aprendendo a verdadeira lição de educar: a

partilha gratuita do conhecimento, o respeito e a aposta no potencial e capacidade

de desenvolvimento do outro. Obrigada pela confiança, pela paciência em

respeitar o meu tempo e me fazer acreditar que é possível inovar as experiências

acumuladas em nossas vidas.

Quando ingressei no mestrado da UNA, encontrei mulheres excepcionais.

Verdadeiras mestras, todas elas. Resumo aqui, na figura da nossa coordenadora,

a Professora Lucília Machado, pessoa brilhante, a minha admiração pela

competência, comprometimento e dedicação de todos do corpo docente.

Agradeço, em especial, às professoras Maria Lúcia Afonso e Wânia Maria de

Araújo, pela leitura atenciosa do projeto e pelas valiosas contribuições para a

pesquisa no momento da minha qualificação.

O meu encantamento por essas grandes mulheres teve início quando conheci a

primeira grande mestra que me tocou profundamente. Foi a Professora Sandra

Azeredo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde cursei a

disciplina isolada sobre Gênero e Raça, oferecida pelo Departamento de

Psicologia Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH), em

2010. Surpreendeu-me a forma como ela conduziu um assunto tão complexo de

maneira tão responsável, corajosa, profunda e respeitosa. Ao mergulharmos no

universo feminino e nas questões de gênero e raça, mudei totalmente a minha

visão do mundo.

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A segunda experiência marcante foi a oportunidade de assistir, como ouvinte, às

aulas sobre Análise da Práxis Científica da Professora Maria Teresa Aguiar, na

Escola de Engenharia da UFMG, em 2011. Sua assertividade despertou em mim

o senso crítico e a objetividade. Aprendi a buscar o conhecimento na observação

simples do cotidiano e das artes. Em meio a tantos raciocínios lógicos,

característicos das ciências exatas, surge uma sensata lucidez que nos diz: “São

nos pontos fora da curva que se observa a inovação”.

Logo depois, tive o privilégio de estar com a doce Professora Maria de Lourdes

Gouveia, sábia, encantadora e que nos proporcionou deliciosos momentos em

que “pensamos juntas” a história da Filosofia.

Agradeço à minha família, principalmente a minha mãe, que me acolheu de forma

muito especial para que eu pudesse realizar este projeto profissional.

Como falei, estou mergulhada no universo feminino cheio de histórias, mistérios e

desafios. Dessa forma, não poderia deixar de agradecer às mulheres que fizeram

parte da minha pesquisa e que contribuíram para aumentar a compreensão sobre

o tema investigado. Mulheres admiráveis que me ajudaram a delinear este

trabalho e cujo resultado expressa a magia do encontro, do despertar, do buscar,

do caminhar junto e do realizar.

Finalmente, agradeço a todos os meus colegas pelo companheirismo, alegria e

espírito de coletividade que desfrutamos durante esses dois anos. A nossa

convivência foi saudável, singular, fruto dos nossos valores e crenças e marcou

para sempre as nossas vidas como uma prazerosa experiência de solidariedade.

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“[...] Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente.

A gente muda o mundo na mudança da mente.

E quando a gente muda a gente anda pra frente.

E quando a gente manda ninguém manda na gente!

Na mudança de atitude não há mal que não se mude, nem doença sem cura.

Na mudança de postura a gente fica mais seguro.

Na mudança do presente a gente molda o futuro! [...]”

Gabriel o Pensador.

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RESUMO

A compreensão dos fatores que influenciam o comportamento alimentar e uma abordagem nutricional adequada são fundamentais para auxiliar a mudança de hábitos alimentares. Este trabalho explorou a reeducação alimentar realizada com grupos de profissionais da saúde no próprio ambiente de trabalho. Trata-se de uma pesquisa qualitativa cujo objetivo foi identificar as estratégias para a construção de novos hábitos alimentares. Para a construção do referencial teórico, foi realizada revisão bibliográfica narrativa sobre a produção científica publicada acerca da motivação e do processo de abordagem nutricional para se alcançar resultados efetivos para a mudança de hábitos alimentares saudáveis. O cenário da pesquisa de campo foi a Maternidade Odete Valadares da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), em Belo Horizonte. A coleta dos dados foi feita por meio de entrevista semiestruturada, respondida por 12 sujeitos participantes do grupo de reeducação alimentar, utilizando-se a técnica da análise de conteúdo de Bardin para tratamento dos dados. Os resultados produziram categorias denominadas “relação do indivíduo com a comida”; “processo de reeducação alimentar”; “relação cultural” e “saúde”. A análise dos dados demonstrou que aspectos subjetivos e o meio social influenciam o comportamento alimentar do sujeito; os sentimentos de ansiedade e tristeza podem funcionar como indutores do comer compulsivo; e o apoio de familiares e amigos ajudam a sustentar o desejo de mudança. Deu-se ênfase à informação como elemento fundamental para o desenvolvimento da consciência crítica e da valorização da qualidade dos alimentos em vez da quantidade. A autonomia do sujeito para a condução das alterações nas práticas alimentares serviu como motivação, enquanto a administração de tempo e dinheiro foi fator dificultador para a sua manutenção. A saúde é o grande eixo motivador para a mudança e a realização de atividade física foi uma das estratégias mais utilizadas pelos sujeitos na modificação do estilo de vida. As ações educativas realizadas no local de trabalho demonstraram fortalecer as relações interpessoais e proporcionaram ambiente favorável para adequação de novas rotinas e hábitos. O estudo permitiu compreender que a intervenção nutricional deve levar em consideração não só as necessidades orgânicas individuais, mas as expectativas do sujeito e os aspectos subjetivos e simbólicos que os alimentos representam. Como forma de contribuição para promoção da saúde e mudança de hábitos alimentares, apresenta-se um produto técnico com vistas a auxiliar os profissionais nas intervenções nutricionais para que estas se tornem mais adequadas à realidade do sujeito e que efetivamente possibilitem transformações em sua vida. Palavras-chave: Educação alimentar e nutricional. Comportamento alimentar. Educação para Saúde.

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ABSTRACT

The comprehension of the factors that influence eating behavior and an adequate nutritional approach are fundamental to aid in eating habits change. This paper explored the eating reeducation realized with heath professional’s groups at their own workplace. It is a qualitative research that has the objective of identifying the strategies for the construction of new eating habits. Therefore, a narrative bibliographic review about the published scientific production concerning the motivation and the process of nutritional approach to achieve effective results regarding healthy eating habits change was carried out. The research scenery field was the Maternidade Odete Valadares of Hospitalar Fundation Estado de Minas Gerais – FHEMIG, at Belo Horizonte and the data collection was done through semi-structured interviews answered by 12 individuals, participants of the eating reeducation group, and the Bardin content analysis technique was used for data treatment. The results produced categories that were named: “individual relation with food”; “eating reeducation process”; “cultural relation” and “health”. The data analysis has shown that subjective aspects and the social environment can influence the individual eating behavior. The feeling of anxiety and sadness can work as inductors for compulsive eating, and familiar and friend support can help sustain the change desire. The results emphasize that information as a key element for critical conscience development, and for food quality valorization instead of quantity valorization. The autonomy of the individual for conduction of eating habits change worked as motivation, while time and money administration was hardening factor for its maintenance. Health is the biggest motivational element for change, and realization of physical activities was one of the most used strategies by the individuals for life style changes. Educative actions that took place in the workplace seemed to strengthen the interpersonal relations and provided a favorable environment for the new routine and habits adequacy. The research allowed the understanding that nutritional intervention should consider not only individual organic necessities, but also individual expectations and the subjective and symbolic aspects that food represents. As a way to contribute for health and eating habits change promotion, it is presented a technical product which aims to aid professionals during nutritional interventions so they can became more adequate to the individual reality and that effectively allows transformations in their lives. Keywords: Food and nutrition education. Feeding behavior. Education for health.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BVS Biblioteca Virtual de Saúde

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

DCNT Doenças Crônicas Não Transmissíveis

ESF Equipes de Saúde da Família

FHEMIG Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais

GAPB Guia Alimentar para a População Brasileira

GTH Grupo de Trabalho de Humanização

IMC Índice de Massa Corporal

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MOV Maternidade Odete Valadares

OMS Organização Mundial da Saúde

PBH Prefeitura de Belo Horizonte

PNH Política Nacional de Humanização

PNPS – SUS Política Nacional de Promoção da Saúde dos Trabalhadores

do Sistema Único de Saúde – SUS

POF Pesquisa de Orçamento Familiar

SciELO Scientific Electronic Library Online

TCC Terapia Cognitiva Comportamental

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UBS Unidade Básica de Saúde

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

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SUMÁRIO1

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 11

2 ASPECTOS RELACIONADOS À MUDANÇA DE HÁBITO ALIMENTAR:

UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................

15

3 DO DESEJO À AÇÃO: FATORES QUE INTERFEREM NA ABORDAGEM

NUTRICIONAL PARA MUDANÇA DE HÁBITO ALIMENTAR.......................

36

4 PRODUTO TÉCNICO: CARTILHA DE ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL..... 94

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 130

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 135

ANEXO E APÊNDICES................................................................................. 141

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo

Ortográfico assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em vigor no Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com a ABNT NBR 14724 de 17.04.2011.

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1 INTRODUÇÃO

A efetividade do processo de mudança de hábitos alimentares requer

fundamental e adequada abordagem nutricional. A necessidade de compreender

melhor os fatores que influenciam o comportamento alimentar é essencial, pois

este é dependente de questões socioeconômicas determinantes das escolhas

alimentares, que estão relacionadas aos aspectos subjetivos referentes ao ato de

comer. É possível analisar a relação dos indivíduos com os alimentos, procurando

identificar os condicionantes dos processos sociais e culturais a partir da

perspectiva de que os alimentos não contêm apenas nutrientes necessários à

sobrevivência, eles “representam um conjunto de normas ou crenças que um

grupo de pessoas compartilha em relação aos alimentos e sua manipulação”. O

alimento, além de seu caráter nutritivo, constitui-se em uma linguagem cheia de

significações (CARRASCO I PONS, 2005, p. 118).

Conforme afirmam Daniel e Cravo (2005), o homem é resultado de uma

construção social e os elementos culturais de cada sociedade são responsáveis

pela caracterização de suas ações, e é esse processo que vai determinar suas

escolhas alimentares. O alimento sempre esteve presente em momentos de

congregação entre as pessoas, simbolizando união, fartura e alegria. As

experiências vividas nesses momentos acompanham o sujeito como uma marca

da sua identidade dentro de um grupo e representa um registro da forma como

esse sujeito vai agir e responder aos estímulos externos ao longo de sua vida.

Gallian (2007, p. 180) expressa, de maneira delicada e sutil, o conceito de

refeição:

[...] a refeição será sempre uma das formas mais recorrentes de congregação, de transmissão de ideias, valores, verdades, de comemoração. Ou seja, a refeição acabou por se constituir, em grande parte das culturas e civilizações, num espaço privilegiado de experiência do humano e de humanização. [...] Toda verdadeira refeição, seja simples seja mais sofisticada, significa, comunica e evoca algo que é preciso decifrar e identificar. E, nesse sentido, a refeição acaba por envolver não apenas a dimensão da sensibilidade, mas igualmente a da afetividade e da inteligência humanas.

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O processo de mudança de hábito requer uma reestruturação desses

registros de referências simbólicas e constitui-se no grande desafio para o sujeito

e também para o profissional que vai orientá-lo. A educação alimentar e

nutricional pautada na relação dialógica entre o profissional e o indivíduo parece

ser um caminho para auxiliar nesse momento de compreensão da necessidade

de mudança de hábitos alimentares e adesão a uma dieta saudável.

Partindo dessas reflexões, esta pesquisa teve como foco gerador as

estratégias e recursos utilizados por profissionais da saúde que conseguiram

superar dificuldades de mudar hábitos, bem como os estímulos para adesão a

uma alimentação mais saudável.

Esses profissionais são funcionários da Maternidade Odete Valadares – da

Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), em Belo Horizonte,

que participaram de um grupo de reeducação alimentar realizado no próprio local

de trabalho, no período de 2009 a 2012. A experiência permitiu aos profissionais o

acesso à orientação nutricional, atendimento individual e em grupo por um

período de, aproximadamente, seis meses, tempo necessário para avaliar as

mudanças alcançadas pelos participantes. O grupo foi idealizado a partir da

demanda de melhorar os hábitos alimentares para promoção da saúde e perda de

peso e foi apoiado pelo Grupo de Trabalho de Humanização (GTH) em

cumprimento às diretrizes referentes à valorização do trabalhador da Política

Nacional de Humanização de 2003 e da Política Nacional de Promoção à Saúde

dos Trabalhadores do SUS de 2011.

A análise dos resultados da classificação do estado nutricional dos

participantes do grupo, realizada antes da intervenção nutricional, desvelou alto

índice de sobrepeso e obesidade, confirmando os dados apresentados pela

Pesquisa de Orçamento Familiar (POF, 2008/2009), realizada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os resultados desta pesquisa

mostram que houve aumento contínuo e significativo do percentual de pessoas

com excesso de peso e obesidade, nas últimas décadas, chegando a atingir 48%

das mulheres e 50% dos homens acima de 20 anos, em todas as faixas de renda

e em todas as regiões do Brasil.

A análise dos resultados do POF (2008/2009) também evidenciou a

inadequação do padrão alimentar da população brasileira, caracterizada pelo alto

consumo de alimentos ricos em gorduras, açúcar e sódio, aliado à baixa ingestão

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de frutas, verduras, legumes e grãos integrais. E particularmente o consumo

elevado de bebidas com adição de açúcar (sucos, refrigerantes e refrescos).

O mesmo panorama de inadequação alimentar foi encontrado na

população pesquisada, ratificando a necessidade e importância de se propor e

concretizar uma intervenção em educação nutricional para minimizar danos e

promover a saúde do trabalhador. A partir dessas constatações foram feitos os

questionamentos que fundamentaram a pesquisa: com que estratégias e recursos

os profissionais da saúde têm conseguido superar as dificuldades de mudar o

hábito alimentar e aderir a uma dieta mais saudável? Quais estímulos motivaram

ou desmotivaram a mudança de hábito alimentar? E quais são os significados

simbólicos e afetivos do ato de comer para esses sujeitos?

Acredita-se que a mudança de hábitos alimentares é mais efetiva quando o

indivíduo consegue estabelecer um sentido entre as ações necessárias para

obtenção de uma alimentação saudável, o seu referencial simbólico e o valor

afetivo incorporado aos alimentos e ao ato de comer, fatores esses determinantes

das suas escolhas (MARQUES; GUTIERREZ, 2009). A mudança pode ser

estimulada ou não, se o indivíduo encontrar apoio do meio em que está inserido,

seja no ambiente familiar ou no trabalho, colaborando, dessa forma, para superar

as dificuldades em mudar hábitos, fortalecer as relações interpessoais e

proporcionar um ambiente favorável à adequação de novas rotinas.

Com base nesse contexto, crê-se que o significado das ações e

motivações que determinaram a mudança de hábito alimentar e se tornaram

experiências exitosas seja explicitado por meio da linguagem oral, a fim de se

identificar elementos envolvidos na construção de novos hábitos alimentares mais

saudáveis.

Assim, o objetivo geral deste estudo foi analisar as estratégias e recursos

utilizados por profissionais da saúde no enfrentamento das dificuldades em adotar

hábitos alimentares mais saudáveis para subsidiar a preparação de um produto

técnico-educativo para mudanças de hábitos alimentares.

E como objetivos específicos, almejou-se:

a) Realizar revisão teórica sobre a produção científica publicada acerca da

motivação e do processo de abordagem nutricional para se alcançar

resultados efetivos a mudança de hábitos alimentares saudáveis;

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b) Identificar estímulos que motivaram ou desmotivaram a mudança de hábito

alimentar;

c) Conhecer os significados simbólicos e afetivos do ato de comer;

d) Elaborar um produto técnico como proposta de intervenção na realidade,

com características de inovação social na área de educação nutricional.

Para se alcançar os objetivos propostos, o presente trabalho foi dividido da

seguinte forma: introdução, em que se faz a apresentação do tema; o primeiro

capítulo discorre sobre o referencial teórico, com base em pesquisas de artigos

científicos na plataforma da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), na base de dados

da “Scientific Electronic Library Online” (SciELO), com os descritores “educação

alimentar e nutricional”, “motivação” e “comportamento alimentar”, com enfoque

nas estratégias de enfrentamento das dificuldades para mudar hábito e aspectos

subjetivos envolvidos no ato de se alimentar. Outras pesquisas foram realizadas

em livros, leis e programas do Ministério da Saúde que abordassem o tema. O

segundo capítulo descreve a metodologia e a análise dos dados coletados na

pesquisa de campo, realizada por meio de entrevista semiestruturada e

investigada segundo a análise de conteúdo de Bardin (2010).

E, por se tratar de um programa de mestrado profissional, fez-se a

construção de um produto técnico como uma proposta para intervenção na

realidade estudada, derivado da revisão teórica e dos resultados da pesquisa

realizada. O terceiro capítulo, portanto, apresenta uma cartilha de orientação

nutricional e um vídeo educativo, com informações básicas sobre alimentação

saudável, que foram construídos para contribuir como ferramentas de apoio em

intervenções nutricionais individuais e coletivas que visam à mudança de hábito

alimentar, a promoção da saúde e educação nutricional.

E, finalmente, a última parte do trabalho, em que se tecem as

considerações finais.

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2 ASPECTOS RELACIONADOS À MUDANÇA DE HÁBITO

ALIMENTAR: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Iara Lamas12

Matilde Meire Miranda Cadete23

RESUMO A nutrição humana sofreu profundas modificações nas últimas décadas, levando à transição alimentar caracterizada pela diminuição do consumo de alimentos naturais e aumento de alimentos industrializados e com alto valor energético. Há forte evidência na relação entre alimentação inadequada e doenças crônicas não transmissíveis, que têm a obesidade como fator de risco. Assim, realizou-se revisão bibliográfica narrativa sobre a produção científica publicada acerca da motivação e do processo de abordagem nutricional para se alcançar resultados efetivos à mudança de hábitos alimentares saudáveis. Para tal, buscaram-se publicações na Biblioteca Virtual em Saúde, na base de dados SciELO, com os descritores: “educação alimentar e nutricional”, “motivação” e “comportamento alimentar”. Também foram pesquisados livros e programas do Ministério da Saúde. A leitura do material identificado revelou que os aspectos subjetivos e o meio social influenciam o comportamento alimentar do sujeito e o pressionam a responder aos estímulos externos; a rede de apoio familiar ajuda na sustentação do desejo de mudança; a informação é elemento fundamental para o desenvolvimento da consciência crítica; a autonomia na condução das práticas alimentares significa motivação para mudar; e a administração do tempo e do dinheiro é fator dificultador para manutenção da alimentação saudável. A adequação aos padrões estéticos é um dos eixos motivadores para a mudança de estilo de vida. E ações humanizadoras no trabalho fortalecem as relações e proporcionam um ambiente favorável para implementação de novas rotinas. Concluiu-se que a intervenção nutricional deve considerar não só a adequação das necessidades orgânicas individuais, mas as expectativas do sujeito e os aspectos subjetivos e simbólicos que os alimentos representam. Palavras-chave: Educação alimentar e nutricional. Motivação. Comportamento alimentar.

1

Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, MG. Nutricionista da Maternidade Odete Valadares (FHEMIG), Belo Horizonte, MG. 2 Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, MG

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ABSTRACT Human nutrition went through deep changes during the last decades taking it to food transition characterized by lowering the consumption of natural foods and the increase in consumption of industrialized food that contains high energetic value. There is strong evidence of relation between inadequate feeding and the non-transmittable chronic diseases, which presents obesity as a risk factor. Therefore, a narrative bibliographic review about the published scientific production concerning the motivation and the process of nutritional approach to achieve effective results regarding healthy eating habits change was carried out. For that purpose, publications on the Virtual Library were searched, along with the data base of SciELO with descriptions such as: “eating education”, “motivation” and “habits change”. Books and Ministry of Health Programs were also searched. The reading of the identified material revealed that the subjective aspects and the social environment influences the personal eating behavior and presses them to answer to external stimulus. The family network support helps on the change desire sustention. Information is the main element for critical conscience development. The autonomy guidance for eating practices means motivation to change and time and money administration are complication factors for the maintenance of healthy eating. Adequacy to esthetic standards is one of the motivational pivots for life style changes. Humanizing actions at work also strengthens relations and provide a favorable environment for new routines implementations. It concludes that nutritional intervention should consider not only adequacy of personal organic necessities, but also personal expectations and subjective and symbolic aspects that food represents. Key words: Food and nutrition education. Motivation. Food behavior.

2.1 INTRODUÇÃO

O progresso tecnológico e as melhorias das condições de vida observados

no mundo contemporâneo deveriam resultar em benefício para a qualidade de

vida e, consequentemente, para as práticas alimentares. Apesar de essa

evolução ter contribuído para reduzir, significativamente, as taxas de desnutrição

nas últimas décadas, a nutrição humana foi direta e profundamente afetada.

Observou-se, a partir daí, um fenômeno denominado transição nutricional, que é

caracterizado pela diminuição do consumo de alimentos naturais e aumento da

ingestão de alimentos industrializados e com alto valor energético. Essa transição

alimentar teve impacto negativo na saúde do homem e no cenário de morbidade e

mortalidade da população (BRASIL, 2011b; BRASIL, 2012; BRASIL, 2010b; KAC;

SICHIERI; GIGANTE, 2007; MEDRONHO et al., 2005).

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Um desses impactos negativos é a obesidade, considerada uma doença

crônica. O aumento da sua incidência, em decorrência da mudança de hábito

alimentar, é fator de risco para doenças graves, principalmente diabetes, doenças

cardiovasculares e hipertensão. A obesidade pode também ser causa de

sofrimento e de comportamentos de esquiva social, que prejudicam a qualidade

de vida do indivíduo. Os padrões de consumo alimentar no Brasil sofreram

modificações radicais nessas últimas décadas, agravando o cenário

epidemiológico dessas doenças. Os fatores ambientais são reconhecidos como

um dos mais influentes, tanto na gênese como na prevenção do ganho excessivo

de peso e obesidade (BRASIL, 2011b; BRASIL, 2012; BRASIL, 2010b; KAC;

SICHIERI; GIGANTE, 2007; MEDRONHO et al., 2005).

São várias as características do mundo globalizado consideradas

responsáveis pela grande transformação dos hábitos alimentares e do

comportamento social dos brasileiros. A melhoria relativa das condições de vida e

a disponibilidade de alimentos contribuíram para a modificação do comportamento

alimentar, tanto em quantidade como em qualidade. Também contribuíram a

facilidade de acesso às informações e às grandes redes de supermercados e,

sobretudo, a alimentação fora de casa, que deslocou a refeição do eixo central

das relações parentais, resultado da mudança na estrutura familiar e da presença

da mulher no mercado de trabalho (HAWKERS, 2007).

Ao mesmo tempo, as pessoas diminuíram o gasto energético, em função

da redução da atividade física. Aspectos decorrentes dessas mudanças levaram

as pessoas a assumirem vida mais sedentária, com excesso de carga horária de

trabalho, falta de tempo para o lazer, estresse, pressão e competitividade nas

relações profissionais e interpessoais. A incidência de sobrepeso e obesidade

aumentou de maneira geral na população brasileira, atingindo crianças,

adolescentes e adultos de diferentes situações socioeconômicas e culturais. Esse

fato justifica a necessidade de intervenções com foco na diminuição de agravos e

promoção da saúde (BRASIL, 2011b; BRASIL, 2012; BRASIL, 2010b; PIMENTA,

2011).

Paralelamente a esse contexto, o Ministério da Saúde lançou, em 2003, a

Política Nacional de Humanização (PNH), com o objetivo de produzir mudanças

nos modos de gestão e cuidado na assistência em saúde e a Política Nacional de

Promoção da Saúde do Trabalhador do SUS (PNPST – SUS). Entre as diretrizes

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da PNH, é relevante destacar o acolhimento e a valorização do trabalhador, que

visam a promover o reconhecimento dos sujeitos implicados na produção da

saúde. Importante aspecto nesse processo é o incentivo à saúde do trabalhador.

Portanto, oferecer suporte aos profissionais para que eles possam lidar com as

próprias dificuldades no local de trabalho torna-se uma estratégia positiva para o

fortalecimento das relações profissionais. Espera-se que essa atenção possibilite

aos profissionais assumirem nova postura no cuidado de si e do outro. O

acolhimento, por sua vez, preconiza a importância da escuta no atendimento ao

indivíduo, ou seja, a necessidade de levar em consideração a influência de

aspectos subjetivos relacionados ao processo saúde-doença de cada sujeito

(BRASIL, 2011a; BRASIL 2011b; BRASIL, 2010a; BRASIL, 2008; BRASIL, 2003).

Uma intervenção multidisciplinar mais humanizada, voltada para a

realidade em que o indivíduo está inserido e o conhecimento dos fatores que

interferem no comportamento alimentar podem melhorar a efetividade da

abordagem nutricional. Também podem auxiliar o indivíduo a estabelecer um

sentido entre as práticas necessárias para adequar as suas necessidades

orgânicas e seus recursos emocionais e subjetivos que irão subsidiar e sustentar

as mudanças de hábitos (MARQUES; GUTIERREZ, 2009).

Torna-se desafio para o profissional de saúde adotar uma postura

humanizadora no atendimento ao paciente, em um contexto em que a assistência

à saúde também se tornou um serviço pautado na lógica da produtividade, de

ações intervencionistas, condutas restritivas e com excesso de prescrições.

Atualmente, agrega-se valor capital ao tempo disponibilizado nas intervenções, o

que, consequentemente, limita a investigação dos aspectos subjetivos e

individuais relacionados ao ato de comer. Questiona-se, portanto, neste estudo:

“qual é o conhecimento científico produzido em relação aos fatores fundamentais

a serem considerados em uma abordagem nutricional visando à mudança de

hábitos alimentares? Ou seja, o que foi estudado e divulgado em periódicos

científicos, livros, dissertações e documentos do Ministério da Saúde a esse

respeito?”

Assim, este estudo objetivou realizar uma revisão teórica sobre a produção

científica publicada acerca do processo de abordagem nutricional para se

alcançar resultados efetivos à mudança de hábitos alimentares saudáveis.

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Procura-se, dessa forma, contribuir com a formulação de estratégias de

enfrentamento desse problema, além de subsidiar informações necessárias para

novas pesquisas e proposições que possibilitem a divulgação do conhecimento

produzido e o bem-estar do indivíduo.

2.2 METODOLOGIA

Para se investigar os recursos utilizados como estratégias para a

construção de um processo de mudança de hábito alimentar, foi realizada revisão

bibliográfica narrativa em 14 artigos científicos em português, publicados a partir

de 2010, na plataforma da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na base de dados

do Scientific Electronic Library Online (SciELO). Os descritores foram “educação

alimentar e nutricional”, “motivação” e “comportamento alimentar”, com enfoque

nas estratégias de enfrentamento das dificuldades para mudar hábito e aspectos

subjetivos envolvidos no ato de se alimentar. Prosseguiu-se, também, com

pesquisas em 15 livros e quatro programas do Ministério da Saúde que

abordassem o assunto, sendo excluídos os artigos que não tinham relação com a

questão de pesquisa e fora do contexto da alimentação e mudança de hábito

alimentar.

A partir de leituras e releituras do material identificado foi possível

categorizar os estudos para melhor análise e compreensão do objetivo proposto,

dividindo-os em subtemas denominados: “Aspectos socioeconômicos que

influenciaram a transição nutricional e o aumento da incidência de doenças

crônicas não transmissíveis (DCNT)”; “O alimento como elemento social e

cultural”; “Motivação e mudança de hábito”; “Educação nutricional”; e

“Humanização e saúde do trabalhador”.

2.3 REVISÃO TEÓRICA

2.3.1 Aspectos socioeconômicos, transição nutricional e o aumento da

incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)

Existe consenso em afirmar a importância da alimentação para a saúde

humana. Vários estudos demonstram a relação entre o aparecimento de doenças

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chamadas crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, obesidade e

câncer, e hábitos alimentares não saudáveis. Esse fenômeno, denominado de

transição alimentar, ocorreu devido à modificação dos hábitos alimentares em

função das mudanças do panorama econômico do país e que se caracteriza pelo

aumento do consumo de alimentos industrializados, ricos em calorias, açúcar,

gordura e sal e baixo consumo de frutas, legumes e verduras (BRASIL, 2010b;

BRASIL, 2010c; BRASIL, 2011b; BRASIL, 2012; DUNCAN; SCHMIDT, 2011;

HAWKERS, 2007; KAC; SICHIERI; GIGANTE, 2007; MEDRONHO et al., 2005).

No que se refere à produção, comercialização e aproveitamento dos

alimentos, as bases da economia mundial e a imensa desigualdade na

distribuição das riquezas criaram um cenário preocupante e difícil de recuperar o

equilíbrio e a diminuição dos agravos à saúde. Apesar dos avanços tecnológicos

gerados pelo modelo de crescimento econômico capitalista, que parecem

sustentar todo o processo da cadeia de produção de alimentos, parte da

população ainda encontra dificuldades para ter acesso a esses produtos. Esse

panorama caracteriza-se por duas situações extremas: de um lado, a escassez de

alimentos; e de outro, a facilidade de acesso a grandes quantidades e variedades,

produtos industrializados, muitas vezes importados, de custos mais elevados, que

foram sendo incorporados na rotina alimentar da população, com valor agregado

que traduz significado de bem-estar e poder (CARRASCO i PONS, 2005).

Segundo Marques e Gutierrez (2009), uma alimentação saudável pode se

tornar um referencial simbólico importante na sociedade capitalista, a partir do

momento em que esse comportamento represente ascensão social, abrangendo,

também, aspectos culturais, financeiros e até políticos.

Também é consenso para Canesqui e Garcia (2005, p. 119) que, “em uma

sociedade homogênea culturalmente, o comportamento orçamentário levará à

adaptação do modelo alimentar dominante”.

Santos (2003, p. 35) proclama como a emergência da dupla tirania, a do

dinheiro e a da informação, forma a base do capitalismo globalizado. E alerta para

o fato de que “[...] sem o controle dos espíritos seria impossível a regulação pelas

finanças”. Entende-se como controle dos espíritos o controle praticado pelos

processos hegemônicos aceitos e legitimados pelo “pensamento único”. Santos

(2003, p. 37) acrescenta que “a dupla tirania [...], juntas, fornecem as bases do

sistema ideológico que legitima as ações mais características da época e, ao

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mesmo tempo, buscam conformar segundo um novo ethos as relações sociais e

interpessoais, influenciando o caráter das pessoas”. Entende-se ethos como a

característica comum a um grupo de indivíduos pertencentes a uma mesma

sociedade.

A mídia exerce uma força muito grande sobre o indivíduo, influenciando-o a

seguir regras de comportamento social ditadas pelos interesses do modelo de

consumo dominante. Essa força é sutilmente expressa em forma de valores e

crenças que vão sendo construídas ao longo do tempo de forma que o indivíduo,

realmente, acredita que é necessário manter o modelo padrão de comportamento

estabelecido (GOMES; CASTRO; MONTEIRO, 2010; SANTOS, 2003).

Os padrões de beleza estabelecidos socialmente valorizam, acima de tudo,

o corpo magro e desconsideram as inúmeras desigualdades e diversidades

existentes, sobretudo os aspectos relacionados à saúde. A demanda estética

contradiz a demanda de consumo de alimentos, uma vez que a adoção de hábitos

alimentares inadequados caminha na contramão da conquista de um corpo

saudável e magro. Essa contradição provoca uma esquizofrenia social (PADUA,

2007), pois, ao mesmo tempo em que o indivíduo é estimulado a consumir cada

vez mais alimentos calóricos que, inevitavelmente, vão causar o aumento do

peso, lhe é imposto um padrão de beleza magro.

Witt e Schneider (2011, p. 3910) afirmam que “o padrão de beleza do corpo

magro é veiculado a mensagens de sucesso, controle, aceitação e felicidade.

Assim, mulheres acreditam que, sendo magras, poderão alcançar todos os seus

objetivos, sendo a perda de peso a solução para todos os seus problemas”. As

pessoas passam a buscar freneticamente alternativas para compensar as

consequências do ganho de peso e consomem mais produtos e serviços que

prometem ajudar na conquista de um corpo perfeito.

O estilo de vida contemporâneo impõe às pessoas uma rotina em que se

considera normal comer qualquer coisa, o que tiver disponível no momento, um

improviso, algo prático, rápido e fácil de fazer. Planejar a refeição passa a ser um

sacrifício, uma função desvalorizada e delegada a segundo plano, um peso para

quem é responsável por ela. Há necessidade de se manter produtivo e ativo a

maior parte do dia e isso se torna incompatível com o tempo necessário para o

preparo do alimento. Dessa forma, perde-se o contato com as texturas, aromas e

com a tênue linha que nos liga à consciência da nossa condição humana. Perde-

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se também a oportunidade de trocas afetivas e tão simbólicas que caracterizam

esses momentos.

Atualmente, terceiriza-se a produção de alimentos, paga-se pelo serviço e

comodidade. O que tem valor é o status de ter acesso ao alimento e quanto mais

sofisticado o serviço, melhor. A relação com o ato de comer tornou-se tão

impessoal que não se toca mais nos alimentos. Basta um toque na tecla do

telefone para chamar o “delivery” e um toque na tela do micro-ondas para aquecer

a preparação, e sua refeição está pronta! Essa despersonalização não deixa de

ser uma expressão da cultura consumista da atualidade e de como as relações,

em todas as esferas, estão sendo construídas baseadas em valores de interesse

do mercado.

As indústrias de alimentos, os serviços de alimentação e a mídia,

procurando atender às características do mercado atual e à cultura do consumo,

tentam igualar ou padronizar os comportamentos humanos e os hábitos,

desconsiderando, muitas vezes, a real necessidade dos indivíduos e a

diversidade. Toda essa complexa rede de símbolos que representa as relações

humanas contribui para as escolhas alimentares que são tão diversas e ao

mesmo tempo tão singulares de acordo com o espaço e o tempo de cada um.

Kac, Sichieri e Gigante (2007, p. 354) afirmam que “um padrão dietético

inadequado não é privilégio de pessoas com sobrepeso”; portanto,

independentemente do estado nutricional da população, é necessário

implementar hábitos alimentares mais saudáveis. A prevenção primária da

obesidade contribui também para diminuir os impactos e os custos em saúde

pública, associados às doenças crônicas decorrentes da transição nutricional.

2.3.2 O alimento: elemento social e cultural

O alimento, como elemento social e cultural, está sempre presente no

cotidiano de todos nós e se associa à ideia de reunião, nas diversas relações e

classes sociais. Seu caráter simbólico não se limita às ocasiões festivas, ele

atravessa as relações de negócios e política e perpassa também a amizade e

rituais religiosos de nossa sociedade (DANIEL; CRAVO, 2005).

Carvalho et al. (2011), em seu estudo sobre interpretação e conceituação

dos termos comer, alimentar e nutrir, asseveram que o alimento tem a função

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biológica de nutrir o homem, promovendo saúde e evitando doenças. Já a comida

incorpora sentidos e significados culturais simbólicos. A alimentação do homem,

em determinado tempo e espaço, é resultado da criação histórico-cultural das

sociedades, assume sentidos e significados, é expressa em ritos e símbolos e é

preservada pela transmissão de saberes e práticas.

A alimentação se expressa como características significativas da cultura e

pode ser interpretada por meio de símbolos que o indivíduo utiliza para se

reconhecer como sujeito na construção de sua própria realidade. Nesse sentido,

cabe trazer à tona os dizeres de Freitas, Minayo e Fontes (2011, p. 34) a respeito

de habitus alimentar:

[...] adoção de um tipo de prática que tem a ver com costumes estabelecidos tradicionalmente e que atravessam gerações, com as possibilidades reais de aquisição dos alimentos e com uma sociabilidade construída tanto no âmbito familiar e comunitário como compartilhada e atualizada pelas outras dimensões da vida social. A partir do exemplo citado, pode-se concluir que o habitus alimentar pode ser compreendido através da linguagem, das atitudes e práticas e se traduz em ritos, valores, mitos, crenças e tabus.

O ato de se alimentar, por conseguinte, não supre apenas uma

necessidade orgânica e calórica para a sobrevivência, ele representa um

elemento social e cultural que está presente nas relações humanas, nas

diferentes classes, nos ritos de passagem com expressão de crenças e valores e

sempre se associando à ideia de reunião. O comportamento alimentar está

relacionado a fatores emocionais e socioculturais. A identidade construída a partir

das experiências vividas acompanha o sujeito ao longo da sua vida e determina a

relação do indivíduo com a comida, estruturando as suas práticas alimentares

(MACIEL, 2005).

Marques e Gutierrez (2009, p. 104) contribuem com a seguinte reflexão:

A tentativa de ensinar pessoas a melhorar seus hábitos alimentares só vai atingir seu objetivo se fizer sentido para os agentes, em seu espaço social. Ou seja, não basta dizer ao sujeito que ele deve se alimentar de maneira correta se isto demandar a adoção de hábitos alimentares pouco valorizados em seu meio, ou que não sejam de fácil acesso. Transformar o hábito alimentar dos sujeitos e, mais do que isso, fazer com que outras formas de alimento sejam valorizadas e aceitas como capital simbólico é com certeza um caminho difícil.

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O homem é resultado de uma construção social e os elementos culturais

de cada sociedade são responsáveis pela caracterização de suas ações. E é esse

processo que vai determinar suas escolhas alimentares. Os processos sociais e

culturais são mais complexos do que a simples satisfação de uma necessidade

fisiológica. Portanto, em uma intervenção nutricional é importante considerar as

expectativas dos sujeitos, os aspectos subjetivos relacionados ao ato de se

alimentar, o seu momento histórico e o meio em que ele está inserido.

2.3.3 Mudança de hábito e motivação

Considerando as questões subjetivas que estão relacionadas ao

comportamento alimentar, a escolha de uma linguagem adequada na abordagem

ao paciente em uma intervenção nutricional é fator imprescindível para a

efetividade da adesão às mudanças propostas.

Observa-se, em muitos casos, que os indivíduos apresentam grande

dificuldade em mudar hábitos alimentares para aderir a uma dieta saudável.

Acredita-se que essa dificuldade não aconteça pela falta de conhecimento ou

orientação, pois, atualmente, a facilidade de acesso à informação e o volume de

orientações sobre o assunto são muito grandes. As pessoas normalmente alegam

saber o que é preciso fazer para ter uma boa alimentação, mas não conseguem

sustentar a mudança e voltam para o velho padrão alimentar.

Busnello et al. (2011 p. 220), em estudo sobre o impacto da intervenção

nutricional na adesão ao tratamento em pacientes com síndrome metabólica,

apuraram que pacientes submetidos a intervenções nutricionais, tanto a curto

como a longo prazos, frequentemente têm baixa adesão ao tratamento nutricional.

As causas para a desistência do acompanhamento são diversas. Os autores

associaram também melhora significativa de parâmetros clínicos ao que eles

denominaram motivação prévia. Nesses casos, os indivíduos já chegaram

motivados à primeira consulta. Eles concluem, portanto, que “a motivação prévia

e a prática de um estilo de vida favorável às mudanças é fator independente para

adesão ao tratamento e alcance das metas estipuladas”.

Ao discutir a adesão e a motivação de indivíduos portadores de doença

crônica participantes de programas de saúde, Costa (2011) verificou a

importância da rede de apoio (família e amigos) para aumentar a conscientização

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da necessidade de mudança de estilo de vida e adesão ao tratamento. Destaca,

também, a importância da atuação de uma equipe multidisciplinar no cuidado à

saúde dos pacientes e orientação aos familiares, sobretudo quanto à

possibilidade de o paciente, portador de doença crônica, poder levar vida normal

e de boa qualidade.

Costa (2011, p. 2007) também alerta a equipe a estar atenta às

características do paciente antes de iniciar o aconselhamento específico, que

podem ser:

[...] padrões individuais de resposta do paciente em relação aos seus sentimentos, angústias, ansiedades, conflitos e necessidades, estabelecendo um vínculo afetivo para, posteriormente, em conjunto, traçar estratégias, a serem alcançadas a curto, médio e longo prazo, que visem ao controle metabólico do paciente.

A reeducação alimentar por meio da motivação e o estímulo parece

substituir a forma de “controle-repressão” que marca as dietas tradicionais, sendo

a sua base a valorização da autonomia do sujeito e a responsabilização dos

indivíduos no cuidado de si.

A mudança de hábitos alimentares é mais efetiva quando o indivíduo

consegue estabelecer um sentido entre as ações necessárias para obtenção de

alimentação saudável, o seu referencial simbólico e o valor afetivo incorporado

aos alimentos e ao ato de comer. Esses são fatores determinantes das suas

práticas alimentares. A mudança pode ser estimulada ou não, se o indivíduo

consegue estabelecer redes ou encontrar apoio do meio em que está inserido,

seja no ambiente familiar ou no trabalho, colaborando, dessa forma, para superar

as dificuldades em mudar hábitos. A abordagem nutricional adequada torna-se,

portanto, um aspecto importante nas proposições de mudanças nos hábitos

alimentares.

2.3.4 Educação nutricional

Santos (2013) refere que a educação nutricional e alimentar precisa

associar o conhecimento a um processo de conscientização do indivíduo,

ampliando a sua visão de maneira que o auxilie a tomar novas decisões e o torne

mais seguro nas suas escolhas. Entretanto, deve-se respeitar a autonomia do

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sujeito, ressaltar a importância da sua responsabilização com o cuidado de si e

levar em conta os aspectos sociais que caracterizam o seu estilo de vida.

O psicólogo soviético Vygotsky [1896-1934†] contribuiu para a

compreensão do comportamento humano como fenômeno histórico e social. Um

dos pontos centrais da sua teoria é que “a complexidade da estrutura humana

deriva do processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas relações

entre história individual e social” (REGO, 2012, p. 26), sendo o pensamento

culturalmente mediado pela linguagem.

De acordo com Vygotsky (2007), o pensamento humano e a linguagem são

entrelaçados, uma vez que os significados das palavras, que são construídos

socialmente, cumprem tanto a ação de representação quanto a de generalização,

o que permite a reconstrução do real no nível do simbólico. Essa reconstrução

representa a condição de criação de um universo cultural e a construção de

sistemas lógicos de pensamento, que possibilitam a elaboração de sistemas

explicativos da realidade. Do mesmo modo, essa dupla função permite a

comunicação da experiência individual e coletiva.

Vygotsky (2007) discorre sobre o que ele chamou de sistema de signos,

formados pela linguagem, a escrita e os números. Ele considera que a

internalização desses sistemas simbólicos, produzidos culturalmente, constitui-se

em elementos estruturantes do desenvolvimento individual. Uma das teses de

Vygotsky refere-se à relação indivíduo-sociedade, conforme explicita Rego (2012,

p. 41):

As características tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento do indivíduo, nem são mero resultado das pressões do meio externo. Elas resultam da interação dialética do homem e seu meio sociocultural. Ao mesmo tempo em que o ser humano transforma o seu meio para atender às suas necessidades básicas, transforma-se a si mesmo.

A abordagem psicológica histórico-cultural de Vygotsky entende o sujeito

inserido socialmente em um meio historicamente construído. Dessa forma, a

educação, a partir dessa perspectiva, deve considerar toda a experiência de vida

do indivíduo. Os autores afirmam, ainda, que “a interação social é condição

indispensável para a aprendizagem, pois é constituída a partir de uma ação

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partilhada, que implica um processo de mediação entre sujeitos” (MARQUES;

OLIVEIRA, 2005, p. 4).

A dialética marxista ajuda a compreender o complexo sistema que constitui

as relações externas ao sujeito, mas também as representações sociais que

expressam objetivamente as experiências vividas por ele e os significados que lhe

são atribuídos (DESLANDES; GOMES; MINAYO, 2011).

Minayo et al. (2004, p. 225) reconhecem que “numa sociedade marcada

por relações sociais de produção profundamente desiguais, a comunicação está

sistematicamente perturbada. A linguagem é um índice de alienação que

expressa a dominação dos homens sobre seus semelhantes”.

Dialogando com Paulo Freire, Marques e Oliveira (2005, p. 2), lembram

que:

[...] é preciso perceber as particularidades na totalidade, porque nenhum fato ou fenômeno se justifica por si mesmo, isolado do contexto social onde é gerado e se desenvolve. O homem e a mulher como seres sociais são capazes de agir, de representar sua ação e expressá-la de modo objetivado. No momento de criar e recriar a realidade procuram representá-la. No entanto, o discurso que os homens e as mulheres fazem da sua situação concreta é conflituoso, visto que o lugar que ocupam na sociedade também o é. Seus discursos são submetidos a pressões particulares de interesses de classes sociais. Dessa forma, as representações ideológicas são determinadas pelas estruturas das relações sociais. É a unidade dialética que gera um atuar e um pensar crítico sobre a realidade para transformá-la.

Baseado na perspectiva mencionada anteriormente, em outro campo

científico de observação, o economista Dawbor (2007, p. 77), em seu texto sobre

educação e apropriação da realidade local, fez importante associação sobre a

forma de difusão do conhecimento e o desenvolvimento local. O autor acredita

que, “ao estudarem de forma científica e organizada a realidade que conhecem

por vivência [...], as crianças tendem a assimilar melhor os próprios conceitos

científicos, pois é a realidade delas que passa a adquirir sentido”. E é esse

sentido, esse reconhecimento e apropriação do conhecimento que possibilitam a

transformação da realidade.

A partir dessa discussão acredita-se que o conhecimento é um produto

cultural. As formas verbais de comunicação produzidas consolidam a experiência

histórica do homem, uma vez que, por meio da linguagem, internalizam-se os

conteúdos (MARQUES; OLIVEIRA, 2005).

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Diante do desafio de propor alterações na mudança de hábitos, é

fundamental que se leve em conta a integralidade do indivíduo, a realidade e o

contexto em que vive, considerando também, como afirma Carrasco i Pons (2005,

p. 116), que “em determinadas circunstâncias históricas os pressupostos teóricos

de uma disciplina podem apontar para uma mudança progressiva de problemática

que repercute nas disciplinas relacionadas com o mesmo grupo de fenômenos”.

Cezaretto (2010) e Santos (2010) demonstraram que as intervenções em

grupo interdisciplinar são propostas eficazes para mudança de hábitos e

construção de competências relacionadas à saúde e qualidade de vida na

população. Além de serem iniciativas de baixo custo, beneficiam elevado número

de pessoas e estimulam a motivação e fortalecimentos das relações intergrupais.

França et al. (2012, p. 338) ressaltam que “a prevenção e o tratamento de

enfermidades crônicas não transmissíveis por meio de mudança no estilo de vida

apresentam adesão de apenas 25%”. Acreditam, ainda, que a baixa adesão pode

estar relacionada à inadequação das estratégias e intervenções utilizadas, pois “o

conhecimento só serve de instrumento de mudança se existir no indivíduo o

desejo de mudar”.

O processo de reeducação alimentar e construção de novos hábitos

alimentares deve pautar-se, sobretudo, no diálogo e na autonomia do sujeito,

ressaltando o valor da sua responsabilização com o cuidado de si, além de levar

em conta os aspectos sociais, culturais e econômicos que fazem parte da sua

realidade. A partir dessa perspectiva, é possível propor uma estratégia de

intervenção em que seja respeitado o tempo de cada pessoa nesse processo, que

é único e singular.

2.3.5 Humanização e promoção da saúde do trabalhador como base da

proposta de intervenção

O ambiente profissional representa, atualmente, o local onde as pessoas

passam a maior parte do seu dia. Esse pode ser um fator facilitador ou dificultador

para a mudança ou adesão a uma alimentação saudável. O acesso à alimentação

no trabalho pode ser considerado um dos fatores determinantes para a qualidade

do padrão alimentar, tendo em vista que a alimentação no trabalho pode

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representar a única refeição saudável realizada no dia ou, dependendo da

atividade realizada, o trabalho pode até inviabilizar a realização das refeições.

Ademais, as formas de atividade laboral influenciam no desgaste da saúde

e no adoecimento profissional. A saúde do trabalhador, como um bem que tem

custo crescente, constitui uma preocupação dos indivíduos, da sociedade e da

saúde pública. A hegemonia do sistema capitalista levou à exploração do

trabalhador em virtude das estratégias de competitividade e individualismo. A

ênfase na exclusão dos diferentes e indução à massificação dos modos de

atuação violou a qualidade de vida do trabalhador tanto em termos materiais

como subjetivos (D’ALENCAR, 2010).

As relações estabelecidas no ambiente de trabalho refletem-se na vida

cotidiana dos sujeitos e a implantação de ações humanizadoras se torna um

grande desafio a ser alcançado. A prática humanizadora no trabalho é possível

quando os sujeitos se encontram a partir da compreensão e abertura para o outro,

aceitando suas características, diferenças, saberes, desejos e necessidades

(BRASIL, 2010a; BRASIL, 2003).

Vale a pena destacar que o Ministério da Saúde aprovou, em 2003, a

Política Nacional de Humanização (PNH), com o objetivo de produzir mudanças

nos modos de gestão e cuidado na assistência em saúde. E avançou mais em

2011, quando publicou a Política Nacional de Promoção da Saúde do Trabalhador

do SUS. Essa Política visa à promoção da melhoria das condições de saúde do

trabalhador do SUS, por meio do enfrentamento dos aspectos gerais e

específicos dos ambientes e organização do trabalho que possam propiciar a

ocorrência de agravos à saúde, do empoderamento dos trabalhadores - atores

sociais dessas transformações - e mediante a garantia ao acesso, às ações e aos

serviços de atenção integral à saúde (BRASIL, 2003; BRASIL, 2011a). Acredita-

se que oferecer suporte aos profissionais de saúde para que eles possam lidar

com as próprias dificuldades parece ser uma estratégia positiva para o

fortalecimento das relações no trabalho. As dificuldades tendem a ser superadas

na medida em que o trabalhador se sente parte integrante do processo de

promoção da saúde, assumindo nova postura no cuidado de si e do outro

(BRASIL, 2003).

As pessoas não se limitam a ser as expressões das doenças de que são

portadoras. Alguns problemas, como a baixa adesão a tratamentos, resistência,

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negação da doença, entre outros, evidenciam a complexidade dos sujeitos e os

limites da prática clínica centrada na doença. E esses aspectos são

características do ser humano, que se manifestam tanto no usuário como no

trabalhador da saúde, que se torna paciente quando se trata do cuidar de si

(BRASIL, 2003; FRANÇA et al., 2012).

Quando o indivíduo recebe apoio do meio em que se encontra, seja no

ambiente familiar ou no trabalho, sente-se mais estimulado a superar as

dificuldades em mudar hábitos. As ações humanizadoras no ambiente do trabalho

fortalecem as relações interpessoais e proporcionam um ambiente favorável para

adequação de novas rotinas e hábitos. E as ações de promoção da saúde

também trazem benefícios para os serviços de saúde pública, devido ao caráter

preventivo da intervenção, que tem como objetivo diminuir o impacto no

atendimento da atenção primária e secundária.

Portanto, a ampliação do conhecimento sobre os determinantes do

comportamento alimentar é fundamental para se propor estratégias de

enfrentamento das dificuldades de mudança de hábito. Essa medida aumenta a

efetividade das intervenções nutricionais, leva a informação adequada ao

indivíduo no próprio ambiente de trabalho, ajuda-o a mudar sua postura no

cuidado de si e do outro e torna-o, assim, multiplicador de práticas alimentares

saudáveis.

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os autores pesquisados, há consenso em afirmar que são

várias as características do mundo globalizado consideradas responsáveis pela

grande transformação dos hábitos alimentares. Esses fatores contribuíram para a

modificação do padrão alimentar e essas práticas favorecem, efetivamente, a

ocorrência de desequilíbrios nutricionais e o aumento da incidência de doenças

crônicas não transmissíveis, que têm a obesidade como importante fator de risco.

E os aspectos ambientais são reconhecidos como um dos mais influentes, tanto

na gênese como na prevenção do ganho excessivo de peso e obesidade.

O homem constrói a sua identidade social sob forte influência do meio

externo e dos elementos culturais da realidade em que está inserido. Essa

identidade social é responsável pela caracterização das ações do sujeito e de

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suas escolhas alimentares. Entende-se que esses processos sociais e culturais e

o ato de se alimentar são mais complexos do que a simples satisfação de uma

necessidade fisiológica. O indivíduo, quando se percebe pertencente a

determinado grupo e reconhece as práticas alimentares como regras sociais

legítimas e que devem ser seguidas, é levado a se adequar ao ambiente,

repetindo os modelos de comportamentos coletivos.

Aliado à economia capitalista que valoriza, indiscriminadamente, o

consumo, os padrões de beleza prezam, acima de tudo, o corpo magro e não

consideram as desigualdades e diversidade existentes e, sobretudo, os aspectos

relacionados à saúde. A demanda estética contradiz a demanda de consumo de

alimentos, uma vez que hábitos alimentares inadequados caminham na

contramão da conquista do corpo saudável e magro. Esse contrassenso,

sutilmente, induz o indivíduo a consumir mais, o que levará, inevitavelmente, ao

sobrepeso. Esse comportamento o faz sofrer por não se adequar aos padrões

estéticos sociais. Cabe ao profissional da saúde despertar o espírito crítico do

indivíduo nesse sentido, no intuito de auxiliá-lo na adoção de escolhas mais

assertivas e benéficas à sua saúde.

Os estímulos e a motivação que impulsionam a mudança contínua de

hábitos são identificados pelo valor do apoio familiar e do trabalho interdisciplinar

durante o processo de transição das práticas alimentares; pelo significado da

autonomia ao conduzir as mudanças na sua alimentação; e pela compreensão da

necessidade de mudar e o reconhecimento da sua capacidade de vencer

obstáculos. A intervenção nutricional torna-se mais significativa quando pautada

em uma abordagem que leva em consideração não só a adequação das

necessidades orgânicas individuais, mas as expectativas do sujeito e os aspectos

subjetivos e simbólicos que os alimentos representam para cada indivíduo.

O conhecimento dos fatores que interferem no comportamento alimentar

auxilia na melhoria da efetividade das intervenções nutricionais. A reeducação

alimentar, por meio da motivação e o estímulo, parece substituir a forma de

“controle-repressão” que marca as dietas tradicionais, auxiliando na construção

de um sentido para as ações de mudança. E sua base torna-se a valorização da

autonomia do sujeito e a responsabilização dos indivíduos no cuidado de si.

Acredita-se que ações humanizadoras no ambiente do trabalho contribuam

para a promoção da saúde do trabalhador, a fim de que ele se torne multiplicador

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de condutas alimentares saudáveis, refletindo esse comportamento no meio

familiar e nas relações profissionais.

Baseado nos argumentos discutidos anteriormente, acredita-se que a

promoção da saúde deve ser um conjunto de ações integradas e dialogadas entre

os diversos saberes, oposta à fragmentação do cuidado em disciplinas

específicas. E deve considerar, sobretudo, os aspectos subjetivos dos indivíduos,

inserindo-os no seu contexto sociocultural e apostando nos recursos individuais

para melhorar o autocuidado em saúde e para a transformação da sua realidade.

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3 DO DESEJO À AÇÃO: FATORES QUE INTERFEREM NA

ABORDAGEM NUTRICIONAL PARA MUDANÇA DE HÁBITO

ALIMENTAR

Iara Lamas14

Matilde Meire Miranda Cadete25

RESUMO Compreender os fatores que influenciam o comportamento alimentar é fundamental para aumentar a efetividade das intervenções nutricionais que visam à mudança de hábito alimentar. Este trabalho originou-se de questionamentos provenientes de atividades de reeducação alimentar realizadas em grupo com profissionais da saúde no próprio local de trabalho. Trata-se de um relato de pesquisa com abordagem qualitativa, realizada na Maternidade Odete Valadares, em Belo Horizonte, que teve como objetivo analisar as estratégias utilizadas pelos profissionais no enfrentamento das dificuldades em adotar hábitos alimentares mais saudáveis. A coleta de dados se deu por meio de entrevista semiestruturada, com 12 sujeitos selecionados aleatoriamente e fez-se a análise temática dos depoimentos a partir da análise de conteúdo de Bardin (2010). Desses depoimentos, produziram-se quatro categorias: relação do indivíduo com a comida; processo de reeducação alimentar; relação cultural e saúde e suas respectivas subcategorias. A análise dos resultados identificou que aspectos subjetivos influenciam o comportamento alimentar; a memória afetiva pode relacionar a comida como um escape prazeroso das pressões diárias; a ansiedade e a tristeza podem ser indutores de comer compulsivo e o apoio familiar auxilia na manutenção da mudança. Mostrou, ainda, ser a informação elemento fundamental para o desenvolvimento da consciência crítica. E a autonomia foi fator motivacional para a condução das mudanças nas práticas alimentares. A saúde é o grande eixo motivador para a mudança do padrão alimentar e a atividade física foi uma das estratégias mais utilizadas para a mudança do estilo de vida. Acredita-se que considerar os aspectos subjetivos do indivíduo em uma intervenção nutricional é importante para a efetividade da adesão às mudanças propostas. Palavras-chave: Educação alimentar e nutricional. Comportamento alimentar. Educação para saúde.

1

Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, MG. Nutricionista da Maternidade Odete Valadares (FHEMIG), Belo Horizonte, MG. 2

Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, MG.

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ABSTRACT To understand the factors that can influence eating behavior is fundamental to increase nutritional interventions effectiveness that aim the change of eating habits. This paper originated from the questions that came up with eating reeducation activities performed in a health professional’s group at their own workplace. It is a research with a qualitative approach that took place at the Maternidade Odete Valadares, Belo Horizonte, which object of study was analyzing the strategies used by the professionals to face the obstacles of adopting healthier eating habits. The data collection was processed through semi-structured interviews, with 12 randomly selected individuals and a thematic analysis of the testimonials was done from a Bardin (2010) content analysis. From this testimonials four categories were produced: individual relation with food; eating reeducation process; cultural and health relation and it’s respective subcategories. The result analysis identified that subjective aspects influenced the eating behavior; the affective memory can relate food as a pleasant escape route for daily stress; the anxiety and sadness can be inductors of compulsive eating and familiar support helps during change maintenance. It has shown yet, that information is a fundamental element for critical conscience development, and autonomy was a motivation factor for eating habits change conduction. Health is the main motivational element for eating pattern change and physical activities was one of the most used strategies for life style changes. It is believed that considering the subjective aspects of the individual for an nutritional intervention is important for the effectiveness adhesion of the proposed changes. Key words: Food and nutrition education. Feeding behavior. Education for health.

3.1 INTRODUÇÃO

A abordagem nutricional adequada é fundamental para garantir efetividade

na mudança de hábitos alimentares. A necessidade de compreender melhor os

fatores que influenciam o comportamento alimentar é essencial, pois ele é

dependente de questões emocionais, culturais e socioeconômicas determinantes

das escolhas alimentares, que estão relacionadas aos aspectos subjetivos

referentes ao ato de comer.

O tema sobre reeducação alimentar surgiu a partir de um trabalho

desenvolvido com os profissionais de saúde na Maternidade Odete Valadares

(MOV) pertencente à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG),

em Belo Horizonte. O objetivo foi estimular a mudança de hábitos alimentares e

promover a saúde do trabalhador. A experiência permitiu a esses profissionais o

acesso à orientação nutricional, atendimento individual e em grupo pelo período

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de, aproximadamente, seis meses, tempo necessário para avaliar as mudanças

alcançadas pelos participantes. Esse grupo foi idealizado a partir da demanda de

melhorar os hábitos alimentares para promoção da saúde e perda de peso e foi

apoiado pelo Grupo de Trabalho de Humanização (GTH), em cumprimento às

diretrizes referentes à valorização do trabalhador da saúde estabelecidas nas

Política Nacional de Humanização (PNH) e Política Nacional de Promoção da

Saúde dos Trabalhadores do SUS (PNPS – SUS).

Os trabalhadores da saúde ficam longos períodos de permanência no

ambiente de trabalho e, devido à dificuldade de locomoção nos grandes centros

urbanos, bem como ao tempo gasto com deslocamentos, são impelidas a buscar

a comodidade de se alimentarem no próprio local de trabalho ou nas suas

proximidades. Junta-se a esse contexto, além do apelo da mídia e do mercado

para o consumo, o sedentarismo, que contribui para dificultar a adoção de hábitos

alimentares e de vida mais saudáveis.

Os resultados da classificação do estado nutricional dos participantes do

grupo em estudo mostrou alto índice de sobrepeso e obesidade, confirmando os

dados encontrados na literatura. Esse dado justifica a necessidade de intervenção

em educação nutricional para minimizar danos e promover a saúde do

trabalhador. E foi nesse panorama que se instalou o seguinte questionamento:

com quais estratégias e recursos profissionais da saúde se tem conseguido

superar a dificuldade de mudar o hábito alimentar e aderido a uma dieta mais

saudável? Com foco nessa argumentação investigaram-se as estratégias e

recursos que possibilitaram aos profissionais da saúde superar as dificuldades em

mudar o hábito alimentar para aderirem a uma dieta mais saudável.

Acredita-se que o conhecimento das estratégias, recursos e motivações

que determinaram a mudança de hábito alimentar, e se constituíram em

experiências exitosas e explicitados por meio da linguagem oral dos sujeitos que

as vivenciaram, possibilitem a identificação de elementos envolvidos na

construção de um novo hábito alimentar mais saudável que possa ser socializado

nos diversos espaços de saúde e correlatos em prol da saúde do trabalhador.

O estudo teve como objetivo geral analisar as estratégias e recursos

utilizados por profissionais da saúde no enfrentamento das dificuldades em adotar

hábitos alimentares mais saudáveis. E como objetivos específicos: identificar

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estímulos que motivaram ou desmotivaram a mudança de hábito alimentar e

conhecer os significados simbólicos e afetivos do ato de comer.

3.2 DISCUSSÃO TEÓRICA

A incidência dos casos de obesidade cresceu muito nas últimas décadas,

desencadeando uma epidemia que acomete indivíduos de todas as idades. A

mudança dos hábitos alimentares tem influência direta nesse panorama atual, que

se caracteriza pela ingestão de alimentos com alto índice de gorduras, açúcar e

sal e baixa quantidade de vitaminas, minerais e fibra. A literatura é vasta em

afirmar a importância da nutrição para a saúde do indivíduo, sobretudo a relação

do baixo consumo de frutas, verduras, legumes e da maior frequência de

refeições realizadas fora de casa, com o consequente aumento do consumo de

alimentos industrializados e com alto teor energético. A mudança do perfil

alimentar da população e o inevitável aumento da incidência de obesidade na

população estão diretamente relacionados ao aparecimento de doenças crônicas

como diabetes, hipertensão, obesidade e certos tipos de câncer (BRASIL, 2010b;

BRASIL, 2011b; BRASIL, 2012; DUNCAN; SCHMIDT, 2011; HAWKERS, 2007;

LEVY et al., 2012; PIMENTA, 2011).

A transformação do comportamento social dos brasileiros interferiu na

mudança do padrão alimentar, uma vez que houve aumento da sua carga de

trabalho, passou a se alimentar fora de casa, assumiu estilo de vida mais

sedentário em função da falta de tempo para o lazer, além de estresse, pressão e

competitividade nas relações sociais e profissionais. Essas práticas contribuem,

efetivamente, para a ocorrência de desequilíbrios nutricionais (BRASIL, 2010b;

BRASIL, 2011b; BRASIL, 2012; HAWKERS, 2007; KAC; SICHIERI; GIGANTE,

2007; MEDRONHO et al., 2005).

Considerando a realidade dos profissionais da área da saúde, é importante

destacar que o Ministério da Saúde aprovou, em 2003, a Política Nacional de

Humanização (PNH), com o objetivo de produzir mudanças nos modos de gestão

e cuidado na assistência em saúde. Uma das diretrizes da PNH é a valorização

do trabalhador (BRASIL, 2003; BRASIL, 2008). Em 2011, o Ministério da Saúde

avançou ainda mais com a Política Nacional de Promoção da Saúde do

Trabalhador do SUS, visando promover a saúde do trabalhador mediante, entre

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outros aspectos, a garantia ao acesso às ações e aos serviços de atenção

integral à saúde (BRASIL, 2011a). Acredita-se que a iniciativa de ações

humanizadas e de acesso à informação e atendimento especializado no próprio

local de trabalho seja uma estratégia positiva para o fortalecimento das relações

no trabalho, valorização do sujeito e uma nova postura no cuidado de si e do

outro (BRASIL, 2003; BRASIL, 2011a; BRASIL, 2010a).

O Ministério da Saúde também aprovou em 2006 a Política Nacional de

Promoção da Saúde. Essa política tem o objetivo de promover a qualidade de

vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relaciona) os aos seus

determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho,

habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços

essenciais. A proposta procura garantir o fornecimento de informações corretas

para facilitar decisões por escolhas saudáveis e possibilitar programas adequados

de educação e promoção de saúde (BRASIL, 2010b).

Considerando também as questões subjetivas que estão relacionadas ao

comportamento alimentar, a escolha de linguagem adequada na abordagem ao

paciente em uma intervenção nutricional é fator importante para a efetividade da

adesão às mudanças propostas (TORAL; SLATER, 2007).

Santos (2005, p. 688) afirma que “o papel da educação alimentar e

nutricional está vinculado à produção de informações que sirvam como subsídios

para auxiliar a tomada de decisões dos indivíduos convocando-os a ampliar o seu

poder de escolha e decisão”. Porém, deve-se respeitar a autonomia do sujeito,

ressaltar a importância da sua responsabilização com o cuidado de si e levar em

conta os aspectos sociais em que está inserido.

O alimento, como elemento social e cultural, está sempre presente se

associando à ideia de reunião, nas diversas relações e classes sociais. Seu

caráter simbólico não se limita às ocasiões festivas, ele atravessa as relações de

negócios e política e perpassa também a amizade e rituais religiosos de nossa

sociedade (DANIEL; CRAVO, 2005).

O homem é resultado de uma construção social e os elementos culturais

de cada sociedade são responsáveis pela caracterização de suas ações, e é esse

processo que vai determinar suas escolhas alimentares. Daniel e Cravo (2005, p.

63) acrescentam que, “de acordo com as variáveis sociais, os alimentos também

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se apresentam de forma diferente”. Os processos sociais e culturais são mais

complexos do que a simples satisfação de uma necessidade fisiológica.

Segundo Marques e Gutierrez (2009), uma alimentação saudável pode se

tornar um importante referencial simbólico na sociedade capitalista, a partir do

momento em que esse comportamento represente a ascensão social,

abrangendo, também, aspectos culturais, financeiros e até políticos.

Também é consenso para Canesqui e Garcia (2005, p. 119) que “em uma

sociedade homogênea culturalmente, o comportamento orçamentário levará à

adaptação do modelo alimentar dominante”.

Maciel (2005, p. 49) contribui com a seguinte reflexão: “[...] na alimentação

humana, natureza e cultura se encontram, pois se comer é uma necessidade vital,

o que, quando e com quem comer são aspectos que fazem parte de um sistema

que implica atribuição de significados ao ato alimentar”.

A desarticulação em torno do ato de comer reflete a precarização das

relações afetivas. Sentar-se à mesa para compartilhar o ato de se alimentar tem

pouco espaço na sociedade contemporânea. Com isso, perde-se a oportunidade

de trocas afetivas e simbólicas que são tão características e marcantes desses

momentos (GALLIAN, 2007).

O Guia Alimentar para a População Brasileira publicado em 2014 pelo

Ministério da Saúde aborda a questão da comensalidade, sua importância no

fortalecimento das relações sociais e no resgate e preservação de costumes e

tradições culturais (BRASIL, 2014, p. 96):

Seres humanos são seres sociais e o hábito de comer em companhia está impregnado em nossa história, assim como a divisão da responsabilidade por encontrar ou adquirir, preparar e cozinhar alimentos. Compartilhar o comer e as atividades envolvidas neste ato é um modo simples e profundo de criar e desenvolver relações entre pessoas. Dessa forma, comer é parte natural da vida social.

É possível analisar a relação dos indivíduos com os alimentos procurando

identificar os condicionantes dos processos sociais e culturais a partir da

perspectiva de que os alimentos não são apenas veículos de nutrientes

necessários à sobrevivência. Representam, também, “uma ordem social e

material atribuídas por um determinado grupo humano, ou seja, um conjunto de

normas ou crenças que um grupo de pessoas compartilha em relação aos

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alimentos e sua manipulação”. O alimento, além de seu caráter nutritivo, constitui-

se em uma linguagem, cheia de significações (CARRASCO i PONS, 2005, p.

118).

Goldenberg (2004) assegura que as pessoas agem conforme seu conjunto

de valores e experiências inserido num contexto permanentemente mutável e

cujos aspectos culturais, sociais, econômicos e históricos não podem ser

controlados e são, portanto, de difícil interpretação, generalização e reprodução.

Lev Vygotsky, grande psicólogo do século XX, muito contribuiu para a

compreensão do comportamento humano como fenômeno histórico e social. Um

dos pontos centrais da sua teoria é que “a complexidade da estrutura humana

deriva do processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas relações

entre história individual e social” (REGO, 2012, p. 26).

Continuando, ainda pautada em Rego (2012, p. 31), tem-se que “o

pensamento adulto é culturalmente mediado, sendo a linguagem o principal meio

desta mediação”. Com isso, seu trabalho suscitou importantes reflexões sobre as

relações entre ensino, aprendizagem e desenvolvimento.

Uma das teses de Vygotsky refere-se à relação indivíduo-sociedade,

conforme explicita Rego, (2012, p. 41):

As características tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento do indivíduo, nem são mero resultado das pressões do meio externo. Elas resultam da interação dialética do homem e seu meio sociocultural. Ao mesmo tempo em que o ser humano transforma o seu meio para atender às suas necessidades básicas, transforma-se a si mesmo.

A abordagem psicológica histórico-cultural de Vygotsky entende o sujeito

inserido socialmente em um meio historicamente construído. Dessa forma, a

educação, a partir dessa perspectiva, deve considerar toda a experiência de vida

do indivíduo. Ele assegura, ainda, que “a interação social é condição

indispensável para a aprendizagem, pois é constituída a partir de uma ação

partilhada, que implica um processo de mediação entre sujeitos” (MARQUES;

OLIVEIRA, 2005, p. 4). O autor também contribuiu muito para a discussão dos

mecanismos que levam a cultura a se tornar parte integrante da natureza

humana.

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Minayo et al. (2004, p. 225) prelecionam que “numa sociedade marcada

por relações sociais de produção profundamente desiguais, a comunicação está

sistematicamente perturbada. A linguagem é um índice de alienação que

expressa a dominação dos homens sobre seus semelhantes”.

A dialética marxista ajuda a compreender o complexo sistema que constitui

as relações externas ao sujeito, mas também as representações sociais que

expressam objetivamente as experiências vividas por ele e os significados que lhe

são atribuídos (DESLANDES; GOMES; MINAYIO, 2011).

Dialogando com Paulo Freire, a partir de Marques e Oliveira (2005, p. 2),

apreende-se:

[...] é preciso perceber as particularidades na totalidade, porque nenhum fato ou fenômeno se justifica por si mesmo, isolado do contexto social onde é gerado e se desenvolve. O homem e a mulher como seres sociais são capazes de agir, de representar sua ação e expressá-la de modo objetivado. No momento de criar e recriar a realidade procuram representá-la. No entanto, o discurso que os homens e as mulheres fazem da sua situação concreta é conflituoso, visto que o lugar que ocupam na sociedade também o é. Seus discursos são submetidos a pressões particulares de interesses de classes sociais. Dessa forma, as representações ideológicas são determinadas pelas estruturas das relações sociais. É a unidade dialética que gera um atuar e um pensar crítico sobre a realidade para transformá-la.

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o conhecimento é um produto

cultural. As formas verbais de comunicação produzidas consolidam a experiência

histórica do homem. “É através da linguagem que se dá a interiorização dos

conteúdos, pois ela faz com que a natureza social das pessoas se torne também

sua natureza psicológica” (MARQUES; OLIVEIRA, 2005, p. 6).

Santos (2005, p. 609), em seu trabalho sobre educação nutricional,

mostrou que:

As tecnologias da informação e comunicação são de extremas relevâncias na garantia do direito ao acesso à informação. No entanto, tais tecnologias não podem substituir a educação, que tem no diálogo um dos elementos centrais. Esse diálogo, mesmo intermediado pelas tecnologias, é que oferece sentido para as ações educativas e para o

processo de mudanças das práticas alimentares das populações.

França et al. (2012, p. 338) enfatizam que “a prevenção e o tratamento de

enfermidades crônicas não transmissíveis por meio de mudança no estilo de vida

apresentam uma adesão de apenas 25%”. Acreditam que a baixa adesão pode

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estar relacionada à inadequação das estratégias e intervenções utilizadas, pois “o

conhecimento só serve de instrumento de mudança se existir no indivíduo o

desejo de mudar”.

O modelo transteórico descrito por Prochaska (1986 e 1994) explica que as

mudanças no comportamento acontecem em cinco estágios distintos: pré-

contemplação, contemplação, decisão, ação e manutenção. No estágio de pré-

contemplação, o indivíduo não reconhece a necessidade da mudança

comportamental e não há intenção de adotá-la num futuro próximo. Os indivíduos

são mais resistentes, apresentam pouca motivação e não estão prontos para

iniciar o plano de mudança de hábito, pois não consideram suas práticas

alimentares inadequadas. No estágio de contemplação a pessoa reconhece o

problema, está decidido a superá-lo, mas ainda não está comprometido com isso.

E apresenta, frequentemente, desculpas para não adotar uma alimentação

saudável, atribuindo à falta de tempo, à dificuldade de acesso, aos preços

elevados e ao sabor desagradável dos alimentos sugeridos. No estágio de

decisão, o indivíduo pretende mudar o seu comportamento em breve. Realiza

pequenas mudanças, mas não consegue assumir um compromisso definitivo com

as mesmas. Caracteriza-se pela conhecida expressão: “Começarei a dieta na

próxima segunda feira”. Os indivíduos em ação superam as dificuldades

encontradas e mudam de fato o seu comportamento, suas escolhas e seu

ambiente. Podem acontecer recaídas, mas eles já reconhecem os benefícios das

alterações dos hábitos alimentares. No estágio de manutenção, o indivíduo já

alterou o seu comportamento alimentar e conseguiu mantê-lo por mais de seis

meses. O objetivo nessa fase é evitar recaídas e garantir os ganhos obtidos. Os

autores ressaltam, ainda, que essas fases não se apresentam de maneira linear e

consecutiva e sua evolução é dinâmica, podendo haver reclassificação do

indivíduo em estágios anteriores (BUTTRISS, 1997; PROCHASKA; DI

CLEMENTE, 1994; TORAL; SLATER, 2007).

Cezaretto (2010) e Santos P. (2010) demonstraram que as intervenções

em grupo interdisciplinar são propostas eficazes para mudança de hábitos e

construção de competências relacionadas à saúde e qualidade de vida na

população. Além disso, são iniciativas de baixo custo, beneficiam representativo

número de pessoas e estimulam a motivação e fortalecimentos das relações

intergrupais.

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O conhecimento dos fatores que interferem no comportamento alimentar

auxilia na melhoria da efetividade das intervenções nutricionais. Portanto, os

objetivos desta pesquisa foram analisar as estratégias e os recursos utilizados

nos processos de construção da mudança de hábitos alimentares dos

profissionais da saúde; identificar estímulos que motivaram ou desmotivaram a

mudança de hábito; e conhecer os significados simbólicos e afetivos do ato de

comer.

3.3 METODOLOGIA

Para investigar o objetivo geral da pesquisa – analisar a motivação e

recursos utilizados como estratégias para a construção de um processo de

mudança de hábito –, o método qualitativo foi o mais adequado, por se tratar da

compreensão de um fenômeno complexo do comportamento humano (GIL, 2011).

A escolha pela abordagem qualitativa se justifica pela necessidade de aprofundar

na compreensão do fenômeno estudado – comportamento alimentar de

profissionais da saúde, em seu ambiente e contexto social – e analisá-lo a partir

da perspectiva dos próprios participantes.

Deslandes, Gomes e Mainayo (2011) abalizam que a pesquisa qualitativa

permite a aproximação com a realidade, porque considera os aspectos subjetivos

como valores, crenças, desejos, motivações, significados e atitudes que

correspondem a um universo mais profundo e complexo das relações, dos

processos e dos fenômenos sociais.

A abordagem de pesquisa baseada nas representações sociais mostrou-se

como uma possibilidade para desenvolver este estudo, uma vez que Mazzotti

(2008), ao discutir o conceito de representação social, muito contribui para

ampliar nossa compreensão a respeito da sua influência no comportamento

alimentar do sujeito (MAZZOTTI, 2008, p. 20):

O estudo das representações sociais parece ser um caminho promissor [...] na medida em que investiga justamente como se formam e como funcionam os sistemas de referência que utilizamos para classificar pessoas e grupos e para interpretar os acontecimentos da realidade cotidiana. Por suas relações com a linguagem, a ideologia e o imaginário social e, principalmente, por seu papel na orientação de condutas e das práticas sociais, as representações sociais constituem

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elementos essenciais à análise dos mecanismos que interferem na eficácia do processo educativo.

Entende-se representação social (MAZZOTTI, 2008) como sendo a

maneira que o indivíduo interpreta a realidade humana, organizando o seu

pensamento e orientando seu comportamento. Essa relação com o meio externo

se constrói sempre mediada pela linguagem, com base na bagagem cultural,

pessoal, histórica e ideológica de cada um, de forma a vincular suas posições em

relação às diversas situações sociais. Essa construção mental e simbólica

incorpora-se como um recurso singular do sujeito para que ele se torne

compreensível e útil no meio em que vive.

O objeto do estudo está intrinsecamente relacionado a aspectos subjetivos

e de impacto emocional, numa relação dinâmica entre mundo real e o sujeito.

Portanto, não foram necessários abordagem numérica e tratamento estatístico de

dados (DESLANDES; GOMES; MINAYO, 2011). A intenção foi apreender os

significados das experiências individuais de modo a compreender como

constroem sua relação com o ato de se alimentar e como realizam as suas

escolhas e transformam seus hábitos (FRASER; GODIM, 2004).

O cenário para a realização desta pesquisa foi a Maternidade Odete

Valadares (MOV) da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG),

que é referência na atenção à gestação de alto risco e saúde da mulher, em Belo

Horizonte. Foram sujeitos deste estudo funcionários que participaram do grupo de

reeducação alimentar realizado no próprio local de trabalho, no período de 2009 a

2012.

A proposta do grupo foi proporcionar encontros com duração de uma hora

e meia, distribuídos ao longo de seis meses, para a discussão de temas

relacionados a: nutrição, alimentação e hábitos saudáveis, utilizando os recursos

pedagógicos como relato de experiências, leitura de textos motivacionais, aulas

teóricas expositivas e distribuição de material informativo sobre os temas

abordados. Os critérios de inclusão foram: o funcionário devia trabalhar na MOV,

estar comprometido com a proposta de tratamento e assinar o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido; frequentar no mínimo 70% das reuniões,

discutir previamente com o seu chefe imediato sobre a sua liberação para

participar dos encontros durante o seu horário de trabalho, para que não

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houvesse descontinuidade do tratamento; realizar os exames solicitados no início

e no final do programa; e comparecer às consultas individuais quando solicitado.

O trabalho também contou o importante apoio da direção da MOV, que

autorizou a sua realização, viabilizando as seguintes condições: a realização dos

exames de sangue necessários para admissão dos participantes, no próprio

laboratório da MOV (glicemia, triglicérides, colesterol e frações); liberação do

profissional nutricionista e demais funcionários para participarem das reuniões, no

horário de trabalho; disponibilidade do local das reuniões coletivas e atendimentos

individuais; o uso de material do ambulatório e pronto-atendimento para aferição

das medidas antropométricas e pressão arterial; disponibilidade do material

pedagógico e informativo para serem utilizados nas reuniões.

Foram avaliados 161 funcionários e apenas 22% apresentaram índice de

massa corporal (IMC) normal. Os outros foram classificados como sobrepeso

(43%), obesidade grau I (23%), obesidade grau II (8%) e obesidade grau III (4%).

A porcentagem de inadequação de peso (sobrepeso e obesidade) de acordo com

a classificação do estado nutricional em relação ao IMC foi de 78%.

Para a escolha da amostra foi consultada a lista com os nomes dos 161

funcionários que participaram do grupo. Desse total, foram encontrados 108

funcionários que ainda estavam trabalhando na MOV no período da coleta dos

dados. Eles foram contatados aleatoriamente e convidados a relatar quais foram

as motivações, dificuldades, estratégias e recursos utilizados para alcançarem a

mudança de hábito alimentar.

A coleta de dados se deu por meio da entrevista semiestruturada com

perguntas norteadoras do tema a ser explorado, conforme roteiro de entrevista

(APÊNDICE A). O número de entrevistas não foi determinado a priori, tendo em

vista que o critério de saturação dos dados relatados é o definidor da

amostragem, ou seja, “interrompe-se a coleta de dados quando se constata que

elementos novos para subsidiar a teorização almejada (ou possível naquelas

circunstâncias) não são mais depreendidos a partir do campo de observação”

(FONTANELLA et al., 2011, p. 389). A análise dos resultados se restringiu às

entrevistas realizadas com 12 participantes e não foram considerados os

resultados de exames clínicos, pesos e medidas aferidos durante o período de

realização dos grupos.

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Os depoimentos dos 12 sujeitos foram analisados a partir da técnica da

análise de conteúdo, proposta por Bardin (2010). Esta obedeceu ao princípio ético

da confidencialidade de forma a preservar a identidade do respondente e a

fidelidade dos resultados. Portanto, cada sujeito será identificado neste trabalho

com a letra E de entrevista e o número ordinal de acordo com a ocorrência

sequencial de cada entrevista. Ressalva-se que o projeto, antes do início da

realização das entrevistas, foi aprovado pelo Comitê de Ética da FHEMIG.

3.4 ANÁLISE DOS DADOS

A leitura dos depoimentos e respectiva análise permitiram a identificação

de diversos núcleos de sentido que convergiram para três categorias e

subcategorias temáticas apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1: Categorias e subcategorias identificadas a partir da narração dos

entrevistados

Categorias O Indivíduo e a

Comida Reeducação Alimentar

Cultura e Alimentação

Subcategoria 1

Relação Emocional

Informação e Conscientização

Aspectos relacionados ao ambiente

Subcategoria 2

Sentimentos despertados

Motivação e Estratégias

O culto ao corpo

Subcategoria 3

Desafio de mudar Comportamento

Maus hábitos alimentares e Saúde

Relação com o tempo e o dinheiro

3.4.1 Categoria 1: O indivíduo e a comida

A análise da primeira pergunta da entrevista teve como objetivo identificar qual o

entendimento do sujeito sobre a sua relação com a comida e procurar destacar

pontos que pudessem indicar quais são os aspectos determinantes no

comportamento alimentar desses indivíduos que dificultam a mudança de hábitos

alimentares.

De acordo com as afirmações expressas pelos sujeitos, foi possível

identificar aspectos ligados à afetividade que remetem às relações interpessoais,

à necessidade de se ter persistência, à força de vontade e disciplina para

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alcançar a mudança de hábito e até mesmo às ideias contraditórias em relação ao

comportamento alimentar.

Os depoimentos deixam clara a recorrência de significados afetivos

relacionados ao ato de comer, o que levou à definição de subcategorias

denominadas relação emocional, sentimentos despertados e desafio de mudar

comportamento.

3.4.1.1 Relação emocional

A refeição sempre representou um momento de união e de transmissão de

valores e sentimentos no processo de construção das relações sociais do homem.

O comportamento alimentar é apreendido muito cedo e geralmente é repassado

ao indivíduo por adultos com os quais se tem uma relação afetiva muito forte, o

que confere à relação com o ato de se alimentar um poder sentimental duradouro

e simbólico (MINTZ, 2001). As experiências daí decorridas, porém, podem ser

positivas ou negativas, definindo os aspectos subjetivos que acompanham o

sujeito e influenciam o seu comportamento alimentar. A memória afetiva16pode

interferir na resposta frente aos estímulos sociais para o consumo ou para atender

a um padrão de beleza preestabelecido, por exemplo. Muitas vezes, a comida se

apresenta como um refúgio, um escape prazeroso das pressões que o indivíduo

enfrenta no dia-a-dia. Esse sentimento remete às lembranças em que o alimento

foi sentido como um objeto que significou a satisfação de um desejo não só

fisiológico, mas como uma carga extremamente afetiva, preenchendo, assim, um

espaço importante nas relações do sujeito com o meio externo. As unidades de

registro, a seguir, confirmam esses dizeres:

[...] a minha relação com a comida é muito, é mais emocional, porque quando eu me sinto bem, [...] eu consigo perder peso. Qualquer coisa que acontece, emocionalmente, comigo isso me abala. Então eu como demais, eu como fora de hora, eu fico muito tempo sem comer [E1].

1 Em 1899 Freud escreveu um artigo no qual chamou de Lembranças Encobridoras as

recordações cujo conteúdo manifesto parece, normalmente, banal, mas cujo o conteúdo traz detalhes, sensações precisos e intensos que parecem quase alucionatórios. Assim sendo, sob o manto de um evento aparentemente banal parece haver outros fatos das vída psíquica, anteriores ou posteriores, significativos e que encontram nessa memória o substrato para se manifestarem sob a forma de símbolos (Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. III, p. 333-358, Ed. Imago, RJ, 1980).

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Eu não sei te explicar por que, mas é como se fosse um refúgio [...] é como se tivesse relação de quando você não está feliz, então você tem que estar magra, se está triste, tem algum problema, você se descuida [...] [E1]. Hoje eu uso a comida, eu me alimento de forma mais racional, antes dependendo do meu estado emocional eu usava como uma válvula de escape, dependendo da situação eu comia desmedidamente [E9]. A gente compensa no alimento uma fragilidade sua, né? É essa pressão mesmo que a gente sofre com o dia-a-dia, a gente acaba descontando [...] [E4]. [...] eu também aderi ao grupo porque a gente foi acolhida psicologicamente, né? Porque a obesidade atrapalha a cabeça da gente também [...] [E5].

Os discursos dos sujeitos desvelam sentimentos de ansiedade e tristeza

como indutores de comer em maior quantidade para se satisfazer. Porém, quando

se toma consciência da necessidade de mudança, a pessoa é capaz de utilizar a

comida de forma mais racional, ou seja, alimentar-se para nutrir-se, preservando

o prazer de comer aquilo que gosta. E, sobretudo, não perder o controle e usar o

alimento como uma válvula de escape prazerosa ou recompensa afetiva. É

reconhecer não só a necessidade de restrição dos excessos de alimentos, mas

ressignificar a sua representação e estabelecer outra relação com o prazer que o

alimento proporciona.

Eu acho que no meu caso a minha relação com a comida é essa questão de ansiedade. [...] me ajudou muito saber que eu não preciso comer uma caixa de bombom pra ficar satisfeita [...] aprendi a sentir o gosto da comida [...] [E1]. [...] eu percebia que eu comia não era nem por questão de fome, acho que era mais questão de ansiedade [...] até surpreende porque antes eu não tinha esse controle não, começava a comer e não parava não, [...] [E12]. Ah, eu não tinha medidas pra comer [...]. Era assim, enquanto eu tivesse vendo eu tava querendo comer mesmo. Eu não tinha essa noção que não tem que ter uma quantidade exagerada pra satisfação [E4].

A caminhada em direção às mudanças de hábitos alimentares se faz por

meio de força de vontade, de querer muito, de renúncias, superação e

ressignificação. Faz-se, também, por meio de pensamentos e palavras, ações e

intervenções, tudo isso materializado pelo compartilhamento afetivo e

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compreensivo, e de presença significativa de familiares. O ambiente familiar se

adere ao processo de mudança para fortalecer as tomadas de decisão e, como

tal, todos entram na roda viva do vir a ser saudável. As unidades de registro

descritas a seguir ensejam esses dizeres:

Outra coisa que eu acho importante primeiro é a gente querer, a força de vontade e o apoio também das pessoas que te amam [...], a sua família também te apoiar, aí passa a ser uma coisa que lá em casa [...] mudou para todo mundo, entendeu? [E7]. [...] então a pessoa tem que fazer sim, [...] tem que tentar, e ainda que ela não vá até o fim, que deveria ir, mas o que ela aprender não vai esquecer nunca, ela vai levar pra vida inteira e pra família também, vai com certeza [E5]. A pessoa, ela tem que ter força de vontade, né? E persistir porque é uma coisa boa, uma coisa boa pra vida, pra saúde e serve até de exemplo pra outros também [...]. Engraçado que lá em casa o meu marido também acabou aderindo a isso e ele também perdeu peso porque ele come aquilo que eu faço [E11]. E eu na verdade em casa consigo manter mais a dieta do que no serviço, sabe? [...] e é pra todo muito lá em casa, né? Todo mundo não só a minha alimentação mudou melhorou, mas da minha família também [E12].

É muito forte a referência feita à força de vontade e persistência

necessárias para se alcançar um objetivo, de acordo com os relatos dos

entrevistados. Fica explícita a necessidade de se esperar o tempo certo, de

amadurecer a ideia e tomar consciência para que essa força possa surgir

naturalmente, como um despertar, acompanhada de outra relação com a comida.

E a importância de a iniciativa e atitude partirem da própria pessoa e não ser

imposta por terceiros, não havendo, desta forma, controle externo nem

cerceamento da sua autonomia.

[...] acho que tudo que a gente faz a gente tem que fazer com vontade, vou fazer porque eu quero porque eu preciso disso e não, ah, porque fulano falou que eu preciso, sicrano falou que eu preciso, não, a gente tem que ter essa consciência que eu preciso disso, mas não só agora mas pro resto da minha vida, eu tenho que aprender a comer [E1]. Força de vontade, tem que ter muita, muita força de vontade. Se não tiver não faz, não adianta, tem que vir de dentro não adianta ninguém ficar falando com você, tem que vir de você. [...] Então, assim, é uma persistência que a pessoa tem que ter, é uma força interior [E2].

“Vir de dentro”. O discurso, por si só, não muda hábito. É vazio se não se

concretiza na ação. A falácia é oca de significados porque é imprescindível que

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“seu interior, seu desejo, seu querer, sua motivação” falem mais alto. E aí, você

escuta ou se escuta a voz interior e a exterior. Você está aberto agora para

aprender e mudar.

Quando eu fiz o projeto, quando eu tomei iniciativa de seguir a sua dieta, surgiu um efeito muito bom! [E8]. Eu acho que depende só da pessoa, eu sou a prova disso. Acho que qualquer mudança de hábito alimentar ou em qualquer outra esfera é uma questão da pessoa tomar a decisão e a pessoa agir pra isso acontecer [E10].

Daniel e Cravo (2005) salientam que o homem é resultado de uma

construção social e suas ações são caracterizadas a partir dos elementos

culturais de cada sociedade. Esses complexos processos sociais e culturais são

determinantes nas escolhas alimentares do indivíduo.

Montagner (2006, p. 518) muito contribui com a análise do conceito de

habitus descrito por Bourdieu:

Do ponto de vista de Bourdieu, é impossível captar esse todo humano que escapa ao próprio sujeito, histórico, determinado socialmente, imerso em um universo social fora de nossos controles. Mesmo perdendo parte da riqueza da vastidão humana, o que podemos realizar é a objetivação do habitus, justamente resultado estável, mas não imutável, desse processo de interiorização do social e de incorporação, na pele, de nossa persona social. Como apontava Bourdieu, tudo acontece como nos descreveu Kafka em seu conto “Na colônia penal”, no qual “o corpo é o espaço de inscrição da nossa condenação ao social – inscrição das regras familiares e de classe, nossas limitações coletivas, nosso imaginário grupal – no corpo biológico”. Na nossa sociedade, o corpo é o suporte de uma construção identitária realizada pela estrutura social sobre a pessoa, construção da qual o próprio indivíduo não é inteiramente sujeito: [...] a sentença a ser escrita sobre nossa pele não nos é dada a conhecer.

O habitus incorporado pelo indivíduo implica a ideia de relações sociais, de

interações sociais, principalmente a de interações simbólicas, em um espaço

determinado, carregadas de significados e relações desiguais entre sujeitos que

possuem diferentes capitais sociais. Montagner (2006, p. 517) conclui que “o

habitus gera diferenças contínuas entre indivíduos como maneira de arranjá-los

estruturalmente. Essas diferenças são os estilos de vida”.

Por isso, a compreensão das particularidades de cada indivíduo contribui

para uma abordagem mais assertiva, não desvinculando o sujeito do meio social,

historicamente construído, em que está inserido. A partir dessa perspectiva é

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importante considerar toda a experiência de vida desse indivíduo em uma

intervenção de educação nutricional para motivar a mudança de hábito.

E mesmo com o acesso à informação disponível atualmente e a divulgação

do conhecimento sobre a importância dos hábitos de vida saudáveis, o indivíduo

ainda apresenta justificativas para a não adoção de uma alimentação mais

equilibrada. Com isso, a pessoa adia a decisão de mudar hábitos e expressa de

alguma forma a negação de seus problemas, sua resistência em enfrentar as

dificuldades e lidar com os sentimentos envolvidos no processo de construção de

novas rotinas e um novo comportamento alimentar. Esses aspectos podem ser

observados nas falas de E2 e E10.

[Silêncio]. Não sei nem o que te dizer como é minha relação com a comida. Não, na verdade ela é pra mim um problema. A comida pra mim é obrigação, desse jeito mesmo, é uma obrigação. Eu tenho que comer. Só isso [E10]. Minha relação com a comida é meio problemática [risos], eu amo comer, nossa! É, na verdade minha vida toda eu tive problema com a comida, porque eu amo comer, como muita “besteira”, e eu não gosto de comida saudável. Não gosto, eu odiava, [...], então era só “besteira”, [...] [E2].

A dificuldade de adaptar a vida para conseguir uma alimentação saudável,

mesmo sabendo da sua importância, a relação de amor e ódio com a comida e a

resistência em deixar de comer “besteiras” e introduzir novos alimentos mais

saudáveis apareceram no texto como contradições dos sujeitos, demostrando

como o racional e o emocional de uma pessoa influenciam, ao mesmo tempo, a

sua relação com a comida.

É, têm dias que eu como “besteira” sim, não vivo sem, é lógico, mas evito comer, [...] [E2]. É só uma questão de não ter conseguido adaptar minha vida pra isso. [...] Realmente comida pra mim é uma coisa muito secundária. [...] Tudo pra mim é um pouco mais importante do que a comida. [...] o sono pra mim é mais importante do que a comida. [...] porque o entendimento que eu teria que ter mudado, eu tenho né? Saber que isso mudaria minha vida completamente pra melhor, porque eu tenho muito problema pela falta de alimentação, mas não consegui mudar. E eu não sei te dizer exatamente o porquê (grifo nosso) [E10].

A contradição desvelada na unidade de registro de E2 emerge na ideia

objetada de não conseguir viver sem comer “besteiras” e a lógica da “besteira” ser

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essencial para a vida. Da mesma forma, na unidade E10, a contradição se

anuncia no momento em que há o reconhecimento de ter consciência dos muitos

problemas causados pela falta de uma alimentação saudável e, posteriormente, a

afirmação de que a alimentação é uma coisa secundária na vida.

O discurso da negação é reforçado com frases afirmativas nas quais se

percebe uma mensagem de que aquela situação é única, definitiva, como se não

fosse possível encontrar uma alternativa, ou seja, um caso sem solução. A

pessoa se fecha para a mudança e todas as sugestões apresentadas são sempre

rebatidas com justificativas que, do ponto de vista da pessoa, são difíceis de

superar. As pequenas mudanças, quando não são frustradas ou abandonadas,

demandam um esforço muito grande e vêm carregadas de sofrimento e de

sentimentos negativos que caracterizam a sua dificuldade em mudar hábito.

3.4.1.2 Sentimentos despertados

As unidades de registro são permeadas por sentimentos afetivos, muitas

vezes contraditórios, e sua expressividade e pungência no vir a ser pessoa

saudável justificam dar-lhes destaque em separado. As releituras e a imersão

cada vez com maior profundidade no texto possibiliaram visualizar fortes

sentimentos vividos no processo de reeducação alimentar.

Na fase inicial da mudança aparecem os sentimentos negativos. Quando o

indivíduo toma consciência e começa a sentir os benefícios dos novos hábitos

alimentares, relata sentimentos mais positivos e motivadores. A conquista da

autonomia em relação às dificuldades de mudança de hábito pode ser observada

nas falas em que o indivíduo acredita na sua capacidade de agir, sente-se

convicto em continuar e valoriza o seu bem-estar e o investimento do seu esforço

nesse processo de mudança.

O Quadro 2 apresenta os sentimentos negativos de acordo com a definição

dos entrevistados, da sua relação com a comida no início da reeducação. Os

sentimentos positivos e de autonomia demonstram como o indivíduo passa a

dirigir “novo olhar” para sua relação com o ato de se alimentar após a mudança

de hábito.

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Quadro 2: Comparação de sentimentos positivos, negativos e de autonomia

referentes à relação com a comida

Sentimentos Negativos Sentimentos Positivos Sentimentos Autonomia

- Odeio comida saudável - Sofro de gula - É uma tristeza não comer - Baixa autoestima - Sinto-me excluído - Ter que cortar é a morte - Insatisfação/incômodo - Ansiedade/impulsividade - Perda do controle - Raiva/Mau humor - Quando estou doida... - Ang;ustia/Eu pequei - Problema/obrigação - Comer desesperadamente

- Amo comer - Adoro comer - É uma alegria comer - Autoestima lá em cima - Sentir-se acolhida - Comer o que me deixa feliz - Sentir-se melhor - Tranquilidade - Controle emocional - Vida mais saudável - Aprender a dosar

- Consegui vencer obstáculos - Consigo ver onde foi que eu errei - Valorizar o processo educativo - Mudança de visão - Primeiro tenho que estar bem comigo

Observa-se forte oposição de ideias nas duas fases do processo de

mudança, expressas por verbos e palavras praticamente antônimos como amar e

odiar; sofrer e adorar; tristeza e alegria; excluído e acolhido; baixa e alta

autoestima; ansiedade e tranquilidade, assim por diante. Esse antagonismo

marca a transição de postura de forma positiva e exitosa. A autonomia se

expressa na valorização do processo educativo, na capacidade de reconhecer os

erros, vencer os obstáculos e mudar “o olhar”. E a importância de estar bem

consigo mesmo ganha prioridade no novo estilo de vida adotado.

Vieira et al. (2011) afirmam que as representações negativas da dieta

tornam um fator que dificulta as mudanças de hábitos.

Os significados de perda do prazer e da liberdade atribuído à dieta foram vistos entre sujeitos de um estudo brasileiro. Os alimentos doces identificados como os mais atraentes e apreciados, ao adquirirem o sentido de proibição e cerceamento de uma fonte de prazer em seu cotidiano, transformaram-se em algo ainda mais atrativo, o que poderia justificar a conhecida transgressão como uma nova fonte de prazer (“o gosto do doce proibido”) e o efeito paradoxal da prescrição dietética.

O Quadro 3 reúne os sentimentos negativos relacionados à percepção

corporal do indivíduo. Os sentimentos positivos e de autonomia demonstram

como o indivíduo se define a partir do reconhecimento dos benefícios alcançados

com as mudanças.

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Quadro 3: Comparação de sentimentos positivos, negativos e de autonomia

referentes à percepção corporal

Sentimentos Negativos Sentimentos

Positivos Sentimentos Autonomia

- Parecia um monstro, feia e gorda - Sentir-se mal na hora de vestir - Cansada fisicamente/ preguiça

- Gosto de me ver - Sentir-se bonita - Vaidosa - Mais energia

- Eu sou eu, eu sou único, não importa se tem outra pessoa mais bonita. Eu tenho a minha beleza.

- Não tenho vergonha de chegar em determinado lugar e ter pessoas diferentes. Temos nossas diferenças, mas somos, em comum, pessoas iguais.

Os relatos referem-se ao incômodo causado pelo excesso de peso e à

dificuldade de se adequar ao vestuário, em consonância, possivelmente, aos

padrões de beleza e de moda estabelecidos socialmente. O cansaço físico e o

desânimo enredam-se no cotidiano e tomam conta de um corpo que se faz

presente no mundo, mas que tem roubadas suas energias. Esse sentir-se

desenergizada contrapõe-se à satisfação de se sentir bonita (atendendo aos

padrões sociais) e pela disposição que o corpo mais magro proporciona.

O Quadro 4 relaciona os sentimentos vividos durante o processo de

mudança, período em que o indivíduo precisa vencer as suas dificuldades e se

apropriar de novas condutas alimentares.

Quadro 4: Comparação de sentimentos positivos, negativos e de autonomia

referentes ao processo de mudança

Sentimentos Negativos Sentimentos Positivos Sentimentos Autonomia

- Antes sofrimento - Assustei - Frustração/dilema - Vontade de renunciar - Muito difícil/esforço - Receio/fragilidade - Medo de sofrer, de mudar. - Pressionada/passei por

uma prova - Luta que não tem fim - Adaptar-se sem - Ilusão de que ia ser difícil - Não consigo explicar/ sinto-

me ignorante - Não estou curada - Não combina comigo - Não sinto vontade de comer

- Hoje tranquilidade - Surpreende - Resultado dá satisfação - Incentivo/encorajar - Dar força - Alívio - Coragem - Vale a pena - Equilíbrio

- Adaptei superbem - Responsabilização - Compromisso - Consciência/racionalidade - Tô cursando a faculdade. Faculdade

não é pra rico, é pra quem quer, igual à saúde.

- Todo mundo deveria fazer - Por que não fiz isso antes? - Não foi tão difícil - A gente não tem que fazer forçado, a

gente tem que fazer as coisas com prazer.

- Tudo que a gente faz tem que fazer com vontade, vou fazer porque eu quero, porque eu preciso e não porque fulano falou.

- Vira outra pessoa

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Fica evidente a divisão do antes e depois como uma transposição de

etapas em que a pessoa sai de uma situação de sofrimento para um estado de

tranquilidade e como os sentimentos de autonomia remetem à responsabilização

do cuidado e da iniciativa pessoal, a partir da conscientização e do

comprometimento com a mudança. A autonomia vem com o espírito crítico em

relação às regras sociais e com o reconhecimento da sua própria identidade.

Ao profissional de saúde cabe reconhecer o grau de compreensão de cada

paciente sobre o seu processo de mudança e adesão ao tratamento,

considerando a complexidade e singularidade de cada sujeito. A partir dos

estudos de Morin (2007), pode-se pensar a complexidade como uma forma de

compreender as relações e inter-retroações entre cada fenômeno e seu contexto,

muitas vezes complementares, concorrentes e antagônicas; reconhecer a unidade

na diversidade, o diverso na unidade; e, sobretudo, a unidade e a singularidade

humana em meio às diversidades individuais e culturais.

3.4.1.3 Desafio de mudar comportamento

Os indivíduos, quando iniciam o processo de conscientização a partir da

reflexão de suas limitações, sentem-se mobilizados para a mudança e fazem

surgir vários caminhos possíveis e viáveis que reforçam a sua convicção e o

desejo de acertar. O esforço, nesse sentido, é para vencer as barreiras que foram

herdadas do seu meio social e, muitas vezes, mantidas como verdades absolutas

e seguidas automaticamente.

Recorrendo a Bourdieu (2010, p. 49):

A força do pré-construído está em que, achando-se inscrito ao mesmo tempo nas coisas e nos cérebros, ele se apresenta com as aparências da evidência, que passa despercebida porque é perfeitamente natural. A ruptura é, com efeito, uma conversão do olhar [...]. Trata-se de produzir, senão um homem novo, pelo menos um novo olhar, um olhar sociológico. E isso não é possível sem uma verdadeira conversão, [...], uma revolução mental, uma mudança de toda a visão do mundo social.

Os depoimentos a seguir sutilmente revelam essa afirmação:

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Você se torna uma pessoa diferente assim, por valorizar, valorizar, [...] você pode comer de tudo do jeito certo, né? Você não se agride porque tem pessoas que tem que fazer uma dieta, [...] e aí põe dificuldade em tudo, eu não pus dificuldade, eu falei não, não vai ter dificuldade, é uma realidade a ser enfrentada. Então vamos encarar de frente e foi muito bom, muito, muito bom [E7]. Então, eu falo que é uma experiência pessoal mesmo e que não é tão difícil quanto aparentemente parece ser. Cada caso é um caso, cada indivíduo tem as suas limitações, suas dificuldades, mas eu acho que a pessoa, ela precisa muito ter certo aquele objetivo primeiramente, [...] [E4].

A conscientização do indivíduo prepara-o para o enfrentamento das

dificuldades, levando a ações transformadoras. Ele passa a atuar na sua

realidade transformando-se a si e aos outros e escreve uma nova trajetória como

sujeito de sua história. Os sentimentos de frustração e tristeza dão lugar à

tranquilidade e serenidade de falar sobre a experiência vivida. O novo

comportamento alimentar, o “novo olhar”, é sentido como uma vitória individual e

vem carregado de satisfação de ter suplantado os obstáculos pelo esforço

próprio. Observa-se mais engajamento e comprometimento com as propostas de

mudança e a responsabilização do cuidado de si:

Sinto assim, que eles deveriam fazer o que fiz [risos], é verdade. Porque quando eu vejo alguém comendo demais eu me incomodo, sabe? Meu Deus eu já passei por aquilo ali e não vai fazer bem nenhum”, é isso [risos] [E11].

As dificuldades para mudar hábito alimentar narradas pelos participantes

evidenciam como o convívio social interfere nas escolhas do indivíduo, causando

forte influência nas suas decisões, sejam essas positivas ou negativas do ponto

de vista nutricional.

Uai a dificuldade é essa, porque as pessoas, a cultura, todo lugar que você vai você tem comida, exposição [E5]. Ah! Festa, por exemplo, uma situação de uma confraternização. Foi muito difícil olhar a quantidade de coisas que tinha e saber que nem tudo convinha e o que convinha eu tinha de não exagerar, [...] esse tipo de situação foi mais difícil pra mim. [...] mas a dificuldade maior foi essa, senti excluído. Senti excluído, pô, todo mundo pode e eu não posso [E3].

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[...] tanto que até hoje eles pegam no meu pé, falam assim, "nossa você é muito chata, agora não come doce". Eles pegam no pé quando vão no aniversário, começam a comer demais, porque em vez de comer um salgadinho ou dois, enquanto tem você tá comendo [risos], então eles pegam no meu pé [E11]. Ah churrasco [risos], acaba que o churrasco [...] vem tudo agregado, pãozinho, queijo, nunca vem só a carne, e a carne normalmente vem com gordurinha e vem acompanhado de cerveja, que vem acompanhado... acho que o pior é o churrasco é a coisa que eu mais gosto [E4].

Vieira et al. (2011, p. 3164) citam, em seu estudo, significados da dieta e

mudanças de hábitos, os conflitos inerentes ao processo de convivência com as

restrições dietéticas:

O conflito entre o processo de assumir a responsabilidade por sua saúde e a tendência a evitar a responsabilidade resultam em culpar a “situação injusta”, imposta pela condição de doente, bem como a necessidade de comparar-se com outras pessoas. Acreditam que suas dietas e práticas alimentares sejam equivalentes ou melhores, julgando-se submetidos à sua condição de portadores de agravos irremediáveis, especialmente no caso da presença da obesidade.

Outras dificuldades, nesse processo de mudança, relatadas pelos

participantes referem-se à falta de tempo para o preparo dos alimentos; carga

horária de trabalho exaustiva; falta de acesso à alimentação saudável no trabalho;

adequação de horários e fracionamento das refeições; e deixar de comer

alimentos da sua preferência, nem sempre saudáveis.

[...] quando a gente trabalha, trabalhava em dois empregos, [...] às vezes você chega cansada, não tem tempo de fazer as coisas, [...] não teve tempo de você comprar [...] [E1]. Em quais momentos eu tive dificuldade? Na verdade, todos! Dentro do trabalho, parar aqui pra comer é uma coisa muito complicada pra mim, até mesmo porque eu não tenho horário de almoço, [...]. Na minha casa sozinha ou com outras pessoas [E10]. [...] a minha dificuldade toda era essa, assim, tinham momentos que eu queria comer uma coisa que me deixava feliz e não podia comer, comia outras coisas pra substituir [E2]. Enfrentei sim, não foi fácil não. Analisar, ver tudo que eu comia, e você ter que se adequar ali, foi um esforço grande, né? [...] as minhas situações mais difíceis foram no café da manhã, que eu comia demais, e o meu horário de almoço [...] foi adequar os meus horários, [...] [E6].

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A minha dificuldade foi sempre a pausa, porque eu passava um longo período sem me alimentar, então no início me policiar pra comer de três em três horas foi pra mim muito difícil, controlar a disciplina com os horários também [E9]. Então, criar novos hábitos é difícil, tanto é que eu ainda não cheguei lá, assim, não como da maneira que eu queria [...] [E5].

Vieira et al. (2011) entendem que durante a intervenção nutricional deve-se

ter cuidado em não rotular os pacientes simplesmente como os resistentes às

mudanças ou os que aderem às prescrições. Isso não ajuda no processo de

mudança nem representa a realidade do sujeito. A convivência com os agravos e

as restrições dietéticas impostas pelas doenças são complexas e, portanto, deve-

se respeitar a individualidade e evitar estereótipos e generalizações inadequadas

ao propor mudanças nas práticas alimentares. Acolher o sujeito e escutar as suas

necessidades o faz sentir mais à vontade para expressar as suas dificuldades. A

partir dai é possível propor e negociar as mudanças possíveis de serem feitas

naquele momento.

É importante analisar a frase: “A situação da minha vida em que eu

encontrei mais dificuldade de manter as mudanças foi a morte da minha mãe,

[choro] entendeu? Só isso. […], mas a pior dificuldade da minha vida foi essa, o

adaptar sem. Só” [E7].

Há uma declaração, no não dito, que relaciona a dificuldade de manter as

mudanças alcançadas ao sentimento de dor referente à perda de um ente querido

à sua dificuldade de lidar com a “falta”. Para Campos (2013, p. 2773), “a dor não

é, portanto, a dor de perder, mas a dor da presença constante do objeto perdido e

a representação da sua ausência”. O “adaptar-se sem” diz muito sobre o processo

de construção de estratégias para lidar com a falta e sobre a busca de recursos

que possam sustentar novas atitudes que visam à mudança de comportamento. O

aspecto emocional do indivíduo, nesse momento, tem forte influência no êxito ou

fracasso dessas tentativas e se manifestam como cicatrizes de experiências

afetivas que foram estruturantes na história cultural e social desse indivíduo.

A partir dessa perspectiva, é possível propor uma estratégia de intervenção

em que seja respeitado o tempo de cada pessoa nesse processo de mudança. A

aposta na capacidade do indivíduo em encontrar recursos para lidar com as suas

dificuldades parece ser um aspecto de motivação para a mudança e de conquista

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da autonomia do sujeito no processo de responsabilização do cuidado da sua

saúde.

3.4.2 Categoria 2: Reeducação alimentar

A segunda categoria destaca a educação como importante estratégia para

mudança de hábito alimentar e enfatiza a informação como elemento fundamental

que contribui para a conscientização da necessidade de adotar hábitos

alimentares e de vida mais saudáveis. A educação desenvolve a consciência

crítica e proporciona mais assertividade nas escolhas relacionadas ao ato de

comer, valorizando principalmente a qualidade em vez da quantidade. As

subcategorias encontradas no processo de “reeducação alimentar” foram

organizadas em informação e conscientização; motivação e estratégias; e maus

hábitos alimentares e saúde.

3.4.2.1 Informação e conscientização

O sujeito, quando se apropria da informação recebida e encontra sentido

nas suas atitudes, caminha para a conquista da sua autonomia no processo de

tomada de decisão e fluição da experiência.

Freire (1987, p. 114) contribui com a sua reflexão ao afirmar que a

conscientização “não para, estoicamente, no reconhecimento puro, de caráter

subjetivo, da situação, mas, pelo contrário, prepara os homens, no plano da ação,

para a luta contra os obstáculos à sua humanização”. A consciência crítica

proporciona o engajamento do sujeito nas ações que vão gerar transformações

efetivas.

Fazendo um paralelo com Prochaska e Di Clemente (1994) em relação aos

estágios de mudança de comportamento, a consciência crítica supera os estágios

de pré-contemplação, contemplação e decisão; fortalece as ações e instaura um

novo hábito alimentar mediado pela mudança de comportamento de forma

madura, consistente e permanente.

É possível observar o despertar da consciência do sujeito expressa com

serenidade ao relatar as mudanças alcançadas e a convicção proporcionada pelo

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acesso ao conhecimento e a postura de responsabilidade diante do desafio do

cuidado em saúde.

Hoje eu tenho mais consciência de que eu devo comer as coisas certas, que eu sei que meu corpo exige, que não adianta ficar sem comer, não vou emagrecer [...] [E2]. [...] quando se falava em reeducação alimentar pra mim era simplesmente parar de comer e na realidade eu vi que não é isso. Você poderia continuar comendo, mas da forma adequada e eu fui procurando me adequar [...]. Muito difícil, mas através de uma disciplina eu fui adequando [...] [E3]. [...] eu aprendi, principalmente, que é possível, é possível ter educação, é possível emagrecer sem medicamento [...]. E é possível comer o doce, que eu gosto, e ainda assim emagrecer, porque você fez uma dieta pra mim que não era totalmente restritiva de tudo. Então, o que eu achei bom foi isso, e mudou [E5].

A intervenção nutricional visa à produção de informações que esclareçam o

indivíduo e o auxiliem nas tomadas de decisão, promovendo a consciência crítica

da sua realidade e a liberdade das suas ações. Esse processo de conscientização

deve respeitar a autonomia do indivíduo e ressaltar a responsabilização do sujeito

com a importância do autocuidado da saúde (RODRIGUES; BOOG, 2006;

SOUZA; PIMENTA, 2013).

Hoje eu sei que é pra minha vida toda, que eu tenho que ter escolhas, mas não precisa ser tão radical de não comer pra sempre, mas eu tenho que ter escolhas e se for comer, comer pouco [E2]. [...] ao longo dos trabalhos dos encontros eu já fui mudando a minha mentalidade com relação à alimentação. Fui me responsabilizando mais em relação ao que estou ingerindo [...] e hoje eu já consigo equilibrar melhor a ingestão [...] [E4]. [...] eu já incorporei a alimentação na minha rotina, eu vejo que no meu processo de trabalho eu tenho aquela pausa, aquele compromisso comigo mesmo de parar e me alimentar. Antes de participar do grupo não era assim [E9].

As garantias e o direito ao acesso às informações são hoje uma realidade

que avança cada vez mais em sua amplitude com a globalização, principalmente

nos grandes centros urbanos. Ressalta-se, porém, a importância do diálogo como

elemento central no processo de educação que visa às mudanças no

comportamento alimentar das pessoas. Costa (2011), em seu estudo sobre

promoção da saúde e diabetes, discutiu a adesão e a motivação de indivíduos

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participantes de programas de saúde e constatou que a aquisição do

conhecimento não se traduz, necessariamente, em mudança de comportamento.

Por mais desenvolvida que seja uma tecnologia, sem diminuir a sua relevância

como ferramenta de transmissão do conhecimento, ela não consegue substituir a

educação por meio do diálogo que facilita e proporciona o sentido às ações

educativas e promove mudanças efetivas nas práticas alimentares dos sujeitos.

Os fragmentos de discurso confirmam e valoram a comunicação dialógica,

horizontalizada e carregada de sentido para quem a vive e compartilha:

Ué, me motivou por ser um grupo, aí uma dá força pra outra, a gente ensinava receitinha, a Iara mandava e-mail, né? [...] isso incentiva e você vê que não é só você, vê que tem outras pessoas iguais precisando de ajuda e alguém interessado, que no caso era você que interessou pelo nosso problema [E5]. Porque é muito importante você aprender as dicas [...]. Porque não adianta você pegar um papel, você vai ao médico pega um papel – “come isso aí” - você olha aquilo lá e diz, “nossa só vou comer isso aqui todo dia”. Não, no grupo eu aprendi que você pode mudar uma coisa pela outra [...]. Então foi muito importante mesmo, você aprende as trocas, as substituições para você não cair nessa rotina [E1]. Eu diria que o caminho é esse mesmo, não são dietas radicais, que a gente tem uma oferta muito grande de dietas malucas, né, [...], sendo que você tem que valorizar mesmo é o processo educativo, essa reeducação é que vai fazer a diferença, porque essas dietas elas vão, elas vêm e quando você termina essas dietas, o corpo sente [E9]. É uma questão de reeducar né, é mostrar que você vive sem aquilo numa boa, e está sendo muito bom. [...] porque motiva, né, e é bom, nas reuniões a gente conversa, discute, um fala uma coisa, outro fala outra coisa e a gente vai tirando muita coisa boa, eu gostei demais [E7]. Por diversas vezes durante a reeducação, não sei se você se lembra que eu chegava pra você e – “mas o meu intestino não está aguentando, [...] posso tomar remédio?” [risos]. E você respondia, “Não, ingira mais líquido [...]”, então isso pra mim foi um ponto marcante [E9.] [...] você realmente foi uma luz para gente começar a caminhar de forma diferente [E6]. Porque a gente sabe disso, só que às vezes é difícil, [...] tem uma coisa que te impede de fazer [...], eu sei o que eu preciso, mas eu não sei como fazer, às vezes, a gente precisa de um empurrãozinho, como o grupo foi um empurrão, né? Então assim, são coisas que ajudam a gente a tomar essa decisão, né? [E1].

Freire (1996) refere-se à autonomia do sujeito como um processo de

tomada de decisão e de humanização que vai sendo construído a partir das

experiências vividas ao longo da vida. A autonomia torna-se uma experiência de

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liberdade quando o profissional é capaz de ajudar o indivíduo a alcançar esse

estágio, valorizando as suas potencialidades e respeitando o tempo de agir e

mudar de cada um.

3.4.2.2 Motivação e estratégias

O estudo descrito por Prochaska e Di Clemente (1994) sobre o modelo

transteórico explica os cinco estágios de motivação para mudanças no

comportamento alimentar: pré-contemplação, contemplação, decisão, ação e

manutenção. A maioria dos entrevistados passou pelos estágios de contemplação

e decisão e permaneceu por mais tempo nos estágios de ação e manutenção. Os

indivíduos na fase da ação superaram as dificuldades encontradas e mudaram,

de fato, o seu comportamento, suas escolhas e seu ambiente. Aconteceram,

entretanto, algumas recaídas, mas eles já conseguiam reconhecer os benefícios

das alterações dos hábitos alimentares. E no estágio de manutenção, os

participantes já alteraram o seu comportamento alimentar e conseguiram mantê-lo

por mais de seis meses, sendo o principal objetivo dessa fase evitar recaídas e

garantir os ganhos obtidos.

A evolução das fases é dinâmica, ao longo do processo de mudança de

hábito, e não acontece, necessariamente, de forma linear e consecutiva. A fala de

alguns sujeitos reforça essa teoria:

Tem que ser uma coisa bem disciplinada porque senão você não dá conta porque a tentação tá lá, você quer comer o doce [...] e depois que passa aquela fase você olha com outro olhar, é impressionante, você não tem vontade, é superinteressante isso, né? Depois que você cria o hábito alimentar, eu passei dessa fase então hoje pra mim é mais fácil falar (grifo nosso) [E4]. Conforme a coisa já não me faz falta mais, uma coisa que eu imaginava a princípio que eu não ia viver sem, convivo numa boa, convivo numa boa e bem, que é o mais importante, né? [E7]. Mas assim, isso não é com uma semana não, isso vai mês, vai mudando, hoje você cai, tem uma recaída, “ah hoje vou comer”, mas aí com o passar de uns dois meses, você vai sentindo que o seu organismo está mais ou menos, fazendo o que você pretende [E6].

Entre as estratégias usadas para introduzir novos hábitos alimentares, o

planejamento da alimentação mostrou-se eficaz para melhorar a adesão à dieta.

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Outro aspecto importante foi a iniciativa de provar novos alimentos e preparações

não usuais na rotina alimentar dos entrevistados. O fato de a dieta não ser muito

restritiva também estimulou a adesão, porque a pessoa não está proibida de

comer o que gosta e tem liberdade para conduzir as suas escolhas, tendo a

consciência de comer nas quantidades adequadas. As respostas a seguir

demonstram essa afirmação:

Muitas coisas eu aprendi a provar pelo menos a tentar fazer uma coisa variada, conhecer mais o sabor mesmo que eu não goste [...] [E1]. Sim, mudei bastante, eu me alimento de forma mais planejada […], hoje eu procuro já à noite planejar o meu café da manhã, o que eu vou trazer, [...] eu tenho que sair com uma marmitinha de casa, [...] [E9]. Durante a semana eu me seguro mais [...], eu me dedico na dieta, mas quando eu preciso, quando eu posso comer outras coisas eu como sem culpa [E12]. [...] à medida que eu fui reduzindo, engraçado parece que o corpo da gente se adapta. O meu dia-a-dia, a minha rotina interferiu lá no meu fim de semana, que é quando eu saio da rotina e fico mais livre [...]. Eu não consegui trabalhar lá na situação do fim de semana, no churrasco, mas a situação anterior que é o meu dia-a-dia foi me disciplinando, aí eu chego lá no churrasco eu consigo […] [E4]. [...] o cardápio que você fez pra mim foi possível e eu aprendi bastante coisa [E5].

A motivação para mudar hábito alimentar é um processo que estimula a

pessoa a agir, que instiga um comportamento diferente, mostra a direção e o

propósito da mudança e conduz às escolhas e preferências mais saudáveis. A

motivação pode ser intrínseca ou extrínseca, pode ser traçada a curto ou longo

prazo e pode, inclusive, mudar ao longo do tempo. A motivação intrínseca surge

do indivíduo, pertence aos seus desejos, necessidades, direções ou metas.

Fatores externos ou extrínsecos podem suplementar positiva ou negativamente

essa motivação. Alguns fatores externos que atuam positivamente no indivíduo

são o suporte familiar, o prazer e as recompensas materiais. Porém, fatores

externos podem influenciar negativamente e ser prejudiciais no caso de falta do

suporte familiar e de amigos, e até mesmo devido à cobrança de padrões sociais

preestabelecidos (TORAL; SLATER, 2007).

França et al. (2012) descrevem o impacto imediato dos aspectos

nutricionais e psicológicos em um grupo psicoeducativo que teve como foco a

mudança do comportamento alimentar. Nesse grupo foi utilizada a técnica da

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distração e a modificação de crenças disfuncionais que são estratégias da

Terapia Cognitiva Comportamental (TCC). O indivíduo, ao desviar o foco das suas

sensações negativas internas para o meio externo, muda o seu padrão de

pensamentos. Ao evitá-los, sente-se mais motivado a agir de forma positiva e

proativa para alcançar os seus objetivos. As autoras defendem, ainda, que, de

forma semelhante, “outros programas de educação nutricional têm associado às

informações sobre hábitos alimentares as teorias motivacionais e treinamento de

autocontrole a fim de obter um resultado melhor”.

Esse processo de transição em que o sujeito consegue ir diminuindo as

quantidades progressivamente permitiu que as próprias pessoas percebessem

que não precisavam comer em grandes quantidades para se satisfazerem; o

alimento tão desejado não fazia tanta falta assim e, ao contrário, poderia

comprometer a qualidade da sua alimentação. A manutenção das mudanças, ao

longo do tempo, fez surgir um novo hábito alimentar mais saudável, que passou a

ser vivenciado de maneira natural e sem sacrifícios.

3.4.2.3 Maus hábitos alimentares e saúde

A recuperação e a manutenção da saúde representam o grande eixo

norteador e motivacional de enfrentamento das dificuldades de mudança de

hábito. O incômodo causado por limitações impostas pelas doenças decorrentes

de hábitos alimentares inadequados ou pela pressão social de se enquadrar a

padrões estéticos predeterminados e fortemente veiculados pelos meios de

comunicação é o estímulo que impulsiona e mobiliza a mudança de atitude frente

às rotinas estabelecidas no cotidiano de cada um.

As mudanças no padrão alimentar relatadas pelos participantes desta

pesquisa foram, principalmente, a diminuição do volume de comida ingerido;

introdução de alimentos considerados “saudáveis”, como frutas, legumes,

verduras, alimentos integrais; aumento do consumo de água; a regularidade dos

horários das refeições de três em três horas; diminuição do consumo de

refrigerante, açúcar, doces, pão, arroz; o planejamento das refeições e a

substituição correta dos alimentos. Esses aspectos são identificados nas

narrativas a seguir:

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Eu aprendi que eu tenho que aprender a comer, tem que aprender a comer na hora certa e as coisas certas porque também não adianta eu comer de três em três horas, ir lá e comer um tanto de bobagens [E1]. Eu comia demais! Agora eu tô aprendendo a dosar [E8]. Antes eu tinha dificuldade, [...] eu comia qualquer coisa, aí depois desse grupo de reeducação, eu até hoje consigo comer aquilo que é mais saudável, né? Concentro mais nas verduras, legumes, frutas, né? Não como doce, cortei definitivamente o açúcar, só tomo adoçante mesmo e evito o máximo refrigerante [...] tomo mais é suco natural, nem é suco de caixinha, esse suco de caixinha também acho que tem muito açúcar, [...]. Como massa, mas assim, de vez em quando, mas evito salgadinho, essas coisas [E11]. [...] hoje eu como comida saudável, não como fritura, refrigerante sem chance, evito açúcar, muito açúcar e muita coisa, mas eu não deixei de comer açúcar porque eu não tomo adoçante. Então, tem que ter o meu açúcar lá, mas é pouco [E2]. A qualidade é muito superior, a questão da quantidade a gente reduziu muito. [...] verdura ainda estou com um pouco de dificuldade, mas eu como, em termos de quantidade eu coloco pouco ainda, mas eu coloco de tudo [E4].

Algumas vezes na semana eu estou substituindo o arroz pela batata-doce, né? [...] iogurte eu não gosto muito, mas é o derivado do leite, o queijo eu como todos os dias, né? [...] Muito mais saudável, eu tomo muito mais líquido, muita água, eu como mais fruta, estou substituindo o pão pelo pão integral, biscoito integral também [E12]. [...] eu coloquei comida integral que eu não usava [E5]. [...] pra lanchar na rua eu estou dando preferência a uma vitamina de frutas, a um bolo do que o sanduíche, o refrigerante [E7].

Todas essas revelações confirmam as afirmativas de que as inadequações

da alimentação relacionadas ao desenvolvimento de doenças crônicas, sobrepeso

e obesidade estão diretamente ligadas à baixa ingestão de frutas, legumes,

verduras e o alto consumo de alimentos calóricos, industrializados, ricos em sal,

açúcar, gordura. E, principalmente, quanto ao volume de comida consumida, que

não corresponde à necessidade energética, devido ao estilo de vida sedentário

(COSTA; MACHADO, 2010; FERREIRA, 2010; HAWKERS, 2007; JACKIX, 2013;

KAC; SICHIERI; GIGANTE, 2007).

O processo de reeducação alimentar permitiu às pessoas organizar melhor

as suas refeições, valorizando, principalmente, a qualidade e a introdução de

alimentos saudáveis que não faziam parte da rotina alimentar anteriormente.

A fala dos entrevistados reforça a afirmação de que a grande preocupação

é a possibilidade de desenvolver alguma doença, principalmente com o avanço da

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idade; e a experiência positiva de ter beneficiado a saúde pelos resultados de

uma adequação alimentar.

Saúde. Saúde porque eu faço controle de hipertensão, já fiz um tratamento pra depressão, esse tipo de coisa, e eu fui em busca mais de saúde mesmo. O que me motivou foi saúde mesmo, o que eu estou ganhando hoje [E3]. [...] foi a correção da saúde, [...] a gente vai pegando as suas orientações, a gente vai lendo, vai analisando que uma hipertensão, um colesterol alto, é um grande prejuízo pra nossa vida, né? [E6]. Antes eu tinha um problema sério intestinal, o meu intestino só funcionava à base de medicamento [...] [E 9]. [...], eu fiz 40 anos agora então eu fico com medo de desenvolver alguma diabetes, algum outro problema, pressão alta, alguma coisa assim [...] [E1]. [...] eu tinha triglicérides alterado, colesterol, anemia, sempre que eu fazia exame. Por diversas vezes eu fui impedida de até doar sangue por conta dessa alimentação [E9]. Primeiro eu tava incomoda por causa da obesidade mesmo, por causa de saúde, até a autoestima baixa [E5]. Então, a partir desse princípio de boa saúde, gostar da vida e até o gostar do comer, que o comer é bom demais, então você começa assim, a ter um esforço e a fazer esse pequeno jejum, né? [E6]. [...] eu estava bem incomodada porque eu estava adquirindo muito peso, [...] essas orientações acho que foram até um suporte para eu estar dando conta de bancar essas mudanças. E essas orientações me ajudaram, me fortaleceram até pra diminuir um pouco a ansiedade, [...] [E4].

O indivíduo sente-se motivado a mudar os seus hábitos a partir de

estímulos positivos para se sentir saudável e ter bem-estar ou negativos quando

as doenças relacionadas à alimentação já impõem alguma limitação ou restrição

que repercutem principalmente no seu convívio social e na sua qualidade de vida

(VIEIRA et al., 2011).

O modelo de intervenção biomédica enfatiza a evolução da doença com

foco em excessivas restrições e prescrições e investe muito pouco em conhecer o

histórico que levou o paciente à enfermidade e/ou o que pode tirá-lo dela. A

abordagem nutricional pode reforçar esse modelo quando não leva em

consideração a ressignificação das práticas alimentares pelo sujeito a partir de

suas condições sócio-históricas e os processos simbólicos e emocionais que

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atravessam tanto a doença como o tratamento dietético (CARVALHO et al., 2011;

FREITAS; MINAYO; FONTES, 2011).

A oportunidade de acesso à informação e à assistência no próprio local de

trabalho constitui um meio de promoção de saúde e, principalmente, de

valorização do trabalhador. As ações humanizadoras proporcionam um ambiente

favorável e fortalecem as relações interpessoais. A saúde do trabalhador, como

um bem que tem custo crescente, constitui uma preocupação, inclusive para a

saúde pública, uma vez que as relações estabelecidas no ambiente de trabalho

refletem-se na vida cotidiana dos sujeitos. Portanto, oferecer suporte aos

profissionais de saúde para que eles possam lidar com as próprias dificuldades

parece ser uma estratégia positiva para a melhoria das relações no trabalho e

consequente aumento da produtividade.

3.4.3 Categoria 3: Cultura e alimentação

A terceira categoria demonstra que o aspecto cultural é primordial na

formação do hábito alimentar, e não há dúvida da influência do meio no

comportamento individual e na sua resposta aos estímulos externos gerados pela

construção da identidade de cada grupo, a partir da sua perspectiva histórica,

social, econômica e tecnológica. As subcategorias relacionadas à cultura e

alimentação referem-se aos aspectos ambientais, ao culto ao corpo, e à relação

com o tempo e dinheiro.

3.4.3.1 Aspectos relacionados ao ambiente

Sabe-se que o comportamento alimentar além de complexo contém

determinantes externos e internos ao sujeito e as práticas alimentares são

definidas pelo poder socioeconômico, afetivo e cultural do indivíduo. A construção

do hábito alimentar é determinada pela conduta da família ou do meio em que a

criança foi criada. A herança comportamental, muitas vezes carregada de valor

afetivo, vai influenciar as escolhas do indivíduo ao longo da sua vida adulta. Essa

memória afetiva é um fator determinante na capacidade da pessoa de alcançar

mudanças com mais ou com menos facilidade.

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Bourdieu (2010, p. 83) refere que a “relação com o mundo social não é

uma relação de causalidade mecânica que frequentemente se estabelece entre o

meio e a consciência, mas sim uma espécie de cumplicidade”. E continua: “a

relação dóxica com o mundo natal, esse empenhamento ontológico que o senso

prático instaura, é uma relação de pertença e de posse na qual o corpo

apropriado pela história se apropria, de maneira absoluta e imediata, das coisas

habitadas por essa história”. Nesse sentido, as unidades de registro a seguir

encontram eco:

Enfrentei dificuldade porque é uma cultura, na verdade a gente é criada [...], no meu caso que eu sou filha única, eu comia o que eu queria, então se eu não queria uma verdura já era banido isso pra sempre, não gosta da verdura, então eu não era incentivada [E5]. [...] porque não foi essa a educação que eu tive. A educação alimentar que eu tive, na minha casa, sempre prezou muito por alimento, muita fruta, verdura e quando você passa a viver longe dos pais, às vezes você relaxa, esquece aquilo que você aprendeu lá atrás [...] [E9]. [...] às vezes meu pai chegava com uma fruta diferente e a gente falava, ah eu não gosto disso, aí minha mãe nunca forçou a gente a provar a fruta [E1].

A dificuldade em perceber os hábitos alimentares inadequados, de mudar e

manter as alterações de hábitos muitas vezes é reforçada pelo meio social. Este

determina padrões de comportamento, de beleza, hábitos de consumo alimentar e

até de valores relacionados à identidade social de acordo com o estilo de vida e

acesso a determinados serviços que ganham o significado simbólico de ascensão

e estratificação social (FERREIRA, 2010).

Uai, é porque eu aprendi, é hábito, eu aprendi a comer porque você vê todo mundo comer, [...] todo mundo come você come também, né? Você reúne na casa da família [...] então todo mundo está comendo você acaba comendo, é envolvido mesmo pelos outros, é hábito mesmo, o ambiente que você está [E11]. E a comida que engorda ela é mais barata, então você acha pizza e refrigerante com açúcar em todo lugar, [...] o brasileiro tem a cultura de tomar café, dar café mais um bolinho para o visitante, então você falar o não, essa é a dificuldade, você falar o primeiro não para uma coisa que você gosta [E5]. Só que, ao conviver de outra forma, de ter um companheiro novo, eu extrapolei e mudou meus hábitos alimentares, [...] [E8].

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Mas eu aprendi coisas que eu não sabia, tipo a comida integral que é gostosa, porque a gente tem um preconceito né, de já não gostar sem usar [...] [E5].

A orientação nutricional torna-se mais rica quando, aliada aos aspectos

intervencionistas, é possível fazer uma análise cultural do comportamento

alimentar, interpretando os significados simbólicos das ações e fenômenos sociais

determinantes da formação do hábito alimentar do indivíduo.

3.4.3.2 O culto ao corpo

A busca pela reeducação alimentar, em alguns casos, foi motivada pelo

incômodo com o excesso de peso e insatisfação com o corpo, que está fora dos

padrões de estética e beleza socialmente aceitos. Os produtos colocados no

mercado, pela lógica da economia capitalista, destinam-se, principalmente, a um

modelo de corpo magro. A pessoa para alcançá-lo precisa de um grande

investimento de tempo, dinheiro e disposição. Isso faz com que o mercado esteja

sempre aquecido, porque é impossível alcançar o corpo ideal. E essa se torna

uma estratégia para que os produtos e serviços que prometem esse benefício

nunca deixem de ser consumidos (WITT; SCHNEIDER, 2011).

Camargo (2011, p. 258) contribui para essa reflexão a partir das

representações sociais:

As representações sociais assumem um papel importante na elaboração de maneiras coletivas de ver e viver o corpo, difundindo assim modelos de pensamento e de comportamento relacionados ao corpo, que envolvem tanto aspectos relacionados à estética quanto à saúde corporal.

Os relatos a seguir confirmam essas afirmativas:

Todo mundo tava me criticando, todo mundo tava me perguntando o porquê. Eu tava me sentindo mal, minhas roupas não tavam me cabendo mais. Eu tava me sentindo um monstro, tava feia, gorda! [E8]. Senti necessidade, porque o corpo tava feio, a partir de uma foto que eu vi minha, num casamento, vi o tamanho que eu tava. Mas era mais roupa [...], tava muito gorda, precisava mudar o meu corpo, minha alimentação toda [E2]. E também por uma questão estética porque o corpo estava naquele efeito sanfona engoda emagrece, engorda emagrece [E9].

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É o incômodo mesmo que o peso traz na hora de vestir uma roupa, a gente se sente muito mal, eu estava me sentindo incomodada, a gente fica incomodada com o excesso de peso, principalmente, na vestimenta, [...] [E11]. Eu precisava mudar até porque eu sabia que se eu chegasse numa determinada idade eu não ia mais conseguir emagrecer o meu corpo ia ficar feio pra sempre e que eu não ia mais conseguir voltar [E2]. [...] a gente fica incomodada com o excesso de peso, [...] é muito ruim, também eu senti meio cansada, mesmo [risos], cansa, né? Fisicamente também não é bom, aí eu senti necessidade por isso, mudar o manequim, [...] [E11].

Marchesini (2010, p. 109) destaca que:

O ser humano não se constitui só; existe sempre em relação aos seus pares e ao meio ambiente. Toda mudança corresponde a uma reação social e a uma resposta emitida em forma de comportamento. Desta feita, a pessoa que perde peso aumenta seu senso de valor próprio, se traja com mais propriedade, sente-se mais adequada, é percebida como objeto de desejo. Tende a pensar o mundo, a sentir a vida e a emitir comportamentos diferenciados.

O vestuário é um aspecto que aparece com frequência nas queixas dos

entrevistados. A vestimenta padroniza os corpos, iguala os semelhantes,

expressa ascensão social, status e exclui os diferentes. O poder simbólico que a

vestimenta assume no imaginário do indivíduo cria a sua identidade e a sensação

de pertencimento ao grupo em que está inserido, ao mesmo tempo em que o

exclui, discrimina ou dificulta a sua inserção nos grupos diferentes. Há todo um

movimento para produzir, comercializar e consumir as roupas e acessórios

destinados aos corpos magros, e nisso a mídia exerce importante papel na

formação de opinião (SANTOS L, 2010). Quem não se encaixa nesse padrão

sente-se excluído, prejudicado e até mesmo em desvantagem, seja nas relações

sociais ou no mercado de trabalho, que é extremamente competitivo e valoriza, de

maneira acentuada, a aparência do indivíduo.

Assim como os outros aspectos da economia capitalista, a atividade física

também se tornou um produto a ser consumido. Existe um modelo para praticar a

atividade física e que deve ser seguido. As academias estão por todos os lugares

e configuraram-se como a maneira urbana e moderna de realizar exercícios. A

educação física nas escolas há muito tempo foi, contraditoriamente, desvalorizada

e desestimulada. O sistema educativo não incorporou a necessidade de manter

essa prática de maneira natural e prazerosa. Essa distorção não permite que os

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jovens criem o hábito e o levem para a sua vida adulta automaticamente.

Somente quando eles constatam as limitações e consequências causadas à

saúde, pela não prática de atividade física, é que a pessoas se sentem

pressionadas a se exercitarem e, portanto, pagam pelo serviço (SOARES et al.,

2013).

Pode-se observar, recentemente, um incentivo à prática de exercícios

físicos por meio de investimentos sociais em aparelhos, destinados à prática de

atividade física, instalados em praças públicas para facilitar o acesso pelas

pessoas que não conseguem frequentar as academias. Trata-se de uma política

pública de promoção da saúde, de baixíssimo custo, que auxilia a diminuir os

impactos na saúde e, consequentemente, as despesas dos serviços de saúde

pública. As academias ao ar livre são implantadas com o objetivo de oferecer à

população uma forma de atividade física sem custos, como alternativa de

promoção da saúde e qualidade de vida (KRUCHELSKI et al., 2011; MENEZES et

al., 2011; WENDLING et al., 2010).

Outro exemplo é a iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Minas

Gerais, que seguiu as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS)

para que serviços públicos de saúde desenvolvam reformas estruturais que

garantam comunidades mais saudáveis e implantou em 2006 as “Academias da

Cidade”. Sua concepção contempla a integralidade da atenção à saúde,

ampliando as estratégias de atendimento à população usuária do SUS no que diz

respeito às ações de promoção da saúde por meio de incentivo à prática de

atividade física e da alimentação saudável. Para se inserir no serviço o usuário

deve ser encaminhado pelas Equipes de Saúde da Família (ESF) da Unidade

Básica de Saúde (UBS) de referência ou apenas se apresentar por demanda

espontânea (COSTA et al., 2013)

França et al. (2012, p. 343) salientam que “a realização de atividade física

foi a estratégia predominante utilizada pelos sujeitos do seu estudo sobre

mudança no comportamento alimentar”. Assim também a fala dos entrevistados

expressa a consciência da importância da atividade física para a saúde e como a

prática regular de exercícios físicos auxiliou cada um nesse processo de mudança

de hábito.

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[...] foi realmente esse planejamento, a alimentação, essa preocupação também com a atividade física, porque eu aliei a alimentação à atividade física, o que me proporcionou bem-estar e fez que eu alcançasse um equilíbrio no peso, com as medidas, [...] [E 9]. [...] eu já faço uma caminhadinha. Mudou muito [E5]. Tava dormindo demais, com preguiça de fazer as coisas mais habituais que eu costumo fazer, arrumar minha casa, andar, que eu não tava andando [...] [E8]. A partir do momento que eu comecei a perder peso eu comecei a fazer mais exercício físico. [...] eu com o peso maior eu não fazia caminhada, minha vida era sedentária [...] [E3]. Até a minha rotina, eu tenho uma rotina exaustiva de 12 horas diária de trabalho, então eu não tinha ânimo pra fazer as coisas, pra fazer uma atividade física [E9].

É atribuição de todos os profissionais da saúde estimular a prática de

exercícios físicos tanto para melhorar a saúde do indivíduo e conquistar bem-

estar como para tentar mudar essa cultura que desestimula a atividade física de

forma prazerosa. E estimular uma nova perspectiva de praticar o exercício físico

de maneira natural e rotineira, com prazer, sem ser uma obrigação e sem

sacrifícios. E quanto mais cedo as crianças e os jovens apreenderem essa

concepção, mais saúde estaremos promovendo para o futuro.

3.4.3.3 Relação com o tempo e o dinheiro

O comportamento alimentar, além de complexo, contém determinantes

externos e internos ao sujeito e as práticas alimentares são definidas pelo poder

socioeconômico, afetivo e cultural.

A mercantilização das relações humanas alterou profundamente a maneira

como o homem lida com o tempo e com o dinheiro, levando a uma precarização

da qualidade de vida e, consequentemente, do ato de se alimentar.

A produção, comercialização e utilização dos alimentos sofrem influência

do mercado e dos interesses políticos. O modelo econômico capitalista dispõe de

recursos agressivos para impor a cultura do consumo e induzir a manutenção de

um comportamento alimentar que beneficia a lógica de seus interesses voltada

para a produção de capital e geração de lucro. A mídia tem papel estratégico na

formação de hábitos sociais, ditando as regras de como fazer, como agir, o que

consumir e quem deve consumir o quê. Ela determina também o status social a

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partir da capacidade de acesso a certos produtos. O capital simbólico formado no

imaginário do sujeito a partir dessa perspectiva cria uma representação da

identidade individual e coletiva, forçando-o a se adequar ao meio. A pessoa

precisa trabalhar mais para ganhar cada vez mais, para conseguir consumir

produtos e serviços, ofertas e os intermináveis lançamentos de novos modelos de

comportamentos apresentados ao mercado a todo o instante (GOMES; CASTRO;

MONTEIRO, 2010).

O impacto dessa relação com o tempo e dinheiro sobre a alimentação é de

aumentar o consumo de alimentos industrializados, que sejam de preparo fácil e

rápido, porque não há tempo a perder, as pessoas precisam se manter produtivas

a maior parte do dia. E uma alimentação natural e saudável requer certa

dedicação, tempo e disponibilidade (FERREIRA, 2010).

[...] quando a gente trabalha, trabalhava em dois empregos, [...] às vezes você chega cansada, não tem tempo de fazer as coisas, [...] não teve tempo de você comprar [...] [E1]. Então a falta de tempo de você fazer, de você se organizar pra fazer uma dieta, porque às vezes é mais prático você ter um biscoito no seu armário que não estraga, que você ter uma fruta na sua geladeira que estraga [E1]. E a comida que engorda ela é mais barata, então você acha pizza em todo lugar, refrigerante com açúcar em todo lugar [E5]. [...] E dinheiro também, porque hoje em dia você fazer uma reeducação alimentar custa dinheiro, porque você não vai comer todo dia a mesma fruta, o mesmo legume, então você quer variar, fazer alguma coisa diferente, um pão integral é mais caro, tudo que é assim é mais caro [E1]. Então, quando eu soube que a empresa estava oferecendo, gratuito, essa oportunidade de uma nutricionista nos acompanhar, aí foi muito interessante, porque foi mais acessível pra gente, foi mais fácil, né [E5].

O conceito de poder simbólico de Bourdieu (2010) ajuda na compreensão

da influência que o meio externo exerce sobre as condutas e padrão de

comportamento das pessoas e, consequentemente, na dificuldade de mudança

de hábito.

Segundo Bourdieu (2010), o poder simbólico é um poder de construção da

realidade, o sentido imediato do mundo, denominado conformismo lógico. Os

símbolos têm a função de integração social. São instrumentos necessários para

obter o consenso sobre o sentido do mundo e contribuem para a ordem social. Os

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sistemas simbólicos exercem forte influência, pois proporcionam uma forma

irreconhecível de relações de sentido por meio de relações de força que neles se

manifestam. O poder simbólico como poder de transformar a visão do mundo,

capaz de obter o equivalente daquilo que se consegue pela força (física ou

econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se concretiza se for

legitimamente reconhecido ou ignorado como arbitrário. O poder simbólico é uma

forma transfigurada e legitimada das outras formas de poder, que produz efeitos

reais sem o gasto aparente de energia. O poder simbólico transforma diferentes

espécies de capital em capital simbólico, em uma dissimulação eufemizada, que

ignora a violência nelas contida.

A ruptura dos laços construídos socialmente e o reconhecimento da sua

própria identidade permitem ao sujeito se tornar protagonista da sua história,

traduzindo essa vivência em um sentimento de satisfação por ser uma

experiência libertadora e transformadora.

3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Nutrição constitui-se em um dos campos científicos de apoio terapêutico

com o objetivo de informar o que se deve comer para ter saúde e evitar as

doenças. Torna-se um desafio para o profissional da área promover saúde em um

cenário no qual se instalou uma profunda transição nutricional caracterizada,

principalmente, pela adoção do consumo de alimentos industrializados, com alto

teor energético e sódio e pobres em fibra e micronutrientes.

As práticas alimentares são resultado da construção da identidade social

do homem caracterizada por elementos culturais da realidade em que está

inserido e fortemente influenciada pelo meio externo.

Entende-se que esses processos sociais e culturais e o ato de se alimentar

são mais complexos do que a simples satisfação de uma necessidade fisiológica.

O capital simbólico formado no imaginário do sujeito, a partir dessa perspectiva,

cria uma representação da identidade individual e coletiva, forçando-o a se

adequar ao meio.

Os resultados deste estudo corroboram a literatura ao identificar os

benefícios advindos da intervenção nutricional pautada em uma abordagem que

leva em consideração não só a adequação das necessidades orgânicas

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individuais, mas as expectativas do sujeito e os aspectos subjetivos e simbólicos

que os alimentos representam para cada indivíduo.

Os estímulos e a motivação que impulsionaram os participantes a

mudarem seus hábitos também encontram ressonância em outros estudos que

demonstraram o valor do apoio familiar e do trabalho em grupo durante o

processo de transição das práticas alimentares; o significado da autonomia ao

conduzir as mudanças na sua alimentação, principalmente no que se refere à

redução de quantidades e restrição de certos alimentos da sua preferência; e a

compreensão da necessidade de mudar e o reconhecimento da sua capacidade

de vencer obstáculos.

A valorização do processo educativo baseado principalmente no diálogo e

no referencial simbólico de cada um permite ao indivíduo encontrar um sentido

nas novas práticas alimentares e promove mudanças mais efetivas no seu

comportamento alimentar. A intervenção nutricional não deve reproduzir os

estereótipos de pacientes aderidos e não aderidos ao tratamento, e sim respeitar

a individualidade e complexidade da convivência com os agravos e restrições

dietéticas. Dessa forma, devem-se evitar as generalizações inadequadas ao

estabelecer mudanças nas práticas alimentares. Também é atribuição dos

profissionais da saúde estimular o indivíduo a praticar exercícios físicos para

melhorar a sua saúde; conscientizar a respeito de prover mudanças na cultura

que desestimula a atividade física; e criar uma nova perspectiva de práticas

realizadas com prazer e de uma maneira natural e rotineira, sem ser uma

obrigação e sem sacrifícios.

A partir dessa perspectiva, é possível propor uma estratégia de intervenção

em que seja respeitado o tempo de cada pessoa nesse processo, que é único e

singular. Também se torna relevante apostar na capacidade e na iniciativa do

indivíduo em encontrar recursos para lidar com as suas dificuldades a partir da

conscientização e do comprometimento com a mudança. A autonomia será

conquistada com o fortalecimento do espírito crítico em relação às regras sociais

e com o reconhecimento da sua própria identidade e riscos ao individualismo.

É importante ressaltar que o processo educativo não visa impor verdades

que devem ser simplesmente seguidas, mas criar uma relação de ajuda entre o

profissional e o paciente. Ele estabelece um vínculo com a pessoa para

possibilitar o diálogo, a problematização dos seus hábitos alimentares e a reflexão

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acerca dos fatores que interferem no seu comportamento alimentar. Sobretudo,

deve-se estar atento para interpretar o que não é dito explicitamente, ou seja, a

mensagem que está subentendida na fala e também nas expressões corporais.

Dessa forma, é possível pactuar estratégias de enfrentamento dos problemas e

estimular o espírito crítico do indivíduo para que ele possa transformar a sua

própria realidade. A identificação de aspectos pedagógicos eficazes é

fundamental para o aumento da motivação e da adesão aos programas de

intervenção, no intuito de conciliar conhecimento e práticas pessoais promotoras

da saúde.

As análises dos depoimentos são referentes aos profissionais da saúde da

Maternidade Odete Valadares e expressam a sua realidade, o seu momento

histórico e temporal. Esses dados não são generalizáveis a toda população,

principalmente por se tratar de aspectos subjetivos do comportamento humano.

São necessárias análises pertinentes para aproveitamento desses resultados em

outras populações.

Acredita-se que ações humanizadoras no ambiente do trabalho contribuam

para a promoção da saúde do trabalhador, a fim de que ele se torne multiplicador

de condutas alimentares saudáveis, refletindo esse comportamento no meio

familiar e nas relações profissionais.

A intenção deste estudo foi captar e analisar as experiências individuais de

como se constrói a relação com o ato de se alimentar e como se realizam as

escolhas e transformação dos hábitos alimentares. Espera-se, com isso, ter

contribuído com reflexões que ajudem na condução de uma abordagem

nutricional adequada e estimulem a discussão e outras pesquisas sobre o tema.

Sobretudo, que promovam o diálogo interdisciplinar para produção do

conhecimento em educação nutricional, bem como o ensino, a formação e

capacitação dos profissionais da saúde.

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4 PRODUTO TÉCNICO: CARTILHA DE ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL

Iara Lamas17 Matilde Meire Miranda Cadete28

RESUMO Trata-se da descrição do produto técnico organizado como proposta de material pedagógico para ser utilizado em intervenções nutricionais com o objetivo de contribuir para a promoção da saúde e no enfrentamento das dificuldades de mudança de hábito alimentar. Elaborou-se uma cartilha de orientação nutricional e um vídeo educativo com informações básicas sobre alimentação saudável. As informações foram retiradas do Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014. Para a apresentação dos dados as recomendações do guia foram sintetizadas em forma de “Os dez passos para uma alimentação saudável”. O vídeo foi elaborado utilizando-se um aplicativo para criação de apresentações animadas, disponível na internet, e a cartilha traz as informações e ilustrações referentes ao conteúdo. Espera-se que a produção deste material possa auxiliar os profissionais no desafio de conscientizar as pessoas da importância de uma alimentação saudável e da necessidade de adoção de hábitos alimentares mais saudáveis. Palavras-chave: Guias alimentares. Vídeos educativos. Educação nutricional e alimentar. ABSTRACT It concerns the description of the technical product organized as an educational

material proposition to be used for nutritional interventions with the objective of

contribute to health promotion, and when facing the difficulties of feeding habits

change. A brochure with nutritional guidance was elaborated along with and

educational video that contained basic information about healthy feeding. The

information were taken from the Feeding Guide for the Brazilian Population

published by the Health Ministry in 2014. For the presentation of the data, the

guide recommendations were synthesized in a “Ten Steps For a Healthy Feeding”

process. The video was elaborated using an app for creating animated

presentations, available on the internet, and the brochure has information and

pictures referring to the content. It is expected that the production of this material

can aide professionals with the challenge of making people aware of the

importance of healthy feeding and the necessity of adopting healthier eating habits.

1

Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, MG. Nutricionista da Maternidade Odete Valadares (FHEMIG), Belo Horizonte, MG. 2

Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, MG.

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Keywords: Food guide. Instructional videos. Food and nutrition education. 4.1 INTRODUÇÃO

Este capítulo trata da descrição do produto técnico organizado a partir do

referencial teórico da pesquisa empírica em congruência com as informações

contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério

da Saúde em 2014. A pesquisa teve como instrumento de coleta de dados a

entrevista semiestruturada e resultados analisados à luz da literatura. A pesquisa

foi realizada na Maternidade Odete Valadares (BH-MG), no período de 2009 a

2012, com profissionais da saúde que obtiveram êxito no programa de

reeducação alimentar. O objetivo foi analisar as estratégias e recursos utilizados

no enfrentamento das dificuldades em adotar hábitos alimentares mais saudáveis.

Com base na análise dos resultados acredita-se que a elaboração de uma

Cartilha de Orientação Nutricional e um Vídeo Educativo possa contribuir para a

promoção da saúde e educação nutricional como ferramentas de apoio em

intervenções nutricionais individuais e coletivas.

As transformações sociais, políticas e econômicas pelas quais o Brasil

passou nos últimos anos modificaram o estilo de vida da população. Como

consequência, observou-se rápida transição epidemiológica e nutricional

caracterizada por importantes mudanças no padrão de saúde e consumo

alimentar. O sobrepeso e obesidade já são uma realidade em 50% da população

brasileira, atingindo pessoas de todas as idades. A maior causa de morte no

Brasil é proveniente de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que tem a

obesidade como um dos fatores de risco mais importantes. E para o

enfrentamento dessa situação, a necessidade de ampliar as ações para a

promoção da alimentação adequada e saudável é imprescindível. A Política

Nacional de Alimentação e Nutrição e a Política Nacional de Promoção da Saúde

expressam o compromisso de incentivar ações de apoio e proteção à saúde e o

direito à alimentação saudável para a população brasileira (BRASIL, 2010;

BRASIL, 2011a; BRASIL, 2011b; BRASIL, 2012; DUNCAN; SCHMIDT, 2011;

HAWKERS, 2007; KAC; SICHIERI; GIGANTE, 2007; PIMENTA, 2011).

Existe forte evidência na relação entre inadequação alimentar e o

aparecimento de DCNT. A literatura é rica nessa abordagem e esse panorama

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torna a atuação do profissional nutricionista fundamental. O material pedagógico

informativo pode auxiliar o profissional nas intervenções nutricionais que visam à

mudança de hábito alimentar. Por isso, optou-se por um recurso simples, objetivo

e atraente, em formato de cartilha e vídeo. O material foi idealizado a partir das

informações contidas na segunda edição do Guia Alimentar para População

Brasileira (GAPB) publicada pelo Ministério da Saúde em outubro de 2014. Essa

segunda edição atualizada do guia substituiu a anterior, publicada em 2006,

quando se tornou um marco referencial para indivíduos, profissionais da saúde e

governo sobre a promoção da alimentação adequada e saudável. A publicação

também foi um importante auxílio na formulação de políticas públicas

direcionadas para as práticas alimentares saudáveis daquela época (BRASIL,

2014).

Da mesma forma, a segunda edição atualizada do guia apresenta as

diretrizes para uma alimentação saudável levando em consideração a realidade e

necessidade dos brasileiros. Fazendo um paralelo com os dados coletados na

pesquisa, encontra-se ressonância nas recomendações do guia e no longo

caminho que se tem a percorrer entre o discurso da política e a prática do

profissional da saúde diante do grande desafio de promover hábitos alimentares

mais saudáveis.

Essa edição aborda também os múltiplos determinantes das práticas

alimentares brasileiras, a complexidade e os desafios que envolvem a

conformação dos sistemas alimentares atuais, além de reforçar a

“institucionalização da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e o

reconhecimento e inclusão do direito à alimentação como um dos direitos sociais

na Constituição Federal” (BRASIL, 2014, p. 8).

A elaboração do guia teve a contribuição de consulta pública realizada com

diversos segmentos da população brasileira e procurou-se empregar uma

linguagem simples para que todos os cidadãos pudessem utilizá-lo. Dessa forma,

o Ministério da Saúde aposta na sua ampla divulgação, principalmente por parte

dos profissionais da saúde, para que seu conteúdo seja compreendido por todos.

Esse contexto suscita reflexões acerca da capacitação dos profissionais de

saúde para o enfrentamento dos desafios de levar o conhecimento para os

indivíduos e promover transformações em suas vidas. Os profissionais de saúde,

em específico os nutricionistas, têm a percepção e o conhecimento das

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dimensões objetivas e, principalmente, subjetivas que envolvem o ato de comer?

E também das implicações desses aspectos na dificuldade em mudar hábitos

alimentares? Eles são estimulados a compreender os mecanismos que cada

indivíduo utiliza no enfrentamento das limitações e desafios impostos pelas DCNT

e excesso de peso?

Assim, esses produtos objetivaram contribuir como um instrumento

informativo de apoio em educação nutricional, com vistas ao enfrentamento das

dificuldades de mudança de hábito alimentar e para a promoção da saúde. E, de

certa forma, na divulgação das informações contidas na 2ª edição do Guia

Alimentar para População Brasileira (GAPB).

Para melhor compreensão dos produtos técnicos, descrevem-se, a seguir,

o conteúdo e os princípios nos quais o GNPB baseou as suas informações. Logo

após, explicita-se o formato em que foram desenvolvidos a cartilha e o vídeo

educativos que apresentam os dados de forma sintética, evidenciando “Os dez

passos para uma alimentação adequada e saudável” descritos no guia.

4.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PRODUTO TÉCNICO

A revisão bibliográfica realizada para compor o referencial teórico da

pesquisa e as informações obtidas a partir de entrevistas sinalizaram a

importância de uma abordagem adequada nas intervenções nutricionais que

visam à mudança de hábito alimentar. Destaca-se a necessidade de considerar

os aspectos subjetivos do sujeito e a realidade social em que ele está inserido.

Daí, a relevância em utilizar um recurso metodológico que facilite a linguagem e a

intermediação do conhecimento entre os sujeitos, o profissional nutricionista e o

indivíduo, para alcançar os objetivos propostos (BRASIL, 2014; FRANÇA et al.,

2012; MARQUES; OLIVEIRA, 2005; SANTOS, 2005; SANTOS, 2013).

Diante do desafio de propor alterações nos hábitos alimentares, é

primordial que se leve em conta a integralidade e autonomia do indivíduo e a

valorização do processo educativo. Este deve ser baseado, principalmente, no

diálogo e no referencial simbólico de cada um, permitindo ao indivíduo encontrar

um sentido nas novas práticas alimentares. A partir dessa perspectiva é possível

propor uma estratégia de intervenção única e singular, respeitando o tempo e os

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recursos de cada pessoa nesse processo de mudança (MARQUES; GUTIERREZ,

2009; SANTOS, 2013).

Optou-se pela elaboração da cartilha, por se tratar de um material

pedagógico simples, de fácil reprodução, que agrupa as informações de forma

sintética e objetiva, pode ser facilmente reproduzida e serve como consulta

permanente para o indivíduo e familiares. O vídeo depende de recursos de

multimídia para ser reproduzido, também tem informações objetivas, imagens e

áudio que atraem a atenção do receptor, facilitando a assimilação do conteúdo.

Torna-se relevante conhecer o formato do GAPB, de onde foram retiradas

as informações, para melhor compreensão da proposta da Cartilha de Orientação

Nutricional e do Vídeo Educativo. A descrição do guia se dá sempre dialogando

com os autores do referencial teórico da pesquisa, como forma de corroborar as

informações apresentadas e aspectos discutidos anteriormente.

O GAPB é apresentado em cinco capítulos que descrevem os princípios

que nortearam a sua elaboração; as recomendações gerais sobre a escolha dos

alimentos; as orientações de como combinar os alimentos na forma de refeições;

orientações sobre o ato de comer e a comensalidade; e, finalmente, os fatores

que podem ser obstáculos para a adesão das pessoas às recomendações do

guia.

O GAPB sintetiza todas as recomendações ao final da edição, em forma de

“Os dez passos para uma alimentação adequada e saudável”, e apresenta,

também, sugestões de leituras para aprofundar os temas abordados.

Os princípios que orientaram a elaboração do GAPB citados no capítulo 2

são:

Alimentação é mais do que a ingestão de nutrientes. O alimento e a

alimentação dizem respeito à ingestão de nutrientes, aos alimentos que os

contêm, como os alimentos podem ser combinados entre si e preparados, às

características do ato de comer e às dimensões culturais e sociais das práticas

alimentares. Considera-se que todos esses aspectos influenciam a saúde e o

bem-estar. Carvalho, Luz e Prado (2011) e Maciel (2005) concordam com a

afirmativa de que, além da necessidade vital de se alimentar os aspectos

socioeconômicos e culturais, implicam atribuição de significados ao ato de comer

e são responsáveis pelos determinantes das condutas alimentares.

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Alimentação adequada e saudável deriva de sistema alimentar social

e ambientalmente sustentável. “Recomendações sobre alimentação devem

levar em conta o impacto das formas de produção e distribuição dos alimentos

sobre a justiça social e a integridade do ambiente” (BRASIL, 2014, p. 19).

Guias alimentares ampliam a autonomia nas escolhas alimentares. “O

acesso a informações confiáveis [...] contribui para que pessoas, famílias e

comunidades ampliem a autonomia para fazer escolhas alimentares e para que

exijam o cumprimento do direito humano à alimentação adequada e saudável”

(BRASIL, 2014, p. 21). Freire (1996) refere-se à autonomia do sujeito como um

processo de tomada de decisão e de humanização que vai sendo construído a

partir das experiências vividas ao longo da vida. A autonomia torna-se uma

experiência de liberdade quando o profissional é capaz de ajudar o indivíduo a se

empoderar do conhecimento para se tornar sujeito da sua própria história.

Recomendações sobre alimentação devem estar em sintonia com seu

tempo. ”Recomendações feitas por guias alimentares devem levar em conta o

cenário da evolução da alimentação e das condições de saúde da população”

(BRASIL, 2014, p. 17).

Diferentes saberes geram o conhecimento para a formulação de guias

alimentares. As recomendações sobre alimentação são geradas por diferentes

saberes, em virtude das suas várias dimensões e da complexa relação entre

essas dimensões e a saúde e o bem-estar das pessoas.

Freitas, Minayo e Fontes (2011, p. 34) ilustram as afirmativas dos dois

últimos princípios com o conceito de habitus alimentar:

[...] adoção de um tipo de prática que tem a ver com costumes estabelecidos tradicionalmente e que atravessam gerações, com as possibilidades reais de aquisição dos alimentos e com uma sociabilidade construída tanto no âmbito familiar e comunitário como compartilhada e atualizada pelas outras dimensões da vida social. A partir do exemplo citado, pode-se concluir que o habitus alimentar pode ser compreendido através da linguagem, das atitudes e práticas e se traduz em ritos, valores, mitos, crenças e tabus.

A cartilha apresenta-se como uma forma direta de comunicação e

transferência de conteúdo e utiliza recursos da metacomunicação para dar ênfase

ao que queremos informar e como queremos ser interpretados, sobretudo para

que o receptor receba a mensagem da forma mais clara e original.

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O capítulo 2 trata das recomendações gerais sobre a escolha dos

alimentos para adequação nutricional e cultural do indivíduo, ao mesmo tempo em

que promove sistemas de alimentação social e ambientalmente sustentáveis. As

recomendações enfatizam que a forma de processamento pelo qual o alimento

passa antes de ser adquirido, preparado ou consumido pode influenciar o perfil

dos nutrientes, além de causar impactos sociais e ambientais.

O guia descreve quatro categorias de alimentos de acordo com o

processamento empregado na sua produção.

1- A primeira categoria reúne alimentos in natura ou minimamente

processados. Esses alimentos são essencialmente partes de plantas ou de

animais. Não são processados e não sofrem alterações após sua colheita

(alimentos in natura). Os alimentos minimamente processados são “submetidos a

limpeza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, porcionamento,

moagem, secagem, pasteurização, refrigeração, congelamento e processos

similares que não envolvam agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras

substâncias ao alimento original” (BRASIL, 2014, p. 29).

De acordo com o guia, são exemplos de alguns alimentos in natura ou

minimamente processados: legumes, verduras e frutas in natura ou embalados,

porcionados, refrigerados ou congelados; arroz e outros cereais; feijão e outras

leguminosas; raízes e tubérculos; cogumelos congelados ou secos; frutas secas e

sucos de frutas sem adição de açúcar ou outras substâncias; castanhas e nozes

sem sal ou açúcar; especiarias e ervas frescas ou secas; carnes, aves e peixes

frescos, resfriados ou congelados; leite fresco ou pasteurizado, iogurte (sem

adição de açúcar); ovos; chás, cafés e água.

Vários estudos demonstram a relação entre o aparecimento de doenças

chamadas crônicas não transmissíveis (DCNT) e hábitos alimentares não

saudáveis, caracterizados pela diminuição do consumo de frutas, legumes,

verduras e o aumento no consumo de alimentos com alto teor calórico (açúcar e

gorduras) e ricos em sódio (BRASIL, 2011b; 2012; DUNCAN; SCHMIDT, 2011).

Por essa razão, o guia reforça a importância e justifica as razões biológicas e

culturais, sociais e ambientais em adotar uma alimentação bem variada e

baseada em alimentos predominantemente de origem vegetal para que ela seja

nutricionalmente equilibrada. A variedade, neste caso, significa alimentos de

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todos os tipos, incluindo variedades dentro de cada grupo (diferentes grãos,

cereais, diferentes verduras, legumes e frutas).

2- A segunda categoria de alimentos diz respeito aos óleos, gorduras,

sal e açúcar. A orientação é “utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas

quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias.

Desde que utilizados com moderação [...] óleos, gorduras, sal e açúcar

contribuem para diversificar e tornar mais saborosa a alimentação” sem

comprometer o seu valor nutricional. Óleos, gorduras e açúcar são alimentos

muito calóricos e, além disso, óleos e gorduras, sal e açúcar têm alta

concentração de nutrientes, como gorduras saturadas, sódio e açúcar,

respectivamente, cujo consumo pode ser prejudicial à saúde. “A ingestão

excessiva de sódio e de gorduras saturadas aumenta o risco de doenças do

coração, enquanto o consumo excessivo de açúcar aumenta o risco de cárie

dental, obesidade e de várias outras doenças crônicas” (BRASIL, 2012; BRASIL,

2014, p. 33-35; DUNCAN; SCHMIDT, 2011; KAC; SICHIERI; GIGANTE, 2007).

3- A terceira categoria de alimentos constitui-se de produtos prontos

para consumo processados. “Eles são fabricados pela indústria com a adição

de sal ou açúcar [...] para torná-los duráveis” e mais palatáveis e atraentes. “São

produtos derivados diretamente de alimentos e são reconhecidos como versões

dos alimentos originais”. Esses alimentos são, em geral, preservados em

salmoura ou em solução de sal e vinagre (cenoura, pepino, ervilhas, palmito,

cebola, couve-flor); frutas preservadas em açúcar (compotas de frutas e frutas

cristalizadas); carnes salgadas e eventualmente defumadas como presunto,

toucinho e carne seca; peixes conservados em sal e óleo e, eventualmente

defumados; queijos; e pães. “Embora produtos processados mantenham a

identidade básica e a maioria dos nutrientes do alimento original, as técnicas e os

métodos de processamento utilizados na fabricação alteram de modo

desfavorável a composição nutricional”. O sal, o açúcar e o óleo incorporam-se

aos alimentos, alterando sua natureza e aumentando o teor de nutrientes

associados a doenças cardiovasculares. O guia recomenda também que se limite

a utilização de produtos alimentícios prontos para consumo processados

(BRASIL, 2014, p. 38; COSTA; MACHADO, 2010; JACKIX, 2013).

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4- A terceira categoria é representada pelos produtos prontos para

consumo ultraprocessados. “Evite alimentos ultraprocessados”. A fabricação

desses produtos envolve várias etapas de processamento e acréscimo de muitos

ingredientes e por isso os alimentos ultraprocessados são nutricionalmente

desbalanceados. “Por conta de sua formulação e apresentação, tendem a ser

consumidos em excesso e a substituir alimentos in natura ou minimamente

processados e preparações culinárias”, além de serem alimentos muito calóricos.

“As formas de produção, distribuição, comercialização e consumo afetam de

modo desfavorável a cultura, a vida social e o meio ambiente”. São exemplos de

produtos prontos para o consumo e ultraprocessados, segundo o guia, os

biscoitos recheados, salgadinhos “de pacote”, refrigerantes e macarrão

“instantâneo” (BRASIL, 2014, p. 39; LEVY et al., 2012).

A regra de ouro do Guia Alimentar para a população brasileira é: “prefira

sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações

culinárias a alimentos ultraprocessados” (BRASIL, 2014, p. 47).

O capítulo 3 fornece orientações específicas para a população brasileira

sobre como combinar alimentos na forma de refeições.

A alimentação saudável e adequada à realidade e costumes dos brasileiros

deve basear-se na combinação de alimentos que são tradicionais na sua cultura

alimentar (FREITAS; MINAYO; FONTES, 2011). O guia sugere que a mistura de

alimentos como feijões, cereais, raízes, tubérculos, farinhas, macarrão, legumes,

verduras, frutas, castanhas, leite, carnes, ovos, café, chá e água permite criar

uma infinidade de alternativas saudáveis, diversificadas e saborosas para as

refeições e os lanches.

Para assegurar a qualidade da alimentação e evitar riscos de

contaminação por micro-organismos, os alimentos devem ser escolhidos,

conservados e manipulados de forma correta.

O guia também descreve as principais características dos alimentos de

cada grupo específico, de acordo com os nutrientes que eles fornecem.

E recomenda que “o grupo dos feijões, assim como todas as demais

leguminosas, são fontes de proteína, fibras, vitaminas do complexo B e minerais,

como ferro, zinco e cálcio. O alto teor de fibras e a quantidade moderada de

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calorias por grama conferem a esses alimentos alto poder de saciedade”

(BRASIL, 2014, p. 67).

O arroz é o principal representante do grupo dos cereais na alimentação do

brasileiro. “Arroz, milho, trigo e todos os cereais são fontes importantes de

carboidratos, fibras, vitaminas (principalmente do complexo B) e minerais.

Combinados ao feijão ou outra leguminosa, os cereais constituem também fonte

de proteína de excelente qualidade”. Cereais polidos como o arroz branco e

farinhas de trigo apresentam menos quantidade de fibras e micronutrientes. Por

essa razão, é recomendada a versão integral desses alimentos (BRASIL, 2014, p.

70).

A diversidade de legumes e verduras é imensa no Brasil e são

comercializados em quase todos os meses em todas as regiões do país. Os

produtos locais e no período de safra apresentam baixo preço e mais qualidade e

sabor. Legumes e verduras podem ser preparados de diversas maneiras, são

opções saudáveis e excelentes fontes de várias vitaminas e minerais. “Além de

serem fontes de fibras, fornecem muitos nutrientes em uma quantidade

relativamente pequena de calorias, características que os tornam ideais para a

prevenção da obesidade e das DCNTs”. Por essas propriedades nutricionais e

versatilidade culinária, constitui-se em boa alternativa para diminuir o consumo

excessivo de carnes vermelhas. O grupo das raízes e tubérculos é opção de

substituição do arroz ou pão para variar as preparações (BRASIL, 2011b;

BRASIL, 2012; BRASIL, 2014, p. 73-75).

O Brasil também possui grande variedade de frutas que, igualmente às

verduras e legumes, apresentam preço baixo e mais sabor quando consumidos

no período da safra e cultivados em localidades próximas. “Elas podem ser

consumidas frescas ou secas (desidratadas), como parte das refeições principais”

ou como pequenas refeições. Assim como os legumes e verduras, “as frutas são

alimentos muito saudáveis e excelentes fontes de fibras, de vitaminas e minerais

e de vários compostos que contribuem para a prevenção de muitas doenças”

(BRASIL, 2011b; BRASIL, 2012; BRASIL, 2014, p. 76-77).

As frutas oleaginosas incluem vários tipos de castanhas, nozes, amêndoas

e amendoim. Elas “têm vários usos culinários, podendo ser usadas como

ingredientes de saladas, molhos e várias preparações culinárias salgadas e

doces, e também ser adicionadas a saladas de frutas”. Por serem práticas de

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transportar e armazenar, são excelentes opções para os lanches entre as

refeições. São ricas em minerais, vitaminas, fibras e gorduras saudáveis

(gorduras insaturadas) e, “como frutas e legumes e verduras, contêm compostos

antioxidantes que previnem várias doenças” (BRASIL, 2014, p. 78; LEVY et al.,

2012).

O grupo dos laticínios inclui alimentos minimamente processados, como

leite, coalhadas e iogurtes naturais; e alimentos processados, como queijo. São

fontes de proteínas, vitamina A e, principalmente, cálcio. A gordura dos laticínios

é predominantemente saturada (não saudável), por isso a versão desnatada ou

semidesnatada pode ser mais adequada para adultos. “Os queijos, como todos os

alimentos processados, devem ser consumidos sempre em pequenas

quantidades”, pois são produtos calóricos e com grande quantidade de sódio.

“Bebidas lácteas e iogurtes adoçados e adicionados de corantes e saborizantes

são alimentos ultraprocessados e, como tal, devem ser evitados” (BRASIL, 2014,

p. 79-80).

Carnes de vários tipos e ovos são muito valorizados na alimentação

brasileira, em face do sabor que agregam à refeição. As carnes vermelhas são

fontes de proteína de alto valor biológico e também em ferro, zinco e vitamina

B12. Normalmente são ricas em gorduras, principalmente as saturadas que, se

consumidas em excesso, aumentam o risco de doenças cardiovasculares e de

outras DCNTs (BRASIL, 2011b; BRASIL, 2012; BRASIL, 2014, p. 82; DUNCAN;

SCHMIDT, 2011).

As carnes de aves também têm proteínas de boa qualidade, além de

minerais e vitaminas, porém a quantidade de gorduras saturadas é elevada. Estas

ficam concentradas na pele das aves, por isso “recomenda-se que as carnes de

aves sejam consumidas sem a pele” (BRASIL, 2014, p. 82).

“O grupo de pescados inclui peixes (de água doce e de água salgada),

crustáceos (camarão, caranguejos e siris) e moluscos (polvos, lulas, ostras,

mariscos)”. O Brasil possui extensa área litorânea e muitos rios de grande porte,

porém o consumo de peixes ainda é muito reduzido e os preços são altos em

relação às outras carnes. “Os peixes são ricos em proteína de alta qualidade e em

muitas vitaminas e minerais. Apresentam menor conteúdo de gorduras e, em

particular, maior proporção de gorduras saudáveis (gorduras insaturadas),

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portanto, são excelentes substitutos para as carnes vermelhas” (BRASIL, 2011a;

BRASIL, 2014, p. 83).

Os ovos são alimentos acessíveis e baratos. “São ricos em proteínas de

alta qualidade, em minerais e em vitaminas, especialmente as do complexo B, e

também são considerados bons substitutos para as carnes vermelhas” (BRASIL,

2014, p. 84).

A água é essencial para a manutenção da vida. Deve-se “estar atento aos

primeiros sinais de sede e satisfazer de pronto a necessidade de água sinalizada

por nosso organismo”. A água que ingerimos, assim como a água utilizada nas

preparações dos alimentos, deve ser potável, livre de micro-organismos e de

substâncias químicas. A “alimentação baseada em alimentos naturais e

minimamente processados fornece cerca de metade da água que precisamos

consumir diariamente, o que já não acontece com alimentos processados e

ultraprocessados” (BRASIL, 2014, p. 87).

O capítulo 4 aborda aspectos sobre o ato de comer e a comensalidade

cujas dimensões influenciam, entre outros aspectos, o aproveitamento dos

alimentos consumidos e o prazer proporcionado pela alimentação. Nessa

perspectiva, entende-se a comensalidade como a maneira com que os indivíduos

vivenciam a alimentação em relação à sua importância e ao tempo que dedicam

ao ato de comer, envolvendo também o ambiente onde se alimentam e a partilha

de refeições (BRASIL, 2014; CARVALHO; LUZ; PRADO, 2011). Três orientações

básicas sobre a comensalidade são apresentadas pelo guia:

a) Comer com regularidade e com atenção. Recomenda-se fazer as

refeições, preferencialmente, nos mesmos horários, evitar “beliscar” nos

intervalos entre as refeições, comer devagar e sempre apreciando o que

está comendo, reservar um momento tranquilo para realizar as refeições,

sem se envolver em outra atividade paralela.

b) Comer em ambientes apropriados. “Prefira alimentar-se em locais

limpos, confortáveis e tranquilos e onde não haja estímulos para o

consumo de grandes quantidades de alimentos”. Os restaurantes fast-food,

como o próprio nome diz, são programados para a realização de refeições

rápidas. Dificilmente oferecem alimentos in natura ou minimamente

processados e sutilmente nos induzem a comer em maior quantidade, seja

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pela combinação dos alimentos ou pelas promoções. Portanto, são lugares

particularmente inapropriados para comer (BRASIL, 2014, p. 96; SANTOS,

2010).

c) Comer em companhia, sempre que possível. “Sempre que possível

prefira comer em companhia de familiares, amigos, colegas de trabalho ou

escola. Compartilhe também as atividades domésticas que antecedem ou

sucedem as refeições”, como o planejamento, aquisição, preparo e limpeza

de todo o material utilizado. Essa prática proporciona o convívio familiar,

promovendo experiências afetivas entre seus membros. “Atualmente, no

mundo inteiro, culturas alimentares tradicionais, baseadas no consumo de

alimentos in natura [...] e em refeições compartilhadas, vêm perdendo

espaço e valor, por isso, torna-se cada vez mais importante a preservação

das nossas melhores tradições”. É característica na rotina das pessoas a

falta de tempo para realizar todas as atividades profissionais e domésticas.

Por isso, dividir responsabilidades é essencial para evitar sobrecarga de

trabalho para alguns e o desestímulo para executar essa atividade

(BRASIL, 2014, p. 96-97; FERREIRA, 2010).

O capítulo 5 trata da compreensão e superação de obstáculos para a

adoção das recomendações desse guia. “Foi dada grande importância à

viabilidade das proposições, de modo que o recomendado fosse efetivamente

possível de ser adotado. Neste sentido, com frequência, o guia emprega termos

como ‘prefira’ e não ‘faça’ e ‘na maior parte das vezes’ em vez de ‘sempre’”. Evita

também quantificar as porções diárias dos alimentos devido às inúmeras

possibilidades de combinações saudáveis (BRASIL, 2014, p. 103; SANTOS,

2010).

A superação dos obstáculos vai ser mais ou menos difícil, dependendo da

sua natureza, dos recursos de que as pessoas dispõem ou do meio ambiente

onde vivem. Em muitos casos as pessoas precisarão refletir sobre a importância

da alimentação em suas vidas e valorizar mais o ato de comer. Mas, em outros, “a

remoção dos obstáculos exigirá políticas públicas e ações regulatórias de Estado

que tornem o ambiente mais propício para a adoção das recomendações

propostas” (BRASIL, 2014, p. 104). Nesse caso, a ação do Estado é

imprescindível, por isso o guia ressalta tanto a necessidade de as pessoas

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assumirem um papel mais participativo socialmente, reivindicando, em todas as

esferas, o seu direito a uma alimentação adequada e saudável.

Uma das esferas que mais influenciam atualmente o comportamento

alimentar é a publicidade (GOMES; CASTRO; MONTEIRO, 2010). Santos (2003)

contribui com a reflexão acerca da influência que a mídia exerce sobre o

indivíduo, impelindo-o a seguir regras de comportamento social ditadas pelos

interesses do modelo de consumo dominante. Essa força é sutilmente expressa

em forma de valores e crenças que vão sendo construídas ao longo do tempo, de

forma que o indivíduo realmente acredita que é necessário manter o modelo

padrão de comportamento estabelecido. Dessa forma, ele segue consumindo o

que foi sugerido, agregando suposto valor ao seu comportamento, favorecendo e

mantendo a lógica do mercado. Isso se aplica também ao alimento e à forma de

se alimentar.

Os obstáculos para a adoção das recomendações identificados pelo guia

são: informação, oferta, custo, habilidades culinárias, tempo na organização do

trabalho e publicidade. Atualmente, a quantidade de informação sobre

alimentação é muito grande e a forma como são veiculadas é bastante

diversificada, atingindo cada vez mais um número maior de pessoas, porém, nem

todas são confiáveis. Os alimentos ultraprocessados, por não serem perecíveis,

conseguem estar em todos os lugares possíveis de comercialização, dão a falsa

impressão de baixo custo e estão sempre em promoção ou com descontos. A

propaganda investe forte nesse segmento e exerce grande influência no

consumidor, principalmente crianças e adolescentes. Apesar de parecer o

contrário, “o valor da alimentação baseada em alimentos naturais e minimamente

processados ainda é menor no Brasil do que a baseada em alimentos

ultraprocessados”. E devido à falta crônica de tempo das pessoas, que se tornou

uma realidade atualmente, a transmissão de habilidades culinárias entre gerações

descaracterizou-se e favoreceu o consumo de alimentos ultraprocessados. Adotar

uma alimentação saudável significa investir mais tempo no seu planejamento,

execução e manutenção da regularidade de horários das refeições (BRASIL,

2014, p. 110; FERREIRA, 2010; GOMES; CASTRO; MONTEIRO, 2010;

SANTOS, 2010).

A discussão sobre os obstáculos destacados pelo guia sugere que as

pessoas assumam postura de cuidado pessoal com a saúde, ao mesmo tempo

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em que as convoca para uma participação social mais cidadã, reivindicando o

direito de uma alimentação mais saudável.

Ao final da edição o GNPB apresenta uma síntese de todas as

recomendações em forma de “Os dez passos para uma alimentação adequada e

saudável”, descritos a seguir:

1- Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da

alimentação.

2- Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao

temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias.

3- Limitar o consumo de alimentos processados.

4- Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados.

5- Comer com regularidade e atenção em ambientes apropriados e, sempre

que possível, em companhia.

6- Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou

minimamente processados.

7- Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias.

8- Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece.

9- Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas

na hora.

10- Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre

alimentação veiculadas em propagandas comerciais.

Apresentam-se a cartilha e o vídeo elaborados com as recomendações dos

“dez passos para uma alimentação adequada e saudável”.

4.3 DESCRIÇÃO DO PRODUTO TÉCNICO

A cartilha e o vídeo educativo foram construídos a partir das informações

contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira (2014), evidenciando

todas as recomendações do guia sintetizadas na forma de “Os dez passos para

uma alimentação saudável”.

O objetivo das cartilhas é apresentar o conhecimento científico em

linguagem simples e didática que possibilite a qualquer pessoa, de qualquer nível

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de escolaridade, compreender as informações e fazer uso delas em seu

benefício, o que favorece o próprio leitor e também os seus familiares. É possível

guardar as informações para serem consultadas posteriormente, além da

vantagem de ser um material de baixo custo (BARROS et al., 2012; ECHER,

2005; TORRES et al., 2009).

A construção de uma cartilha se assenta em alguns princípios norteadores:

define-se o tema a ser abordado; faz-se um recorte das informações mais

relevantes; apresenta-se o conteúdo em frases curtas, claras e objetivas; utiliza-

se a ilustração como recurso didático atrativo que auxilia a assimilação das

informações; e adéqua-se o material pedagógico ao público-alvo com o objetivo

de facilitar o processo de ensino e aprendizagem. É importante, também,

promover a relação dialógica entre o profissional e o sujeito para a construção do

conhecimento, levando-se em conta os diversos saberes envolvidos no cuidado à

saúde, baseada em uma ação multidisciplinar. A proposta de encorajar a reflexão

sobre o tema escolhido parece ser uma boa estratégia para despertar a

curiosidade, facilitar a adesão às mudanças, o desenvolvimento de habilidades e

a conquista de autonomia (BARROS et al., 2012, p. 97; ECHER, 2005; TORRES

et al., 2005).

A cartilha apresentada como produto técnico da dissertação (APÊNDICE F)

foi organizada destacando-se “Os dez passos para uma alimentação saudável”.

Apesar desse conteúdo já ter sido publicado pelo Ministério da Saúde, é

recomendado que toda cartilha seja validada por profissionais especializados na

área e também por usuários, com o objetivo de garantir a clareza do conteúdo

exposto, a adequação aos diferentes públicos e a proposta efetiva de

transferência de conhecimento (ECHER, 2005).

Para a elaboração do vídeo educativo, de aproximadamente três minutos,

utilizou-se um aplicativo denominado Powtoon, que é disponibilizado

gratuitamente na internet, destinado a estudantes, educadores e profissionais de

marketing, de maneira geral. Esse programa é uma ferramenta que permite a

criação de apresentações e vídeos de animação, vídeos de divulgação, spots

promocionais, para segmentos de educação e outros conteúdos. Ele pode ser

utilizado como alternativa para os programas de apresentação de slides

multimídia, como, por exemplo, o Power Point. A diferença é que esse aplicativo

tem a opção do modo de apresentação, com pausa entre os slides e modo vídeo

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com vários formatos, efeitos, animações predefinidas, recursos para gravação de

voz ou importação de outros tipos de som e imagens, além de diversos

personagens que podem ser usados em uma infinidade de aplicações de acordo

com o objetivo e a criatividade do usuário.

O aplicativo PowToon está disponível na plataforma on-line,

www.powtoon.com, em uma versão gratuita que permite a criação de vídeos de

até cinco minutos e em outras versões pagas que disponibilizam mais opções de

recursos tecnológicos para atender a empresas e profissionais da área. Os vídeos

podem ser visualizados on-line no site Powtoon ou transferidos para

computadores particulares ou para o site de compartilhamento de vídeos,

YouTube.

O vídeo produzido como produto técnico desta dissertação está disponível

em: https://www.youtube.com/watch?v=pdrDDrjS1QI. E os slides referentes ao

vídeo são apresentados no APÊNDICE G.

A expectativa é de que a produção desse material pedagógico contribua

como ferramenta de apoio para ações de promoção da saúde e intervenções

nutricionais que visam à mudança de hábito alimentar e adesão a uma

alimentação saudável. Espera-se, também, que estimule a iniciativa e criatividade

do profissional da saúde no desenvolvimento de materiais pedagógicos.

4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os produtos técnicos apresentados neste trabalho constituem-se de uma

cartilha de orientação nutricional e um vídeo educativo elaborados como material

pedagógico para serem utilizados como recurso auxiliar nas intervenções

nutricionais. Trata-se de uma proposta simples, que organiza as informações de

forma sintética, objetiva e ilustrada, que pode ser facilmente reproduzida e serve

de consulta permanente para o indivíduo e familiares. O vídeo de animação atrai

o interesse do receptor, pelo recurso de áudio e imagem, facilitando a assimilação

do conteúdo.

As informações retiradas do GAPB para compor a cartilha são muito

apropriadas, pois são baseadas na realidade e nas necessidades dos brasileiros.

Ancoram-se em princípios que consideram os aspectos subjetivos referentes ao

ato de comer, defendem os sistemas alimentares ambiental e socialmente

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sustentáveis e, sobretudo, são apresentadas em forma de recomendações, são

sugestivas e não impositivas. Esclarecem também sobre os processos pelos

quais os alimentos são submetidos para a sua industrialização e justificam o

porquê de não consumi-los. Propõem possíveis soluções individuais e coletivas

para aumentar a adesão às recomendações e a todo o momento convocam o

sujeito a assumir uma postura mais participativa e cidadã.

Acredita-se que o conhecimento é elemento fundamental para a

conscientização e, a partir desta, é possível ocorrerem mudanças que

efetivamente vão causar transformações na vida do sujeito. A conscientização é o

primeiro passo para avançar nesse sentido. A mobilização é necessária para

possibilitar a mudança no comportamento individual e coletivo. A vontade política

e o envolvimento dos órgãos competentes e responsáveis pela execução das

mudanças institucionalizáveis são fundamentais para promover esse

desdobramento na concepção da educação alimentar, da cadeia produtiva, de

distribuição, comercialização, preparação e consumo dos alimentos. As agências

regulatórias e de proteção ao consumidor são de extrema importância para a

viabilidade das proposições do guia.

Diante do desafio de propor alterações nos hábitos alimentares da

população, a atuação do profissional nutricionista é fundamental e os recursos

pedagógicos são grandes aliados nas intervenções nutricionais que visam à

mudança de hábito. Acredita-se que a integralidade e a autonomia do indivíduo

devem ser levadas em consideração, bem como a valorização do processo

educativo que almeja a adesão a uma alimentação saudável. A partir dessa

perspectiva, espera-se conseguir mais êxito na proposição de uma estratégia de

intervenção única e singular, respeitando o tempo e os recursos de cada pessoa

nesse processo de mudança.

REFERÊNCIAS BARROS, E. J. L. et al. Gerontotecnologia educativa voltada ao idoso estomizado à luz da complexidade. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 33, n. 2, p. 95-101, jun, 2012.

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APÊNDICE F - CARTILHA DE ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL

CARTILHA DE ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL

Cartilha

Instrucional

CARTILHA DE ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL

Iara Lamas

Matilde Meire Miranda Cadete (Orientadora)

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Cartilha Instrucional

Iara Lamas19

Matilde Meire Miranda Cadete210

Cartilha de orientação nutricional baseada nas informações

contidas no Guia Alimentar para a População Brasileira 2014

Belo Horizonte

Janeiro/2015

1

Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, Belo Horizonte, MG. Nutricionista da Maternidade Odete Valadares (FHEMIG), Belo Horizonte, MG. 2

Orientadora e Professora Doutora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UMA, Belo Horizonte, MG.

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APRESENTAÇÃO

Esta cartilha é um produto técnico proveniente da dissertação intitulada:

“Reeducação alimentar: um estudo com ênfase nos aspectos subjetivos

relacionados à mudança de hábito”, apresentada à banca de avaliação do

Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do

Centro Universitário UNA Belo Horizonte - Minas Gerais, como requisito parcial

para obtenção do título de mestre.

A cartilha foi elaborada pela mestranda Iara Lamas, nutricionista da

Maternidade Odete Valadares da rede FHEMIG em BH, MG. A orientadora do

trabalho foi a Professora Dr.ª Matilde Meire Miranda Cadete, professora do

Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, do

Centro Universitário UNA em BH, MG.

INTRODUÇÃO

A cartilha de orientação nutricional foi idealizada a partir das informações

contidas na 2ª edição do Guia Alimentar para População Brasileira publicado pelo

Ministério da Saúde em outubro de 2014.

Este material tem como objetivo ser utilizado como ferramenta de apoio em

ações de promoção da saúde e educação nutricional; nas intervenções

nutricionais que visam ao enfrentamento das dificuldades de mudança de hábito

alimentar; e na divulgação das informações contidas na 2ª edição do Guia

Alimentar para a População Brasileira.

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108

SUMÁRIO

1 Guia alimentar para a população brasileira......................................................108

2 Cartilha de orientação nutricional.....................................................................110

Referências..........................................................................................................116

Guia alimentar para a população brasileira

O Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB) publicado pelo

Ministério da Saúde em outubro de 2014 substituiu a primeira edição que em

2006 tornou-se um marco referencial para indivíduos, profissionais da saúde e

governo para a promoção da alimentação adequada e saudável e formulação de

políticas públicas.

O guia apresenta as diretrizes para uma alimentação saudável levando em

consideração a realidade e necessidade dos brasileiros; aborda os múltiplos

determinantes das práticas alimentares brasileira; a complexidade e os desafios

que envolvem a conformação dos sistemas alimentares atuais; e reforça a

institucionalização da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

O GAPB é apresentado em cinco capítulos que descrevem os seguintes

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109

temas:

Capítulo 1. Os princípios que nortearam a sua elaboração:

1- Alimentação é mais do que a ingestão de nutrientes.

2- Recomendações sobre alimentação devem estar em sintonia com seu

tempo.

3- Alimentação adequada e saudável deriva de sistema alimentar social e

ambientalmente sustentável.

4- Diferentes saberes geram o conhecimento para a formulação de guias

alimentares.

5- Guias alimentares ampliam a autonomia nas escolhas alimentares.

Capítulo 2. As recomendações gerais sobre a escolha dos alimentos.

Capítulo 3. As orientações de como combinar os alimentos na forma de

refeições.

Capítulo 4. As orientações sobre o ato de comer e a comensalidade.

Capítulo 5. Os fatores que podem ser obstáculos para a adesão das pessoas às

recomendações do guia.

O GAPB sintetiza todas as recomendações, ao final da edição, em forma

de “Os dez passos para uma alimentação adequada e saudável”.

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A Cartilha

Recomendações gerais sobre a escolha dos alimentos

O guia descreve quatro categorias de alimentos de acordo com o

processamento empregado na sua produção, descritas a seguir:

1- A primeira categoria reúne alimentos in natura ou minimamente

processados, que devem ser a base da sua alimentação. São alguns

exemplos: todas as frutas, legumes e verduras; suco de frutas pasteurizado

sem adição de açúcar; arroz; cereais; feijões; farinhas; massas;

especiarias; leite e iogurte sem adição de açúcar; carnes; ovos; chá e café.

2- A segunda categoria de alimentos diz respeito aos óleos, gorduras, sal e

açúcar. A orientação é utilizar em pequenas quantidades ao temperar e

cozinhar alimentos e criar preparações culinárias. Exemplos: óleos

vegetais; azeite; manteiga; gordura de porco e de coco; sal e açúcar.

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3- A terceira categoria de alimentos constitui-se de produtos prontos para

consumo processados. O guia recomenda que se limite a sua utilização,

pois muitos favorecem o consumo excessivo de calorias, além de afetarem

negativamente a vida social, a cultura e o ambiente. São exemplos:

conservas; extrato de tomate; frutas em calda e cristalizadas; carne seca;

toucinho; sardinha e atum enlatados; queijos; e pães.

4- A quarta categoria é representada pelos produtos prontos para consumo

ultraprocessados. Evite alimentos ultraprocessados. Eles são

nutricionalmente desbalanceados. Por conta de sua formulação e

apresentação, tendem a ser consumidos em excesso e a substituir

alimentos in natura ou minimamente processados. Exemplos: biscoitos;

sorvetes; balas e guloseimas em geral; cereais açucarados; bolos e

misturas para bolo; barras de cereal; sopas; macarrão instantâneo;

salgadinhos “de pacote”; refrescos; refrigerantes; iogurtes e bebidas

lácteas adoçados e aromatizados; bebidas energéticas; produtos

congelados; extratos de carne de frango ou peixe empanados do tipo

nuggets; salsichas e outros embutidos; produtos panificados cujos

ingredientes incluem substâncias como gordura vegetal hidrogenada,

açúcar, amido, soro de leite, emulsificantes e outros aditivos.

A Regra de Ouro do Guia Alimentar para a População Brasileira é: “prefira

sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações

culinárias a alimentos ultraprocessados”.

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Orientações sobre como combinar alimentos na forma de refeições

A alimentação deve basear-se na combinação de alimentos que são

tradicionais na cultura alimentar brasileira. A mistura de alimentos como feijões,

cereais, raízes, tubérculos, farinhas, legumes, verduras, frutas, castanhas, leite,

carnes, ovos e água permite criar uma infinidade de alternativas saudáveis,

diversificadas e saborosas para as refeições e os lanches. Os cereais

combinados ao feijão ou outra leguminosa constituem fonte de proteína de

excelente qualidade.

O ato de comer e a comensalidade

As dimensões do ato de comer e a comensalidade influenciam, entre

outros aspectos, o aproveitamento dos alimentos consumidos e o prazer

proporcionado pela alimentação.

Três orientações básicas sobre a comensalidade são apresentadas pelo

guia:

1- Comer com regularidade e com atenção.

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2- Comer em ambientes apropriados.

3- Comer em companhia, sempre que possível.

A compreensão e a superação de obstáculos para a adoção das

recomendações deste guia

Os obstáculos para a adoção das recomendações identificados pelo guia

são: informação, oferta, custo, habilidades culinárias, tempo e publicidade.

1- Informação. Acredita-se que existe muita informação sobre alimentação,

mas poucas são confiáveis. Tenha este guia como fonte confiável de

informação e recomendações sobre alimentação saudável. Discuta as

informações e recomendações deste guia com as pessoas que estão ao

seu redor. Procure organizar-se para colocá-las em prática.

2- Oferta. A oferta de alimentos ultraprocessados está em toda parte e estão

sempre acompanhados de muita propaganda e descontos e promoções.

Evite fazer compras em locais que comercializem somente alimentos

ultraprocessados e evite comer em redes de fast food. Prefira produtores e

comerciantes que ofereçam alimentos in natura ou minimamente

processados, como mercados, feiras livres e “sacolões”.

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3- Custo. Embora os preços de legumes, verduras e frutas pareçam ser

maiores do que dos alimentos ultraprocessados, o valor da alimentação

baseada em alimentos naturais e minimamente processados ainda é

menor no Brasil do que a baseada em alimentos ultraprocessados.

Consuma sempre alimentos da safra. Dê preferência a locais que

comercializam alimentos direto dos produtores, evitando assim os

intermediários. Participe de grupos de compras coletivas. Se for fazer sua

refeição na rua, prefira restaurantes de “comida a quilo”. Leve sua comida

de casa, reivindique condições adequadas para realizar as suas refeições

no seu local de trabalho.

4- Habilidades culinárias. O enfraquecimento da transmissão de habilidades

culinárias entre gerações favorece o consumo de alimentos

ultraprocessados. Valorize o ato de cozinhar alimentos como prática social

e cultural. Desenvolva habilidades culinárias e estimule as pessoas à sua

volta a fazê-lo. Compartilhe esse prazer.

5- Tempo. Seguir as recomendações deste guia pode implicar, para algumas

pessoas, maior demanda de tempo em virtude da seleção e preparo dos

alimentos e dos horários regulares das refeições. O domínio das técnicas

culinárias pode reduzir muito o tempo de preparo dos alimentos.

Distribuição das tarefas domésticas entre os familiares também é uma

forma de otimizar o tempo. O planejamento das compras e das

preparações que serão consumidas, durante o dia ou semana, também

deve ser levado em consideração.

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6- Publicidade. A publicidade de alimentos ultraprocessados domina os

anúncios comercias na mídia e atinge principalmente crianças e jovens.

Tenha em mente que a função da propaganda é essencialmente aumentar

a venda do produto. Discuta isso com as pessoas ao seu redor, amplie o

seu espírito crítico. Esclareça as crianças, mas, sobretudo, pratique o que

você orientou. Diminua o tempo de exposição das crianças à televisão e

estimule-as a serem mais ativas.

“Os dez passos para uma alimentação adequada e saudável”

1- Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da

alimentação.

2- Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao

temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias.

3- Limitar o consumo de alimentos processados.

4- Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados.

5- Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e,

sempre que possível, com companhia.

6- Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura

ou minimamente processados.

7- Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias.

8- Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela

merece.

9- Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições

feitas na hora.

10- Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre

alimentação veiculadas em propagandas comerciais.

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REFERÊNCIAS

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no país. A alta

incidência de sobrepeso e obesidade é uma realidade no Brasil e os problemas

decorrentes dessa situação estão diretamente ligados à ocorrência dessas

doenças crônicas não transmissíveis. Para enfrentar essa situação, torna-se

imprescindível ampliar as ações para a promoção da alimentação adequada e

saudável. A Nutrição constitui-se em um dos campos científicos de apoio

terapêutico cujo objetivo é estimular a alimentação saudável e alertar sobre os

riscos da inadequação nutricional para a saúde da população.

As práticas alimentares, entretanto, são caracterizadas pelos elementos

culturais presentes na realidade em que o indivíduo está inserido, tornando-se

sua identidade, e esta sofre forte influência do meio externo. Entende-se que

esses processos sociais e culturais e o ato de se alimentar são mais complexos

do que a simples satisfação de uma necessidade fisiológica. O indivíduo, quando

se percebe pertencente a um determinado grupo e reconhece as práticas

alimentares como regras sociais legítimas e que devem ser seguidas, é levado a

se adequar ao ambiente, repetindo os modelos de comportamentos coletivos.

O conhecimento dos fatores que interferem no comportamento alimentar

auxilia na melhoria da efetividade das intervenções nutricionais. A valorização do

processo educativo baseado principalmente no diálogo e no referencial simbólico

de cada um permite ao indivíduo encontrar um sentido nas novas práticas

alimentares e promove mudanças mais efetivas no seu hábito alimentar. A base

da reeducação alimentar, nessa perspectiva, torna-se a valorização da autonomia

do sujeito e a responsabilização dos indivíduos no cuidado de si.

Os resultados deste estudo corroboram a literatura ao identificar os

benefícios advindos da intervenção nutricional mais humanizada. Os estímulos e

a motivação que impulsionaram a mudança de hábitos também encontram

ressonância em outros estudos que demonstraram o valor do apoio familiar e do

trabalho em grupo durante o processo de transição das práticas alimentares; a

compreensão da necessidade de mudar; e o reconhecimento da capacidade de

vencer obstáculos.

A reeducação alimentar, por meio da motivação e do estímulo, parece

substituir a forma de “controle-repressão” que marca as intervenções tradicionais.

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Evoca-se uma reeducação que busca desenvolver a capacidade das pessoas

para que tenham condições de perseguir as metas às quais se propõem

livremente. Torna-se relevante também apostar na capacidade e na iniciativa do

indivíduo em encontrar recursos para lidar com as suas dificuldades, a partir da

conscientização e do comprometimento com a mudança. Conquista-se a

autonomia com o desprendimento dos laços sociais e com o reconhecimento da

sua própria identidade. Transcendem-se as condições de heteronomia para o “ser

para si”, a autonomia.

Dessa forma, o processo educativo não visa a impor verdades que devem

ser simplesmente seguidas, mas criar uma relação de ajuda, de escuta e de

compreensão entre o profissional e o paciente. Estabelecer um vínculo com a

pessoa para possibilitar o diálogo, a problematização dos seus hábitos

alimentares e a reflexão acerca dos fatores que interferem no seu comportamento

alimentar. Sobretudo, é preciso estar atento para interpretar o que não é dito

explicitamente, ou seja, a mensagem que está subentendida na fala e também

nas expressões corporais. É muito importante não julgar o comportamento dos

pacientes classificando-os como aderidos e não aderidos ao tratamento.

Recomenda-se, sim, respeitar a individualidade e complexidade da convivência

com os agravos e restrições dietéticas, evitando-se, dessa forma, generalizações

inadequadas ao estabelecer mudanças nas práticas alimentares.

Acredita-se que assim é possível pactuar estratégias de enfrentamento dos

problemas, respeitando o tempo de cada pessoa, que é único e singular,

estimulando seu espírito crítico para que ele possa fazer escolhas mais assertivas

que beneficiem a sua saúde e para que ele mesmo possa transformar a sua

própria realidade. Também é atribuição dos profissionais da saúde encorajar o

indivíduo a praticar exercícios físicos para melhorar o seu condicionamento e a

sua saúde; conscientizar a respeito de prover mudanças na cultura que

desestimula a atividade física; e criar uma nova perspectiva de práticas realizadas

com regularidade e com prazer, sem se tornar uma atribuição obrigatória e cheia

de sacrifícios.

Acredita-se também que ações humanizadoras no ambiente do trabalho

contribuam para a promoção da saúde do trabalhador a fim de que eles se tornem

multiplicadores de condutas alimentares saudáveis, refletindo esse

comportamento no meio familiar e nas relações profissionais.

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Torna-se um desafio para o profissional da área promover saúde em um

cenário em que a assistência também se tornou um serviço pautado na lógica da

produtividade, no qual o valor do tempo disponibilizado nas intervenções tem

representativo peso e, muitas vezes, limita a investigação dos aspectos subjetivos

e individuais relacionados ao ato de comer. Nesse sentido, a atuação

especificamente do nutricionista é fundamental e os recursos pedagógicos são

um grande aliado nas intervenções nutricionais que visam à mudança de hábito. A

identificação de aspectos pedagógicos eficazes contribui para o aumento da

motivação e da adesão aos programas de intervenção, no intuito de conciliar

conhecimento e práticas pessoais promotoras da saúde.

Acredita-se que o conhecimento é elemento fundamental para a

conscientização e a partir dela é possível ocorrerem mudanças que, efetivamente,

vão causar transformações na vida do sujeito. A conscientização é o primeiro

passo para avançar nesse sentido. A mobilização é necessária para possibilitar a

mudança no comportamento individual e coletivo. A vontade política e o

envolvimento dos órgãos competentes e responsáveis pela execução das

mudanças institucionalizáveis são fundamentais para promover esse

desdobramento na concepção da educação alimentar, da cadeia produtiva, de

distribuição, comercialização, preparação e consumo dos alimentos. As agências

regulatórias e de proteção ao consumidor são de extrema importância para a

viabilidade das proposições do guia.

Sabe-se da dificuldade de mudar hábitos, não só os hábitos alimentares,

mas toda uma cultura de produção, distribuição, comercialização, preparação e

consumo dos alimentos. São vários os aspectos que influenciam essa dinâmica: o

sistema econômico capitalista e a globalização, que aproxima as pessoas e as

culturas e ao mesmo tempo as distancia ou as exclui e muitas vezes induz a

padronização dos comportamentos, tentando igualar sujeitos cujas necessidades

são tão diferentes e singulares.

O enfrentamento dos desafios para mudança pessoal e coletiva é uma

tarefa complexa. Espera-se que a apropriação do saber permita refletir sobre as

atitudes e a importância que se dá às relações familiares, profissionais,

alimentares, à saúde e em todas as esferas. Sobretudo, o quanto estamos

dispostos a investir na mudança. Mudar exige comprometimento, perseverança,

empenho, tempo e dedicação. Os sentimentos que serão experimentados a partir

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da adoção de uma nova conduta ou uma nova prática alimentar vão ser sempre

desconhecidos, portanto, não se pode ter garantias. Mas a necessidade de

mudança é essencial à vida, à preservação da saúde.

As evidências científicas mostram que o estilo de vida e consumo atuais

são destrutivos e prejudiciais ao homem e à natureza, portanto, a mudança é

inadiável. O como fazer é que deve ser descoberto. Será preciso desconstruir um

modelo para reconstruir uma nova maneira de se fazer, inventar uma nova

conduta e reinventar o comportamento. E não há mudança sem o desejo de

mudar. E o desejo é uma força propulsora para a ação. "Tem que ser uma força

interior, tem que vir de dentro”.

Acredita-se que é preciso ter humildade para reconhecer os obstáculos e a

necessidade de mudar, ou seja, é preciso despertar. E a partir daí buscar os

caminhos, com persistência, para a concretização do desejo. Aceitar o novo e o

diferente. Fazer diferente sem esperar os estímulos externos ou grandes

acontecimentos, grandes resultados. É simplesmente fazer a sua parte, o que é

possível, o que está ao seu alcance. São as pequenas mudanças que causam as

grandes transformações. É preciso acreditar que é possível mudar para ter mais

saúde e qualidade de vida.

A mudança não se restringe à esfera pessoal, individual. O despertar

envolve também a reflexão sobre as atitudes de cidadania. As mudanças

coletivas podem ser alcançadas se houver mais participação cidadã, por meio da

articulação, mobilização e cobrança dos direitos, com responsabilidade.

Não é possível ficar imobilizado, permanecer queixando-se das

dificuldades e obstáculos e terceirizando as causas dos seus problemas. Torna-se

necessário fazer a sua parte, cumprir os seus deveres como cidadão também,

pensar mais no coletivo, juntar outras forças para caminhar junto. E mesmo

quando parecer não ter solução, acreditar que sempre tem um jeito diferente de

fazer as coisas, em todas as esferas. Portanto, informe-se, converse, pergunte,

movimente-se e mude. Mude a você mesmo, a sua vida e a realidade que está à

sua volta. Compartilhe, seja multiplicador de uma experiência exitosa.

Baseado nos argumentos discutidos anteriormente, acredita-se que a

promoção da saúde deve ser um conjunto de ações integradas e dialogadas entre

os diversos saberes. Deve ser oposta à fragmentação do cuidado em disciplinas

específicas e que considere, sobretudo, os aspectos subjetivos dos indivíduos,

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inserindo-os no seu contexto sociocultural e apostando nos recursos individuais

para melhorar o autocuidado em saúde e para a transformação da sua realidade.

As análises dos depoimentos referentes aos profissionais da saúde da

Maternidade Odete Valadares expressam a realidade daquele local, o seu

momento histórico e temporal. Esses dados não são generalizáveis a toda

população, principalmente por se tratar de aspectos subjetivos do comportamento

humano. São necessárias análises pertinentes para aproveitamento destes

resultados em outras populações.

A intenção deste estudo foi captar e analisar as experiências individuais de

como se constrói a relação com o ato de se alimentar e como se realizam as

escolhas e transformação dos hábitos alimentares. Espera-se, com isso, ter

contribuído com reflexões que ajudem na condução de uma abordagem

nutricional adequada e estimulem a discussão e outras pesquisas sobre o tema.

Sobretudo, que promovam o diálogo interdisciplinar para produção do

conhecimento em educação nutricional, bem como o ensino e a formação dos

profissionais da saúde.

Finalizando: este estudo é o início modesto de novas partidas.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO E APÊNDICES

ANEXO A – Parecer ético

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APÊNDICE A – Roteiro de temas da entrevista semiestruturada

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local

Roteiro de pesquisa para ser aplicado na coleta de dados da pesquisa

denominada “Reeducação alimentar: estratégias de sucesso usadas para

obtenção de novos hábitos alimentares pelos profissionais da saúde no

ambiente de trabalho”

Gostaria de conversar livremente com você sobre os seguintes temas:

1- Como participou das nossas discussões por ocasião dos grupos de reeducação

alimentar da Maternidade Odete Valadares, conte para mim, como é a sua

relação com a comida?

2- Você acha que sua alimentação é mais saudável agora? Você mudou os seus

hábitos alimentares? Sim ( ) Não ( )

Se sim:

3- O que mudou na sua alimentação? O que aconteceu na sua vida para que

você aderisse a uma dieta mais saudável?

4- O que o(a) motivou a mudar seus hábitos alimentares?

5- Você enfrentou dificuldades nesse processo de mudança de hábitos

alimentares? Se sim, quais tipos de dificuldades? Dessas, quais foram as mais

difíceis?

6- Em quais situações da sua vida você encontrou dificuldades para mudar os

hábitos? Como você se sentiu?

7- E em quais situações da sua vida você encontrou dificuldades para manter a

mudança de hábito? Como você se sentiu?

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8- O que mais gostaria de dizer a partir da sua experiência exitosa para quem

deseja viver o mesmo processo que você viveu, ou seja, conseguir mudar e

manter uma alimentação saudável?

Se não:

3- O que acha que aconteceu para você não aderir a uma dieta mais saudável?

4- Que dificuldades você enfrentou nesse processo de mudança de hábitos

alimentares? Quais foram as mais difíceis?

5- A que você atribui o fato de não ter mudado seus hábitos alimentares?

6- Em quais situações da sua vida você encontrou mais dificuldades para mudar?

Como você se sentiu?

7- E o que mais gostaria de dizer a partir de sua experiência para quem deseja

mudar hábito alimentar?

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APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Entrevista

Título da Pesquisa: Reeducação alimentar: estratégias de sucesso usadas

para obtenção de novos hábitos alimentares por profissionais da saúde no

ambiente de trabalho

Pesquisador responsável: Iara Lamas

Orientadora: Matilde Meire Miranda Cadete

Instituição a que pertencem: Centro Universitário UNA

O(a) Sr.(a) está sendo convidado a participar de uma pesquisa que tem

como finalidade compreender quais são as estratégias e recursos utilizados por

profissionais da saúde no enfrentamento das dificuldades em adotar novos

hábitos alimentares mais saudáveis, no seu local de trabalho, tendo em vista a

valorização e a promoção de saúde do trabalhador.

Ao participar deste estudo o(a) Sr.(a) contribuirá para a produção e

sistematização de conhecimento sobre o enfrentamento das dificuldades em

adotar hábitos alimentares mais saudáveis, no seu local de trabalho, de modo a

subsidiar processos de gestão social comprometidos com a qualidade de vida no

trabalho.

O(a) Sr.(a) tem a liberdade de desistir de participar a qualquer momento

deste estudo, sem qualquer prejuízo para o(a) Sr.(a) e sempre que quiser poderá

pedir mais informações sobre este trabalho pelo telefone da aluna ou orientadora

e, se necessário, por meio do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa da UNA.

Gostaria, então, que o(a) Sr.(a) respondesse a umas perguntas que lhe

farei e que serão gravadas, se assim o permitir. Seu nome não será mostrado em

momento algum. Sua participação neste trabalho não traz problemas legais e se

ocorrer algum constrangimento ou desconforto diante de alguma pergunta é de

sua livre escolha responder ou não, podendo, inclusive, cancelar sua participação

na pesquisa no decorrer da entrevista.

Toda a nossa conversa durante a entrevista é sigilosa e somente a aluna e

a professora terão conhecimento dos dados.

O(a) Sr.(a) não terá algum tipo de despesa para participar deste trabalho,

bem como nada será pago por sua participação.

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Caso você queira nos procurar ou tirar dúvidas após participar desta

pesquisa, colocamo-nos à sua inteira disposição. Pode também nos telefonar

caso queira saber em que momento se encontra nosso trabalho.

Esta pesquisa obedece aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres

Humanos conforme Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Após essas informações, pedimos o seu consentimento de forma livre e

esclarecida para participar deste trabalho.

Obs.: Não assine esse termo se ainda tiver dúvidas a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu _____________________, de

forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento para participar da

pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento e autorizo a

realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

Belo Horizonte, ______ de _____________ de 2014.

Nome do participante da pesquisa:

Assinatura do participante da pesquisa:

Assinatura da Pesquisadora:

Assinatura da Orientadora:

Aluna: Iara Lamas Contato: (31) 93136776 (31) 3224-3384 e-mail: [email protected] Orientadora: Matilde Meire Miranda Cadete. (31) 9972-8033. E-mail: [email protected].

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APÊNDICE C - TERMO DE COMPROMISSO DE CUMPRIMENTO DA

RESOLUÇÃO 466/2012

Nós, Iara Lamas, RG. xxxxxx, e Matilde Meire Miranda Cadete, RG. xxxxx,

responsáveis pela pesquisa intitulada “Reeducação alimentar: estratégias de

sucesso usadas para obtenção de novos hábitos alimentares por

profissionais da saúde no ambiente de trabalho”, declaramos que:

Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das

informações que serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da

pesquisa.

Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho

serão utilizados para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa.

O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a

nossa responsabilidade.

Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos

e/ou em encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a

privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo

qualquer acordo restritivo à divulgação.

Assumimos o compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao

perceber algum risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos

sujeitos participantes, que não tenha sido previsto no termo de

consentimento.

O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário UNA será

comunicado da suspensão ou do encerramento da pesquisa, por meio de

relatório apresentado anualmente ou na ocasião da interrupção da pesquisa.

As normas da Resolução 466/2012 serão obedecidas em todas as fases da

pesquisa.

Belo Horizonte, 5 de dezembro de 2013

Iara Lamas Matilde Meire Miranda Cadete

CPF 681175076-68 CPF 276766096-15

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APÊNDICE D - TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E

DEPOIMENTOS

Eu __________________________________________, CPF

___________, RG___________, depois de conhecer e entender os objetivos,

procedimentos metodológicos, riscos e benefícios da pesquisa, bem como de

estar ciente da necessidade do uso de minha imagem e/ou depoimento,

especificados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),

AUTORIZO, por meio do presente termo, as pesquisadoras Iara Lamas e Matilde

Meire Miranda Cadete, do projeto de pesquisa intitulado “Reeducação alimentar:

estratégias de sucesso usadas para obtenção de novos hábitos alimentares

por profissionais da saúde no ambiente de trabalho”, a realizar as fotos e/ou

vídeos que se façam necessárias e/ou a colher meu depoimento sem quaisquer

ônus financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização dessas fotos e/ou vídeos (seus

respectivos negativos ou cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de

estudos (livros, artigos, slides e transparências), em favor dos pesquisadoras

especificadas, obedecendo ao que está previsto nas leis que resguardam os

direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente –

ECA, Lei nº 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei n.° 10.741/2003) e

das pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto nº

5.296/2004).

BH, ____ de ___________ de 20_____.

Participante da pesquisa

Pesquisador responsável pelo projeto

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APÊNDICE E - AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS

Eu, ____________________________________________________, ocupante

do cargo de_____________________ do(a) _____________________________,

AUTORIZO a coleta de dados do projeto “Reeducação alimentar: estratégias

de sucesso usadas para obtenção de novos hábitos alimentares por

profissionais da saúde no ambiente de trabalho” dos pesquisadores Iara

Lamas e Matilde Meire Miranda Cadete nas instalações físicas da Maternidade

Odete Valadares, após a aprovação do referido projeto pelo Comitê de Ética em

pesquisa (CEP) da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG).

BH, ___ de_________________ de ______

ASSINATURA:

CARIMBO: