red carpet janeiro 2009

72
1

Upload: marco-paulo

Post on 04-Mar-2016

214 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Edição de Janeiro de 2009 da Revista Red Carpet

TRANSCRIPT

Page 1: Red Carpet Janeiro 2009

1

Page 2: Red Carpet Janeiro 2009

2

Page 3: Red Carpet Janeiro 2009

EditorMarco A. Paulo

dEsign gráficoFilipe Lopeswww.FiLiPeLPs.net

rEdactorEsÁlvaro BanacoAndré BarbosaBerto CarvalhoCarlos PereiraLeonor PinelaLuís AlvesLuís CostaLuís MendonçaMarco A. PauloMaria Carvalhonuno Cargaleironuno GonçalvesPedro PereiraRafael Jorgesónia Carvalho

[email protected]

[email protected]

PEriodicidadEMensal

agradEcimEntosZon LusomundoCastello Lopes MultimediaPrisvideoLnKnotro FilmesColumbia tristar warner

ficha técnica

críticas

caPaO MiLAGRe seGundO CAte BLAnChett

outras EstrEias dE… JAneiRO

EstrEla Em ascEnçãoevAn RACheL wOOd

toP10Os MeLhORes FiLMes de 2008

cinEma PortuguêsJuventude eM MARChA

o univErso dE david finchEr

vErsusROCKnROLLA veRsus snAtCh

sob o signo dE…uGetsu MOnOGAtARi

20 aPostas Para 2009

cinEma clássicoAnGeL FACe: A essênCiA de uM OLhAR (ii)

só Para adultosO PiAnO POR nunO CARGALeiRO

sériEdOCtOR whO

dvdA ListA de sChindLeR

4

16

22

24

26

42

44

50

52

54

58

62

64

70

indícE

Page 4: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s4

filho dE rambow - um novo hEróipor: berto carvalho

8/10Comédiadrama

argumEnto Garth JenningsrEalização Garth Jenningscom Bill Milner, will Poulter, Jessica hynes2008

Filho de Rambow - um novo herói, é o segun-do filme de Garth Jennings, autor da adapta-ção de À Boleia pela Galáxia que dividiu tanta gente em 2005. eu faço parte do leque de pes-soas que não gostaram de À Boleia pela Ga-láxia, e por isso, parti com algumas reticências para este novo filme. Felizmente, esta segunda tentativa é bem mais sólida do que a sua es-treia como realizador.

No filme acompanhamos duas crianças, Lee Carter e will Proudfoot que embora sejam mui-to diferentes, acabam por construir uma forte amizade. Will pertence a uma família extrema-mente conservadora cuja religião e tradições proíbem o contacto com o mundo moderno, enquanto Lee é uma criança rica que vive com o seu irmão negligente e longe dos pais. no início, a ingenuidade de will e a astúcia de Lee leva-os a uma relação conflituosa, no entanto, por causa de um filme, a sua amizade acaba por ficar cada vez mais forte. Com o intuito de participar num concurso onde se pede às cri-anças para realizarem um filme, os dois pro-tagonistas decidem fazer uma sequela do seu herói favorito, Rambo. nasce assim, o Filho do Rambow. A acção decorre durante os anos 80 e a representação dessa década é óptima …

se por ventura viveu esse período, vai gostar de relembrar as diversas referências dessa época.

Os dois jovens actores são pequenos prodígios que agarram de forma brilhante todo o filme. Bill Milner e will Poulter são valores a ter em atenção para o futuro e o resto do elenco infantil está igualmente em bom plano. Jessica hynes tem aqui um papel bem diferente do que estamos habituados fugindo completamente do registo de comédia para um papel de mãe sofrida, o que limita um pouco o seu enorme talento.Este é um filme simpático, destinado para todas as idades e que vai divertir e emocionar todos os espectadores. É uma daquelas agradáveis surpre-sas que passam despercebidas no meio de tantas produções multimilionárias nesta fase do ano.

ReCOMendAdO

Page 5: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ític

as

5

crEPúsculopor: maria carvalho

3/10Fantasia Romance thriller

argumEntoMeLissA ROsenBeRG (ARGuMentO), stePhenie MeyeR (LivRO)rEalização Catherine hardwickecom Kristen stewart, Robert Pattinson, Billy Burke, Cam Gigandet etc.2008 - 123min

Baseado no primeiro livro da saga para ado-lescentes de stephenie Meyer, Crepúsculo conta-nos a história de Bella, uma rapariga de 17 anos que se apaixona por um vampiro.

não é grande surpresa que de um livro que pa-rece ter sido escrito a pensar na geração da Mtv surja uma adaptação que não passa de uma colagem de trailers e videoclips music-ais. Aliás, todo o filme parece ter sido criado com base no tipo de audiência que esperava ter, com sequências de imagens dramáticas e previsíveis, cores soturnas e muito pó de talco, movimentos de câmara incoerentes e planos que tentaram forçosamente ser artísticos e falharam redondamente.

O enredo é, tal como já era o livro em que se baseia, superficial e inconsistente, e não há em todo o filme qualquer tipo de desenvolvim-ento de personagens. todos os actores pare-cem ter sido escolhidos a dedo de acordo com os níveis de plástico no corpo - nunca ajuda-dos pela maquilhagem que é merecedora de um Razzie - e incapacidade de representar. Até Kristen stewart, que já tinha dado provas interessantes nas suas películas anteriores, parece ter sido afectada pelo clima de repre-sentação exagerada.

É certo que se trata de um filme de vam-piros, mas a verdade é que calafrios, só com os maus momentos de representação e realização. A sequência mais memorável, e mais insuportável, é a de um jogo de basebol entre vampiros, toda ela filmada ao som de uma música dos Muse; videoclip é a única palavra que descreve este momento, e mau videoclip descreve ainda melhor.

Mas não há aqui enganos, este filme cumpre certamente tudo a que se propôs - é um filme para a pipoca, não é preciso usar o cérebro para o ver, e o tempo corre rápido ajudado por uns segmentos musicais. É óbvio que o problema reside precisa-mente na premissa, um filme de vampiros adoles-centes baseado num inesperado (e injustificável) bestseller internacional que tem um seguimento já comparado à loucura pelos livros do harry Pot-ter. Crepúsculo não é mais que um filme altamente publicitado pelos canais mais comerciais e cujas sequelas já estão a ser planeadíssimas, e por pior que o filme seja, o box-office fala por si - é isto que, infelizmente, a juventude quer.

Page 6: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s6

mulhErEs!por: marco a. Paulo

3/10drama

argumEnto diane english, Clare Boothe Luce, Anita Loos, Jane MurfinrEalização diane englishcom Meg Ryan, Annette Bening, Jada Pinket-smith e debra Messing2008 - 128min

Quem seja fã de séries como O sexo e a Cidade com certeza ficou desperto para este filme, Mul-heres! Quatro amigas unidas, que se ajudam umas às outras nos momentos mais problemáti-cos das suas vidas, que contam tudo umas às outras e sabem que podem contar umas com as outras é algo bem característico da série acima mencionada, que também foi usado neste filme.

É bem normal que seja usado esse molde… prati-camente é usado em todo o lado e mais algum. Resulta bem, cria um ambiente agradável e é fácil de o estragar quando se quer criar tensão no espectador. não há como falhar… porém, há como evoluir e fazer crescer esta fórmula! Coi-sa que este filme não faz. Basta reconhecer os traços gerais das personagens para que perce-bamos todo o caminho que elas vão tomar. Mary é a Carrie… saídas da mesma fábrica, ambas loi-ras, paixão pela moda, vida amorosa atribulada e com uma filha de atrelado que se não existisse, seria exactamente o mesmo! silvya é uma sa-mantha com menos sexo, a cópia chapada dessa personagem. Até mesmo a sua fase final é total-mente idêntica à da personagem ninfomaníaca. edie é a Charlotte de serviço. vive para ser a dona de casa perfeita, na sua vida perfeita, com os seus filhos, ou cães, e quando se trata de fa-lar sobre temas mais escaldantes, tenta sempre atenua-los. Por fim, Alex, é a Miranda, o “homem” da casa. Preocupa-se sempre com ela, até que surge algo na sua vida que lhe vai mostrar outra perspectiva das coisas.

Ainda nos tentam surpreender colocando uma outra personagem, a amante do marido de Mary, que dá início a toda a série de eventos que já todos conhec-emos, mas como acabei de dizer, ela é só o pretexto para que tudo tenha início, pois muitos outros pode-riam ser usados, por exemplo, a morte de uma quinta amiga… e nesse caso não estaria a mencionar O sexo e a Cidade mas sim as donas de Casa desesperadas.

Um ponto interessante do filme é que nunca, em instante algum, durante duas horas, vamos ver um homem no filme. Não é de estranhar que tal situação aconteça, já que o filme se chama Mulheres!, mas é muito bem conseguido que toda a história tenha início por causa da traição do marido de Mary e que em instante algum o vejamos, ou a qualquer outro homem, mas que ele esteja sempre presente.

Infelizmente, não basta isso para que o filme seja bom, já que desde a história, escrita e adaptada de uma peça de teatro escrita por uma mulher, até às representações, por mulheres, passando ainda pela realização, que também é uma mulher, tudo está tão simplório e sem sabor que acabamos por visualizar este filme completamente desligados de tudo o que está a acontecer.

Page 7: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ític

as

7

austrália por: Pedro Pereira

5/10AventuradramaGuerrawestern

argumEnto Baz Luhrman, Stuart Beattie, Ronald harwood e Richard FlanaganrEalização Baz Lurhmancom nicole Kidman, hugh Jackman, Brandon walters, david wenham e Bryan Brown2008 - 165min

Austrália, o mais recente filme do realizador aus-traliano Baz Luhrman, conta a história de uma mul-her, Lady sarah Ashley (nicole Kidman) que nos tempos da segunda guerra mundial tenta a todo o custo cumprir o sonho do seu falecido marido, es-tabelecendo-se como uma mulher de sucesso, no negócio da ganadaria, das paradisíacas paisagens australianas. Para a ajudar, sarah contará com ajuda do rude drover (hugh Jackman), um con-hecido vaqueiro marginalizado da sociedade por estar contra a distinção de raças (branca, negra e aborígenes) e de nullah (Brandon walters), uma criança aborígene perseguida pela sociedade e que acredita que possui poderes mágicos. Contra Lady sarah está neil Fletcher (david wenham), um vaqueiro corrupto e ambicioso que tudo fará para destruir o sonho de Lady sarah.

se pensarmos que hugh Jackman é um dos acto-res com maior futuro (e presente) em hollywood, nicole Kidman é a mesma que brilhou em Moulin Rouge, As horas, de Olhos Bem Fechados, Cold Mountain, disposta a tudo e tantos outros que não há linhas suficientes para mencionar, há que dizer que as expectativas para este filme não poderiam ser outras que não extremamente altas. A verdade é que os dois actores até que nem ficam mal na fotografia, pois Hugh Jackman consegue cativar o espectador com o seu talento natural para interp-retar personagens com o estilo peculiar de drover e nicole Kidman, embora longe das suas melhores interpretações, acaba por encantar com o seu tal-

ento para interpretar personagens obstinadas, com modos de duquesa e com enorme coração. Contudo, o filme falha quando apresenta ao espectador, vilões ex-tremamente mal caracterizados, com uma importância fundamental para o desenrolar da história. Sendo significativamente diferente das anteriores ob-ras de Baz Luhrman, Austrália é um filme com ambições épicas, um orçamento enorme e recheado de planos de imagens deliciosos, capazes de agradar aos mais cép-ticos. No entanto, ao contrário dos filmes que consti-tuíram a sua trilogia anterior (strictly Ballroom (1992), Romeu e Julieta (1996) e Moulin Rouge (2001)), este é um filme que não enche as medidas do espectador. na verdade, faltando-lhe os diálogos geniais do mel-hor Romeu e Julieta dos tempos modernos, a musicali-dade e o extravagantismo de Moulin Rouge, pouco so-bra, além dos efeitos visuais em que Luhrman é mestre, para marcar a distinção deste Austrália para um banal filme de western. Assim, com um argumento simplório, personagens fracamente caracterizadas e um misti-cismo capaz de arruinar qualquer película, Austrália é um filme de possibilidades imensas, mas que falhou por completo no mais importante, os detalhes que servem para retirar o filme da banalidade.

Page 8: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s8

sEtE vidaspor: nuno cargaleiro

7/10drama

argumEnto Grant nieporterEalização Gabriele Muccinocom will smith, Rosario dawson, woody harrelson2008

Antes de se falar de sete vidas, temos de falar sobre will smith, até porque will smith é sete vi-das. Todo o filme é suportado por este actor que já provou uma versatilidade imensa no mundo da interpretação. seja em comédia, acção ou dra-ma, ao actor mais rentável da actualidade só lhe falta o Óscar, e este projecto, numa nova aven-tura com Gabriele Muccino, parece que o objec-tivo é procurar abrir-lhe caminho para a estatu-eta dourada numa personagem tão diferente, dorida, humana e trágica.

O secretismo à volta deste projecto deve-se ao facto do enredo perceber-se em poucas linhas, e assim que se torna revelado, o embate emo-cional que é dado ao espectador torna-se na própria viagem que o filme representa. O essen-cial a apreender é que smith é Bem thomas, um homem que se cruza com diversas pessoas, e ao se apresentar como um representante do iRs aproveita esse contexto para alterar a vida das mesmas positivamente. Ao se cruzar com Emily Posa (Rosario dawson), a sua vida irá alterar-se e o desenrolar de uma relação entre ambos poderá colocar em causa a fé de Ben thomas em cumprir os seus objectivos.

sete vidas é um melodrama romântico que se propõe a derreter o espectador mais resistente. O realizador Gabriele Muccino, que repete a colab-oração com smith desde em Busca da Felicidade, mostra-se especialista em retratar histórias in-vulgares sobre gente normal em condições es-tranhas. esse factor torna-se importante para

garantir o sucesso do empreendimento, já que se no filme anterior existia uma base verídica, neste a di-recção vive à custa da ficção. Desse modo, o maior sentido de controlo que se pretende é tornar o enre-do verosímil e não deixar cair no tipo de história de cordel que normalmente até tem algum sucesso, mas que não deixa de ser mais do que isso.

Contudo, embora mantenha o equilíbrio necessário para não transpor essa linha, sete vidas não deixa de pecar, sobretudo nos segmentos finais, carregando o filme a cenas finais desnecessárias. Para além disso, este é o tipo de história e enredo que se concentra sobretudo nas mãos do protagonista. embora permi-ta o ténue desenvolvimento de outras figuras, estas servem para acentuar a imagem de Bem thomas, na sua demanda. esse tipo de perspectiva, embora seja uma concepção válida, pode enfraquecer o enredo para alguns olhares, acentuando nestes o aspecto melodramático.

em suma, sete vidas é um bom filme, com óptimos actores, especialmente will smith, e com um enredo capaz de manter o interesse e o envolvimento do es-pectador. Contudo, a mensagem que transmite, as-sim como o impacto que traduz nos seus espectado-res, poderá ser relativo, atendendo à receptividade para o tom em que sete vidas narra a sua história.

Page 9: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ític

as

9

caos calmopor: carlos Pereira

8/10drama

argumEnto nanni Moretti, Laura Paolucci, Francesco Piccolo, baseado no livro de sandro veronesirEalização Antonio Grimaldicom nanni Moretti, valeria Golino, Alessandro Gassman, silvio Orlando2008 - 107min

Já sentíamos saudades de nanni Moretti. Caos Calmo pode não ter a sua realização, mas a sua interpretação é tão grandiosa que enche todo o filme. Além disso não andamos longe do reg-isto do O Quarto do Filho, quanto mais porque também se trata de uma obra sobre o trabalho de luto, sobre formas de viver a ausência (em-bora consideravelmente diferentes). Mas Caos Calmo é, acima de tudo, um excelso retrato de convivência com a própria solidão. sem cair em lugares-comuns – e sem nunca abandonar a simplicidade das coisas e dos olhares –, é um dos milagres cinematográficos do ano.

É um dia de verão e Pietro (Moretti) salva uma desconhecida na praia. Ao mesmo tempo, Lara, a sua mulher, morre inesperadamente em casa. Ao levar a sua filha à escola, após o incidente, Pietro resolver esperar todo o dia por ela. Algo que, rapidamente, adopta como hábito. Ob-servando o que o rodeia – as outras rotinas, os imprevistos, as rupturas quotidianas –, Pietro começa a readquirir coragem para encontrar quietude na desordem das suas próprias rela-ções.

A obra de Grimaldi é também uma cirúrgica representação sobre a intensidade dos con-

tactos humanos. daí que a cena de sexo de Moret-ti, regresso à liberdade de Pietro, seja imprescind-ível. Já não se via uma cena de sexo assim desde uma história de violência de Cronenberg, numa indistinção entre animal e homem, entre amor e ódio, com dois corpos num permanente de-vir de emoções selváticas e ásperas. trata-se de uma abordagem transparente de dependência do outro, do corpo do outro.

Caos Calmo é evidentemente um portento neste final de ano: um filme maduro, adulto, sem artifi-cialismos, funcionando com base num prodigioso trabalho de ideias concretas sobre a vida. O cin-ema, no seu âmago, nunca procurou outra coisa.

Page 10: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s10

rocknrolla - a Quadrilhapor: nuno cargaleiro

7/10AcçãoComédia

argumEnto Guy RitchierEalização Guy Ritchiecom Gerard Butler, thandie newton, tom wilkinson, Mark strong, toby Kebbell2008 - 128min

Guy Ritchie é facilmente reconhecido por dois trunfos do seu início de carreira: Lock, stock and two smok-ing Barrels e snatch. Conhecido pela sua realização rápida, brincando com a história e parodiando com o mundo do crime, Ritchie consegue preparar um espe-ctáculo que cativa o espectador, reconstruindo desse modo a tipologia de filmes de gangsters.

Após algumas tentativas de demonstrar a sua versa-tilidade, que se revelaram infrutíferas, este realizador regressa com RocknRolla, onde tenta ir mais longe no espírito de cultura gangster, e com uma ambição de transformar este filme num conjunto de três que de-screvem a evolução das várias personagens centrais. não é claramente nenhum snatch, pois falta-lhe o espírito de conclusão que reside nas suas produções anteriores. Contudo, este novo projecto é uma mara-vilha para a vista ao constatar que Ritchie ainda não perdeu o jeito para fazer aquilo que sabe fazer mel-hor.

num enredo que apresenta vários núcleos principais, encontramos um gangster especialista em vigarices relacionadas com imobiliário que está na iminência de dar a volta a um homem de negócios russo, este também com cara de poucos amigos. Para tudo ficar acertado, a transacção necessita de seis milhões de euros. Contudo, no meio desta disputa, que já se es-pera ser renhida, encontramos um grupo de peque-nos vigaristas com sentido de honra, uma econo-mista sensual em busca de alguma emoção na sua vida chata, um homem de confiança que cada vez mais começa a observar melhor o que se passa à sua volta, e uma estrela de rock & roll inconsequente que se esperava morta, mas que reaparece, com conse-quências directas a todos os membros restantes do elenco.

A quadrilha que o título português apresenta é sem som-bra de dúvida o ambiente criado pelo argumentista e re-alizador Ritchie. Apesar das diferenças de vagueiam por entre as suas personalidades, são símbolos de figuras que pretendem boa vida: sexo, dinheiro e oportunidades. todos eles são retratados com alguma piada pelo meio, abusando por vezes no estereótipo para fins de enredo.

Nessa aventura que se torna ver um filme de Ritchie, o es-pectador vê-se numa montanha russa onde o inesperado surge em cada esquina. Até os protagonistas não estão totalmente a salvo num filme de Ritchie. Embora se note o amor que este tem pelas suas personagens, dando-lhes espaço para brilharem, não deixa de ser impiedoso com elas, reservando alguns destinos trágicos a alguns. O fac-to de poder tornar-se numa trilogia não faria esperar isso, mas mais uma vez somos surpreendidos, e com expecta-tiva por mais.

será nesse sentimento de uma história inacabada que o filme peca. Talvez se a trilogia de Ritchie for observada num todo, acabe por fazer maior sentido, mas existe um desperdiçar de oportunidades e de conclusões que tor-nam o filme quase como o primeiro episódio alargado de uma série de acção. Os actores conseguem representar o pedido, com especial destaque para thandie newton, Mark strong e toby Kebbell, que aproveitam a divergência social das personagens de Ritchie. Contudo, resta esperar que exista um segundo capítulo nesta saga, e que possa-mos ver um desenvolvimento positivo do argumento.

Page 11: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ític

as

11

o dia Em QuE a tErra Paroupor: rafael Jorge

6/10Ficção - Cientí-fica

argumEnto david scarparEalização scott derricksoncom Keanu Reeves, Jennifer Connelly, John Cleese, Kathy Bates2008

Misteriosas esferas começam a aparecer por todo o glo-bo, e teme-se um ataque extraterrestre. A esfera principal aterra no Central Park em nova iorque, e dela sai o enviado alienígena, mas como nós humanos somos seres violentos e sempre desconfiados, apesar de este emissário não to-mar qualquer acção hostil, é recebido com violência.

este enviado é Klaatu (Keanu Reeves), e vem para nos avisar de que a destruição do nosso planeta é iminente, dado que os males dos nossos avanços tecnológicos e as nossas acções o estão a fazer morrer. Klaatu esperava con-seguir dirigir-se aos principais órgãos mundiais de modo a preveni-los, nas nações unidas, mas sendo tratado com violência, e sendo esta reunião dificultada, a decisão de que o homem precisa de ser destruído e é necessário dar à Terra uma oportunidade de recomeçar, torna-se final. O que se segue agora, é a tentativa de uma intrépida cien-tista que se consegue aproximar de Klaatu, de o convencer a dar uma nova oportunidade à humanidade.

Os remakes não têm uma boa reputação hoje em dia, mas dada a falta de originalidade que começamos a ver ata-car Hollywood cada vez mais, é comum começarmos a ver novas versões de velhos clássicos. Actualmente começa até a haver alguma falta de respeito por certos trabalhos, e qualquer filme com uma dúzia de anos começa já a ser considerado como candidato a remake.

Ora, ir tocar num grande clássico da ficção-científica de 1951, considerado “sagrado” e “intocável” por muitos, não era uma manobra muito segura. A ideia de actualizar a mensagem do filme, de que a humanidade se tornou de-masiado cruel e um perigo para si própria, e que na altura surgiu devido ao desenvolvimento de armas nucleares, poderia ter-se revelado proveitosa, actualizando essa ideia aos nossos tempos, mas o filme necessitava de maior originalidade, ou pelo menos, de tentar mostrar um pouco mais, ou desenvolver um pouco mais a história.

O problema de um remake é estar sempre preso à história original, e daí muitos fracassarem, já que acabam por ser apenas repetições do que já foi feito, de forma ligeiramente diferente, mas na qual o conteúdo permanece igual, e isso

é tudo o que interessa. se efeitos especiais são melhores, é um aspecto secundário. Os efeitos especiais de hoje, serão ultra-passados no amanhã, a história, a mensagem, irá sempre per-sistir, e a mensagem é o fundamental nesta história, e foi ela que fez O dia em que a terra Parou original, perdurar na memória de amantes de ficção-científica e cinéfilos em geral.

Esta nova versão do filme, não lhe introduz muito de novo, ape-nas o actualiza aos nossos tempos, dando-lhe um contexto mais de ameaça ecológica, mas para além disto e efeitos especiais, que como não poderia deixar de ser, foram muito bem consegui-dos, não traz nada de novo. Até não tenho motivo de queixa quanto a Keanu Reeves, que penso estar bem na pele de Klaatu, dada a característica que este já tinha apresentado anterior-mente, de ficar com ausência de grandes expressões faciais, que resulta muito bem aquando de encarnar o enviado extrater-restre. Jennifer Connelly é uma excelente actriz, e não está mal no filme, mas é simplesmente mais um desempenho que poderia ter sido feito por muitas outras actrizes, sem grandes diferenças para o resultado final.

Mas o filme tem um lado positivo, o de introduzir bem esta men-sagem profunda ao espectador do Presente, porém, esta men-sagem advém do produto original, que se recomenda muito mais, a quem fique interessado pela história. A mensagem é no fundo aquilo que se espera que domine a mente do espectador, nem que seja por meros minutos após ver o filme: não dever-emos nós corrigir as nossas atitudes, não seremos nós, demasi-ado violentos, demasiado egoístas? não deveremos melhorar-nos para evitar o colapso de tudo o que construímos?

Mas a mensagem é de esperança. debaixo da camada de ódio temos capacidades extraordinárias, apenas nos cabe a nós nunca as perdermos, lutando pelo que somos e pelo que quere-mos ser, dia após dia

Page 12: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s12

sim!por: nuno cargaleiro

5/10Comédia

argumEnto nicholas stoller, Jarrad Paul, Andrew MogelrEalização Peyton Reedcom Jim Carrey, Zooey deschanel, Brad-ley Cooper, terence stamp2008

Um filme de Jim Carrey é naturalmente um pro-jecto fadado ao sucesso. sobretudo se for uma comédia, como é o caso desde sim!. Carrey tornou-se, com o tempo, uma das figuras mais fiáveis para se apostar numa comédia. Mesmo que não sejam considerados um sucesso ab-soluto, o seu nome no elenco é uma garantia para o avanço da produção, e desencadeador de curiosidade por parte dos espectadores.

em sim!, Carrey é Carl Allen, um homem desi-ludido com a vida, seja a nível amoroso, social ou laboral. desse modo, Allen vive num coma acordado de apatia, sem interesse com o que se passa à sua volta. este comportamento acaba por atingir a sua relação próxima com os poucos amigos que lhe restam, minando ai-nda mais a sua vida. tudo isto muda, quando é persuadido por um antigo colega de trabalho a assistir um seminário de auto-ajuda. num con-fronto do com guru da filosofia de positivismo, Allen vê-se a prometer que será mais aberto às possibilidades que se lhe apresentam, acei-tando dizer sim a todas os convites e oportuni-dades, sejam de que natureza for.

A premissa deste projecto ganha consistência ao ser baseado numa experiência real, colo-cada em livro, por parte do jornalista e roman-cista danny wallace, que também é produtor

de sim!. Contudo, cada situação é levada ao extre-mo, provocando momentos de pura gargalhada. devido à versatilidade de Jim Carrey, este projecto não se fica somente num conjunto de gags, apar-entemente sem um sentido lógico, mas consegue discutir a noção de aproveitamento a vida, e a não julgar as utilidades das nossas experiências.

Contudo, o factor que o torna mais apelativo tam-bém se torna, a certo ponto na sua maior fraqueza: Jim Carrey. embora demonstre a competência que o trouxe para a ribalta, a sensação que fica no fi-nal é que assistimos a mais uma demonstração do mesmo. Mesmo com a postura à Jerry Lewis seja mais contida em sim!, Carrey não demonstra novi-dade, mantendo-se na segurança confortável da sua imagem.

desse modo, sim! não é uma demonstração do sentido de aventura de Carrey, que cometeu al-guns riscos proveitosos na sua carreira, tornando-se simplesmente de uma plataforma blockbuster, onde Carrey terá uma percentagem dos lucros, e uma hora e meia de entretenimento de alguns risos satisfatórios, mas com um entusiasmo relativo.

Page 13: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ític

as

13

boltpor: marco a. Paulo

8/10Animação Aventura Comédia

argumEnto dan Fogelman e Chris williamsrEalização Byron howard e Chris williamscom John travolta, Miley Cirus, susie essman e Mark walton2008

Este ano está bastante concorrido no que diz re-speito à animação infantil. A parte boa é que os filmes acabam por ser grandes obras que continu-am a surpreender bastante! Bolt é exactamente um desses exemplos, aparentando ser somente mais um filme de animação mas que no final mostrou ser muito mais do que isso.

Bolt é um cão que à nascença foi escolhido por uma criança que acabou por entrar numa série televisi-va de enorme sucesso onde a estrela principal era mesmo o cão. Porém, ele não percebe que tudo o que ele faz é mentira, incluindo os seus poderes e as investidas do seu vilão para com Penny, a sua dona. Quando o cão vê uma oportunidade, escapa dos estúdios onde a série é filmada para ir salvar a sua dona que, na última cena que filmou, foi rap-tada pelo vilão da série.

Além de parecer que é só um pretexto para levar um cão a um ambiente diferente daquele a que estava habituado, causando portanto situações divertidas para o espectador de palmo e meio, vai mostrar que toca em pontos bem mais sérios que a pura diversão, que é algo que cada vez vem ficando mais evidente neste tipo de filmes, acabando por ser divertidos mas ao mesmo tempo sensibilizam o espectador mais crescido sobre o impacto que te-mos nos outros seres que, supostamente, são infe-riores a nós, além dos nossos actos mostrarem que

nós somos ainda piores que eles.

O abandono de animais de estimação por parte dos humanos, que acabam por contrariar a definição de humano ao serem desumanos o suficiente para deixar um animal indefeso à sua própria mercê no meio da rua, ou mesmo o uso de animais para o nosso próprio entretenimento esquecendo aquilo que eles acabam por sentir já que não entendem que o que fazem pode pura e simplesmente ser tudo uma grande mentira que lhes escapou quando foram apanhados pelas garras de grandes estúdios que só querem ganhar uns trocos à custa destes animais.

Aparentemente o filme mais parece um drama que uma comédia, após esta pequena descrição, mas não caiam em erro de pensar isso. A magia do filme está mesmo em conseguir passar esta mensagem enquanto vai in-tercalando os momentos mais tensos com outros bem mais cómicos e divertidos. deixa a lágrima bem mais além que o canto do olho mas a diversão e mensa-gem que ganhamos após a visualização do filme é tão gratificante que o filme acabou por valer cada cêntimo que custou, já que em muitos lados a versão 3d deste filme já é uma, óptima, alternativa.

Page 14: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s14

fomEpor: carlos Pereira

9/10drama

argumEnto steve McQueen, enda walshrEalização steve McQueencom Michael Fassbender, stuart Gra-ham, Rory Mullen2008 - 96min

Como reflectir a violência? O artista plástico steve McQueen dá-nos, na sua primeira lon-ga-metragem, um vasto leque de respostas. em Fome, a impetuosidade humana vem do mais profundo interior, sem que com isso se esqueça o corpo – o corpo em sofrimento, o corpo derradeiro. Afinal, são as agitações físicas, da carne e do sangue (as cicatrizes, o lavar das mãos ensanguentadas) que nos im-plicam nas maiores complexidades, transpor-tando-nos para as fraquezas e para o que está escondido. É perturbador observar a agressão física, vivida/observada/praticada, apresen-tada lado a lado com a verticalidade moral e ética.

Partindo de Bobby sands, activista do iRA na irlanda de 81, observamos a demanda con-tra o mau tratamento dado aos reclusos, que exigem o estatuto de prisioneiros políticos por parte do governo de thatcher. McQueen apresenta esta luta política quase sem diálo-gos, atento aos pormenores denunciadores de medos e anseios. entre sensações mescladas de morte e liberdade, filma-se um permanente abismo de corpos que não cessam o combate, crentes e sôfregos. A greve de fome encetada por sands funciona dentro de um realismo vis-

ceral, tão inquietante como comovente.

sem cair em maniqueísmos, mostrando a fundo as fraquezas das duas forças de oposição, Fome é uma obra capaz de reinventar uma linguagem es-tética, intimamente cinematográfica, onde cada plano é uma janela aberta contra a banalização das imagens. equilibrado no seu próprio descon-trolo, Fome vai construindo-se, gradualmente, até atingir verdadeiros cumes de poesia – apogeus de crueldade a que se seguem tomadas serenas de consciência, atitudes face ao medo, decisões irreversíveis. Fome é um regresso ao domínio do som e da imagem: o silêncio contrastado com os ruídos ensurdecedores, os gritos redundantes de não conformismo; a imagem cristalina, o plano da conversa Bobby/padre, etc. sublime obra de arte.

Page 15: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ític

as

15

uns sogros do Piorpor: nuno cargaleiro

3/10Comédia

argumEnto Matt Allen, Caleb wilson, Jon Lucas, scott MoorerEalização seth Gordoncom vince vaughn, Reese witherspoon, Robert duvall, sissy spacek, Jon voight e Mary steen-burgen2008

Normalmente encontramos filmes que têm tudo para serem um sucesso, e possibilitar sequelas proveitosas. uns sogros do Pior (de título original, Four Christmases) é um dess-es casos, contudo o produto final, apesar do elenco de luxo, não deixa de ser simplesmente satisfatório, tornando-se incapaz de ultrapas-sar a fasquia de memorável.

O conceito inicial incide num casal (vince vaughn e Reese witherspoon) que se adora, vivendo juntos há vários anos, mas que evita reuniões familiares, sobretudo em épocas fes-tivas como no natal. Através de estratagemas, nos quais ambos são cúmplices, inventam des-culpas, e desse modo também escondem seg-redos sobre o seu passado.

Quando um nevoeiro inesperado atrapalha a viagem de Natal que ambos iriam fazer, reve-lando inesperadamente o seu plano aos seus familiares, estes vêem-se na obrigação de vis-itar os pais de cada um (Robert duvall, sissy spacek, Jon voight e Mary steenburgen) na véspera da Consoada. Filhos de pais divorcia-dos, são obrigados a quatro momentos, cada um o pior, onde reencontram o seu passado, os medos, e a si mesmos.

embora a premissa seja interessante num estilo de comédia romântica meets comédia de natal, o casal de protagonistas não consegue transmitir maior impacto às suas personagens a não ser o próprio estereótipo das suas personalidades. O Brad de vince vaughn é o mesmo fala-barato a que este actor nos habituou, e Reese witherspoon continua com a mesma expressão girl next door, muito concentrada no guião e nas expressões fa-ciais como criação de comédia. Contudo, o pior desta dupla é que não se sente a química que se-ria necessária. nessa perspectiva, o desenrolar do filme torna-se mais plástico, e menos emociona-nte para o espectador.

se olharmos dentro do género de comédia para passar tempo, uns sogros do Pior será um projec-to que poderá distrair, mas do qual não se espera mais após o termino do filme. Apesar do enredo abrir uma porta para uma possível sequela, será de surpreender se esta veja a luz do dia.

Page 16: Red Carpet Janeiro 2009

16

catE blanchEtt

Por: nuno gonçalvEs

tEma da caPa

Page 17: Red Carpet Janeiro 2009

17

Page 18: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s18

Rainha isabel i de inglaterra. socialite dos anos 50. veronica Guerin. dona de casa desesperada. Galadriel, rainha dos elfos. terrorista atormen-tada. Katharine hepburn. toxicodependente acorrentada. Femme fatale alemã. Pedófila cru-cificada. Bob Dylan.são apenas alguns dos passos daquele que é provavelmente o percurso curricular mais imac-ulado de todos os actores contemporâneos. não é por acaso que o seu nome é sinónimo de classe. A associação de Cate Blanchett a qualquer pro-jecto parece ter-se tornado num fiável barómet-ro de qualidade, mesmo para o público menos atento. A realidade é que a sua mera presença ilumina a tela de forma quase religiosa, com uma aura de imersivo misticismo e simultaneamente, intensa vulnerabilidade. Até o mais fugaz dos seus filmes torna-se inesquecível.

Curioso então que a mais prodigiosa actriz de cinema dos nossos tempos provenha de uma educação exclusivamente teatral. Filha de um militar norte-americano e uma professora aus-traliana, Blanchett cedo descobriu a sua verda-deira vocação. enquanto criança fascinava-se com a ideia de ser outras pessoas e com ape-nas 23 anos encontrava-se a contracenar com Geoffrey Rush numa peça em sydney, cidade que viu a formação de todo o seu talento. Talvez por isso que seja ainda hoje a fundação da sua arte e onde vai muitas vezes redescobrir a sua paixão pela representação depois de algumas extenuantes aventuras no cinema. hoje é, com o seu marido Andrew upton, a directora artística da Companhia teatral de sydney.

Apesar de parecer fadada a ser a dama princi-pal do teatro australiano, o seu destino reser-vava-lhe algo mais. depois de alguns peque-nos mas notórios papeis em televisão como em heartland, ao lado do colega recorrente hugo weaving, surgiu a oportunidade de se estrear na 7ªarte num papel secundário em Paradise Road, ao lado de Glenn Close e Frances Mcdormand. O protagonismo viria logo a seguir, bem como as primeiras menções de reconhecimento, com Óscar e Lucinda, onde contracenou com Ralph Fiennes e desempenhava o papel de uma mul-her confinada a um estatuto diminuído numa so-ciedade dominada pela influência masculina. A aclamação não tardava.

em 1998 era lançado em cinema Elizabeth, um filme que relatava os primeiros anos de regência uma das mais famosas e importantes monarcas da história Mundial, a rainha isabel i de inglat-erra. Oriundo de um realizador indiano a bio-

ca

Pa

Page 19: Red Carpet Janeiro 2009

19

grafia afastava-se muito dos padrões televi-sivos para os dramas de época traçados pela BBC, mas a revelação só poderia ter um nome. Descrita na altura como “magnética” e “espec-tral”, Cate Blanchett convocou o ininvocável. A sua interpretação da célebre rainha, um cândido retrato de inocência perdida, é muito mais que uma força da natureza, ultrapassando quais-quer esperanças que pudessem ser depositadas na assimilação de um papel de tamanha noto-riedade. valeu-lhe, além de uma série de pré-mios da crítica, um Globo de Ouro e um BAFtA, a primeira nomeação ao Óscar. Ainda hoje a sua “derrota” é mencionada como uma das muitas e mais memoráveis injustiças da Academia.

esta fervorosa capacidade em desempenhar personagens reais, de importância mais ou me-nos histórica, tem sido uma constante no decor-rer da sua carreira. não só reinterpretou isabel i em Elizabeth: A Idade do Ouro, que lhe valeu outra nomeação ao Óscar, e veronica Guerin, uma jornalista irlandesa assassinada pelo des-mascaramento de um cartel de droga, como também nos proporcionou nova visão sobre personalidades que julgávamos conhecer com confortável segurança. A cobiçada estatueta foi finalmente ganha em 2005 com O Aviador de Martin scorsese, uma adaptação cinematográ-

fica da vida de Howard Hughes, desempenhado por Leonardo diCaprio, um produtor da idade de ouro de hollywood e o primeiro playboy milion-ário, conhecido pelo seu amor por mulheres (ac-trizes) bonitas e tecnologia de aviação. Blanch-ett desempenhava Katharine hepburn, uma das maiores lendas do cinema norte-americano e também uma das mais enigmáticas. A actriz trouxe mais do que uma pormenorizada e es-pantosa imitação ao papel. A profundidade e relevância emocionais atribuídas a cada gesto e olhar são inimagináveis. numa cena chave do filme, Hughes confronta Blanchett, companheira de vários meses apesar dos escapes noctívagos, com o facto de ela não ser nada mais que uma actriz. O momento que se segue é de uma tre-menda identificação e ressonância imensurável: todo um conjunto de sentimentos contraditórios e acutilantes passa pelo seu rosto, como um tur-bilhão indomável que encontra a crua vulnera-bilidade da sua existência. Sem nada dizer, vira costas e sai, para nunca mais o voltar a ver.

São estes pequenos milagres que fazem com que a notícia de que uma actriz irá interpretar o papel de Bob Dylan no esquizofrénico biopic de todd haynes, i’m not there, seja encarada com relativa leveza quando o nome dessa actriz reve-la-se ser Cate Blanchett. Apesar da surpresa e

ca

Pa

Page 20: Red Carpet Janeiro 2009

20

ca

Pa

estranheza automaticamente experimentadas, se há alguém capaz de ultrapassar tão infinito obstaculo é ela. e num brilhante e inebriante filme que dividiu opiniões, a constante foi nova-mente Blanchett. A interpretar dylan numa fase da sua carreira em que se encontrava sob inces-sante escrutínio pelo seu aparente abandono da folk e adopção dos blues e do rock and roll, a actriz australiana é exímia no retrato refundido de um dos mais misteriosos e insondáveis ícones da nossa cultura. Não só a fisicalidade é perfeita, como a própria desmistificação do ser humano por detrás do homem é estonteante, especial-mente porque retém as características da sua inata contradição. Quando Cate Blanchett, ou Jude, ou Bob dylan, cantam the Ballad of a thin Man em frente de uma multidão enfurecida, out-ra assombração ocorre.

Apesar de ainda não ter 40 anos, torna-se uma tarefa ingrata e injusta mencionar apenas alguns dos feitos do seu já impressionante legado. Ape-sar da proficiência na encarnação destas reali-dades de forma revigorante, a paixão e entrega à ficção está sempre presente. Algo bem patente na sua última aparição em cinema no drama épi-co de david Fincher intitulado O estranho Caso de Benjamin Button, a história de um homem que cresce no sentido inverso, nascendo totalmente envelhecido e rejuvenescendo à medida que os anos passam. Mas é acima de tudo a história de amor de Benjamin e daisy, interpretada por Blanchett, uma jovem que Button conhece em infâncias permutadas e cujo caminho é repleto de arrebatadores e inesquecíveis reencontros. Finalmente apaixonam-se no meio das suas vi-das numa relação condenada à partida.

numa carreira que parece traçada com o maior cuidado e minúcia, e não negligenciando a invul-gar inteligência da mulher por detrás da actriz, ela é marcada, por admissão própria, por uma série de fortuitas e felizes coincidências. Cate Blanchett é incapaz de explicar o seu processo de caracterização, apenas conseguindo afir-mar que ele muda de papel para papel e surge instintivamente. Mas se existe certamente um árduo trabalho de investigação e preparação por detrás de cada um deles, a naturalidade do resultado final é desarmante. Porque no cerne oculto de uma extraordinária e sagrada presen-ça mora o mais honesto retrato de um ser hu-mano em todas as suas inerências. Mas um ser humano que, à semelhança de todos os outros, é capaz de atingir todas as suas potencialidades e tornar-se divino. É este o vertiginoso e eterno milagre de Cate Blanchett.

Page 21: Red Carpet Janeiro 2009

21

ca

Pa

Page 22: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s2

2

rocknrolla - a Quadrilha - 1 de JAneiRO

Sinopse – Um mafioso russo orquestra um golpe milionário que atrai a atenção

de todos os bandidos de Londres - entre eles, um perigoso chefão, uma sexy

contadora, um político corrupto e meia-dúzia de ladrões de fundo de quintal.

sEtE vidas - 8 de JAneiROsinopse – tudo começa com uma lista

de sete nomes: Ben thomas, holly Apelgren, Connie tepos, George

Ristuccia, Nicholas Adams, Ezra Turner e Emily Posa. A única coisa que

eles têm em comum é que todos chegaram a um ponto de viragem na

sua vida, e cada um precisa de ajuda em diferentes sentidos: finan-

ças, espiritual, saúde. Ben escolheu cuidadosamente cada uma destas

pessoas para as ajudar, de modo a redimir-se ele próprio. Mas é emily

Posa, uma paciente com problemas cardíacos, que consegue uma coi-

sa que Ben achava impossível – mexer com ele de forma sentimental.

É desta forma que emily transforma a visão que Ben tinha do mundo…

a troca - 8 de JAneiROsinopse – Christine Collin (Angelina Jolie) é uma mãe que ora fervorosa-mente para que o seu filho Walter (Gattlin Griffith) volte para casa. O me-nino foi raptado numa manhã de sábado, depois dela ter saído para trab-alhar. Com a ajuda de Briegleb (John Malkovich) e após meses de buscas intensas, o rapaz é finalmente encontrado. Mas algo está errado e, no seu coração, Christine desconfia que ele não seja o seu filho verdadeiro.

frost / nixon - 22 de JAneiROsinopse – A história conta como foi a dramática entrevista do presidente americano Richard nixon ao apresentador de tv britânico david Frost logo após o escândalo político de watergate, em 1972.

outras EstrEias... Em JanEiro

Por: nuno cargalEiro

marlEy E Eu - 15 de JAneiROsinopse – uma família aprende importantes lições do seu adorável porém travesso e neurótico cão. Baseado no livro e na memória de John Grogan. John e Jenny eram jovens, apaixonados e estavam a começar a sua vida juntos, sem grandes preocupações, até ao momento em que levaram para casa Marley, “um bola de pêlo amarelo em forma de cachorro”, que, rapidamente, se transformou num labrador enorme e encorpado de 43 quilos. era um cão como não havia outro nas redondezas: arrombava portas, arranhava paredes, babava em cima das visitas, comia roupa do estendal alheio e abocanhava tudo o que pudesse. De nada lhe valeram os tranquilizantes receitados pelo veterinário, nem a “es-cola de boas maneiras”, de onde, aliás, foi expulso. Mas, acima de tudo, Marley tinha um coração puro e a sua lealdade era incondicional.

um amor dE PErdição 29 de JAneiROsinopse – Cinema Português, com base na obra literária de Camilo Castelo Branco, vemos nesta adaptação a transposição para a vida real, onde as diferenças sociais são retratadas. Com realização de Mário Barroso e argumento de Carlos Saboga, encontramos no elenco nomes como virgílio Castelo, Ana Moreira, Ana Padrão, Ca-tarina Wallenstein, Patrícia Franco e Tomás Alves.ras”, de onde, aliás, foi expulso. Mas, acima de tudo, Marley tinha um coração puro e a sua lealdade era incondicio-nal.

Page 23: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ític

as

23

Page 24: Red Carpet Janeiro 2009

24

EstrEla ascEnçãoEvan rachEl woodpor: catarina oliveira

Page 25: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ític

as

25

A descendência francesa e germânica é bem vi-sível pela simultaneidade da delicadeza e har-monia de traços e a imponência de fundos olhos azuis e estatura. 1987 e 1994 distam uns escas-sos 7 anos, mas foi com essa mesma idade que evan Rachel wood deu os primeiros passos numa carreira que viria a ser, anos mais tarde, elogiada e altamente distinguida.

Wood iniciou a sua carreira fazendo uma série de pequenas participações em filmes para tele-visão como A Father for Charlie com o Oscariza-do Louis Gossett Jr. A primeira tentativa de in-cursão pelo mundo do cinema acabou por sair furada; na luta pelo papel de Claudia em inter-view with a vampire, acabou por perder o lugar para Kirsten dunst. Mas wood não desistiria do sonho do grande ecrã e, depois de mais algumas participações televisivas, 1998 marca o início oficial da sua carreira cinematográfica. “Penso que foi nessa altura que realmente me dei conta que representar era algo que nunca deixaria de querer fazer” são as palavras de Wood quando relembra digging to China, o tal marco inicial que contou com a presença de Kevin Bacon.

Alternando entre o pequeno e grande ecrã, o primeiro papel de protagonista de wood acon-teceu em 2002 com a comédia dramática Little secrets onde viveu emily Lindstrom, uma menina que aspira a ser violinista e que guarda os segre-dos de toda a vizinhança. No mesmo ano, ainda participou no filme de ficção científica s1m0ne, protagonizado por Al Pacino.

Todavia 2003 foi o ano que lhe trouxe a defini-tiva glória com o aclamado porém controverso thirteen. wood interpretou tracy, uma jovem estudiosa que se deixa levar por uma espiral decadente de sexo, drogas e mentiras. A crítica rendeu-se ao talento inegável e foi mesmo no-meada para Melhor Actriz nos Globos de Ouro e nos screen Actors Guild. seguiu-se the Missing, de Ron howard, onde actuou ao lado de tommy Lee Jones e Cate Blanchett, interpretando a filha desta última.

Cimentado a opinião geral que a considerava “uma das melhores actrizes da sua geração”, seguiram-se Pretty Persuasion (2005), down in the valley (2006), Running with scissors (2006), todos eles independentes (bem como thirteen), denotando a preferência marcada da jovem actriz e o desinteresse pelos holofotes de hollywood.

2007 trouxe mais três filmes. O destaque vai para a produção musical nomeada para Globos de Ouro e Óscares, Across the universe, onde wood e Jim sturgess vivem um jovem casal que se envolve nos movimentos de contracultura dos anos 60.

em Janeiro de 2009, regressa às salas portu-guesas com o já aclamadíssimo the wrestler, onde vive a filha do carismático lutador Randy the Ram (Mickey Rourke), e onde se espera não outra que a mesma constância de qualidade e excelência que tem vindo a demonstrar até hoje. evan Rachel wood está a chegar, e em grande.

Estr

Ela

as

cEn

çã

o

Page 26: Red Carpet Janeiro 2009

26

os filmEs dE 2008

Page 27: Red Carpet Janeiro 2009

27

Filho de Rambow - um novo herói

the darjeeling Limited

Por Favor Rebobine

O Orfanato

O Comboio das 3 e 10

O Cavaleiro das trevas

Os Fragmentos de tracey

ensaio sobre a Cegueira

Procurado

[Rec]

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Este ano teve direito a imensos bons filmes… por estranho que pareça, aqueles que mais acabaria por apostar como sendo grandes obras, foram os que mais facilmente, e rapidamente, me es-caparam e ainda hoje tenho pena de tal situa-ção. não os deixarei de ver num futuro próximo, mas por agora terei de me contentar com os que vi e pensar quais deles são merecedores da minha lista dos 10 melhores filmes do ano. Cer-tamente que a amizade que sobrevive a todas as divergências que possam ocorrer liderou a lista que criei. No primeiro, a amizade de duas crianças sobreviveu quando valores mais fortes, para alguns, limitavam a mesma; no segundo, três irmãos reencontram-se numa viagem que lhes mostra que a união faz a força; no terceiro, a amizade que duas pessoas tinham por alguém que acreditava neles, levou a lutarem para sal-var tudo aquilo que restava na vida dessa mesma pessoa. Três filmes, que por variadas razões que vão para além das já mencionadas, são merece-dores dos três primeiros lugares.Os restantes filmes, acabam por ser uma amal-gama de experiências que acabam por con-star da lista por razões bem distintas. Desde a histórias fantásticas, a efeitos especiais que nos fazem sentir dentro do filme, até filmes mais ex-perimentais que criam um estilo único, são vári-os os nomes que compõem esta lista e que, além de não representar o melhor que 2008 teve, e se calhar até representa, são os que para mim, melhor representam o que este ano senti numa sala de cinema.

Marco A. Paulo

os

fil

mEs

dE

20

08

Po

r: m

ar

co

a. P

au

lo

Page 28: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s2

8

este País não é para velhos

Juno

O Lado selvagem

Os Falsificadores

haverá sangue

O Orfanato

O Cavaleiro das trevas

Lars e o verdadeiro Amor

ensaio sobre a Cegueira

expiação

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

2008 foi um bom ano para o nosso passatempo favorito, se é verdade que este verão foi algo pobre na quantidade e qualidade de estre-ias, não é menos verdade que o inicio de 2008 presenteou-nos com muitas obras de grande qualidade . As minhas escolhas recaíram acima de tudo nos filmes que acabaram por me marcar e que sei que daqui a largos anos ainda os vou relembrar e sentir da mesma forma que senti no meu primeiro visionamento, são filmes intem-porais que dificilmente cairão no esquecimento. Não houve um filme que se demarcasse de for-ma muito clara nas minhas preferências, muitos deles poderiam ter acabado em 1º lugar neste top (que não foi nada fácil de fazer), no entanto o escolhido para figurar em primeiro acabou por ser a obra dos irmão Coen, que como sabemos foi o vencedor da anterior edição dos Óscares. O que me fez colocá-lo no topo? É difícil expli-car, todos os outros partilham qualidades igual-mente merecedoras, mas tudo conjugado foi o filme com o qual mais me liguei, e cuja história e mundo mais me absorveu. 2009 afigura-se como mais um excelente ano, daqui a 12 meses cá nos encontramos para tirar a prova dos nove.

Berto Carvalho

Po

r: b

Erto

ca

rva

lho

os

filmEs

dE 2

00

8

Page 29: Red Carpet Janeiro 2009

29

sweeney todd - O terrível Barbeiro de Fleet street

O Cavaleiro das trevas

ensaio sobre a Cegueira

expiação

wall-e

O Acontecimento

este País não É Para velhos

i’m not there - não estou Aí

haverá sangue

indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

2008 trouxe-nos, como tem sido habitual, um pouco de tudo. Quanto à minha lista, confesso que o que me guiou foi apenas o coração, e no fundo, como poderia isto ser mentira, se sem paixão não existe Cinema?Indy faz uma aparição nesta lista, devido à grande paixão que tenho pela sua saga, e por ter considerado que esta quarta aventura faz justiça aos capítulos anteriores. “I’m Not There - Não Estou Aí”, possui enorme originalidade, e faz um retrato formidável de uma personalidade, ao retratar as suas várias facetas.shyamalan voltou a mostrar o excelente domínio que tem tanto a nível técnico como a contar uma história. “Expiação” é uma obra dotada de uma força extraordinária, sobre a paixão, os erros e a ingenuidade.A adaptação de Fernando Meirelles do livro de Saramago, sendo talvez difícil de “digerir”, acar-reta uma profunda mensagem sobre o desmoro-nar da sociedade.“WALL-E” é um dos filmes de animação que mais me emocionou, e que não deve ser subestimado, já que não são todos os filmes que alcançam a beleza desde pequeno robô.“O Cavaleiro das Trevas” impôs novos limites na moral do vigilante de Gotham, num filme que é perfeito. O desempenho fenomenal de heath Ledger é uma das peças fundamentais que move toda a engrenagem no filme de Nolan, que leva todos os valores ao seu extremo. “Swee-ney Todd” de Tim Burton, ocupa já um lugar nos meus filmes de eleição. É paixão e arte, apaixo-nou-me e arrebatou-me. É profundamente belo, e trágico. um poema sobre a vingança e a alma humana, que nos mostra verdadeira emoção.esta lista representa assim, as paixões que vivi em 2008 na sala de Cinema, sendo este, um ano que trouxe filmes arrebatadores.

Rafael Jorge

Po

r: r

afa

El J

or

gE

os

fil

mEs

dE

20

08

Page 30: Red Carpet Janeiro 2009

30

haverá sangue

O Cavaleiro das trevas

este País não É Para velhos

O Lado selvagem

i’m not there - não estou Aí

Juno

A turma

Persépolis

Antes que o diabo saiba que Morreste

wALL-e

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

este ano foi um ano com excelentes estreias em Portugal. Os dois primeiros meses foram óptimos pois estavam recheados de nomeados aos mais variados Oscares. Portanto é normal que alguns destes filmes (que até são de 2007) figurem en-tre os primeiros da minha lista. É interessante verificar que na lista os três primeiros filmes são todos visões um pouco negras e violentas da re-alidade, com personagens cruéis, egocêntricas e sem escrúpulos. Dos restantes filmes talvez só Antes que o diabo saiba que Morreste possui uma abordagem tão negativa da vida. Os filmes que de alguma forma se basearam em factos ou personagens reais também abundam com ob-ras como O Lado selvagem, i’m not there - não estou Aí e Persépolis. Foi também um bom ano para a animação e isso está aqui representado através de: Persépolis e wALL-e. em jeito de conclusão posso afirmar que 2008 foi um ano de que gostei bastante, deixando vários filmes que ficarão certamente na minha memória por muito tempo, apesar de não existir um que me tenha marcado tanto como haverá sangue, um filme que para além de liderar este top 10, luta por um lugar no meu top 10 geral.

Luís Costa

Po

r: lu

ís c

os

tao

s film

Es d

E 20

08

Page 31: Red Carpet Janeiro 2009

31

4 Meses, 3 semanas e 2 dias

este País não É Para velhos

Gomorra

ensaio sobre a Cegueira

destruir depois de Ler

wALL-e

expiação

O Cavaleiro das trevas

Mamma Mia!

haverá sangue

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Eleger os melhores filmes num determinado es-paço temporal é sempre uma tarefa algo ingrata. embora existam aqueles que nos marcam de uma maneira especial, há sempre alguns que se man-têm na nossa memória por alguma qualidade reve-lada, mas que não conseguem equipar outros que concorrem à mesma lista.Para além disso, graças ao atraso de algumas es-treias dos filmes, que concorreram aos Óscares passados, a dificuldade fica acrescida. Por isso mesmo, filmes como este País não É Para velhos, expiação e haverá sangue acabam por encontrar lugar nesta lista, embora a sua estreia em Portugal tenha sido no início do ano. desse modo, as listas nacionais acabam por diferir das estrangeiras.A minha escolha não procurou propositadamente distribuir por entre vários géneros. Contudo, veri-fiquei que isso acabou por acontecer. Seja na comédia do musical Mamma Mia!, da animação do espantoso wALL-e, na acção e construção dramática de O Cavaleiro das trevas, na comédia irónica e inteligente de destruir depois de Ler, ou na adaptação cinematográfica do maravilhoso ensaio sobre a Cegueira.especial destaque para Gomorra, um dos melhores filmes de sempre sobre a máfia (os fãs de O Pa-drinho que me perdoem!), e 4 Meses, 3 semanas e 2 dias que demonstrou a qualidade que a Palma de Ouro em Cannes lhe atribuiu. este último consegue ser ao mesmo tempo chocante, emotivo, próximo, real, inteligente, e verosímil. Ainda hoje me recor-do do olhar de Otília no jantar de aniversário da mãe do namorado, enquanto que a melhor ami-ga, a inconsequente Gabita, padecia de cuidados num quarto de hotel. O realismo e a naturalidade de todo o filme é algo que demonstra aquilo que o cinema permite: capturar a realidade e comunicá-la ao espectador. Para além do facto de revelar o cinema romeno como capaz de uma construção muito superior na sua reprodução do dia à dia das pessoas que retrata.Esta lista talvez seja uma perspectiva muito pes-soal, contudo, nenhuma lista deixa de ser algo ab-solutamente individual e intransmissível.

nuno Cargaleiro

Po

r: n

un

o c

ar

ga

lEir

oo

s f

ilm

Es d

E 2

00

8

Page 32: Red Carpet Janeiro 2009

32

expiação

Juno

Quantum of solace

Joy division

Fome

O silêncio antes de Bach

tren de sombras

Cavaleiro das trevas

diário dos Mortos

terra sonâmbula

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Como felizmente tenho acesso a bastantes filmes que passam pelos festivais de cinema de Lisboa, nos últimos anos cada vez mais tenho a tendên-cia de abandonar o cinema comercial, pelo que me foi bastante difícil elaborar esta lista. de to-dos os filmes que vi elejo expiação como o meu favorito pois foi o que mais me encheu as me-didas em três factores que me são importantes: tem uma história que surpreende, é filmado de modo impecável incluindo até um arriscado mas belíssimo plano-sequência e tem bons desem-penhos de todos os actores principais, é visual-mente estonteante sem perder o rumo ao filme.Depois vêm uma série de filmes de que gostei, Juno, Quantum of solace, Joy division, seja por motivos exclusivamente pessoais ou porque su-peraram de alguma forma as expectativas ciné-filas que tinha para eles.Por fim três filmes que me emocionaram no In-die Lisboa: O silêncio Antes de Bach, pela sua subtileza, profundidade e pela música, tren de sombras, por “disfarçar” o lado antropológico do cinema com uma encenação romântica e terra sonâmbula, porque me fez ver um filme português que nunca me fez pensar que era por-tuguês, mas do mundo.incluí também o Cavaleiro das trevas, que apesar de me ter desiludido ainda acho um bom filme, e diário dos Mortos por ter sido o primeiro filme de zombies de que gostei verdadeiramente.

Leonor Pinela

Po

r: lEo

no

r P

inEla

os

filmEs

dE 2

00

8

Page 33: Red Carpet Janeiro 2009

33

expiação

O Cavaleiro das trevas

O Lado selvagem

sweeney todd: O terrível Barbeiro de Fleet street

Juno

Quantum of solace

wALL-e

Brincadeiras Perigosas

haverá sangue

i’m not there - não estou Aí

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Após um ano de 2008 muito marcado pela greve dos argumentistas, que fez atrasar muitas das grandes produções inicialmente previstas para este ano, pode-se dizer que no final, apesar dos largos períodos sem cinema de inequívoca quali-dade, acabamos por ter uma mão cheia de filmes que fizeram toda diferença.não querendo cair numa análise detalhada dos filmes, que pelo seu lugar na lista já dizem quase tudo sobre as minhas preferências, não posso de-ixar de fazer três ou quatro destaques de maior. O primeiro será obrigatoriamente para o mau hábito de estreias no nosso país, que faz com que a cada edição dos Óscares, sejamos obrigados a torcer por filmes que não tivemos qualquer oportuni-dade de ver, o que leva a que apenas os possamos eleger como melhores, numa qualquer eleição de top, no ano seguinte ao da sua real estreia. tal leva-me ao segundo destaque, o meu favorito da cerimónia passada, o filme que arrebatou o meu coração este ano, expiação. A obra de Joe wright é um exemplo de mestria cinematográfica, com uma fotografia fantástica e uma história portentosa, um filme que concerteza irei rever mais algumas vezes ao longo da minha vida.O terceiro destaque vai para as minhas grandes surpresas de 2008. nesta categoria incluo o ex-celente remake Brincadeiras Perigosas, que ape-sar de nunca ter visto o filme original de Michael Haneke, fiquei deliciado com esta nova versão do mesmo realizador. Incluo também wALL-e, não tão bom como Ratatouille (2007), mas ainda as-sim suficientemente bom para estar neste Top10, o magnifico Quantum of solace, o melhor Bond de todos os tempos e ainda o grande Joker do malo-grado heath Ledger, que elevou O Cavaleiro das trevas para um patamar completamente inesper-ado.Por fim, destaque para os esquecidos O sabor do Amor, tropa de elite e o surpreendente O Golpe de Baker street, bem como para os filmes que não tive oportunidade de ver e que por isso não podem ter lugar na lista.

Pedro Pereira

Po

r: P

Edr

o P

ErEi

ra

os

fil

mEs

dE

20

08

Page 34: Red Carpet Janeiro 2009

cr

ítica

s34

haverá sangue

O Segredo de um Cuscuz

A turma

A Fronteira do Amanhecer

Mal nascida

Os Amores de Astrea e Celadon

nós Controlamos a noite

Aquele Querido Mês de Agosto

4 Meses, 3 semanas e 2 dias

este País não é para velhos

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

em apenas um ano, calhou estrear-se por cá o maior filme norte-americano desde Magnólia chamado haverá sangue e uma das mais sublimes incursões pelo cinema verité europeu, O segredo de um Cus-cuz.Pt Anderson e Abdel Kechiche fabricaram imagens de poderosa humanidade e deram vida a duas das personagens mais singulares do cinema recente: daniel Plainview (interpretado pelo actor do ano, daniel day-Lewis) e slimane Beiji (o ventura de 2008?). O ano foi excelente para o cinema europeu. desde logo, destaco A turma, a segunda Palma de Ouro a estrear nas salas portuguesas este ano, a seguir ao assombroso filme de Cristian Mungiu.depois houve o regresso – que é sempre uma res-surreição fantasmática – de Philippe Garrel. Foi através da sua câmara que vi “o plano do ano”: aquele em que Garrel (pai) inventa no reflexo de um espelho o contra-campo de Garrel (filho), no mo-mento em que este se despede do seu primeiro (e único?) grande amor. Por falar em cinema francês, por falar na nouvelle vague, por falar em amor, o que dizer da coerência estética – e ética – do uni-verso de eric Rohmer? Os Amores de Astrea e Celadon foi, sem espanto, o filme mais moderno de 2008; obra fulgurante so-bre a essência do Cinema. A mesma que James Gray procura forjar em nós Controlamos a noite, filme que evoca o Lumet, Friedkin, scorsese e Coppola dos anos 70 e que, ao mesmo tempo, não deixa de se deslumbrar (secretamente) com o último grito do progresso tecnológico: a cena da perseguição, pejada de CGi, é o efeito especial do ano, aquele que posiciona Gray como o grande falsário pós-de Palmaniano. Outro acto de precisão foi este País não é para ve-lhos, filme que vai muito para lá da personagem mal resolvida de Javier Bardem: há tommy Lee Jones num papel secundário (o outro actor do ano) e o melhor dos Coen investido num minucioso trabalho de montagem. não estiveram sós nesta matéria: Miguel Gomes cria toda uma encantadora e en-cantada viagem pelo interior português a partir da mesa de montagem. Ainda em Portugal, Canijo dá sequência a noite escura e volta a filmar uma tra-gédia. Mal nascida é um enorme exercício de mise en scène. Aqui como em qualquer parte do mundo.

Luís Mendonça

Po

r: lu

ís m

End

on

ça

os

filmEs

dE 2

00

8

Page 35: Red Carpet Janeiro 2009

35

expiação

[ReC]

wall.e

Cavaleiro das trevas

Orfanato

Juno

haverá sangue

sweeney todd

destruír depois de Ler

Mamma Mia!

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Dificultando a já árdua tarefa de elaborar uma lista com apenas 10 dos melhores filmes do ano, 2008 foi um ano pleno em variedade e com fortes pincel-adas de qualidade em determinados momentos.Contrariamente ao que a maioria possa pensar, a arte de fazer rir tem tanto de complexa como de difícil. não deixo de notar o quão raro é ver comé-dias com lugar de destaque neste tipo de listas, e 2008 até foi um ano regado por boas fitas cómicas. O meu tributo às comédias personifica-se nas pre-senças do enérgico e irresistível Mamma Mia!, o ne-gro e hilariante destruir depois de Ler e a grandiosa comédia dramática e surpresa do ano, Juno. Afinal, rir é o melhor remédio.numa cidade de Londres em tons escuros salpica-dos pelo vermelho vivo de sangues alheios, o mes-tre tim Burton tem também, invariavelmente, a sua marca com a brilhante vingança musical do bar-beiro sweeney todd. também uma nota especial para o excepcional e perturbante haverá sangue, marcando o regresso do grande homem do método, daniel day-Lewis!duas das mais carismáticas personagens do ano surgem de filmes tão distintos como azeite e água. wall.e e O Cavaleiro das trevas são duas das grandes esperanças para os Óscares da Academia de 2009, sendo o primeiro tão excepcionalmente conseguido que corre sérios riscos de ser a segunda animação da história a concorrer na categoria de Melhor Filme. Não poderia esquecer-me de incluir “nuestros her-manos” nesta listinha . Num renascimento do género de terror, Orfanato e [ReC] são duas das revelações do ano; duas arrepiantes e sublimemente dirigidas histórias que nos fazem acreditar novamente que o terror de excelência ainda respira. Gracias!A encabeçar a lista está aquele que é, para mim, o filme mais completo do ano. expiação. uma di-recção irrepreensível, fotografia espantosa e banda sonora singular aliam-se a interpretações podero-samente portentosas e um argumento absoluta-mente apaixonante que até tem direito ao seu quê de thriller. extraordinário.2008 já está nas últimas; 2009 afigura-se como cheio de grandes promessas para o cinema. Por isso, para o ano, cá estarei de novo. Mesmo sítio, mesma hora?

Catarina Oliveira

Po

r: c

ata

rin

a o

liv

Eir

ao

s f

ilm

Es d

E 2

00

8

Page 36: Red Carpet Janeiro 2009

36

este País não é Para velhos

haverá sangue

nós Controlamos a noite

sedução, Conspiração

O Cavaleiro das trevas

wall-e

i’m not there

O voo do Balão vermelho

Antes que o diabo saiba que Morreste

A Fronteira do Amanhecer

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Não se pode afirmar que o ano de 2008 tenha sido abastado em inumeráveis estreias de grandes obras cinematográficas, mas a re-alidade é que no meio de muitos lançamen-tos desinteressantes se elevaram uma série de filmes cujo valor não pode ser menosprezado. Foi um ano especialmente favorável para o cin-ema europeu cujo exemplo máximo terá sido o assombroso romance de Phillipe Garrel com A Fronteira do Amanhecer. também em terreno parisiense teve lugar O voo do Balão vermelho, um absorvente pedaço de vida do realizador chinês hou hsiao-hsien. trocando as anteriores e audaciosas experiências no cinema ocidental, Ang Lee regressa às origens com sedução, Con-spiração, um tentador e assombroso conto de lascívia e espionagem no pós-guerra.É no entanto de destacar a força autoral do cin-ema americano, mais ou menos independente. trouxe o regresso de valores clássicos como o de sidney Lumet em Antes que o diabo saiba que Morreste e a consagração de muitos outros. É o caso da perícia cénica esquizofrénica de Todd haynes em i’m not there na construção da mais audaciosa biografia a surgir na última década. surge também nós Controlamos a noite, o dra-ma policial de enorme envolvência emocional de James Gray. Os grandes filmes do ano são no en-tanto haverá sangue e este País não É Para ve-lhos, respectivamente de Paul thomas Anderson e dos irmãos Coen, duas obras tão divergentes que encontram o mesmo chão no derrubamento dos limites de um género tão circunspecto, evi-denciando que as possibilidades do cinema con-tinuam infindáveis.Não esquecendo no entanto os dois filmes que mais terão facturado no mundo e que também figuram no melhor que a 7ªarte nos deu em 2008: o fenomenal prodígio de animação que é wall-e e na extasiante redefinição do blockbus-ter e do vulgo comic-book-movie em O Cava-leiro das trevas.

nuno Gonçalves

Po

r: n

un

o g

on

ça

lvEs

os

filmEs

dE 2

00

8

Page 37: Red Carpet Janeiro 2009

37

O Lado selvagem

Juno

Os Falsificadores

este País não é para velhos

ensaio sobre a Cegueira

haverá sangue

O Orfanato

Austrália

Lars e o verdadeiro Amor

O Corpo da Mentira

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

2008 revelou-se um bom ano em termos cin-ematográficos, o que acabou por complicar a ordenação daqueles que eu considero como sendo os melhores filmes do ano que passou. As minhas escolhas baseiam-se muito nos senti-mentos que os filmes me despertaram e O Lado selvagem revelou-se a grande surpresa deste ano. sean Penn, além de ser um excelente ac-tor, provou-nos que também sabe realizar. Uma história simples mas ao mesmo tempo muito envolvente que conseguiu tocar muitos cora-ções e deu-nos a conhecer a história de Chris McCandless, magistralmente interpretado por Emile Hirsch. Na 2ª posição surge o filme inde-pendente que surpreendeu ao ser nomeado para os Óscares de 2008. Gostei da forma como dia-blo Cody conseguiu falar de temas sérios sem ser deprimente e da interpretação de ellen Page. Os próximos lugares da lista são ocupados por film-es que contêm uma carga dramática forte. Os Falsificadores é passado num campo de concen-tração; este País não é para velhos foi o grande vencedor dos Óscares e acompanha a tentativa desesperada de Llewelyn Moss para escapar ao psicopata Anton Chigurh; e ensaio sobre a Ce-gueira que com a história de saramago, a re-alização de Fernando Meirelles e as excelentes interpretações convenceram-me a colocá-lo na 5ª posição.

sónia Carvalho

Po

r: s

ón

ia c

ar

valh

oo

s f

ilm

Es d

E 2

00

8

Page 38: Red Carpet Janeiro 2009

38

haverá sangue

A turma

wALL-e

Corações

O Acontecimento

A Fronteira do Amanhecer

Os Amores de Astrea e Celadon

nós Controlamos a noite

Austrália

Aquele Querido Mês de Agosto

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Num ano de magnífico cinema, o destaque vai para o regresso de Pt Anderson. Já falaram de haverá sangue como o primeiro Citizen Kane do novo milénio, e é-o de facto. trata-se do com-plexo regresso às origens de uma nação, numa batalha interior de ambição, religião, sangue e demência. da América continuam a vir fasci-nantes cumes cinematográficos, como a primei-ra meia-hora de wALL-e, sem uma única pala-vra; a redenção de Bobby em nós Controlamos a noite; ou a redescoberta do amor como força no prodigioso filme de M. Night Shyamalan, o in-compreensivelmente subvalorizado O Acontec-imento. Austrália, de Baz Luhrmann, prova que a gigante máquina de produção não aniquila for-çosamente o humano. Cinema francês? O novo Garrel, o novo Rohmer, o novo Resnais, tudo obras-primas com a maior consciência moder-na, sem abandonar a linguagem dos primórdios. Três filmes que condensam à essência àquilo que verdadeiramente interessa. e depois existem óvnis, como A turma, de Laurent Cantet, que nos vêm relembrar a importância de olhar, de repen-sar o mundo e as suas contradições, levantando as questões mais relevantes. e depois é impos-sível esquecer Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, olhar cirúrgico sobre Portugal – ou o cinema português à procura de um lugar.

Carlos PereiraP

or

: ca

rlo

s P

ErEir

ao

s film

Es d

E 20

08

Page 39: Red Carpet Janeiro 2009

39

sweeney todd - O terrível Barbeiro de Fleet street

O Cavaleiro das trevas

ensaio sobre a Cegueira

expiação

wall-e

O Acontecimento

este País não É Para velhos

i’m not there - não estou Aí

haverá sangue

indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Saíram bons filmes para o grande ecrã este ano mas, infelizmente, o meu tempo disponível para os ir ver ou pelo menos a maioria foi muito pouco. Ainda assim consegui ver cinema de qualidade e cumprir os meus três objectivos cinematográficos do ano que eram ver os filmes sweeney todd: O ter-rível Barbeiro de Fleet street (sweeney todd), O As-sassíno de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford (O Assassíno de Jesse James) e o wALL-e. Juno foi uma surpresa, conquistou-me com a sua história simples e um argumento muitíssimo bem escrito e com a presença de ellen Page que já tinha mostrado a sua qualidade em hard Candy. destruir depois de Ler foi mais um filme dos irmãos Coen de que gostei, não superior a Fargo mas agrada com aquelas personagens recheadas de um pouco de loucura. No género terror fiquei agradavelmente surpreendido com O Orfanato e [ReC] a mostrarem que ainda se fazem bons filmes de terror hoje em dia criando boas atmosferas e proporcionando al-guns sustos. haverá sangue, um dos favoritos do ano, tem um grande argumento que envolve família, religião e dinheiro e conta com uma excelente prestação de daniel day-Lewis vencedor do Oscar de Melhor Actor. e falando em actores, a presença de Rus-sel Crowe e Christian Bale em O Comboio das 3 e 10 confirmam um grande filme com duas excelentes personagens bastante diferentes que criam uma ligação muito interessante. e como a animação não pode faltar, wALL-e é merecedor de estar neste top, com personagens marcantes e uma história a lembrar os grandes filmes mudos com também grandes referências ao cinema. Para toda a família e para rever. Chegando ao top 3. O Assassíno de Jesse James agarrou completamente a minha atenção com uma boa história, boas representações, Jesse James e as belas paisagens mostradas. O Lado selvagem mostra a magia do cinema ao fazer sonhar todos aqueles que gostariam um dia ter a coragem de fazer o mesmo que Chris McCandless fez na sua via-gem pela vida, é um filme obrigatório. Para filme do ano escolho sweeney todd, que foi o que mais me marcou pela sua intensidade, beleza, argumento, surpresa e actuações. Fiquei completamente co-lado à cadeira durante o tempo todo e foi o único filme que vi duas vezes.

Álvaro Banaco

Po

r: á

lva

ro

ba

na

co

os

fil

mEs

dE

20

08

Page 40: Red Carpet Janeiro 2009

40

O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford

haverá sangue

the darjeeling Limited

O Comboio das 3 e 10

Austrália

sweeney todd: O terrível Barbeiro de Fleet street

i’m not there - não estou Aí

expiação

em Bruges

Juno

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Um top dos dez melhores filmes de um ano rege-se sempre, para além das questões óbvias como a subjectividade, por certas questões logísticas incontornáveis, ou seja, são um top formulado a partir dos filmes vistos por um cinéfilo, e não por todos os filmes lançados, já que, infelizmente, nunca há tempo para ver tudo.

Mas mesmo dentro dos filmes vistos há aqueles que ficam connosco, os que ainda hoje, passa-dos tantos meses, recordamos vividamente e que estão intimamente unidos pelo nosso gosto pessoal, pelos sentimentos que nos provocaram e provocam.

no caso da minha lista, pode-se traçar quase uma linha palpável entre os dois estilos de filmes, de um lado a tragicomédia agri-doce, como the darjeeling Limited, em Bruges e Juno, de outro os westerns que não parecem viver no nosso tem-po, como O Comboio das 3 e 10, haverá sangue e principalmente O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford.

A habitar na linha entre estes dois géneros há espaço para tudo, por vezes tudo no mesmo filme, como no magnífico não estou Aí de todd Haynes; ou uma mistura de filme de guerra e drama, em expiação, e ainda um clássico há moda antiga, como Austrália, e até mesmo um musical sangrento como sweeney todd.

A qualidade de todos estes filmes poderá ser questionada, afinal, esta é apenas a minha hu-milde opinião! não obstante, a verdade é que daqui a uns anos, quando me perguntarem que filmes me marcaram neste ano, ainda me irei certamente lembrar destes filmes que aqui men-ciono, e valha isso o que valer, já é alguma coisa…

Maria Carvalho

Po

r: m

ar

ia c

ar

valh

oo

s film

Es d

E 20

08

Page 41: Red Carpet Janeiro 2009

41

os

fil

mEs

dE

20

08

Page 42: Red Carpet Janeiro 2009

42

teu silêncio/uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento”), e há Ventura. O pai ventura, o herói ventura, acarretando às costas as feridas do universo perdido. um rasgo de humanidade, portanto, capaz de reconstituir no olhar todo um altruísmo paternal. As Fon-tainhas formavam, de certo modo, uma carto-grafia de afectos que este mundo geométrico já não pode oferecer, e ventura é o elo de ligação entre passado e presente.

Marcha lenta? não, pelo contrário. demasia-do alarmante, veloz. Um apelo contra o ritmo ilusório dos efeitos especiais, demolidor das im-agens ocas. em Juventude em Marcha sentimos efectivamente os acontecimentos, do presente e do espaço off, e somos atingidos por todas as perturbações e oscilações em estado bruto. tra-balho prodigioso, também, de indistinção entre documentário/ficção - existe uma base, uma verdade, e Pedro Costa reinventa um mundo sem nunca, no entanto, se afastar das suas ne-cessidades e da sua índole. Objecto de vanguar-da, claro.

cinEma PortuguêsJuvEntudE Em marchapor: carlos Pereira

Pedro Costa é sem dúvida dos cineastas mais inquietantes dos últimos anos. desde que se es-treou com O sangue, em 1989, Costa não tem cessado de crescer. Repensemos Juventude em Marcha, o seu último filme estreado em Novem-bro de 2006, e descortinemos os sinais de espe-rança que o seu cinema comporta. voltamos às Fontainhas, bairro suburbano, que já tínhamos visitado em Ossos e em no Quarto da vanda. um lugar filmado como se fosse um outro mundo, um outro tempo. Talvez seja ficção científica e não saibamos. Costa tem conhecimento de que o cinema é uma arte do tempo, e o que ele filma em Juventude em Marcha é a lembrança do que foi e do que já não é. Ao tentar não apagar as memórias, a não as deixar cair no esquecimento, cria um conjunto de milagres.

Os moradores das Fontainhas, após a demolição do seu bairro, são conduzidos para novas casas: um novo mundo urbano que aniquila, porque marginaliza, as suas especificidades. E no en-tanto há focos de luz, há a Vanda e a sua criança, há o mais belo poema do mundo em infinita con-strução (”Às vezes tenho medo de construir esta parede/eu, com picareta e cimento/e tu, com o

cin

Ema

Po

rtu

gu

ês

Page 43: Red Carpet Janeiro 2009

43

Page 44: Red Carpet Janeiro 2009

44

o univErso dEdavid finchErpor: Pedro Pereira

Page 45: Red Carpet Janeiro 2009

45

nal, foi apenas quando abandonou a iLM para fazer o seu primeiro trabalho como realizador, que Fincher teve finalmente o seu primeiro mo-mento de glória. O anúncio chocante para a so-ciedade Americana Contra o Cancro, que mo-strava um bebé ainda embrionário a fumar foi um sucesso e depressa surgiram novas oportun-idades para a evolução na carreira.Neste período de crescimento profissional, Da-vid Fincher foi um dos realizadores mais deseja-dos para a realização de anúncios televisivos e de premiados videoclips musicais, tendo inclusi-vamente trabalhado com Rick Springfield, Mark Knopfler, Sting, Madonna, Aerosmith, Billy Idol e George Michael no campo musical e nike, Adidas e Levi’s entre outros no campo televisivo.todos estes anúncios e videoclips tiveram a sua marca própria, procurando-se focar essencial-mente nas pessoas e na curta história que es-tava a contar, deixando para segundo plano a publicidade irrealista e inverosímil que habitual-mente era (e ainda é) utilizada.

o u

niv

Ers

o d

E d

avid

fin

ch

Er

david Fincher é indiscutivelmente um dos re-alizadores americanos mais talentosos do mo-mento. Os seus filmes marcadamente negros e enigmáticos, com personagens fortes e miste-riosas e twists finais imprevisíveis, têm dado ori-gem a inúmeros blogs a si dedicados na internet, que procuram acima de tudo espelhar todo o efeito que os seus filmes tiveram e continuam a ter sobre toda uma geração. Como tal, aproveitando o ansiado lançamento no nosso país de O estranho Caso de Benja-min Burton, um filme que promete mostrar uma nova vertente de todo um imaginário de david Fincher, a Red Carpet aproveita o momento para decalcar toda a carreira do talentoso realizador americano, incluindo os aspectos mais impor-tantes do seu estilo cinematográfico.

como tudo comEçou…nascido em denver, Colorado em 1962, david Leo Fincher descobriu o seu talento para o cin-ema com apenas 8 anos, quando inspirado pelo filme Butch Cassidy and the sundance Kid, pe-gou na câmara de filmar de 8mm dos seus pais e começou a fazer os seus pequenos filmes. No entanto, só em 1980 ao ver a segunda parte de A Guerra das estrelas, O império Contra-Ataca é que finalmente se decidiu a enveredar pelo gé-nero cinematográfico.Desprezando a experiência académica cine-matográfica, Fincher começou como operador de câmara na empresa de John Korty, a Korty Films. Contudo esta experiência não durou mui-to, sendo que depois de uma breve passagem por uma empresa de animação, começou aos 18 anos a trabalhar para a industrial Light and Mag-ic (iLM) de George Lucas. na iLM, david Fincher permaneceu alguns anos, tendo evoluído a tra-balhar em filmes importantes tais como O Re-gresso de Jedi (1983) e indiana Jones e o templo Perdido (1984).

a carrEira dE rEa-lizador…Apesar da experiência na iLM ter sido muito im-portante para o seu desenvolvimento profissio-

Page 46: Red Carpet Janeiro 2009

46

O desaire que foi Alien 3, fez com que David Fincher recuasse novamente para o seu terreno seguro, a publicidade e videoclips. Contudo os seus constantes sucessos levaram-no a um dos pontos altos da sua carreira cinematográfica, em 1995, através da adaptação de um argumento de Andrew Kevin walker, que contava história de dois policias que perseguiam um assassino em série que matava segundo os conhecidos sete Pecados Mortais. O filme de nome se7en - sete Pecados Mortais, contou com Morgan Freeman, Kevin spacey e Gwyneth Paltrow em alguns dos principais papéis, mas foi Brad Pitt quem verda-deiramente foi a estrela mediática que catapul-tou o filme para os headlines de hollywood.em se7en, Fincher é brutal na forma como demonstra os violentos crimes, minucioso na forma como vai revelando a identidade do as-sassino e simultaneamente explora o lado negro e dramático da psicologia das suas personagens. Além de tudo isto, Fincher é ainda inteligente e audaz ao colocar a cabeça de Gwyneth Pal-trow numa caixa, uma cena chocante que uniu o realizador ao elenco uma vez mais contra uma produtora (desta vez a New Line Cinema), que lutava para alterar a cena final do filme, algo que apenas não conseguiu devido às ameaças de Brad Pitt e David Fincher em abandonar o filme.No final, o filme lucrou 300 milhões de dólares

o cinEma sEgundo david finchEr…Alien 3 - A Desforra (1992) é o filme que marca a estreia de David Fincher como realizador de cin-ema. O filme não foi a melhor das experiências para o realizador americano. Isto porque a roda-gem e montagem do filme foi sempre rodeada de polémica com a 20th Century Fox que entre lutas sobre argumentos e orçamentos, tentou a todo o custo que o filme fosse diferente do que Fincher pretendia fazer. Segundo ele, apesar de aquele ter sido até então, o filme mais caro a ser real-izado por um estreante, os produtores do filme não depositavam a confiança necessária nele e estavam mais interessados em fazer um filme rentável, do que propriamente um bom filme. de qualquer forma, apesar do falhanço nas bilhe-teiras e de o produto final não ser exactamente aquilo que Fincher desejava fazer, o filme con-tém ainda assim algumas daquelas que viriam a tornar-se imagens de marca do realizador, ou seja, os ambientes obscuros e claustrofóbicos, as personagens dúbias e anti-morais e o auto-sacrifício do ser humano.Contudo a má experiência marcou-o de tal for-ma, que mais tarde veio a negar participar no comentário áudio feito para o box-set de dvd Alien Quadrilogy e retirou o filme da sua filmo-grafia nos lançamentos para DVD dos filmes Clube de Combate e sala de Pânico.

o u

niv

Ers

o d

E dav

id fin

ch

Er

Page 47: Red Carpet Janeiro 2009

em todo o mundo e abriu por completo as portas de hollywood para david Fincher.

Após o sucesso que foi se7en, foi com desalen-to que o público recebeu a sua obra seguinte O Jogo (1997). O filme que até foi bem recebido pela crítica, aparentava muitas semelhanças com se7en, a história era obviamente diferente, mas os seus já tradicionais ambientes sombrios, o uso de silhuetas com cara escondida na som-bra e a personagem principal (Michael douglas) psicologicamente alterada por circunstâncias reais “irrealistas” que o levam ao desespero fi-nal, não foram suficientes para fazer singrar o filme nas bilheteiras.

em 1999, david Fincher vive aquele que para muitos é o momento mais alto da sua carreira. O filme Clube de Combate, mais conhecido pelo seu título original Fight Club, representa o auge da criatividade do realizador. Neste filme adap-tado da obra invulgar de Chuck Palahniuk sobre um trabalhador com insónias que abre um clube de combate exclusivo, com regras bastante es-peciais, Fincher recria com mestria tudo aquilo que explorou nos seus anteriores filmes, juntan-do-lhe ingredientes únicos e polémicos de lutas anti-sociais, personalidades distorcidas e efei-tos visuais chocantes. À imagem de O Jogo, o filme não foi um sucesso de bilheteiras estrondoso, mas viria a fazer mil-hões no mercado de vídeo e dvd, constando até hoje nos tops de preferências das maiores revis-tas internacionais de cinema.Fight Club marcou ainda positivamente as car-reiras dos actores principais edward norton, helena Bonham Carter e Brad Pitt, o actor fe-tiche de Fincher, que interpretando irrepreen-sivelmente a personagem tyler durden entrou para a história do cinema.depois de Fight Club, david Fincher decidiu baix-ar o ritmo, filmando apenas mais dois filmes em sete anos.sala de Pânico (2002) é o parente pobre da sua filmografia (isto se excluirmos o rejeitado Alien 3), o filme protagonizado por Jodie Foster e For-est whitaker consistia numa premissa simples de uma casa com um quarto inviolável, que quando assaltada, leva uma mãe e uma filha a fecharem-se na dita divisão. A tentativa de fil-mar em planos curtos e claustrofóbicos é indis-cutivelmente bem conseguida, sendo que todo o ritmo do filme desenrola-se em torno de uma marca exclusivamente “Fincheriana”. Contudo é no argumento que existe a grande falha, a de-composição de alguns personagens importantes é demasiado simplista e a imprevisibilidade bas-tante acentuada nos filmes anteriores do real-izador torna-se assim menos imprevisível, o que leva ao menor envolvimento do espectador com o filme.

o u

niv

Ers

o d

E d

avid

fin

ch

Er

Page 48: Red Carpet Janeiro 2009

48

o u

niv

Ers

o d

E dav

id fin

ch

Er

Zodíaco (2007) marca a primeira adaptação de acontecimentos reais ao cinema por parte de david Fincher.O filme protagonizado por Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo e Robert downey Jr. é adaptado da obra de Robert Graysmith que explora os casos refer-entes à perseguição nos anos 70 do famoso as-sassino do Zodíaco.Apesar de Zodíaco ter estado regularmente pre-sente na maior parte dos tops sobre os melhores filmes do ano, o filme acabou por não ganhar qualquer dos maiores prémios de cinema.

futuros ProJEctos…Além de O estranho Caso de Benjamin Burton que volta a juntar o realizador com Brad Pitt e que estreia em Portugal já este mês, david Fincher tem já acordado a realização do filme ness, onde voltará a contar com a colaboração Jake Gyllenhaal e ainda de Matt damon na adaptação ao cinema da obra de Marc Andrevko, torso. Outro projecto que Fincher tem o nome forte-mente associado é o de heavy Metal, um filme animado produzido pela Paramount baseado na Bd com o mesmo nome.

Page 49: Red Carpet Janeiro 2009

49

Page 50: Red Carpet Janeiro 2009

50

Por: nuno cargalEiro

rocknrolla vErsus

snatch

Com o regresso de Guy Ritchie ao seu velho estilo provoca comparações inevitáveis entre o seu act-ual RocknRolla, e o mais conhecido filme da sua anterior cinematografia: snatch. de modo a auxiliar o espectador no que esperar deste novo projecto, a revista Red Carpet incide no assunto, compa-rando semelhanças e diferenças entre ambos, de modo a que cada um determine por si o que existe de criatividade em RocknRolla, o que é baseado em projectos anteriores, e simplesmente aquilo que se mantém que é indispensável.

- A cena decorre por entre o mundo underground do crime de Londres- Andam todos à caça de um diamante.- todas as personagens de relevo são masculinas.- deu visibilidade internacional a Jason statham, que era para ser o protagonista de RocknRolla.- Os corpos de cadáveres são dados como comida a porcos.- Brad Pitt, na altura já uma estrela de hollywood, baixou o seu cachet para poder participar.- existe uma personagem viciada em jogo.- Ritchie cruza personagens de diferentes nacio-nalidades: irlandeses, britânicos, russos e america-nos.- O enredo tinha como cenário o mundo do boxe.- nunca houve perspectivas de uma sequela.

- O cenário é Londres, e as personagens situam-se entre a elite das figuras do crime.- existe um quadro roubado, que se torna no alvo de cobiça pelo elenco.- A sensual stella de thandie newton e a exótica June (Gem-ma Arterton) são as mulheres de um elenco carregado de testosterona.- Apostou no talento, pouco conhecido internacionalmente, de toby Kebbell.- Os lagostins são o mecanismo de eleição para fazer desa-parecer cadáveres.- As únicas figuras americanas de relevo são Jeremy Piven e Ludacris, sendo o resto britânico.- existe uma personagem importante que é dependente de drogas.- Verifica-se a presença de personagens russas, britânicas, e americanas.- O argumento centra-se no mundo dos negócios de imobil-iário ilícitos em Londres.- Escrito com o objectivo de dar origem a mais dois filmes.

Page 51: Red Carpet Janeiro 2009

51

Page 52: Red Carpet Janeiro 2009

52

sob o signo dEugEtsumonogataripor: nuno gonçalves

O nome Kenji Mizoguchi parece ainda hoje não ter a mesma relevância ou reconhecimento para o grande públi-co quanto, por exemplo, Jean Luc Go-dard ou o conterrâneo Akira Kurosawa. no entanto ambos consideravam-no como um mentor e o reflexo máximo do papel do realizador enquanto cria-dor de arte. ugetsu Monogatari, ou em português Contos da Lua vaga, é uma das suas mais reputadas obras e talvez a crucial para a sua imortaliza-ção a nível global. inspira-se em fon-tes quase opostas - dois contos tradi-cionais de Akinari ueda do sec. Xviii e uma história do escritor francês Guy de Maupassant – e localiza-as temporal-mente numa época de grande tumulto da história do Japão, o período sen-goku, de guerra constante entre diver-sas facções de poder e estatuto social. É por isso interessante que saliente as aparentemente singelas histórias de ambição de dois irmãos. um deles, Genjuro, percebe que os tempos ins-táveis e bélicos são ideais para a pro-liferação de uma fortuna feita através da venda da sua cerâmica. O outro, to-bei, entende que a guerra incessante é o palco de sonho para finalmente des-fazer a pele de camponês e se tornar num grande herói, um samurai. Ambos parecem ignorar as suas mulheres nos apelos, mais ou menos audíveis, de contenção em tamanhas aspirações. são forçados a abandonar a sua aldeia por um grupo de soldados insurgentes e decidem trilhar um perigoso camin-ho até à cidade para concretizarem os seus desejos, sem olhar a consequên-cias.

Pode-se dizer que Contos da Lua vaga é um ensaio doloroso sobre estes son-hos ilusórios e fatais que colocam em perigo vivências de fortuna oculta na busca doentia de fama e glória, aqui num decadente cenário de guerra. É interessante a forma como Mizoguchi estabelece este espelho de antigu-idade numa época de explosivo de-senvolvimento e modernismo, os anos 50, utilizando-o como metáfora dos perigos eminentes de tão desenfreada ambição. esta é atribuída especial-mente aos protagonistas masculinos, que insatisfeitos com as suas pacatas existências procuram ferozmente aq-uilo que pensam que os vai aproximar da derradeira felicidade. O contraste é

Page 53: Red Carpet Janeiro 2009

53

dado pelas suas esposas, que apenas parecem ambicionar a manutenção de uma vida de-sprovida de luxo mas plena de contentamento. Retratadas como heroínas numa época em que o papel da mulher era ainda muito menosprezado, são elas a força moral e núcleo emocio-nal da história, cujos sacrifícios e amor pelos maridos pare-cem não ser suficientes para os mesmos, que só os reconhecem tarde demais. Aí percebem a ir-reversibilidade dos seus actos e o subterfúgio emocional que encontraram na procura da riqueza e aclamação. todos estes temas parecem ser centrais na obra de Mizogu-chi, um realizador reconhecido pela sua meticulosa encena-ção e revolucionária utilização da câmara enquanto expressão do olhar. É quase sempre ne-cessário exercer um paralelismo com outro grande cineasta da altura, Yasujiro Ozu, ambos re-conhecidos pela atenção dada ao detalhe cénico e interpreta-tivo, instaurando nos seus film-es longes cortes contínuos que compunham uma única cena, atribuindo-lhes assim uma flu-idez visual e narrativa sem an-tecedentes no cinema japonês. no entanto diferem em algo notável: enquanto a câmara de Ozu se mantém sempre estática como se estivesse a observar na primeira pessoa, a de Mizo-guchi nunca está imóvel nem mesmo quando aparenta estar. Como que de um olhar divino se tratasse ele desloca-a em cena não só horizontalmente mas prioritariamente em movi-mentos verticais, evidenciando a distância tão ténue entre o mundo terreno e o dos espíritos. imediatamente a seguir aos créditos iniciais o realizador informa-nos que esta é uma história de fantasmas. e mais do que influências do tradicional teatro Nô, ele faz a ponte en-tre os dois planos de uma forma admirável e singular, começan-do por uni-los numa memo-rável sequência de travessia

mos à cruel morte da sua mul-her Miyagi às mãos de bandidos vorazes que a assassinam para roubar a última comida que lhe resta. tudo isto parece reforçar a teoria hipotética que Miyagi e wasaka são essencialmente duas faces da mesma mulher. Quando Genjuro está no mer-cado, imediatamente antes de cruzar olhares com Wasaka pela primeira vez, tem uma visão da mulher na sua casa depois de a presentear com dispendiosos quimonos, a sua interpreta-ção do que a fará feliz, mesmo quando ela já lhe tinha expres-sado, aquando de uma ofer-enda similar, que a única coisa que lhe era importante era o seu amor. depois de quebrada a ilusão de Genjuro ele volta a casa apenas para, num primeiro olhar, a encontrar vazia e fria. num plano interrupto de inter-venção divina, Mizoguchi seg-ue-o enquanto deambula pela casa e o seu exterior até encon-trar Miyagi no centro da sala que há alguns segundos se en-contrava envolta na penumbra. Apesar do próprio só ter noção da fantasia no dia seguinte, o espectador sabe que se trata também de um fantasma. Mas este é dócil e salvador, como que a perdoar Genjuro por tudo o que tinha acontecido e urgir que a partir daquele momento viva com a honestidade que sempre conheceu, honrando assim a sua memória. Contos de Lua vaga é uma obra de irrevogável perpetuidade, uma avaliação alegórica do sentido da vida. nesta fábula vivem personagens, vivas ou mortas, que batalham com os seus demónios interiores e a in-adequação da condição ditada pelo exterior, incapazes de vis-lumbrar a luz da redenção antes de quase tudo perderem. Por estes aspectos, e inumeráveis outros, trata-se de uma das maiores manifestações de hu-manidade em cinema. Talvez por isso seja um filme que, cada vez que é (re)descoberto, pa-rece capaz de mudar uma vida.

de um rio envolto em neblina mostrando que as personagens passam a existir em ambos os mundos. um dos capítulos mais importantes da história per-tence a Genjuro que, quando finalmente chega à cidade para vender a sua cerâmica, se de-ixa encantar com os elogios de dama wasaka, uma estranha senhora da nobreza que, en-volta num véu imaculado e se faz ouvir através de uma criada, expressa a sua admiração pela sua arte. Genjuro mais tarde é também enfeitiçado pela sua pura beleza, mas a mesmer-ização começa mesmo quando ela reconhece aquilo que ele há muito cobiçava: não o utili-tarismo da sua cerâmica mas a sublimidade da arte e de todo o trabalho que morava por detrás. esta é uma temática também invulgar, a do artista sedento por autenticação, que pode ser muito nefasta e destrutiva quando finalmente alcançada. e enquanto a mulher procura o regresso a casa com o filho de ambos às costas numa terra minada por guerra, ele deixa-se seduzir por esta misteriosa figura. Viaja até ao seu palá-cio, inicialmente envolto em sombras, mas que subitamente ganha vida numa luz frágil. No desenrolar deste romance proi-bido percebemos que ela se trata de uma alma que já não pertence ao mundo dos vivos e encontra em Genjuro, tal como ele nela, o veículo para a mate-rialização de sonhos nunca al-cançados. Mizoguchi demonstra uma mestria infinita na forma como polariza os dois planos: o real é provido de uma visão quase documental das agruras da guerra, sujo e impiedoso; o dos espíritos é ingénuo, etéreo e de uma beleza raramente trans-posta na tela de cinema. existe uma cena, talvez das mais pun-gentes da história da 7ªarte, em que vemos Genjuro com Wasaka, deliciado nos prazeres bucólicos e celestiais do outro mundo. enquanto isso assisti-

so

b o

sig

no

dE

Page 54: Red Carpet Janeiro 2009

54

20 aPostas Para 2009por: nuno cargaleiro e nuno gonçalves

thE curious casE of bEn-Jamin button dE david finchErdepois de Zodiac, david Fincher prepara um épi-co dramático que acompanha a história de um homem, Benjamin Button (Brad Pitt), que nasce totalmente envelhecido e subverte os padrões de crescimento, ficando cada vez mais novo. uma história de amor, com Cate Blanchett, cru-zada em tempos opostos e vidas diferentes.

thE wrEstlEr dE darrEn aronofskytido como o derradeiro regresso de Mickey Rourke aos grandes papéis, este filme do real-izador de A vida não é um sonho e the Fountain, conta a história de um antigo lutador de wres-tling que se vê confrontado com o amadureci-mento, enquanto prova conseguir ainda vencer duros campeonatos.

gran torino dE clint Eastwoodtido por muitos como a canção de cisne de Clint eastwood, pelo menos enquanto actor. A per-sonagem, um veterano reformado com pouca tolerância racial, que o realizador incorpora, trata-se de um resumo de toda a sua carreira e personalidade enquanto ícone. e um hino ao seu cinema.

shuttEr island dE martin scorsEsEOutra colaboração de scorsese e Leonardo di-Caprio, um thriller passado nos anos 50 que re-lata a busca policial de uma assassina demente. um elenco de luxo também composto por Mark Ruffalo, Michelle williams, Max von sydow e Patrícia Clarkson.

thE trEE of lifE dE tEr-rEncE malickOutro filme de Brad Pitt desta feita com um dos mais intrigantes cineastas norte-americanos, terrence Malick, autor de A Barreira invisível e O novo Mundo. um drama familiar passado na América em meados do século XX que também conta com a presença de sean Penn.

20 aPostas Para 2009por: nuno cargaleiro e nuno gonçalves

20

aP

os

tas

Pa

ra

20

09

Page 55: Red Carpet Janeiro 2009

55

two lovErs dE JamEs grayJames Gray promete diversificação do seu cin-ema depois de nós Controlamos a noite neste triângulo amoroso constituído por Joaquin Phoe-nix, Gwyneth Paltrow e vinessa shaw. um ro-mance nova-iorquino passado em Brooklyn que promete deter uma elevada carga emocional.

Public EnEmiEs dE michaEl mannO esperado regresso aos grandes ecrãs do “pai da acção moderna” depois do blockbuster Miami vice. Reúne Johnny depp, Christian Bale e Mari-on Cottilard num conto de perseguição criminal nos anos 30 numa América imersa uma gigant-esca onda de crime.

inglorious bastErds dE QuEntin tarantinoO filme cujo planeamento se iniciou há mais de uma década tem finalmente data marcada. Numa França minada pela ocupação nazi, um grupo de soldados americanos judeus aterroriza as tropas de hitler. no meio da campanha en-contram uma jovem adolescente que terá de salvar. novamente Brad Pitt com Mike Meyers, eli Roth e Maggie Cheung.

lovEly bonEs dE PEtEr JacksonA adaptação cinematografia do aclamado ro-mance de Alice sebold que marca o regresso de Peter Jackson a projectos mais modestos, na veia do glorioso Amizade Sem Limites. Conta a história de uma menina (saoirse Ronan) que do-lorosamente olha para a vida dos seus pais, Ra-chel Weisz e Mark Wahlberg, depois do seu as-sassinato.

Ponyo on thE cliff by thE sEa dE hayao miyazakiOutra longa metragem do mestre da animação, Hayao Miyazaki, responsável por obras-primas como nausicaa, Princesa Mononoke e A viagem de Chihiro. Uma fábula infantil de um rapaz que mora à beira mar e trava uma invulgar amizade com uma princesa, um pequeno peixe que deseja ser humano.

20

aP

os

tas

Pa

ra

20

09

Page 56: Red Carpet Janeiro 2009

56

changEling dE clint East-woodApós reaver o filho que julgara ter perdido, Chris-tine Collins (Angelina Jolie) começa a suspeitar que aquela criança poderá não ser realmente aquela que lhe levaram. numa luta que out-ros parecem querer parar, esta mulher procura descobrir a verdade até às últimas consequên-cias. Uma realização de Clint Eastwood.

harry PottEr and thE half-blood PrincE dE da-vid yatEsUm filme da saga Harry Potter naturalmente pa-rece fadado ao sucesso. nesta sexta incursão ao mundo criado por J. K. Rowling podemos encon-trar um harry Potter mais consciente do perigo à sua volta. na posse de um diário misterioso, irá descobrir segredos do passado que podem afectar a guerra vivida no presente.

valkyriE dE bryan singErCom um elenco de luxo encabeçado por tom Cruise, que também é produtor, e realizado por Bryan singer, este projecto relata a história verídica do plano de vários generais nazis para assassinar hitler. situada no auge da ii Guerra Mundial, este plano foi denominado de valkyrie, e só determinados membros teriam acesso a ele.

angEls and dEmons dE ron howarddan Brown já deu origem à adaptação de O Có-digo de da vinci. desse modo, a mesma equipa regressa para adaptar o romance anterior a este, considerado melhor por alguns, relatando as desventuras de Robert Langdon (tom hanks), desta vez contra a sociedade secreta designada por illuminati.

transformErs: rEvEngE of thE fallEn dE michaEl bayCom perspectivas de estrear no verão de 2009, esta sequela concentra-se na reunião da mes-ma equipa dirigida por Michael Bay. Desta vez o enredo incide sobre o regresso de um inimigo an-tigo, que ainda não foi anunciado pela produção. espera-se mais acção, mais efeitos especiais, mais figuras da animação, e mais Megan Fox.

star trEk dE J.J. abramsnum regresso ao início, este star trek Zero, como já designado, atreve-se a recontar a história da primeira missão da nave enterprise. eric Bana é nero, o Romulano que servirá de principal an-tagonista para a mais célebre equipa de ficção científica. Mais acção, efeitos especiais, e sexo são as promessas desta direcção de J.J. Abrams.

20

aP

os

tas

Pa

ra

20

09

Page 57: Red Carpet Janeiro 2009

57

ninE dE rob marshallInfluenciado por 8 1/2,de Fellini, nine relata a história de Guido Contini (daniel day-Lewis), um realizador que pretende acabar o seu filme, mas que se vê a braços com várias mulheres que dominam a sua vida. Marion Cotillard será a es-posa, Penélope Cruz será a amante sensual, e nicole Kidman será a sua musa.

slumdog millionairE dE danny boylEO novo projecto de danny Boyle, arrisca-se a ser a maior surpresa de 2009. num conceito bas-tante simples, sobre um jovem indiano pobre que vence a versão daquele país do Quem Quer ser Milionário. Quando todos duvidam dele ter feito batota, este revela a história da sua vida, explicando como é que sabia todas as respostas.

thE informant dE stEvEn sodErbErghNo novo filme de Steven Soderbergh, enca-beçado por Matt damon, podemos acompan-har um thriller, que simultaneamente também se apresenta como uma comédia negra, sobre o desmascarar de um esquema ilegal de fixação de preços por entre grupos comerciais que se crêem concorrentes.

milk dE gus van santsean Penn interpreta harvey Milk, o primeiro Mayor assumidamente gay dos estados unidos. Numa realização de Gus Van Sant, o filme acom-panha a evolução de Harvey até ao concretizar do seu sonho, e à sua morte, assassinado por um colega da Câmara de são Francisco.

20

aP

os

tas

Pa

ra

20

09

Page 58: Red Carpet Janeiro 2009

58

angEl facEa Essência dE um olhar (ii)por: luís mendonça

Para além do uso mínimo do campo-contra-campo e a defesa clássica da invisibilidade da câmara, outro elemento fundamental desta “jus-ta medida premingeriana” é o plano americano, visto como espaço médio entre o plano geral e o grande plano; nas palavras de João Mário Grilo (1994), entre a clareza descritiva e enumera-tiva do primeiro e a expressividade nominativa e a grandeza emocional do segundo. Por outro lado, a montagem de Angel Face caracteriza-se por uma quase total ausência de artifícios, al-guns deles, típicos do noir (voz-off e flashback), e um raccord preciso e, sobretudo, necessário. Otto Preminger, conhecido pelos seus longos takes, só possíveis graças a um domínio comple-to sobre o espaço, vê no acto do corte a violên-cia superlativa do cinema; expressão de um dos grandes paradoxos da sétima Arte: o que liga os

planos entre si é, ao mesmo tempo, aquilo que os cinde.

como Evitar o cortEtambém parece haver aqui uma tentativa de aproximação ao teatro, onde o olhar do espe-ctador é livre, total e contínuo. Preminger na primeira pessoa: “Se fosse possível, eu faria todo um filme num plano, porque acredito que cada corte, não importa quão cuidadoso ele seja feito, é perturbador. Nós podemos enfatizar al-guma coisa com o corte (o corte é também uma forma de destacar alguma coisa), caso contrário cada corte é feito apenas porque não se con-segue contar uma coisa num só plano” (Sarris, 1971).

cin

Ema

clá

ss

ico

Page 59: Red Carpet Janeiro 2009

59

David Bordwell (2005) concretiza estas ideias, quando afirma que a duração média de cada pla-no de Angel Face é de 16 segundos, bem mais do que os 9 a 11 segundos que constituíam o mesmo valor médio para a maioria dos filmes norte-americanos produzidos entre 1940 e 1950. Para além dos longos planos das alegações finais, de-stacamos aquele em que diane se mostra arre-pendida de ter morto a sua madrasta e revela o lado mais íntimo do ódio que a levou ao homicídio - e o jogo perverso que fazia quando era criança, “If Catherine were dead”… Em 1.27 minutos, tor-na-se de novo visível o paradigma de um gesto: a câmara, quase imóvel, começa por filmar em plano americano, mas passa a grande plano, não por acção própria, mas devido à aproximação de diane. Acontece o mesmo na cena das alega-ções finais e no primeiro encontro entre os pro-tagonistas: a câmara relaciona-se com o espaço como se fosse uma personagem; ou melhor, é tanto um objecto de desejo (quando os corpos se aproximam dela) como um instrumento de procura (quando é ela que se aproxima dos cor-pos). Ora, o corte interrompe esta possibilidade quase lírica do acto de filmar.

Por isso, parece-nos que, em Angel Face, Otto Preminger procura mascarar muitos dos seus cortes com encadeados - 30 ao todo, segundo Lippe - que justapõem as imagens entre si, sug-erindo uma maior “continuidade no fluxo de ide-ias e da linha narrativa”, e com um efeito típico no seu cinema: no mesmo enquadramento, as-sistimos à passagem, por fusão, da noite para o dia (uma solução visual semelhante é aplicada com ainda mais sofisticação, isto é, sem corte visível, num magnífico noir que realizou em 1950, where the sidewalk ends).

Para alguns críticos, a paixão de Preminger por “julgamentos justos”, filmados em contínuo e (quase) sem truques, põe o espectador no lugar do jurado: divididos mais ou menos uniforme-mente entre personagens “não planas”, os el-ementos de identificação tornam-se parcos, porque dispersos. O detachment de Preminger pode converter-se numa exigência de detach-ment para o próprio espectador. Por exemplo, nunca chegamos a compreender muito bem as razões que levam Diane, personagem quase impenetrável, a odiar tanto a sua madrasta. Contudo, pensamos que o enigma irresolúvel e obcecante da sua mente é fundamental à con-strução dramática de Angel Face, uma vez que torna a relação entre a câmara de Preminger e a

sua musa angelical numa espécie de exorcismo cinematográfico. Por outras palavras, quanto mais a câmara filma Diane, mais a sua mente se desvenda e contamina a mise en scène, abrin-do caminho a uma “subjectivização do espaço” (Grilo, 1997). Mesmo depois de mortos, Cath-erine e Charles continuam a habitar a mente de diane e, por correspondência, a grande mansão tremayne, as suas divisões e objectos.

a fEtichização do EsPaçoProva disso é a fabulosa sequência em que di-ane vagueia, mergulhada numa “solidão não solitária”, pelas divisões da casa. No seu quar-to, vemos uma fotografia de Charles colocada, de frente para a câmara, sobre um piano que já de nada vale tocar, porque também a música, nesta altura, ganhou “vida própria”. O “plano-emblema” que Preminger faz da imagem do morto, acto profano, quase necrófilo, lembra Laura. no grande corredor, o predomínio da low key light faz elevar, sobre o branco obscurecido das paredes, sombras abissais que envolvem - e esmagam - o corpo de diane. Preminger usa um longo plano geral que sugere impotência e enfatiza a pequenez da protagonista. O passeio de diane prolonga-se, sem planos subjectivos, até aos quartos vazios, habitados por memórias, da madrasta e do pai. neste último, diane pega numa peça de xadrez, recordando-se dos jogos que fazia com o homem que amava e que, invol-untariamente, matou.

A partir daqui, o simbolismo dos objectos tor-na-se fatal: o círculo diegético de Angel Face começa a fechar-se. O carro que, lá fora, diane não vê e o casaco desportivo de Frank que esta veste servem de prenúncio ao desfecho brutal do filme. Em suma, usando as palavras de Ed-gar Morin (1997), através da mise en scène, “os objectos adquirem alma e vida. no seio do real-ismo, nasce um animismo”.

Mas também os olhos e o cabelo de Jean sim-mons e, acima de tudo, as mãos de Robert Mit-chum são objecto da pulsão fetichista da câ-mara de Otto Preminger. essas mãos, um dos principais leitmotivs do filme, são usadas por Frank como instrumentos de afirmação da sua masculinidade (tantas vezes desafiada ao longo do filme). Logo nos primeiros minutos, ele apli-ca-as violentamente na face de diane, e esta, em contracampo, retribuiu com um estalo ainda

cin

Ema

clá

ss

ico

Page 60: Red Carpet Janeiro 2009

60

maior - “sexo e possessão”, dois dos principais temas do filme, estão aqui enquadrados em ap-enas dois planos. noutra cena, Frank usa comi-camente a mão para manipular o rosto de Mary, numa tentativa (sem sucesso) de a levar a jantar fora. Mais à frente, num plano subjectivo (sobre o ombro), Frank lança a mão ao “rosto de anjo” de diane, domando-o como uma cobra. Com esse gesto, Frank recupera a ascendência sobre a relação (e o próprio filme). Mas o que diz anun-cia, subtilmente, mais uma viragem: “I’ve got a par of hands, not much else”.

Minutos depois, diane beija Frank, sai do quar-to e, próximo dos contrafortes da casa, ensaia a morte da sua madrasta, mas não só: o maço de cigarros que lança falésia abaixo representa Catherine, Charles, Frank e ela mesma num car-ro. É na última sequência de Angel Face que es-sas imagens - captadas por um dos poucos pla-nos picados de todo o filme - atingem o auge do seu simbolismo - um presságio encadeado num outro ainda mais terrível.

o círculo QuE sE fEchaOs instantes finais de Angel Face vêm acentuar o lado simétrico da narrativa: dois homens falidos deixam-se guiar tragicamente por duas mul-heres dominadoras, que lhes roubaram a inspi-ração e o amor de que dependiam para viver… As duas cenas merecem um tratamento quase idêntico: Preminger usa, excepcionalmente, o poder dramático e perturbador do corte para pôr dentro de campo aquilo que permanece du-

rante quase toda a duração de Angel Face fora de campo: a morte.

A ideia de “regresso”, que estava antes mais directamente associada à noção de espaço (as divisões da casa, os objectos, os gestos e os cor-pos), adquire naquelas imagens do carro a rolar outra vez pelo declive toda uma dimensão tem-poral, que tem no automóvel a sua metáfora. Como diz João Mário Grilo, “ao arrancar para trás (no espaço), o carro avança, na realidade, para a frente (no tempo), saltando para uma outra di-mensão, num mergulho desesperado, para uma temporalidade cósmica, brutal e concreta, onde o futuro (a queda e a morte) de Frank e diane se confunde com o seu próprio passado (a morte do pai e da madrasta)”. Toda esta construção nar-rativa em círculo encontra o seu desfecho ideal na cena do taxista que, estacionado à frente da mansão tremayne, chama por um morto. O táxi chega minutos depois de Simmons conduzir Mit-chum ao abismo, tal como esteve quase para ser outra a ambulância que respondeu à chamada de Charles no começo do filme

cin

Ema

clá

ss

ico

bibliografia (i):

BORdweLL, david, Figures traced in light: on cinematic staging, Berkeley, University of California Press, 2005, pp. 150;GRiLO, João Mário, «Figuras americanas da culpa no cinema de Otto Prem-inger», Comunicação e Linguagens, Dez. de 1994, pp. 221-229;

LiPPe, Richard, «At the Margins of Film noir: Preminger’s Angel Face», in SILVER e URSINI (ed.), Nova Iorque, Limielight Editions, pp.161-175;

MAyeRsBeRG, Paul, «From Laura to Angel Face», Movie, set. de 1979, pp. 14-16;

MORin, edgar, O Cinema ou o homem imaginário, Lisboa, Relógio d’Água, 1997;

sARRis, Andrew et al., «Otto Preminger» in sARRis (ed.), hollywood voices: interviews with Film directors, Londres, secker & warbur, 1971, pp. 69-84.

Page 61: Red Carpet Janeiro 2009

61

Page 62: Red Carpet Janeiro 2009

62

Falar do filme de Jane Campion, O Piano, numa secção designada só Para Adultos pode parecer dissonante com o contexto e enredo do filme. Em-bora com a presença de algumas cenas de nus, é possível que o espectador fique pelo superficial da temática do filme, representando o seu sig-nificado como um conto de uma mulher incom-preendida pelo mundo que ama o seu piano mais do que tudo, ou do que a sua própria vida. Con-tudo, esta narrativa, se vista através de um outro prisma, apresenta-nos uma vertente de sexuali-dade e sensualidade muito acentuada, num relato dorido sobre uma mulher demasiado emancipada emocionalmente para a época em que nasceu, e cuja mudez, quase simbólica, nada mais é do que a incompreensão que sofre por parte da sociedade. Afinal, esta figura, quase misteriosa, comunica através do seu piano, e a sua música incomoda os demais, que preferem uma melodia mais ordenada e menos passional. Como a sexualidade e a sensu-alidade não podem sobreviver através de paixão, O Piano com holly hunter é a escolha do só Para Adultos de Janeiro de 2009.

Algures por entre o século XiX, Ada (holly hunter) é uma mulher que é obrigada, através de um casa-mento arranjado pelo seu pai, a mudar-se com a sua filha Flora (Anna Paquin) para a Nova Zelândia. O seu novo marido, Alistair (sam neil), é um sím-bolo do Imperialismo, desprezando os nativos, e demonstrando o seu poder pela sua riqueza e von-tade. Flora, acostumada com a mudez da sua mãe, serve-lhe de intérprete. Contudo, ou não fosse uma criança, acrescenta-lhe pontos que provêm da sua imaginação fértil e de alguma malícia in-génua, típica da infância. A todos os habitantes daquela nova terra, Ada parece-lhes estranha, não só como uma deficiente por não falar, mas devido à sua adoração pelo piano que a acompanhou. devido ao caminho árido entre o local de desem-barque e o povoado, este foi obrigado a perman-ecer por entre o areal da praia. Ada está determi-nada em reaver o seu instrumento, como que este fosse a sua alma, e consegue auxílio através da figura de Baines (Harvey Keitel). Contudo, este fa-vor não vem sem um propósito. Baines pede a Ada que recupere o seu piano através de um preço: au-

o PianoPor: nuno cargalEiro

só Para adultos

Page 63: Red Carpet Janeiro 2009

63

las de piano. Rapidamente essas aulas se trans-formam em algo mais, e Baines, propõe que se Ada lhe deixar tocar na sua perna, por entre um buraco das suas meias, lhe dá uma das teclas do seu piano. Rapidamente se compõe uma relação de propósito, que rapidamente se transforma em paixão, e quem sabe amor.

entretanto, a sua relação com Alistair não con-hece melhores caminhos. O seu novo marido é um homem que partilha a ideologia vigente, in-capaz de ultrapassar as redes do social na rela-ção com a sua esposa. embora esta tente, numa altura onde ele lhe interpela na cama, partilhar com ele uma experiência sensorial e de paixão, Alistair rapidamente recusa esta estranha for-ma de tratar o sexo e a relação entre marido e mulher. Contrariamente, Baines despoja-se to-talmente de preconceitos e abraça o afecto que vai crescendo por Ada. não é por acaso que quando Baines decide aumentar a parada do seu negócio, decide surgir diante Ada totalmente nú, numa cena frontal essencial para compreender o encanto e motivação de aproximação deste homem para com aquela mulher. sentindo-se a minguar num ambiente tão severo pela sua flora como pela sua gente, Ada vai descaindo as def-esas e aproximando-se de Baines. nesta altura, onde o sexo é consumado, a intimidade entre ambos é mais próxima, num amor emergente, que faz com que Baines crie sentimentos de cul-pa por ter “comprado” Ada aos poucos.

Porém, a relação de ambos não passa desperce-bida da filha de Ada, Flora. Com uma perspectiva inocente usual na infância, e somente culpada pela sua curiosidade e imaginação, Flora desco-bre a relação ilícita entre Baines e a sua mãe. Quando esta última lhe pede que dê a Baines uma tecla do piano, onde está cravada a sua decla-ração de amor eterno, Flora prefere mostrá-la a Alistair, numa tentativa de fazer o supostamente correcto. Mas esse facto catapulta a desgraça, e os dois amantes que planeavam a sua fuga vêem-se confrontados, especialmente Ada, com as acusações de Alistair. sentindo-se traído, e incapaz de amar aquilo que não consegue real-mente perceber, Alistair tortura psicologica-mente Ada, ameaçando cortar-lhe um dos seus dedos caso ela não professe o seu amor. Com uma mudez que nunca se percebe realmente se será biológica ou por opção, Ada não reage, e o sangue do seu pecado acabará por manchar a face da sua filha, que desesperada procura de-fender a sua mãe através do único modo que sabe: mentindo.

No final, Ada abandona aquele mundo. Ao seu piano falta-lhe uma peça, e durante a travessia para o embarque, indica a Baines que o atire para

o mar, já que não existe conserto para o mesmo. no momento em que vê o seu piano cair nas águas, Ada coloca discretamente o pé por entre as cordas que estariam entrelaçadas no mesmo, acabando por ser arrastada para o fundo, para desespero dos que ficaram na superfície.

O que vemos de seguida é o resgate de Ada, a sua salvação. Irá refazer a sua vida com Baines, terá um dedo de metal que substituirá o per-dido, e até começará a aprender a falar. Con-tudo, neste suposto final feliz vive o fantasma de ilusão, já que rapidamente percebemos que estes são os últimos pensamentos de Ada, que agora reside no fundo do mar, num lugar onde domina o silêncio idêntico àquele que sente por sentir-se incompleta. se ao seu piano faltou a peça onde residia a declaração da sua paixão, Ada também sente o mesmo. Incapaz de poder transmitir a sua emoção e paixão, Ada sente a angústia da calmaria, e perante este destino prefere o repouso eterno, perto do seu piano, do seu coração e da sua alma. tudo isto para pro-curar sentir-se completa.

O mérito desta história trágica provém de um ar-gumento generoso para as suas personagens, e uma realizadora (Jane Campion) que soube as-sumir a feminilidade e o desejo da sua protago-nista. Ada vive enjaulada diante as normas do mundo, e embora seja apresentada como muda, é possivelmente a figura que mais se dá a con-hecer de todo o elenco, nem que seja comuni-cando pelas suas reacções, pelas expressões e pela entrega com que toca o seu piano. este úl-timo é um símbolo da sua alma, e se a sua melo-dia parece selvagem e sensual, quase como se entranhasse por entre a pele, é porque os dedos de Ada assim o comandaram. A sua tragédia não reside na suposta traição para com o seu esposo, mas do modo como a sociedade a tratou, man-chando-a e marcando-a para sempre, até a um ponto onde já não conseguiria ser ela mesma. Ada consegue ser demasiado realista para seu próprio benefício, e embora ame genuinamente Baines, consegue compreender que durante o resto da sua possível vida, jamais conseguirá amar-se totalmente a si mesma, e ser feliz.

A sensualidade impera neste filme. Algumas vezes subtilmente, como o observar por entre o buraco na meia de Ada, outras mais explícitas, como a cena de amor entre esta e Baines que Flora observa. Contudo, o que transpõe este dra-ma para um patamar que permite diversas inter-pretações, à medida que a experiência de vida do espectador evolui, é o tom intenso, sincero, e indomável das palavras que Ada pronunciou du-rante todo o filme, mas que nós nunca ouvimos.

Pa

ra

ad

ult

os

Page 64: Red Carpet Janeiro 2009

64

sériEdoctor whopor: rafael Jorge

Permitam-me apresentar-vos a minha série preferida.

É um fenómeno de popularidade em inglaterra, vindo da BBC, que passou nas nossas televisões este ano, pela SIC Radical. É ficção-científica, humor e divertimento. tem um protagonista fascinante, que dá pelo nome de “o Doutor”, um senhor do tempo do planeta Gallifrey, que viaja pelo tempo e espaço numa nave denominada tARdis (time And Relative dimension in space), cujo circuito de camuflagem avariou, tendo esta assumindo a forma exterior de uma cabine tele-fónica da polícia dos anos 60.deixem-se encantar pelo seu brilhantismo, e acompanhem-me, nesta modesta apresentação a um grande marco da cultura popular inglesa.

a origEm dE um fEnómEnodoctor who não é recente, e passou na BBC de 1963 a 1989. Muitas pessoas partilham a sua criação, mas entre elas destaca-se um nome: sydney newman. Canadiano de nascimento, é o responsável por estabelecer os principais con-ceitos da personagem, da sua nave e do próprio título da série, sendo que esteve também en-volvido noutra popular série britânica, Os vinga-dores.

O primeiro episódio recebeu o nome de An un-earthly Child, e assim como as primeiras tempo-radas da série, remonta aos tempos em que a tv era a preto e branco.A natureza do protagonista permaneceu desde cedo envolta em mistério. um ponto importante na construção deste herói, deu-se em 1966,

do

cto

r w

ho

Page 65: Red Carpet Janeiro 2009

65

quando o actor protagonista, william hartnell decide abandonar o papel. Aqui, criou-se uma das características icónicas da personagem, a regeneração. Em vez de substituir sem explica-ção aparente o actor principal, como é comum acontecer, a mudança de rosto do doutor tor-nou-se parte da personagem, que consegue re-generar, ou seja, mudar o seu corpo quando está em perigo de vida, assumindo a forma de uma nova encarnação. A grande originalidade é que estas diferentes encarnações, apesar de con-tinuarem a formar uma só personagem, apre-sentam diferenças na sua personalidade, e até escolha de vestuário.

O grande auge de popularidade de doctor who, poderá muito bem ter sido com aquela que é por muitos considerada a melhor encarnação da personagem: a quarta, interpretada por tom Baker.Na quinta encarnação, a BBC fez experiências com o horário da série, e finalmente, grandes mudanças que contribuiriam para o baixar do seu sucesso, deram-se com o sexto doutor, Co-lin Baker. A série muda de formato, passando de episódios com duração de vinte e cinco minutos, para episódios de quarenta e cinco minutos, uma mudança que infelizmente, não alcançou suces-so. O reino de Colin Baker ficou então marcado, como uma grande ameaça à existência da série, chegando o cancelamento desta a ser anuncia-do em 1985.no entanto, em 1986, doctor who regressa após uma paragem de dezoito meses, com um novo protagonista, mas nunca conseguiu recuperar audiências, tendo sido inevitavelmente cancel-ada em 1989.Em 1996, numa tentativa de trazer de volta o doutor, foi feito com um novo actor, Paul Mc-Gann, a oitava encarnação, um filme para tele-visão que infelizmente, não alcançou sucesso.

rEnascimEntoMesmo com menor popularidade nos seus últimos anos, doctor who manteve grande importância na cultura britânica, e conseguiu nunca perder um vasto número de fãs, que aguardavam an-siosamente pelo triunfante regresso da person-agem.É em Março de 2005, que, pelas mãos do produ-tor/argumentista Russel t. davies, o doutor re-encarna para o novo milénio, interpretado por Christopher eccleston, apostado em atingir um novo patamar.

Page 66: Red Carpet Janeiro 2009

66

O trabalho de fazer regressar esta série de culto não era fácil, e implicava correr riscos, manten-do-se fiel à mitologia e conceitos originais. Um dos grandes problemas em apresentar a person-agem a novos espectadores, era o facto de ter um passado muito vasto, com imensas histórias, mas apagar todos os anteriores feitos da per-sonagem, poderia certamente não agradar aos fãs. então, colocava-se a pergunta, como man-ter o Doutor fiel às origens e introduzi-lo de novo ao mundo?A complexidade de inimigos e personagens da vida deste herói eram um claro obstáculo a que esta pudesse vir a ser facilmente compreendida por um novo público, portanto, a solução é in-troduzir o Doutor com histórias cuja compreen-são não requer ver um único episódio da série antiga, mas que podem muito bem decorrer na continuidade das aventuras anteriores.

O doutor é neste seu renascer em 2005, o último dos senhores do tempo, que se viu obrigado a destruir o seu planeta e o seu próprio povo numa guerra. isto representa uma grande mudança, já que na série antiga, o seu planeta existia e este partilhava aventuras com outros senhores do tempo, porém como já referi, o vasto número de personagens colocaria em perigo a compreen-

são da série por parte de um novo público, es-tando este factor na origem desta grande mu-dança.Agora, a única coisa que lhe resta é a sua tARdis, e torna-se assim, um viajante solitário, a quem percorrer o universo é a única coisa que resta.esta componente de solidão, e de se ter visto ob-rigado a destruir quem amava, pelo “bem maior”, causa uma maior ligação entre a personagem e o espectador, dando ao doutor um tom negro, adulto e humano. estes acontecimentos decisi-vos na sua vida, que marcam a distinção entre as séries antigas e esta, definem profundamente a personagem, sem nunca a afastar das origens. O passado do doutor continua presente, pela componente de saudade que representa nele, mas ao contrário de complicar a compreensão da sua História, redefine-o. A encarnação de Christopher eccleston é mar-cada por um tom negro, perturbada pelos acon-tecimentos da guerra, mas que é também alguém com uma boa disposição e energia inabaláveis.

Quanto às ameaças, os responsáveis da sé-rie encarregaram-se de criar novos inimigos, e trazer de volta outros conhecidos do Doutor, sempre de forma actualizada ao nosso tempo, como os daleks, os mais famosos extraterrestres combatidos pelo herói, que perduram já entre as

do

cto

r w

ho

Page 67: Red Carpet Janeiro 2009

67

criaturas icónicas da ficção-científica.e mesmo a nível de efeitos especiais, ainda que dispondo de um orçamento baixo, a nível técnico alcança verdadeiras maravilhas, sendo os mon-stros, planetas desconhecidos e locais do passa-do terrestre, retratados de forma irrepreensível. Pode notar-se por vezes a falta de um orçamen-to maior, mas isso nunca interfere na construção da atmosfera das histórias.

em doctor who, o protagonista é quase sempre acompanhado por outras personagens, os eter-nos companheiros, que são maioritariamente do sexo feminino. tornava-se necessário encontrar uma personagem que se adequasse a este re-começo das aventuras do doutor, e o que pode-ria resultar melhor, do que uma simples rapariga londrina?Rose é a típica rapariga inglesa com dezanove anos, e a sua simplicidade é essencial nesta re-introdução ao mundo de doctor who. ela é, tal como qualquer espectador, alguém que descon-hece por completo quem o Doutor é, mas que fica fascinada por aquilo que este poderá ser, e não hesita em querer viajar com ele, abandonando a sua aborrecida existência para conhecer o que realmente existe fora do seu pequeno mundo. estas características adequam-se aos especta-dores, e a ligação estabelecida com eles torna-

se novamente essencial.esta companheira é também importante porque, dado que o Doutor tem de lhe introduzir o seu quotidiano, o mundo das viagens no tempo e no espaço, repleto de encontros com seres de out-ros planetas, introdu-los também ao espectador.

A brilhante encarnação de Christopher ec-cleston, viria a partilhar connosco apenas uma temporada, por vontade do actor, que não queria ficar demasiado identificado com a personagem, de modo a poder mais facilmente entrar noutros projectos, sendo que o doutor reencarnou nas outras três temporadas feitas até ao presente, na pele do não menos fascinante david tennant.A série tem alcançado uma popularidade cres-cente, e conquistou com a sua quarta tempora-da, níveis de audiências lendários. entrou agora numa pequena paragem, pelo que em 2009 não veremos uma nova temporada, mas sim quatro episódios especiais de uma hora, e regressará ao formato habitual de uma temporada de treze episódios em 2010, com um novo actor a assum-ir o papel de doutor.Os episódios especiais de uma hora, fazem tam-bém parte da marca deixada pela série na cul-tura britânica, já que todos os anos no dia de natal, a BBC tem passado um episódio especial, desde este renascer da série.

do

cto

r w

ho

Page 68: Red Carpet Janeiro 2009

68

Puro EncantoCom as origens da personagem estabelecidas após a primeira temporada, é tempo de, com um novo dou-tor, explorar novos limites. A introdução está feita, e agora, apresenta-se a tarefa de continuar a explorar a magia da série.A segunda temporada fica marcada por uma energia diferente. david tennant mantém a oscilação entre um tom mais agressivo e negro, motivado pelo dolo-roso passado da personagem, para uma disposição energética, onde não falta imenso sentido de humor, possuindo claras parecenças com a encarnação de eccleston, mas ainda assim diferente e refrescante. tem um enorme fascínio pelo nosso pequeno planeta, e por todos os outros, e embora não consiga evitar por vezes ser dominado pelas memórias dolorosas do seu passado, a sua boa-disposição é contagiante, e o seu ânimo, inabalável.

doctor who, poderá ser catalogada como uma série juvenil, ou de entretenimento familiar, mas é muito mais do que isso. É uma pequena pérola destinada a todas e quaisquer pessoas, independentemente da idade. Pode ter momentos em que evidencia o seu tom juvenil, mas não vos insultará, e está repleta de pro-fundas reflexões que podem escapar aos mais peque-nos. sim, porque para além de nos apresentar dilemas da ficção-científica, como paradoxos temporais ou a ameaça do desenvolvimento tecnológico, coloca-nos questões que são profundamente adultas, profunda-mente nossas e profundamente reais.tem aquela componente mágica que ilumina as men-tes dos mais novos, por ser um pouco, as aventuras que sonhávamos viver quando éramos pequenos e de-ixávamos a nossa imaginação fluir, desenhando pos-sibilidades sem fim, construindo o que desejávamos encontrar, o que desejávamos viver, fora do nosso pequeno mundo.

O Doutor, este viajante que percorre encruzilhadas sem fim, cria connosco uma profunda relação.segue de uma aventura para outra, numa máquina que lhe permite ir a qualquer lado, em qualquer mo-mento. A dor do seu passado, as lembranças de entes queridos que perdeu, são o que o assombra, e o que o impede de alguma vez parar, e no fundo, poderia isto ter mais de verdade? não queremos todos, no nosso âmago, fugir de algo, de uma vida enfadonha como Rose, ou da dor como o doutor?este é o puro encanto, a verdadeira alma de doctor who. A nave deste senhor do tempo, as suas aven-turas, o modo como olha em frente, encontrando es-perança onde ela desapareceu, nunca parando, nun-ca deixando de acreditar, nunca deixando de amar, é aquela chama que procuramos. Aquele sonho impos-sível de realizar pelo qual gritamos no nosso interior: queremos veR mais, queremos viveR mais, queremos seR mais.e o doutor continuará a encantar-nos, para sempre.

Page 69: Red Carpet Janeiro 2009

69

Page 70: Red Carpet Janeiro 2009

70

Já todos conhecem a história da segunda Guerra Mundial e do que se passou nos campos de concen-tração e também já muitos viram filmes sobre este tema, mas há filmes e filmes…O filme A Lista de schindler é baseado no livro de thomas Keneally, schindlers Ark, transcrito para o grande ecrã por steven Zaillian (hannibal, Gangs de nova iorque), vencedor do Oscar de Melhor Guião Adaptado e realizado por Steven Spilberg (Jaws, Ju-rassik Park), que ganhou os Oscars de Melhor Real-izador e Melhor Filme.

A Lista de schindler conta a história de Oskar schindler, um industrial alemão membro do partido Nazi e próximo das altas patentes. Boémio, jogador, mulherengo e um especulador de guerra que salvou a vida a mais de 1100 judeus durante o holocausto. É bastante interessante ver como Oskar schindler, in-terpretado por um excelente Liam nesson, que passa de um industrial que apenas quer enriquecer a um herói que perdeu toda a sua fortuna para salvar vi-das humanas. Acompanha diariamente o lado Nazi e cria amizades dentro desse círculo enquanto obser-va calmamente o que acontece em toda a sua volta. Cria uma máscara onde apenas se vê um homem in-teressado nos negócios e em ter judeus a trabalhar para si, mas por pequenos gestos tenta facilitar-lhes a vida. Spielberg faz aqui um excelente trabalho ao utilizar uma personagem que aparentemente nada tem de herói mas que o é sem nunca o mostrar e é aqui que reside a misteriosidade e riqueza da per-sonalidade de schindler.

não é só schindler que se revela uma personagem interessante mas também Itzhak Stern, numa bela interpretação de Ben Kingsley, o primeiro judeu contratado por Schindler para gerir as finanças da sua empresa. Foi também o responsável pela sal-vação dos judeus já que foi ele que inicialmente

quis que fossem estes que trabalhassem na fábrica com a justificação de serem mão-de-obra barata e foi também quem os escolheu e recrutou. Por outro lado, Amon Goeth (Ralph Fiennes) comandante do campo de Plaszow, é também interessante de ver, até porque era uma espécie de amigo de schindler cujo hobby era matar a tiro judeus que andassem pelo seu campo de concentração e era com ele que schindler negociava os judeus.

no departamento técnico A Lista de schindler não desilude. Filmado a preto e branco apresenta uma bela fotografia onde apenas uma cor é apresentada em duas pequenas cenas do filme ficando gravada na memória de quem vê. A banda sonora cumpre muitíssimo bem o que lhe é pedido conseguindo acompanhar muitíssimo bem os momentos do filme criando uma excelente atmosfera.

A Lista de schindler consegue ser visualmente vio-lento mas não é para menos porque não se pode deixar amenizar o que se passou nos campos de concentração. Com uma excelente realização e in-terpretações, é um filme obrigatório.

O dvd apesar de ser uma edição especial é pobre em extras e traz-nos apenas dois. Como extras conta com um documentário intitulado Vozes da Lista que apresenta através de testemunhas as suas experiên-cias pessoais durante o holocausto. A história da Fundação shOAh através de steven spielberg, um olhar por detrás das cenas na organização onde es-tão gravados e arquivados testemunhos de sobrevi-ventes e testemunhas do holocausto.

9/10Biografia drama

argumEntothomas Keneally (livro), steven Zaillian (adaptação)rEalização steven spielberg com Liam neeson, Ben Kingsley e Ralph Fiennes1993

dvd do mêsa lista dE schindlErpor: álvaro banaco

Page 71: Red Carpet Janeiro 2009

71

Page 72: Red Carpet Janeiro 2009

72