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Rede Recíproca CF086 - Introdução a Física do Estado Sólido 1

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Rede Recíproca

CF086 - Introdução a Física do Estado Sólido 1

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Recordando...

Redes de Bravais: conjunto de pontos do espaço que respeitam

duas definições

1. Conjunto (infinito) de pontos do espaço com uma disposição

tal que parece sempre a mesma quando vista de qualquer dos

pontos do espaço.

2. Conjunto de pontos do espaço cujos vetores posição a partir de

uma origem qualquer situada num dos pontos são dados por

onde n1, n2 e n3 são inteiros e Ԧ𝑎1, Ԧ𝑎2, Ԧ𝑎3 são três vetores não

coplanares, chamados de vetores primitivos.

𝑅𝑛 = 𝑛1 Ԧ𝑎1 + 𝑛2 Ԧ𝑎2 + 𝑛3 Ԧ𝑎3

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Definição

Considere

➢ uma rede de Bravais em que os pontos sejam dados por vetores

𝑅𝑛 = 𝑛1 Ԧ𝑎1 + 𝑛2 Ԧ𝑎2 + 𝑛3 Ԧ𝑎3

➢ uma onda plana dada por 𝑒𝑖𝑘⋅ Ԧ𝑟, onde 𝑘 é o vetor de onda ( 𝑘 =2𝜋

𝜆) e Ԧ𝑟 é uma posição qualquer do espaço.

Para um vetor 𝑘 genérico a onda plana não tem a mesma

periodicidade da rede de Bravais definida por 𝑅𝑛.

Porém, existe um subconjunto de vetores 𝐾𝑚 que tem a mesma

periodicidade da rede de Bravais.

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Definição

Nesse caso, para os vetores 𝐾𝑚 ocorre

ou seja,

O conjunto de vetores 𝐾𝑚 define uma rede num espaço

vetorial complementar ao espaço real, ou direto, chamado de

espaço recíproco. A rede no espaço recíproco chama-se rede

recíproca, e é uma rede de Bravais, no espaço recíproco. Ela é

a rede recíproca à rede de Bravais dada por 𝑅𝑛.

4

𝑒𝑖𝐾𝑚⋅( Ԧ𝑟+𝑅𝑛) = 𝑒𝑖𝐾𝑚⋅ Ԧ𝑟

𝑒𝑖𝐾𝑚⋅𝑅𝑛 = 1

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Construção da Rede Recíproca

A rede recíproca é ela própria uma rede de Bravais.

Os vetores primitivos da rede recíproca são dados por

onde 𝑉 = Ԧ𝑎1 ⋅ Ԧ𝑎2 × Ԧ𝑎3 é o volume da célula primitiva na

rede direta.

O coeficiente 2p não é usado por cristalógrafos, mas em estado

sólido é usual.

Note que, por construção,

5

𝑏1 =2𝜋

𝑉Ԧ𝑎2 × Ԧ𝑎3 ; 𝑏2 =

2𝜋

𝑉Ԧ𝑎3 × Ԧ𝑎1 ; 𝑏3 =

2𝜋

𝑉Ԧ𝑎1 × Ԧ𝑎2

Ԧ𝑎𝑖 ⋅ 𝑏𝑗 = 2𝜋 𝛿𝑖𝑗

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Construção da Rede Recíproca

O volume primitivo na rede recíproca vale

Os vetores 𝐾𝑚 que pertencem à rede recíproca são dados por

onde 𝑚1, 𝑚2, 𝑚3 são números inteiros (verificar). Com isso, a

função 𝑒𝑖𝐾𝑚⋅ Ԧ𝑟 tem a periodicidade da rede, pois

6

𝐾𝑚 = 𝑚1𝑏1 +𝑚2𝑏2 +𝑚3𝑏3

𝑒𝑖𝐾𝑚⋅ Ԧ𝑟 = 𝑒𝑖𝐾𝑚⋅ Ԧ𝑟+𝑅𝑛

𝑉𝐾 =2𝜋 3

𝑉

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Construção da Rede Recíproca

Por causa disso, uma função periódica na rede direta pode ser escrita como

Na mesma ideia, uma função periódica na rede recíproca pode ser escrita como

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𝑓 Ԧ𝑟 =

𝐾𝑚

𝑓𝑚𝑒𝑖𝐾𝑚⋅ Ԧ𝑟

𝐹 𝑘 =

𝑅𝑛

𝐹𝑛𝑒𝑖𝑘⋅𝑅𝑛

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Planos de rede

Considere uma dada rede de Bravais direta. Um plano da rede

é um plano que contém pelo menos três pontos não colineares

da rede de Bravais.

➢ Como consequência da simetria translacional do cristal, um

plano de rede contém infinitos pontos de rede, os quais definem

uma rede de Bravais bidimensional no plano.

Uma família de planos de rede consiste no conjunto de planos

paralelos a um dado plano de rede. Planos adjacentes são

separados por uma distância d. Uma família de planos contém

todos os pontos da rede de Bravais.

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Planos de rede

Existem várias famílias de planos num cristal.

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Planos de rede

A cada família de planos de rede corresponde um conjunto de

vetores recíprocos 𝐾𝑚 perpendiculares aos planos, de modo

que o módulo do vetor 𝐾𝑚 de menor módulo vale 𝐾𝑚 =2𝜋

𝑑.

Para cada vetor 𝐾𝑚 da rede recíproca de uma dada rede de

Bravais direta existe uma família de planos de rede que são

perpendiculares a 𝐾𝑚. O vetor paralelo a 𝐾𝑚 de menor módulo

tem módulo 2𝜋

𝑑, onde d é a distância entre os planos da família.

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Planos de rede

Considerando o vetor 𝐾𝑚 de menor módulo que seja

perpendicular a um dado plano, esse vetor pode ser escrito na

base recíproca como

Os coeficientes ℎ, 𝑘, ℓ são conhecidos como índices de Miller

do plano em questão. São números inteiros e dependem da

base primitiva escolhida.

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𝐾ℎ𝑘ℓ = ℎ 𝑏1 + 𝑘 𝑏2 + ℓ 𝑏3

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Planos de rede

Um plano de rede (ℎ, 𝑘, ℓ) tem um vetor 𝐾ℎ𝑘ℓ como vetor

normal. Esse plano intersecta os vetores primitivos Ԧ𝑎1, Ԧ𝑎2, Ԧ𝑎3em três pontos, dados por 𝑥1 Ԧ𝑎1, 𝑥2 Ԧ𝑎2, 𝑥3 Ԧ𝑎3.

12

Os valores de ℎ, 𝑘, ℓ são proporcionais a 1

𝑥1,1

𝑥2,1

𝑥3, escolhidos de forma não terem

divisor comum.

Para evitar números não inteiros, multiplica-

se os inversos pelo menor fator comum que

faz com que os inversos fiquem inteiros.

Ex.: quadro.

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Planos de rede

Convenção:

➢ planos de rede ℎ𝑘ℓ: especificados entre parênteses (ℎ, 𝑘, ℓ) ou

(ℎ 𝑘 ℓ). Ex: o plano (1,2,3) ou (1 2 3) tem um vetor normal 𝐾de componentes (1,2,3), de modo que, se a rede de Bravais for

cúbica, o plano intercepta os vetores primitivos em valores

proporcionais a 1

3,1

2, 1 .

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Planos de rede

➢ Um plano com vetor perpendicular 𝐾 = (1,−2,3) é representado

como (1, 2, 3) ou (1 2 3), ou seja, coloca-se uma barra acima do

número para indicar o sinal negativo.

➢ Uma direção e sentido na rede direta é dada de forma similar. As

coordenadas do vetor paralelo a uma dada reta são dadas entre

colchetes, ou seja, [𝑛1, 𝑛2, 𝑛3] ou 𝑛1 𝑛2 𝑛3 . Essa direção

contém pontos de rede, um dos quais é o ponto de rede direta

𝑅𝑛 = 𝑛1 Ԧ𝑎1 + 𝑛2 Ԧ𝑎2 + 𝑛3 Ԧ𝑎3.

➢ Ex.: 1,0,0 corresponde, numa rede cúbica simples, à direção

positiva do eixo x. No mesmo cristal cúbico, 0 1 0 define a

direção e sentido do eixo y negativo.

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Planos de rede

➢ Famílias de planos que são iguais por causa da simetria do cristal

são representadas entre chaves. Ex.: na rede cúbica, os planos

(100), (010) e (001) são representados por 1 0 0 .

➢ Direções e sentidos equivalentes por operações de simetria são

representados entre bras e kets: a direção ⟨1 0 0⟩ corresponde às

direções 1 0 0 , 0 1 0 , 0 0 1 , 1 0 0 , 0 1 0 , 0 0 1 .

➢ Obs.: Apenas num cristal cúbico a direção ℎ 𝑘 ℓ é

perpendicular ao plano (ℎ 𝑘 ℓ).

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Planos de rede

➢ Distância 𝑑ℎ𝑘ℓ entre planos (ℎ𝑘ℓ):

➢ Dem.: quadro.

➢ Note que 𝐾𝑚 ⋅ Ԧ𝑟 = 0,±2𝜋,±4𝜋,… são equações de planos onde

ondas planas têm fase constante.

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𝑑ℎ𝑘ℓ =2𝜋

𝐾𝑚

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Célula de Wigner-Seitz x

Primeira Zona de Brillouin

A célula de W-S é uma célula primitiva da rede direta.

Na rede recíproca também há uma célula de W-S, que é

chamada de primeira zona de Brillouin (1ª ZB).

➢ Existem outras zonas de Brillouin → teoria de níveis eletrônicos.

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Zonas de Brillouin

Rede SC:

18

Rede direta

Ԧ𝑎1 = 𝑎 ොxԦ𝑎2 = 𝑎 ොyԦ𝑎3 = 𝑎 ොz

Rede recíproca

𝑏1 =2𝜋

𝑎ොx

𝑏2 =2𝜋

𝑎ොy

𝑏3 =2𝜋

𝑎ොz

Γ = 0

𝑋 =2𝜋

𝑎ොx

𝑀 =2𝜋

𝑎

1

2ොx +

1

2ොy

𝑅 =2𝜋

𝑎

1

2ොx +

1

2ොy + ොz

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Zonas de Brillouin

Rede FCC:

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Γ = 0

𝑋 =2𝜋

𝑎ොx

𝑊 =2𝜋

𝑎

1

2ොx + ොy

𝐿 =2𝜋

𝑎

1

2ොx +

1

2ොy + ොz

Rede direta

Ԧ𝑎1 =𝑎

2ොy + ොz

Ԧ𝑎2 =𝑎

2(ොz + ොx)

Ԧ𝑎3 =𝑎

2(ොx + ොy)

Rede recíproca

𝑏1 =2𝜋

𝑎ොy + ොz − ොx

𝑏2 =2𝜋

𝑎(ොz + ොx − ොy)

𝑏3 =2𝜋

𝑎(ොx + ොy − ොz)

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Zonas de Brillouin

Rede BCC:

20

Γ = 0

𝐻 =2𝜋

𝑎ොy

𝑁 =2𝜋

𝑎

1

2ොx +

1

2ොy

𝑃 =2𝜋

𝑎

1

2ොx +

1

2ොy + ොz

Rede recíproca

𝑏1 =2𝜋

𝑎ොy + ොz

𝑏2 =2𝜋

𝑎(ොz + ොx)

𝑏3 =2𝜋

𝑎(ොx + ොy)

Rede direta

Ԧ𝑎1 =𝑎

2ොy + ොz − ොx

Ԧ𝑎2 =𝑎

2(ොz + ොx − ොy)

Ԧ𝑎3 =𝑎

2(ොx + ොy − ොz)

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Zonas de Brillouin

Rede hexagonal:

21

Γ = 0

𝑃 =2𝜋

𝑎

2

3ොx

𝑄 =2𝜋

𝑎

1

2ොx +

1

2 3ොy

𝐴 =2𝜋

𝑐

1

2ොz

Rede direta

Ԧ𝑎1 =𝑎

2ොx + 3ො𝑦

Ԧ𝑎2 =𝑎

2−ොx + 3 ොy

Ԧ𝑎3 = 𝑐 ොz

Rede recíproca

𝑏1 =2𝜋

𝑎ොx +

1

3ො𝑦

𝑏2 =2𝜋

𝑎−ොx +

1

3ොy

Ԧ𝑎3 =2𝜋

𝑐ොz

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Como investigar a estrutura

atômica?

Para investigar a estrutura atômica dos materiais, que envolve

dimensões da ordem de 1 Å, precisamos usar técnicas

experimentais que explorem esse fato.

Considerando técnicas de difração, são necessárias ondas que

tenham comprimentos de onda na faixa de 1 Å.

No caso de ondas eletromagnéticas, devemos usar raios x.

Outras opções são nêutrons (é preciso um reator, mas pode-se

investigar propriedades magnéticas) ou elétrons (pouca

penetração, bom para superfícies).

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Formulação de Van Laue

O cristal é composto de unidades (átomos, moléculas, íons, ...)

situados nos pontos da rede de Bravais

Os pontos irradiam em todas as direções (não necessariamente

com a mesma eficiência) ao serem submetidos ao feixe de

radiação incidente.

Picos são observados quando há interferência construtiva entre

essas irradiações.

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Formulação de Van Laue

Considere a figura:

feixe incidente: direção ො𝑛, vetor 𝑘 =𝑘 ො𝑛.

feixe difratado: direção ො𝑛′, vetor

𝑘′ = 𝑘′ ො𝑛′.

24

vetor Ԧ𝑑: vetor de separação entre os dois pontos de rede.

Diferença de caminho:

Para haver interferência construtiva, deve ocorrer:

𝑑 cos 𝜃 + 𝑑 cos 𝜃′ = Ԧ𝑑 ⋅ ො𝑛 − ො𝑛′

Ԧ𝑑 ⋅ ො𝑛 − ො𝑛′ = 𝑗𝜆

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Formulação de Van Laue

Reescrevendo, e tendo em conta que Ԧ𝑑 = 𝑅𝑛, temos

Multiplicando por i e aplicando exponencial:

Definindo Δ𝑘 = 𝑘′ − 𝑘, e lembrando a definição de rede

recíproca, vemos que, se 𝐾 = −Δ𝑘 é um vetor da rede

recíproca, há interferência construtiva e ocorre um pico de

difração.

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𝑅𝑛 ⋅ 𝑘 − 𝑘′ = 2𝜋𝑗

exp 𝑖𝑅𝑛 ⋅ 𝑘 − 𝑘′ = 1

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Formulação de Van Laue

Como 𝑘 = 𝑘′ e 𝑘′ = 𝑘 + 𝐾, temos

que é a condição de Laue.

Ou seja, a projeção de 𝑘 sobre 𝐾 deve ser tal que resulte em 𝐾

2

para haver um pico de difração.

O vetor 𝑘 deve terminar num plano que bissecta 𝐾 para

satisfazer a condição de Laue.

26

𝑘 ⋅ 𝐾 =1

2𝐾

Esses planos são chamados de planos

de Bragg. Recordando as zonas de

Brillouin, vemos que os vetores 𝑘devem terminar na superfície da ZB.

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Formulação de Bragg

Há outro modo de formular a condição de Laue. Observe a

figura. Para termos interferência construtiva, a diferença de

caminho deve ser dada por 𝑛𝜆 = 2𝑑ℎ𝑘ℓ sen 𝜃 (lei de Bragg).

Se um detector for colocado fazendo um ângulo 2𝜃 com a

direção original do feixe incidente, medirá o pico de difração.27

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Formulação de Bragg

Uma mesma rede contem várias famílias de planos, de modo

que, para uma mesma direção de radiação incidente, outros

feixes difratados podem existir, satisfazendo a lei de Bragg.

Nas figuras, as redes são as mesmas, mas agora deve satisfazer

a 𝑛𝜆′ = 2𝑑ℎ𝑘ℓ′ sen 𝜃′.

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Equivalência Bragg – Van Laue

Temos que 𝐾 é perpendicular ao plano (ℎ 𝑘 ℓ), e é múltiplo de

𝐾0, de modo que 𝐾 = 𝑛𝐾0. Como 𝑑ℎ𝑘ℓ = 2𝜋/𝐾0, temos 𝐾 =2𝜋𝑛

𝑑ℎ𝑘ℓ.

Da figura 𝐾 = 2𝑘 sen 𝜃. Então, 2𝑘𝑑ℎ𝑘ℓ sen 𝜃 = 2𝜋𝑛.

Como 𝑘 =2𝜋

𝜆, resulta em 𝑛𝜆 = 2𝑑ℎ𝑘ℓ sen 𝜃, que é a lei de

Bragg.

29

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Equivalência Bragg – Van Laue

A condição de Laue implica que 𝑘 termine num plano de

Bragg.

➢ Em geral, isso não ocorrerá em 3D para um dado 𝑘.

➢ É preciso relaxar alguma condição para 𝑘 para poder

experimentalmente obter picos de difração, permitindo variação

na direção, módulo ou ambos.

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Esfera de Ewald

Construção geométrica para visualizar possíveis vetores 𝐾associados a picos de difração: esfera de Ewald.

Considera-se um vetor 𝑘 incidente,

partindo de qualquer ponto da rede

recíproca (origem).

Desenha-se uma esfera de raio 𝑘 ,

centrada na ponta de 𝑘.

Os pontos da rede recíproca que

ficam na superfície da esfera são

pontos que aparecem na difração,

pois satisfazem 𝐾 = 𝑘 − 𝑘′.

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Métodos experimentais

Método de Laue: direção de 𝑘 fixa, mas feixe é policromático,

de 𝜆1 a 𝜆2, correspondendo a 𝑘1 =2𝜋

𝜆1e 𝑘2 =

2𝜋

𝜆2.

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33

Métodos experimentais

Cristal girante: 𝜆 é fixo, mas direção de 𝑘 varia. Na prática,

gira-se o cristal, de modo que a rede recíproca gira junto com

ele.

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34

Métodos experimentais

Método do pó ou Debye-Scherrer: 𝜆 é fixo, mas gira-se o

cristal em todas as orientações possíveis. Na prática, usa-se

uma amostra policristalina na forma de pó, para permitir todas

as orientações para a rede recíproca.

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Amplitude de Espalhamento

O que se mede numa difração de raios x é o resultado da

superposição das ondas emitidas pelos elétrons nos átomos.

Cada elétron recebe uma onda plana com vetor de onda 𝑘 e

emite uma onda plana com vetor de onda 𝑘′.

Com relação a uma dada origem, elétrons em pontos diferentes

emitem ondas com defasagens diferentes.

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Amplitude de Espalhamento

Recordando, uma rede de Bravais tem pontos de rede descritos

por 𝑅𝑛. O cristal tem unidades (base) situadas em pontos Ԧ𝑑𝜈 .

Considere inicialmente um dado átomo, situado na posição Ԧ𝑑𝑗,

e os elétrons desse átomo. Definimos uma densidade

volumétrica de carga 𝜚𝑒(Ԧ𝑟′) para esses elétrons, considerando

uma origem O’ no átomo.

Cada elétron recebe uma onda plana com vetor de onda 𝑘 e

emite uma onda plana com vetor de onda 𝑘′.

Com relação a uma dada origem, elétrons em pontos diferentes

emitem ondas com defasagens diferentes.

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Amplitude de Espalhamento

Definimos a densidade numérica de elétrons, mediante

Numa posição Ԧ𝑟′, há 𝑑𝑛 Ԧ𝑟′ = 𝜌 Ԧ𝑟′ 𝑑𝑉 elétrons. A fase

introduzida por eles vale 𝐾 ⋅ Ԧ𝑟′. Com isso, a amplitude

espalhada pelos elétrons desse dado átomo fica

Essa amplitude espalhada é chamada fator de espalhamento

atômico 𝑓𝑗(𝐾).

𝜌 Ԧ𝑟′ = −1

𝑒𝜌𝑒(Ԧ𝑟

′)

𝐴𝑗 𝐾 = න𝑎𝑡

𝜌 Ԧ𝑟′ 𝑒−𝑖𝐾⋅ Ԧ𝑟′ 𝑑𝑉

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Amplitude de Espalhamento

Portanto,

A contribuição dos átomos situados nas posições Ԧ𝑑𝑗 é dada por

𝑓𝑗 𝐾 = 𝐴𝑗 𝐾 = න𝑎𝑡

𝜌 Ԧ𝑟′ 𝑒−𝑖𝐾⋅ Ԧ𝑟′ 𝑑𝑉 = −1

𝑒න𝑎𝑡

𝜌𝑒 Ԧ𝑟′ 𝑒−𝑖𝐾⋅ Ԧ𝑟′𝑑𝑉

𝐴 𝐾 =

𝑗

𝜈

𝑒−𝑖𝐾⋅Ԧ𝑑𝑗 න

𝑎𝑡

𝜌 Ԧ𝑟′ 𝑒−𝑖𝐾⋅ Ԧ𝑟′ 𝑑𝑉

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Amplitude de Espalhamento

Pode-se escrever também

A intensidade espalhada é proporcional ao módulo quadrado

da amplitude, ou seja, a 𝐹𝐾2 = 𝐹𝐾𝐹𝐾

∗ .

𝐹𝐾 indica quais picos podem estar presentes e quais picos não

aparecem num padrão de difração. Se 𝐹𝐾 = 0, o pico não

aparece. Se 𝐹𝐾 ≠ 0, o pico pode não aparecer devido a outros

fatores que também influem na intensidade.

𝐹𝐾 𝐾 =

𝑗

𝜈

𝑓𝑗(𝐾)𝑒−𝑖𝐾⋅ Ԧ𝑑𝑗

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Amplitude de Espalhamento

𝐹𝐾 está ligado à base e à geometria da rede de Bravais, e 𝑓𝑗 ao

tipo de átomo presente na base.

O conhecimento da base permite obter os valores de 𝐹𝐾.

Exemplos no quadro.

No caso de simetria esférica, o fator de espalhamento atômico

pode ser escrito como

𝑓 𝐾 = න0

4𝜋𝑟2𝜌 𝑟sen 𝐾𝑟

𝐾𝑟𝑑𝑟

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Amplitude de Espalhamento

Ex.: Se trigonal

20 40 60 80 100

I

(un

. ar

b.)

2 (graus)

Se - trigonal

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Amplitude de Espalhamento

Como fica a amplitude no caso de amorfos? Nesse caso, os

átomos não estão em posições que seguem um base, e temos

Apesar de a expressão ser similar, há grandes diferenças no

que se refere aos valores de intensidade e de forma do sinal

obtido, pois a falta de uma unidade que se repete faz com que

as interferências que ocorrem resultem em picos largos e

pouco intensos.

𝐴 𝐾 =

𝑗

𝑓𝑗 𝐾 න𝑉

𝜌𝑗 Ԧ𝑟 𝑒−𝑖𝐾⋅ Ԧ𝑟𝑑𝑉

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Amplitude de Espalhamento

Ex.: Se trigonal x Se amorfo

20 40 60 80 100

Se trigonal

Se amorfo

I

(un

. ar

b.)

2 (graus)