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1 REABILITAÇÃO, EXPANSÃO E CONSERVAÇÃO DO MANANCIAL BAIXO COTIA NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO, BRASIL Darcy Brega Filho Introdução Este trabalho constitui uma síntese dos resultados e conclusões das atividades desenvolvidas no manancial do Baixo Cotia no tocante a reabilitação, expansão e conservação deste Sistema. A partir de estudos promovidos pela Divisão de Gestão de Mananciais - APHG, foram identificados elevados riscos de impactos ambientais, sanitários e econômicos sobre o Sistema Baixo Cotia, em função do adiantado estado de degradação ambiental e dos recursos hídricos naquele manancial, além das seguintes intervenções sanitárias programadas pela Sabesp na região: ampliação da ETA Alto Cotia e construção do coletor-tronco de esgotos TO 13 . Tanto o estado ambiental do manancial como as citadas intervenções submetem o Sistema Cotia a riscos tecnicamente e economicamente inadimissíveis. O conhecimento antecipado do problema permitiu o delineamento de uma estratégia de solução integrada elaborada pela APHG, denominada “Concepção SABESP”, baseada na hipótese de viabilidade de implantação de um sistema de reuso indireto planejado da água a partir do efluente secundário da ETE Barueri. A “Concepção SABESP” preconizou uma abordagem que alcançasse os seguintes objetivos: a) atender o setor industrial local através da comercialização de efluentes adequadamente tratados (dentro de um conceito que pressupõe a diversificação de produtos da água); b) recompor as vazões dos cursos d’água contribuintes do rio Cotia; c) incrementar a produção de águas bruta e potável no Sistema Baixo Cotia, de forma integrada com as demais intervenções sanitárias em curso na região (ampliação da ETA Alto Cotia e esgotamento sanitário); d) reduzir os riscos e prover a sustentabilidade econômica e ambiental. e) manter a operação do sistema produtor em conformidade com os padrões legais vigentes. Os resultados da fase de Avaliação Estratégica da “Concepção SABESP” demonstram que o projeto constitui-se em excelente negócio para a Empresa, proporcionando-lhe um excedente financeiro expressivo face ao porte do mesmo. Aspectos Gerais do Planejamento Metodologia A análise espacial foi a estratégia metodológica adotada para a elaboração do diagnóstico ambiental da região do rio Cotia, a partir do qual todo o planejamento sanitário encontra sustentação técnica. A rigor, para efeito de avaliação da disponibilidade hídrica, os estudos foram feitos adotando-se uma sub-bacia a montante da represa Isolina Inferior, uma vez que esta área é o sítio-alvo de um conjunto de propostas tecnológicas elencadas neste projeto. Do ponto de vista de avaliação ambiental, como as relações entre os grupos sociais e seu meio nessa região não se restringem a área da bacia, os levantamentos temáticos estenderam-se para além dela, em função da necessidade de informação e do entendimento do contexto onde a bacia e o manancial estão inseridos. A propósito, a bacia do rio Cotia está dividida em duas porções com características peculiares quanto às diferenciações fisiográficas: Alto e Baixo Cotia, porém, ambas são intimamente inter-relacionadas e por isso foram analisadas no seu conjunto. O sistema produtor compreende 34 (trinta e quatro) microbacias. Estas microbacias foram identificadas a fim de se avaliar as suas potencialidades, dado o cenário atual de ocupação, como polígonos de delimitação ou identificação de paisagens ou, então, como unidades gerenciais. Impactos Previstos na Bacia do Rio Cotia Os impactos a seguir descritos são os decorrentes de ações previstas pela Sabesp, e cujas resultantes têm influência direta na quantidade e na qualidade da água disponível na bacia: a) construção do coletor tronco de esgotos TO 13 , ao longo do rio Cotia e seus principais afluentes, no trecho do Médio Cotia, conduzindo os esgotos captados para a ETE Barueri, implicando numa redução substancial — até 420l/s — das afluências atuais à ETA Baixo Cotia. b) ampliação da ETA Alto Cotia, em fase final de obras, passando de 900 l/s para 1300 l/s, mantendo-se os atuais critérios operativos, também reduz as afluências à ETA Baixo Cotia na mesma proporção. Admitindo-se a evolução das demandas ao Sistema Produtor Baixo Cotia, conforme apresentado no quadro abaixo, e que na situação atual já é utilizado, em determinadas situações, um complemento de vazão de até 300 l/s aduzidos desde o Sistema Cantareira via reservatório de Carapicuíba, é possível

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REABILITAÇÃO, EXPANSÃO E CONSERVAÇÃO DO MANANCIAL BAIXO COTIA NA REGIÃOMETROPOLITANA DE SÃO PAULO, BRASIL

Darcy Brega Filho

Introdução

Este trabalho constitui uma síntese dos resultados e conclusões das atividades desenvolvidas nomanancial do Baixo Cotia no tocante a reabilitação, expansão e conservação deste Sistema.

A partir de estudos promovidos pela Divisão de Gestão de Mananciais - APHG, foram identificadoselevados riscos de impactos ambientais, sanitários e econômicos sobre o Sistema Baixo Cotia, em funçãodo adiantado estado de degradação ambiental e dos recursos hídricos naquele manancial, além dasseguintes intervenções sanitárias programadas pela Sabesp na região: ampliação da ETA Alto Cotia econstrução do coletor-tronco de esgotos TO13. Tanto o estado ambiental do manancial como as citadasintervenções submetem o Sistema Cotia a riscos tecnicamente e economicamente inadimissíveis.

O conhecimento antecipado do problema permitiu o delineamento de uma estratégia de soluçãointegrada elaborada pela APHG, denominada “Concepção SABESP”, baseada na hipótese de viabilidade deimplantação de um sistema de reuso indireto planejado da água a partir do efluente secundário da ETEBarueri. A “Concepção SABESP” preconizou uma abordagem que alcançasse os seguintes objetivos:a) atender o setor industrial local através da comercialização de efluentes adequadamente tratados (dentrode um conceito que pressupõe a diversificação de produtos da água);b) recompor as vazões dos cursos d’água contribuintes do rio Cotia;c) incrementar a produção de águas bruta e potável no Sistema Baixo Cotia, de forma integrada com asdemais intervenções sanitárias em curso na região (ampliação da ETA Alto Cotia e esgotamento sanitário);d) reduzir os riscos e prover a sustentabilidade econômica e ambiental.e) manter a operação do sistema produtor em conformidade com os padrões legais vigentes.

Os resultados da fase de Avaliação Estratégica da “Concepção SABESP” demonstram que o projetoconstitui-se em excelente negócio para a Empresa, proporcionando-lhe um excedente financeiro expressivoface ao porte do mesmo.

Aspectos Gerais do Planejamento

• Metodologia

A análise espacial foi a estratégia metodológica adotada para a elaboração do diagnóstico ambiental daregião do rio Cotia, a partir do qual todo o planejamento sanitário encontra sustentação técnica. A rigor, paraefeito de avaliação da disponibilidade hídrica, os estudos foram feitos adotando-se uma sub-bacia amontante da represa Isolina Inferior, uma vez que esta área é o sítio-alvo de um conjunto de propostastecnológicas elencadas neste projeto.

Do ponto de vista de avaliação ambiental, como as relações entre os grupos sociais e seu meio nessaregião não se restringem a área da bacia, os levantamentos temáticos estenderam-se para além dela, emfunção da necessidade de informação e do entendimento do contexto onde a bacia e o manancial estãoinseridos. A propósito, a bacia do rio Cotia está dividida em duas porções com características peculiares quanto àsdiferenciações fisiográficas: Alto e Baixo Cotia, porém, ambas são intimamente inter-relacionadas e por issoforam analisadas no seu conjunto. O sistema produtor compreende 34 (trinta e quatro) microbacias. Estasmicrobacias foram identificadas a fim de se avaliar as suas potencialidades, dado o cenário atual deocupação, como polígonos de delimitação ou identificação de paisagens ou, então, como unidadesgerenciais.

• Impactos Previstos na Bacia do Rio Cotia

Os impactos a seguir descritos são os decorrentes de ações previstas pela Sabesp, e cujas resultantes têm influência direta na quantidade e na qualidade da água disponível na bacia: a) construção do coletor tronco de esgotos TO13, ao longo do rio Cotia e seus principais afluentes, no trechodo Médio Cotia, conduzindo os esgotos captados para a ETE Barueri, implicando numa redução substancial— até 420l/s — das afluências atuais à ETA Baixo Cotia. b) ampliação da ETA Alto Cotia, em fase final de obras, passando de 900 l/s para 1300 l/s, mantendo-se osatuais critérios operativos, também reduz as afluências à ETA Baixo Cotia na mesma proporção.

Admitindo-se a evolução das demandas ao Sistema Produtor Baixo Cotia, conforme apresentado noquadro abaixo, e que na situação atual já é utilizado, em determinadas situações, um complemento devazão de até 300 l/s aduzidos desde o Sistema Cantareira via reservatório de Carapicuíba, é possível

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concluir que ocorrerá um deficit significativo no balanço hídrico regional, a menos que se tome importantesmedidas mitigadoras em tempo adequado.

Demandas dos Setores do Sistema Baixo Cotia (l/s)

Município Setor de Ano

Abastecimento 1995 2000 2005 2010 2015

Barueri Barueri 113 120 133 140 143

Itaqui 37 49 55 58 59

Tamboré 77 92 101 107 110

Jardim Tupã 80 92 101 107 110

Carapicuiba Carapicuiba 236 278 314 343 365

Jardim Planalto 124 146 165 180 191

Cohab 27 32 36 39 42

Itapevi Itapevi 133 165 194 220 242

Jandira Caiapiá 9 10 12 13 14

Jandira 79 94 106 116 122

TOTAL 915 1080 1216 1323 1396

Fonte: SAM-75 e HIDROPLAN

Além desses impactos sobre o sistema produtor, cabe ressaltar os riscos de degradação da qualidade daágua destinada à ETA Baixo Cotia, em decorrência de eventuais descargas industriais e/ou acidentesrodoviários com derramamento de substâncias tóxicas ou produtos perigosos, sobretudo na RodoviaRaposo Tavares que passa pela bacia.

• Desenvolvimento Sustentável, Planejamento Ambiental e a Bacia Hidrográfica

Para planejar a bacia hidrográfica do rio Cotia de acordo com as premissas do desenvolvimentosustentável é necessário, inicialmente, reconhecer as potencialidades do meio natural e, mais do que isto,objetivar otimizar as suas potencialidades, de forma a tornar o meio mais “sadio ou conservado”, medianteações que permitam reverter os impactos já estabelecidos, aumentar a disponibilidade e melhorar aqualidade da água. Reverter impactos significa, antes, reconhecer as mudanças temporais e os conflitosatuais regionais que se atrelam às diferentes atividades humanas dentro e no entorno da bacia. Para, nofuturo, aumentar a disponibilidade e melhorar a qualidade da água, depende-se também do conhecimentodas áreas críticas ou sujeitas a contaminação, a doenças, a acidentes. É pelo entendimento integradodestas questões que se consegue inferir sobre a fragilidade e a capacidade de suporte dos sistemasnaturais, em relação às diferentes atividades comuns na bacia hidrográfica.

A avaliação final deve responder, pelo menos parcialmente, às premissas de sustentabilidade e levar àformulação de diretrizes, programas e metas para a região, definidos neste trabalho segundo doiscaminhos: pela relação dos cenários mapeados com as prováveis alternativas ecotecnológicas ligadas aosaneamento, propostas pela Sabesp, e por alternativas técnico-político-sócio-educacionais locais, a seremdesenvolvidas junto à Sabesp, outras instituições e sociedade.

• Objetivos e Etapas do Planejamento

O estudo desenvolvido na bacia hidrográfica do rio Cotia, tem como premissa o planejamento integradodos recursos hídricos, de maneira a interpretar, principalmente, os conflitos presentes e os futuros, em

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função das novas alternativas ecotecnológicas propostas para a área. A proposição em seu conjunto visamostrar alternativas de ação para a reabilitação do Sistema Produtor Baixo Cotia. Para tanto, o plano foisistematizado em cinco fases: (a) fase organizacional, que identificou os agentes locais de planejamento a partir da vertente institucional,em nível de políticas e objetivos de governo, representada pelas Prefeituras Municipais envolvidas e órgãosambientais da região; a vertente técnico-científica, em nível operacional, composta pela equipe destetrabalho e a vertente comunitária, dada pelas organizações não-governamentais. Nesta fase também foidefinido que os mapeamentos temáticos deveriam ocorrer em três diferentes escalas, de 1:50.000, 1:25.000e 1:10.000, em função do grau de detalhamento desejado para os temas abordados, e considerar aabrangência temporal, o estado presente ou atual, o estado passado, a partir da década de 80, e o estadofuturo, em função das obras de saneamento propostas, (b) fase de inventário, que selecionou os indicadores ambientais a partir da abordagem considerada —recurso hídrico e desenvolvimento sustentável — elaborou levantamentos de dados primários e secundáriose formulou um banco de dados ambientais a começar desses indicadores, (c) fase de diagnóstico ambiental, ou etapa de produção de material cartográfico, que mapeou, emdiferentes escalas, o banco de dados relativo aos indicadores ambientais, a partir de imagem do sensor TMdo satélite LANDSAT-5 e fotos aéreas pancromáticas verticais. Foi feita a operacionalização dos dadosatravés de ARC INFO e SIG IDRISI.

Em seguida, os dados obtidos e/ou mapeados foram cruzados entre si, de forma a ser proposto ummodelo de organização do território, sem perder de vista as perspectivas dos agentes sociais. Destescruzamentos foram obtidos mapas-síntese que representam e sintetizam a inter-relação dos elementos queirão compor as paisagens dessa bacia hidrográfica, cujos trabalhos foram compostos nas seguintes fases: (d) fase propositiva, que define as políticas setoriais e aponta para cenários alternativos, de forma a integrarplanos e projetos, (e) fase executiva, que determina as diretrizes gerais e específicas às alternativas selecionadas ehierarquizadas no trabalho geral.

• Métodos de Representação e Avaliação Cartográfica

A estratégia metodológica para cruzamento das informações relativas aos diferentes temas abordadosno diagnóstico ambiental baseou-se na sobreposição ou “overlay” dos indicadores ambientais selecionadose georeferenciados. Para a produção dos mapas temáticos, intermediários e de síntese, foram usadasgeotecnologias ligadas a Técnicas de Sensoriamento Remoto, Sistemas de Informações Geográficas (SIG)e Sistemas de Posicionamento Global (GPS).

• Conflitos Relacionados aos Recursos Hídricos

As avaliações temáticas, no diagnóstico ambiental, permitiram concluir a ocorrência de impactos que,somados, resultam em grandes interferências nos recursos hídricos do sistema produtor, quais sejam: a) erosão e assoreamento provenientes da urbanização, exposição do solo, lixões, cortes e aterrosdestinados a diferentes obras de urbanização e viárias; b) excesso de matéria orgânica na água, tornando-a eutrofizada por produção de esgoto e resíduos sólidosdomésticos e industriais; c) poluição do ar e da água através das emissões atmosféricas e produção de resíduos pelas indústrias; d) poeira fugitiva, assoreamento e contaminação dos cursos d’água e poluição sonora resultantes dasatividades de mineração e circulação de veículos; e) eutrofização e contaminação da água por uso de fertilizantes e agrotóxicos em áreas agrícolas; f) contaminação dos cursos d’água e do aqüífero por aterros e lixões; g) contaminação da água por acidentes em rodovias que atravessam os cursos d’água.

Estes conflitos potenciais relacionados aos recursos hídricos no Sistema Cotia encontram-se ilustradosna Figura 1.

• A “Concepcão SABESP” O Sistema Cotia foi adotado pela APHG como modelo para reengenharia de processos de gerenciamento de águas e demananciais urbanos. O projeto foi concebido com base nas recomendações da Agenda 21 e alicerçado na seguinteestrutura programática do Programa Integrado de Conservação dos Mananciais - PIC-Mananciais: 1) barrar os processos de degradação ambiental presentes; 2) proteger o manancial conservado − Sistema Alto Cotia; 3) reabilitar o manancial degradado − Sistema Baixo Cotia; 4) gerar capacidade para a proteção dos mananciais cogitados (futuro); 5) envolver a população no projeto e promover ações educacionais;

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Conflitos Potenciais Relacionados aos Recursos Hídricos no Sistema Cotia

Figura 1

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6) prever e criar condições adequadas para uma gestão empresarial economicamente viável eecologicamente sustentável; 7) proporcionar o aperfeiçoamento técnico-gerencial do operador.

No aspecto técnico, a “Concepção SABESP” consiste na implantação de um sistema de reuso indiretoplanejado do efluente tratado da ETE Barueri, concebido com as seguintes funções: a) atender as indústrias locais através da venda de efluentes tratados; b) recompor as vazões dos cursos d’água contribuintes do rio Cotia; c) mitigar os impactos da ampliação da ETA Alto Cotia e da construção do coletor-tronco de esgotos TO13,adequando o sistema produtor em termos de gerenciamento de riscos ambientais e epidemiológicos; d) incrementar a produção de águas bruta e potável no Baixo Cotia.

Para tanto, foi considerada a necessidade de tratamento adicional para adequar a qualidade do efluentetratado da ETE Barueri, de modo a garantir a qualidade final da mistura desse efluente com as águas decontribuição natural da bacia, além de avaliar a necessidade de pré-tratamento dessa mistura em barragensde sedimentação acopladas a wetlands construídas. Adotou-se a tecnologia de wetlands como prática demelhor gerenciamento e controle da poluição difusa.

A implantação desses sistemas deve resultar na reabilitação funcional do manancial, e de suacapacidade de regularização, suprindo com suficiência a ETA Baixo Cotia de água bruta qualquer que sejaa condição hidrológica que se apresente. A seleção de tecnologias foi pautada no conceito de aplicação daMelhor Tecnologia Disponível. O planejamento foi analisado, ainda, no contexto das SubconcessõesPrivadas e de Gestão Empresarial da Sabesp (Modelo B.O.T.).

• Cenários

Os cenários foram definidos quanto a: −− Oferta e Demanda de Água Potável; − Pré-Tratamento (água industrial); − Disponibilidade Hídrica Regional; − ETA Baixo Cotia – Tecnologia.

• Oferta e Demanda de Água Potável

Foi adotada a hipótese de mercado infinito, ou seja, toda a produção será consumida. Os valoresadotados foram: − setor de abastecimento da ETA Baixo Cotia 1300 l/s; − limite considerando exportação 1700 l/s.

• Pré-Tratamento — Água Industrial

Em todos os cenários considerou-se um pré-tratamento na saída da ETE Barueri, visando água para finsindustriais. Foram definidos dois níveis quanto ao tratamento do efluente da ETE Barueri na ECR (Estaçãode Condicionamento para Reuso): − visando água de resfriamento no processo industrial (indústrias situadas no eixo da via férrea); − idem, com remoção de metais pesados (indústrias situadas no eixo da Rodovia Raposo Tavares).

As alternativas decorrentes (e suas variantes) da supressão deste pré-tratamento — mesmo que parauma parcela das águas destinadas ao Baixo Cotia — são avaliadas na fase de análise econômica doprojeto.

• Disponibilidade Hídrica Regional

Com a implantação do coletor tronco de esgotos TO13 e considerando-se uma contribuição garantida apartir da represa Cachoeira da Graça, foi adotada a distribuição de freqüências para as vazões a montante da ETA Baixo Cotia, conforme pode ser observado na tabela abaixo.

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Distribuição de Freqüências para as vazões a montante da ETA Baixo Cotia

Q-vazão

(l/s)

Permanência de vazões inferiores a Q (%)

QMAX Graça = 200 l/s QMAX Graça = 100 l/s

1700 38 42

1500 30 34

1300 19 25

1100 10 14

1000 6 10

900 4 6

800 2 4

700 1 2

Por exemplo, se a represa Cachoeira da Graça garantir uma defluência de 200 l/s, a afluência à ETABaixo Cotia será inferior a 1300 l/s em 19% do tempo.

O valor atribuído às descargas garantidas da represa Cachoeira da Graça foi constante ao longo dotempo. Na etapa seguinte deste projeto as mesmas serão obtidas a partir da simulação da operação dosistema.

A vazão média natural de longo termo em Cachoeira da Graça é de cerca de 1700 l/s, sendo que aregularizada de 1300 l/s tem permanência de apenas 76%, o que exige uma correta operação hidráulica dasrepresas Pedro Beicht e Cachoeira da Graça para garantir as defluências mínimas para jusante. No entanto,é pouco provável que se atinja o requisito normativo de 300 l/s (Q7,10 da bacia a montante).

Foi considerado que a vazão mínima, a ser garantida para jusante da ETA Baixo Cotia, poderá serfornecida ou complementada sempre que necessário, através do bombeamento dos efluentes da ETEBarueri, devidamente adequados para a classe do rio naquele trecho, sendo adotada uma vazão máximabombeada de 600 l/s que corresponde a Q7,10 da bacia a montante da ETA, em condições naturais.

Nesta fase dos estudos, estabeleceu-se ainda como limite máximo de complementação da vazão do rioCotia a montante da ETA Baixo Cotia, o valor de 450 l/s, em face à limitação das relações de misturaadotadas.

• ETA Baixo Cotia – Tecnologia

Foram definidos dois níveis quanto ao tratamento: − tratamento convencional; − tratamento avançado.

Cenários Considerados Produção da ETA Baixo Cotia e Respectivas Garantias

Cenário

Produção da ETA

Baixo Cotia (l/s) Básico

(1) RAP

(2) RIN

(3) RIPP

(4)

700 75% 98% 98% 100%

850 68% 85% 89% 98%

1300 47% 75% 81% 97%

1700 - - - 84%

(1) Cenário Básico - Considera apenas as intervenções previstas do coletor tronco TO13 e a ampliação da

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ETA Alto Cotia, sem a manutenção — por bombeamento — das vazões mínimas a jusante da ETA BaixoCotia, que deverão ser garantidas por montante. Foi adotada a vazão garantida pela represa Cachoeira daGraça de apenas 100 l/s. (2) RAP (Reuso Ambiental Planejado) - Corresponde ao Cenário Básico, acrescentando-se obombeamento da vazão garantida para jusante da ETA Baixo Cotia (QJusante). Observe-se que nestecenário atinge-se praticamente os mesmos níveis de atendimento firme atual, permanecendo, no entanto,falhas (15%) na exploração da capacidade máxima da ETA. (3) Cenário RIN (Reuso Industrial) - Corresponde ao Cenário RAP, introduzindo-se o reuso l/s industrial apartir da ETE Barueri, estimada em 150 l/s. A represa Cachoeira da Graça garante até 200 descarregados ajusante. Observe-se que este ganho de disponibilidade reflete-se sobre o Sistema Alto Cotia, permitindo,pois, um manejo melhor das represas Pedro Beicht e Cachoeira da Graça. (4) Cenário RIPP (Reuso Indireto Planejado Potável) - Corresponde ao cenário RIN acrescido do uso decomplementação de vazão do rio Cotia a montante da ETA Baixo Cotia com até 450 l/s, através dobombeamento dos efluentes da ETE Barueri, com tratamento adicional em uma ECR (para as indústriase/ou adequação p/ QJusante), lançadas em wetlands construídas antes de atingir o rio, e com possibilidadede uma wetland construída integrada à ETA Baixo Cotia.

• Tecnologias Estudadas −− Wetlands, Wetlands Construídas, Wetlands Ecológicas Construídas

O termo wetland, simplesmente traduzido, significa “terra úmida”. Do ponto de vista ecológico, noentanto, representa vários ecossistemas com características distintas, tendo todos, porém, um ponto emcomum: água em abundância em algum período do ano ou em todo o ciclo sazonal.

As wetlands naturais são facilmente reconhecidas como as várzeas dos rios; os banhados; os pântanos,as formações lacustres de baixa profundidade (em parte ou no todo); as grandes ou pequenas áreas comlençol freático muito alto etc..

Todos os sistemas de wetlands têm funções fundamentais no equilíbrio ecológico dos ecossistemas nosquais se encontram inseridos. As principais funções e que são de interesse neste estudo referem-se a: a)capacidade de regularização dos fluxos de água, amortecendo os picos de enchentes (macrodrenagem); b) capacidade de modificar e controlar a qualidade das águas; c) capacidade de amortização dos picos de poluição da água, implicando em redução dos custos de tratamento, menores variações de qualidade e maior segurança no tratamento da água; d) sua importância funcional na reprodução e na alimentação da fauna aquática, incluindo os peixes; e) sua importância funcional como refúgio e proteção à biodiversidade; f) controle de erosão e assoreamento dos canais dos rios.

Na bacia do rio Cotia, a jusante da Rodovia Raposo Tavares, existem várias wetlands naturais,caracterizadas como várzeas do rio Cotia ou de seus afluentes. Essas áreas, pouco modificadas e tambémpouco estudadas, já vêm exercendo as suas funções dentro do ecossistema e sofrem inundaçõesperiódicas durante os períodos de maior precipitação.

É importante notar a diferenciação entre wetlands naturais e as chamadas wetlands construídas.Wetlands construídas são ecossistemas artificiais com diferentes níveis de tecnologia, onde se empregamos princípios básicos das wetlands com objetivo de alcançar as mesmas funções ecossistêmicas básicas.

Em decorrência dos processos utilizados, as wetlands construídas (conforme pode se observar na figura2) podem ser classificadas de forma arbitrária como: - wetlands com plantas emergentes (WPE); - wetlands com plantas flutuantes (WPF); e - wetlands com solos filtrantes (fluxo ascendente/descendente).

A utilização de um determinado tipo de wetlands ou de uma combinação entre eles, formando sistemasde wetlands, depende do problema a ser resolvido, da qualidade dos recursos hídricos, da área disponível,do interesse da utilização da biomassa produzida e do interesse paisagístico.

Em função da construção do coletor tronco TO13 na bacia do rio Cotia, concebeu-se um tipo de wetlandsecologicas construídas ( WEC’s) utilizando sistemas mistos de plantas emergentes e plantas flutuantes ou,conforme o caso, somente plantas emergentes.

Pode-se, no entanto, considerar ainda, onde assim for recomendável (por exemplo, em sub-bacias nãoalcançadas pelo coletor-tronco) em conseqüência da qualidade das águas afluentes, a incorporação decélulas de solo filtrante.

Os sistemas de WEC’s devem ter, neste caso, as seguintes funções: − controlar os picos de cheia; − detectar e controlar a contaminação dos recursos hídricos;

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Aspectos Esquemáticos de Alguns Tipos de Wetlands Construídas

Figura 2

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− servir como sistema de barragens de sedimentação; − purificar as águas do rio Cotia ou de seus efluentes; e − receber as águas de reuso planejado indireto potável.

Para satisfazer tais funções, o sistema de wetlands a ser implementado deverá ter as seguintescaracterísticas: a) uma barragem a montante com a finalidade de remoção de partículas sedimentáveis (barragem desedimentação). Esta barragem servirá ainda para ganhar nível visando a distribuição da água no sistema dewetlands; b) um conjunto (sistema) de wetlands, separados por diques, formando células independentes, quepermitam o controle do fluxo da água através do sistema; c) canais coletores das águas provenientes das wetlands recompondo as águas do rio no canal principal.

O sistema WEC’s como tecnologia apropriada, a partir de diferentes associações de variantestecnológicas, foi avaliado através de: − construção de uma wetland piloto junto à ETA Baixo Cotia; − simulações em computador.

As simulações iniciais foram realizadas considerando as condições atuais do rio Cotia, o que tambémpermitiu verificar e adequar os modelos aos resultados obtidos na wetland piloto. É importante salientar, noentanto, que embora o coletor tronco afastará as cargas pontuais, existirão sempre as cargas difusasprovenientes das atividades urbanas e de agricultura.

Em vista disso, foram feitas também simulações considerando-se outros sistemas de wetlands,comparando os resultados com os parâmetros definidos na Resolução CONAMA No 20, de 18 de junho de1986.

Os resultados dessas simulações mostram que o rio Cotia e/ou seus afluentes poderão ser enquadradoscomo rio Classe 2 (CONAMA No 20/1986) para os parâmetros considerados, após passarem por sistemasde wetlands operando em série. A rigor, o enquadramento já se daria com a passagem em apenas umsistema de wetlands para todos os parâmetros, à exceção do Fosfato Total. Observe-se que embora oFosfato Total seja fator importante para a classificação do rio Classe 2, não o é para valores limites depotabilidade.

• Síntese

Os sistemas de wetlands construidas, como propostos na “Concepção SABESP”, poderão serempregados para conseguir uma reabilitação ambiental e melhoria da qualidade da água do Sistema BaixoCotia. A região estudada possui área suficiente para a implantação das wetlands necessárias para atingiras finalidades preconizadas. Para a finalidade do reuso planejado indireto potável do efluente da ETEBarueri, recomenda-se, após o tratamento químico, que o efluente passe através de um sistema dewetlands construídas utilizando várias tecnologias em série. Estas wetlands deverão ter um manejoespecial, incluindo previsão de destino para a biomassa produzida. O manejo, no entanto, não deveráapresentar grandes problemas, uma vez que o tempo de utilização da mesma será, em média, da ordem de70 dias por ano, principalmente no período de estiagem.

O efluente desse tratamento deverá atingir características de rio Classe 2 (CONAMA No 20/1986) e serencaminhado às WEC’s e posteriormente aos afluentes do rio Cotia ou ao próprio rio Cotia. Antes do projetofinal recomenda-se a avaliação dos resultados obtidos de uma segunda estação piloto de wetlands,construída na ETE Barueri e que encontra-se em funcionamento desde abril de 1997. Estações de Condicionamento para Reuso - ECRs

• Tratamento para Fins Industriais — ECR-1

Esgotos domésticos tratados têm sido amplamente utilizados como água de refrigeração em sistemascom e sem recirculação. De qualquer maneira, um tratamento adequado deve ser efetuado para evitarcorrosão ou formação de depósitos, crescimento de microorganismos, formação excessiva de escuma edelignificação de torres de refrigeração construídas em madeira.

A ETE Barueri produz um efluente secundário de qualidade bastante boa para o seu reaproveitamentopara outras finalidades. A vazão tratada apresenta uma variação diária e sazonal podendo atingir valoressuperiores a 5 m3/s. A vazão de outubro de 1995, por exemplo, oscilou entre 3,0 m3/s e 5,2 m3/s, com umamédia mensal de 4,17 m3/s.

A Sabesp estabeleceu como condição básica de operação da ETE, que o Índice de Performance nãoseja inferior a 80%. Os dados operacionais contidos nos Relatórios Gerenciais de Performance mostramque esse índice tem se mantido, na maior parte do tempo, acima de 80% chegando a atingir valoressuperiores a 90%. De uma maneira geral, o efluente se mantém em condições de estabilidade, tornando-sedesnecessária a inclusão de unidades de equalização de vazão a montante da estação decondicionamento.

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Devido às suas características agressivas, conteúdo de matéria orgânica, sólidos suspensos,microorganismos formadores de limo, nutrientes com potencial para proliferação de algas, gases eelementos causadores de dureza, os efluentes secundários devem ser submetidos a tratamento avançadoantes de serem utilizados em torres de refrigeração. Basicamente, coagulação-floculação química,sedimentação, filtração e desinfeção, associados com processos específicos para remoção de amônia sãonecessários para se obter água com a qualidade requerida.

A análise de alternativas para o sistema de condicionamento, levou à escolha de uma Estação deCondicionamento para Reuso (ECR-1), composta de: cloração ao ponto de ruptura (“break-pointchlorination”) através de aplicação de cloro em câmara de contato para oxidação da amônia, coagulaçãoatravés de sulfato de alumínio e filtração direta com polímeros como auxiliares de filtração e desinfecçãocom cloro.

• Estágio Avançado do Tratamento Físico-Químico do Efluente da ETE Barueri — ECR-2

No estudo, não obstante o efluente da ECR-1 atingir, para diversos parâmetros, as condiçõesnecessárias para o seu despejo em corpos d’água de classe 3 e mesmo classe 2, após passar por umsistema de WEC’s (Wetlands Ecológicas Construídas), diversos poluentes, em particular os metais pesados,continuam presentes, sendo pois altamente indesejável conduzi-los para corpos receptores que,originalmente, não possuem estas características.

Uma das alternativas para a remoção desses poluentes consiste em um tratamento físico-químicoadicional à ECR-1, preliminar ao tratamento natural oferecido pelos sistemas de WEC’s preconizado. AECR-2, responsável por esta etapa na recuperação dos efluentes da ETE Barueri, visa remover algunsmetais pesados, particularmente os que precipitam o pH elevado. Entre estes podem ser incluídos oCádmio, o Cobre e o Arsênico.

O sistema de tratamento será composto de uma unidade de mistura rápida empregando cal hidratada,uma unidade de coagulação-floculação, uma unidade de sedimentação e uma unidade de filtração rápida. Odetalhamento desta ECR-2 encontra-se em fase de desenvolvimento.

• Tecnologia: ETA Baixo Cotia

Os processos e operações unitárias da ETA Baixo Cotia são atualmente (e resumidadamente) osseguintes: medição de vazão; dosagem de produtos químicos; coagulação/floculação; decantação efiltração.

• Tecnologia Projetada: ETA Baixo Cotia

Os sistemas de tratamento propostos para a ETA Baixo Cotia foram concebidos a partir da premissa quedevam ser capazes de garantir a potabilização da água afluente à estação, qualquer que seja o cenário quevenha a ser escolhido. Pelo fato de necessitar de ensaios em ETA piloto, não considerados por esta fasedos estudos, apenas a alternativa mais avançada foi selecionada e descrita adiante.

Esta alternativa supõe que a vazão de efluentes da ETE Barueri a ser descarregada no Rio Cotia seráproporcionalmente grande (entre 0 e 450 l/s em 20% do tempo, ou seja, durante o período de estiagem), oque implicaria em alterações tanto em relação à qualidade da água afluente à ETA, como em relação àvazão a ser tratada, o suficiente para justificar a inclusão de processos unitários não existentes atualmentena ETA Baixo Cotia, implicando em alterações significativas nessa unidade de tratamento.

• Represamento

Embora na maioria das vezes represamentos de águas brutas sejam feitos por outras razões, asalterações que ocorrem num corpo de água superficial sujeito aos fenômenos naturais são importantes.Reduções na concentração de matéria orgânica, no nível bacteriano geral e de vírus, nas bactériaspatogênicas e nos organismos patogênicos concorrem de maneira decisiva para a melhoria das condiçõesqualitativas da água bruta. A utilização da represa Isolina Superior está sendo avaliada como um processounitário, portanto passível de dimensionamento e operação.

• Pré-Oxidação com Ozônio ou Pré-Ozonização

O objetivo da oxidação química (pré-oxidação com Ozônio) é converter o material orgânico dissolvidobiorefratário em material biodegradável com a menor quantidade de oxidante possível.

A pós-ozonização será feita a montante dos filtros para incorporação do fenômeno da microfloculação epara mantê-los em condições aeróbias. Quanto aos demais processos, além da pesquisa do emprego depolieletrólitos, não estão sendo previstos outros além daqueles já empregados na ETA atual, o que torna

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dispensável sua descrição.

• Concepção da ETA

Alternativa concebida para uma relação QETE/QRIO, partindo da premissa que o tratamento atual não ésuficiente para garantir a potabilização da água, em termos de micropoluentes. Esta alternativa foidesenvolvida a partir da tecnologia empregada pela ETA de Choisy le Roi, onde a ênfase é dada àozonização e ao tratamento biológico em leitos de carvão, adaptados às particulares condições do SistemaCotia.

• Tratamento Biológico

Uma importante utilização do ozônio é sua aplicação a montante de leitos ou colunas de carvão ativadogranular. Esse processo induz a oxidação de produtos orgânicos dissolvidos oxidáveis, formando outrosmais biodegradáveis propiciando uma oxigenação adicional à água, produzindo um ambiente francamentefavorável à proliferação de bactérias na superfície dos grãos de carvão ativado. Nessas condições, essasbactérias removem biologicamente os compostos orgânicos dissolvidos e a amônia presentes.

Esse processo, que ficou conhecido na literatura internacional como Biological Granular ActivatedCarbon ou B/GAC, ou simplesmente BAC, já é utilizado há mais duas décadas na planta de Dohne emMülheim perto de Düsseldorf na Alemanha, na remoção de compostos orgânicos e amônia, e na França, naplanta de Rouen-la-Chapelle, desde 1976 .

• Alternativas de Engenharia

As alternativas definidas com vistas à avaliação da “Concepção SABESP”, têm como meta atender aoCenário RIPP, estruturadas de modo a permitir, através da subtração e adequação de seus elementoscomponentes, a avaliação dos demais cenários. Ou seja, a análise efetuada permite a comparação dospassos a serem dados no sentido da otimização do sistema e a intensidade da sua conveniência. Embora as relações B-C > 0 e B/C > 1 sejam mandatórias para se alcançar a viabilidade econômica dasalternativas, tendo em vista a possibilidade do investimento privado, poder-se-á identificar o ponto ótimopara cada abordagem a ser considerada no que tange ao empreendedor, bem como identificar o melhormomento para sua incorporação ao processo. O quadro a seguir apresenta um resumo das alternativasanalisadas.

Resumo das Alternativas Analisadas

Alternativa 1 Bombeamento industrial independente a partir da ECR-1 e ETA nível 1

Alternativa 2 Bombeamento industrial independente a partir da ECR-1 e ETA nível 2

Alternativa 3 Bombeamento conjunto para industrial e potável a partir da ECR-2 e ETA nível 1

Alternativa 4 Bombeamento conjunto para industrial e potável a partir da ECR-2 e ETA nível 2

Alternativa 5 Bombeamento conjunto para industrial e potável a partir da ECR-1 e ETA nível 2 (exclui a ECR-2)

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Esquema Representativo das Alternativas de Solução

ETE Barueri

Figura 3

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Figura 4

• Investimentos Previstos

Os investimentos relativos às diversas unidades do projeto podem ser divididos em dois grupos:

investimentos comuns a todas as alternativas e investimentos que variam com as alternativas. O Quadro

abaixo resume os investimentos necessários à implementação do projeto, onde os itens 1, 2, 3, 9, 10, 11,

12, 14 e 15 correspondem aos investimentos comuns a todas as alternativas (assinalados com * ):

Investimentos por Alternativa (R$ 1.000)

Componentes

do Projeto

A l t e r n a t i v a s

1 2 3 4 5

* 1-Estação Cond. para Reuso 1 (ECR1) 8383 8383 8383 8383 8383

* 2-Estação de Bombeamento 1 - Rio Cotia 270 270 270 270 270

* 3-Linha de Recalque 1: Rio Cotia 1832 1832 1832 1832 1832

4-Estação Cond. para Reuso 2 (ECR2) 6600 6600 8800 8800 0

5-Estação de Bombeamento 2 - Reuso 1000 1000 1200 1200 1200

6-Linha de Recalque 2: Reuso 4200 4200 5244 5244 5244

7-Est. Bombeamento 2i - Reuso Indust. 400 400 0 0 0

8-Linha de Recalque 2i: Reuso Indust. 4680 4680 1937 1937 1937

* 9-Desapropriações 2650 2650 2650 2650 2650

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* 10-Wetlands - ETE Barueri 1650 1650 1650 1650 1650

* 11-Wetlands - ETA Baixo Cotia 1000 1000 1000 1000 1000

* 12-Wetlands Ecológicas Construídas 1200 1200 1200 1200 1200

13-Estação de Tratamento de Água 12921 20439 12921 20439 20439

* 14-Recuperação das represas Isolina 1800 1800 1800 1800 1800

* 15-Derivações para Indústrias 1500 1500 1500 1500 1500

Sub-Total 50086 57603 50387 57904 49104

Administração e Supervisão (10%) 5009 5760 5039 5790 4910

Investimento Total 55094 63364 55425 63695 54015

• Análise Econômico-Financeira

Normalmente os projetos de investimentos — notadamente aqueles com acentuado componente social— devem ser submetidos a dois tipos de avaliação econômico-financeira: uma avaliação sob a Ótica daSociedade e outra sob a Ótica da Empresa responsável pelo mesmo. Ou seja, uma Social e outra Privadaou Financeira.

Na primeira, procura-se detectar se o projeto é desejável pela sociedade. Ou seja, se os seus benefícios— financeiros ou não — são superiores aos Custos que ele produzirá para a sociedade. Nesse caso,deverão ser considerados na análise todos os Custos e Benefícios do projeto avaliados a preços Sociais enão a preços de Mercado. Como ilustração, pode-se imaginar que, enquanto a utilização de pessoaldesempregado em um projeto representa um custo nulo para a sociedade, para a empresa, no entanto,essa contratação representará um custo financeiro positivo.

A realização dessa análise sob a Ótica Social, no entanto, envolve uma metodologia econômicaextremamente sofisticada e um nível de informações e pesquisas sócio-econômicas que, no estágio atual,este projeto ainda não dispõe. Por isso, no presente trabalho será realizada somente a análise sob a Óticada Empresa. Segundo esta Ótica Privada ou Financeira, os Custos e Benefícios representam Despesas eReceitas para a Empresa e são avaliados com base nos preços e tarifas praticados pelo mercado.

• Tipos de Avaliação Utilizados

A metodologia de análise econômico-financeira utilizada na avaliação deste projeto consistiu na

determinação e análise, para cada alternativa, dos Custos Marginais de Longo Prazo para os diversoscomponentes e produtos gerados pelo projeto, e na análise da Taxa Interna de Retorno e da RelaçãoBenefício x Custo do projeto, considerando-se as tarifas atualmente praticadas pela Sabesp.

Também foi avaliado o grau de atratividade do projeto para uma eventual exploração por um operadorprivado através de um modelo tipo B.O.T.

• Custo Marginal de Longo Prazo

O Custo Marginal de Longo Prazo (CMLP) reflete o Custo Médio de toda a água fornecida pelo projetoaol logo de toda a vida útil do mesmo e esta’expresso em R$/m3 faturado.

O Custo de Oportunidade do Capital representa o que se está deixando de ganhar em um projetoalternativo por se ter alocados os recursos no projeto em pauta. Do ponto de vista econômico, só érecomendável a alocação dos recursos disponíveis em um dado projeto se a rentabilidade esperada for pelomenos igual ao Custo de Oportunidade do Capital, ou seja, à rentabilidade do uso alternativo para o capital.

Sob a ótica do investidor privado, um uso alternativo pode ser a simples aplicação dos recursos nomercado de capitais. Para ele, portanto, qualquer projeto aceitável deverá render pelo menos a taxa dejuros paga pelo mercado. Para fins desta análise sob a Ótica Financeira, portanto, se equivalem osconceitos de Custos de Oportunidade do Capital e Taxa de Juros de Mercado.

Para um projeto de abastecimento de água, a possibilidade de cobrança de uma da Tarifa Média igual aoCMLP significa que o projeto proporcionará uma rentabilidade igual ao Custo de Oportunidade do Capital e,portanto, do ponto de vista financeiro, a decisão de implementar o projeto representa uma eficientealocação dos recursos disponíveis.

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• Taxa Interna de Retorno Financeiro (TIR)

É definida como a taxa de descontos que iguala o valor presente dos custos de Investimentos eExploração, durante toda vida útil do projeto, ao valor presente dos benefícios ou receitas no mesmoperíodo.

A relação é tautológica: sempre que a Tarifa Média for maior do que o CMLP, a Taxa Interna de Retorno- TIR será maior do que o Custo de Oportunidade do Capital dado pela Taxa de Juros do Mercado, e,portando, o projeto será considerado atraente.

• Relação Benefício / Custo

É dada pela relação entre os valores presentes de todos os Custos e Benefícios financeiros do projeto,ao longo de toda a sua vida útil, descontados a uma taxa igual ao Custo de Oportunidade do Capital ouTaxa de Juros de Mercado. Segundo este critério, o projeto é considerado viável sempre que esta relaçãofor B/C > 1.

Do mesmo modo que nas avaliações pelo CMLP e pela TIR, as conclusões da análise pela relaçãoBenefício/Custo são coincidentes. Ou seja, quando a Tarifa Média é maior do que o CMLP, a TIR é maior doque a Taxa de Juros de Mercado e a relação Benefício/Custo é maior que 1.

Desse modo, os três parâmetros de avaliação econômico-financeira de projetos produzem o mesmo tipode conclusão quanto à viabilidade do projeto analisado, ficando a sua escolha restrita a uma mera questãode preferência e facilidade de interpretação dos interessados.

• Modelo de Análise

Para a análise econômico-financeira do presente estudo, foi desenvolvido um Modelo que, a partir dedados da Sabesp, dados do Projeto e de um conjunto de parâmetros internos e externos, projeta, para operíodo de vida útil do empreendimento, todos os seus Custos de Exploração, as Receitas esperadas, oServiço da Dívida resultantes de um eventual financiamento, o Fluxo de Caixa, e, calcula ainda os CustosMarginais de Longo Prazo para o projeto como um todo, para cada produto (água industrial e água potável)e para cada componente do projeto, além da Taxa Interna de Retorno Financeira e da RelaçãoBenefício/Custo.

• Óticas de Análise

As análises econômico-financeiras das alternativas consideradas neste projeto foram realizadas à luz detrês óticas distintas: − ótica do projeto; − ótica financeira da Sabesp − ótica de um operador privado ( B.O.T.).

• Análise sob a Ótica do Projeto

Na análise sob a Ótica do Projeto, o empreendimento foi entendido como um sistema produtor de águacujos produtos são dois: a) Água para uso industrial (por razões contratuais, nesta fase do projeto a análisefoi realizada apenas considerando os grandes consumidores industriais estabelecidos no entorno daRodovia Raposo Tavares); e b) Água Potável na saída da Estação de Tratamento para venda por atacado.

Para quantificação dos benefícios financeiros do projeto segundo esta ótica, considerou-se, para a ÁguaPotável a Tarifa Média de Água por Atacado praticada pela Sabesp, que está em torno de R$ 0,46. Para aÁgua Industrial utilizou-se uma Tarifa Média estimada de R$ 0,35, que representa uma aproximação doCusto Médio alternativo para reciclagem do próprio efluente pela indústria.

Para a Água Potável, por se entender o produto como água por atacado na saída da ETA, não foramconsiderados quaisquer custos de distribuição e comercialização do mesmo.

• Análise sob a Ótica Financeira da SABESP

Nesta ótica, para a Água Industrial foram mantidas as mesmas premissas e condições adotadas na óticaanterior. Entretanto, no que se refere à Água Potável, foram considerados todos os Custos e Benefíciosesperados até a distribuição final da mesma. Ademais, admitiu-se que toda a produção adicional na novaETA Baixo Cotia seria absorvida pelas ligações existentes, para atender à demanda reprimida.

Desse modo, foram considerados alguns custos adicionais de distribuição e comercialização, e a

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mensuração dos benefícios financeiros foi feita com base na Tarifa Média Final praticada pela Sabesp naRegião Oeste. Além disso, foram considerados os seguintes aspectos na quantificação dos custos ebenefícios para a Sabesp: a) perdas de distribuição de 40% do volume produzido; b) que parte do atendimento à demanda reprimida não se converterá em adicional de faturamento devido àpresença de ar nas redes e à cobrança compulsória de um consumo mínimo de 10 m3/mês. Para esse fim,foi admitido um percentual de 20% sobre o volume produzido como correspondente ao volume que aSabesp já estaria faturando sem o devido fornecimento; c) sabendo-se que cerca de 51,2% dos prédios com ligação de água na região também dispõem de ligaçãode esgoto, considerou-se o correspondente incremento no volume faturado de esgoto em decorrência doaumento no consumo de água dessas ligações; e d) considerou-se como devedores incobráveis o correspondente a 1% da receita de Água Industrial e 5% dareceita de Água Potável.

• Análise sob a Ótica do Operador Privado (B.O.T.)

Nas óticas anteriores o projeto deve ser operado pela Sabesp e, portanto, beneficia-se de toda estruturaoperacional e administrativa existente, sendo considerados somente os custos incrementais para a empresadecorrentes do projeto.

Nesta hipótese, a operação pela Sabesp da nova ETA Baixo Cotia deve ser feita com a mesma equipede 21 empregados atualmente existente na ETA, não requerendo, portanto, nenhum empregado adicional. Na Ótica do Operador Privado, entretanto, essa equipe de operação foi considerada custo adicional doprojeto tendo, somente, seus salários ajustados a níveis próximos dos de mercado.

• Viabilidade Econômico-Financeira: Resultados

O empreendimento como um todo — enfocando as melhorias das condições da bacia e a produção deágua potável — é viável e economicamente interessante para todas as alternativas analisadas.

Não obstante o empreendimento requerer, mesmo se voltado apenas à reabilitação das águas do rioCotia, uma estação de recondicionamento para reuso (ECR) dos efluentes da ETE Barueri, com tratamentoquímico pelo menos ao nível de água de refrigeração, a produção propriamente dita de água industrial nãoé economicamente viável, frente a tarifa adotada de R$ 0,35/m3.

Analisando-se, pois, o empreendimento, sem a produção de água para fins industriais, as alternativasapresentam taxas internas de retorno (TIR) que variam entre 16,0% e 19,1% na ótica do projeto e entre23,9% e 28,2% na ótica da Sabesp. Destaque-se o custo marginal de longo prazo (CMLP) da produção dom3 de água potável, que se situa na faixa de R$ 0,35 a R$ 0,39, valor este muito significativo em face aosvalores de mercado de água potável por atacado.

Sob a Ótica do Projeto, todas as alternativas são significativamente rentáveis do ponto de vista deretorno sobre os investimentos e, portanto, têm viabilidade do ponto de vista econômico-financeiro.

Sob a Ótica da Sabesp os resultados são visivelmente superiores àqueles da análise sob a Ótica doProjeto, visto que a TIR atinge patamares acima dos 20% em quase todas as alternativas. Os CustosMarginais de Longo Prazo relativos ao projeto e à Água Potável situam-se bem abaixo da Tarifa MédiaFinal (R$ 1,10/m3) em todas as alternativas.

Sob a ótica do setor privado, as TIR’s para a produção de água potável variam entre 16,8% e 19,3%, asquais na atual conjuntura, segundo as experiências recentes, estão abaixo das expectativas dosinvestidores privados para um B.O.T., considerando esta faixa de investimento (50 a 60 milhões de Reais).Isto porque, não obstante esses investidores assumirem empreendimentos por 30 anos, esperam o retornodo mesmo em no máximo 8 anos (ou até 5).

Os resultados do quadro abaixo — compreendendo a produção de água potável e água industrial —indicam que este projeto em seu todo não deve ser atrativo ao Operador Privado. As TIR’s para todas asalternativas variam de 13,1% a 16,8%, o que dificilmente atenderia às expectativas de rentabilidade deeventuais interessados que, para projetos dessa natureza, tem mostrado situar-se acima dos 20%.

Indicadores Econômicos por Alternativa sob a Ótica do Operador Privado Indicadores Alt.1 Alt.2 Alt.3 Alt.4 Alt.5

1. Taxa Interna de Retorno 15,9% 3,7% 15,2% 13,1% 16,8%

2. Relação Benefício/Custo 0,74 0,67 0,73 0,66 0,77

3. Custo Marginal de L.P. 0,5994 0,6629 0,6123 0,6758 0,5819

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Cabe lembrar, no entanto, que em se tratando de um projeto com uma filosofia ambiental voltada para asustentabilidade, com uma gestão dos recursos naturais em bases ecológicas, é de se esperar que atraiauma classe particular de investidores internacionais — e recursos financeiros — interessados neste tipo deprojeto. E, ainda, que as alternativas avaliadas apresentam diferenças de caráter tecnológico, cuja definiçãoserá dada na segunda fase do projeto. Finalmente, é importante ressaltar que os custos assumidos nestaetapa dos trabalhos foram sempre definidos a favor da segurança. “Portanto, do ponto de vista financeiro, no que se refere ao componente relativo a Água Potável, este constitui-se em excelente negócio para a Sabesp, proporcionando-lhe um excedente financeiro expressivo face ao porte do mesmo”. Conclusões

• Quanto ao Balanço Hídrico

O aumento da capacidade da ETA Alto Cotia, cujas obras estão praticamente concluídas, mais ainterceptação dos esgotos pelo coletor tronco TO13, em fase de construção, causará um impacto fenomenal— chegando a 800 l/s — em 20% do tempo. Ou seja, ao invés de rodízio, passar-se-ía a deficit, cominterrupções de até dois meses no atendimento a alguns setores. Assim, é mandatório, qualquer que seja asolução adotada, o reestabelecimento a curtíssimo prazo, da vazão subtraída, para, pelo menos manter-seo status quo e, a posteriori, o seu incremento para fazer face ao aumento previsto da demanda.

• Quanto aos Aspectos Ambientais

Identificam-se hoje duas realidades distintas na bacia do rio Cotia: a porção alta da bacia sofre poucainterferência antrópica por constituir a Reserva Florestal do Morro Grande, e a porção norte, ou Baixo Cotia,contém a população e suas diversas atividades. A estrada Raposo Tavares é um outro elemento-referênciada paisagem, que interfere formando o corredor industrial, por sua vez associado às comunidades demédia-baixa renda.

As indústrias formam uma paisagem em corredor que concentram impactos e sinergizam o quadro dedeterioração ambiental, com demanda de água e energia, emissões de metais pesados, poluição do ar e,principalmente, impactos diretos sobre os cursos d’água por estarem, com freqüência, junto as planícies. Aságuas, por sua vez, são utilizadas de acordo com as necessidades de cada setor sem que haja uma políticade ação coordenada. Sem planejamento — é o que se pode dizer sobre a forma caótica de ocupação.

Propõe-se uma solução através da concepção de um projeto de reuso planejado dos efluentes tratadosda ETE Barueri e a implantação de wetlands construídas, permitindo a recomposição das águas do rio Cotiano seu trecho médio, a proteção de mananciais da poluição difusa e de eventuais acidentes no eixo daRaposo Tavares, a recuperação paisagística de diversos sítios e o envolvimento da população da bacia noprojeto. Foi ainda preparado um plano de comunicação e marketing buscando a eficácia na concretizaçãodo empreendimento, sobretudo as ações não estruturais.

A solução proposta permite o estagiamento da implantação de modo a, rapidamente, melhorar ascondições ambientais da bacia hidrográfica e de atendimento do sistema produtor até a finalização dasobras. Ela deve ser iniciada pela implantação das wetlands dos ribeirões das Pedras e das wetlands doribeirão Moinho Velho, o que trará uma melhoria considerável para as águas afluentes à ETA Baixo Cotia edas condições ambientais dos sítios onde as mesmas forem instaladas.

Em suma, quantos aos aspectos ambientais analisados, a solução preconizada na “ConcepçãoSABESP” é extremamente adequada.

• Quanto aos Aspectos Tecnológicos

Soluções avançadas requerem tecnologia de alto nível. Neste projeto destacam-se três tecnologias aserem aplicadas: − a utilização de wetlands construídas, concebidas segundo os padrões mais modernos no conceito dedesenvolvimento sustentável e baseadas na experiência mundial de recuperação de águas para a suadevolução aos corpos hídricos naturais; −− a adoção de processos de tratamento na ETA, os mais avançados e seguros em termos de ETAs degrande capacidade, fundamentados em sistemas consolidados na Europa e nos Estados Unidos, com apreocupação precípua de remoção de micropoluentes; − o pós-tratamento dos efluentes da ETE Barueri, considerando sua qualidade real.

Outro fator considerado merece destaque, qual seja, a capacidade que o sistema concebido tem demanter-se operacional e produtivo na ocorrência de acidentes qualitativos no circuito hidráulico, sem colocarem risco a qualidade da água produzida e a saúde dos consumidores.

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• Quanto à Viabilidade Econômico-Financeira

A análise econômico-financeira levada a efeito concluiu que, “do ponto de vista financeiro, no que serefere ao componente relativo a Água Potável, este constitui-se em excelente negócio para a Sabesp,proporcionando-lhe um excedente financeiro expressivo face ao porte do mesmo”.

Recomendações

É de suma importância que a solução proposta para o Sistema Baixo Cotia possa ser implementada nomenor prazo possível de modo a evitar um agravamento da situação atual no abastecimento da RegiãoOeste, e ainda, prejuízos significativos para a Sabesp, que ficará impossibilitada de utilizar plenamente aETA Alto Cotia.

A implantação, a curto prazo, da Estação de Bombeamento EB1 e da correspondente Linha de RecalqueLR1 (ETE Barueri — Jusante ETA Baixo Cotia) permitirá utilizar toda a vazão afluente à represa IsolinaSuperior para tratamento na ETA Baixo Cotia, quando necessário.

A implantação das Wetlands Ecológicas Construídas, que também pode ser realizada no curto prazo,trará uma sensível melhoria à qualidade da água do rio Cotia, compensando a diminuição de água de boaqualidade (captada pela ETA Alto Cotia) atualmente utilizada para diluição de poluentes do Médio Cotia. Naseqüência poderão ser construídos e implantados os demais componentes do sistema preconizado,havendo tempo para os ajustes tecnológicos que se façam necessários na ECR2 e na ETA, emconformidade com os resultados a serem obtidos em Estações Piloto, cuja construção recomenda-se deveser efetivada de imediato.

Recomenda-se, ainda, a intensificação e regularidade de campanhas de coleta de informaçõesbalisadoras das ações propostas, quais sejam, aquelas referentes à qualidade das águas na baciahidrográfica contemplando um conjunto de parâmetros abrangente — conforme indicado nos estudos — e,aquelas referentes à qualidade de vida, de cunho sócio-econômico e sanitário.

Essas informações permitirão avaliar continuamente a evolução das obras de saneamento ambiental daSabesp na bacia hidrográfica, além das ações propostas no Programa de Conservação do Sistema Cotia,elaborado pela Divisão de Gestão de Mananciais, envolvendo inclusive a proteção do Sistema Alto Cotia eda Reserva do Morro Grande.

Tendo em vista o fim desta etapa do projeto, e que a sua conclusão está prevista para setembro de1998, recomenda-se a intensificação e a aceleração dos trabalhos da segunda etapa, permitindo aelaboração de projetos básicos para licitação de obras, antecipando-se, pois, a disponibilidade de umavazão adicional de água tratada no SAM.

Não obstante a garantia de Reabilitação do Sistema Baixo Cotia, a partir da execução das ações e obraspropostas neste estudo, recomenda-se a conservação planejada de outras várzeas na bacia do MédioCotia. Os ecossistemas de várzeas dessa bacia devem ser conservados através de intervenções planejadasao longo do tempo, com ênfase na utilização de suas funções ambientais, do valor estético dessas áreaspara as comunidades locais, através de adequados projetos de paisagismo, permitindo, no futuro, que asmesmas passem a integrar o processo de reabilitação das águas provenientes de sistemas de tratamentode esgotos isolados. Dessa forma, essas várzeas seriam transformadas em wetlands ecológicas com fluxoscontrolados com características e funções de parques urbanos.

É recomendada a adoção do Cenário RIPP — Reuso Indireto Planejado Potável — na decisão sobre aimplementação deste projeto. Um fator importante a favor deste cenário diz respeito ao fato do mesmogerar uma menor dependência do sistema produtor às condições hidrológicas da bacia, criando melhorescondições para o gerenciamento de risco hidrológico no manancial e, consequentemente, condições maisadequadas de atendimento do Sistema Adutor Metropolitano-SAM.

No Cenário RIPP, a Alternativa de Engenharia Nº 4 é a opção mais desejável. Esta alternativa, queimplica na instalação de uma ETA avançada e de ECR-2 com remoção de metais pesados, introduz umaforte componente de inovação tecnológica em tratamento de água potável e esgotos sanitários na Sabesp eno país, não obstante exigir um maior aporte de investimento. Entretanto, esse custo incremental pode seratenuado através do delineamento do projeto no âmbito da pesquisa acadêmica aplicada, criandocondições favoráveis para obtenção de subsídios à pesquisa previstos na Lei N.º 8661/93. Para tanto, énecessário promover a inclusão deste projeto no “Portfólio de Projetos” do Programa Tecnológico daEmpresa, previsto na Política Institucional de Desenvolvimento Tecnológico da Sabesp — Ref.15. Se estadecisão for adotada e se tais subsídios forem concedidos, os indicadores econômicos deste projeto podemser melhorados.

Nas análises econômico-financeiras não foi realizada a contabilidade dos Benefícios e Custosdecorrentes da implantação do projeto em relação ao Sistema Alto Cotia, apesar do Sistema Alto Cotia tersido considerado no estudo do balanço hídrico. Assim, se o Cenário Básico for confirmado a ETA Alto Cotianão poderá ser utilizada plenamente, implicando, pois, em perda econômica de uma parte do investimentorealizado para sua ampliação. Todavia, esses cálculos podem ser efetuados com brevidade, de acordo coma orientação da Alta Direção da Empresa.

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Os bancos de dados gerados a partir deste trabalho permitem que a Sabesp regularize a Outorga doDireito de Uso da Água no Sistema Cotia, junto ao DAEE, de acordo com o Decreto Nº 41.258, de 31 deoutubro de 1996, e dos regulamentos dos artigos 9º a 13º da Lei Nº 7.663/91. Esta iniciativa dependerá,contudo, de uma definição na Empresa a respeito do Cenário e da Alternativa de Engenharia a seremescolhidas para implementação nos Sistemas Baixo e Alto Cotia.

De imediato, os bancos de dados sobre temas como, por exemplo, cadastros atualizados de poçosartesianos e de indústrias existentes na bacia hidrográfica, permitem que a Sabesp disponibilize uma amplabase de informações ao DAEE, de forma a subsidiar e a incrementar o processo de fiscalização de usuáriosda água em conformidade com a Lei Nº 7663/91, de acordo com as normas e orientações da Política deRecursos Hídricos e do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de SãoPaulo.

A recomendação anterior também é válida para a Secretaria de Estado do Meio Ambiente—SMA, emrelação a vários órgãos daquela pasta. Neste caso, tais informações facilitarão a implementação do Planode Fiscalização Integrada dos Mananciais (mitigando custos), as atividades de fiscalização de sítiosindustriais potencialmente poluidores, o sistema de gerenciamento de riscos contra acidentes com produtostóxicos e perigosos (os dois últimos exemplos envolvendo especialmente o DER-SP e a CETESB), além dafiscalização de atividades da sócio-economia na bacia em geral. É de se destacar, ainda, que esse tipo deinformação é indispensável para a SMA e para os municípios a partir da aprovação da nova lei que dispõesobre diretrizes e normas para a proteção e recuperação das bacias hidrográficas dos mananciais deinteresse regional do Estado de São Paulo.

Os dados e informações geradas neste projeto devem ser prontamente transferidas para a Unidade deNegócio Oeste-MO, a fim de subsidiar as ações sanitárias desenvolvidas por aquela unidade de negócio nabacia hidrográfica. Várias medidas podem ser implementadas ou incrementadas a partir dessasinformações, tais como, hidrometração de poços artesianos em sítios industriais, para controle eregularização de cobrança de lançamento de efluentes industriais em redes públicas, definição deprioridades no crescimento vegetativo de redes de água e de esgotos (a partir dos vetores de crescimentourbano e do quadro epidemiológico analisado através dos mapas elaborados de doenças de veiculaçãohídrica), e, ainda, planos de inspeção de equipamentos públicos existentes na bacia, dentre outras medidasde importância comunitária, sanitária e ambiental.

A partir de decisão para execução deste projeto, é recomendável promover uma revisão do SAM 75 e doPrograma Metropolitano de Água-PMA, à luz do Programa de Águas Novas da MO — construção de novossistemas não-integrados em Itapevi, Santana do Parnaíba e outros — atualizando os resultados obtidosjunto aos órgãos de licenciamento.

A partir de decisão da Sabesp sobre a implementação deste projeto, é recomendável a divulgação deseus resultados no âmbito da Comissão Regional de Gestão Oeste, uma vez que dela fazem partemunicípios que serão direta ou indiretamente beneficiados pela sua execução, tais como, por exemplo,Barueri, Cotia, Carapicuíba, Jandira, Embu.

Ainda em relação à Comissão Regional de Gestão Oeste, destaca-se que a concepção de engenhariaambiental escolhida no projeto — construção de wetlands e manejo de várzeas na bacia — cria condiçõesfavoráveis para desenvolvimento de novas formas de parceria em saneamento entre a Sabesp e osmunicípios da região. Nesses locais, a Empresa pode desencadear projetos com a participação dosmunicípios e das comunidades locais, no sentido da implementação de planos na área de gestão deresíduos sólidos — com permissão dos municípios —, projetos de reflorestamento das margens dos cursosd’água, criação de parques urbanos e áreas de lazer, dentre outras medidas de alcance político-institucional, comunitário e ambiental. Neste sentido, foi elaborado um Plano de Comunicação e Marketingque fornece as bases de sustentação para esse tipo de iniciativa.

Prevê-se ainda, a elaboração de projetos executivos no caso de wetlands construídas e para a represaIsolina Superior. Os demais produtos serão desenvolvidos em nível de concepção ou de anteprojeto. Poroutro lado, a FBDS recomenda uma antecipação do prazo de conclusão do contrato, além da construção deestações piloto de tratamento de água e de reuso planejado da água. A construção de estações piloto tempor objetivo a obtenção de parâmetros técnicos para a elaboração de projetos executivos, além daracionalização de seus respectivos custos. Em vista do exposto, há conveniência na proposta deantecipação da conclusão dos serviços, e também em promover um novo contrato, possibilitando odetalhamento de todos os produtos em nível de projeto básico. Com isto, seria possível realizar a licitaçãode todas as obras necessárias para fazer face ao aumento de produção de água tratada nos Sistemas AltoCotia e Baixo Cotia em médio prazo. O impacto econômico-financeiro desta decisão pode ser calculadooportunamente.

Em vista desses resultados, a Superintendência de Planejamento e Apoio da Produção recomenda: 1)inclusão deste projeto no Programa Metropolitano de Água — PMA; 2) implementação do Plano deProteção do Sistema Alto Cotia, de forma a consolidar o Programa de Conservação do Sistema Cotia noâmbito das ações da Sabesp.

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