rede são paulo de - acervo digital: home 01049-010 – são paulo – sp tel.: (11) 5627-0561 ......

19
Rede São Paulo de Cursos de Especialização para o quadro do Magistério da SEESP Ensino Fundamental II e Ensino Médio São Paulo 2011

Upload: trinhdieu

Post on 23-May-2018

218 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • Rede So Paulo de

    Cursos de Especializao para o quadro do Magistrio da SEESP

    Ensino Fundamental II e Ensino Mdio

    So Paulo

    2011

  • UNESP Universidade Estadual PaulistaPr-Reitoria de Ps-GraduaoRua Quirino de Andrade, 215CEP 01049-010 So Paulo SPTel.: (11) 5627-0561www.unesp.br

    Governo do Estado de So Paulo Secretaria de Estado da EducaoCoordenadoria de Estudos e Normas PedaggicasGabinete da CoordenadoraPraa da Repblica, 53CEP 01045-903 Centro So Paulo SP

  • As prticas de produo, difuso e mediao na contemporaneidade

    Cindy Sherman, http://folksonom

    y.co/?permalink=1052

  • sumrio tema ficha

    SumrioVdeo da Semana ...................................................................... 3

    As prticas de produo, difuso e mediao na contemporaneidade .......................................................................3

    3.1 - Do modernismo ao ps-modernismo no ensino de arte ....................4

    3.2 - Difuso e mediao na contemporaneidade .......................................8

    Ampliando o conhecimento .................................................... 11

    Referncias bibliogrficas ........................................................ 12

  • 3

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    Vdeo da Semana

    As prticas de produo, difuso e mediao na contemporaneidadeAs mudanas de paradigmas no campo da arte na contemporaneidade implicam mudanas

    tambm nos modos de distribuio das produes artsticas e, sobretudo, nos modos de media-o. Para se pensar em estratgias de mediao mais eficazes e elaborar compreenses mais ade-quadas para as produes contemporneas, importante apreender as transformaes atualmen-te em curso no campo social e cultural, captar o que j mudou e o que continua a mudar. Nicolas Bourriaud (2009, p. 16), escritor e crtico de arte contempornea francs, coloca deste modo a questo: Como entender os comportamentos artsticos manifestados nas exposies dos anos 1990, e seus respectivos modos de pensar, a no ser partindo da mesma situao dos artistas?.

  • 4

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    A tarefa entender a situao da arte atual, entendendo o contexto em que atuam seus pro-dutores, para estabelecer processos de mediao mais adequados. Ana Mae Barbosa (1995) alerta que ser contemporneo de si mesmo o mnimo que se pode exigir de um arte/educador.

    No primeiro tpico, vamos enfrentar as mudanas de paradigmas no campo da arte e seus efeitos no campo da arte/educao, tendo como referncia as consideraes de Arthur Efland, pesquisador norte-americano que vem contribuindo com atualizaes para o ensino de artes. No segundo tpico, a partir das mudanas de paradigmas, vamos refletir sobre as questes da difuso e mediao na contemporaneidade.

    3.1 - Do modernismo ao ps-modernismo no ensino de arteRetomando as questes estudadas na segunda disciplina do Curso, quando adentramos as

    histrias e metodologias do ensino de artes, poderamos nomear este tpico de: da arte como expresso arte como cultura. Voltamos a insistir nesta passagem de tempos e de concep-es, porque acreditamos que esta uma passagem ainda em curso. Os trnsitos conceituais e tericos, as radicais mudanas dos paradigmas positivistas para paradigmas contextualistas implicam em mudanas profundas no modo de estabelecer relaes com o mundo e com os conhecimentos. difcil se desvencilhar das crenas modernistas, da ideia de progresso e me-lhoria das condies de vida que implicariam em uma sociedade melhor e mais evoluda. Em vez de levar desejada emancipao, o tal progresso do mundo moderno tem induzido mais explorao e mais desigualdades. Mesmo sem identificar as razes de tal descontrole, o des-conforto que todos sentem tem gerado inmeras formas de melancolia.

    No campo da arte, o alto modernismo tentou elevar as produes artsticas para alm de suas condies de produo, instaurando o lema da arte pela arte, fechando o campo da arte sobre si mesmo, excluindo ou ignorando o mundo a sua volta, at que se proclamou a morte da arte como pice do hermetismo desta operao. No entanto, antes da anunciada morte, o modernismo alargou o campo das produes artsticas instaurando novas possibilidades em direes muitas vezes conflitantes, como identifica Bourriaud (2009, p. 16):

    Assim, o sculo XX foi palco de uma luta entre trs vises de mundo: uma concepo racionalista-modernista derivada do sculo XVIII, uma filosofia da espontaneidade e da liberao atravs do irracional (dadasmo, surrealismo, situacionismo) e ambas se opondo s foras autoritrias ou utilitaristas que pretendiam moldar as relaes humanas e submeter os indivduos.

  • 5

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    H repercusso das trs vises identificadas pelo autor como tendncias de ensino de arte na modernidade, entre estas, as Artes Aplicadas ou Artes Industriais, a Educao pela Arte e, finalmente a Educao Artstica.

    Diante de to diversas nomeaes que o campo do ensino de arte comporta, se faz necess-rio situar a transio do modernismo para, o que alguns tericos nomeiam de ps-modernis-mo, pois esta passagem complexa e afeta profundamente as propostas educacionais.

    Arthur Efland (2008, p. 179-180) faz um quadro com contrastes entre vises de arte mo-derna e ps-moderna aproximando as questes do ensino de artes. Reproduzimos aqui este quadro-resumo para ajudar a nos situar neste processo reflexivo.

    Tpico Modernismo Ps-Modernismo

    Natureza da arte

    A arte um objeto esteticamente nico, que deve ser estudado isoladamente de

    seu contexto especfico

    A arte uma forma de produo cultural que deve ser estudada dentro de seu

    contexto.

    Viso de Progresso

    Como todos os empreendimentos humanos, a arte engendra progresso.

    Progresso uma grande narrativa desdobrando-se no tempo. O estudo deveria organizar-se em torno desta

    narrativa.

    No h progresso, apenas trocas, com avanos numa rea s custas de outras reas. O estudo deveria organizar-se em

    torno de narrativas mltiplas.

    Vanguarda

    O progresso possvel graas atividade de uma elite cultural. A educao deveria possibilitar s

    pessoas apreciarem as contribuies dessa elite sociedade.

    A autoridade autoproclamada das elites est aberta a questionamentos. O

    estudo deveria dar destaque crtica, dando possibilidade aos alunos de levantarem questes pertinentes.

    Tendncias Estilsticas

    Estilos abstratos e no-representacionais so preferidos em

    detrimento de estilos realistas. Os estudantes devem ser encorajados a experimentar com estilos abstratos e

    conceituais.

    O realismo aceito mais uma vez. Estilos eclticos so evidentes. Os

    estudantes tm a permisso de escolher entre os vrios estilos e us-los isoladamente ou em conjunto.

    Universalismo versus

    Pluralismo

    Toda variao esttica pode ser reduzida ao mesmo conjunto universal

    de elementos e princpios, e estes devem ser centrais ao ensino da arte.

    O pluralismo estilstico deve ser estudado para possibilitar que os alunos

    reconheam e interpretem diferentes representaes da realidade.

    Legenda: Contrastes entre Modernismo e Ps-modernismo (EFLAND, 2008)

  • 6

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    A Natureza da Arte - a primeira questo fundamental para definio da aborda-gem que se pode dar s ao educativas, sejam elas do ensino formal ou no-formal. A viso modernista exige que os objetos artsticos tenham caractersticas de exclusividade, um grau de excelncia definido, tanto pela sua originalidade, quanto pela pureza de sua composio formal (EFLAND, 2008, p. 177). O espectro de obras e objetos passveis de constiturem um currculo so pr-definidos pelo campo da arte, que por esta perspectiva se v como autnomo em relao aos contextos culturais. O isolamento das produes artsticas em museus onde so legitimadas, onde as referncias contextuais so apagadas, uma operao de suspenso que promove o dis-tanciamento da experincia de vida. Uma mediao nesta perspectiva vai reforar o distancia-mento, visto que no se tem elementos culturais para identificao e aproximao.

    A viso ps-moderna amplia o espectro de produes passveis de constiturem um curr-culo, no s as grandes obras, a arte instituda, mas todas as produes da cultura popular, da cultura de massa, da indstria cultural fazem parte de uma rede que se articula. Todo contexto cultural, em todas as pocas, do passado ao presente, comporta culturas visuais, culturas mu-sicais, culturas cnicas e dramticas que no foram eleitas para o crculo restrito da arte, mas que mantm estreitas relaes entre elas, entre produtores e consumidores, forjando compor-tamentos, alimentado processos de subjetivao e impondo ideologias.

    Se por um lado esta viso amplia e aproxima, conectando as produes com o resto da vida, por outro torna o trabalho do arte/educador e mediador bem mais complexo. A primeira difi-culdade a questo da seleo entre uma pluralidade difana de formas artsticas e aquilo que interessa ser estudado. O interesse pode ser um guia para seleo de temas e questes. A com-plexidade vai demandar tambm do educador e dos estudantes um extenso processo de pes-quisa e o exerccio do pensamento relacional e histrico. Este um dos maiores ganhos e saltos de qualidade do processo, a contemporaneidade demanda pensamentos em redes articuladas.

    Uma mediao baseada nesta viso vai buscar articular os objetos com suas condies de produo, assim como, dos contextos que os iluminam e dos contextos dos sujeitos que inte-ragem com as produes. So vrias camadas contextuais em movimento, se articulando, se sobrepondo, se complementando e tambm provocando atritos. Os significados e sentidos individuais e coletivos resultantes de uma mediao sob esta perspectiva abre amplas possibi-lidades de conhecer o mundo e a si mesmo.

  • 7

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    A Viso de Progresso - esta mudana de paradigma fundamental, pois vai incidir diretamente na grande narrativa da histria da arte que pauta muitos currculos. Entender que a Histria da Arte (com maiscula) uma construo histrica e social, fincada no paradigma do progresso, concebida para reforar a hegemonia dos valores do hemisfrio norte, construda pelo gnero masculino, ajuda a desconstruir um discurso que aponta para o sentido evolutivo do progresso, ou seja, para o entendimento de que as produes posteriores so melhores do que as anteriores. Os clssicos compndios de histria da arte incluem pouqussimos exem-plos, entre suas anlises, da arte do hemisfrio sul, de povos no europeus e de mulheres, por exemplo. A possibilidade de compreender as produes culturais a partir de mltiplas narrati-vas, ou seja, estimulando a produo de narrativas diversas a partir de diversos pontos de vista, enriquece a compreenso das produes e dos sentidos que elas podem concentrar.

    A Vanguarda - a ideia de vanguarda no campo da arte uma construo eminentemen-te modernista, ligada aos movimentos de expanso dos limites e possibilidades do campo e de suas expresses. A possibilidade de compreender o papel social dos vanguardistas como foras de subverso no campo de lutas das instituies artsticas, ajuda a desconstruir as au-ras criadas em torno de alguns personagens mitificados. importante perceber como a arte/educao modernista contribuiu e ainda contribui para reforar os mitos de uma vanguarda revolucionria, assim como, para estimular que se aceitem as novas ideias por elas proclama-das. Um processo de convencimento imposto pela legitimao do mito, no por compreenso dos processos implicados. O exerccio da compreenso crtica a proposta para reverter este processo de reproduo e de legitimao.

    As Tendncias Estilsticas - a super valorizao da abstrao pelo modernismo resultante da ideia de progresso na evoluo do campo da arte, como vimos acima. Na ps-mo-dernidade h uma retomada de vrios estilos anteriores que so revisitados sob outras perspecti-vas. O realismo, por exemplo, que havia sido banido do campo artstico modernista, retomado com sentidos de crticas sociais e culturais. Hoje a grande dificuldade para quem pretende situar a arte contempornea buscar encerra-la em estilos ou movimentos. O interessante buscar justamente identificar as diversas aluses e apropriaes operadas pelos produtores contempo-rneos. Sem as exigncias de exclusividade e de originalidade, a arte contempornea opera com ressignificaes, com apropriaes, com releituras, no h mais espao para definies estilsticas.

  • 8

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    O Universalismo versus Pluralismo - finalmente enfrenta-se a superao da ideia de universalidade impregnada pelo modelo hegemnico ocidental e europeu. O esforo para reduzir a arte a uns poucos elementos e princpios aplicveis a toda arte de qualquer lugar, exemplo modernista tipicamente ocidental (EFLAND, 2008, p. 179). Foram estabelecidas no sculo XX vrias gramticas das linguagens: visuais, musicais, cnicas, que pretendiam pau-tar, tanto as produes, quanto as leituras e interpretaes. Ao situar as produes artsticas em seus contextos, valorizam-se as particularidades culturais favorecendo a pluralidade de leituras e interpretaes.

    Diante das questes apontadas por Arthur Efland e comentadas acima, resta o exerccio contnuo de ateno e reflexo por parte dos educadores para compreender que no se trata da morte da modernidade, mas da superao de sua verso idealista e teleolgica, uma questo de superao de certezas e de no prevalncia de modelos universalizantes. A arte devia preparar ou anunciar um mundo futuro: hoje ela apresenta modelos de universos possveis (BOUR-RIAUD, 2009, p. 18).

    3.2 - Difuso e mediao na contemporaneidadeAqui vamos tecer relaes entre as mudanas de paradigmas analisadas no tpico anterior

    e os processos de difuso e mediao das produes culturais. Antes importante distinguir a difuso, que implica os meios e as mdias de transferncia de informao, e a mediao, que uma operao mais complexa de traduo que interfere na construo de sentidos da informa-o. As duas operaes esto necessariamente ligadas, pois h sempre uma parte de mediao nos processos de difuso, j que as mdias tambm interferem na construo de sentidos e h sempre difuso nos processos de mediao.

    importante situar que a questo da difuso e da mediao podem ser estudadas a partir do campo das cincias da comunicao, e que, em relao aos bens culturais, envolvem vrias mdias no processo de transferncia da informao. No entanto, interessa neste texto, trazer a questo para o campo da educao e da arte e, sobretudo, analisar as operaes levadas a cabo pelos mediadores humanos, em nosso caso, os educadores, pois eles atuam, tanto nas instncias de difuso, quanto nas de mediao.

    Segundo Bernard Darras (2009, p. 37), professor e pesquisador francs que trabalha sob a perspectiva da semitica pragmtica cognitiva e dos estudos culturais:

  • 9

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    A mediao da cultura (das culturas) ganha existncia no cruzamento de quatro entidades: o objeto cultural mediado; as representaes, crenas e conhecimentos do destinatrio da mediao; as representaes, crenas, conhecimentos e expertises do mediador e o mundo cultural de referncia.

    A mediao que acontece neste cruzamento tingida pelos valores sociais que a determi-nam, pelas concepes de arte e de cultura que pautam as aes. Por esta tica percebe-se que a mediao uma complexa operao e que nela subjazem as representaes valores e crenas dos envolvidos, assim como as expertises dos mediadores.

    Pensar em representaes e crenas no campo da arte o que estamos propondo desde a primeira disciplina deste Curso, buscando nos situar diante de nossos referenciais, de nossa histria, de nossa formao, de nossas prticas. Importa identificar as nossas representaes e crenas, pois elas orientam nossas aes educativas.

    Voltando a mediao cultural, Darras (2009, p. 37) distingui duas grandes abordagens. A primeira a mediao diretiva, que:

    Em sua forma mais pobre, fornece s um sistema interpretativo, impondo um nico tipo de compreenso do objeto cultural. Em sua forma mais rica, produz sistemas interpretativos que tentam se articular, ou no, e trabalhar em conjunto.

    Esta abordagem a que mais se aproxima da difuso, da transmisso de informaes e ten-de a fundamentar-se na perspectiva modernista, sobretudo em sua forma mais pobre, como qualifica Darras.

    A segunda abordagem a mediao construtivista, por diversos meios interrogativos, problemticos, prticos, interativos, ela contribui para o surgimento da construo de um ou vrios processos interpretativos pelo destinatrio da mediao (DARRAS, 2009, p. 38) e, acrescente-se, da mesma forma que pelo mediador. uma abordagem fundamentada no di-logo, em consonncia com as perspectivas no exclusivistas da ps-modernidade.

    Sejam diretivas ou construtivistas, as mediaes revelam os projetos de difuso das experi-ncias e conhecimentos da cultura e da arte. Por exemplo, qualquer que seja o acervo sob sua proteo, o museu como difusor um grande mediador que afeta autoritariamente os pro-

  • 10

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    cessos de mediao. Em relao ao mbito da educao patrimonial, Darras (2009) distingui tambm trs modos de difuso e de mediao:

    O primeiro modo de acesso s obras do tipo inato. Fundamenta-se na crena da universalidade da sensibilidade a partir da exposio s obras de modo direto, valorizando a inteligibilidade e conhecimento dos sujeitos. uma mediao elementar que se limita a favorecer o encontro. Uma atitude proselitista e acrtica e no hesita em fazer a promoo dos valores elitistas que presidem a constituio das obras e das colees (DARRAS, 2009, p. 44).

    O segundo modo de difuso reivindica a elevao dos espritos e o refinamento da sensibilidade pela frequentao. So as mediaes que tem como pressuposto a concepo de educao pela arte. uma atitude missionria (e um pouco colonialista) e tenta cooptar para suas teses humanistas todo o pblico, e particularmente os mais deserdados e os menos humanizados ou civilizados, por meio do encontro com as obras da alta cultura (DARRAS, 2009, p. 44). No primeiro e segundo modo, os mediadores, em sua maioria, ignoram os paradoxos da ideia de democratizao do elitismo e so frequentemente os encarregados de um processo de legitimao manipuladora.

    O terceiro modo de difuso tem como projeto a democratizao do domnio da arte e da alta cultura, pois considera que as grandes obras pertencem a todos e no devem se manter restrita elite que as produziu e possui. uma atitude crtica, pois entende que a constituio do patrimnio no neutra. Para se efetivar uma mediao nesta perspectiva necessrio refletir sobre os prprios processos de mediao, em direo a uma metamediao.

    Elas tem, portanto, a possibilidade de adotar todas em justaposio, mas tambm, e sobretudo, de confront-las. Com fins dialticos ou dialgicos e com interpretantes dialticos ou dialgicos, elas exploram os antnimos, as oposies, as contradies e as alternncias para nutrir e esclarecer os debates, como tambm para proceder desconstruo e reconstruo dos componentes da paisagem cultural.

    ()

    As mediaes dialticas e dialgicas contribuem para o desenvolvimento da capacidade de pensar o fenmeno cultural na sua complexidade, explorando as contradies das representaes e crenas da instituio cultural, mas tambm as contradies de seus pblicos. (DARRAS, 2009, p. 45)

  • 11

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    O prprio campo da arte na contemporaneidade vem provocando debates nesta direo. A arte contempornea tem convocado o observador a participar de forma ativa em processos de mediao que se inserem na constituio das prprias produes. H uma tendncia a explorar novos modelos de sociabilidade e de interatividade que convocam o pblico a assumir outras atitudes diante da arte, diferente dos comportamentos j instalados. Ao buscar explicar a di-menso relacional da arte, Bourriaud (2009, p. 36-37) pondera:

    A transitividade, to antiga quanto o mundo, constitui uma propriedade concreta da obra de arte. Sem ela, a obra seria apenas um objeto morto, esmagado pela contemplao. Delacroix j escrevia em seu dirio que um quadro bom condensava momentaneamente uma emoo que o olhar do espectador deveria reviver e prolongar. Essa noo de transitividade introduz no domnio esttico a desordem formal inerente ao dilogo; ela nega a existncia de um lugar da arte especfico em favor de uma discursividade sempre inacabada e de um desejo jamais saciado de disseminao. Jean-Luc Godard, alis, insurgia-se contra essa concepo fechada da prtica artstica, explicando que uma imagem precisa de dois. Se essa proposio parece retomar Duchamp ao dizer que so os espectadores que fazem os quadros, ela vai alm ao postular o dilogo como a prpria origem do processo de constituio da imagem: desde seu ponto de partida j preciso negociar, pressupor o Outro Assim, toda obra de arte pode ser definida como um objeto relacional. Como o lugar geomtrico de uma negociao com inmeros correspondentes e destinatrios.

    Hoje, o campo da crtica de arte, assim como o campo da comunicao, da educao e, sobre-tudo da arte/educao, convocam o sujeito a participar de forma ativa e interativa das produes culturais. As convergncias de proposies assentam-se na necessidade de construir uma socie-dade de fato democrtica, com foco nas relaes inter-humanas e menos hierrquicas.

    Ampliando o conhecimentoO texto de Arthur Efland usado como referncia neste tema foi originalmente resultado

    do encontro organizado em 1999, por Ana Mae Barbosa e Lilian Amaral, no SESC Vila Mariana, O prazer e a compreenso da arte. Alm da publicao citada como referncia, o texto pode ser acessado no link: http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/arte/text_2.htm onde podem ser encontrados tambm textos de outros palestrantes do encontro.

  • 12

    Unesp/R

    edefor Mdulo III D

    isciplina 06 Tema 3

    sumrio tema ficha

    Referncias bibliogrficas

    BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. Teoria e prtica da educao artstica. 14. ed. So Paulo: Cultrix, 1995.

    BOURRIAUD, Nicolas. Esttica relacional. So Paulo: Martins Fontes, 2009.

    DARRAS, Bernard. As vrias concepes da cultura e seus efeitos sobre os processos de mediao cultural. In: BARBOSA, Ana Mae; COUTINHO, Rejane Galvo (Org.). Arte/educao como mediao cultural e social. So Paulo: Editora UNESP, 2009, p.23-52.

    EFLAND, Arthur. Cultura, sociedade, arte e educao em um mundo ps-moderno. In: BARBOSA, Ana Mae; AMARAL, Lilian (Org.). O prazer e a compreenso da arte, 1999. So Paulo: Servio Social do Comrcio (SESC), 1999. Disponvel em: . Acesso em: 02 abr. 2011.

    EFLAND, Arthur. Cultura, sociedade, arte e educao num mundo ps-moderno. In: GUINS-BURG, J.; BARBOSA, Ana Mae; (Org.). O ps-modernismo. So Paulo: Perspectiva, 2008, p. 173-187.

  • sumrio tema ficha

    Ficha da Disciplina:Recepo e mediao do

    patrimnio artstico e cultural

    Rejane Galvo Coutinho

    Formada em Educao Artstica com habilitao em Artes Plsticas na Universidade Fede-ral de Pernambuco, estado onde nasceu e viveu a maior parte de sua vida. Veio para So Paulo estudar, fez mestrado e doutorado na Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo. Hoje professora do Instituto de Artes da UNESP onde trabalha com formao de professores de Artes Visuais e atualmente coordena a Ps-Graduao em Artes. Desenvolve e orienta pesquisas sobre a histria do ensino da arte e sobre as questes contemporneas da arte/educao como mediao cultural, uma coisa tem forte relao com a outra, pois a histria abre possibilidades para entender melhor o presente e vislumbrar o futuro.

    http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4721691E6

  • sumrio tema ficha

    EmentaA arte/educao como mediao cultural e social. O papel do educador como mediador.

    As relaes entre as prticas de produo, circulao e recepo. Teorias contemporneas da recepo. Revises e atualizaes sobre o conceito de educao patrimonial. Planejamento e prticas fundamentadas de mediao cultural.

    ResumoQual o papel do educador como mediador na recepo e mediao do patrimnio artstico e

    cultural? Esta a questo que norteia a disciplina e para buscar subsdios para compreender o seu alcance se faz necessrio entender, de imediato, que ela se situa no espao de trnsito entre as aes educacionais e as prticas culturais. Um espao complexo que pressupe movimentos e atravessamentos em vrias direes.

    A questo se dirige ao professor de arte, aqui entendido como mediador, em suas aes edu-cativas junto aos estudantes, tanto no ambiente escolar, quanto fora do contexto escolar, nas visitas aos museus, exposies, espetculos e outras manifestaes do mbito cultural.

    O termo recepo, que abre o ttulo da disciplina, no deve ser entendido com o sentido de passividade que tambm lhe prprio - o receber algo ou algum. Quando associamos recepo mediao pressupomos um movimento: da interioridade da recepo s apropriaes e incor-poraes do mundo e dos conhecimentos do mundo provocados por mediaes educacionais.

    O patrimnio artstico e cultural nosso campo de conhecimento, com suas prticas de produo, difuso e recepo. Portanto, no podemos pensar em objetos, obras e manifestaes apenas, mas nos trnsitos entre as diversas prticas inerentes ao campo da arte, inseridas no campo mais amplo da cultura.

    Para organizar nosso estudo em relao a esta complexidade procuramos destacar alguns aspectos inerentes s relaes entre as aes educativas e as prticas culturais, distribudos em temas por semana de estudo. No primeiro tema, preparando o terreno, vamos procurar situar algumas representaes, construdas ao longo da histria, que atravessam e se sobrepem ao contexto, introduzindo tambm algumas regras que pr-definem as relaes no campo da arte.

  • sumrio tema ficha

    No segundo tema o foco so as relaes patrimoniais, as heranas recebidas, seu processo de institucionalizao, buscando compreender os mecanismos de legitimao, para atualizar os sentidos que o legado patrimonial comporta hoje.

    No terceiro tema o foco so as produes contemporneas e para compreender suas prticas necessrio enfrentar os trnsitos entre a modernidade e a ps-modernidade, para situar as prticas de difuso e mediao na contemporaneidade. No tema seguinte, o debate gira em torno dos recursos disposio dos educadores para efetivar uma mediao crtica e compro-metida: dos mtodos de apreciao, processos de leitura, ao entendimento da interpretao como construo de conhecimento no campo da arte.

    E finalmente, no quinto tema, voltamos a questo que abre esta introduo, ao papel do educador como mediador, responsvel por sua formao e pela formao de pblico para as artes.

    importante deixar claro que as referncias deste texto recaem especialmente sobre as artes visuais, campo de experincia da autora. Mas ser permitido e aconselhvel proceder a toda e qualquer transferncia de referncias entre as linguagens, pois os mecanismos das prticas cul-turais e, sobretudo educacionais, so basicamente os mesmos, com suas especficas adequaes.

    Bom trabalho!

    Rejane Galvo Coutinho

  • sumrio tema ficha

    Estrutura da DisciplinaTema 1 - Arte/educao como mediao cultural e social

    Tpico 1.1 - O contexto histrico: relaes entre museu e educao Tpico 1.2 - As regras do jogo: distncia e aproximao

    Tema 2 - Questes sobre educao patrimonial Tpico 2.1 - A histria da institucionalizao do patrimnio

    Tpico 2.2 - Revises contemporneas do patrimnio

    Tema 3 - As prticas de produo, difuso e mediao na contemporaneidade Tpico 3.1 - Do modernismo ao ps-modernismo no ensino de arte

    Tpico 3.2 - Difuso e mediao na contemporaneidade

    Tema 4 - A recepo e a interpretao das produes artsticas Tpico 4.1 - Apreciao artstica ou leitura da obra de arte?

    Tpico 4.2 - A interpretao

    Tema 5 - O arte/educador como mediador

  • Pr-Reitora de Ps-graduaoMarilza Vieira Cunha Rudge

    Equipe CoordenadoraCludio Jos de Frana e Silva

    Rogrio Luiz BuccelliAna Maria da Costa Santos

    Coordenadores dos CursosArte: Rejane Galvo Coutinho (IA/Unesp)

    Filosofia: Lcio Loureno Prado (FFC/Marlia)Geografia: Raul Borges Guimares (FCT/Presidente Prudente)

    Antnio Cezar Leal (FCT/Presidente Prudente) - sub-coordenador Ingls: Mariangela Braga Norte (FFC/Marlia)

    Qumica: Olga Maria Mascarenhas de Faria Oliveira (IQ Araraquara)

    Equipe Tcnica - Sistema de Controle AcadmicoAri Araldo Xavier de Camargo

    Valentim Aparecido ParisRosemar Rosa de Carvalho Brena

    SecretariaMrcio Antnio Teixeira de Carvalho

    NEaD Ncleo de Educao a Distncia(equipe Redefor)

    Klaus Schlnzen Junior Coordenador Geral

    Tecnologia e InfraestruturaPierre Archag Iskenderian

    Coordenador de Grupo

    Andr Lus Rodrigues FerreiraGuilherme de Andrade Lemeszenski

    Marcos Roberto GreinerPedro Cssio Bissetti

    Rodolfo Mac Kay Martinez Parente

    Produo, veiculao e Gesto de materialElisandra Andr Maranhe

    Joo Castro Barbosa de SouzaLia Tiemi Hiratomi

    Liliam Lungarezi de OliveiraMarcos Leonel de Souza

    Pamela GouveiaRafael Canoletti

    Valter Rodrigues da Silva

    Marcador 1Vdeo da SemanaAs prticas de produo, difuso e mediao na contemporaneidade3.1 - Do modernismo ao ps-modernismo no ensino de arte3.2 - Difuso e mediao na contemporaneidade

    Ampliando o conhecimentoReferncias bibliogrficas

    Boto 2: Boto 3: Boto 6: Boto 7: Boto 46: Boto 47: Boto 38: Pgina 4:

    Boto 39: Pgina 4:

    Boto 50: Pgina 5: Pgina 6: Pgina 7: Pgina 8: Pgina 9: Pgina 10: Pgina 11: Pgina 12: Pgina 13: Pgina 14:

    Boto 51: Pgina 5: Pgina 6: Pgina 7: Pgina 8: Pgina 9: Pgina 10: Pgina 11: Pgina 12: Pgina 13: Pgina 14:

    Boto 52: Pgina 15: Pgina 16: Pgina 17: Pgina 18:

    Boto 53: Pgina 15: Pgina 16: Pgina 17: Pgina 18:

    Boto 4: