redes sociais e educaÇÃo para a cidadania
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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO
GIULIANO PAULINO COAN
REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
UNISAL
Americana 2014
GIULIANO PAULINO COAN
REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA
Dissertação apresentada ao Centro Universitário Salesiano de São Paulo − UNISAL, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, sob a Orientação do Prof. Dr. Renato Kraide Soffner.
UNISAL Americana
2014
Coan, Giuliano Paulino.
C583r Redes Sociais e Educação para a Cidadania / Giuliano Paulino Coan. Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2014.
127 f. Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL/SP. Orientador: Prof. Dr. Renato Kraide Soffner. Inclui bibliografia. 1.Educação para a Cidadania. 2. Redes Sociais. 3.
Educação Sociocomunitária. 4. Mobilizações e Manifestações Sociais. I. Título.
CDD 370.193
Catalogação elaborada por Lissandra Pinhatelli de Britto – CRB-8/7539
Bibliotecária UNISAL – Campus Maria Auxiliadora
Giuliano Paulino Coan
Redes Sociais e Educação para a Cidadania.
Dissertação apresentada ao Centro Universitário Salesiano de São Paulo − UNISAL, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação.
Orientador: Prof. Dr. Renato Kraide Soffner. Dissertação aprovada em 07/03/2014 pela comissão julgadora:
Banca Examinadora Prof. Dr. Marcos de Carvalho Dias
___________________________________________________________________
Membro externo – FATEC Americana
Profa. Dra. Maria Luísa Amorim Costa Bissoto
___________________________________________________________________
Membro interno – UNISAL
Prof. Dr. Renato Kraide Soffner
___________________________________________________________________
Orientador - UNISAL
Americana
2014
Dedico este trabalho:
À Deus, que me deu fôlego de vida para estudar e poder apresentar este trabalho.
Aos meus pais Carlos e Jael, pela paciência com os estudos na escola e em especial à minha mãe que é uma guerreira e lutou muito pela minha educação.
Ao meu irmão Carlos, que me incentiva em todos os momentos da minha vida e que é um exemplo para mim.
Aos meus avós Ernani, Nelly, José e Antonieta, que souberam semear em minha vida muitas coisas, até mesmo em orações.
À minha tia avó Sílvia, que de seu leito de morte ainda me falava da importância de estudar.
À minha amada esposa Juliane, minha incentivadora, que está sempre ao meu lado; é minha Fã número 1.
Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus
em Cristo Jesus para convosco.
(1 Tessalonicenses 5:18)
AGRADECIMENTOS
Ao Espírito Santo de Deus, pela inspiração para ingressar no Mestrado, inicialmente como aluno especial e depois aluno regular.
À minha mãe Jael que, em todo tempo, profetizava que eu seria alguém na vida. Obrigado Mãe!
A todos os educadores que me deram a oportunidade de ingressar no Departamento de Marketing do UNISAL de Americana/SP aqui representados por: Pe. Gilberto Pierobom, que foi Reitor do UNISAL, por quem tenho um carinho muito grande pela pessoa que é e pelo trabalho que desenvolve na Instituição; ao Professor Doutor Carlos Augusto Amaral Moreira que foi meu primeiro diretor acadêmico, com quem convivi em outras IES; ao Professor Mestre Flávio Rossi, nosso primeiro coordenador de marketing; André, Marinelza, Cássia, Fernando, Luciana e a todos os colegas de marketing; ao Professor Mestre Jorge Tannus Júnior que me indicou para começar a lecionar nesta casa; ao Professor Mestre Paulo Tomaziello querido coordenador, aos Professores e colegas do curso de Publicidade e Propaganda; ao Pe. Marco Biaggi, por todas as oportunidades que me deu até hoje na minha carreira e ao nosso Diretor de Operações, Professor Mestre Anderson Luiz Barbosa, que é, para mim, um exemplo de dedicação ao trabalho e de conhecimento como gestor do UNISAL.
Ao meu orientador Professor Doutor Renato Kraide Soffner sempre disposto a me atender e a me orientar em todos os momentos, além de ser um grande incentivador da tecnologia; ao Professor Doutor Severino Antonio Moreira Barbosa por ter tido o privilégio de assistir as suas aulas que foram muito marcantes e importantes em minha vida.
Aos membros da banca examinadora, professores doutores Marcos de Carvalho Dias e Maria Luísa Amorim Costa Bissoto, pela leitura e pelas contribuições oferecidas ao trabalho.
A todos os professores do Programa de Mestrado do UNISAL, por todas as excelentes aulas e por todo carinho. Em especial ao professor Marcos Francisco, por tudo o que aprendi em suas aulas.
Aos colegas do Mestrado em Educação, pelas contribuições e pelos trabalhos que fizemos juntos.
A todos que contribuíram de alguma forma para que chegasse até aqui.
Valeu a pena!
Movimentos sociais não são políticos, mas buscam a mudança de cultura.
Manuel Castells
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo contextualizar o tema “Redes Sociais e Educação para a Cidadania”, buscando resposta ao problema de pesquisa que intenciona analisar qual é o papel das redes sociais e demais tecnologias como meio para uma educação cidadã. O ponto de partida foram as mobilizações sociais ocorridas em junho de 2013 na cidade de Americana-SP. Foi feito um estudo bibliográfico seguido de uma pesquisa qualitativa, de tipo exploratório, com um roteiro semiestruturado e com a aplicação de um grupo focal. O estudo teve como objetivo conhecer qual foi a participação nos movimentos sociais de junho de 2013, como se mobilizaram, quais redes utilizaram e se alguém passou a se dedicar ou a se interessar pelas funções dos conselhos municipais ou outros espaços democráticos, que atualmente existem, fazendo vigorar a participação deles como cidadãos em suas comunidades. Tem como hipótese que as redes sociais podem ter uma papel decisivo no suporte aos movimentos sociais e comunitários, contribuindo para a cidadania e autonomia dos envolvidos nestas manifestações. Na primeira etapa da pesquisa, o objetivo foi verificar o perfil dos entrevistados, como se distribuem em relação ao gênero, idade, nível de escolaridade, ocupação profissional, local de residência, por meio da utilização de um formulário on-line. Em outra etapa houve a discussão das questões do roteiro no grupo focal, no qual foi perguntado quais redes sociais mais utilizaram durante as manifestações, se participaram de mobilizações em outras cidades, sua participação como cidadão nas manifestações e se as redes sociais contribuíram para a educação e à cidadania. Trata-se de um assunto atual, pois, as manifestações ainda ocorrem de forma pulverizada pelo país, e as redes sociais tem sido o canal de comunicação usado pela maioria dos manifestantes na organização dos encontros e das mobilizações. Os resultados alcançados demonstraram o quanto estes jovens estão interessados no que está acontecendo em nosso país e também estão envolvidos em reivindicar dos políticos respostas aos problemas que as cidades vêm enfrentando; alguns entrevistados, depois das manifestações, passaram a se envolver em ONG’s e partidos políticos, fazendo vigorar a sua participação como cidadão dentro da comunidade. Palavras-chave: Educação para a Cidadania. Redes Sociais. Educação Sociocomunitária. Mobilizações e Manifestações Sociais.
ABSTRACT
This work aims to contextualize the topic "Social Networking and Education for Citizenship" , seeking answers to the problem of research that intends to analyze what is the role of social networks and other technologies as a means for citizen education . The starting point was the social mobilizations that occurred in June 2013 in the city of Americana- SP . A literature study followed a qualitative, exploratory, with a semi-structured and with the application of a focus group was done. The study aimed to understand what was the participation in social movements in June 2013, as mobilized , including networks used and if someone began to devote himself or be interested in the functions of municipal councils or other democratic spaces that currently exist , making effective their participation as citizens in their communities . Have hypothesized that social networks can have a decisive role in supporting social and community movements , contributing to citizenship and autonomy of those involved in these demonstrations . In the first stage of the research , the aim was to investigate the profile of respondents , they are distributed in relation to gender , age , education level , occupation , place of residence , by using an online form . In another part there was discussion of the issues in the focus group script , which was asked which social networks most used during the demonstrations , it participated in demonstrations in other cities , their participation as citizens in the demonstrations and social networks contributed to education and citizenship . This is a current issue since , demonstrations still occur sprayed by country fashion, and social networks has been the communication channel used by most of the protesters in the organization of meetings and mobilizations . The results achieved demonstrate how these young people are interested in what is happening in our country and are also involved in claiming political responses to problems that cities are facing ; some respondents , after the demonstrations , began to get involved in ONGs and political parties , making effective their participation as citizens within the community . Keywords : Education for Citizenship . Social Networks . Socio-communitarian education. Social Movements and Manifestations.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Informações dos Entrevistados...................................................... 125
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Rede Centrada na Interação.......................................................... 40
Figura 2 Rede Centrada na Identificação.................................................... 41
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Evolução do Tempo com Relação à Tecnologia de Comunicação 42
Gráfico 2 Gênero dos Entrevistados............................................................. 118
Gráfico 3 Idade dos Entrevistados................................................................ 129
Gráfico 4 Cidade de Residência dos Entrevistados...................................... 120
Gráfico 5 Grau de Escolaridade dos Entrevistados....................................... 121
Gráfico 6 Trabalho dos Entrevistados............................................................ 122
Gráfico 7 Tempo de Trabalho dos Entrevistados........................................... 123
Gráfico 8 Renda Mensal dos Entrevistados.................................................. 124
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALAS Associación Latinoamericana de Sociologia ALCA Área de Livre Comércio das Américas ANPEd Associação Nacional de Pós¬-Graduação e Pesquisa em Educação ANPOCS Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
Sociais BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CBEs Conferências Brasileiras de Educação CCI Centro de Convivência Infantil CET Companhia de Engenharia de Tráfego COFINS Contribuição para Financiamento da Seguridade Social FAPESB Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da BahiaFNDC Fórum Nacional pela Democratização da ComunicaçãoFSM Fórum Social MundialIC Inteligência Coletiva IC Jr. Iniciação Científica Júnior INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação ISA International Sociological AssociationITS Instituto de Tecnologia Social do BrasilLASA Latin American Studies Association LTECS Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MEC Ministério da Educação MIT Massachusetts Institute of Technology MPL Movimento Passe Livre MS Ministério da Saúde MSN Microsoft Service Network MST Movimentos dos Sem Terra ONG’s Organizações Não Governamentais PEC Proposta de Emenda Constitucional PIS Programas de Integração Social PM Polícia Militar RMC Região Metropolitana de Campinas RTS Rede de Tecnologias Sociais SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SBS Sociedade Brasileira de Sociologia SNS Social Networking Sites SUS Sistema Único de Saúde TIC Tecnologia da Informação e Comunicação UNE União Nacional dos Estudantes UNIFACS Universidade Salvador USAID United States Agency for International Development
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................... 13 1. MOVIMENTOS E MOBILIZAÇÕES SOCIAIS E A QUESTÃO DA CIDADANIA........................................................................................................
16
1.1. Movimentos Sociais, Mobilização e Manifestação....................................... 16 1.2. Movimentos Sociais e Sociedade em Rede................................................. 28 1.3. Cidadania..................................................................................................... 30
2. REDES SOCIAIS, MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PODER............................. 32 2.1. Redes Sociais Digitais................................................................................. 33 2.2. Comunicação e Poder................................................................................. 45 2.3. Movimentos Sociais na Internet.................................................................. 47
2.3.1. Tunísia, onde tudo começou.................................................................. 47 2.3.2. A Revolução Egípcia.............................................................................. 48 2.3.3. Occupy Wall Street…………………………………………………………. 50
3. TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO.................................................... 55 3.1. Redes Sociais como Suporte aos Movimentos Sociais.............................. 62 3.2. Movimentos Sociais no Brasil em Junho de 2013....................................... 63 4. PESQUISA QUALITATIVA: GRUPO FOCAL SOBRE AS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS.............................................................................
72
4.1. Definição do Problema de Pesquisa........................................................... 73 4.2. Determinação do Objetivo .......................................................................... 73 4.3. Método de Pesquisa.................................................................................... 73 4.4. Procedimento de Coleta de Dados de Campo............................................ 74 4.5. Etapa I – Construção do Grupo e Determinação das Regras..................... 75 4.6. Etapa II – Roteiro Norteador da Discussão ................................................ 76 4.7. Etapa III – Discussão, Definição das Categorias e Apresentação dos Resultados..........................................................................................................
76
4.8. Etapa IV – Apresentação e Análise dos Resultados .................................. 76 4.9. Considerações sobre a Pesquisa Realizada............................................... 107 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 108 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 110 APÊNDICE A – Pesquisa socioeconômica no Google Drive....................... 114 APÊNDICE B – Etapa IV – Roteiro Norteador da Discussão........................ 116 ANEXO A – Etapa II – Apresentação do Perfil dos Entrevistado................. 118 ANEXO B – Etapa III – Apresentação do Perfil dos Entrevistado................ 125
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INTRODUÇÃO
As Redes Sociais e as Manifestações Sociais ocorridas no ano de 2013 e
suas correlações com a educação para a cidadania constituem o foco deste
trabalho.
Para tanto, se faz necessário realizar um breve levantamento histórico
acerca dos movimentos sociais no Brasil, no mundo e atualmente, posto que, em
pleno século XXI, as tecnologias deram voz às pessoas e aos manifestantes, que
passaram a utilizá-las como meios fundamentais de comunicação, com a intenção
de divulgação de suas ações, programação das mobilizações, bem como
disponibilização de fotos e vídeos dos seus principais acontecimentos.
Do mesmo modo, são abordadas as diferenças existentes entre Mídias
Sociais e Redes Sociais e também o papel da educação e da cidadania dentro
dessas manifestações.
Considerando a relevância das mídias e redes no contexto social este
estudo apresenta o seguinte problema de pesquisa:
Qual é o papel das redes sociais e demais tecnologias como meio para uma
educação cidadã?
Para responder a esta questão problema são apresentados os objetivos a
serem atingidos:
O objetivo principal almeja analisar a relevância das redes sociais na
organização e na condução das manifestações populares, ocorridas no Brasil, em
junho de 2013 e a possibilidade das redes sociais serem um instrumento para à
educação.
Como objetivo específico intenciona-se verificar como os integrantes do
grupo de manifestantes se distribuem em relação a gênero, idade, nível de
escolaridade, ocupação profissional, local de residência, quais redes sociais mais
utilizaram durante as manifestações e se participaram de mobilizações em outras
cidades.
Tem-se como hipótese elaborada para este estudo:
As redes sociais podem ter um papel decisivo no suporte aos movimentos
sociais e comunitários, contribuindo à cidadania e à autonomia dos envolvidos
nestas manifestações?
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A motivação para o desenvolvimento deste tema se baseia na percepção de
que o mesmo se justifica por ser bastante contemporâneo. Isto porque as
manifestações ainda continuam ocorrendo, tanto no Brasil quanto no mundo, e as
redes sociais têm sido um importante canal de comunicação, bem como têm
contribuído para todos os encontros e mobilizações em diversas áreas e segmentos
sociais do país.
Para a metodologia do estudo foi definido um levantamento bibliográfico
visando abordar os principais conceitos apresentados no trabalho, que são: os
movimentos sociais, mobilizações, manifestações e educação para a cidadania.
Também foi apoiada na aplicação de um grupo focal utilizando um roteiro
semiestruturado de entrevista.
Grupo focal que são pequenos grupos de pessoas reunidos para avaliar
conceitos e identificar problemas. Pesquisas desse gênero ocorrem em um lugar
previamente selecionado e o objetivo central é identificar sentimentos, percepções,
atitudes e idéias dos participantes a respeito de determinado assunto.
É necessário haver um moderador que administre o diálogo e estimule um
ambiente de troca, onde as pessoas se sintam à vontade para compartilharem suas
idéias e opiniões. O moderador é a peça-chave do sucesso de uma pesquisa
baseada em grupos focais. Os grupos selecionados para a pesquisa podem ser
homogêneos ou heterogêneos, dependendo do objetivo da pesquisa. Na maioria das
vezes é preferível ter pessoas de um grupo homogêneo na discussão.
A etapa final é a análise dos resultados. Ao final, o moderador constrói um
relatório contendo todo o material audiovisual e textual gerado na discussão e um
resumo dos comentários mais importantes, além de acrescentar suas conclusões e
recomendações.
Este trabalho está organizado da seguinte forma:
A Introdução apresenta a contextualização do tema, a justificativa, o objetivo
geral e os específicos, a hipótese, a metodologia adotada, bem como a estruturação
da dissertação.
O Capítulo 1 aborda conceitos dos Movimentos e as Mobilizações Sociais,
considerando as manifestações ocorridas em 1968 no Brasil, a participação dos
jovens nessas manifestações, os movimentos sociais, a sociedade em rede e a
questão da cidadania.
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O Capítulo 2 enfoca as Redes Sociais, as Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC’s), a Mobilização Social e o Poder, mencionando as tecnologias
de informação e comunicação, a comunicação e o poder, as redes sociais digitais e
os movimentos sociais na internet. Também apresenta os principais movimentos
ocorridos ao redor do mundo como na Tunísia, A Revolução Egípcia e o Occupy
Wall Street.
O Capítulo 3 apresenta as Tecnologias Sociais e a Educação, as redes
sociais como suporte aos movimentos sociais e os movimentos sociais no Brasil em
junho de 2013, bem como, exemplos de uso das tecnologias e a educação.
O Capítulo 4 apresenta os dados de uma pesquisa desenvolvida com alunos
e ex-alunos do UNISAL/Americana/SP e pessoas que participaram das
manifestações na cidade de Americana-SP e região. Para isso foi feito um grupo
focal com a intenção de discutir o tema das Redes Sociais e a questão da cidadania,
contudo, antes, foi necessário identificar o perfil dos entrevistados. Ao final são
transcritas as respostas na íntegra, bem como é promovida uma análise das
respostas em três categorias que são:
1. Educação e Cidadania.
2. Participação e envolvimento nas Manifestações.
3. Tecnologia e Redes Sociais.
Para a finalização desta dissertação são apresentadas as Considerações
Finais, seguida das Referências utilizadas para o estudo, do Apêndice contendo um
esboço do questionário que foi aplicado.
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1. MOVIMENTOS E MOBILIZAÇÕES SOCIAIS E A QUESTÃO DA CIDADANIA
1.1. Movimentos Sociais, Mobilização e Manifestação
De acordo com Johnson (1997), movimento social é:
Um esforço coletivo contínuo e organizado que se concentra em algum aspecto de MUDANÇA SOCIAL. Um movimento de reforma tenta melhorar condições em um sistema social, mas sem modificar seu caráter fundamental. Um exemplo comum seria as campanhas para igualar o encargo dos impostos na sociedade. O movimento de reforma contrasta radicalmente com um movimento revolucionário, cuja finalidade é alterar as características estruturais e culturais básicas de um sistema – como, por exemplo, tentando tornar socialista uma economia de Mercado capitalista. Nos Estados Unidos, por exemplo, surgiu um movimento de resistência para impedir mudanças nas leis que garantem às mulheres o direito ao aborto. (JOHNSON, 1997, p.155).
Enquanto que Mobilização, de acordo com o Dicionário Houaiss (2001, p.
300) significa preparar as tropas para a Guerra, arregimentar, por em movimento,
mobilizar-se; o termo Manifestação, segundo Mini Dicionário Houaiss (2009, p.1837)
significa ação ou efeito de manifestar-se, ato de dar a conhecer, de revelar, ato de
transparecer sentimento em uma atitude como por exemplo em comportamento de
ódio ou de alegria.
Movimentos sociais têm um cunho ideológico mais característico, pois,
apresentam mais maturidade organizacional, objetivos mais definidos e tendem a se
estender no tempo, já as Mobilizações são eventos de caráter mais urgente e com
estrutura organizativa relativamente pouco complexa.
Frank e Fuentes (1989) também apresentam um conceito, no qual, os
movimentos sociais podem ser ofensivos e defensivos. Os ofensivos são
constituídos de uma minoria; buscam uma transformação da ordem estabelecida,
uma vez que se propõem a buscar uma ordem melhor para si e para o mundo. Os
defensivos são constituídos pela maioria, que busca, por exemplo, proteger algumas
conquistas recentes. No eixo Sul-Sul estes movimentos se propõem a defender a
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subsistência de seus membros e se mostram contrários ao assédio da crise
econômica e da repressão política. Os movimentos ambientais também são
defensivos, pois buscam proteger o meio ambiente e manter a paz como, por
exemplo, os chamados “Verdes” na Alemanha, que constituem o partido da ecologia.
Podemos afirmar, então, que os movimentos sociais mobilizam seus
membros de forma defensiva / ofensiva contra uma injustiça percebida a partir de
um sentido moral compartilhado entre eles.
Frank e Fuentes (1989) citam a observação feita por Luciana Casteiina, uma
militante em muitos movimentos sociais: “Somos um movimento porque nos
movemos".
Os movimentos sociais são cíclicos em dois sentidos. Primeiro porque
respondem a circunstâncias do momento econômico, político e ideológico e, em
segundo lugar, porque estes movimentos tem vida própria, pois mobilizam as
pessoas em resposta às circunstâncias que por si só são cíclicas.
Como possuem vida própria, é possível compreender que tais movimentos
vão se debilitando, tanto em número como em poder, de acordo com o período
econômico em que vivem ou mesmo das suas conquistas.
Contudo, são cíclicos e podem reviver durante algum período de recessão
econômica, por exemplo, mas, principalmente, quando a recessão econômica afeta
negativamente a subsistência e a identidade dos povos é que os movimentos sociais
se tornam mais ofensivos, progressistas e socialmente responsáveis.
Com relação à composição de classe dos movimentos sociais no Terceiro
Mundo trata-se, principalmente, da classe popular, pois são pessoas que estão
submetidas a privações e a injustiças e, por este motivo, se mobilizam por meio dos
movimentos sociais. Isso tudo se soma ao peso das crises nacionais / internacionais
que afetam ainda mais estas pessoas de renda mais baixa, isso ficou comprovado
com o grupo focal que teve a sua maioria com renda de até dois salários mínimos.
As mobilizações desta classe da população são uma forma de defender,
muitas vezes, até a sua sobrevivência física e econômica como também a sua
identidade cultural.
Algumas cooperativas surgem dessas situações e buscam, de alguma
forma, ajudar especificamente no que se refere às necessidades básicas como, por
exemplo, o pão para a alimentação.
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Outros exemplos são os sacolões, no Rio de Janeiro, que atendem mais de
1.500 grupos sociais; na Índia, este tipo de sacolão está cada vez mais presentes
em mais de 600 mil aldeias de acordo com Frank e Fuentes (1989).
Quanto à transformação social destes movimentos, Frank e Fuentes (1989)
entendem que os movimentos são agentes importantes de transformação social,
pois preenchem os espaços vazios nos quais o Estado e outras instituições sociais e
culturais são incapazes de atuar pelos interesses de seus membros, ou por não
quererem fazê-lo.
Concluindo, os referidos autores afirmam que os movimentos sociais podem
ser cíclicos, transitórios, defensivos, mutuamente conflitivos e frágeis, mas, ao
mesmo tempo, formam novos laços que servem para transformar a sociedade de
hoje. E definem, ainda, que a contribuição dos movimentos sociais é fundamental
tanto na ampliação como na redefinição da democracia na sociedade civil.
Para Gohn (2011) a educação não se resume à educação escolar, realizada
na escola propriamente dita, que existem aprendizagens e produção de saberes em
outros espaços que é o espaço de educação não formal, que visa trabalhar com esta
concepção bem ampla de educação.
Um exemplo de educação em outros espaços educativos se faz pela
participação social em movimentos e ações coletivas que geram aprendizagens e
saberes. Há um caráter educativo nas práticas que se desenrolam no ato de
participar, tanto para os membros da sociedade civil, como para a sociedade mais
geral, e também para os órgãos públicos envolvidos, quando há negociações,
diálogos e até mesmo confrontos.
Na abertura do seu artigo “Movimentos Sociais na Contemporaneidade”,
Gohn estabelece uma premissa básica a respeito do que são os movimentos
sociais:
São fontes de inovação e matrizes geradoras de saberes. Entretanto, não se trata de um processo isolado, mas de caráter político-social. Por isso, para analisar esses saberes, deve-se buscar as redes de articulações que os movimentos estabelecem na prática cotidiana e indagar sobre a conjuntura política, econômica e sociocultural do país quando as articulações acontecem. Essas redes são essenciais para compreender os fatores que geram as aprendizagens e os valores da cultura política que vão sendo construídos no processo interativo. (GOHN, 2011, p.333).
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Esta relação entre movimento social e educação existe a partir das ações
práticas de movimentos sociais e grupos sociais e ocorrem em duas formas:
1. Na interação dos movimentos sociais com as instituições educacionais;
2. No interior do próprio movimento social, dado o caráter educativo de suas
ações.
Na academia, por meio de fóruns de pesquisa e com as produções teórico-
metodológicas existentes, vem mostrando estudos recentes que a junção dos dois
termos é uma ”novidade” e existe uma reação em alguns casos de júbilo e outras de
estranhamento com os conservadores.(GOHN, 2011).
No exterior esta articulação dos movimentos com a educação é antiga como
pode ser observado nos exemplos de alguns grupos de pesquisa que seguem,
International Sociological Association (ISA), Latin American Studies Association
(LASA), Associación Latinoamericana de Sociologia (ALAS), entre outras.
No Brasil esta relação foi sendo construída a partir do final dos anos 1970,
quando foram criadas novas associações ou ativadas outras já existentes como a
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais
(ANPOCS), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
(ANPEd), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Sociedade
Brasileira de Sociologia (SBS), Conferências Brasileiras de Educação (CBEs).
São grupos que passaram a discutir, através de encontros e debates, os
problemas socioeconômicos e políticos, bem como, a destacar os grupos e
movimentos sociais envolvidos.
A relação do movimento social com a educação foi construída a partir da
atuação destes novos atores que agora estão nas periferias das cidades e
demandam do poder público o atendimento das suas necessidades básicas para
sobreviver no mundo urbano.
Mas, para Gohn (2011, p. 335), o que é movimento social? Para a autora:
“nós os encaramos como ações sociais coletivas de caráter sócio-político e cultural
que viabilizam formas distintas de a população se organizar e expressar suas
demandas”.
Com relação às ações concretas realizadas pelos movimentos é possível
relatar as seguintes, Simples denúncia, Mobilizações, Marchas, Concentrações,
20
Passeatas, Distúrbios à ordem constituída, Atos de desobediência civil, Negociações
e Pressões indiretas.
A autora apresenta a atuação em redes sociais como um novo meio de
comunicação e informação a que Habermas (2000) denominou de “o agir
comunicativo”. Estes grupos desenvolvem novos saberes que são, muitas vezes,
produto dessa comunicabilidade.
Os movimentos sociais como já mencionados sempre existiram e se acredita
que sempre existirão, porque representam forças sociais organizadas, que reúnem
as pessoas não como força tarefa em relação ao número de pessoas, mas como
campo de atividade para experimentação social e estas são fontes geradoras de
criatividade e inovações socioculturais.
Eles expressam energias de resistência ao velho que oprime ou de construção do novo que liberte. Energias sociais antes dispersas são canalizadas e potencializadas por meio de suas práticas em ‘fazeres propositivos’. (GOHN, 2011, p.336).
Os movimentos realizam um diagnóstico sobre a realidade social em que
vivem e constroem propostas concretas para atender a estas necessidades. É o que
a autora chama de empoderamento de atores da sociedade civil organizada, à
medida que criam sujeitos sociais para essa atuação em rede. Os movimentos
sociais têm como características básicas: identidade, opositores e articulam um
projeto de vida e de sociedade.
Na história se pode observar que eles têm contribuído para organizar e
conscientizar a sociedade das demandas reais e fazem isso através das
mobilizações, que podem ter continuidade ou permanência de acordo com a
situação.
Tais movimentos podem ser reativos, ou seja, movidos pelas necessidades
básicas e até mesmo se desenvolverem a partir de uma reflexão sobre sua própria
experiência de vida.
No Brasil, os movimentos sociais que ficaram famosos pelas articulações em
oposição ao regime militar no final da década de 1970, também contribuíram para
conquistas de muitos direitos sociais que foram inscritos em leis na Constituição
Federal de 1988.
Para o novo milênio, Gohn (2011) apresenta 12 eixos temáticos para os
movimentos sociais. São eles:
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1. Movimentos pela moradia apoiados por pastorais da Igreja Católica e
outras.
2. Mobilização e organização popular em torno de estruturas institucionais
de participação na gestão político-administrativa da cidade.
3. Movimentos em torno da questão da saúde, como: Sistema Único de
Saúde (SUS).
4. Movimentos de demandas na área do direito: - humanos: situação nos
presídios, presos políticos; - culturais: preservação e defesa das culturas locais,
patrimônio e cultura das etnias dos povos.
5. Mobilizações e movimentos sindicais contra o desemprego.
6. Movimentos decorrentes de questões religiosas de diferentes crenças,
seitas e tradições religiosas.
7. Mobilizações e movimentos dos sem-terra (MST), na área rural e suas
redes de articulação com as cidades por meio da participação de desempregados e
moradores de ruas, nos acampamentos do MST, movimentos dos pequenos
produtores agrários e etc.
8. Movimentos contra os efeitos da globalização.
9. Grandes fóruns de mobilização da sociedade civil organizada: contra a
globalização econômica ou alternativa à globalização neoliberal (contra a Área de
Livre Comércio das Américas (ALCA), por exemplo); o Fórum Social Mundial (FSM)
etc.
10. Movimento das cooperativas populares: material reciclável, produção
doméstica alternativa de alimentos, etc.
11. Mobilizações do Movimento Nacional de Atingidos pelas Barragens,
hidrelétricas, implantação de áreas de fronteiras de exploração mineral ou vegetal
etc.
12. Movimentos sociais no setor das comunicações, a exemplo do Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).
Com relação à luta dos movimentos sociais na área da educação não formal
estão incluídas as ações educativas dos movimentos sociais, as práticas civis, o
associativismo das ONG’s, entre outras.
Gohn (2011) apresenta cada item onde a educação não formal se faz
presente no Trabalho nos sindicatos, no Trabalho com movimentos sociais
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(especialmente populares) e em outros espaços onde é necessária a atuação de
educadores, como segue:
a) Em comunidades carentes – grupos vulneráveis (mulheres, crianças,
idosos e pobres, exclusão socioeconômica ou grupos étnicos/culturais.
b) Na mobilização de recursos da comunidade para combate às situações de
exclusão.
c) Movimentos étnico-raciais (índios e negros).
d) Movimentos culturais de jovens, especialmente na área da música, como
o rap e o hip hop.
e) Mobilizações e protestos contra a guerra, pela paz.
f) Movimentos de solidariedade e apoio a programas com meninos e
meninas de rua.
g) Movimento pela infância.
h) Movimentos pela preservação ou construção de condições para o meio
ambiente local, regional, nacional e global.
Do mesmo modo, a autora apresenta que a aprendizagem no interior de um
movimento social é múltipla, durante e depois de uma luta, tanto para o grupo como
para indivíduos, como pode ser destacada:
Aprendizagem prática: como se organizar, como participar.
Aprendizagem teórica: quais os conceitos principais que mobilizam as forças
sociais em confronto.
Aprendizagem técnica instrumental: como funcionam os órgãos
governamentais, a burocracia, seus trâmites e papéis, quais as leis que
regulamentam as questões em que atuam etc.
Aprendizagem política: quais são seus direitos e os de sua categoria, quem é
quem nas hierarquias do poder estatal governamental, quem cria obstáculos
ou usurpa seus direitos etc.
Aprendizagem cultural: quais elementos constroem a identidade do grupo,
quais suas diferenças, suas diversidades, as adversidades culturais que têm
de enfrentar, qual a cultura política do grupo etc.
23
Aprendizagem linguística: refere-se à construção de uma linguagem comum
que possibilita ler o mundo, decodificar temas e problemas,
perceber/descobrir e entender/compreender seus interesses.
Aprendizagem sobre a economia: quanto custa, quais os fatores de produção,
como baixar custos.
Aprendizagem simbólica: quais são as representações que existem sobre eles
próprios, sobre o que demandam, como se autorrepresentam.
Aprendizagem social: como falar e ouvir em público, hábitos e
comportamentos de grupos e pessoas, como se portar diante do outro, como
se comportar em espaços diferenciados.
Aprendizagem cognitiva: a respeito de conteúdos novos, temas ou problemas
que lhes dizem respeito, criada a partir da participação em eventos,
observação, informações transmitidas por assessorias etc.
Aprendizagem reflexiva: sobre suas práticas, geradora de saberes.
Aprendizagem ética: a partir da vivência ou observação do outro, centrada em
valores como bem comum, solidariedade, compartilhamento, valores
fundamentais para a construção de um campo ético-político.
Na pesquisa de grupo focal, que é apresentada no último capítulo desta
dissertação, estas questões são levantadas e verificadas, ou seja, apresenta-se os
tipos de aprendizagens apresentado pelo grupo estudado.
Para Vygotsky (apud GOHN, 2011), o aprendizado ocorre quando as
informações fazem sentido para os indivíduos inseridos em um dado contexto social.
Gohn (2012), faz uma resenha do livro de Hank Johnston (2011)
denominado States & Social Movements, que oferece contribuições inovadoras e
sugestivas para este estudo.
O livro focaliza as ações que os movimentos sociais realizaram não só em
regimes democráticos como também repressivos, apresentando muitos exemplos de
mobilizações que aconteceram em inúmeros países. Importante entender que este
livro antecedeu aos movimentos iniciados no final de em 2010 com a “Primavera
Árabe no Oriente Médio”, que foi uma onda de revoltas que atingiu os países árabes
e derrubou ditadores que estavam há mais de 30 anos no poder. Os “Indignados da
Espanha” foi outro movimento importante de protestos que reivindicava uma
mudança na política e na sociedade espanhola, pois os manifestantes consideram
24
que os partidos políticos não os representam nem tomam medidas que os
beneficiem. O “Occupy Wall Street” dos USA também foi um movimento de protesto
contra a desigualdade econômica e social, a corrupção e a indevida influência das
empresas sobretudo do setor financeiro no governo dos Estados Unidos, além de
outros países como no Brasil em julho de 2013, que apresentamos no capítulo dois.
A tese fundamental de Johnston é a de que no século XXI o estado é alvo da
grande maioria das campanhas de protestos e movimentos sociais. Por isso, estes
protestos e movimentos são considerados como parte da política; eles são políticos
porque as pessoas que participam dele estão exercitando a política, e não porque
seja parte das elites políticas que lutam pelo poder. Estão participando das disputas
políticas pela direção ou significado das demandas, reivindicações ou protestos em
tela. (GOHN, 2012).
Já o autor defende que os movimentos sociais são fenômenos
extraordinários ou apenas agentes de contestação, porque eles têm um papel
importante na sociedade moderna que é expressar através das reivindicações e
mobilizações sociais todas as suas angústias e indignações.
Mas, Gohn (2012), antes de centra-se nestas diferenças, indaga: o que é
exatamente o Estado?
A partir de Hobbes, Rousseau e Locke o autor busca as justificativas para a existência do Estado (prover alimentos, água, bem comum, proteção aliados, direitos, impostos, extração de recursos naturais etc.). Concluiu que as necessidades da guerra e segurança das fronteiras territoriais foram forças-chave para for matar o estado moderno. Retoma M Weber quando este aborda o monopólio da força de um dado território. Johnston não compartilha da tese marxista que vê o estado como comitê executivo da burguesia e nem com as análises de Poulantzas. Para ele o estado é uma arena onde conflitam interesses das elites políticas, econômicas e do estado (burocracias e servidores civis) e pressões populares. Os protestos têm um significado não institucional de fazer reivindicações ou demandas quando as autoridades estatais, por limitar, ignorar ou fechar canais institucionais de acesso, não respondem às pressões populares. (GOHN, 2012, p.238).
Enquanto o repertório moderno se expressa por meio de encontros, marchas
e greves, nos períodos anteriores, nos quais as sociedades predominantemente
eram agrárias, tradicionais, e altamente estratificada, os protestos eram realizados
com ações diretas contra os oponentes, responsáveis pelos atos de injustiças.
A conclusão de Gohn é que as mobilizações dos movimentos sociais atuais
tornaram-se uma forma de acompanhamento das políticas e representam uma
25
grande mudança em relação ao que aconteceu no passado quando estas ações
nasciam em face da exclusão e não responsabilização do Estado.
Após esta compreensão dos movimentos sociais passamos a analisar a
questão da juventude, importante grupo social com presença importante nestes
movimentos e manifestações.
Como exemplificado no que aconteceu no Brasil, em julho de 2013, em
várias cidades, com jovens buscando mudanças e reivindicando melhorias em
muitas áreas como saúde, educação, trabalho, economia entre outras. Contudo,
antes de chegar neste período atual precisamos conhecer o passado e relembrar
que manifestações sociais tem acontecido historicamente em todo o mundo, e
também no Brasil, e que a juventude tem um relevante papel nestas revoluções. No
entendimento do autor “A juventude une diversos movimentos, ações estudantis,
hippies, culto às drogas, misticismos orientais e a contracultura.” (GROPPO, 2005, p.
15). Ainda:
Os movimentos de contestação, não apenas em 1968, mas durante todos os anos 1960, tiveram na condição juvenil a principal – talvez a única – categoria social estruturante comum. Ações de contestação, muitas vezes tidas como heterogêneas demais para ser analisadas como um processo único (de estudantes nos três mundos, contraculturas, de minorias, de guerrilha, feminismo, ecologismo e etc.), tem como denominador comum a juventude real, presumida ou assumida de seus integrantes, da fonte de seus slogans ou da sua motivação. (GROPPO, 2005, p. 17).
Jovens que, na década de 1960, no Brasil tentaram solucionar estas tensões
sociais, na tentativa de resolver os problemas da época, revelando tudo aquilo em
que acreditava.
Estes movimentos sociais são de grande importância dentro da sociedade
civil enquanto meio de manifestações e reivindicações.
Argumenta-se aqui que para chegar ao ano de 2013 e entender as
mobilizações, que são os objetivos deste estudo, é preciso lembrar àquelas
ocorridas no Brasil de 1968; principal movimento social durante o regime militar,
tanto em amplitude como em participação popular, pois foram mais de oito meses de
mobilizações.
Um fato que se tornou marcante, considerado o início de todas as
mobilizações em 1968, foi a morte do estudante secundarista Edson Luís no
restaurante carioca de nome Calabouço, frequentado essencialmente por
26
estudantes secundaristas. Durante o velório muitas frases de efeito ecoaram até na
classe média do Rio de Janeiro como: “Mataram um estudante. E se fosse seu
filho?” Muitos artistas e intelectuais também se uniram em solidariedade contra este
assassinato.
Em 29 de março de 1968, a Cinelândia amanheceu tomada por mais de 50
mil pessoas para enterrar o corpo de Edson Luís. Muitos outros estados também
participaram do luto pelo estudante Edson Luís como Minas Gerais, Belo Horizonte,
Rio de Janeiro, Curitiba, Maceió e São Paulo, o que formou, a partir deste momento,
uma verdadeira onda estudantil nacional.
Durante o enterro, a comissão popular aproveitou o momento para convocar
outra manifestação, que deveria ser pacífica, segundo os lideres do movimento.
Mas, depois de quarenta minutos, muitos estudantes entraram em choque com a
polícia, formada por mais de cinco mil militares que agrediram os estudantes e
populares, resultando num trabalhador morto, na realização de duzentas prisões e
sessenta pessoas feridas e atendidas nos hospitais.
Outro fato importante que gerou uma revolta estudantil foi a tentativa da
criação de um curso pago de Engenharia, na Universidade Federal, em Curitiba.
Alunos indignados ocuparam o campus do Centro Politécnico, onde aconteceria o
vestibular e cujo reitor era Flávio Suplicy de Lacerda, ex-ministro da Educação de
Castelo Branco.
Como já mencionado no começo desta dissertação, estas manifestações
partem de algumas tensões sociais tais como as ações geralmente de contestação.
Na época, uma das formas de divulgar as manifestações era através da
distribuição de panfletos rodados em mimeógrafos, um dos primeiros sistemas de
cópias em série utilizados no ensino e que eram usados também para a produção
dos panfletos de convocação das manifestações.
Igualmente se fazia necessário uma centena de jovens para a distribuição do
material produzido nesses mimeógrafos. Hoje, a principal mídia utilizada para a
mobilização está representada pelas redes sociais, que é abordada em capítulo
mais à frente.
Entre os principais temas abordados nos meados de 68, têm destaque: o
acordo firmado entre o Ministério da Educação brasileiro (MEC) e a United States
Agency for International Development (USAID), mais conhecida como MEC-USAID,
a ilegitimidade do regime militar e o anti-imperialismo. Os panfletos disponibilizavam
27
conteúdos que tinham como objetivo criar uma indignação pública contra o regime
militar, além de defender valores nacionalistas, legalistas e democráticos.
São relembradas aqui duas frases escritas nas faixas que eram utilizadas
durante as manifestações:
“Os velhos no poder, os jovens no caixão”. (GROPPO, 2005, p.104). Esta
frase foi utilizada durante o enterro de Edson Luís.
A frase seguinte foi utilizada pela União Paranaense de Estudantes para
manifestar sua indignação com o conflito entre as gerações: “O que eu espero dos
meus jovens do meu país eles já estão fazendo. Ai daquela nação que possuir seus
jovens passivos e conformistas frente a seus problemas”. (GROPPO, 2005, p.105).
Uma das grandes mobilizações ocorrida no Rio de Janeiro foi a passeata
dos 100 mil, em 26 de junho de 1968, na qual o governador Negrão de Lima
anunciou, para surpresa geral, a sua permissão para realizar o evento, além de
decretar ponto facultativo para a sua realização.
“A passeata constituiu num comício, na Praça da Candelária, numa marcha
daí até a frente da Assembleia Legislativa e encerramento com uma homenagem a
Tiradentes, diante de sua estátua.” (GROPPO, 2005, p.15).
Para Manuel Castells (2013), este tipo de acontecimento − que envolve a
ocupação de monumentos − tem alguns valores simbólicos como que para afirmar o
direito de uso público de propriedades ociosas e especulativas.
Ao assumir e ocupar o espaço público, os cidadãos reivindicam a sua
própria cidade da qual foram expulsos por especulação imobiliária entre outras
coisas e estes espaços historicamente sempre foram locais de encontro dos
movimentos sociais e algumas greves.
28
1.2 . Movimentos Sociais e Sociedade em Rede
Manuel Castells (2013), na citação que segue, afirma que a origem dos
movimentos sociais está intimamente ligada às injustiças sociais.
De onde vêm os movimentos sociais? E como são formados? Suas raízes estão na injustiça fundamental de todas as sociedades, implacavelmente confrontadas pelas aspirações humanas de justiça. Em cada contexto específico, os usuais cavaleiros do apocalipse da humanidade cavalgam juntos sob uma variedade de formatos ocultos: exploração econômica; pobreza desesperançada; desigualdade injusta; comunidade política antidemocrática; Estados repressivos; judiciário injusto; racismo, xenofobia, negação cultural; censura, brutalidade policial, incitação à guerra; fanatismo religioso (frequentemente contra crenças religiosas alheias); descuido com o planeta azul (nosso único lar); desrespeito à liberdade pessoal, violação da privacidade; gerontocracia; intolerância, sexismo, homofobia e outras atrocidades da extensa galeria de quadros que retratam os monstros que somos nós. (CASTELLS, 2013, p.17).
Nota-se que, mais uma vez, tensões sociais estão presentes, sendo que um
grupo com interesses comuns resolve problematizar as condições de vida e buscar
respostas para este problema, procurando com as mobilizações reivindicar e mostrar
para o maior número de pessoas estes problemas, bem como arregimentando novos
participantes para os movimentos.
Antes de compreender o significado de sociedade em rede, faz-se
necessário compreender os conceitos sobre Rede Social e Sociedade:
JOHNSON (1997), apresenta a seguinte definição para Rede Social:
Embora o termo rede social esteja em uso há muito tempo, tanto no sentido sociológico quanto popular, só na década de 1970 é que sociólogos desenvolveram esse conceito como peça central de uma perspectiva da vida social. A rede é simplesmente um conjunto de relações que ligam pessoas, posições sociais ou outras unidades de análise, como grupos e organizações. Ao focalizar a atenção em redes, os sociólogos podem fazer uma grande variedade de perguntas, desde a maneira como pessoas adquirem poder ao motivo porque organizações funcionam e como. De modo geral, o método de rede supõe que experiência, comportamento e resultados individuais dependem mais do ponto em que pessoas estão localizadas nas várias redes do que de quem eles são como indivíduos. Esse fato tem origem na ideia de que as redes tanto impõem restrições, que limitam as opções, como proporcionam recursos, que permitem que indivíduos atuem de várias maneiras. Assim, diferenças entre pessoas podem ser compreendidas por elas pertencerem a redes diferentes ou por estarem localizadas
29
diferentemente na mesma rede. Mulheres, por exemplo, raramente progridem em empresas, porque são excluídas de redes informais dominadas pelos homens, através das quais informações importantes são trocadas. E, dentro das redes, quanto mais centralmente localizadas estiverem as pessoas no fluxo de comunicação, mais poder provavelmente terão como resultado. (JOHNSON, 1997, p.190).
E, também, a definição de Sociedade como:
Um tipo especial de sistema social que, como todos os sistemas sociais, distingue-se por suas características culturais, estruturais e demográficas/ecológicas. Especificamente, é um sistema definido por um território geográfico (que poderá ou não coincidir com as fronteiras de NAÇÕES-ESTADO), dentro do qual uma população compartilha de uma cultura e estilo de vida comuns, em condições de autonomia, independência e auto-suficiência relativas. Sociedade é um conceito fundamental em sociologia porque é nesse nível que são criados e organizados os elementos mais importantes da vida social. Virtualmente todos os sistemas sociais de que participamos – da família e religião às ocupações e aos esportes – são de certa maneira, subsistemas de uma sociedade que define seu caráter básico. Até mesmo grupos subversivos e revolucionários operam e se definem principalmente em relação a sociedades e suas instituições. Mas, importante como seja, não devemos imputar-lhes características que não possuem. Esse fato é bem evidente na prática comum de falar em sociedades como se elas fossem pessoas, capazes de pensar, sentir, querer, necessitar e agir. Como sistema social, ela é em grande parte abstrata, mesmo que possa ser experimentada como tendo realidade concreta. (JOHNSON, 1997, p.212-213).
Sendo assim pode-se considerar que a primeira rede da qual alguém faz
parte é a família. Nesta, os nós são os familiares e todos eles se comunicam, trocam
experiências para o bem comum. Outra rede na qual toda pessoa se integra ou deve
se integrar é a escola, pois nela, também há a comunicação e a troca de
experiências, que formam uma rede um pouco mais abrangente.
Partindo desse raciocínio, as pessoas vão, ao longo da vida, fazendo parte
de várias redes profissionais, grupo de amigos, associações e todas elas acabam se
interligando por meio de um ou mais nós, até chegarem a uma rede maior que é a
sociedade.
No entanto, segundo Castells (2003, p. 98), “o avanço tecnológico
proporcionou um aumento exponencial do efeito de rede, modelando a sociedade
atual, na qual se insere a sociedade da informação e do conhecimento.”
A sociedade de informação e as tecnologias sociais são abordadas mais a
frente, em um capítulo específico.
30
1.3. Cidadania
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu Art. 1º
apresenta como um dos primeiros fundamentos a cidadania.
TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. (BRASIL, 1988).
Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais que
esta constituição estabeleceu logo no início como destacado acima.
Cada cidadão tem seus direitos e deveres e eles devem andar juntos, assim cada
um exerce as suas obrigações de modo a permitir que o outro exerça também os
seus direitos.
A cidadania está relacionada à participação social em grupos de atividades
culturais ou esportivas, nos movimentos sociais e também nas manifestações que
dão voz as suas reivindicações.
São deveres do cidadão são: Votar para escolher os governantes, Cumprir
as leis, Educar e proteger seus semelhantes, Proteger a natureza, Proteger o
patrimônio público e social do País.
São direitos do cidadão: o Direito à saúde, educação, moradia, trabalho,
previdência social, lazer, entre outros. O cidadão é livre para escrever e dizer o que
pensa desde que assine o que escreveu. Todos são respeitados na sua fé, no seu
pensamento e na sua ação na cidade. O cidadão é livre para praticar qualquer
trabalho, ofício ou profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma para isso. Os
bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam para seus herdeiros.
A Constituição também apresenta no capítulo 03 a educação como um
direito de todos e um dever do Estado e da família. Deve ser promovida e
incentivada em colaboração com a sociedade, visando o pleno desenvolvimento da
pessoa e do exercício da cidadania.
31
No Artigo 206. Descreve que a educação deverá ser ministrada com base
nos seguintes princípios:
I‐igualdadedecondiçõesparaoacessoepermanêncianaescola;
II‐liberdadedeaprender,ensinar,pesquisaredivulgaropensamento,a
arteeosaber;
III‐pluralismodeidéiasedeconcepçõespedagógicas,ecoexistênciade
Os Direitos Sociais são conquistas dos movimentos sociais ao longo dos séculos.
Os direitos sociais estão dispostos na Constituição de 1988, no Título II (Dos
Direitos e Garantias Fundamentais), e no Título VIII (Da Ordem social). Estabelece
em seu Art.6º, como direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados. Do artigo 7º ao 11, o constituinte
privilegiou os direitos sociais do trabalhador, em suas relações individuais e
coletivas. Vale destacar, que o direito à alimentação foi introduzido pela Emenda
Constitucional nº. 64 de 04 de fevereiro de 2010.
No título VIII, estão sistematizados os direitos à Seguridade Social (Saúde,
Previdência Social e Assistência Social), os direitos relativos à Cultura, à Educação,
à Moradia, ao Lazer, ao Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado e os direitos
sociais da Criança e dos Idosos.
32
2. REDES SOCIAIS, MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PODER
As Redes sociais são formadas por pessoas que, ao longo da vida, vão se
ligando umas às outras, formando os “nós” que se multiplicam até chegarem a uma
sociedade, tema este já mencionado no primeiro capítulo.
Mas, a grande novidade no século XXI é a presença da tecnologia como
principal aliada nestes movimentos sociais que aconteceram e continuam
acontecendo ao longo do mundo todo.
Este capítulo tem início com uma abordagem histórica da
tecnologia,relacionada à comunicação dos principais inventos e da importância deles
para a sociedade, abordando também a importância para a comunicação e à
educação.
O uso das mídias de massa pelos poderes atuais também está presente
neste capítulo, chegando às redes sociais digitais e o uso específico de cada uma
delas até o ponto de se tornar a principal ferramenta de comunicação nos
movimentos sociais do século XXI.
Pierre Lévy, filósofo que se tornou especialista na teoria da inteligência
coletiva, foi o precursor da Cibercultura e o primeiro a discutir a “Wikipédia”.
Considerando o seu livro intitulado “A Inteligência Coletiva: Por uma
Antropologia do Ciberespaço” são apresentados aqui alguns conceitos importantes
para este trabalho. Neste livro o autor apresenta o conceito de Inteligência Coletiva
(IC) e a sua colaboração com o ciberespaço; aborda o conceito histórico do tema,
suas aplicações e a consequências da inteligência coletiva, seus pontos positivos e
negativos.
Aborda, igualmente, conceitos de colaborativismo e compartilhamento na
web e como é possível aplicar e incentivar esta prática. Apesar de parecer muito
estranho para a época, atualmente estes conceitos fazem parte da vida de todos,
como nas manifestações com o uso da internet.
Para Lévy a IC é, basicamente, a partilha de funções cognitivas, como a
memória, a percepção e o aprendizado, podendo ser compartilhadas quando se
expandem e permitem outras possibilidades cognitivas transformadas por sistemas
técnicos externos ao organismo humano como, por exemplo, os meios de
33
comunicação ligados à internet. A IC progride quando existe a cooperação e
competição ao mesmo tempo, pois deste equilíbrio é que nasce a IC.
Para o autor, a IC se desenvolveu à medida que os códigos lingüísticos
evoluíram. Nesse sentido aponta Chaves (2011) que a linguagem também é
tecnologia e a disseminação do conhecimento acompanhou esta difusão das ideias
através dos discursos, da escrita, da imprensa e quanto mais os meios de
comunicação se aperfeiçoam, mais ganha a Inteligência Coletiva.
Importante também é reconhecer o outro indivíduo como uma inteligência ou
um conhecimento em potencial, independentemente de serem diferentes e se
complementarem, ou seja, sem julgar ninguém pela sua condição, emprego,
sobrenome, etc.. Todos têm seus conhecimentos e isto compartilhado representa
um passo significativo para a criação de uma inteligência coletiva.
Mais uma Lévy segue à frente com estes conceitos, uma vez que esta
integração está presente na vida de todos, com a integração dos veículos de
comunicação tradicionais na web e com os fóruns e grupos no Facebook.
Defende também neste livro que a nossa sociedade poderia experimentar
uma Democracia em tempo real, no qual todos seriam atuantes para decisões do
coletivo; todos falando sem se sobreporem uns aos outros, até chegarem a um
consenso, favorecendo até a proposição de uma cidade inteligente, com uma
dinâmica que favoreça a decisão de todos sobre pontos comuns, sempre em um
movimento espiral. Espera-se que este conceito chegue até os
governos/governantes, pois, até o momento o que se tem é um início de
transparência, como ocorre em alguns sites de algumas cidades no Brasil onde os
governos criaram plataformas onde a população consegue conhecer o que está
sendo feito e como tem sido investido os recursos públicos nas cidades e
municípios.
2.1. Redes Sociais Digitais
Redes são pontos de conexão. Rede social, então, é qualquer reunião de
pessoas ou empresas, que se unem em função de interesses em comum. Portanto,
uma reunião de família ou uma sala de aula é uma rede social. A existência de redes
sociais independe de tecnologia. O que ocorre é que a tecnologia mudou a dinâmica
34
e a abrangência das redes sociais, que com a evolução tecnológica passaram a
aproximar pessoas e instituições de forma rápida e interativa, que não seria possível
sem a tecnologia. O tão “famoso” Orkut, Facebook e Twitter, na verdade, não são
redes sociais, mas sim plataformas (digitais) de redes sociais.
Dentre as redes sociais existem os Sites de Compartilhamento de Vídeos e
Fotos. O YouTube e Vimeo são os mais utilizados; com eles os usuários têm o seu
próprio “Tubo” e com a presença deste meio esses usuários conseguem facilmente
que um vídeo publicado gere uma grande visibilidade para o mundo todo. Uma
grande mudança verificada é que o meio digital revolucionou também a forma de se
entender o funcionamento da audiência. Esta anteriormente era um privilégio
somente das televisões e rádios, mas, hoje se consegue ver instantaneamente o
alcance de um vídeo através dos resultados estatísticos.
Castells (2013) aponta a relevância deste veículo, que foi muito utilizado
durante as manifestações ao redor do Mundo.
Essas vozes, cada vez mais livres, que se espalhavam pela internet, a despeito da censura e da repressão, encontraram aliado poderoso na televisão por satélite fora do controle governamental, em particular na Al Jazeera. Houve uma relação simbiótica entre jornalistas, cidadãos utilizando seus celulares para carregar imagens e informações no YouTube, e a Al Jazeera, usando feeds por eles enviados e depois transmitindo-os à população em geral (40% dos tunisianos de áreas urbanas assistiam à Al Jazeera, já que a televisão oficial fora reduzida a uma primitiva ferramenta de propaganda). Esse elo entre Al Jazeera e internet foi essencial durante as semanas das revoltas, tanto na Tunísia quanto em todo o mundo árabe. (CASTELLS, 2013, p. 24).
Flickr e Picasa são os principais sites de compartilhamento de foto e com
eles os usuários podem deixar gravada uma cópia das fotos na nuvem, isto é no
servidor on-line e também compartilhar as fotos com seus amigos.
YouTube e Flickr foram usados para estabelecer uma comunicação direta entre cidadãos e membros do Conselho, assim como para propiciar a participação nos debates que ocorriam por toda a Islândia. (CASTELLS, 2013, p. 32).
Outro tipo de Rede Social é o Microblogging, um canal que permite aos
usuários enviarem pequenas mensagens e atualizações pessoais em formato de
texto com até 140 caracteres, conhecidos como tweets no caso do Twitter, que é o
principal deles e desempenha um papel de destaque na discussão dos eventos e na
35
coordenação de muitas ações. Os manifestantes usaram a hashtag #sidibouzid no
Twitter para debater e se comunicar, registrando, desse modo, a revolução
tunisiana.
A Praça Tahrir é conhecida também como "Praça da Libertação"; é a maior
praça pública e fica no centro de Cairo, no Egito e foi o local onde esta
comunicação, feita em microblogging, aconteceu com mais frequência como cita
Castells:
A análise de um amplo conjunto de dados de tuítes públicos na praça Tahrir no período de 24 a 29 de janeiro mostra a intensidade do tráfego no Twitter e fornece evidências de que aqueles indivíduos, incluindo ativistas e jornalistas, foram, mais que as organizações presentes, as mais influentes fontes de tuítes. Em outras palavras, o Twitter forneceu a plataforma tecnológica para muitos indivíduos assumirem a posição de trendsetters do movimento. (CASTELLS, 2013, p. 41).
Também os Blogs são locais onde os usuários podem compartilhar as suas
fotos e vídeos em sites que permitem o envio (upload) gratuitamente. A visualização
deste material pode ser segmentada apenas a amigos e familiares dos usuários.
Exemplos: Blogger e Wordpress.
Eles deliberavam pelo Facebook, coordenavam-se pelo Twitter e usavam blogs para transmitir amplamente suas opiniões e se envolver em debates. Uma análise das tendências do Google no Egito durante o período da revolução mostra a crescente intensidade das buscas relacionadas aos eventos, atingindo o pico no dia da manifestação, 25 de janeiro, e nos dias subsequentes. (CASTELLS, 2013, p. 42).
Os Sites de Relacionamentos são aqueles em que os usuários compartilham
conteúdos, sendo eles textos, vídeos, fotos e interesses pessoais através de redes
sociais, como: Facebook, Orkut, Google+, que são os mais utilizados. Os sites de
relacionamento são ambientes que focam reunir pessoas, os chamados membros,
que uma vez inscritos, podem expor seu perfil com dados como fotos de pessoas,
textos, mensagens e vídeos, além de interagir com outros membros, criando listas
de amigos e comunidades.
A conexão entre comunicação livre pelo Facebook, YouTube e Twitter e a ocupação do espaço urbano criou um híbrido espaço público de liberdade que se tornou uma das principais características da rebelião tunisiana, prenunciando os movimentos que surgiriam em outros países. (CASTELLS, 2013, p.21).
36
Dentre estes sites de relacionamento, o principal é o Facebook e, por ter
algumas características específicas, se faz necessário entendê-lo um pouco melhor.
Por essa razão, neste momento, é feita uma explanação de três pontos importantes
que o diferencia dos outros sites de relacionamento que são o Perfil, a página de fãs
e os grupos.
Castells cita exemplos de uso destas ferramentas de comunicação e suas
diversas aplicações.
O Facebook oferece dois tipos possíveis de conta, uma pessoal e outra para
empresas.
Perfil é quando se faz o primeiro registro no Facebook, ou seja, se cria um
perfil pessoal que passa a ser a conta de cada um. É com ela que se pode procurar
amigos, juntá-los à rede de contatos de cada um, publicar imagens, textos e vídeos,
partilhando-os com os amigos. Com um perfil, é possível enviar mensagens privadas
aos amigos, quer seja unicamente para um amigo ou a vários amigos ao mesmo
tempo.
Uma página de fãs tem propósitos de utilização mais profissional e serve à
divulgação de artistas, profissionais, empresas, organizações do terceiro setor e
grupos relacionados a movimentos sociais.
É possível obter dados estatísticos sobre as visitas e participação dos fãs
nos temas abordados na página. Todas as semanas são enviados e-mails para o
administrador da página com dados estatísticos sobre a atividade da página, ou
seja, o número de interações, entradas e saídas de fãs e como foi o retorno aos
conteúdos inseridos.
Para além de páginas de fãs e de perfis, existe ainda a possibilidade de se
criar grupos. Os grupos são destinados a pessoas que partilham um determinado
gosto como, por exemplo, uma banda de música, um filme, um clube desportivo e
até mesmo uma causa ambiental como o Greenpeace sem, no entanto, serem os
responsáveis ou representantes legais dessa mesma instituição, marca ou produto
ou por um grupo que pretende fazer uma mobilização social como vamos comentar
mais à frente, no tópico movimentos sociais na internet. Os grupos permitem uma troca de informação e partilha de opiniões de
forma muito semelhante a um fórum. A forma de convidar pessoas é diferente das
páginas de fãs, pois, enquanto estas só permitem o envio de convites individuais,
feitos um por um, no caso dos grupos é possível enviar convites de forma massiva.
37
Os grupos são indicados para a realização de ações virais e, para estas ações, cada
um dos participantes no grupo pode, igualmente, enviar os convites em grande
quantidade para os seus amigos.
Tais grupos iniciam muitos dos seus movimentos e manifestações sociais,
devido a grande aderência de celulares pelos usuários, bem como o acesso a
internet e também o uso de aplicativos como o Facebook.
Segundo Castells (2013), em 2011 mais de 20% dos usuários da internet
estavam no Facebook e a proporção de usuários da internet entre a população
urbana, e especialmente entre os jovens, era muito grande na Tunísia em 2010.
Outro ponto importante a se destacar são os celulares com conexão à
internet que proporcionam que a comunicação aconteça de forma instantânea. E,
segundo Castells (2013, p.24), “em novembro de 2010, na Tunísia 67% da
população urbana tinha acesso a um celular e 37% estavam conectados à internet”.
Com a chegada dos aparelhos de celular multimídias e smartphones, dos
Tablet’s, bem como o acesso à internet 3G, a comunicação ficou ainda mais
eficiente, porque o celular está sempre a um palmo da mão a quem pertence, o que
permite uma rápida comunicação.
Uma grande revolução nos movimentos sociais vem sendo possível com o
uso destas redes sociais digitais. Cada país com uma característica e com um
cenário diferente, mas com uma coisa em comum: o uso das redes como principal
ferramenta de comunicação entre os manifestantes.
Recuero (2007) explica que as redes sociais e a internet têm se tornado
motivo de estudo por grande parte dos pesquisadores, para compreender
principalmente a difusão de informações em redes sociais e o impacto que a internet
ocasionou nesses fluxos. Recuero (2007) cita alguns desses pesquisadores: Adar e
Adamic (2004, 2003 e 2006); Adamic e Glance (2005); Lento et. al. (2006); Shirky
(2003 e 2006).
Todo este trabalho, segundo Recuero (2007), traz um conjunto de
observações baseado em diversos estudos de redes sociais realizados a partir de
2004, em sistemas como o Orkut, os Weblogs e o Fotolog.
A autora apresenta e discute alguns conceitos essenciais como o de rede,
interação, laços e capital social com as suas devidas classificações e percepções e,
na sequência, passa a discutir os tipos de redes sociais, suas diferenças e
semelhanças, além de definir rede social.
38
Para Recuero (2007), rede social pode ser definida como:
Uma rede é definida como um conjunto de nós conectados por arestas. Assim, uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (Wasserman e Faust, 1994; Degenne e Forsé, 1999), compreendendo uma estrutura de grupo. Quando trabalhamos com uma rede social na Internet, compreendemos a estrutura dos atores e suas conexões sociais como traduzidas pelas ferramentas da comunicação mediada pelo computador. A abordagem de rede é importante porque enfatiza as conexões entre os indivíduos no ciberespaço, mostrando que a comunicação mediada pelo computador é capaz de produzir e complexificar laços sociais. (Garton, Haythornthwaite e Wellman, 1997). (RECUERO, 2007, p.2).
As redes sociais na internet possuem conexões que são constituídas por
diferentes formas de interação, bem como de trocas sociais.
Os grupos de discussão são cada vez mais frequentes na internet, como
é o caso do LinkedIn que é uma rede de relacionamento profissional, bem como
os grupos específicos dentro do Facebook, tornam possível assinar ou participar
de um grupo destes sem interagir diretamente com os seus membros, mas
utilizar as informações que estão circulando dentro deles.
Portanto, percebe-se que para compreender essas redes é preciso
também compreender como se formam estas conexões sociais.
A interação social mediada por computador, de acordo com Primo (2003) pode ser percebida de duas formas. A primeira delas é a interação mútua, que é negociada entre os agentes, construída enquanto acontece. É o que acontece em um canal de chat ou numa conversa no MSN, por exemplo. Já a interação reativa é pré-programada, com opções já previamente estabelecidas, sem opção de criação ou negociação. A interação reativa acontece, por exemplo, em votações na Web onde o número de opções é limitado. Ambas as formas de interação podem ser sociais, na medida em que podem influenciar e mesmo criar estruturas sociais, a partir das ferramentas proporcionadas pela Internet. (Recuero, 2006). (RECUERO, 2007, p.3).
Estas interações mediadas pelo computador são formadoras de laços
sociais na medida em que estes sites de relacionamento e outros sistemas de
comunicação permitem que os atores criem perfis individualizados na internet;
com os perfis estes atores podem reconhecer os indivíduos com que desejam
interagir e, com isso, passam a funcionar como um espaço de sociabilidade, no
qual os laços sociais podem emergir.
39
Estes laços formados são classificados como laços sociais que podem
ser fortes e fracos, os laços fortes seriam aqueles caracterizados pelo grande
investimento de tempo, pela criação de intimidade, de confiança, e de
reciprocidade. Os laços fracos, ao contrario, possuem menor quantidade desses
elementos, caracterizando, relações menos profundas.
Recuero (2007) apresenta também os dois tipos de pertencimentos, o
relacional e o associativo:
Pertencimento Relacional: é preciso trocar comentários e criar laços para que
se receba o apoio e capital social.
Pertencimento Associativo: é quando o usuário está conectado com o assunto
do grupo e não com as pessoas que fazem parte dele.
No caso do capital social, por se tratar de um conceito amplo, a autora cita a
percepção de Putnam (2000) quando afirma que o capital social está diretamente
relacionado às conexões entre os indivíduos a sua reciprocidade e confiança.
Igualmente, a autora menciona Bertolini e Bravo (2004) que apresentam
uma análise sobre as categorias do capital social. São elas:
a) Relacional - que compreende a soma das relações, laços e trocas que
conectam os indivíduos de uma determinada rede.
b) Normativo - que compreende as normas de comportamento de um
determinado grupo e os valores deste grupo.
c) Cognitivo - que compreende a soma do conhecimento e das informações
colocadas em comum por um determinado grupo.
d) Confiança no ambiente social – que compreende a confiança no
comportamento de indivíduos em um determinado ambiente.
e) Institucional - que inclui as instituições formais e informais, que se
constituem na estruturação geral dos grupos, onde é possível conhecer as “regras”
da interação social, e onde o nível de cooperação e coordenação é bastante alto.
Recuero (2007) ainda apresenta dois tipos de estruturas de rede: uma
centrada na interação e outra na identidade.
40
1. Na Interação as estruturas podem ser de duas maneiras: através da
interação social mútua e da interação social reativa. A primeira é constituída por
meio de laços, de um laço de pertencimento relacional que é caracterizado pelo
“sentir-se parte” através das trocas comunicacionais. Estas redes são caracterizadas
pela presença de laços mais fortes e são redes cujo custo é alto, já que os atores
sociais precisam investir em conversas e trocas sociais através das ferramentas de
comunicação. Um exemplo seria o MSN (Microsoft Service Network), para discutir
em fóruns ou mesmo colocando mensagens no Orkut ou Facebook que demandam
um alto custo e tem a presença menor em quantidade de pessoas.
A Figura 1 mostra um exemplo de imagem obtida a partir de uma rede com
características centradas na Interação.
Figura 1 – Rede Centrada na Interação Fonte: Recuero (2007, p.8)
É possível observar que tal rede possui uma grande densidade de conexões
entre os nós, pois, todos eles estão conectados na construção da rede.
2. Já nas redes centradas na Identidade as estruturas formam laços de
pertencimento voltados à associação com a rede social. Este processo diferente do
41
anterior tem pouco custo para o ator; é só associar-se que todos os valores da rede
tornam-se imediatamente acessíveis. E tem a construção da sua identidade com a
principal motivação para aderir aos determinados grupos. Um exemplo que a autora
apresenta são as comunidades do Orkut em que mais do que interagir os seus
atores procuram filiar-se a eles, já que possuem interesse pelo tema/assunto como,
também, para construírem o seu perfil apoiados na ideia da comunidade ou grupos
agora mais recentes dentro do Facebook. Com o perfil construído os atores têm por
objetivo interagir com usuários que demonstrem os mesmo interesses pelo assunto,
bem como mostrar para a sua rede de relacionamentos quais são os seus interesses
principais.
Essas redes que são centradas na produção de identidade possuem mais
atores do que laços entre eles. Uma vez formados esses laços, os mesmos não
mais necessitam de investimento, mantendo-se até que uma das partes decida pelo
fim da conexão e, por conta disso, estas redes são mais fracas, contudo, existe uma
grande densidade de nós ligando seus atores.
A Figura 2 mostra uma imagem obtida de uma rede com características
centradas na Identidade.
Figura 2 – Rede Centrada na Identificação Fonte: Recuero (2007, p.9)
42
Observa-se que, enquanto a primeira rede está mais interconectada, a
segunda possui menos conexões e uma maior quantidade de nós. Por terem baixos
custos para serem mantidas essas redes podem ser muito grandes, com custo
igualmente baixo para seus atores.
Esta diferenciação se faz essencial, uma vez que, as redes sociais não são
iguais e as suas estruturas interferem diretamente na difusão das informações
através das suas conexões.
Todas estas redes sociais digitais não existiriam se não fosse a presença da
tecnologia com os hardwares, softwares e todo desenvolvimento tecnológico que a
comunicação angariou nas últimas décadas.
Ao fazer referência à Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é
preciso primeiramente verificar a evolução dos principais veículos de comunicação,
que chegaram a uma audiência de 50 milhões de pessoas conforme explicado por
Leon (2009).
Em termos de audiência, enquanto o rádio demorou 38 anos para atingir 50 milhões de pessoas, a world wide web demorou apenas quatro anos e o iPod – tocador de música em formato digital –, apenas três anos. O gráfico a seguir mostra o tempo para algumas tecnologias atingirem a audiência de 50 milhões de usuários. (LEON, 2009).
Gráfico 1 – Evolução do Tempo com Relação à Tecnologia da Informação e
Comunicação Fonte: Leon (2009).
43
Para compreender esta revolução tem-se que recorrer à história, na qual
duas leis e duas tecnologias se tornaram fundamentais para o conhecimento da
Internet.
A primeira delas é conhecida como a Lei de Moore, cunhada por Gordon
Moore, Co-fundador da Intel.
A Lei de Moore, assim chamada em razão das previsões do co-fundador da Intel, Gordon Moore, que profetizou que o número de circuitos em chip duplicar-se-ia a cada ano, retrata uma aceleração progressiva e inexorável observada em computadores, na biotecnologia, na nanotecnologia, dentre outras. (KRUGER, 2001, p.68).
Mas, ele ainda produziu mais de uma dezena de modelos de “chip”. Sem
essas pequenas peças, feitas de micropastilhas de silício e capazes de processar
bilhões de informações por segundo, nem sequer existiriam as calculadoras
portáteis.
A chave para esta mudança é um dispositivo do tamanho de uma unha compartilhado por computadores e máquinas de comunicação. É o chip semicondutor, a pedra angular da era da informação. A maioria dos avanços eletrônicos nas últimas décadas se baseia em aperfeiçoamentos na tecnologia do chip. (DIZARD JR. 2000, p.56).
A segunda é a Ethernet, criada pelo engenheiro elétrico Robert Metcalfe,
que é autor de uma lei da informática a qual diz que o valor de uma rede (como a
internet) cresce na proporção do quadrado do número de seus usuários.
Esta lei surgiu nos laboratórios da Xerox com Robert Metcalfe, em 1972 e no
início o seu padrão era chamado de Network Alto Aloha, depois foi modificado para
Ethernet para deixar claro que este padrão pode suportar qualquer computador e
para mostrar que pode ser desenvolvido fora de seus laboratórios.
Com processadores cada vez mais rápidos e com a multiplicação das suas
conexões se consegue entender porque a internet, com apenas 4 anos, chegou a 50
milhões de usuários como mencionado no início deste capítulo.
Outro ponto importante neste período histórico foi a criação de grandes
empresas da área de tecnologia que ajudaram, em muito, este crescimento. Entre
elas estão a Apple, a Microsoft, entre outras, que surgiram em meados dos anos 70
no Vale do Silício e se tornaram as gigantes da informática.
44
Cabe ressaltar que, para se transmitir estas informações são necessários
cabos de fibra óptica, que contém pedaços de vidro ou de materiais poliméricos com
capacidade de transmitir luz.
Tais circuitos podem transmitir informações em ondas luminosas (isto é, na forma óptica) através de um fio tão fino de cabelo humano. Os cabos de fibra óptica têm enormes capacidades de transmissão de informação: um único cabo pode transmitir dezenas de milhares de telefonemas ou dezenas de programas de televisão. Ao contrário dos fios de cobre convencionais, não são afetados pelo calor, umidade ou corrosão. Sua fonte luminosa – os lasers – pode ser menor que um grão de sal e emitir luminosidade continuamente por uma centena de anos. (DIZARD JR. 2000, p.82).
Um princípio parecido com a fibra era utilizado nos navios para se
comunicarem antes da Internet, o Código Morse, desenvolvido por Samuel Finley
Breese Morse em 1835, dispositivo que utiliza correntes elétricas para controlar os
eletroímãs que funcionam para emissão ou recepção de sinais.
A utilização de um fio único foi, em parte, possibilitada pela criação de um código baseado na emissão de curtos e longos impulsos de corrente elétrica traduzidos em pontos e traços que, combinados, representavam letras e números, o conhecido Código Morse. O sistema de transmissão inventado por Morse tornou possível a rápida expansão da telegrafia elétrica verificada a partir da década de 1840. (SILVA; MOREIRA, 2007, p.49).
Trata-se de um sistema binário que utiliza números, letras e sinais gráficos.
Uma mensagem codificada em Morse pode ser transmitida de várias
maneiras em pulsos (ou tons) curtos e longos e, neste exemplo, verifica-se que o
pulso com sinais visuais (luzes acendendo e apagando) são o mesmo princípio da
transmissão da informação pela fibra óptica.
É assim que a fibra consegue transmitir as informações, fotos, e-mails e tudo
o que passa na rede; a luz não é um feixe contínuo, é um feixe de pulsos
representando os “uns” e “zeros” que compõem o código do computador. Mas,
enquanto um operador de código Morse consegue mandar um flash ou dois flashs a
cada segundo, os cabos de fibras ópticas podem mandar 10 bilhões de pulsos de
informações digitais a cada segundo.
45
2.2. Comunicação e Poder
O poder na sociedade em rede é o poder da comunicação.
M. Castells (2013).
Viveiros (2011) em sua resenha do livro de Castells, Comunicación y Poder,
publicada em 2009, aponta para o uso intensivo das novas tecnologias de
comunicação e informação e das redes sociais como a principal novidade para os
movimentos sociais que percorreram o mundo todo e que fizeram lembrar os tempos
da revolta estudantil de maio de 1968.
Agora as propostas de mobilizações são articuladas pela internet com ações
descentralizadas, marchas, cortejos e até flashmobs, que são intervenções urbanas
que acontecem nos espaços públicos com muita criatividade por parte dos
integrantes destes movimentos.
O conceito de contrapoder se faz presente no livro de 2013 de Manuel
Castells e que Viveiros (2011) igualmente menciona em seu artigo, ou seja, onde há
poder, há contrapoder; onde há dominação há resistência.
Quem possui o poder são os que definem as “regras do jogo” em nossas sociedades, em todas as sociedades. Conhecer de onde surge e como se estrutura o poder, quem tem poder e o poder de fazer com que todos nós tenhamos que seguir esse poder, é o que define o marco social, cultural e político em que todos vivemos. (VIVEIROS, 2011, p. 138).
Este contrapoder, citado por Castells (2013), sempre existiu, mas, com a
chegada das novas mídias isso se tornou muito mais relevante, pois os movimentos
sociais agora têm voz e conseguem se expressar nas redes e utilizar o seu próprio
“tubo”.
E aqui está uma das chaves que Castells denomina autocomunicação. Uma
maneira de produzir, acessar e compartilhar mensagens (conteúdos) sem mediação.
Em oposição aos meios de comunicação (à mídia), e baseada nas redes sociais.
Esse conceito que ele denominou de autocomunicação, é o uso da internet e
das redes sem fio como plataformas da comunicação digital. É comunicação de
massa porque processa mensagens de muitos para muitos, com o potencial de
alcançar uma multiplicidade de receptores e de se conectar a um número infindável
46
de redes que transmitem informações digitalizadas, ou seja, um conceito no qual os
usuários da internet e de dispositivos móveis produzem seus conteúdos e, com isso,
revolucionam a comunicação.
Outro conceito já apresentado neste trabalho e igualmente comentado por
Viveiros é o fato de existirem agora dois espaços diferentes, o virtual e o real. Para
Castells (2013) não há separação, pois vivemos num mundo híbrido onde tudo o que
fazemos é ao mesmo tempo virtual e físico; real e concreto.
A comunicação tem um papel fundamental na vida e na mente das pessoas
e, por isso, existe por parte do Estado um forte trabalho para comandar as grandes
mídias de massa e, então, estabelecer-se o que Castells (2013) apresenta como o
poder e o contrapoder.
Parto da premissa de que as relações de poder são constitutivas da sociedade porque aqueles que detêm o poder constroem as instituições segundo seus valores e interesses. O poder é exercido por meio da coerção (o monopólio da violência, legítima ou não, pelo controle do Estado) e/ou pela construção de significado nos mecanismos de manipulação simbólica. As relações de poder estão embutidas nas instituições da sociedade, particularmente nas do Estado. Entretanto, uma vez que as sociedades são contraditórias e conflitivas, onde há poder há também contrapoder – que considero a capacidade de os atores sociais desafiarem o poder embutido nas instituições da sociedade com o objetivo de reivindicar a representação de seus próprios valores e interesses. (CASTELLS, 2013, p. 08).
As mídias de massa têm um poder muito grande para influenciar a
população e, por essa razão, muitos veículos de comunicação estão nas mãos ou no
comando de grupos que detêm mecanismos de poder, com dinheiro e influência
social.
Antes da chegada da Internet, os principais canais de comunicação eram as
rádios, televisões, jornais e revistas que, como já mencionado anteriormente,
estavam sob o controle dos Estados. Atualmente, têm-se as redes digitais de
comunicação, que assumiram um papel fundamental como principal canal de
comunicação dentro dos movimentos sociais e que estão nas mãos dos movimentos
sociais.
Castells (2013) reapresenta este conceito de autocomunicação, já visto
neste estudo, em seu livro mais recente denominado “Redes de Indignação e
Esperança”. A autocomunicação como a capacidade da produção de mensagem de
modo autônomo e direcionada para quem de interesse.
47
É autocomunicação porque a produção da mensagem é decidida de modo autônomo pelo remetente, a designação do receptor é autodirecionada e a recuperação de mensagens das redes de comunicação é autosselecionada. A comunicação de massa baseia-se em redes horizontais de comunicação interativa que, geralmente, são difíceis de controlar por parte de governos ou empresas. Além disso, a comunicação digital é multimodal e permite a referência constante a um hipertexto global de informações cujos componentes podem ser remixados pelo ator que comunica segundo projetos de comunicação específicos. (CASTELLS, 2013, p. 10).
Com os movimentos vêm ganhando voz perante a sociedade, os governos
reagem, muitas vezes, com censura sobre o conteúdo digital, cientes do “poder” que
estes contrapoderes têm.
2.3. Movimentos Sociais na Internet
Neste início do século XXI, os movimentos sociais ganharam uma grande
aliada para as suas mobilizações, que é a rede social.
Segundo Castells (2013), entre 2009 e 2011 a Tunísia e a Islândia tornaram-
se ponto de referência para todos os movimentos sociais que surgiriam a partir desta
data. Tais movimentos revolucionaram a política árabe e desafiaram algumas
instituições políticas da Europa, dos Estados Unidos e também do Brasil.
2.3.1.Tunísia, onde tudo começou
O que aconteceu na Tunísia se tornou referência para os movimentos
sociais que inspiraram todo o mundo com as mobilizações e reivindicações
alavancadas com o suporte midiático.
‘Na primeira manifestação de massa realizada na Praça Tahrir, no Cairo, em 25 de janeiro de 2011, milhares gritavam: Tunísia é a solução!’, modificando de propósito o lema ‘O Islã é a solução!’, que havia dominado as mobilizações sociais no mundo árabe nos últimos anos. As palavras de ordem referiam-se à derrubada da ditadura de Ben Ali, que fugira de seu país em 14 de janeiro, após semanas de protestos de pessoas comuns que conseguiram sobrepor-se à sangrenta repressão do regime. (CASTELLS, 2013, p.19).
48
A maioria da população da Tunísia apoiava o fim do regime ditatorial, mas
quem deu o início a todo o movimento de reinvidicações foram os jovens
desempregados, com o detalhe que os mais desempregados eram os que tinham
diploma de curso superior. A taxa de desemprego chegou a 13,1% na Tunísia e
entre os jovens com diploma superior a taxa foi de 21,1%. Essa mistura de
educação com falta de oportunidades foi um terreno fértil para a revolta na Tunísia e
em todos os outros países árabes, segundo Castells (2013).
O que se mostra mais uma vez neste trabalho é a ação dos jovens buscando
mudanças sociais, devido à má condição econômica e política do país, numa luta
pela falta de democracia e em oposição a todo tipo de corrupção. Estes protestos
são parecidos com aqueles acontecidos no Brasil na década de 60, como já
abordado anteriormente mas com outros objetivos.
Castells (2013) aponta, ainda, três pontos importantes para o estopim que
aconteceu na Tunísia, o que ele considerou uma nova forma de movimento social
em rede no mundo árabe.
1. A existência de um grupo ativo de desempregados com educação
superior.
2. Presença muito forte dos ciberativistas com criticas aos sistemas.
3. Alta taxa de difusão do uso da internet em residências, escolas e
cibercafés.
Com as mesmas características e as mesmas indignações é que teve início
a Revolução Egípcia em 2008, contra a injustiça, o desemprego e a luta pela
democracia.
Como já comentado neste capítulo e também diferenciado, o Facebook tem
algumas características próprias, entre elas a criação de grupos em que os
militantes conseguem uma grande adesão. Esta foi a principal ferramenta de
comunicação nesta revolução.
49
2.3.2. A Revolução Egípcia
Com base nessa revolução, segundo Castells (2013, p. 38) nasceu o
“Movimento da Juventude 6 de Abril, o qual criou um grupo no Facebook que atraiu
70 mil seguidores”.
Motivados por tanta injustiça social, desemprego, falta de democracia e depois
da queda do ditador Mubarak é que surgiu este movimento, como explica Castells:
A revolução de 25 de janeiro, que em dezoito dias destronou o último faraó, nasceu das profundezas de fatores como opressão, injustiça, pobreza, desemprego, sexismo, arremedo de democracia e brutalidade policial. Ela foi precedida de protestos políticos (depois das eleições fraudulentas de 2005 e 2010), lutas pelos direitos das mulheres (rudemente suprimidos na Quarta-Feira Negra de 2005) e conflitos trabalhistas, como a greve das fábricas de tecidos de Mahalla-al-Kubra em 6 de abril de 2008, seguida de distúrbios e da ocupação da cidade em reação à repressão sangrenta aos grevistas. Dessa luta nasceu o Movimento da Juventude 6 de Abril, 2 o qual criou um grupo no Facebook que atraiu 70 mil seguidores. Waleed Rashed, Asmaa Mahfouz, Ahmed Maher, Mohammed Adel 3 e muitos outros ativistas desse movimento desempenharam papel de destaque nas manifestações que levaram à ocupação da praça Tahrir em 25 de janeiro. Fizeram-no juntamente com muitos outros grupos formados em conspirações de bastidores, enquanto se ampliavam pela internet. (CASTELLS, 2013, p. 38).
O que ajudou muito este grupo a crescer foi um vídeo feito em memória de
um ativista chamado Khaled Said, que mostrava o jovem sendo espancado até a
morte pela polícia, em junho de 2010, num cibercafé em Alexandria. Este foi o
motivo que incitou a raiva que gerou a indignação. Do cibercafé estes grupos se
encontraram em frente ao Ministério do Interior para iniciarem as manifestações.
Mas, o que mais chamou a atenção foi a postagem de um vídeo no Youtube,
de uma jovem indignada com o que estava acontecendo. Junto com o outro vídeo
este da jovem ajudou a explodir a revolta dos Egípcios.
A jovem aqui citada por Castells é Asmaa Mafhouz, de 26 anos, estudante
de administração da Universidade do Cairo e fundadora do movimento. Segue a sua
escrita:
Quatro egípcios atearam fogo ao corpo… Gente, que vergonha! Eu, uma moça, postei que vou sozinha à Praça Tahrir portando uma bandeira… Estou fazendo este vídeo para lhes passar uma
50
mensagem simples: nós vamos à Praça Tahrir em 25 de janeiro… Se vocês ficarem em casa, vão merecer tudo que está sendo feito com vocês, e serão culpados perante sua nação e seu povo. Vão para as ruas, enviem SMS, façam seus posts na rede, levem consciência às pessoas. (CASTELLS, 2013, p. 38).
Com isso, conseguiram mobilizar mais de 2 milhões de pessoas de diversas
classes sociais e religiões diferentes para estarem juntos e protestarem pelo mesmo
motivo ao ocuparem a Praça Tharir, na Tunísia. O confronto com a polícia terminou
com a morte de mais de 80 pessoas e, posterior a isso, foi formado um comitê para
investigar o uso “excessivo da força” policial.
Mais uma vez a tecnologia e a comunicação foram fundamentais para estes
movimentos de revolta e de indignação.
Em 2013, o Facebook chegou a mais de 1 bilhão de usuários e se fosse um
país ele seria o terceiro maior do mundo; conta hoje com tradução em mais de 70
idiomas. A versão árabe chegou em 2009 e em pouco mais de 2 anos chegou a
mais de 5 milhões de usuários dos quais 600 mil foram adicionados em janeiro e
fevereiro, meses que precederam o início da revolução.
O que caracteriza estas redes sociais digitais é a grande velocidade e a forma
viral com que tudo se espalha, semelhante a um vírus de computador, que atinge
um grande público em pouco tempo. Foi o que aconteceu no Egito, onde a
velocidade com que as notícias se tornaram disponíveis foi a grande chave do
processo de mobilização contra Muhammad Mubarak, que é um militar egípcio que
governou seu país de 14 de outubro de 1981 a 11 de fevereiro de 2011, quando
apresentou sua renúncia ao cargo com 82 anos, após 18 dias de protestos no Egito.
A conexão entre a mídia social na internet e as redes sociais com as
pessoas, se tornou possível devido à existência de um território ocupado, que
trabalhava as ações híbridas entre internet e espaço público.
Muito conteúdo em termos de imagens e vídeos foram produzidos e
coletados pelos manifestantes e, em pouco tempo, já estavam disponíveis para a
população.
2.3.3. Occupy Wall Street
Em Washington foi o maior movimento local ficou conhecido como Occupy
Wall Street. O mercado imobiliário estava falido e milhões de pessoas perderam
51
todo o valor que haviam construído durante toda a vida. Empresas foram fechadas
eliminando milhões de empregos e reduzindo profundamente os salários.
Diante destas circunstâncias o que se poderia esperar, a não ser que a
população se unisse em torno de uma causa comum, bem como procurasse resolver
estas indignações.
As pessoas ficaram desestimuladas e com raiva. Alguns começaram a quantificar sua raiva. A parcela da renda americana apropriada pelo 1% mais rico pulou de 9% em 1976 para 23,5% em 2007. O crescimento cumulativo da produtividade entre 1998 e 2008 chegou a cerca de 30%, mas os salários reais cresceram somente 2% durante a década. O setor financeiro apropriou-se da maior parte dos ganhos de produtividade, com sua parcela dos lucros crescendo de 10% na década de ele empregar apenas 5% do total da força de trabalho. Na verdade, o 1% mais rico apropriou-se de 58% do crescimento econômico nesse período. Na década anterior à crise, os salários reais por hora aumentaram 2%, enquanto a renda dos 5% mais ricos aumentou 42%. O salário de um diretor executivo era cinquenta vezes maior que o do trabalhador médio em 1980 e 350 vezes em 2010. (CASTELLS, 2013, p. 96).
Para Castells (2013, p.98), uma frase que ficou muito conhecida neste
movimento foi esta: “É chegado o momento de os 99% dos americanos se
mobilizarem e se manifestarem agressivamente sobre reformas políticas sensatas”.
Com este lema estes 99% foram às ruas reivindicar os seus direitos em
oposição a um grupo composto por 1% da população que controla 23% das riquezas
do país; o governo atual estava mais interessado em atender a esse 1% do que os
99% que representam os mais prejudicados.
“Washington. É hora de DEMOCRACIA, NÃO EMPRESARIOCRACIA. Sem
isso, estamos condenados.” (CASTELLS, 2013, p.98).
O que trouxe esperança aos estadunidenses foi um eco vindo das revoltas
árabes e da Europa, mas principalmente da Espanha, ouvido ao vivo e pela internet,
ou seja, o que se assistiu foi um movimento de cidadãos comprometidos com as
suas lutas e seus projetos sociais que deu inspiração para mais pessoas irem às
ruas americanas.
Dentro deste movimento e nas reuniões promovidas existia um apelo por
uma manifestação global, ou seja, por algo maior do que simplesmente um país ou
uma cidade. Sob o lema “Unidos pela mudança global” é que no verão de 2011 se
acendeu uma centelha, pois, uma revista de crítica cultural, com sede em
Vancouver, postou no seu blog a seguinte convocação, segundo Castells (2013,
52
p.98): “#occupywallstreet. Você está pronto para um momento Tahrir? No dia 17 de
setembro, invada Lower Manhattan, monte barracas, cozinhas, barricadas pacíficas
e ocupe Wall Street.”
O perfil desses manifestantes basicamente era composto por jovens
instruídos e que tinham grandes expectativas para o seu futuro. Jovens instruídos,
mas, com as suas expectativas profissionais limitadas pela economia da época. Em
sua ampla maioria trata-se de jovens brancos, embora houvesse a presença mesmo
que em minoria de afro-americanos.
Assim, as redes sociais da internet mobilizaram apoio suficiente para que as
pessoas se reunissem e ocupassem o espaço público, territorializando o seu
protesto.
Em relação a outros países, nos Estados Unidos o Facebook era muito
criticado pelos movimentos por ser uma plataforma de proprietários e também por
existir um software em sua versão de reconhecimento facial que identificava
imediatamente pessoas em fotografias, o que não era bem vindo, uma vez que, os
manifestantes seriam facilmente identificados pelas autoridades locais.
Enfim, isso era malvisto, devido à desconfiança de que o Facebook não
protegeria a privacidade, caso intimado por autoridades.
Assim, alguns ocupantes habilidosos tentavam usar alternativas ao Facebook, como o N-1, o Ning ou o Diáspora. Outros dedicaram-se ao desenvolvimento de um ‘Facebook do Occupy’ chamado Global Square, amplamente divulgado pelo WikiLeaks. (CASTELLS, 2013, p.108).
O Livestreams, que é uma coleção de ferramentas, que permite aos usuários
transmitir conteúdos de vídeo em tempo real pela internet e que permite aos
usuários fazerem as suas próprias transmissões, foi muito utilizado pelo movimento
Occupy de Boston como uma tecnologia relevante.
Em 11 de outubro de 2011 o Occupy de Boston enfrentou uma grande
violência policial, que foi acompanhada de muitas detenções. Fez-se uso desta
ferramenta Livestreams para começar as transmissões e assim foi possível verificar
a audiência em tempo real das pessoas que estavam assistindo ao vivo. O número
chegou a mais de 8 mil pessoas em pouco tempo quando, de repente, a transmissão
foi interrompida e se tornou um símbolo de que a manifestação havia sido
silenciada. Com isso, muitos que assistiam de suas casas puderam perceber que
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aquilo que estava acontecendo era efetivamente uma grande experiência
mobilizadora.
Como os movimentos Occupy não tiveram políticas específicas,
consequentemente, não se obtiveram mudanças significativas. Entretanto, algumas
campanhas conseguiram corrigir, pelo menos parcialmente, algumas injustiças
sociais como, por exemplo, o movimento envolvendo a questão das moradias,
acontecido no dia 06 de dezembro, que foi escolhido para a ação. Os grupos de
manifestantes “ocuparam” casas de famílias despejadas em muitas áreas do país,
com a finalidade de pressionar os credores a oferecer outras condições de
empréstimo com redução de juros substanciais. Conseguiram obter êxito em muitas
delas, ao ponto de restabelecer hipotecas que haviam sido canceladas.
Em outro exemplo, com uma ação muito criativa intitulada “Dia da
Transferência Bancária”, os indivíduos foram estimulados a transferirem suas contas
dos grandes bancos de Wall Street para pequenas cooperativas de crédito sem fins
lucrativos. Contudo, a ação mais criativa de todas foi a do dia dos namorados que
apresentava o seguinte slogan: “Separe-se de Seu Banco”. Após o Bank of America
anunciar que iria impor uma taxa mensal de US$ 5 por cartão de crédito e conta
corrente, houve uma onda de protestos; muitos clientes encerraram suas contas e
com esse movimento o referido banco cancelou as taxas.
No dia 15 de outubro de 2011, uma página do Facebook dedicada a esse esforço foi ‘curtida’ por 54.900 pessoas. O dia 5 de novembro de 2011 foi declarado ‘Dia da Transferência Bancária’. De acordo com a Associação Nacional de Cooperativas de Crédito (ANCC), o site da organização que informava os clientes sobre serviços de cooperativa viu seu tráfego duplicar nesse período. A ANCC estimava que quase 650 mil clientes tenham aberto novas contas em cooperativas de crédito entre o final de setembro e a data-alvo de 5 de novembro. (CASTELLS, 2013, p. 121).
Castells (2013, p.128) mostra uma mensagem postada no tuíte de
@souriastrong (Rawia Alhoussaini), que dizia:
“Nós derrubamos o muro do medo
Vc derrubou o muro de nossa casa
Nós vamos reconstruir nossos lares
Mas vc nunca vai erguer aquele muro do medo”.
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Com estes três exemplos de ocorrências nestes países pode-se verificar o
quanto as mobilizações passaram por uma grande transformação na área da
comunicação com a chegada destas tecnologias, proporcionando aos indivíduos um
engajamento nas propostas de políticas públicas que interferiram diretamente no dia
a dia das comunidades envolvidas.
O capítulo que segue se inicia explicando o conceito de Tecnologias Sociais
e Educação e o quanto isso está presente nestas mobilizações; aborda as redes
sociais como suporte aos movimentos e encerra com o exemplo do que aconteceu
no Brasil em junho de 2013, nas manifestações que ficaram conhecidas pelos 20
centavos de aumento da passagem nos transportes públicos.
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3. TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
De acordo com Chaves (2011), Tecnologia é:
[...] na minha forma de ver, é tudo aquilo que o ser humano inventa para tornar sua vida mais fácil ou mais agradável. Ela inclui coisas tangíveis (hardware), como equipamentos, instrumentos e dispositivos diversos, e coisas intangíveis (software), como linguagens, sistemas numéricos, sistemas de notação (musical, por exemplo), métodos, procedimentos, princípios, regras de organização, etc. Assim, a linguagem verbal, que inclui a fala e a escrita, é tecnologia. Comunidade, embora possa parecer estranho a alguns, também é tecnologia.
Pedreira e Lassance Junior (2004, p.51) afirmam ser as tecnologias sociais
“técnicas, materiais e procedimentos metodológicos testados, validados e com
impacto social comprovado, gerados por demandas sociais reais, a fim de solucionar
problemas sociais”.
Existem demandas reais das comunidades que devem ser solucionadas, por
meio de uma educação que considere e articule tudo o que é produzido nas
universidades, centros de pesquisa e organizações governamentais, bem como,
considera a experiência e conhecimento produzido por estas comunidades.
“Tecnologias sociais devem, portanto, gerar soluções de transformação
social, dentro de uma participação do coletivo.” (SOFFNER; BALDUCCI, 2013, p.10)
Para o Instituto de Tecnologia Social do Brasil − ITS BRASIL – que está
ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), tecnologias sociais é definida da
seguinte forma:
Conjunto de técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida. (ITS BRASIL, 2013).
A tecnologia social está muito ligada ao principal objetivo deste trabalho,
pois, ela identifica os problemas enfrentados pelas comunidades e busca uma
transformação social com os envolvidos. Tem como meta conquistar mais qualidade
de vida, bem como atender às necessidades básicas dos grupos sociais da
tecnologia midiática como parte deste contexto.
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De acordo com uma pesquisa feita pelo ITS Brasil com mais de 80
instituições, além de movimentos e organização da sociedade civil, a Tecnologia
Social implica em: compromisso com a transformação social; criação de um espaço
de descoberta e escuta de demandas e necessidades sociais; relevância e eficácia
social; sustentabilidade socioambiental e econômica;inovação; organização e
sistematização dos conhecimentos; acessibilidade e apropriação das tecnologias;
um processo pedagógico para todos os envolvidos; o diálogo entre diferentes
saberes; difusão e ação educativa; processos participativos de planejamento,
acompanhamento e avaliação; a construção cidadã do processo democrático. (ITS
BRASIL, 2013).
No contexto destes movimentos sociais a tecnologia social está presente
num primeiro momento quando se iniciam as indignações, uma vez que já existem
os problemas que são expostos nas redes sociais digitais e num segundo momento
quando se encontram nas avenidas e espaços públicos.
Aqui há concordância com Castells (2013) quando ele apresenta o conceito
do espaço híbrido como aquele entre as redes sociais da internet e o espaço urbano
ocupado; o movimento começa na internet e depois que atinge um grande volume
de pessoas chega até o espaço urbano, com a tomada de áreas públicas.
Tecnologia social é aquela tecnologia que necessita os empreendimentos
solidários, ou seja, aqueles que se caracterizam pela propriedade coletiva dos meios
de produção, pelo processo do trabalho autogestionário, não controlado por um
patrão. (DAGNINO, 2013).
E isso ocorre independentemente de estar baseada em conhecimento
cientifico ou conhecimento popular ou conhecimento que a própria exclusão gera.
Para Dagnino (2013) é uma tecnologia desenvolvida com um protagonismo
essencial, destes que hoje são excluídos e que compõem o setor informal da nossa
economia.
• Hoje somos 190 milhões de brasileiros.
• 160 milhões em idade de trabalhar.
• Só 40 milhões tem carteira assinada.
• 8 milhões trabalham em empresas industriais.
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Para Dagnino (2013) são 120 milhões que estão ou vão estar na
informalidade e, por essa razão, o autor questiona: o que a universidade tem a ver
com isso?
Em resposta a esta questão Dagnino afirma que esses 120 milhões
precisam não de emprego e salário − que não vai existir para todo mundo −, mas,
sim, de oportunidades, de geração de trabalho e renda. E, em sua concepção, isto
pressupõe outro padrão cognitivo.
Afirma que tecnologia social é a plataforma cognitiva de lançamento da
economia solidária. E que esta economia solidária é tida como uma proposta
societária radicalmente distinta do capitalismo, em especial do capitalismo selvagem
que há na América Latina. (DAGNINO, 2013).
Também sobre tecnologias sociais e educação, Caldas, Leal e Machado
(2008) escreveram em um artigo sobre práticas da educação não-formal e
tecnologias sociais, no qual abordam os principais conceitos sobre tecnologias
sociais, bem como os projetos dentro da comunidade da Mata Escura, periferia de
Salvador-BA, que tem como metodologia de intervenção a utilização das tecnologias
sociais, aplicadas ao desenvolvimento do conceito de educação não-formal.
Para os autores, as tecnologias sociais, além de conceber produtos e
técnicas de interação dentro das comunidades, devem ser vistas também como um
processo que estimule a cidadania e que gere transformação social dentro das
comunidades envolvidas.
De acordo com Bava (2004, p.116), as tecnologias sociais são mais do que
a capacidade de implementar soluções para determinados problemas, pois, devem
ser uma alternativa com experiências inovadoras para a defesa dos interesses
comuns, bem como para a distribuição da renda.
Outro contexto que sempre entra em discussão é o papel das Tecnologias
Sociais, associado ao conceito de globalização, visto que todas estas dinâmicas
globais, em algum momento, interferem de maneira direta nas esferas locais e as
comunidades têm que se proteger deste cenário muitas vezes, até como forma de
sobrevivência.
Com este contexto e cenários, novos desafios são identificados e precisam
ser superados; novos processos produtivos devem ser estudados para que se
consiga maior geração de empregos, aumento de renda e de autoestima, por meio
da inclusão social.
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Muitos grupos de estudo têm desenvolvido diversas experiências em
instituições de ensino por todo país, estimulados pela Rede de Tecnologias Sociais,
do Ministério de Ciência e Tecnologia (RTS/MCT), no sentido de aprofundar os
estudos e contribuir para a construção do marco regulatório sobre as tecnologias
sociais no Brasil.
Caldas, Leal e Machado (2008) destacam uma das instituições que
promovem esta discussão que é o grupo de pesquisa do Laboratório de
Desenvolvimento de Tecnologias Sociais (LTECS), do Programa de Pós-graduação
em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador (UNIFACS), na
Bahia.
As pesquisas desenvolvidas pelas universidades devem ter o caráter de
contribuição para o desenvolvimento local, numa época de globalização da
economia, de competitividade das pessoas, das regiões e dos lugares.
O LTECS tem como princípio que a aprendizagem e a participação são
processos que caminham juntos; para que ocorra a transformação social dos
envolvidos é necessário que aconteça primeiro um respeito pelas identidades locais,
pois, este respeito fará com que as comunidades consigam entender que qualquer
indivíduo é capaz de gerar conhecimento e aprender.
Desse modo, é possível compreender as Tecnologias Sociais como um
conjunto de técnicas e procedimentos metodológicos que visam à aplicação do
conhecimento científico e tecnológico, produzido nas universidades, centros de
pesquisa e organizações governamentais e não governamentais, em articulação
com o conhecimento produzido pelas comunidades, para o desenvolvimento urbano
regional e local sustentável.
Esta experiência baseia-se nos princípios de Cooperação entre
Universidade/Comunidade, pois, se acredita que tudo o que está sendo estudado
nestes laboratórios de pesquisa tem como finalidade contribuir para a erradicação da
miséria, da fome, da degradação do meio ambiente, da prostituição, do tráfico de
drogas, da discriminação racial, da exploração do trabalho infantil, da precariedade
de moradias, entre outros. Para Caldas, Leal e Machado (2008), a universidade tem
um papel fundamental, sendo considerada como principal ator para a construção de
uma sociedade mais sustentável e com atuação nas casas, nas ruas, nos bairros e,
consequentemente, nas cidades.
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Um novo campo tem surgido que é o da educação não-formal, que aborda
os processos educativos fora das escolas, ao redor de ações coletivas, com os
movimentos sociais e também com as organizações não-governamentais e outras
entidades sem fins lucrativos que atuam na área social. (GOHN, 2001, p. 07).
A educação não-formal para Gohn (2001, p.16) está ligada diretamente com
outro conceito, o de cultura, que é definido de forma mais abrangente pela autora,
com um destaque para a cultura política, que somada com a educação permite a
compreensão da realidade e a luta para transformá-la.
Como já abordado neste texto, os fatores econômicos, sociais e políticos
possuem interferência direta na aplicação da educação, principalmente, com os
atores envolvidos; e pela cultura política é que a educação se consolida como
prática social, visto que, com isso, torna-se possível uma sociedade mais
esclarecida sobre a cultura política.
Com o avanço tecnológico dos últimos 40 anos, conforme apresentado no
Gráfico 1 da evolução das tecnologias, observa-se que a educação não
acompanhou essa evolução, principalmente na rede pública de ensino dos países
periféricos que, em muitas de suas escolas, não possuem nem o representante
simbólico maior da revolução tecnológica, o computador.
Com a educação formal deficitária abre-se um espaço para o surgimento de
outras formas de educação, com métodos e aplicação que se alicerçam no
alternativo, que buscam construir pessoas cidadãs e prontas para os desafios desta
nova sociedade.
A educação sociocomunitária também trabalha com a construção de ações
educativas que contribuem para a transformação social doa atores envolvidos.
Segundo Gomes (2008), a Educação Sociocomunitária busca modificar uma
determinada situação da existência social (ou certa tensão social) por meio da
educação.
A Educação Sociocomunitária é, assim, numa primeira visão, o estudo de uma tática pela qual a comunidade intencionalmente busca mudar algo na sociedade por meio de processos educativos. Nessa primeira visão, ao buscar essa tática a comunidade concretiza sua autonomia. Buscar mudar a sociedade significa romper com a heteronomia, com ser comunidade perenemente determinada pela sociedade. Porém, é preciso ser um pouco menos otimista e admitir outra visão, que é aquela que nos leva a incluir no âmbito da Educação Sociocomunitária os casos em que a comunidade é articulada para mudanças na sociedade. (GOMES, 2008, p. 7).
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As mudanças na sociedade acontecem, também, por meio das
manifestações, que os grupos, através de seus movimentos, realizam buscando
desenvolver um processo de respeito à cidadania.
Para Gomes (2008), a proposta de estudo da Educação Sociocomunitária
não é feita como hipótese para solucionar todos os problemas sociais e educativos,
mas, sim, em construir articulações políticas que são expressas em ações
educativas que possam provocar transformações sociais intencionadas.
Portanto, na concepção de Gomes (2008), a proposta de Educação
Sociocomunitária, está no levantamento de problemas efetivos, que devem ser
levantados na e por uma comunidade, sendo feitas então as articulações
sociopolíticas para possíveis soluções a estes.
O que os movimentos sociais procuram fazer, na maioria das vezes, é levar
ao conhecimento da sociedade os problemas que afligem determinadas
comunidades e, com essa ação, visam obter algumas soluções a esses problemas
ou mesmo o engajamento de defensores desse tipo de causa.
Para Gomes (2008, p.4) “vivemos sob os apelos de grupos sociais que
gritam seus lemas e suas reivindicações, vivemos num mundo que mede discursos
pelo que fazem sentir agora e não exatamente pelo que provocam na história”.
Assim, vive-se numa sociedade composta por grupos com interesses
particulares; formados por pessoas que estão diretamente ligadas a ações voltadas
para a educação de crianças e adolescentes; outras que têm no seu foco os idosos;
há grupos que defendem as causas ambientais; outros que têm como objetivo cuidar
de animais abandonados e outros que estão preocupados com os direitos humanos,
ou seja, cada um com um objetivo e com um interesse próprio.
Para dizer de forma sucinta, a comunidade, como local e prática do cotidiano, é também o local onde se reiteram as tradições, onde se fixam os preconceitos, onde se praticam de forma transparente as exclusões menos perceptíveis, sob a égide serena dos hábitos e costumes. (GOMES, 2008, p. 6).
Pode-se entender que dentro destes movimentos sociais existe uma
educação não formal e sóciocomunitária. (grupos de pessoas que se reúnem para
aprender, seja um saber ou um fazer, sem as chancelas da certificação.
Neste momento pode-se também abordar o conceito de Pedagogia Social,
pois por meio da educação ela vai propor a superação dos conflitos e impulsionar
uma possível renovação na sociedade.
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O conceito de pedagogia social mais generalizado é o que faz referência à ciência da educação social das pessoas e grupos, por um lado e, por outro, como ajuda, a partir de uma vertente educativa, às necessidades humanas que convocam o trabalho social, assim como ao estudo da inadaptação social. (DIAZ, 2006, p.96).
Para Freire (2003, p.23), além do poder material, há a força ideológica,
também material, que reforça aquele poder e este desalojamento dos oprimidos dos
espaços de sobrevivência não é algo inexorável, sendo preciso “que a fraqueza dos
fracos se torne uma força capaz de inaugurar a justiça”.
É essa justiça que estes movimentos sociais buscam, quando resolvem
iniciar as suas mobilizações e que acabam se tornando visíveis para toda uma
nação ou, em alguns casos, essas realidades se tornam de conhecimento mundial.
Paulo Freire (1987), em seu livro “Pedagogia do Oprimido” com a 1ª. edição
publicada em 1970, levanta a importância de uma pedagogia emancipatória do
oprimido, em relação aquela pedagogia da classe dominante; uma pedagogia que
contribua para a libertação e a transformação do sujeito, para que ele seja o autor da
sua própria história, da práxis fundada na Ação e Reflexão.
Essa pedagogia caracteriza-se por um movimento de liberdade que surge a
partir dos oprimidos, sendo a pedagogia realizada e concretizada com o povo, na
luta pela sua humanidade.
Freire (1987) justifica no primeiro capítulo o titulo do livro, pedagogia do
oprimido, explicando que o homem tem que ser o sujeito da realidade histórica onde
ele está inserido, lutando a todo tempo pela liberdade enfrentando a classe
dominadora contra as injustiças que tendem a se perpetuar.
Igualmente cita que só na convivência com os oprimidos é que será possível
compreender as suas formas de ser, de comportar e de refletir esta estrutura da
dominação.
Já no segundo capítulo o autor apresenta o conceito de educação bancária,
que é caracterizada como um depósito de saberes ou uma ação assistencializadora
para um povo considerado “tábula rasa”. Este ato de depositar conhecimentos
considera o homem como um ser adaptável e ajustável e a ação entre educador e
educando é caracterizada pela ausência de criatividade, pois, segundo o autor, só
existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente e
permanente que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros, o que
se traduz numa busca esperançosa.
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Segundo Freire (1987), os homens educam-se entre si e, com essa frase,
chama a atenção para que neste processo o homem não aliene os outros nas suas
decisões, mas, sim, que os incentive à luta pela sua emancipação no mundo.
3.1. Redes Sociais como Suporte aos Movimentos Sociais
No século XXI os movimentos sociais ganharam um grande aliado,
representado pelas redes sociais; com elas os grupos se organizam, registram e
documentam tudo o que acontece.
A Internet ou qualquer outra tecnologia não tem o poder de fazer com que as
mobilizações aconteçam sozinhas, contudo, entende-se que ela tem sim um papel
fundamental na comunicação dos objetivos, motivos e dados destes movimentos
estando, assim, na raiz destas mobilizações.
Castells (2013) apresenta um conceito novo para as redes digitais: Social
Networking Sites (SNS) que representam uma ampla rede de comunicação, como
uma teia que envolve tudo e todos.
Os SNS são espaços nos quais diversas atividades acontecem, ou seja, em
locais de amizade, bate-papo, marketing, e-commerce, promovendo agora um novo
conceito que é o social commerce, no qual acontecem as vendas dentro destas
redes sociais, educação, mídia, entre outros. Porém, continua um espaço, para que
ocorra o ativismo sociopolítico.
A chave do sucesso de um SNS não é o anonimato, mas, pelo contrário, a autoapresentação de uma pessoa real conectando-se com pessoas reais. As pessoas constituem redes para estar com outras, e para estar com outras com as quais desejam estar, com base em critérios que incluem aquelas que já conhecem ou as que gostariam de conhecer. Assim, é uma sociedade em rede autoconstruída com base na conectividade perpétua. Mas não é uma sociedade puramente virtual. Há uma íntima conexão entre as redes virtuais e as redes da vida em geral. (CASTELLS, 2013, p.136).
Com estas Redes os movimentos podem agora compartilhar as suas
indignações e busca por dias melhores.
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E é nesse mundo que os movimentos sociais em rede vieram à luz, numa transição – natural, para muitos indivíduos – do compartilhamento de sua sociabilidade para o compartilhamento de sua indignação, de sua esperança e de sua luta. (CASTELLS, 2013, p.137).
3.2. Movimentos Sociais no Brasil em Junho de 2013
No Brasil, no ano de 2013, em julho, movimentos de revoltas chegaram à
cidade de São Paulo-SP, devido ao aumento das tarifas de ônibus em R$ 0,20; a
passagem custava R$ 3,00 e o governo municipal tentou aumentá-la para R$ 3,20.
Este movimento foi apenas o estopim de muitas outras reivindicações, mas todos os
outros movimentos utilizaram estes R$ 0,20 para mostrar que não era só pelos R$
0,20, e sim por muitas outras coisas.
Não se tem aqui a intenção de fazer uma análise política do fato em si, se
pretende, apenas, considerar o movimento acontecido, o que eles apresentaram de
propostas concretas, os principais resultados obtidos e como as SNS (Social
Networking Sites) foram utilizadas neste período. Para tanto, se faz necessário citar
algumas pessoas e ou instituições.
Os vinte centavos foram o estopim e o símbolo de um movimento que
começou com o aumento da passagem do ônibus, se expandiu e virou um grito
coletivo que tomou a Avenida Paulista e ecoou nas ruas do Brasil.
Estes movimentos foram uma ótima notícia em termos de democracia − aqui
entendida como a soberania popular, com as pessoas saindo às ruas para mostrar
as suas revoltas e indignações; ao mesmo tempo, reforçando o que já foi
mencionado e está ocorrendo em outros países, a falta de representatividade das
classes políticas.
O Dicionário de Sociologia, assim define a democracia política:
Da forma aplicada à política, uma democracia (do grego, significando ‘governo do povo’) é um sistema social no qual todos dispõem de parcela igual de poder. Embora existam muitos sistemas sociais relativamente pequenos e simples (um grupo de amigos, por exemplo) que são organizados como democracias puras, no nível de organizações, comunidades e sociedades inteiras complexas, a democracia pura é muito rara. Em parte isso se deve ao fato de que a definição de ‘todos’ quase sempre exclui algumas partes da população – tais como mulheres, crianças ou minorias. Além do
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mais, quase todas as sociedades que descrevem a si mesmas como democracias políticas são na verdade democracias representativas, nas quais cidadãos elegem representantes que, na prática, detêm e exercem a autoridade política. (JOHNSON, 1997, p.66).
Quando a população resolveu sair às ruas para buscar uma vida melhor,
este conceito de Democracia passou a ser colocado em prática, pois este é o
verdadeiro significado da palavra democracia, ou seja, governo do povo e pelo povo,
com a participação nas decisões a caminho de uma vida plena.
Um ponto que chamou muita atenção foi a violência que marcou quase
todas as manifestações, e que nos fez lembrar o tempo de ditadura, conforme
apontado no primeiro capítulo deste trabalho.
Brum (2013), em artigo publicado na Revista Época e intitulado “Quanto vale
20 centavos?” faz um comparativo das frases utilizadas pelo atual governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin, em cada momento que aconteciam as manifestações,
em relação ao que as pessoas que participavam do movimento escreviam e, com
isso, foi possível perceber que, em determinado momento, o governador deixou de
falar desse assunto como se nada estivesse acontecendo:
Todos estão identificados com nome e sobrenome no Twitter, mas, depois do que vi na quinta-feira, por precaução, eu prefiro chamá-los aqui apenas de @manifestantes:
‘@GeraldoAlckmin O direito à livre manifestação é um princípio basilar da democracia. Assim como o direito de ir e vir e a preservação do patrimônio público/@manifestante: Praça enchendo em paz... bonito/ @GeraldoAlckmin Depredação, violência e obstrução de vias públicas não são aceitáveis. O Governo de São Paulo não vai tolerar vandalismo/@manifestante: Repressão brutal, pessoas desesperadas, moradores com crianças correndo. Se o Haddad compactuar com isso é o fim definitivo do PT!! /@GeraldoAlckmin Participei hoje, em Santos, da comemoração aos 250 anos do nascimento de José Bonifácio Andrada e Silva, o patriarca da independência/@manifestante: Ônibus pegando fogo na Augusta. Milhares correndo, descendo a rua pedindo paz. PM segue com bombas. Motoristas encurralados por gás/@GeraldoAlckmin Ainda em Santos inaugurei nova delegacia de polícia do Porto de Santos, que ano passado recebeu 1.1 milhão de turistas /@manifestante: Tentei sair. Eles atiraram na minha frente. Virei, atiraram atrás. Fiquei cega, entrei num motel. Consegui me recompor/@GeraldoAlckmin No Guarujá inaugurei o novo Hospital Emílio Ribas e anunciei a implantação do Restaurante Bom Prato/@manifestante: Pra dispersar, faz sentido jogar uma bomba no começo, uma no fim? Fiquei presa entre duas bombas de gás. Muita
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gente machucada/@GeraldoAlckmin Para Cubatão liberamos R$ 21,5 milhões para construir 800 apartamentos e mais 1.448 apartamentos para Santos que receberá mais uma Etec/ @manifestante: Eu nunca vi nada parecido. Muita gente ‘refugiada’ no hotel, sangrando/@GeraldoAlckmin Estive também em São Vicente p/ autorizar a recuperação da belíssima Ponte Pênsil, a construção de 1.120 moradias e a implantação da 2ª ETEC/ @manifestante: Augusta em chamas”. O governador despediu-se no Twitter, na noite que já está assinalada na história de São Paulo, a maior cidade do país, como uma das mais violentas desde a volta da democracia, com a seguinte frase: ‘@GeraldoAlckmin Parabéns a toda a população de Guaratinguetá pelos 383 anos da cidade. Boa noite a todos!’. (BRUM, 2013).
Dois mundos e duas realidades; quem lia o que o governador escrevia e
quem seguia os participantes do movimento do Twitter, tinha em cena a realidade
dos fatos. Antes da internet, quando é que estas pessoas poderiam escrever e
ganhar tamanha audiência e repercussão em tão pouco tempo? Certamente seria
impossível, uma vez que estes meios de comunicação ofereceram uma grande
exposição a tudo o que estava acontecendo, em tempo real e bem mais rápido que
os veículos tradicionais de comunicação.
A população começou a comparar, não só o que escrevia o governador,
mas, também, o que era divulgado pela mídia tradicional (televisão, jornal e rádio),
bem como o que as pessoas relatavam em seu Twitter; enfim, numa leitura muito
mais critica e elaborada dos acontecimentos.
Muitas emissoras de televisão tiveram que se render ao que estava
ocorrendo, ao ponto de retirarem do ar a programação de novelas e jornais,
tradicionalmente conhecidos por terem muita audiência.
O significado dos 20 centavos neste momento era algo muito maior e isso
apareceu nas frases do Twitter que, de acordo com Brum (2013), era a menor das
questões, pois, o que estava em jogo era o direito das pessoas se manifestarem.
A violência da polícia paulista motivou a reação de outras camadas da população e de outras faixas etárias, levando novas adesões ao movimento. O que se vê nas redes agora é a soma daqueles que dizem ser preciso lutar pela democracia e pela liberdade de protestar. Esse sentimento é demonstrado nas quatro frases do Twitter mais republicadas, segundo a análise do professor Fabio Malini: ‘@LeoRossatto A tarifa virou a menor das questões agora. Os próximos protestos precisam ser, antes de tudo, pela liberdade de protestar/ @choracuica Não é mais sobre a tarifa. F...-se a tarifa. Isso ficou muito maior que a questão da tarifa/@gaiapassarelli Há algo
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grande acontecendo e é menos sobre aumento de tarifa e mais sobre tomar posição. Todo mundo deveria prestar atenção/ @tavasconcellos Não é mais uma discussão sobre tarifa. Transporte. Baderna. Sobre nada disso. É sobre o direito de se manifestar por qualquer causa’. (BRUM, 2013).
Outro ponto importante a se destacar é que a maioria do público era
composta por jovens. Contudo, essa indignação também chegou a outras camadas
da população como, por exemplo, o produtor cultural e músico Edson Natale.
Edson Natale, músico e produtor cultural, mandou o seguinte texto para o seu mailing, do qual também faço parte: ‘Vou pra rua na segunda (17/6). E vou porque acho que devo cuidar da rua e porque o Brasil não é só a rua por onde ando. Vou pra rua por minhas crenças e pelas crenças dos filhos: dos meus filhos e dos filhos dos outros. Não é muita coisa ir pra rua, mas não quero perder o direito de ir, quando quiser. Não tenho partido, nem religião, mas acredito, sobretudo, na vida, nas pessoas e no futuro, por exemplo. Tenho 51 anos e poderei (tentar) ajudar a evitar a violência ou a quebradeira, seja lá de quem for. Estarei lá para mostrar que não tenho gostado dos conchavos, das negociatas, das simulações e das dissimulações que têm acontecido tão intensamente nos bairros, cidades e estados; nas florestas, litorais e sertão, independentemente dos partidos responsáveis por elas. Tenho 51 anos e digo – com maturidade – que é preciso ir para a rua e levar as nossas crenças para passear um pouco e encontrar-se com outras crenças, diferenças e verdades. Acho que é assim que se faz um País e eu tinha me esquecido disso. Por isso agradeço aos que ocuparam as ruas antes de mim e por mim. E antes que alguém diga, ressalto que não vou para a rua defender partidos políticos, violência, quebradeira ou ódio... nem para impor a ‘minha’ verdade. E dessa forma encerro aqui o meu convite: vamos?’. (BRUM, 2013).
O que novamente chama a atenção é que a convocação destes movimentos
não foi feita por pessoas públicas ou mesmo de movimentos sociais tradicionais, e
sim por jovens conectados as SNS – (Social Networking Sites).
O Junho de 2013 já é histórico. Milhões de brasileiros foram às ruas das principais cidades do país após décadas de apatia social. Isso sem a convocação de figuras públicas ou entidades tradicionais dos movimentos sociais – e contra as orientações da grande imprensa, que insistia em rotular todos os manifestantes de vândalos e baderneiros no início da revolta, clamando por uma repressão mais dura da polícia. A onda despertou tanto interesse quanto confusão
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entre a academia e as organizações sociais, em todo o espectro político. (BRASILINO; GODOY; NAVARRO, 2013).
O “Movimento Passe Livre” foi quem iniciou as primeiras manifestações
contra o aumento da passagem nas redes sociais e depois chegou às ruas.
O Movimento Passe Livre (MPL), que chamou as primeiras manifestações contra o aumento da passagem, sobretudo pelas redes sociais, fortaleceu-se durante o processo e obteve amplas vitórias políticas. Porém, não é plausível dizer que a organização liderou sozinha as manifestações. Situado no campo da esquerda, o MPL chegou a divulgar notas condenando a aparição de pautas conservadoras nos atos por ele convocados. Ao passo que os maiores veículos de comunicação começaram a apoiar os protestos, foram surgindo manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, contra o aborto e pela redução da maioridade penal, e cresceu a hostilidade contra organizações de esquerda nos atos. (BRASILINO; GODOY; NAVARRO, 2013).
Para Castells (2013), a mobilidade urbana é um direito universal.
Passe Livre. Porque a mobilidade é um direito universal, e a imobilidade estrutural das metrópoles brasileiras é resultado de um modelo caótico de crescimento urbano produzido pela especulação imobiliária e pela corrupção municipal. E com um transporte a serviço da indústria do automóvel, cujas vendas o governo subsidia. Tempo de vida roubado e pelo qual, além de tudo, deve-se pagar. (CASTELLS, 2013, p.144).
Castells (2013) apresenta um posfácio, no qual comenta o que aconteceu
em julho de 2013 no Brasil e também aponta que os 20 centavos agora haviam se
tornado algo muito maior. Isto porque, como todos os outros movimentos do mundo,
ao lado de reivindicações concretas, que logo se ampliaram para educação, saúde,
condições de vida, o essencial foi a defesa da dignidade de cada um, ou seja, o
direito humano fundamental de ser respeitado como ser humano e como cidadão
A aproximação da Copa do Mundo no Brasil, que acontecerá em 2014
também foi um fato que chamou a atenção e esteve presente em muitas das
manifestações, pois, no momento acontecia a Copa das Confederações, fazendo vir
à tona, pela mídia, os gastos realizados pelo governo com o dinheiro público, nos
grandes estádios ou arenas, como agora são conhecidos e, por outro lado, a
população precisando do básico como saúde e educação, sem quase nada obter.
Muitos manifestantes mostravam a sua indignação com os seguintes dizeres
em faixas: “Trocamos dez estádios por um hospital decente”.
68
Em entrevista a Jean-Philip Struck, da Revista Veja, o prefeito atual de São
Paulo, Fernando Haddad comentou sobre o impacto que este aumento de R$0,20
representava e também que este aumento deveria ser “digerido pela sociedade”.
Segundo Struck (2013), o prefeito reiterou que é impossível baixar qualquer tarifa
sem comprometer o orçamento de outras áreas. Assim, caso o aumento dos 20
centavos não ocorra, a prefeitura terá que arcar com um gasto anual da diferença de
até 2,7 bilhões de reais no ano de 2016.
Disse o prefeito na entrevista:
As pessoas têm que entender que essas escolhas são difíceis para o governante. A coisa mais fácil é agradar no curto prazo, de tomar uma decisão de caráter populista, sem explicar para a sociedade as consequências do ato que você tomando. Ou você acha que essas escolhas [de reduzir a tarifa] não representam menos investimentos em outras áreas? (...) Isso precisa ser digerido pela sociedade. (STRUCK, 2013).
Struck ainda faz a seguinte menção:
O prefeito apontou que o melhor caminho é a aprovação de um projeto de desoneração do transporte público, que está em discussão em Brasília, e prevê isenção de impostos sobre o diesel e outros itens usados em ônibus. Segundo o prefeito, a aprovação do projeto pode ajudar a reduzir em até 7% o valor da tarifa. Haddad também citou a criação de mais corredores de ônibus para melhorar a eficiência do sistema. (STRUCK, 2013).
A mesma reportagem faz questão de mostrar e enaltecer os prejuízos em
relação ao vandalismo que aconteceu.
Depredações – Antes de Haddad, o subprefeito da Sé, Marcos Barreto, apresentou a contagem de prejuízos na região do Centro. Segundo a subprefeitura, 29 lojas foram saqueadas ou depredadas. Além da prefeitura, o prédio do Teatro Municipal e o pórtico da Praça do Patriarca foram pichados. Quase 200 lixeiras foram arrancadas. Segundo o governo do estado, mais de 50 pessoas foram presas durante os atos de depredação no centro. (STRUCK, 2013).
Struck (2013) também fez questão de apontar para nomes de partidos e
grupos de estudantes que causaram estes prejuízos.
Cerca de 500 manifestantes, segundo a Polícia Militar, participaram do primeiro ato em protesto contra o reajuste de 3 reais para 3,20 reais na tarifa de ônibus, trens e metrô em São Paulo. Convocado
69
pelo Movimento Passe Livre (MPL) e apoiado por partidos de esquerda (como PCdoB, PSOL, PSTU, PCO e PT), estudantes e grupos de punks e anarquistas, a marchar passou pela Avenida Paulista e deixou um rastro de vandalismo com a depredação de 65 ônibus e três entradas nas estações do Metrô, que sofreu 73.000 reais de prejuízo. Pelo menos quinze pessoas foram detidas e dezenas ficaram feridas em confronto com a PM. (STRUCK, 2013).
Em meio a tudo isso Castells (2013) aponta a importância do discurso da
presidente Dilma Rousseff, que foi seguido pelos governadores e prefeitos, ao
mencionar a tomada de algumas atitudes, entre elas a redução das passagens e
outras que seguem comentadas mais à frente.
É nesse contexto que a reação da presidenta Dilma Rousseff adquire todo seu significado. Pela primeira vez, desde que, em 2010, se iniciaram esses movimentos em rede em noventa países diferentes, a mais alta autoridade institucional declarou que “tinha a obrigação de escutar a voz das ruas”. E fez com que seu gesto de legitimação do movimento fosse acompanhado da recomendação, seguida pelas autoridades locais, de se anularem os aumentos das tarifas de transporte. Também prometeu uma série de medidas (até o momento, apenas promessas) relativas a um grande investimento público em educação, saúde e transporte. O mais relevante, porém, é que ressuscitou um tema perene no Brasil, a reforma política, propondo elaborar leis que investiguem e castiguem mais duramente a corrupção, um sistema eleitoral mais representativo e fórmulas de participação cidadã que limitem a partidocracia. (CASTELLS, 2013, p.145).
Outros resultados foram obtidos e aqui são apontadas algumas das
principais conquistas que podem ser atribuídas aos movimentos. Estes resultados
datam do dia 28 de junho de 2013, segundo Infográfico elaborado por Moreno
(2013) em 28 de junho.
- Em relação aos transportes públicos, os deputados aprovaram a redução
de PIS-COFINS (Programas de Integração Social-Contribuição para Financiamento
da Seguridade Social). Na tarifa do transporte, o BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social) liberou R$ 2,3 bilhões para o Metrô de São
Paulo e a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) anunciou uma faixa de
ônibus na Marginal Pinheiros.
- Contra a corrupção, o Senado Federal aprovou um projeto que torna a
corrupção um crime hediondo.
70
- São Paulo, Rio de Janeiro e outras 15 cidades reduziram as tarifas de
transporte.
- A Câmara dos Deputados aprovou os 25% de royalties do petróleo para a
saúde e o Ministério da Saúde (MS) anunciou um projeto de lei para perdoar as
dívidas das Santas Casas.
- Foi cancelada uma verba pela Câmara dos Deputados no valor de R$ 43
milhões para a Copa das Confederações.
- Para a Educação foram aprovados 75% dos royalties do pré-sal do petróleo
e 50% do Fundo Social para a Educação.
- Contra a Proposta de Emenda Constitucional - PEC 37, os deputados
decidiram, por maioria absoluta, arquivá-la.
- Já na área política a presidente Dilma Rousseff anuncia apoio a uma
reforma política.
- E em São Paulo a Polícia Militar (PM), anuncia que não vai usar balas de
borracha em manifestações populares.
Neste capítulo foram abordados os principais conceitos de tecnologias
sociais, como ela pode gerar transformações no coletivo das comunidades e foi
mencionado o exemplo do grupo de pesquisa do Laboratório de Desenvolvimento de
Tecnologias Sociais (LTECS), do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento
Regional e Urbano da Universidade Salvador (UNIFACS), na Bahia com os seus
projetos desenvolvidos de pesquisas em prol da comunidade e do desenvolvimento
local. Igualmente foi observado que a educação sociocomunitária tem um papel
fundamental em construir as articulações políticas que são expressas através de
ações educativas.
Ressalta-se a importância de Freire (1987), em seu livro Pedagoga do
Oprimido, quando afirma que o homem tem que ser o sujeito da realidade histórica
onde ele está inserido, lutando a todo tempo pela liberdade e contra as injustiças
sociais. Nesta última etapa é possível recordar as manifestações que ocorreram em
Junho de 2013 em todo o Brasil, quais foram os principais interesses dos grupos, os
resultados obtidos e como a comunicação foi fundamental com a utilização dos SNS
(Social Networking Sites).
71
No próximo capítulo é apresentada a metodologia de pesquisa, bem como
os resultados da pesquisa de grupo focal realizada com alunos, ex-alunos do
UNISAL. Nesta pesquisa é possível conhecer as pessoas que organizaram as
manifestações na cidade de Americana/SP e região, qual foi a participação de cada
um, se houve modificação na percepção dos envolvidos e também se passaram a se
envolver em ONG’s e em conselhos municipais e como as redes sociais podem ser
uma forma de educação cidadã.
72
4. PESQUISA QUALITATIVA: GRUPO FOCAL SOBRE AS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS
Nesta etapa do trabalho foi feita opção pela realização de uma pesquisa de
grupo focal.Trata-se de uma técnica utilizada na pesquisa qualitativa, na qual se
emprega uma discussão moderada entre poucos participantes. Estas discussões de
grupo costumam durar entre uma ou duas horas, dependendo do andamento das
sessões e das características singulares de cada grupo, e são coordenadas e
conduzidas por um moderador. O moderador é também o facilitador da sessão, pois
além de regular a sessão dentro dos seus moldes, também ajuda os participantes na
interação.
Nesta pesquisa o papel de mediador/facilitador foi realizado por este
pesquisador.
Para a composição desta pesquisa foram usadas autores como Mattar
(2000), Flick (2002) e Costa (2008).
Para Costa (2008, p.181), os grupos focais são “um tipo de pesquisa
qualitativa que tem como objetivo perceber os aspectos valorativos e normativos que
são referência de um grupo em particular. São na verdade uma entrevista coletiva
que busca identificar tendências”.
Do mesmo modo se posiciona Flick (2002, p.385) quando menciona que:
“uma entrevista tipo grupo focal é uma entrevista com um pequeno grupo de
pessoas sobre um tópico específico. Em regra, os grupos são formados por 6 a 8
pessoas que participam da entrevista por um Período de 30 minutos a 2 horas”.
Esse grupo, segundo Costa (2008, p.180), quando bem orientado, permite a
“reflexão sobre o essencial, o sentido dos valores, dos princípios e motivações que
regem os julgamentos e percepções das pessoas”.
Uma das principais vantagens dos grupos focais, na concepção de Mattar
(2000) é que este é um método que favorece a interação, a espontaneidade nas
falas, uma flexibilidade para o mediador conduzir as discussões, o aproveitamento
de temas que surgem no momento, além de ser uma técnica que possibilita coletar e
construir dados de forma rápida.
No caso do tema sobre as manifestações, segundo Costa (2008), o grupo
focal permite uma análise qualitativa que se expande para reflexões sobre a
73
responsabilidade cívica, participação popular, relação da sociedade civil com o
governo.
4.1. Definição do Problema de Pesquisa
Visando analisar as possibilidades das redes sociais para a educação à
cidadania, à participação da coletividade, na discussão das questões contextuais de
nossa época e cujo ponto inicial foram as manifestações que aconteceram em 2013,
esta pesquisa busca respostas ao seguinte problema: Qual o papel das redes
sociais na Educação para a cidadania?
4.2. Determinação do Objetivo
Como objetivo esta pesquisa intenciona conhecer entre os jovens de
Americana e região qual foi a sua participação nos movimentos sociais, com se
mobilizou, quais redes mais utilizou e se alguém passou a se dedicar ou a se
interessar pelas diversas instâncias democráticas como as funções dos conselhos,
que atualmente existem, inclusive do ponto de vista legal, para fazer vigorar a
participação dos cidadãos em suas comunidades?
4.3. Método de Pesquisa
Como método foi escolhido a pesquisa de abordagem qualitativa pela razão
que o grupo focal é um tipo de pesquisa qualitativa que ajuda na identificação das
tendências, na resolução de problemas e favorece a compreensão do pesquisador
ao interpretar o que é descrito pelo grupo ao discorrerem sobre as mobilizações.
Para Stake (2011, p.42), a pesquisa qualitativa “removeu a pesquisa social da
ênfase na explicação de causa e efeito e a colocou no caminho da interpretação
pessoal”.
74
4.4. Procedimento de Coleta de Dados de Campo
A coleta de dados se deu em três etapas.
A primeira etapa foi realizada com a utilização de um computador, disposto
na mesma sala de realização do grupo focal. Neste computador, cada jovem, um de
cada vez, respondeu a um formulário por meio do Google Drive, com o objetivo de
elaborar o perfil desses entrevistados. A numeração dos entrevistados (de 01 a 09) e
a sequência de preenchimento do formulário se deram com base na sua disposição
na mesa de discussão.
A segunda etapa apresenta a construção do perfil dos entrevistados com
base neste formulário.
A terceira etapa foi a construção do grupo focal e da determinação das
regras para o mesmo.
A quarta etapa consistiu na elaboração de um roteiro semiestruturado de
questões que abordam a cidadania, a democracia, e a mobilização social, para a
discussão. Ao todo foram elaboradas 14 questões.
A quinta etapa foi a da efetiva discussão acerca das questões elaboradas e
relacionadas ao objetivo principal do grupo focal; houve incentivo à discussão e os
pensamentos e opiniões dos participantes foram revelados. A discussão foi filmada e
gravada com a autorização dos participantes. Após a realização desta etapa a
discussão foi transcrita e analisada de acordo com as categorias de análise.
A sexta etapa foi a de apresentação e análise dos resultados.
Com base nos dados obtidos no formulário são participantes da pesquisa: 5
homens (56%) e 4 mulheres (44%); 5 entrevistados estão na faixa etária de 25 a 30
anos (56%) e os outros 4, na faixa etária de 14 a 24 anos (44%). Da região de
pesquisa 8 residem na cidade de Americana (89%) e 1 na cidade de Nova Odessa
(11%).
Com relação à escolaridade apenas 1 participante não está no Ensino
Superior (11%), 5 estão cursando alguma faculdade (56%) e 3 já estão formados
(33%).
Todos os entrevistados trabalham, sendo que 7 deles possuem trabalho
formal (78%) e 2 deles trabalho autônomo (22%). O tempo de trabalho é bem
variado: 1 entrevistado ainda não completou um ano de trabalho (11%); 3 estão na
75
faixa de 1 a 3 anos (33%); 2 estão na faixa de 4 a 8 anos (22%); 3 na faixa de 8 a 15
anos (33%) e nenhum acima de 15 anos.
Com esse trabalho 7 deles possuem uma renda de até 2 salários mínimos
(78%) e 2 deles entre 2 e 5 salários mínimos (22%).
4.5. Etapa I – Construção do Grupo e Determinação das Regras
Para a Construção do Grupo todos os participantes foram convidados via
rede social Facebook. Cada participante foi apresentado ao grupo no dia 28 de
janeiro de 2014, às 19h30.
A pesquisa qualitativa foi realizada no campus Dom Bosco do Centro
Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL em Americana/SP, com um grupo
composto de perfis diferentes de alunos do próprio UNISAL e de outras Instituições,
dos cursos de Publicidade e Propaganda, Pedagogia, Direito e ex-alunos.
A sala de realização do grupo focal esteve todo o tempo com o ar-
condicionado ligado e com boa iluminação. Todos os presentes estavam sentados
em uma mesa retangular. A princípio estavam todos com expressões tensas e
ansiosos por não saberem exatamente o que iria acontecer durante a pesquisa.
Assim que o moderador chamou a atenção de todos para o começo da
pesquisa, foram passadas as breves instruções para os participantes de como iria
ocorrer todo o processo. Foi servido um lanche acompanhado de suco de fruta, o
que ajudou a descontrair os participantes.
Ao todo nove participantes numerados de 01 a 09 e descrito o seu perfil,
como mostra o Quadro 1.
Nesta fase, para a Determinação das Regras, o facilitador apresenta uma
visão geral do grupo focal, os objetivos de promover a discussão, bem como
coordena a apresentação de cada participante que leva, em média, 10 minutos.
Após a apresentação são definidas as regras para a discussão como segue:
■ Respeitar a privacidade dos outros participantes e não repetir o que foi
discutido durante as reuniões fora do grupo focal.
■ Uma pessoa deve falar de cada vez.
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■ Respeitar a opinião dos outros e não rejeitar ou criticar os comentários dos
demais participantes.
■ Dar a cada um a mesma oportunidade de participar da discussão.
4.6. Etapa II – Roteiro Norteador da Discussão
Este roteiro semiestruturado está composto de 14 questões (Apêndice B),
sendo que as quatro primeiras questões foram simples e do dia a dia dos
participantes, e tiveram o objetivo de estreitar a relação entre o grupo e também de
descontração.
Estas questões foram utilizadas na condução da discussão de forma um
pouco mais aprofundada, com um tempo médio de 60 a 90 minutos.
Nesta etapa o facilitador conduziu as perguntas de modo a que estas
estivessem relacionadas ao objetivo principal do grupo focal e também do trabalho,
com a intenção de incentivar a discussão e revelar os pensamentos e opiniões dos
participantes. Nesta etapa, geralmente, é colhida a informação mais significativa ao
estudo.
4.7. Etapa III – Discussão e Definição das Categorias
Os resultados dessa discussão são apresentados dentro de categorias que
seguem, para serem analisadas.
Foram definidas como Categorias de Análise:
- Educação e Cidadania.
- Participação e Envolvimento nas Manifestações.
- Tecnologia e Redes Sociais.
4.8. Etapa IV – Apresentação e Análise dos Resultados
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Categoria Educação e Cidadania:
As respostas foram transcritas na íntegra.
1. Qual foi o último Livro que você leu?
Entrevistado 01: Fundamentalismo - Leonardo Boff.
Entrevistado 02: A Cabana - William P. Young.
Entrevistado 03: Tempo de Transcendência - Leonardo Boff.
Entrevistado 04: Código Penal.
Entrevistado 05: Amor Veríssimo - Luís Fernando Veríssimo.
Entrevistado 06: On The Road - Na Estrada - Jack Kerouac.
Entrevistado 07: A Pedagogia do Caracol: por uma escola lenta e não
violenta - Gianfranco Zavalloni e Margareth Brandini Park.
Entrevistado 08: Arte da Guerra - Sun Tzu.
Entrevistado 09: Augusto Cury – não lembrou o nome.
8. Você acha que essas manifestações conseguiram promover as
mudanças que você reivindica? Se sim quais?
Entrevistado 01: Em Nova Odessa, o governo era novo, tinha só seis meses
e o que mais era urgente era a saúde; nós conseguimos meio que forçar um
concurso público, com mais médicos, enfermeiros e especialistas e a situação de
uma nova unidade de saúde nos bairros mais afastados. Com relação à
transparência, um portal com as informações, eles falaram que era mais difícil, pois
tinha que ter licitação, enfim, toda burocracia que os governos têm. O Concurso foi
uma grande conquista. Conseguimos uma nova escola em Nova Odessa nos bairros
afastados. A Juventude precisa de mais.
Entrevistado 02: Em Americana, espero que aconteça, acredito que está a
caminho.
Entrevistado 03: Eu acredito que em Americana, o Prefeito deu uma
maquiada e acho que não vem fazendo nada em Americana, só um susto.
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Entrevistado 04: A Manifestação em Americana trouxe uma aproximação
dos manifestantes com a promotoria. A competência do prefeito é administrar a
cidade e quem tem que fiscalizar são os vereadores. Se os manifestantes não
estiverem na Câmara Municipal vendo o que os vereadores estão fazendo, não
acontece nada.
Entrevistado 05: Acho que mudou sim, mas não mudanças a curto prazo
como a redução do valor das passagens; acho que o mais importante foi o interesse
político da população, mudou a mentalidade dos governantes, eles deixaram de
achar que são soberanos; prefeito não é prefeito, ele está prefeito, eles são eleitos
pelo povo. Mudou muito porque o prefeito se sentiu acuado, não é o seu território
aqui, mas acredito que seria muito pior se nada estivesse acontecido.
Entrevistado 06: Eu penso que mudança ainda é cedo, e não é qualquer
manifestação que vai conseguir mudar a política, a estrutura e a massa.
Entrevistado 07: Eu sou otimista, mas, o Brasil é muito grande, temos muita
corrupção, mas eu vi um avanço que ainda é mínimo.
Entrevistado 08: Eu gosto de analisar tudo com muita sinceridade, em uma
das manifestações na Câmara Municipal, foi proposto aos manifestantes que
organizassem uma pauta com os principais assuntos. Fizemos a reunião também
com o prefeito que prometeu fazer algumas coisas, outras ele negou logo de cara, e
depois não fez nada. Com os vereadores depois da pauta, fizemos uma reunião,
porém, no dia da votação eles votaram contra o projeto que era deles. Sobre isso
tínhamos feito um pedido para usar a tribuna livre, pois se é livre todos poderiam
usar, certo? Foi negado o pedido, vocês não têm voz. Assim que acabou a seção eu
fui cobrar do presidente e levei um soco na cara de um assessor dele. Apesar de
não conseguir as mudanças que aparecem na hora, nós conseguimos algo muito
maior que nem esperávamos como foi o processo que estava engavetado e que veio
à tona para a cassação do prefeito.
Entrevistado 09: Acredito que este ano vai ser um ano de mudança, não só
para Americana, mas para o Brasil inteiro.
9. Alguém passou a se dedicar ou a se interessar pelas funções dos
conselhos, que atualmente existem, inclusive do ponto de vista legal, para fazer vigorar a participação dos cidadãos em suas comunidades?
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Entrevistado 9: Partido inclui ai nesta pergunta? Perguntou.
Resposta: Sim, pode entrar!
Entrevistado 9: Que bom! Respondeu.
Entrevistado 01: Deu uma sensação de querer participar, mas não participei.
Entrevistado 02: Eu era filiada a um partido, trabalho com político, mas me
envolver mais, não.
Entrevistado 03: Criei mais interesse, comecei a participar de um partido.
Entrevistado 04: Era filiada a um partido, quando as coisas aqueceram, me
desfilei dele, e depois me filiei a outro partido agora este mês. Está se formando
uma ONG chamada “Amo Americana” que tem como objetivo a fiscalização da
Prefeitura, secretarias, etc. Pretendo me filiar a ela.
Entrevistado 05: Não tinha nenhum envolvimento, depois comecei a me
envolver com o grupo “Pula Catraca”, mas não participo de nenhum partido político.
Entrevistado 06: Eu já tinha participação política em São Paulo e quando vim
para Americana, não me envolvi muito, mas tenho colaborado com a questão da
juventude. Participo da organização “Ibero Americana de Juventude”.
Entrevistado 07: Não era filiada a nada, mas vi pessoas que passaram a se
envolver mais.
Entrevistado 08: Já fazia alguns trabalhos culturais em algumas ONG’s.
Outras cidades que estão começando trabalhos com o mesmo objetivo que o nosso
como é o caso de Osasco. Acabei me filiando a um partido político mesmo
analisando o ponto de vista social onde parece que os políticos vêm de um mundo
paralelo; se você é político tem um padrão X, é corrupto e tal…, não é como se
escolhe um time de futebol, isso não delimita o seu caráter. E isso, mesmo sabendo
que a sociedade acaba te encaixando dentro deste formato.
Entrevistado 09: Não faço parte e nunca fiz, mas também não despertou o
interesse.
Entrevistado 08: O que foi legal também é que despertou o interesse de
outros grupos a criarem novos grupos.
10. O que é Democracia para você?
Entrevistado 01: Para mim seria conseguir ter uma voz ativa, conseguir
debater um assunto.
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Entrevistado 02: Ser ouvido, talvez.
Entrevistado 03: Livre arbítrio.
Entrevistado 04:. Lei da Transparência.
Entrevistado 05: Seria o meio de governo ideal se não fosse utópico hoje.
Entrevistado 06: Muito complexo falar de democracia no Brasil.
Entrevistado 07: Democracia é ser ouvido.
Entrevistado 08: Deveria ser em tese, Respeito.
Entrevistado 09: Não concordar com o que diz o seu semelhante
1. A Constituição da República Federativa do Brasil apresenta a
cidadania como um dos seus fundamentos, logo no Art. 1º.
Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Com base nesses princípios fundamentais, para você o que é Cidadania?
Entrevistado 01: Seria saber o que acontece, saber por que o prefeito fez
isto e tentar mudar.
Entrevistado 02: Ser ativo e tomar partido.
Entrevistado 03: é a pessoa ser ativa perante o seu semelhante,
independente.
Entrevistado 04: Ser portador de direitos e deveres.
Entrevistado 05: Ser participante de um grupo, não só recebendo
informações, mas, cobrando opinando.
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Entrevistado 06: O conceito de cidadania está intimamente ligado ao
conceito de educação, nem todo mundo tem consciência da política como estamos
tratando aqui, se dá dentro da escola e fora da escola.
Entrevistado 07: Ter seus direitos garantidos e não ter estes direitos
negociáveis.
Entrevistado 08: Ser cidadão é deixar de ser egoísta, cada um tem
condições de voz e deve usá-la, mas não legislar em causa própria; às vezes, as
condições que nós na sociedade criamos não são favoráveis para o outro. Ser
cidadão é lutar pelo outro, pode te favorecer, mas as vezes não. E pode chegar o
momento em que você vai precisar de ajuda, mas, e se o outro não te ajudar? Ser
cidadão é contribuir para o todo.
Entrevistado 09: É conhecer e cobrar os seus direitos, ter consciência e
exercer os deveres como cidadão.
12. Como as redes sociais podem ser um instrumento de educação e
cidadania?
Entrevistado 01: Tem que saber procurar a informação, filtrar o que tem na
internet.
Entrevistado 02: Sim, e a prova disso foi o que aconteceu no ano passado,
juntar todo este povo sem as redes seria quase que impossível.
Entrevistado 03: As redes sociais já vêm fazendo com que os jovens sejam
melhores cidadãos; isto já está acontecendo.
Entrevistado 04: Demonstrar que estes direitos não estão só no papel e
procurar os seus direitos através das manifestações foi uma excelente forma.
Entrevistado 05: Fundamental, nossa geração não nasceu na internet, mas
esta geração de crianças que está chegando vivem nas redes, esse vai ser o mundo
real delas, talvez como é o nosso mundo físico hoje; lá ela vai fazer a maior parte
das suas relações, aonde ela vai se descobrir como cidadão e vai formar este
conceito de cidadão, mas temos que saber como trabalhar nas redes sociais.
Entrevistado 08: As redes podem auxiliar muito também no aspecto de
disseminação e informação e apesar de muito conteúdo é necessário checar as
informações. Nós não temos condição de ter um programa de Rádio, de Tv etc..,
mas, qualquer um pode, hoje, criar uma página e divulgar os conteúdos de seu
82
interesse, mas pode sofrear retaliações sobre isso. Desenvolver um trabalho para o
todo.
Entrevistado 09: A internet é uma ferramenta tanto boa como ruim; é boa
porque informa, mas pode conter informação distorcida e quem não está ligado no
assunto, pode ter isso como verdadeiro.
Análise da Categoria Educação e Cidadania:
1. Qual foi o último Livro que você leu?
O que mais chamou a atenção foi a resposta do Entrevistado 08 que estava
lendo “Arte da Guerra”, por ele ser um dos organizadores das manifestações.
Sun Tzu, autor do livro, disse que a guerra é de vital importância para o
Estado, é o domínio da vida ou da morte, o caminho para a sobrevivência ou a perda
do Império: é preciso manejá-la bem.
8. Você acha que essas manifestações conseguiram promover as mudanças que você reivindica? Se sim quais?
Destaco as respostas dos Entrevistados 01, 04, 05 e 08. O envolvimento
destes entrevistados principalmente o 01 e o 08 foi o que chamou muito a atenção,
pois, não só foram as ruas nas manifestações, mas também foram até os Prefeitos
das cidades de Nova Odessa e Americana; na primeira cidade eles conseguiram
que o Prefeito convocasse em edital um novo concurso público para a contratação
de médicos e enfermeiros e também conseguiram a construção de uma nova escola,
em um bairro mais afastado.
Já o Entrevistado 08, como organizador das manifestações em Americana,
conseguiu que muita coisa viesse à tona. Ele participa ainda com o grupo “Pula
Catraca” das sessões da Câmara Municipal de Americana, onde cobra dos
vereadores a fiscalização que eles devem fazer do poder executivo que, no caso, é
a Prefeitura de Americana.
Destaco aqui – com base em Maria da Glória Gohn (2011) que apresentou
os 12 eixos temáticos para os movimentos sociais − o de número 02, que são os
83
movimentos populares em torno de estruturas institucionais de participação na
gestão político-administrativa das cidades, pelo envolvimento que ainda têm com o
poder público.
A mesma autora cita que estes movimentos sociais podem conquistar
algumas aprendizagens, e dentre elas são destacadas algumas que foram
percebidas durante as respostas:
• Aprendizagem prática: alguns aprenderam a se organizar, mesmo já
tendo conhecimento de eventos, viram que era algo muito mais grandioso; também
verificaram que a cada mobilização que faziam aprendiam e tiravam os erros dos
eventos anteriores.
• Aprendizagem teórica: alguns dos envolvidos passaram a ler mais sobre
as leis e quais os seus direitos e deveres como cidadãos.
• Aprendizagem política: alguns passaram a se envolver mais,
frequentando a Câmara e a Prefeitura e cobrando os governos de cada cidade.
• Aprendizagem social: um deles teve que aprender a dar entrevistas,
falar em público, escrever na internet, ou seja, como se comportar em espaços
diferenciados.
9. Alguém passou a se dedicar ou a se interessar pelas funções dos
conselhos, que atualmente existem, inclusive do ponto de vista legal, para fazer vigorar a participação dos cidadãos em suas comunidades?
Três dos nove entrevistados se filiaram a partidos políticos, dois estão se
envolvendo com ONG’s que têm por objetivo fiscalizar os órgãos públicos e outros
citaram que conhecem algumas pessoas que foram despertadas a se envolverem
depois das manifestações de 2013.
10. O que é Democracia para você?
Conforme apresentado no capítulo 3, tem-se o conceito de Democracia do
Dicionário de Sociologia, de Allan G. Johnson (1997): “democracia (do grego,
84
significando ‘governo do povo’) é um sistema social no qual todos dispõem de
parcela igual de poder”.
Os Entrevistados 01 e 07 mencionaram que é ser ouvido ou ter voz ativa.
Outra resposta interessante foi a do Entrevistado 04 que disse: Lei da
Transparência, o que tem a ver com o significado do dicionário que define
democracia como: governo do povo.
11. A Constituição do Brasil apresenta a Cidadania como um dos
fundamentos que está presente logo no Art. 1º. Com base nesses princípios fundamentais, para você o é Cidadania?
Os Entrevistados 04, 07 e 09 responderam exatamente o que foi colocado
no capítulo 03, que é o exercício dos direitos e deveres; contribuir para o todo, ter
consciência e exercer os seus deveres como cidadão.
O Entrevistado 05 respondeu que está intimamente ligado à educação,
dentro e fora da escola, o que Gomes (2008) propõe ao discutir a Educação
sociocomunitária com a construção de articulações políticas que são expressas em
ações educativas que venham provocar transformações sociais intencionadas.
O Entrevistado 08 respondeu que “Ser cidadão, é lutar pelo outro”, o que
mostra que estes jovens não estão só interessados em conquistas pessoais, mas
em ajudar ao próximo, seja no envolvimento da política partidária, seja na
participação em ONG’s ou mesmo em lutar pelos interesses do próximo, mesmo que
este não seja tão próximo.
12. Como as redes sociais podem ser um instrumento de educação e cidadania?
Os Entrevistados 03 e 05 responderam que as redes sociais estão fazendo
com que os jovens sejam melhores cidadãos; e que para a próxima geração o que
para nós hoje é o mundo físico será para eles o virtual, onde eles farão as maiores
relações e onde descobriram o que é ser cidadão.
85
O Entrevistado 04 disse que as manifestações foram uma excelente forma
das pessoas buscarem os seus direitos. O Entrevistado 08 mencionou que as redes
podem ser utilizadas para a disseminação das informações e que antes delas seria
impossível ter um programa de TV ou mesmo de rádio, mas, com as redes as
pessoas passaram a ter voz e a poder criar os conteúdos de acordo com o interesse
de cada uma.
Categoria Participação e Envolvimento nas Manifestações:
As respostas foram transcritas na íntegra.
5. Qual é a sua opinião sobre as Manifestações que ocorreram em Junho de 2013 e ainda continuam ocorrendo?
Entrevistado 01: Foi importante e grandioso, principalmente no começo,
mas, depois perdeu força. Mostrou que muitos estão descontentes.
Entrevistado 02: Achei muito massa, pois o brasileiro tem fama de ser
muito acomodado para sair da cadeira e lutar por alguma coisa que ele acredita.
Você votou, você tira.
Entrevistado 03: Achei válido e importante, mas achei que muitos foram
pelo “oba oba” e pela arruaça em São Paulo. Compartilho o que um especialista
disse: que este quebra-quebra foi importante, porque o povo só é ouvido a partir do
momento que os prejuízos acontecem para o governo.
Entrevistado 04: O que aconteceu no Brasil foi extremamente importante:
frase de um especialista que diz que o “conformismo é inimigo da liberdade e
consequentemente carcereiro do progresso”. Muitos acharam que no Brasil isso iria
acabar em pizza, mas o que vimos foi algo diferente. A motivação pela tarifa de
ônibus foi o estopim de muitas outras coisas que devem ser mudadas neste país.
Entrevistado 05: As manifestações mostram que retomou o que aconteceu
em 1960 e 1970. Eu nasci depois desta data, mas sei, pela história, tudo o que
aconteceu. Estar presente foi algo mágico e quando começou em SP, chegou ao
Brasil e as pessoas viram que tem força, foi um divisor de águas para o crescimento
do País.
86
Entrevistado 06: Válido tudo o que aconteceu, não só a tarifa, mas muitas
outras coisas; em minha opinião são muitas vozes dispersas, mas a rede social
contribuiu muito, até as pessoas envolvidas no movimento não esperavam o que
aconteceu.
Entrevistado 07: Achei importante, o Brasil todo abraçou a causa, estamos
colhendo os frutos, mostrou que se quisermos alguma coisa temos força para
mudar.
Entrevistado 08: Tudo isso foi um teste para ver quem é quem e quem está
disposto a participar desta transformação. Quando começou nas grandes capitais eu
tive a oportunidade de ir, quando as caminhadas pacificas aconteceram, tudo bem,
mas quando começou o enfrentamento muitos recuaram, isso não só em São Paulo,
pois, em Americana aconteceu a mesma coisa; muitos foram, postaram fotos nas
redes sociais, mas quando se depararam que não era só uma foto, era algo real e
que tinham que se mexer, muitos deixaram de ir, mas quem tinha interesse foi
ficando. Veio para Transformar mesmo. Estas manifestações irão se engrandecer,
pela Copa e etc.
Entrevistado 09: Achei válido, principalmente por ter partido dos jovens;
eles estarem lutando e cansados de tanta injustiça. O Brasileiro acordou e viu que
pode mudar as coisas. Acho uma pena os que fizeram o quebra-quebra.
6. Você participou de alguma manifestação em 2013? Onde? Lembra do dia e
cidade? Antes das manifestações iniciadas em Junho de 2013 você já havia participado de alguma outra manifestação de rua? Se afirmativo, cite qual foi.
Entrevistado 01: Participei em Nova Odessa, achei importante participar na
minha cidade. Muitos colegas foram em outras cidades, mas eu fui na minha cidade
porque sei o que está sendo pedido. Foi a primeira vez que sai de casa, mesmo com
medo de apanhar da polícia. Muitos queriam aparecer, como uma menina de top
segurando um cartaz só para aparecer no jornal. Uma semana depois marcamos
uma reunião com o prefeito só que só tinha 15 pessoas, diferente do que tinha na
primeira passeata. Neste dia causamos medo, pois tinha PM e várias viaturas no
local.
Entrevistado 01: Tomei conhecimento pelo Facebook em um evento e
depois um grupo que discute até agora os problemas. No evento o item Participar
87
tinha 10.000 pessoas, mas, as que foram eram 1.000 e depois se tornaram apenas
15.
Entrevistado 02: Diretamente não foi, mas fiquei torcendo, coloquei a toalha
branca na janela, mas fiquei com medo de brigas.
Entrevistado 03: Participei. Fiquei sabendo pelas redes sociais, participei
do abraço coletivo no teatro municipal. Fizeram um aniversário de 2 anos que a
obra estava parada e atrasada. Um grupo que faço parte, um partido político, ajudou
na divulgação.
Entrevistado 04: Moro em Americana, fui e continuo à frente neste ano; vi
as pessoas de 1968 falando: “obrigado, vocês chamaram e nos voltamos”. Os avós
levaram os netos.
Entrevistado 05: Participei em Americana, não tinha participado, pois,
nunca tinha visto nada igual. Começou nas capitais e veio se espalhando. Fui em
todas de Americana. Como fiquei sabendo? Saia em todos os lugares e pela
exposição grande do assunto eu fui participar. O Facebook foi superimportante, pois,
os que participaram foram pelo Facebook.
Entrevistado 06: Fiquei sabendo pelo Facebook, por pessoas que têm
interesse pela educação, e foi legal ver todos os grupos, desde jovens com vários
interesses diferentes. Lidar com juventude é um processo, nem todos estão
vinculados a uma causa.
Entrevistado 07: Fiquei sabendo pelo Facebook e participei em Americana;
eu me senti arrepiada, pois nunca tinha visto nada igual. Não continuei, pois não tive
como, por motivo de horário.
Entrevistado 08: Tinha participado de muitas, como de animais, em 2013
em São Paulo e Santa Barbara D’oeste. Vendo as contradições, com a TV ligada
falando uma coisa, vendo que a realidade é outra, fiquei sabendo que em Piracicaba
iria ter e não vi nada em Americana. Comecei a mobilizar amigos para que isso
acontecesse. Sou organizador de eventos e fiquei planejando com os moldes que
conheço. Fomos à Polícia para avisar como seria feito o percurso. Ver tudo aquilo
acontecendo foi demais. Assustei quando vi no Face que 8.000 pessoas haviam
confirmado; achei que iriam uma 200… o que mudou é que hoje até os policiais me
cumprimentam, eu vi que tínhamos feito uma coisa grandiosa. Não é de brincadeira;
pesquisamos toda a legislação para ver o que poderia ser feito, eu fui preso duas
vezes, picharam a minha casa, colocaram uma bateria de rojões que quebrou os
88
vidros de casa. Se as pessoas, mesmo com um grupo pequeno conseguem mudar,
imagina uma quantidade maior de gente? Eu nunca fiz nada de errado e sai de
camburão algemado, é punk. Mas, valeu a pena. Muitos hoje me respeitam e vêm
me elogiar.
Entrevistado 09: Não participei de nenhuma, até fiquei sabendo, mas não
fui, não queria ir por ir. Fique sabendo pelo Facebook, até um amigo que mora fora
do País me convidou para a segunda manifestação. Acompanhei uma próxima da
faculdade.
7. Participa ou é membro de algum grupo?
Entrevistado 01: Eu estou no grupo de Nova Odessa, mas a seção da
Câmara Municipal é às 18h e por isso não consigo ir.
Entrevistado 02: Pela seção da Câmara Municipal eu ouço porque preciso,
pois, trabalho com isso. Mas não participo de nenhum grupo.
Entrevistado 03: Fisicamente não, só pela internet.
Entrevistado 04: Participo do “Pula Catraca” de Americana; fui ao primeiro
ato e não participava, mas, depois comecei a me envolver pela detenção de um
amigo que foi totalmente arbitrária. E comecei a ter acesso aos documentos da
cidade com todos os problemas.
Entrevistado 05: Participo de grupos virtuais e físicos, mas não estava tão
envolvido, só participava por participar, comecei a ir à Câmara Municipal de
Americana e depois a participar e a interagir com o grupo depois que as coisas
começaram a esfriar, fiz o caminho inverso.
Entrevistado 06: Participo da UNE e em outras representações também.
Entrevistado 07: Não participo de nenhum grupo, mas sempre vejo o que
postam, principalmente da causa animal.
Entrevistado 08: Virtualmente participo de alguns grupos de debate, faço
parte do Conselho de Cultura há 7 anos; agora estou envolvido com o “Pula
Catraca” e tenho me empenhado o máximo de tempo possível com isso. Eu já
cheguei até a receber documentos de uma pessoa que nem sabia quem era, ai você
começa a ver a amplitude das coisas, você acompanha no jornal e vê a população
sofrendo. Você ver tudo isso e não fazer nada, é como se você estivesse
89
cometendo um crime, sendo cúmplice e deixando tudo acontecer. Sofri grande
repressão, mas agora é difícil sair, é procurar achar um meio termo.
Entrevistado 09: Fisicamente não participo de nenhum grupo. Só pelo face,
em alguns grupos.
Análise da Categoria Participação e Envolvimento nas
Manifestações:
5. Qual é a sua opinião sobre as Manifestações que ocorreram em Junho de 2013 e ainda continuam ocorrendo?
Todos os entrevistados foram unânimes ao afirmarem que esta Mobilização,
que aconteceu em 2013, foi muito válida, importante e grandiosa e que o Brasileiro
acordou, pois descobriu que tem voz ativa na sociedade caso queira participar e se
envolver.
Uma frase a ser destacada foi apresentada pelo Entrevistado 04 que disse: o
“conformismo é inimigo da liberdade e consequentemente carcereiro do progresso”.
A frase mostra que este jovens não estão conformados com tudo o que está
acontecendo e que estão lutando pelos direitos. Também, que não irão desistir tão
fácil, mesmo com ameaças.
6. Você participou de alguma manifestação em 2013? Onde? Lembra do
dia e cidade? Antes das manifestações iniciadas em Junho de 2013 você já havia participado de alguma outra manifestação de rua? Se afirmativo, cite qual foi.
Todos ficaram sabendo pela internet e Facebook e 5 dos 9 entrevistados
participaram. Foi possível perceber no semblante de cada um a alegria em ver as
manifestações acontecendo, pois, a maioria só tinha visto ou por livro ou mesmo em
vídeos estas Manifestações. E, agora, poder participar e contribuir foi algo que, com
certeza, marcou a vida deles e alguns até passaram a se dedicar a isso.
90
Pode-se perceber que o conceito de espaço híbrido apresentado por
Castells (2013) está presente nestas manifestações das cidades da região de
Americana-SP, pois, toda a movimentação se iniciou nas redes sociais da internet e
depois passaram a ocupar os espaços urbanos com a tomada de áreas públicas.
7. Participa ou é membro de algum grupo?
Todos os entrevistados participam de grupos pela internet e os Entrevistados
04, 05, 06 e 08, participam de grupos também fora da internet para organizar as
manifestações. O Entrevistado 06 participa da UNE – União Nacional dos
Estudantes.
Manuel Castells (2013) afirma, como apontamos no capítulo 22, que a
origem destes movimentos sociais está ligada intimamente às injustiças sociais e
estas injustiças estiveram presentes na fala destes entrevistados durante o grupo de
discussão.
Categoria Tecnologia e Redes Sociais:
As respostas foram transcritas na íntegra.
2. Tem acesso à internet 3G no celular?
Todos os nove entrevistados afirmaram possuir acesso à internet no celular.
3. Qual Aplicativo de redes sociais mais acessa no celular?
Entrevistado 01: Facebook, Snapchat
Entrevistado 02: Whatsapp, Facebook e Instagram
Entrevistado 03: Whatsapp, Facebook
Entrevistado 04: Whatsapp, Facebook
Entrevistado 05: Whatsapp, Facebook
Entrevistado 06: Facebook
91
Entrevistado 07: Whatsapp, Facebook
Entrevistado 08: Whatsapp, Facebook
Entrevistado 09: Whatsapp, Facebook
4. Qual o tema das mensagens?
Entrevistado 01: “Vem pra rua Nova Odessa”. Fui pesquisar e resolvi ir.
Tentei chamar minha mãe e meu pai, mas não quiseram ir. Vi que era algo real e fiz
de tudo para argumentar que valia a pena. Compartilhei pelo Facebook e no boca a
boca.
Entrevistado 02: Recebi convites pelo Facebook, entrei no “Pula Catraca”.
Entrevistado 03: Vi pelo “Pula Catraca” e compartilhava.
Entrevistado 04: Vi pelo Facebook do “Pula Catraca”, observei que este
grupo “Pula Catraca” não queria só pular a catraca do ônibus, isso seria um nome
até impróprio, porque são as barreiras encontradas na vida. Meu pai é um político da
região que falou, você está louca!
Entrevistado 05: A mensagem que o que estava acontecendo nas capitais
foi o que levou a participar. A página do “Pula Catraca”, foi importante para
organizar, vai ser assim, vai começar de tal lugar. A manifestação é pacifica, não era
a realidade de Americana a questão do transporte, mas sim a realidade política da
cidade.
Entrevistado 06: Compartilhei os temas de meu interesse como a
Educação.
Entrevistado 07: Por rede social eu não compartilhei nada; recebi vários
convites. A mensagem era a que estava rolando na mídia.
Entrevistado 08: Fui eu que criei o evento, quando terminei de montar o
convite já tinham 10 pessoas confirmadas, depois de uma hora mais de 100. Por
organizar eventos sei que, normalmente, 1/3 dos confirmados aparecem no dia.
Quando fui dormir 200 já tinha confirmado, quando acordei mais 1000 tinha
confirmado. Eu, se convido alguém para ir a algum lugar, significa que eu estou
envolvido. O conhecimento que tenho de comunicação social ajudou muito a
organizar o evento. Eu acordava com jornalista me ligando; fui a todos os programas
possíveis, dei coletiva de imprensa na PM. Foi uma experiência muito bacana. Essa
mensagem, “Vem pra rua” tem que ficar para sempre.
92
Entrevistado 09: O que achava interessante eu compartilhava, recebi vários
convites, fique sabendo por amigos que me convidavam.
13. Apresentação da Capa dos dois jornais da região durante as
manifestações: “Todo Dia” e “O Liberal”. Após a observação das Capas cada uma apresentou a sua opinião sobre essas capas de uma mídia tradicional e off-line como o jornal.
08/06/2013
93
09/06/2013
94
13/06/2013
95
14/06/2013
96
15/06/2013
97
18/06/2013
98
19/06/2013
99
20/06/2013
100
21/06/2013
101
22/06/2013
102
Respostas da Questão 13: Entrevistado 01: Em Nova Odessa o jornal é para o governo e não noticiou
nada.
Entrevistado 02: O Liberal não mostrou muita coisa.
Entrevistado 03: O que eu pude perceber é que O Liberal focava mais em
Americana e o Todo Dia mais na região.
Entrevistado 04: Das Capas que você mostrou me causou estranheza,
porque quem faz uma cobertura em questão de movimentação em Americana é o
23/06/2013
103
jornal O Liberal que é contra a atual Administração. O Todo Dia não deixa de
mostrar notícia, porém, ele não dá ênfase ao que acontece na cidade.
Entrevistado 05: O Todo Dia noticia os protestos na região, enquanto O
Liberal foca nas manifestações quando passa a ser uma manifestação na cidade. Os
públicos são diferentes.
Entrevistado 06: Não leio os dois; o Todo Dia apresenta mais a notícia por
ser regional.
Entrevistado 07: Concorda com os entrevistados anteriores. Mas, no geral,
a mídia é muito manipuladora e acredita na importância da internet e nas redes
sociais, lá está exposto tudo e cada um tira as suas próprias conclusões.
Entrevistado 08: São diferentes, mas quando chegou a nova administração,
o prefeito optou por trabalhar com o Todo Dia como veículo principal; lá ele vai fazer
a sua defesa, vai divulgar todos os seus editais e fazer todas as suas publicidades.
Na administração anterior a publicidade era dividia entre os dois veículos. Nesta foi
diferente, o Todo Dia até divulga a notícia, mas tenta deixar de forma mais suave,
mas, como a prefeitura está falida, não tem mais dinheiro para fazer o pagamento
dos jornais. O Todo Dia virou um O Liberal. Se continuar a ver as capas mais para
frente, o ataque também vem do Todo Dia. São as Prefeituras que bancam os
jornais nas cidades pequenas. O rompimento com o jornal Todo Dia foi em Outubro
de 2013.
Entrevistado 09: Desde quando entrou a nova administração não é
surpresa para ninguém a forma diferenciada na forma de reportar as notícias; foi até
de se estranhar devido a esta diferença na época, até então, nas mensagens.
Análise da Categoria Tecnologia e Redes Sociais:
2.Tem acesso à internet 3G no celular?
Todos os entrevistados têm acesso à internet 3G pelo celular o que facilita
muito a comunicação entre eles, bem como na rápida divulgação de informações,
fotos e etc..
Esta presença da tecnologia e acesso à internet foi o que vimos no capítulo
2 no Gráfico 1 – Evolução do Tempo com Relação à Tecnologia de Comunicação. Nele
104
pode-se notar que a internet demorou só 5 anos para ter 50 milhões de usuários e o
Facebook só dois anos para chegar ao mesmo número.
Também apresentamos no capítulo 2 uma pesquisa feita por Castells que
destaca os celulares com conexão à internet como facilitadores para a comunicação
entre os manifestantes. Segundo Castells (2013, p.24), “em novembro de 2010, na
Tunísia, 67% da população urbana tinham acesso a um celular e 37% estavam
conectados à internet”.
Dentre os entrevistados no grupo focal percebeu-se que este índice foi muito
maior e chegou a 100% de celulares com acesso à internet e 100% conectados à
internet.
3.Qual Aplicativo de redes sociais mais acessa no celular?
Todos os entrevistados têm acesso à internet e hoje quase todos os
aparelhos de celulares utilizados pelos jovens são smartphones e tem sistemas que
fazem os aplicativos funcionarem; a conexão está na palma da mão de cada um.
Entre os aplicativos mais utilizados estão o Facebook que todos os
entrevistados responderam que utilizam e em segundo lugar um aplicativo que se
tornou rapidamente um sucesso que é o Whatsapp, que foi citado por sete dos nove
entrevistados e que é uma ferramenta de comunicação que utiliza a internet com
mensagens de texto, foto, vídeo e etc.. O Entrevistado 01 disse que utiliza o
Snapchat que é muito parecido com o Whatsapp.
Com relação à rede social foi possível perceber que o Facebook até então é
uma unanimidade entre os entrevistados, o que valida a informação que o Brasil é o
2º país com mais usuários que entram diariamente no Facebook e têm em 2014 61,2
milhões de usuários.
No momento de construção desta análise, dia 04 de fevereiro de 2014, o
Facebook está comemorando 10 anos de existência e o números mostram que a
rede conta atualmente com 1,19 bilhão de usuários e é a maior rede social do
mundo. Rede que inicialmente foi feita para os alunos da Universidade de Havard e
que se tornou um ponto de encontro para as pessoas conversarem e até mesmo
para organizarem movimentos sociais.
4. Qual o tema das mensagens?
105
Em Americana e nas cidades da região a mensagem era: “Vem Pra Rua”,
diferente de São Paulo que eram os “R$ 0,20” em relação ao transporte e em Nova
York pelo movimento que ficou conhecido como Occupy Wall Street, composto pelos
99% indignados contra 1% que controla a riqueza do país.
Com esta mensagem “Vem Pra Rua” os organizadores dos movimentos
motivaram os seus seguidores a irem para a rua e manifestarem a sua indignação;
independente do motivo o importante era mostrar para os governantes que eles
estavam descontentes e ansiosos por mudanças.
13. Apresentação da Capa dos dois jornais da região durante as
manifestações: “Todo Dia” e “O Liberal”. Após a observação das Capas cada uma apresentou a sua opinião sobre essas capas de uma mídia tradicional e off-line como o jornal.
A Proposta de apresentar os dois jornais da cidade de Americana e
comparar as suas capas surgiu para verificar, em primeiro lugar, se estes jovens que
estão totalmente conectados nas redes sociais conhecem o que a mídia tradicional
como o jornal escreveu e colocou como manchete e, em segundo lugar, para
verificar e comparar o que os dois veículos apresentaram.
O jornal O Liberal é um veículo da cidade de Americana/SP e divulga
somente os fatos da cidade, enquanto o jornal Todo Dia também é da cidade, mas
dá ênfase às cidades da região com notícias de quase toda a Região Metropolitana
de Campinas (RMC).
Este fato dos jornais serem da cidade, mas terem o foco diferenciado foi
unânime entre os entrevistados. Contudo, o que chamou muito a atenção foi o fato
de o jornal O Liberal demorar em noticiar as manifestações. Somente quando foi
muito forte a presença nas ruas é que eles deram um destaque maior à
manifestação.
O Entrevistado 07 disse que a mídia é muito manipuladora e, por isso, a
importância de verificar as informações nas redes sociais.
Os Entrevistados 04, 08 e 09 apontaram que o jornal Todo Dia até então foi
o escolhido da administração municipal atual par divulgar todos os editais, concursos
e também a sua publicidade; que nas administrações anteriores tudo era dividido
106
entre os dois jornais. Com este fato explica-se O Liberal ser considerado a oposição
ao governo da atual administração. O Todo dia, para os entrevistados, não deixou
de divulgar as notícias, mas, não deu ênfase ao que acontecia de fato na cidade.
Com apresentou Castells em seu livro:
E é nesse mundo que os movimentos sociais em rede vieram à luz, numa transição – natural, para muitos indivíduos – do compartilhamento de sua sociabilidade para o compartilhamento de sua indignação, de sua esperança e de sua luta. (CASTELLS, 2013, p.137).
14. O que você acha de participar de um projeto que é realizado no
curso de Publicidade e Propaganda, do UNISAL, dentro da disciplina de Comunicação Multimídia no quarto semestre? O trabalho consiste em cada grupo “Adotar uma ONG” e cuidar da comunicação digital dela com a
sociedade. Os trabalhos realizados em dois meses e o seu lançamento sempre é feito durante a semana de Publicidade e Propaganda no segundo semestre de cada ano.
Entrevistado 01: Algumas ONG’s têm ajuda, mas, sobrevivem de doações
de pessoas e empresas; elas fazem um papel que, em minha opinião, deveria ser do
governo. Falta um incentivo público. A ONG que fiz foi o Centro de Convivência
Infantil (CCI) de Sumaré que não tinha Facebook e agora eles conseguem colocar
as informações que eles estão precisando. Antes disso, por exemplo, eles recebiam
seis cestas básicas, mas estavam precisando de roupas. Nossa equipe deu um
direcionamento e eles mesmos postam as informações todo semana.
Entrevistado 09: Meu grupo trabalhou com idosos em Nova Odessa; a
prefeitura deveria ajudar mais, pois, eles dependem de voluntários. Foi massa o
trabalho, conhecer a história e dificuldades deles e ver como pequenos gestos são
importantes para eles.
Entrevistado 03: Meu grupo trabalhou com os “Anjos da Alegria” e o
objetivo foi agregar mais pessoas ao Facebook. O que eu pude ver dos outros
grupos é que gerou curiosidade das pessoas de fora que não conheciam o trabalho
e sei que até hoje algumas pessoas continuam ajudando as ONG’s, mesmo depois
que o trabalho terminou, porque conheceram aqui no UNISAL. Na apresentação
durante a semana de Publicidade e Propaganda, as pessoas se sentiram
107
sensibilizadas e até hoje ajudam e foi muito importante. Acho que é um trabalho que
deveria se perpetuar, porque agrega muito ao nosso conhecimento e também para
as ONG’s. Até hoje uma integrante do nosso grupo faz a manutenção da Fan Page
deles, o “Lar dos Velhinhos” e a “Casa de Dom Bosco” não tinha Fan Page e agora
tem, isso abriu uma oportunidade das pessoas de fora conhecerem e ajudarem
estas Instituições.
4.9.Considerações sobre a Pesquisa Realizada
Com base em tudo o que foi exposto foi possível levantar alguns pontos
positivos e negativos.
Dentre os pontos positivos da pesquisa estão: - a atualidade do tema o que
ajudou muito em todos os sentidos, pois estas manifestações ainda estavam
presentes na memória dos entrevistados; - a bibliografia indicada pela banca
examinadora e pelo orientador que contribuíram muito para compreender o tema em
questão; - a qualidade da gravação ajudou para que as informações fossem
repassadas da melhor forma; - as orientações da banca, em relação ao foco do
trabalho, também foram fundamentais para chegar até aqui.
Os pontos negativos aconteceram no início do trabalho até descobrir que a
relevância não estava no uso das redes sociais e sim em conhecer como estas
redes poderiam contribuir para a educação e cidadania.
Foi uma surpresa observar o quanto estes jovens estão interessados e por
dentro do que está acontecendo em nosso país; do mesmo modo, pelo despertar
que as manifestações provocaram neste grupo ao ponto de muitos se envolverem
depois de Junho de 2013. Estes continuam cobrando dos políticos as respostas para
os problemas atuais das cidades; o envolvimento em ONG’s e partidos políticos
também chamou a atenção, visto o envolvimento de alguns deles com estas
entidades.
Com a finalização da pesquisa recomenda-se como sugestão para trabalhos
futuros que ela continue a ser trabalhada por interessados em conhecer as coisas
que estão por vir, pois na fala dos entrevistados isso o que aconteceu foi só uma
mostra do que está por vir.
108
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi feito neste estudo um levantamento histórico acerca dos movimentos
sociais no Brasil e no mundo, iniciando com a juventude no Brasil em 1968, até
chegar às novas formas de comunicação do século XXI que incluem as redes
sociais digitais.
O levantamento apontou que esta nova era de mobilizações se iniciou na
grande onda desses movimentos sociais que aconteceram na Tunísia, passando
pelo Egito até chegar ao Brasil em junho de 2013.
Um estudo bibliográfico foi realizado, em livros, artigos e reportagens em
meio eletrônico nos três capítulos e o quarto capítulo foi construído a partir de uma
pesquisa de grupo focal com alunos, ex-alunos do UNISAL/ Americana/SP e
também com pessoas que participaram das manifestações nas cidades de
Americana e região.
No estudo bibliográfico, foi possível verificar que as redes sociais tiveram um
papel fundamental em todos estes movimentos sociais que ocorreram no mundo.
Na pesquisa de grupo focal, além da importância das redes sociais nas
manifestações, houve questionamento ao grupo , com nove entrevistados, se estas
redes poderiam ter um papel importante na cidadania das pessoas. A resposta
surpreendeu, pois houve o envolvimento dos entrevistados, não só em se
organizarem pelas redes sociais da internet e depois se encontrarem nos espaços
públicos para reivindicarem os seus direitos, mas parte do grupo entrevistado
passou a se interessar pelas questões políticas e sociais das suas cidades, bem
como passaram a se envolver e participar de ONG’s, partidos políticos e a criarem
um grupo que vai a quase todas as sessões da Câmara Municipal de Americana
cobrar dos vereadores o seu papel de fiscalizador do executivo, no caso a Prefeitura
Municipal de Americana.
As redes sociais têm sim um papel fundamental não só na divulgação e
comunicação entre as pessoas, mas, também, como foi verificado na análise das
respostas do grupo focal, podem ter um papel fundamental na participação dos
indivíduos como cidadãos, onde cada um tem a oportunidade de conhecer os seus
direitos e deveres e também de inspirá-los a buscarem os seus interesses utilizando
os encontros e as mobilizações para isso.
109
Mesmo aqueles entrevistados que não se envolveram tão diretamente,
foram despertados a entenderem a importância de irem atrás de assuntos atuais que
estão acontecendo nas cidades e passaram a se preocupar com os problemas das
pessoas que não sabem mais o que fazer para terem seus direitos respeitados.
Disse um dos entrevistados:
Ser cidadão é deixar de ser egoísta; cada um tem condições de voz e deve usá-la, mas não legislar em causa própria, pois, às vezes, as condições que nós na sociedade criamos não são favoráveis para o outro. Ser cidadão, é lutar pelo outro, pode te favorecer, mas às vezes não. (Entrevistado 08).
E esta reposta tem muito a ver com o que Gomes (2008) afirma em relação
à educação sociocomunitária que busca não só solucionar os problemas, mas, sim
construir articulações políticas expressas em ações educativas que provoquem
transformações sociais.
Outro ponto importante nas respostas dos entrevistados foi com relação à
mídia tradicional como os jornais da cidade; todos os entrevistados sabem muito
bem compreender o que cada mídia está mostrando em termos de conteúdo, bem
como compará-las com a realidade dos fatos.
110
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114
APÊNDICE A – Pesquisa socioeconômica no Google Drive
NÚMERO?
1. Gênero:
Masculino.
Feminino. 2. Idade:
14 a 24 anos.
25 a 30 anos.
31 a 39 anos.
40 anos ou mais. 3. Grau de Escolaridade:
Ensino Fundamental.
Ensino Médio ou Técnico.
Ensino Superior Cursando.
Ensino Superior Completo.
Ensino de Pós-Graduação. 4. Em qual cidade reside?
Americana.
Santa Bárbara d'Oeste.
Nova Odessa.
Sumaré.
Hortolândia.
Piracicaba.
115
Outro: 5. Trabalho:
Trabalha.
Não Trabalha.
Desempregado.
Autônomo.
Aposentado. 6. Tempo de Trabalho
De 1 mês a 11 meses.
De 1 a 3 anos.
De 4 a 8 anos.
De 8 a 15 anos
Acima de 15 anos. 7. Renda Mensal:
Até 2 Salários Mínimos.
Entre 2 e 5 Salários Mínimos.
Entre 5 e 10 Salários Mínimos.
Acima de 10 Salários Mínimos.
116
APÊNDICE B – Etapa IV – Roteiro Norteador da Discussão
Este roteiro semiestruturado está composto de 14 questões, sendo que as
quatro primeiras questões foram simples e do dia a dia dos participantes, e tiveram o
objetivo de estreitar a relação entre o grupo e também de descontração.
2. Qual o último Livro que você leu?
3. Tem acesso à internet 3G no celular?
4. Qual Aplicativo de redes sociais mais acessa no celular?
5. Qual o tema das mensagens?
6. Qual é a sua opinião sobre as Manifestações que ocorreram em Junho
de 2013 e ainda continuam ocorrendo?
7. Você participou de alguma manifestação em 2013? Onde? Lembra do
dia e cidade? Antes das manifestações iniciadas em Junho de 2013 você já havia
participado de alguma outra manifestação de rua? Se afirmativo, cite qual foi.
8. Participa ou é membro de algum Grupo?
9. Você acha que essas manifestações conseguiram promover as
mudanças que você reivindica? Se sim, quais?
10. Alguém passou a se dedicar ou a se interessar pelas funções dos
conselhos, que atualmente existem, inclusive do ponto de vista legal, para fazer
vigorar a participação dos cidadãos em suas comunidades?
11. O que é Democracia para você?
12. A Constituição da República Federativa do Brasil apresenta a cidadania
como um dos seus fundamentos, logo no Art. 1º.
Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
117
V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Com base nesses princípios fundamentais, para você o que é Cidadania?
12. Como as redes sociais podem ser um instrumento de educação e
cidadania?
13. Apresentação da Capa dos dois jornais da região durante as
manifestações: “Todo Dia” e “O Liberal”. Após a observação das Capas cada uma
apresentou a sua opinião sobre essas capas de uma mídia tradicional e off-line
como o jornal.
14. O que você acha de participar de um projeto que é realizado no curso de
Publicidade e Propaganda, do UNISAL, dentro da disciplina de Comunicação
Multimídia no quarto semestre? O trabalho consiste em cada grupo “Adotar uma
ONG” e cuidar da comunicação digital dela com a sociedade. Os trabalhos
realizados em dois meses e o seu lançamento sempre é feito durante a semana de
Publicidade e Propaganda no segundo semestre de cada ano.
118
ANEXO A – Etapa II – Apresentação do Perfil dos Entrevistado
1. Gênero:
Masculino 5 56%
Feminino 4 44%
Gráfico 2 – Gênero dos Entrevistados
Fonte: Elaborado pelo Autor
119
2. Idade:
14 a 24 anos. 4 44%
25 a 30 anos. 5 56%
31 a 39 anos. 0 0%
40 anos ou mais. 0 0%
Gráfico 3 – Idade dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor
120
3. Em qual cidade reside?
Americana 8 89%
Santa Bárbara D'oeste 0 0%
Nova Odessa 1 11%
Sumaré 0 0%
Hortolândia 0 0%
Piracicaba 0 0%
Outros 0 0%
Gráfico 4 – Cidade de Residência dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor
121
4. Grau de Escolaridade:
Ensino Fundamental 0 0%
Ensino Médio ou Técnico 1 11%
Ensino Superior Cursando. 5 56%
Ensino Superior Completo 3 33%
Ensino de Pós-Graduação 0 0%
Gráfico 5 – Grau de Escolaridade dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor
122
5. Trabalho:
Gráfico 6 –Trabalho dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor
Trabalha. 7 78%
Não Trabalha. 0 0%
Desempregado. 0 0%
Autônomo. 2 22%
Aposentado. 0 0%
123
6. Tempo de Trabalho:
De 1 mês a 11 meses. 1 11%
De 1 a 3 anos. 3 33%
De 4 a 8 anos. 2 22%
De 8 a 15 anos 3 33%
Acima de 15 anos. 0 0%
Gráfico 7 – Tempo de Trabalho dos Entrevistados
Fonte: Elaborado pelo Autor
124
7. Renda Mensal:
Gráfico 8 – Renda Mensal dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor
Até 2 Salários Mínimos. 7 78%
Entre 2 e 5 Salários Mínimos. 2 22%
Entre 5 e 10 Salários Mínimos. 0 0%
Acima de 10 Salários Mínimos. 0 0%
125
ANEXO B – Etapa III – Apresentação do Perfil dos Entrevistado
Entrevistado Gênero Idade Cidade Grau de Escolaridade
01 Masculino 14 a 24 anos Nova Odessa Superior Cursando
02 Feminino 14 a 24 anos Americana Superior Completo
03 Masculino 25 a 30 anos Americana Superior Cursando
04 Feminino 25 a 30 anos Americana Superior Completo
05 Masculino 25 a 30 anos Americana Ensino Médio ou Técnico
06 Masculino 14 a 24 anos Americana Superior Cursando
07 Feminino 14 a 24 anos Americana Superior Cursando
08 Masculino 25 a 30 anos Americana Superior Completo
09 Feminino 25 a 30 anos Americana Superior Cursando
Quadro 1 – Informações dos Entrevistados
Fonte: Elaborado pelo Autor