rede global de terminais de contentores

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  • 8/6/2019 Rede Global de Terminais de Contentores

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    Artigo Cargo Junho 2011

    Rede Global de Terminais de Contentores

    Numa recente aco de formao em que participei em Cabo Verde, pude constatar o verdadeirointeresse que os porturios, pblicos e privados, dos vrios pases da CPLP tm pela questo dasconcesses porturias e pelas parcerias pblico privadas.

    um tema de grande interesse para os portos de Angola. Em Angola, depois da guerra, os portosficaram devastados, com as infra-estruturas e equipamentos degradados, com pessoal a mais, semeficincia, sem acessos, cheios de roubos, sem lei. Numa primeira fase, Luanda ter direccionado asua poltica para a transformao do porto de "service port" em "toolport", licenciando empresas quetrabalhavam nos cais e os mantinham, melhorando muito a produtividade. Mas ainda assim nochegou. A pujana da economia angolana implicava mais capacidade e produtividade, mas os portosno conseguiam responder, ficando totalmente congestionados. Depois procedeu-se concesso daoperao do servio pbico dos terminais de Luanda a privados: unicargas, multiterminal e Maersk,em alguns casos com contratos em que o Estado assume todo o risco de mercado, como percebi naaco de formao, tipo PPP. As melhorias foram muito grandes, com o aumento da produtividade,melhor organizao, investimento privado, manuteno, menos pessoal, maior controlo, menoscongestionamento, no que valeu ainda a ajuda dos portos secos de retaguarda, privados.

    Mas o interesse de Angola agora orienta-se para novas questes: que estratgia de mercado,concesses e investimentos seguir nos portos de Cabinda, Lobito e Namibe para aproveitar as cargasdos pases vizinhos e apoiar a economia e o transhipment no futuro? Que especializao e que fundosde acesso martimo? Que estratgia de PPP no novo Porto de Dande junto a Luanda, mas afastadodos congestionamentos? Como diversificar a poltica de expanso porturia da Sonangol na operaode terminais de Contentores na regio? E mesmo em Cabo Verde ( j tm concesses na GuinBissau e em S. Tom e Prncipe)?E a Guin-bissau e S. Tom e Prncipe querem saber como gerir os contratos de concesso que estoa fazer nos portos e como devem preparar as novas concesses.Cabo Verde tem uma estratgia bem definida de criao de um grande terminal de transhipment emLazareto, no Porto Grande, que sirva as rotas atlnticas entre a Europa e os EUA, por um lado, e a

    frica e Amrica Central por outro. Mas quer saber como deve concessionar? Que cuidados ter?

    Como evitar problemas no servio populao? Como potenciar os efeitos econmicos positivos?Que modelos seguir?Todas estas questes foram debatidas com grande interesse na aco de formao que leccionei,representando o Porto de Setbal, numa aco para os portos de lngua portuguesa organizada pelaEnapor, Autoridade Porturia de Cabo Verde e pela AGPAOC.Matrias como casos de concesses em vrios pases do mundo, motivao para concessionar,vantagens, cuidados a ter, estratgia, concurso, negociao e contrato, foram temas leccionados quedespertaram grande interesse.Existiu alguma unanimidade na necessidade de se associar nas concesses porturias operadoreslocais e operadores internacionais globais, tirando-se vantagem de cada uma das suas dimenses embitos de actuao.

    Analisando os grandes operadores globais, tema que encerra em si sempre algum mistrio e mitos para quem os quer atrair a uma concesso, verifico que so vistos como fonte de investimento,conhecimento e cargas, mas tambm como especialistas que importa atrair com todas as condies,mas sem ficar nas suas mos.Mas quem so esses operadores globais de Contentores?

    Os operadores de terminais globais so empresas envolvidas nas operaes porturias internacionaisde terminais com vista criao de redes de servios globais e que aproveitam a crescente separaoentre o papel assumido pelas autoridades porturias e as operaes do terminal.

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    O processo de internacionalizao destes operadores realizou-se em trs ondas consecutivas. Aprimeira onda com empresas como a HPH, a P&O Ports e SSA que expandiram as suas operaespara novos mercados, beneficiando dos esquemas de privatizao dos portos em muitas regies domundo. A estratgia foi um xito.Uma segunda onda de empresas tiveram a sua expanso internacional (PSA, CSX World Terminals eEurogate). A terceira onda de operadores de terminais surgiu quando os grandes operadores de porta-contentores entraram na operao de terminais, num esforo para apoiar o seu core business. Isso

    levou a trs grupos de globais: operadores de terminais estivadores puros, armadores martimos quegerem terminais integrados no seu negcio e um grupo hbrido de operadores de terminaisconstitudo por empresas envolvidas no negcio de estiva e na manipulao tanto de carga prpria,como de trfego de terceiros.Nem todos os operadores comearam a sua expanso internacional a partir dos seus respectivosmercados nacionais. Por exemplo, a Hanjin comeou a expanso internacional da sua rede determinais fora, em portos estrangeiros, devido dificuldade institucional dos investimentos na Coreia.Em anos mais recentes, participaes financeiras de Bancos de investimentos, fundos de penses efundos soberanos, foram atrados para o segmento dos terminais porturios, como uma classe deactivos com elevado potencial de rendibilidade.

    A maioria tem uma abordagem indirecta, adquirindo uma participao nos activos e deixando ooperador existente cuidar das operaes. Outros gerem os activos em terminais directamente atravs

    de uma participada, como a DP World.Os doze maiores operadores de terminais controlam a maioria do movimento de contentores domundo: 64,6% em 2009, comparado a 41,5% em 2001.Com a recente crise mundial, os operadores de terminais adoptaram uma avaliao mais cautelosadas perspectivas futuras. Nos ltimos anos, no surgiram novos operadores globais de contentoresde qualquer dimenso. No entanto, h uma srie de grandes intervenientes activos menores nomercado: Shanghai International Port Group (SIPG), Macquarie, KGL, ICTSI e RREEF. A ChinaMerchants Holdings lanou recentemente a sua internacionalizao atravs de acordos no Vietname(Maio 2010) e Sri Lanka (Setembro 2010).

    As fuses e aquisies tm afectado significativamente o ranking dos operadores globais.2001 destacou-se como o ano de aquisies hostis, com trs ofertas de referncia: HPH-ECT, PSA-HNN e HPH-ICTSI Diviso de Negcios Internacionais. Os anos de 2005 a 2007, foram de um

    extraordinrio nvel de concentrao com diversas aquisies no sector, num cenrio de escassezcrescente de contentores e de capacidade dos terminais. Mais recentemente, verificou-se aconsolidao da DP World, atravs da aquisio das carteiras de terminais da CSX World Terminais(2005) e P&O Ports (2006).

    Alm de aquisies da DP World (que ficou fora dos EUA por deciso governamental), outroimportante acordo foi a aquisio de uma participao de 20% pela PSA na Hutchison Port Holding ede participaes estratgicas numa srie de operaes em Hong Kong, em 2005. de esperar que osquatro players de topo (PSA, APM Terminals, HPH e DP World) mantenham a liderana nos

    prximos anos.Com a oferta repentina de mais capacidade porturia, bem como menores nveis de rentabilidade dasoperaes de terminais, a actividade de concentrao no sector de movimentao de contentoresdever abrandar significativamente nos prximos anos.Os terminais de transhipment representam um investimento mais arriscado (maior vulnerabilidade), jque os volumes so mais volteis e muito mais sujeitos a estratgias de preos de rivais do que nocaso de carga de hinterland. Regies com alta concentrao de volumes no porto ou com restriesde capacidade dos terminais so muito mais propensas ao envolvimento directo das linhas detransporte, j que esses actores so instados a garantir a capacidade.

    As possibilidades de investimento, dependem obviamente tambm do grau de participao dooperador privado no mercado de contentores regional. Nem todas as regies do mundo mostram amesma abertura dos mercados locais a operadores privados globais. Por exemplo, a Amrica do Sul e

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    a Europa Oriental entreram no caminho da privatizao dos portos uma dcada mais tarde do quemuitas regies porturias na Europa e Amrica do Norte.

    A entrada tardia dos operadores internacionais nos portos franceses foi o resultado combinado dacondio do sistema de gesto estatal dos cais e das gruas nos portos, da natureza cativa de grande

    parte da carga francesa e das estratgias de proteco dos operadores de terminais locais.As vantagens dos operadores de terminais globais que pretendem operar num porto estrangeiro tm aver com competncias que compensam as vantagens detidas por empresas locais, como por exemplo

    a dimenso da empresa e as economias de escala, o poder de mercado e o marketing, aespecializao tecnolgica e o acesso a fontes mais vantajosas de financiamento. Os operadores determinais globais possuem muitas vezes centrais de compras na sua sede, envolvidas em grandescontratos com os fornecedores de equipamentos, prticos, guindastes e tractores de parque. Acordossemelhantes so feitos na aquisio e manuteno de software. O resultado das unidades deinvestigao e desenvolvimento em diversos locais em todo o mundo geralmente partilhado entreos terminais de toda a rede, atravs de configuraes partilha de conhecimentos com base em

    plataformas de TI e encontros intensivos. Alm disso, a criao de redes extensas torna possvel diluiros riscos de investimento.

    A avaliao da natureza transnacional dos operadores dos terminais pode ser feita com recurso avrias dimenses. A primeira a cobertura geogrfica. A maioria dos terminais correspondeclaramente a uma estrutura de rede de navegao global. Uma segunda forma de observar a natureza

    transnacional do operador de terminais avaliar se existe orientao regional. Por exemplo, a DPWorld e APM Terminals tm um portflio muito diversificado de terminais em termos geogrficos e

    podem assim ser considerados mais globais. No entanto, a um nvel de orientao regional j evidente que a APM Terminals no tem uma presena na Austrlia, enquanto que a DP World temapenas uma presena muito pequena no Norte da Amrica (Vancouver). A PSA no tem presenadirecta na Amrica do Norte, mas tem activos latino-americanos, bem como a HPH. Ambos, HPH ePSA, parecem preferir o controle de grandes terminais, j que as operaes no terminal so o ncleode sua actividades. Eles esto envolvidos activamente no desenvolvimento de grandes terminaisorientados para o trfego sia-Pacfico.

    A APM tende a ter terminais relativamente menores, sublinhando uma estratgia mais inclinada paracobertura do mercado global e para apoiar a Maersk Line.

    A DP World tem muitos pequenos terminais, e possui os seus maiores terminais na sua base, nos

    Emirados rabes Unidos, o que sublinha uma estratgia agressiva de crescimento visando aaquisio de muitos terminais em mercados de menor volume, mas com um forte potencial decrescimento (por exemplo no Mediterrneo, Sul da sia e Mdio Oriente, ou em Maputo).

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    http://people.hofstra.edu/jean-paul_rodrigue/downloads/PT49-09_4.pdf

    Bibliografia:Global networks in the container terminal operating industry Part 1: How global are global terminal

    operators?, Jean-Paul Rodrigue e Theo Notteboom, Port Technology International, PT4909_4