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Castelo Branco Científica - Ano I - Nº 02 - julho/dezembro de 2012 - www.castelobrancocientifica.com.br Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 1 científica Revista REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL Kassiana de Mesquita Calmon Acadêmica em Direito pela Faculdade Castelo Branco E-mail: [email protected] REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL RESUMO O presente estudo aborda os aspectos envolvidos nas discussões quanto à criminalidade praticada por crianças e adolescentes e quanto à falta de puni- bilidade envolvendo os mesmos. O método de elaboração do estudo utiliza o tipo de pesquisa bibliográfica e parte do método dedutivo, e além de ser ca- racterizado por um procedimento monográfico e funcionalista e de uma cole- ta de dados documental e jurisprudencial, analisa os dados qualitativamente. Num primeiro momento propõe a seguinte questão: Reduzir a maioridade penal é suficiente para coibir a marginalidade juvenil? Em um segundo momento, trata de analisar a legislação pertinente ao as- sunto, suas origens, intenções e aplicabilidades. Posteriormente, o estudo aborda as correntes contrárias e favoráveis à redução da maioridade penal, identificando os principais doutrinadores que se manifestaram, assim como as razões por eles expostas.

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Revista

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Kassiana de Mesquita Calmon

Acadêmica em Direito pela Faculdade Castelo BrancoE-mail: [email protected] REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

RESUMO

O presente estudo aborda os aspectos envolvidos nas discussões quanto à criminalidade praticada por crianças e adolescentes e quanto à falta de puni-bilidade envolvendo os mesmos. O método de elaboração do estudo utiliza o tipo de pesquisa bibliográfi ca e parte do método dedutivo, e além de ser ca-racterizado por um procedimento monográfi co e funcionalista e de uma cole-ta de dados documental e jurisprudencial, analisa os dados qualitativamente.Num primeiro momento propõe a seguinte questão: Reduzir a maioridade penal é sufi ciente para coibir a marginalidade juvenil? Em um segundo momento, trata de analisar a legislação pertinente ao as-sunto, suas origens, intenções e aplicabilidades. Posteriormente, o estudo aborda as correntes contrárias e favoráveis à redução da maioridade penal, identifi cando os principais doutrinadores que se manifestaram, assim como as razões por eles expostas.

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PALAVRAS CHAVE: PUNIBILIDADE; MAIORIDADE PENAL; MARGINALIDADE; ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE; MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.

ABSTRACT

This paper addresses the issues involved in the discussions about the crime committed by children and adolescents and the lack of punishment invol-ving the same. The method of the survey uses the type of literature and part of the deductive method for both, and is characterized by a procedure and functionalist monograph and a documentary data collection and jurispru-dential analyzes the data qualitatively.At fi rst proposes the following question: Reduce criminal majority is enou-gh to curb juvenile delinquency?In a second moment, is to analyze the relevant law to the subject, its ori-gins, intent and applicability. Subsequently, the study addresses the current confl ict and in favor of lowering the age of criminal, identifying key scho-lars who have spoken and the reasons for them exposed.

KEYWORDS: PUNISHMENT; CRIMINAL MAJORITY; MARGINA-LITY; STATUS OF CHILD AND ADOLESCENT; EDUCATIONAL SO-CIAL MEASURES.

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INTRODUÇÃO

O clamor social em relação ao jovem infrator, menor de dezoito anos, surge da equivocada sensação de que nada lhe acontece quando autor da infração penal. Seguramente a noção errônea de impunidade tem-se revelado como o maior obstáculo à plena efetivação do ECRIAD, principalmente diante da crescente onda de violência, em níveis alarmantes.

Constatando-se esta realidade, a população clama por providências que resolvam ou atenuem o problema, vindo à tona a questão da redução do limite de idade para imputabilidade penal no país, conhecida como redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos.

Trata-se de questão polêmica, com opiniões contrárias sobre a possibili-dade da citada redução. Alguns defendem a necessidade de revisão dos dispositivos legais, alegando a contradição entre a norma e a realidade psi-cológica dos menores, já capazes de exercer a cidadania através do voto, outros ressaltam a urgência de nova política carcerária e social, como me-didas ressociativas e preventivas da criminalidade.

A justifi cativa utilizada pelo legislador para a manutenção da maioridade penal é de caráter biológico, calcado no entendimento de que um jovem com menos de 18 anos não possui desenvolvimento mental completo ca-paz de agir com discernimento da licitude de suas ações.

O estudo dissertará sobre a indução ao crime pela falta de punibilidade, tendo como foco as questões envolvidas na Redução da Maioridade Penal. O intuito é buscar respostas para a dúvida que há muito comporta calorosas

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discussões. A certeza que os praticantes de atos ilícitos menores de dezoito anos têm é a impunibilidade, um motivador para a criminalidade.

No entanto, a criminalidade praticada pelo menor em confl ito com a lei não é assunto isolado, envolve toda a sociedade, e para o qual não haverá solução sem o desenvolvimento de uma política social, com geração de trabalho e renda, garantindo a todos as necessidades básicas inerentes à condição humana garantidas por Lei.Investir no aprimoramento e na valorização do trabalho policial e garantir que os autores de toda espécie de crimes sejam punidos, também são ações que auxiliam no combate e punição da criminalidade.

1 - A CRIMINALIDADE INFANTIL E SUAS CAUSAS.

Certamente, ao se falar de causas da criminalidade entre crianças e adoles-centes, é complicado desassociar uma razão da outra, visto que, difi cilmen-te, alguém inicia uma prática ilícita por uma única razão. Diante disso, o presente estudo elenca como principais motivadores da prática criminosa por crianças e adolescentes os aspectos sociais e culturais.

1.1 PROBLEMAS SOCIAIS E CULTURAISNo Brasil, é cada vez mais crescente o número de casos envolvendo a prática de ilícitos por menores, jovens que deveriam estar focados para a constru-ção de sua consciência crítica e cidadã, aprimoramento educacional, lazer e atividades físicas, culturais e sociais. Além de serem chocantes esses casos, representam uma péssima perspectiva quanto ao futuro da sociedade.

Nas cidades de grande porte, como Rio e São Paulo é notável visualizar os

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problemas sociais, tal constatação é ainda mais explícita, onde as divergên-cias sociais convivem tão próximas. Neste contexto, inclusive, de extrema exclusão social, destaca-se o fenômeno da marginalização.

Torna-se interessante destacar, que o fl uxo migratório ocorrido mais in-tensamente nas décadas de 60 e 70 tem parte de culpa na desigualdade subsequente. Pois em busca de trabalho, parte da população das regiões menos industrializadas ou rurais ocupou as cidades, e o Poder Público não conseguiu acompanhar a dimensão dessa transformação.

As estruturas de habitação, saúde, saneamento, lazer, transporte não su-portaram o aumento da densidade populacional, fazendo com que muitos passassem a viver em condições precárias. De acordo com Maria Lucia Menezes1, as condições sociais deploráveis iniciaram desde a colonização, passando pela abolição da escravatura e chegando até os dias de hoje.

De Acordo com Cerqueira e Lobão2, a heterogeneidade é um dos moti-vadores da criminalidade. Com a mistura de culturas existente no país, a diversidade de origens e conceitos, pode resultar em uma má formação de caráter que propicie a criminalidade.

Vê-se que o ímpeto da juventude, também é considerado um fator cultu-ral associado à criminalidade. Em razão da formação de caráter ainda não constituída, é relacionada à própria idade a falta de medo, de se envolver em atividades ilícitas.

1 MENEZES, 20012CERQUEIRA & LOBÃO, 2004

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Psicologicamente, é mais fácil convencer e aliciar uma criança ou um ado-lescente a praticar um ato criminoso do que um adulto, quando este já possui seus valores morais estabelecidos.

1.2 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃODiante do que foi citado, acredita-se que dentre os deveres do Estado, cer-tamente o dever de fornecer educação de qualidade é um dos mais essen-ciais e mais determinantes quanto à não opção por uma vida de práticas criminosas. Tendo por objetivo desenvolver princípios que irão nortear a formação do caráter dos jovens e crianças.Por meio do art. 205 da Constituição Federal, fi ca estabelecida o direito à educação, conforme pode-se analisar, in verbis:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da famí-lia, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifi cação para o trabalho.

O Direito à Educação é um Direito Fundamental, e, atingindo seu objetivo, proporcionará certamente à diminuição substancial do número de crianças e adolescentes envolvidos à prática criminosa, pois ele direciona para outro Princípio Constitucional: o da Dignidade Humana. Nesse sentido, sábias e belas são as palavras de Dallari:

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Para os seres humanos não pode haver coisa mais valiosa do que a pessoa humana. Essa pessoa, por suas características naturais, por ser dotada de inteligência, consciência e vontade, por ser mais do que uma simples porção de matéria, tem uma dignidade que a colo-ca acima de todas as coisas da natureza. Mesmo as teorias chamadas materialistas, que não querem aceitar a espiritualidade da pessoa humana, sempre foram forçadas a reconhecer que existe em todos os seres humanos uma parte não material. Existe uma dignidade inerente à condição humana, e a preservação dessa dignidade faz parte dos Direitos Humanos”3

2 - O ECRIAD: MEDIDAS DE PROTEÇÃO E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.

De acordo com o ECRIAD, as medidas de proteção e medidas socioedu-cativas são exatamente para adequar as necessidades especiais dos adoles-centes e crianças. Entretanto, as críticas baseiam-se na maneira como elas são realizadas no Brasil.Tanto as estruturas da Internação quanto as condições oferecidas pelas me-didas mais brandas não cumprem o objetivo da legislação e, em razão dis-so, não conseguem nem punir, nem recuperar os jovens infratores.

2.1 PENAS ALTERNATIVAS O Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelecido pela Lei nº 8.069/90, fora editado visando à proteção integral da criança e do adolescente. O art. 104 do ECRIAD assim estabelece: “Art. 104. São penalmente inimputá-veis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.”

3DALARI, 1985, p.21

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O ECRIAD prevê sempre o direcionamento de medidas pedagógicas em detrimento das punitivas, conforme visto no art. 101, in verbis:

Art. 101. Verifi cada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autori-dade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de respon-sabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;

III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento ofi cial de ensino fundamental;

IV - inclusão em programa comunitário ou ofi cial de auxílio à famí-lia, à criança e ao adolescente;

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa ofi cial ou comunitário de auxílio, orien-tação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII - abrigo em entidade;

VIII - colocação em família substituta.

Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utili-zável como forma de transição para a colocação em família substi-tuta, não implicando privação de liberdade.

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2.2 INTERNAÇÃODentre as medidas privativas de liberdade, destaca-se: a internação que muito é discutida quanto à aplicação dessa prática no Brasil em razão de di-versos aspectos, tais como despreparo das Entidades Responsáveis, a pos-sibilidade de contato com pessoas mais corrompidas pela criminalidade, a falta de atividades que realmente direcionem para o aspecto pedagógico.

O ECRIAD ainda dispõe de outras formas de punir as crianças e os adoles-centes através de penas tidas como alternativas à internação, denominadas, conforme texto legal, como medidas socioeducativas. Tais medidas podem ser observadas conforme disposição da TABELA 1.

2.3 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS x PENASurge diante disso, o seguinte questionamento: o que é mais efi caz as me-didas socioseducativas ou a pena? De um lado, medidas que preveem a proteção dos jovens, entretanto sem a estrutura que lhes seria recomendá-vel, de outro a aplicação de penas privativas de liberdade, que podem com-prometer de maneira irreparável a construção da personalidade do menor

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infrator. É importante analisar os argumentos contrários e favoráveis às duas práticas.

De acordo com Oliveira4 as medidas socioeducativas servem para reeducar e dar condições de reincidir os menores infratores na sociedade. Possuem a intenção de não colocar em contato menores com outros com maior ex-periência criminosa.

Entretanto, o mesmo autor afi rma que tais medidas só serão capazes de produzir efeitos positivos se forem corretamente aplicadas e dotadas de estrutura sufi ciente para proporcionar mudanças na vida desses jovens.

A Ordem dos Advogados do Brasil apóia a internação de menores infrato-res, acreditando na maior efi cácia deste método em oposição às medidas menos punitivas.

3 - A POLÊMICA DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Em virtude de uma série de crimes violentos cometidos por menores de 18 (dezoito) anos, ou com a participação destes, tem-se discutido a necessida-de da diminuição da faixa etária penal, propiciando assim, a responsabili-dade para os menores de dezoito anos. Para tanto, é fundamental que haja uma execução efetiva das medidas socioeducativas, cumprindo-se com competência as disposições penais existentes. Tem-se então duas correntes a serem discutidas.

4OLIVEIRA, 2009

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3.1 CORRENTE FAVORÁVELAo acompanhar os jornais, as notícias relacionadas a crimes praticados por crianças e adolescentes são cada vez mais constantes.

Ao longo do presente estudo, procurou-se entender as razões motivadoras da prática criminosa por esses jovens sob diversos enfoques, entretanto, parte da corrente doutrinária e social acredita que, a maioridade penal sen-do imputável aos maiores de 18 anos, é um fator que fomenta as ações desses jovens.

Grandes juristas nacionais são favoráveis à redução da maioridade penal dentre os quais destacam-se Miguel Reale.Os argumentos utilizados na defesa de suas concepções baseiam-se pri-meiramente no desenvolvimento tecnológico e biotecnológico, na globali-zação econômica e cultural, no fi m do socialismo e a derrubada da maioria dos governos ditatoriais, na conquista do espaço, fazem com que o acesso à informação, principalmente aos mais jovens, seja quase compulsivo.

Nesse sentido, os autores comungam da ideia de que, um jovem de 16 anos possui, em razão do nível de informação que tem acesso, maturidade sufi -ciente para discernir sobre o correto e o errado.O ilustre Reale, ainda em 1991, assim já pensava sobre o tema a contento:

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No Brasil, especialmente, há um outro motivo determinante, que é a extensão do direito ao voto, embora facultativo aos menores en-tre dezesseis e dezoito anos, como decidiu a Assembleia Nacional Constituinte para gáudio de ilustre senador que sempre cultiva o seu ‘progressismo’(...). (...) Aliás, não se compreende que possa exercer o direito de voto quem, nos termos da lei vigente, não seria imputável pela prática de delito eleitoral.(...)Tendo o agente ciência de sua impunidade, está dando justo mo-tivo à imperiosa mudança na idade limite da imputabilidade penal, que deve efetivamente começar aos dezesseis anos, inclusive, devi-do à precocidade da consciência delitual resultante dos acelerados processos de comunicação que caracterizam nosso tempo5.

A maturidade penal não exige uma capacidade de tomar decisões comple-xas, mas apenas a formação mínima de preceitos humanos. Uma importan-te afi rmação utilizada pelos defensores da Redução da Maioridade Penal é a informação fornecida pela ONU que considera 15,16 anos uma boa idade para haver imputabilidade penal.

3.2 CORRENTE CONTRÁRIA Já a corrente contrária à Redução da Maioridade Penal baseia-se em alguns aspectos, dentre os quais destacam-se: A inimputabilidade não signifi ca impunidade; o que deve ser combatido são as causas, as origens que le-vam à criminalidade, não ao contrário; devem ser aumentadas, revistas e reestruturadas as medidas socioeducativas; os aliciadores iriam procurar jovens ainda com menos idade para iniciar no mundo do crime.

5REALE, 1991, p.138

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De acordo com Saraiva6, nenhum dos argumentos levantados pelos favorá-veis à redução realmente acabariam com a origem do problema, entretanto, acredita que medidas devem ser tomadas, porém sempre na tentativa de reeducar os jovens.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo buscou identifi car alguns aspectos envolvidos no tema Redução da Maioridade Penal.

Discutir a redução da maioridade penal constitui uma tarefa que requer estudo meticuloso, retirando o sensacionalismo da mídia e do clamor emo-cional de crimes bárbaros praticados por jovens pode-se refl etir sobre a melhor solução para o constante problema social.

Entende-se que o aumento da criminalidade acompanha o aumento da par-ticipação de crianças e adolescentes na prática criminosa, e que a socieda-de encontra-se emotiva em relação aos últimos acontecimentos bárbaros envolvendo a participação de menores de 18 anos.Visto que a capacidade de discernimento do menor, o fi rmamento de sua personalidade, bem como as oportunidades de educação e lazer, aliados às condições econômicas, são de grande importância para que não ocorra a sua inserção na criminalidade.

6SARAIVA, 1998

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A sociedade vê-se diante de um dilema, em que as condições de vida estão cada dia mais propícias à criminalidade, entretanto, não acredita ser justo utilizar tal argumento como justifi cativa para a prática de monstruosidades.O Estado, diante de suas funções, certamente, é o grande responsável pelo aumento assustador dos atos ilícitos, pois não fornece o que está previsto em sua própria Constituição.

Entretanto, cabe ressaltar, que o Estado é uma pessoa jurídica constituída por representantes que nós direcionamos. Diante de tal fato, toda a socie-dade acaba por ser vítima e réu.

As argumentações quanto à redução da maioridade penal possuem exce-lentes fundamentos.

Da mesma forma, a corrente contrária a Redução, apega-se aos valores so-ciais e educativos, princípios estabelecidos pela nossa Constituição Federal.

É interessante observar os argumentos daqueles que defendem que é ne-cessário sim que ocorram alterações no sistema, entretanto não necessita ser exatamente na mudança da lei quanto à imputabilidade penal.

São diversos fatores que têm de ser revistos e alterados, de imediato, tanto para coibir, quanto para reeducar e punir as crianças e os adolescentes infratores.

Aspectos como a educação, melhor distribuição de renda, empregabilida-de, melhoria de condições habitacionais devem ser revistas para evitar que novos jovens optem pelo caminho da ilicitude.

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Conclui-se que somente quando o atual sistema previsto pelo ECRIAD, que tem em sua elaboração as melhores intenções possíveis, for bem apli-cado e reestruturado, há de haver enfi m, seus objetivos alcançados.

REFERÊNCIAS

CERQUEIRA, Daniel e LOBAO, Waldir. Determinantes da criminalidade: arcabouços teóricos e resultados empíricos. Dados. [online]. 2004, vol. 47, no. 2 [cited 2007-06-07], pp. 233-269. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582004000200002&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0011-5258. > Acesso 20mai09

DALLARI. Dalmo de Abreu. Teoria Geral do Estado. Saraiva, São Pau-lo.1985.

MENEZES, Maria Lucia Pires. Revista Electrónica de Geografía y Cien-cias Sociales. Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] Nº 94 (85), 1 de agosto de 2001 > Diponível em > http://www.ub.es/geocrit/sn-94-85.htm > Acesso em 20maio09

OLIVEIRA, Raimundo Luiz Queiroga de. O menor infrator e a efi cácia das medidas sócio-educativas. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4584>. Acesso em: 21mai09

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Revista

REALE, Miguel Junior. Instituições de Direito Penal - PARTE GERAL - 3ª EDIÇÃO 1991

SARAIVA, João Batista Costa. A idade e as razões: não ao rebaixamento da imputabilidade penal. Jus Navigandi, Teresina, ano 2, n. 24, abr. 1998. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1650>. Acesso em:02jun09