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REDESCOBRINDO O PRAZER DA LEITURA

Autor: Cleide Schuhli Polato1

Orientador: Fábio Augusto Steyer2

Resumo

Para que o jovem retome o prazer de ler, é necessário que ele receba incentivo não

só dentro de casa, mas principalmente por parte de seus educadores. Os

adolescentes abandonam o hábito da leitura após deixarem o círculo escolar, o que

demonstra que a grande falha na prática da leitura está no processo de obrigar o

aluno a ler ao invés de incentivá-lo a ler. Assim, este artigo é o resultado do

trabalho de resgate do prazer do hábito da leitura, nos professores do Colégio

Estadual Coronel Amazonas - Ensino Fundamental e Médio, localizado em Porto

Amazonas – Paraná. O professor que lê e interage com o aluno de maneira natural

espontânea, desenvolverá no jovem esta prática e juntos irão redescobrir novos

horizontes, novo mundos e, sobretudo, o gosto por uma prática saudável que é a

leitura. Para que o aluno adquira realmente o hábito da leitura é preciso fazer

mudanças no educador, que deve aprender a incentivar no jovem a prática da leitura

e este deve ser seu principal incentivador, não somente como complementação ou

obrigação, mas sim, despertar no jovem o real gosto de ler, tanto em sala de aula

como também fora do ambiente escolar, em momentos que o educando sinta-se à

vontade para praticar a leitura sem a obrigação de cumprir o currículo escolar.

Palavras chave: professor – leitura – prazer em ler

REDISCOVERING THE PLEASURE OF READING

1 Pós-graduada em Literatura Brasileira e Língua Portuguesa.,Licenciada em Letras pela Unicentro/Irati/PR Professora do ensino médio e fundamental na rede pública do Paraná, com atuação no Colégio Estadual Coronel Amazonas, ensino fundamental e médio, no município de Porto Amazonas/PR2 Doutor em Letras (UFRGS). Professor no Departamento de Letras Vernáculas da UEPG.

Abstract

For the young resume the pleasure of reading, he must receive incentive not only

indoors, but mainly by their educators. Teenagers abandon the habit of reading the

circle after leaving school, which demonstrates that the major flaw in the practice of

reading is in the process of forcing the student to read rather than encourages you to

read. Thus, this article is the result of the rescue work of the pleasure of reading habit

in teachers Coronel Amazonas State School – Elementary and High School, located

in Porto Amazonas – Paraná. The teacher who reads and interacts with the students

in a natural spontaneous, this practice will develop in the young and together we will

rediscover new horizons, new worlds, and especially the taste for a healthy practice

reading and this should be the main driver of the student, not only as a complement

or obligation, but to awaken in young man like reading the real, both in the

classroom but also outside the school environment, at times when the students feel

comfortable to practice reading without the obligation to comply with the school

curriculum.

Keywords: teacher – reading – enjoy reading

O projeto de intervenção elaborado para o Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE 2010 tomou por base os números das pesquisas nacionais

sobre o gosto de ler do brasileiro e o questionário respondido por alunos e

professores do Colégio Estadual Coronel Amazonas – Ensino Fundamental e Médio,

da rede pública estadual de ensino da cidade de Porto Amazonas – Paraná e

constatou-se que é preciso investir no ato de leitura, confirmando a tese de Rubens

Alves (www.livroseafins.com/prazer-ler):

“Professores cumprem seus programas tentando ensinar à gramática. Ao cumprirem seus programas, não tem tempo ou mesmo interesse em despertar em seus alunos o prazer da leitura..”

Muitos professores também perderam esta prática ao longo dos anos.

Realizam leituras exclusivas de suas disciplinas e o fato de muitos obrigarem o ato

da leitura, faz com que os jovens educandos fujam deste momento por considerá-lo

uma obrigação.

De acordo com Lajolo (1997, p.07):

“Ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive. Se ler livros geralmente se aprende nos bancos das escolas, outras leituras se aprendem por aí, na chamada escola da vida: a leitura do vôo das arribações que indicam a seca - como se sabe, quem lê “Vidas Secas“ de Graciliano Ramos – independe da aprendizagem formal e se perfaz na interação cotidiana com o mundo das coisas e dos outros”.

Utilizando como referência a citação acima, deu-se início ao tema

desenvolvido. Antes de resgatar no jovem o hábito da leitura, foi preciso resgatar no

professor, que, assoberbado, lê apenas materiais de interesse disciplinar,

esquecendo a leitura prazerosa de outros temas.

O incentivo à leitura é essencial para a formação de leitores, porém é

necessário que a escola procure conscientizar seus alunos do valor da leitura e não

obrigá-los a ler. Para isso, o papel do professor foi fundamental nesta abertura de

novos caminhos. A troca de experiências em leituras diversas, entre os professores

da escola, proporcionou um momento enriquecedor e prazeroso. Apontou formas de

como utilizar técnicas de leitura e atividades lúdicas com os alunos. Dessa forma, o

professor percebeu que diferentes temas abrem novos caminhos e que podem ser

repassados em sala de aula.

Este artigo relata as atividades que foram desenvolvidas para auxiliar a

interação dos professores com a leitura, contribuindo assim com o resgate desse

hábito saudável, mas pouco praticado pelos docentes em atividade nos

estabelecimentos de ensino. Portanto, essa iniciativa de promover ações envolvendo

práticas de leitura facilitou a integração do professor com o aluno através do trabalho

com diferentes textos, além daqueles sugeridos apenas para complementação

didática, como por exemplo: leituras de gibis, revistas populares, livros de

conhecimentos gerais, leitura de imagens e outras. Isso fará com que a curiosidade

em adquirir novas informações aproxime os leitores cada vez mais do mundo

literário.

Tomando por base os números das pesquisas nacionais sobre o gosto de ler

do brasileiro iniciou-se uma sondagem investigativa através de questionários com

perguntas referentes aos hábitos de leitura dos alunos das últimas séries do ensino

fundamental, alunos do ensino médio e professores das disciplinas de História,

Geografia, Biologia, Ciências, Matemática, Química, Física, Filosofia, Língua

Inglesa, Artes, Educação Física, Sociologia e Língua Portuguesa.

No questionário para os alunos constavam as seguintes questões:

Você está cursando o:

Ensino ( ) Fundamental ( ) MédioCostuma ler livros? Sim ( ) Não ( )Série: _________Quantos livros lê por ano: ( ) um ( ) dois ( ) mais de três outros ________Lê livros sobre temas escolares apenas? ( ) Sim ( ) NãoCostuma ler jornais e revistas diariamente? ( ) Sim ( ) NãoRecebe incentivo para ler? ( ) Sim ( ) Não De quem? ( ) Pais ( ) Professores ( ) amigosQuais livros leu recentemente? Cite-os 1______________________________________________________2______________________________________________________3______________________________________________________4______________________________________________________

E as questões destinadas aos professores foram:

Leciona no ensino: ( ) Fundamental ( ) MédioDisciplina_______________________________________________Você costuma ler com freqüência? ( ) Sim ( ) NãoEm média, quantos livros lê anualmente? _______________________________________________________

Os temas lidos são específicos da disciplina que ministra?Quantas horas por dia você costuma dedicar à leitura?Você tem o hábito de passar para seus alunos livros ou textos para que eles leiam?Com qual objetivo estes textos ou livros são passados?Quais livros leu recentemente? Cite-os:1) _____________________________________________________2) _____________________________________________________3) _____________________________________________________4) _____________________________________________________

Tais questionários forneceram um conhecimento real do nível de leitura

praticado pelo público alvo, onde fica evidenciado que para quem lê estabelecendo

uma relação harmônica entre as letras, o resultado é satisfatório. Porém, quando

não existe um domínio entre leitor e o texto apresentado, o ato torna-se um suplício

onde o único prazer é que a leitura acabe logo.

Assim percebe-se exatamente o que Rubens Alves diz em seu blog

(http://pagina-de-vida.blogspot.com.br/2007/05/o-prazer-da-leitura-rubensalves.html):

“ ... quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para os seus alunos tenham o

o prazer no texto, tem de ser um artista.Só deveria ler aquele que está

. possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida

nas nossas escolas a prática dos “concertos de leitura”.Se há concertos de

música erudita, jazz – por que não concertos de leitura? Ouvindo,os alunos

experimentarão o prazer de ler.”

Entende-se, então, que a relação entre ensinar a ler e o prazer em

ensinar a ler é ato indissolúvel. A forma de como lemos para nossos alunos será

aquela que formará neles o gosto ou a aversão pela leitura.

De posse dos questionários3 e após análise das respostas obtidas,

observou-se que os alunos em sua maioria leem. Seja por obrigação escolar ou por

prazer. Recebem incentivos em casa e na escola para a prática da leitura e

costumam ler revistas e outros livros, além dos temas escolares. Em suas respostas

aparecem leituras de romances como Inocência, O Cortiço e outros mais atuais,

como a série Crepúsculo e Harry Potter. Já entre as respostas dos professores os

livros apontados em sua maioria são específicos da disciplina que lecionam. Uma

3 O leitor encontrará exemplos de questionários ao final deste artigo, nos anexos.

minoria dos docentes se dedica a uma literatura prazerosa. O que é lamentável, pois

se os responsáveis pelo incentivo de ler não possuem o hábito e apenas se dedicam

ao essencial para sua formação específica, torna-se difícil até mesmo para

discussões além do tema exposto nas aulas. As argumentações precisam de boas

fundamentações, e isso só se adquire com muita leitura. Partindo desse princípio,

foram realizadas atividades entre os professores, visando desenvolver o resgate do

prazer pela leitura. Atividades como leitura de revistas, jornais, gibis ou fragmentos

de textos de livros em geral, em momentos de descontração e sem compromisso

didático. Ficou evidenciado a partir daí que o aluno sente prazer em ler e que

entende o conteúdo apresentado. Possui conhecimento, não só do assunto que

domina devido a um aprendizado acadêmico específico. O professor tem que

demonstrar, em sala, que o simples ato de ler o eleva a condição de poder discutir

vários assuntos. Nada impede, por exemplo, que o professor de matemática discuta

com seus alunos o que está acontecendo no Oriente Médio. Através da leitura de

um simples texto jornalístico, ele exemplificará ao aluno que mesmo não estando o

tema dentro de sua área específica, não foi impedido de discutir o tema.

Hoje o problema maior é que o professor condiciona o ato da leitura ao

sistema de avaliação e isso faz com que o aluno leia apenas por obrigação. Ele lê

apenas para o momento visando uma nota. Com certeza a leitura deveria estar

associada ao processo de ensino e não condicionada ao sistema de avaliação.

Engana-se o professor que, obrigando o aluno a ler como parte de sua forma de

avaliação, funcione como incentivo a prática da leitura. Pura ilusão, pois certamente

ele lerá os textos apresentados, mas somente para obter uma aprovação ao final do

processo de avaliação.

A leitura deve ser uma conquista do professor, ele deve, juntamente com

o aluno, criar este hábito e assim desenvolver no jovem o gosto pelo ato de ler

simplesmente para adquirir outros conhecimentos, conhecer outras culturas, outros

povos, outros mundos.

Porém, ao se deparar com professores que não tem o hábito da leitura, o

problema passa a ser maior do que se imagina. Como levar ao aluno o prazer de ler

se os próprios educadores são leitores fracos e não possuem tal hábito?

Tentando resolver este problema, após a realização dos questionários e com

base nas respostas dos professores e dos alunos das séries finais do ensino

fundamental e ensino médio4, foi possível traçar algumas metas para oferecer

estímulo ao educador e assim desenvolver o gosto e a volta do prazer pela leitura.

Desenvolver no professor este gosto, para que ele, através de suas aulas,

coloque nos jovens o hábito de ler, seja um livro, uma revista, jornais ou até mesmo

catálogos de ofertas, o que realmente importa é o contato entre texto e leitor. O

professor que lê e interage com o aluno de maneira natural, desenvolverá no jovem

esta prática e juntos, irão redescobrir novos horizontes, novos mundos e, sobretudo,

o gosto por uma prática saudável que é a leitura.

Sugere-se que, nesse processo, o professor utilize de leitura simples, de

historinhas que nos remetem a nossa infância. Importante ainda a troca de

impressões sobre obras antigas e atuais, estabelecendo paralelos entre elas. No

entanto, observou-se que o trabalho específico realizado com a classe educadora no

resgate pelo gosto da leitura foi uma tarefa um pouco difícil, e o argumento mais

utilizado por eles foi a falta de tempo.

O professor se preocupa exclusivamente em cumprir seu conteúdo e o

ensino da gramática passa a ser mais importante, ficando de lado a prática da

leitura.

Ao saber as funções do “SE”, do “QUE” e outras regras gramaticais, o aluno

fica cada vez mais aterrorizado com a Língua Portuguesa, pois a grande maioria dos

professores não associa o ensino das regras gramaticais com a leitura de uma boa

história. É preciso ai o interesse do professor em fazer esta associação, desde que o

mesmo também se desperte para o ato prazeroso da leitura. Ao ensinar à gramática,

não pode ser deixada de lado a sugestão de bons livros para nossos alunos. Ler por

nota, ler como castigo e até mesmo para preencher o tempo. É dessa forma que tem

sido utilizada a técnica do incentivo à leitura.

A criação de grupos de leitura entre educadores foi uma forma mais viável

encontrada como uma aproximação do professor com a leitura. Uma leitura

descompromissada e prazerosa. Ato prazeroso que foi sendo deixada de lado,

talvez pelo excesso de trabalho ou até mesmo devido as horas dedicadas a leitura

para a preparação de suas aulas.

Como uma alternativa para a falta de tempo, foi sugerido ao professor que

ocupasse uma parte de suas horas atividades, que pudesse dispor no

4 O leitor poderá encontrar exemplos dos questionários, do aluno e do professor, no final desse artigo nos anexos.

estabelecimento de ensino, para a leitura de alguns temas sugeridos pelo grupo.

Este foi o primeiro passo.

Com temas diferentes das aulas que leciona, a utilização de 10 (dez) ou 15

(quinze) minutos das horas atividades foram destinadas à leitura, com o objetivo de

fazer o professor, aos poucos, retomar o gosto e o prazer pela leitura. Após a fase

de leitura, foi determinada uma data para que os professores se encontrassem para

trocarem entre si as experiências obtidas através da leitura desenvolvida.

Outro passo muito importante após a leitura foi a participação de todos os

envolvidos no grupo de leitura em chás literários.

A participação em chás literários dos professores participantes foi muito

enriquecedora e gratificante. A escolha das obras lidas pelos participantes ficou livre.

Cada professor, após apresentação do nome do livro e do autor, contava aos outros

colegas um resumo do que leu e sua impressão sobre a obra. Após suas

ponderações, todos os presentes também opinavam a respeito do tema exposto. E

assim sucessivamente. Tendo todos os professores presentes trocado informações

sobre seus livros escolhidos para a exposição durante o chá literário, seguiam-se

sugestões de novos temas para as reuniões seguintes. Alguns dos temas sugeridos

vão de obras de romancistas modernos e até livros de autoajuda. Estes últimos

foram os preferidos para serem discutidos nos encontros. Debates e sinopses sobre

diferentes temas abordados e sugeridos pelos docentes demonstraram que tudo é

possível, desde que haja empenho e boa vontade de todos. Além das leituras,

durante este encontro os professores trocaram informações sobre os materiais já

lidos e formas de como passar para o aluno o gosto da leitura, sem que a mesma

pareça uma obrigação. O encontro serviu também como forma de aproximação do

corpo docente do colégio.

Trabalhos de leitura em sala de aula com os alunos também contribuíram na

interação do professor com o aluno e de ambos com o ato da leitura. Essa interação

entre professor e aluno, envolvidos nesse processo, aconteceu nos minutos finais da

aula, onde em conjunto desenvolveram atividades de leitura, com temas diferentes

da disciplina ministrada pelo docente.

Faltando entre dez ou quinze minutos para o término da aula, o professor

propôs aos alunos uma leitura rápida. Uma matéria de jornal, revista ou um capítulo

de um livro. A leitura pode ser feita em conjunto, com material previamente

preparado e após isso, uma discussão sobre o que foi lido.

O tema trabalhado sempre foi adverso ao conteúdo específico da

disciplina que o professor ministrava. No início desta interação com o aluno, o

professor sugeriu leituras de matérias jornalísticas, isso fez com que o aluno ficasse

por dentro dos acontecimentos e assim descobrindo que ler, também pode ser uma

atividade prazerosa, que o manterá informado. A discussão dos assuntos

apresentados aos alunos foi importante para que o professor desenvolvesse neles a

capacidade de interpretação e compreensão do que foi lido.

Contar histórias, mostrar e conhecer novos mundos: estes foram os

primeiros passos tomados no processo da leitura para a aproximação do professor

do ato prazeroso de ler e deste modo, também facilitou um envolvimento com seus

alunos, mostrando a todos que o simples ato de ler pode e é tão prazeroso quanto

uma brincadeira de bonecas ou uma partida de futebol.

Ler transforma o ser humano, cria novas perspectivas e forma um bom

cidadão. O professor deve ser o elo entre o aluno e o prazer de ler, mas antes de

tudo, ele deve gostar da leitura, e, por isso, precisa redescobrir que já foi um leitor

voraz.

A leitura está na vida do ser humano desde seus primeiros passos. Ainda

crianças, nossos pais lêem histórias para nos acalmar, ou simplesmente para nos

fazer dormir. Vamos crescendo e as histórias contadas para nós vão formando

nosso imaginário. Sonhamos em ser reis ou rainhas, sonhamos ser um pirata e

assim por diante. É o fascinante mundo da leitura, que desponta aos nossos olhos e

nos faz viajar nas letras.

Na fase escolar, em que se aprende a ler, nos deparamos com um mundo

diferente. As histórias que faziam parte de nossa infância ficam de lado e passamos

a ler coisas que até então desconhecíamos. Temos que aprender o alfabeto, a

gramática, enfim nossas primeiras letras e nossas palavras. A leitura, muitas vezes

proposta por nosso primeiro professor em sala de aula, deixa de ter o encanto de

nossas fantasias. É a partir deste momento que a leitura prazerosa perde seu

encanto e nos deparamos com o compromisso de dever ler. Para Mário A. Perini os

livros didáticos são em parte responsáveis pelo desinteresse da leitura e pelo

desenvolvimento de leitores funcionais, como consta no livro: Leitura- Perspectivas

Interdisciplinares:

Diz o autor (1991, p.81):

“Todas essas características descrevem, na verdade, o livro didático: o único

tipo de material escrito com o qual os alunos têm oportunidade de um convívio

relativamente intenso e prolongado...”

Se um aluno só se aprende a ler, lendo e sendo o livro didático o recurso

mais próximo de que o aluno dispõe, deve-se, portanto, possuir uma linguagem

funcional e ter um planejamento antes de seu uso em sala de aula. É importante

lembrar que todos os professores de todas as disciplinas têm o dever de

desenvolver seus temas com ênfase na leitura.

De fato, ninguém nasce sabendo ler, aprende-se! Quer seja nas carteiras

escolares, quer na escola da vida. Vale, no entanto, ressaltar que ao aprender a ler

a criança começa uma nova experiência em sua vida, a de descobrir outras

maravilhas, outros lugares e outros mundos. Antes mesmo de começar a ler, a

criança fica fascinada quando ouve uma história contada por alguém, isso porque

ela fantasia com as novas informações adquiridas.

Infelizmente, é que durante todo esse processo de receber, assimilar e

trocar as experiências e conhecimentos pela leitura, acontece uma quebra num

determinado momento, onde boa parte ou até mesmo a maioria dos leitores perdem

o interesse pelos livros. Provavelmente em decorrência do fator nota, obrigação ou

avaliação.

Como parte deste círculo vicioso na divulgação da leitura, o desinteresse de

alguns docentes, quanto ao ato de ler, está relacionado com o fato errôneo de

acharem que a leitura e o incentivo da mesma pertencem exclusivamente às aulas

de Língua Portuguesa. Sendo todos educadores, independente de nossa formação

devemos todos ter o comprometimento e o envolvimento prazeroso com a leitura.

Durante todo o desenvolvimento da implementação do projeto encontrei

algumas dificuldades. A princípio a ideia principal seria trabalhar com professores

dos dois estabelecimentos de ensino da rede pública estadual, do município de

Porto Amazonas – Paraná. Mas antes mesmo do término de conclusão do projeto, a

opção de aplicação do projeto no Colégio Estadual Coronel Amazonas – Ensino

Fundamental e Médio, se fez mais viável para uma implementação mais satisfatória.

Seria fantasioso dizer que o resultado da implementação foi de cem por

cento na adoção da proposta da leitura, pelos professores do estabelecimento de

ensino. Todos foram unânimes em afirmar sobre a necessidade em ler mais,

entretanto alguns alegaram falta de tempo e sobrecarga de trabalho para se

dedicarem a qualquer tipo de leitura alheia a sua disciplina. Outros usaram como

argumentos atividades extraclasse e compromissos da vida pessoal.

Porém, não seria correto e justo afirmar que essa dificuldade é única e

explícita deste colégio ou deste município. Em conversa informal, com professores

de curso de graduação, mais especificamente do curso de Letras, boa parte dos

acadêmicos não querem e nem demonstram interesse na leitura das obras literárias

indicadas na complementação do currículo do curso. Alguns afirmam que somente

os resumos dos livros já são suficientes. E o mais dramático é ouvir essa mesma

afirmação de docentes já graduados, pós-graduados e até mesmo de colegas que

fazem cursos de formação continuada.

Assim, pode-se concluir que toda vez que é apresentada alguma forma

diferente de trabalhar um tema já conhecido de maneira descontraída e prazerosa,

sempre será recebido com desconfiança e pouco interesse pelos docentes.

Principalmente se a proposta solicitar a ausência de uma rotina escolar.

Por outro lado, e com muita satisfação, existem aqueles professores que

sempre estão dispostos a colaborar e a participar de tudo o que é proposto. São

aqueles profissionais que fazem do ambiente escolar uma promessa e esperança de

que sempre há como melhorar não somente o rendimento escolar, como também a

qualidade de trabalho. Essas atitudes foram as que tornaram o projeto mais que

uma proposta, mas uma meta para ampliação e aproximação do conhecimento

pessoal e profissional dos docentes através da leitura

A semente do projeto foi lançada e levará algum tempo até os frutos serem

colhidos. O que realmente importa é que novos leitores vorazes surgiram após a

implementação deste projeto de redescobrir o prazer pela leitura.

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ANEXOS