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223 RECARGA DE AQUÍFERO EM SANTA MARIA/RS: A IMPORTÂNCIA DESTA ÁREA PROTEGIDA Fernanda Maria Follmann 1 Eliane Maria Foleto 2 Introdução A água é um elemento natural essencial à vida no planeta, um recurso limitado e que possui papel significativo no desenvolvimento econômico e social de uma região. Entretanto, os usos múltiplos e inadequados interferem na qualidade da água em diferentes escalas e acarretam a diminuição da sua quantidade em termos de qualidade. Além de ser um recurso limitado e dotado de valor econômico, conforme Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997), ela é também um bem de domínio público e, assim sendo, todos tem o direito ao seu uso. O Ministério do Meio Ambiente (2007) destaca que apesar de dois terços da superfície da Terra ser coberta por água, apenas uma pequena porção dessa água é doce. Sendo que da água doce disponível para consumo, 96% é água subterrânea. Assim, esta água tornase uma das responsáveis pela garantia da sobrevivência de parte significativa da população mundial. Por ser um elemento vital para a sobrevivência humana e demais seres vivos, a água sempre foi um dos fatores na escolha da localização da moradia das populações, como nas margens dos rios e, onde existia a possibilidade de extração de água subterrânea. Mas com o adensamento e crescimento populacional e consequentemente do aumento das demandas por recursos hídricos, temse a sua degradação e a diminuição em diversas regiões. As zonas de acúmulo de água subterrânea, conhecidas como aquíferos, podem ser confinados ou não. O aquífero confinado ou artesiano, conforme Mota (1995, p. 142) “ocorre quando a água do subsolo está confinada entre duas camadas relativamente impermeáveis, ficando o nível d’água sob pressão maior que a atmosférica”. Já o aquífero não confinado, conhecido também como freático, a água fica sob pressão atmosférica e o seu nível constitui a superfície da zona de saturação (MOTA, 1995). Já quanto à contaminação, esta pode ocorrer concomitantemente com a infiltração das águas, ocasionando sua poluição. Conforme Resolução nº 15 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos ”Aquífero é o corpo hidrogeológico com capacidade de acumular e transmitir água através dos seus poros, fissuras ou espaços resultantes da dissolução e carreamento de materiais rochosos” (BRASIL, 1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia UFSM. 2 Orientadora, Prof. Drª do Programa de Pós Graduação em Geografia UFSM.

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RECARGA DE AQUÍFERO EM SANTA MARIA/RS: A IMPORTÂNCIA DESTAÁREA PROTEGIDA

Fernanda Maria Follmann1Eliane Maria Foleto2

Introdução

A água é um elemento natural essencial à vida no planeta, um recurso limitado e quepossui papel significativo no desenvolvimento econômico e social de uma região. Entretanto, osusos múltiplos e inadequados interferem na qualidade da água em diferentes escalas eacarretam a diminuição da sua quantidade em termos de qualidade. Além de ser um recursolimitado e dotado de valor econômico, conforme Política Nacional de Recursos Hídricos(BRASIL, 1997), ela é também um bem de domínio público e, assim sendo, todos tem o direitoao seu uso.

O Ministério do Meio Ambiente (2007) destaca que apesar de dois terços da superfície daTerra ser coberta por água, apenas uma pequena porção dessa água é doce. Sendo que daágua doce disponível para consumo, 96% é água subterrânea. Assim, esta água torna­se umadas responsáveis pela garantia da sobrevivência de parte significativa da população mundial.

Por ser um elemento vital para a sobrevivência humana e demais seres vivos, a águasempre foi um dos fatores na escolha da localização da moradia das populações, como nasmargens dos rios e, onde existia a possibilidade de extração de água subterrânea. Mas com oadensamento e crescimento populacional e consequentemente do aumento das demandas porrecursos hídricos, tem­se a sua degradação e a diminuição em diversas regiões.

As zonas de acúmulo de água subterrânea, conhecidas como aquíferos, podem serconfinados ou não. O aquífero confinado ou artesiano, conforme Mota (1995, p. 142) “ocorrequando a água do subsolo está confinada entre duas camadas relativamente impermeáveis,ficando o nível d’água sob pressão maior que a atmosférica”. Já o aquífero não confinado,conhecido também como freático, a água fica sob pressão atmosférica e o seu nível constitui asuperfície da zona de saturação (MOTA, 1995). Já quanto à contaminação, esta pode ocorrerconcomitantemente com a infiltração das águas, ocasionando sua poluição.

Conforme Resolução nº 15 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos ”Aquífero é ocorpo hidrogeológico com capacidade de acumular e transmitir água através dos seus poros,fissuras ou espaços resultantes da dissolução e carreamento de materiais rochosos” (BRASIL,1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia ­ UFSM.2 Orientadora, Prof. Drª do Programa de Pós Graduação em Geografia ­ UFSM.

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2001). Portanto, as águas subterrâneas não são estáticas, podendo carregar consigo mineraise materiais solúveis. Sendo assim, os aquíferos estão naturalmente susceptíveis a impactos deorigem natural ou antrópica que se encontram na superfície.

O processo por meio do qual um aquífero recebe água é chamado de recarga.A recarga natural depende fundamentalmente do regime pluviométrico(quantidade de chuvas) e do equilíbrio entre a infiltração, escoamento eevaporação da água. Sendo assim, a topografia da área, o tipo de soloe a situação da cobertura vegetal, têm papel fundamental na recargados aquíferos (MMA, 2007, p. 15).

Os aquíferos são reabastecidos por meio de infiltração das águas na superfície do solo ourocha. Esta infiltração ocorre em toda superfície dos aquíferos livres ou, no caso dos aquíferosconfinados, nas áreas de afloramento.

As áreas de recarga direta dos aquíferos confinados geralmente estão localizadas emafloramentos de rochas sedimentares. São áreas importantes para a manutenção da qualidade equantidade da recarga das águas subterrâneas. Portanto, conforme Ministério do Meio Ambiente(2007, p. 15), “é fundamental que estas áreas sejam protegidas, evitando­se o desmatamento, ouso incorreto dos solos e a instalação de atividades potencialmente poluidoras”, portanto,seguindo estas regras não se estará comprometendo o aspecto quali­quantitativo das águassubterrâneas.

Gestão dos recursos hídricos subterrâne s

Atualmente, segundo Agência Nacional de Águas (ANA, 2010) a gestão dos recursoshídricos deve proporcionar sempre o uso múltiplo das águas. Nesse contexto Borges eAlmeida (2010, p. 07) citam que:

A gestão dos recursos hídricos tem por finalidade orientar a maneiramais harmoniosa e racional de utilização dos recursos hídricos, refletindoem beneficio para própria humanidade.

Nesse sentido, ressalta­se que uma das primeiras leis que dispôs sobre gestão deáguas no Brasil foi no ano de 1934, no Decreto Lei nº 22.643, o chamado Código dasÁguas. Este se constitui um marco no gerenciamento de recursos hídricos no Brasil, ondeas águas podiam ser públicas ou privadas (FONSECA; PRADO FILHO, 2006). O códigodas Águas de 1934 privilegiava os usos da água para o aproveitamento hidrelétrico, logo, nãose adequava mais aos problemas que surgiam no século XX. Desta maneira tinha­se anecessidade de criação de uma nova base legal que pudesse abordar os problemas que já

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estavam existindo, mas também os que pudessem vir a existir.Logo, na Constituição Federal de 1988 as águas passaram a ser de domínio público, isto

é, todos têm direito ao seu uso. Nesta nova visão, foram estabelecidos dois domínios: da União(corpos de água que atravessam mais de um estado e/ou país) e dos Estados (que estãorestritos ao território de um Estado). Esta Lei também estabelece que as águas subterrâneassão de domínio estadual (MMA, 2010).

O MMA (2010) aponta que o Sistema Nacional de Recursos Hídricos é constituído peloConselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH); Agência Nacional de Águas; Conselhos deRecursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal e Comitês de Bacias Hidrográficas. Sendoque nas questões relativas às águas subterrâneas, o CNRH é assessorado pela CâmaraTécnica de Águas Subterrâneas (CTAS), que possui entre suas atribuições discutir sobreassuntos pertinentes as águas subterrâneas e propor a gestão destas na Política Nacional deRecursos Hídricos (Lei n. 9.433/2000). Partindo destas atribuições, conforme cita Dutra (2005)foram criadas pelo CNRH as resoluções nº 15 e nº 22 que estabelecem as diretrizes geraispara a gestão de águas subterrâneas e sua inserção nos Planos de Recursos Hídricos.

Portanto, devido a importância de se preservar e conservar os recursos hídricossubterrâneos, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, estabeleceu a Resolução nº 92(2008) que institui como norma a proteção e conservação das águas subterrâneas no territóriobrasileiro. O CNRH considera a água como um recurso natural limitado, na qual é necessário ocontrole da qualidade e quantidade da água subterrânea, bem como sua proteção emanutenção.

Na mesma resolução, o artigo 3º delega aos Planos Estaduais de Recursos Hídricos adelimitação das áreas de recarga de aquíferos, bem como a definição das suas zonas deproteção. Sendo que neste mesmo artigo, no inciso 1, consta que nas zonas de proteçãodeverão ser propostas diretrizes específicas de uso e ocupação do solo.

No Estado do Rio Grande do Sul, o decreto nº 42.047 (2002), regulamenta ogerenciamento e a conservação das águas subterrâneas e dos aquíferos no Estado. Sendodescrito em seu artigo 25º que é vedada qualquer ação, omissão ou atividade queintencionalmente, ou não, possa causar poluição as águas subterrâneas. Assim, a poluição daságuas subterrâneas está estritamente relacionada ao uso e ocupação do solo existente sobre aárea caracterizada de recarga de aquífero, portanto é também considerada uma área a serprotegida.

Áreas Protegidas

A preocupação com o estabelecimento de áreas a serem protegidas é bastante antigo. Aprimeira área protegida criada e que é considerada um marco para a definição de espaços

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geográficos destinados à proteção da biodiversidade, foi o Parque Nacional de Yellowstone, criadoem 1872 nos Estados Unidos da América (MORSELLO, 2008). A partir da criação desta, váriasoutras áreas protegidas foram sendo instituídas pelo mundo e paralelamente o seu conceito foisendo discutido. Assim, o atual conceito de área protegida não nasceu como uma idéia pronta,mas sim evoluiu com o tempo.

Logo, em 1948 foi criada a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN,2010). “Após 1962, a IUCN passou a organizar, a cada dez anos, Conferências Mundiais deParques Nacionais e Áreas Protegidas” (MORSELLO, 2008, p. 25).

Portanto, a União Internacional para Conservação da Natureza3 (1994, apud MORSELLO,2008, p. 26), define uma área protegida como “uma porção de terra ou mar especialmentededicada à proteção da diversidade biológica, recursos naturais e culturais associados a esta, emanejada segundo instrumentos legais e outros meio efetivos”. A criação de áreas protegidaspode ser considerada uma estratégia de controle do território devido as restrições de uso impostasa estas áreas.

Assim, o estabelecimento de áreas protegidas tem importante papel dentre as medidaspreventivas, que conforme Cabral e Souza (2005, p. 22) seriam:

Interromper, em alguns casos, a atuação antrópica de modo a permitira manutenção e a recuperação de atributos naturais ou, em outros casos– de maneira concomitante ou não no mesmo espaço ­ permitir o usodesses recursos garantindo sua manutenção no longo prazo emcondições regulares, minimizando, assim, em ambos os procedimentos,as respostas negativas da atuação antrópica.

No Brasil institui­se no ano de 1981 a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e em1988 a Constituição Federal. Nesta tem­se a inclusão de um capítulo dedicado ao meio ambiente,que o considera como um bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondoao poder público e a coletividade o dever de preservá­lo e defendê­lo para as gerações futuras epresentes, sendo assegurada a União a produção de normas gerais, deixando aos municípios eestados suplementar a legislação federal e a estadual no que couber, quando referir­se a área deinteresse local (BRASIL, 1988). Mas foi no ano de 2000, com a criação da Lei 9.985 que institui oSistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) que “marcou­se umaimportante modificação na estrutura de grande parte das áreas protegidas brasileiras”(MEDEIROS 2005, p. 16).

A implantação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação teve como finalidadeordenar as áreas protegidas existentes e conforme descrito no seu artigo 1º, o SNUC estabelececritérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Sendo quea criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta3 Apóia a investigação científica, administra projetos de campo em todo o mundo e traz governos, organizações não­governamentais, agências das Nações Unidas, empresas e comunidades locais em conjunto para desenvolver e implementarpolíticas, leis e melhores práticas.

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pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para aunidade (Lei n. 9.985/2000).

O SNUC separa em dois grandes grupos as Unidades de Conservação. As de ProteçãoIntegral e as de Uso Sustentável. As Unidades de Proteção Integral têm como objetivo básicopreservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Já asUnidades de Uso Sustentável têm como objetivo básico compatibilizar a conservação danatureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais (Lei n. 9.985/2000).Entretanto, estas Unidades de Conservação contempladas pelo SNUC não abrangem todas asáreas protegidas existentes no Brasil.

Neste contexto, torna­se necessário esclarecer a diferença existente entre o conceito deUnidades de Conservação e Áreas Protegidas. As Áreas Protegidas, conforme Cabral e Souza(2005, p. 12) “são espaços territoriais legalmente protegidos por meio da legislação ambientalespecífica”, já as Unidades de Conservação “são espaços territoriais cuja definição foi dada pelaredação do SNUC” (BRASIL, 2000). No Brasil, as áreas protegidas são, muitas vezes, reduzidasou confundidas à unidades de conservação, entretanto vão além destas. Fazendo umacomparação entre os conceitos, pode­se dizer que todas as unidades de conservação são áreasprotegidas, porém nem todas as áreas protegidas são unidades de conservação. Verifica­seassim que o conceito de áreas protegidas é mais abrangente, portanto tem­se no Brasil aexistência de várias categorias de áreas protegidas que vão além das unidades de conservaçãoestabelecidas pelo SNUC.

Assim, além das unidades de conservação, as áreas protegidas que possuem amparo legale integram o conjunto brasileiro de espaços territoriais especialmente protegidos são: as Áreas dePreservação Permanente (APP’s), as Áreas de Reserva Legal, as Áreas Especiais de InteresseTurístico, os Locais de Interesse Turístico, as Áreas de Proteção Especial, as Cavernas e aservidão ambiental (CABRAL; SOUZA, 2005). Na qual seguindo esta classificação identifica­setambém as áreas de recarga natural de aquíferos.

As áreas de recarga natural de aquífero são espaços territorialmente demarcados (apósestudos técnicos) cuja principal função é a recarga das águas subterrâneas. Estas áreas sãoregidas por legislação específica, na qual possuem a função de manutenção e/ou conservaçãode um recurso natural que é a água subterrânea. Considera­se assim que a função e significativaimportância das áreas de recarga de aquífero vêm acrescentar ao que a IUCN conceitua comoárea protegida. Logo, consideram­se as áreas de recarga de aquífero como áreas protegidas,pois possuem as características destas, na qual se identifica que são áreas que devem terrestrições do uso e ocupação do solo para proteger a qualidade e a quantidade da recargade água.

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Área de recarga de aquífero em Santa Maria

Sendo representada como fonte importante no abastecimento de água potável, as águassubterrâneas devem ser estudadas e avaliadas quanto a sua proteção de forma eficaz, poiseste recurso hídrico, diferentemente do recurso hídrico superficial, possui uma maiordificuldade de tratamento depois de poluído. Ressalta­se assim a importância da proteção dasáreas de recarga de aquífero, devido a serem locais de infiltração natural da água.

Nas zonas de recarga de aquífero podem existir cidades, áreas rurais e, pólosagroindustriais cujos resíduos indesejados são lançados no solo e nos cursos de águassuperficiais, o que acaba por contaminar as águas subterrâneas. A cidade de Santa Maria(figura I), localizada na região central do Estado do Rio Grande do Sul, na DepressãoPeriférica Sul­Rio­Grandense é uma dessas cidades dentre tantas, que possui parte de suaárea urbana e rural localizada sobre uma parcela de área de recarga de aquífero classificadacomo Aquífero Arenito Basal Santa Maria (MACIEL FILHO, 1990).

Figura I – Localização de Santa Maria e de sua sede.Fonte: Rauber, A.C.C. 2008

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Em Santa Maria, a área de recarga do Aquífero Guarani, caracterizado como AquíferoArenito Basal Santa Maria, está classificada na Lei de Uso e Ocupação do Solo domunicípio de Santa Maria (LUOS, 2005), artigo 10º, como Área Especial Natural. , sendoque a mesma Lei subdivide as Áreas Especiais Naturais em: Áreas de ConservaçãoNatural e Áreas de Preservação Permanente. Assim, a área de recarga do aquífero emSanta Maria, localizado no oeste e sudoeste no mapa de Áreas Especiais Naturais (figuraII), encontra­se classificada, como Área Especial de Conservação Natural.

Conforme a Lei de Uso e Ocupação do Solo do município (2005), Áreas Especiais deConservação Natural, particulares ou públicas, são:

Aquelas onde podem conviver Homem e Ecossistemas, sem grandesimpactos ou traumas ambientais, destinadas ao turismo ecológico,atividades culturais, educacionais, recreativas, de lazer e loteamentos,desde que respeitem os recursos naturais.

Segundo a Lei Municipal, a área de recarga deve ser protegida quanto a sua possívelpoluição, sendo somente permitida sobre o seu espaço, atividades que não possam causardanos a qualidade da água existente no manancial. Na carta geotécnica4 de Santa Maria

Figura II- Áreas Especiais Naturais de Santa Maria.Fonte: Anexo 12 da Lei de Uso e Ocupação do Solo de Santa Maria, 2005.

4 Base cartográfica utilizada pela Prefeitura Municipal de Santa Maria para mapear a área de recarga do aquífero,considerada como Área Especial de Conservação Natural na Lei de Uso e Ocupação do Solo do município.

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(figura III), pode­se visualizar a área de recarga do Aquífero Guarani, destacada comoArenito Basal Santa Maria. Esta zona é considerada como de recarga devido ascaracterísticas do substrato rochoso encontradas na superfície que se constitui em “arenitogrosseiro, feldspático e poroso” (MACIEL FILHO, 1990, p. 09).

Figura III- Carta das Unidades geotécnicasFonte: Maciel Filho, C. L., 1990.

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Existem vários usos do solo que podem comprometer em quali­quantidade a recargadas águas subterrâneas. Em zonas urbanas pode­se considerar os usos do solo comopotenciais poluidores da água subterrânea a disposição de efluentes provindos deatividades industriais, depósitos de lixo, aterros controlados, ausência de rede coletora deesgoto, postos de combustíveis e cemitérios, já em zonas rurais a principal atividadeconsiderada como potencial poluidor desta água esta relacionada com os produtosutilizados na atividade agrícola, como o uso de agroquímicos (FOSTER; HIRATA, 1993).As fontes apontadas acima caracterizam­se pela possível mudança na qualidade da águasubterrânea, já a quantidade de recarga efetuada em aquífero, possivelmente relaciona­sea permeabilidade ou impermeabilidade do solo localizado sobre a área de recarga doaquífero.

Logo, torna­se importante destacar que os impactos ambientais, na maioria dasvezes, se tornam visíveis quando o problema causado já é considerado de difícilresolução. Como os recursos naturais são finitos, não se pode permitir que a resolução doproblema se dê de forma lenta e com atraso, quando os danos de ordem social,econômica e ambiental já tenham sido efetuados. Assim, destaca­se a relevância documprimento das leis, e no caso das restrições de uso e ocupação do solo em áreas derecarga de aquíferos.

Conclusão

Este artigo objetivou apresentar a justificativa da importância da conservação dasáreas de recarga do aquífero, e da necessidade da implantação do que prevê a Lei de Usoe Ocupação do Solo de Santa Maria, que a considera como Área Especial deConservação Natural, destacada (Anexo 12) como área de recarga do Aquífero ArenitoBasal Santa Maria, portanto uma Área a ser protegida com restrições de uso.

A discussão sobre a necessidade de proteção das águas subterrâneas, contrapossíveis poluições, pode ser considerada recente em âmbito legislativo. Neste contextoforam descritos conceitos e características de áreas protegidas, considerando o que éprevisto no aparato legal para áreas de recarga e, águas subterrâneas, estas sãoconsideradas como áreas protegidas, uma vez que deverão possuir restrições de uso eocupação do solo. Esta restrição de uso deve­se, por serem locais onde ocorre ainfiltração da água, portanto locais de recarga natural do recurso hídrico.

Considerando a área de recarga do aquífero em Santa Maria, com a nomenclatura deÁrea Especial de Conservação Natural, verifica­se a necessidade de estudos sobre quaisos usos e ocupações do solo estão ocorrendo na área, pois dependendo das

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características dos usos a poluição da água subterrânea pode ocorrer. Logo, verificou­se aimportância de se realizar estudos para diagnosticar se as restrições, de fato, estão sendoaplicadas como prevê a lei de uso do solo urbano na área de recarga de aquífero na cidadede Santa Maria/RS.Referências

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