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Ecologia Marinha “Recifes de Coral” 1 Recifes de Coral

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Ecologia Marinha “Recifes de Coral”

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Recifes de Coral

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Ecologia Marinha “Recifes de Coral”

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RESUMO Os Corais ou antozoários são cnidários e uma das maravilhas do mundo submarino. São organismos com variadas características físicas como por exemplo, tamanhos, cores e formas variadas. Podem reproduzir-se sexuada ou assexuadamente, o que é uma grande vantagem para este tipo de organismo.

Os corais constituem colónias coloridas e de formas espantosas que crescem nos mares e podem formar recifes de grandes dimensões que albergam ecossistemas com uma biodiversidade e produtividade extraordinárias. Os recifes de coral abrigam cerca de 25% do total das espécies marinhas, incluindo 5000 espécies de peixes e 1000 espécies de corais.

Estes habitats estão para o ambiente marinho como as florestas tropicais estão para os ambientes terrestres, ou seja, os maiores centros de biodiversidade do planeta. Estes recifes são, de facto, um ecossistema, onde coabitam variadíssimas espécies de peixes, crustáceos, moluscos, vermes, etc. Os recifes e corais podem ser de três tipos (barreira, costeiros ou atóis) dependendo da forma como foram formados. O maior recife de coral vivo encontra-se na Grande Barreira de Coral, na costa da Queensland, Austrália. A maioria dos corais desenvolve-se em águas tropicais e subtropicais, mas podem encontrar-se pequenas colónias de coral em águas frias, como ao largo da Noruega.

No entanto, apesar da sua beleza e importância, não estão livres da destruição que, actualmente, é um problema constante. Esta destruição pode dever-se tanto a factores naturais, como antropogénicos. E este último é de longe o mais eficaz e destrutivo.

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Os recifes de coral são um dos ecossistemas mais ameaçados no mundo tal como as florestas tropicais húmidas na sua diversidade biológica, e fornecendo os principais benefícios económicos das pescas e do turismo, os ecossistemas dos recifes de coral têm interesse global. Os recifes fornecem, igualmente, muitas funções vitais, em países em vias de desenvolvimento. Recentemente, o ‘stress’ causado pelas actividades humanas – fontes de poluição de origem terrestre e práticas destrutivas pesqueiras, por exemplo – foram consideradas como sendo os principais perigos para a sustentabilidade dos recifes de coral. Estes ecossistemas têm sido afectados pela incidência e severidade crescentes do branqueamento do coral, um fenómeno associado a vários ‘stresses’, especialmente com o aumento das temperaturas das águas do mar. Cerca de 27% dos recifes de coral mundiais estão definitivamente perdidos, conforme o Global Coral Reef Monitorinng Network (GCRMN), uma rede de governos, organizações não-governamentais (ONGs), institutos e indivíduos que monitorizam a saúde dos recifes. É portanto nossa intenção, com este estudo, alertar para a importância destes organismos no ecossistema marinho e realçar, que a sua destruição só prejudica a qualidade dos nossos oceanos, com implicações directas nas nossas vidas. PALAVRAS-CHAVE: Coral, anémona, recife, extinção, branqueamento de corais, Filo Cnidaria

INTRODUÇÃO A finalidade deste trabalho é compreender os corais como organismos vivos e as suas diversas funções e características. Pretende-se, também, verificar os diversos factores que actualmente os colocam em risco e por fim, propor alguns métodos para a sua recuperação e restabelecimento, no ecossistema marinho.

Classificação Científica

Os recifes de corais mais antigos desenvolveram-se há cerca de dois biliões de anos, na era Precâmbrica. Estes recifes foram construídos por algas calcárias e não corais. [1]

Os corais, esponjas e as algas calcárias influenciaram o crescimento dos recifes no Paleozóico, há cerca de 245-570, milhões de anos. Durante

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esta era, as alterações naturais de clima levaram à diminuição dos recifes. [1]

Os “corais edifício” desenvolveram-se durante a era Mesozóica, há 65-245 milhões de anos atrás. Até aqui os corais desenvolviam-se a uma elevada taxa, até que no fim desta era, os corais desapareceram. [1]

Os “corais edifício”, responsáveis pela construção dos recifes no período Terciário, há 2-65 milhões de anos, eram semelhantes às espécies de corais de hoje. [1]

Os corais fazem parte do Filo Cnidaria, donde também fazem parte as anémonas, as hidras, as medusas e outros. A designação deste filo revela a sua natureza urticante. Este filo surge da divisão em dois filos da antiga categoria dos Celenterados, que incluía igualmente os seres do filo Ctenophora, muito semelhantes aos cnidários, pois apresentam duas camadas de células (que formam tecidos verdadeiros) separadas por uma mesogleia, bem como uma cavidade digestiva, ou gastrovascular, o único espaço interno. [1]

Cada indivíduo deste filo apresenta fibras musculares simples, simetria radial (o corpo é simétrico em volta dum eixo central), sem cabeça definida, usualmente possuem tentáculos em volta da boca e numerosas células urticantes contendo cápsulas cheias de substâncias tóxicas – nematocistos. [1]

Pertencem à Classe Anthozoa. Os corais são solitários ou vivem em colónias, que vivem fixos ao substrato. Das 6000 espécies conhecidas que pertencem a esta classe, os corais representam cerca de 2500 espécies. [1] Dentro desta classe, existem ainda três subclasses: Octocorallia, Zoantharia e Tabulata (colónias de corais extintos). Os pólipos pertencentes à subclasse Octocorallia, caracterizam-se por ter tentáculos que nascem para o lado. A maioria vive em colónias. Quanto à subclasse Zoantharia, os pólipos têm tentáculos em múltiplos de seis. Estes podem ser solitários ou coloniais. [1]

Características Físicas Um pólipo de coral é um saco tubular, onde a boca toma a posição central e é circundada por um anel de tentáculos. A ponta oposta aos tentáculos, chamada a base, está fixa ao substrato.

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Um coral pode ter tamanhos variados assim como formas, dependendo da espécie em causa. Os pólipos de coral podem medir de alguns milímetros até vários centímetros de diâmetro. Um dos maiores corais, Fungia (Figura 1), mais conhecido como o coral cogumelo, é um coral solitário e pode medir até 25 cm de diâmetro. [2]

Figura 1 – Fungia, (Fonte: Jellyfish)

Quanto à forma, temos corais em forma de disco, ramificados, massiços, em forma de colunas e em forma de folhas (Figura 2).

Figura 2 – Formas de corais (Fonte: MHHE) As colónias de pólipos de corais são muito mais pequenas e medem em média 1-3 mm de diâmetro. [1]

As colónias de corais também podem variar de tamanho. Alguns corais constituem colónias pequenas mas outros podem formar colónias com alguns metros de altura. As colónias de corais estrela, figura , atingem, em média, uma altura de 3 a 4 metros. [1]

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Figura 3 – Montastrea annularis (Fonte: University of Georgia)

Os corais tomam cores variadas. Este facto deve-se há existência de várias pigmentos nos seus tecidos que incluem as cores branco, vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta. [1]

Os tentáculos têm a função defensiva e de alimentação. Dependendo da subclasse a que pertencem, os corais possuem tentáculos em múltiplos de seis ou oito. É nos tentáculos que se localizam os nematocistos. Um nematocisto é uma estrutura de dupla parede, com uma linha dobrada em espiral que contém veneno. Possui um sensor minúsculo que se projecta para fora do nematocisto. Quando o sensor é estimulado, fisicamente ou quimicamente, a cápsula explode e o veneno é expelido. [1]

Os corais não têm cérebro mas possuem um sistema nervoso bastante simples chamado rede de nervos. Esta rede de nervos estende-se desde a boca até aos tentáculos. [1]

Os pólipos podem detectar certas substâncias como açucares e aminoácidos. Este sentido, que é semelhante aos nossos sentidos de cheiro e gosto, permitem aos corais detectar as suas presas. [1]

O esqueleto dos corais, pertencentes à subclasse Octocorallia, é interno. Contém espículas calcárias, que podem ser dispersas ou fundidas. É este esqueleto que dá aos corais a sua dureza e que os protege. O esqueleto interno pode também ser constituído por proteínas. [1]

Quanto aos “corais edifício”, já possuem um esqueleto externo constituído por carbonato de cálcio.

Alguns corais alimentam-se de zooplâncton ou peixes pequenos, normalmente durante a noite. Os produtos de excreção são eliminados pela boca. Outros alimentam-se de compostos orgânicos. Os corais que constroem os recifes possuem uma relação mutualista com o zooxanthellae (algas microscópicas que vivem nos tecidos dos pólipos de corais). É uma relação benéfica para ambos. [1]

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Através da fotossíntese, o zooxanthellae converte dióxido de carbono e água, em oxigénio e hidratos de carbono. Estes últimos são utilizados pelo coral como nutriente. O coral também utiliza o oxigénio para respirar e devolve o dióxido de carbono ao zooxanthellae. Com esta troca, os corais poupam energia que de outra forma, iria ser utilizado para eliminar o dióxido de carbono. [2]

Outros elementos, como o azoto e o fósforo são reciclados entre os corais e o zooxanthellae.

Estas algas microscópicas, zooxanthellae, também promovem a calcificação dos corais, através da remoção do dióxido de carbono durante a fotossíntese. Sob condições óptimas, esta calcificação constrói recifes mais rápido do que a possibilidade de ser erodido, por factores biológicos ou físicos. [2]

Figura 4 – Coral edifício (Fonte:MHHE)

Os corais competem por espaço no recife. Alguns corais segregam toxinas para eliminar invasores (outros corais ou não). Os “corais edifício” podem digerir outro coral que esteja a invadir o seu espaço no recife. [2]

Algumas espécies de Corais

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Figura 5 – Acropora robusta Figura 6 – Blastomussa merleti

(Fonte: Associação Juvenil de Ciência) (Fonte: Associação Juvenil de Ciência)

Figura 7 – Euphyllia divisia Figura 8 – Catalaphyllia jardinei (Fonte: Associação Juvenil de Ciência) (Fonte:

Associação Juvenil de Ciência)

Figura 9 – Caulastrea sp. Figura 10 – Cladiella sp. (Fonte: Associação Juvenil de Ciência) (Fonte:

Associação Juvenil de Ciência)

Reprodução

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Os corais podem reproduzir-se tanto de forma assexuada como sexuada. Um pólipo individual pode reproduzir-se das duas maneiras durante toda a sua vida.

Alguns corais podem ser hermafroditas.

A reprodução sincronizada pode ocorrer em muitos corais. Os pólipos libertam os ovos e o esperma ao mesmo tempo, na água. Este método possibilita a dispersão dos ovos numa área maior. Este tipo de reprodução depende de quatro factores como a época do ano, a temperatura da água e dos ciclos das marés e da lua. É um método bem sucedido quando existe pouca variação de marés. Quanto menor for a agitação da água sobre um recife maior a probabilidade do ovo ser fertilizado. Pelo menos, um terço dos “corais edifício” da Grande barreira de Corais utilizam este método de reprodução. [1]

A reprodução assexuada é caracterizada pela produção de um novo indivíduo a partir de uma parte do indivíduo inicial (mitose). A mitose proporciona aos pólipos replicar-se a ele próprio várias vezes. A reprodução assexuada ocorre, então, quando os fragmentos de coral se desligam da colónia mãe, geralmente devido ao impacto físico da acção das ondas ou da ondulação provocada pelas tempestades. Os fragmentos são muito vulneráveis aos danos físicos e podem facilmente perder a sua camada fina de tecido vivo se movimentados de encontro ao fundo, pelo movimento da água. Entretanto, se o fragmento se depositar num substrato apropriado, pode restabelecer-se e desenvolver uma nova colónia.

A reprodução sexuada pode ser com fertilização interna ou externa. Os ovos que foram fertilizados internamente são chocados pelo pólipo durante alguns dias. A fertilização externa ocorre enquanto os ovos estão à deriva na água. Após alguns dias os ovos fertilizados tornam-se larvas. [1]

As larvas são bem adaptadas à dispersão e, dependendo da espécie e das condições, podem semear no recife onde originaram, recifes próximos, ou recifes situados a centenas de quilómetros. A dispersão requer correntes oceânicas apropriadas para semear recifes que se encontram a favor da corrente, essencial para a manutenção da diversidade genética entre as populações de corais e recifes de coral. O recrutamento é o processo pelo qual os corais juvenis passam pelo estado larval e metamórfico para se tornarem parte da população adulta e da comunidade do recife. As larvas de coral estabelecem-se fora da coluna da água num substrato apropriado; a presença de substrato apropriado é crítica para o sucesso do recrutamento. Os locais para o bom desenvolvimento devem possuir as seguintes características:

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• Tipo de fundo estável – o substrato não deve ser composto por sedimentos soltos ou material não consolidado. • O movimento da água no local do desenvolvimento deve ser no mínimo calmo, embora sob determinadas condições e o movimento elevado da água pode incentivar o crescimento. • A salinidade deve estar acima dos 32 ‰ e abaixo dos 38–40 ‰. • É necessária fonte de luz para os zooxanthellae poderem fotossintetizar. • Uma sedimentação limitada na coluna da água (idealmente água transparente) para reduzir as possibilidades de asfixia e para a transmissão adequada da luz. • A ausência de macroalgas (algas grandes ao contrário das algas diminutas) que competiriam pelo espaço com os corais e impediriam o desenvolvimento das larvas.

Uma vez estabelecido, o coral tem que competir com outros organismos de rápido crescimento, tais como as algas e os invertebrados evitando a predação por peixes que se alimentam de corais.

Figura 11 e 12 - Libertação de esperma e ovos (Fonte:MHHE)

Habitat e sua distribuição

Podemos encontrar, em todos os oceanos do mundo, várias espécies de corais, desde os trópicos ás regiões polares.

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Figura 13 – Distribuição dos recifes de corais (Fonte:Coral Reefs)

Os “corais edifício” estão espalhados pelo Atlântico Oeste e pelo Indo-Pacífico, geralmente entre os 30 graus norte e os 30 graus sul, de latitude. [3]

As zonas do Atlântico Oeste onde se pode encontrar corais são as Bermudas, Bahamas, Caraíbas, Belize, Florida e Golfo do México. [3]

Apesar da maioria dos corais se encontrarem em águas onde a profundidade pode ir até aos 6000 metros, os “corais edifício” apenas se encontram em águas com uma profundidade não superior a 46 metros, onde a luz solar penetra, devido à relação que possuem com o zooxanthellae (já descrito em ponto anterior). [2]

Os corais crescem mais rápido em águas limpas e claras. Este tipo de água permite a entrada de luz solar para a realização da fotossíntese pelas algas macroscópicas (zooxanthellae) que vivem nos tecidos dos pólipos dos corais. [2]

Os “corais edifício” requerem águas quentes, entre os 20 e 28ºC. [2]

O desenvolvimento dos recifes é mais abundante em zonas onde o movimento das águas é maior, uma vez que arrasta alimento, nutrientes, dispersa as larvas de coral e evita a deposição de sedimentos no recife de coral. [2]

A precipitação do cálcio da água é necessário para formar o esqueleto dos pólipos de coral. Esta precipitação ocorre quando a temperatura e salinidade da água é elevada e a concentração de dióxido de carbono é baixa. Estas condições são típicas das águas quentes e pouco profundas dos trópicos. [1]

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O RECIFE DE CORAL

Os recifes são normalmente usados para definir os limites do ambiente marinho tropical. Embora se encontrem corais em todos os oceanos, desde as águas polares às tropicais, estes desenvolvem-se apenas nos trópicos. Os corais hermatípicos formam recifes e só se encontram nas regiões tropicais, ao contrário dos ahermatípicos, que não formam recifes e distribuem-se pelas zonas polares e temperadas.

Os corais que formam recifes, corais hermatípicos, não crescem em águas onde há sedimentos, porque o silte bloqueia a luz do sol de que as algas simbióticas dos corais necessitam para fotossintetizar energia. Para os corais formadores de recifes é muito difícil crescer em fundos lodosos e em águas de salinidade reduzida.

Os recifes são essencialmente depósitos maciços de carbonato do cálcio, que é produzido, na sua maioria, pelos corais e em menor quantidade por algas calcárias e outros organismos.

Antigamente pensava-se que os corais cresciam no fundo dos mares tropicais e que as gerações seguintes cresciam em cima daquelas. Esta teoria foi abandonada quando se descobriu, através de investigações, que os corais apenas de desenvolviam em águas pouco profundas. [1]

A teoria da formação de recifes de corais actualmente aceite é a teoria de Charles Darwin. Esta teoria admite três tipos de recifes de corais: os de barreira, os costeiros e os atóis. [1]

Os recifes de corais costeiros rodeiam as linhas de costa dos continentes. Este tipo de recifes é o mais comum e o mais simples. As costas rochosas dos continentes são as providenciam as melhores condições para a formação deste tipo de recifes. Também se desenvolvem em fundos macios que tenham apenas uma porção muito pequena de rocha. [2]

Assim que se instalam, começam a gerar o seu próprio substrato duro e o recife depressa se expande. Quando se localizam perto da costa, estão extremamente vulneráveis aos sedimentos que se podem depositar, à escorrência de água doce e também à acção do homem. Mas, nas condições certas, os recifes de corais costeiros podem ser impressionantes. Na verdade, o maior recife de corais no mundo não é a famosa Barreira de Recife na Austrália, mas sim o recife costeiro de 4000 quilómetros, ao longo do Mar Vermelho. A razão pela qual este recife está tão desenvolvido é o clima. É um clima seco e sem rios, que tragam sedimentos e água doce. [2]

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Figura 14 – Estrutura dum recife de coral costeiro (Fonte: Coral Reefs)

Dependendo do local, a costa pode ser íngreme e rochosa, com árvores ou com praia. O recife em si é liso no interior e inclinado no exterior. O “recife liso” (reef flat) é a parte mais larga do recife. É muitas vezes é exposto ao ar (devido a se situar a profundidades pequenas), durante a maré baixa e inclina-se muito suavemente em direcção ao mar. Sendo a parte mais próxima da costa, é a parte mais afectada pela deposição dos sedimentos e pela escorrência da água doce. Aqui existem alguns corais vivos mas muito poucos em comparação com o “recife inclinado” (reef slope). Este recife pode ser bastante inclinado, podendo mesmo ser vertical. É a parte do recife mais densamente povoada devido à distância a que está da costa e também ao movimento das correntes que inundam aquela zona com nutrientes e zooplâncton e arrastam os sedimentos dali. A “crista do recife” (reef crest) é a borda superior do recife. É mais luxuosa, uma vez que aqui o crescimento dos corais é mais abundante. [2]

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Os recifes de barreira são difíceis de distinguir dos costeiros, uma vez que se misturam. Este tipo de recife também se estende ao longo da costa, mas mais longe da costa do que os costeiros, ás vezes até 100 km de distância. Os recifes de barreira estão separados da costa por uma lagoa, relativamente profunda. Sendo assim, estão protegidos da maioria das ondas e correntes. À superfície podem desenvolver-se formações de corais dispersas, conhecidas como “patch reefs”. O recife de barreira consiste na “anterior inclinação do recife” (back reef slope), no “recife liso” (reef flat) e na “posterior inclinação do recife” (fore reef slope). [2]

Figura 15 – Estrutura de um recife de barreira (fonte: [2])

O crescimento mais abundante de corais localiza-se na “crista do recife” (reef crest).

O maior e mais famoso recife de barreira é a Grande Barreira de Recife, figura 16. Tem uma extensão de mais de 2000 quilómetros, ao longo da costa da Austrália, cobrindo uma área de 225000 km2. Actualmente a Grande Barreira de Recife não é um único recife de corais mas sim um sistema de mais de 2500 recifes pequenos, lagoas, canais e ilhas. [2]

Figura 16 – Grande Barreira de Recife, Austrália (fonte: [2])

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O maior recife de barreira nas Caraíbas situa-se na costa de Belize, na América Central. Outros dos maiores recifes de barreira situam-se na Florida, Nova Caledónia, Nova Guiné, e as ilhas Fiji no Pacífico, figura 17. [2]

Os atóis são anéis de recifes e muitas vezes, ilhas que rodeiam uma lagoa central. A maioria dos atóis situa-se na zona Oeste do Indo-Pacífico, isto é, no oceano Índico tropical e no oceano Pacífico ocidental. [2]

Os atóis são raros nas Caraíbas e no resto do oceano Atlântico tropical.

Figura 17 – Atol Fulanga, ilhas Fiji (Fonte: Rick Werneck)

Ao contrário dos recifes costeiros e de barreira, os atóis podem ser encontrados bastante distantes de terra, emergindo de profundidades de milhares de metros ou mais. Como estão distantes da terra, não são perturbados pela deposição dos sedimentos nem pela escorrência de água doce. [1] Banhados por água azul e pura do oceano, os atóis oferecem um crescimento de corais espectacular. [2]

Os atóis, figura 18, variam bastante de tamanho. Podem ir de anéis de menos de 1,5 km até anéis com 30 km de diâmetro. Os dois maiores atóis do mundo são Suvadiva, nas Maldivas e Kwajalein, nas Ilhas Marshall, no oceano Pacífico central. Estes atóis compreendem uma área com mais de 1200 km2 . [3]

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Figura 18 – Estrutura de um atol (fonte: [2])

As cristas dos atóis são muito influenciadas pelo vento e pelas ondas. Como a maioria dos atóis se localizam em zonas de mudança de ventos, o vento vem geralmente duma direcção consistente. Consequentemente o vento afecta várias partes do atol, em vários sentidos. [2] A lagoa é pouco profunda, com 60 m de profundidade, o fundo é rugoso, com muitas depressões e picos de corais. Alguns destes picos dos corais sobem quase até à superfície e podem formar mini-atóis. [1] As ilhas dos atóis são apenas depósitos de areia que foram construídos a partir da acumulação dos sedimentos dos corais. Estas ilhas são produtos do recife. [2]

Mas porque os atóis formam anéis? Este mistério foi resolvido por Charles Darwin em meados do século dezanove. Darwin explicou que um atol começa a desenvolver-se quando um vulcão no oceano entra em erupção e forma uma ilha vulcânica. Os corais depressa começam a colonizar as bordas da ilha formando recifes costeiros. Como os recifes costeiros, os corais desenvolvem-se vigorosamente nas zonas externas do recife, dando assim a possibilidade de alargar o recife. [2]

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Quando o nível do mar é baixo, os atóis podem ficar a descoberto provocando a morte dos corais e a erosão do recife por parte do vento e da chuva. Se o nível do mar subir rapidamente, o atol afunda-se sem hipóteses de sobreviver em águas profundas. Em ambos os casos, os corais voltam a colonizar o atol quando o nível do mar voltar ao normal. [2]

Da área total de recifes existente, 15% estão situados no oceano Atlântico, 53% no sudoeste Asiático, 19% no Pacífico e 9% no Mar Vermelho. No Atlântico, onde existem 10 atóis, do total de 300, e duas das 30 barreiras de recife, a grande maioria dos recifes localiza-se no Mar das Caraíbas. Entre os maiores sistemas recifais podem salientar-se os recifes barreira de Belize, Madagáscar, Fidji, Nova Caledónia e a grande barreira de recife da Austrália.

O RECIFE COMO ECOSSISTEMA O ecossistema do recife de coral é uma colecção variada de espécies que interagem umas com as outras e com o meio físico. O sol é a fonte primária de energia deste ecossistema. Através da fotossíntese, o fitoplâncton, as algas e outras plantas convertem a energia do sol em energia química. [1] Os animais comem as plantas e outros animais e assim a energia á transmitida dum nível trófico a outro nível trófico. [2]

Figura 19 – Ecossistema do recife de coral (Fonte:VESPER) Os recifes de corais são habitados por várias espécies. As esponjas fazem parte dos recifes de corais desde sempre. Este animal actua como abrigo para alguns peixes, camarões, caranguejos e outros animais de pequeno porte. As esponjas aparecem em várias cores e com várias formas. [4]

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Um parente chegado do coral é a anémona. As anémonas do recife Indo-Pacífico são conhecidas por estabelecerem relações simbióticas com os peixes-palhaço. Os tentáculos das anémonas são o refúgio deste peixe para os seus ovos. [1] O recife é também “a casa” de muitos vermes, como por exemplo, os poliquetas.

As estrelas-do-mar e os ouriços-do-mar também habitam o recife. A estrela-do-mar “coroa de picos”, figura 20, é um predador dos pólipos de corais. Podem devastar recifes, deixando para trás apenas os esqueletos. Em recifes mortos, que foram devastados por este tipo de estrela-do-mar, não existe praticamente alimento nenhum. Até as populações de peixes de águas profundas podem ser afectados por esta quebra na cadeia alimentar. [6]

Figura 20 – Coroa de picos (Fonte: MHHE)

Camarões, caranguejos, lagostas e outros crustáceos, procuram refúgio dos predadores em crateras ou entre os corais. Polvos, lulas, amêijoas e caracóis marinhos são exemplos de moluscos que vivem no recife ou perto deste. [1]

Os peixes desempenham um papel importante na cadeia alimentar do recife. Os desperdícios da sua alimentação servem de alimento para os outros habitantes do recife. [6

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Figura 21 – Chaetodon trifascialis (Fonte:Australian Museam)

Algumas espécies de tubarões e raias vivem perto ou até mesmo no recife. Outros nadam até lá para se alimentarem. Estas espécies de tubarões e raias alimentam-se de caranguejos, camarões, lulas, amêijoas e de peixes pequenos. [2]

As enguias são um dos maiores predadores do recife. Vivem em crateras existentes no recife e só saem à noite em busca de alimento. Têm dentes afiados e uma mandíbula poderosa e comem peixes

pequenos, polvos, camarões e caranguejos. [2]

Figura 22 – Rede alimentar do recife de corais (Fonte: Coral Reefs)

As comunidades de recifes de coral constituem, assim, um dos mais importantes ecossistemas no nosso planeta e têm como característica principal a sua produtividade extremamente elevada. Esta alta

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produção dos recifes de coral suporta a existência de densas comunidades de zoobentos (animais que vivem junto ao fundo) e de peixes. Os recifes também exportam matéria orgânica e nitrogénio para as zonas circundantes, aumentando a produtividade dessas águas. Constituem ainda, um importante local de reprodução e de crescimento juvenil para muitas espécies pelágicas de peixes (que vivem na coluna de água).

LONGEVIDADE E CAUSAS DE MORTE

Pouco se sabe acerca da longevidade dos corais. Em geral, podem durar décadas e até mesmo séculos.

Os corais têm alguns predadores como o peixe papagaio, o peixe borboleta e as estrelas do mar. Durante o estado larvar, os corais estão especialmente susceptíveis à predação. [1]

Mas, neste ponto, vamos dar mais ênfase à morte provocada por desastres naturais e pela acção do homem.

A poluição do oceano envenena os pólipos de corais. Esta poluição tem várias formas tais como, derrames de petróleo, pesticidas e outros químicos, metais pesados e lixo. [5]

Os esgotos não tratados introduzem nos ecossistemas costeiros nutrientes em demasia, que podem danificar os corais directamente, se as concentrações forem demasiado elevadas, ou tornar o ambiente desfavorável, promovendo a proliferação de phytoplankton, o qual reduz a quantidade de luz disponível, e de macroalgas que competem com os corais no espaço nos recifes. Ao contrário dos nutrientes, os contaminantes são geralmente tóxicos ou materiais bioreactivos produzidos pelo homem que não possuem fonte natural. Estão incluídos neste grupo os metais pesados, os pesticidas e os herbicidas, solventes, combustíveis e outros compostos. Estes materiais entram no ecossistema por variadas fontes e podem ser absorvidos pelos sedimentos. os efeitos da presença destes compostos são difíceis de provar devido ao seu possível efeito combinado. A desflorestação prejudica não só os ecossistemas terrestres mas também os aquáticos. Quanto as florestas tropicais são arrasadas para a agricultura ou para habitação, o solo deixa de ter protecção contra a precipitação e a água escorre para o mar.

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A deposição de sedimentos é também um problemas para os corais, visto interferir directamente com a alimentação dos pólipos, custando energia às colónias para os remover. No extremo, a deposição de materiais em tempos muito prolongados é fatal. Por outro lado, a deposição de sedimentos também inibe o estabelecimento de novas comunidades de corais, pois estes necessitam de superfícies estáveis para se desenvolverem. Tal como para os problemas acima referidos, a existência de materiais em suspensão vai diminuir a incidência de luz sobre os corais. [9] Outro problema que os corais enfrentam é o excesso de pesca. Para além de diminuir o stock de peixes que se alimentam dos parasitas dos corais, há uma grande incidência de actividades que danificam os corais. Na pesca, são utilizadas redes, âncoras, e uma grande variedade de objectos que podem ficar sobre os corais e que os danificam.

A pesca com dinamite (Indonésia), cianeto ou lixívia mata os recifes de corais. Entre 1986 e 1991, metade dos recifes de corais nas Filipinas foram destruídos por estes métodos de pesca.

Para além da pesca, também há muita procura por animais exóticos que depois são vendidos em lojas de animais.

A procura destes paraísos debaixo de água por mergulhadores também é uma causa de morte destes seres. Os mergulhadores sentam-se em cima dos corais, pegam neles, afectando os pólipos que são muito sensíveis. As âncoras dos barcos de recreio são outra causa da destruição dos corais.

As áreas mais afectadas situam-se na Florida, onde alguns recifes perderam 95 % dos corais desde 1975. Os cientistas temem que a maior parte desapareça dentro de 30 a 50 anos, facto muito preocupante, atendendo às suas funções de abrigo para uma grande variedade de espécies marinhas. Determinados medicamentos dependem da manutenção destes habitats, uma vez que são desenvolvidos com substâncias químicas encontradas em organismos que vivem nos corais, como por exemplo, o AZT ou zidovudina – o primeiro medicamento autorizado para o tratamento de pessoas infectadas com o vírus da sida – que tem na sua composição, substâncias químicas extraídas das esponjas que se encontram nos corais das Caraíbas. Alguns dos compostos químicos extraídos dos corais ajudam também ao tratamento de doenças cardiovasculares, úlceras, leucemia e cancro da pele.

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BRANQUEAMENTO DE CORAIS

Este caso encontra-se no topo das alterações nas comunidades coralinas actualmente, pelo que é lhe dado uma especial atenção:

A atmosfera e o oceano têm vindo a aquecer desde o final do século 19 e vai continuar a aquecer, devido ao aumento dos gases com efeito de estufa.

Os fenómenos El Niño Southern Oscilation (ENSO) têm aumentado de frequência e intensidade nas últimas décadas. Esta combinação, de aumento de temperatura e casos de El Niño, provocam o aumento da ocorrência de branqueamento dos corais. [2]

Figura 23- Distribuição do fenómeno de branqueamento no mundo (Fonte:IUCN)

O branqueamento descreve a perda da relação simbiótica que os corais têm com as algas (zooxanthellae) ou com outros hospedeiros dos quais dependem para obter parte do seu alimento. A maioria dos pigmentos dos corais coloridos depende da presença destas células de plantas. O tecido vivo dos corais sem as algas são translúcidos, e por isso o esqueleto feito de carbonato de cálcio é exposto, resultando no aparecimento do coral branqueado. [7]

O branqueamento dos corais é uma resposta ao stress que tanto pode ser induzido no campo ou no laboratório, por baixas ou altas temperaturas, luz intensa, variação de salinidade, e por outros factores físicos. [7]

O branqueamento é o caso extremo da variação natural das populações de algas que ocorrem em muitos corais.

Existem 3 tipos de mecanismos de branqueamento que estão associados a altas temperaturas ou luz: “animalstress bleaching”

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(branqueamento por stress animal), “algal-stress bleaching” (branqueamento por stress de algas) e “physiological bleaching”( branqueamento psicológico). Embora todos sejam importantes para compreensão da interacção dos corais com o clima, dois deles são particularmente importantes para os interesses actuais: “algal-stress bleaching”, sendo uma resposta aguda ao decréscimo da fotossíntese pelas temperaturas altas e luz intensa, e “physiological bleaching”, que reflecte a depleção das reservas, a redução do tecido e biomassa e a menor capacidade para estabelecer relações simbióticas com as algas. [9]

A temperatura limite para o branqueamento não é um valor absoluto, mas sim um valor relacionado com outros factores ambientais.

O branqueamento resultante dum stress térmico não é limitado a áreas que normalmente se registam temperaturas altas. Contudo, regiões onde é normal registarem-se temperaturas mais elevadas, parecem estar mais vulneráveis ao aumento do “physiological bleaching”. [7]

As maiores preocupações, resultante do branqueamento de corais, são a elevada mortalidade e a prolongada fraqueza dos sobreviventes com crescimento lento e taxas de reprodução baixas.

Corais em forma de ramos, com taxas de crescimento elevadas e camadas finas de tecido parecem ser mais sensíveis ao branqueamento, e geralmente morrem se estiverem demasiado branqueados. [9]

Corais com crescimento lento e camadas grossas de tecido parecem ser menos sensíveis e usualmente recuperam mais facilmente. [9]

O branqueamento é responsável pela remoção selectiva de espécies dos recifes e pode provocar alterações graves na distribuição geográfica das várias espécies de corais e estruturas comunitárias de recifes. [9]

O evento de branqueamento e mortalidade de coral sem precedentes de 1998, afectou grandes áreas de recifes de coral do Indo-Pacífico.

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Figuras 24 – Branqueamento de corais (Fonte:SCAFO e IUCN)

O declínio das comunidades coralinas, ao contrário das variações ou alterações, possui duas componentes: o dano inicial ou a mortalidade e a incapacidade do sistema para recuperar. Os recifes podem recuperar de stresses pontuais e adaptar-se a stresses crónicos, mas um coral que esteja sob um stress crónico vai ter muitas dificuldades em recuperar de um stress agudo.

RESILÊNCIA DO RECIFE DE CORAL

A resilência do recife de coral é definida como a capacidade de uma colónia individual, ou um sistema de recife (incluindo todos os seus habitantes), em amortecer os impactes do ambiente e manter o potencial para a recuperação e o seu desenvolvimento adicional. Os impactes negativos severos ou prolongados podem progressivamente reduzir a resilência a impactes subsequentes. Isto pode impedir a recuperação dos recifes de coral, que se segue à perturbação e pode conduzir a uma mudança do sistema dominado por coral para um sistema dominado por algas. A investigação sobre a resilência dos recifes e dos seus habitantes está ainda em decurso, e pouco se conhece sobre os índices de recuperação das populações de espécies, à excepção dos corais. Entretanto, um objectivo lógico para os gestores e autoridades normativas é o de empregar princípios básicos do uso sustentável e da gestão apropriada a fim de conservar a resilência. Estas, são medidas proactivas, para maximizar a recuperação depois da perturbação. A história das perturbações num recife contribui para a sua estrutura actual, uma vez que os recifes são ecossistemas naturalmente dinâmicos. Durante a recuperação, as espécies interagem e mudam os seus níveis de abundância e papéis dentro da estrutura da comunidade. Como resultado, os recifes podem evoluir em comunidades que são substancialmente diferentes daquelas existentes antes por exemplo do branqueamento, sem contudo deixarem de ser ecossistemas diversos e bem desenvolvidos. O retorno de um

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ecossistema de recife de coral ao estado funcional, após a mortalidade massiva devido ao branqueamento, dependerá da reprodução e da recolonização, bem sucedidas, dos restantes corais e dos corais de populações exteriores que servirão de fonte. Os corais reproduzem-se, como ja foi dito, tanto sexuadamente como assexuadamente. A reprodução sexual envolve a fertilização de ovos de coral pelo esperma para dar forma às larvas de natação livre. O insucesso na reprodução (como por exemplo, se todos os corais sexualmente maduros num recife morrerem devido ao branqueamento) e no recrutamento localizado retardará, provavelmente, a recuperação dos recifes severamente danificados. No entanto, o coberto de coral pode eventualmente ser restituído através da reprodução assexuada. Num recife, em que a maioria dos corais tenha morrido, mas que tenha mantido a sua estrutura, pode ainda fornecer um substrato estável e apropriado para coraais pequenos e fragmentos de coral se estabelecerem e crescerem. Assim, a manutenção de corais mortos é ainda importante. Os corais mortos são vulneráveis aos organismos perfuradores que enfraquecem a estrutura do recife. As ondas ou ondulações provocadas pelas tempestades podem causar grandes danos nos recifes que estão neste estado, transformando uma estrutura complexa, numa área de calhaus, inapropriada para o estabelecimento dos corais. Entretanto, as algas coralinas vermelhas podem ajudar a cimentar o recife, reduzindo a ruptura e fornecendo um substrato adequado à instalação de larvas. AS ALTERAÇÔES CLIMÀTICAS E OS RECIFES DE CORAL Há 200 milhões de anos atrás, os recifes adaptaram-se a numerosas mudanças; entretanto, durante a maior parte deste período, não existia nenhuma pressão humana. Os recifes encontram-se face a uma combinação de ameaças de exploração excessiva, de poluição e em especial, da mudança global do clima. Todas estas ameaças estão a aumentar, e as actividades humanas estão a causar a acelaração da mudança global do clima a níveis de taxas, que poderão tornar difícil a adaptação dos recifes de coral. A mudança global do clima trará consequências que se estimam ser as seguintes:

Subida do nível do mar A maioria dos recifes de coral sem stress, devem ser capazes de manter-se com a subida prevista do nível do mar, estimada em 50 cm para o ano de 2100 (Painel Intergovernamentalpara as Alterações Climáticas, 1995). Os recifes planos que são expostos em água rasa, que limita o seu crescimento ascendente, podem beneficiar-se de tal subida. Entretanto, os corais enfraquecidos pelo aumento da temperatura ou

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outros factores ilustrados nos pontos seguintes podem ser incapazes de crescer e construir os seus esqueletos em taxas ‘normais’. Se assim for, as ilhas que se encontram não muito acima do nível do mar, não terão por muito mais tempo, protecção da energia das ondas e ondulação provocada pelas tempestades, que os recifes de coral na sua proximidade fornecem actualmente. Isto é do interesse principal para as nações tais como, as Maldivas no Oceano Índico, e as ilhas Kiribati e Marshall no Oceano Pacífico, onde as zonas terrestres têm alturas médias, de menos de 3 metros acima do nível do mar.

Figura 25-Recifes de coral nas Ilhas Fiji. Alimentados por correntes ricas em nutrientes, estes locais albergam milhares de espécies, mas encontram-se ameaçados pela subida do nível do mar motivada pela fusão dos gelos. (Foto: WWF-Canon / Cat Holloway).

Aumento da temperatura No ano 2100, esperam-se aumentos de 1–2ºC na temperatura do mar. Muitas áreas nos trópicos, têm visto já um aumento de 0.5 ºC nas últimas duas décadas. Embora estas sejam aparentemente pequenas mudanças, indicam um aumento da probabilidade de que, durante os períodos mais quentes das flutuações sazonais normais, as temperaturas excederão os níveis de tolerância para a maioria das espécies de coral. Isto conduziria ao aumento da frequência do branqueamento. Um aumento na temperatura, pode significar que as áreas que se encontram actualmente fora da distribuição dos recifes de coral, tornar-se-ão apropriadas para o crescimento de coral, tendo como resultado uma mudança na distribuição geográfica das populações edificadoras do recife. Entretanto, será necessário algum tempo até que isto se confirme; e se se provar verdadeiro, outros factores ambientais em latitudes mais elevadas, poderão não ser conducentes para o crescimento do recife. Para além disso, as elevadas temperaturas afectam a sensibilidade das zooxanthellae, de tal forma que, a luz que é essencial para a fotossíntese causa danos nas células. Os corais podem então, tornar-se mais vulneráveis aos elevados níveis de radiação UV devido à redução da camada de ozono.

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Reduzidas taxas de calcificação

As emissões globais de gases de estufa, levantaram as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera e nos oceanos para um nível, que gradualmente poderá reduzir a capacidade dos recifes de coral de crescer através dos processos normais de calcificação. Alterações na concentração de CO2 na atmosfera vão induzir alterações na concentração do mesmo composto no mar, por processos de trocas gasosas entre os dois meios, alterando o pH e as concentrações de iões carbonato e bicarbonato. Muitos organismos utilizam estes iões para a produção dos seus esqueletos. A sua redução na concentração poderá afectar as taxas de deposição do esqueleto. Esta redução ria decerto afectar a maioria dos corais e algas calcárias nos recifes. [9]

Uma taxa de calcificação reduzida significa que os organismos extenderão mais lentamente os seus esqueletos e/ou formaçr esqueletos de reduzida densidade. Uma redução nas taxas de extensão significam uma redução na capacidade dos corais competirem com outros organismos pelo espaço. Uma reduzida densidade dos esqueletos o que os deixa mais vulneráveis à quebra ou bioerosão. Uma redução na precipitação de CaCO3 significará uma menor capacidade destes organismos para crescer e para deter a erosão. Estes factos já foram observados nas ilhas Galápagos. [9]Prevê-se que as taxas de calcificação possam ser reduzidas para uma estimativa de 14–30% no ano de 2050. Isto reduzirá a capacidade dos recifes de recuperar de eventos, como também, comprometer a sua capacidade de manter o ritmo com a subida do nível do mar e mudanças ecológicas.

Alterações nos padrões de circulação dos oceanos Se as mudanças nos padrões de circulação do oceano em grande escala se desenvolverem, poderiam alterar a dispersão e o transporte das larvas de coral. Isto poderá ter impactos no desenvolvimento e na distribuição dos recifes no mundo inteiro. Aumento da frequência de fenómenos extremos meteorológicos

As alterações dos padrões atmosféricos anuais, poderão resultar em mudanças na frequência e na intensidade das tempestades e dos ciclones, como também mudar os padrões de precipitação. O aumento das tempestades, poderá causar um aumento de danos não somente nos recifes de coral, como também nas comunidades costeiras. Se as tendências continuarem como previsto, o branqueamento do coral será uma característica regular, nos próximos 30–50 anos. O

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aumento da frequência de branqueamento irá forçar os corais a adaptarem-se. A adaptação pode ocorrer de duas maneiras: • A fisiologia dos corais poderá mudar para se tornar mais tolerante a temperaturas mais altas. • Poderá verificar-se uma mortalidade das populações ou espécies de corais e zooxanthellae que são incapazes de lidar com temperaturas mais altas – e estas espécies menos tolerantes irão desaparecer.

Métodos de Recuperação dos Corais

Com a crescente pressão exercida sobre os corais, torna-se imperativo o desenvolvimento de novas técnicas que permitam a estabilização e o crescimento das comunidades ameaçadas. É necessário, numa primeira fase, definir as zonas sensíveis de forma a proteger, ao abrigo de leis, as espécies que nelas habitam de forma a considerar os recifes de coral como sendo parte de um sistema. Proibindo certos impactes antropogénicos que danificam os corais, como a pesca por dinamite, a ancoragem de grandes veleiros, é possível que a pressão sobre estas espécies diminua o que permitirá a sua recuperação. Este capítulo foca sobretudo os métodos in situ que actualmente se utilizam para a reabilitação de corais danificados, bem como sua utilização para a proliferação de espécies de corais saudáveis.

O mundo científico só nos últimos cinco anos começou a estudar a ciência básica dos organismos de coral, devido sobretudo ao aumento exponencial da sua destruição nos últimos tempos. No entanto, a recuperação dos recifes e o complexo conjunto de factores que determinam a saúde dos recifes são, ainda, pouco compreendidos. Um ecossistema de coral é composto por 32 a 34 philos de animais, com graus de dependência elevados entre si, bem como nas condições climáticas e sazonais do seu ambiente. Para além disso, as alterações que poderiam acelerar o processo da sua recuperação e o aumento da sua saúde estão ainda por descobrir/testar.

Um dos pontos fundamentais para a recuperação destas comunidades é a estabilização dos sedimentos. Através de um suporte adequado é possível uma taxa de sobrevivência superior na altura da desova, permitindo que as espécies se fixem ao substrato. De facto estudos realizados em recifes de coral no “Komodo National Park” [10]

demonstram que a criação de estruturas estáveis de três dimensões são suficientes para provocar um aumento da taxa de recuperação dos referidos recifes, por vezes superiores a 20%. [10] O mesmo estudo referencia que existe uma competição entre os corais moles e os corais duros, pelo que locais em que foram retirados os primeiros, evidenciavam um maior desenvolvimento de corais duros. Mais estudos

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são necessários para determinar se os corais moles podem facilitar o estabelecimento de corais duros por estabilizarem os sedimentos.

O método actual usualmente utilizado para este fim baseia-se na introdução de objectos estranhos ao ambiente, normalmente feitos pelo homem, e deixar que naturalmente se tornem parte do ecossistema.

Tendo em conta estes princípios, a empresa “EcoReefs” desenvolveu um produto que serve de base para o desenvolvimento de recifes de coral utilizando estruturas de cerâmica. A cerâmica é um produto não tóxico, de pH neutro, ideal para o estabelecimento de corais e outros invertebrados. Possibilita, assim, a estabilização do substrato solto, a amenização das correntes, bem como abrigo para pequenos peixes, fornecendo a maior parte das condições físicas, biológicas e ecológicas para o desenvolvimento dos corais.

Figura 26 – Substrato desenvolvido pela EcoReefs para a recuperação recifes de coral. (Fonte:Coral Reff Rehabitation)

À semelhança de corais desenvolvidos, estas estruturas darão abrigo a grupos de peixes herbívoros que são essenciais para o desenvolvimento dos recifes, pois consomem as algas e corais moles que rapidamente se estabelecem na estrutura e que tomariam facilmente o lugar dos corais duros que compõem a maior parte dos recifes.

A taxa de recuperação natural de recifes de coral varia muito consoante as condições do meio. Por exemplo, zonas em que existam correntes bastante fortes, com arrastamento de sedimentos têm taxas de recuperação extremamente reduzidas, que podem facilmente ultrapassar os 100 anos. Com a utilização destas estruturas a taxa de recuperação aumenta muito significativamente, que se prolongam por apenas 7 a 15 anos. [12] De facto, numa zona da Indonésia, assolada

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pela pesca com dinamite em que áreas imensas de corais foram destruídas, verificou-se que apenas poucos meses do início das medidas de recuperação com estas estruturas estavam já estabelecidas diversas comunidades piscícolas. As larvas de corais começaram então a aparecer assim que a alga vermelha coralina se estabeleceu. Somente após dois anos pôde verificar-se o estabelecimento de diversas colónias de corais, suficientemente grandes para se verem a olho nu. [12]

Actualmente verificam-se outras técnicas que tentam recuperar as colónias de corais mas que utilizam materiais que, segundo os mais conservacionistas, são uma forma de poluição natural. Com o pretexto de recuperação dos recifes de coral verificam-se actualmente a introdução no meio marinho de materiais que resultam da construção civil, carros abandonados, antigos navios, pneus, aviões, até alguns resíduos industriais. Estes materiais, muito deles reactivos com o ambiente e com as espécies que se vão instalar e com o desenvolvimento natural destas comunidades, falham ao tentar aumentar a taxa de reprodução das comunidades coralinas. Pode considerar-se estes métodos como da 1ª geração de tentativas de recuperação.

Um dos artefactos mais utilizados para a recuperação de corais é a chamada “Reef Balls”, muito utilizadas ao largo da Ásia e dos Estados Unidos para tentar recuperar corais e para proporcionar novos locais para o mergulho. De facto estas actividades turísticas estão muito relacionadas com o esforço que se tem feito para tentar devolver aos corais o esplendor de outrora. De qualquer modo, estas estruturas circulares, feitas a partir de cimento, funcionam apenas como abrigo de peixes para os desportos subaquáticos do que propriamente de recuperação do ecossistema coralino.

Figura 27 – Reef Balls (Fonte:Mexico Beach Artificial Reff Association)

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Dificilmente estas estruturas suportarão a grande variedade de espécies que compõem um recife e nunca serão consideradas como parte do ecossistema marinho, tornando-se para sempre objectos exteriores ao meio. Pode considerar-se estas medidas como de 2ª geração de recifes artificiais.

Considerada a mais promissora das tecnologias hoje implementada para os recifes artificiais a “Mineral Accretion Technology” (MAT) é a 3ª geração destas medidas. Este método utiliza a electricidade para aumentar a taxa de crescimento e reprodução dos corais e outros organismos dos recifes.

São então colocadas no oceano duas estruturas metálicas, uma malha de alumínio que servirá como ânodo e uma estrutura de ferro que funcionará como o cátodo, ambas ligadas a painéis solares que completam o circuito eléctrico.

Como se utilizam baixas voltagens não existe qualquer perigo para os animais ou mergulhadores da zona. A electrólise existente perto do cátodo vai permitir a formação de carbonato de cálcio e hidróxido de magnésio. No meio natural as próprios corais teriam de realizar esta operação para formar estes compostos, o que vai originar num menor dispêndio de energia para o seu desenvolvimento. Esta energia pode então ser canalizada para outros processos biológicos, assistindo-se assim a um aumento muito significativo das taxas de reprodução e de crescimento destes seres vivos.

Numa primeira fase, é necessário acoplar pequenos espécimens do meio à estrutura metálica, utilizando-se normalmente pedaços de coral que já se apresente partido ou espécies isoladas que dificilmente teriam oportunidade de se fixarem. Estas espécies recolhidas facilmente se adaptam e se fixam a estrutura, devido à presença de carbonato de cálcio e hidróxido de magnésio. Ao mesmo tempo uma grande variedade de animais será positivamente afectada pelas alterações electroquímicas do meio que os rodeia. Espera-se um sucesso ainda maior quando grande parte dos países utilizarem este novo método, pois com a reprodução natural destes organismos muitos ovos são libertados nas correntes e terão mais hipóteses de se fixarem se existirem mais sistemas semelhantes implantados. Deste modo os organismos que se estabelecerem nestas condições estarão menos sujeitos a pressões e stress ambientais e, por isso, mais saudáveis. Na altura do grande aquecimento provocado pelo El Niño, assistiu-se a uma taxa de sobrevivência de 80% dos corais fixados pela MAT e apenas 10% nos recifes naturais.

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CONCLUSÃO

O calor, as águas límpidas, as suas cores espectaculares e a quantidade e variedade de seres vivos que aí vivem, cativam praticamente todas as pessoas que já viram um recife.

Os recifes de corais competem com as florestas tropicais na sua beleza, complexidade e riqueza. As florestas tropicais e os recifes de corais são muito semelhantes, uma vez que as suas estruturas físicas básicas, assentam nas comunidades de organismos que neles habitam.

Tanto os “corais edifício” (corais que constroem os recifes) quer as grandes árvores das florestas tropicais, originam uma estrutura tridimensional que é o habitat dos mais variados seres vivos.

Os recifes de corais não podem ser apenas considerados comunidades biológicas mas também comunidades geológicas, as maiores estruturas geológicas criadas por organismos. Os recifes no seu todo, entretanto, são ecossistemas duráveis, como evidencia o passado histórico-geológico. As principais perturbações no passado resultaram no desaparecimento de várias espécies de coral, mas outras sobreviveram e evoluíram transformando-se em novas espécies. As estruturas de corais fósseis são frequentemente visíveis em penhascos, por vezes, longe da costa. Os recifes submeteram-se, assim, a imensas mudanças em estrutura e composição com o passar do tempo, mantendo-se, no entanto, reconhecíveis como recifes. Neste momento estes organismos sofrem severos impactes da actividade humana pelo que são necessárias medidas eficazes para os proteger. Por outro lado, é necessário o desenvolvimento de outras tecnologias para a sua recuperação e estabelecimento saudável no ambiente marinho. A protecção dos recifes, incluindo aqueles que foram severamente danificados é agora crítica se os ecossistemas dos recifes tiverem uma possibilidade máxima da recuperação. Tal protecção, deve incluir a extinção dos impactes humanos. A evidência encorajadora dos estudos a longo prazo sugere que os recifes de coral possam recuperar dos impactes principais do branqueamento e de muitos dos danos sofridos, se os ‘stresses’ adicionais forem reduzidos ou removidos. A gestão cuidadosa do ambiente e a manutenção das melhores condições possíveis para suportar a recuperação dos recifes, será vital no futuro.

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A Conferência das Partes à Convenção sobre a Diversidade Biológica, na sua quinta reunião em Maio de 2000, decidiu integrar os ecossistemas dos recifes de coral no seu programa de trabalho sobre a diversidade biológica marinha e costeira. Incitou, igualmente, às Partes, outros Governos e grupos relevantes (como por exemplo a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) a implementar uma série de medidas de resposta ao fenómeno de branqueamento do coral, degradação física e destruição dos recifes de coral, incluindo a investigação, reforço institucional e a participação da comunidade. A União Internacional para a Natureza (IUCN) e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) estão a empreender um número de iniciativas que se relacionam com a gestão do recife de coral, ambos em áreas de estudo por todo mundo, e no foro da política ao nível regional e internacional. O programa de Degradação do Recife de Coral no Oceano Índico (CORDIO) (financiado pela Suécia, Finlândia, Países Baixos e pelo Banco Mundial) é um exemplo dos esforços realizados para a recolha da informação sobre as implicações biológicas e sócio-económicas do branqueamento massivo de coral, e produziu informação valiosa, muita da qual será usada para desenvolver intervenções de gestão. A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) está comprometida a ajudar as nações em vias de desenvolvimento a proteger as suas zonas costeiras e reconhece que a conservação e a utilização prudente dos recursos do recife de coral são críticas para o desenvolvimento económico sustentável. As consequências do desaparecimento dos corais podem ir desde o colapso dos recursos píscicolas a eles associados, ao empobrecimento da oferta turística e ao aumento dos prejuízos das tempestades nas zonas costeiras. Consequentemente, a gestão cuidadosa dos recifes – mesmo daqueles que foram danificados severamente – é de extrema mais valia, a favor da persistência destes sistemas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ecologia Marinha “Recifes de Coral”

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