reciclagem de gesso em canteiro de obras através de radiação infravermelha

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  • 7/24/2019 Reciclagem de Gesso Em Canteiro de Obras Atravs de Radiao Infravermelha

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    18Concurso Falco Bauer

    PROJETO: RECICLAGEM DE GESSO EM CANTEIRO DE OBRAS ATRAVS DE

    RADIAO INFRAVERMELHA

    1 Introduo

    A utilizao do gesso est cada vez mais disseminada na construo civil, pois o

    aglomerante caracteriza-se por ser um material alternativo de elevada qualidade e

    de baixo custo para ser aplicado em revestimentos internos de paredes.

    Devido rapidez de execuo, obtm-se elevada produtividade durante as

    operaes de aplicao, alm de um bom acabamento final, podendo ser aplicado o

    sistema de pintura com racionalizao, e at sem, a aplicao da massa corrida.

    Ocorre que, durante a fase de aplicao, existe grande gerao de resduo devido

    ao curto tempo de inicio de pega, mo de obra desqualificada e resduo incorporado.

    Estima-se que o ndice de desperdcio seja equivalente a 45% do volume total de

    gesso aplicado (Agopyan, 1998).

    Comparado com outros aglomerantes como a cal e o cimento portland, o gesso

    pode ser considerado um material de timo desempenho do ponto de vista

    ecolgico. Enquanto a cal e o cimento exigem temperaturas de calcinao

    superiores a 700C e 1400C, respectivamente, o gesso pode ser obtido sob

    temperaturas em torno de apenas 140C. Enquanto os dois primeiros aglomerantes,

    no seu processo de fabricao liberam CO2para a atmosfera, o gesso lana apenas

    vapor de gua.

    Apesar de todos estes benefcios, o resduo de gesso um grande problema para a

    sociedade como um todo, visto que sua disposio em aterros vem sendo cada vez

    mais dificultada e onerosa.

    O pagamento pelo transporte e disposio dos resduos de construo hoje prtica

    comum nas construtoras dos grandes centros. No so todos os aterros que aceitam

    resduos de gesso, o que aumenta o custo com a destinao. Na cidade de So

    Paulo, h cinco reas de Transbordo e Triagem (ATT) que aceitam esse tipo de

    resduo e posteriormente o destina (Figura 1).

    Por ser um material solvel em gua, o gesso deve ficar acondicionado em clulas

    isoladas no aterro, devendo ser coberto to logo acabe o depsito dos resduos na

    unidade para evitar a lixiviao do gesso e conseqente contaminao do lenol

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    fretico, evitar a formao de gs sulfdrico (H2S), que possui odor semelhante ao de

    ovo podre, sendo inflamvel e txico.

    Alm dessa destinao, algumas empresas usam o resduo de gesso para correo

    de solo na agricultura, mas necessitam de aceitam resduos provenientes da

    construo, que so adicionados a gipsita no ato da calcinao. O mesmo acontece

    com cimenteiras que recebem os resduos e os submete a nova calcinao. Aps o

    processo de reciclagem, o gesso adicionado ao clnquer durante sua moagem

    para controle de pega. Mas essas alternativas para disposio dos resduos

    possuem alguns limitadores, pois as cimenteiras exigem que o resduo tenha uma

    baixa concentrao, e absorvem apenas uma pequena parcela dos resduos de

    construo e demolio, suas unidades fabris so distantes dos centros geradores,necessitando de grandes transportes.

    Figura 1 reas de Transbordo e Triagem de Gesso na Cidade de So Paulo

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    18Concurso Falco Bauer

    Pela resoluo CONAMA 307/2002 o resduo de gesso era classificado como

    resduo classe C, ou seja, que no possua tecnologia economicamente vivel para

    reciclagem. Essa classificao foi alterada com a nova resoluo CONAMA

    431/2011 sendo agora classificado como classe B, que so os resduos reciclveis

    para outras destinaes.

    Afirmando essa nova classificao, foi desenvolvido um programa de pesquisa que

    visa encontrar uma alternativa para reciclagem dos resduos de gesso dentro do

    prprio canteiro de obras. Foram avaliados mtodos como fornos a gs, fornos de

    microondas, estufas eltricas e o uso de radiao infravermelha, tendo sido

    concludo que a ltima a mais eficaz para reciclagem dentro do canteiro de obras,

    por seu baixo investimento necessrio e pequeno risco de acidentes durante a suaoperao.

    O objetivo deste trabalho apresentar essas solues para reciclagem de gesso em

    canteiro de obra, visando: (i) diminuir o volume de gesso enviado para aterros; (ii)

    promover economia na compra de gesso novo e destinao do resduo; (iii) criar

    diferenciais competitivos sustentveis para as empresas construtoras; atravs de um

    mtodo simples, rpido, prtico, com baixos riscos de acidentes e vivel dentro do

    canteiro de obra.

    2 Memorial descritivo

    2.1 Reciclagem

    O processo de reciclagem encarado como mais complexo que o de produo a

    partir de matria virgem, pois a matria prima natural, a gipsita, abundante e

    relativamente barata.

    O gesso em contato com a gua inicia o processo de hidratao, essa reao

    transforma o hemidrato em di-hidrato, e pode ser descrita conforme equao a

    seguir: (CINCOTTO; AGOPYAN; FLORINDO, 1988)

    CaSO4.0,5H2O + 1,5 H2O CASO4.2H2O + Calor

    A reciclagem consiste na calcinao dos resduos, retirando a gua utilizada para

    hidratao, voltando ao estado de hemidrato. Abraho (2006) identificou que

    aquecendo os resduos por 30 minutos a uma temperatura de 140C o suficiente

    para se obter propriedades semelhantes da matria prima original.

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    Neste estudo pretende-se realizar a calcinao dos resduos utilizando lmpadas

    halgenas emissoras de radiao infravermelha com potencia de 1000W e que

    conseguem aquecer uma partcula slida at 200C, e mais facilmente utilizado

    nos canteiros de obras.

    2.2 Etapa Laboratorial

    Foram coletadas amostras de resduos em obra que passaram por processo de

    moagem em moinhos de bolas, peneiramento conforme ensaios de granulometria

    normatizados pela NBR 7181/84.

    Para estudar a melhor maneira de reciclagem atravs da radiao infravermelha

    foram fixadas trs amostras de resduo modo retido nas peneiras com abertura de

    0,15mm, 0,30mm e 0,60mm com granulometria de 0,60

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    Figura 2 Influncia da Altura da Lmpada

    Figura 3 Influncia da Granulometria

    Figura 4 Influncia da Espessura da Camada

    Aps definidas todas as variveis do processo de desidratao do gesso, foram

    moldados corpos de prova com o material proveniente da reciclagem adicionado a

    gesso puro, nas propores de 5%, 10%, 20% e 50% da massa de gesso puro. Os

    corpos de prova foram ensaiados conforme NBR 12129/91, estimando assim suas

    resistncias compresso, que foram comparadas com as resistncias dos corpos

    de prova moldados com pasta de gesso puro, verificando se atendiam ao quedetermina a NBR 13207/94, que so valores maiores que 8,4 MPa (Figura 5).

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    Figura 5 Resistncia dos Corpos de Prova a Compresso

    Com valores de resistncia acima do mnimo que exige a norma, comprovou-se que

    a reciclagem de gesso atravs da exposio radiao infravermelha possvel e

    poderia ser aplicada em escala piloto.

    2.3 Operao em Escala Piloto

    Como o objetivo era reciclar todo o volume de resduos gerados dentro do prprio

    canteiro de obras, foi desenvolvido um equipamento que se caracteriza por ser

    mvel, possuir baixo risco de acidentes durante sua operao, elevada velocidade

    de processamento dos resduos, uniformidade na secagem radiao

    infravermelha, e aquecimento satisfatrio tendo como parmetro a etapa laboratorial.

    O prottipo composto de moinho de martelo, cuja dimenso mxima das partculasna sada de 1,20 mm com uma passagem pela unidade de britagem e de 0,60mm

    aps duas passagens (figura 6), e uma correia transportadora por onde o resduo j

    modo sofrer incidncia da radiao infravermelha (figura 7). Por sobre a esteira

    ficam posicionadas as lmpadas halgenas de 1000W, eqidistantes 10 cm e a 10

    cm de altura da camada de resduos. O tempo de exposio radiao

    infravermelha de 20 minutos, permitindo assim que atinja a temperatura

    necessria para calcinao, sendo duas passagens de 10 minutos cada.

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    Esse mtodo de reciclagem e o equipamento esto devidamente registrados no

    Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) com o ttulo mtodo para

    reciclagem dos registros de gesso nos canteiros de obra (Maranho; Mauro, 2011)

    Por conta de sua dimenso reduzida, o equipamento pode ser transportado por

    elevadores cremalheira, e sendo assim, pode-se desenvolver uma metodologia tal

    que economize mo de obra para transportes horizontais e verticais do resduo,

    aumentando a produtividade da reciclagem.

    Figura 6 Curva granulomtrica do resduo aps moagens.

    Figura 7 Viso geral do equipamento

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    Para aproveitamento de todo o calor gerado pelas lmpadas, o fechamento superior

    da esteira feito por telas que permitem a passagem do calor, e por sobre a tela,

    so colocados recipientes com resduo para iniciar a desidratao (figura 8).

    Figura 8 Aproveitamento do calor para incio da desidratao

    Aps duas passagens pelo equipamento, o resduo j est pronto para ser

    adicionado ao gesso novo, na proporo de at 90% da massa total de gesso novo,

    e ser usado normalmente como material de revestimento. Possveis problemas com

    incio de pega acelerado podem ser corrigidos com aditivos retardadores de pega,

    no caso ser o cido Ctrico, na concentrao mxima de 0,05% em relao

    massa de p .Para verificao do desempenho da pasta de gesso com adio de gesso reciclado

    como revestimento de alvenarias e concretos, foram feitos ensaios de resistncia de

    aderncia trao, conforme NBR 13528/95, que comprovaram a eficcia do

    mtodo e desempenho do material (Figura 9).

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    Figura 9 Resistncia de aderncia a trao

    2.4 Viabilidade Econmica da Reciclagem no Canteiro de Obras

    A utilizao do equipamento s ser vivel se os custos de operao (mo de obra,

    energia eltrica, mobilizao, desmobilizao e etc.) forem inferiores aos custos de

    destinao correta dos resduos para aterros.

    Para o estudo da viabilidade econmica da utilizao do equipamento no local de

    gerao do resduo, foram coletados dados da obra piloto abrangendo compra demateriais, desperdcio, mo de obra de aplicao e destinao dos resduos. Com

    base nesses dados foi construdo o seguinte cenrio:

    20

    2/ 1.000

    2 20.000

    () $/ 0,4

    ( ) /2 6,2

    /2 3,8

    () / 38%

    () $/2 1,52

    () $/2 1,8

    + $/2 3,32

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    / 1.010,556

    /3 0,45

    3/ 11 3 4,5

    2.025

    ./ 2,5

    $/ 180

    $/ 80

    $/ 80

    $/ 0,25

    ( ) $ 80.000,00 $ 49.607,32

    $ 30.392,68

    $ 35.930,90

    $/2 7,32

    Por ter sido confeccionado apenas um equipamento prottipo, no se tm valores

    precisos do seu custo para comercializao. Os dados coletados em obra indicam

    que o consumo unitrio de energia de 0,30 KWh/kg de resduo processado o queresulta em um custo unitrio de R$ 0,10/Kg.

    Com base nos resultados da prototipagem, a rea necessria para o Pay-backdo

    investimento inicial varia em funo do custo inicial do equipamento. Para essa

    anlise foi considerada que a manuteno ao longo da vida til do equipamento

    equivale a 20% do valor inicial. O custo para fabricao do prottipo foi de R$

    25.000,00.

    Figura 10 rea de gesso necessria para Pay-back do equipamento

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    3 Inovao

    Apesar de algumas empresas j realizarem a reciclagem de gesso para outros fins

    que no a prpria utilizao como revestimento, so poucos os estudos que dizem

    respeito ao desempenho do gesso reciclado bem como de sua viabilidade

    econmica.

    O equipamento desenvolvido se mostrou uma eficiente alternativa para sua funo,

    autofinancivel e sua operao simples, rpida e barata.

    4 Modernizao do processo construtivo

    As diversas tentativas para se estabelecer um mtodo para reciclagem dos resduos

    de gesso nos canteiros de obras tm se mostrado inadequadas, visto que no esto

    conseguindo resolver a questo, e que ainda no h relatos da utilizao de

    radiao infravermelha para esse processo. A operao em escala piloto vem se

    mostrando eficaz e alcanando os resultados esperados.

    5 Reduo de Custos

    5.1 Reduo de Custos na Compra de Materiais

    Com a reciclagem dos resduos de gesso provenientes da prpria obra onde o

    equipamento operou, obteve-se reduo de 30% na compra de gesso, sendo este o

    teor utilizado em substituio de gesso novo por gesso reciclado.

    6 Reduo de desperdcio

    A reciclagem do gesso no cenrio apresentado proporcionou a reutilizao total doresduo gerado, tomando cuidado com a dosagem correta da pasta com adio de

    resduos, utilizando retardadores de pega que permitem um tempo maior de

    trabalhabilidade e evitando a contaminao dos resduos.

    Os custos com destinao de resduos de gesso foram eliminados.

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    7 Referncias

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS-ABNT. NBR 12127. Gesso

    para construo Determinao das propriedades fsicas do p. Rio de Janeiro,

    1991.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS-ABNT. NBR 12128. Gesso

    para construo Determinao das propriedades fsicas da pasta. Rio de

    Janeiro, 1991.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS-ABNT. NBR 12129. Gesso

    para construo Determinao das propriedades mecnicas.Rio de Janeiro,

    1991.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS-ABNT. NBR 13207. Gesso

    para construo civil. Rio de Janeiro, 1994.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS-ABNT. NBR 13528.

    Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgnicas Determinao

    da resistncia de aderncia trao Mtodo de ensaio. Rio de Janeiro, 1995.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS-ABNT. NBR 7181. Solo

    Anlise e granulometria. Rio de Janeiro, 1984.

    BERNHOEFT, L. F.. Caracterizao de propriedades fsica e mecnicas de

    argamassa com gesso reciclado. Dissertao apresentada ao Curso de Ps-

    graduao em Engenharia Civil, da Escola Politcnica de Pernambuco da

    Universidade de Pernambuco para obteno do ttulo de Mestre em Engenharia,

    Recife 2010.

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    JOHN, V. M.; ANTUNES, R. P. N.. Argamassa de gesso. Emprego de

    argamassas de gesso como revestimentos de alvenarias e estruturas de

    concreto, So Paulo, Maro 2002.

    JOHN, V. M.; CINCOTTO, M. A.. Alternativas da gesto de resduos de gesso.

    Contribuio para reformulao da Resoluo CONAMA 307, So Paulo, Julho

    2003.

    NITA, C.; PILEGGI, R. G.; CINCOTTO, M.A.; JOHN, V. M. Estudo da reciclagem

    do gesso de construo.Ambiente Construdo, Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 103-

    119, jan./mar. 2010.

    PEREIRA, A. G. M.; PRADO, M. M.; SARTORI, D. J. M.. Influncia da intensidade

    de radiao infravermelha na secagem do sistema semente-gel.VIII Congresso

    Brasileiro de Engenharia Qumica em Iniciao Cientfica, Uberlndia, Julho 2009.

    RIBEIRO, A. S.. Produo de gesso reciclado a partir de resduos oriundos da

    construo civil. Dissertao de Mestrado apresentada Universidade Federal da

    Paraba para obteno do grau de Mestre, Joo Pessoa, Maro 2006.

    TAVARES, Y. V. P.; JNIOR, A. C. L.; SCHIMTZ I. B. T. A.; JOHN, V.

    M..Reaproveitamento do resduo de gesso na execuo de revestimento

    interno de vedao vertical.Anais da I CONFERNCIA LATINOAMERICANA DE

    CONSTRUO SUSTENTVEL e X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA

    DO AMBIENTE CONSTRUDO, So Paulo, 2004.