recital de poesia - 7.º d

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RECITAL D DE POESIA 7.º D Poemas selecionados

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Poemas selecionados pelos alunos para o recital de poesia

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RECITAL DE POESIA

RECITAL DE POESIA

7.º D

Poemas

selecionados

BeijoBeijoBeijoBeijo

Beijo na face Pede-se e dá-se: Dá? Que custa um beijo? Não tenha pejo: Vá! Um beijo é culpa, Que se desculpa: Dá? A borboleta Beija a violeta: Vá!

Um beijo é graça, Que a mais não passa: Dá? Teme que a tente? É inocente... Vá!

Guardo segredo, Não tenha medo... Vê? Dê-me um beijinho, Dê de mansinho, Dê!

Como ele é doce! Como ele trouxe, Flor, Paz a meu seio! Saciar-me veio, Amor!

Saciar-me? louco... Um é tão pouco, Flor! Deixa, concede Que eu mate a sede, Amor!

RECITAL DE POESIA

7.º DPoemas selecionados

Talvez te leve O vento em breve, Flor! A vida foge, A vida é hoje, Amor!

Guardo segredo, Não tenhas medo Pois! Um mais na face, E a mais não passe! Dois... Oh! dois? piedade! Coisas tão boas... Vês? Quantas pessoas Tem a Trindade? Três!

Três é a conta Certinho, e justa... Vês? E que te custa? Não sejas tonta! Três!

Três, sim: não cuides Que te desgraças: Vês? Três são as Graças, Três as Virtudes; Três. As folhas santas Que o lírio fecham, Vês? E não o deixam Manchar, são... quantas?Três!

João de Deus

RECITAL DE POESIA

7.º D Poemas selecionados

Manchar, são... quantas?

João de Deus

BichoBichoBichoBicho----dodododo matomatomatomato

Declaro que o arganaz

Não é nada mau rapaz;

Mas gosta de se esconder quando não quer conviver.

Às vezes, põe-se a falar,

Mas nunca faz alarido:

Prefere a calma do lar

E passar despercebido.

Tem um bom amigo, o rato,

Com quem partilha avelãs

Em radiosas manhãs,

bem escondidos no mato

No Outono, os cogumelos

São colhidos numa cesta,

E faz questão de comê

Antes de dormira sesta.

No Inverno é escondido

Na toca que está seguro:

Não se expõe, não corre perigo,

Ninguém o topa no escuro.

Quem quiser com ele falar

Terá muito que esperar…

RECITAL DE POESIA

7.º DPoemas selecionados

matomatomatomato

Declaro que o arganaz

Não é nada mau rapaz;

Mas gosta de se esconder quando não quer conviver.

se a falar,

Mas nunca faz alarido:

Prefere a calma do lar

E passar despercebido.

Tem um bom amigo, o rato,

partilha avelãs

Em radiosas manhãs,

bem escondidos no mato

No Outono, os cogumelos

São colhidos numa cesta,

E faz questão de comê-los

Antes de dormira sesta.

No Inverno é escondido

Na toca que está seguro:

Não se expõe, não corre perigo,

no escuro.

Quem quiser com ele falar

Terá muito que esperar…

GONZALEZ, Maria Teresa MaiaQuase adolescente

2005.

RECITAL DE POESIA

7.º D Poemas selecionados

Maria Teresa Maia –

Quase adolescente. Lisboa : Verbo,

CantigaCantigaCantigaCantiga dasdasdasdas

Agora tenho vagar

vou contar umas mentiras:

já pelo mar andei às lebres,

e pelos campos às enguias.

Eu sou um triste ninguém

sempre a saltar pelo caminho

nas garrafas levo pão

nos alforges trago vinho.

Botei com os bois às costas

pus o arado a pastar

sentei-me para correr

deitei-me para os agarrar.

Fui ao figueiral às peras

todo me enchi de pinhões.

Veio o dono das castanhas:

-Ó ladrão, larga os feijões.

Eu vi dois ratos lavrando

a puxar pelo arado

um grilo muito engraçado

ia atrás deles piando.

Com um cão um corridinho

eu vi uma cabra dançando.

Vi um lobo beber vinho

com uma ovelha namorando.

Vi um coelho fadista

a tocar numa guitarra.

Ouvi uma grande artista

que se chamava cigarra.

RECITAL DE POESIA

7.º DPoemas selecionados

mentirasmentirasmentirasmentiras

vou contar umas mentiras:

já pelo mar andei às lebres,

e pelos campos às enguias.

Eu sou um triste ninguém

sempre a saltar pelo caminho

nas garrafas levo pão

nos alforges trago vinho.

Botei com os bois às costas

pus o arado a pastar

me para correr

me para os agarrar.

peras

todo me enchi de pinhões.

Veio o dono das castanhas:

Ó ladrão, larga os feijões.

Eu vi dois ratos lavrando

grilo muito engraçado

ia atrás deles piando.

Com um cão um corridinho

eu vi uma cabra dançando.

Vi um lobo beber vinho

com uma ovelha namorando.

Vi um coelho fadista

a tocar numa guitarra.

Ouvi uma grande artista

que se chamava cigarra.

Vi um morcego com pernas

vi uma lebre fardada

vi as rolas no cinema

vi um tordo na tourada.

Com uma grande barriga

vi um leão bater sola.

Nas costas de uma formiga

já vi um jogo da bola.

Tenho catarro nas unhas

dor de estômago nas orelhas

já me doem os joelhos

de coçar as sobrancelhas.

VIEIRA, Alice

: antologia da poesia popular

portuguesa. 5ª ed.. Lisboa : Caminho,

2002.

RECITAL DE POESIA

7.º D Poemas selecionados

go com pernas

vi uma lebre fardada

vi as rolas no cinema

vi um tordo na tourada.

Com uma grande barriga

vi um leão bater sola.

Nas costas de uma formiga

já vi um jogo da bola.

Tenho catarro nas unhas

dor de estômago nas orelhas

já me doem os joelhos

ancelhas.

- Eu bem vi nascer o sol

: antologia da poesia popular

portuguesa. 5ª ed.. Lisboa : Caminho,

Coitado do gato de louça,

pousado na mesa redonda,

sobre um paninho de

Não há quem lhe fale.

Não há quem o ouça.

Nunca se mexeu,

nem quando as moscas

lhe pousavam no nariz.

Nunca ninguém o ouviu

Testemunha silenciosa

da vida no corredor,

o gato de louça viu tudo

o que ali fizemos em

e não disse nada a ninguém.

Ora bem, tanto ele olhou

para o mesmo sítio, tanto

que um dia viu o que

uma bela alma redonda

Era a alma de um gato

que tinha acabado de

A alma ainda não sabia

o que tinha acontecido

e andava à procura do

o gato de louça não podia

para a agarrar, mas contou

As almas são fáceis de

porque não têm ponta

Ninguém sabia, mas quando

e toda a gente dormia,

o gato de louça saltava,

tugia, caçava.

Depois descansava na

sobre um paninho de

a meio do corredor.

E adormecia, sonhava.

Tanto andou que um

em mil pedaços que deitamos

Lá dentro estavam os

que saíram a voar pela

e uma alma de gato em

que também foi à vida

Coitado do gato de louça,

que não morreu nem

Não há quem o lembre.

Quem é que o chora?

O l

O l

O l

O lgato d

e louça

gato d

e louça

gato d

e louça

gato d

e louça

RECITAL DE POESIA

7.º DPoemas selecionados

louça,

redonda,

renda.

fale.

moscas

nariz.

ouviu miar.

silenciosa

tudo

segredo

ninguém.

olhou

tanto insistiu,

lhe faltava:

redonda que passava.

gato verdadeiro

de morrer.

sabia

acontecido

do gato dela.

podia saltar

contou-lhe uma história.

de enganar

ponta de maldade.

quando a noite caía

dormia,

saltava, corria,

na mesa redonda,

renda,

sonhava.

dia se partiu

deitamos fora.

os segredos da casa,

pela janela,

em muito bom estado

vida dela.

louça,

se foi embora.

lembre.

MAGALHÃES, Álvaropalavras e outros poemas. 4ª ed..

Porto :

RECITAL DE POESIA

7.º D Poemas selecionados

MAGALHÃES, Álvaro - O limpa-

palavras e outros poemas. 4ª ed..

Porto : Asa, 2007.

Limpo palavras.

Recolho-as à noite, por

a palavra bosque, a palavra

Trato delas durante o

enquanto sonho acordado.

A palavra solidão faz-

Quase todas as palavras

precisam de ser limpas

a palavra céu, a palavra

Algumas têm mesmo

é preciso raspar-lhes

e do mau uso.

Muitas chegam doentes,

outras simplesmente

dobradas pelo peso das

que trazem às costas.

A palavra pedra pesa

A palavra rosa espalha

A palavra árvore tem

Podes descansar à sombra

A palavra gato espeta

A palavra pássaro abre

A palavra coração não

Ouve-se a palavra canção.

A palavra vento levanta

é preciso fechá-la na

No fim de tudo voltam

e vão para longe,

leves palavras voadoras

sem nada que as prenda

outra vez nascidas pela

a palavra estrela, a palavra

A palavra obrigado agradece

As outras não.

A palavra adeus despede

As outras já lá vão, belas

e lavadas como seixos

a palavra ciúme, a palavra

Vão à procura de quem

de mais palavras e de

Basta estenderes a mão

para apanhares a palavra

Limpo palavras.

A palavra búzio, a palavra

Recolho-as à noite, trato

A palavra fogão cozinha

A palavra brisa refresca

A palavra solidão faz-

O limpa

O limpa

O limpa

O limpa-- -- palavras

palavras

palavras

palavras

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7.º DPoemas selecionados

por todo o lado:

palavra casa, a palavra flor.

o dia

acordado.

-me companhia.

palavras

limpas e acariciadas:

palavra nuvem, a palavra mar.

de ser lavadas,

a sujidade dos dias

doentes,

gastas, estafadas,

das coisas

costas.

como uma pedra.

espalha o perfume no ar.

folhas, ramos altos.

sombra dela.

espeta as unhas no tapete.

abre as asas para voar.

não para de bater.

canção.

levanta os papéis no ar e

arrecadação.

voltam os olhos para a luz

voadoras

prenda à terra,

pela minha mão:

palavra ilha, a palavra pão.

agradece-me.

despede-se.

belas palavras lisas

seixos do rio:

palavra raiva, a palavra frio.

quem as queira dizer,

de novos sentidos.

mão

palavra barco ou a palavra amor.

palavra lua, a palavra palavra.

trato delas durante o dia.

cozinha o meu jantar.

refresca-me. -me companhia.

MAGALHÃES, Álvaropalavras e outros poemas. 4ª ed..

Porto : Asa, 2007.

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7.º D Poemas selecionados

MAGALHÃES, Álvaro - O limpa-

palavras e outros poemas. 4ª ed..

Porto : Asa, 2007.

Os treze anos

Já tenho treze anos, que os fiz por Janeiro: madrinha, casai-me com Pedro Gaiteiro. Já sou mulherzinha; já trago sombreiro, já bailo ao Domingo com as mais no terreiro. Já não sou Anita, como era primeiro; sou a Senhora Ana, que mora no outeiro. Nos serões já canto, nas feiras já feiro, já não me dá beijos qualquer passageiro. Quando levo as patas, e as deito ao ribeiro, olho tudo à roda, de cima do outeiro. E só se não vejo ninguém pelo arneiro, me banho co’as patas Ao pé do salgueiro. Miro-me nas águas, rostinho trigueiro, que mata de amores a muito vaqueiro. Miro-me, olhos pretos e um riso fagueiro, que diz a cantiga que são cativeiro. Em tudo, madrinha, já por derradeiro me vejo mui outra da que era primeiro. O meu gibão largo de arminho e cordeiro, já o dei à neta do Brás cabaneiro,

RECITAL DE POESIA

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dizendo-lhe: "Toma gibão domingueiro, de ilhoses de prata, de arminho e cordeiro. "A mim já me aperta, e a ti te é laceiro; tu brincas co’as outras e eu danço em terreiro." Já sou mulherzinha; já trago sombreiro, já tenho treze anos, que os fiz por Janeiro. Já não sou Anita, sou a Ana do outeiro; madrinha, casai-me com Pedro Gaiteiro. Não quero o sargento, que é muito guerreiro, de barbas mui feras e olhar sobranceiro. O mineiro é velho; não quero o mineiro: Mais valem treze anos que todo o dinheiro. Tão-pouco me agrado do pobre moleiro, que vive na azenha como um prisioneiro. Marido pretendo de humor galhofeiro, que viva por festas, que brilhe em terreiro;

Que em ele assomando co’o tamborileiro, logo se alvorote o lugar inteiro. Que todos acorram por vê-lo primeiro, e todas perguntem se ainda é solteiro. E eu sempre com ele, romeira e romeiro, vivendo de bodas, bailando ao pandeiro. Ai, vida de gostos! ai, céu verdadeiro! ai, Páscoa florida, que dura ano inteiro! Da parte, madrinha, de Deus vos requeiro: Casai-me hoje mesmo com Pedro Gaiteiro.

António Feliciano de Castilho, em:

PUPO, Inês, ed. lit.iniciação à poesia em língua

portuguesa. 3.ª ed. Lisboa : Caminho,

imp. 2009.

RECITAL DE POESIA

7.º D Poemas selecionados

Que em ele assomando co’o tamborileiro, logo se alvorote o lugar inteiro.

Que todos acorram lo primeiro,

e todas perguntem se ainda é solteiro.

E eu sempre com ele, e romeiro,

vivendo de bodas, bailando ao pandeiro.

Ai, vida de gostos! ai, céu verdadeiro! ai, Páscoa florida, que dura ano inteiro!

Da parte, madrinha, de Deus vos requeiro:

me hoje mesmo com Pedro Gaiteiro.

António Feliciano de Castilho, em:

PUPO, Inês, ed. lit. - 101 poetas :

iniciação à poesia em língua

portuguesa. 3.ª ed. Lisboa : Caminho,

imp. 2009.

OOOO velhovelhovelhovelho avarentoavarentoavarentoavarento

Levando um velho avarentoUma pedrada num olho,Pôs-se-lhe no mesmo instanteTamanho como um repolho. Certo doutor, não das dúzias,Mas sim médico perfeito,Dez moedas lhe pediaPara o livrar do defeito. "Dez moedas! (diz o avaro)Meu sangue não desperdiço:Dez moedas por um olho!O outro dou eu por isso."

RECITAL DE POESIA

7.º DPoemas selecionados

avarentoavarentoavarentoavarento

Levando um velho avarento Uma pedrada num olho,

lhe no mesmo instante Tamanho como um repolho.

Certo doutor, não das dúzias, Mas sim médico perfeito, Dez moedas lhe pedia Para o livrar do defeito.

"Dez moedas! (diz o avaro) Meu sangue não desperdiço: Dez moedas por um olho! O outro dou eu por isso."

Bocabe, em:

PUPO, Inês, ed. lit.iniciação à poesia em língua

portuguesa. 3.ª ed. Lisboa : Caminho,

imp. 2009.

RECITAL DE POESIA

7.º D Poemas selecionados

, em:

PUPO, Inês, ed. lit. - 101 poetas :

iniciação à poesia em língua

portuguesa. 3.ª ed. Lisboa : Caminho,

PoemasPoemasPoemasPoemas paraparaparapara

No comboio descendente

Vinha tudo à gargalhada.

Uns por verem rir os outros

E outros sem ser por nada

No comboio descendente

De Queluz à Cruz Quebrada...

No comboio descendente

Vinham todos à janela

Uns calados para os outros

E outros a dar-lhes trela

No comboio descendente

De Cruz Quebrada a Palmela...

No comboio descendente

Mas que grande reinação!

Uns dormindo, outros com sono,

E outros nem sim nem não

No comboio descendente

De Palmela a Portimão

RECITAL DE POESIA

7.º DPoemas selecionados

paraparaparapara LiliLiliLiliLili

No comboio descendente

Vinha tudo à gargalhada.

Uns por verem rir os outros

E outros sem ser por nada

No comboio descendente

De Queluz à Cruz Quebrada...

No comboio descendente

Vinham todos à janela

Uns calados para os outros

lhes trela

No comboio descendente

De Cruz Quebrada a Palmela...

No comboio descendente

Mas que grande reinação!

Uns dormindo, outros com sono,

E outros nem sim nem não

No comboio descendente

De Palmela a Portimão.

Fernando Pessoa, em:

PUPO, Inês, ed. lit.iniciação à poesia em língua

portuguesa. 3.ª ed. Lisboa : Caminho,

imp. 2009.

RECITAL DE POESIA

7.º D Poemas selecionados

Fernando Pessoa, em:

PUPO, Inês, ed. lit. - 101 poetas :

iniciação à poesia em língua

portuguesa. 3.ª ed. Lisboa : Caminho,

TemaTemaTemaTema eeee variaçõesvariaçõesvariaçõesvariações Sonhei Ter SonhadQue Havia Sonhad Em Sonho LembreiDe um Sonho PassadoO de Ter SonhadoQue Estava Sonhand Sonhei Ter Sonhado..Ter Sonhado o quêQue Havia SonhadEstar Contigo Estar? Ter EstadoQue é Tempo Passado Um Sonho PresentUm Dia Sonhei. Chorei de RepentePois Vi, DespertandoQue Tinha Sonhado

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variaçõesvariaçõesvariaçõesvariações

Sonhei Ter Sonhado Que Havia Sonhado

Em Sonho Lembrei-me De um Sonho Passado:

o Que Estava Sonhando

Sonhei Ter Sonhado... Ter Sonhado o quê? Que Havia Sonhado

Estar? Ter Estado, Que é Tempo Passado.

Um Sonho Presente

epente, Pois Vi, Despertando, Que Tinha Sonhado.

Manuel Bandeira

PUPO, Inês, ed. lit.iniciação à poesia em língua

portuguesa. 3.ª ed. Lisboa : Caminho,

imp. 2009.

RECITAL DE POESIA

7.º D Poemas selecionados

Manuel Bandeira, em:

PUPO, Inês, ed. lit. - 101 poetas :

iniciação à poesia em língua

portuguesa. 3.ª ed. Lisboa : Caminho,