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|| Boletim de Análise e Previsão Climática da RPCH || página- 1 - O uso das informações contidas neste boletim é de completa responsabilidade do usuário. O projeto RPCH foi financiado pela MCT, através do convênio 3641/06. REDE ESTADUAL DE PREVISÃO CLIMÁTICA E HIDROMETEOROLÓGICA DO PARÁ - RPCH Coordenação da RPCH Diretoria de Meteorologia e Hidrologia 2º Distrito de Meteorologia UFPA Faculdade de Meteorologia SIPAM - CR-BE Divisão de Meteorologia ANO XI, FEVEREIRO DE 2018 Boletim disponível em: www.semas.pa.gov.br ►Padrões oceânicos e atmosféricos no último mês: A partir de uma perspectiva do comportamento atmosférico dos últimos meses, o mês de fevereiro de 2018 (Figura 1) foi marcado por uma grande quantidade de chuva que atingiu diversas partes da região amazônica, de modo particular o Estado do Pará. Foi verificado que a interação das diferentes bacias oceânicas: Pacífico tropical (áreas do Niño), Atlântico tropical Norte (ATN) e tropical Sul (ATS) favoreceram que o Pará tivesse condições atmosféricos que propiciassem, em praticamente todo o Estado, precipitações acima de 250 mm/mês (Figura 2). Em termos de combinação oceânica (Figura 1), verifica-se que o Oceano Pacífico continua apresentando anomalia negativa de temperatura da superfície do mar (TSM) da ordem de -0.5 a -1.5ºC. Porém, essa anomalia negativa de TSM está tendendo a diminuir para um estado de neutralidade, algo que já é visto na região costeira do Oeste Tropical da América do Sul. No entanto, esse fator ainda está induzindo positivamente o desenvolvimento de nuvens, principalmente no caráter vertical (nuvens de tempestade do tipo cumulonimbos). Diferente dos meses anteriores, a ATN desta vez também apresentou vestígios de condições de anomalia negativa de TSM (~ -1ºC), fator que também pôde auxiliar no incremento da nebulosidade regional paraense. Nesse mês de fevereiro houve também a entrada na região tropical de fortes linhas de instabilidade decorrente de frentes frias do hemisfério norte. Tais eventos se ligaram e intensificaram a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) que acabou resultando em pancadas de chuvas sobre a costa norte e nordeste do Pará. Tais interações criaram um cenário favorável a anomalia positiva de precipitação no Estado em torno de 50 a 150mm/mês. ►Padrões climáticos persistentes no último trimestre: No último trimestre, foi verificado que os padrões médios associados a anomalia de TSM negativo do Pacífico persistiram de novembro de 2017 a janeiro de 2018 (Figura 3), onde grande parte das subáreas do Pacífico tropical (áreas de Niño) tiveram temperaturas mais frias. Mesmo com a favorabilidade do Pacifico tropical a chuva. A bacia tropical do Atlântico Norte não se encontrou favorável a chuva (Anomalia positiva de TSM), já que forçava a subsidência de ar impedindo o crescimento das nuvens e inibindo a ocorrência de chuva. Além disso, a bacia sul do Atlântico se encontrava com anomalias negativas de TSM que intensificavam os alísios de sudeste e forçavam a permanência da ZCIT no hemisfério norte. E isso criava um cenário desfavorável as chuvas, ou seja, anomalias negativas de chuva sobre o Pará e em grande parte da Amazônia. FIGURA 1: Anomalia mensal de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre os oceanos Pacífico e Atlântico e a Anomalia de Precipitação em mm, observada em fevereiro/2018. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP 1 . FIGURA 2: Precipitação mensal [mm] CPC/NCEP e vento (linhas de corrente em preto) em altitude (200 hPa) observados em fevereiro/2018. A letra "A" representa o centro do anticiclone (conhecido como Alta da Bolívia). Linha preta=cavado. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP. FIGURA 3: Anomalia trimestral de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre os oceanos Pacífico e Atlântico e a Anomalia de Precipitação em mm, observada entre novembro a janeiro/2018. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP 2 . 1 National Centers for Environmental Prediction A

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|| Boletim de Análise e Previsão Climática da RPCH || página- 1 -

O uso das informações contidas neste boletim é de completa responsabilidade do usuário. O projeto RPCH foi financiado pela MCT, através do convênio 3641/06.

REDE ESTADUAL DE PREVISÃO CLIMÁTICA E HIDROMETEOROLÓGICA DO PARÁ - RPCH

Coordenação da RPCH

Diretoria de Meteorologia e

Hidrologia

2º Distrito de Meteorologia

UFPA

Faculdade de Meteorologia

SIPAM - CR-BE

Divisão de Meteorologia

ANO XI, FEVEREIRO DE 2018 Boletim disponível em: www.semas.pa.gov.br

►Padrões oceânicos e atmosféricos no último mês:

A partir de uma perspectiva do comportamento atmosférico dos

últimos meses, o mês de fevereiro de 2018 (Figura 1) foi marcado por uma grande quantidade de chuva que atingiu diversas partes da região amazônica, de modo particular o Estado do Pará. Foi verificado que a interação das diferentes bacias oceânicas: Pacífico tropical (áreas do Niño), Atlântico tropical Norte (ATN) e tropical Sul (ATS) favoreceram que o Pará tivesse condições atmosféricos que propiciassem, em praticamente todo o Estado, precipitações acima de 250 mm/mês (Figura 2).

Em termos de combinação oceânica (Figura 1), verifica-se que o Oceano Pacífico continua apresentando anomalia negativa de temperatura da superfície do mar (TSM) da ordem de -0.5 a -1.5ºC. Porém, essa anomalia negativa de TSM está tendendo a diminuir para um estado de neutralidade, algo que já é visto na região costeira do Oeste Tropical da América do Sul. No entanto, esse fator ainda está induzindo positivamente o desenvolvimento de nuvens, principalmente no caráter vertical (nuvens de tempestade do tipo cumulonimbos). Diferente dos meses anteriores, a ATN desta vez também apresentou vestígios de condições de anomalia negativa de TSM (~ -1ºC), fator que também pôde auxiliar no incremento da nebulosidade regional paraense. Nesse mês de fevereiro houve também a entrada na região tropical de fortes linhas de instabilidade decorrente de frentes frias do hemisfério norte. Tais eventos se ligaram e intensificaram a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) que acabou resultando em pancadas de chuvas sobre a costa norte e nordeste do Pará. Tais interações criaram um cenário favorável a anomalia positiva de precipitação no Estado em torno de 50 a 150mm/mês.

►Padrões climáticos persistentes no último trimestre:

No último trimestre, foi verificado que os padrões médios

associados a anomalia de TSM negativo do Pacífico persistiram de novembro de 2017 a janeiro de 2018 (Figura 3), onde grande parte das subáreas do Pacífico tropical (áreas de Niño) tiveram temperaturas mais frias. Mesmo com a favorabilidade do Pacifico tropical a chuva. A bacia tropical do Atlântico Norte não se encontrou favorável a chuva (Anomalia positiva de TSM), já que forçava a subsidência de ar impedindo o crescimento das nuvens e inibindo a ocorrência de chuva. Além disso, a bacia sul do Atlântico se encontrava com anomalias negativas de TSM que intensificavam os alísios de sudeste e forçavam a permanência da ZCIT no hemisfério norte. E isso criava um cenário desfavorável as chuvas, ou seja, anomalias negativas de chuva sobre o Pará e em grande parte da Amazônia.

FIGURA 1: Anomalia mensal de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre os oceanos Pacífico e Atlântico e a Anomalia de Precipitação em mm, observada em fevereiro/2018. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP1.

FIGURA 2: Precipitação mensal [mm] CPC/NCEP e vento (linhas de corrente em preto) em altitude (200 hPa) observados em fevereiro/2018. A letra "A" representa o centro do anticiclone (conhecido como Alta da Bolívia). Linha preta=cavado. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP.

FIGURA 3: Anomalia trimestral de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre os oceanos Pacífico e Atlântico e a Anomalia de Precipitação em mm, observada entre novembro a janeiro/2018. Produto gerado pela RPCH com dados do NCEP2.

1National Centers for Environmental Prediction

A

|| Boletim de Análise e Previsão Climática da RPCH || página- 2 -

O uso das informações contidas neste boletim é de completa responsabilidade do usuário. O projeto RPCH foi financiado pela MCT, através do convênio 3641/06.

►Características Regionais das Chuvas observadas em Janeiro de 2018:

Com base nas informações geradas pelas estações meteorológicas da ANA e do INMET (Figura 4A) no Estado do Pará, é verificado que

os maiores volumes de chuva ocorreram no sul e região costeira do Pará e Amapá. Foi observado totais de precipitação de 363mm em Belém, Salinas (245 mm), Bragança (271 mm), Cametá (264 mm), Matupá (347 mm) e Guarantã (432 mm). A distribuição espacial da precipitação (Figura 4B) fornece uma melhor visualização das condições pluviométricas no Estado, porém, devido à baixa densidade de estações sobre a região a espacialização e comprometida, no entanto, destaca-se que grande parte do estado de Tocantins (bacia do Tocantins-Araguaia) tiveram volumes acima de 200mm, assim como na região do centro-sul com chuvas maiores que 250mm. Verificando a categorização das anomalias de precipitação (Figura 4C) praticamente todo o Estado do Pará se encontrou com valores abaixo da média climática (-10 a -100mm), somente algumas áreas tiveram características acima da média.

FIGURA 4A: Precipitação mensal observada nas estações pluviométricas do INMET, ANA/CPRM e SEMAS. Os valores indicam o total mensal em milímetros.

FIGURA 4B: Precipitação interpolada espacialmente sobre o Estado do Pará. A escala de cores indica o volume de chuva acumulado em milímetros.

FIGURA 4C: Anomalia categorizada de precipitação. Valores acima e abaixo da média climática em milímetros.

►Características de déficit de Chuva no Último Trimestre: As condições atmosféricas que desse último trimestre para a região

Amazônica (Figura 5) indicaram que praticamente toda a bacia apresentou características negativamente anômalas para a precipitação. Fator que influenciou no nível baixo dos rios, deixando várias cidades em estado de alerta com as características de seca. De acordo com as imagens menores mensais da Figura 5 (de cima para baixo: novembro, dezembro e janeiro), esse padrão de anomalias negativas vem se desenrolando ao longo do tempo, com alguns pontos de positivos, mas a interação dos diversos fatores oceânicos (Teleconexões) criaram um cenário mais favorável a subsidência do ar atmosférico sobre as bacias da região Amazônica.

FIGURA 5: Anomalia categorizada trimestral da chuva de nov/2017 a jan/2018.

O padrão climatológico mensal para a precipitação do próximo trimestre é

apresentado na Figura 6. Esta metodologia estatística indica os valores mais frequentes de chuva da categoria normal em um intervalo entre o mínimo climatológico (painel inferior da Fig. 6) e o máximo climatológico (painel superior da Fig. 6) para cada mês. Para a climatologia do trimestre março, abril e maio, é verificado que a região nordeste do Pará apresenta os maiores volumes de chuva nos 3 meses, tanto nas características máximas e mínimas. Isso decorrente principalmente da influência da Zona de convergência intertropical – ZCIT sobre a região costeira. Para março é esperado que todo o estado tenha precipitações acima de 200mm/mês. Para abril, ainda se espera bons volumes de chuva (acima de 150mm/mês), porém já com tendência de queda evidenciado por baixos volumes no mês de maio, de modo particular a região sudeste com volumes abaixo de 75mm/mês.

FIGURA6: Climatologia mensal da precipitação sobre o estado do Pará referente aos meses de março, abril e maio. Série: 1970-2007.

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O uso das informações contidas neste boletim é de completa responsabilidade do usuário. O projeto RPCH foi financiado pela MCT, através do convênio 3641/06.

CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES: Este boletim é resultado da Reunião de Análise e Previsão Climática organizada pela RPCH e realizada no dia 02/03/2018 no INMET-Belém-PA, com a participação de representantes da SEMAS-PA (coordenadora da Rede), INMET e SUDAM. As informações e previsões climáticas consensuais são baseadas na análise de campos atmosféricos e oceânicos observados nos últimos meses e resultados dos modelos globais de previsão climática, entre outros.

INSTITUIÇÕES PARCEIRAS E DE APOIO TÉCNICO-CIENTÍFICO: DEFESA CIVIL

PARÁ

►Prognóstico Climático Mensal:

Os prognósticos climáticos mensais para o trimestre março-abril-maio, gerados por consenso através da reunião mensal da RPCH, são apresentados na figura 7. No painel superior de cada figura, tem-se o mapa da previsão da precipitação em anomalias categorizadas e no painel inferior, o volume de chuva correspondente à categoria prevista. Climatologicamente, esse trimestre representa o ápice e fim do período chuvoso em grande parte do estado do Pará. Na figura 7A, março indica características de precipitação acima do normal em grande parte do Estado do Pará, com possibilidades de precipitações em torno de 350 a 450 mm/mês. Neste mês também temos chances de ocorrência de eventos mensais de volumes de chuvas muito acima do normal (com volumes de chuva acima de 500 mm/mês) na região leste do Marajó e parte do Nordeste paraense englobando por exemplo a região metropolitana de Belém a salinas. Grande parte desse comportamento é esperado pela ação da Zona de convergência intertropical – ZCIT atuando na zona costeira. No leste do Estado, existe a possibilidade de grande parte da área central tenha uma categorização muito acima do normal com chuvas em torno de 400 mm/mês. Para abril de 2018 (Figura 7B), é esperado que as regiões do Marajó, parte do Nordeste, a região da calha Norte e região do Tapajós tenham características pluviométricas acima do normal para o referido mês, com chuvas que vão de 250 a 500 mm/mês. Maio de 2018 já indica uma diminuição nos volumes de chuva para o Estado (transição para o período de estiagem) em que grande parte do Pará já começa a decair de normal (100 a 250 mm/mês) para abaixo do normal (abaixo de 100 mm/mês), principalmente no Sudeste.

Março/2018: Chuvas acima do normal em grande parte do Estado. E muito acima do normal na região leste do Marajó e a leste do Pará.

FIGURA 7A: Prognóstico mensal para mar/2018.

Abril/2018: Categoria acima do normal em grande parte do Estado, exceção para parte da Calha Norte e leste com chuvas dentro da categoria normal.

FIGURA 7B: Prognóstico mensal para abr/2018.

Maio/2018: Chuvas abaixo do normal no Sudeste do Pará, margeada por condições normais a acima do normal.

FIGURA 7C: Prognóstico mensal para mai/2018.

►Prognóstico Climático Sazonal da Precipitação: A média da previsão sazonal para o trimestre março-abril-maio (Figura 8),

indica um cenário climático em que o volume trimestral de chuva será muito alto para a região do Nordeste paraense e região do Marajó e ao longo do rio Amazonas, com possibilidade de totais pluviométricos entre 1000 a 1500 mm/mês, isso em função de poder apresentar condições acima do normal climatológico. Já a região da bacia do Xingú e do Tocantins-Araguaia com características normais de chuva, com totais de 500 a 900 mm/mês, porém já diminuindo.

►Prognóstico de Temperatura:

Para o Estado do Pará, os principais modelos globais de centros internacionais (ECMWF, IRI, ETA e INMET) caracterizam as temperaturas no trimestre mar-abr-mai de 2018 dentro da normalidade climática típica desse período do ano, porém, para a bacia do Rio Tocantins, espera-se um aumento anômalo de 0,2ºC a 0,4ºC.

FIGURA 8: Prognóstico sazonal mar-abr-mai /2018.