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Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=56905204 Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Sistema de Información Científica José Roberto Machado, César Miranda Méndes O processo de verticalização do centro de Maringá-PR, Brasil Investigaciones Geográficas (Mx), núm. 52, diciembre, 2003, pp. 53-71, Instituto de Geografía México Como citar este artigo Fascículo completo Mais informações do artigo Site da revista Investigaciones Geográficas (Mx), ISSN (Versão impressa): 0188-4611 [email protected] Instituto de Geografía México www.redalyc.org Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

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Page 1: Redalyc.O processo de verticalização do centro de ... · análise da urbanização Maringaense no que calização vem se constituindo numa nova ... José Roberto Machado e César

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=56905204

Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal

Sistema de Información Científica

José Roberto Machado, César Miranda Méndes

O processo de verticalização do centro de Maringá-PR, Brasil

Investigaciones Geográficas (Mx), núm. 52, diciembre, 2003, pp. 53-71,

Instituto de Geografía

México

Como citar este artigo Fascículo completo Mais informações do artigo Site da revista

Investigaciones Geográficas (Mx),

ISSN (Versão impressa): 0188-4611

[email protected]

Instituto de Geografía

México

www.redalyc.orgProjeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

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Investigaciones Geográficas, Boletín del Instituto de Geografía-UNAMNo. 52, 2003, pp. 53-71

Resumen. Este trabajo presenta el proceso de urbanización de la ciudad de Maringá, en el contexto de laverticalización en su principal punto económico, el centro de la ciudad, mientras se analiza más profundamente elpapel de los incorporadores en la producción de la verticalización, que es una nueva forma de morar, como tambiénconocer el origen de los capitales en este proceso, asi como el porqué de la opción por el edificio en la zona 1(centro), abordando algunas cuestiones de orden material y de infraestructura construidas a partir de este proceso.

Palabras clave: Centro, verticalización, expansión urbana.

Tall-building development process in downtownMaringá-PR, BrazilAbstract. This work describes the urbanization process taking place in the city of Maringá, in the context of the tall-building development at its main economic axis, the city center. This research aims to conduct an in-depth analysis ofthe role played by the housing industry in the development of tall buildings at downtown Maringá, the origin of thecapital associated to such process, and the rationale for building them in Zone 1 (downtown). This is also analyzedconsidering local environmental information and infrastructural considerations involved in this process.

Key words: Center, tall buildings, urban expansion.

O processo de verticalização do centro de Maringá-PR,Brasil

José Roberto Machado Recibido: 7 de mayo de 2003César Miranda Méndes Aceptado en versión final: 2 de octubre de 2003

Resumo. O presente trabalho tem por objetivo apresentar o processo de urbanização da cidade de Maringá, nocontexto da verticalização em seu principal eixo econômico, o centro da cidade, além de aprender e analisar maisprofundamente o papel desempenhado pela incorporação na produção da verticalização que é nova formaconstituída de se morar, os edifícios na zona 1 (centro) em Maringá, como também conhecer a origem dos capitais detal processo, bem como o porque da opção pelo edifício na zona 1 (centro), abordando ainda, algumas questões deordem ambiental e de infra-estrutura decorrentes desse processo.

Palavras-chave: Centro, verticalização, expansão urbana.

INTRODUÇÃO zação, além de analisar a atuação de algunsagentes na produção do espaço urbano.

Inicialmente, gostaríamos de dizer que oobjetivo do presente artigo é de fazer uma Dentro do processo de urbanização, a verti-análise da urbanização Maringaense no que calização vem se constituindo numa novatange ao contexto da Verticalização, procu- forma de reprodução do capital. Os centrosrando identificar os períodos desse processo urbanos de uma maneira geral, vem-sede verticalização, referente ao Centro (zona apresentando num verdadeiro aglomerado1). de edifícios (principalmente comerciais).

Visa também aprender a produção do espa- O presente trabalho então, busca analisarço urbano de Maringá no que se refere ao em breves comentários o processo de for-processo de formação e evolução, resgatan- mação e verticalização da área central dado os interesses que predominaram nesta cidade de Maringá (Figura 1), resgatandoexpansão urbana do centro (Zona 1), sobre- ainda, o conceito de verticalização segundotudo com relação ao processo de verticali- autores como Mendes (1992), Campos Filho

*Programa de Pós-Graduação Mestrado en Geografia do departamento de Geografia, DGE, Universidade Estadualde Maringá (UEM), Rua Dr Miguel Vieira Ferreira, 134, Apto. 501, Villa Esperança, CEP 87020-360, Maringá-Paraná-Brasil. E-mail: [email protected]** Departamento de Geografia, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Grupo de Estudos Urbanos, Av. Colombo,5790, Zona 07, CEP 87020-900, Maringá-PR-Brasil. E-mail: [email protected]

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(1989), Souza (1989), Ferreira (1987), entreoutros.

VERTICALIZAÇÃO: UM NOVO CONCEITODE URBANIZAÇÃO

Algumas iniciativas levadas a termo por doisgrupos de pesquisa: o PPU - Programa dePesquisa sobre a Urbanização Brasileira doDepartamento de Geografia da Universidadede São Paulo, sob a coordenação da Pro-fessora Dra Maria Aparecida de Souza e oprograma "Acumulação Urbana e a Cidade",coordenado pelo Professor Dr. Luiz César deQueiróz Ribeiro, do Instituto de Planeja-mento Urbano da Universidade Federal doRio de Janeiro, já tiveram retorno com aprodução de algumas pesquisas efetivadaspor profissionais de diferentes disciplinas.

Mesmo assim, dada à limitada bibliografia,em função desta nova face do objeto daGeografia Urbana ser recente (final dos anos80 e início dos anos 90), alguns trabalhostiveram importância capital na busca deidéias sobre a verticalização.

Um deles foi o de Ferreira (1987), queconsidera a verticalização como o "resultadode multiplicação do solo urbano". Outro foi ode Souza (1989:125), que diversamente con-ceitua a verticalização como provável "resul-tante no espaço produzido de uma estratégiaentre múltiplas formas de capital: o fundiário,o imobiliário e o financeiro".

Nesse contexto, lembra-se que:

A verticalização é um processo inten-sivo de reprodução do solo urbano,oriundo de sua produção e apropria-ção de diferentes formas de capital,principalmente consubstanciado naforma de habitação como é o caso doBrasil. Além da associação junto àsinovações tecnológicas que interferemno processo, alternando a paisagemurbana (Mendes, 1992:32).

Para Ramires e Soares (2002) o processode verticalização não é uma conseqüêncianatural da urbanização, mas uma daspossíveis opções traçadas e definidas pelosdiferentes atores sociais e interesses econô-micos que envolvem a estruturação internadas cidades.

O processo de verticalização das cidadestambém esta relacionados com a culturado consumo e com os símbolos do poder,como verificamos nas palavras de Ramires(1997b:37) quando diz:

É interessante destacar que o signifi-cado da dimensão simbólica da verti-calização sempre esteve presente,desde o surgimento dos primeirosarranhacéus, associando-se a essaforma arquitetônica/geográfica a idéiade desenvolvimento e progresso. Re-centemente, os Tigres Asiáticos vêmconstruindo os edifícios mais altos domundo e aproveitam-se desse fatopara expressar o seu poderio eco-nômico, tentando superar os edifíciosconstruídos em outras partes domundo.

Sabemos que os empreendedores imobiliá-rios, que são os incorporadores, em vez debuscar efetivação de uma política que leve auma ocupação racional do solo, em pro-porção com a capacidade de infraestruturade serviços urbanos instalados, que condu-ziria a uma estabilização em níveis razoáveisdesse crescimento de preço, têm pressio-nado o poder público para que se construacada vez mais nos terrenos centrais. Osempreendedores pressionam reivindicandoalterações nas leis de zoneamento, na ten-tativa de que estas medidas baixem os pre-ços dos terrenos.

Porém, o que constata é que os agentesimobiliários fazem apenas com que os pre-ços dos terrenos subam, dividindo-os e

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instalando um número maior de pessoas,pois leva os edifícios a possuírem uma áreaconstruída cada vez maior, como afirmaCampos Filho (1989:58):

Ao longo da história de cada cidade,pode-se afirmar a existência de pré-dios: a de dois andares, a de quatro, ade seis andares e de dez a quinzeandares, a de vinte a trinta andares

A verticalização pode ser apontada como umexemplo de materialização das transfor-mações técnicas que atingem as cidadescontemporâneas de forma contundente. Talfato não deve ser considerado como umaconseqüência natural da urbanização, masuma das possíveis opções traçadas e de-finidas pelos diferentes fatores sociais e inte-resses econômicos que envolvem aestrutura das cidades.

A verticalização é uma das característicasdas áreas centrais, mas também é umaforma de expansão dessas áreas. Ela pro-porciona a concentração de um número ele-vado de atividades centrais em umareduzida extensão territorial, sendo uma dasformas de crescimento do centro.

Baseando-se em algumas consideraçõesfeitas por Mendes (1992), nota-se que coma verticalização, surgem algumas questõesde extrema importância dentro do contextoabordado, como por exemplo: a segregaçãosocial, a revisão da legislação urbana, com ointuito de impedir que a verticalização ocorrade forma desordenada, pois em decorrênciadisto, existem sérios problemas ambientais,uma vez que, há um saturamento da infra-estrutura da área, e ainda a questão utópicada segurança que a verticalização pode pro-porcionar. Com a mudança na paisagemcausada pelo processo de verticalização, arelação homem-meio se vê comprometida.

sam indiretamente o processo de verticaliza-ção, relacionam-se os seguintes autores:Costa (2000): Natal. Costa (2001): Maringá.Ferreira (1987): São Paulo. Homem (1984):São Paulo. Machado (1997): Belo Horizonte.Maricato (1979): São Paulo. Martins eSoares (1996): Uberlândia. Melo (2001):Maringá. Mendes (1992, 2001): Maringá.Ramires (1998, 2001): Uberlândia. Ramirese Soares (2002): Uberlândia. Santos(1990): São Paulo. Somech (1987, 1997):São Paulo. Souza (1985, 1989): São Paulo.Tremarin (2001): Curitiba.

AS CATEGORIAS DE ANÁLISE ESTADO/GOVERNO E CAPITAL

Dentre as mais notáveis categorias que sepode levar em consideração para avaliar ouprocurar entender/compreender o processode produção do espaço urbano, tecemos al-gumas considerações sobre a atuação doCapital e o Estado, tomando conta suas de-vidas proporções no contexto urbano, comatribuições singulares sendo:

O capital e sua estratégia de reprodu-ção coisificada no espaço. O Estado,pelas mediações que realiza e peloinstrumento que, implicando direta-mente na produção e apropriação doespaço (sistemas de planejamento, le-gislação urbana etc; Souza, 1985:66).

O Estado como categoria de análise, e a suacapacidade transformadora da paisagem ur-bana nos leva a algumas considerações teó-ricas. É através da consolidação do capitalis-mo que grandes capitalistas usam o Estadocomo instrumento de sua política de domi-nação dos países menos avançados.

Verifica-se que a ação do Estado em relaçãoao processo de crescimento vertical favorecea uma ocupação menos racional, daí aemergência de vários problemas sociais.

Quanto aos estudos geográficos que anali- Na realidade, o Estado dispõe de um con-

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junto de instrumento que pode empregar emrelação ao espaço urbano. São os seguintes:direito de desapropriação e procedência nacompra de terras; regulamentação do uso dosolo; controle e limitação dos preços de te-rras; limitação da superfície da terra de quecada um pode se apropriar; impostos fun-diários e imobiliários que podem variar se-gundo a dimensão do imóvel, uso da terra elocalização; taxação de terrenos livres,levando a uma utilização mais completa doespaço urbano; mobilização de reservas fun-diárias públicas, afetando o preço da terra eorientando especialmente a ocupação do es-paço; investimento público na produção doespaço, através de obras de drenagem, des-montes, aterros e implementação de in-fraestrutura; organização de mecanismosde crédito à habitação; pesquisas, opera-ção -tese sobre materiais e procedimentosde construção, bem como o controle de pro-dução e mercado deste material.

É através destes instrumentos de dominaçãoque o Estado se mostra soberano no urbano.Na realidade, a cada momento, o Estado criae dispõe de novos mecanismos de controleque tendem a se tornar cada vez maisrígidos com o decorrer do tempo, a fim deratificar os privilégios da classe ou grupodominante (Mendes, 1992).

Observa-se dessa forma, que esta complexae variada gama de possibilidades de ação doEstado capitalista não se afetiva ao acaso.Nem se processa de modo socialmente neu-tro, mas tende a privilegiar os interesses da-quele seguimento ou segmentos da classedominante que, a cada momento, estão nopoder. É preciso salientar que a açãodo Estado se processa em vários níveispolítico-administrativos: federal, estadual emunicipal.

A atuação do Estado visa criar condições derealização e reprodução da sociedade capi-talista, isto é, condições que viabilizem oprocesso de acumulação e a reprodução das

classes sociais e suas frações.

Com base nestes propósitos, verifica-se:

O Estado capitalista cria mecanismosque levam à segregação residencial eà sua ramificação, assim, os diferen-ciais do imposto territorial e predialsão fortes fatores discriminativos,afetando o preço da terra e dos imó-veis e, como conseqüência, incidindona segregação social: os grupos derenda mais elevados residem em imó-veis mais caros localizados em bairrosonde o preço da terra é mais elevadoe os de renda mais baixa na periferia,onde geralmente os preços são meno-res (Mendes, 1992:39-40).

O Estado, com isso, acaba sendo um pro-dutor imobiliário que usa principalmente osimpostos para delimitar o uso do espaçourbano, desocupando áreas e/ou loteandooutras quando preciso, desde que isso ofavoreça ou a terceiros.

O Estado, em sua multiplicidade de papéis,além de atuar como industrial e consumidorde espaços privilegiados, proprietário fun-diário e promotor imobiliário, age como regu-lador do uso do solo e intervencionista emnegociações imobiliárias. Em alguns casos,facilita a introdução do capital privado a fimde valorizar espaços urbanos em busca demodernidade funcional e visual, assegu-rando o embelezamento da cidade aomesmo tempo em que se esquiva de gastose preocupações, pois entrega para àadministração e controle privado, parcelasdo solo que poderiam ser de uso coletivo.Essa ação variada e complexa do Estadonão lhe atribui um caráter de neutralidade,tão pouco uma racionalidade social, emmuitos casos,

... ele tende a privilegiar os interessesdaquele segmento ou segmentos daclasse dominante que, a cada momen-

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to estão no poder (...), a atuação doEstado se faz fundamentalmente emúltima análise, visando criar condiçõesde realização e reprodução da socie-dade capitalista (Corrêa, 1989: 26).

Comprovando desta forma o papel corpo-rativo do Estado, percebe-se que o mercadoimobiliário comporta-se em algumas oca-siões como um elo mediador do processo deacumulação do capital, exigindo do Estadouma ação reguladora dos investimentos,impondo limites e leis que regulamentam ouso do solo.

O Estado, é responsável pela maioria dosserviços urbanos e desempenha importantepapel na determinação das demandas pelouso de cada área específica do solo urbanoe, portanto, do seu preço, o que gera, sem-pre que possível, a especulação, que podeelevar sobremaneira os preços em função daconcorrência.

O capital incorporador é definido como aquelafunção do capital que se valoriza pela articula-ção destes diversos serviços prestados. Ouainda, como aquele que desenvolve o espaçogeográfico organizando os investimentos pri-vados no ambiente construído, em especialaqueles destinados à produção de habitações.

Entende-se a atuação do capital incorpo-rador como aquele que se valoriza (e seexpande) ao tentar assumir o controle doprocesso pelo qual rendas fundiárias sãocriadas e apropriadas. No entanto, para suaviabilização nestes termos, o capital incor-porador deve assumir esse processo deforma contraditória.

O incorporador não é o agente-suporte docapital produtivo, como o é o caso do arren-datário que investe na agricultura. Seu capi-tal se valoriza na espera da circulação damercadoria e não no momento da produção.

de processos de valorização de capitais(terrenos para a indústria); suporte de ati-vidades econômicas não capitalistas (locaisusados para pequeno comércio como o arte-sanato); pode também ser usada apenascomo suporte de consumo (quando se tratade terrenos utilizados para moradias); e final-mente, pode servir como meio de reserva devalor (através da compra e retenção por umagente econômico).

Trata-se de uma relação de dominação/subordinação. Com efeito, por controlar oacesso e a transformação do uso do solo epor ser um agente-suporte do capital decirculação necessário ao financiamento daprodução e da comercialização, o incorpora-dor está em posição de dominação do pro-cesso de produção. A empresa construtoratrabalha sob a encomenda do incorporador.Este paga ao construtor o preço geral deprodução, ou seja, os custos de produçãoe mais o lucro determinado pela taxa geralde lucros.

Para melhor apreender o capital incorpora-dor e entender como se efetiva sua valoriza-ção, é necessário distinguilo daqueles reali-zados, por outros capitais, em especial oindustrial, o comercial e o financeiro.

No contexto do capital incorporador frenteaos demais, para se resgatar como aquelese impõe à matriz da estruturação urbana,há de se ponderar sua atuação tanto noaumento da diferenciação (criando rendasdi-ferenciais onde elas não existiam anterior-mente ao ampliando sua incidência) comona maior homogeneização do espaço quan-do afeta a média das condições (marginais)para a incorporação.

Os proprietários fundiários sobrevivem àscustas de capitalistas, embora esta relaçãopasse a se realizar indiretamente via saláriosdispendidos em moradias.

Por outro lado, a terra pode ser: suporte Nesse sentido, o capital incorporador faz jus

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a uma fatia de massa de mais-valia pormotivos análogos àqueles dados ao capitalcomercial e ao capital financeiro.

Em suma, analogicamente ao capital finan-ceiro, o capital incorporador também reduz ocusto de circulação ao racionalizar a ocupa-ção do espaço e/ou orquestrar vários agen-tes, inclusive financeiros, na realização degrandes operações imobiliárias.

Por sua vez, o capital comercial suposta-mente reduz os custos de circulação na me-dida que estes custos seriam mais elevadosse cada unidade industrial tivesse que con-verter suas mercadorias em dinheiro.

Ao capital incorporador interessa acelerar aatividade das transações no mercado imobi-liário com paulatino aumento no preço dosimóveis, o que gera um aumento na parcelado orçamento destinado à moradia (sobre-tudo, no processo de construção de edifí-cios).

Embora, no que concerne aos negóciosimobiliários, os interesses do capital comer-cial e incorporador, em princípio, sejam apa-rentemente idênticos, a apropriação da mais-valia circulante entre um e outro capital podeenvolvê-lo em questões muitas vezes con-flituosas.

Assim, as variações de rendas fundiárias in-corporadas ao preço da habitação, somentesão realizadas na medida em que o móvel écomercializado. Porém, o volume de imóveiscomercializados diretamente pelo capital co-mercial pode ser fracamente reduzido, namedida que o capital incorporado vai se tor-nando hegemônico na promoção de novosempreendimentos. Na realidade, a promoçãoimobiliária sob a égide dos interesses da in-corporação restringe de certa forma, a exten-são do mercado imobiliário controlado direta-mente pelo capital em geral.

ração do espaço, o capital incorporador fazcom que se pague, hoje, pelos eventuaisganhos (na forma de valorização imobiliária)que ele mesmo trata de eliminar amanhã. Noentanto, os débitos transferidos aos mutuá-rios permanecem.

Embora o capital incorporador associado àparcela relativa do total da produção de ha-bitações, ele assume considerável, para nãodizer decisiva, importância sobre o restantedo mercado imobiliário urbano, na medidaque afeta de modo significativo o padrão deuso do solo urbano, visando ainda, a inter-venção do Estado na alocação espacial demeios de consumo coletivos e na dosagemde recursos financeiros disponíveis para osdiferentes segmentos da sociedade, além decontribuir fortemente para a segmentação doprocesso do mercado de trabalho na cons-trução civil e condicionar o processo técniconeste setor.

CONTEXTUALIZANDO A CIDADE DEMARINGÁ

Nascida como cidade projetada, Maringápossui um padrão de urbanização recon-hecido como referência ema nível nacional.É dotada de um sistema viário de amplasruas e avenidas, fartamente arborizadas,com a preocupação de preservação de seusfundos -de -vale, córregos e nascentes.

Maringá, teve sua origem de forma plane-jadafoi planejada em 1942, pela empreen-dedora -Companhia Melhoramentos Nortedo Paraná, que adotou uma política deestímulo a migrantes das mais diversas pro-fissões e foi- a maior responsável pelodesenvolvimento do Norte do Paraná.Porém, juridicamente, nasceu somente em10 de maio de 1947, logo após a demarca-ção da estrada de ferro. Foi inicialmente dis-trito de Mandaguari e obteve emancipaçãopolítica em 1951.

Enfim, ao assumir o comando da estrutu- Tal A empreendedora teve grande cuidado

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José Roberto Machado e César Miranda Mendes

em planejar desde sua localização atésua instalação e expansão territorial. ParaEndlich (1999), Maringá tem uma localizaçãoprivilegiada, por ser o centro da área colo-nizada pela Companhia, com uma boa in-fraestrutura rodoviária e ferroviária. Seu,possuindo relevo é suave e a região, dis-põeonibilidade de abundante água e boascondições climáticas.

O plano original de Maringá, elaborado peloarquiteto urbanista acima citado, posicio-nava a estação ferroviária na área central eutilizava a linha férrea como divisor dasporções norte e sul. Porém, foi na porçãosul que ele projetou uma cidade capaz deabrigar cerca de 200 000 habitantes em 50anos. O projeto distribuía detalhadamente alocalização dos bairros e suas funções(residencial, residencial popular, industrial,armazenagem, aeroporto, estádio municipal,etc.) em uma combinação da Carta de Ate-nas com as idéias de cidades-jardim elabo-radas por Ebenezer Howard.

Pertencente à Rregião Norte Central doParaná, Maringá tem sua economia baseadana agricultura (soja, trigo, cana-de-açúcar,algodão e milho), porém com um enormepotencial para a produção industrial e a pres-tação de serviços. Essas condições são pro-porcionadas dustrial e prestação de serviços,fatores estes, condicionados à cidade, poresta ser pólo de uma imensa região deinfluências e entroncamentos de importantesrodovias e ferrovias, e ainda caminho da pro-dução deste e de outros Estados para o

Mercosul.

Cuidadosamente projetada (projeto políticotanto privado como público) com a previsãode que chegasse a 200 000 habitantes em50 anos, Maringá desponta hoje como umcentro urbano ultrapassando 300 000 habi-tantes (Tabela 1), com apenas 56 anos deexistência, superando em muito as expec-tativas de seus colonizadores.Para Luz(1988), Maringá se consolidou como centrourbano de relevância por sua posição privi-legiada, crescimento demográfico e dina-mismo econômico, refletindo hoje o planeja-mento que a idealizou como capital regional.

O dinamismo da urbanização, o crescimentodemográfico, as migraçãoões doe tipocampo-cidade, a industrialização e as mu-danças no mercado de trabalho explicamboa parte das alterações territoriais ocorridasno país desde os anos 1950, e também foivistaso em Maringá. O rápido processo deexpansão da cidade é fruto principalmentede sua localização privilegiada, como centroda área colonizada pela Companhia deMelhoramentos Norte do Paraná, coloniza-dora da região. É dotada de uma boa infra-estrutura rodoviária e ferroviária.

A rodovia federal (BR 376) faz conexão deMaringá com o Centro-Ooeste do Brasil,através do Mato Grosso do Sul, e, por outrolado, de Maringá com Curitiba, e a partir daí,em pista dupla até o Porto de Paranaguá eo litoral da Região Sul. As rodovias BR 376 ePR 444 conectam Maringá à BR 369, em

Tabela 1. População Urbana, Rural e Total de Maringá no período de 1950/200

Urbana

R u r a l

T o t a l

1 9 5 0

7 2 7 0

31 3 1 8

3 8 5 8 8

1 9 6 0

4 7 5 9 2

5 6 6 3 9

104 2 3 1

1 9 7 0

1 0 0 100

21 2 7 4

121 3 7 4

1 9 8 0

160 6 4 5

7 5 4 9

168 194

1991

2 3 3 7 3 2

6 198

2 3 9 9 3 0

1 9 9 6

2 6 0 9 0 9

6 9 6 9

2 6 7 8 7 8

2 0 0 0

2 8 3 7 9 2

4 6 7 3

2 8 8 4 6 5

Fonte: IBGE-Censos Demográficos de 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000; e contagem da populaçãoem 1996. Org.: Machado, J. R.

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O processo de verticalização do centro de Maringá-PR, Brasil

direção a São Paulo e ao Porto de Santos.Por sua vez, a PR 317 faz a ligação deMaringá com ao linterior Paulista em direçãoao Norte do Brasil, com ligação ao Sul doMato Grasso do Sul e Bolívia. Ao sul conectaMaringá à BR 369, e a partir daí, aos paisesdo Mercosul.

Já o transporte ferroviário é operado pelaAmérica Latina Logística, com destino a Pa-ranaguá e a Ourinhos. A partir desta últimacidade é feita a ligação com São Paulo eSantos. A ferrovia opera com transportede grãos a granel, combustível, granéisnão perecíveis e cargas ensacadas. Maringáconta ainda com um aeroporto internacional,onde operam aeronaves comerciais conven-cionais (Fokker 100, Boeing 737-300, ERJ-145, EMB-120). O aeródromo dispõe aindade infra-estrutura para carga aérea.

Mesmo sendo uma cidade nova, Maringáconta hoje com mais de 300 000 habitantes,possuindo uma região metropolitana superiora 500 000 habitantes em 8 municípios. É aterceira maior cidade em número de popula-ção e umas das principais em termos econô-micos. Sua economia estáa ancorada prin-cipalmente na agroindústria. Desde a suafundação até aproximadamente 1970 era aeconomia baseada na produção do café;hoje predomina a soja, o milho e o trigo,seguido pela cana-de-açúcar (segundomaior produtor do Estado) e a indústria emseus diversos setores e derivados.

Segundo o CONSÓRCIO METROPLAN(1989:6)

... no Paraná, o peso da economia daRegião Metropolitana de Maringá ésignificativo no País. Isto se deve emgrande parte, ao período de prosperi-dade vivido pela região na década de80. A participação no valor adicionadono Estado em 1980 foi de 3% passan-do a 4.2% em 1985 e chegando a4.9% em 1989, resultado do cresci-

mento da agroindústria e da agrope-cuária, setores menos afetados pelacrise.

Na década de 1990, a pecuária manteve-secomo a segunda maior atividade no setorprimário, principalmente pela produção daavicultura, que se apresentou como a maisimportante do município, e, também, segui-dao pela deos bovinos e suínos.

A fertilidade das terras da região ser umaregião com terras férteis, possibilitou aimplantação de um modelo econômico diver-sificado e produtivo, com base na agroin-dústria. A região possui dados de indica-dores econômicos, que tornam garantemaos investimentos na área com base sólida,estável e confiável quanto ade suprimentode insumos, infra-estrutura, mão-de-obraqualificada e mercado potencial de vendasno Brasil e no Exterior. Rrespondendo poruma grande parte da produção agrícola doParaná e está entre as maiores neste setorem todo o Brasil.

A agroindústria destaca-se ainda com o pro-cessamento de carnes bovina e aves.O beneficiamento do couro na região deMaringá ocupa hoje uma posição de desta-que nacional. É realizado por um dos maio-res e mais modernos curtumes do país,instalado há vários anos na cidade. E se aárea de beneficiamento tem participação im-portante na economia de Maringá, a indús-tria de manufatura de couro também sedestaca. Muitas empresas têm no produto aprincipal matéria-prima. São, na maioria,pequenas indústrias que produzem cintos,bolsas, calçados, roupas e luvas de raspapara trabalho.

O setor secundário está alicerçado basica-mente na agropecuária; não obstante severifica considerável número de unidadesindustriais nos gêneros metalúrgico, mo-biliário, químico, de vestuário e alimentício.

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Maringá, juntamente com Marialva eSarandi -cidades que fazem parte da regiãometropolitana de Maringá, estando esta últi-ma conurbada com Maringá- detém umadas maiores capacidades no processamentode soja e refino de óleo do Paraná, trabalhorealizado principalmente pela COCAMAR(Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecua-ristas de Maringá).

A produção da soja segue dois destinosprincipais. O primeiro é o escoamentodopelo porto de Paranaguá em direção àEuropa e Ásia, e o segundo, a Cocamar, queé a segunda maior cooperativa do Brasil.Essa cooperativa processa a soja e exportapara os continentes supracitados, óleo desoja e farelo de soja, este último, prin-cipalmente para a Ásia. As exportaçõestambém são feitas para países da Américado Sul, principalmente para os membros doMercosul. Além dos citados países e conti-nentes, a cooperativa é a principal distribui-dora do óleo de soja e seus derivados paratodo o Brasil, principalmente na regiõesãoSul e Sudeste.

Entre os vários segmentos de oportunidadede investimentos no setor industrial na cida-de de Maringá, temos os de metal-mecânica,agroindústria, vestuário, prestação de servi-ços e turismo.

As indústrias metal-mecânicas de Maringáatendem todo o território nacional e expor-tam também para países da América Latina,uma gama muito grande de produtos, taiscomo: bronzinas, rodas para caminhões,equipamentos rodoviários como trucks, bas-culantes, peças para colheitadeiras, máqui-nas para benefício, transporte e limpeza degrãos, bombas hidráulicas para propriedadesrurais, entre outros e ainda a parafusos pararoda de trator, sendo de que é a única fa-bricante no Paraná.

Com equipamentos de alta tecnologia, mui-tas empresas do setor de metalurgia têm

encontrado novas alternativas de mercado,prestando serviços de usinagem de peçaspara pequenas e microempresas de Maringáe região, o que faz de nossa cidade pólorepresentativo do setor no Estado doParaná.

O setor de confecções em Maringá registrouum crescimento extraordinário. O número, oporte das indústrias e a qualidade dos pro-dutos deste segmento estão demonstrandoque a cidade é um pólo confeccionista queatrai compradores de todo o país. O volumede recursos que o setor movimenta, onúmero de empregos gerados e a própriamovimentação que as indústrias têm pro-movido na cidade são prova desta força.

Maringá está colocada entre as cidades tu-rísticas do Brasil, pela beleza natural, comseus bosques centralizados, e também pelabelíssima Catedral de Nossa Sra da Glória,em forma de cone, com 124 metros de alturae suas fontes no mesmo formato. O monu-mento é o décimo mais alto do mundo.

As maiores atividades de Maringá estão cen-tradas no setor terciário (Tabela 2), tendo-seem vista o papel de pólo regional, que exer-ce juntamente com Londrina, bem como pelavariedade de serviços que a cidade oferece.Essas atividades, ao que tudo indica, serãoatividades especializadas, principalmenteporque Maringá poderá se transformar emum grande centro de prestação de serviçosespecializados de ensino universitário, poisatualmente a cidade possui oito instituiçõesde ensino de nível superior.

O que podemos dizer é que Maringá apre-senta um forte papel no ramo comercial eserviços em sua região de influência (Me-sorregião Norte-Central Paranaense). Masnão podemos esquecer que o setor industrialnão atingiu maior desenvolvimento, pois estáconcentrado principalmente na região metro-politana de Curitiba. Mesmo assim, a me-sorregião em quea qual está a cidade de

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O processo de verticalização do centro de Maringá-PR, Brasil

Tabela 2. Divisão por atividades em Maringá

Ramo de AtividadeIndustria

Comércio AtacadistaComércio VarejistaPrestadores de ServiçosTotal

N° de empresas1 361

3555 3 3 86 286

13 340

Porcentagem (%)10.202.66

40.0147.12

100.00

Fonte: Secretaria Indústria e Comércio - 2003. ORG.: Machado, J. R.

Maringá, tem a segunda maior participaçãonos segmentos da indústria moderna (mecâ-nica, comunicação e transporte). O setorcomercial é sustentado através do comérciovarejista e atacadista: o comércio varejista éum dos pilares de sustentação na economiamaringaense.

A vocação comercial de Maringá pode sercomprovada pelo dinamismo e pela varie-dade de artigos oferecidos pelas empresasdos setores de produtos alimentícios,farmacêuticos, vestuários, eletrodomésticos,ferragens, livrarias, restaurantes, lancho-netes. Por se r um pólo atadadista, os pre-ços dos produtos tambén são competitivos.Estes fatores reunidos atraem consumidoresde várias regiões do Paraná, do Ssudoestede São Paulo e de algumas cidades do MatoGrosso e Mato Grosso do Sul. Outro fatorque tem colabora-do para atrair investi-mentos na área comercial é a lei que liberouo horário de funcionamento do comércio.Desde 1991, as empresas maringaensespossuem liberdade para abrir e fechar asportas de acordo com a sua conveniência.Esta lei é considerada um avanço para ocomércio; já o setor atacadista tem atual-mente uma participação de destaque noproduto interno bruto brasileiro. Isto, mostraa importância e a forte atuação deste seg-mento. Maringá tem participação significativa

nos números que compõem o cenárionacional do segmento atacadista. Estasempresas atendem um vasto mercado, queengloba os Estados de São Paulo, MatoGrosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia,Bahia, Santa Catarina, Goiáas, Paraíba eDistrito Federal.

Já a prestação de serviços, no contexto daeconomia do município, esta voltada para osserviços especializados nas áreas médica,hospitalar, de consultoria e outras. A Uni-versidade Estadual de Maringá-UEM,participa desse processo com a formaçãode recursos humanos e sua especialização(graduação, pós-graduação e doutorado).

Em virtude de o processo desua colonizaçãoda região ter atraído uma corrente migratóriamuito grande do Estado de São Paulo, embusca de suas terras, próprias para a plan-tação de café, nota-se uma grande relaçãoda população de Maringá com esste Estado,eprincipalmente com a cidade de São Paulo,superior à mantida com a capital do Para-ná, -Curitiba-, a qual passou a ser expre-ssiva apenas em meados da década de1970.

Outro fato importante com relação àrela-cionado com a cidade de São Paulo, foiemque, com decorrência da explosão da ver-

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ticalização nas cidades brasileiras, ocasio-nadas pelas facilidades de créditos propi-ciadas em função dpelos planos econômicosadotados nos anos 1980, onde construtorasdaquela cidade realizaram vários empreen-dimentos em Maringá.

Verifica-se também a migração de váriasmuitas famílias da cidade do Rio de Janeiropara Maringá, em busca dae tranqüilidade equalidade de vida que a cidade oferece.Dentro de, pois comparando com seu suacondição de cidade de médio porte, ela estámuito à frente em relação às de outras ci-dades congêneresde porte médio, e por issoestá atraindo várias famílias de grandescentros urbanos do país.

Em relação à distribuição da população,Maringá não fugiu àa regra das cidadesplanejadas, ficando claramente marcados osníveis de estratificação social, ou seja, a se-gregação excludente. Em sua planta original,com as dez zonas iniciais, ficou evidente ointeresse da iniciativa privada em demarcaro território das pessoas de maior poder aqui-sitivo. A Zona 1 (Zona central) foi destinadaao uso comercial/residencial (área de análiseque se encontra no capitulo seguinte), comas mais diversificadas atividades e funções,fluxos materiais e imateriais. Contíguaso aesta zona central, forami estabelecidaso aàszonas residenciais 2 e 5 como de (alto pa-drão), às zonas residenciais 4 e 7 como demédio padrão e a Zona 3 como residencial/operária de baixo padrão. As áreas e, próxi-maso à área de baixo padrão ficaramoureservadaso para a zonaa instalação de em-presas industriais.

Hoje, nota-se claramente a materializaçãodo plano inicial adotado pela colonizadora:um planejamento segregador.

Com o crescimento da cidade e com o altovalor do uso do solo, principalmente nasáreas próximas ao centro, surgiu um sem-número de loteamentos na periferia da

cidade, excluindo o acesso a milhares depessoas do acesso a essas áreas maisnobres. Mesmo esses loteamentos não sãoatrativos para boa parte da população, quenão tem condições de pagar o valor esta-belecido pelas loteadoras. que Estas procu-ram maximizar seu capital, o que levandoessas pessoas estas últimas (as que podem)a adquirirem seus terrenos nas cidadesconurbadas coma Maringá (Sarandi ePaiçandu), que são consideradas por algunsautores como sendo cidades- dormitórios,pelo valor baixo dos terrenos, como pode-mos ver na afirmação seguinte:

A conurbação manifestou-se, primeira-mente, com maior intensidade entreMaringá e Sarandi e, logo a seguir,entre Maringá e Paiçandu. Sarandi ePainçadu, face sua proximidade deMaringá e, sobretudo, pelo menor cus-to da vida urbana, acolheram milharesde novos habitantes, durante as duasúltimas décadas do século XX, trans-formando-se em cidade dormitórios.Papel que gradativamente vem per-dendo intensidade (Moro, 2003: 68).

Nota-se também a transferência da popula-ção das zonas 4 e 5 em direção àa ZonaCentral e Zona 7. Estas últimas são as duaszonas com o maior índice de verticalizaçãoda cidade, com edifícios de alto padrão, eMuitos também se transferem para algunscondomínios horizontais fechados situadosna periferia ou em espaços bem-localizados,deixados em "pousio social" para posteriorespeculação imobiliária e conseqüentementevalorização.

Iniciada com dez zonas, Maringá conta hojecom 50; entretanto, verifica-se que as áreasreservadas para a classe social maisabastada da sociedade, realmente foramocupadas por elas. Essas zonas, além depossuírem as melhores localizações geográ-ficas da cidade, concentram as famílias comos níveis de renda mais altos, conforme a

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O processo de verticalização do centro de Maringá-PR, Brasil

Tabela 3.

As demais zonas e bairros possuem umnível de renda por chefe de domicílio comuma subtração diferença para menos ele-vada em relação às cinco zonas já citadas.Em sua maioria, a população necessita deatendimento principalmente na área da saú-de, pois o município está enfrentando umgrave problema nesse setor, como a falta deleitos em hospitais, enormes filas nos postose centro de saúde e a, falta de medicamen-tos, entre outros. Enfrenta igualmente pro-blemas com de infra-estrutura e segurança,ocasionados principalmente pelo crescimen-to acelerado e exacerbado da cidade. Algu-mas pessoas, aproveitando a demanda pormoradia e os planos de financiamento paraaquisição da casa própria oferecidos peloBanco Nacional de Habitação (BNH), lotea-ram áreas mesmo sem a aprovação daprefeitura, deixando seus adquirentes semas condições mínimas de infra-estruturanecessárias.

BREVE RESGATE HISTÓRICO DAVERTICALIZAÇÃO MARINGÁENSE

Maringá, considerada pela própria Com-panhia Melhoramentos Norte do Paranácomo um "expoente" de seus trabalhos (Luz,1988), tem apresentado nas últimas décadasum crescimento espacial bastante acentuado(principalmente vertical).

A cidade foi dividida em várias zonas dis-tintas, através de padrões de zoneamentorígidos de habitação, tais como: a do comér-cio, da indústria, armazéns e uma zona deserviços públicos, definindo assim suas fun-ções urbanas.

Maringá foi elevada a categoria de municípioem 14 de novembro de 1951, e a partirde então, a cidade se desenvolveu rapida-mente, transformando-se em importanteregião metropolitana nos dias atuais.

Então, observa-se que:

Tabela 3. Número de população e renda de chefes de domicílio nas 5 principais zonasda cidade de Maringá-PR

ZO N A

17524

População

Número

10 57723 6176 6475 7955 655

Classificação

6°1°15°19a

20°

Renda em Salários Mínimos

15-30

3 1754 2691 2101 1631 047

+ de 30

2 8251 356798699676

Classificação

1°2°3o

4°5o

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2000. Org.: Machado J. R.

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Os primeiros edifícios da cidade eramdestinados ao comércio e atendiam àsnovas necessidades da divisão dotrabalho e da concentração de ativi-dades, no entanto na realidades bra-sileira e maringaense o destino foi ohabitacional (Mendes, 1995:04).

Dentro deste aspecto, o periodo de vertica-lização da cidade de maringá divide-se emquatro fases distintas entre sí.

O primeiro período (1960-69), é resultado doexcedente de riquezas, oriundas sobretudoda fase inicial da cultura cafeeira e dasatividades comerciais, e durante essa fase,foram construídos 13 edifícios, estandotodos no centro.

Os projetos aprovados eram discriminadoscomo de: alvenaria horizontal, madeira ealvenaria vertical. As construções de ma-deira foram aqueles que apresentaram umamaior quantidade e um comportamento cres-cente ao longo do período. Tal fato se deveà disponibilidade de matéria-prima serregional, incentivos e capitais oriundos daCompanhia (principalmente 1947-60), eaqueles que já acumulavam capital das pro-duções agrícolas, sobretudo da cafeicultura.Enfim, devido ao próprio processo de desen-volvimento desencadeado na região de for-ma dinâmica e acelerada.

Em 1965, ocorreu relativa redução dos proje-tos em geral, resultado das mudanças estru-turais, ocorridas com o Golpe de Estado de1964. Embora, observava-se que a taxade inflação iniciava novo ciclo de reduçãonos seus índices.

Já em relação aos projetos destinados àalvenaria, estes apresentaram um comporta-mento diferenciado quanto aos de madeira.Apresentaram um crescimento oscilante, re-sultante dos custos dos materiais de cons-trução, bem como pelas altas taxas de in-flação, e a distância em relação aos centros

produtores e distribuidores, naquela opor-tunidade: Apucarana, Londrina, Curitiba eSão Paulo.

Quanto aos projetos de alvenaria vertical(edifícios), o mercado da construção civildava início, com sua participação. Notranscorrer do primeiro período do processoem discussão, este apresentou duas fasesdistintas nos anos sessenta. Segundo algunscidadãos do mercado imobiliário local, o de-senvolvimento do aludido processo ocorreudevido ao acúmulo de capital por parte dealguns fazendeiros e comerciantes. Assim,dentre outros investimentos (papéis do sis-tema financeiro, fazendas, apartamentos,dentre outros) investiu-se em apartamentose escritórios dos edifícios destinados à pres-tação de serviços e para habitação da bur-guesia emergente. Estes acabaram se locali-zando na Zona 1 (Centro/ZC-1).

Entre os anos de 1958 e 1967 a produção decimento nacional aumentou, bem como seuconsumo, e diminuíram as importações que,como vimos, eram selecionadas pelo Gover-no Federal. As importações retomaram o seucrescimento a partir de 1967.

Os edifícios levados a efeito no primeiroperíodo do processo de verticalização,localizando-se na Zona 1 (ZC-1), em funçãoda área apresentar infra-estrutura necessáriae dispositivos da legislação urbana queviabilizassem a construção dos mesmos.

Este período de verticalização de Maringá,só não foi mais expressiva pela conjunturaeconômica passada pelo país naquelaoportunidade, caracterizada por altas taxasde inflação.

Outro aspecto de realce no contexto doperíodo, foi o que demonstrava que a Zona 1(ZC-1) apesar da infra-estrutura nela ins-talada, essa não existia em toda extensãogalerias pluviais e rede de esgoto, funda-mentais para a edificação.

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O processo de verticalização do centro de Maringà-PR, Brasil

Este período caracterizou-se pela inexis-tência total de projetos aprovados paraconstrução de edifícios. Como já foi abor-dado anteriormente, essa paralisação foi fru-to da "crise estrutural de economia brasileira,o que levou os investidores a aplicarem emfontes alternativas mais lucrativas, como ospapéis financeiros" (Mendes, 1992:190).

O segundo período (1970-79), marcado pelamodernização da agricultura caracterizou-secomo aquele de expansão vertical paraatender a classe média e alta, cada vezmaiores quantitativamente no solo urbano.Foram trinta e nove o número de projetosaprovados de edifícios, sendo 14 deles nocentro (zona 1).

Nesta fase do processo de construção deedifícios em Maringá, ocorreu o início de umprocesso de substituição das construções demadeira, pelas de alvenaria, resultante dasegunda fase de ocupação mais intensaassociada a crescente acumulação de capi-tais pela classe alta.

No ano de 1975 foram aprovados dezenoveprojetos de edifícios, onde treze deles estãolocalizados na Zona 1, onde uma minoriateve como fim o setor terciário, enquanto queà maioria destinaram-se ao setor habitacio-nal das classes média e alta da comunidadelocal.

No ano de 1976-79, houve uma queda docrescimento vertical que acompanhou adesaceleração da economia. A industria daconstrução civil foi considerada inflacionáriapelo Governo Federal que restituiu o impostosobre o lucro imobiliário e impediu o acessodos incorporadores ao capital de giro. Apartir daí os construtores deveriam possuirrecursos próprios para a aquisição dosterrenos, pois os bancos foram proibidosatravés de Resolução Federal, de concederfinanciamento a ele. Apesar desse declínio,houve significativa elevação da taxa deinvestimentos da economia. Por outro lado,

não houve restrições às importações, queaumentaram.

É nesse período que ocorreu a associaçãode algumas construtoras locais de portemédio, com o objetivo de impedir a penetra-ção de grandes construtoras de Curitiba porum lado, e de outro, fazer concorrênciafrente às exigências do mercado no caso,para a construção de edifícios de grandeporte. A associação das construtoras marin-gaenses foi viabilizada num curto período,tendo um relativo sucesso.

No terceiro período que vai de 1980-89,marcado pela agroindústria, nota-se umadistribuição ampliada da área dos edifícios,se compararmos com os períodos anteriores.Foram construídos 711 edifícios, dos quais99 estão localizados no centro tradicional.Nota-se então, uma porcentagem maior deedifícios construídos na década de 80, de-correntes da dinâmica do processo econô-mico levada a termo na década dos planoseconômicos (Cruzado, Bresser e Verão),esse processo de construção de edifícios,principalmente de médio e grande porte,generalizou-se a partir do momento em quenão existiam leis que ordenassem e discipli-nassem a ocupação do solo urbano.

A verticalização dos anos 80 foi maior doque em períodos anteriores, sendo cons-tantes os lançamentos de edifícios de gran-de porte que se destacam na paisagem, osquais são voltados para a classe de altopadrão econômico.

No bojo deste processo, interferiam os in-teresses explícitos de grupos ou pessoas depoder econômico e político da cidade eregião e, dos incorporadores em realizar talempreendimento, os quais tinham grandesretornos lucrativos, lançando empreendi-mentos de médio a grande porte mais ao sulda zona estudada, principalmente da a partirda década de 80, e ao norte, possui poucosedifícios, sendo quase todos construídos até

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o início da referida década, estando destaforma, em alguns casos, deteriorados e emprocesso de revitalização, ou seja, estáevidente o processo de segregação social nocentro.

Somente nos anos noventa, é que o poderpúblico assumiu uma postura mais coerentequanto a verticalização do Centro Tradicio-nal, mesmo que, coagido pelo governofederal, tendo em vista que o Ministério daAeronáutica em vistorias a Maringá, proibiu aconstrução de edifícios com mais de 18pavimentos, devido ao tráfego aéreo próximoao aeroporto. Assim, o prefeito RicardoBarros aprovou nova legislação urbana, naqual foram reduzidos os coeficientes deaproveitamento, que é a área de construçãodividida pela área do lote. Este índice era de10 (dez) no Centro Tradicional, conforme aLei N° 1.736 e com o passar dos tempossofreu uma redução nos seus índices,devido a Lei N° 2.631/89, que ficou daseguinte forma: nas ruas comerciais, ocoeficiente era 5 (cinco), nas avenidascomerciais, deveria ser 6 (seis). Nas ruas deuso residencial, o índice passou a ser 5(cinco) e, nas avenidas residenciais, passoua ser 6 (seis). A justificativa para talintervenção do poder público foi à alegaçãode problemas como: saturação da infra-estrutura, problemas estéticos, um adensa-mento excessivo, dentre outras questões.

Os novos índices de aproveitamento são osseguintes: nas ruas comerciais, 4 (quatro), enas avenidas comerciais 4.5. Nas ruas resi-denciais, 4 (quatro) e nas avenidas residen-ciais 4.5.

No quarto período que vai de 1990 a 1999,foi marcado por uma instabilidade político-econômica do país no início dos anos 90,onde foram construídos mais de duzentosedifícios em Maringá, sendo 51 deles nocentro tradicional.

Do total de 173 edifícios (Tabela 4) cons-

truídos e em construção na zona 1, notranscurso desses trinta e nove anos,destacaram-se os seguintes anos: 1984 (15projetos-11.53%) 1987 (11 projetos-15.72%sobre o total), e 1989 (17 projetos-10.17%),este último, ano do plano econômico deno-minado de Plano Cruzado.

Levando-se em consideração algumas espe-cificidades da realidade local, regional enacional, esse período, em que mais dequarenta e sete novos projetos foram apro-vados no Centro, demonstrou uma reduçãoconsiderável daqueles, quando comparadoscom os anos de 1985 e 1990.

É provável que em face de vários fatores,principalmente a instabilidade político-econômica do país no início da década de90, associados às distorções da sobre-vivência no contexto do modo de produçãocapitalista. O mercado imobiliário induzidopela política de financiamentos gradativa-mente se adaptou às questões de globali-zação e de economia ao primeiro olhar maisestável, tendo em vista a política neoliberale o novo plano econômico (real). A culturada inflação levou o setor privado e público daelite regional a buscar saídas pela redução(crise) do desenvolvimento vivenciado emoutros momentos no bojo da cultura domaterialismo.

No sentido de fornecer maiores subsídios àapreensão do processo de verticalizaçãolevado a termo na zona 1, esta vem apre-sentando problemas antes nunca enfren-tados, que são: a concentração de prédios,luminosidade reduzida, aumento de tempe-ratura, falta de espaço, entre outros.

A verticalização do Centro Tradicional deMaringá se encontra bem heterogênea emtermos de números pavimentos, ou seja, oporte do edifício. No que diz respeito entre arelação e o número de pavimentos por edifí-cios, consta-se que as maiores porcenta-gens foram de 23.6% incluídos na categoria

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O processo de verticalização do centro de Maringá-PR, Brasil

Tabela 4. Números de edifícios aprovados no Centro Tradicional de Maringá,conforme o tipo de uso no período de 1960 - 03/08/1999

Período

Até 1969*

1970-1979*

1980-1989*

1990-1999*

Tipo de Uso

ResidencialComercial

MistoTotal ParcialResidencialComercial

MistoTotal ParcialResidencialComercial

MistoTotal ParcialResidencialComercial

MistoTotal Parcial

TOTAL GERAL

N° de projetosAprovados PMM

23813437142515599913112347173

N°deAptos.

45-

15520084-

246330634

-2.0092.643399

-1.0401.439173

N° de SalasComerciais

-23719

256-

11125136

-1.498267

1.765-

483501984

3.141

Área construídaem m2

5.724.8916.361.3526.113.5048.199.7416.989.859.959.75

45.037.9771.987.57131.023.2873.324.71

431.580.07635.928.36101.104.4255.557.61

259.460.54416.122.57

1.172.237.94

Fonte: S.D.U.H., Prefeitura do Municipal de Maringá 05-08-99. Org.: Machado, J. R.* Estão excluídos os edifícios que não constam na listagem da Prefeitura.

de 19-21 pavimentos contra 21.9% na ca-tegoria de 4-6 pavimentos, prevalecendo osinteresses dos incorporadores na obtençãode lucros e acumulação de capital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A verticalização de Maringá não pode sercompreendida apenas como evolução natu-ral da urbanização, mas sim como conse-qüência tanto das transformações técnico-científicas, como das ações definidas a partirdos interesses econômicos e políticos dos

agentes estruturadores do espaço urbano,em que os promotores ou incorporadoresimobiliários são apenas um dos agentesresponsáveis pela (re)organização espacialda cidade. Entretanto, deve-se destacar quea sua atuação no processo modelador doespaço urbano ocorre de forma contundente,deixando registrada a sua principal carac-terística: o interesse na obtenção de lucros eacumulação de capital.

Vimos neste trabalho que, sobre a verticali-zação do centro de Maringá, recai toda

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carga do sistema político, econômico esocial pelo qual a sociedade é regida. Porisso, torna-se um dos principais mecanismosutilizados pelo Governo, como principalgerenciador das estratégias de ocupação doespaço urbano.

Observou-se ainda que devido ao grandeprocesso de urbanização ocorrido na cidadede Maringá nas últimas décadas, estapassou a sofrer pressões sociais devido afalta de habitação. Nesse sentido, o capitalusa de estratégias para monopolizar einvestir neste espaço.

Em vista do até agora exposto, chega-se àconclusão que o processo de verticalizaçãodo centro e conseqüentemente da cidadecomo um todo, é resultante de alguns fato-res, tais como: investimentos oriundos docampo e do setor comercial (no primeiroperíodo, 1960/69); modernização agrícolaocorrida no Estado do Paraná, onde houveuma grande mobilidade populacional (nosegundo período, 1970/79); o crescimentoda atividade agroindústrial (no terceiroperíodo, 1980/89); instabilidade político-econômica do país (no quarto período, 1990a 1999).

Finalmente, o trabalho do mercado imobi-liário com estratégias de comercializaçãodos edifícios, como uma forma segura demorar em apartamentos, prática e dinâmicano sentido de se poupar tempo.

Assim, a verticalização foi uma verdadeirainovação na cidade. Ela veio realizar umacomplexa estratégia do processo de produ-ção capitalista na sua mais ampla dimensão,sintetizando, na produção de um edifício,seus desígnios.

REFERÊNCIAS

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