redes sociais e educaÇÃo para a cidadania

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO GIULIANO PAULINO COAN REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA MESTRADO EM EDUCAÇÃO UNISAL Americana 2014

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Page 1: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO

GIULIANO PAULINO COAN

REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

UNISAL

Americana 2014

Page 2: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

GIULIANO PAULINO COAN

REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

Dissertação apresentada ao Centro Universitário Salesiano de São Paulo − UNISAL, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, sob a Orientação do Prof. Dr. Renato Kraide Soffner.

UNISAL Americana

2014

Page 3: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

Coan, Giuliano Paulino.

C583r Redes Sociais e Educação para a Cidadania / Giuliano Paulino Coan. Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2014.

127 f. Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL/SP. Orientador: Prof. Dr. Renato Kraide Soffner. Inclui bibliografia. 1.Educação para a Cidadania. 2. Redes Sociais. 3.

Educação Sociocomunitária. 4. Mobilizações e Manifestações Sociais. I. Título.

CDD 370.193

Catalogação elaborada por Lissandra Pinhatelli de Britto – CRB-8/7539

Bibliotecária UNISAL – Campus Maria Auxiliadora

Page 4: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

Giuliano Paulino Coan

Redes Sociais e Educação para a Cidadania.

Dissertação apresentada ao Centro Universitário Salesiano de São Paulo − UNISAL, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Renato Kraide Soffner. Dissertação aprovada em 07/03/2014 pela comissão julgadora:

Banca Examinadora Prof. Dr. Marcos de Carvalho Dias

___________________________________________________________________

Membro externo – FATEC Americana

Profa. Dra. Maria Luísa Amorim Costa Bissoto

___________________________________________________________________

Membro interno – UNISAL

Prof. Dr. Renato Kraide Soffner

___________________________________________________________________

Orientador - UNISAL

Americana

2014

Page 5: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

Dedico este trabalho:

À Deus, que me deu fôlego de vida para estudar e poder apresentar este trabalho.

Aos meus pais Carlos e Jael, pela paciência com os estudos na escola e em especial à minha mãe que é uma guerreira e lutou muito pela minha educação.

Ao meu irmão Carlos, que me incentiva em todos os momentos da minha vida e que é um exemplo para mim.

Aos meus avós Ernani, Nelly, José e Antonieta, que souberam semear em minha vida muitas coisas, até mesmo em orações.

À minha tia avó Sílvia, que de seu leito de morte ainda me falava da importância de estudar.

À minha amada esposa Juliane, minha incentivadora, que está sempre ao meu lado; é minha Fã número 1.

Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus

em Cristo Jesus para convosco.

(1 Tessalonicenses 5:18)

Page 6: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

AGRADECIMENTOS

Ao Espírito Santo de Deus, pela inspiração para ingressar no Mestrado, inicialmente como aluno especial e depois aluno regular.

À minha mãe Jael que, em todo tempo, profetizava que eu seria alguém na vida. Obrigado Mãe!

A todos os educadores que me deram a oportunidade de ingressar no Departamento de Marketing do UNISAL de Americana/SP aqui representados por: Pe. Gilberto Pierobom, que foi Reitor do UNISAL, por quem tenho um carinho muito grande pela pessoa que é e pelo trabalho que desenvolve na Instituição; ao Professor Doutor Carlos Augusto Amaral Moreira que foi meu primeiro diretor acadêmico, com quem convivi em outras IES; ao Professor Mestre Flávio Rossi, nosso primeiro coordenador de marketing; André, Marinelza, Cássia, Fernando, Luciana e a todos os colegas de marketing; ao Professor Mestre Jorge Tannus Júnior que me indicou para começar a lecionar nesta casa; ao Professor Mestre Paulo Tomaziello querido coordenador, aos Professores e colegas do curso de Publicidade e Propaganda; ao Pe. Marco Biaggi, por todas as oportunidades que me deu até hoje na minha carreira e ao nosso Diretor de Operações, Professor Mestre Anderson Luiz Barbosa, que é, para mim, um exemplo de dedicação ao trabalho e de conhecimento como gestor do UNISAL.

Ao meu orientador Professor Doutor Renato Kraide Soffner sempre disposto a me atender e a me orientar em todos os momentos, além de ser um grande incentivador da tecnologia; ao Professor Doutor Severino Antonio Moreira Barbosa por ter tido o privilégio de assistir as suas aulas que foram muito marcantes e importantes em minha vida.

Aos membros da banca examinadora, professores doutores Marcos de Carvalho Dias e Maria Luísa Amorim Costa Bissoto, pela leitura e pelas contribuições oferecidas ao trabalho.

A todos os professores do Programa de Mestrado do UNISAL, por todas as excelentes aulas e por todo carinho. Em especial ao professor Marcos Francisco, por tudo o que aprendi em suas aulas.

Aos colegas do Mestrado em Educação, pelas contribuições e pelos trabalhos que fizemos juntos.

A todos que contribuíram de alguma forma para que chegasse até aqui.

Valeu a pena!

Movimentos sociais não são políticos, mas buscam a mudança de cultura.

Manuel Castells

Page 7: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo contextualizar o tema “Redes Sociais e Educação para a Cidadania”, buscando resposta ao problema de pesquisa que intenciona analisar qual é o papel das redes sociais e demais tecnologias como meio para uma educação cidadã. O ponto de partida foram as mobilizações sociais ocorridas em junho de 2013 na cidade de Americana-SP. Foi feito um estudo bibliográfico seguido de uma pesquisa qualitativa, de tipo exploratório, com um roteiro semiestruturado e com a aplicação de um grupo focal. O estudo teve como objetivo conhecer qual foi a participação nos movimentos sociais de junho de 2013, como se mobilizaram, quais redes utilizaram e se alguém passou a se dedicar ou a se interessar pelas funções dos conselhos municipais ou outros espaços democráticos, que atualmente existem, fazendo vigorar a participação deles como cidadãos em suas comunidades. Tem como hipótese que as redes sociais podem ter uma papel decisivo no suporte aos movimentos sociais e comunitários, contribuindo para a cidadania e autonomia dos envolvidos nestas manifestações. Na primeira etapa da pesquisa, o objetivo foi verificar o perfil dos entrevistados, como se distribuem em relação ao gênero, idade, nível de escolaridade, ocupação profissional, local de residência, por meio da utilização de um formulário on-line. Em outra etapa houve a discussão das questões do roteiro no grupo focal, no qual foi perguntado quais redes sociais mais utilizaram durante as manifestações, se participaram de mobilizações em outras cidades, sua participação como cidadão nas manifestações e se as redes sociais contribuíram para a educação e à cidadania. Trata-se de um assunto atual, pois, as manifestações ainda ocorrem de forma pulverizada pelo país, e as redes sociais tem sido o canal de comunicação usado pela maioria dos manifestantes na organização dos encontros e das mobilizações. Os resultados alcançados demonstraram o quanto estes jovens estão interessados no que está acontecendo em nosso país e também estão envolvidos em reivindicar dos políticos respostas aos problemas que as cidades vêm enfrentando; alguns entrevistados, depois das manifestações, passaram a se envolver em ONG’s e partidos políticos, fazendo vigorar a sua participação como cidadão dentro da comunidade. Palavras-chave: Educação para a Cidadania. Redes Sociais. Educação Sociocomunitária. Mobilizações e Manifestações Sociais.

Page 8: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

ABSTRACT

This work aims to contextualize the topic "Social Networking and Education for Citizenship" , seeking answers to the problem of research that intends to analyze what is the role of social networks and other technologies as a means for citizen education . The starting point was the social mobilizations that occurred in June 2013 in the city of Americana- SP . A literature study followed a qualitative, exploratory, with a semi-structured and with the application of a focus group was done. The study aimed to understand what was the participation in social movements in June 2013, as mobilized , including networks used and if someone began to devote himself or be interested in the functions of municipal councils or other democratic spaces that currently exist , making effective their participation as citizens in their communities . Have hypothesized that social networks can have a decisive role in supporting social and community movements , contributing to citizenship and autonomy of those involved in these demonstrations . In the first stage of the research , the aim was to investigate the profile of respondents , they are distributed in relation to gender , age , education level , occupation , place of residence , by using an online form . In another part there was discussion of the issues in the focus group script , which was asked which social networks most used during the demonstrations , it participated in demonstrations in other cities , their participation as citizens in the demonstrations and social networks contributed to education and citizenship . This is a current issue since , demonstrations still occur sprayed by country fashion, and social networks has been the communication channel used by most of the protesters in the organization of meetings and mobilizations . The results achieved demonstrate how these young people are interested in what is happening in our country and are also involved in claiming political responses to problems that cities are facing ; some respondents , after the demonstrations , began to get involved in ONGs and political parties , making effective their participation as citizens within the community . Keywords : Education for Citizenship . Social Networks . Socio-communitarian education. Social Movements and Manifestations.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Informações dos Entrevistados...................................................... 125

Page 10: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Rede Centrada na Interação.......................................................... 40

Figura 2 Rede Centrada na Identificação.................................................... 41

Page 11: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Evolução do Tempo com Relação à Tecnologia de Comunicação 42

Gráfico 2 Gênero dos Entrevistados............................................................. 118

Gráfico 3 Idade dos Entrevistados................................................................ 129

Gráfico 4 Cidade de Residência dos Entrevistados...................................... 120

Gráfico 5 Grau de Escolaridade dos Entrevistados....................................... 121

Gráfico 6 Trabalho dos Entrevistados............................................................ 122

Gráfico 7 Tempo de Trabalho dos Entrevistados........................................... 123

Gráfico 8 Renda Mensal dos Entrevistados.................................................. 124

Page 12: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALAS Associación Latinoamericana de Sociologia ALCA Área de Livre Comércio das Américas ANPEd Associação Nacional de Pós¬-Graduação e Pesquisa em Educação ANPOCS Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências

Sociais BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CBEs Conferências Brasileiras de Educação CCI Centro de Convivência Infantil CET Companhia de Engenharia de Tráfego COFINS Contribuição para Financiamento da Seguridade Social FAPESB Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da BahiaFNDC Fórum Nacional pela Democratização da ComunicaçãoFSM Fórum Social MundialIC Inteligência Coletiva IC Jr. Iniciação Científica Júnior INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação ISA International Sociological AssociationITS Instituto de Tecnologia Social do BrasilLASA Latin American Studies Association LTECS Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MEC Ministério da Educação MIT Massachusetts Institute of Technology MPL Movimento Passe Livre MS Ministério da Saúde MSN Microsoft Service Network MST Movimentos dos Sem Terra ONG’s Organizações Não Governamentais PEC Proposta de Emenda Constitucional PIS Programas de Integração Social PM Polícia Militar RMC Região Metropolitana de Campinas RTS Rede de Tecnologias Sociais SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SBS Sociedade Brasileira de Sociologia SNS Social Networking Sites SUS Sistema Único de Saúde TIC Tecnologia da Informação e Comunicação UNE União Nacional dos Estudantes UNIFACS Universidade Salvador USAID United States Agency for International Development

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................... 13 1. MOVIMENTOS E MOBILIZAÇÕES SOCIAIS E A QUESTÃO DA CIDADANIA........................................................................................................

16

1.1. Movimentos Sociais, Mobilização e Manifestação....................................... 16 1.2. Movimentos Sociais e Sociedade em Rede................................................. 28 1.3. Cidadania..................................................................................................... 30

2. REDES SOCIAIS, MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PODER............................. 32 2.1. Redes Sociais Digitais................................................................................. 33 2.2. Comunicação e Poder................................................................................. 45 2.3. Movimentos Sociais na Internet.................................................................. 47

2.3.1. Tunísia, onde tudo começou.................................................................. 47 2.3.2. A Revolução Egípcia.............................................................................. 48 2.3.3. Occupy Wall Street…………………………………………………………. 50

3. TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO.................................................... 55 3.1. Redes Sociais como Suporte aos Movimentos Sociais.............................. 62 3.2. Movimentos Sociais no Brasil em Junho de 2013....................................... 63 4. PESQUISA QUALITATIVA: GRUPO FOCAL SOBRE AS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS.............................................................................

72

4.1. Definição do Problema de Pesquisa........................................................... 73 4.2. Determinação do Objetivo .......................................................................... 73 4.3. Método de Pesquisa.................................................................................... 73 4.4. Procedimento de Coleta de Dados de Campo............................................ 74 4.5. Etapa I – Construção do Grupo e Determinação das Regras..................... 75 4.6. Etapa II – Roteiro Norteador da Discussão ................................................ 76 4.7. Etapa III – Discussão, Definição das Categorias e Apresentação dos Resultados..........................................................................................................

76

4.8. Etapa IV – Apresentação e Análise dos Resultados .................................. 76 4.9. Considerações sobre a Pesquisa Realizada............................................... 107 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 108 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 110 APÊNDICE A – Pesquisa socioeconômica no Google Drive....................... 114 APÊNDICE B – Etapa IV – Roteiro Norteador da Discussão........................ 116 ANEXO A – Etapa II – Apresentação do Perfil dos Entrevistado................. 118 ANEXO B – Etapa III – Apresentação do Perfil dos Entrevistado................ 125

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13

INTRODUÇÃO

As Redes Sociais e as Manifestações Sociais ocorridas no ano de 2013 e

suas correlações com a educação para a cidadania constituem o foco deste

trabalho.

Para tanto, se faz necessário realizar um breve levantamento histórico

acerca dos movimentos sociais no Brasil, no mundo e atualmente, posto que, em

pleno século XXI, as tecnologias deram voz às pessoas e aos manifestantes, que

passaram a utilizá-las como meios fundamentais de comunicação, com a intenção

de divulgação de suas ações, programação das mobilizações, bem como

disponibilização de fotos e vídeos dos seus principais acontecimentos.

Do mesmo modo, são abordadas as diferenças existentes entre Mídias

Sociais e Redes Sociais e também o papel da educação e da cidadania dentro

dessas manifestações.

Considerando a relevância das mídias e redes no contexto social este

estudo apresenta o seguinte problema de pesquisa:

Qual é o papel das redes sociais e demais tecnologias como meio para uma

educação cidadã?

Para responder a esta questão problema são apresentados os objetivos a

serem atingidos:

O objetivo principal almeja analisar a relevância das redes sociais na

organização e na condução das manifestações populares, ocorridas no Brasil, em

junho de 2013 e a possibilidade das redes sociais serem um instrumento para à

educação.

Como objetivo específico intenciona-se verificar como os integrantes do

grupo de manifestantes se distribuem em relação a gênero, idade, nível de

escolaridade, ocupação profissional, local de residência, quais redes sociais mais

utilizaram durante as manifestações e se participaram de mobilizações em outras

cidades.

Tem-se como hipótese elaborada para este estudo:

As redes sociais podem ter um papel decisivo no suporte aos movimentos

sociais e comunitários, contribuindo à cidadania e à autonomia dos envolvidos

nestas manifestações?

Page 15: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

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A motivação para o desenvolvimento deste tema se baseia na percepção de

que o mesmo se justifica por ser bastante contemporâneo. Isto porque as

manifestações ainda continuam ocorrendo, tanto no Brasil quanto no mundo, e as

redes sociais têm sido um importante canal de comunicação, bem como têm

contribuído para todos os encontros e mobilizações em diversas áreas e segmentos

sociais do país.

Para a metodologia do estudo foi definido um levantamento bibliográfico

visando abordar os principais conceitos apresentados no trabalho, que são: os

movimentos sociais, mobilizações, manifestações e educação para a cidadania.

Também foi apoiada na aplicação de um grupo focal utilizando um roteiro

semiestruturado de entrevista.

Grupo focal que são pequenos grupos de pessoas reunidos para avaliar

conceitos e identificar problemas. Pesquisas desse gênero ocorrem em um lugar

previamente selecionado e o objetivo central é identificar sentimentos, percepções,

atitudes e idéias dos participantes a respeito de determinado assunto.

É necessário haver um moderador que administre o diálogo e estimule um

ambiente de troca, onde as pessoas se sintam à vontade para compartilharem suas

idéias e opiniões. O moderador é a peça-chave do sucesso de uma pesquisa

baseada em grupos focais. Os grupos selecionados para a pesquisa podem ser

homogêneos ou heterogêneos, dependendo do objetivo da pesquisa. Na maioria das

vezes é preferível ter pessoas de um grupo homogêneo na discussão.

A etapa final é a análise dos resultados. Ao final, o moderador constrói um

relatório contendo todo o material audiovisual e textual gerado na discussão e um

resumo dos comentários mais importantes, além de acrescentar suas conclusões e

recomendações.

Este trabalho está organizado da seguinte forma:

A Introdução apresenta a contextualização do tema, a justificativa, o objetivo

geral e os específicos, a hipótese, a metodologia adotada, bem como a estruturação

da dissertação.

O Capítulo 1 aborda conceitos dos Movimentos e as Mobilizações Sociais,

considerando as manifestações ocorridas em 1968 no Brasil, a participação dos

jovens nessas manifestações, os movimentos sociais, a sociedade em rede e a

questão da cidadania.

Page 16: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

15

O Capítulo 2 enfoca as Redes Sociais, as Tecnologias da Informação e

Comunicação (TIC’s), a Mobilização Social e o Poder, mencionando as tecnologias

de informação e comunicação, a comunicação e o poder, as redes sociais digitais e

os movimentos sociais na internet. Também apresenta os principais movimentos

ocorridos ao redor do mundo como na Tunísia, A Revolução Egípcia e o Occupy

Wall Street.

O Capítulo 3 apresenta as Tecnologias Sociais e a Educação, as redes

sociais como suporte aos movimentos sociais e os movimentos sociais no Brasil em

junho de 2013, bem como, exemplos de uso das tecnologias e a educação.

O Capítulo 4 apresenta os dados de uma pesquisa desenvolvida com alunos

e ex-alunos do UNISAL/Americana/SP e pessoas que participaram das

manifestações na cidade de Americana-SP e região. Para isso foi feito um grupo

focal com a intenção de discutir o tema das Redes Sociais e a questão da cidadania,

contudo, antes, foi necessário identificar o perfil dos entrevistados. Ao final são

transcritas as respostas na íntegra, bem como é promovida uma análise das

respostas em três categorias que são:

1. Educação e Cidadania.

2. Participação e envolvimento nas Manifestações.

3. Tecnologia e Redes Sociais.

Para a finalização desta dissertação são apresentadas as Considerações

Finais, seguida das Referências utilizadas para o estudo, do Apêndice contendo um

esboço do questionário que foi aplicado.

Page 17: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

16

1. MOVIMENTOS E MOBILIZAÇÕES SOCIAIS E A QUESTÃO DA CIDADANIA

1.1. Movimentos Sociais, Mobilização e Manifestação

De acordo com Johnson (1997), movimento social é:

Um esforço coletivo contínuo e organizado que se concentra em algum aspecto de MUDANÇA SOCIAL. Um movimento de reforma tenta melhorar condições em um sistema social, mas sem modificar seu caráter fundamental. Um exemplo comum seria as campanhas para igualar o encargo dos impostos na sociedade. O movimento de reforma contrasta radicalmente com um movimento revolucionário, cuja finalidade é alterar as características estruturais e culturais básicas de um sistema – como, por exemplo, tentando tornar socialista uma economia de Mercado capitalista. Nos Estados Unidos, por exemplo, surgiu um movimento de resistência para impedir mudanças nas leis que garantem às mulheres o direito ao aborto. (JOHNSON, 1997, p.155).

Enquanto que Mobilização, de acordo com o Dicionário Houaiss (2001, p.

300) significa preparar as tropas para a Guerra, arregimentar, por em movimento,

mobilizar-se; o termo Manifestação, segundo Mini Dicionário Houaiss (2009, p.1837)

significa ação ou efeito de manifestar-se, ato de dar a conhecer, de revelar, ato de

transparecer sentimento em uma atitude como por exemplo em comportamento de

ódio ou de alegria.

Movimentos sociais têm um cunho ideológico mais característico, pois,

apresentam mais maturidade organizacional, objetivos mais definidos e tendem a se

estender no tempo, já as Mobilizações são eventos de caráter mais urgente e com

estrutura organizativa relativamente pouco complexa.

Frank e Fuentes (1989) também apresentam um conceito, no qual, os

movimentos sociais podem ser ofensivos e defensivos. Os ofensivos são

constituídos de uma minoria; buscam uma transformação da ordem estabelecida,

uma vez que se propõem a buscar uma ordem melhor para si e para o mundo. Os

defensivos são constituídos pela maioria, que busca, por exemplo, proteger algumas

conquistas recentes. No eixo Sul-Sul estes movimentos se propõem a defender a

Page 18: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

17

subsistência de seus membros e se mostram contrários ao assédio da crise

econômica e da repressão política. Os movimentos ambientais também são

defensivos, pois buscam proteger o meio ambiente e manter a paz como, por

exemplo, os chamados “Verdes” na Alemanha, que constituem o partido da ecologia.

Podemos afirmar, então, que os movimentos sociais mobilizam seus

membros de forma defensiva / ofensiva contra uma injustiça percebida a partir de

um sentido moral compartilhado entre eles.

Frank e Fuentes (1989) citam a observação feita por Luciana Casteiina, uma

militante em muitos movimentos sociais: “Somos um movimento porque nos

movemos".

Os movimentos sociais são cíclicos em dois sentidos. Primeiro porque

respondem a circunstâncias do momento econômico, político e ideológico e, em

segundo lugar, porque estes movimentos tem vida própria, pois mobilizam as

pessoas em resposta às circunstâncias que por si só são cíclicas.

Como possuem vida própria, é possível compreender que tais movimentos

vão se debilitando, tanto em número como em poder, de acordo com o período

econômico em que vivem ou mesmo das suas conquistas.

Contudo, são cíclicos e podem reviver durante algum período de recessão

econômica, por exemplo, mas, principalmente, quando a recessão econômica afeta

negativamente a subsistência e a identidade dos povos é que os movimentos sociais

se tornam mais ofensivos, progressistas e socialmente responsáveis.

Com relação à composição de classe dos movimentos sociais no Terceiro

Mundo trata-se, principalmente, da classe popular, pois são pessoas que estão

submetidas a privações e a injustiças e, por este motivo, se mobilizam por meio dos

movimentos sociais. Isso tudo se soma ao peso das crises nacionais / internacionais

que afetam ainda mais estas pessoas de renda mais baixa, isso ficou comprovado

com o grupo focal que teve a sua maioria com renda de até dois salários mínimos.

As mobilizações desta classe da população são uma forma de defender,

muitas vezes, até a sua sobrevivência física e econômica como também a sua

identidade cultural.

Algumas cooperativas surgem dessas situações e buscam, de alguma

forma, ajudar especificamente no que se refere às necessidades básicas como, por

exemplo, o pão para a alimentação.

Page 19: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

18

Outros exemplos são os sacolões, no Rio de Janeiro, que atendem mais de

1.500 grupos sociais; na Índia, este tipo de sacolão está cada vez mais presentes

em mais de 600 mil aldeias de acordo com Frank e Fuentes (1989).

Quanto à transformação social destes movimentos, Frank e Fuentes (1989)

entendem que os movimentos são agentes importantes de transformação social,

pois preenchem os espaços vazios nos quais o Estado e outras instituições sociais e

culturais são incapazes de atuar pelos interesses de seus membros, ou por não

quererem fazê-lo.

Concluindo, os referidos autores afirmam que os movimentos sociais podem

ser cíclicos, transitórios, defensivos, mutuamente conflitivos e frágeis, mas, ao

mesmo tempo, formam novos laços que servem para transformar a sociedade de

hoje. E definem, ainda, que a contribuição dos movimentos sociais é fundamental

tanto na ampliação como na redefinição da democracia na sociedade civil.

Para Gohn (2011) a educação não se resume à educação escolar, realizada

na escola propriamente dita, que existem aprendizagens e produção de saberes em

outros espaços que é o espaço de educação não formal, que visa trabalhar com esta

concepção bem ampla de educação.

Um exemplo de educação em outros espaços educativos se faz pela

participação social em movimentos e ações coletivas que geram aprendizagens e

saberes. Há um caráter educativo nas práticas que se desenrolam no ato de

participar, tanto para os membros da sociedade civil, como para a sociedade mais

geral, e também para os órgãos públicos envolvidos, quando há negociações,

diálogos e até mesmo confrontos.

Na abertura do seu artigo “Movimentos Sociais na Contemporaneidade”,

Gohn estabelece uma premissa básica a respeito do que são os movimentos

sociais:

São fontes de inovação e matrizes geradoras de saberes. Entretanto, não se trata de um processo isolado, mas de caráter político-social. Por isso, para analisar esses saberes, deve-se buscar as redes de articulações que os movimentos estabelecem na prática cotidiana e indagar sobre a conjuntura política, econômica e sociocultural do país quando as articulações acontecem. Essas redes são essenciais para compreender os fatores que geram as aprendizagens e os valores da cultura política que vão sendo construídos no processo interativo. (GOHN, 2011, p.333).

Page 20: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

19

Esta relação entre movimento social e educação existe a partir das ações

práticas de movimentos sociais e grupos sociais e ocorrem em duas formas:

1. Na interação dos movimentos sociais com as instituições educacionais;

2. No interior do próprio movimento social, dado o caráter educativo de suas

ações.

Na academia, por meio de fóruns de pesquisa e com as produções teórico-

metodológicas existentes, vem mostrando estudos recentes que a junção dos dois

termos é uma ”novidade” e existe uma reação em alguns casos de júbilo e outras de

estranhamento com os conservadores.(GOHN, 2011).

No exterior esta articulação dos movimentos com a educação é antiga como

pode ser observado nos exemplos de alguns grupos de pesquisa que seguem,

International Sociological Association (ISA), Latin American Studies Association

(LASA), Associación Latinoamericana de Sociologia (ALAS), entre outras.

No Brasil esta relação foi sendo construída a partir do final dos anos 1970,

quando foram criadas novas associações ou ativadas outras já existentes como a

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais

(ANPOCS), Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

(ANPEd), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Sociedade

Brasileira de Sociologia (SBS), Conferências Brasileiras de Educação (CBEs).

São grupos que passaram a discutir, através de encontros e debates, os

problemas socioeconômicos e políticos, bem como, a destacar os grupos e

movimentos sociais envolvidos.

A relação do movimento social com a educação foi construída a partir da

atuação destes novos atores que agora estão nas periferias das cidades e

demandam do poder público o atendimento das suas necessidades básicas para

sobreviver no mundo urbano.

Mas, para Gohn (2011, p. 335), o que é movimento social? Para a autora:

“nós os encaramos como ações sociais coletivas de caráter sócio-político e cultural

que viabilizam formas distintas de a população se organizar e expressar suas

demandas”.

Com relação às ações concretas realizadas pelos movimentos é possível

relatar as seguintes, Simples denúncia, Mobilizações, Marchas, Concentrações,

Page 21: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

20

Passeatas, Distúrbios à ordem constituída, Atos de desobediência civil, Negociações

e Pressões indiretas.

A autora apresenta a atuação em redes sociais como um novo meio de

comunicação e informação a que Habermas (2000) denominou de “o agir

comunicativo”. Estes grupos desenvolvem novos saberes que são, muitas vezes,

produto dessa comunicabilidade.

Os movimentos sociais como já mencionados sempre existiram e se acredita

que sempre existirão, porque representam forças sociais organizadas, que reúnem

as pessoas não como força tarefa em relação ao número de pessoas, mas como

campo de atividade para experimentação social e estas são fontes geradoras de

criatividade e inovações socioculturais.

Eles expressam energias de resistência ao velho que oprime ou de construção do novo que liberte. Energias sociais antes dispersas são canalizadas e potencializadas por meio de suas práticas em ‘fazeres propositivos’. (GOHN, 2011, p.336).

Os movimentos realizam um diagnóstico sobre a realidade social em que

vivem e constroem propostas concretas para atender a estas necessidades. É o que

a autora chama de empoderamento de atores da sociedade civil organizada, à

medida que criam sujeitos sociais para essa atuação em rede. Os movimentos

sociais têm como características básicas: identidade, opositores e articulam um

projeto de vida e de sociedade.

Na história se pode observar que eles têm contribuído para organizar e

conscientizar a sociedade das demandas reais e fazem isso através das

mobilizações, que podem ter continuidade ou permanência de acordo com a

situação.

Tais movimentos podem ser reativos, ou seja, movidos pelas necessidades

básicas e até mesmo se desenvolverem a partir de uma reflexão sobre sua própria

experiência de vida.

No Brasil, os movimentos sociais que ficaram famosos pelas articulações em

oposição ao regime militar no final da década de 1970, também contribuíram para

conquistas de muitos direitos sociais que foram inscritos em leis na Constituição

Federal de 1988.

Para o novo milênio, Gohn (2011) apresenta 12 eixos temáticos para os

movimentos sociais. São eles:

Page 22: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

21

1. Movimentos pela moradia apoiados por pastorais da Igreja Católica e

outras.

2. Mobilização e organização popular em torno de estruturas institucionais

de participação na gestão político-administrativa da cidade.

3. Movimentos em torno da questão da saúde, como: Sistema Único de

Saúde (SUS).

4. Movimentos de demandas na área do direito: - humanos: situação nos

presídios, presos políticos; - culturais: preservação e defesa das culturas locais,

patrimônio e cultura das etnias dos povos.

5. Mobilizações e movimentos sindicais contra o desemprego.

6. Movimentos decorrentes de questões religiosas de diferentes crenças,

seitas e tradições religiosas.

7. Mobilizações e movimentos dos sem-terra (MST), na área rural e suas

redes de articulação com as cidades por meio da participação de desempregados e

moradores de ruas, nos acampamentos do MST, movimentos dos pequenos

produtores agrários e etc.

8. Movimentos contra os efeitos da globalização.

9. Grandes fóruns de mobilização da sociedade civil organizada: contra a

globalização econômica ou alternativa à globalização neoliberal (contra a Área de

Livre Comércio das Américas (ALCA), por exemplo); o Fórum Social Mundial (FSM)

etc.

10. Movimento das cooperativas populares: material reciclável, produção

doméstica alternativa de alimentos, etc.

11. Mobilizações do Movimento Nacional de Atingidos pelas Barragens,

hidrelétricas, implantação de áreas de fronteiras de exploração mineral ou vegetal

etc.

12. Movimentos sociais no setor das comunicações, a exemplo do Fórum

Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

Com relação à luta dos movimentos sociais na área da educação não formal

estão incluídas as ações educativas dos movimentos sociais, as práticas civis, o

associativismo das ONG’s, entre outras.

Gohn (2011) apresenta cada item onde a educação não formal se faz

presente no Trabalho nos sindicatos, no Trabalho com movimentos sociais

Page 23: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

22

(especialmente populares) e em outros espaços onde é necessária a atuação de

educadores, como segue:

a) Em comunidades carentes – grupos vulneráveis (mulheres, crianças,

idosos e pobres, exclusão socioeconômica ou grupos étnicos/culturais.

b) Na mobilização de recursos da comunidade para combate às situações de

exclusão.

c) Movimentos étnico-raciais (índios e negros).

d) Movimentos culturais de jovens, especialmente na área da música, como

o rap e o hip hop.

e) Mobilizações e protestos contra a guerra, pela paz.

f) Movimentos de solidariedade e apoio a programas com meninos e

meninas de rua.

g) Movimento pela infância.

h) Movimentos pela preservação ou construção de condições para o meio

ambiente local, regional, nacional e global.

Do mesmo modo, a autora apresenta que a aprendizagem no interior de um

movimento social é múltipla, durante e depois de uma luta, tanto para o grupo como

para indivíduos, como pode ser destacada:

Aprendizagem prática: como se organizar, como participar.

Aprendizagem teórica: quais os conceitos principais que mobilizam as forças

sociais em confronto.

Aprendizagem técnica instrumental: como funcionam os órgãos

governamentais, a burocracia, seus trâmites e papéis, quais as leis que

regulamentam as questões em que atuam etc.

Aprendizagem política: quais são seus direitos e os de sua categoria, quem é

quem nas hierarquias do poder estatal governamental, quem cria obstáculos

ou usurpa seus direitos etc.

Aprendizagem cultural: quais elementos constroem a identidade do grupo,

quais suas diferenças, suas diversidades, as adversidades culturais que têm

de enfrentar, qual a cultura política do grupo etc.

Page 24: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

23

Aprendizagem linguística: refere-se à construção de uma linguagem comum

que possibilita ler o mundo, decodificar temas e problemas,

perceber/descobrir e entender/compreender seus interesses.

Aprendizagem sobre a economia: quanto custa, quais os fatores de produção,

como baixar custos.

Aprendizagem simbólica: quais são as representações que existem sobre eles

próprios, sobre o que demandam, como se autorrepresentam.

Aprendizagem social: como falar e ouvir em público, hábitos e

comportamentos de grupos e pessoas, como se portar diante do outro, como

se comportar em espaços diferenciados.

Aprendizagem cognitiva: a respeito de conteúdos novos, temas ou problemas

que lhes dizem respeito, criada a partir da participação em eventos,

observação, informações transmitidas por assessorias etc.

Aprendizagem reflexiva: sobre suas práticas, geradora de saberes.

Aprendizagem ética: a partir da vivência ou observação do outro, centrada em

valores como bem comum, solidariedade, compartilhamento, valores

fundamentais para a construção de um campo ético-político.

Na pesquisa de grupo focal, que é apresentada no último capítulo desta

dissertação, estas questões são levantadas e verificadas, ou seja, apresenta-se os

tipos de aprendizagens apresentado pelo grupo estudado.

Para Vygotsky (apud GOHN, 2011), o aprendizado ocorre quando as

informações fazem sentido para os indivíduos inseridos em um dado contexto social.

Gohn (2012), faz uma resenha do livro de Hank Johnston (2011)

denominado States & Social Movements, que oferece contribuições inovadoras e

sugestivas para este estudo.

O livro focaliza as ações que os movimentos sociais realizaram não só em

regimes democráticos como também repressivos, apresentando muitos exemplos de

mobilizações que aconteceram em inúmeros países. Importante entender que este

livro antecedeu aos movimentos iniciados no final de em 2010 com a “Primavera

Árabe no Oriente Médio”, que foi uma onda de revoltas que atingiu os países árabes

e derrubou ditadores que estavam há mais de 30 anos no poder. Os “Indignados da

Espanha” foi outro movimento importante de protestos que reivindicava uma

mudança na política e na sociedade espanhola, pois os manifestantes consideram

Page 25: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

24

que os partidos políticos não os representam nem tomam medidas que os

beneficiem. O “Occupy Wall Street” dos USA também foi um movimento de protesto

contra a desigualdade econômica e social, a corrupção e a indevida influência das

empresas sobretudo do setor financeiro no governo dos Estados Unidos, além de

outros países como no Brasil em julho de 2013, que apresentamos no capítulo dois.

A tese fundamental de Johnston é a de que no século XXI o estado é alvo da

grande maioria das campanhas de protestos e movimentos sociais. Por isso, estes

protestos e movimentos são considerados como parte da política; eles são políticos

porque as pessoas que participam dele estão exercitando a política, e não porque

seja parte das elites políticas que lutam pelo poder. Estão participando das disputas

políticas pela direção ou significado das demandas, reivindicações ou protestos em

tela. (GOHN, 2012).

Já o autor defende que os movimentos sociais são fenômenos

extraordinários ou apenas agentes de contestação, porque eles têm um papel

importante na sociedade moderna que é expressar através das reivindicações e

mobilizações sociais todas as suas angústias e indignações.

Mas, Gohn (2012), antes de centra-se nestas diferenças, indaga: o que é

exatamente o Estado?

A partir de Hobbes, Rousseau e Locke o autor busca as justificativas para a existência do Estado (prover alimentos, água, bem comum, proteção aliados, direitos, impostos, extração de recursos naturais etc.). Concluiu que as necessidades da guerra e segurança das fronteiras territoriais foram forças-chave para for matar o estado moderno. Retoma M Weber quando este aborda o monopólio da força de um dado território. Johnston não compartilha da tese marxista que vê o estado como comitê executivo da burguesia e nem com as análises de Poulantzas. Para ele o estado é uma arena onde conflitam interesses das elites políticas, econômicas e do estado (burocracias e servidores civis) e pressões populares. Os protestos têm um significado não institucional de fazer reivindicações ou demandas quando as autoridades estatais, por limitar, ignorar ou fechar canais institucionais de acesso, não respondem às pressões populares. (GOHN, 2012, p.238).

Enquanto o repertório moderno se expressa por meio de encontros, marchas

e greves, nos períodos anteriores, nos quais as sociedades predominantemente

eram agrárias, tradicionais, e altamente estratificada, os protestos eram realizados

com ações diretas contra os oponentes, responsáveis pelos atos de injustiças.

A conclusão de Gohn é que as mobilizações dos movimentos sociais atuais

tornaram-se uma forma de acompanhamento das políticas e representam uma

Page 26: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

25

grande mudança em relação ao que aconteceu no passado quando estas ações

nasciam em face da exclusão e não responsabilização do Estado.

Após esta compreensão dos movimentos sociais passamos a analisar a

questão da juventude, importante grupo social com presença importante nestes

movimentos e manifestações.

Como exemplificado no que aconteceu no Brasil, em julho de 2013, em

várias cidades, com jovens buscando mudanças e reivindicando melhorias em

muitas áreas como saúde, educação, trabalho, economia entre outras. Contudo,

antes de chegar neste período atual precisamos conhecer o passado e relembrar

que manifestações sociais tem acontecido historicamente em todo o mundo, e

também no Brasil, e que a juventude tem um relevante papel nestas revoluções. No

entendimento do autor “A juventude une diversos movimentos, ações estudantis,

hippies, culto às drogas, misticismos orientais e a contracultura.” (GROPPO, 2005, p.

15). Ainda:

Os movimentos de contestação, não apenas em 1968, mas durante todos os anos 1960, tiveram na condição juvenil a principal – talvez a única – categoria social estruturante comum. Ações de contestação, muitas vezes tidas como heterogêneas demais para ser analisadas como um processo único (de estudantes nos três mundos, contraculturas, de minorias, de guerrilha, feminismo, ecologismo e etc.), tem como denominador comum a juventude real, presumida ou assumida de seus integrantes, da fonte de seus slogans ou da sua motivação. (GROPPO, 2005, p. 17).

Jovens que, na década de 1960, no Brasil tentaram solucionar estas tensões

sociais, na tentativa de resolver os problemas da época, revelando tudo aquilo em

que acreditava.

Estes movimentos sociais são de grande importância dentro da sociedade

civil enquanto meio de manifestações e reivindicações.

Argumenta-se aqui que para chegar ao ano de 2013 e entender as

mobilizações, que são os objetivos deste estudo, é preciso lembrar àquelas

ocorridas no Brasil de 1968; principal movimento social durante o regime militar,

tanto em amplitude como em participação popular, pois foram mais de oito meses de

mobilizações.

Um fato que se tornou marcante, considerado o início de todas as

mobilizações em 1968, foi a morte do estudante secundarista Edson Luís no

restaurante carioca de nome Calabouço, frequentado essencialmente por

Page 27: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

26

estudantes secundaristas. Durante o velório muitas frases de efeito ecoaram até na

classe média do Rio de Janeiro como: “Mataram um estudante. E se fosse seu

filho?” Muitos artistas e intelectuais também se uniram em solidariedade contra este

assassinato.

Em 29 de março de 1968, a Cinelândia amanheceu tomada por mais de 50

mil pessoas para enterrar o corpo de Edson Luís. Muitos outros estados também

participaram do luto pelo estudante Edson Luís como Minas Gerais, Belo Horizonte,

Rio de Janeiro, Curitiba, Maceió e São Paulo, o que formou, a partir deste momento,

uma verdadeira onda estudantil nacional.

Durante o enterro, a comissão popular aproveitou o momento para convocar

outra manifestação, que deveria ser pacífica, segundo os lideres do movimento.

Mas, depois de quarenta minutos, muitos estudantes entraram em choque com a

polícia, formada por mais de cinco mil militares que agrediram os estudantes e

populares, resultando num trabalhador morto, na realização de duzentas prisões e

sessenta pessoas feridas e atendidas nos hospitais.

Outro fato importante que gerou uma revolta estudantil foi a tentativa da

criação de um curso pago de Engenharia, na Universidade Federal, em Curitiba.

Alunos indignados ocuparam o campus do Centro Politécnico, onde aconteceria o

vestibular e cujo reitor era Flávio Suplicy de Lacerda, ex-ministro da Educação de

Castelo Branco.

Como já mencionado no começo desta dissertação, estas manifestações

partem de algumas tensões sociais tais como as ações geralmente de contestação.

Na época, uma das formas de divulgar as manifestações era através da

distribuição de panfletos rodados em mimeógrafos, um dos primeiros sistemas de

cópias em série utilizados no ensino e que eram usados também para a produção

dos panfletos de convocação das manifestações.

Igualmente se fazia necessário uma centena de jovens para a distribuição do

material produzido nesses mimeógrafos. Hoje, a principal mídia utilizada para a

mobilização está representada pelas redes sociais, que é abordada em capítulo

mais à frente.

Entre os principais temas abordados nos meados de 68, têm destaque: o

acordo firmado entre o Ministério da Educação brasileiro (MEC) e a United States

Agency for International Development (USAID), mais conhecida como MEC-USAID,

a ilegitimidade do regime militar e o anti-imperialismo. Os panfletos disponibilizavam

Page 28: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

27

conteúdos que tinham como objetivo criar uma indignação pública contra o regime

militar, além de defender valores nacionalistas, legalistas e democráticos.

São relembradas aqui duas frases escritas nas faixas que eram utilizadas

durante as manifestações:

“Os velhos no poder, os jovens no caixão”. (GROPPO, 2005, p.104). Esta

frase foi utilizada durante o enterro de Edson Luís.

A frase seguinte foi utilizada pela União Paranaense de Estudantes para

manifestar sua indignação com o conflito entre as gerações: “O que eu espero dos

meus jovens do meu país eles já estão fazendo. Ai daquela nação que possuir seus

jovens passivos e conformistas frente a seus problemas”. (GROPPO, 2005, p.105).

Uma das grandes mobilizações ocorrida no Rio de Janeiro foi a passeata

dos 100 mil, em 26 de junho de 1968, na qual o governador Negrão de Lima

anunciou, para surpresa geral, a sua permissão para realizar o evento, além de

decretar ponto facultativo para a sua realização.

“A passeata constituiu num comício, na Praça da Candelária, numa marcha

daí até a frente da Assembleia Legislativa e encerramento com uma homenagem a

Tiradentes, diante de sua estátua.” (GROPPO, 2005, p.15).

Para Manuel Castells (2013), este tipo de acontecimento − que envolve a

ocupação de monumentos − tem alguns valores simbólicos como que para afirmar o

direito de uso público de propriedades ociosas e especulativas.

Ao assumir e ocupar o espaço público, os cidadãos reivindicam a sua

própria cidade da qual foram expulsos por especulação imobiliária entre outras

coisas e estes espaços historicamente sempre foram locais de encontro dos

movimentos sociais e algumas greves.

Page 29: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

28

1.2 . Movimentos Sociais e Sociedade em Rede

Manuel Castells (2013), na citação que segue, afirma que a origem dos

movimentos sociais está intimamente ligada às injustiças sociais.

De onde vêm os movimentos sociais? E como são formados? Suas raízes estão na injustiça fundamental de todas as sociedades, implacavelmente confrontadas pelas aspirações humanas de justiça. Em cada contexto específico, os usuais cavaleiros do apocalipse da humanidade cavalgam juntos sob uma variedade de formatos ocultos: exploração econômica; pobreza desesperançada; desigualdade injusta; comunidade política antidemocrática; Estados repressivos; judiciário injusto; racismo, xenofobia, negação cultural; censura, brutalidade policial, incitação à guerra; fanatismo religioso (frequentemente contra crenças religiosas alheias); descuido com o planeta azul (nosso único lar); desrespeito à liberdade pessoal, violação da privacidade; gerontocracia; intolerância, sexismo, homofobia e outras atrocidades da extensa galeria de quadros que retratam os monstros que somos nós. (CASTELLS, 2013, p.17).

Nota-se que, mais uma vez, tensões sociais estão presentes, sendo que um

grupo com interesses comuns resolve problematizar as condições de vida e buscar

respostas para este problema, procurando com as mobilizações reivindicar e mostrar

para o maior número de pessoas estes problemas, bem como arregimentando novos

participantes para os movimentos.

Antes de compreender o significado de sociedade em rede, faz-se

necessário compreender os conceitos sobre Rede Social e Sociedade:

JOHNSON (1997), apresenta a seguinte definição para Rede Social:

Embora o termo rede social esteja em uso há muito tempo, tanto no sentido sociológico quanto popular, só na década de 1970 é que sociólogos desenvolveram esse conceito como peça central de uma perspectiva da vida social. A rede é simplesmente um conjunto de relações que ligam pessoas, posições sociais ou outras unidades de análise, como grupos e organizações. Ao focalizar a atenção em redes, os sociólogos podem fazer uma grande variedade de perguntas, desde a maneira como pessoas adquirem poder ao motivo porque organizações funcionam e como. De modo geral, o método de rede supõe que experiência, comportamento e resultados individuais dependem mais do ponto em que pessoas estão localizadas nas várias redes do que de quem eles são como indivíduos. Esse fato tem origem na ideia de que as redes tanto impõem restrições, que limitam as opções, como proporcionam recursos, que permitem que indivíduos atuem de várias maneiras. Assim, diferenças entre pessoas podem ser compreendidas por elas pertencerem a redes diferentes ou por estarem localizadas

Page 30: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

29

diferentemente na mesma rede. Mulheres, por exemplo, raramente progridem em empresas, porque são excluídas de redes informais dominadas pelos homens, através das quais informações importantes são trocadas. E, dentro das redes, quanto mais centralmente localizadas estiverem as pessoas no fluxo de comunicação, mais poder provavelmente terão como resultado. (JOHNSON, 1997, p.190).

E, também, a definição de Sociedade como:

Um tipo especial de sistema social que, como todos os sistemas sociais, distingue-se por suas características culturais, estruturais e demográficas/ecológicas. Especificamente, é um sistema definido por um território geográfico (que poderá ou não coincidir com as fronteiras de NAÇÕES-ESTADO), dentro do qual uma população compartilha de uma cultura e estilo de vida comuns, em condições de autonomia, independência e auto-suficiência relativas. Sociedade é um conceito fundamental em sociologia porque é nesse nível que são criados e organizados os elementos mais importantes da vida social. Virtualmente todos os sistemas sociais de que participamos – da família e religião às ocupações e aos esportes – são de certa maneira, subsistemas de uma sociedade que define seu caráter básico. Até mesmo grupos subversivos e revolucionários operam e se definem principalmente em relação a sociedades e suas instituições. Mas, importante como seja, não devemos imputar-lhes características que não possuem. Esse fato é bem evidente na prática comum de falar em sociedades como se elas fossem pessoas, capazes de pensar, sentir, querer, necessitar e agir. Como sistema social, ela é em grande parte abstrata, mesmo que possa ser experimentada como tendo realidade concreta. (JOHNSON, 1997, p.212-213).

Sendo assim pode-se considerar que a primeira rede da qual alguém faz

parte é a família. Nesta, os nós são os familiares e todos eles se comunicam, trocam

experiências para o bem comum. Outra rede na qual toda pessoa se integra ou deve

se integrar é a escola, pois nela, também há a comunicação e a troca de

experiências, que formam uma rede um pouco mais abrangente.

Partindo desse raciocínio, as pessoas vão, ao longo da vida, fazendo parte

de várias redes profissionais, grupo de amigos, associações e todas elas acabam se

interligando por meio de um ou mais nós, até chegarem a uma rede maior que é a

sociedade.

No entanto, segundo Castells (2003, p. 98), “o avanço tecnológico

proporcionou um aumento exponencial do efeito de rede, modelando a sociedade

atual, na qual se insere a sociedade da informação e do conhecimento.”

A sociedade de informação e as tecnologias sociais são abordadas mais a

frente, em um capítulo específico.

Page 31: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

30

1.3. Cidadania

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu Art. 1º

apresenta como um dos primeiros fundamentos a cidadania.

TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. (BRASIL, 1988).

Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais que

esta constituição estabeleceu logo no início como destacado acima.

Cada cidadão tem seus direitos e deveres e eles devem andar juntos, assim cada

um exerce as suas obrigações de modo a permitir que o outro exerça também os

seus direitos.

A cidadania está relacionada à participação social em grupos de atividades

culturais ou esportivas, nos movimentos sociais e também nas manifestações que

dão voz as suas reivindicações.

São deveres do cidadão são: Votar para escolher os governantes, Cumprir

as leis, Educar e proteger seus semelhantes, Proteger a natureza, Proteger o

patrimônio público e social do País.

São direitos do cidadão: o Direito à saúde, educação, moradia, trabalho,

previdência social, lazer, entre outros. O cidadão é livre para escrever e dizer o que

pensa desde que assine o que escreveu. Todos são respeitados na sua fé, no seu

pensamento e na sua ação na cidade. O cidadão é livre para praticar qualquer

trabalho, ofício ou profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma para isso. Os

bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam para seus herdeiros.

A Constituição também apresenta no capítulo 03 a educação como um

direito de todos e um dever do Estado e da família. Deve ser promovida e

incentivada em colaboração com a sociedade, visando o pleno desenvolvimento da

pessoa e do exercício da cidadania.

Page 32: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

31

No Artigo 206. Descreve que a educação deverá ser ministrada com base

nos seguintes princípios:

I‐igualdadedecondiçõesparaoacessoepermanêncianaescola;

II‐liberdadedeaprender,ensinar,pesquisaredivulgaropensamento,a

arteeosaber;

III‐pluralismodeidéiasedeconcepçõespedagógicas,ecoexistênciade

Os Direitos Sociais são conquistas dos movimentos sociais ao longo dos séculos.

Os direitos sociais estão dispostos na Constituição de 1988, no Título II (Dos

Direitos e Garantias Fundamentais), e no Título VIII (Da Ordem social). Estabelece

em seu Art.6º, como direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,

a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados. Do artigo 7º ao 11, o constituinte

privilegiou os direitos sociais do trabalhador, em suas relações individuais e

coletivas. Vale destacar, que o direito à alimentação foi introduzido pela Emenda

Constitucional nº. 64 de 04 de fevereiro de 2010.

No título VIII, estão sistematizados os direitos à Seguridade Social (Saúde,

Previdência Social e Assistência Social), os direitos relativos à Cultura, à Educação,

à Moradia, ao Lazer, ao Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado e os direitos

sociais da Criança e dos Idosos.

Page 33: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

32

2. REDES SOCIAIS, MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PODER

As Redes sociais são formadas por pessoas que, ao longo da vida, vão se

ligando umas às outras, formando os “nós” que se multiplicam até chegarem a uma

sociedade, tema este já mencionado no primeiro capítulo.

Mas, a grande novidade no século XXI é a presença da tecnologia como

principal aliada nestes movimentos sociais que aconteceram e continuam

acontecendo ao longo do mundo todo.

Este capítulo tem início com uma abordagem histórica da

tecnologia,relacionada à comunicação dos principais inventos e da importância deles

para a sociedade, abordando também a importância para a comunicação e à

educação.

O uso das mídias de massa pelos poderes atuais também está presente

neste capítulo, chegando às redes sociais digitais e o uso específico de cada uma

delas até o ponto de se tornar a principal ferramenta de comunicação nos

movimentos sociais do século XXI.

Pierre Lévy, filósofo que se tornou especialista na teoria da inteligência

coletiva, foi o precursor da Cibercultura e o primeiro a discutir a “Wikipédia”.

Considerando o seu livro intitulado “A Inteligência Coletiva: Por uma

Antropologia do Ciberespaço” são apresentados aqui alguns conceitos importantes

para este trabalho. Neste livro o autor apresenta o conceito de Inteligência Coletiva

(IC) e a sua colaboração com o ciberespaço; aborda o conceito histórico do tema,

suas aplicações e a consequências da inteligência coletiva, seus pontos positivos e

negativos.

Aborda, igualmente, conceitos de colaborativismo e compartilhamento na

web e como é possível aplicar e incentivar esta prática. Apesar de parecer muito

estranho para a época, atualmente estes conceitos fazem parte da vida de todos,

como nas manifestações com o uso da internet.

Para Lévy a IC é, basicamente, a partilha de funções cognitivas, como a

memória, a percepção e o aprendizado, podendo ser compartilhadas quando se

expandem e permitem outras possibilidades cognitivas transformadas por sistemas

técnicos externos ao organismo humano como, por exemplo, os meios de

Page 34: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

33

comunicação ligados à internet. A IC progride quando existe a cooperação e

competição ao mesmo tempo, pois deste equilíbrio é que nasce a IC.

Para o autor, a IC se desenvolveu à medida que os códigos lingüísticos

evoluíram. Nesse sentido aponta Chaves (2011) que a linguagem também é

tecnologia e a disseminação do conhecimento acompanhou esta difusão das ideias

através dos discursos, da escrita, da imprensa e quanto mais os meios de

comunicação se aperfeiçoam, mais ganha a Inteligência Coletiva.

Importante também é reconhecer o outro indivíduo como uma inteligência ou

um conhecimento em potencial, independentemente de serem diferentes e se

complementarem, ou seja, sem julgar ninguém pela sua condição, emprego,

sobrenome, etc.. Todos têm seus conhecimentos e isto compartilhado representa

um passo significativo para a criação de uma inteligência coletiva.

Mais uma Lévy segue à frente com estes conceitos, uma vez que esta

integração está presente na vida de todos, com a integração dos veículos de

comunicação tradicionais na web e com os fóruns e grupos no Facebook.

Defende também neste livro que a nossa sociedade poderia experimentar

uma Democracia em tempo real, no qual todos seriam atuantes para decisões do

coletivo; todos falando sem se sobreporem uns aos outros, até chegarem a um

consenso, favorecendo até a proposição de uma cidade inteligente, com uma

dinâmica que favoreça a decisão de todos sobre pontos comuns, sempre em um

movimento espiral. Espera-se que este conceito chegue até os

governos/governantes, pois, até o momento o que se tem é um início de

transparência, como ocorre em alguns sites de algumas cidades no Brasil onde os

governos criaram plataformas onde a população consegue conhecer o que está

sendo feito e como tem sido investido os recursos públicos nas cidades e

municípios.

2.1. Redes Sociais Digitais

Redes são pontos de conexão. Rede social, então, é qualquer reunião de

pessoas ou empresas, que se unem em função de interesses em comum. Portanto,

uma reunião de família ou uma sala de aula é uma rede social. A existência de redes

sociais independe de tecnologia. O que ocorre é que a tecnologia mudou a dinâmica

Page 35: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

34

e a abrangência das redes sociais, que com a evolução tecnológica passaram a

aproximar pessoas e instituições de forma rápida e interativa, que não seria possível

sem a tecnologia. O tão “famoso” Orkut, Facebook e Twitter, na verdade, não são

redes sociais, mas sim plataformas (digitais) de redes sociais.

Dentre as redes sociais existem os Sites de Compartilhamento de Vídeos e

Fotos. O YouTube e Vimeo são os mais utilizados; com eles os usuários têm o seu

próprio “Tubo” e com a presença deste meio esses usuários conseguem facilmente

que um vídeo publicado gere uma grande visibilidade para o mundo todo. Uma

grande mudança verificada é que o meio digital revolucionou também a forma de se

entender o funcionamento da audiência. Esta anteriormente era um privilégio

somente das televisões e rádios, mas, hoje se consegue ver instantaneamente o

alcance de um vídeo através dos resultados estatísticos.

Castells (2013) aponta a relevância deste veículo, que foi muito utilizado

durante as manifestações ao redor do Mundo.

Essas vozes, cada vez mais livres, que se espalhavam pela internet, a despeito da censura e da repressão, encontraram aliado poderoso na televisão por satélite fora do controle governamental, em particular na Al Jazeera. Houve uma relação simbiótica entre jornalistas, cidadãos utilizando seus celulares para carregar imagens e informações no YouTube, e a Al Jazeera, usando feeds por eles enviados e depois transmitindo-os à população em geral (40% dos tunisianos de áreas urbanas assistiam à Al Jazeera, já que a televisão oficial fora reduzida a uma primitiva ferramenta de propaganda). Esse elo entre Al Jazeera e internet foi essencial durante as semanas das revoltas, tanto na Tunísia quanto em todo o mundo árabe. (CASTELLS, 2013, p. 24).

Flickr e Picasa são os principais sites de compartilhamento de foto e com

eles os usuários podem deixar gravada uma cópia das fotos na nuvem, isto é no

servidor on-line e também compartilhar as fotos com seus amigos.

YouTube e Flickr foram usados para estabelecer uma comunicação direta entre cidadãos e membros do Conselho, assim como para propiciar a participação nos debates que ocorriam por toda a Islândia. (CASTELLS, 2013, p. 32).

Outro tipo de Rede Social é o Microblogging, um canal que permite aos

usuários enviarem pequenas mensagens e atualizações pessoais em formato de

texto com até 140 caracteres, conhecidos como tweets no caso do Twitter, que é o

principal deles e desempenha um papel de destaque na discussão dos eventos e na

Page 36: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

35

coordenação de muitas ações. Os manifestantes usaram a hashtag #sidibouzid no

Twitter para debater e se comunicar, registrando, desse modo, a revolução

tunisiana.

A Praça Tahrir é conhecida também como "Praça da Libertação"; é a maior

praça pública e fica no centro de Cairo, no Egito e foi o local onde esta

comunicação, feita em microblogging, aconteceu com mais frequência como cita

Castells:

A análise de um amplo conjunto de dados de tuítes públicos na praça Tahrir no período de 24 a 29 de janeiro mostra a intensidade do tráfego no Twitter e fornece evidências de que aqueles indivíduos, incluindo ativistas e jornalistas, foram, mais que as organizações presentes, as mais influentes fontes de tuítes. Em outras palavras, o Twitter forneceu a plataforma tecnológica para muitos indivíduos assumirem a posição de trendsetters do movimento. (CASTELLS, 2013, p. 41).

Também os Blogs são locais onde os usuários podem compartilhar as suas

fotos e vídeos em sites que permitem o envio (upload) gratuitamente. A visualização

deste material pode ser segmentada apenas a amigos e familiares dos usuários.

Exemplos: Blogger e Wordpress.

Eles deliberavam pelo Facebook, coordenavam-se pelo Twitter e usavam blogs para transmitir amplamente suas opiniões e se envolver em debates. Uma análise das tendências do Google no Egito durante o período da revolução mostra a crescente intensidade das buscas relacionadas aos eventos, atingindo o pico no dia da manifestação, 25 de janeiro, e nos dias subsequentes. (CASTELLS, 2013, p. 42).

Os Sites de Relacionamentos são aqueles em que os usuários compartilham

conteúdos, sendo eles textos, vídeos, fotos e interesses pessoais através de redes

sociais, como: Facebook, Orkut, Google+, que são os mais utilizados. Os sites de

relacionamento são ambientes que focam reunir pessoas, os chamados membros,

que uma vez inscritos, podem expor seu perfil com dados como fotos de pessoas,

textos, mensagens e vídeos, além de interagir com outros membros, criando listas

de amigos e comunidades.

A conexão entre comunicação livre pelo Facebook, YouTube e Twitter e a ocupação do espaço urbano criou um híbrido espaço público de liberdade que se tornou uma das principais características da rebelião tunisiana, prenunciando os movimentos que surgiriam em outros países. (CASTELLS, 2013, p.21).

Page 37: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

36

Dentre estes sites de relacionamento, o principal é o Facebook e, por ter

algumas características específicas, se faz necessário entendê-lo um pouco melhor.

Por essa razão, neste momento, é feita uma explanação de três pontos importantes

que o diferencia dos outros sites de relacionamento que são o Perfil, a página de fãs

e os grupos.

Castells cita exemplos de uso destas ferramentas de comunicação e suas

diversas aplicações.

O Facebook oferece dois tipos possíveis de conta, uma pessoal e outra para

empresas.

Perfil é quando se faz o primeiro registro no Facebook, ou seja, se cria um

perfil pessoal que passa a ser a conta de cada um. É com ela que se pode procurar

amigos, juntá-los à rede de contatos de cada um, publicar imagens, textos e vídeos,

partilhando-os com os amigos. Com um perfil, é possível enviar mensagens privadas

aos amigos, quer seja unicamente para um amigo ou a vários amigos ao mesmo

tempo.

Uma página de fãs tem propósitos de utilização mais profissional e serve à

divulgação de artistas, profissionais, empresas, organizações do terceiro setor e

grupos relacionados a movimentos sociais.

É possível obter dados estatísticos sobre as visitas e participação dos fãs

nos temas abordados na página. Todas as semanas são enviados e-mails para o

administrador da página com dados estatísticos sobre a atividade da página, ou

seja, o número de interações, entradas e saídas de fãs e como foi o retorno aos

conteúdos inseridos.

Para além de páginas de fãs e de perfis, existe ainda a possibilidade de se

criar grupos. Os grupos são destinados a pessoas que partilham um determinado

gosto como, por exemplo, uma banda de música, um filme, um clube desportivo e

até mesmo uma causa ambiental como o Greenpeace sem, no entanto, serem os

responsáveis ou representantes legais dessa mesma instituição, marca ou produto

ou por um grupo que pretende fazer uma mobilização social como vamos comentar

mais à frente, no tópico movimentos sociais na internet. Os grupos permitem uma troca de informação e partilha de opiniões de

forma muito semelhante a um fórum. A forma de convidar pessoas é diferente das

páginas de fãs, pois, enquanto estas só permitem o envio de convites individuais,

feitos um por um, no caso dos grupos é possível enviar convites de forma massiva.

Page 38: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

37

Os grupos são indicados para a realização de ações virais e, para estas ações, cada

um dos participantes no grupo pode, igualmente, enviar os convites em grande

quantidade para os seus amigos.

Tais grupos iniciam muitos dos seus movimentos e manifestações sociais,

devido a grande aderência de celulares pelos usuários, bem como o acesso a

internet e também o uso de aplicativos como o Facebook.

Segundo Castells (2013), em 2011 mais de 20% dos usuários da internet

estavam no Facebook e a proporção de usuários da internet entre a população

urbana, e especialmente entre os jovens, era muito grande na Tunísia em 2010.

Outro ponto importante a se destacar são os celulares com conexão à

internet que proporcionam que a comunicação aconteça de forma instantânea. E,

segundo Castells (2013, p.24), “em novembro de 2010, na Tunísia 67% da

população urbana tinha acesso a um celular e 37% estavam conectados à internet”.

Com a chegada dos aparelhos de celular multimídias e smartphones, dos

Tablet’s, bem como o acesso à internet 3G, a comunicação ficou ainda mais

eficiente, porque o celular está sempre a um palmo da mão a quem pertence, o que

permite uma rápida comunicação.

Uma grande revolução nos movimentos sociais vem sendo possível com o

uso destas redes sociais digitais. Cada país com uma característica e com um

cenário diferente, mas com uma coisa em comum: o uso das redes como principal

ferramenta de comunicação entre os manifestantes.

Recuero (2007) explica que as redes sociais e a internet têm se tornado

motivo de estudo por grande parte dos pesquisadores, para compreender

principalmente a difusão de informações em redes sociais e o impacto que a internet

ocasionou nesses fluxos. Recuero (2007) cita alguns desses pesquisadores: Adar e

Adamic (2004, 2003 e 2006); Adamic e Glance (2005); Lento et. al. (2006); Shirky

(2003 e 2006).

Todo este trabalho, segundo Recuero (2007), traz um conjunto de

observações baseado em diversos estudos de redes sociais realizados a partir de

2004, em sistemas como o Orkut, os Weblogs e o Fotolog.

A autora apresenta e discute alguns conceitos essenciais como o de rede,

interação, laços e capital social com as suas devidas classificações e percepções e,

na sequência, passa a discutir os tipos de redes sociais, suas diferenças e

semelhanças, além de definir rede social.

Page 39: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

38

Para Recuero (2007), rede social pode ser definida como:

Uma rede é definida como um conjunto de nós conectados por arestas. Assim, uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (Wasserman e Faust, 1994; Degenne e Forsé, 1999), compreendendo uma estrutura de grupo. Quando trabalhamos com uma rede social na Internet, compreendemos a estrutura dos atores e suas conexões sociais como traduzidas pelas ferramentas da comunicação mediada pelo computador. A abordagem de rede é importante porque enfatiza as conexões entre os indivíduos no ciberespaço, mostrando que a comunicação mediada pelo computador é capaz de produzir e complexificar laços sociais. (Garton, Haythornthwaite e Wellman, 1997). (RECUERO, 2007, p.2).

As redes sociais na internet possuem conexões que são constituídas por

diferentes formas de interação, bem como de trocas sociais.

Os grupos de discussão são cada vez mais frequentes na internet, como

é o caso do LinkedIn que é uma rede de relacionamento profissional, bem como

os grupos específicos dentro do Facebook, tornam possível assinar ou participar

de um grupo destes sem interagir diretamente com os seus membros, mas

utilizar as informações que estão circulando dentro deles.

Portanto, percebe-se que para compreender essas redes é preciso

também compreender como se formam estas conexões sociais.

A interação social mediada por computador, de acordo com Primo (2003) pode ser percebida de duas formas. A primeira delas é a interação mútua, que é negociada entre os agentes, construída enquanto acontece. É o que acontece em um canal de chat ou numa conversa no MSN, por exemplo. Já a interação reativa é pré-programada, com opções já previamente estabelecidas, sem opção de criação ou negociação. A interação reativa acontece, por exemplo, em votações na Web onde o número de opções é limitado. Ambas as formas de interação podem ser sociais, na medida em que podem influenciar e mesmo criar estruturas sociais, a partir das ferramentas proporcionadas pela Internet. (Recuero, 2006). (RECUERO, 2007, p.3).

Estas interações mediadas pelo computador são formadoras de laços

sociais na medida em que estes sites de relacionamento e outros sistemas de

comunicação permitem que os atores criem perfis individualizados na internet;

com os perfis estes atores podem reconhecer os indivíduos com que desejam

interagir e, com isso, passam a funcionar como um espaço de sociabilidade, no

qual os laços sociais podem emergir.

Page 40: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

39

Estes laços formados são classificados como laços sociais que podem

ser fortes e fracos, os laços fortes seriam aqueles caracterizados pelo grande

investimento de tempo, pela criação de intimidade, de confiança, e de

reciprocidade. Os laços fracos, ao contrario, possuem menor quantidade desses

elementos, caracterizando, relações menos profundas.

Recuero (2007) apresenta também os dois tipos de pertencimentos, o

relacional e o associativo:

Pertencimento Relacional: é preciso trocar comentários e criar laços para que

se receba o apoio e capital social.

Pertencimento Associativo: é quando o usuário está conectado com o assunto

do grupo e não com as pessoas que fazem parte dele.

No caso do capital social, por se tratar de um conceito amplo, a autora cita a

percepção de Putnam (2000) quando afirma que o capital social está diretamente

relacionado às conexões entre os indivíduos a sua reciprocidade e confiança.

Igualmente, a autora menciona Bertolini e Bravo (2004) que apresentam

uma análise sobre as categorias do capital social. São elas:

a) Relacional - que compreende a soma das relações, laços e trocas que

conectam os indivíduos de uma determinada rede.

b) Normativo - que compreende as normas de comportamento de um

determinado grupo e os valores deste grupo.

c) Cognitivo - que compreende a soma do conhecimento e das informações

colocadas em comum por um determinado grupo.

d) Confiança no ambiente social – que compreende a confiança no

comportamento de indivíduos em um determinado ambiente.

e) Institucional - que inclui as instituições formais e informais, que se

constituem na estruturação geral dos grupos, onde é possível conhecer as “regras”

da interação social, e onde o nível de cooperação e coordenação é bastante alto.

Recuero (2007) ainda apresenta dois tipos de estruturas de rede: uma

centrada na interação e outra na identidade.

Page 41: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

40

1. Na Interação as estruturas podem ser de duas maneiras: através da

interação social mútua e da interação social reativa. A primeira é constituída por

meio de laços, de um laço de pertencimento relacional que é caracterizado pelo

“sentir-se parte” através das trocas comunicacionais. Estas redes são caracterizadas

pela presença de laços mais fortes e são redes cujo custo é alto, já que os atores

sociais precisam investir em conversas e trocas sociais através das ferramentas de

comunicação. Um exemplo seria o MSN (Microsoft Service Network), para discutir

em fóruns ou mesmo colocando mensagens no Orkut ou Facebook que demandam

um alto custo e tem a presença menor em quantidade de pessoas.

A Figura 1 mostra um exemplo de imagem obtida a partir de uma rede com

características centradas na Interação.

Figura 1 – Rede Centrada na Interação Fonte: Recuero (2007, p.8)

É possível observar que tal rede possui uma grande densidade de conexões

entre os nós, pois, todos eles estão conectados na construção da rede.

2. Já nas redes centradas na Identidade as estruturas formam laços de

pertencimento voltados à associação com a rede social. Este processo diferente do

Page 42: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

41

anterior tem pouco custo para o ator; é só associar-se que todos os valores da rede

tornam-se imediatamente acessíveis. E tem a construção da sua identidade com a

principal motivação para aderir aos determinados grupos. Um exemplo que a autora

apresenta são as comunidades do Orkut em que mais do que interagir os seus

atores procuram filiar-se a eles, já que possuem interesse pelo tema/assunto como,

também, para construírem o seu perfil apoiados na ideia da comunidade ou grupos

agora mais recentes dentro do Facebook. Com o perfil construído os atores têm por

objetivo interagir com usuários que demonstrem os mesmo interesses pelo assunto,

bem como mostrar para a sua rede de relacionamentos quais são os seus interesses

principais.

Essas redes que são centradas na produção de identidade possuem mais

atores do que laços entre eles. Uma vez formados esses laços, os mesmos não

mais necessitam de investimento, mantendo-se até que uma das partes decida pelo

fim da conexão e, por conta disso, estas redes são mais fracas, contudo, existe uma

grande densidade de nós ligando seus atores.

A Figura 2 mostra uma imagem obtida de uma rede com características

centradas na Identidade.

Figura 2 – Rede Centrada na Identificação Fonte: Recuero (2007, p.9)

Page 43: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

42

Observa-se que, enquanto a primeira rede está mais interconectada, a

segunda possui menos conexões e uma maior quantidade de nós. Por terem baixos

custos para serem mantidas essas redes podem ser muito grandes, com custo

igualmente baixo para seus atores.

Esta diferenciação se faz essencial, uma vez que, as redes sociais não são

iguais e as suas estruturas interferem diretamente na difusão das informações

através das suas conexões.

Todas estas redes sociais digitais não existiriam se não fosse a presença da

tecnologia com os hardwares, softwares e todo desenvolvimento tecnológico que a

comunicação angariou nas últimas décadas.

Ao fazer referência à Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é

preciso primeiramente verificar a evolução dos principais veículos de comunicação,

que chegaram a uma audiência de 50 milhões de pessoas conforme explicado por

Leon (2009).

Em termos de audiência, enquanto o rádio demorou 38 anos para atingir 50 milhões de pessoas, a world wide web demorou apenas quatro anos e o iPod – tocador de música em formato digital –, apenas três anos. O gráfico a seguir mostra o tempo para algumas tecnologias atingirem a audiência de 50 milhões de usuários. (LEON, 2009).

Gráfico 1 – Evolução do Tempo com Relação à Tecnologia da Informação e

Comunicação Fonte: Leon (2009).

Page 44: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

43

Para compreender esta revolução tem-se que recorrer à história, na qual

duas leis e duas tecnologias se tornaram fundamentais para o conhecimento da

Internet.

A primeira delas é conhecida como a Lei de Moore, cunhada por Gordon

Moore, Co-fundador da Intel.

A Lei de Moore, assim chamada em razão das previsões do co-fundador da Intel, Gordon Moore, que profetizou que o número de circuitos em chip duplicar-se-ia a cada ano, retrata uma aceleração progressiva e inexorável observada em computadores, na biotecnologia, na nanotecnologia, dentre outras. (KRUGER, 2001, p.68).

Mas, ele ainda produziu mais de uma dezena de modelos de “chip”. Sem

essas pequenas peças, feitas de micropastilhas de silício e capazes de processar

bilhões de informações por segundo, nem sequer existiriam as calculadoras

portáteis.

A chave para esta mudança é um dispositivo do tamanho de uma unha compartilhado por computadores e máquinas de comunicação. É o chip semicondutor, a pedra angular da era da informação. A maioria dos avanços eletrônicos nas últimas décadas se baseia em aperfeiçoamentos na tecnologia do chip. (DIZARD JR. 2000, p.56).

A segunda é a Ethernet, criada pelo engenheiro elétrico Robert Metcalfe,

que é autor de uma lei da informática a qual diz que o valor de uma rede (como a

internet) cresce na proporção do quadrado do número de seus usuários.

Esta lei surgiu nos laboratórios da Xerox com Robert Metcalfe, em 1972 e no

início o seu padrão era chamado de Network Alto Aloha, depois foi modificado para

Ethernet para deixar claro que este padrão pode suportar qualquer computador e

para mostrar que pode ser desenvolvido fora de seus laboratórios.

Com processadores cada vez mais rápidos e com a multiplicação das suas

conexões se consegue entender porque a internet, com apenas 4 anos, chegou a 50

milhões de usuários como mencionado no início deste capítulo.

Outro ponto importante neste período histórico foi a criação de grandes

empresas da área de tecnologia que ajudaram, em muito, este crescimento. Entre

elas estão a Apple, a Microsoft, entre outras, que surgiram em meados dos anos 70

no Vale do Silício e se tornaram as gigantes da informática.

Page 45: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

44

Cabe ressaltar que, para se transmitir estas informações são necessários

cabos de fibra óptica, que contém pedaços de vidro ou de materiais poliméricos com

capacidade de transmitir luz.

Tais circuitos podem transmitir informações em ondas luminosas (isto é, na forma óptica) através de um fio tão fino de cabelo humano. Os cabos de fibra óptica têm enormes capacidades de transmissão de informação: um único cabo pode transmitir dezenas de milhares de telefonemas ou dezenas de programas de televisão. Ao contrário dos fios de cobre convencionais, não são afetados pelo calor, umidade ou corrosão. Sua fonte luminosa – os lasers – pode ser menor que um grão de sal e emitir luminosidade continuamente por uma centena de anos. (DIZARD JR. 2000, p.82).

Um princípio parecido com a fibra era utilizado nos navios para se

comunicarem antes da Internet, o Código Morse, desenvolvido por Samuel Finley

Breese Morse em 1835, dispositivo que utiliza correntes elétricas para controlar os

eletroímãs que funcionam para emissão ou recepção de sinais.

A utilização de um fio único foi, em parte, possibilitada pela criação de um código baseado na emissão de curtos e longos impulsos de corrente elétrica traduzidos em pontos e traços que, combinados, representavam letras e números, o conhecido Código Morse. O sistema de transmissão inventado por Morse tornou possível a rápida expansão da telegrafia elétrica verificada a partir da década de 1840. (SILVA; MOREIRA, 2007, p.49).

Trata-se de um sistema binário que utiliza números, letras e sinais gráficos.

Uma mensagem codificada em Morse pode ser transmitida de várias

maneiras em pulsos (ou tons) curtos e longos e, neste exemplo, verifica-se que o

pulso com sinais visuais (luzes acendendo e apagando) são o mesmo princípio da

transmissão da informação pela fibra óptica.

É assim que a fibra consegue transmitir as informações, fotos, e-mails e tudo

o que passa na rede; a luz não é um feixe contínuo, é um feixe de pulsos

representando os “uns” e “zeros” que compõem o código do computador. Mas,

enquanto um operador de código Morse consegue mandar um flash ou dois flashs a

cada segundo, os cabos de fibras ópticas podem mandar 10 bilhões de pulsos de

informações digitais a cada segundo.

Page 46: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

45

2.2. Comunicação e Poder

O poder na sociedade em rede é o poder da comunicação.

M. Castells (2013).

Viveiros (2011) em sua resenha do livro de Castells, Comunicación y Poder,

publicada em 2009, aponta para o uso intensivo das novas tecnologias de

comunicação e informação e das redes sociais como a principal novidade para os

movimentos sociais que percorreram o mundo todo e que fizeram lembrar os tempos

da revolta estudantil de maio de 1968.

Agora as propostas de mobilizações são articuladas pela internet com ações

descentralizadas, marchas, cortejos e até flashmobs, que são intervenções urbanas

que acontecem nos espaços públicos com muita criatividade por parte dos

integrantes destes movimentos.

O conceito de contrapoder se faz presente no livro de 2013 de Manuel

Castells e que Viveiros (2011) igualmente menciona em seu artigo, ou seja, onde há

poder, há contrapoder; onde há dominação há resistência.

Quem possui o poder são os que definem as “regras do jogo” em nossas sociedades, em todas as sociedades. Conhecer de onde surge e como se estrutura o poder, quem tem poder e o poder de fazer com que todos nós tenhamos que seguir esse poder, é o que define o marco social, cultural e político em que todos vivemos. (VIVEIROS, 2011, p. 138).

Este contrapoder, citado por Castells (2013), sempre existiu, mas, com a

chegada das novas mídias isso se tornou muito mais relevante, pois os movimentos

sociais agora têm voz e conseguem se expressar nas redes e utilizar o seu próprio

“tubo”.

E aqui está uma das chaves que Castells denomina autocomunicação. Uma

maneira de produzir, acessar e compartilhar mensagens (conteúdos) sem mediação.

Em oposição aos meios de comunicação (à mídia), e baseada nas redes sociais.

Esse conceito que ele denominou de autocomunicação, é o uso da internet e

das redes sem fio como plataformas da comunicação digital. É comunicação de

massa porque processa mensagens de muitos para muitos, com o potencial de

alcançar uma multiplicidade de receptores e de se conectar a um número infindável

Page 47: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

46

de redes que transmitem informações digitalizadas, ou seja, um conceito no qual os

usuários da internet e de dispositivos móveis produzem seus conteúdos e, com isso,

revolucionam a comunicação.

Outro conceito já apresentado neste trabalho e igualmente comentado por

Viveiros é o fato de existirem agora dois espaços diferentes, o virtual e o real. Para

Castells (2013) não há separação, pois vivemos num mundo híbrido onde tudo o que

fazemos é ao mesmo tempo virtual e físico; real e concreto.

A comunicação tem um papel fundamental na vida e na mente das pessoas

e, por isso, existe por parte do Estado um forte trabalho para comandar as grandes

mídias de massa e, então, estabelecer-se o que Castells (2013) apresenta como o

poder e o contrapoder.

Parto da premissa de que as relações de poder são constitutivas da sociedade porque aqueles que detêm o poder constroem as instituições segundo seus valores e interesses. O poder é exercido por meio da coerção (o monopólio da violência, legítima ou não, pelo controle do Estado) e/ou pela construção de significado nos mecanismos de manipulação simbólica. As relações de poder estão embutidas nas instituições da sociedade, particularmente nas do Estado. Entretanto, uma vez que as sociedades são contraditórias e conflitivas, onde há poder há também contrapoder – que considero a capacidade de os atores sociais desafiarem o poder embutido nas instituições da sociedade com o objetivo de reivindicar a representação de seus próprios valores e interesses. (CASTELLS, 2013, p. 08).

As mídias de massa têm um poder muito grande para influenciar a

população e, por essa razão, muitos veículos de comunicação estão nas mãos ou no

comando de grupos que detêm mecanismos de poder, com dinheiro e influência

social.

Antes da chegada da Internet, os principais canais de comunicação eram as

rádios, televisões, jornais e revistas que, como já mencionado anteriormente,

estavam sob o controle dos Estados. Atualmente, têm-se as redes digitais de

comunicação, que assumiram um papel fundamental como principal canal de

comunicação dentro dos movimentos sociais e que estão nas mãos dos movimentos

sociais.

Castells (2013) reapresenta este conceito de autocomunicação, já visto

neste estudo, em seu livro mais recente denominado “Redes de Indignação e

Esperança”. A autocomunicação como a capacidade da produção de mensagem de

modo autônomo e direcionada para quem de interesse.

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47

É autocomunicação porque a produção da mensagem é decidida de modo autônomo pelo remetente, a designação do receptor é autodirecionada e a recuperação de mensagens das redes de comunicação é autosselecionada. A comunicação de massa baseia-se em redes horizontais de comunicação interativa que, geralmente, são difíceis de controlar por parte de governos ou empresas. Além disso, a comunicação digital é multimodal e permite a referência constante a um hipertexto global de informações cujos componentes podem ser remixados pelo ator que comunica segundo projetos de comunicação específicos. (CASTELLS, 2013, p. 10).

Com os movimentos vêm ganhando voz perante a sociedade, os governos

reagem, muitas vezes, com censura sobre o conteúdo digital, cientes do “poder” que

estes contrapoderes têm.

2.3. Movimentos Sociais na Internet

Neste início do século XXI, os movimentos sociais ganharam uma grande

aliada para as suas mobilizações, que é a rede social.

Segundo Castells (2013), entre 2009 e 2011 a Tunísia e a Islândia tornaram-

se ponto de referência para todos os movimentos sociais que surgiriam a partir desta

data. Tais movimentos revolucionaram a política árabe e desafiaram algumas

instituições políticas da Europa, dos Estados Unidos e também do Brasil.

2.3.1.Tunísia, onde tudo começou

O que aconteceu na Tunísia se tornou referência para os movimentos

sociais que inspiraram todo o mundo com as mobilizações e reivindicações

alavancadas com o suporte midiático.

‘Na primeira manifestação de massa realizada na Praça Tahrir, no Cairo, em 25 de janeiro de 2011, milhares gritavam: Tunísia é a solução!’, modificando de propósito o lema ‘O Islã é a solução!’, que havia dominado as mobilizações sociais no mundo árabe nos últimos anos. As palavras de ordem referiam-se à derrubada da ditadura de Ben Ali, que fugira de seu país em 14 de janeiro, após semanas de protestos de pessoas comuns que conseguiram sobrepor-se à sangrenta repressão do regime. (CASTELLS, 2013, p.19).

Page 49: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

48

A maioria da população da Tunísia apoiava o fim do regime ditatorial, mas

quem deu o início a todo o movimento de reinvidicações foram os jovens

desempregados, com o detalhe que os mais desempregados eram os que tinham

diploma de curso superior. A taxa de desemprego chegou a 13,1% na Tunísia e

entre os jovens com diploma superior a taxa foi de 21,1%. Essa mistura de

educação com falta de oportunidades foi um terreno fértil para a revolta na Tunísia e

em todos os outros países árabes, segundo Castells (2013).

O que se mostra mais uma vez neste trabalho é a ação dos jovens buscando

mudanças sociais, devido à má condição econômica e política do país, numa luta

pela falta de democracia e em oposição a todo tipo de corrupção. Estes protestos

são parecidos com aqueles acontecidos no Brasil na década de 60, como já

abordado anteriormente mas com outros objetivos.

Castells (2013) aponta, ainda, três pontos importantes para o estopim que

aconteceu na Tunísia, o que ele considerou uma nova forma de movimento social

em rede no mundo árabe.

1. A existência de um grupo ativo de desempregados com educação

superior.

2. Presença muito forte dos ciberativistas com criticas aos sistemas.

3. Alta taxa de difusão do uso da internet em residências, escolas e

cibercafés.

Com as mesmas características e as mesmas indignações é que teve início

a Revolução Egípcia em 2008, contra a injustiça, o desemprego e a luta pela

democracia.

Como já comentado neste capítulo e também diferenciado, o Facebook tem

algumas características próprias, entre elas a criação de grupos em que os

militantes conseguem uma grande adesão. Esta foi a principal ferramenta de

comunicação nesta revolução.

Page 50: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

49

2.3.2. A Revolução Egípcia

Com base nessa revolução, segundo Castells (2013, p. 38) nasceu o

“Movimento da Juventude 6 de Abril, o qual criou um grupo no Facebook que atraiu

70 mil seguidores”.

Motivados por tanta injustiça social, desemprego, falta de democracia e depois

da queda do ditador Mubarak é que surgiu este movimento, como explica Castells:

A revolução de 25 de janeiro, que em dezoito dias destronou o último faraó, nasceu das profundezas de fatores como opressão, injustiça, pobreza, desemprego, sexismo, arremedo de democracia e brutalidade policial. Ela foi precedida de protestos políticos (depois das eleições fraudulentas de 2005 e 2010), lutas pelos direitos das mulheres (rudemente suprimidos na Quarta-Feira Negra de 2005) e conflitos trabalhistas, como a greve das fábricas de tecidos de Mahalla-al-Kubra em 6 de abril de 2008, seguida de distúrbios e da ocupação da cidade em reação à repressão sangrenta aos grevistas. Dessa luta nasceu o Movimento da Juventude 6 de Abril, 2 o qual criou um grupo no Facebook que atraiu 70 mil seguidores. Waleed Rashed, Asmaa Mahfouz, Ahmed Maher, Mohammed Adel 3 e muitos outros ativistas desse movimento desempenharam papel de destaque nas manifestações que levaram à ocupação da praça Tahrir em 25 de janeiro. Fizeram-no juntamente com muitos outros grupos formados em conspirações de bastidores, enquanto se ampliavam pela internet. (CASTELLS, 2013, p. 38).

O que ajudou muito este grupo a crescer foi um vídeo feito em memória de

um ativista chamado Khaled Said, que mostrava o jovem sendo espancado até a

morte pela polícia, em junho de 2010, num cibercafé em Alexandria. Este foi o

motivo que incitou a raiva que gerou a indignação. Do cibercafé estes grupos se

encontraram em frente ao Ministério do Interior para iniciarem as manifestações.

Mas, o que mais chamou a atenção foi a postagem de um vídeo no Youtube,

de uma jovem indignada com o que estava acontecendo. Junto com o outro vídeo

este da jovem ajudou a explodir a revolta dos Egípcios.

A jovem aqui citada por Castells é Asmaa Mafhouz, de 26 anos, estudante

de administração da Universidade do Cairo e fundadora do movimento. Segue a sua

escrita:

Quatro egípcios atearam fogo ao corpo… Gente, que vergonha! Eu, uma moça, postei que vou sozinha à Praça Tahrir portando uma bandeira… Estou fazendo este vídeo para lhes passar uma

Page 51: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

50

mensagem simples: nós vamos à Praça Tahrir em 25 de janeiro… Se vocês ficarem em casa, vão merecer tudo que está sendo feito com vocês, e serão culpados perante sua nação e seu povo. Vão para as ruas, enviem SMS, façam seus posts na rede, levem consciência às pessoas. (CASTELLS, 2013, p. 38).

Com isso, conseguiram mobilizar mais de 2 milhões de pessoas de diversas

classes sociais e religiões diferentes para estarem juntos e protestarem pelo mesmo

motivo ao ocuparem a Praça Tharir, na Tunísia. O confronto com a polícia terminou

com a morte de mais de 80 pessoas e, posterior a isso, foi formado um comitê para

investigar o uso “excessivo da força” policial.

Mais uma vez a tecnologia e a comunicação foram fundamentais para estes

movimentos de revolta e de indignação.

Em 2013, o Facebook chegou a mais de 1 bilhão de usuários e se fosse um

país ele seria o terceiro maior do mundo; conta hoje com tradução em mais de 70

idiomas. A versão árabe chegou em 2009 e em pouco mais de 2 anos chegou a

mais de 5 milhões de usuários dos quais 600 mil foram adicionados em janeiro e

fevereiro, meses que precederam o início da revolução.

O que caracteriza estas redes sociais digitais é a grande velocidade e a forma

viral com que tudo se espalha, semelhante a um vírus de computador, que atinge

um grande público em pouco tempo. Foi o que aconteceu no Egito, onde a

velocidade com que as notícias se tornaram disponíveis foi a grande chave do

processo de mobilização contra Muhammad Mubarak, que é um militar egípcio que

governou seu país de 14 de outubro de 1981 a 11 de fevereiro de 2011, quando

apresentou sua renúncia ao cargo com 82 anos, após 18 dias de protestos no Egito.

A conexão entre a mídia social na internet e as redes sociais com as

pessoas, se tornou possível devido à existência de um território ocupado, que

trabalhava as ações híbridas entre internet e espaço público.

Muito conteúdo em termos de imagens e vídeos foram produzidos e

coletados pelos manifestantes e, em pouco tempo, já estavam disponíveis para a

população.

2.3.3. Occupy Wall Street

Em Washington foi o maior movimento local ficou conhecido como Occupy

Wall Street. O mercado imobiliário estava falido e milhões de pessoas perderam

Page 52: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

51

todo o valor que haviam construído durante toda a vida. Empresas foram fechadas

eliminando milhões de empregos e reduzindo profundamente os salários.

Diante destas circunstâncias o que se poderia esperar, a não ser que a

população se unisse em torno de uma causa comum, bem como procurasse resolver

estas indignações.

As pessoas ficaram desestimuladas e com raiva. Alguns começaram a quantificar sua raiva. A parcela da renda americana apropriada pelo 1% mais rico pulou de 9% em 1976 para 23,5% em 2007. O crescimento cumulativo da produtividade entre 1998 e 2008 chegou a cerca de 30%, mas os salários reais cresceram somente 2% durante a década. O setor financeiro apropriou-se da maior parte dos ganhos de produtividade, com sua parcela dos lucros crescendo de 10% na década de ele empregar apenas 5% do total da força de trabalho. Na verdade, o 1% mais rico apropriou-se de 58% do crescimento econômico nesse período. Na década anterior à crise, os salários reais por hora aumentaram 2%, enquanto a renda dos 5% mais ricos aumentou 42%. O salário de um diretor executivo era cinquenta vezes maior que o do trabalhador médio em 1980 e 350 vezes em 2010. (CASTELLS, 2013, p. 96).

Para Castells (2013, p.98), uma frase que ficou muito conhecida neste

movimento foi esta: “É chegado o momento de os 99% dos americanos se

mobilizarem e se manifestarem agressivamente sobre reformas políticas sensatas”.

Com este lema estes 99% foram às ruas reivindicar os seus direitos em

oposição a um grupo composto por 1% da população que controla 23% das riquezas

do país; o governo atual estava mais interessado em atender a esse 1% do que os

99% que representam os mais prejudicados.

“Washington. É hora de DEMOCRACIA, NÃO EMPRESARIOCRACIA. Sem

isso, estamos condenados.” (CASTELLS, 2013, p.98).

O que trouxe esperança aos estadunidenses foi um eco vindo das revoltas

árabes e da Europa, mas principalmente da Espanha, ouvido ao vivo e pela internet,

ou seja, o que se assistiu foi um movimento de cidadãos comprometidos com as

suas lutas e seus projetos sociais que deu inspiração para mais pessoas irem às

ruas americanas.

Dentro deste movimento e nas reuniões promovidas existia um apelo por

uma manifestação global, ou seja, por algo maior do que simplesmente um país ou

uma cidade. Sob o lema “Unidos pela mudança global” é que no verão de 2011 se

acendeu uma centelha, pois, uma revista de crítica cultural, com sede em

Vancouver, postou no seu blog a seguinte convocação, segundo Castells (2013,

Page 53: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

52

p.98): “#occupywallstreet. Você está pronto para um momento Tahrir? No dia 17 de

setembro, invada Lower Manhattan, monte barracas, cozinhas, barricadas pacíficas

e ocupe Wall Street.”

O perfil desses manifestantes basicamente era composto por jovens

instruídos e que tinham grandes expectativas para o seu futuro. Jovens instruídos,

mas, com as suas expectativas profissionais limitadas pela economia da época. Em

sua ampla maioria trata-se de jovens brancos, embora houvesse a presença mesmo

que em minoria de afro-americanos.

Assim, as redes sociais da internet mobilizaram apoio suficiente para que as

pessoas se reunissem e ocupassem o espaço público, territorializando o seu

protesto.

Em relação a outros países, nos Estados Unidos o Facebook era muito

criticado pelos movimentos por ser uma plataforma de proprietários e também por

existir um software em sua versão de reconhecimento facial que identificava

imediatamente pessoas em fotografias, o que não era bem vindo, uma vez que, os

manifestantes seriam facilmente identificados pelas autoridades locais.

Enfim, isso era malvisto, devido à desconfiança de que o Facebook não

protegeria a privacidade, caso intimado por autoridades.

Assim, alguns ocupantes habilidosos tentavam usar alternativas ao Facebook, como o N-1, o Ning ou o Diáspora. Outros dedicaram-se ao desenvolvimento de um ‘Facebook do Occupy’ chamado Global Square, amplamente divulgado pelo WikiLeaks. (CASTELLS, 2013, p.108).

O Livestreams, que é uma coleção de ferramentas, que permite aos usuários

transmitir conteúdos de vídeo em tempo real pela internet e que permite aos

usuários fazerem as suas próprias transmissões, foi muito utilizado pelo movimento

Occupy de Boston como uma tecnologia relevante.

Em 11 de outubro de 2011 o Occupy de Boston enfrentou uma grande

violência policial, que foi acompanhada de muitas detenções. Fez-se uso desta

ferramenta Livestreams para começar as transmissões e assim foi possível verificar

a audiência em tempo real das pessoas que estavam assistindo ao vivo. O número

chegou a mais de 8 mil pessoas em pouco tempo quando, de repente, a transmissão

foi interrompida e se tornou um símbolo de que a manifestação havia sido

silenciada. Com isso, muitos que assistiam de suas casas puderam perceber que

Page 54: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

53

aquilo que estava acontecendo era efetivamente uma grande experiência

mobilizadora.

Como os movimentos Occupy não tiveram políticas específicas,

consequentemente, não se obtiveram mudanças significativas. Entretanto, algumas

campanhas conseguiram corrigir, pelo menos parcialmente, algumas injustiças

sociais como, por exemplo, o movimento envolvendo a questão das moradias,

acontecido no dia 06 de dezembro, que foi escolhido para a ação. Os grupos de

manifestantes “ocuparam” casas de famílias despejadas em muitas áreas do país,

com a finalidade de pressionar os credores a oferecer outras condições de

empréstimo com redução de juros substanciais. Conseguiram obter êxito em muitas

delas, ao ponto de restabelecer hipotecas que haviam sido canceladas.

Em outro exemplo, com uma ação muito criativa intitulada “Dia da

Transferência Bancária”, os indivíduos foram estimulados a transferirem suas contas

dos grandes bancos de Wall Street para pequenas cooperativas de crédito sem fins

lucrativos. Contudo, a ação mais criativa de todas foi a do dia dos namorados que

apresentava o seguinte slogan: “Separe-se de Seu Banco”. Após o Bank of America

anunciar que iria impor uma taxa mensal de US$ 5 por cartão de crédito e conta

corrente, houve uma onda de protestos; muitos clientes encerraram suas contas e

com esse movimento o referido banco cancelou as taxas.

No dia 15 de outubro de 2011, uma página do Facebook dedicada a esse esforço foi ‘curtida’ por 54.900 pessoas. O dia 5 de novembro de 2011 foi declarado ‘Dia da Transferência Bancária’. De acordo com a Associação Nacional de Cooperativas de Crédito (ANCC), o site da organização que informava os clientes sobre serviços de cooperativa viu seu tráfego duplicar nesse período. A ANCC estimava que quase 650 mil clientes tenham aberto novas contas em cooperativas de crédito entre o final de setembro e a data-alvo de 5 de novembro. (CASTELLS, 2013, p. 121).

Castells (2013, p.128) mostra uma mensagem postada no tuíte de

@souriastrong (Rawia Alhoussaini), que dizia:

“Nós derrubamos o muro do medo

Vc derrubou o muro de nossa casa

Nós vamos reconstruir nossos lares

Mas vc nunca vai erguer aquele muro do medo”.

Page 55: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

54

Com estes três exemplos de ocorrências nestes países pode-se verificar o

quanto as mobilizações passaram por uma grande transformação na área da

comunicação com a chegada destas tecnologias, proporcionando aos indivíduos um

engajamento nas propostas de políticas públicas que interferiram diretamente no dia

a dia das comunidades envolvidas.

O capítulo que segue se inicia explicando o conceito de Tecnologias Sociais

e Educação e o quanto isso está presente nestas mobilizações; aborda as redes

sociais como suporte aos movimentos e encerra com o exemplo do que aconteceu

no Brasil em junho de 2013, nas manifestações que ficaram conhecidas pelos 20

centavos de aumento da passagem nos transportes públicos.

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55

3. TECNOLOGIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO

De acordo com Chaves (2011), Tecnologia é:

[...] na minha forma de ver, é tudo aquilo que o ser humano inventa para tornar sua vida mais fácil ou mais agradável. Ela inclui coisas tangíveis (hardware), como equipamentos, instrumentos e dispositivos diversos, e coisas intangíveis (software), como linguagens, sistemas numéricos, sistemas de notação (musical, por exemplo), métodos, procedimentos, princípios, regras de organização, etc. Assim, a linguagem verbal, que inclui a fala e a escrita, é tecnologia. Comunidade, embora possa parecer estranho a alguns, também é tecnologia.

Pedreira e Lassance Junior (2004, p.51) afirmam ser as tecnologias sociais

“técnicas, materiais e procedimentos metodológicos testados, validados e com

impacto social comprovado, gerados por demandas sociais reais, a fim de solucionar

problemas sociais”.

Existem demandas reais das comunidades que devem ser solucionadas, por

meio de uma educação que considere e articule tudo o que é produzido nas

universidades, centros de pesquisa e organizações governamentais, bem como,

considera a experiência e conhecimento produzido por estas comunidades.

“Tecnologias sociais devem, portanto, gerar soluções de transformação

social, dentro de uma participação do coletivo.” (SOFFNER; BALDUCCI, 2013, p.10)

Para o Instituto de Tecnologia Social do Brasil − ITS BRASIL – que está

ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), tecnologias sociais é definida da

seguinte forma:

Conjunto de técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida. (ITS BRASIL, 2013).

A tecnologia social está muito ligada ao principal objetivo deste trabalho,

pois, ela identifica os problemas enfrentados pelas comunidades e busca uma

transformação social com os envolvidos. Tem como meta conquistar mais qualidade

de vida, bem como atender às necessidades básicas dos grupos sociais da

tecnologia midiática como parte deste contexto.

Page 57: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

56

De acordo com uma pesquisa feita pelo ITS Brasil com mais de 80

instituições, além de movimentos e organização da sociedade civil, a Tecnologia

Social implica em: compromisso com a transformação social; criação de um espaço

de descoberta e escuta de demandas e necessidades sociais; relevância e eficácia

social; sustentabilidade socioambiental e econômica;inovação; organização e

sistematização dos conhecimentos; acessibilidade e apropriação das tecnologias;

um processo pedagógico para todos os envolvidos; o diálogo entre diferentes

saberes; difusão e ação educativa; processos participativos de planejamento,

acompanhamento e avaliação; a construção cidadã do processo democrático. (ITS

BRASIL, 2013).

No contexto destes movimentos sociais a tecnologia social está presente

num primeiro momento quando se iniciam as indignações, uma vez que já existem

os problemas que são expostos nas redes sociais digitais e num segundo momento

quando se encontram nas avenidas e espaços públicos.

Aqui há concordância com Castells (2013) quando ele apresenta o conceito

do espaço híbrido como aquele entre as redes sociais da internet e o espaço urbano

ocupado; o movimento começa na internet e depois que atinge um grande volume

de pessoas chega até o espaço urbano, com a tomada de áreas públicas.

Tecnologia social é aquela tecnologia que necessita os empreendimentos

solidários, ou seja, aqueles que se caracterizam pela propriedade coletiva dos meios

de produção, pelo processo do trabalho autogestionário, não controlado por um

patrão. (DAGNINO, 2013).

E isso ocorre independentemente de estar baseada em conhecimento

cientifico ou conhecimento popular ou conhecimento que a própria exclusão gera.

Para Dagnino (2013) é uma tecnologia desenvolvida com um protagonismo

essencial, destes que hoje são excluídos e que compõem o setor informal da nossa

economia.

• Hoje somos 190 milhões de brasileiros.

• 160 milhões em idade de trabalhar.

• Só 40 milhões tem carteira assinada.

• 8 milhões trabalham em empresas industriais.

Page 58: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

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Para Dagnino (2013) são 120 milhões que estão ou vão estar na

informalidade e, por essa razão, o autor questiona: o que a universidade tem a ver

com isso?

Em resposta a esta questão Dagnino afirma que esses 120 milhões

precisam não de emprego e salário − que não vai existir para todo mundo −, mas,

sim, de oportunidades, de geração de trabalho e renda. E, em sua concepção, isto

pressupõe outro padrão cognitivo.

Afirma que tecnologia social é a plataforma cognitiva de lançamento da

economia solidária. E que esta economia solidária é tida como uma proposta

societária radicalmente distinta do capitalismo, em especial do capitalismo selvagem

que há na América Latina. (DAGNINO, 2013).

Também sobre tecnologias sociais e educação, Caldas, Leal e Machado

(2008) escreveram em um artigo sobre práticas da educação não-formal e

tecnologias sociais, no qual abordam os principais conceitos sobre tecnologias

sociais, bem como os projetos dentro da comunidade da Mata Escura, periferia de

Salvador-BA, que tem como metodologia de intervenção a utilização das tecnologias

sociais, aplicadas ao desenvolvimento do conceito de educação não-formal.

Para os autores, as tecnologias sociais, além de conceber produtos e

técnicas de interação dentro das comunidades, devem ser vistas também como um

processo que estimule a cidadania e que gere transformação social dentro das

comunidades envolvidas.

De acordo com Bava (2004, p.116), as tecnologias sociais são mais do que

a capacidade de implementar soluções para determinados problemas, pois, devem

ser uma alternativa com experiências inovadoras para a defesa dos interesses

comuns, bem como para a distribuição da renda.

Outro contexto que sempre entra em discussão é o papel das Tecnologias

Sociais, associado ao conceito de globalização, visto que todas estas dinâmicas

globais, em algum momento, interferem de maneira direta nas esferas locais e as

comunidades têm que se proteger deste cenário muitas vezes, até como forma de

sobrevivência.

Com este contexto e cenários, novos desafios são identificados e precisam

ser superados; novos processos produtivos devem ser estudados para que se

consiga maior geração de empregos, aumento de renda e de autoestima, por meio

da inclusão social.

Page 59: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

58

Muitos grupos de estudo têm desenvolvido diversas experiências em

instituições de ensino por todo país, estimulados pela Rede de Tecnologias Sociais,

do Ministério de Ciência e Tecnologia (RTS/MCT), no sentido de aprofundar os

estudos e contribuir para a construção do marco regulatório sobre as tecnologias

sociais no Brasil.

Caldas, Leal e Machado (2008) destacam uma das instituições que

promovem esta discussão que é o grupo de pesquisa do Laboratório de

Desenvolvimento de Tecnologias Sociais (LTECS), do Programa de Pós-graduação

em Desenvolvimento Regional e Urbano da Universidade Salvador (UNIFACS), na

Bahia.

As pesquisas desenvolvidas pelas universidades devem ter o caráter de

contribuição para o desenvolvimento local, numa época de globalização da

economia, de competitividade das pessoas, das regiões e dos lugares.

O LTECS tem como princípio que a aprendizagem e a participação são

processos que caminham juntos; para que ocorra a transformação social dos

envolvidos é necessário que aconteça primeiro um respeito pelas identidades locais,

pois, este respeito fará com que as comunidades consigam entender que qualquer

indivíduo é capaz de gerar conhecimento e aprender.

Desse modo, é possível compreender as Tecnologias Sociais como um

conjunto de técnicas e procedimentos metodológicos que visam à aplicação do

conhecimento científico e tecnológico, produzido nas universidades, centros de

pesquisa e organizações governamentais e não governamentais, em articulação

com o conhecimento produzido pelas comunidades, para o desenvolvimento urbano

regional e local sustentável.

Esta experiência baseia-se nos princípios de Cooperação entre

Universidade/Comunidade, pois, se acredita que tudo o que está sendo estudado

nestes laboratórios de pesquisa tem como finalidade contribuir para a erradicação da

miséria, da fome, da degradação do meio ambiente, da prostituição, do tráfico de

drogas, da discriminação racial, da exploração do trabalho infantil, da precariedade

de moradias, entre outros. Para Caldas, Leal e Machado (2008), a universidade tem

um papel fundamental, sendo considerada como principal ator para a construção de

uma sociedade mais sustentável e com atuação nas casas, nas ruas, nos bairros e,

consequentemente, nas cidades.

Page 60: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

59

Um novo campo tem surgido que é o da educação não-formal, que aborda

os processos educativos fora das escolas, ao redor de ações coletivas, com os

movimentos sociais e também com as organizações não-governamentais e outras

entidades sem fins lucrativos que atuam na área social. (GOHN, 2001, p. 07).

A educação não-formal para Gohn (2001, p.16) está ligada diretamente com

outro conceito, o de cultura, que é definido de forma mais abrangente pela autora,

com um destaque para a cultura política, que somada com a educação permite a

compreensão da realidade e a luta para transformá-la.

Como já abordado neste texto, os fatores econômicos, sociais e políticos

possuem interferência direta na aplicação da educação, principalmente, com os

atores envolvidos; e pela cultura política é que a educação se consolida como

prática social, visto que, com isso, torna-se possível uma sociedade mais

esclarecida sobre a cultura política.

Com o avanço tecnológico dos últimos 40 anos, conforme apresentado no

Gráfico 1 da evolução das tecnologias, observa-se que a educação não

acompanhou essa evolução, principalmente na rede pública de ensino dos países

periféricos que, em muitas de suas escolas, não possuem nem o representante

simbólico maior da revolução tecnológica, o computador.

Com a educação formal deficitária abre-se um espaço para o surgimento de

outras formas de educação, com métodos e aplicação que se alicerçam no

alternativo, que buscam construir pessoas cidadãs e prontas para os desafios desta

nova sociedade.

A educação sociocomunitária também trabalha com a construção de ações

educativas que contribuem para a transformação social doa atores envolvidos.

Segundo Gomes (2008), a Educação Sociocomunitária busca modificar uma

determinada situação da existência social (ou certa tensão social) por meio da

educação.

A Educação Sociocomunitária é, assim, numa primeira visão, o estudo de uma tática pela qual a comunidade intencionalmente busca mudar algo na sociedade por meio de processos educativos. Nessa primeira visão, ao buscar essa tática a comunidade concretiza sua autonomia. Buscar mudar a sociedade significa romper com a heteronomia, com ser comunidade perenemente determinada pela sociedade. Porém, é preciso ser um pouco menos otimista e admitir outra visão, que é aquela que nos leva a incluir no âmbito da Educação Sociocomunitária os casos em que a comunidade é articulada para mudanças na sociedade. (GOMES, 2008, p. 7).

Page 61: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

60

As mudanças na sociedade acontecem, também, por meio das

manifestações, que os grupos, através de seus movimentos, realizam buscando

desenvolver um processo de respeito à cidadania.

Para Gomes (2008), a proposta de estudo da Educação Sociocomunitária

não é feita como hipótese para solucionar todos os problemas sociais e educativos,

mas, sim, em construir articulações políticas que são expressas em ações

educativas que possam provocar transformações sociais intencionadas.

Portanto, na concepção de Gomes (2008), a proposta de Educação

Sociocomunitária, está no levantamento de problemas efetivos, que devem ser

levantados na e por uma comunidade, sendo feitas então as articulações

sociopolíticas para possíveis soluções a estes.

O que os movimentos sociais procuram fazer, na maioria das vezes, é levar

ao conhecimento da sociedade os problemas que afligem determinadas

comunidades e, com essa ação, visam obter algumas soluções a esses problemas

ou mesmo o engajamento de defensores desse tipo de causa.

Para Gomes (2008, p.4) “vivemos sob os apelos de grupos sociais que

gritam seus lemas e suas reivindicações, vivemos num mundo que mede discursos

pelo que fazem sentir agora e não exatamente pelo que provocam na história”.

Assim, vive-se numa sociedade composta por grupos com interesses

particulares; formados por pessoas que estão diretamente ligadas a ações voltadas

para a educação de crianças e adolescentes; outras que têm no seu foco os idosos;

há grupos que defendem as causas ambientais; outros que têm como objetivo cuidar

de animais abandonados e outros que estão preocupados com os direitos humanos,

ou seja, cada um com um objetivo e com um interesse próprio.

Para dizer de forma sucinta, a comunidade, como local e prática do cotidiano, é também o local onde se reiteram as tradições, onde se fixam os preconceitos, onde se praticam de forma transparente as exclusões menos perceptíveis, sob a égide serena dos hábitos e costumes. (GOMES, 2008, p. 6).

Pode-se entender que dentro destes movimentos sociais existe uma

educação não formal e sóciocomunitária. (grupos de pessoas que se reúnem para

aprender, seja um saber ou um fazer, sem as chancelas da certificação.

Neste momento pode-se também abordar o conceito de Pedagogia Social,

pois por meio da educação ela vai propor a superação dos conflitos e impulsionar

uma possível renovação na sociedade.

Page 62: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

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O conceito de pedagogia social mais generalizado é o que faz referência à ciência da educação social das pessoas e grupos, por um lado e, por outro, como ajuda, a partir de uma vertente educativa, às necessidades humanas que convocam o trabalho social, assim como ao estudo da inadaptação social. (DIAZ, 2006, p.96).

Para Freire (2003, p.23), além do poder material, há a força ideológica,

também material, que reforça aquele poder e este desalojamento dos oprimidos dos

espaços de sobrevivência não é algo inexorável, sendo preciso “que a fraqueza dos

fracos se torne uma força capaz de inaugurar a justiça”.

É essa justiça que estes movimentos sociais buscam, quando resolvem

iniciar as suas mobilizações e que acabam se tornando visíveis para toda uma

nação ou, em alguns casos, essas realidades se tornam de conhecimento mundial.

Paulo Freire (1987), em seu livro “Pedagogia do Oprimido” com a 1ª. edição

publicada em 1970, levanta a importância de uma pedagogia emancipatória do

oprimido, em relação aquela pedagogia da classe dominante; uma pedagogia que

contribua para a libertação e a transformação do sujeito, para que ele seja o autor da

sua própria história, da práxis fundada na Ação e Reflexão.

Essa pedagogia caracteriza-se por um movimento de liberdade que surge a

partir dos oprimidos, sendo a pedagogia realizada e concretizada com o povo, na

luta pela sua humanidade.

Freire (1987) justifica no primeiro capítulo o titulo do livro, pedagogia do

oprimido, explicando que o homem tem que ser o sujeito da realidade histórica onde

ele está inserido, lutando a todo tempo pela liberdade enfrentando a classe

dominadora contra as injustiças que tendem a se perpetuar.

Igualmente cita que só na convivência com os oprimidos é que será possível

compreender as suas formas de ser, de comportar e de refletir esta estrutura da

dominação.

Já no segundo capítulo o autor apresenta o conceito de educação bancária,

que é caracterizada como um depósito de saberes ou uma ação assistencializadora

para um povo considerado “tábula rasa”. Este ato de depositar conhecimentos

considera o homem como um ser adaptável e ajustável e a ação entre educador e

educando é caracterizada pela ausência de criatividade, pois, segundo o autor, só

existe saber na invenção, na reinvenção, na busca inquieta, impaciente e

permanente que os homens fazem no mundo, com o mundo e com os outros, o que

se traduz numa busca esperançosa.

Page 63: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

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Segundo Freire (1987), os homens educam-se entre si e, com essa frase,

chama a atenção para que neste processo o homem não aliene os outros nas suas

decisões, mas, sim, que os incentive à luta pela sua emancipação no mundo.

3.1. Redes Sociais como Suporte aos Movimentos Sociais

No século XXI os movimentos sociais ganharam um grande aliado,

representado pelas redes sociais; com elas os grupos se organizam, registram e

documentam tudo o que acontece.

A Internet ou qualquer outra tecnologia não tem o poder de fazer com que as

mobilizações aconteçam sozinhas, contudo, entende-se que ela tem sim um papel

fundamental na comunicação dos objetivos, motivos e dados destes movimentos

estando, assim, na raiz destas mobilizações.

Castells (2013) apresenta um conceito novo para as redes digitais: Social

Networking Sites (SNS) que representam uma ampla rede de comunicação, como

uma teia que envolve tudo e todos.

Os SNS são espaços nos quais diversas atividades acontecem, ou seja, em

locais de amizade, bate-papo, marketing, e-commerce, promovendo agora um novo

conceito que é o social commerce, no qual acontecem as vendas dentro destas

redes sociais, educação, mídia, entre outros. Porém, continua um espaço, para que

ocorra o ativismo sociopolítico.

A chave do sucesso de um SNS não é o anonimato, mas, pelo contrário, a autoapresentação de uma pessoa real conectando-se com pessoas reais. As pessoas constituem redes para estar com outras, e para estar com outras com as quais desejam estar, com base em critérios que incluem aquelas que já conhecem ou as que gostariam de conhecer. Assim, é uma sociedade em rede autoconstruída com base na conectividade perpétua. Mas não é uma sociedade puramente virtual. Há uma íntima conexão entre as redes virtuais e as redes da vida em geral. (CASTELLS, 2013, p.136).

Com estas Redes os movimentos podem agora compartilhar as suas

indignações e busca por dias melhores.

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E é nesse mundo que os movimentos sociais em rede vieram à luz, numa transição – natural, para muitos indivíduos – do compartilhamento de sua sociabilidade para o compartilhamento de sua indignação, de sua esperança e de sua luta. (CASTELLS, 2013, p.137).

3.2. Movimentos Sociais no Brasil em Junho de 2013

No Brasil, no ano de 2013, em julho, movimentos de revoltas chegaram à

cidade de São Paulo-SP, devido ao aumento das tarifas de ônibus em R$ 0,20; a

passagem custava R$ 3,00 e o governo municipal tentou aumentá-la para R$ 3,20.

Este movimento foi apenas o estopim de muitas outras reivindicações, mas todos os

outros movimentos utilizaram estes R$ 0,20 para mostrar que não era só pelos R$

0,20, e sim por muitas outras coisas.

Não se tem aqui a intenção de fazer uma análise política do fato em si, se

pretende, apenas, considerar o movimento acontecido, o que eles apresentaram de

propostas concretas, os principais resultados obtidos e como as SNS (Social

Networking Sites) foram utilizadas neste período. Para tanto, se faz necessário citar

algumas pessoas e ou instituições.

Os vinte centavos foram o estopim e o símbolo de um movimento que

começou com o aumento da passagem do ônibus, se expandiu e virou um grito

coletivo que tomou a Avenida Paulista e ecoou nas ruas do Brasil.

Estes movimentos foram uma ótima notícia em termos de democracia − aqui

entendida como a soberania popular, com as pessoas saindo às ruas para mostrar

as suas revoltas e indignações; ao mesmo tempo, reforçando o que já foi

mencionado e está ocorrendo em outros países, a falta de representatividade das

classes políticas.

O Dicionário de Sociologia, assim define a democracia política:

Da forma aplicada à política, uma democracia (do grego, significando ‘governo do povo’) é um sistema social no qual todos dispõem de parcela igual de poder. Embora existam muitos sistemas sociais relativamente pequenos e simples (um grupo de amigos, por exemplo) que são organizados como democracias puras, no nível de organizações, comunidades e sociedades inteiras complexas, a democracia pura é muito rara. Em parte isso se deve ao fato de que a definição de ‘todos’ quase sempre exclui algumas partes da população – tais como mulheres, crianças ou minorias. Além do

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mais, quase todas as sociedades que descrevem a si mesmas como democracias políticas são na verdade democracias representativas, nas quais cidadãos elegem representantes que, na prática, detêm e exercem a autoridade política. (JOHNSON, 1997, p.66).

Quando a população resolveu sair às ruas para buscar uma vida melhor,

este conceito de Democracia passou a ser colocado em prática, pois este é o

verdadeiro significado da palavra democracia, ou seja, governo do povo e pelo povo,

com a participação nas decisões a caminho de uma vida plena.

Um ponto que chamou muita atenção foi a violência que marcou quase

todas as manifestações, e que nos fez lembrar o tempo de ditadura, conforme

apontado no primeiro capítulo deste trabalho.

Brum (2013), em artigo publicado na Revista Época e intitulado “Quanto vale

20 centavos?” faz um comparativo das frases utilizadas pelo atual governador de

São Paulo, Geraldo Alckmin, em cada momento que aconteciam as manifestações,

em relação ao que as pessoas que participavam do movimento escreviam e, com

isso, foi possível perceber que, em determinado momento, o governador deixou de

falar desse assunto como se nada estivesse acontecendo:

Todos estão identificados com nome e sobrenome no Twitter, mas, depois do que vi na quinta-feira, por precaução, eu prefiro chamá-los aqui apenas de @manifestantes:

‘@GeraldoAlckmin O direito à livre manifestação é um princípio basilar da democracia. Assim como o direito de ir e vir e a preservação do patrimônio público/@manifestante: Praça enchendo em paz... bonito/ @GeraldoAlckmin Depredação, violência e obstrução de vias públicas não são aceitáveis. O Governo de São Paulo não vai tolerar vandalismo/@manifestante: Repressão brutal, pessoas desesperadas, moradores com crianças correndo. Se o Haddad compactuar com isso é o fim definitivo do PT!! /@GeraldoAlckmin Participei hoje, em Santos, da comemoração aos 250 anos do nascimento de José Bonifácio Andrada e Silva, o patriarca da independência/@manifestante: Ônibus pegando fogo na Augusta. Milhares correndo, descendo a rua pedindo paz. PM segue com bombas. Motoristas encurralados por gás/@GeraldoAlckmin Ainda em Santos inaugurei nova delegacia de polícia do Porto de Santos, que ano passado recebeu 1.1 milhão de turistas /@manifestante: Tentei sair. Eles atiraram na minha frente. Virei, atiraram atrás. Fiquei cega, entrei num motel. Consegui me recompor/@GeraldoAlckmin No Guarujá inaugurei o novo Hospital Emílio Ribas e anunciei a implantação do Restaurante Bom Prato/@manifestante: Pra dispersar, faz sentido jogar uma bomba no começo, uma no fim? Fiquei presa entre duas bombas de gás. Muita

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gente machucada/@GeraldoAlckmin Para Cubatão liberamos R$ 21,5 milhões para construir 800 apartamentos e mais 1.448 apartamentos para Santos que receberá mais uma Etec/ @manifestante: Eu nunca vi nada parecido. Muita gente ‘refugiada’ no hotel, sangrando/@GeraldoAlckmin Estive também em São Vicente p/ autorizar a recuperação da belíssima Ponte Pênsil, a construção de 1.120 moradias e a implantação da 2ª ETEC/ @manifestante: Augusta em chamas”. O governador despediu-se no Twitter, na noite que já está assinalada na história de São Paulo, a maior cidade do país, como uma das mais violentas desde a volta da democracia, com a seguinte frase: ‘@GeraldoAlckmin Parabéns a toda a população de Guaratinguetá pelos 383 anos da cidade. Boa noite a todos!’. (BRUM, 2013).

Dois mundos e duas realidades; quem lia o que o governador escrevia e

quem seguia os participantes do movimento do Twitter, tinha em cena a realidade

dos fatos. Antes da internet, quando é que estas pessoas poderiam escrever e

ganhar tamanha audiência e repercussão em tão pouco tempo? Certamente seria

impossível, uma vez que estes meios de comunicação ofereceram uma grande

exposição a tudo o que estava acontecendo, em tempo real e bem mais rápido que

os veículos tradicionais de comunicação.

A população começou a comparar, não só o que escrevia o governador,

mas, também, o que era divulgado pela mídia tradicional (televisão, jornal e rádio),

bem como o que as pessoas relatavam em seu Twitter; enfim, numa leitura muito

mais critica e elaborada dos acontecimentos.

Muitas emissoras de televisão tiveram que se render ao que estava

ocorrendo, ao ponto de retirarem do ar a programação de novelas e jornais,

tradicionalmente conhecidos por terem muita audiência.

O significado dos 20 centavos neste momento era algo muito maior e isso

apareceu nas frases do Twitter que, de acordo com Brum (2013), era a menor das

questões, pois, o que estava em jogo era o direito das pessoas se manifestarem.

A violência da polícia paulista motivou a reação de outras camadas da população e de outras faixas etárias, levando novas adesões ao movimento. O que se vê nas redes agora é a soma daqueles que dizem ser preciso lutar pela democracia e pela liberdade de protestar. Esse sentimento é demonstrado nas quatro frases do Twitter mais republicadas, segundo a análise do professor Fabio Malini: ‘@LeoRossatto A tarifa virou a menor das questões agora. Os próximos protestos precisam ser, antes de tudo, pela liberdade de protestar/ @choracuica Não é mais sobre a tarifa. F...-se a tarifa. Isso ficou muito maior que a questão da tarifa/@gaiapassarelli Há algo

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grande acontecendo e é menos sobre aumento de tarifa e mais sobre tomar posição. Todo mundo deveria prestar atenção/ @tavasconcellos Não é mais uma discussão sobre tarifa. Transporte. Baderna. Sobre nada disso. É sobre o direito de se manifestar por qualquer causa’. (BRUM, 2013).

Outro ponto importante a se destacar é que a maioria do público era

composta por jovens. Contudo, essa indignação também chegou a outras camadas

da população como, por exemplo, o produtor cultural e músico Edson Natale.

Edson Natale, músico e produtor cultural, mandou o seguinte texto para o seu mailing, do qual também faço parte: ‘Vou pra rua na segunda (17/6). E vou porque acho que devo cuidar da rua e porque o Brasil não é só a rua por onde ando. Vou pra rua por minhas crenças e pelas crenças dos filhos: dos meus filhos e dos filhos dos outros. Não é muita coisa ir pra rua, mas não quero perder o direito de ir, quando quiser. Não tenho partido, nem religião, mas acredito, sobretudo, na vida, nas pessoas e no futuro, por exemplo. Tenho 51 anos e poderei (tentar) ajudar a evitar a violência ou a quebradeira, seja lá de quem for. Estarei lá para mostrar que não tenho gostado dos conchavos, das negociatas, das simulações e das dissimulações que têm acontecido tão intensamente nos bairros, cidades e estados; nas florestas, litorais e sertão, independentemente dos partidos responsáveis por elas. Tenho 51 anos e digo – com maturidade – que é preciso ir para a rua e levar as nossas crenças para passear um pouco e encontrar-se com outras crenças, diferenças e verdades. Acho que é assim que se faz um País e eu tinha me esquecido disso. Por isso agradeço aos que ocuparam as ruas antes de mim e por mim. E antes que alguém diga, ressalto que não vou para a rua defender partidos políticos, violência, quebradeira ou ódio... nem para impor a ‘minha’ verdade. E dessa forma encerro aqui o meu convite: vamos?’. (BRUM, 2013).

O que novamente chama a atenção é que a convocação destes movimentos

não foi feita por pessoas públicas ou mesmo de movimentos sociais tradicionais, e

sim por jovens conectados as SNS – (Social Networking Sites).

O Junho de 2013 já é histórico. Milhões de brasileiros foram às ruas das principais cidades do país após décadas de apatia social. Isso sem a convocação de figuras públicas ou entidades tradicionais dos movimentos sociais – e contra as orientações da grande imprensa, que insistia em rotular todos os manifestantes de vândalos e baderneiros no início da revolta, clamando por uma repressão mais dura da polícia. A onda despertou tanto interesse quanto confusão

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entre a academia e as organizações sociais, em todo o espectro político. (BRASILINO; GODOY; NAVARRO, 2013).

O “Movimento Passe Livre” foi quem iniciou as primeiras manifestações

contra o aumento da passagem nas redes sociais e depois chegou às ruas.

O Movimento Passe Livre (MPL), que chamou as primeiras manifestações contra o aumento da passagem, sobretudo pelas redes sociais, fortaleceu-se durante o processo e obteve amplas vitórias políticas. Porém, não é plausível dizer que a organização liderou sozinha as manifestações. Situado no campo da esquerda, o MPL chegou a divulgar notas condenando a aparição de pautas conservadoras nos atos por ele convocados. Ao passo que os maiores veículos de comunicação começaram a apoiar os protestos, foram surgindo manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, contra o aborto e pela redução da maioridade penal, e cresceu a hostilidade contra organizações de esquerda nos atos. (BRASILINO; GODOY; NAVARRO, 2013).

Para Castells (2013), a mobilidade urbana é um direito universal.

Passe Livre. Porque a mobilidade é um direito universal, e a imobilidade estrutural das metrópoles brasileiras é resultado de um modelo caótico de crescimento urbano produzido pela especulação imobiliária e pela corrupção municipal. E com um transporte a serviço da indústria do automóvel, cujas vendas o governo subsidia. Tempo de vida roubado e pelo qual, além de tudo, deve-se pagar. (CASTELLS, 2013, p.144).

Castells (2013) apresenta um posfácio, no qual comenta o que aconteceu

em julho de 2013 no Brasil e também aponta que os 20 centavos agora haviam se

tornado algo muito maior. Isto porque, como todos os outros movimentos do mundo,

ao lado de reivindicações concretas, que logo se ampliaram para educação, saúde,

condições de vida, o essencial foi a defesa da dignidade de cada um, ou seja, o

direito humano fundamental de ser respeitado como ser humano e como cidadão

A aproximação da Copa do Mundo no Brasil, que acontecerá em 2014

também foi um fato que chamou a atenção e esteve presente em muitas das

manifestações, pois, no momento acontecia a Copa das Confederações, fazendo vir

à tona, pela mídia, os gastos realizados pelo governo com o dinheiro público, nos

grandes estádios ou arenas, como agora são conhecidos e, por outro lado, a

população precisando do básico como saúde e educação, sem quase nada obter.

Muitos manifestantes mostravam a sua indignação com os seguintes dizeres

em faixas: “Trocamos dez estádios por um hospital decente”.

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Em entrevista a Jean-Philip Struck, da Revista Veja, o prefeito atual de São

Paulo, Fernando Haddad comentou sobre o impacto que este aumento de R$0,20

representava e também que este aumento deveria ser “digerido pela sociedade”.

Segundo Struck (2013), o prefeito reiterou que é impossível baixar qualquer tarifa

sem comprometer o orçamento de outras áreas. Assim, caso o aumento dos 20

centavos não ocorra, a prefeitura terá que arcar com um gasto anual da diferença de

até 2,7 bilhões de reais no ano de 2016.

Disse o prefeito na entrevista:

As pessoas têm que entender que essas escolhas são difíceis para o governante. A coisa mais fácil é agradar no curto prazo, de tomar uma decisão de caráter populista, sem explicar para a sociedade as consequências do ato que você tomando. Ou você acha que essas escolhas [de reduzir a tarifa] não representam menos investimentos em outras áreas? (...) Isso precisa ser digerido pela sociedade. (STRUCK, 2013).

Struck ainda faz a seguinte menção:

O prefeito apontou que o melhor caminho é a aprovação de um projeto de desoneração do transporte público, que está em discussão em Brasília, e prevê isenção de impostos sobre o diesel e outros itens usados em ônibus. Segundo o prefeito, a aprovação do projeto pode ajudar a reduzir em até 7% o valor da tarifa. Haddad também citou a criação de mais corredores de ônibus para melhorar a eficiência do sistema. (STRUCK, 2013).

A mesma reportagem faz questão de mostrar e enaltecer os prejuízos em

relação ao vandalismo que aconteceu.

Depredações – Antes de Haddad, o subprefeito da Sé, Marcos Barreto, apresentou a contagem de prejuízos na região do Centro. Segundo a subprefeitura, 29 lojas foram saqueadas ou depredadas. Além da prefeitura, o prédio do Teatro Municipal e o pórtico da Praça do Patriarca foram pichados. Quase 200 lixeiras foram arrancadas. Segundo o governo do estado, mais de 50 pessoas foram presas durante os atos de depredação no centro. (STRUCK, 2013).

Struck (2013) também fez questão de apontar para nomes de partidos e

grupos de estudantes que causaram estes prejuízos.

Cerca de 500 manifestantes, segundo a Polícia Militar, participaram do primeiro ato em protesto contra o reajuste de 3 reais para 3,20 reais na tarifa de ônibus, trens e metrô em São Paulo. Convocado

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pelo Movimento Passe Livre (MPL) e apoiado por partidos de esquerda (como PCdoB, PSOL, PSTU, PCO e PT), estudantes e grupos de punks e anarquistas, a marchar passou pela Avenida Paulista e deixou um rastro de vandalismo com a depredação de 65 ônibus e três entradas nas estações do Metrô, que sofreu 73.000 reais de prejuízo. Pelo menos quinze pessoas foram detidas e dezenas ficaram feridas em confronto com a PM. (STRUCK, 2013).

Em meio a tudo isso Castells (2013) aponta a importância do discurso da

presidente Dilma Rousseff, que foi seguido pelos governadores e prefeitos, ao

mencionar a tomada de algumas atitudes, entre elas a redução das passagens e

outras que seguem comentadas mais à frente.

É nesse contexto que a reação da presidenta Dilma Rousseff adquire todo seu significado. Pela primeira vez, desde que, em 2010, se iniciaram esses movimentos em rede em noventa países diferentes, a mais alta autoridade institucional declarou que “tinha a obrigação de escutar a voz das ruas”. E fez com que seu gesto de legitimação do movimento fosse acompanhado da recomendação, seguida pelas autoridades locais, de se anularem os aumentos das tarifas de transporte. Também prometeu uma série de medidas (até o momento, apenas promessas) relativas a um grande investimento público em educação, saúde e transporte. O mais relevante, porém, é que ressuscitou um tema perene no Brasil, a reforma política, propondo elaborar leis que investiguem e castiguem mais duramente a corrupção, um sistema eleitoral mais representativo e fórmulas de participação cidadã que limitem a partidocracia. (CASTELLS, 2013, p.145).

Outros resultados foram obtidos e aqui são apontadas algumas das

principais conquistas que podem ser atribuídas aos movimentos. Estes resultados

datam do dia 28 de junho de 2013, segundo Infográfico elaborado por Moreno

(2013) em 28 de junho.

- Em relação aos transportes públicos, os deputados aprovaram a redução

de PIS-COFINS (Programas de Integração Social-Contribuição para Financiamento

da Seguridade Social). Na tarifa do transporte, o BNDES (Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social) liberou R$ 2,3 bilhões para o Metrô de São

Paulo e a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) anunciou uma faixa de

ônibus na Marginal Pinheiros.

- Contra a corrupção, o Senado Federal aprovou um projeto que torna a

corrupção um crime hediondo.

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- São Paulo, Rio de Janeiro e outras 15 cidades reduziram as tarifas de

transporte.

- A Câmara dos Deputados aprovou os 25% de royalties do petróleo para a

saúde e o Ministério da Saúde (MS) anunciou um projeto de lei para perdoar as

dívidas das Santas Casas.

- Foi cancelada uma verba pela Câmara dos Deputados no valor de R$ 43

milhões para a Copa das Confederações.

- Para a Educação foram aprovados 75% dos royalties do pré-sal do petróleo

e 50% do Fundo Social para a Educação.

- Contra a Proposta de Emenda Constitucional - PEC 37, os deputados

decidiram, por maioria absoluta, arquivá-la.

- Já na área política a presidente Dilma Rousseff anuncia apoio a uma

reforma política.

- E em São Paulo a Polícia Militar (PM), anuncia que não vai usar balas de

borracha em manifestações populares.

Neste capítulo foram abordados os principais conceitos de tecnologias

sociais, como ela pode gerar transformações no coletivo das comunidades e foi

mencionado o exemplo do grupo de pesquisa do Laboratório de Desenvolvimento de

Tecnologias Sociais (LTECS), do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento

Regional e Urbano da Universidade Salvador (UNIFACS), na Bahia com os seus

projetos desenvolvidos de pesquisas em prol da comunidade e do desenvolvimento

local. Igualmente foi observado que a educação sociocomunitária tem um papel

fundamental em construir as articulações políticas que são expressas através de

ações educativas.

Ressalta-se a importância de Freire (1987), em seu livro Pedagoga do

Oprimido, quando afirma que o homem tem que ser o sujeito da realidade histórica

onde ele está inserido, lutando a todo tempo pela liberdade e contra as injustiças

sociais. Nesta última etapa é possível recordar as manifestações que ocorreram em

Junho de 2013 em todo o Brasil, quais foram os principais interesses dos grupos, os

resultados obtidos e como a comunicação foi fundamental com a utilização dos SNS

(Social Networking Sites).

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No próximo capítulo é apresentada a metodologia de pesquisa, bem como

os resultados da pesquisa de grupo focal realizada com alunos, ex-alunos do

UNISAL. Nesta pesquisa é possível conhecer as pessoas que organizaram as

manifestações na cidade de Americana/SP e região, qual foi a participação de cada

um, se houve modificação na percepção dos envolvidos e também se passaram a se

envolver em ONG’s e em conselhos municipais e como as redes sociais podem ser

uma forma de educação cidadã.

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4. PESQUISA QUALITATIVA: GRUPO FOCAL SOBRE AS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS

Nesta etapa do trabalho foi feita opção pela realização de uma pesquisa de

grupo focal.Trata-se de uma técnica utilizada na pesquisa qualitativa, na qual se

emprega uma discussão moderada entre poucos participantes. Estas discussões de

grupo costumam durar entre uma ou duas horas, dependendo do andamento das

sessões e das características singulares de cada grupo, e são coordenadas e

conduzidas por um moderador. O moderador é também o facilitador da sessão, pois

além de regular a sessão dentro dos seus moldes, também ajuda os participantes na

interação.

Nesta pesquisa o papel de mediador/facilitador foi realizado por este

pesquisador.

Para a composição desta pesquisa foram usadas autores como Mattar

(2000), Flick (2002) e Costa (2008).

Para Costa (2008, p.181), os grupos focais são “um tipo de pesquisa

qualitativa que tem como objetivo perceber os aspectos valorativos e normativos que

são referência de um grupo em particular. São na verdade uma entrevista coletiva

que busca identificar tendências”.

Do mesmo modo se posiciona Flick (2002, p.385) quando menciona que:

“uma entrevista tipo grupo focal é uma entrevista com um pequeno grupo de

pessoas sobre um tópico específico. Em regra, os grupos são formados por 6 a 8

pessoas que participam da entrevista por um Período de 30 minutos a 2 horas”.

Esse grupo, segundo Costa (2008, p.180), quando bem orientado, permite a

“reflexão sobre o essencial, o sentido dos valores, dos princípios e motivações que

regem os julgamentos e percepções das pessoas”.

Uma das principais vantagens dos grupos focais, na concepção de Mattar

(2000) é que este é um método que favorece a interação, a espontaneidade nas

falas, uma flexibilidade para o mediador conduzir as discussões, o aproveitamento

de temas que surgem no momento, além de ser uma técnica que possibilita coletar e

construir dados de forma rápida.

No caso do tema sobre as manifestações, segundo Costa (2008), o grupo

focal permite uma análise qualitativa que se expande para reflexões sobre a

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responsabilidade cívica, participação popular, relação da sociedade civil com o

governo.

4.1. Definição do Problema de Pesquisa

Visando analisar as possibilidades das redes sociais para a educação à

cidadania, à participação da coletividade, na discussão das questões contextuais de

nossa época e cujo ponto inicial foram as manifestações que aconteceram em 2013,

esta pesquisa busca respostas ao seguinte problema: Qual o papel das redes

sociais na Educação para a cidadania?

4.2. Determinação do Objetivo

Como objetivo esta pesquisa intenciona conhecer entre os jovens de

Americana e região qual foi a sua participação nos movimentos sociais, com se

mobilizou, quais redes mais utilizou e se alguém passou a se dedicar ou a se

interessar pelas diversas instâncias democráticas como as funções dos conselhos,

que atualmente existem, inclusive do ponto de vista legal, para fazer vigorar a

participação dos cidadãos em suas comunidades?

4.3. Método de Pesquisa

Como método foi escolhido a pesquisa de abordagem qualitativa pela razão

que o grupo focal é um tipo de pesquisa qualitativa que ajuda na identificação das

tendências, na resolução de problemas e favorece a compreensão do pesquisador

ao interpretar o que é descrito pelo grupo ao discorrerem sobre as mobilizações.

Para Stake (2011, p.42), a pesquisa qualitativa “removeu a pesquisa social da

ênfase na explicação de causa e efeito e a colocou no caminho da interpretação

pessoal”.

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4.4. Procedimento de Coleta de Dados de Campo

A coleta de dados se deu em três etapas.

A primeira etapa foi realizada com a utilização de um computador, disposto

na mesma sala de realização do grupo focal. Neste computador, cada jovem, um de

cada vez, respondeu a um formulário por meio do Google Drive, com o objetivo de

elaborar o perfil desses entrevistados. A numeração dos entrevistados (de 01 a 09) e

a sequência de preenchimento do formulário se deram com base na sua disposição

na mesa de discussão.

A segunda etapa apresenta a construção do perfil dos entrevistados com

base neste formulário.

A terceira etapa foi a construção do grupo focal e da determinação das

regras para o mesmo.

A quarta etapa consistiu na elaboração de um roteiro semiestruturado de

questões que abordam a cidadania, a democracia, e a mobilização social, para a

discussão. Ao todo foram elaboradas 14 questões.

A quinta etapa foi a da efetiva discussão acerca das questões elaboradas e

relacionadas ao objetivo principal do grupo focal; houve incentivo à discussão e os

pensamentos e opiniões dos participantes foram revelados. A discussão foi filmada e

gravada com a autorização dos participantes. Após a realização desta etapa a

discussão foi transcrita e analisada de acordo com as categorias de análise.

A sexta etapa foi a de apresentação e análise dos resultados.

Com base nos dados obtidos no formulário são participantes da pesquisa: 5

homens (56%) e 4 mulheres (44%); 5 entrevistados estão na faixa etária de 25 a 30

anos (56%) e os outros 4, na faixa etária de 14 a 24 anos (44%). Da região de

pesquisa 8 residem na cidade de Americana (89%) e 1 na cidade de Nova Odessa

(11%).

Com relação à escolaridade apenas 1 participante não está no Ensino

Superior (11%), 5 estão cursando alguma faculdade (56%) e 3 já estão formados

(33%).

Todos os entrevistados trabalham, sendo que 7 deles possuem trabalho

formal (78%) e 2 deles trabalho autônomo (22%). O tempo de trabalho é bem

variado: 1 entrevistado ainda não completou um ano de trabalho (11%); 3 estão na

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faixa de 1 a 3 anos (33%); 2 estão na faixa de 4 a 8 anos (22%); 3 na faixa de 8 a 15

anos (33%) e nenhum acima de 15 anos.

Com esse trabalho 7 deles possuem uma renda de até 2 salários mínimos

(78%) e 2 deles entre 2 e 5 salários mínimos (22%).

4.5. Etapa I – Construção do Grupo e Determinação das Regras

Para a Construção do Grupo todos os participantes foram convidados via

rede social Facebook. Cada participante foi apresentado ao grupo no dia 28 de

janeiro de 2014, às 19h30.

A pesquisa qualitativa foi realizada no campus Dom Bosco do Centro

Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL em Americana/SP, com um grupo

composto de perfis diferentes de alunos do próprio UNISAL e de outras Instituições,

dos cursos de Publicidade e Propaganda, Pedagogia, Direito e ex-alunos.

A sala de realização do grupo focal esteve todo o tempo com o ar-

condicionado ligado e com boa iluminação. Todos os presentes estavam sentados

em uma mesa retangular. A princípio estavam todos com expressões tensas e

ansiosos por não saberem exatamente o que iria acontecer durante a pesquisa.

Assim que o moderador chamou a atenção de todos para o começo da

pesquisa, foram passadas as breves instruções para os participantes de como iria

ocorrer todo o processo. Foi servido um lanche acompanhado de suco de fruta, o

que ajudou a descontrair os participantes.

Ao todo nove participantes numerados de 01 a 09 e descrito o seu perfil,

como mostra o Quadro 1.

Nesta fase, para a Determinação das Regras, o facilitador apresenta uma

visão geral do grupo focal, os objetivos de promover a discussão, bem como

coordena a apresentação de cada participante que leva, em média, 10 minutos.

Após a apresentação são definidas as regras para a discussão como segue:

■ Respeitar a privacidade dos outros participantes e não repetir o que foi

discutido durante as reuniões fora do grupo focal.

■ Uma pessoa deve falar de cada vez.

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■ Respeitar a opinião dos outros e não rejeitar ou criticar os comentários dos

demais participantes.

■ Dar a cada um a mesma oportunidade de participar da discussão.

4.6. Etapa II – Roteiro Norteador da Discussão

Este roteiro semiestruturado está composto de 14 questões (Apêndice B),

sendo que as quatro primeiras questões foram simples e do dia a dia dos

participantes, e tiveram o objetivo de estreitar a relação entre o grupo e também de

descontração.

Estas questões foram utilizadas na condução da discussão de forma um

pouco mais aprofundada, com um tempo médio de 60 a 90 minutos.

Nesta etapa o facilitador conduziu as perguntas de modo a que estas

estivessem relacionadas ao objetivo principal do grupo focal e também do trabalho,

com a intenção de incentivar a discussão e revelar os pensamentos e opiniões dos

participantes. Nesta etapa, geralmente, é colhida a informação mais significativa ao

estudo.

4.7. Etapa III – Discussão e Definição das Categorias

Os resultados dessa discussão são apresentados dentro de categorias que

seguem, para serem analisadas.

Foram definidas como Categorias de Análise:

- Educação e Cidadania.

- Participação e Envolvimento nas Manifestações.

- Tecnologia e Redes Sociais.

4.8. Etapa IV – Apresentação e Análise dos Resultados

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Categoria Educação e Cidadania:

As respostas foram transcritas na íntegra.

1. Qual foi o último Livro que você leu?

Entrevistado 01: Fundamentalismo - Leonardo Boff.

Entrevistado 02: A Cabana - William P. Young.

Entrevistado 03: Tempo de Transcendência - Leonardo Boff.

Entrevistado 04: Código Penal.

Entrevistado 05: Amor Veríssimo - Luís Fernando Veríssimo.

Entrevistado 06: On The Road - Na Estrada - Jack Kerouac.

Entrevistado 07: A Pedagogia do Caracol: por uma escola lenta e não

violenta - Gianfranco Zavalloni e Margareth Brandini Park.

Entrevistado 08: Arte da Guerra - Sun Tzu.

Entrevistado 09: Augusto Cury – não lembrou o nome.

8. Você acha que essas manifestações conseguiram promover as

mudanças que você reivindica? Se sim quais?

Entrevistado 01: Em Nova Odessa, o governo era novo, tinha só seis meses

e o que mais era urgente era a saúde; nós conseguimos meio que forçar um

concurso público, com mais médicos, enfermeiros e especialistas e a situação de

uma nova unidade de saúde nos bairros mais afastados. Com relação à

transparência, um portal com as informações, eles falaram que era mais difícil, pois

tinha que ter licitação, enfim, toda burocracia que os governos têm. O Concurso foi

uma grande conquista. Conseguimos uma nova escola em Nova Odessa nos bairros

afastados. A Juventude precisa de mais.

Entrevistado 02: Em Americana, espero que aconteça, acredito que está a

caminho.

Entrevistado 03: Eu acredito que em Americana, o Prefeito deu uma

maquiada e acho que não vem fazendo nada em Americana, só um susto.

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Entrevistado 04: A Manifestação em Americana trouxe uma aproximação

dos manifestantes com a promotoria. A competência do prefeito é administrar a

cidade e quem tem que fiscalizar são os vereadores. Se os manifestantes não

estiverem na Câmara Municipal vendo o que os vereadores estão fazendo, não

acontece nada.

Entrevistado 05: Acho que mudou sim, mas não mudanças a curto prazo

como a redução do valor das passagens; acho que o mais importante foi o interesse

político da população, mudou a mentalidade dos governantes, eles deixaram de

achar que são soberanos; prefeito não é prefeito, ele está prefeito, eles são eleitos

pelo povo. Mudou muito porque o prefeito se sentiu acuado, não é o seu território

aqui, mas acredito que seria muito pior se nada estivesse acontecido.

Entrevistado 06: Eu penso que mudança ainda é cedo, e não é qualquer

manifestação que vai conseguir mudar a política, a estrutura e a massa.

Entrevistado 07: Eu sou otimista, mas, o Brasil é muito grande, temos muita

corrupção, mas eu vi um avanço que ainda é mínimo.

Entrevistado 08: Eu gosto de analisar tudo com muita sinceridade, em uma

das manifestações na Câmara Municipal, foi proposto aos manifestantes que

organizassem uma pauta com os principais assuntos. Fizemos a reunião também

com o prefeito que prometeu fazer algumas coisas, outras ele negou logo de cara, e

depois não fez nada. Com os vereadores depois da pauta, fizemos uma reunião,

porém, no dia da votação eles votaram contra o projeto que era deles. Sobre isso

tínhamos feito um pedido para usar a tribuna livre, pois se é livre todos poderiam

usar, certo? Foi negado o pedido, vocês não têm voz. Assim que acabou a seção eu

fui cobrar do presidente e levei um soco na cara de um assessor dele. Apesar de

não conseguir as mudanças que aparecem na hora, nós conseguimos algo muito

maior que nem esperávamos como foi o processo que estava engavetado e que veio

à tona para a cassação do prefeito.

Entrevistado 09: Acredito que este ano vai ser um ano de mudança, não só

para Americana, mas para o Brasil inteiro.

9. Alguém passou a se dedicar ou a se interessar pelas funções dos

conselhos, que atualmente existem, inclusive do ponto de vista legal, para fazer vigorar a participação dos cidadãos em suas comunidades?

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Entrevistado 9: Partido inclui ai nesta pergunta? Perguntou.

Resposta: Sim, pode entrar!

Entrevistado 9: Que bom! Respondeu.

Entrevistado 01: Deu uma sensação de querer participar, mas não participei.

Entrevistado 02: Eu era filiada a um partido, trabalho com político, mas me

envolver mais, não.

Entrevistado 03: Criei mais interesse, comecei a participar de um partido.

Entrevistado 04: Era filiada a um partido, quando as coisas aqueceram, me

desfilei dele, e depois me filiei a outro partido agora este mês. Está se formando

uma ONG chamada “Amo Americana” que tem como objetivo a fiscalização da

Prefeitura, secretarias, etc. Pretendo me filiar a ela.

Entrevistado 05: Não tinha nenhum envolvimento, depois comecei a me

envolver com o grupo “Pula Catraca”, mas não participo de nenhum partido político.

Entrevistado 06: Eu já tinha participação política em São Paulo e quando vim

para Americana, não me envolvi muito, mas tenho colaborado com a questão da

juventude. Participo da organização “Ibero Americana de Juventude”.

Entrevistado 07: Não era filiada a nada, mas vi pessoas que passaram a se

envolver mais.

Entrevistado 08: Já fazia alguns trabalhos culturais em algumas ONG’s.

Outras cidades que estão começando trabalhos com o mesmo objetivo que o nosso

como é o caso de Osasco. Acabei me filiando a um partido político mesmo

analisando o ponto de vista social onde parece que os políticos vêm de um mundo

paralelo; se você é político tem um padrão X, é corrupto e tal…, não é como se

escolhe um time de futebol, isso não delimita o seu caráter. E isso, mesmo sabendo

que a sociedade acaba te encaixando dentro deste formato.

Entrevistado 09: Não faço parte e nunca fiz, mas também não despertou o

interesse.

Entrevistado 08: O que foi legal também é que despertou o interesse de

outros grupos a criarem novos grupos.

10. O que é Democracia para você?

Entrevistado 01: Para mim seria conseguir ter uma voz ativa, conseguir

debater um assunto.

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Entrevistado 02: Ser ouvido, talvez.

Entrevistado 03: Livre arbítrio.

Entrevistado 04:. Lei da Transparência.

Entrevistado 05: Seria o meio de governo ideal se não fosse utópico hoje.

Entrevistado 06: Muito complexo falar de democracia no Brasil.

Entrevistado 07: Democracia é ser ouvido.

Entrevistado 08: Deveria ser em tese, Respeito.

Entrevistado 09: Não concordar com o que diz o seu semelhante

1. A Constituição da República Federativa do Brasil apresenta a

cidadania como um dos seus fundamentos, logo no Art. 1º.

Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Com base nesses princípios fundamentais, para você o que é Cidadania?

Entrevistado 01: Seria saber o que acontece, saber por que o prefeito fez

isto e tentar mudar.

Entrevistado 02: Ser ativo e tomar partido.

Entrevistado 03: é a pessoa ser ativa perante o seu semelhante,

independente.

Entrevistado 04: Ser portador de direitos e deveres.

Entrevistado 05: Ser participante de um grupo, não só recebendo

informações, mas, cobrando opinando.

Page 82: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

81

Entrevistado 06: O conceito de cidadania está intimamente ligado ao

conceito de educação, nem todo mundo tem consciência da política como estamos

tratando aqui, se dá dentro da escola e fora da escola.

Entrevistado 07: Ter seus direitos garantidos e não ter estes direitos

negociáveis.

Entrevistado 08: Ser cidadão é deixar de ser egoísta, cada um tem

condições de voz e deve usá-la, mas não legislar em causa própria; às vezes, as

condições que nós na sociedade criamos não são favoráveis para o outro. Ser

cidadão é lutar pelo outro, pode te favorecer, mas as vezes não. E pode chegar o

momento em que você vai precisar de ajuda, mas, e se o outro não te ajudar? Ser

cidadão é contribuir para o todo.

Entrevistado 09: É conhecer e cobrar os seus direitos, ter consciência e

exercer os deveres como cidadão.

12. Como as redes sociais podem ser um instrumento de educação e

cidadania?

Entrevistado 01: Tem que saber procurar a informação, filtrar o que tem na

internet.

Entrevistado 02: Sim, e a prova disso foi o que aconteceu no ano passado,

juntar todo este povo sem as redes seria quase que impossível.

Entrevistado 03: As redes sociais já vêm fazendo com que os jovens sejam

melhores cidadãos; isto já está acontecendo.

Entrevistado 04: Demonstrar que estes direitos não estão só no papel e

procurar os seus direitos através das manifestações foi uma excelente forma.

Entrevistado 05: Fundamental, nossa geração não nasceu na internet, mas

esta geração de crianças que está chegando vivem nas redes, esse vai ser o mundo

real delas, talvez como é o nosso mundo físico hoje; lá ela vai fazer a maior parte

das suas relações, aonde ela vai se descobrir como cidadão e vai formar este

conceito de cidadão, mas temos que saber como trabalhar nas redes sociais.

Entrevistado 08: As redes podem auxiliar muito também no aspecto de

disseminação e informação e apesar de muito conteúdo é necessário checar as

informações. Nós não temos condição de ter um programa de Rádio, de Tv etc..,

mas, qualquer um pode, hoje, criar uma página e divulgar os conteúdos de seu

Page 83: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

82

interesse, mas pode sofrear retaliações sobre isso. Desenvolver um trabalho para o

todo.

Entrevistado 09: A internet é uma ferramenta tanto boa como ruim; é boa

porque informa, mas pode conter informação distorcida e quem não está ligado no

assunto, pode ter isso como verdadeiro.

Análise da Categoria Educação e Cidadania:

1. Qual foi o último Livro que você leu?

O que mais chamou a atenção foi a resposta do Entrevistado 08 que estava

lendo “Arte da Guerra”, por ele ser um dos organizadores das manifestações.

Sun Tzu, autor do livro, disse que a guerra é de vital importância para o

Estado, é o domínio da vida ou da morte, o caminho para a sobrevivência ou a perda

do Império: é preciso manejá-la bem.

8. Você acha que essas manifestações conseguiram promover as mudanças que você reivindica? Se sim quais?

Destaco as respostas dos Entrevistados 01, 04, 05 e 08. O envolvimento

destes entrevistados principalmente o 01 e o 08 foi o que chamou muito a atenção,

pois, não só foram as ruas nas manifestações, mas também foram até os Prefeitos

das cidades de Nova Odessa e Americana; na primeira cidade eles conseguiram

que o Prefeito convocasse em edital um novo concurso público para a contratação

de médicos e enfermeiros e também conseguiram a construção de uma nova escola,

em um bairro mais afastado.

Já o Entrevistado 08, como organizador das manifestações em Americana,

conseguiu que muita coisa viesse à tona. Ele participa ainda com o grupo “Pula

Catraca” das sessões da Câmara Municipal de Americana, onde cobra dos

vereadores a fiscalização que eles devem fazer do poder executivo que, no caso, é

a Prefeitura de Americana.

Destaco aqui – com base em Maria da Glória Gohn (2011) que apresentou

os 12 eixos temáticos para os movimentos sociais − o de número 02, que são os

Page 84: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

83

movimentos populares em torno de estruturas institucionais de participação na

gestão político-administrativa das cidades, pelo envolvimento que ainda têm com o

poder público.

A mesma autora cita que estes movimentos sociais podem conquistar

algumas aprendizagens, e dentre elas são destacadas algumas que foram

percebidas durante as respostas:

• Aprendizagem prática: alguns aprenderam a se organizar, mesmo já

tendo conhecimento de eventos, viram que era algo muito mais grandioso; também

verificaram que a cada mobilização que faziam aprendiam e tiravam os erros dos

eventos anteriores.

• Aprendizagem teórica: alguns dos envolvidos passaram a ler mais sobre

as leis e quais os seus direitos e deveres como cidadãos.

• Aprendizagem política: alguns passaram a se envolver mais,

frequentando a Câmara e a Prefeitura e cobrando os governos de cada cidade.

• Aprendizagem social: um deles teve que aprender a dar entrevistas,

falar em público, escrever na internet, ou seja, como se comportar em espaços

diferenciados.

9. Alguém passou a se dedicar ou a se interessar pelas funções dos

conselhos, que atualmente existem, inclusive do ponto de vista legal, para fazer vigorar a participação dos cidadãos em suas comunidades?

Três dos nove entrevistados se filiaram a partidos políticos, dois estão se

envolvendo com ONG’s que têm por objetivo fiscalizar os órgãos públicos e outros

citaram que conhecem algumas pessoas que foram despertadas a se envolverem

depois das manifestações de 2013.

10. O que é Democracia para você?

Conforme apresentado no capítulo 3, tem-se o conceito de Democracia do

Dicionário de Sociologia, de Allan G. Johnson (1997): “democracia (do grego,

Page 85: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

84

significando ‘governo do povo’) é um sistema social no qual todos dispõem de

parcela igual de poder”.

Os Entrevistados 01 e 07 mencionaram que é ser ouvido ou ter voz ativa.

Outra resposta interessante foi a do Entrevistado 04 que disse: Lei da

Transparência, o que tem a ver com o significado do dicionário que define

democracia como: governo do povo.

11. A Constituição do Brasil apresenta a Cidadania como um dos

fundamentos que está presente logo no Art. 1º. Com base nesses princípios fundamentais, para você o é Cidadania?

Os Entrevistados 04, 07 e 09 responderam exatamente o que foi colocado

no capítulo 03, que é o exercício dos direitos e deveres; contribuir para o todo, ter

consciência e exercer os seus deveres como cidadão.

O Entrevistado 05 respondeu que está intimamente ligado à educação,

dentro e fora da escola, o que Gomes (2008) propõe ao discutir a Educação

sociocomunitária com a construção de articulações políticas que são expressas em

ações educativas que venham provocar transformações sociais intencionadas.

O Entrevistado 08 respondeu que “Ser cidadão, é lutar pelo outro”, o que

mostra que estes jovens não estão só interessados em conquistas pessoais, mas

em ajudar ao próximo, seja no envolvimento da política partidária, seja na

participação em ONG’s ou mesmo em lutar pelos interesses do próximo, mesmo que

este não seja tão próximo.

12. Como as redes sociais podem ser um instrumento de educação e cidadania?

Os Entrevistados 03 e 05 responderam que as redes sociais estão fazendo

com que os jovens sejam melhores cidadãos; e que para a próxima geração o que

para nós hoje é o mundo físico será para eles o virtual, onde eles farão as maiores

relações e onde descobriram o que é ser cidadão.

Page 86: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

85

O Entrevistado 04 disse que as manifestações foram uma excelente forma

das pessoas buscarem os seus direitos. O Entrevistado 08 mencionou que as redes

podem ser utilizadas para a disseminação das informações e que antes delas seria

impossível ter um programa de TV ou mesmo de rádio, mas, com as redes as

pessoas passaram a ter voz e a poder criar os conteúdos de acordo com o interesse

de cada uma.

Categoria Participação e Envolvimento nas Manifestações:

As respostas foram transcritas na íntegra.

5. Qual é a sua opinião sobre as Manifestações que ocorreram em Junho de 2013 e ainda continuam ocorrendo?

Entrevistado 01: Foi importante e grandioso, principalmente no começo,

mas, depois perdeu força. Mostrou que muitos estão descontentes.

Entrevistado 02: Achei muito massa, pois o brasileiro tem fama de ser

muito acomodado para sair da cadeira e lutar por alguma coisa que ele acredita.

Você votou, você tira.

Entrevistado 03: Achei válido e importante, mas achei que muitos foram

pelo “oba oba” e pela arruaça em São Paulo. Compartilho o que um especialista

disse: que este quebra-quebra foi importante, porque o povo só é ouvido a partir do

momento que os prejuízos acontecem para o governo.

Entrevistado 04: O que aconteceu no Brasil foi extremamente importante:

frase de um especialista que diz que o “conformismo é inimigo da liberdade e

consequentemente carcereiro do progresso”. Muitos acharam que no Brasil isso iria

acabar em pizza, mas o que vimos foi algo diferente. A motivação pela tarifa de

ônibus foi o estopim de muitas outras coisas que devem ser mudadas neste país.

Entrevistado 05: As manifestações mostram que retomou o que aconteceu

em 1960 e 1970. Eu nasci depois desta data, mas sei, pela história, tudo o que

aconteceu. Estar presente foi algo mágico e quando começou em SP, chegou ao

Brasil e as pessoas viram que tem força, foi um divisor de águas para o crescimento

do País.

Page 87: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

86

Entrevistado 06: Válido tudo o que aconteceu, não só a tarifa, mas muitas

outras coisas; em minha opinião são muitas vozes dispersas, mas a rede social

contribuiu muito, até as pessoas envolvidas no movimento não esperavam o que

aconteceu.

Entrevistado 07: Achei importante, o Brasil todo abraçou a causa, estamos

colhendo os frutos, mostrou que se quisermos alguma coisa temos força para

mudar.

Entrevistado 08: Tudo isso foi um teste para ver quem é quem e quem está

disposto a participar desta transformação. Quando começou nas grandes capitais eu

tive a oportunidade de ir, quando as caminhadas pacificas aconteceram, tudo bem,

mas quando começou o enfrentamento muitos recuaram, isso não só em São Paulo,

pois, em Americana aconteceu a mesma coisa; muitos foram, postaram fotos nas

redes sociais, mas quando se depararam que não era só uma foto, era algo real e

que tinham que se mexer, muitos deixaram de ir, mas quem tinha interesse foi

ficando. Veio para Transformar mesmo. Estas manifestações irão se engrandecer,

pela Copa e etc.

Entrevistado 09: Achei válido, principalmente por ter partido dos jovens;

eles estarem lutando e cansados de tanta injustiça. O Brasileiro acordou e viu que

pode mudar as coisas. Acho uma pena os que fizeram o quebra-quebra.

6. Você participou de alguma manifestação em 2013? Onde? Lembra do dia e

cidade? Antes das manifestações iniciadas em Junho de 2013 você já havia participado de alguma outra manifestação de rua? Se afirmativo, cite qual foi.

Entrevistado 01: Participei em Nova Odessa, achei importante participar na

minha cidade. Muitos colegas foram em outras cidades, mas eu fui na minha cidade

porque sei o que está sendo pedido. Foi a primeira vez que sai de casa, mesmo com

medo de apanhar da polícia. Muitos queriam aparecer, como uma menina de top

segurando um cartaz só para aparecer no jornal. Uma semana depois marcamos

uma reunião com o prefeito só que só tinha 15 pessoas, diferente do que tinha na

primeira passeata. Neste dia causamos medo, pois tinha PM e várias viaturas no

local.

Entrevistado 01: Tomei conhecimento pelo Facebook em um evento e

depois um grupo que discute até agora os problemas. No evento o item Participar

Page 88: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

87

tinha 10.000 pessoas, mas, as que foram eram 1.000 e depois se tornaram apenas

15.

Entrevistado 02: Diretamente não foi, mas fiquei torcendo, coloquei a toalha

branca na janela, mas fiquei com medo de brigas.

Entrevistado 03: Participei. Fiquei sabendo pelas redes sociais, participei

do abraço coletivo no teatro municipal. Fizeram um aniversário de 2 anos que a

obra estava parada e atrasada. Um grupo que faço parte, um partido político, ajudou

na divulgação.

Entrevistado 04: Moro em Americana, fui e continuo à frente neste ano; vi

as pessoas de 1968 falando: “obrigado, vocês chamaram e nos voltamos”. Os avós

levaram os netos.

Entrevistado 05: Participei em Americana, não tinha participado, pois,

nunca tinha visto nada igual. Começou nas capitais e veio se espalhando. Fui em

todas de Americana. Como fiquei sabendo? Saia em todos os lugares e pela

exposição grande do assunto eu fui participar. O Facebook foi superimportante, pois,

os que participaram foram pelo Facebook.

Entrevistado 06: Fiquei sabendo pelo Facebook, por pessoas que têm

interesse pela educação, e foi legal ver todos os grupos, desde jovens com vários

interesses diferentes. Lidar com juventude é um processo, nem todos estão

vinculados a uma causa.

Entrevistado 07: Fiquei sabendo pelo Facebook e participei em Americana;

eu me senti arrepiada, pois nunca tinha visto nada igual. Não continuei, pois não tive

como, por motivo de horário.

Entrevistado 08: Tinha participado de muitas, como de animais, em 2013

em São Paulo e Santa Barbara D’oeste. Vendo as contradições, com a TV ligada

falando uma coisa, vendo que a realidade é outra, fiquei sabendo que em Piracicaba

iria ter e não vi nada em Americana. Comecei a mobilizar amigos para que isso

acontecesse. Sou organizador de eventos e fiquei planejando com os moldes que

conheço. Fomos à Polícia para avisar como seria feito o percurso. Ver tudo aquilo

acontecendo foi demais. Assustei quando vi no Face que 8.000 pessoas haviam

confirmado; achei que iriam uma 200… o que mudou é que hoje até os policiais me

cumprimentam, eu vi que tínhamos feito uma coisa grandiosa. Não é de brincadeira;

pesquisamos toda a legislação para ver o que poderia ser feito, eu fui preso duas

vezes, picharam a minha casa, colocaram uma bateria de rojões que quebrou os

Page 89: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

88

vidros de casa. Se as pessoas, mesmo com um grupo pequeno conseguem mudar,

imagina uma quantidade maior de gente? Eu nunca fiz nada de errado e sai de

camburão algemado, é punk. Mas, valeu a pena. Muitos hoje me respeitam e vêm

me elogiar.

Entrevistado 09: Não participei de nenhuma, até fiquei sabendo, mas não

fui, não queria ir por ir. Fique sabendo pelo Facebook, até um amigo que mora fora

do País me convidou para a segunda manifestação. Acompanhei uma próxima da

faculdade.

7. Participa ou é membro de algum grupo?

Entrevistado 01: Eu estou no grupo de Nova Odessa, mas a seção da

Câmara Municipal é às 18h e por isso não consigo ir.

Entrevistado 02: Pela seção da Câmara Municipal eu ouço porque preciso,

pois, trabalho com isso. Mas não participo de nenhum grupo.

Entrevistado 03: Fisicamente não, só pela internet.

Entrevistado 04: Participo do “Pula Catraca” de Americana; fui ao primeiro

ato e não participava, mas, depois comecei a me envolver pela detenção de um

amigo que foi totalmente arbitrária. E comecei a ter acesso aos documentos da

cidade com todos os problemas.

Entrevistado 05: Participo de grupos virtuais e físicos, mas não estava tão

envolvido, só participava por participar, comecei a ir à Câmara Municipal de

Americana e depois a participar e a interagir com o grupo depois que as coisas

começaram a esfriar, fiz o caminho inverso.

Entrevistado 06: Participo da UNE e em outras representações também.

Entrevistado 07: Não participo de nenhum grupo, mas sempre vejo o que

postam, principalmente da causa animal.

Entrevistado 08: Virtualmente participo de alguns grupos de debate, faço

parte do Conselho de Cultura há 7 anos; agora estou envolvido com o “Pula

Catraca” e tenho me empenhado o máximo de tempo possível com isso. Eu já

cheguei até a receber documentos de uma pessoa que nem sabia quem era, ai você

começa a ver a amplitude das coisas, você acompanha no jornal e vê a população

sofrendo. Você ver tudo isso e não fazer nada, é como se você estivesse

Page 90: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

89

cometendo um crime, sendo cúmplice e deixando tudo acontecer. Sofri grande

repressão, mas agora é difícil sair, é procurar achar um meio termo.

Entrevistado 09: Fisicamente não participo de nenhum grupo. Só pelo face,

em alguns grupos.

Análise da Categoria Participação e Envolvimento nas

Manifestações:

5. Qual é a sua opinião sobre as Manifestações que ocorreram em Junho de 2013 e ainda continuam ocorrendo?

Todos os entrevistados foram unânimes ao afirmarem que esta Mobilização,

que aconteceu em 2013, foi muito válida, importante e grandiosa e que o Brasileiro

acordou, pois descobriu que tem voz ativa na sociedade caso queira participar e se

envolver.

Uma frase a ser destacada foi apresentada pelo Entrevistado 04 que disse: o

“conformismo é inimigo da liberdade e consequentemente carcereiro do progresso”.

A frase mostra que este jovens não estão conformados com tudo o que está

acontecendo e que estão lutando pelos direitos. Também, que não irão desistir tão

fácil, mesmo com ameaças.

6. Você participou de alguma manifestação em 2013? Onde? Lembra do

dia e cidade? Antes das manifestações iniciadas em Junho de 2013 você já havia participado de alguma outra manifestação de rua? Se afirmativo, cite qual foi.

Todos ficaram sabendo pela internet e Facebook e 5 dos 9 entrevistados

participaram. Foi possível perceber no semblante de cada um a alegria em ver as

manifestações acontecendo, pois, a maioria só tinha visto ou por livro ou mesmo em

vídeos estas Manifestações. E, agora, poder participar e contribuir foi algo que, com

certeza, marcou a vida deles e alguns até passaram a se dedicar a isso.

Page 91: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

90

Pode-se perceber que o conceito de espaço híbrido apresentado por

Castells (2013) está presente nestas manifestações das cidades da região de

Americana-SP, pois, toda a movimentação se iniciou nas redes sociais da internet e

depois passaram a ocupar os espaços urbanos com a tomada de áreas públicas.

7. Participa ou é membro de algum grupo?

Todos os entrevistados participam de grupos pela internet e os Entrevistados

04, 05, 06 e 08, participam de grupos também fora da internet para organizar as

manifestações. O Entrevistado 06 participa da UNE – União Nacional dos

Estudantes.

Manuel Castells (2013) afirma, como apontamos no capítulo 22, que a

origem destes movimentos sociais está ligada intimamente às injustiças sociais e

estas injustiças estiveram presentes na fala destes entrevistados durante o grupo de

discussão.

Categoria Tecnologia e Redes Sociais:

As respostas foram transcritas na íntegra.

2. Tem acesso à internet 3G no celular?

Todos os nove entrevistados afirmaram possuir acesso à internet no celular.

3. Qual Aplicativo de redes sociais mais acessa no celular?

Entrevistado 01: Facebook, Snapchat

Entrevistado 02: Whatsapp, Facebook e Instagram

Entrevistado 03: Whatsapp, Facebook

Entrevistado 04: Whatsapp, Facebook

Entrevistado 05: Whatsapp, Facebook

Entrevistado 06: Facebook

Page 92: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

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Entrevistado 07: Whatsapp, Facebook

Entrevistado 08: Whatsapp, Facebook

Entrevistado 09: Whatsapp, Facebook

4. Qual o tema das mensagens?

Entrevistado 01: “Vem pra rua Nova Odessa”. Fui pesquisar e resolvi ir.

Tentei chamar minha mãe e meu pai, mas não quiseram ir. Vi que era algo real e fiz

de tudo para argumentar que valia a pena. Compartilhei pelo Facebook e no boca a

boca.

Entrevistado 02: Recebi convites pelo Facebook, entrei no “Pula Catraca”.

Entrevistado 03: Vi pelo “Pula Catraca” e compartilhava.

Entrevistado 04: Vi pelo Facebook do “Pula Catraca”, observei que este

grupo “Pula Catraca” não queria só pular a catraca do ônibus, isso seria um nome

até impróprio, porque são as barreiras encontradas na vida. Meu pai é um político da

região que falou, você está louca!

Entrevistado 05: A mensagem que o que estava acontecendo nas capitais

foi o que levou a participar. A página do “Pula Catraca”, foi importante para

organizar, vai ser assim, vai começar de tal lugar. A manifestação é pacifica, não era

a realidade de Americana a questão do transporte, mas sim a realidade política da

cidade.

Entrevistado 06: Compartilhei os temas de meu interesse como a

Educação.

Entrevistado 07: Por rede social eu não compartilhei nada; recebi vários

convites. A mensagem era a que estava rolando na mídia.

Entrevistado 08: Fui eu que criei o evento, quando terminei de montar o

convite já tinham 10 pessoas confirmadas, depois de uma hora mais de 100. Por

organizar eventos sei que, normalmente, 1/3 dos confirmados aparecem no dia.

Quando fui dormir 200 já tinha confirmado, quando acordei mais 1000 tinha

confirmado. Eu, se convido alguém para ir a algum lugar, significa que eu estou

envolvido. O conhecimento que tenho de comunicação social ajudou muito a

organizar o evento. Eu acordava com jornalista me ligando; fui a todos os programas

possíveis, dei coletiva de imprensa na PM. Foi uma experiência muito bacana. Essa

mensagem, “Vem pra rua” tem que ficar para sempre.

Page 93: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

92

Entrevistado 09: O que achava interessante eu compartilhava, recebi vários

convites, fique sabendo por amigos que me convidavam.

13. Apresentação da Capa dos dois jornais da região durante as

manifestações: “Todo Dia” e “O Liberal”. Após a observação das Capas cada uma apresentou a sua opinião sobre essas capas de uma mídia tradicional e off-line como o jornal.

08/06/2013

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93

09/06/2013

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13/06/2013

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14/06/2013

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15/06/2013

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18/06/2013

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19/06/2013

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20/06/2013

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22/06/2013

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102

Respostas da Questão 13: Entrevistado 01: Em Nova Odessa o jornal é para o governo e não noticiou

nada.

Entrevistado 02: O Liberal não mostrou muita coisa.

Entrevistado 03: O que eu pude perceber é que O Liberal focava mais em

Americana e o Todo Dia mais na região.

Entrevistado 04: Das Capas que você mostrou me causou estranheza,

porque quem faz uma cobertura em questão de movimentação em Americana é o

23/06/2013

Page 104: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

103

jornal O Liberal que é contra a atual Administração. O Todo Dia não deixa de

mostrar notícia, porém, ele não dá ênfase ao que acontece na cidade.

Entrevistado 05: O Todo Dia noticia os protestos na região, enquanto O

Liberal foca nas manifestações quando passa a ser uma manifestação na cidade. Os

públicos são diferentes.

Entrevistado 06: Não leio os dois; o Todo Dia apresenta mais a notícia por

ser regional.

Entrevistado 07: Concorda com os entrevistados anteriores. Mas, no geral,

a mídia é muito manipuladora e acredita na importância da internet e nas redes

sociais, lá está exposto tudo e cada um tira as suas próprias conclusões.

Entrevistado 08: São diferentes, mas quando chegou a nova administração,

o prefeito optou por trabalhar com o Todo Dia como veículo principal; lá ele vai fazer

a sua defesa, vai divulgar todos os seus editais e fazer todas as suas publicidades.

Na administração anterior a publicidade era dividia entre os dois veículos. Nesta foi

diferente, o Todo Dia até divulga a notícia, mas tenta deixar de forma mais suave,

mas, como a prefeitura está falida, não tem mais dinheiro para fazer o pagamento

dos jornais. O Todo Dia virou um O Liberal. Se continuar a ver as capas mais para

frente, o ataque também vem do Todo Dia. São as Prefeituras que bancam os

jornais nas cidades pequenas. O rompimento com o jornal Todo Dia foi em Outubro

de 2013.

Entrevistado 09: Desde quando entrou a nova administração não é

surpresa para ninguém a forma diferenciada na forma de reportar as notícias; foi até

de se estranhar devido a esta diferença na época, até então, nas mensagens.

Análise da Categoria Tecnologia e Redes Sociais:

2.Tem acesso à internet 3G no celular?

Todos os entrevistados têm acesso à internet 3G pelo celular o que facilita

muito a comunicação entre eles, bem como na rápida divulgação de informações,

fotos e etc..

Esta presença da tecnologia e acesso à internet foi o que vimos no capítulo

2 no Gráfico 1 – Evolução do Tempo com Relação à Tecnologia de Comunicação. Nele

Page 105: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

104

pode-se notar que a internet demorou só 5 anos para ter 50 milhões de usuários e o

Facebook só dois anos para chegar ao mesmo número.

Também apresentamos no capítulo 2 uma pesquisa feita por Castells que

destaca os celulares com conexão à internet como facilitadores para a comunicação

entre os manifestantes. Segundo Castells (2013, p.24), “em novembro de 2010, na

Tunísia, 67% da população urbana tinham acesso a um celular e 37% estavam

conectados à internet”.

Dentre os entrevistados no grupo focal percebeu-se que este índice foi muito

maior e chegou a 100% de celulares com acesso à internet e 100% conectados à

internet.

3.Qual Aplicativo de redes sociais mais acessa no celular?

Todos os entrevistados têm acesso à internet e hoje quase todos os

aparelhos de celulares utilizados pelos jovens são smartphones e tem sistemas que

fazem os aplicativos funcionarem; a conexão está na palma da mão de cada um.

Entre os aplicativos mais utilizados estão o Facebook que todos os

entrevistados responderam que utilizam e em segundo lugar um aplicativo que se

tornou rapidamente um sucesso que é o Whatsapp, que foi citado por sete dos nove

entrevistados e que é uma ferramenta de comunicação que utiliza a internet com

mensagens de texto, foto, vídeo e etc.. O Entrevistado 01 disse que utiliza o

Snapchat que é muito parecido com o Whatsapp.

Com relação à rede social foi possível perceber que o Facebook até então é

uma unanimidade entre os entrevistados, o que valida a informação que o Brasil é o

2º país com mais usuários que entram diariamente no Facebook e têm em 2014 61,2

milhões de usuários.

No momento de construção desta análise, dia 04 de fevereiro de 2014, o

Facebook está comemorando 10 anos de existência e o números mostram que a

rede conta atualmente com 1,19 bilhão de usuários e é a maior rede social do

mundo. Rede que inicialmente foi feita para os alunos da Universidade de Havard e

que se tornou um ponto de encontro para as pessoas conversarem e até mesmo

para organizarem movimentos sociais.

4. Qual o tema das mensagens?

Page 106: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

105

Em Americana e nas cidades da região a mensagem era: “Vem Pra Rua”,

diferente de São Paulo que eram os “R$ 0,20” em relação ao transporte e em Nova

York pelo movimento que ficou conhecido como Occupy Wall Street, composto pelos

99% indignados contra 1% que controla a riqueza do país.

Com esta mensagem “Vem Pra Rua” os organizadores dos movimentos

motivaram os seus seguidores a irem para a rua e manifestarem a sua indignação;

independente do motivo o importante era mostrar para os governantes que eles

estavam descontentes e ansiosos por mudanças.

13. Apresentação da Capa dos dois jornais da região durante as

manifestações: “Todo Dia” e “O Liberal”. Após a observação das Capas cada uma apresentou a sua opinião sobre essas capas de uma mídia tradicional e off-line como o jornal.

A Proposta de apresentar os dois jornais da cidade de Americana e

comparar as suas capas surgiu para verificar, em primeiro lugar, se estes jovens que

estão totalmente conectados nas redes sociais conhecem o que a mídia tradicional

como o jornal escreveu e colocou como manchete e, em segundo lugar, para

verificar e comparar o que os dois veículos apresentaram.

O jornal O Liberal é um veículo da cidade de Americana/SP e divulga

somente os fatos da cidade, enquanto o jornal Todo Dia também é da cidade, mas

dá ênfase às cidades da região com notícias de quase toda a Região Metropolitana

de Campinas (RMC).

Este fato dos jornais serem da cidade, mas terem o foco diferenciado foi

unânime entre os entrevistados. Contudo, o que chamou muito a atenção foi o fato

de o jornal O Liberal demorar em noticiar as manifestações. Somente quando foi

muito forte a presença nas ruas é que eles deram um destaque maior à

manifestação.

O Entrevistado 07 disse que a mídia é muito manipuladora e, por isso, a

importância de verificar as informações nas redes sociais.

Os Entrevistados 04, 08 e 09 apontaram que o jornal Todo Dia até então foi

o escolhido da administração municipal atual par divulgar todos os editais, concursos

e também a sua publicidade; que nas administrações anteriores tudo era dividido

Page 107: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

106

entre os dois jornais. Com este fato explica-se O Liberal ser considerado a oposição

ao governo da atual administração. O Todo dia, para os entrevistados, não deixou

de divulgar as notícias, mas, não deu ênfase ao que acontecia de fato na cidade.

Com apresentou Castells em seu livro:

E é nesse mundo que os movimentos sociais em rede vieram à luz, numa transição – natural, para muitos indivíduos – do compartilhamento de sua sociabilidade para o compartilhamento de sua indignação, de sua esperança e de sua luta. (CASTELLS, 2013, p.137).

14. O que você acha de participar de um projeto que é realizado no

curso de Publicidade e Propaganda, do UNISAL, dentro da disciplina de Comunicação Multimídia no quarto semestre? O trabalho consiste em cada grupo “Adotar uma ONG” e cuidar da comunicação digital dela com a

sociedade. Os trabalhos realizados em dois meses e o seu lançamento sempre é feito durante a semana de Publicidade e Propaganda no segundo semestre de cada ano.

Entrevistado 01: Algumas ONG’s têm ajuda, mas, sobrevivem de doações

de pessoas e empresas; elas fazem um papel que, em minha opinião, deveria ser do

governo. Falta um incentivo público. A ONG que fiz foi o Centro de Convivência

Infantil (CCI) de Sumaré que não tinha Facebook e agora eles conseguem colocar

as informações que eles estão precisando. Antes disso, por exemplo, eles recebiam

seis cestas básicas, mas estavam precisando de roupas. Nossa equipe deu um

direcionamento e eles mesmos postam as informações todo semana.

Entrevistado 09: Meu grupo trabalhou com idosos em Nova Odessa; a

prefeitura deveria ajudar mais, pois, eles dependem de voluntários. Foi massa o

trabalho, conhecer a história e dificuldades deles e ver como pequenos gestos são

importantes para eles.

Entrevistado 03: Meu grupo trabalhou com os “Anjos da Alegria” e o

objetivo foi agregar mais pessoas ao Facebook. O que eu pude ver dos outros

grupos é que gerou curiosidade das pessoas de fora que não conheciam o trabalho

e sei que até hoje algumas pessoas continuam ajudando as ONG’s, mesmo depois

que o trabalho terminou, porque conheceram aqui no UNISAL. Na apresentação

durante a semana de Publicidade e Propaganda, as pessoas se sentiram

Page 108: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

107

sensibilizadas e até hoje ajudam e foi muito importante. Acho que é um trabalho que

deveria se perpetuar, porque agrega muito ao nosso conhecimento e também para

as ONG’s. Até hoje uma integrante do nosso grupo faz a manutenção da Fan Page

deles, o “Lar dos Velhinhos” e a “Casa de Dom Bosco” não tinha Fan Page e agora

tem, isso abriu uma oportunidade das pessoas de fora conhecerem e ajudarem

estas Instituições.

4.9.Considerações sobre a Pesquisa Realizada

Com base em tudo o que foi exposto foi possível levantar alguns pontos

positivos e negativos.

Dentre os pontos positivos da pesquisa estão: - a atualidade do tema o que

ajudou muito em todos os sentidos, pois estas manifestações ainda estavam

presentes na memória dos entrevistados; - a bibliografia indicada pela banca

examinadora e pelo orientador que contribuíram muito para compreender o tema em

questão; - a qualidade da gravação ajudou para que as informações fossem

repassadas da melhor forma; - as orientações da banca, em relação ao foco do

trabalho, também foram fundamentais para chegar até aqui.

Os pontos negativos aconteceram no início do trabalho até descobrir que a

relevância não estava no uso das redes sociais e sim em conhecer como estas

redes poderiam contribuir para a educação e cidadania.

Foi uma surpresa observar o quanto estes jovens estão interessados e por

dentro do que está acontecendo em nosso país; do mesmo modo, pelo despertar

que as manifestações provocaram neste grupo ao ponto de muitos se envolverem

depois de Junho de 2013. Estes continuam cobrando dos políticos as respostas para

os problemas atuais das cidades; o envolvimento em ONG’s e partidos políticos

também chamou a atenção, visto o envolvimento de alguns deles com estas

entidades.

Com a finalização da pesquisa recomenda-se como sugestão para trabalhos

futuros que ela continue a ser trabalhada por interessados em conhecer as coisas

que estão por vir, pois na fala dos entrevistados isso o que aconteceu foi só uma

mostra do que está por vir.

Page 109: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

108

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi feito neste estudo um levantamento histórico acerca dos movimentos

sociais no Brasil e no mundo, iniciando com a juventude no Brasil em 1968, até

chegar às novas formas de comunicação do século XXI que incluem as redes

sociais digitais.

O levantamento apontou que esta nova era de mobilizações se iniciou na

grande onda desses movimentos sociais que aconteceram na Tunísia, passando

pelo Egito até chegar ao Brasil em junho de 2013.

Um estudo bibliográfico foi realizado, em livros, artigos e reportagens em

meio eletrônico nos três capítulos e o quarto capítulo foi construído a partir de uma

pesquisa de grupo focal com alunos, ex-alunos do UNISAL/ Americana/SP e

também com pessoas que participaram das manifestações nas cidades de

Americana e região.

No estudo bibliográfico, foi possível verificar que as redes sociais tiveram um

papel fundamental em todos estes movimentos sociais que ocorreram no mundo.

Na pesquisa de grupo focal, além da importância das redes sociais nas

manifestações, houve questionamento ao grupo , com nove entrevistados, se estas

redes poderiam ter um papel importante na cidadania das pessoas. A resposta

surpreendeu, pois houve o envolvimento dos entrevistados, não só em se

organizarem pelas redes sociais da internet e depois se encontrarem nos espaços

públicos para reivindicarem os seus direitos, mas parte do grupo entrevistado

passou a se interessar pelas questões políticas e sociais das suas cidades, bem

como passaram a se envolver e participar de ONG’s, partidos políticos e a criarem

um grupo que vai a quase todas as sessões da Câmara Municipal de Americana

cobrar dos vereadores o seu papel de fiscalizador do executivo, no caso a Prefeitura

Municipal de Americana.

As redes sociais têm sim um papel fundamental não só na divulgação e

comunicação entre as pessoas, mas, também, como foi verificado na análise das

respostas do grupo focal, podem ter um papel fundamental na participação dos

indivíduos como cidadãos, onde cada um tem a oportunidade de conhecer os seus

direitos e deveres e também de inspirá-los a buscarem os seus interesses utilizando

os encontros e as mobilizações para isso.

Page 110: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

109

Mesmo aqueles entrevistados que não se envolveram tão diretamente,

foram despertados a entenderem a importância de irem atrás de assuntos atuais que

estão acontecendo nas cidades e passaram a se preocupar com os problemas das

pessoas que não sabem mais o que fazer para terem seus direitos respeitados.

Disse um dos entrevistados:

Ser cidadão é deixar de ser egoísta; cada um tem condições de voz e deve usá-la, mas não legislar em causa própria, pois, às vezes, as condições que nós na sociedade criamos não são favoráveis para o outro. Ser cidadão, é lutar pelo outro, pode te favorecer, mas às vezes não. (Entrevistado 08).

E esta reposta tem muito a ver com o que Gomes (2008) afirma em relação

à educação sociocomunitária que busca não só solucionar os problemas, mas, sim

construir articulações políticas expressas em ações educativas que provoquem

transformações sociais.

Outro ponto importante nas respostas dos entrevistados foi com relação à

mídia tradicional como os jornais da cidade; todos os entrevistados sabem muito

bem compreender o que cada mídia está mostrando em termos de conteúdo, bem

como compará-las com a realidade dos fatos.

Page 111: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

110

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Page 115: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

114

APÊNDICE A – Pesquisa socioeconômica no Google Drive

NÚMERO?

1. Gênero:

Masculino.

Feminino. 2. Idade:

14 a 24 anos.

25 a 30 anos.

31 a 39 anos.

40 anos ou mais. 3. Grau de Escolaridade:

Ensino Fundamental.

Ensino Médio ou Técnico.

Ensino Superior Cursando.

Ensino Superior Completo.

Ensino de Pós-Graduação. 4. Em qual cidade reside?

Americana.

Santa Bárbara d'Oeste.

Nova Odessa.

Sumaré.

Hortolândia.

Piracicaba.

Page 116: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

115

Outro: 5. Trabalho:

Trabalha.

Não Trabalha.

Desempregado.

Autônomo.

Aposentado. 6. Tempo de Trabalho

De 1 mês a 11 meses.

De 1 a 3 anos.

De 4 a 8 anos.

De 8 a 15 anos

Acima de 15 anos. 7. Renda Mensal:

Até 2 Salários Mínimos.

Entre 2 e 5 Salários Mínimos.

Entre 5 e 10 Salários Mínimos.

Acima de 10 Salários Mínimos.

Page 117: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

116

APÊNDICE B – Etapa IV – Roteiro Norteador da Discussão

Este roteiro semiestruturado está composto de 14 questões, sendo que as

quatro primeiras questões foram simples e do dia a dia dos participantes, e tiveram o

objetivo de estreitar a relação entre o grupo e também de descontração.

2. Qual o último Livro que você leu?

3. Tem acesso à internet 3G no celular?

4. Qual Aplicativo de redes sociais mais acessa no celular?

5. Qual o tema das mensagens?

6. Qual é a sua opinião sobre as Manifestações que ocorreram em Junho

de 2013 e ainda continuam ocorrendo?

7. Você participou de alguma manifestação em 2013? Onde? Lembra do

dia e cidade? Antes das manifestações iniciadas em Junho de 2013 você já havia

participado de alguma outra manifestação de rua? Se afirmativo, cite qual foi.

8. Participa ou é membro de algum Grupo?

9. Você acha que essas manifestações conseguiram promover as

mudanças que você reivindica? Se sim, quais?

10. Alguém passou a se dedicar ou a se interessar pelas funções dos

conselhos, que atualmente existem, inclusive do ponto de vista legal, para fazer

vigorar a participação dos cidadãos em suas comunidades?

11. O que é Democracia para você?

12. A Constituição da República Federativa do Brasil apresenta a cidadania

como um dos seus fundamentos, logo no Art. 1º.

Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

Page 118: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

117

V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Com base nesses princípios fundamentais, para você o que é Cidadania?

12. Como as redes sociais podem ser um instrumento de educação e

cidadania?

13. Apresentação da Capa dos dois jornais da região durante as

manifestações: “Todo Dia” e “O Liberal”. Após a observação das Capas cada uma

apresentou a sua opinião sobre essas capas de uma mídia tradicional e off-line

como o jornal.

14. O que você acha de participar de um projeto que é realizado no curso de

Publicidade e Propaganda, do UNISAL, dentro da disciplina de Comunicação

Multimídia no quarto semestre? O trabalho consiste em cada grupo “Adotar uma

ONG” e cuidar da comunicação digital dela com a sociedade. Os trabalhos

realizados em dois meses e o seu lançamento sempre é feito durante a semana de

Publicidade e Propaganda no segundo semestre de cada ano.

Page 119: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

118

ANEXO A – Etapa II – Apresentação do Perfil dos Entrevistado

1. Gênero:

Masculino 5 56%

Feminino 4 44%

Gráfico 2 – Gênero dos Entrevistados

Fonte: Elaborado pelo Autor

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119

2. Idade:

14 a 24 anos. 4 44%

25 a 30 anos. 5 56%

31 a 39 anos. 0 0%

40 anos ou mais. 0 0%

Gráfico 3 – Idade dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor

Page 121: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

120

3. Em qual cidade reside?

Americana 8 89%

Santa Bárbara D'oeste 0 0%

Nova Odessa 1 11%

Sumaré 0 0%

Hortolândia 0 0%

Piracicaba 0 0%

Outros 0 0%

Gráfico 4 – Cidade de Residência dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor

Page 122: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

121

4. Grau de Escolaridade:

Ensino Fundamental 0 0%

Ensino Médio ou Técnico 1 11%

Ensino Superior Cursando. 5 56%

Ensino Superior Completo 3 33%

Ensino de Pós-Graduação 0 0%

Gráfico 5 – Grau de Escolaridade dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor

Page 123: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

122

5. Trabalho:

Gráfico 6 –Trabalho dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor

Trabalha. 7 78%

Não Trabalha. 0 0%

Desempregado. 0 0%

Autônomo. 2 22%

Aposentado. 0 0%

Page 124: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

123

6. Tempo de Trabalho:

De 1 mês a 11 meses. 1 11%

De 1 a 3 anos. 3 33%

De 4 a 8 anos. 2 22%

De 8 a 15 anos 3 33%

Acima de 15 anos. 0 0%

Gráfico 7 – Tempo de Trabalho dos Entrevistados

Fonte: Elaborado pelo Autor

Page 125: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

124

7. Renda Mensal:

Gráfico 8 – Renda Mensal dos Entrevistados Fonte: Elaborado pelo Autor

Até 2 Salários Mínimos. 7 78%

Entre 2 e 5 Salários Mínimos. 2 22%

Entre 5 e 10 Salários Mínimos. 0 0%

Acima de 10 Salários Mínimos. 0 0%

Page 126: REDES SOCIAIS E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA

125

ANEXO B – Etapa III – Apresentação do Perfil dos Entrevistado

Entrevistado Gênero Idade Cidade Grau de Escolaridade

01 Masculino 14 a 24 anos Nova Odessa Superior Cursando

02 Feminino 14 a 24 anos Americana Superior Completo

03 Masculino 25 a 30 anos Americana Superior Cursando

04 Feminino 25 a 30 anos Americana Superior Completo

05 Masculino 25 a 30 anos Americana Ensino Médio ou Técnico

06 Masculino 14 a 24 anos Americana Superior Cursando

07 Feminino 14 a 24 anos Americana Superior Cursando

08 Masculino 25 a 30 anos Americana Superior Completo

09 Feminino 25 a 30 anos Americana Superior Cursando

Quadro 1 – Informações dos Entrevistados

Fonte: Elaborado pelo Autor