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no Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão Diagnóstico e Orientação Terapêutica Recomendações da SPAP & SPC para

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no Carcinoma Não Pequenas Células do PulmãoDiagnóstico e Orientação Terapêutica

Recomendações da SPAP & SPC para

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no Carcinoma Não Pequenas Células do PulmãoDiagnóstico e Orientação Terapêutica

Recomendações da SPAP & SPC para

AUTORES:Catarina Eloy

Conceição Souto MouraFernando Cruz

Fernando SchmittPaula Borralho

Page 3: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

ÍNDICEINTRODUÇÃOCARACTERÍSTICAS E GESTÃO DA AMOSTRAMARCADORES DE DIAGNÓSTICOCONCLUSÃO

8122040

Page 4: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

INTRODUÇÃO

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

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O cancro do pulmão integra um grupo heterogéneo de neoplasias malignas, consistindo por mais de 50 subtipos histológicos1, 2, 3. O carcinoma de células não pequenas (CCNP) compreende aproximadamente 80 a 85% do total dos carcinomas do pulmão, sendo que 40-50% deste são adenocarcinomas e 20-30% correspondem a carcino-mas epidermoides.

Nas últimas décadas popularizou-se e foi suficiente classificar estas neoplasias como “carcinoma de células não pequenas do pulmão” (CCNP) e “carcinoma de pequenas células” (CPC), uma vez que as opções de tratamento limitadas não requeriam classificação morfológica mais precisa. No entanto, com o melhor conhecimento das alterações genéticas que podem estar presentes em alguns subtipos de cancro do pulmão e com o aparecimento de novas terapêuticas surge a necessidade de uma subclassificação exata, pelo que a OMS e a IASLC (International Association for the Study of Lung Cancer) atualizaram as suas orientações em 2015 e novamente em 20181-4, com um impacto muito significativo na prática clínica e na terapêutica destes doentes.

Após o melhor conhecimento das vias de cancerigéne-se do cancro do pulmão verificou-se um aumento no número de ensaios clínicos e de terapêuticas alvo disponíveis. Tornou-se assim fundamental não só

8 9

Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

classificar corretamente e de forma precisa o tipo histológico do tumor, mas também conhecer um perfil genético que permita dirigir a terapêutica de forma adequada a cada caso.

Mais recentemente, a imunoterapia passou a ter um papel de relevo no CCNP. Num número significativo de casos o PD-L1 é expresso em células tumorais e desempenha um papel importante na modulação da resposta imune às células neoplásicas5,6. Existem atualmente vários agentes terapêuticos envolvendo inibidores de “check-point” imunitário aprovados pela FDA, estando o uso desses agentes dependente de uma subclassificação exata do tipo de tumor, mas também da utilização de testes específicos para avaliar a expressão de PD-L1 em células tumorais e/ou imunes por imunohistoquímica. Diferentes agentes anti-PD-L1 / PD-1 exigem métodos de deteção diferentes, sendo a interpretação dos resultados e os “scores” diferentes para cada anticorpo e cada agente terapêutico.

Os anatomopatologistas têm um papel crucial no diagnóstico e classificação morfológica do subtipo de tumor, mas também no estudo genético e na avaliação de expressão de PD-L1. Entenderam assim a Sociedade Portuguesa de Anatomia Patológica e a Sociedade Portuguesa de Citologia que a existência de normas de orientação é uma necessidade real, visando harmonizar os diagnósticos, otimizar os estudos genéticos e implementar a avaliação sistemática do status de PD-L1 de forma fidedigna.

INTRODUÇÃO

Introdução

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 6: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

CARACTERÍSTICASE GESTÃO DA AMOSTRA

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 7: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

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Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

CARACTERÍSTICAS E GESTÃODA AMOSTRANos últimos anos, com os avanços terapêuticos nomeadamente as terapêuticas alvo e a imunoterapia, a caracterização de um tumor deve incluir o tipo de neoplasia, bem como a determinação de marcadores preditivos de resposta à terapêutica, que passaram a ser indispensáveis. O diagnóstico do cancro do pulmão tornou-se assim um processo sequencial que depende da morfologia, da imunohistoquímica e da caracteriza-ção molecular do tumor. Consequentemente, a gestão adequada do tecido disponível passou a ser necessária e um desafio para o anatomopatologista. Tendo em consideração estes pressupostos, a última revisão da OMS recomenda critérios de diagnóstico específicos para pequenas amostras (biópsias ou citologias), com recurso criterioso da imunohistoquímica, sempre que necessário e em conjugação com as características morfológicas do tumor1-3 de forma a reservar tecido para caracterização molecular.

TIPOS DE AMOSTRAVárias técnicas de obtenção de amostras de tecido ou citologia podem ser utilizadas, sendo que a decisão de qual a mais adequada no caso concreto deverá ser multidisciplinar. Devem ser utilizados preferencialmente os métodos menos invasivos. A biópsia brônquica é um método de diagnóstico com uma acuidade de 78% a 85%, quando o tumor é visível em localização endobrônquica7,8. Para otimização do diagnóstico, classificação da neoplasia e genotipagem do tumor, deverão ser obtidos cinco fragmentos7. As metástases à distância, quando acessíveis, podem ser o local a biopsar, uma vez que para além do diagnóstico dão informação relativa ao estádio TNM.

A técnica EBUS-TBNA (endobronchial ultrasound with real-time guided transbronchial needle aspiration) tem uma acuidade diagnóstica de 90% quando existem adenomegálias mediastínicas e permite por vezes a obtenção de amostras de tumores não acessíveis a biópsia endobrônquica. Em casos mais raros, a ecografia esofágica com punção trans-esofágica, permite a abordagem das cadeias ganglionares das cadeias gânglionares 8 e 9.7

A biópsia trans-torácica por agulha grossa é preferível, sempre que possível, à citologia aspirativa por agulha fina, uma vez que permite amostras histológicas e, normalmente, maior representação da neoplasia.

Características e gestão da amostra

Uma acuidade diagnostica de 90% é obtida quando a neoplasia é próxima da parede torácica e tem uma dimensão superior a 15mm.7 Para maximizar o volume de tecido, 3 a 6 fragmentos devem ser colhidos, utilizando uma agulha de 18-20 G.7

Lavados e escovados brônquicos e líquido pleural com obtenção de amostras citológicas são por vezes o único material disponível para diagnóstico. As amostras citológicas após fixação em formol e inclusão em parafina (citobloco) têm resultados imunohistoquímicos semelhantes aos das amostras de tecido4.De acordo com as novas recomendações da CAP/IASLC/AMP4, qualquer esfregaço com celularidade adequada pode ser utilizado para estudo molecular. No entanto, embora a genotipagem do tumor possa ser feita em esfregaço, o ideal é a realização de citobloco, que permite também os estudos imunohistoquímicos necessários e a preservação das proteínas a longo prazo.Por vezes pode acontecer que o diagnóstico inicial seja feito em peça operatória. Nestes casos é fundamental controlar, de forma ainda mais rigorosa, as variáveis pré-analíticas (tempo de isquemia fria, fixação), sendo muito mais fácil a gestão da quantidade da amostra.

VARIÁVEIS PRÉ-ANALÍTICASA interferência das variáveis pré-analíticas começam no momento em que a biópsia é realizada, têm impacto nas análises subsequentes e são de extrema importância para a obtenção do diagnóstico correto e seleção da

terapêutica. Condições pré-analíticas adequadas permitem preservar a qualidade dos ácidos nucleicos e a viabilidade dos antigénios avaliáveis por imunohistoquí-mica. Vários fatores são importantes e devem ser monitorizados:• Tempo de isquemia fria – o tempo que medeia entre a

colheita da amostra e a fixação; deve ser o mínimo possível, mas sempre inferior a 1 hora10, 11, 12.

• Fixador adequado - formol tamponado a 10%. O uso de outros fixadores não é recomendado para a realização de imunohistoquímica, uma vez que leva à degradação de certos epitopos, o que pode dar origem a resultados incorretos10.

• Tempo de fixação: deve ser de 6-24h para biópsias e de 24-72h para peças operatórias. A fixação inadequada (hipo ou hiperfixação) tem impacto nos resultados da imunohistoquímica, bem como na preservação dos ácidos nucleicos, condicionando os estudos moleculares.

• A descalcificação do tecido ósseo afeta a antigenicida-de e dificulta a realização de testes imunohistoquími-cos, bem como de estudos moleculares10.

• Processamento: o processamento deve garantir a preservação nas melhores condições quer da antigenicidade do tecido, de forma a permitir o estudo imunohistoquímico em condições adequadas, quer dos ácidos nucleicos, de forma a que seja possível estudo genético.

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 8: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

Nos últimos anos, com os avanços terapêuticos nomeadamente as terapêuticas alvo e a imunoterapia, a caracterização de um tumor deve incluir o tipo de neoplasia, bem como a determinação de marcadores preditivos de resposta à terapêutica, que passaram a ser indispensáveis. O diagnóstico do cancro do pulmão tornou-se assim um processo sequencial que depende da morfologia, da imunohistoquímica e da caracteriza-ção molecular do tumor. Consequentemente, a gestão adequada do tecido disponível passou a ser necessária e um desafio para o anatomopatologista. Tendo em consideração estes pressupostos, a última revisão da OMS recomenda critérios de diagnóstico específicos para pequenas amostras (biópsias ou citologias), com recurso criterioso da imunohistoquímica, sempre que necessário e em conjugação com as características morfológicas do tumor1-3 de forma a reservar tecido para caracterização molecular.

TIPOS DE AMOSTRAVárias técnicas de obtenção de amostras de tecido ou citologia podem ser utilizadas, sendo que a decisão de qual a mais adequada no caso concreto deverá ser multidisciplinar. Devem ser utilizados preferencialmente os métodos menos invasivos. A biópsia brônquica é um método de diagnóstico com uma acuidade de 78% a 85%, quando o tumor é visível em localização endobrônquica7,8. Para otimização do diagnóstico, classificação da neoplasia e genotipagem do tumor, deverão ser obtidos cinco fragmentos7. As metástases à distância, quando acessíveis, podem ser o local a biopsar, uma vez que para além do diagnóstico dão informação relativa ao estádio TNM.

A técnica EBUS-TBNA (endobronchial ultrasound with real-time guided transbronchial needle aspiration) tem uma acuidade diagnóstica de 90% quando existem adenomegálias mediastínicas e permite por vezes a obtenção de amostras de tumores não acessíveis a biópsia endobrônquica. Em casos mais raros, a ecografia esofágica com punção trans-esofágica, permite a abordagem das cadeias ganglionares das cadeias gânglionares 8 e 9.7

A biópsia trans-torácica por agulha grossa é preferível, sempre que possível, à citologia aspirativa por agulha fina, uma vez que permite amostras histológicas e, normalmente, maior representação da neoplasia.

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Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Características e gestão da amostra

Uma acuidade diagnostica de 90% é obtida quando a neoplasia é próxima da parede torácica e tem uma dimensão superior a 15mm.7 Para maximizar o volume de tecido, 3 a 6 fragmentos devem ser colhidos, utilizando uma agulha de 18-20 G.7

Lavados e escovados brônquicos e líquido pleural com obtenção de amostras citológicas são por vezes o único material disponível para diagnóstico. As amostras citológicas após fixação em formol e inclusão em parafina (citobloco) têm resultados imunohistoquímicos semelhantes aos das amostras de tecido4.De acordo com as novas recomendações da CAP/IASLC/AMP4, qualquer esfregaço com celularidade adequada pode ser utilizado para estudo molecular. No entanto, embora a genotipagem do tumor possa ser feita em esfregaço, o ideal é a realização de citobloco, que permite também os estudos imunohistoquímicos necessários e a preservação das proteínas a longo prazo.Por vezes pode acontecer que o diagnóstico inicial seja feito em peça operatória. Nestes casos é fundamental controlar, de forma ainda mais rigorosa, as variáveis pré-analíticas (tempo de isquemia fria, fixação), sendo muito mais fácil a gestão da quantidade da amostra.

VARIÁVEIS PRÉ-ANALÍTICASA interferência das variáveis pré-analíticas começam no momento em que a biópsia é realizada, têm impacto nas análises subsequentes e são de extrema importância para a obtenção do diagnóstico correto e seleção da

terapêutica. Condições pré-analíticas adequadas permitem preservar a qualidade dos ácidos nucleicos e a viabilidade dos antigénios avaliáveis por imunohistoquí-mica. Vários fatores são importantes e devem ser monitorizados:• Tempo de isquemia fria – o tempo que medeia entre a

colheita da amostra e a fixação; deve ser o mínimo possível, mas sempre inferior a 1 hora10, 11, 12.

• Fixador adequado - formol tamponado a 10%. O uso de outros fixadores não é recomendado para a realização de imunohistoquímica, uma vez que leva à degradação de certos epitopos, o que pode dar origem a resultados incorretos10.

• Tempo de fixação: deve ser de 6-24h para biópsias e de 24-72h para peças operatórias. A fixação inadequada (hipo ou hiperfixação) tem impacto nos resultados da imunohistoquímica, bem como na preservação dos ácidos nucleicos, condicionando os estudos moleculares.

• A descalcificação do tecido ósseo afeta a antigenicida-de e dificulta a realização de testes imunohistoquími-cos, bem como de estudos moleculares10.

• Processamento: o processamento deve garantir a preservação nas melhores condições quer da antigenicidade do tecido, de forma a permitir o estudo imunohistoquímico em condições adequadas, quer dos ácidos nucleicos, de forma a que seja possível estudo genético.

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 9: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

16 17

Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Características e gestão da amostra

GESTÃO DA AMOSTRAA gestão da amostra disponível para a realização do diagnóstico e do estudo dos marcadores de resposta à terapêutica pode ser difícil devido à escassez de neoplasia nela representada, pelo que cabe ao laboratório de Anatomia Patológica responsável pelo diagnóstico desenhar um protocolo sequencial que permita o aproveitamento racional de todo o material para os estudos necessários e subsequentes, assim como do controlo morfológico necessário a garantir a boa qualidade do material. Entende-se como controlo morfológico do tecido a verificação da presença de células neoplásicas em quantidade e qualidade necessárias à realização dos testes, tendo como limites aqueles indicados para as metodologias a utilizar. O corpo clínico deverá ser consultado aquando do desenho deste protocolo sequencial de gestão da amostra, de forma a garantir que as principais soluções terapêuticas são testadas de forma adequada. Para a realização de estudos moleculares o patologista tem de fazer uma avaliação da celularidade da amostra e a identificação das áreas melhor preservadas da neoplasia. A celularidade relativa das células neoplási-cas e não neoplásicas é de importância crítica. Idealmente, um mínimo de 20-30% de células neoplásicas deve estar presente no material testado para minimizar falsos negativos7.

A histologia e a citologia (quando os dois exames coexistem) devem ser revistas em conjunto para

seleção do material mais adequado para a realização de imunohistoquímica e dos estudos moleculares.

Cortes de 3 a 5 µm são excelentes para as colorações de rotina e para realização de imunohistoquímica12, 13.Uma estratégia válida, tendo sempre como objetivo a máxima preservação do tecido, será a realização de um corte inicial corado com hematoxilina-eosina (HE), vários cortes colados (aproximadamente 10), que ficam de reserva para a realização dos estudos complementa-res necessários (de imunohistoquímica e moleculares) e um corte corado com HE final, que tem como objetivo o controlo da representatividade da neoplasia nos cortes colados intercalares. Se os cortes colados não forem utilizados de imediato devem ser guardados em local escuro e a temperatura entre 2ºC e 8ºC, para preservação da antigenicidade10. Novos cortes do bloco de parafina devem ser evitados para minimizar o risco de desperdício de tecido neoplásico.

A realização de imunohistoquímica para subclassifica-ção dos carcinomas é necessária nos casos de carcinomas pouco diferenciados, em que as caracterís-ticas morfológicas não permitem a sua classificação. No entanto, a seleção dos soros deve ser criteriosa, ponderada em função da morfologia da neoplasia e reduzida ao mínimo necessário para efetuar o diagnósti-co correto.

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 10: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

MARCADORESDE DIAGNÓSTICO

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

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Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Marcadores de diagnóstico

MARCADORES DE DIAGNÓSTICOA metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 12: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

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Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Características e gestão da amostra

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 13: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

24 25

Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Marcadores de diagnóstico

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 14: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

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Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Marcadores de diagnóstico

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 15: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

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Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Marcadores de diagnóstico

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.A expressão de PD-L1 deve ser

determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico

Page 16: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

30 31

Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Marcadores de diagnóstico

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 17: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

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Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Marcadores de diagnóstico

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 18: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

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Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Marcadores de diagnóstico

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Page 19: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde

a entrada da amostra no laboratório até à emissão da

informação final

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A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

36

Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Tempo de resposta considerado adequado para a emissão do relatório final

Page 20: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

CONCLUSÃO

Page 21: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

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Diagnósticos histológicos muito precisos devem ser combinados

com novos testes de moleculares e

imunohistoquímicos

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Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Conclusão

CONCLUSÃOA evolução rápida das abordagens terapêuticas no cancro do pulmão, particularmente com as novas terapêuticas personalizadas, obriga a que diagnósti-cos histológicos precisos devem ser combinados com novos testes moleculares e imunohistoquími-cos, em relatórios completos e standartizados com controle de qualidade interno e externo contínuo.

Page 22: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

REFERÊNCIAS

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Pre-Analytical Conditions on the Antigenicity of Lung Markers: ALK and MET. Appl Immunohistochem Mol Morphol. 2019 Feb 4. 12.Libard S, Cerjan D, Alafuzoff I. Characteristics of the tissue section that influence the staining outcome in immunohistochemistry. Histochem Cell Biol. 2019 Jan;151(1):91-96 13.McCam-pbell AS, Raghunathan V, Tom-Moy M, et al. Tissue Thickness Effects on Immunohistochemical Staining Intensity of Markers of Cancer. Appl Immunohisto-chem Mol Morphol. 2017 Oct 27. 14.Popper HH, Gruber-Mösenbacher U, Hutarew G et al. Recommendations of the Austrian Working Group on Pulmonary Pathology and Oncology for predictive molecular and immunohistochemical testing in non-small cell lung cancer. Memo-Magazine of European Medical Oncology 4.9 (2016): 191-200. 15.PD-L1 Immunohistochemistry Assays for Lung Cancer: Results from Phase 1 of the Blueprint PD-L1 IHC Assay Comparison Project. Hirsch FR, McElhinny A, Stanforth D, et al. J Thorac Oncol. 2017 Feb;12(2):208-222. 16.Noll B, Wang WL, Gong Y, et al. Programmed death ligand 1 testing in non-small cell lung carcinoma cytology cell block and aspirate smear preparations. Cancer Cytopathol. 2018 May;126(5):342-352 17.Torous VF, Rangachari D, Gallant BP, et al. PD-L1 testing using the clone 22C3 pharmDx kit for selection of patients with non-small cell lung cancer to receive immune checkpoint inhibitor therapy: are cytology cell blocks a viable option? J Am Soc Cytopathol. 2018 May-Jun;7(3):133-141. 18.Heymann JJ, Bulman WA, Swinarski D, et al. PD-L1 expression in non-small cell lung carcinoma: Comparison among cytology, small biopsy, and surgical resection specimens. Cancer Cytopathol. 2017 Dec;125(12):896-907. 19.Paez JG, Jänne PA, Lee JC, et al. EGFR mutations in lung cancer: correlation with clinical response to gefitinib therapy. Science. 2004 Jun 4;304(5676):1497-500. 20.Tsao MS, Sakurada A, Cutz JC, et al. Erlotinib in lung cancer - molecular and clinical predictors of outcome. N Engl J Med. 2005 Jul 14;353(2):133-44. Erratum in: N Engl J Med. 2006 Oct 19;355(16):1746. 21.Mitsudomi T, Yatabe T. Mutations of the epidermal growth factor receptor gene and related genes as determinants of epidermal growth factor receptor tyrosine kinase inhibitors sensitivity in lung cancer. Cancer Sci. 2007 Dec;98(12):1817-24. 22.Soda M, Choi YL, Enomoto M, et al. Identification of the transforming EML4-ALK fusion gene in non-small-cell lung cancer. Nature. 2007

Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Conclusão

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mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Aug 2;448(7153):561-6. 23.Cancer Genome Atlas Research Network. Comprehensive molecular profiling of lung adenocarcinoma. Nature. 2014 Jul 31;511(7511):543-50. 24.Cancer Genome Atlas Research Network. Comprehensive genomic characterization of squamous cell lung cancers, Nature 489 (7417) (2012) 519–525. 25.Kerr KM, Bubendorf L, Edelman MJ, et al; Panel Members. Second ESMO consensus conference on lung cancer: pathology and molecular biomarkers for non-small-cell lung cancer. Ann Oncol. 2014 Sep;25(9):1681-90. 26.IASLC Atlas of ALK and ROS1 TESTING IN LUNG CANCER – second edition. Edited by Ming Sound Tsao and Fred R. Hirsh, Yasushi Yatabe. 27.Thunnissen E, Allen TC, Adam J, et al. Immunohistochemistry of Pulmonary Biomarkers: A Perspective From Members of the Pulmonary Pathology Society. Arch Pathol Lab Med. 2018 Mar;142(3):408-419. 28.Gregg JP, Li T, Yoneda KY. Molecular testing strategies in non-small cell lung cancer: optimizing the diagnostic journey. Transl Lung Cancer Res. 2019 Jun;8(3):286-301 29.Reitsma M, Fox J, Vanden Borre P et al. Effect of a Collaboration Between a Health Plan, Oncology Practice, and Comprehensive Genomic Profiling Company from the Payer Perspective. Journal of Managed Care & Specialty Pharmacy 2019 25:5, 601-611 30.NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology (NCCN Guidelines®) for Non-Small Cell Lung Cancer V.2.2019 31.Rolfo C, Mack PC, Scagliotti GV, et al. IASLC statement paper: liquid biopsy for advanced non-small cell lung cancer (NSCLC). J Thorac Oncol 2018;13:1248-68. 32.Kalemkerian GP, Narula N, Kennedy EB, et al. Molecular testing guideline for the selection of patients with lung cancer for treatment with targeted tyrosine kinase inhibitors: American Society of Clinical Oncology endorsement of the College of American Pathologists/International Association for the Study of Lung Cancer/Association for Molecular Pathology Clinical Practice guideline update. J Clin Oncol 2018;36:911-9.

Page 23: Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação ... · (clone e apresentação); • Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s); • Resultado final do teste

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

REFERÊNCIAS

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Pre-Analytical Conditions on the Antigenicity of Lung Markers: ALK and MET. Appl Immunohistochem Mol Morphol. 2019 Feb 4. 12.Libard S, Cerjan D, Alafuzoff I. Characteristics of the tissue section that influence the staining outcome in immunohistochemistry. Histochem Cell Biol. 2019 Jan;151(1):91-96 13.McCam-pbell AS, Raghunathan V, Tom-Moy M, et al. Tissue Thickness Effects on Immunohistochemical Staining Intensity of Markers of Cancer. Appl Immunohisto-chem Mol Morphol. 2017 Oct 27. 14.Popper HH, Gruber-Mösenbacher U, Hutarew G et al. Recommendations of the Austrian Working Group on Pulmonary Pathology and Oncology for predictive molecular and immunohistochemical testing in non-small cell lung cancer. Memo-Magazine of European Medical Oncology 4.9 (2016): 191-200. 15.PD-L1 Immunohistochemistry Assays for Lung Cancer: Results from Phase 1 of the Blueprint PD-L1 IHC Assay Comparison Project. Hirsch FR, McElhinny A, Stanforth D, et al. J Thorac Oncol. 2017 Feb;12(2):208-222. 16.Noll B, Wang WL, Gong Y, et al. Programmed death ligand 1 testing in non-small cell lung carcinoma cytology cell block and aspirate smear preparations. Cancer Cytopathol. 2018 May;126(5):342-352 17.Torous VF, Rangachari D, Gallant BP, et al. PD-L1 testing using the clone 22C3 pharmDx kit for selection of patients with non-small cell lung cancer to receive immune checkpoint inhibitor therapy: are cytology cell blocks a viable option? J Am Soc Cytopathol. 2018 May-Jun;7(3):133-141. 18.Heymann JJ, Bulman WA, Swinarski D, et al. PD-L1 expression in non-small cell lung carcinoma: Comparison among cytology, small biopsy, and surgical resection specimens. Cancer Cytopathol. 2017 Dec;125(12):896-907. 19.Paez JG, Jänne PA, Lee JC, et al. EGFR mutations in lung cancer: correlation with clinical response to gefitinib therapy. Science. 2004 Jun 4;304(5676):1497-500. 20.Tsao MS, Sakurada A, Cutz JC, et al. Erlotinib in lung cancer - molecular and clinical predictors of outcome. N Engl J Med. 2005 Jul 14;353(2):133-44. Erratum in: N Engl J Med. 2006 Oct 19;355(16):1746. 21.Mitsudomi T, Yatabe T. Mutations of the epidermal growth factor receptor gene and related genes as determinants of epidermal growth factor receptor tyrosine kinase inhibitors sensitivity in lung cancer. Cancer Sci. 2007 Dec;98(12):1817-24. 22.Soda M, Choi YL, Enomoto M, et al. Identification of the transforming EML4-ALK fusion gene in non-small-cell lung cancer. Nature. 2007

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

Recomendações da SPAP & SPC para Diagnóstico e Orientação Terapêuticano Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão

Conclusão

44 45

Aug 2;448(7153):561-6. 23.Cancer Genome Atlas Research Network. Comprehensive molecular profiling of lung adenocarcinoma. Nature. 2014 Jul 31;511(7511):543-50. 24.Cancer Genome Atlas Research Network. Comprehensive genomic characterization of squamous cell lung cancers, Nature 489 (7417) (2012) 519–525. 25.Kerr KM, Bubendorf L, Edelman MJ, et al; Panel Members. Second ESMO consensus conference on lung cancer: pathology and molecular biomarkers for non-small-cell lung cancer. Ann Oncol. 2014 Sep;25(9):1681-90. 26.IASLC Atlas of ALK and ROS1 TESTING IN LUNG CANCER – second edition. Edited by Ming Sound Tsao and Fred R. Hirsh, Yasushi Yatabe. 27.Thunnissen E, Allen TC, Adam J, et al. Immunohistochemistry of Pulmonary Biomarkers: A Perspective From Members of the Pulmonary Pathology Society. Arch Pathol Lab Med. 2018 Mar;142(3):408-419. 28.Gregg JP, Li T, Yoneda KY. Molecular testing strategies in non-small cell lung cancer: optimizing the diagnostic journey. Transl Lung Cancer Res. 2019 Jun;8(3):286-301 29.Reitsma M, Fox J, Vanden Borre P et al. Effect of a Collaboration Between a Health Plan, Oncology Practice, and Comprehensive Genomic Profiling Company from the Payer Perspective. Journal of Managed Care & Specialty Pharmacy 2019 25:5, 601-611 30.NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology (NCCN Guidelines®) for Non-Small Cell Lung Cancer V.2.2019 31.Rolfo C, Mack PC, Scagliotti GV, et al. IASLC statement paper: liquid biopsy for advanced non-small cell lung cancer (NSCLC). J Thorac Oncol 2018;13:1248-68. 32.Kalemkerian GP, Narula N, Kennedy EB, et al. Molecular testing guideline for the selection of patients with lung cancer for treatment with targeted tyrosine kinase inhibitors: American Society of Clinical Oncology endorsement of the College of American Pathologists/International Association for the Study of Lung Cancer/Association for Molecular Pathology Clinical Practice guideline update. J Clin Oncol 2018;36:911-9.

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A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.

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Com o apoio à divuldação da

A metodologia atualizada para o diagnóstico correto dos diferentes tipos histológicos de carcinomas de células não pequenas está definida na edição de 2015 do livro “WHO Classification of tumours of the lung, pleura, thymus and heart” e baseia-se nas caraterísti-cas morfológicas e no resultado de marcadores de diagnóstico testados por imunohistoquímica1.

Atualmente são aceites terapêuticas mais ou menos personalizadas, dirigidas a alguns tipos histológicos específicos que são selecionadas após caracterização com marcadores de resposta à terapêutica. Assim, a identificação, o mais precisa possível, do tipo histológi-co de carcinoma é indispensável à boa orientação terapêutica destas neoplasias. O uso de marcadores de diagnóstico na identificação dos tipos histológicos mais frequentes (adenocarcino-ma e carcinoma epidermoide) pode não ser necessário se o estudo morfológico for completamente esclarece-dor. Quando a caracterização imunohistoquímica é necessária, deve ser utilizado um painel básico com não mais do que dois marcadores de diferenciação glandular e não mais que dois marcadores de diferenciação epidermoide, tendo sempre presente a necessidade de preservar tecido para caracterização

molecular. Os marcadores de diferenciação glandular a ser usados no painel básico são o TTF1 e/ou napsin A, e os marcadores de diferenciação epidermoide são o p40 e/ou p63.1 O painel de marcadores de diagnóstico deverá incorporar outros marcadores se os aspetos morfológi-cos favorecerem outro tipo de carcinomas de células não pequenas ou se o resultado do estudo do painel básico não for conclusivo, nomeadamente, se a hipótese de neoplasia secundária for considerada.

MARCADORES DE RESPOSTA À TERAPÊUTICAOs laboratórios de Anatomia Patológica que recebem, processam e analisam amostras de carcinoma do pulmão devem ser diligentes em providenciar a realização de testes de marcadores de resposta à terapêutica ou identificar um ou mais laboratórios que realizem estes testes e para os qual possam enviar as amostras. Os laboratórios que recebem pedidos de amostras arquiva-das (sob a forma de blocos de parafina, cortes colados, suspensões celulares ou lâminas) por parte de outras instituições, com o objetivo de serem efetuados testes de marcadores de resposta à terapêutica, devem ser céleres no envio destas amostras para a instituição requisitante, de forma a não prejudicar o plano terapêutico do doente. A amostra deve ser acompanhada do relatório do diagnóstico de Anatomia Patológica. Da mesma forma, as instituições que requisitam amostras a outros laborató-rios devem ser rigorosas na devolução da amostra restante e do resultado do teste de marcadores de resposta à terapêutica.Quando a amostra é enviada para um laboratório de

referência no sentido de realizar um teste não disponível no laboratório onde foi feito o diagnóstico, o laboratório de referência deve providenciar as seguintes evidên-cias/procedimentos para além dos procedimentos acima descritos e dos legalmente obrigatórios:

• Documento descritivo de como devem ser enviadas as diferentes tipologias de amostras para os diferentes tipos de testes – manual de colheitas;

• Resultados dos testes de controlo de qualidade interno e externo;

• Indicação da realização ou não de controlo morfológico da amostra recebida por um médico patologista. Se o laboratório de referência não efetuar este serviço, a ser incluído no relatório, o laboratório de origem deve responsabilizar-se por efetuar o controlo morfológico da amostra antes da sua emissão para o laboratório de referência (ex. estudo de um corte corado com hematoxilina e eosina após os cortes efetuados para emissão para o exterior). A verificação da quantidade de células neoplásicas deve ter como limites aqueles que são indicados pelo laboratório de referência, segundo as metodologias de análise disponíveis.

O relatório de teste de marcadores de resposta à terapêutica, seja efetuado no laboratório de origem ou no laboratório de referência, deve incluir alusão ao resultado do controlo morfológico, descrição da técnica e do equipamento utilizado, indicação do anticorpo/son-

da/kit, resultado dos controlos internos, resultado do teste e seu enquadramento terapêutico. No caso de técnicas de biologia molecular, deve ainda ser indicada a sensibilidade e especificidade do método usado.

PD-L1A expressão do marcador de resposta à terapêutica PD-L1 (programmed cell death ligand 1) é determinada por teste de imuno-histoquímica e avalia a possibilidade de um doente ser eleito para imunoterapia e em que linha terapêutica5,6,9. Os fármacos utilizados em imunoterapia que dependem do resultado do marcador PD-L1 para serem administrados em doentes com carcinoma de células não pequenas do pulmão estão bem definidos pela EMA (European Medicines Agency) e são alvo de atualização periódica. O facto de se verificarem atualizações periódicas às recomendações da EMA e de cada instituição poder ter preferências na escolha dos fármacos disponíveis para imunoterapia pode implicar atualizações em como se determina a expressão de PD-L1 em cada Laboratório de Anatomia Patológica. O que está subjacente às diferenças de determinação consoante o fármaco potencialmente a ser administrado é a existência, para cada fármaco, de um equipamento para imuno-histoquímica automática e um anticorpo de um clone específico anti-PD-L1 para interpretação segundo uma metodologia particular14. Estão publicados na literatura trabalhos que já demonstram a equivalência entre equipamentos e entre alguns clones de anticorpos anti-PD-L114, 15. Por este motivo, e porque existem potenciais constrangimentos

financeiros associados às múltiplas determinações, é aceitável utilizar equipamentos de imuno-histoquímica que não os recomendados para o teste de PD-L1 para um determinado fármaco, logo que exista um controlo de qualidade externo que comprove a fiabilidade dos resultados para o anticorpo escolhido. No entanto, deverão ser, quando possível, privilegiadas as rotinas que permitam, no mínimo, utilizar o clone do anticorpo anti-PD-L1 e a metodologia de interpretação da expressão de PD-L1 recomendadas para cada fármaco. Não está recomendada a prática de imuno-histoquími-ca manual para a realização deste teste.

O clone do anticorpo anti-PD-L1 para fazer o teste de imuno-histoquímica deve ser, preferencialmente, o recomendado para o fármaco que potencialmente vai ser usado, ou anticorpo com comprovada equivalência e aprovado para uso clínico. Não se recomenda o uso de anticorpos não aprovados para uso clínico – diagnóstico in vitro (IVD). No geral, os anticorpos anti-PD-L1 aprovados para uso clínico estão concebidos pelo fabricante para uso em amostras histológicas incluídas em parafina após fixação em formol tamponado. A utilização de outros tipos de amostras que não apenas as biópsias ou peças histológicas pode ser necessária por questões de disponibilidade de material, nomeadamente amostras citológicas e citoblocos16,17,18. Estas amostras podem ser utilizadas para realização do teste de PD-L1 desde que otimizados os procedi-

no Carcinoma Não Pequenas Células do PulmãoDiagnóstico e Orientação Terapêutica

Recomendações da SPAP & SPC para

mentos técnicos e se houver testes de validação interna que demonstrem a equivalência da expressão de PD-L1 entre os tipos diferentes de amostras da mesma lesão. Aquando do uso de amostras citológicas deve privile-giar-se aquelas fixadas em formol tamponado.

A gestão da amostra para estudo de PD-L1 deve ter em consideração as instruções do fabricante do clone do anticorpo, nomeadamente no que diz respeito ao uso de material arquivado, tempo permitido entre o corte e o teste de imuno-histoquímica, espessura do corte, entre outros (ver capítulo “Caraterísticas e gestão da amostra”).

A utilização de controlos (controlo de qualidade interna) deve ser efetuada com recurso a tecidos com expressão de PD-L1 conhecida, colocados em cada lâmina de cada caso ou, no mínimo, em cada série (corrida) de testes. A escolha de controlos positivos e negativos (pelo menos um de cada em cada lâmina) deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo, sendo que a amígdala palatina é a mais recomendada por ser a mais exigente, seguida da placenta (menos exigente porque não mostra diferentes intensidades de expres-são como a amígdala palatina) e de tecido neoplásico primário do pulmão com expressão de PD-L1 positiva conhecida.A interpretação da expressão de PD-L1 depende do anticorpo usado e do potencial fármaco a ser adminis-trado em imunoterapia, pelo que deve obedecer às instruções do fabricante do clone do anticorpo em

causa. Como exemplo, para o clone 22C3, a avaliação deve ser efetuada considerando apenas a percentagem de células tumorais com expressão membranar, parcial ou total, com qualquer intensidade. A interpre-tação da expressão de PD-L1 deve ser efetuada por um médico patologista com formação específica para o efeito, respeitando os controlos, e recorrendo a segunda opinião dada por outro patologista, se necessário.

Idealmente, por uma questão de bom aproveitamento da amostra e disponibilização rápida desta informação, a expressão de PD-L1 deve ser determinada em conjunto com os marcadores de diagnóstico aquando do estudo morfológico para diagnóstico, se não houver suspeita de doença de origem metastática. Em alternativa, o estudo de PD-L1 poderá ser feito em segundo tempo e segundo requisição clínica.

O relatório que documenta a expressão de PD-L1 deve estar disponível, no máximo, em 3 dias úteis, e deve compreender os seguintes elementos, para além dos legalmente exigidos:

• Identificação do doente e informação clínica relevante;

• Avaliação da qualidade da amostra (consideração sobre a presença ou ausência do número mínimo de células viáveis onde se faz a interpretação e que está definida para cada clone);

• Metodologia do teste;

• Equipamento de imuno-histoquímica;

• Protocolo, sistema de deteção e anticorpo primário (clone e apresentação);

• Resultado dos controlos positivo(s) e negativo(s);

• Resultado final do teste de PD-L1 utilizando uma terminologia descritiva que tenha em consideração os cutoffs para cada clone (ex: Observou-se 20-30% de células neoplásicas com expressão de PD-L1). Não se recomenda o uso da terminologia “Positivo/negativo para PD-L1” ou “Neoplasia PD-L1 positiva/negativa”. A descrição da intensidade de expressão é, nos testes aprovados atualmente, facultativa.

PESQUISA DE ALTERAÇÕES GENÉTICASRecentemente, estudos genómicos em grande escala (Clinical Lung Cancer Genome Project) identificaram diferentes alterações genéticas em certos tipos de CCNP. A descoberta levou ao desenvolvimento de terapêuticas “alvo”19, 20, 21, 22, particularmente nos adenocarcinomas em que as mutações do EGFR e os rearranjos do ALK são detetados numa percentagem significativa de casos. Além disso, também foram identificadas mutações de perda de função em STK11/LKB1, NF1, CDKN2A, SMARCA4 e KEAP1, mutações do KRAS, amplificação do MET e rearranjos de ROS1 e RET23. Pelo contrário, os carcinomas epidermoi-des, raramente têm mutações do EGFR ou rearranjos ALK. Em vez disso têm frequentemente alterações no RTKs, DDR2 e FGGRs, bem como mutações CDKN2A, PTEN, KEAP1, MLL2, HLA-A, NFE2L2, NOTCH1 e RB124.Assim, considera-se como mínimo absoluto a testar de forma reflexa as alterações dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF em todos os doentes com adenocarcinoma do pulmão ou com neoplasias pulmonares com componen-te de adenocarcinoma, doentes não fumadores ou com diagnóstico estabelecido em amostras escassas30. Deve dar-se preferência a um método que permita o estudo paralelo de todas as alterações genéticas, em vez da pesquisa seriada de alterações. A pesquisa de alterações do gene KRAS pode ser usada após o estudo dos genes considerados essenciais (EGFR, ALK, ROS1 e BRAF). Se positivo, este teste evita o recurso a um painel mais extenso e por enquanto apenas opcional

(RET, MET, NTRK1 e ERBB2) ainda que desejável4. A decisão sobre os genes a incluir no estudo, que deverá ser tomada em reunião multidisciplinar, dependerá de vários fatores que podem incluir a quantidade e qualidade da amostra, fatores económicos e de acesso aos vários tipos de teste e fatores clínicos.

A) PESQUISAS DE MUTAÇÕES DOS GENES EGFR E BRAFDevem ser pesquisadas mutações nos exões 18 a 21 do gene EGFR cuja prevalência na população europeia é de 10-20%. As mutações de sensibilidade mais frequentes são a deleção do exão 19 e mutação L858R do exão 21 e a mutação de resistência mais frequente é a mutação T790M do exão 20, que surge normalmente em contexto de recidiva sendo responsável por perda de resposta a inibidores da tirosina-quinase.25

Devem ser pesquisadas mutações nos exões 11 e 15 do gene BRAF cuja prevalência na população é de 0,5 a 4,9 %. No exão 15 está incluída a mutação deste gene mais frequente no CCNP (V600E)25.

Pode-se recorrer a um método de pesquisa de mutações destes genes validado e com sensibilidade suficiente para detetar mutações numa amostra com pelo menos 20% de celularidade neoplásica e identifi-car mutações com pelo menos 1% de frequência alélica. Quando a pesquisa de mutações destes 2 genes se insere apenas no mínimo requerido, considera-se aceitável o recurso ao PCR (Polymerase chain reaction) ou à sequenciação de Sanger. A hibridização in situ

(FISH) e a imunohistoquímica não são considerados adequados para estas pesquisas25.

B) PESQUISAS DE FUSÕES DOS GENES ALK E ROS1.Devem ser pesquisados rearranjos do gene ALK que resultam da fusão deste com outros genes sendo conhecidos mais de 20 parceiros, pressupondo um processo de inversão ou de translocação genética. A fusão mais prevalente é a EML4-ALK que resulta duma inversão no braço curto do cromossoma 2.26

De igual modo, devem ser pesquisados rearranjos do gene ROS1 que resultam da fusão deste com os genes SLC34A2, CD74 e TPM3, entre outros4 e 8. A pesquisa de fusões dos genes ALK e ROS1 pode ser feita por FISH utilizando sondas break-apart. Um limiar de 15% de núcleos com padrão atípico de sinais está aceite como valor discriminativo entre positivo (amostra com rearranjo dos genes ALK ou ROS1) e negativo (amostra sem rearranjo dos genes ALK ou ROS1). No entanto, este limiar deve ser validado internamente no laboratório com recurso a tumores com alterações genéticas conhecidas e com comparação com os resultados obtidos por outros métodos26.A imunohistoquímica é uma alternativa válida ao FISH para a pesquisa de fusões do gene ALK. Este dado pressupõe o recurso aos anticorpos monoclonais 5A4 ou D5F3 com taxas de sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respetivamente. A imunomarcação é válida quando for claramente positiva (marcação citoplasmáti-ca difusa, granular e forte) ou claramente negativa

(ausência de marcação). A especificidade dos casos com marcação fraca deve ser avaliada e determinada no processo de validação do método26.A Imunohistoquímica pode ser utilizada como um teste de screening na pesquisa de fusões do gene ROS1, com recurso ao anticorpo D4D6 cujas taxas de sensibilidade e de especificidade são de 100% e 92 a 100% respetiva-mente. A eventual positividade identificada requer a confirmação por FISH, RT-PCR ou NGS. A ausência de marcação pode ser considerada definitivamente como negativa (rearranjo não detetado)26.A pesquisa de mutações dos genes EGFR e BRAF e de fusões dos genes ALK e ROS1 isolada ou integrada num painel mais alargado (EGFR, ALK, ROS1, BRAF, RET, MET, ERBB2 e KRAS) deve ser feita preferencialmente utilizando uma plataforma de sequenciação genética de nova geração (NGS)4.

C) PAINÉIS MULTIGENÉTICOS ABRANGENTES-COMPREHENSIVE GENOMIC PROFILING.Com a possibilidade de utilização de plataformas de sequenciação genética de nova geração (NGS) passou a ser possível fazer uma caracterização genómica maisabrangente. Surgiram recentemente testes mais alargados que analisam centenas de genes avaliando de uma só vez múltiplos genes potencialmente “alvo” de forma a auxiliar na decisão terapêutica27, 28, 29 bem como instabilidade de microssatélites e carga mutacional tumoral. Com efeito, o NCCN aconselha fortemente uma avaliação mais alargada do perfil molecular com o objetivo de identificar mutações raras,

mas potencialmente importantes (“driver mutations”) por disporem de terapêuticas dirigidas (ex: mutação de BRAF, amplificação ou mutação do proto-oncogene MET, rearranjos do RET, mutações de ERBB2, etc). Recomen-da também a determinação da carga mutacional do tumor (TMB) como um biomarcador emergente que pode ser útil para a seleção dos pacientes para a imunoterapia, apesar de atualmente não existir consenso sobre como medir a TMB.30

A utilização de painéis alargados tem assim vantagens importantes, tendo, no entanto, também algumas desvantagens relacionadas principalmente com maior demora na obtenção de resultados e custos potencial-mente mais elevados. A decisão de pedir uma avaliação sequencial ou pelo contrário utilizar um painel alargado de NGS deve ser tomada em reunião de decisão terapêutica multidisciplinar.

D) TIPO DE AMOSTRAS ADEQUADAS PARA ESTUDO GENÉTICO E VALIDAÇÃO DOS RESULTADOSTodo o tipo de amostras poder ser utilizado (esfregaços, citoblocos, biópsias e peças operatórias). Se num determinado procedimento de obtenção de material biológico se obtiveram vários tipos de amostras, estas devem ser atribuídas ao mesmo anatomopatologista, para uma melhor gestão desse material e evitar, assim, duplicação de processos7.A celularidade da neoplasia considerada adequada para pesquisas em Biologia Molecular deve ser superior a 20% da celularidade total da amostra, independente-

mente das especificidades de cada método. Para além do que foi referido, quando a pesquisa de alterações genéticas é feita por FISH, são necessárias pelo menos 100 células neoplásicas viáveis. Como já referido, a observação da amostra e a seleção da área com as características acima indicadas deve ser feita por um anatomopatologista3, 7.Para além das neoplasias com componente de adenocarcinoma (incluindo o carcinoma adenoescamo-so) podem ser testadas outras neoplasias quando os dados clínicos indiciarem uma alta probabilidade da presença de uma mutação para a qual haja uma terapêutica dirigida24.

Os diferentes métodos de análise (imunohistoquímica, PCR, FISH e NGS) devem ser validados antes de serem disponibilizados. A acuidade dos resultados obtidos deve ser comparada com a obtida por outros métodos já previamente validados, e, externamente, com resultados de outros laboratórios, onde esse método esteja também previamente validado. A validação deve ser feita periodicamente assim como a verificação da especificidade e sensibilidade de cada método, com recurso a amostras com genótipo previamente conhecido 4.É importante o laboratório ter uma base de dados organizada como instrumento interno de controle de qualidade, o que permite verificar se as taxas de positividade observadas são as esperadas para a população de doentes testada e se estão de acordo com os dados epidemiológicos conhecidos.

É também importante a participação regular em programas externos de avaliação de qualidade, quer no que se refere à imunohistoquímica quer no que se refere ao PCR e FISH, com o fim de se obter um alto nível de acuidade diagnóstica e de reprodutibilidade entre os diferentes laboratórios.

E) BIÓPSIAS LÍQUIDASEmbora as amostras de tecido tumoral continuem a ser o “gold-standard” para genotipagem do tumor, fragmentos de DNA circulante ou céulas tumorais podem ser detectados nos líquidos corporais, incluindo o sangue periférico, fazendo da biópsia líquida uma opção para teste molecular em carcinomas avançados30,

31. A CAP/ IASLC/AMP e a ASCO recomendam que quando o tecido é limitado e/ou insuficiente para testes moleculares, a biópsia líquida pode ser usada para identificar mutações de EGFR4,30,31 e particularmente em contexto de progressão pode ser o método de eleição para a determinação da mutação EGFR T790M. Adicionalmente, o NCCN recomenda que a biópsia líquida possa ser usada se o paciente não tiver condições para uma abordagem invasiva para obtenção de tecido tumoral, embora a utilização de biópsia líquida não deva ser utilizada por rotina como substituto de amostra de tecido tumoral para diagnóstico. No entanto, é importante ressaltar que as orientações da NCCN30 não endossam técnicas específicas para avaliação de biomarcadores em biópsia líquida.

TEMPO DE RESPOSTA CONSIDERADO ADEQUADO PARA A EMISSÃO DO RELATÓRIO FINALA emissão do relatório final deve ser feita em 10 dias úteis, desde a entrada da amostra no laboratório até à emissão da informação final, independentemente do método de análise que é utilizado (PCR, FISH, Imunohistoquímica ou NGS) ou do algoritmo adotado (pesquisa sequencial versus pesquisa simultânea). Este é o tempo de resposta considerado adequado para o relatório final, que inclui o diagnóstico e os resultados referentes a estes biomarcadores com valor preditivo para a terapêutica com inibidores da tirosina quinase4, 32.