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Página 1 Boletim 613/14 – Ano VI – 24/09/2014 Recessão industrial não é a mesma da economia Por Camilla Veras Mota e Tainara Machado | De São Paulo Desde janeiro, a produção do complexo da Ford em Camaçari, no litoral da Bahia, foi reduzida quase à metade. Os três turnos passaram a fabricar em média 600 automóveis por dia, de acordo com o presidente do sindicato dos metalúrgicos do município, Julio Bonfim. Apesar do recuo, reflexo do cenário mais restritivo e da readaptação que a unidade teve de fazer para começar a produzir um novo modelo, nenhum dos 4,5 mil trabalhadores da fábrica perdeu o emprego. Mais que isso, a convenção coletiva fechada em 2013 garantiu neste ano aumento real de 2,5% aos funcionários. O caso da montadora é exemplar diante da situação da economia brasileira neste ano. Emprego e renda têm se mantido, em certa medida, preservados, apesar da retração, por dois trimestres seguidos, do Produto Interno Bruto (PIB) - que caracteriza a "recessão técnica" - e da queda de 2,8% da produção industrial de janeiro a julho, na comparação com o mesmo intervalo de 2013. A questão, apontam especialistas, é que enquanto a economia brasileira pode estar passando por uma "recessão técnica" e vivendo problemas conjunturais, já não resta dúvida de que a crise na indústria é bem mais grave - e estrutural. As explicações para o momento atual são várias, mas no geral partem da ideia de que questões internas, como erros na condução da política econômica no pós-crise - principalmente a insistência em incentivar o consumo após um forte ciclo de expansão da demanda - resultaram em período de baixo crescimento. Para alguns, porém, o governo não fez mais do que adiar uma desaceleração que faz parte da flutuação dos ciclos econômicos, principalmente depois de anos de aumento do crédito, como se viu a partir de 2000. A tendência de valorização do câmbio, que predominou até 2011, levou a indústria a se concentrar no mercado interno, que passou a ser abastecido por volume crescente de importados. A dificuldade para concorrer com esses produtos ficou cada vez maior, mesmo com medidas de incentivo como crédito subsidiado e desoneração da folha de pagamentos. Para economistas ouvidos pelo Valor, se na economia brasileira não há uma crise de fato, os problemas enfrentados pela indústria são de outra magnitude e dificilmente serão superados sem mudanças profundas na estrutura produtiva.

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Boletim 613/14 – Ano VI – 24/09/2014

Recessão industrial não é a mesma da economia Por Camilla Veras Mota e Tainara Machado | De São Paulo Desde janeiro, a produção do complexo da Ford em Camaçari, no litoral da Bahia, foi reduzida quase à metade. Os três turnos passaram a fabricar em média 600 automóveis por dia, de acordo com o presidente do sindicato dos metalúrgicos do município, Julio Bonfim.

Apesar do recuo, reflexo do cenário mais restritivo e da readaptação que a unidade teve de fazer para começar a produzir um novo modelo, nenhum dos 4,5 mil trabalhadores da fábrica perdeu o emprego. Mais que isso, a convenção coletiva fechada em 2013 garantiu neste ano aumento real de 2,5% aos funcionários.

O caso da montadora é exemplar diante da situação da economia brasileira neste ano. Emprego e renda têm se mantido, em certa medida, preservados, apesar da retração, por dois trimestres seguidos, do Produto Interno Bruto (PIB) - que caracteriza a "recessão técnica" - e da queda de 2,8% da produção industrial de janeiro a julho, na comparação com o mesmo intervalo de 2013. A questão, apontam especialistas, é que enquanto a economia brasileira pode estar passando por uma "recessão técnica" e vivendo problemas conjunturais, já não resta dúvida de que a crise na indústria é bem mais grave - e estrutural.

As explicações para o momento atual são várias, mas no geral partem da ideia de que questões internas, como erros na condução da política econômica no pós-crise - principalmente a insistência em incentivar o consumo após um forte ciclo de expansão da demanda - resultaram em período de baixo crescimento. Para alguns, porém, o governo não fez mais do que adiar uma desaceleração que faz parte da flutuação dos ciclos econômicos, principalmente depois de anos de aumento do crédito, como se viu a partir de 2000.

A tendência de valorização do câmbio, que predominou até 2011, levou a indústria a se concentrar no mercado interno, que passou a ser abastecido por volume crescente de importados. A dificuldade para concorrer com esses produtos ficou cada vez maior, mesmo com medidas de incentivo como crédito subsidiado e desoneração da folha de pagamentos. Para economistas ouvidos pelo Valor , se na economia brasileira não há uma crise de fato, os problemas enfrentados pela indústria são de outra magnitude e dificilmente serão superados sem mudanças profundas na estrutura produtiva.

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"Crise" e "recessão", usados muitas vezes como sinônimos nas últimas semanas, não são termos coincidentes, ressalta o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) David Kupfer. Para ele, o país passa por um ajustamento típico de ciclos econômicos, cenário bastante diferente daquele vivido em anos de crise - 1982, 1987, 1990, 2003 -, quando havia uma "inconsistência" no quadro macroeconômico, porque uma das variáveis estava "completamente fora de controle".

A modesta variação do PIB no mandato de Dilma Rousseff é diferente do quadro observado em 2003, quando havia forte percepção de risco com a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diz Fabio Kanczuk, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP. Dessa vez, há evidências de que o Brasil passa pelo fim de um ciclo de expansão de crédito. Depois de um aumento significativo no saldo de concessão de empréstimos, que chegou a crescer 30%, consumidores e empresas, mais endividados,

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passaram a pressionar os índices de inadimplência. Como o consumo é bastante dependente de empréstimos, é natural que haja desaceleração enquanto ocorre esse processo de "digestão" das dívidas contratadas nos anos recentes, afirma.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos, também acredita que o Brasil passa pelo esgotamento de um período longo de crescimento econômico, impulsionado pela formalização do mercado de trabalho e alta expressiva da renda. O aumento da inflação, a perda de confiança dos empresários e a redução dos investimentos nos últimos três anos, afirma, foram resultado do uso, na tentativa de conter a desaceleração, dos mesmos "anabolizantes" usados por Lula em 2009 para fazer frente à recessão mundial (expansão do crédito e aumento do gasto do governo). O desemprego só não cresceu, segundo Mendonça de Barros, porque não houve redução do mercado consumidor, e sim diminuição no ritmo de aumento da demanda. "O mercado automobilístico, por exemplo, quase triplicou no período recente." Por isso, na maior parte dos casos, faz mais sentido colocar o pé no freio nas novas contratações do que reduzir o quadro de funcionários.

No caso da Ford em Camaçari, a empresa tentou negociar, em julho, cerca de 700 demissões na fábrica, ainda segundo o presidente do sindicato local. Os empregos só foram mantidos, de acordo com a entidade, porque havia vagas abertas em outros departamentos do complexo, para onde foram remanejados os funcionários.

Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria, critica as medidas de microgerenciamento da economia, que se tornaram um dos principais entraves à expansão do PIB nos últimos quatro anos. "Tivemos controle de preços, políticas verticalizadas que beneficiam um setor em detrimento do outro, o que termina por piorar a alocação de recursos e reduzir a produtividade", que caiu, em média, 0,6% ao ano ao longo do governo Dilma, afirma.

A política industrial e econômica, para Márcio Garcia, da PUC-Rio, não foi capaz de dar resposta efetiva ao crescente custo de produção nacional, com forte alta dos salários, sistema tributário complexo e poucos incentivos para o empreendedorismo. A indústria, que se voltou para o mercado interno, onde era mais competitiva, passou a enfrentar a concorrência dos importados e, posteriormente, a desaceleração da demanda interna.

As restrições enfrentadas pelo setor são estruturais, diz Kupfer, coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade da UFRJ. Para ele, o período de crescimento de 2004 a 2008, marcado pelo fôlego do consumo, "escondeu" as fraquezas que o segmento carrega há quase 30 anos. As diferentes políticas econômicas adotadas nesse período foram hostis especialmente aos ramos tradicionais - calçadista, têxtil, de móveis e alimentos e bebidas -, que representam 75% do total de empresas e 70% do volume de empregos do setor. Esse é um grupo formado por empresas menores, que geralmente têm dificuldade para tomar crédito e para se readaptar às baixas dos ciclos econômicos - como a atual.

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Mais do que incentivos pontuais, a indústria precisa internacionalizar seus processos produtivos. "Não é simplesmente fugir do custo Brasil e produzir lá fora, mas deixar que algumas etapas da produção aconteçam em outros lugares, em benefício do preço. A mercadoria precisa viajar", diz Kupfer.

Garcia, da PUC, acredita que o governo, ao adotar políticas protecionistas e de conteúdo nacional, parte da ideia errada de que o setor é capaz de produzir tudo internamente. "Isso torna tudo anacrônico. O país fica mais fechado e a indústria, menos competitiva. "

O caso emblemático da Embraer, que importa boa parte dos componentes, mas exporta produtos de alto valor agregado, mostra, para Jensen, da Tendências, que a recuperação da indústria passa por uma abertura gradativa da economia, que a posicione nas cadeias globais de valor. Antes disso, contudo, é preciso mudar a mentalidade dos agentes do setor, para os quais a redução de custos é muitas vezes prioridade, diz Kupfer. As fabricantes brasileiras, avalia, se concentram demais na montagem e investem pouco em marketing, pós-venda e criação de novas marcas. "A maior geração de valor não está mais na produção, mas nesses serviços."

Sem reformas importantes, como a tributária, diz Mendonça de Barros, há poucas chances de a indústria se tornar competitiva externamente. Para ele, o setor precisa de um "carinho especial".

Analistas veem desemprego de 4,8% em agosto Por Tainara Machado | De São Paulo Depois de três meses incompleta, em consequência da greve dos funcionários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) deve voltar a apresentar amanhã os dados completos do mês de agosto.

De acordo com a média das projeções de 8 instituições financeiras e consultorias, a taxa de desemprego deve ter ficado em 4,8% em agosto, inferior à desocupação de 5,3% observada em igual período do ano passado. As estimativas variam entre 4,5% e 5%.

A maioria das instituições que colabora com o serviço de coleta de projeções do Valor Data, porém, não fez estimativas para a PME, por causa da interrupção na divulgação dos dados completos do levantamento desde abril, quando o desemprego era de 4,9% da PEA.

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Para os especialistas, a moderação da geração de vagas formais observada nos últimos meses deve se refletir também sobre a taxa de desemprego em agosto, com estagnação da população ocupada em relação a igual período do ano passado. Já a baixa procura por emprego deve manter a População Economicamente Ativa (PEA) em queda e a desocupação em nível ainda bastante reduzido.

Desde maio, o IBGE só tem informado as taxas de desemprego em quatro regiões metropolitanas: Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Com base nos dados para essas quatro regiões metropolitanas e estimativas para as duas outras com informações faltantes, Salvador e Porto Alegre, Fabio Romão, economista da LCA Consultores, estima desemprego de 4,5% em agosto. Essa taxa, afirma, seria resultado de estabilidade da população ocupada na comparação com agosto do ano passado. Ainda assim, diz, o desemprego deve cair em relação à desocupação de 5,3% em igual período de 2013 porque a PEA deve ter encolhido 0,8% neste período.

Apesar do desempenho fraco da ocupação, diz Romão, a manutenção da taxa de desemprego em patamar baixo deve favorecer a evolução da renda real, que deve ter aumentado 2% na comparação com agosto do ano passado. Este dado, diz o economista, não deixa de ser surpreendente, pois a geração de empregos vem mostrando certa estagnação.

Para Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), além do baixo desemprego, questões estruturais, como o aumento do tempo de estudo e o envelhecimento da força de trabalho acabam

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ajudando a impulsionar o avanço da renda. Só se houvesse forte piora do mercado de trabalho, afirma, a renda pararia de avançar.

Para Moura, haverá apenas ligeiro aumento do desemprego entre julho e agosto, de 4,8% para 4,9%, o que caracteriza certa estagnação do mercado de trabalho no período mais recente. "Em alguns setores, como indústria e construção civil, há piora mais perceptível, mas o setor de serviços mostra certa resistência, ajudado pela renda", diz.

Já a Rosenberg & Associados afirma, em relatório, que a Pesquisa Mensal do Emprego deve mostrar sinais mais contundentes de desaceleração do mercado de trabalho no terceiro trimestre. A consultoria estima que a taxa de desemprego, na série dessazonalizada pela consultoria, tenha passado de 4,9% para 5% entre julho e agosto. "Lembrando que chegou a bater em 4,6% em abril", afirma a equipe macroeconômica da Rosenberg.

A avaliação é que a população ocupada, que já dava sinais de queda até abril, último dado disponível, continue em trajetória decrescente.

A projeção da consultoria leva em conta estimativas para as regiões cujos dados não têm sido divulgados pelo IBGE.

Produtividade, salários e a crise da indústria Por Paulo Francini e Rogério de Souza Um dos principais temas do debate econômico brasileiro atual diz respeito à crise que a indústria enfrenta. O crescimento dos salários acima da produtividade do trabalho seria um dos fatores explicativos do fraco desempenho do setor.

Dado o cenário de acirrada concorrência externa, a indústria de transformação não teria conseguido repassar os aumentos de custos para os preços, resultando na compressão das suas margens, redução do seu nível de produção e de investimentos.

Os dados, quando analisados com o devido cuidado, corroboram esse diagnóstico.

“Remuneração real do trabalho teve avanços signific ativos em relação aos ganhos da produção industrial”

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Em primeiro lugar, cabe destacar que o segmento industrial no qual se desenvolveram essas dificuldades é a indústria de transformação, responsável por aproximadamente 50% do PIB da indústria total.

Em segundo lugar, é preciso ter presente uma decisiva questão temporal no diagnóstico do descolamento da expansão da produtividade e dos salários.

A atividade na indústria de transformação está praticamente estagnada desde 2010 até os dias atuais, período em que é válido o diagnóstico do hiato entre o crescimento da produtividade e dos salários, e seus efeitos negativos sobre o setor e a economia como um todo.

Cabe ainda reconhecer desde já que a produtividade física do trabalho da indústria brasileira tem evoluído a taxas pouco significativas nos últimos anos, o que é, também, parte relevante do problema.

Há evidências que no período entre os anos de 2009 e 2012 os salários acusaram aumento significativamente superior ao da produtividade da mão de obra na indústria.

Ao se considerar os rendimentos e benefícios pagos na atividade industrial de transformação deflacionados pelo IPCA, observa-se que, enquanto a produtividade do trabalho neste período cresceu 10%, o rendimento real teve alta de 13%.

O mesmo exercício, utilizando agora o deflator da própria indústria de transformação e não o índice de preços ao consumidor (o que é o mais adequado para a discussão em tela), mostra que o rendimento real teve elevação de 40% entre 2009 e 2012.

Ou seja, o aumento dos salários pagos na indústria de transformação foi muito maior quando deflacionado pelo deflator do próprio setor, e não pelo IPCA.

A Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) do IBGE traz evidências adicionais sobre o descolamento entre o crescimento da produtividade do trabalho e dos salários pagos na indústria de transformação.

No período como um todo compreendido entre o 1º trimestre de 2010 e o 2º trimestre de 2014, a produtividade do trabalho cresceu muito pouco: 2,8%.

Já a folha de pagamento real por trabalhador, deflacionada pelo IPCA, apontou elevação de 17,9%.

Considerando o deflator da indústria de transformação, o acréscimo da folha real por trabalhador chega a 46,9% no mesmo período.

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Pressionada pela elevada concorrência externa, a indústria de transformação não conseguiu repassar para os preços a forte pressão de custos derivada do maior aumento dos salários em relação à produtividade do trabalho.

Uma maneira de constatar a compressão relativa dos preços dos produtos da indústria de transformação é a partir da evolução dos preços dos bens comercializáveis, os quais compreendem, entre outros, produtos do setor industrial, em comparação com os preços dos bens não comercializáveis contidos no IPCA. De fato, enquanto a inflação dos bens comercializáveis registrou aumento de 28% entre janeiro de 2010 e junho de 2014, a inflação de não comercializáveis apontou alta de 43,4% no mesmo período. Em suma, as evidências são muito fortes no sentido do descolamento entre a produtividade do trabalho e os salários pagos na indústria.

Levando em conta a correta agregação setorial, ou seja, apoiando a análise na indústria de transformação, e não na indústria como um todo (a qual incluiria construção, extrativa e serviços industriais de utilidade pública), e sendo considerado um intervalo temporal apropriado, tendo como início o ano de 2010, verifica-se que a tese de descompasso entre o crescimento dos salários pagos e o aumento da produtividade não se trata apenas de um alerta de economistas e empresários industriais; em verdade, trata-se de um alerta respaldado na análise atenta dos dados, procedimento que mostra a abertura do hiato entre os salários e a produtividade da mão de obra.

Em conjunto com outros fatores, disto resultou a letargia da indústria de transformação, arrastando consigo os investimentos e a atividade econômica do país como um todo.

Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp Rogério Cesar de Souza, economista-chefe do Iedi

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Destaques Adicional de insalubridade

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) rejeitou o exame do mérito de recurso do Banco do Brasil contra decisão que o condenou a pagar adicional de insalubridade a um bancário exposto diariamente a ruído de 96 decibéis, proveniente de quatro máquinas de contar dinheiro. O ruído extrapolava o limite de tolerância máxima diária de 95 decibéis para duas horas de exposição, conforme previsão legal. A condenação foi imposta pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio Grande do Sul, que deferiu ao bancário o adicional em grau médio. Ele trabalhou por mais de sete anos no Setor Regional de Tesouraria (Seret) do BB em Santa Maria (RS) e, segundo informado no processo, não recebeu protetores auditivos adequados para eliminar a insalubridade decorrente das máquinas contadoras de cédulas. Ao recorrer ao TST, o BB alegou que a atividade desenvolvida pelo empregado não era insalubre ou penosa, nem havia qualquer indicativo de perda auditiva ou prejuízo à saúde dos trabalhadores do setor, porque, segundo o empregador, o nível de ruído dentro da agência seria normal.

Dano moral coletivo

A Petrobras Transportes (Transpetro) foi condenada ao pagamento de dano moral coletivo no valor de R$ 200 mil, por ter contratado ilicitamente ex-empregados, por meio de terceirização, para realizar serviços referentes à sua atividade-fim, em detrimento de aprovados em concurso público. O valor foi fixado pela 8ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho, após avaliar que o montante de R$ 20 milhões deferido anteriormente excedia os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Foi registrado na ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público na 6ª Vara do Trabalho de Florianópolis que, apesar da necessidade de pessoal, a empresa havia se negado a chamar os concursados, para valer-se de expedientes fraudulentos para suprir sua necessidade de mão-de-obra: terceirização irregular e dispensas licitatórias indevidas para contratos de prestação de serviços. O recurso da empresa contra o valor da condenação foi relatado pelo ministro Márcio Eurico Vitral Amaro. Ele considerou que R$ 200 mil se ajustam mais adequadamente à extensão do dano, ao caráter pedagógico da medida e ao poder econômico da empresa.

(Fonte: Valor Econômico dia 24-09-2014).

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Mercedes ajusta produção no ABC Juliana Estigarríbia

São Paulo - O cenário continua adverso para as montadoras de caminhões, no Brasil. A Mercedes-Benz informou nesta terça-feira (23) que está em negociações com o sindicato do ABC Paulista para ajustar a produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).

Segundo informou a companhia alemã, a unidade de São Bernardo já trabalha com sistema de semana curta (4 dias) desde o último dia 8 de setembro. A previsão é que a produção se mantenha assim até o final do mês.

Em meados de março deste ano, a unidade já havia adotado a mesma medida para adequar a oferta. "O mercado está muito incerto", afirmou a empresa.

Cerca de 200 funcionários da montadora são mantidos em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) até 30 de novembro. A Mercedes não informou, no entanto, se todos devem retornar ao trabalho após este período.

"Vamos avaliar a situação até lá. Estamos aguardando um reaquecimento do mercado", destaca a empresa.

Mercado difícil

Não só a Mercedes sofre com a baixa do mercado. A MAN Latin America (fabricante dos caminhões Volkswagen e atual líder de emplacamentos no País) também está com 200 funcionários em lay-off na unidade de Resende (RJ).

Em entrevista ao DCI na semana passada, o vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN, Ricardo Alouche, afirmou que o lay-off deve vigorar até dezembro. A expectativa é que os funcionários voltem ao trabalho "gradativamente", disse Alouche.

Outras montadoras, como a Scania e a Volvo, também concederam férias coletivas extras durante o ano para adequar a produção à demanda.

No acumulado do ano, os emplacamentos de caminhões caíram em torno de 14% a 15%. No segmento de extrapesados, o recuo foi ainda maior, de cerca de 22%.

De acordo com projeções das montadoras, o mercado de caminhões deve fechar este ano com declínio entre 10% e 13% em relação a 2013, principalmente em razão da desaceleração da economia.

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TST exige menor aprendiz em viação

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) considerou legal a exigência de que a Auto Viação Triângulo Ltda. comprove a contratação de 26 aprendizes, em atendimento à cota prevista no artigo 429 da CLT.

A Primeira Turma do TST deu provimento a recurso da União para considerar legal a exigência.

Para a Turma, a profissão de motorista de ônibus deve integrar a base de cálculo da cota da aprendizagem, pois demanda formação profissional.

A empresa ajuizou mandado de segurança contra o ato do delegado do Trabalho em Uberlândia (MG), que a notificou para que provasse o atendimento à cota de aprendizes.

Segundo a viação, de seus 976 empregados, 410 são motoristas de transporte de passageiros e deveriam ser excluídos da base de cálculo da cota por a profissão ser incompatível com a formação de aprendizes, já que há exigência de o profissional ter mais de 21 anos e habilitação específica.

A 3ª Vara do Trabalho de Uberlândia concedeu a segurança por considerar a exigência ilegal.

O entendimento foi o de que, para o exercício da função, é necessária habilitação para guiar veículos de transporte de passageiros, por entender que a atividade está inserida na exceção do paragrafo 1º do artigo 10 do Decreto 5.598/2005, que exclui as funções que demandam formação profissional do cálculo.

Recurso

A União recorreu, afirmando que a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) não apresenta qualquer impedimento à inclusão da categoria dos motoristas de ônibus no cálculo.

A Primeira Turma acolheu a alegação da União, destacando que a necessidade da habilitação não impede o cumprimento da exigência legal.

Quanto às exigências específicas da categoria dos motoristas, o relator do processo, ministro Lelio Bentes Corrêa, afirmou que basta que os aprendizes sejam recrutados entre os que têm habilitação específica e a idade mínima exigida. /Da Redação

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Confiança da indústria continua diminuindo, mostra prévia da FGV

A prévia da Sondagem da Indústria de Transformação de setembro, divulgada ontem pela

Fundação Getulio Vargas (FGV), sinaliza queda de 3,2% do Índice de Confiança da

Indústria (ICI) em relação ao resultado final de agosto, considerando-se dados livres de

influência sazonal.

De acordo com a FGV, o resultado reflete a deterioração tanto das avaliações sobre o

momento presente quanto das expectativas em relação aos meses seguintes.

Com o resultado, o índice atingiria 80,7 pontos, o menor desde março de 2009 (77,1). O

Índice da Situação Atual (ISA) recuaria 2,9%, para 80,3 pontos.

O Índice de Expectativas (IE) cairia 3,4%, para 81,2 pontos, após interromper em agosto a

trajetória de sete meses de quedas consecutivas.

Os dados preliminares também indicam queda no Nível de Utilização da Capacidade

Instalada (NUCI) na passagem de agosto para setembro, de 83,2% para 83,0%.

Para a prévia da edição de setembro foram coletadas informações de 782 empresas entre

os dias 2 e 18.

O resultado final da pesquisa será divulgado pela FGV na próxima terça-feira (30) e não

deve trazer novidades.

(Fonte: DCI dia 24-09-2014).

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Bombardier perde para Embraer na Swiss

FERNANDO NAKAGAWA , CORRESPONDENTE / LONDRES - O ES TADO DE S.PAULO

Aérea não recebeu os jatos da fabricante canadense na data prevista e se viu

obrigada a alugar aeronaves da companhia brasileira

A canadense Bombardier anunciou com festa, em julho de 2008, o lançamento da nova

família de aviões CSeries. Na ocasião, o plano era que os jatos começariam a voar em

2013. O tempo passou, o projeto atrasou e a companhia aérea que assinou o primeiro

contrato firme de compra, a Swiss, foi obrigada a se reprogramar. Diante dos adiamentos

no calendário, a empresa informou ao 'Broadcast', serviço em tempo real da 'Agência

Estado', que decidiu alugar temporariamente quatro aviões da concorrente Embraer até a

chegada dos primeiros CSeries.

Entre dezembro de 2014 e o início de 2015, começarão a ser incorporados quatro Embraer

190 à operação da Swiss. Os jatos serão usados para substituir os antigos modelos Avro

RJ10. A saída de cena desses aviões já era programada, mas o plano original era substituí-

los pelos novos CS100 da Bombardier. Os atrasos no projeto, porém, inviabilizaram a troca

e por isso a aérea decidiu fazer um "aluguel ponte" até que os aviões canadenses sejam

entregues. A decisão tem um valor simbólico para a Bombardier. A Swiss, por meio da

controladora alemã Lufthansa, foi a primeira operadora a anunciar um contrato firme para

compra de 30 modelos CS100. Fechado em 2009, o negócio envolve cerca de US$ 1,53

bilhão, de acordo com os valores de tabela na época.

A Swiss explica que os E190 serão sublocados da companhia suíça Helvetic Airways,

empresa regional que já mantém um contrato de aluguel de longo prazo de quatro aviões

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com a Swiss. Os Embraer serão pilotados por comandantes da Swiss e a equipe de

comissários poderá ser da Helvetic, informa a companhia suíça.

Os E190 substituirão modelos antigos que têm capacidade de 78 a 97 passageiros e são

usados especialmente em aeroportos de pista curta. A frota de Avro da Swiss é antiga e

muitas aeronaves já têm mais de 15 anos.

Custos. A decisão de incorporar temporariamente jatos Embraer acontece diante da

proximidade de uma grande e custosa manutenção programada para os Avro RJ100. É a

chamada revisão "C Check" feita a cada dois anos e que pode levar até quinze dias. Diante

da perspectiva de que os primeiros modelos CSeries devem ser entregues em 2015, a

Swiss decidiu aposentar os quatro aviões com revisão mais próxima. Assim, serão evitados

os custos dessa manutenção. Questionada se a operação poderia ter como

desdobramento a incorporação permanente da Embraer à companhia, a Swiss informou

que "atualmente não tem planos de incorporar outras aeronaves Embraer à frota".

Apesar da confirmação da Swiss, a Helvetic ainda não conta com os quatro jatos. A frota

da empresa é composta atualmente por seis Avro e um Airbus A319. Como não há pedido

da Helvetic na carteira da Embraer, a companhia terá de buscar as aeronaves no mercado

de usados. A Helvetic teve uma experiência recente com os aviões brasileiros. Em julho e

agosto, a companhia contratou um modelo Embraer 195 da britânica Flybe para atender a

alta demanda do verão europeu. Os aviões voaram em rotas da Helvetic entre Zurique e

Ohrid, Skopje (Macedônia) e Pristina (Kosovo).

Desde a semana passada, o Broadcast solicita informações para a Helvetic sobre o

negócio com a Swiss, mas não obteve detalhes sobre a operação. (Fonte: Estado SP dia 24-09-2014).

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