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REDD+ no Brasil: status das salvaguardas socioambien- tais em políticas públicas e projetos privados Por: Marina Piatto, Junia Karst, Bruno Brazil, Maurício Voivodic No Brasil, existe hoje a percepção de um cenário hete- rogêneo de desenvolvimento e de implementação de po- líticas e de programas governamentais de REDD+, nas esferas estaduais e federal, particularmente no que tange a salvaguardas socioambientais. Nesse mesmo contexto, aumenta, a cada ano, o número de projetos privados de REDD+ validados por padrões voluntários que exigem o cumprimento de premissas socioambientais. Por sua vez, no debate internacional, a REDD+ e as salvaguardas tornaram-se foco de maior atenção dos governos e das organizações, fazendo-se necessário o desenvolvimento de parâmetros e de sistemas de informação operacionais cada vez mais robustos, capazes de monitorar o funciona- mento dos programas de REDD+ em si e o cumprimento de salvaguardas sociais e ambientais, adotadas em seu desenho. Dessa forma, realizar o levantamento e comu- nicar o status atual das salvaguardas para REDD+, nas diferentes iniciativas governamentais e em projetos priva- dos no Brasil, mostra-se fundamental para que se possam utilizar as lições aprendidas no aperfeiçoamento dos pro- cessos e atingir o objetivo a que a REDD+ se propõe. Com base nos diferentes arranjos de REDD+ existentes no país, este documento apresenta, de forma geral, os resultados de um estudo sobre o nível de comprometi- mento relacionado às salvaguardas socioambientais que as políticas brasileiras, implementadas ou em implemen- tação, e os projetos de REDD+ trazem em seu conteú- do; sobretudo, como têm sido implementadas na prática. De forma complementar, procurou-se também identificar quais os principais pontos sensíveis de cada iniciativa, permitindo, então, o entendimento sobre lacunas co- muns, transversais a todas elas. Para tanto, além da análise dos documentos disponíveis publicamente, coletaram-se informações e experiências dos estados da Amazônia, de organizações e dos atores envolvidos. Distribuíram-se essas informações em sete componentes essenciais para o cumprimento pleno das salvaguardas, considerando-se o disposto em três do- cumentos relevantes sobre o tema: Iniciativa REDD SES, Salvaguardas brasileiras de REDD+ e Salvaguardas de Cancun. Com o presente relatório pretende-se incentivar a melhoria contínua das salvaguardas socioambientais, tanto nas políticas, nos programas e nos projetos já im- plementados, como naqueles ainda no início do proces- so de elaboração. O estudo pretende, também, fortalecer o engajamento da sociedade civil e o compromisso dos governos federal e estadual em ampliar a qualidade dos processos e dos monitoramentos, para garantir o cum- primento efetivo e integral das salvaguardas socioam- bientais no Brasil. Perspectiva Imaflora Clima | Novembro 2015 | Ed. 01 | Vol. 02

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REDD+ no Brasil: status das salvaguardas socioambien-tais em políticas públicas e projetos privadosPor: Marina Piatto, Junia Karst, Bruno Brazil, Maurício Voivodic

No Brasil, existe hoje a percepção de um cenário hete-

rogêneo de desenvolvimento e de implementação de po-líticas e de programas governamentais de REDD+, nas esferas estaduais e federal, particularmente no que tange a salvaguardas socioambientais. Nesse mesmo contexto, aumenta, a cada ano, o número de projetos privados de REDD+ validados por padrões voluntários que exigem o cumprimento de premissas socioambientais. Por sua vez, no debate internacional, a REDD+ e as salvaguardas tornaram-se foco de maior atenção dos governos e das organizações, fazendo-se necessário o desenvolvimento de parâmetros e de sistemas de informação operacionais cada vez mais robustos, capazes de monitorar o funciona-mento dos programas de REDD+ em si e o cumprimento de salvaguardas sociais e ambientais, adotadas em seu desenho. Dessa forma, realizar o levantamento e comu-nicar o status atual das salvaguardas para REDD+, nas diferentes iniciativas governamentais e em projetos priva-dos no Brasil, mostra-se fundamental para que se possam utilizar as lições aprendidas no aperfeiçoamento dos pro-cessos e atingir o objetivo a que a REDD+ se propõe.

Com base nos diferentes arranjos de REDD+ existentes no país, este documento apresenta, de forma geral, os resultados de um estudo sobre o nível de comprometi-mento relacionado às salvaguardas socioambientais que

as políticas brasileiras, implementadas ou em implemen-tação, e os projetos de REDD+ trazem em seu conteú-do; sobretudo, como têm sido implementadas na prática.De forma complementar, procurou-se também identificar quais os principais pontos sensíveis de cada iniciativa, permitindo, então, o entendimento sobre lacunas co-muns, transversais a todas elas.

Para tanto, além da análise dos documentos disponíveis publicamente, coletaram-se informações e experiências dos estados da Amazônia, de organizações e dos atores envolvidos. Distribuíram-se essas informações em sete componentes essenciais para o cumprimento pleno das salvaguardas, considerando-se o disposto em três do-cumentos relevantes sobre o tema: Iniciativa REDD SES, Salvaguardas brasileiras de REDD+ e Salvaguardas de Cancun. Com o presente relatório pretende-se incentivar a melhoria contínua das salvaguardas socioambientais, tanto nas políticas, nos programas e nos projetos já im-plementados, como naqueles ainda no início do proces-so de elaboração. O estudo pretende, também, fortalecer o engajamento da sociedade civil e o compromisso dos governos federal e estadual em ampliar a qualidade dos processos e dos monitoramentos, para garantir o cum-

primento efetivo e integral das salvaguardas socioam-

bientais no Brasil.

Perspectiva Imaflora

Clima

| Novembro 2015 | Ed. 01 | Vol. 02

Clima

AVALIAÇÃO DAS SALVAGUARDAS NAS POLÍTICAS DE REDD+

Como referência de princípios e critérios de salvaguardas, utilizaram-se os três grupos de salvaguardas já citados: a

REDD SES, as Salvaguardas Brasileiras e as Salvaguardas de Cancun. Reconheceram-se os pontos complementares

dos três documentos, que, agregados, formaram um conjunto, chamado de “Componentes Essenciais ao Cumprimen-

to de Salvaguardas”.

As políticas, os programas e os documentos nacionais

e estaduais disponíveis, relacionados à REDD+, foram

analisados de forma a identificar, em seu conteúdo, os as-

pectos e diretrizes relativos a cada componente. Como os

estados amazônicos e as iniciativas nacionais se encon-

tram em diferentes etapas de concepção, de desenho e

de implementação de suas políticas de REDD+, procurou-

-se levantar os pontos sensíveis e de atenção existentes

no arcabouço legal e em procedimentos já estabelecidos,

além de orientar a criação de futuras regulamentações,

ou de processos voltados ao cumprimento de salvaguar-

das. Analisaram-se três iniciativas nacionais: PNMC1, PL

225/20152 e ENREDD3 e o status de desenvolvimento de

políticas e de programas de REDD+ em oito estados

amazônicos (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará,

Rondônia, Roraima e Tocantins).

1. www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm

2. www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=946086

3. www.gcftaskforce.org/documents/training/2014/brazil1/brazil_9.pdf

COMPONENTES ESSENCIAIS

1. Direito à terra, aos territórios e aos recursos;

2. Repartição equitativa de benefícios;

3. Segurança e melhoria na qualidade e nos meios de vida dos povos indígenas, das comunidades tradicionais e dos grupos marginalizados, com atenção especial à questão de gênero;

4. Governança;

5. Biodiversidade e serviços ecossistêmicos;

6. Participação e controle social;

7. Cumprimento legal.

SalvaguardasBrasileiras

Salvaguardasde Concun

REDD SES

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Salvaguardas são incluídas no sistema e a política foi implementada

Salvaguardas são incluídas no sistema mas a política não foi implementada

Salvaguardas em estágio inicial de discussão e não existem políticas relacionadas

Salvaguardas não foram consideradas

Estratégia Nacional de REDD+Projeto de lei nº 225 de 2015Amazonas, Amapá e Pará

AcreMato Grosso

RondôniaPNMCTocantins e Roraima

O resultado da avaliação permitiu a classificação das

políticas e do status dos estados amazônicos em quatro

níveis de cumprimento e de inclusão de salvaguardas

de REDD+, conforme mostra a figura a seguir. Con-

siderando-se a alternância no governo e nas equipes

responsáveis pela agenda de REDD+ no Brasil, obser-

va-se, de modo geral, pouco avanço no debate sobre

salvaguardas em REDD+, tanto no nível federal como

no estadual (com exceção dos estados do Acre e do

Mato Grosso). Dessa forma, é importante que as novas

equipes de governo tenham as informações disponí-

veis sobre o status quo ao redor das salvaguardas de

REDD+, a fim de capacitar-se a continuar os processos

em curso.

De outro lado, no debate internacional, a REDD+ e as

salvaguardas tornaram-se questões importantes, com o

aumento da atenção dos governos e das organizações

observadoras. Na COP 20, em Lima, países apresen-

taram os progressos realizados, salientando a neces-

sidade de criar sistemas operacionais de informação,

capazes de monitorar o funcionamento de programas

de REDD+ em si e o cumprimento de salvaguardas so-

ciais e ambientais adotadas em seu desenho.

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Clima

Política Nacional de Mudanças Climáticas - PNMC (Lei nº 12.187/2009)1

Como documento que estabelece as metas brasileiras

de redução de gases do efeito estufa e cria os planos

setoriais de mitigação e de adaptação às mudanças do

clima, o PNMC não foi elaborado considerando, em seu

conteúdo, as salvaguardas socioambientais. Contudo,

ao utilizar, como estratégia, a integração de planos, de

programas e de políticas para reduzir os GEE, prove-

nientes do desmatamento, e para promover o desenvol-

vimento social, criou a base de sustentação do que virá

a ser a Estratégia Nacional de REDD+ (ENREDD). Pro-

cura incluir, em sua estrutura, a sociedade civil, para que

acompanhe a implementação da lei, via Fórum Brasilei-

ro de Mudanças Climáticas. No entanto não definiu uma

lógica transversal a todos os planos e os programas, de

forma a articular as atividades e a conduzi-las estrate-

gicamente, incluindo, em todas as frentes, a visão das

salvaguardas socioambientais.

1. www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm

PONTOS SENSÍVEIS DAS INICIATIVAS FEDERAIS

• Integração com iniciativas já existentes no âmbito estadual e estruturação dos órgãos e agências governamentais;

• Participação da sociedade civil em órgãos consultivos e, principalmente, deliberativos, com igualda-de de representação;

• Garantia de processos claros de CLPI e da participação plena de indígenas, de populações locais, de populações marginalizadas, observando-se a questão do gênero, em todas as etapas de decisão;

• Ausência de salvaguardas relacionadas a áreas de alto valor para conservação;

• Transparência das informações e dos mecanismos de comunicação, bem como o monitoramento dos impactos da implementação da iniciativa federal de REDD+.

SALVAGUARDAS NAS POLÍTICAS NACIONAIS DE REDD+

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ClimaClima

Estratégia Nacional de REDD+ ENREDD (Versão dezembro de 2013)

O documento preliminar da ENREDD prevê a integração

entre as diversas políticas setoriais (PPCDAM, PNGA-

TI, PRONAF etc.) e os instrumentos financeiros (Fundo

Amazônia), em estruturas de governança já existentes.

Quando avaliadas de forma conjunta, as ações propos-

tas na ENREDD contemplam as diretrizes essenciais

para cumprir as salvaguardas. Contudo encontraram-se

lacunas quanto às questões de gênero e às populações

marginalizadas, quanto à definição de áreas de alto valor

para conservação, ao monitoramento dos impactos da

estratégia e aos mecanismos de repartição dos benefí-

cios. Permanece em aberto, na ENREDD, a definição dos

mecanismos para reconhecer e incorporar as iniciativas

estaduais já implementadas e, também, para harmonizar

as propostas de regulamentação que tramitam na Câma-

ra e no Senado. Na prática, percebe-se o descompasso

entre as políticas e os planos setoriais, obstáculo para di-

recionar estratégias aos objetivos comuns. O ponto mais

sensível da ENREDD, entretanto, encontra-se na ausên-

cia de um processo efetivo de construção conjunta do

documento, em que se reflita, diretamente, sobre a salva-

guarda de transparência,de participação e de controle da

sociedade civil. Dadas a complexidade e a amplitude do

tema, os períodos de consulta pública mostraram-se in-

suficientes, além de carentes de divulgação ampla entre

as partes interessadas, dentre elas, os próprios governos

estaduais.

Projeto de Lei nº 225/2015 Deputado Ricardo Trípoli (Em tramitação)

Tendo, como base, o PL 212 de 20112, do senador Edu-

ardo Braga, e o PL 195 de 20113, da deputada Rebecca

Garcia, o PL nº225, objeto da análise, apresenta um texto

mais completo em relação às salvaguardas do que os

2. www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=100082

3. www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=491311

outros dois citados acima, principalmente no que se refe-

re aos direitos dos povos indígenas e comunidades tradi-

cionais. Aborda, objetivamente, os componentes essen-

ciais, com exceção da questão de gênero, dos direitos de

populações marginalizadas e das áreas de alto valor para

conservação. As maiores lacunas relacionam-se ao mo-

nitoramento e à avaliação dos impactos do sistema, à in-

tegração entre os órgãos e as agências governamentais

do esquema de governança e à maneira como inseri-los

numa plataforma de informações sobre salvaguardas.

O projeto de lei aguarda o parecer das comissões, sem

data prevista para a aprovação.

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Clima

Acre - Sistema de Incentivo a serviços ambientais, SISA (Lei nº 2.308/20104)

Sempre pioneiro em estratégias de uso sustentável da

floresta, o Acre é um dos estados-piloto na implementa-

ção do sistema VCS JNRI5 e dos padrões de salvaguar-

das socioambientais, construídos com base na iniciativa

REDD+ SES. Com a implementação do programa SISA

- ISA Carbono, o estado entrou para o programa REDD

Early movers e atraiu recursos financeiros para aprimo-

rar o SISA, priorizando as salvaguardas socioambien-

tais. Embora o programa de REDD+ estadual possua

estruturas de governança bem estabelecidas, que pro-

movem a participação social, o Acre enfrenta obstácu-

los comuns a todos as unidades da Federação e que

se relacionam ao envolvimento pleno e efetivo dos di-

ferentes atores em suas atividades, devido às barreiras

logísticas para potencializar a construção coletiva dos

programas e dos projetos previstos.Nesse contexto, a

avaliação periódica da representatividade da sociedade

civil nos órgãos deliberativos pode constituir importante

ferramenta para garantir a representatividade de indíge-

nas e de populações tradicionais e locais, entre outros

atores. Também se pode aprimorar a integração dos

mecanismos e dos procedimentos para operacionalizar

o sistema de informações de salvaguardas, que forneça

informações atualizadas, de forma a assegurar a trans-

parência contemplada pela lei.

4. www.imc.ac.gov.br/wps/wcm/connect/cba11f804e8d3801b88cfb7a81aad 2ff Lei2308_1.pdf?MOD=AJPERES

5. (Verified Carbon System – Jurisdictional and Nested REDD+)

Mato Grosso - Sistema de REDD+ (Lei º 9.878/20136)

O sistema de REDD+ do Mato Grosso encontra-se em

implementação e, portanto, a maioria dos instrumentos

e das estruturas está em fase de debates para a regu-

lamentação futura. Paralelamente, os indicadores de

salvaguardas socioambientais do estado, desenvolvi-

dos com base na iniciativa REDD+ SES, passam por

processo de consulta e análise, enquanto se constrói

o sistema de informações de salvaguardas. Foi pos-

sível notar a presença dos componentes essenciais

para cumprir as salvaguardas sociais e ambientais,

de forma objetiva, em todo o conteúdo da lei. Os prin-

cipais pontos sensíveis identificados se relacionam à

necessidade das regulamentações e das finalizações

de processos, de forma a permitir a identificação dos

beneficiários e as ações de conservação da biodiver-

sidade e dos serviços ecossistêmicos. Além disso, faz-

-se necessária a divulgação de procedimentos claros

e efetivos de CLPI, com a garantia da representativi-

dade de diferentes etnias indígenas e de populações

tradicionais e locais nos espaços de discussão. Não

há, ainda, uma definição clara sobre como ocorrerão o

monitoramento dos impactos e a integração das estru-

turas a um sistema de informações de salvaguardas.

6. www.sema.mt.gov.br/index.php?option=com content&view=article&id=1968& Itemid=734

SALVAGUARDAS NAS POLÍTICAS ESTADUAIS DE REDD+ NA AMAZÔNIA

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ClimaClima

Amazonas - Minuta de Projeto de Lei (versão de Outubro/2013)

Com o Programa Bolsa Floresta, o estado foi pioneiro na

discussão e no desenvolvimento de ações de distribuição

de benefícios financeiros para atores que contribuam para

a conservação da floresta em Unidades de Conservação.

Em 2015, com a reestruturação da SDS7 e a extinção dos

órgãos da pasta de mudanças climáticas, houve a inter-

rupção dos esforços relacionados ao Sistema de REDD+

no Amazonas. Entretanto a nova SEMA8, mantém a dis-

cussão do projeto de lei. De uma forma ampla, a minuta

trata de diversos serviços ambientais, além do carbono, e

contempla, de forma geral, todos os componentes para

cumprir as salvaguardas.Entre os pontos sensíveis, en-

tende-se, como essencial, a definição de protocolos cla-

ros de CLPI e a garantia de espaço de diálogo efetivo e

representativo junto aos povos da floresta e a sociedade

civil, principalmente na governança do sistema. Questões,

como o monitoramento dos impactos e sua integração a

uma plataforma SIS, não estão esclarecidas, bem como

não se abordaram os direitos de populações marginaliza-

das, a observância às questões de gênero e a identifica-

ção de áreas de alto valor para conservação.Contudo a

minuta traz a obrigatoriedade de adotarem-se, em sua im-

plementação, os princípios e os critérios socioambientais

existentes e consolidados.

7. Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas

8. Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Amazonas

Amapá - Minuta de Projeto de Lei (versão de Novembro/2013)

Sem previsão para ser sancionada, a minuta que cria o

Sistema Estadual de PSA do Amapá deve passar, ainda,

por revisões, devido a trocas de representantes do Esta-

do. A participação da sociedade no Fórum de Mudanças

Climáticas é limitada, uma vez que poucas instituições

atuam diretamente no Estado. Além disso, também é

desafiador o esforço de articulação das populações tra-

dicionais, movendo-as a participar da construção do Sis-

tema de PSA. Os pontos de atenção da minuta recaem

sobre a necessidade de identificar os beneficiários, com

procedimentos claros de CLPI, para definir as ações de

melhoria na qualidade de vida das populações. Nesse

contexto, a garantia da efetiva participação da sociedade

civil nos processos de tomada de decisão, em órgãos

colegiados, e a definição de canais de diálogo podem

ser aprimorados, bem como os canais que conferem

transparência às informações do sistema. Como em ou-

tras iniciativas, não se fazem referências à questão de

gênero, às populações marginalizadas e às áreas de alto

valor para conservação.Também não há clareza sobre os

monitoramentos de impactos do sistema e sobre sua in-

tegração a uma plataforma SIS.

Clima

Pará - Iniciativas no Estado

Embora não possua uma Política sobre Mudanças

Climáticas e REDD+ definidas, o Pará tem conduzido

ações que refletem esforços para manter a redução do

desmatamento no estado. São exemplos o Plano de

Prevenção, Controle e Alternativas ao Desmatamen-

to do Estado do Pará (PPCAD/PA), o ICMS Verde e o

Programa Municípios Verdes (PMV), que trazem, como

propostas, a diminuição do desmatamento, o desenvol-

vimento local e a conservação da biodiversidade. Tais

mecanismos constituem importante passo no caminho

da implementação de políticas de incentivos aos servi-

ços ambientais e de REDD+. Ao analisar, de maneira

geral, o programa PMV e o ICMS Verde, no contexto das

salvaguardas, pode-se notar que cumprem o compro-

misso de transparência, de participação e de controle

social por parte do Sistema Estadual de Meio Ambiente,

composto pelas SEMAS, pelo IDEFLOR-Bio e pelo PMV.

Tocantins - Iniciativas no Estado

O Estado do Tocantins encontra-se em processo inicial

de discussão de políticas estaduais de PSA e REDD+.

Pretende fortalecer a discussão de REDD+ em seu terri-

tório, por meio da recente reativação do Fórum Estadual

de Mudanças Climáticas1 e da contratação de consul-

toria especializada para elaborar a Política Estadual de

Serviços Ambientais e de Pagamento por Serviços Am-

bientais e, também, para reformular a Política Estadual

de Mudanças Climáticas. Devido ao processo inicial de

desenvolvimento das iniciativas estaduais no Tocantins,

ainda não se discutiram, em profundidade, questões sig-

nificativas, como as salvaguardas sociais e ambientais.

Rondônia - Iniciativas no Estado

O Estado de Rondônia abriga o primeiro projeto de

REDD+ em terras indígenas, o Projeto Carbono Flores-

tal Suruí. Por conta do envolvimento dos indígenas do

estado com o tema, apresenta cenário promissor para

a inserção das populações locais na construção das

políticas. Nesse sentido, o estado tem direcionado es-

forços para construir a Política Estadual de Mudanças

1. Decreto nº 1.917 de 18 de Abril de 2007

Climáticas e Serviços Ecossistêmicos que terá, como

base, os indicadores brasileiros de salvaguardas. De

fato, firmou parcerias estratégicas com instituições es-

pecializadas em REDD+ para conduzir oficinas de ni-

velamento, oferecidas aos representantes dos setores

econômicos, das populações tradicionais e indígenas e

dos seringueiros, com o objetivo de preparar esses ato-

res para as consultas públicas sobre o texto da lei em

elaboração. Também estão ocorrendo processos para-

lelos, visando ao desenvolvimento do PSA e de REDD+

em Rondônia, como a inserção do Estado no GCF2 e a

organização de um plano estadual de desenvolvimento

sustentável, com metas para 30 anos.

Roraima - Iniciativas no Estado

Dentre todos os estados amazônicos, Roraima apresenta

o menor nível de desenvolvimento de políticas relaciona-

das às Mudanças Climáticas, à REDD+ e ao PSA. Não

possui Fórum Estadual de Mudanças Climáticas e não

apresenta perspectiva de desenvolver políticas nesse sen-

tido. No entanto travam-se discussões sobre mudanças

climáticas e REDD+, lideradas pelo Conselho Indígena

de Roraima (CIR). De fato, realizaram-se, em 2014, semi-

nários e encontros para discutir o tema, que culminaram

em carta sobre mudanças climáticas, a qual manifesta as

preocupações e as percepções de etnias indígenas do

Estado, além de solicitar apoio para tratar o tema3.

2. www.gcftaskforce.org

3. www.cir.org.br

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BARREIRAS A SUPERAR - Políticas

É imprescindível que o governo federal adote uma postura mais aberta e favorável à construção participativa

da ENREDD, envolvendo os estados e a sociedade civil na elaboração e no alinhamento das iniciativas de outros

setores. Até o momento, realizaram-se consultas com grupos específicos para a construção do sumário de informa-

ções de salvaguardas, porém não se estabeleceu um processo de consulta transparente, inclusiva e contínua, para

garantir toda a amplitude que uma estratégia nacional de REDD+ deve contemplar. Ao mesmo tempo, as propostas

descritas na ENREDD não reconhecem as iniciativas estaduais de REDD+, nem as experiências acumuladas nos es-

tados. Essa falta de sinergia entre a estratégia nacional e os programas estaduais torna os mecanismos de REDD+

ainda mais difíceis de acessar, distanciando os resultados das metas a alcançar. Sem uma estratégia compartilhada,

questões como participação, repartição dos benefícios, equidade, permanência e adicionalidade, permanecerão

desalinhadas nas diferentes esferas governamentais. A estratégia também poderia reconhecer iniciativas do setor

privado que buscam o desmatamento zero para a cadeia de produção de commodities, além de apoiar a demarca-

ção de novas Terras Indígenas e Unidades de Conservação, como incentivo a manter a floresta em pé. A integração

da ENREDD às diferentes esferas governamentais, ligada à maior sinergia entre as iniciativas do setor privado, pode

aumentar o alcance dos impactos e a colaboração dos diferentes atores da sociedade civil.

Integração das Iniciativas Nacional e Estaduais:

Ao analisar os processos de construção dos programas de REDD+, é possível identificar, na maioria dos casos,

lacunas na participação da sociedade civil. Em muitos dos processos, os governos tendem a centralizar a discussão

em órgãos, ou em entidades representativas, sem avaliar-lhes o teor de representatividade. É preciso conduzir ava-

liações periódicas, e com parâmetros claros, sobre se tais instâncias têm representado as diversas etnias indígenas,

as comunidades tradicionais, as mulheres, as populações marginalizadas e as demais esferas pertinentes. No caso

especifico das iniciativas estaduais, evidencia-se a dificuldade em garantir a ampla participação das partes interes-

sadas, devido à logística limitada e ao alto custo do processo. A integração entre as ações federais e as estaduais

pode-se mostrar uma alternativa positiva e eficiente para promover a participação integral dessas partes. De forma

geral, percebe-se, como necessária, a criação de mecanismos de transparência e de processos qualificados de

CLPI, com a expansão dos canais de diálogo. A linguagem deve ser apropriada ao público consultado e os objeti-

vos da consulta, esclarecidos aos participantes. É fundamental que todos os atores envolvidos entendam como se

incorporarão seus comentários ao processo e quais os passos seguintes. A ampliação dos canais de diálogo deve

auxiliar, também, o monitoramento dos impactos sociais e ambientais, oriundos das ações de REDD+.

As politicas não definem, claramente, quais os mecanismos e os parâmetros a utilizar no monitoramento dos impactos

das ações do sistema e no cumprimento das salvaguardas. Para utilizar, nesse esforço de monitoramento, a estrutura

de governança existente, é necessário entender quais órgãos atuam, de forma relevante, e quais são suas atribuições

nos programas de REDD+, de forma a construir sistemas interoperacionais e de menor custo. Tal monitoramento

deve integrar-se a uma plataforma de informações de salvaguardas, mas, até o momento, não se definiu como essa

integração poderá ocorrer.

Participação da Sociedade Civil e Transparência para o Monitoramento:

Participação da Sociedade Civil e Transparência:

Clima

SALVAGUARDAS EM PROJETOS DE REDD+

Em um cenário político multifacetado, onde existem po-

líticas públicas em diferentes estágios de construção,

inserem-se, atualmente, 16 projetos de REDD+, desen-

volvidos pela iniciativa privada.

Tais projetos vêm-se implementando ao longo da região

conhecida como “Arco do Desmatamento” na Amazô-

nia, que se estende do noroeste do Maranhão aos esta-

dos de Rondônia e do Acre e se caracteriza pela trans-

formação na paisagem, devido ao avanço da fronteira

agropecuária. Estes se encontram em terras privadas e

públicas, em áreas dede manejo florestal, em terras in-

dígenas e em unidades de conservação, como reservas

de desenvolvimento sustentável e reservas extrativistas.

O desenho dos projetos privados de REDD+ orienta-

-se pelas demandas do mercado voluntário de carbono.

Por isso, no Brasil, a maioria segue a metodologia VCS,

para dimensionar o desmatamento evitado e, ao mesmo

tempo, os padrões usados para avaliar aspectos socio-

ambientais, como o CCBA, o FSC e o Social Carbon.

A análise dos projetos demonstra, de forma geral, que

buscam o engajamento comunitário, incluem a CLPI e ge-

ram benefícios à biodiversidade e às comunidades locais.

Os mecanismos de repartição justa e equitativa dos bene-

fícios visam a desenvolver cadeias de produção sustentá-

vel, de modo a garantir que os recursos investidos gerarão

renda no médio e no longo prazos. Todos os 16 projetos

declaram o cumprimento das leis aplicáveis, dos tratados,

das convenções internacionais e da legislação trabalhista.

Os projetos de REDD+, localizados em estados que já

possuem seus programas estabelecidos, devem registrar-

-se e alinhar-se às diretrizes estaduais. O registro é impor-

tante para evitar dupla contagem de créditos de carbono e

para que o governo e a sociedade civil conheçam os obje-

tivos do projeto e suas salvaguardas. Aqueles estados que

ainda não desenvolveram seus mecanismos de registro de

projetos privados devem estabelecer critérios que conside-

rem as salvaguardas socioambientais e o monitoramento

contínuo deles. A exigência por certificações de alta credi-

bilidade e de reconhecimento internacional podem ajudar

a garantir a participação social, a geração de benefícios à

biodiversidade e à comunidade local, a repartição de bene-

fícios e o cumprimento da legislação.

Registro dos projetos em sistemas governamentais:

1 Russas e Valparaiso

2 Envira

3 Purus

4 Juruá e Caruauari

5 Amazon Rio

6 RDS do Juma

7 Resex Rio Preto Jacundá

8 Suruis

9 Santa Maria

10 Jari

11 ADPML

12 RMDLT

13 Ecomapuá

14 IWC

15 Cikel

16 Maísa

Amazonas

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Pará

Amapá

Roraima

Mato Grosso

TocantinsRondônia

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ClimaClima

Projeto Estado Área (ha) Sistema/Status Conheça o Projeto

Jari Amapá AP 65.980 FSC - CertificadoVCS - ValidadoCCB – Em desenvolvimento

http://www.vcsprojectdatabase.org/#/project_details/1115

ADPML Portel/Pará PA 148.974,80 CCB - ValidadoVCS - verificado

http://www.climate-standards.org/2012/07/02/adpml-portel-para-redd-project/

RMDLT Portel/Pará PA 177.899 CCB - ValidadoVCS - Certificado

http://www.climate-standards.org/2012/07/02/rmdlt-portel-para-redd-project/

REDD+ Cikel PA 27.434,90 FSC – CertificadoVCS - Validado

http://www.vcsprojectdatabase.org/#/project_details/832

REDD+ Ecomapuá PA 4.253,14 Social CarbonVCS - Verificado

http://www.vcsprojectdatabase.org/#/project_details/1094

IWC BrazilianGrouped REDD+

PA 18.101,00 FSC – Em desenvolvimentoVCS – Em desenvolvimento

http://www.vcsprojectdatabase.org/#/pipeline_details/PL1027

REDD+ Maísa PA 28.752,00 FSC – Em desenvolvimentoVCS – VerificadoCCB - Validado

http://www.climate-standards.org/2014/04/30/maisa-redd-project/

REDD+ Amazon Rio

AM 20.387 CCB – Em desenvolvimentoVCS – Em desenvolvimento

http://www.vcsprojectdatabase.org/#/pipeline_details/PL1147

REDD+ Juruá e Carauari

AM 1.362.119 CCB – Em desenvolvimento

http://www.climate-standards.org/2013/01/30/the-jurua-and-carauari-redd-project/

REDD RDS Juma AM 589.612 CCB – Em validaçãoVCS – Em desenvolvimento

http://www.climate-standards.org/2008/07/15/the-juma-sustainable-development-reserve-project-reducing-greenhouse-gas-emissions-from-deforestation-in-the-state-of-amazonas-brazil/

Florestal Sta Maria MT 71.714 FSC – CertificadoVCS - Verificado

http://www.vcsprojectdatabase.org/#/project_details/875

REDD+ Resex Rio Preto/Jacundá

RO 95.300 VCS – Em desenvolvimentoCCB – Em desenvolvimento

Informação não disponível

Carbono Florestal Suruí

RO 31.994 VCS – VerificadoCCB - Em verificação

http://www.climate-standards.org/2011/10/17/surui-forest-carbon-project/

Envira AC 39.3000 CCB - em desenvolvimentoVCS – Em validação

http://www.climate-standards.org/2014/10/21/envira-amazonia-project/

Purus AC 34.702 CCB – verificadoVCS - Verificado

http://www.climate-standards.org/2012/10/20/the-purus-project-a-tropical-forest-conservation-project-in-acre-brazil/

Russas e Valparíso AC 65.000 CCB – VerificadoVCS - Verificado

http://www.climate-standards.org/2013/07/18/the-russas-project/http://www.climate-standards.org/2013/07/18/the-valparaiso-project/

Os projetos de REDD+, localizados em estados que já

possuem seus programas estabelecidos, devem registrar-

-se e alinhar-se às diretrizes estaduais. O registro é impor-

tante para evitar dupla contagem de créditos de carbono e

para que o governo e a sociedade civil conheçam os obje-

tivos do projeto e suas salvaguardas. Aqueles estados que

ainda não desenvolveram seus mecanismos de registro de

projetos privados devem estabelecer critérios que conside-

rem as salvaguardas socioambientais e o monitoramento

contínuo deles. A exigência por certificações de alta credi-

bilidade e de reconhecimento internacional podem ajudar

a garantir a participação social, a geração de benefícios à

biodiversidade e à comunidade local, a repartição de bene-

fícios e o cumprimento da legislação.

Saiba mais sobre os projetos

Clima

Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola - ImafloraEstrada Chico Mendes, 185 | +55 19 3429.080013426-420 | Piracicaba - SP | [email protected] | www.imaflora.org

CONCLUSÃO

Ao longo dos últimos anos, percebe-se avanço significativo na adoção de salvaguardas socioambientais no Brasil,

quando se analisam as políticas nacionais, as estaduais e os projetos privados de REDD+. A valorização da floresta

em pé e de seus moradores tem relevância global, neste momento de mudanças climáticas e de redução dos recursos

naturais, vivido pela humanidade. O desafio de ordenar o território brasileiro, de melhorar sua governança e de garantir

a participação social mostra-se imenso. Porém, como muitas experiências se acumularam nos estados e nos projetos

privados pioneiros na implementação de ações de REDD+, as lições aprendidas colaboram para o aprimoramento

contínuo dos sistemas e das estratégias neles utilizadas, ou para a criação de novas políticas e projetos. É importante

reconhecer o pioneirismo das iniciativas, assim como ambicionar a melhoria desses mecanismos.

© R

afae

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azar

Marina Piatto I Coordenadora da Iniciativa de Clima e Agricultura do IMAFLORA I [email protected]

Junia Karst Caminha Ruggiero I Assistente de Certificação Florestal do IMAFLORA I [email protected]

Bruno Brazil de Souza I Coordenador - Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais do IMAFLORA I [email protected]

Maurício Voivodic I Secretário Executivo do IMAFLORA I [email protected]

Coordenação Colaboração Apoio