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XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" RECONFIGURAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO EXTREMO SUL DA BAHIA APÓS INTENSIFICAÇÃO DA ATIVIDADE SILVÍCOLA GILCA GARCIA DE OLIVEIRA; KARINA LIMA OLIVEIRA; LEANDRO GUIMARÃES ARAÚJO. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, SALVADOR, BA, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL AGRICULTURA FAMILIAR RECONFIGURAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO EXTREMO SUL DA BAHIA APÓS INTENSIFICAÇÃO DA ATIVIDADE SILVÍCOLA Grupo de Pesquisa 7 – Agricultura Familiar RESUMO Neste artigo trata-se das transformações ocorridas na estrutura fundiária do Extremo Sul baiano a partir da implantação da atividade silvícola relacionada à indústria de papel e celulose. A partir da segunda metade do século XX, o capital avança, modificando as relações sociais, a estrutura produtiva e a paisagem regional. A pecuária bovina extensiva, a mecanização de alguns cultivos e a atividade madeireira expandem-se rapidamente. Nos anos de 1990 o reflorestamento de eucalipto para fins industriais intensifica-se, inserindo definitivamente a região na lógica da acumulação capitalista, e impactando de forma indiscriminada sobre os recursos naturais da Mata Atlântica. Ao mesmo tempo o Extremo Sul recebe grandes contingentes migratórios de outras regiões do País, contribuindo para a formação de uma nova configuração urbana e rural. A implantação de atividades rurais menos intensivas em mão-de-obra, como a silvicultura, tem favorecido a expulsão do “homem do campo” mudando a estrutura fundiária, com destaque para as unidades familiares. O objetivo deste estudo foi identificar a atual configuração da ocupação do espaço agrário no Extremo Sul da Bahia através da análise de dados secundários sobre população, condições dos proprietários, atividades, concentração de terras e programas de financiamento do setor agrícola. Verificou-se que a recente estrutura fundiária, sob a ótica da ocupação do espaço rural, é caracterizada pela concentração de terras, pelo êxodo rural e perda de renda. Palavras-chaves: Estrutura Fundiária; Espaço Rural; Extremo Sul do Estado da Bahia. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1

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XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro"

RECONFIGURAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO EXTREMOSUL DA BAHIA APÓS INTENSIFICAÇÃO DA ATIVIDADE

SILVÍCOLA

GILCA GARCIA DE OLIVEIRA; KARINA LIMA OLIVEIRA;LEANDRO GUIMARÃES ARAÚJO.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, SALVADOR, BA, BRASIL .

[email protected]

APRESENTAÇÃO ORAL

AGRICULTURA FAMILIAR

RECONFIGURAÇÃO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA NO EXTREMO SU L DABAHIA APÓS INTENSIFICAÇÃO DA ATIVIDADE SILVÍCOLA

Grupo de Pesquisa 7 – Agricultura Familiar

RESUMONeste artigo trata-se das transformações ocorridas na estrutura fundiária do Extremo Sulbaiano a partir da implantação da atividade silvícola relacionada à indústria de papel ecelulose. A partir da segunda metade do século XX, o capital avança, modificando asrelações sociais, a estrutura produtiva e a paisagem regional. A pecuária bovina extensiva, amecanização de alguns cultivos e a atividade madeireira expandem-se rapidamente. Nosanos de 1990 o reflorestamento de eucalipto para fins industriais intensifica-se, inserindodefinitivamente a região na lógica da acumulação capitalista, e impactando de formaindiscriminada sobre os recursos naturais da Mata Atlântica. Ao mesmo tempo o ExtremoSul recebe grandes contingentes migratórios de outras regiões do País, contribuindo para aformação de uma nova configuração urbana e rural. A implantação de atividades ruraismenos intensivas em mão-de-obra, como a silvicultura, tem favorecido a expulsão do“homem do campo” mudando a estrutura fundiária, com destaque para as unidadesfamiliares. O objetivo deste estudo foi identificar a atual configuração da ocupação doespaço agrário no Extremo Sul da Bahia através da análise de dados secundários sobrepopulação, condições dos proprietários, atividades, concentração de terras e programas definanciamento do setor agrícola. Verificou-se que a recente estrutura fundiária, sob a óticada ocupação do espaço rural, é caracterizada pela concentração de terras, pelo êxodo rural eperda de renda.Palavras-chaves: Estrutura Fundiária; Espaço Rural; Extremo Sul do Estado da Bahia.

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ABSTRACTThis article is about the occurred transformations in the agrarian structure of the SouthExtremity of Bahia (Brasil). From the second half of century XX, the capital movesforward, modifying the social relationships, the productive structure and the regionallandscape. The extensive bovine livestock, the mechanization of some farmings and thelumber activity are become enlarged quickly. In the years of 1990 the reforestation forindustrial ends is intensified, inserting definitively the region in the logic of the capitalistaccumulation, and impacted of indiscriminate form on the natural resources of AtlanticForest. At the same time the South Extremity receives great migratory contingents fromother regions of the country, contributing for the formation of a new urban and agriculturalconfiguration. The implantation of less intensive rural activities in labor as, the forestry, ithas favored the expulsion of the “man of the field” changing the agrarian structure, withprominence for the familiar units. The objective of this study was to identify the currentconfiguration of the occupation of the agrarian space in South Extremity of Bahia throughthe analysis of secondary data on population, the proprietors' conditions, activities,concentration of lands and programs of financing of the agricultural section. Therefore, it isconcluded in this research that the recent agrarian structure, under the optics of theoccupation of the agricultural space, is characterized by the land concentration, theagricultural exodus and loss of income.KEY-WORDS: Agrarian structure; Agricultural space; South extremity of Bahia State;

1. INTRODUÇÃO

A partir da abertura econômica que se iniciou nos anos 1990, no Governo Collor, adinâmica da economia brasileira tem se desenvolvido com a sua inserção competitiva emum mundo globalizado. Diante desta conjuntura, este artigo propõe-se a examinar asprincipais modificações socioeconômicas identificadas na Região Econômica1 do ExtremoSul da Bahia, a partir da consolidação das relações capitalistas em seu espaço. De formamais específica, busca-se identificar as principais transformações ocorridas no espaço rural,após a intensificação das atividades silvícolas, voltadas à indústria de papel e celulose.Estes novos empreendimentos, tanto contribuem para a integração competitiva da região aomercado global, como também têm provocado alterações nas estruturas socioprodutivasrurais, e redefinindo a posição dos grupos sociais nesta região.

A partir da segunda metade do século XX, a lógica do modo de produção capitalistaespalha-se por todo o extremo sul baiano, transformando rapidamente a paisagem, asrelações sociais e econômicas da região. Corresponde basicamente ao período da expansãodo capital madeireiro que inicia intensamente a devastação dos recursos naturais, a partirdos anos de 1950, mas, sobretudo nos anos de 1970, até a implantação dos projetosindustriais de reflorestamento de eucalipto nas décadas de 1980 e 1990, inserindo a regiãona lógica da acumulação nacional e internacional como espaço produtor de papel e celulosepara os mercados interno e externo.

Ao mesmo tempo em que o capital se interioriza no Extremo Sul evidenciam-se osefeitos da globalização, e desta forma, da competitividade, identificadas por alguns eventos

1 São 15 as Regiões Econômicas do Estado da Bahia: Oeste, Médio São Francisco, Irecê, Chapada Diamantina, SerraGeral, Baixo Médio São Francisco, Piemonte, Paraguaçu, Sudoeste, Nordeste, Litoral Norte, RMS, Recôncavo, LitoralSul e Extremo Sul.

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que vêem ocorrendo na região como a apropriação de terras públicas e de terras devolutasde indígenas por grileiros; cercamento do espaço rural; conflitos agrários; aceleradaurbanização das cidades; devastação da Mata Atlântica; expansão da pecuarizaçãoextensiva; tecnificação da produção de mamão e café; crescimento da desocupação rural eurbana como conseqüência inclusive da estagnação da atividade madeireira; surgimento devastos maciços florestais de eucalipto; implantação de grandes plantas industriais papel ecelulose e a atração de grandes contingentes migratórios de outras regiões do País,aumentando consideravelmente o povoamento nos últimos vinte anos (MACHADO, 2002).Desta forma, o recente processo de ocupação e formação da região desta região tem geradoimpactos sobre as relações produtivas, o meio ambiente e o nível de emprego.

O desenvolvimento do Extremo Sul baiano tem refletido em grande medida, asrecentes transformações das atividades econômicas do País. Desta forma, amplia-se aemergência de espaços novos que se supõem dinâmicos, nos quais o desenvolvimento se dápela expansão do agronegócio moderno. Este tem se integrado competitivamente aomercado global, emergindo enquanto área de crescimento do plantio de eucalipto,atendendo às necessidades de grandes empresas do segmento de papel e celulose.

Os efeitos adversos da expansão da monocultura do eucalipto promovem a reduçãoda biodiversidade e a concentração fundiária. As novas atividades desenvolvidas na regiãosão intensivas em capital e pouco intensivas em mão de obra, além de se desenvolverem emgrandes extensões de terra, contribuindo assim, com a expansão da concentração fundiária, com o êxodo rural e com a precarização das áreas urbanas, devido ao aumentopopulacional, associado ao processo de favelização, elevação das taxas de desemprego e

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dos índices de violência. Tal conjuntura, também propicia o surgimento de conflitos sociaisrurais.

Neste contexto, políticas públicas, como o Programa de Fortalecimento daAgricultura Familiar (Pronaf), são de grande importância para a manutenção das relaçõesdo homem com o campo, promovendo a permanência dos pequenos produtores no meiorural; favorecendo a geração de emprego e renda, e contribuindo para o desenvolvimentodas regiões de forma sustentável. A implementação de programas desta natureza deve levarem consideração a realidade concreta e específica em que estão inseridas cada região e asdiferentes cadeias produtivas.

Busca-se, portanto, identificar a atual configuração da ocupação do espaço agráriono Extremo Sul da Bahia após a intensificação da atividade silvícola por meio da análise dedados secundários sobre população, condições dos proprietários, atividades, concentraçãode terras e programas de financiamento do setor agrícola.

Além desta parte introdutória, este artigo apresenta na segunda seção, a evolução daocupação da Região do Extremo Sul da Bahia, assim como os principais aspectossocioeconômicos de sua formação. Na terceira seção é realizada uma análise da estruturafundiária da região, sob o ponto de vista da ocupação do espaço rural. A quarta discute aquestão da agricultura familiar e o papel exercido pelo Pronaf. Por fim são apresentadas asconsiderações finais a respeito do tema abordado.

2. FORMAÇÃO REGIONAL E SOCIOECONÔMICA DO EXTREMO SU L DABAHIA

O Extremo Sul baiano faz parte da chamada Costa do Descobrimento, sendo umadas primeiras áreas de ocupação do Brasil. No entanto, somente a partir do século XX, estaregião passa a apresentar um significativo desenvolvimento demográfico e socioeconômico.Até então, esta região participa da economia colonial de forma periférica, servindo de basecomplementar à estrutura primário-exportadora, e não fazendo parte dos principais centrosdinâmicos vigentes na época.

O processo de ocupação da Região do Extremo Sul da Bahia teve início, a partirda criação de entrepostos para envio de pau-brasil a Portugal, no século XVI. A partir doséculo XVIII, quando a Capitania de Porto Seguro passa a fazer da Capitania da Bahia,surgem vilas e povoados litorâneos, e intensifica-se a exploração madeireira. No séculoXIX, a região tinha como principais atividades além da extração de madeira, a produção dealimentos como: a farinha de mandioca, arroz, milho, feijão e a pesca. Durante toda a faseBrasil-Colônia esta região manteve-se como uma mera fornecedora de alimentos para orecôncavo baiano e outras regiões.

A afirmação dessa função possibilitou certa expansão demográfica e a criação dediversas vilas situadas no litoral, delineando um padrão de ocupação concentradona costa, que perdurou muito tempo. A existência de terras livres e a ausência decoerção de força de trabalho, associadas ao papel marginal da região na economianacional, favoreceram a formação e a consolidação da pequena agriculturafamiliar. (PEDREIRA, 2002 apud MIRANDA, 1992, p. 1009)

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Nos primeiros anos do século XX, começa a desenvolver-se no Extremo Sul, acacuicultura, mas sem a mesma representatividade com que se dava no Litoral Sul (eixoIlhéus - Itabuna). A cultura do cacau não se consolidou imediatamente e nem provocoutransformações significativas, como a expansão para o interior, permanecendo a regiãopouco habitada e apresentando uma incipiente integração com as outras regiõeseconômicas do Estado.

A partir da década de 1950, com a expansão da cacauicultura, da pecuária e daexploração madeireira, desencadeou-se um processo de interiorização da ocupação doespaço, dinamizando gradativamente a vida econômica, intensificando o povoamento deáreas até então pouco habitadas e/ou com ausência de atividades produtivas. Os principaismunicípios a desenvolverem estas atividades foram Belmonte, Mucuri, Porto Seguro,Prado, Itanhém, Medeiros Neto e Alcobaça, sendo promovidos por produtores oriundos,sobretudo, do Planalto de Conquista e da região de Itapetinga, ambos na Bahia, e doNordeste de Minas Gerais.

No entanto, apenas na década de 1970 que os processos de ocupação, de integraçãoeconômica e de consolidação do modo de produção capitalista intensificam-se no ExtremoSul baiano, tendo como fator determinante a inauguração da BR 101, em 1973,contribuindo para o fim do isolamento econômico e físico, impulsionando a formação deuma nova configuração do espaço regional e uma série de transformações ambientais,sociais e demográficas. A infra-estrutura rodoviária, a existência de terras de valorreduzido, o aporte de políticas públicas estaduais e federais, e as características naturais daregião favoreceram o afluxo de produtores rurais, a expansão do reflorestamento, e ocomplexo industrial de papel e celulose (CAR, 1994).

Desenvolveu-se, neste período um ciclo madeireiro caracterizado pelo uso detecnologias modernas e pela participação de médios e pequenos empresários, oriundos deoutras regiões brasileiras, sobretudo do Espírito Santo e de Minas Gerais. Este processointensificou a destruição da Mata Atlântica, sendo que esta, apesar de explorada desde oBrasil Colônia, ainda se mantinha relativamente preservada. O processo de devastaçãoimpulsionado pela exploração madeireira e pelo avanço da pecuária (formação de pastos),na década de 1970, facilitou a inserção e o avanço de atividades reflorestadoras deeucalipto.

Percebem-se dois movimentos típicos do processo de ocupação regional.Primeiramente, um movimento de acumulação primitiva de capital, auto-destruidora, com o desmatamento da Mata Atlântica pelo capital-madeireiro,caracterizando o primeiro grande fluxo migratório e de ocupação regional.Expande-se a atividade madeireira originária do norte dos Estados do EspíritoSanto e Minas Gerais. As florestas primária e secundária tornam-se mercadoria nosentido da acumulação capitalista, embora se apresentem como um recursoesgotável com um tempo finito de valorização espacial, que culmina com a suaquase total devastação. (COUTO, et al, 2002, p.2)

De acordo com dados da CAR (1994), a região vem desenvolvendo também ahorticultura moderna, com destaque para os cultivos de mamão e café. A cultura do mamãotem apresentado produtividade elevada, colocando a região entre as principais produtorasdo País, sendo que, no entanto, o surgimento de algumas doenças tem reduzido a produçãoe, desta forma, a sua relevância para a economia regional. No entanto, o monocultivo doeucalipto é aquela cultura que mais tem se expressado na região. Devem ser destacados os

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incentivos fiscais oferecidos pelo Governo Federal para as atividades de reflorestamento –decreto lei no 1.338/74, beneficiando contribuintes ao autorizar a dedução de até 50% doimposto de renda para investimento no Norte e Nordeste, enquanto, para outras regiões, apermissão era de apenas 35% desse tributo (PEDREIRA, 2003). Esse fato estimulou amigração das empresas reflorestadoras para os estados do Nordeste e, em particular, para aBahia. Além disso, a saturação das terras na Região do Centro-Sul, onde se desenvolviamtradicionalmente as atividades de reflorestamento e a produção de celulose, e a conseqüenteelevação dos preços das terras, implicou na busca de novas áreas, necessárias tanto para osuprimento das exigências da capacidade instalada, quanto para a expansão do setor noPaís.

O Estado da Bahia consolida-se como o segundo pólo florestal do País, sendo queos incentivos fiscais, o padrão concorrencial do segmento de papel e celulose e ascondições edafoclimáticas condicionaram a expansão e o desenvolvimento desta atividadeno Extremo Sul da Bahia. Assim, no contexto das estratégias de expansão empresarial,instalam-se, na região, vários empreendimentos do segmento florestal e de papel e celulose,a exemplo da Bahia Sul Celulose, da Aracruz, da Veracel e da CAF Florestal.

A Região Econômica do Extremo Sul da Bahia localiza-se ao sul do territóriobaiano, fazendo fronteira em sua parte sul com o norte do Estado do Espírito Santo, a oestecom o Estado de Minas Gerais e ao norte com as regiões econômicas baianas Sudoeste eLitoral Sul, estando sua faixa leste às margens com o Oceano Atlântico, conformeilustração da Figura 1. Esta região, atualmente, é formada pelos municípios de Alcobaça,Belmonte, Caravelas, Eunápolis, Guaratinga, Ibirapoã, Itabela, Itagimirim, Itamaraju,Itanhém, Itabepi, Jucuruçu, Lajedão, Medeiros Neto, Mucuri, Nova Viçosa, Porto Seguro,Prado, Santa Cruz Cabrália, Teixeira de Freitas e Vereda.

Por meio da Tabela 1 verifica-se o Produto Municipal dos municípios da regiãoExtremo Sul da Bahia. No ano de 2000, a região possuía um PIB de aproximadamente R$2,44 milhões, ou seja, aproximadamente 5,1% do PIB da Bahia. Comparando-se o PIBMunicipal com os demais 415 municípios baianos, seis registraram uma participação acimada média do PIB da região (R$ 116,2 milhões). São eles: Eunápolis, Itamaraju, Itapebi,Mucuri, Porto Seguro e Teixeira de Freitas. O efeito da presença da indústria de papel ecelulose sobre o PIB municipal é observado em Mucuri e Teixeira de Freitas, 8º e 23ºclassificação dentre os municípios da Bahia, onde está localizada a Suzano Papel eCelulose. Assim como em Eunápolis (26º) onde está situada outra indústria, a VeracelCelulose.

As principais atividades econômicas da região, hoje, são a agropecuária extensiva, apesca, a extração de madeira, a exploração florestal, a indústria de papel e celulose e oturismo. Embora as atividades tradicionais (pecuária, pesca e agricultura de subsistência)ocupem um peso importante na estrutura econômica regional, a exploração florestalconstitui o vetor mais dinâmico da economia regional e o principal responsável pelasrecentes transformações ambientais e socioprodutivas. Aliados a esta última atividade,embora em menor escala, estão os processos de tecnificação nos cultivos de café e mamão ea adoção de sistemas intensivos na bovinocultura.

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Figura 1 Mapa do Extremo Sul da Bahia

Fonte: SEI (2003).

No entanto, apesar da importância em termos econômicos destas atividades, nãopodem ser desconsiderados os efeitos destes nos âmbitos sociais e ambientais, uma vez quea implementação de atividades mecanizadas contribuem com o desemprego rural, tendocomo conseqüência pressões urbanas e o surgimento e movimentos rurais. Além daintensificação da devastação da Mata Atlântica para abrir espaços para as lavouras, pastos einstalação de maciços florestais.

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Tabela 1 Estimativa do Produto Municipal em R$1.000.000,00, 2000Municípios Produto Municipal ClassificaçãoAlcobaça 57,14 78ºBelmonte 35,28 146ºCaravelas 78,55 57ºEunápolis 182,62 26ºGuaratinga 41,23 126ºIbirapoã 23,25 242ºItabela 41,92 124ºItagimirim 19,96 280ºItamaraju 133,26 37ºItanhém 45,77 109ºItapebi 140,39 33ºJucuruçu 20,83 268ºLajedão 24,96 227ºMedeiros Neto 59,05 77ºMucuri 720,49 8ºNova Viçosa 89,73 50ºPorto Seguro 320,48 19ºPrado 84,94 54ºSanta Cruz Cabrália 53,56 85ºTeixeira de Freitas 240,34 23ºVereda 26,18 214º

Extremo Sul 2.439,93Estado da Bahia 44.391,39 -

Fonte: SEI/ 2000

Quanto à caracterização demográfica da região, de acordo com o CensoDemográfico de 2000, o Extremo Sul, com um contingente populacional de 664.850habitantes, é a sétima região do Estado da Bahia em porte demográfico. No períodode1980-2000, a região teve sua participação no conjunto do Estado ampliada, apesar de terregistrado um pequeno declínio entre 1980-1991, chegando ao ano de 2000 com umapopulação correspondente a 5,09% da população do Estado (equivalente a 13.070.250habitantes). Tal ampliação é decorrente do maior ritmo de crescimento demográficoregistrado na região, comparando-se ao conjunto do Estado e das demais RegiõesEconômicas.

Percebe-se uma considerável diminuição da população rural em detrimento dapopulação urbana. Portanto, pode-se inferir que a recente configuração das atividadesprodutivas desenvolvidas no extremo sul baiano, com destaque para a monocultura doeucalipto, pouco intensiva e mão-de-obra, tem contribuído com a desocupação rural. Etambém pela concentração fundiária, expulsando os pequenos agricultores familiares e ostrabalhadores rurais. Todos os municípios apresentaram aumento de população urbana, nosdois períodos observados, ao passo que a população rural apresentou decrescimento, noperíodo compreendido entre 1991 e 2000, à exceção dos municípios de Alcobaça e PortoSeguro.

Analisando a Tabela 2, a seguir, em termos absolutos, entre 1991 e 2000 apopulação total da região cresceu a uma taxa de 8,02%, a população urbana cresceu 6,74%

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e a rural decresceu neste período em 8,67%. Em termos relativos, a população urbana em1991 apresentava uma participação de 61,54% na população total, e em 2000, sobe para73,27%.

Tabela 2 População Total, Urbana e Rural, 1991 e 2000

MunicípioTotal1991

Total2000

Urbana1991

Urbana2000

Rural1991

Rural2000

Alcobaça 15.638 20.900 5.464 7.446 10.174 13.454Belmonte 22.070 20.032 10.860 10.806 11.210 9.226Caravelas 19.535 20.103 8.932 10.332 10.603 9.771Eunápolis 70.545 84.120 63.540 79.161 7.005 4.959Guaratinga 25.441 24.319 9.159 10.017 16.282 14.302Ibirapuã 8.290 7.096 3.413 3.573 4.877 3.523Itabela 20.848 25.746 13.577 18.837 7.271 6.909Itagimirim 7.887 7.728 5.078 5.941 2.809 1.787Itamaraju 64.308 64.144 44.449 48.037 19.859 16.107Itanhém 23.225 21.334 13.060 14.090 10.165 7.244Itapebi 11.078 11.126 6.396 8.542 4.682 2.584Jucuruçu 16.012 12.377 1.299 1.850 14.713 10.527Lajedão 3.818 3.409 1.663 1.852 2.155 1.557Medeiros Neto 23.059 21.235 15.704 16.027 7.355 5.208Mucuri 17.606 28.062 4.810 18.685 12.796 9.377Nova Viçosa 25.570 32.076 9.374 24.636 16.196 7.440Porto Seguro 34.661 95.721 23.315 79.619 11.346 16.102Prado 22.632 26.498 9.655 14.169 12.977 12.329Sta Cruz Cabrália 6.535 23.888 3.197 13.527 3.338 10.361Teixeira de Freitas 85.547 107.486 74.221 98.688 11.326 8.798

Vereda 8.914 7.450 961 1.276 7.953 6.174

Região Extremo Sul 533.219 664.850 328.127 487.111 205.092 177.739Fonte: IBGE, 1991 e 2000.

Na esfera rural, em 1991 a taxa de participação é de 38,46%, caindo em 2000 para26,74%. Apenas nos municípios de Alcobaça e Porto Seguro, a taxas populacionaisapresentaram elevação de 7,56% e 7,05% respectivamente. Esta tendência de queda dastaxas populacionais rurais Percebe-se, então, uma considerável diminuição da populaçãorural em detrimento da população urbana, podendo-se inferir que a recente configuraçãodas atividades produtivas desenvolvidas no extremo sul baiano, com destaque para amonocultura do eucalipto, tem contribuído com a desocupação rural. Vale ressaltar que asatividades silvícolas são pouco intensivas em mão-de-obra.

3 A ESTRUTURA FUNDIÁRIA NA REGIÃO DO EXTREMO SUL

Os grandes projetos industriais de produção de papel e celulose, implantados noExtremo Sul, associados à contínua expansão de áreas reflorestadas com eucalipto têm sidoresponsáveis por transformações nas relações socioeconômicas regionais. Estas novasatividades têm alterado a base socioprodutiva e redefinido o espaço rural, assim como asespecificidades dos grupos sociais pertencentes a esta região. Esta análise, portanto, é

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dirigida à identificação das modificações ocorridas no espaço agrário, principalmente, noque se refere à estruturação de propriedade e à utilização das terras, integrados ao processode evolução populacional e da mão-de-obra empregada nas atividades agrícolas.

Com o objetivo de analisar a problemática da concentração fundiária na região,utiliza-se o Índice de Gini, que varia de 0 a 1, indicando máxima desconcentração econcentração absoluta, respectivamente. Observa-se uma tendência à intensificação do graude concentração de terras, revelado pelo aumento contínuo e substancial do Índice de Ginipassando de 0,575, média a forte, no ano de 1970, para 0,744, forte a muito forte no ano de1995/96, conforme Tabela 3. Em parte, esta crescente concentração pode estar associada aoavanço do reflorestamento de eucalipto, voltado à produção de papel e celulose, que érealizado em grandes propriedades.

Tabela 3 - Índice de Gini, Extremo Sul da Bahia, 1970 –1995/96Anos 1970 1975 1980 1985 1995-96

Extremo Sul 0,575 0,603 0,696 0,717 0,744

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96/ Projeto GeografAR

Na Figura 2 é possível verificar a espacialização do Índice de Gini para o estado daBahia, sendo possível identificar os municípios do Extremo Sul e sua concentração, onde setem uma presença maior de municípios com concentração de média a forte e de forte amuito forte.

A evolução da ocupação da área e de números de estabelecimentos, de acordo comseus estratos2 pode ser visualizada na Tabela 4. Observa-se que, de 1970 a 1995/96,decresceu o número de estabelecimentos passando de 13.856 para 6.717, ou seja, uma taxade crescimento negativa de 52%. O mesmo se deu em termos de área ocupada passando de1.525.547 para 925.296 ha, uma taxa de crescimento negativa de 39%. Houve uma reduçãode 7.139 estabelecimentos que se deu mais fortemente nas propriedades de menorárea,aquelas de até 100 hectares houve uma redução de 5.076 estabelecimentos,correspondendo a uma área de 254.551 hectares. Enquanto que, nas grandes propriedades,5.000 a 10.000 ha a mais, praticamente não houve alteração de número de estabelecimentose de área ocupada.

2, Definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - Censo Agropoecuário).

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Figura 2 Mapa Concentração Fundiária na Região do Extremo Sul da Bahia

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Tabela 4 Número e área de estabelecimentos, segundo estratos, em hectares, Extremo Sul da Bahia,1970 a 1995/1996

Fonte: Pedreira (2004) apud IBGE, Censo Agropecuário, 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96.

No que diz respeito aos indicadores de uso das terras, observam-se outrastendências quanto às principais mudanças no padrão fundiário e produtivo da região.Merece destaque a significativa e crescente devastação da Mata Atlântica, natural à região,devido às atividades de exploração madeireira, pecuária extensiva, agricultura e finalmenteà implantação de grandes maciços florestais de eucalipto. Enquanto em 1970, a áreaocupada com matas e florestas registrava 30,12%, em 1995-96, esta participação cai parametade, 15,25%.

De acordo com dados do IBGE (1995/ 96), representados na Tabela 5, as diferentestipologias de uso da terra apresentaram, a exceção de 1970/85, uma redução absoluta daárea ocupada.

Tabela 5 - Utilização das terras, em hectares, Extremo Sul da Bahia, 1970-19951970 1975 1980 1985 1995/96

Área % Área % Área % Área % Área %

Lavouraspermanentes

54.605 3,58 56.146 3,73 80.110 5,67 111.468 6,65 59.809 6,46

Lavourastemporárias

47.465 3,11 66.053 4,38 60.285 4,27 76.078 4,54 35.339 3,82

Pastagensnaturais

258.217 16,93 380.620 25,25 297.131 21,04 348.920 20,82 160.487 17,34

Pastagensplantadas

377.262 24,73 448.007 29,72 381.332 27,01 512.742 30,59 390.380 42,19

Matas eflorestasnaturais

459.470 30,12 347.999 23,09 300.866 21,31 321.833 19,20 141.078 15,25

Matas eflorestasplantadas

1.679 0,11 8.542 0,57 30.748 2,18 53.275 3,18 62.704 6,78

Terras emdescanso e

produtivas nãoutilizadas

185.790 12,18 118.123 7,84 172.700 12,23 181.212 10,81 43.950 4,75

Terrasinaproveitáveis

141.059 9,25 81.757 5,42 88.875 6,29 70.454 4,20 31.549 3,41

Total 1.525.547 100,00 1.507.247 100,00 1.412.047 100,00 1.675.982 100,00 925.296 100,00

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96

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Gruposde Área

menos de50

50-100 100-500 500-1000 1.000-5.000

5.000-10.000

10.000 emais

s/declara-ção

Total

1970Estab.Área

6.746155.753

3.443226.911

1.242583.916

274173.995

141243.189

854.808

286.975

--

13.8561.525.547

1975Estab.Área

5.979134.175

2.756180.636

3.033570.435

305199.202

179303.239

1180.915

338.645

--

12.2661.507.247

1980Estab.Área

7.103122.008

2.012135.586

2.327464.118

272182.855

215385.933

1066.879

454.668

77-

12.0201.412.047

1985Estab.Área

7.982140.367

1.986132.674

2.400494.643

385257.240

257464.306

1385.974

7100.814

1-

13.0301.675.982

1995/96Estab.Área

4.23266.595

88161.518

1.239268.839

209143.366

143241.464

955.103

488.410

--

6.717925.296

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Especificamente, verifica-se a menor queda na área relacionada às matas e florestasnaturais que em 1970 apresentava um montante de 459.470 ha e em 1995/96 passou para141.078 ha, uma redução de 30,70%. Em contrapartida, houve crescimento da árearelacionada com matas e florestas plantadas, passando de 1.679 para 62.704 ha, no mesmoperíodo, representando um aumento de 523,68%. Assim sendo, com relação à silvicultura, atendência de crescimento é evidenciada pelo aumento da participação das matas e florestasplantadas, passando de 0,11%, em 1970, para 6,8%, em 1990, sendo esta, confirmada peloavanço de maciços florestais intensificados com grande relevância para os municípios deMucuri e Belmonte, cuja participação é superior a 20%.

A participação das pastagens tem diminuído, registrando uma queda em termosabsolutos de 861.662 ha, em 1985, para 550.867 ha, em 1995/96, a exceção de 1970/85,revelando que esta atividade vem perdendo significativo espaço na economia regional.

Segundo Pedreira (2004), parcela significativa do crescimento das atividadessilvícolas, pecuária e agricultura, se deu pela ocupação de áreas de matas e florestasnaturais, apresentando uma redução de 158.604 ha. Em outras palavras, o processo deocupação agrícola, nesse período foi viabilizado pelo desmatamento da vegetação naturallocal.

Verifica-se na Tabela 6, a evolução da variação da área ocupada segundo usos. Éevidente a redução de área das matas e florestas naturais ao longo de todo o períodoanalisado. Os demais usos sinalizaram decréscimo no período final de análise, 1985/95, aexceção de matas e florestas que vem sempre crescimento ao longo de todo o períodoanalisado, confirmando a ocupação da monocultura do eucalipto na ocupação do espaçoagrário na região do Extremo Sul baiano.

Analisando-se o período de expansão das áreas ocupadas em termos absolutos,situado entre 1975 e 1980, observa-se um considerável desenvolvimento das lavouras,apresentando uma elevação em sua área em aproximadamente 53%. Este período também écaracterizado por um aumento de propriedades situadas nos estratos 0 a 50 ha, emocupação, sugerindo que neste período houve uma elevação na participação da agriculturafamiliar, e com possibilidades de crescimento deste tipo de propriedade.

Tabela 6 Variação da área ocupada segundo usos, em hectares, Extremo Sul da Bahia,1970-1995/96

PeríodosUsos 1970/80 1975/85 1985/95

Área % Área % Área %

Lavouras 38.325 35,55 65.347 53,47 (92.398) (49,30)Pastagens 42.984 6,76 33.035 3,99 (310.795) (36,10)Matas e florestas naturais (158.604) (34,52) (26.166) (7,52) (180.755) (56,16)Matas e florestas plantadas 29.069 1.731,33 44.733 523,68 9.429 17,70Terras em descanso e produtivas não utilizadas (13.090) (7,05) 63.089 53,41 (137.262) (75,75)Terras inaproveitáveis (52.184) (36,99) (11.303) (13,83) (38.905) (55,22)Total (113.500) (7,44) 168.735 11,19 (750.686) (44,79)Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96.

No entanto, a partir de meados de 1980, a silvicultura associada aos grandesempreendimentos de papel e celulose apresenta aumento na participação da ocupação em17,7%, assumindo efetivamente, a partir de então, o dinamismo da ocupação produtiva, e

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avançando sobre os espaços antes ocupados pela agricultura tradicionalmente desenvolvidana região.

A implantação de eucalipto, ao ocupar áreas passíveis de serem utilizadas pelaagricultura familiar, a exemplo das terras improdutivas, cobertas com matas eflorestas naturais, e, mesmo, aquelas ocupadas com pastagens naturais, terminabloqueando as possibilidades de reprodução dos agricultores familiares(PEDREIRA, 2004, p. 1013).

A redução da pecuária bovina em relação às atividades florestais também temimpactado sobre a base agrícola familiar, uma vez que, a forma tradicional deadministração das propriedades pecuaristas, contrariamente a atividade florestal, ao abrigarou mesmo conviver com relações de meação/parceria, mesmo de forma precária, aindamantinha a sobrevivência de grande parte dos trabalhadores rurais. Sendo assim, aexpansão da atividade florestal, associada à modernização da pecuária, ao dificultar asrelações de meia, resulta na diminuição da reprodução de um considerável segmento deagricultores familiares.

Esta tendência pode ser melhor entendida, com base na evolução da condição deposse de terras (Tabela 7), onde os parceiros, arrendatários e ocupantes apresentaram umdeclínio no número de estabelecimentos e da área ocupada. De fato, tais categorias, queparticipavam, em conjunto, com 9,2% no número de estabelecimentos e 4,5% em áreaocupada, em 1970, passaram, para 5,4% e 2,6%, respectivamente, em 1995/96.

Diante destas alterações nas relações de posse e uso da terra, modificaçõesocorreram na evolução e estrutura de ocupação da mão-de-obra rural. Um dado importanteé a expressiva queda de mais da metade, no número de pessoas ocupadas, no período de1985/1995, no momento em se intensifica as atividades vinculadas ao complexo florestal naregião.

Tabela 7 Distribuição percentual dos estabelecimentos e áreas segundo condição do produtorExtremo Sul, 1970-1995/96

Proprietário Arrendatário Parceiro Ocupante Total

Períodos Estab. Área Estab. Área Estab. Área Estab. Área Estab. Área1970 90,8 95,5 0,2 0,1 2,1 0,8 6,9 3,6 100,0 100,01975 97,3 97,5 0,1 0,0 0,1 0,2 2,5 2,3 100,0 100,01980 93,0 97,0 0,7 0,5 1,1 1,0 5,2 1,5 100,0 100,01985 89,5 97,1 1,1 0,4 0,4 0,7 9,0 1,8 100,0 100,01995 94,6 97,4 0,8 1,1 0,3 0,2 4,3 1,3 100,0 100,0

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário, 1970, 1975, 1980, 1985, 1995/96.

Diante deste fato, é importante questionar para onde a população, especificamente,os pequenos agricultores cuja reprodução foi inviabilizada pela expansão do eucaliptodevem se deslocar. Baseado nos dados demográficos, sobre população rural e urbana dosdois últimos censos, fica evidente o significativo crescimento populacional acompanhadopor um elevado índice de urbanização regional e esvaziamento do campo, com umexpressivo percentual da população rural se dirigido para as áreas urbanas em busca deoportunidades de trabalho.

No Extremo Sul da Bahia a introdução da cultura do eucalipto vem trazendosérios riscos para os recursos hídricos, o solo, a fauna e a flora locais,

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contribuindo também para a inviabilidade da agricultura familiar na região,ocupando todas as terras agricultáveis, inclusive em áreas que seriam destinadasa reforma agrária, terras indígenas e no entorno de Unidades de Conservaçãocom importantes reservas de Mata Atlântica. Concomitantemente as fábricas decelulose promovem um uso abusivo de água potável, além de lançar resíduos nosrios da região. Nesta comunicação se estará analisando o uso que esteempreendimento vem fazendo dos recursos do Extremo Sul e o quanto esteimpacta o solo, a água, a fauna, a flora e o cotidiano das comunidadestradicionais locais. (SILVA & SANTOS, 2003, p.1)

Portanto, o avanço do eucalipto em áreas passíveis de utilização da agriculturafamiliar, tem dificultado a reprodução dos mesmos, concomitantemente, ao processoexpulsão do “homem-rural”, – no momento da implantação dos empreendimentosindustriais de papel e celulose, trabalhadores do campo sentem-se atraídos em busca denovas oportunidades de trabalho. No entanto, este trabalhador não consegue se inserir nasnovas atividades, uma vez que são intensivas em capital e mão-de-obra qualificada. Este,aliás, é um dos fatores que têm contribuído no avanço de movimentos sociais rurais naregião. Afinal estes trabalhadores e/ou produtores excluídos da lógica capitalistarecentemente desenvolvida passam a fazer parte de graves problemas sociais como aelevação do desemprego, da favelização urbana e dos índices de violência.

Baseado nas análises realizadas para o período 1970-1995/96, infere-se que estastendências têm se intensificado nos últimos anos, dada à expansão do plantio de maciçosflorestais, voltados ao suprimento das fábricas de papel e celulose, impulsionados com aimplantação destas empresas no setor. Todo este processo tem trazido como conseqüênciauma generalizada inquietação popular através de organizações ambientais e movimentos detrabalhadores rurais sem-terra.

4 A AGRICULTURA FAMILIAR E O PRONAF

De maneira geral, o processo de modernização da agricultura e da pecuária noBrasil tem contribuído para o agravamento da questão agrária. Os diversos entraves deordem social no meio rural cresceram, refletindo-se no aumento das desigualdades e dapobreza no campo, e conseqüentemente, gerando também impactos negativos sobre osgrandes centros urbanos.

A intensificação dos problemas sociais, o aumento dos conflitos e movimentosrurais tem colocado no centro dos debates sobre a questão agrária, o relevante papel daagricultura familiar nos âmbitos socioeconômicos e ambientais. As atividades agrícolasbaseadas em relações patronais têm atuado como um fator de expulsão da mão-de-obra nocampo, contrariamente aos sistemas familiares, responsáveis pela geração de empregos nomeio rural brasileiro, e respondendo por 76,9% do pessoal ocupado (INCRA, 2000).

Apesar da agricultura capitalista ser caracterizada como propulsora da economiaagrícola, do ponto de vista quantitativo e qualitativo, não se pode considerar a agriculturafamiliar como simplesmente responsável pela pequena produção. A despeito dasconceituações teóricas a respeito da agricultura familiar, neste estudo, considera-se que adiferença fundamental entre estas formas de produção consiste no modo de utilização daforça de trabalho. A agricultura dita capitalista utiliza-se de mão-de-obra assalariada,objetivando o lucro pela apropriação da mais-valia do trabalho, e a agricultura familiaremprega a mão-de-obra familiar, tendo o trabalho assalariado um caráter complementar.

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A agricultura familiar, em grande medida desenvolve atividades diversificadas, comum maior aproveitamento dos recursos disponíveis na propriedade, contribuindo com aexpansão de fontes de renda e com a preservação ambiental. De acordo com CERQUEIRA(2002) mesmo em termos econômicos, a maior produtividade da forma capitalista oupatronal vem perdendo espaço. Os estabelecimentos familiares no Brasil representavam85,2% do total de estabelecimentos rurais brasileiros, ocupando 30,5% da área total(INCRA, 2000), sendo responsável por 37,9% do Valor Bruto da Produção Agropecuárianacional. No entanto, neste período, estas unidades produtivas contavam com apenas 26,6%dos financiamentos oferecidos.

De acordo com o Censo de 2000, o estado da Bahia possui a maior população ruraldo País, sendo que 89,1% do total de unidades rurais do Estado são classificadas comofamiliares, ocupando 37,9% da área total e sendo responsável por 39,8% do Valor Bruto daProdução (INCRA, 2000). Portanto, deve-se ressaltar que, parcela significativa dosmunicípios baianos têm como principal fonte de ocupação e de renda, a agriculturafamiliar.

O processo de modernização da agricultura foi principalmente viabilizado porpolíticas públicas voltadas ao desenvolvimento de uma agricultura moderna e competitiva.As políticas governamentais tradicionalmente voltam-se à grande e média propriedade aoprivilegiar os produtos exportáveis, incentivando o uso de máquinas, equipamentos eagroquímicos. As pequenas propriedades que mais se inserem neste contexto são as quetêm sua produção integrada à agroindústria. Este é o caso do Extremo Sul baiano querecebeu incentivos governamentais para a produção de eucalipto voltada às indústrias depapel e celulose.

A disseminação de maciços florestais na região, além dos incentivosgovernamentais, se deu por iniciativa das empresas de eucalipto (Bahia Sul e VeracelCelulose), através do Programa de Fomento Florestal a fim de expandir suas áreasplantadas de eucalipto junto a pequenos e médios proprietários rurais na região. Destaforma, as empresas têm argumentado ser esta, uma alternativa ao uso da terra e de geraçãode renda para os pequenos agricultores. Ao mesmo tempo, o fomento reduz a necessidadede aquisição de novas terras para o plantio do eucalipto, viabilizando a produção demadeira para a indústria também por parte de terceiros.

Na Bahia e no Espírito Santo, de acordo com informações das empresas, (Bahia Sule Veracel) grande parte dos fomentados combina a produção de eucalipto com outrasatividades – a exemplo da pecuária – diversificando assim suas fontes de renda.

Deste modo, deve-se destacar que os agricultores adotam o programa de fomentoporque carecem de crédito e assistência técnica, sendo estas demandas cobertas pelas açõesdas empresas. Portanto o problema é a ausência de uma política agrícola, o queimpossibilita a ação consciente aos produtores agrícolas familiares. A conseqüência disto, éque os trabalhadores do campo não possuem as informações necessárias, ficando de certaforma “reféns” destas propostas que chegam até eles. No entanto, apesar desta política deparceria entre as empresas reflorestadoras e os proprietários rurais locais, o que de fato vêmocorrendo na região é um processo de intensificação da concentração de terras, o queimplica em diminuição dos sistemas agrícolas familiares, e desta forma perda de renda eêxodo rural.

Para o Extremo Sul baiano, este processo de modernização das lavouras(tecnificação nos cultivos de mamão e café) e de expansão da monocultura do eucalipto tem

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gerado a marginalização dos pequenos agricultores familiares, reproduzindo um padrão dedesenvolvimento rural excludente e desigual.

O Papel do Pronaf

O tema agricultura familiar vem se destacando nos debates sobre a sua importânciapara a promoção de desenvolvimento socioeconômico justo e ambientalmente sustentável.Estas discussões ampliadas para o âmbito das políticas públicas contribuiu para aimplementação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf),em 1996.

Existem algumas contradições políticas e administrativas quanto à definição de umconceito único de agricultura familiar. De acordo com a metodologia do INCRA (2000),estas são consideradas como estabelecimentos que atendam às seguintes condições: osestabelecimentos são dirigidos pelo próprio produtor; e o trabalho familiar deve sersuperior ao trabalho contratado, sendo estes agricultores os sujeitos atendidos peloreferido programa.

Para o Pronaf são considerados como agricultores familiares aptos ao benefício doprograma, aqueles que utilizem mão-de-obra familiar, e tenham até dois empregadospermanentes, isto independentes de serem eles proprietários, assentados, posseiros,arrendatários, parceiros ou meeiros, Além disso, não devem possuir, áreas superiores a 4módulos fiscais, e no mínimo 80% (oitenta por cento) da renda bruta familiar anual deveser proveniente da atividade agropecuária e não-agropecuária exercida no estabelecimento.O agricultor familiar também deve residir na propriedade ou em localidades próximas.

O Pronaf, dentro dos objetivos propostos, desempenha as funções de auxílio dostrabalhadores rurais, assentados, extrativistas, quilombolas e indígenas de todo o País adesenvolverem e expandirem seus empreendimentos, agindo também como um instrumentofacilitador da inclusão bancária destes grupos. De acordo com o Ministério doDesenvolvimento Agrário (MDA, 2007), parcela significativa dos atuais beneficiários doPrograma, sequer haviam entrado em uma agência bancária, e hoje possuem contasregulares, poupanças e títulos de capitalização.

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A Agricultura Familiar, enquanto sujeito do desenvolvimento, é ainda um processoem consolidação. O seu fortalecimento e valorização dependem de um conjunto defatores econômicos, sociais, políticos e culturais que necessitam seremimplementados de uma forma articulada por uma diversidade de atores einstrumentos. Sem dúvida, o papel do Estado e das políticas públicas cumprem um papel fundamental. Quanto mais estas políticas conseguirem se transformar emrespostas à estratégia geral de desenvolvimento com sustentabilidade e, ao mesmo Tempo, às demandas concretas e imediatas da realidade conjuntural, maisadequadamente cumprirão o seu papel. (PRONAF, 2007)

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o financiamentorural do Pronaf tem gerado impactos tanto sociais quanto econômicos, criando condiçõespara que os agricultores familiares ganhem em escala dentro da sua unidade de produção,mantendo pessoas ocupadas, gerando empregos e favorecido a permanência das famílias nomeio rural. Além disso, contribui com a diminuição da tensão no campo e pressões poremprego na cidade. A obtenção do crédito rural dá aos agricultores familiares condições deexpandir e melhorar de seus produtos, implementar outras atividades agrícolas e nãoagrícolas geradoras de renda, adquirir máquinas, equipamentos, sementes e insumos.

A consolidação de diversos instrumentos de políticas voltadas ao desenvolvimentoagrícola deve levar em consideração a realidade concreta da dinâmica, em que estãoinseridas, a cada momento, as diferentes cadeias produtivas, afetadas por outros fatoresexternos deste dinamismo, e que muitas vezes são responsáveis por rápidas transformações.Deve-se ressaltar, portanto, que entre os agricultores familiares há uma consideráveldiversidade do ponto de vista econômico e social, exigindo que o Estado formule e executesuas políticas em função dessa diversidade, para que se alcancem novos patamares decrescimento com distribuição de renda e inclusão social. A ausência de um sistema decrédito específico para os pequenos produtores pode ser um entrave ao desenvolvimentosocioeconômico destes grupos.

Na Bahia o montante de créditos rurais concedidos pelo Pronaf apresentou umasignificativa elevação entre os anos de 2000 e 2006, conforme Tabela 8. No primeiro anoforam firmados 1.082 contratos de crédito, sendo estes ampliados para 6.601 em 2006. omontante de créditos concedidos teve uma elevação de 36,26% entre esses dois períodos.

Tabela 8 Número de Contratos e Montante do Crédito Rural, Bahia, 2000 e 2006

Municípios Contratos 2000

Montante (R$ 1,00) 2000

Contratos2006

Montante (R$ 1,00) 2006

Alcobaça 6 26.376,78 329 1.388.392,41

Belmonte 69 506.190,98 270 634.483,04

Caravelas 14 96.238,09 196 674.961,10

Eunápolis 98 764.348,97 138 940.611,34

Guaratinga 4 17.707,84 188 1.341.641,28

Ibirapuã 41 218.017,47 327 885.430,41

Itabela 51 294.120,41 55 262.883,69

Itamaraju 109 937.485,93 29 81.880,83

Itanhém 67 605.229,73 387 1.219.844,85

Itagimirim* - - 1.254 4.907.729,19

Itapebi* - - 105 306.611,94

Jucuruçu 37 427.513,43 479 976.125,95

Lajedão 3 24.704,65 354 937.406,11

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Medeiros Neto 108 881.772,02 704 2.736.808,87

Mucuri 5 12.438,48 162 797.509,11

Nova Viçosa 1 4.930,00 191 748.195,88

Porto Seguro 76 212.509,28 430 847.696,89

Prado 299 2.051.226,98 195 616.129,58

Sta. Cruz Cabrália 28 240.485,23 263 490.509,24

Teixeira de Freitas 22 102.799,57 428 761.432,53

Vereda 44 594.989,92 117 559.845,24

Total 1.082 8.019.086 6.601 22.116.129Fonte: BACEN, BANCOOB, BANCREDI, BASA, BB, BNB, 2007.

O papel desempenhado pelo Extremo Sul baiano é bastante relevante, podendo-seinferir que a participação da agricultura familiar deve ter se fortalecido com o apoio docrédito governamental. No entanto, esta região caracteriza-se pela contradição de apresentarem um mesmo espaço propriedades de rurais na forma patronal com cultivos mecanizadose integrados a grandes projetos agroindústrias, ao passo que as pequenas propriedades vêmdiminuindo quanto à ocupação do espaço e perdendo eficiência econômica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A definitiva inserção do Extremo Sul baiano à lógica de acumulação capitalista,baseada na agroindústria é responsável por grandes transformações de caráter social,econômico e ambiental na região. A implantação da BR-101, servindo de eixo de ligação aoutras regiões do Estado e do País, impulsionou ainda mais este processo.

O avanço das atividades madeireiras, a partir da década de 1970, e a disseminaçãodo cultivo de maciços de eucalipto, nas décadas de 1980, e principalmente 1990contribuíram em larga medida para a formação da atual configuração do espaço rural destaregião. Deve-se destacar o papel desempenhado pela modernização das lavouras e o afluxode grandes contingentes populacionais oriundos de outros Estados e atraídos pelas recentesatividades agroindustriais (papel e celulose), na formação deste contexto.

Os efeitos da silvicultura, voltada à indústria de papel e celulose sobre aspequenas unidades produtoras familiares têm contribuído para o desemprego e êxodo rural.Assim sendo, concentração de terras, substituição de lavouras tradicionalmentedesenvolvidas na região, diminuição da população rural, aumento dos conflitos sociais nocampo, devastação da Mata Atlântica, implantação de grandes maciços florestais são osprincipais frutos colhidos com a intensificação destas modificações estruturais. Este fatoressalta a necessidade de políticas públicas mais eficientes, como o Pronaf, que vêm nosúltimos anos exercendo um importante papel no sentido de garantir a inclusãosocioeconômica dos produtores familiares. Deve-se ressaltar, no entanto, a necessidade deuma constante adequação das políticas públicas à realidade do Extremo Sul e do restante doBrasil, no sentido de garantir emprego e renda para as inúmeras famílias rurais.

REFERÊNCIAS

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