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ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS JOSIEL RODRIGUES DOS SANTOS O USO DO FACEBOOK NO MOVIMENTO ESTUDANTIL COMO FORMA DE MOBILIZAÇÃO E FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA: O CASE DO 55º CONGRESSO DA UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE) EM 2017 CAXIAS DO SUL 2017

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ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS

JOSIEL RODRIGUES DOS SANTOS

O USO DO FACEBOOK NO MOVIMENTO ESTUDANTIL COMO FORMA DE MOBILIZAÇÃO E FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA: O CASE DO 55º CONGRESSO

DA UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE) EM 2017

CAXIAS DO SUL

2017

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JOSIEL RODRIGUES DOS SANTOS

O USO DO FACEBOOK NO MOVIMENTO ESTUDANTIL COMO FORMA DE MOBILIZAÇÃO E FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA: O CASE DO 55º

CONGRESSO DA UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE) EM 2017

Monografia de conclusão do Curso de

Comunicação Social, Habilitação em

Relações Públicas, da Universidade de

Caxias do Sul apresentada como requisito

parcial para a obtenção do título de bacharel.

Orientadora: Prof.ª Ma. Silvana Padilha Flores

CAXIAS DO SUL 2017

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JOSIEL RODRIGUES DOS SANTOS

O USO DO FACEBOOK NO MOVIMENTO ESTUDANTIL COMO FORMA DE MOBILIZAÇÃO E FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA: O CASE DO 55º

CONGRESSO DA UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE) EM 2017

Monografia de conclusão do Curso de

Comunicação Social, Habilitação em

Relações Públicas, da Universidade de

Caxias do Sul apresentada como requisito

parcial para a obtenção do título de bacharel.

Orientadora: Prof.ª Ma. Silvana Padilha Flores

Aprovado em: ___de____________de 2017.

Banca Examinadora: ____________________________ Prof.ª Ma. Silvana Padilha Flores Universidade de Caxias do Sul – UCS ____________________________ Prof.ª Dr.ª Jane Rech Universidade de Caxias do Sul – UCS ____________________________ Prof.ª Dr.ª Ramone Mincato Universidade de Caxias do Sul – UCS

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Dedico este trabalho a todos os que acreditam no movimento estudantil como ferramenta de transformações sociais e a todos que acreditam e amam o Brasil.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a minha família, que é a base e sustentação,

dando importantes contribuições para que este trabalho se concretizasse. E,

principalmente, pela inspiração e o ânimo para que o sonho de cursar o ensino

superior se concretizasse.

Agradeço, também, aos meus amigos e camaradas do movimento

estudantil. A lista é grande, mas é preciso destacar alguns nomes: Andressa,

Cláudio, Otniel, Tiago, Roquele, Camila, Eduarda, Igor, Denian, Wesley, Matheus,

juventude por uma sociedade mais justa e igualitária, livre da exploração e de toda

forma de opressão.

Agradeço àqueles que inspiraram este trabalho: Carina, Thiago, Ivo,

Marianna, Rarikan, Daniella, Mel, Camila, Graziele, Iago, Mateus e Rafael, que são

pessoas que aprendi a conhecer, admirar e dividir a responsabilidade de construir

gestão, saibam que sem cada um citado, este trabalho não nasceria.

Agradeço, ainda, a todo o corpo docente dos cursos de comunicação social

da UCS. Cada disciplina, cada aula agregou algo para que hoje eu seja quem eu

sou e entregue à sociedade um pouco de mim neste trabalho. Agradeço,

especialmente, a minha orientadora, Professora Silvana, que emprestou sua

paciência e seu conhecimento (e seus livros) para guiar e fazer o melhor deste

trabalho.

A todos, meu muito obrigado!

Daniel, Pâmela, Mônica… Pessoas que me inspiram e inspiram os sonhos da

durante dois anos a maior entidade do movimento estudantil. A vocês, “compas” de

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Honestino Guimarães

“Podem nos prender, podem nos matar, mas um dia voltaremos, e seremos milhões.”

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RESUMO

Este trabalho tem como tema a análise do uso do Facebook pela União Nacional dos Estudantes (UNE) durante a divulgação do seu 55º Congresso da UNE. Para se atingir tal objetivo, iniciamos a elucidação através de um levantamento histórico da atuação do movimento estudantil e da União Nacional dos Estudantes, trazendo elementos que perpassam o início do século XVIII até os dias atuais, bem como considerando sua atuação nas esferas social, cultural, política e econômica. Na sequência, o estudo se concentra na área comunicacional, onde engloba a atuação das Relações Públicas no contexto da comunicação organizacional e da comunicação comunitária, apresentando, ainda, elementos sobre a folkcomunicação. A partir disso, são abordados os conceitos de públicos, elementos estratégicos para a atividade de Relações Públicas e, ainda, sobre a opinião pública enquanto fenômeno social. Analisamos, também, a concepção de mídias e redes sociais, com destaque para o Facebook. Como um estudo de cunho quali-quantitativo, utilizamos a pesquisa bibliográfica e exploratória, buscamos compreender de que forma as lideranças estudantis se utilizam das mídias sociais para atingir a opinião pública e mobilizar sua base de representação para a formulação de suas ideias. Para responder tal questionamento, realizamos a análise de conteúdo da fanpage da UNE, através de um universo de pesquisa que abrangeu 20 publicações selecionadas entre o período de março a junho de 2017. Com isso, os objetivos propostos foram atingidos, ao demonstrar as formas com quais o movimento estudantil se utiliza destas redes para exercer sua liderança. Palavras-chave: Relações Públicas, Opinião Pública, Movimento Estudantil. Facebook. União Nacional dos Estudantes.

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RESUMEN

Este trabajo tiene como tema el análisis del uso de Facebook por la Unión Nacional de los Estudiantes (UNE) durante la divulgación de su 55º Congreso de la UNE. Para alcanzar tal objetivo, iniciamos la elucidación a través de levantamiento histórico de la actuación del movimiento estudiantil y de la Unión Nacional de los Estudiantes, trayendo elementos que recorren del siglo XVIII hasta los días actuales, considerando todavía su actuación en las esferas social, cultural, política y económica. Continuando, el estudio se concentra en la comunicación, donde abarca la actuación de las relaciones públicas en contexto de la comunicación organizacional y de la comunicación comunitaria, disertando, ainda, sobre la folkcomunicación. Entonces se abordan los conceptos de públicos, elementos estratégicos para la actividad de Relaciones Públicas y, sobre la opinión pública como fenómeno social. Analizamos, también, la concepción de medios y redes sociales, con destaque para Facebook. Como un estudio de cuño cual-cuantitativo, utilizamos la investigación bibliográfica y exploratoria, buscamos comprender de qué forma los líderes estudiantiles se utilizan de los medios sociales para alcanzar la opinión pública y trayer su base de representación para la formulación de sus ideais. Para responder a tal cuestionamiento, realizamos el análisis de contenido de la fanpage de la UNE, a través de un universo de investigación que abarcó 20 publicaciones seleccionadas entre el período de marzo a junio de 2017. Con ello, los objetivos propuestos fueron alcanzados, al demostrar las formas con que el movimiento estudiantil se utiliza de estas redes para ejercer su liderazgo. Palabras clave: Relaciones Publicas, opinión pública, movimiento estudiantil, Facebook, Union Nacional de los Estudiantes.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Análise do perfil de usuários do Facebook no Brasil ............................. 63

Figura 2 – Estrutura Organizativa da UNE ............................................................. 72

Figura 3 – Site da UNE .......................................................................................... 73

Figura 4 – Perfil da UNE no Twitter ........................................................................ 74

Figura 5 – Perfil da UNE no Instagram ................................................................... 74

Figura 6 – Perfil da UNE no YouTube .................................................................... 75

Figura 7 – Identidade Visual do 55º Congresso da UNE ........................................ 76

Figura 8 – Sistema de monitoramento de eleição de delegados para o 55º

Congresso da UNE ................................................................................................ 77

Figura 9 – Postagem 01 ......................................................................................... 78

Figura 10 – Postagem 02 ....................................................................................... 79

Figura 11 – Postagem 03 ....................................................................................... 80

Figura 12 – Postagem 04 ....................................................................................... 80

Figura 13 – Postagem 05 ....................................................................................... 81

Figura 14 – Postagem 06 ....................................................................................... 82

Figura 15 – Postagem 07 ....................................................................................... 82

Figura 16 – Postagem 08 ....................................................................................... 83

Figura 17 – Postagem 09 ....................................................................................... 84

Figura 18 – Postagem 10 ....................................................................................... 84

Figura 19 – Postagem 11 ....................................................................................... 85

Figura 20 – Postagem 12 ....................................................................................... 86

Figura 21 – Postagem 13 ....................................................................................... 86

Figura 22 – Postagem 14 ....................................................................................... 87

Figura 23 – Postagem 15 ....................................................................................... 88

Figura 24 – Postagem 16 ....................................................................................... 88

Figura 25 – Postagem 17 ....................................................................................... 89

Figura 26 – Postagem 18 ....................................................................................... 90

Figura 27 – Postagem 19 ....................................................................................... 90

Figura 28 – Postagem 20 ....................................................................................... 91

Figura 29 – Reportagem 01.................................................................................... 93

Figura 30 – Reportagem 02.................................................................................... 94

Figura 31 – Reportagem 03.................................................................................... 95

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Figura 32 – Reportagem 04.................................................................................... 95

Figura 33 – Reportagem 05.................................................................................... 96

Figura 34 – Reportagem 06.................................................................................... 97

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – As táticas e estratégias dos 4Rs das Relações Públicas ..................... 44

Tabela 2 – Postagens analisadas na fanpage da UNE .......................................... 92

Tabela 3 – Postagens em vídeo analisadas na fanpage da UNE .......................... 92

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LISTA DE SIGLAS

AI-5 – Ato Institucional n.º 5

ALN – Ação Libertadora Nacional

CEB – Casa do Estudante do Brasil

CNECO – Comissão Nacional de Eleição, Credenciamento e Organização

CNSV – Comissão Nacional de Sistematização e Votação

CONAP – Comissão Nacional de Acompanhmento, Controle Social e Supervisão do

Programa Universidade para Todos

CONEB – Conselho Nacional de Entidades de Base

CONEG – Conselho Nacional de Entidades Gerais

ConUNE – Congresso da União Nacional dos Estudantes

CPC – Centro Popular de Cultura

CUCA – Circuito Universitário de Cultura e Arte

DCE – Diretório Central dos Estudantes

EME – Encontro de Mulheres Estudates

EnUNE – Encontro de Estudantes Negros e Cotistas da União Nacional dos

Estudantes

FHC – Fernando Henrique Cardoso

Fies – Fundo de Financiamento Estudantil

IES – Instituição de Ensino Superior

IPM – Inquérito Policial-Militar

JEC – Juventude Estudantil Católica

JOC – Juventude Operária Católica

JUC – Juventude Estudantil Católica

MEC – Ministério da Educação

MG – Minas Gerais

MinC – Ministério da Cultura

MP – Medida Provisória

Oban – Operação Bandeirante

PCB – Partido Comunista Brasileiro

ProUni – Programa Universidade para Todos

PSDB – Partido Social Democrata Brasileiro

PUC-RJ – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

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ReUni – Plano de Resstruturação e Expansão das Universidades Federais

RP – Relações Públicas

UnB – Universidade de Brasília

UDN – União Democrática Nacional

UFBA – Universidade Federal da Bahia

UNE – União Nacional dos Estudantes

USAID – United States Agency of International Development

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15 2 O MOVIMENTO ESTUDANTIL E SUA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE .......... 18 2.1 UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES: HISTÓRIA E CONCEPÇÃO ....... 18

2.1.1 Antecedentes do Movimento Estudantil ................................................... 18 2.1.2 A Organização Coletiva dos Estudantes: UNE (1937-1964) ..................... 20 2.1.3 O Movimento Estudantil e a Ditadura Militar ............................................ 24 2.1.4 UNE: da Redemocratização aos Dias Atuais ............................................ 29 2.2 O LÍDER ESTUDANTIL COMO LÍDER DE OPINIÃO E INFLUENCIADOR

CULTURAL ................................................................................................... 31

2.2.1 A Cultura e o Movimento Estudantil .......................................................... 36 3 A COMUNICAÇÃO NA ERA DIGITAL ......................................................... 41

3.1 RELAÇÕES PÚBLICAS NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO

ORGANIZACIONAL ...................................................................................... 42

3.1.1 Os 4Rs das Relações Públicas: Uma Abordagem Brasileira .................. 44 3.1.2 Comunicação Comunitária e Folkcomunicação ....................................... 49 3.2 PÚBLICO E OPINIÃO PÚBLICA ................................................................... 51

3.2.1 Públicos e Stakeholders ............................................................................. 51 3.2.2 O Fenômeno Opinião Pública .................................................................... 56 3.3 MÍDIAS DIGITAIS E AS NOVAS FORMAS DE RELACIONAMENTO .......... 58

3.3.1 Mídias e Redes Sociais ............................................................................... 60 3.3.2 Facebook: uma mídia para várias redes ................................................... 63

4 A LEGITIMAÇÃO DA LIDERANÇA ESTUDANTIL: O CASO UNE ............ 66

4.1 METODOLOGIA ............................................................................................ 66

4.2 UNE: 80 ANOS DE FUTURO E TRADIÇÃO ................................................. 70

4.2.1 Estrutura Organizacional da UNE .............................................................. 71 4.2.2 A Comunicação da UNE .............................................................................. 73 4.3 SOBRE O ESTUDO DE CASO ..................................................................... 75

4.4 ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES .................................................................... 78

4.5 REPERCUSSÃO MIDIÁTICA ........................................................................ 93

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4.6 CONFRONTANDO TEORIA E PRÁTICA: RESULTADOS ........................... 97

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 100

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 102

APÊNDICE A – PROJETO DE PESQUISA .......................................................... 110 APÊNDICE B – REVISÃO DO PROJETO DE PESQUISA .................................. 140

ANEXO A – LISTA DE EX-PRESIDENTES DA UNE ........................................... 145 ANEXO B – MANIFESTO DA 10ª BIENAL DA UNE - FEIRA DA REINVENÇÃO...................................................................................... 147

ANEXO C – REGIMENTO DO 55º CONGRESSO DA UNE .................................. 152 ANEXO D – RESOLUÇÃO DE CONJUNTURA APROVADA NO 55º CONGRESSO DA UNE.................................................................................................................. 165 ANEXO E – RESOLUÇÃO DE EDUCAÇÃO APROVADA NO 55º CONGRESSO DA UNE ................................................................................................................. 168

ANEXO F – RESOLUÇÃO DE MOVIMENTO ESTUDANTIL APROVADA NO 55º CONGRESSO DA UNE.......................................................................................... 172

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1 INTRODUÇÃO

A comunicação, assim como muitas outras áreas, encontra-se em constante

transformação. As formas de interação e relacionamento sofrem mutações ao passo

em que novas tecnologias são incorporadas ao contexto social. Na atualidade, num

mundo extremamente globalizado, é necessária a compreensão das necessidades

dessa nova sociedade, bem como suas formas de relacionamento, persuasão e

formação da opinião.

Os desafios impostos à comunicação, nesta era de relacionamento digital,

são inúmeros, e compreender a agilidade com a qual estas ferramentas se

transformam fazem com que seja indispensável a presença das organizações nas

mídias sociais. Esses espaços são ambientes onde não é mais possível pensar em

uma comunicação focada apenas na venda de produtos, pois de acordo com Porto:

O que temos hoje é uma grande corrida para estar nas mídias sociais. Sem dúvida, isso é ótimo, pois aponta para o futuro do marketing: marketing de relacionamento, de conteúdo, não apenas simplesmente vender. Contudo, ainda temos um longo caminho a trilhar nas mídias sociais e, especialmente, no Facebook. (PORTO, 2014, p. 9)

Tratando todos estes elementos como verdadeiros, é possível entender que

não somente as formas de relacionamento se transformaram, mas houve também

uma mudança importante no que tange à persuasão social e à formação da opinião

pública. Da mesma forma que as organizações que, em outros tempos se utilizavam

das mídias tradicionais para influenciar na decisão coletiva da sociedade, as

instituições e entidades do movimento social também estão ali e possuem

importante papel na formação da opinião pública. Sobre este aspecto, Kay diz:

[...] diversos instrumentos de luta foram sendo forjados para combater o poder do Estado sobre o cidadão e, no campo das atividades da comunicação, os anos 80 foram marcados por uma nova prática comunicacional, advinda da demanda dos movimentos sociais, estabelecida através do conceito de comunicação popular, comunitária e alternativa, que pressupõe uma produção informativa diferente daquela utilizada pelos meios de comunicação de massa. (KAY, 1999, p. 12)

O interesse de realizar este trabalho surge, principalmente, das experiências

particulares que tive na minha formação acadêmica. O movimento estudantil muda a

vida das pessoas: injeta sonhos, enche nossos corações de esperança, revigora

nossos anseios por uma educação de qualidade, emancipadora e democratizada. O

sonho que eu realizei, de poder entrar na universidade por meio do ProUni, hoje é

um sonho que luto para que seja de milhares de outros jovens.

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Deve-se considerar, em especial, minha participação na Diretoria Executiva

da UNE durante a gestão 2015-2017. Esta oportunidade de contribuir para o

movimento estudantil brasileiro foi, sem dúvidas, um divisor de águas na minha

formação acadêmica, militante e pessoal. Botar uma mochila nas costas, sair de

casa, conviver dois anos com pessoas até então desconhecidas deu medo, mas deu

certo. Hoje, levo essas pessoas (esses militantes abnegados e resistentes, que

lutam por um país justo e uma educação transformadora) não apenas nas minhas

lembranças, mas também em minha mente.

A oportunidade de conhecer novas realidades nas universidades brasileiras,

as dinâmicas particulares do movimento estudantil nestes lugares, contribuiu para a

formulação desta pesquisa. Foram, ao longo destes dois anos, 11 estados visitados,

onde pude conhecer mais de 50 universidades diferentes entre si, com

peculiaridades muito interessantes, que me permitiram entender a importância da

universidade para o desenvolvimento social e econômico do nosso país e o vigor do

movimento estudantil brasileiro.

Pensar nos movimentos sociais como fenômenos de formação da opinião e

do imaginário social nos permite pensar, no contexto social e acadêmico, no

movimento estudantil como um motor de transformações sociais. O movimento

estudantil, ou seja, a organização coletiva dos estudantes, tem tido papel político de

extrema relevância ao longo da história do Brasil e das transformações sociais, por

meio da União Nacional dos Estudantes (UNE), uma das principais entidades do

movimento social brasileiro. Fruto destas reflexões é que surge a seguinte questão

norteadora: de que forma os líderes estudantis se utilizam das mídias sociais para

atingir a opinião pública e mobilizar sua base de representação para a formulação de

suas ideias?

O objetivo geral desta pesquisa é compreender de que forma as lideranças

da União Nacional dos Estudantes posicionam-se nas mídias sociais e os reflexos

desta exposição na formação da Opinião Pública. Como objetivos específicos temos:

perceber o trabalho do profissional de Relações Públicas na sociedade

contemporânea e sua contribuição na formação de uma opinião pública consciente e

informada; mostrar que as funções de Relações Públicas podem direcionar de forma

positiva a utilização das mídias sociais, como forma de facilitar a atuação das

entidades do movimento estudantil; analisar a história e a atuação da União

Nacional dos Estudantes e sua importância e reflexos para a sociedade; e identificar

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na rede social Facebook, sua efetividade para a divulgação das ações do movimento

estudantil.

Esta pesquisa emprega a abordagem qualitativa com elementos

quantitativos, valendo-se da pesquisa bibliográfica e exploratória, tendo como

técnicas usadas o estudo de caso e a análise de conteúdo. São empregadas, ainda,

a observação participante e a entrevista como instrumentos de pesquisa.

Além deste primeiro capítulo, introduzindo o estudo, o segundo capítulo traz

a abordagem histórica da atuação do movimento estudantil no Brasil. Iniciamos com

um levantamento histórico do início do século XVIII, onde aparecem os primeiros

registros de atuação estudantil organizada até a metade de 2016, bebendo de

momentos importantes e relevantes, como o início da década de 1930, onde nasce a

UNE, passando pela época da ditadura militar – período de resistência da atuação

dos estudantes no país, até a redemocratização, chegando a meados de 2016. O

capítulo apresenta, ainda, a atuação estudantil sob o viés da liderança da liderança

de opinião. Também é explorada a influência que a UNE exerceu na cultura

brasileira, como o Centro Popular de Cultura, o Circuito Universitário de Cultura e

Arte e as Bienais de Arte e Cultura.

O capítulo seguinte faz uma abordagem teórica sobre os principais conceitos

da comunicação inerentes a esta pesquisa. Abordamos as Relações Públicas no

contexto da comunicação organizacional e com aproximações aos conceitos de

comunicação comunitária e folkcomunicação. Após, estudamos acerca do conceito e

da importância dos públicos, além de, a partir disso, discutir o conceito de opinião

pública como fenômeno social. Por fim, apresentamos os conceitos de redes e

mídias sociais, fazendo as devidas aproximações e diferenciações e, por fim,

trazemos uma breve explanação acerca rede social Facebook.

O capítulo de número quatro é dedicado ao estudo de caso. Apresentamos o

55º Congresso da UNE: como ele funciona e quais suas características principais.

Tendo estes elementos em vista e a partir da análise de conteúdo, faz-se uma

análise de publicações selecionadas entre o período de divulgação deste evento, a

fim de responder a questão proposta. Traz-se, ainda, uma aproximação entre a

repercussão midiática do Congresso e a formação da opinião pública, a partir dos

conceitos de folkcomunicação.

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2. O MOVIMENTO ESTUDANTIL E SUA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE

Neste capítulo, abordamos o movimento estudantil brasileiro, envolvendo os

seguintes aspectos: como a organização dos estudantes acontece antes de 19371;

como se dá através do tempo após essa data, trazendo a este estudo a história da

UNE – União Nacional dos Estudantes. Analisaremos, também, a concepção de

liderança de opinião e, ainda, a atuação cultural da entidade.

2.1 UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES: HISTÓRIA E CONCEPÇÃO

A UNE completou 80 anos de existência no ano de 2017. Neste período, sua

atuação tem sido marcada pela participação em momentos cruciais da história do

país. A história da UNE não se restringe apenas à vida estudantil e educacional do

país. Sua história também é marcada pelos principais fatos que o Brasil viveu –

sejam eles de ordem econômica, cultural, social ou mesmo política. A pujança

histórica dos estudantes, estando sempre mobilizados na defesa de suas pautas,

deixa importantes contribuições para a história do nosso país.

O caráter político, isto é, de ter opinião e lado no que diz respeito às

questões políticas do Brasil sempre esteve no horizonte dos estudantes e não foi

diferente na trajetória da UNE. E esta é uma das principais marcas da entidade, pois

segundo Araújo (2007, p. 17), ―[...] por diferentes gerações que por ela passaram,

lutaram politicamente, levantaram bandeiras, criaram modismos, amaram e

escreveram, cada geração a seu modo, um pouco da história do país‖. É por isso

que trataremos a história da atuação estudantil e da UNE à luz dos principais

acontecimentos da história e da política do país.

2.1.1 Antecedentes do Movimento Estudantil

A história do movimento estudantil, isto é, a coordenação coletiva e

estabelecida dos estudantes, se dá antes mesmo da fundação da entidade

representativa dos estudantes a nível nacional. Já na primeira metade do século XX,

1 Far-se-á uma breve análise histórica antes de 1937 devido a ser atribuída a esta data o surgimento

da União Nacional dos Estudantes, organização objeto deste estudo.

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época em que a economia do Brasil era baseada na comercialização da cana-de-

açúcar e a vida política da Colônia2 era inexpressiva, surgem as primeiras ações

estudantis, as quais Júnior (1981) classifica como ―fase de atuação individual‖. As

próprias Câmaras Municipais, onde os grandes proprietários de terras tinham

assento, tiveram seu poder deslocado para os representantes das Coroas

Portuguesas. A primeira manifestação estudantil registrada pela história brasileira,

segundo Poerner (2004), se dá na participação dos estudantes na luta pela expulsão

dos franceses, que haviam invadido o Rio de Janeiro, em 1710. Mas, em sua

análise, Júnior compreende a segunda metade do século XVIII como época de

atuação política real dos estudantes brasileiros. Nesse sentido, o autor ressalta:

Em primeiro lugar, porque a luta contra o invasor francês configura-se menos no terreno da ação político-ideológica propriamente dita, e mais no da mera reação semi-instintiva de defesa contra os corsários. Em seguida, porque a penetração das ideias liberais e revolucionárias europeias, que influenciaram decisivamente a vida política brasileira em geral, e os estudantes em particular, só começou a se efetivar no Brasil durante os últimos sessenta ou setenta anos do período colonial. (JÚNIOR, 1981, p. 14)

O primeiro registro de atuação política real de um estudante brasileiro data

de 1786. José Joaquim da Maia, estudante da Universidade de Coimbra, em

primeiro momento, depois em Montpellier (França), junto a outros 11 jovens

compatriotas e aristocratas, dentre eles José Álvares Maciel3, criara uma sociedade

secreta cujo principal objetivo era a luta pela independência do Brasil. Maia, em suas

ações, enviara cartas a Thomas Jefferson, um dos principais líderes da

independência norte-americana, pedindo ajuda para executar o plano de tornar o

Brasil uma nação livre. Maia e Jefferson chegaram a, inclusive, ter um encontro

presencial, mas o estadunidense não quis se comprometer com a ação brasileira.

Poerner (2004, p. 56) ressalta que ―[...] esse era o tempo em que os EUA davam

exemplo aos outros povos, [...] de amor à liberdade e à independência [...]‖.

A atuação de Maia pela independência do Brasil e a Inconfidência Mineira,

tais quais outras revoltas populares4, desencadearem condições para que as

manifestações políticas dos estudantes fossem mais coerentes, preparadas e

2 Destaca-se aqui o fato de que, em 1710, o Brasil ainda era colônia de Portugal, não se constituindo

assim como República Federativa. 3 Estudante de Química da Universidade de Coimbra, membro da rica elite das Gerais (região

localizada no atual estado de Minas Gerais) também protagonizou a Inconfidência Mineira, primeira tentativa de organizar a luta pela independência. 4 Cita-se como exemplo a Revolta dos Alfaiates, na Bahia, e a Conjuração Carioca, no Rio de Janeiro,

em que não existem registros de presença efetiva de estudantes nestas ações.

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pródigas. Poerner (2004, p. 58) afirma, ainda, que ―naquela época, eram estudantes

que atuavam isoladamente ou, no máximo em pequenos grupos [...]‖. Já Júnior

(1981, p. 17) menciona que ―[...] os primeiros passos nesse sentido forma dados

com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808‖. Tal situação fez com que

o Brasil adquirisse estrutura de Nação soberana, com a criação de empresas

estatais, como o Banco do Brasil, a abertura dos portos, a instalação de manufaturas

e, inclusive, com a lei imperial de 11 de agosto de 1827, a criação das Academias de

Direito de Olinda e de São Paulo5, onde se formaram a maioria dos líderes políticos

do Império e da Primeira República.

O movimento pelo abolicionismo, datado nos últimos anos do século XIX,

também contou com ampla participação dos estudantes. Sociedades e clubes

acadêmicos surgem no engajamento da luta pela libertação dos escravos e, a partir

de 1870, se entregam de forma visceral ao fim do regime escravocrata e,

consequentemente, na oposição ao próprio Império. Conjuntamente, crescia também

o pensamento republicano, em momentos se confundindo com o ideal abolicionista.

Poerner (2004, p. 64) acrescenta que ―a campanha estudantil pela abolição da

escravatura extravasa o campo doutrinário, com a formação de grupos e sociedades

que estimulavam a fuga de escravos [...]‖.

Dada a Proclamação da República (1889) e o fim do escravismo no Brasil, a

participação dos estudantes na vida política do país continua presente6. Com o início

da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a agitação estudantil se dá por meio da

Campanha Nacionalista, em que se pautava a entrada do Brasil na guerra. Após, os

acadêmicos se engajam naquilo que é conhecido por ―Revolução Constitucionalista‖,

em 1932, que culminou em uma Assembleia Constituinte.

2.1.2 A Organização Coletiva dos Estudantes: UNE (1937-1964)

A fundação da UNE se dá no fim da década de 1930, fruto do acúmulo da

atuação estudantil que se encontrava concentrada nos grandes centros políticos. A

5 Embora estas sejam as primeiras faculdades criadas por lei imperial, a primeira faculdade criada em

território brasileiro foi a Escola de Medicina da Bahia, em 1808. Hoje, é denominada Faculdade de Medicina da UFBA. (POERNER, 2004). 6

É importante destacar a importante mobilização estudantil no que se conhece como a Revolta do Vintém, (1880) contra o aumento das passagens dos bondes no Rio de Janeiro, conforme conta Poerner (2004) e Júnior (1981)

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efervescência política dos estudantes já dava sinais da necessidade de organizar

nacionalmente os estudantes para a ação política. Mas a própria data de fundação

da UNE se dá em certa divergência de data: para uns ela surgiu em 1937, enquanto

para outros ela seria mesmo criada em 1938. Nesse sentido Araújo ressalta:

[...] a UNE foi uma entidade de caráter social e político que reunia um grande número de estudantes, pertencentes a diferentes grupos com diversas tendências políticas e ideológicas. E cada um desses grupos possui uma versão ímpar da trajetória da entidade. [...] Isso é ainda mais evidente no caso da UNE, por ser ela uma entidade que congrega e expressa diferentes versões da história política do Brasil [...]. (2007, p. 21)

Em 11 de agosto de 1937 acontece o I Congresso Nacional dos Estudantes,

realizado na Casa do Estudante do Brasil, entidade sem fins lucrativos cuja intenção

era garantir assistência social a estudantes oriundos de outras cidades que não

possuíam condições financeiras de se manter no Rio de Janeiro, estudando na

então Universidade do Brasil7. Este Congresso se deu com apoio do Ministério da

Educação, no que tanto Araújo (2007) quanto Júnior (1981) compreendem como

uma tentativa de fazer da UNE uma entidade sem caráter político – ponto principal

da divergência entre as datas de fundação da organização. A proibição de discussão

de temas políticos chegou a ser aprovada durante o I Congresso Nacional dos

Estudantes.

A ―verdadeira UNE‖ (grifo do autor), ou seja, a UNE de caráter político,

nasce a partir do II Congresso Nacional dos Estudantes, realizada em dezembro de

1938, onde foi eleito o gaúcho Valdir Borges, presidente da entidade. Ao contrário do

Congresso anterior, em que não houve sequer discussão acerca de temas de cunho

político, neste Congresso os estudantes mostraram grande interesse em participar

dos grandes temas de cunho nacional conforme conta Poerner (2004), o que

culminou com uma grande ruptura com o temor da presidente da Casa do Estudante

do Brasil (CEB), Ana Amélia Carneiro Mendonça, de que a UNE se politizasse e

intervisse nas grandes questões nacionais. O II Congresso também aprovou o Plano

de Reforma Educacional, documento que inicia uma longa tradição de discussões

acerca da reforma universitária, que até hoje se encontra presente na tradição da

UNE.

A UNE, surgida com certa chancela do Governo Federal, presidido por

Getúlio Vargas, encontra sua primeira tensão já em 1938, com a denúncia por parte

7 Atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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dos estudantes do nazifascismo8 e a luta pela entrada do Brasil na Segunda Guerra

Mundial (1939-1945), ao lado dos países aliados e contra os regimes alemão e

italiano, de caráter totalitário. O marco dessa posição foi a primeira manifestação

estudantil, realizada em 04 de julho de 1942, com esse explícito objetivo de que o

governo declarasse guerra ao eixo nazifascista, conforme relata Araújo (2007).

Também é importante destacar a ocupação estudantil da sede do Clube Germânia,

localizada na Praia do Flamengo, Rio de Janeiro, espaço onde se comemoravam as

vitórias dos países do Eixo9, que, segundo Júnior (1981) veio a se tornar sede da

UNE até 1964.

O período seguinte à Segunda Guerra Mundial é marcado pela luta em

defesa dos recursos naturais, em especial do petróleo. A campanha conhecida como

―O Petróleo é Nosso‖ engajou majoritariamente a sociedade. Conforme lista Araújo

(2007, p. 63), ―[...] estudantes, intelectuais, artistas, militares nacionalistas, militantes

comunistas e socialistas, trabalhadores e sindicalistas[...]‖ se opunham à entrega

das jazidas petrolíferas para os interesses estrangeiros. Em 1948, no ápice da

campanha em defesa do monopólio estatal do petróleo, a UNE criou a Comissão

Estudantil de Defesa do Petróleo. Toda essa movimentação culminou com a criação

da Petrobrás, em 03 de dezembro de 1953.

O momento abarcado entre 1950 e 1956 é designado como uma fase em

que as forças políticas ligadas à União Democrática Nacional (UDN) dirigiram a

UNE. Poerner (2004) denomina de fase de domínio direitista da UNE, enquanto

Araújo (2007) chama de fase liberal. Já Júnior (1981) utiliza o termo ―fase negra‖

para definir este período. Foi um período de muitas contradições dentro da entidade,

uma vez que os estudantes ainda estavam engajados na campanha ―O Petróleo é

Nosso‖ e a direção da UNE era contrária à campanha, mas a pressão da base

estudantil, representada pelas Uniões Estaduais dos Estudantes, fez com que a

organização permanecesse nesta campanha.

Em 1956, as forças políticas de viés progressista retomam à direção da

entidade. Mas, diferente dos outros períodos, não são mais as organizações de

juventude político-partidárias que passam a dirigir a UNE. Prova disso é José Batista

de Oliveira, que conforme Poerner (2004) era estudante de direito da PUC-RJ e

8 Doutrina política que se desenvolveu entre o final da década de 1920 e perdurou até o fim da

Segunda Guerra Mundial. 9 Alemanha, Itália e Japão.

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eleito presidente neste mesmo ano, foi ligado à Juventude Estudantil Católica (JEC),

que junto a Juventude Operária Católica (JOC) e a Juventude Universitária Católica

(JUC) fundaram, mais tarde, a organização de esquerda Ação Popular, cuja

influência na UNE perdurou até a deflagração da ditadura militar. A Ação Popular se

firma no movimento estudantil, no entanto, com a ruptura com a Igreja Católica, dada

a radicalização política da JUC.

Com a ascensão da Ação Popular dentro da UNE, uma nova marca surge

dentro da entidade: a da necessidade de se discutir os assuntos educacionais junto

às questões maiores da política. Neste sentido, realizam-se a partir dos anos 1960

seminários temáticos, onde pautas e bandeiras até hoje defendidas começam a

tomar corpo: a luta pela democratização do ensino, a abertura da Universidade ao

povo, e a luta pela democratização dos espaços de decisão da universidade, que

culminou, por exemplo, na chamada ―Greve de um Terço‖, que conforme Araújo

(2007, p. 103), ―[...] propunha alterar a composição dos órgãos de direção

universitária – os colegiados, os conselhos e as congregações – inserindo neles

estudantes e funcionários com um percentual de voz e voto‖.

Para Poerner (2004), o início da década de 60 é marcado, ainda, por

grandes tensões políticas. Em 1960 é eleito o candidato da UDN Jânio Quadros. É

importante lembrar que a legislação eleitoral da época permitia ao eleitor a

possibilidade de voto no candidato a presidente de uma chapa e no candidato a

vice-presidente de outra chapa, o que garantiu que o vice de Jânio fosse João

Goulart10, herdeiro político de Getúlio Vargas. Menos de um ano depois, Jânio

Quadros renunciou. O que não significou automaticamente, que João Goulart

assumisse a presidência. Araújo lembra este momento, quando diz:

Os ministros militares tentaram impedir a posse de Jango [...]. A reação ao veto militar à posse de João Goulart foi grande, tanto no Congresso, quanto na sociedade. Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, organizou a Campanha da Legalidade [...]. Greves explodiram em várias capitais exigindo o cumprimento da Constituição e a posse de João Goulart. (2007, p. 91)

Júnior (1981) lembra que Aldo Arantes, militante da Ação Popular e

presidente da UNE, transferiu a sede da UNE para Porto Alegre, com o objetivo de

participar da Campanha da Legalidade, levando o apoio e mobilizando os

estudantes pela normalidade da democracia, representada pela posse de Jango. A

10 Popularmente lembrado como ―Jango‖.

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posse de João Goulart, fruto da vitória da Campanha da Legalidade, fez com que os

grupos progressistas, patrióticos e de esquerda pautassem as chamadas ―reformas

estruturais‖. Destacavam-se a reforma fiscal, administrativa, universitária e,

principalmente e com grande peso, a reforma agrária. O governo Jango durou de

1961 até março de 1964, quando foi deposto pelo golpe militar.

2.1.3 O Movimento Estudantil e a Ditadura Militar

A história da UNE e do conjunto do movimento estudantil têm intrínseca

relação, segundo Poerner (2004, p. 201), ―com a história da repressão das

liberdades individuais e da intervenção estrangeira no país‖, a partir de 1964.

Deflagrada em 31 de março de 1964, a ditadura militar marca um dos períodos mais

nebulosos da história do Brasil. Um período que Araújo (2007, p. 142) diz que

―encerrou, de forma autoritária, a experiência democrática que o país vinha vivendo

desde 1945 e inaugurou um longo período de autoritarismo no Brasil‖. Uma das

primeiras ações executadas pelos militares, que então tomaram o poder, foi

incendiar a sede da UNE, ato que conforme Júnior (1981, p. 74), ―sofreu no próprio

corpo a bestialidade e a ferocidade dos novos fascistas que tomavam o poder‖.

Após a deflagração do golpe militar, inúmeras entidades estudantis foram

fechadas. O clima de tensão se espalhara nas universidades. Martins Filho conta,

por exemplo, que:

[...] a Universidade de Brasília sofreu uma primeira invasão e teve suas instalações arrasadas, seguindo-se de a prisão indiscriminada de professores e alunos ―subversivos‖. Enquanto isso, em meio à incerteza e paralisia das semanas subsequentes, organizações que anteriormente não conseguiram nenhuma expressão no meio estudantil apresentaram-se como as ―autênticas‖ representantes dos estudantes ―democratas‖, ocupando as interventorias criadas pelo novo regime e considerável espaço nas páginas da imprensa golpista. (1987, p. 82)

Os estudantes engajados no movimento estudantil passaram a ser

duramente perseguidos, por meio dos Inquéritos Policiais-Militares (IPM), onde a

UNE e diversas organizações políticas de juventude ganharam inquéritos especiais.

Júnior (1981) conta que a ação dos militares conseguiu desarticular, de certa forma,

as entidades estudantis. Poerner (2004) comenta também que o pensamento da

ditadura quanto a universidade e aos estudantes podia ser sintetizado numa saída: o

―tratamento de choque‖. ―Tratava-se, como num ritual da Inquisição, de expulsar o

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demônio da rebelião patriótica daqueles corpos jovens, substituindo pelo anjo da

subordinação aos interesses antinacionais‖. (POERNER, 2004, p. 202).

Nos primeiros quatro anos de ditadura militar, a atividade política estudantil

foi viva. Por meio das ―entidades livres‖ – diretórios e centros acadêmicos paralelos

aos oficiais, uma vez que em outubro de 1964, aprovou-se a lei que extinguia a

União Nacional dos Estudantes e meses depois sancionou-se a Lei Suplicy11, em

homenagem ao ministro da educação do governo Castelo Branco. Conforme Júnior,

Previa a lei a transformação dos antigos Centros Acadêmicos (CAs) em Diretórios Acadêmicos, subordinados às direções das faculdades, e obrigava os alunos a votarem nas eleições para tais DAs (cujos candidatos obedeciam a rígidos padrões para serem indicados), sob pena de perderem o ano escolar. (1981, p. 76).

Tanto Júnior (1981) quanto Filho (1987) elencam a promulgação da Lei

Suplicy como um importante motor para a reorganização dos estudantes, haja vista

o fato de após o início do período ditatorial, muitos dos diretores da UNE terem

buscado exílio, serem presos ou ficarem desaparecidos. Poerner ainda acrescenta:

A UNE era substituída pelo Diretório Nacional de Estudantes, e as uniões estaduais, pelos diretórios estaduais (DEEs). Impedia-se, além disso, através de restrições as mais variadas, o livre curso do diálogo entre os diretórios acadêmicos e os alunos. Na regulamentação das entidades, feita inteiramente à revelia dos estudantes e sem consultá-los, a Lei Suplicy de Lacerda tornava possível a convocação do Diretório Nacional dos Estudantes pelo Ministério da Educação ou pelo Conselho Federal de Educação, ferindo, assim, o mais elementar princípio de funcionamento de uma entidade de representação, o direito de autonomia. Os direitos de livre manifestação do pensamento, de livre associação e de organização interna eram, também, vulnerados, com o estabelecimento de datas e normas para as eleições, número de participantes dos diretórios acadêmicos e da convocação dos pleitos pelas autoridades universitárias através de edital. (2004, p. 212)

Durante todo o início da década de 60, a UNE teve como uma das principais

bandeiras a reforma universitária. Como resposta à luta dos estudantes pela

democratização do ensino superior, a ditadura militar assina o Acordo MEC-

USAID12, que tinha como objetivo deixar a educação brasileira nos modelos

estadunidenses, no que Poerner (2004, p. 212) classifica como ―[...] ponto-chave da

política de desnacionalização do ensino brasileiro [...]‖, fator que fez com que os

11 Lei nº 4.464, de 09 de novembro de 1964, reformulada pelos Decreto-Lei nº 228, de 28 de fevereiro

de 1967 e pela Lei nº 6.680, de 16 de agosto de 1979 e revogada pela Lei nº 7.395, de 31 de outubro de 1985. Disponível em <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 07 out. 2017. 12

Acordo firmado em 23 de junho de 1965 entre o então Ministério da Educação e Cultura e a United States Agency for International Development (ou, em tradução livre, Agência Estadunidense de Desenvolvimento Internacional). Disponível em: www.fgv.br/cpdoc/dicionarios/verbete-tematico/ acordo-mec-usaid. Acesso em 25 out. 2017.

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estudantes se mobilizassem, pois compreenderam esse acordo ―como uma

ingerência injustificada e descabida dos Estados Unidos na educação brasileira e

denunciaram o aspecto tecnicista que enxergavam no acordo‖. (ARAÚJO, 2007, p.

158). Os estudantes fizeram amplas campanhas políticas contra o Acordo MEC-

USAID em muitas universidades, contando inclusive com massivo apoio de

intelectuais e professores universitários, mas mesmo assim, o Acordo foi

parcialmente implantado.

As lutas contra a Lei Suplicy e o Acordo MEC-USAID foram apenas um dos

motores dos estudantes no início da ditadura militar, no que Martins Filho classifica

como um ―fracasso das primeiras tentativas autoritárias de controle do meio

universitário‖ (1987, p. 99). Os congressos da UNE, após 1966, foram marcados por

grandes repressões por parte dos militares, chegando a ser realizados de forma

clandestina, como foi o caso do XXVIII Congresso, realizado neste ano em Belo

Horizonte, e o XXIX Congresso, que ocorreu em Valinhos (São Paulo). Estes

congressos foram marcados pela tendência a radicalização, que já se expressava

nas resoluções da entidade, mas que, conforme Júnior (1981, p. 81), ―[...] bastava

que houvesse um estopim, para que o Movimento Estudantil passasse da

radicalização das palavras à radicalização dos atos. E houve estopins; não um, mas

dois.‖

O primeiro aconteceu ainda em 1966, num episódio conhecido como o

―Massacre da Praia Vermelha‖, onde centenas de estudantes foram encurralados e

espancados pela polícia. Araújo (2007, p. 167) conta que ―num protesto contra o

pagamento de taxas e mensalidades, o movimento estudantil carioca promoveu uma

manifestação na Praia Vermelha que terminou com os estudantes ocupando a sede

da antiga Faculdade de Medicina.‖ Já o segundo estopim se deu no dia 28 de março

de 1968, com o assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto, que teve sua

vida ceifada com um tiro, enquanto jantava no restaurante estudantil do Calabouço,

no Rio de Janeiro. Segundo Júnior (1981, p. 82), ―sob o argumento de que estavam

lá para prender um estudante que estava organizando uma passeata, os policiais

entraram disparando, indo uma das atingir Edson‖.

A partir disso, a radicalização das ações dos estudantes (não mais da UNE,

uma vez que a mesma estava ―legalmente‖ extinta) contra o regime militar ficou mais

notória no seio da sociedade. Das notórias mobilizações e ações diretas, destacam-

se a ―Sexta-feira Sangrenta‖, em resposta ao assassinato de Edson Luís; a

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―Passeata dos Cem Mil‖, lembrada como ―o ponto máximo da mobilização estudantil‖

(ARAÚJO, 2007, p. 180); a ―Invasão da Maria Antônia‖, que expressou a polarização

entre os estudantes contrários e favoráveis às ações do governo, e a invasão da

Universidade de Brasília (UnB), que gerou desconforto em parlamentares da própria

base governista, conforme Poerner (2004). Há de se destacar, também, o

Congresso de Ibiúna, que aconteceu em outubro de 1968, em que centenas de

estudantes foram presos devido a ―erros de concepção política na organização do

encontro (JÚNIOR, 1981, p. 86), e que conforme Araújo (2007, p. 185), ―[...] foi o

marco final de todo aquele processo de político, de confronto e radicalização, que

estava sendo vivido pelo movimento estudantil, principalmente a partir de 1966, e

que se acirrou depois da morte de Edson Luís‖.

Em 13 de dezembro de 1968, foi promulgado o Ato Institucional nº 5 (AI-5).

De acordo com Araújo,

O AI-5 fechou o Congresso Nacional por tempo indeterminado; cassou mandatos de deputados, senadores, prefeitos e governadores; decretou o estado de sítio; suspendeu o habeas corpus para crimes políticos; cassou direitos políticos dos opositores do regime; proibiu a realização de qualquer tipo de reunião; criou a censura prévia. O AI-5 significou, para muitos, um ―golpe dentro do golpe‖, um endurecimento do regime que estabeleceu leis especiais para o exercício do poder fora dos marcos do estado de direito. (2007, p. 189).

A sanção do AI-5, como citado acima, transformou completamente as

relações do governo com a sociedade civil organizada. E isso não foi diferente com

o movimento estudantil. Nesse sentido, Poerner ressalta que:

O movimento estudantil, tal como é entendido até aqui, foi interrompido com o AI-5. Sem condições sequer para se reunirem nos colégios e universidades, muito menos para saírem às ruas em passeata, os mais inconformados começaram a se agrupar e a ser arregimentados em organizações de luta armada. E partiram para uma guerra adulta, única forma de participação política que restara lhes restara. E único caminho que acreditavam poder conduzi-los à libertação do seu povo. (2004, p. 276).

Essa luta armada, que teve seu início no Brasil em meados de 1966, com o

surgimento da Aliança Libertadora Nacional (ALN) – organização fundada pelo ex-

dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) Carlos Marighella – teve como

importante elemento o fato de boa militantes serem oriundos do movimento

estudantil, ―jovens de classe média, universitários que abandonaram as salas de

aula para fazer a luta armada‖. Poerner (2004, p. 276) comenta que ―em agosto de

1969, 370 pessoas já haviam sido identificadas como envolvidas em ações armadas

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e assaltos políticos, das quais cerca de 200 detidas e 128 qualificadas na Justiça

Militar‖. Com uma importante avaliação deste período, Poerner destaca:

Como se vê, o poder jovem foi constrangido pela ditadura ao silêncio ou ao engajamento na luta armada, uma tragédia para todos os brasileiros, quaisquer que sejam as suas posições políticas, por haver representado o sacrifício de uma geração heroica e idealista – talvez a melhor e a mais completa com que o país contou em seu meio milênio de existência. (2004, p. 276)

Os esforços de manter a UNE em atividade não pararam com o AI-5. Logo

depois do fatídico Congresso de Ibiúna, algumas lideranças estudantis realizaram

muitos ―minicongressos‖ com o intuito de reorganizar a entidade. Esses congressos

locais elegeram uma diretoria sem tarefas específicas, no que Araújo (2007, p. 200)

se refere a esta gestão com uma relação com os estudantes ―pautada pelo medo,

pelo desconforto, por um certo distanciamento imposto pelas novas circunstâncias‖.

Pouco tempo depois, o presidente eleito Jean-Marc Charles Frederic von der Weid13

foi preso, tendo sido designado o estudante de Geologia da UnB Honestino

Guimarães14 foi designado para dirigir a UNE. Conforme Poerner (2004), o

estudante Jean foi condenado a 25 anos por participar das ações estudantis de 1968

e ameaçado de morte pelos militares desde 1971, sendo preso no Rio, em outubro

de 1973, e visto pela última vez na Oban15 (Operação Bandeirante), aparelho

repressivo de São Paulo, em abril de 1974.

Anos depois, em 1977, as lutas estudantis retomaram seu fôlego,

definitivamente. Agora em outro momento da ditadura militar, de ―abertura lenta,

gradual e segura, que reconduzisse o país ao estado de direito‖ (ARAÚJO, 2007, p.

209), os estudantes passaram a reorganizar suas ações. Esse ano também foi

importante para o início da reconstrução da UNE, que se daria após três edições do

III Encontro Nacional dos Estudantes, que culminou na realização do XXXI

Congresso da UNE em maio de 1979, em Salvador. A partir deste Congresso, a

UNE dá importantes passos pela luta pela reconstrução do estado democrático de

direito no país.

13 Toda a diretoria eleita junto a Jean-Marc foi duramente reprimida, Alguns foram deportados do

Brasil, outros tiveram seus corpos desaparecidos, outros presos. Ver Poerner (2004). 14

Cabe aqui salientar também o assassinato da vice-presidente da UNE à época, Helenira Rezende, que foi morta em combate ao participar da Guerrilha do Araguaia. Ver Filho (1997). 15

Criada em julho de 1969 pelo II Exército de São Paulo, a Oban era um núcleo operativo de repressão à luta armada, que compunha mecanismos ilegais de coibição: sequestro, tortura e execução dos opositores. Disponível em: <http://memoriasdaditadura.org.br/linha-do-tempo/a-oban-operacao-bandeirantes-e-criada-dentro-do-comando-do-ii-exercito-em-sao-paulo/>. Acesso em 25 out.2017.

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2.1.4 UNE: da Redemocratização aos Dias Atuais16

Em 1979, o então Presidente da República, João Batista de Oliveira

Figueiredo, extinguiu o bipartidarismo, o que fez com que novos partidos surgissem

na esfera política. Araújo (2007) apresenta este novo momento como preponderante

para a mobilização dos estudantes pela campanha por eleições diretas para a

Presidência da República: as ―Diretas Já!‖. Inúmeros comícios e manifestações

aconteceram durante o início da década de 1980. A tramitação da emenda Dante de

Oliveira, que tratava acerca da efetivação das eleições diretas para a sucessão de

Figueiredo, foi derrotada em 1984 no Congresso Nacional, tendo elegido de forma

indireta Tancredo Neves para a presidência. As eleições diretas, fruto da luta da

sociedade, só veio a ser garantida em 1985, ano que marca o fim da ditadura militar.

Neste ano, também é conquistada a legalização da entidade.

Na esfera política, a redemocratização do país se consolidou com a

Assembleia Nacional Constituinte, realizada entre 1987 e 1988, momento do país

que para Fausto (2000 apud ARAÚJO, 2007, p. 249), ―refletiu o avanço ocorrido no

país, especialmente na área da extensão de direitos sociais e políticos aos cidadãos

em geral e às chamadas minorias‖. Os estudantes retomam o protagonismo da cena

política em 1992, participando do movimento pelo impeachment do presidente

Fernando Collor de Melo. Araújo (2007) destaca que Collor foi o primeiro presidente

eleito por eleições diretas, realizadas em 1989, mas deposto por um amplo

movimento encabeçado pelos estudantes por meio do movimento dos ―caras-

pintadas‖,

Nesse contexto Poerner ressalta:

Ante a gravidade das denúncias e revelações que se sucediam, eles foram os primeiros a sacar que os níveis de corrupção, enquadrilhamento e banditismo no alto escalão governamental haviam gerado um daqueles momentos decisivos da nação, em que não há justificativas para apatia ou omissão de qualquer brasileiro. (2004, p. 299).

Esta época coincide também com o momento em que o Brasil se consolida

como um país de economia industrial, urbano e de serviços. Ao mesmo tempo, se dá

16 Este ponto tratará os dias atuais até o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, por

compreender que o momento recente, em que o país é presidido pelo seu vice-presidente Michel Temer, ainda possui muitas lacunas a serem desvendadas, o que, na análise do autor, não cabe neste trabalho.

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também o aumento exorbitante da inflação, contida pelo Plano Real, medida que

garantiu a eleição do então Ministro da Fazenda de Itamar Franco, Fernando

Henrique Cardoso (FHC). Com a eleição de FHC, a UNE voltou à oposição

sistemática ao governo, ―por considerar que [...] representava a retomada do projeto

neoliberal, com a sua agenda de privatizações, flexibilizações, redução de direitos e

conquistas sociais e trabalhistas, submissão do país na política externa, econômica

e comercial, etc.‖ (POERNER, 2004, p. 301). Este período é marcado pelo intenso

confronto dos estudantes contra as ações do governo, pela luta contra as

privatizações das empresas estatais e contra a desnacionalização do ensino

superior.

Uma nova era para o país e para o movimento estudantil se inicia em com a

eleição e reeleição de Luís Inácio Lula da Silva. A eleição de Lula marca o início de

uma época em que o país consegue retomar o crescimento econômico, passa a

investir em educação e expande os programas sociais. É nessa época em que a

UNE celebra algumas das maiores vitórias do período recente do movimento

estudantil: a criação do Programa Universidade para Todos (ProUni)17, a

reformulação do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES)18, o Programa de Apoio

a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (ReUni)19,

entre outras. É durante o governo Lula que a UNE é indenizada pelo incêndio a sua

sede, na Praia do Flamengo, Rio de Janeiro20.

Com a eleição de Dilma Rousseff (em 2010), candidata sucessora do projeto

encabeçado por Lula, o movimento estudantil também garante importantes vitórias

no âmbito da educação e o Brasil revive alguns dos momentos mais marcantes da

história do país. A crise econômica mundial foi um entrave que teve seu início em

17 Instituído pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, ―destinado à concessão de bolsas de estudo

integrais e de bolsas de estudo parciais [...] para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de ensino superior‖. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11096.htm>. Acesso em 25 out. 2017. 18

Criada pela Medida Provisória n.º 1.827. de 24 de junho de 1999, foi reformulada pela Lei n.º 12.202, de 14 de janeiro de 2010, a fim de garantir ―financiamento a estudantes regularmente matriculados em cursos superiores não gratuitos‖. Ainda teve alterações recentes pela MP n.º 785, de 6 de julho de 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Mpv/mpv785.htm>. Acesso em 25 out. 2017. 19

Instituído pelo Decreto n.º 6.096, de 24 de abril de 2007, ―com o objetivo de criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais‖. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6096.htm>. Acesso em 25 out. 2017. 20

Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,governo-lula-vai-pagar-indenizacao-de-r-44-6-milhoes-para-a-une,655088>. Acesso em 25 out. 2017.

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2008 com a crise imobiliária dos Estados Unidos, e fez com que o Brasil sentisse,

anos depois, seus efeitos. Mesmo assim, Dilma se reelege, mas eclode um clima

político de grande polarização. E é nesse clima que ocorre o processo de

impeachment da primeira Presidente da República mulher21. Seu impeachment se

consuma em setembro de 2016. Durante todo o período, a UNE esteve à frente das

principais mobilizações contra o afastamento da presidenta, por considerar que não

houve crime de responsabilidade. Este posicionamento da entidade se encontra

registrado em suas resoluções. Podemos conferir, por exemplo, neste trecho de uma

das suas notas:

As ―pedaladas fiscais‖ [acusação que culminou no processo de impeachment da então presidenta] não configuram crime de responsabilidade, portanto, o impeachment sem base legal se configura num verdadeiro golpe a democracia.

22

A história da UNE prova que, durante toda sua história, sua atuação foi

marcada pelas importantes contribuições dadas ao Brasil, em seu aspecto político, o

que explica Poerner:

O estudante aqui, como em muitos outros países da América Latina, é movido por algo mais do que o simples espírito anarquista que caracteriza o jovem moderno na Europa ou nos Estados Unidos. Esse algo mais, que torna o estudante brasileiro muito mais maduro, politicamente, do que o seu colega europeu ou norte-americano, consta de uma profunda decepção quanto à maneira como o Brasil foi conduzido no passado, de uma violenta revolta contra o modo pelo qual ele é dirigido no presente e de uma entusiástica disposição de governá-lo de outra forma no futuro. Devido a essa perspectiva de poder - que muitas pessoas, imediatistas e carentes de imaginação, podem considerar utópica, mas que é, afinal, uma consequência inevitável das leis naturais - o estudante brasileiro é um oposicionista nato. (2004, p. 39).

2.2 O LÍDER ESTUDANTIL COMO LÍDER DE OPINIÃO E INFLUENCIADOR

CULTURAL

Podemos perceber, assim, que a história do movimento estudantil nasce

antes mesmo da criação da atual entidade nacional de representação dos

estudantes universitários. Do final do século XVIII até o início do século XX, existem

21 A participação das mulheres na política brasileira data desde os primórdios do século. Em 1927, as

mulheres tiveram o direito garantido no estado do Rio Grande do Norte. Já em 1929, foi eleita a primeira mulher prefeita da América Latina, no município de Lajes: Alzira Soares. Em 1932, Getúlio Vargas incorporou o voto feminino ao Colégio Eleitoral. No caso da UNE, a primeira mulher presidente eleita foi em 1982. De lá para cá, outras seis mulheres foram eleitas para dirigir a entidade. Ver Araújo (2007) e Anexo A. 22

Disponível em: <http://www.une.org.br/noticias/une-se-posiciona-contra-imeachment-de-dilma-rouseff/>. Acesso em 13 out. 2017.

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registros de atividade estudantil na vida política do país, como vimos anteriormente,

o que fez, inclusive, com que os estudos e pesquisas acerca da participação política

dos estudantes tratassem essa atuação de forma secundária (ARAÚJO, 2007).

Júnior, nesse contexto, faz uma importante reflexão:

Ocorre, entretanto, que em muitos momentos da vida nacional, os estudantes se converteram em verdadeiras ―pontas-de-lança‖ de uma sociedade amordaçada, reprimida e oprimida, atuando no sentido de desencadear movimentos de caráter mais amplo e que desembocaram em sérias transformações políticas no País. (1981, p. 8)

É importante salientar que essa atuação orgânica e vigorosa merece

atenção sob a ótica dos seus métodos, e que nem sempre suas práticas foram bem

vistas. Podemos perceber a fala de Seganfreddo23, que diz:

A UNE representa uma juventude inconsciente. Suas atividades não preocupam as atividades do país, que apenas em época de agitação ou greve resolvem tomar atitudes de pseudo-autoridade, acabando, logo, por oferecerem aos líderes estudantis, todas as regalias e proteções. [...] A entidade estudantil, portanto, constitui-se num problema de segurança nacional. (1963, p. 10).

O movimento estudantil possui uma característica bastante peculiar: a curta

participação de um mesmo estudante. Geralmente, esse estudante passa de quatro

a seis anos dentro do ambiente universitário – um período de tempo relativamente

rápido. Essa questão, numa análise puramente lógica, permite-nos dizer que o

movimento estudantil é volátil, fluído, que poderia incapacitar uma atuação política

de longo prazo. Mas essa característica é, talvez, uma das maiores marcas da

atuação organizada dos estudantes e de seu importante papel na defesa das pautas

justas do povo brasileiro. Nesse sentido, Júnior diz que:

O que permitiu aos estudantes desempenhar este papel foi justamente aquilo que é por muitos apontado como a ―falha‖ do movimento estudantil. Em outras palavras, é a situação de transitoriedade, de descompromisso com o processo de produção, de ausência de responsabilidade – em grande parte – para com o sustento de uma família que faz do estudante um ator político de maior responsabilidade, de maior ―agilidade‖, se quiserem, que pode atuar quando outros segmentos da sociedade, pelos mais variados motivos, estão impedidos de fazê-lo. (1981, p. 9).

23 Sônia Seganfreddo, à época da publicação desta obra, era estudante de Filosofia da então

Universidade do Brasil. O livro ―UNE: Instrumento de Subversão‖ é um compilado de artigos publicados no periódico ―O Jornal‖, sob o título ―UNE: a menina dos olhos do PC‖, sob tendência anticomunista. O objetivo, segundo a autora, foi de ―[...] esclarecer, na medida do possível, à grande maioria de estudantes desinteressados e ingênuos que, sem saber por que o fazem, auxiliam as manobras de elementos regiamente pagos para agitarem o panorama universitário em particular e a Nação em geral.‖ (1963, p. 9)

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É necessário, no entanto, considerarmos que este trecho é oriundo de 1981,

época em que a universidade brasileira ainda era, de certa forma, elitizada. Nos

últimos anos, a composição social das instituições de ensino superior se

transformou, muito por conta das políticas de ações afirmativas, o que,

invariavelmente, transformou a dinâmica do movimento estudantil. Mas esta citação

também traz elementos importantes que se aplicam em certos momentos da história

da UNE.

Cabe, ainda, nota sobre as transformações oriundas de políticas de inclusão

e permanência no ensino superior, tais como ProUni, FIES, ReUni e lei de cotas,

etc, entendidas por Cepêda e Marques (2012, p. 186) como ―parte de um projeto de

empoderamento e construção de novos atores/sujeitos sociais‖. De acordo com o

Ministério da Educação, ―as modificações implantadas significaram o enfrentamento

das desigualdades de diferentes matizes que marcaram a sociedade brasileira e que

eram reforçadas pelo sistema de seleção universal como o vestibular.‖ (2014, p. 49).

Para Cepêda e Marques,

A entrada deste novo perfil de aluno na universidade tem, por outro lado, gerado inúmeros desdobramentos na dinâmica acadêmica, estrutura funcional e percepção da finalidade da ação institucional (e sua relação com o meio social). É neste sentido que se pressente a mais importante contribuição para inovação institucional: uma alteração sociocultural na geração de novas elites, desfazendo o nó mais apertado da desigualdade social brasileira – a assimetria do poder (seja econômico, político, jurídico ou simbólico). (2012, p. 188)

A Universidade, enquanto espaço de produção e socialização do

conhecimento, deve ser compreendida como o espaço onde o estudante confronta

seus valores a novos, e assim se compreende como ator político. Essa condição é

explicada por Foracchi:

[...] o estudante chega, em gradações diversas, a compreender os mecanismos que o alienam, partindo da sua própria experiência de estudante, vivenciando-a nos diferentes planos sociais de sua existência. Ao longo do processo de constituição do estudante como categoria social, se engendra um estilo de práxis política que desvenda, ao mesmo tempo, a peculiaridade da sua própria condição e aspectos da situação global que a constituem. (1977, p. 200).

Analisaremos adiante os conceitos de opinião pública. Mas para discussão

deste ponto, no que tange à compreensão da liderança de opinião, é importante

considerar a seguinte afirmação de Cervi:

[...] a opinião pública pode ser considerada parte dos processos de comunicação social, interpessoal ou pelos meios de comunicação de massa, quando racional; e outras vezes, resultado de um processo manipulativo. Nos dois casos, é preciso que haja um estímulo, ou a

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mensagem, com determinado conteúdo produzido por um emissor, de um lado, e alguém disposto a captar toda a mensagem ou pelo menos parte dela, de outro – o receptor. Assim, quem propõe os temas para o debate, o ambiente informacional gerado com a transmissão e circulação de conteúdos relacionados aos temas públicos e à disposição de alguém para receber e pensar a respeito dos assuntos públicos, são os principais componentes do processo de formação de opinião pública. (2010, p. 68)

Uma vez que nem todos os indivíduos estão predispostos a formular suas

opiniões a partir do fenômeno que o autor explana como ―o resultado da soma entre

informação e predisposição‖ (2010, p. 73), faz-se importante a formação de

interlocutores que possam transmitir e reforçar a opinião da massa. Este mediador é

o chamado ―líderes de opinião‖, definido por Cervi (2007, p. 40) como ―[...] um

comunicador social dentro do sistema de comunicação e formação de opiniões

populares‖. O autor (CERVI, 2007) classifica líder de opinião de duas formas:

Vertical: elemento dotado de alta visibilidade nos meios de comunicação,

como âncoras de telejornais, ou socialmente distintos, tais como representantes

formais de instituições profissionais, que usufruem de espaços especiais para

propagar versões dos acontecimentos a um amplo estrato social.

Horizontal: sujeito do processo de comunicação que, mesmo sem

autoridade reconhecida socialmente, desenvolve sua habilidade de persuasão por

seu carisma, confiabilidade, consideração pessoal ou capacidade de aglutinação de

determinados núcleos sociais.

Cervi ainda comenta:

Ainda que recebam os conteúdos diretamente da mídia, o público precisa, na maioria das vezes, de referenciais com os quais possa se identificar socialmente e buscar auxílio na interpretação de códigos não totalmente adaptados à realidade de cada grupo social. Cabe ao líder de opinião horizontal a transformação das mensagens transmitidas pela mídia para as condições de recepção local. Por isso, eles ganham importância como agentes formadores de percepções sobre os conteúdos, além de apropriá-los e aceitá-los. (2010, p. 85)

Conforme percebido, Cervi institui o líder de opinião como o principal

responsável pela transformação dos conteúdos transmitidos pelos meios de

comunicação em objetos de interesse dos segmentos populares, ―aproximando os

conteúdos midiáticos das diferentes realidades sociais‖ (CERVI, 2010, p. 88).

Em muitos momentos da história, o movimento estudantil demonstrou sua

capacidade de liderança de opinião: interveio na questão nacional, mesmo que isso

trouxesse aos estudantes consequências negativas futuramente. Os estudantes

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nunca se furtaram dos principais enfrentamentos da sociedade, de contribuir

efetivamente para a formação a opinião pública.

Vejamos, por exemplo, alguns momentos. Quando a UNE lançou a

campanha ―O Petróleo é Nosso‖, junto a outros setores sociais, foi um dos

momentos em que tiveram ao seu lado ampla adesão da sociedade. Poerner (2004)

e Araújo (2007) concordam que este foi um dos maiores movimentos de opinião

pública da história do país. Durante a fase liberal da UNE, os diretores da entidade

se viram obrigados a, mesmo contra vontade, manter ―o prosseguimento da

participação – ainda que não muito entusiástica – na campanha pela criação da

Petrobrás‖.

Em 1968, os estudantes radicalizaram a sua atuação política, partindo para

a guerrilha armada, entusiasmados pelas experiências cubana e chinesa e

questionando-se a respeito da possibilidade de enfrentamento à ditadura militar

apenas pela via democrática. Sobre as correntes que se organizaram para a luta

armada, Ridenti comenta que estas organizações

Compartilhavam a interpretação que atribuía à economia brasileira um processo irreversível de estagnação sob a ditadura. O desenvolvimento das forças produtivas estaria bloqueado, dada a união indissolúvel entre os interesses dos imperialistas, dos latifundiários e da burguesia brasileira, garantidas pelas forças militares. Só um governo popular, ou mesmo socialista, possibilitaria a retomada do desenvolvimento. Como decorrência desse tipo de análise, estariam dadas as condições objetivas para a revolução, faltando apenas aquelas subjetivas, que seriam forjadas por uma vanguarda revolucionária decidida a agir de armas na mão, a qual criaria condições para deflagrar a guerrilha a partir do campo – local mais adequado para as atividades revolucionárias, por sofrer a fundo a espoliação e a miséria e por apresentar maiores dificuldades para os órgãos repressivos. (2007, p. 30).

O autor ainda complementa: ―as organizações que já vinha realizando

algumas ações armadas concluíram que estavam no rumo certo e intensificaram

suas atividades em 1969. Outros grupos também passaram a não ver outro modo de

combater a ditadura a não ser pela via das armas‖ (RIDENTI, 2007, p. 38). Este foi

um dos momentos em que é possível perceber o quão caro isso foi para o

movimento estudantil, pois conforme Júnior,

Os resultados dessa luta armada foram os mais desastrosos possíveis: obrigadas a sustentar a clandestinidade de seus membros, nos chamados ―aparelhos‖, e forçadas a realizar constantemente ações armadas para se manterem ―vivas‖, as organizações guerrilheiras entraram num ciclo vicioso de assaltos a bancos, nos quais se distinguiam, aos olhos da opinião pública, de assaltantes comuns. As ―massas populares‖ que, segundo a conhecida ―teoria do foco guerrilheiro‖, seriam motivadas a se organizar e lutar através das ações de guerrilha, encharcadas pela propaganda oficial e alienadas pela severa censura à imprensa, preferiam comemorar

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ruidosamente pelas ruas a conquista do tricampeonato mundial de futebol, em 1970. (1981, p. 89)

É possível perceber, ainda, que a capacidade de persuasão do movimento

estudantil não se dá apenas nos enfrentamentos políticos nacionais. Outros

instrumentos, tal qual a cultura, foram fundamentais para dar a UNE o seu

importante caráter persuasivo e de formação da opinião pública.

2.2.1 A Cultura e o Movimento Estudantil

No início da década de 1960, os estudantes tiveram sua atuação atrelada à

questão cultural. Segundo Araújo (2007, p. 51), os estudantes ligados à UNE ―[...]

liam livros, viam filmes, discutiam obras literárias e ensaios filosóficos [...]‖, e essa

formação artística influenciava os jovens durante todo o histórico do movimento

estudantil. Para Mesquita (2006, p. 142), ―a cultura, certamente, tem sido, na última

trajetória do movimento estudantil e, em particular a partir da sua retomada nos

últimos anos, uma das dimensões mais acentuadas enquanto forma de fazer

coletivo.‖

Cultura, para Geertz (2012), precisa ser entendida como um conceito

semiótico. ―Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado à

teias de significado que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo estas teias

e sua análise.‖ (GEERTZ, 2012, p. 4).

Sodré apresenta uma definição semelhante, quando diz:

Cultura é aqui o conjunto dos instrumentos que se dispõe a mediação simbólica (língua, leis, ciências, artes, mitos) para permitir ao indivíduo ou ao grupo a abordagem do real. Os instrumentos ditos culturais são ―equipamentos‖ postos à disposição de todos. (SODRÉ, 2001, p. 85)

A ideia de cultura para o movimento estudantil pode ser entendida conforme

afirma Poerner (2004), ou seja, é na cultura que se deve basear a libertação de um

povo, a construção da sua cidadania. Neste sentido, é importante considerar o que

Thompson24 apresenta sobre a concepção semiótica de cultura:

Os fenômenos culturais são vistos, acima de tudo, como constructos significativos, como formas simbólicas, e a análise da cultura é entendida como a interpretação dos padrões de significação incorporados a essas

24 ―A obra de Geertz oferece, ao meu ver, a mais importante formulação do conceito de cultura que

emerge da literatura antropológica. Ela reorientou a análise da cultura para o estudo do significado e do simbolismo e destacou a centralidade da interpretação como uma abordagem metodológica.‖ (THOMPSON, 2002, p. 177).

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formas. Mas os fenômenos culturais também estão implicados em relações de poder e conflito. As ações e manifestações verbais do dia-a-dia, assim como fenômenos mais elaborados, tais como rituais, festivais e obras de arte, são sempre produzidos ou realizados em circunstâncias sócio-históricas particulares [...]. Entendidos desta maneira, os fenômenos culturais podem ser vistos como expressão das relações de poder, servindo, em circunstâncias específicas, para manter ou romper relações de poder e estando sujeito a múltiplas, talvez divergentes e conflitivas, interpretações pelos indivíduos que os recebem e os percebem no curso de suas vidas cotidianas. (2002, p. 177)

A primeira experiência dos estudantes com o movimento cultural se dá em

1938, com a fundação do Teatro do Estudante do Brasil, ―inspirado nos teatros

universitários europeus‖ (ARAÚJO, 2007, p. 28). De acordo com Rebello (2017), as

iniciativas culturais da UNE tiveram início na articulação com o teatro, que perdurou

até o fim dos anos 1950.

Com a fundação do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, uma nova

fase para a cultura estudantil e, quiçá, brasileira, se inicia – como nos diz Vecchia

(2014, p. 143): ―possivelmente a experiência melhor sucedida no que diz respeito à

relação entre o movimento estudantil e arte e cultura, e que também maior impacto

trouxe às futuras gerações, tenha sido a criação do CPC da UNE.‖ O CPC da UNE25

foi uma movimentação cultural que tem início no Rio de Janeiro e que rapidamente

se difundiu no Brasil inteiro – foi uma mistura do desejo de atualizar as formas de

comunicação com as amplas camadas sociais e dos artistas de produzir uma arte

que fosse de avaliação da realidade brasileira. O CPC ―pretendia transmitir ao povo

uma cultura que lhe permitisse transformar a realidade‖, segundo Araújo (2007, p.

111).

Segundo Vecchia (2014), o CPC era organizado, a partir dos segmentos

artísticos em que atuava, em departamentos, que serão apresentados a seguir:

Departamento de teatro: foi responsável pela ampliação da estruturação da

sede do CPC no prédio da UNE, com a construção de um teatro, e pela produção

de, ao menos, 19 peças teatrais apresentadas inúmeras vezes em locais variados

do país.

25 Passaram pelo CPC da UNE grandes nomes das artes brasileiras, tais como: Augusto Boal,

Gianfrancesco Guarnieri e Cecil Thiré (importantes para a dramaturgia e a televisão brasileira); Leon Hirzman, Glauber Rocha e Cacá Diegues (diretores de cinema de valoroso renome nacional); e também Geraldo Vandré, Milton Nascimento e Chico Buarque (ícones da música popular brasileira).

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Departamento de música: realizou inúmeros documentários, que foram

apresentados durante a UNE - Volante26, além do longa-metragem Cinco Vezes

Favela.

Departamento de música: dentre suas ações, destacam-se a gravação dos

long-playings ―O povo canta‖ (que tratava das dificuldades que o povo passava) e

―Cantigas de eleição‖ (que denunciava a influência do poder econômico nos

processos eleitorais), além de realizar a I Noite de Música Popular Brasileira, no Rio

de Janeiro, e realizar shows musicais durante as edições da UNE - Volante.

Departamento de literatura: responsável pela publicação de muitos livros

(muitos destes cordéis), além da publicação dos ―Cadernos do Povo Brasileiro‖, que

abordavam temas de interesse da época, como a questão agrária, greves,

imperialismo, etc.

A concepção do CPC da UNE, em si, era de ser um instrumento de

conscientização das massas populares para a mudança de suas realidades – numa

visão ligada às análises marxistas da realidade brasileira. Conforme Araújo,

Por esta filiação explícita ao marxismo e a um projeto revolucionário e, principalmente, pelo enquadramento da arte como um instrumento deste projeto, o CPC foi criticado por artistas e intelectuais que o acusaram de dogmatismo e autoritarismo. (2007, p. 111)

Outra crítica levantada sobre o CPC referia-se à relação entre a

intelectualidade pensante do Centro e a massa. O CPC da UNE tinha, em seu

entendimento, a produção de uma cultura para o povo, e não do povo. Nesse

sentido, Berlinck reforça esta percepção, ao afirmar que:

[...] seus membros, por não pertencerem às classes populares e por viverem numa sociedade autoritária, onde a distância entre as classes é muito grande, tinham uma visão exterior e isolada tanto da consciência popular como das possíveis maneiras de alterá-las. (BERLINCK, 1984, p. 108)

As discussões levantadas sobre a atuação do CPC demonstram que talvez

tenha sido este um dos fatores que fez com que o Centro tivesse um papel

fundamental na mobilização e politização estudantil. Vecchia (2014, p. 149) comenta

que, através do trabalho articulado entre CPC da UNE27 e a UNE-Volante ―a diretoria

26 A UNE-Volante foi um projeto de articulação, divulgação e mobilização dos estudantes para a

defesa das pautas e bandeiras apresentadas pela entidade, que percorreu inúmeras capitais do Brasil junto ao CPC da UNE. Ver Araújo (2007). 27

Inclusive, do CPC nasce um dos movimentos mais importantes do cinema brasileiro – o Cinema Novo: movimento fundado por cineastas integrantes do CPC que surge em ruptura a visão revolucionária do Centro para ―(re)organizar as questões estéticas e ideológicas em torno da

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da UNE visitou cerca de 250 faculdades, participou de cerca de 200 assembleias e

realizou inúmeras reuniões com dirigentes estudantis em todo o país‖. A experiência

cultural através do CPC durou até 1964, quando da deflagração da ditadura militar.

Não obstante, anos depois, a atuação cultural da UNE é retomada apenas

no final da década de 1990, com a realização da I Bienal de Arte e Cultura da UNE,

em Salvador. De acordo com o Relatório do 4º Seminário Nacional dos CUCAs:

O final da década de 90, mais precisamente o ano de 1999, marcou a retomada de um trabalho cultural da União Nacional dos Estudantes. Isto não significa dizer que a ausência de uma articulação nacional representa a inexistência de um trabalho cultural promovido pelas entidades estudantis. Pelo contrário, a realização de shows, calouradas, oficinas, debates, festivais e mostras por inúmeros CA‘s e DCE‘s nos quatro cantos do país, faz parte da genética do movimento estudantil brasileiro. No entanto, a inserção da UNE neste cenário foi decisiva para a construção de uma verdadeira política cultural para os estudantes brasileiros. Tudo isso aconteceu num contexto de grandes mudanças no movimento estudantil tendo como motivação principal a necessidade de diversificação. A retomada do trabalho cultural e o estágio em que o mesmo se encontra hoje, talvez seja o melhor exemplo desta mudança. (UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES, 2003)

As Bienais tem sido, desde então, valorosas experiências de troca de

conhecimento e de organização dos estudantes para a luta política do momento.

Estes eventos acontecem a cada dois anos e são inspirados em experiências

culturais presentes na realidade brasileira. A última edição aconteceu em janeiro de

2017 e teve como tema ―A Feira da Reinvenção‖, inspirada nas feiras que

acontecem nas cidades brasileiras e que valorizam a produção regional (Anexo B).

De acordo com Mesquita:

Diferente dos CPCs dos anos 60, a Bienal tem um caráter diferenciado. A cultura aparece não mais com o objetivo puro e simples de ―conscientização‖ do povo, ou seja, como um instrumento pedagógico de formação política. Mais do que ―usar‖ a cultura como meio de transformação das consciências e do próprio meio, a Bienal surge como um espaço de resgate do político que se apresenta disperso nas mais variadas expressões e redes estudantis. Na década de 60, os estudantes eram os sujeitos históricos que iriam politizar a sociedade brasileira. Na década de 90, os estudantes dispersos significam a cultura como meio e possibilidade de encontro deles mesmos com seus projetos. (2001, p. 62)

Com o sucesso da primeira edição, outras já aconteceram. Com o acúmulo

oriundo da I Bienal, e da concepção da sua segunda edição (de tema ―Nossa cultura

em movimento‖), nasce o Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA): ―núcleos

nacionalização e popularização das artes brasileiras.‖ (SOUZA, 2003, p. 133). O Cinema Novo é idealizado como um movimento que busca ser independente, tanto na sua forma de financiamento quanto na sua concepção estética, industrial e político.

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de produção, debate e experimentação cultural que compõe a rede nacional de

cultura da UNE, aliada ao projeto das Bienais‖28. Mesquita (2006) comenta que o

CUCA surge de duas críticas: a) da forma como se percebia e se tratava a cultura (o

fato de a construção cultural se dar muito mais pelos interesses da UNE do que por

um ensejo de investimento orgânico nas iniciativas presentes no país); b) a ideia de

que a cultura e a produção se resumiam apenas a eventos, perdendo-se assim todo

o processo realizado pelos grupos universitários.

Para Rebello,

[...] o CUCA floresceu fruto de uma tempestade perfeita. Nos anos 2000, a universidade brasileira passou por um profundo processo de transformação [...] que expandiu e democratizou o acesso ao ensino superior, que passou a ter uma cara nova. [...] Se o CPC, através do ―Auto dos 99%‖, denunciava a falta de acesso à juventude à universidade, o CUCA da UNE tinha o desafio de dialogar com toda uma geração que passou a ter acesso ao ensino superior e que não encontrava seu reconhecimento simbólico nesse espaço. (2017, p. 40)

Em 2005, fruto de uma iniciativa do Ministério da Cultura (MinC), o CUCA se

torna um ponto de cultura com incentivo público29. A partir da ideia de que qualquer

cidadão pode produzir cultura, os pontos de cultura garantiram que o CUCA pudesse

abrir pontos de cultura em inúmeras universidades brasileiras. Rebello (2017)

comenta, ainda, que na atualidade o CUCA tem investido na criação de uma rede de

midialivrismo, através de uma agência-escola de fotógrafos independentes. ―O

desafio de criar e produzir narrativas através de uma plataforma altamente

compartilhada é a experiência-estética mais recente do Circuito Universitário de

Cultura e Arte da UNE.‖ (REBELLO, 2017, p. 43)

O movimento estudantil, seja pela sua presença na luta política dos

principais acontecimentos do país, ou pela sua interferência, contribuição e

formulação para a cultura brasileira, deixou no seu legado importantes subsídios

para a formação social, econômica e política do Brasil. Manteve-se conectada a

realidade nacional e ao curso da história, mostrando-se capacitada para intervir,

opinar e mobilizar a sociedade para suas opiniões.

28 Disponível em: <http://www.une.org.br/dicionario-do-me/cuca-circuito-universitario-de-cultura-e-

arte>. Acesso em 25 out. 2017. 29

―O projeto dos pontos de cultura é uma das tentativas do Ministério da Cultura de construir uma rede horizontal de articulação, recepção e disseminação de iniciativas culturais no país a partir de vários grupos artísticos. Além disso, objetiva promover, ampliar e garantir o acesso aos meios de uso, produção e difusão cultural às diversas experiências que compõem esta rede.‖ (MESQUITA, 2006, p. 159)

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41

3 A COMUNICAÇÃO NA ERA DIGITAL

O capítulo anterior apresentou a história do movimento estudantil brasileiro e

da UNE, apresentando, ainda, suas contribuições para o campo político nacional e

da cultura brasileira. Percebe-se que a atuação da UNE sempre esteve ligada à

formação da opinião pública e do aporte da comunicação – seja ela institucional ou

propagandística – para difusão de suas ações e teses.

A comunicação é um fenômeno inerente à evolução e à vivência humana. A

capacidade de comunicação e seu uso para o relacionamento intrapessoal faz dos

indivíduos seres sociáveis. Junto a capacidade de comunicação, a habilidade de

persuasão e dominação faz parte da essência humana – fenômeno acentuado pelas

inúmeras transformações de cunho econômico, cultural, político e social que

vivemos.

Atrelado a tudo isso, os marcos tecnológicos estão vinculados às

transformações sociais e de produção e transmissão de informação. A trajetória do

homem ao longo da história, no que diz respeito a compreensão e transformação do

ambiente em que vivem, revolucionou as relações sociais. A comunicação sempre

acompanhou as transformações que a sociedade viveu.

Hoje em dia, vivemos um período em que tudo gira em torno da Internet: o

consumo, a dinâmica da economia nos mais diversos níveis, e tantas outras coisas

que fazem parte do nosso cotidiano. As Relações Públicas, neste aspecto, também

precisam ser compreendidas neste novo contexto, de dinamismo das relações entre

as pessoas, dos anseios dos públicos com uma determinada instituição ou

personalidade, e até mesmo do que significa o processo de relações públicas na

contemporaneidade.

A era digital trouxe consigo modificações significativas na compreensão e

estudo da comunicação e dos fenômenos de persuasão. E é sobre isso que este

capítulo trata: a compreensão da opinião pública como fenômeno de persuasão

social que se utiliza da comunicação para obtenção dos seus ensejos, das relações

públicas neste novo contexto de relacionamento com os públicos de determinada

organização e, por fim, das novas concepções da comunicação oriundas da entrada

da internet e das mídias digitais no cotidiano das relações interpessoais e das

organizações, de forma geral.

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42

3.1 RELAÇÕES PÚBLICAS NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO

ORGANIZACIONAL

A atividade de Relações Públicas, como hoje é conhecida, foi estruturada

por meio de vivências de diversos pesquisadores da área, que a partir de análises

analisaram o comportamento do público ante a situações desfavoráveis e de suas

reações. Pode-se afirmar que transformações fundamentais aconteceram nas

Relações Públicas desde o início da profissão. No entanto, importantes elementos

que fazem parte da história das Relações Públicas ainda fazem parte desta campo

de atuação. Kunsch, nesta perspectiva, comenta que:

Ao longo da história, a prática das Relações Públicas passou por grandes transformações. De uma função meramente técnica, é hoje entendida como uma função estratégica indispensável para que as organizações contemporâneas se posicionem institucionalmente e administrem com eficácia seus relacionamentos com os stakeholders. (2006, p.33)

Em conformidade com Vergili (2014, p. 45): ―a essência das Relações

Públicas é constituída por todas as relações que têm sentido social e tornam-se

públicas‖. É possível, neste aspecto, dizer que o profissional de Relações Públicas

se sobressai dentro das inúmeras possibilidades de atuação que a comunicação

permite por conta de sua papel estratégico junto aos públicos de interesse de uma

organização, conforme apresenta Kunsch:

As Relações Públicas, como disciplina acadêmica e atividade profissional, têm como objeto as organizações e os seus públicos, instâncias distintas que, no entanto, se relacionam dialeticamente. É com elas que a área trabalha, promovendo e administrando relacionamentos e, muitas vezes, mediando conflitos, valendo-se para tanto, de estratégias e programas de comunicação de acordo com diferentes situações reais do ambiente social (2003, p.91).

É necessário, no entanto, devido ao teor do trabalho aqui apresentado,

pensar sobre a atuação das Relações Públicas. Não será o intuito questionar ou

muito menos discordar sobre a importância das Relações Públicas para o contexto

organizacional – até porque esses aspectos serão apresentados. Mas deve ser

tarefa dos profissionais desta área compreender este campo da comunicação para

além da comunicação empresarial. Para tal, observa-se a análise de Vieira:

As relações públicas estão voltadas para o espaço da empresa moderna, com ênfase no ciclo produtivo, ou seja, a atividade se constitui num método de estímulo junto aos públicos, provocando manifestações de concordância e cooperação que se refletem no aumento do consumo e da produtividade. Esta prática é compreensível, mas discutível. Este método de estímulo se desloca do âmbito das empresas modernas para instituições com outros fins. (2002, p.19)

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O autor faz menção a organizações sem fins lucrativos, mas que podem se

utilizar e, por vezes, se utilizam das relações públicas para se obter bons resultados,

tendo em vista que podem ajudar não só no sucesso das instituições, mas também

nas próprias ações dos sujeitos, nos mais variados aspectos cotidianos. Black

(1993) afirma que esta função diz respeito ao caráter em que a conduta e as atitudes

dos sujeitos, organizações e o Estado se inter-relacionam. Kunsch complementa

esta análise, ao afirmar que

Surgem novas concepções das organizações utilitárias, que deixam de ser meras unidades econômicas para se tornarem acima de tudo unidades sociais, interessadas no aspecto coletivo em seus objetivos gerais e específicos. [...] A empresa tem duas realidades: uma econômica e a outra humana, devendo ambas funcionar simultaneamente. Mais do que pelos estoques acumulados ou pelos lucros contabilizados, ela vale pelas pessoas que a integram [...]. (1997, p.143)

Com esta devida análise do fator humano da atividade de Relações

Públicas, é possível dissertar sobre as características desta área. Sobre a função do

profissional de RP, Simões (2001, p. 14) define: ―a essência de sua contribuição está

em produzir resultados que possibilitem às organizações cumprirem suas missões e

assim potencializando o desenvolvimento político-econômico de uma comunidade‖.

O autor apresenta, ainda, que o profissional deve atuar de forma estratégica e ser

guiado através de quatro funções:

Diagnosticar: investigar para futura conclusão e análise de análise a

respeito da organização em que está se atuando (seus norteadores estratégicos,

públicos, mídias, interesses, alcance, etc.), as relações e barganhas político-

econômicos presentes na sociedade.

Prognosticar: detectar movimentos futuros, cruzando informações

presentes com projeções dos possíveis evoluções do microambiente e do

macroambiente para aprovar o que poderá, ou não, ser executado.

Assessorar: acompanhar os líderes organizacionais nos exames de suas

políticas administrativas para, após, apresentar propostas que intergem os

interesses com dados importantes ou impeçam confusões na tomada de decisão.

Implementar: por em prática projetos de comunicação para as organizações

com os seus stakeholders, considerando que é pouco provável que as missões de

certa entidade sejam totalmente consoantes com os anseios de seus públicos. Os

projetos podem pretender informar, convencer ou discorrer.

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Kunsch (2006) afirma que os profissionais na contemporaneidade devem

construir planejamentos estratégicos pautados na transparência e honestidade das

atitudes organizacionais. Esta compreensão implica em auxiliar as organizações a

se posicionarem perante a sociedade, de forma a esclarecer sua razão de existir,

seus propósitos, valores e missão, nas suas concepções, seus objetivos e

expectativas. Definida a função estratégica, o Relações Públicas atua como

consultor, detectando ameaças e oportunidades a respeito da imagem da

organização e do seu relacionamento com os públicos de interesse.

3.1.1 Os 4Rs das Relações Públicas: Uma Abordagem Brasileira

Marcondes Neto (2015) apresenta a ideia de 4 Rs (reconhecimento,

relacionamento, relevância e reputação)30, instâncias que as Relações Públicas

podem interferir no cenário organizacional para o exercício pleno da atividade,

cabível para o atual contexto da comunicação.

Tabela 1: As táticas e estratégias dos 4Rs das Relações Públicas

Arte Narrativa Serviço de Atendimento

ao Consumidor

Pre

se

nça

Com

pe

ten

te n

a

Inte

rne

t

Identidade Corporativa

Branding Comunicação

Interna Atendimento

ao Cliente

Ma

rketing

orie

nta

do

ao

blic

o inte

rno

Propaganda Institucional

Imagem de Marca

Mediação/ Negociação

Ouvidoria/ Omdubsman

Acco

unta

bili

ty Estudo dos

Públicos Comunicação Institucional

Pesquisa de Opinião

Patrocínio (cultural,

esportivo, etc)

Lo

bb

yin

g

Gestão de Crises de Imagem Pùblica

Divulgação Merchandising

Social

Eventos (próprios ou de

terceiros)

Memória da Empresa Marketing Social

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de Marcondes Neto (2015).

30 Dentro de cada ―R‖ apresentado por Marcondes Neto, são apresentados também duas estratégias

e quatro táticas que, para além da tabela apresentada, serão descritas ao longo desta exposição. As estratégias serão pontuadas e as táticas sublinhadas ao longo do texto.

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Para Marcondes Neto:

Reconhecimento, relacionamento, relevância e reputação: quatro instâncias em que relações públicas trazem resultados para a gestão de organizações de qualquer porte e ramo de atividade, gerando a tão demandada transparência – numa comunicação ―total‖, de 360º. E não é demais lembrar que o verdadeiro significado da palavra comunicação é ―comunhão‖, isto é, tornar comum, um processo ideal que faz com que ―aquilo que está em mim, em minha mente‖ possa ―estar em você, em sua mente‖ sem desentendimentos ou ruídos. (2015, p. 118).

A partir do que Marcondes Neto apresenta nesta obra, traz-se aqui um

apanhado dos 4Rs, suas estratégias e suas táticas:

Reconhecimento: é onde uma pessoa, uma causa, uma marca ou uma

organização possui a propriedade de se diferenciar e se tornar distinta e única para

seu público-alvo, para, após ser reconhecida pela sociedade em geral. É a criação

de uma identidade/personalidade própria, não pelo reconhecimento da marca, mas

pelo reconhecimento social. Conforme o autor, ―o que se constata é que há formas

de auxiliar os gestores no contínuo reconhecimento de uma organização em seu

meio‖ (MARCONDES NETO, 2015, p. 53). Nesta instância, existem duas estratégias

das quais não se pode abrir mão:

Da presença competente na internet, em que o autor classifica como ―um

dos maiores desafios desses tempos de internet e do conhecimento‖

(2015, p. 47). A internet transformou a forma de produção e consumo de

conteúdo. A atualidade deste meio/veículo faz com que seja uma

demanda por relevância, e uma das mais importantes estratégias para a

conquista da transparência;

E da arte narrativa (storytelling): a atenção é uma mercadoria escassa, e

isso exige de quem quer conquistar o reconhecimento do seu público

grande capacidade para atrair a atenção do seu público. A arte narrativa

tem, como princípio, a pessoalidade das relações; isto é, fazer dos

produtos ou ideias das organizações algo com os quais as pessoas

tenham uma relação afetiva.

Para isso, é indispensável o estabelecimento de uma identidade corporativa

bem definida, tomando atenção para detalhes desde a escolha do nome ou marca e

sua aplicação em materiais do cotidiano, sejam eles publicitários ou institucionais. A

gestão de marca (branding) torna-se indispensável para fazer do símbolo,

acompanhado de texto ou não, a assinatura ou distintivo da organização. A imagem

da marca deve ser construída com qualidades que vão além do artefato visual: é a

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busca do relacionamento a médio e longo prazo, a fim de o relacionamento com

público alvo se perpetue. Encerrando este ―R‖, a adoção de uma propaganda

institucional, que aponte a responsabilidade social da organização para além da

questão ambiental31, mas também social, econômica e fiscal.

Relacionamento: a vertente mais tradicional da comunicação

organizacional, a interação de uma organização ou pessoa pública com todos os

seus públicos-chave, que na visão do autor, ―é um assunto específico que demanda

gestão especializada‖ (p. 62). Com o intuito de garantir um bom relacionamento

entre a instituição e seus públicos-alvo, apresentam-se as seguintes estratégias:

O marketing orientado ao público interno, para auferir e melhorar os

valores de bem-estar dos funcionários, identificar e conceituar ―cliente

interno‖ e ―mercado interno‖, trabalhar a cultura organizacional e para

garantir a satisfação dos empregados e clientes externos;

O serviço de atendimento ao consumidor, para ―conhecer, compreender e

prever o que seus clientes querem – e vão querer no futuro‖ (p. 60). A

coleta de dados para as organizações é mais uma filosofia de negócios

do que um mero instrumento técnico para lidar com os clientes de forma

ativa e competente.

Essas interações se dão através das relações com o público interno, que

precisam ser planejadas, pois, muitas vezes, os interesses dos colaboradores e da

imagem pública da empresa se discrepam dos outros públicos de uma organização.

Ademais, por meio do atendimento ao público externo, onde o zelo total aos clientes,

usuários e consumidores32 já deve integrar o posicionamento institucional das

organizações. Outro item constante nos relacionamentos é a ouvidoria, elemento

que perpassa as relações cotidianas de consumo, que começa num bom SAC

(Serviço de Atendimento ao Cliente), com direções mercadológicas (relativas ao

aperfeiçoamento de produtos e serviços) e institucionais (que procura construir um

relacionamento para além da venda ou consumo) bem delineadas – a ouvidoria

deve contemplar outras ferramentas de relação direta. O perfil do relações-públicas

31 Sobre a questão ambiental, o autor acrescenta: ―a prática mentirosa sobre ―ser verde‖ que se

convencionou chamar de greenwashing é daninha não só para o meio ambiente. O é, ainda mais, para a própria empresa ―impostora‖. (MARCONDES NETO, 2015, p. 58) 32

Marcondes Neto comenta que, com a criação do Código de Defesa do Consumidor, a máxima ―o cliente é rei‖ ultrapassou todas as barreiras comerciais. Comenta ainda que a preocupação com os clientes passa a ser de ordem relacionada a imagem da empresa.

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cabe, ainda, para a mediação de conflitos: ele pode evitar as vias judiciárias e legais,

buscando o diálogo e soluções de sinergia e uniformidade para conflitos entre

organização e seu entorno.

Relevância: O Relações Públicas tem a tarefa de conseguir buscar a

imagem própria da organização, sendo necessário muito trabalho no ambiente

externo. De acordo com Marcondes Neto (2015, p. 77), ―uma vez obtida, relevância

será algo que se manterá com, além de atitudes, comunicação institucional

cuidadosamente planejada‖. As estratégias apresentadas para o trabalho com

relevância são:

O loobying, caracterizado como a atividade praticada junto a

parlamentares para influenciá-los diante de uma votação de relevância

para a organização. No Brasil, a atividade não é regulamentada, sendo

assim, vista de forma pejorativa e atrelada a ideia de prática excusa ou

tráfico de influência;

O Marketing Social, relacionado a iniciativas que tenham apelo e

aplicação social, como campanhas de saúde pública, alistamento

eleitoral, militar... A atividade, segundo autor, ainda é pouco explorada no

Brasil. ―O profissional de marketing social, contrariamente a seu colega do

marketing de negócios, não está a serviço do senhor e sim do escravo.‖

(GONÇALVES, 1991 apud MARCONDES NETO, 2015, p. 75)

Para se diferenciar, a pesquisa de opinião é necessária para apreciar e obter

informações sobre o pensamento da opinião pública. Dentro do trabalho de pesquisa

de opinião, destaca-se a importância do trabalho com a fatia de clientes, para o

maior estímulo ao volume de compras de cada cliente. O patrocínio a iniciativas de

terceiros também já é algo comum, mas que deve ser acompanhada pelo

profissional para que possa avaliar o alcance e destinar ao público desejado,

garantindo que o investimento financeiro seja prejuízo certo dos recursos. Os

eventos, atividade tradicionalmente relacionada a Relações Públicas, visa colocar as

pessoas em contato direto e podem ser destinados tanto para o público interno,

quanto para o público externo. O merchandising social é a inserção (intencional,

sistemática e com objetivos educativos bem definidos) de assuntos com escopo

social e mensagens educativas nos enredos e cenas de programas de TV com

caráter de entretenimento, tais como telenovelas, séries, etc. Pode ser usado

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também em peças de teatro, dramatizações de rádio, artes plásticas, músicas, filmes

e vídeos, revistas em quadrinhos e tantos outros meios.

Reputação: a construção da reputação tende a fugir dos planos e

empenhos dos departamentos de marketing e relações públicas da empresa. A

reputação é explicada por Marcondes Neto (2015, p. 87) da seguinte forma: ―[...] a

reputação existe como uma imagem que se forma na mente e se projeta na palavra

de quem olha para a organização, percebendo-a, faça a mesma esforços de

marketing e relações públicas ou não‖. A perenidade da organização33 pode ajudar

nessa composição da imagem percebida pelos stakeholders. O trabalho para

administração da reputação demanda as seguintes estratégias:

Accountability, a soma da responsabilidade social e da responsabilidade

civil, e remete ao comprometimento de membros de um órgão

administrativo ou representativo de prestação de contas às instâncias

reguladoras ou seus representados. Surge no contexto da governança

corporativa, com os princípios de transparência e responsabilidade de

apresentar satisfações públicas;

A busca pela difusão e conhecimento da memória organizacional (ou

memória da empresa), como busca de diferencial no mercado e

propagação de seus valores, cultura e identidade pautadas na difusão de

suas realizações, superações e sucessos que marcaram sua trajetória.

O estudo de públicos é a primeira etapa de um planejamento de relações

públicas: conhecer e identificar quem são e como se comunicar com cada público

especificamente. O trabalho de comunicação institucional precisa integrar a

comunicação mercadológica e interna, conjugando os valores de fundadores,

gestores e funcionários com a missão, visão e posicionamento de mercado da

organização. Tudo isso unido a fornecedores dispostos e uma equipe determinada

para conseguir bons resultados em termos de valorização da marca. Uma boa

divulgação demanda a obtenção da chamada ―mídia espontânea‖, ou seja, a

menção nominal da empresa por meio de matérias de interesse desta no noticiário

da imprensa, nos espaços ―não-publicitários‖. A gestão de crises de imagem pública

33 Entendida pelo autor como a fidelidade entre discurso e ação dos valores e crenças. Ver

MARCONDES NETO (2012)

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precisa priorizar a ação preventiva, contínua e permanente, e não apenas em

eventuais gestões de crise, mesmo que aconteçam.

3.1.2 Comunicação Comunitária e Folkcomunicação

Outra concepção importante para o entendimento das Relações Públicas é a

de comunicação comunitária. O conceito de um trabalho comprometido com a vida e

o cotidiano dos segmentos sociais organizados ou com o interesse público, teve

início com as transformações por que passaria a área a partir da década de 1980, no

contexto de articulação crescente dos movimentos sociais e de desenvolvimento da

comunicação comunitária (KUNSCH, 2007).

Atualmente, estudiosos e profissionais da área, rompendo as fronteiras do

mundo puramente sistêmico, adotam um discurso que, de forma consciente dá, cada

vez mais, atenção ao mundo em sua realidade concreta, no processo de construção

da cidadania. Na perspectiva da responsabilidade social, os argumentos para a

instituição da mesma giram em torno das vantagens para as mesmas por causa do

valor que agregam à identidade corporativa, além da necessidade se posicionarem

de maneira diferente do passado devido às novas exigências sociais (KUNSCH,

2007)

Peruzzo atribui às Relações Públicas um papel fundamental na construção

da comunicação comunitária. A autora comenta:

Especialmente as Relações Públicas tem o papel fundamental de facilitar o processo de ação coletiva, no que diz respeito tanto ao relacionamento interno, quanto às relações com os públicos de interesse externos, visando conquistar aliados e dar visibilidade pública às novas formas de realização. (2007, p. 149).

Murade afirma que cabe às Relações Públicas comunitárias ajudar ―o grupo

a compreender sua engrenagem, e fazer-se dissenso, se a realidade se revelar

opressora, na forma de conflito expresso‖ (2007, p.161). De todo modo, não se trata

da atuação profissional de alguém que vem de fora e que interpela e invade, mas

que respeita a dinâmica dos grupos e entidades, de maneira a que as reflexões, o

conhecimento e as decisões emerjam de dentro deles e sejam construídos em

conjunto. César complementa esta visão, ao afirmar que:

A comunicação comunitária é uma via de mão dupla, pautada na comunhão entre sujeitos iguais que participam de seu contexto e o transformam dialeticamente. Esse movimento gera compromisso e amadurecimento do

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movimento e de seus membros, bem como dos profissionais que atuam nele (2007, p. 86).

É possível atribuir à compreensão das Relações Públicas comunitárias o

conceito de folkcomunicação. O termo folkcomunicação foi proposto em decorrência

dos estudos do professor pernambucano Luiz Beltrão em sua tese de doutorado

―Folkcomunicação – um estudo dos Agentes e dos Meios Populares de Informação

de Fatos e Expressão de Ideias‖ apresentada em 1967 à Universidade de Brasília,

onde o termo foi lançado ao pensamento comunicacional brasileiro como forma de

fundamento teórico (MELO, 2007). A ideia de folkcomunicação encontra-se

fundamentada no alcance entre o folclore (resgaste e explanação da cultura popular)

e a comunicação de massa. Para Melo:

Se o Folclore compreende as formas interpessoais ou grupais de manifestação cultural protagonizadas pelas classes subalternas, a Folkcomunicação caracteriza-se pela utilização de mecanismos artesanais de difusão simbólica para expressar em linguagem popular mensagens previamente veiculadas pela indústria cultural. (2007, p. 21)

Os estudos da comunicação popular se fazem importantes para a

compreensão da atividade comunicacional constituída por seres marginalizados, que

Beltrão define como seres ―à margem de duas culturas e de duas sociedades que

nunca se interpenetraram e fundiram totalmente‖ (1980, p. 39). Schimidt (2008, p.

150) também reforma este aspecto: ―[...] existe uma tendência mundial de

regionalização, um olhar do capital sobre a cultura folk. Ocorre uma visualização da

cultura local como fator de desenvolvimento e consolidação de diferenciais entre

grupos [...].‖

Para Beltrão,

[...] graças a suas características de liderança e a sua capacidade interpretativa da informação, esse receptor distinguido se transforma (muitas vezes depois de consultar outras fontes, líderes e meios) em comunicador para uma audiência que o procura e o entende, já que emprega veículos (meios de folk) que, ainda se massivos (como o rádio ou impressos do tipo folhetos e volantes), lhe são acessíveis e familiares. (1980, p. 33).

É importante salientar que os grupos culturalmente marginalizados estão

contidos dentro dos grupos marginais urbanos e rurais, sendo que um indivíduo que

pertence a um grupo culturalmente marginal, consequentemente estará dentro de

um contexto rural ou urbano. Conforme Silva:

Do ponto de vista da Antropologia urbana brasileira, este conceito de grupos urbanos marginalizados de Beltrão supõe pensar a crítica à formação urbana brasileira para além da linha fronteiriça (e invisível) entre a cidade oficial e a clandestina, bem como entre o sentido social e físico de periferia.

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Aprofundando mais: diria que indiretamente Beltrão consegue contemplar as novas ramificações sociais das favelas e subúrbios dos anos 90 e 2000, então caracterizadas como sistemas sociais complexos, cujas relações de poder, de dominação e de reafirmação cultural tendem a ocupar as brechas deixadas pela ineficiência do Estado, da cidade formal. (2016, p. 217)

Existem três tipos de grupos culturalmente marginalizados que se

distinguem pela sua maior frequência em ações comunicacionais, estes são: o

messiânico, o político-ativista e o erótico-pornográfico (1980, p. 103) que, mesmo

com a evolução dos meios de comunicação e do próprio acesso aos meios, ainda

têm seus espaços entremeio a essas formas alternativas de se comunicarem.

Silva nos exemplifica a atuação destes grupos socialmente marginalizados,

ao apresentar que:

No Brasil atual de 2016, sob instabilidade política e econômica desde as chamadas ―Jornadas de Junho‖, em 2013, a presença destes grupos culturalmente marginalizados está cada vez mais presente nas mobilizações e ocupações de escolas e universidades. [...]. A maioria deles geralmente se manifesta contra alguma medida autoritária, um fato de grande repercussão política ou social, e de interesse público; e a cada manifestação é possível observar uma ressonância simbólica que, por sua vez, não só seduz mais seguidores, como tende a interferir e abalar o sentido de identidade política de muitos cidadãos. (2016, p. 218)

3.2 PÚBLICO E OPINIÃO PÚBLICA

A opinião do público possui importante preponderância em inúmeros

aspectos, principalmente para as Relações Públicas. Para Lattimore et al., ―todas as

definições e discussões de relações públicas estão relacionadas ao público e a

opinião pública‖ (2012, p. 25). Os públicos, nos dias atuais, configuram elementos

importantíssimos para as relações sociais, em que as informações estão difusas e

as opiniões dos públicos possuem importante relevância. Neste contexto, Simões

(1995) afirma que os públicos precisam ser identificados, analisados e referenciados

conforme seu poder de influência dos objetivos da instituição.

3.2.1 Públicos e Stakeholders

Compreender as relações sociais implica em entender o conceito de

públicos, que são fundamentais para as Relações Públicas por estabelecerem

interações em diversos aspectos com as organizações. Neste sentido, uma das

maiores provocações para este segmento é encontrar um conceito que determine

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como devem se desenvolver os relacionamentos entre organizações e públicos

(FRANÇA, 2008).

Define-se público, a partir de Andrade (2003), como uma aglomeração

natural de pessoas, as quais não possuem funções definidas a serem

desempenhadas e pouca ou nenhuma consciência de representatividade. Já para

Lattimore et al.,

[...] definimos públicos como categorias de pessoas que se tornam importantes para nossa organização por que ela as associou de forma intencional ou involuntária. [...] Elas se tornam um público quando reconhecem um tema importante, entendem a relevância que ela tem para si, então o debatem ou mesmo se organizam para fazer alguma coisa a respeito. (2012, p. 25)

A formação do público acontece quando há algum interesse em comum e, a

partir dele, oportunizam-se discussões acerca de determinado assunto de relevância

social, direta ou indiretamente importante para o órgão. A formação do público

independe de tamanho (podendo agregar poucas pessoas ou ser formada a partir de

uma multidão) ou de questões geográficas. O fundamental para a formação do

público é a capacidade de comunicação como mecanismo de exposição do ponto de

vista dos elementos formadores de sua ideia, o qual comenta Andrade:

O público pode ser amplo ou restrito, efêmero ou duradouro tendo em vista a grandeza, a complexidade, a importância e o interesse das questões levantadas para a discussão pública. Ele não deixa de ter uma estrutura elementar, pois inclui grupos organizados que se empenham em organizar a massa amorfa de pessoas que acompanham o debate em favor de seus pontos de vista. Essa massa ocupa um lugar importante no público, na posição de árbitro, o que significa dizer que a discussão pública baseia-se principalmente em suas manifestações (1989, p. 41).

Os públicos possuem tamanha relevância para a atuação das organizações

que seu estudo é o primeiro passo para a tarefa de Relações Públicas. De acordo

com Marcondes Neto,

É preciso conhecer com quem a organização precisa e quer relacionar-se para então preparar-se para uma comunicação efetiva com cada segmento de público envolvido. Trata-se de um diagnóstico necessário para o estabelecimento de um planejamento de ações comunicacionais especificas (2015, p. 89).

Ter a compreensão do que são os públicos se faz fundamental para o bom

relacionamento das organizações e seus públicos. A partir destas definições, é

possível classificar os públicos. A estrutura mais tradicional de públicos é entendida

por Simões (1995, p. 131) como uma forma de ―enquadrar os distanciamentos dos

públicos quanto ao centro do poder da organização‖.

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Sob o critério geográfico, são classificados como ―interno, misto e externo‖.

Kunsch (2003), a partir deste critério, identifica como público interno os funcionários

e diretores da empresa e seus familiares; como o público misto os revendedores,

acionistas e fornecedores da companhia; e como o externo os consumidores,

imprensa, sindicatos, concorrentes, comunidades, escolas, poderes públicos.

Esta concepção apresentada não é consensual: por exemplo, França (2008),

compreende os familiares de funcionários e diretores da corporação como público

misto, e não interno, conforme apresentado por Kunsch (2003). França (2008)

comenta ainda que não existe um acordo entre os estudiosos da área quanto à

definição e segmentação dos públicos e quem são os grupos que compõem cada

categoria, ficando evidente a necessidade de formulação teórica sobre o assunto,

haja vista a importância dos públicos para a dinâmica das organizações.

Ainda, sobre tipificação de público, Simões destaca que esta classificação

―não resiste à análise, caso se considerem os deslocamentos constantes das

fronteiras organizacionais e, também, das pessoas, através dos vários públicos a

que pertence‖ (SIMÕES, 1995, p. 131). Neste sentido, a partir das contribuições da

autor francês Lucien Matrat, apresenta uma classificação baseada no tipo de poder

que cada público possui, que são:

Público de decisão: aquele cuja autorização ou concordância permite o

exercício das atividades da organização; por exemplo, o governo, cujo poder

outorgante garante a fundação e a continuidade legal da empresa.

Público de consulta: públicos que são consultados pela instituição, quando

esta deseja atuar. Acionistas e sindicatos se encontram nesta classificação, pois

influenciam em como decisões são tomadas a respeito de determinadas situações.

Público de comportamento: são os públicos cujas ações podem

impulsionar ou estagnar as iniciativas da empresa. Funcionários e clientes dão a

compreensão deste público: o primeiro, por ser o motor das atividades da empresa,

o segundo por determinar, através de sua postura, o sucesso do empreendimento.

Público de opinião: é o que influencia pela simples manifestação de sua

opinião, julgamento ou ponto de vista. Muitos seguidores deste público se valem de

suas manifestações, para que decisões e atitudes sejam tomadas. Líderes

estudantis e comunitaristas, colunistas de jornais e comentaristas de rádio e

televisão, estão dentro desse grupo.

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54

As classificações e entendimentos sobre públicos são variados. França

(2011) apresenta também a seguinte estratificação de públicos:

Públicos essenciais: aqueles dos quais a coorporação depende para sua

formação, sustentação e manutenção. O autor organiza-os em dois subgrupos

(públicos constitutivos da organização e não constitutivos);

Públicos não essenciais: são os associados à prestação de serviços ou a

intermediação política ou social. Estão divididos em quatro vertentes (redes de

consultoria, divulgação e promoção; redes de setores associativos, rede de setores

sindicais e rede de setores comunitários);

Públicos de redes de interferência: característicos do cenário externo, são

os que podem desempenhar fortes influências no desempenho da companhia. Estão

arranjados em quatro categorias (redes de concorrência, redes de comunicação em

massa, redes ativistas e ideológicas e grupos de pressão).

Como mostrado acima, são muitas as classificações de públicos. Deve-se,

assim, compreender que os públicos são variados, e cada um possui uma demanda

e uma dinâmica específica, que determina também a forma de estabelecimento do

relacionamento entre as partes. Estabelecer estratégias de relacionamento

específicas para cada público é um dos principais desafios do profissional de

Relações Públicas. Kunsch, neste sentido, reforça que:

As relações públicas, pelo fato de trabalharem com uma grande variedade de públicos, sentem a necessidade de usar uma comunicação dirigida para cada um deles. Dependendo do público usaremos determinado veículo, com linguagem apropriada e especifica. Assim, o jornalista é um público, como o são o governo, a comunidade, o estudante etc. (2003, p. 186).

A partir das conceituações apresentadas, Grunig (2011) apresenta o

conceito de stakeholders34: todos aqueles que demonstram atenção, tal qual

legalidade ou poder em qualquer ação da organização. Lattimore et al. (2012, p.

143) definem como ―aqueles indivíduos que consideram ter interesses nas ações de

uma organização‖. Neste sentido, Vergili (2014, p. 53) faz uma importante

ponderação: ―é necessário entender, inicialmente, que os stakeholders não devem

ser entendidos como qualquer tipo de público, porque não se subdividem e, além

disso, participam de todas as decisões da organização‖. Rocha e Goldschimidt

elucidam:

34 ―O termo stakeholder (parte interessada) é um trocadilho em língua inglesa com stockholder

(acionista)‖. (FORTES, 2003, p. 82)

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O termo stakeholder tem origem no termo stockholder (acionista), e amplia o foco da organização, que antes era satisfazer o acionista e passa a ser satisfazer seus públicos de interesse estratégicos, como clientes, funcionários, imprensa, parceiros, fornecedores, concorrentes, sindicatos e a comunidade local. (2010, p. 6)

Para Marcondes Neto (2012, p. 33): ―a noção de importância do

relacionamento de uma dada organização com seus públicos de interesse (ditos

stakeholders) é um dos principais fatores que diferenciam a formação do relações

públicas‖. É preciso estar preparado para atuar dentro deste novo contexto de

interação, para que a chance de se aproximar com o público de interesse não se

torne uma tensão. Nesse sentido, Vergili ressalta:

Sabendo que influenciam diretamente os resultados das empresas, os públicos supracitados exigem posturas éticas, além de cobrar informações sobre serviços, resultados e lucros das organizações. E nesse ponto, com a utilização cada vez mais frequente da web – tanto por parte das empresas quanto dos públicos – surge mais um ambiente para entender os stakeholders que desejam ser informados sobre algum assunto de interesse. (2014, p. 54)

Pinho (2003) comenta que estes públicos mudam dependendo do segmento

onde as organizações atuam. Ainda assim, apresenta sete categorias de

stakeholders das quais todas as organizações possuem:

Mídia: o profissional de Relações Públicas deve ser um porta-voz que

transmita confiança; isto é, comprometido com a genuinidade dos dados.

Empregados: de extraordinária importância para as organizações, cuja

comunicação precisa informar políticas da organização, discorrer, dissipar ou

responder rumores prejudiciais.

Consumidores: são vitais para a vida da organização; a comunicação aqui

não deve partir de apenas um setor especializado da empresa, e sim de todas as

partes envolvidas.

Investidores e acionistas: interessados nos balanços financeiros da

empresa, são todos os sujeitos de instituições financeiras ou acionistas.

Comunidade: público que admira a postura cidadã da empresa e com

responsabilidade (ambiental, fiscal, social, administrativa, etc.), o que acarreta em

um clima agradável para a convivência comunitária.

Fornecedores e distribuidores: a boa relação firma parcerias, o que serve

também para os distribuidores que, informados sobre ações da organização, se

dispõem a contribuir com a imagem positiva.

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Governo e legisladores: autoridades políticas a níveis federal, estadual e

municipal, cuja transparência junto ao público se faz importante.

Grunig (2011) lembra ainda que a comunicação com os stakeholders deve

ser feita na perspectiva de relacionamentos estáveis e duradouros, para se obter

maior apoio na gestão de conflitos, quando ocorrem. Sendo assim, é preciso o

entendimento de que os públicos estão cada vez mais exigentes, opinativos, e

desempenhando um papel único na formação da opinião pública.

3.2.2 O Fenômeno Opinião Pública

A reflexão acerca de opinião pública remete à ideia de grupo, de público, de

opinião e de indivíduo. Não é menor o fato de que o estudo da Opinião Pública seja

objeto em diversas áreas do conhecimento, tendo, neste aspecto, inúmeras

definições que tornam este um conceito bastante amplo.

A opinião pública passa a ser melhor aceita a partir do século XVIII, muito

por conta do Iluminismo, importante corrente de pensamento que toma conta da

Europa na época (CERVI, 2010). Consonante a este fenômeno, a urbanização da

sociedade se dá numa forma mais acelerada, muito por conta da industrialização.

Neste novo contexto, de industrialização e de mudança de paradigmas na economia

– da sociedade feudal de subsistência para a sociedade industrial de produção de

massa – a humanidade entra na era do consumo. A redução do analfabetismo,

somada ao acesso à literatura e a expansão dos meios de comunicação de massa

(principalmente impressos, como os jornais) de caráter crítico também influenciaram

para desenvolver a socialização, a necessidade de expressão e a reprodução de

ideias na esfera pública (RECUERO, BASTOS, ZAGO, 2015).

Para entendermos o que é Opinião Pública, é necessário compreender o

que significa a opinião enquanto elemento do pensamento humano e social. De

acordo com da Viá (1983, p. 58), a ―opinião é conjunto de crenças a respeito de

temas controvertidos ou relacionados com interpretação valorativa ou o significado

moral de certos fatos‖. Já Augras (1970, p. 11), entende opinião como um fenômeno

social. Para a autora, ―é um dos modos de expressão desse grupo e difunde-se

utilizando as redes de comunicação do grupo‖.

A partir destes conceitos de opinião, é possível compreender que a Opinião

Pública está diretamente atrelada a opinião de determinados aglomerados sociais. É

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possível entender o que é a Opinião Pública a partir do conceito que Cervi

apresenta:

[...] a opinião pública é o resultado de dois processos que ocorrem simultaneamente. Um, de tentativa de persuasão e convencimento a elite política que se manifesta, na maior parte das vezes, pelos meios de comunicação de massas (mas não exclusivamente por elas), materializado na propagação de informações e mensagens supostamente objetivas, mas que sempre trazem em si algum grau de subjetividade de quem as produz ou está influenciando os produtores. Outro, dá-se pela reformulação de crenças, valores e conceitos que o próprio público faz, independente dos interesses da elite política, a partir de informações que recebemos desta ou por meios não institucionais de comunicação interpessoal. (2010, p.70)

Tendo em vista a definição apresentada, é possível entender a Opinião

Pública como um fenômeno social (AUGRAS, 1970), ou seja, comportamentos,

atitudes e circunstâncias verificadas em certos grupos, sociedades e organizações.

Ou seja, surge do coletivo, é um processo, de caráter comunicativo e interpessoal

que serve de mediadora entre o mundo exterior e o indivíduo sob dois elementos,

explicados por da Viá (1983): 1) adaptação à realidade e ao grupo; 2) exteriorização.

Correa reforça estes elementos, ao afirmar que:

A culminância desses estudos coincide aqui com o tratamento de opinião pública como sendo um processo intelectual, iniciado com o surgimento de questões de interesse comum, submetidas aos diferentes pontos de vista, seguidas pela deflagração da controvérsia, derivando esta em soluções alternativas, cuja opção sugere o acordo. (1988, p. 43)

Andrade (1989) apresenta a formação da opinião pública em quatro etapas:

a primeira é caracterizada pela análise de problemas (sendo estes um ou mais) de

importância coletiva, que não se resolvem pelos modelos e regras culturais, que

acarreta na contrariedade do grupo de interesse; a segunda fase é a ocasião em

que se atrai a atenção da comunidade para o problema em questão, por meio de

conversas, debates, palestras, reportagens, etc. Isto é, pauta-se o problema e

possíveis soluções para o assunto; o debate público faz parte da terceira fase do

desenvolvimento da opinião pública conforme o autor: aqui a discussão se amplia e

acaba gerando ainda mais insatisfação por parte da multidão; a última etapa é

caracterizada pela formação do consenso do grupo, onde a opinião da maioria ou

uma mescla de opiniões presentes na formulação torna-se um elemento unificado,

gerando o conceito de opinião pública.

É importante frisar, no entanto, que a Opinião Pública não é a soma da

opinião dos públicos, muito menos a pura convergência destas. Para Olicshevis,

Não se elabora, no plano coletivo, um consenso, não se forma uma única opinião. O que temos são vários públicos, que dispõem de opiniões e até

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mesmo informações diferenciadas para o mesmo fato. Estes públicos diversos não chegam em um acordo. O que acontece é que estes tentam disseminar suas opiniões por meio da mídia. É certo que nem todos os grupos ou públicos possuem a mesma visibilidade midiática, mas são aqueles que conseguem tornar pública uma determinada opinião que saem ganhando. Ou seja, opinião pública nada mais é do que a opinião de um determinado grupo. Em razão das influências dos grupos que formam a opinião dominante, o seu caráter público significa, na verdade, a expressão desta dominância e não a discussão descompromissada de temas com vistas a extrair a melhor posição. (2006, p. 4)

Tudo isso expõe a necessidade da compreensão da Opinião Pública para as

Relações Públicas. Lembramos aqui que compreender é diferente de formar, pois

para Simões (1995, p. 206), ―quando se diz que cabe às Relações Públicas formar a

Opinião Pública, está-se navegando em águas cuja transparência há muito

desapareceu‖. Lattimore et al. (2012) afirmam, sobre o trabalho de Relações

Públicas para a manutenção da reputação das organizações, que para tal é preciso

compreender a Opinião Pública como um fenômeno dinâmico, em que cada

interesse contribui para ajustar um tema em cada veículo de comunicação. Cabe,

assim, às Relações Públicas o entendimento de que a Opinião Pública é um

fenômeno oriundo de elementos sociais, culturais e psicológicos que, com o acesso

e publicidade por meio dos veículos de comunicação, infla a atenção da sociedade.

3.3 MÍDIAS DIGITAIS E AS NOVAS FORMAS DE RELACIONAMENTO

Desde a surgimento dos computadores e a proliferação da internet35, a

tecnologia digital tem conseguido suprir diversas necessidades, além de acelerar o

processo de inovação tecnológica. Por conta do uso cada vez maior da web, a

cultura destas últimas gerações vem se transformando e se habituando à inclusão

de novos meios de comunicação, relacionamento, busca de informações e todas as

questões atreladas ao cotidiano, fazendo da internet a grande promotora dessas

mudanças que se veem nos últimos tempos.

De acordo com Lemos e Di Felice,

[...] o advento da comunicação digital é uma das mais importantes revoluções da nossa época. A criação de uma arquitetura informativa que não se limita a distribuir informação, mas que também é interativa, permitindo o diálogo fértil entre dispositivos de conexão, banco de dados,

35 A privatização tal qual citada ocorreu na metade da década de 1990, o que garantiu a rápida

proliferação da internet e a então transformação nos modos de relacionamento. Antes disso, a internet era um mecanismo restrito às universidades e ao exército estadunidense, cuja criação como conhecemos hoje se deu no início da década de 1990. Ver CASTELLS, 2003.

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pessoas e tudo o que existe é um marco na história da comunicação, porque, pela primeira vez, altera-se a forma de transmissão das informações (2015, p.7).

Com o advento de novas formas de interação após a internet, como as

mensagens instantâneas, blogs e redes sociais, os profissionais da comunicação

tiveram como consequência a ampliação de suas percepções. Isso porque,

constroem-se novas possibilidades para a exibição organizacional, que aparenta

facilitar a exposição e a troca de conteúdos entre os públicos-chave de uma

instituição e mesma. De outro modo, essa facilidade também pode colocá-la em

condição de grande vulnerabilidade, que nem sempre se mostra vantajoso quando

se trata de críticas. Terra (2010) aponta que o equilíbrio entre esses dois elos da

web se coloca como um dos maiores desafios do profissional de RP.

Pensar na comunicação sob a ótica da era digital implica em

compreendermos a dimensão das Relações Públicas digitais. Conforme Terra:

[...] as relações públicas digitais se caracterizem pela atividade de mediação e/ou interação por parte de organizações ou agências (consultorias etc.) com seus públicos na rede, especialmente, no que diz respeito às expressões e manifestações desses nas mídias sociais. (2012, p. 206).

Para além da função estratégica da gestão de todos os canais online que

comportem o envolvimento e o engajamento dos usuários, ela também assegura

que a desenvolvimento do relacionamento entre organização e públicos permeia as

Relações Públicas digitais, que tem a tarefa de evoluir as concepções habituais.

Conforme Terra (2012, p. 207), ―o cerne das relações públicas sempre foi e será o

diálogo e a via de mão dupla, conceitos absolutamente conectados com as mídias

sociais e com a internet‖. Vergili também traz importantes contribuições do

profissional de Relações Públicas na comunicação digital. Para ele:

[...] o relações públicas, utilizando-se do mapeamento de pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades da organização, devido às características das redes, pode coletar informações mais detalhadas do ambiente em que a empresa está inserida, agregar valor ao que será distribuído por todos os departamentos e, em consequência, gerar um discurso alinhado na web – aumentando a chance de relacionamentos baseados em fatos reais, mas cuja intenção seja promover a imagem e reputação corporativas. (2014, p. 111).

A partir disto, é possível compreender que a área de Relações Públicas se

sobressai, notadamente, em administrar os relacionamentos de uma organização,

independentemente se online ou offline. Esse predicado da área permite que as

organizações possam mapear e conhecer os seus públicos e pensem em ações

para cada um de forma personalizada, garantindo mais segurança em suas

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estratégias de relacionamento. E isso abarca não somente a mensagem, mas o

conjunto dos elementos que compõem o fluxo comunicacional (meio, mensagem,

etc.), de acordo com as expectativas da empresa. Terra, neste aspecto, menciona:

A organização não pode e nem consegue mais ficar restrita ao que se publica sobre ela nos meios de comunicação clássicos, uma vez que se tem atualmente uma multiplicidade de canais disponíveis, incluindo-se aí as redes sociais (on e off-line) e a diversidade de públicos, que não necessariamente clientes e funcionários (2012, p. 123).

De acordo Pinho (2003), foi por meio da internet que a subjetividade do

consumidor foi considerada pelas marcas, haja vista que era muito mais difícil

personalizar qualquer peça publicitária ou propagandística pelo simples fato das

mídias serem primordialmente massivas. A customização de conteúdo em diversas

plataformas foi facilitada pela rede, uma vez que cada rede tem o seu público-alvo,

tanto gerador quanto consumidor de conteúdo, e sua melhor forma para a busca do

engajamento.

3.3.1 Mídias e Redes Sociais

Na contemporaneidade, a humanidade está enfrentando uma gigantesca

revolução comunicativa, fruto da implementação das tecnologias digitais, que, numa

percepção histórica, ―[...] constituiria a quarta revolução industrial e que, como as

outras, estaria ocasionando importantes transformações no interior dos distintos

aspectos do convívio humano.‖ (DI FELICE, 2008, p. 17)

A definição de ―rede‖, de acordo com Terra (2012), é fruto dos laços que os

homens firmam entre si, à procura de referências, ajuda, informes e principalmente o

sentimento de aceitação e pertencimento. Com o advento da Web 2.036, conforme a

autora, o conceito de rede social tem se associado à comunicação no ciberespaço.

Dado o começo dos relacionamentos online, o uso das redes sociais foram

ampliadas. Para Teixeira (2013, p. 16), ―O termo rede social ficou mais bem

difundido com a internet, pois permitiu uma maior interação entre as pessoas do

mundo, independentemente do idioma, localização e suas preferências‖. A autora

ainda complementa:

Então, pode-se dizer que a tecnologia permitiu que as pessoas assumissem um caráter participativo. Elas presenciam um fato positivo ou negativo,

36 Período tecnológico caracterizado pela soma de novas estratégias de mercado e a recursos de

comunicação mediados pelo computador. Ver Burrus e Mann (2011).

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registram e transmitem para outros, que dão seu posicionamento sobre aquela situação e aos poucos vão envolvendo outras situações. (2013, p. 17).

Conforme Santaella e Lemos (2010), redes sociais são apenas um modelo

de rede, pois a ideia de ―redes‖ pode ser encontrada em quase todas as áreas do

conhecimento e do saber humano. Redes sociais, ainda, são pessoas ligadas por

interesses similares, visão que Recuero complementa:

Rede social é gente, é interação, é troca social. É um grupo de pessoas, compreendido através de uma metáfora de estrutura, a estrutura de rede. Os nós da rede representam cada indivíduo e suas conexões, os laços sociais que compõem os grupos. Esses laços são ampliados, complexificados e modificados a cada nova pessoa que conhecemos e interagimos (2015, p.83).

Redes sociais são vínculos sociais, elos estabelecidos entre pessoas,

construindo redes e conexões, sejam online ou offline. Na esfera digital, redes

sociais são estes laços estabelecidos entre indivúdios e grupos de pessoas através

de sites. Ainda para Recuero:

As redes sociais também são diferentes daqueles sites que as suportam. O Orkut, por exemplo, não é uma rede social, é um site. Ele proporciona conexões para as pessoas mas, em última análise, são as pessoas que constroem as redes. Esses sites, portanto, expressam as redes e, com isso, as influenciam. (2009, p.25).

Portanto, a concepção redes sociais está além dos sites e mídias, sendo as

interações que se dão neles e que se apropriam dos recursos para fazer a

estruturação das ligações afetivas entre os internautas. Monge (2012, p.33) afirma:

―sítios de redes sociais são uma forma organizacional que facilita uma forma de

interação social humana baseada no computador‖. Recuero (2009) entende por site

de redes sociais todos aqueles sistemas que:

a) Garantem a constituição da personalidade pessoal por meio de um perfil

ou página.

b) Garantem que essas pessoas se inter-relacionem com outros através de

comentários.

c) Permitem a publicidade do perfil ou página de cada sujeito.

As mídias sociais, na visão de Torres são:

[...] sites na internet que permitem a criação e o compartilhamento de informações e conteúdos pelas pessoas e para as pessoas, nas quais o consumidor é ao mesmo tempo produtor e consumidor da informação. Elas recebem esse nome porque são sociais, ou seja, são livres e abertas à colaboração e interação de todos, e porque são mídias, ou seja, meios de transmissão de informações e conteúdo (TORRES, 2009, p.113).

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Torres também busca diferenciar mídias de redes sociais. Na visão do autor,

mídias sociais se referem a todas as plataformas de mídia que permitem a

colaborarividade. Podem ser sites como Youtube, Flickr (de caráter multimídia) ou

sites como o Facebook (que visam o relacionamento entre sujeitos). Já os sites de

redes sociais são aqueles que visam a troca de informações e interação entre as

redes de indivíduos formados através de elementos do próprio site. Sendo assim, as

redes sociais são parte formadora das mídias sociais. Teixeira, nesta mesma linha

de pensamento, corrobora:

Mídias sociais é o termo mais abrangente para referir-se a todas as ferramentas com interatividade e da geração de conteúdo por meio das novas mídias, que incluem computador, mobile, tablets e games. E as redes sociais constituem um tipo de mídia social. (2013, p. 14).

É importante frisar que, mesmo o conceito de mídias sociais digitais seja

assemelhado a ideia de redes sociais digitais, elas possuem características distintas.

Mídias sociais digitais designam as plataformas de criação, consumo e

compartilhamento de conteúdo, que podem proporcionar a interação entre usuários,

enquanto as redes sociais digitais são os agrupamentos sociais consequentes desta

interação (RUBLESCKI E BARICHELLO, 2013).

Conforme levantamento da agência We Are Social37, o número de pessoas

presentes em sites de redes sociais no mundo corresponda ao montante de 2,7

bilhões de usuários, sendo que 2,5 bilhões hoje acessam as redes sociais digitais

por meio dos seus smartphones. Muitos destes atores se agrupam em comunidades

virtuais. Para Recuero (2009), as comunidades são formadas por uma variedade de

nós com forte conexão entre si.

3.3.2 Facebook: uma mídia para várias redes

De acordo com as informações do próprio Facebook38, esta rede ―celebra

como os nossos amigos nos inspiram, nos suportam e nos ajudam a descobrir o

mundo quando estamos conectados‖. Fundada em 2004, usa do criação e

compartilhamento de diversos tipos de conteúdo como grande diferencial. É possível

compartilhar desde textos simples, passando por publicar fotos e vídeos pré-

37 Disponível em <https://wearesocial.com/special-reports/digital-in-2017-global-overview>. Acesso em

05 nov. 2017. 38

Disponível em: <https://www.facebook.com/facebook/info/?tab=page_info>. Acesso em 05 nov.2017

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gravados até fazer transmissões audiovisuais ao vivo para todo o mundo. A

plataforma tem como ideia inicial a produção de perfis, em que os usuários se

adicionam como amigos, gerando redes mútuas. Desta forma, quando um amigo faz

um post, ficará visível para sua rede de amizade na forma de linha do tempo ou feed

de notícias.

Para Kirkpatrick, a diferença de praticamente qualquer outro site ou negócio

de tecnologia, o Facebook é, profunda e prioritariamente, sobre pessoas. O autor

ainda complementa:

É uma plataforma para que elas obtenham mais da própria vida. É uma nova forma de comunicação, tal como foram as mensagens instantâneas, o e-mail, o telefone e o telégrafo. Nos primeiros tempos de Rede Mundial, costumava-se dizer que todo mundo acabaria tendo sua própria página. Agora isso está acontecendo, mas como parte de uma rede social. O Facebook conecta essas páginas umas com as outras de formas que nos permitem fazer coisas inteiramente novas. (2011, p. 25)

Figura 1 – Análise do perfil de usuários do Facebook no Brasil

Fonte:<http://www.allanperon.com.br/wp-content?uploads/2016/05/ infografico-facebook-marketing-2016.png>. Acesso em 05 nov. 2017.

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O surgimento do Facebook teve início a partir da insuficiência observada

pelo seu criador, o estadunidense Marc Zuckerberg39, de preservar a rede de

relacionamentos dos jovens universitários nos Estados Unidos. A partir disso,

elaborou o sistema que inicialmente foi chamado Thefacebook e foi inaugurado na

Universidade de Harvard em 2004. Seguidamente a plataforma já operava em

diversas universidades estadunidenses e, na atualidade, é considerada a base

digital com o maior número de usuários do mundo, de acordo com o levantamento

da We Are Social, contando com cerca de 1,8 bilhões de usuários.

Para Teixeira (2013), o Facebook se destaca pela capacidade de garantir ao

usuário que ele possa expor tudo aquilo que ele avaliar relevante. Também é

destacável a aplicabilidade e popularidade dos eventos que podem ser chamados

através do site: eles facilitam a dinâmica de qualquer tipo de atividade de pessoas e,

posteriormente, auxiliam na publicação de fotos e anotações sobre os

acontecimentos da data. O Facebook também possibilita a junção de contatos dos

usuários, independentemente de serem profissionais, escolares, amigáveis, etc.

Todas essas relações são facilitadas na rede. Segundo Kirkpatrick (2011), a ―sacada

de mestre‖ do Facebook foi ter começado suas atividades, ter surgido na

universidade, para o público estudantil: é nesse estágio da vida que as pessoas

socializam e se relacionam com maior facilidade e profundidade e as redes se

tornam mais intensas.

Ainda dentro da estrutura de funcionamento do Facebook, existem perfis

corporativos, as chamadas fanpages (ou ―página‖, para o português), que se

diferenciam em seus objetivos e estruturação. Quando um usuário curte a página de

uma marca (seja ela de uma organização ou de uma personalidade), ele poderá

visualizar as atualizações dela na sua timeline obter informações básicas (que fora

do Facebook fica menos difícil de se encontrar, como telefone, e-mail, horário de

funcionamento, endereço…). Mais ainda, através de mensagens deixadas pelos

clientes e sua avaliação (aferida por número de estrelas, contadas de um a cinco) é

possível verificar se aquele produto, serviço ou estabelecimento possui uma boa

reputação ou não. Sobre os usos institucionais do Facebook, Teixeira (2013)

comenta:

39 Programador e empresário norte-americano, Nascido em 14 de maio de 1984, é programador,

empresário e fundador e CEO do site de rede social, Facebook. <https://www.facebook.com/zuck/> Acesso em: 05 nov. de 2017.

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As organizações têm utilizado o Facebook para criar aproximação com seu público, de forma amigável e conquistando confiança na relação. Este é um dos objetivos das redes sociais: criar aproximação com confiança e reciprocidade. (2013, p. 18).

Sendo assim, percebe-se o Facebook como uma plataforma bastante

diversa, que pode ser utilizada para a comunicação organizacional não só através

da busca pelo engajamento40 dos públicos, mas também um instrumento que

propaga os feedbacks para as empresas, haja vista que as fanpages possuem

muitas funcionalidades a seu favor, mas que podem, ainda, ser avaliadas conforme

a satisfação do seu público engajado ou por meio de depoimentos sobre a marca.

40 Ver TERRA (2012)

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4 A LEGITIMAÇÃO DA LIDERANÇA ESTUDANTIL: O CASO UNE

Tendo já conhecido a atuação dos estudantes de forma organizada no

capítulo 2, e estudado a comunicação sob a ótica organizacional e comunitária,

compreendendo a importância estratégica dos públicos para a formação da opinião

pública e a nova dinâmica das relações oriunda das mídias sociais, parte-se agora

para o estudo proposto nesta pesquisa. Este capítulo fará a análise da página da

União Nacional dos Estudantes (UNE) no Facebook, aliando os conceitos

apresentados a prática da entidade.

4.1 METODOLOGIA

Toda pesquisa científica tem por objetivo o ―desejo de compreender alguns

aspectos do mundo real com a utilização de procedimentos já consagrados‖

(FONSECA JÚNIOR, 2012, p. 290). Considerando este elemento e o teor da

delimitação da pesquisa que se propõe neste trabalho, definimos esta pesquisa

como qualitativa de cunho exploratório, que se valerá também de aspectos

quantitativos. A pesquisa qualitativa pode ser entendida, a partir das leituras de

Minayo (1994, p. 21), como a resposta a realidades que não podem ser

quantificadas, como ―significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes‖.

Marconi e Lakatos complementam:

A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento, etc. (2011, p. 269)

Como comentado anteriormente, mesmo esta pesquisa sendo qualitativa, se

valerá de mecanismos quantitativos, pois a partir dos conceitos já apresentados, a

análise qualitativa se torna subjetiva, uma vez que neste tipo de exame não existe

neutralidade, tudo é interpretado (MORAES, 1999), já que não considera elementos

oriundos das ciências exatas, o que já acontece na pesquisa qualitativa, que de

acordo com Prodanov e Freitas:

Considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão etc). (2013, p. 69)

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67

Para embasar a trajetória metodológica, esta pesquisa monográfica se inicia

com um processo de levantamento bibliográfico: modelo de pesquisa desenvolvida

com produções já elaboradas, de onde surge a necessidade de reflexão crítica (GIL,

2008). Para isso, levantamos produções adequadas sobre o campo de

conhecimento da pesquisa realizada, no que Prodanov e Freitas (2013, p. 131)

acrescentam: ―é imprescindível correlacionar a pesquisa com o universo teórico,

optando por um modelo que sirva de embasamento à interpretação do significado

dos dados e fatos colhidos ou levantados‖. O trabalho de levantamento bibliográfico

pode trazer novos elementos para a pesquisa, permitindo um olhar mais apurado

para a delimitação dada.

Uitiliza-se, também, o estudo de caso, que conforme Lüdke e André (1986,

p. 17), vai estudar um único caso. De acordo com Yin,

Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Em outras palavras, você poderia utilizar o método de estudo de caso quando deliberadamente quisesse lidar com condições contextuais - acreditando que elas poderiam ser altamente pertinentes ao seu fenômeno de estudo. (2015, p. 15)

Ou seja, o estudo de caso consiste no estudo profundo, mas não amplo, por

meio do qual se procura conhecer profundamente apenas um ou poucos elementos

da população e suas interrelações. O estudo de caso permite o uso de inúmeras

técnicas para a captação das informações necessárias para a conclusão da

pesquisa, que podem ser identificados em cada fase da realização do estudo de

caso, que são a fase exploratória ou pesquisa de campo, o levantamento

bibliográfico e a análise sistêmica destes dados.

Para o aprofundamento do estudo de caso, duas técnicas se colocam como

apropriadas para este estudo: a entrevista em profundidade, entendida por Neto

como a forma de se obter ―informes contidos nas falas dos atores sociais‖ (NETO,

2002, p. 57). Duarte também define a entrevista em profundidade como

[...] um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer. (DUARTE, 2011, p.62)

A entrevista consistiria na captação de informações obtidas na fala dos

principais envolvidos no trabalho de comunicação à época do Congresso da UNE,

como o diretor de comunicação da entidade, Mateus Weber, e o gerente da agência

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Contra Regras, Rafael Minoro, responsável pela execução do ConUNE, visando

conhecer os valores por eles absorvidos e transmitidos em suas relações. Após

tentativas sem êxito, iniciadas em outubro de 2017, optou-se por desenvolver a

monografia através do estudo de caso com a observação participante e da análise

de conteúdo.

A segunda técnica disponível para o desenvolvimento deste estudo é

observação participante, assim entendida por Neto (2002, p. 59): ―a técnica da

observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o

fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais

em seus próprios contextos‖. Para tal, nos confrontamos com o fenômeno observado

para obter informações sobre a realidade destes líderes, a partir da análise das

ações e atividades que, fundamentadas teoricamente, fazem parte das atividades de

Relações Públicas, como planejamento estratégico, estrutura organizacional e de

comunicação e eventos e ações da entidade. Esta análise se deve principalmente ao

fato de as ações de Relações Públicas consistirem, de forma direta ou indireta, em

reforçadores e reformuladores sociais de valores e crenças.

Sobre a observação participante, Neto (2002, p. 59) observa: ―o observador,

enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com

os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser

modificado pelo contexto‖. Neste sentido, é importante destacar que o período em

que se realizou a observação participante corresponde à data em que o pesquisador

compôs a diretoria executiva da UNE, isto é, de julho de 2015 a junho de 2017.

A análise de conteúdo será uma técnica utilizada também na pesquisa

empírica para embasar dados. Para Fonseca Júnior (2013, p. 280), ―a Análise de

Conteúdo, em concepção ampla, se refere a um método das ciências humanas e

sociais destinado à investigação de fenômenos simbólicos por meio de várias

técnicas de pesquisa‖. O autor explica que, em pesquisas em comunicação de

massa, a análise de conteúdo se assemelha a análise semiótica ou análise de

discurso, no que se refere a análise de mensagens.

Quem faz esta diferenciação é Lozano, ao afirmar que

[...] a análise de conteúdo é sistemática porque se baseia num conjunto de procedimentos que se aplicam da mesma forma a todo o conteúdo analisável. É também confiável – ou objetiva – porque permite que diferentes pessoas, aplicando em separado as mesmas categorias à mesma amostra de mensagens, podem chegar às mesmas conclusões. (1994, p. 141)

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A análise de conteúdo tem sua origem nos fundamentos do positivismo41,

isto é, preza pelas ciências exatas, cujas informações são interpretadas de maneira

hirta, contínua e regular. Fonseca afirma que: ―os trabalhos iniciais em análise de

conteúdo encontram-se estreitamente relacionados ao florescimento do jornalismo

sensacionalista nos Estados Unidos nas últimas décadas do século XIX‖ (2012, p.

282). Moraes (1999) afirma ainda que:

[…] a análise de conteúdo compreende procedimentos especiais para o processamento de dados científicos. É uma ferramenta, um guia prático para a ação, sempre renovada em função dos problemas cada vez mais diversificados que se propõe a investigar. Pode-se considerá-la como um único instrumento, mas marcado por uma grande variedade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto, qual seja a comunicação.

Para Fonseca Júnior (2013), a análise de conteúdo se distribui em três

momentos: a pré-análise (organização das ideias sobre o trabalho a ser elaborado);

a exploração do material (que envolve o processo de codificação); e o tratamento

dos resultados obtidos e interpretação (validando e significando os dados a fim de

que se possa inferir resultados previamente). Krippendorff (1990 apud Fonseca

Júnior, 2013) ainda apresenta alguns marcos de referência requeridos ao

pesquisador:

1. Os dados, tais como se apresentam ao analista: os dados são os

elementos básicos da análise de conteúdo e constituem a superfície que o analista

deve penetrar. Por isso é preciso deixar claro que dados estão sendo analisados,

como eles foram definidos e de qual população eles foram extraídos;

2. O contexto dos dados: não é possível ignorar que um determinado

discurso ocorre em função de um contexto e que algumas condições do contexto

influenciam na construção do discurso. Assim, é fundamental explicitar o contexto

dos dados, que precisa ser delimitado de acordo com as convenções e problemas

práticos de cada disciplina. Uma mesma mensagem pode ser analisada de forma

diferenciada no âmbito da psicologia, sociologia, ciências políticas ou comunicação;

3. O conhecimento do pesquisador: se o próprio texto cientifico configura-

se num discurso, os interesses e conhecimentos do pesquisador também

determinam a construção do contexto dentro do qual serão realizadas suas

41 Teoria filosófica que defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de

conhecimento verdadeiro. De acordo com os positivistas somente pode-se afirmar que uma teoria é correta se ela foi comprovada através de métodos científicos válidos. Ver Marshall (2008)

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inferências. Portanto, é necessário que o pesquisador explicite os pressupostos por

ele formulados sobre a relação entre os dados e seu contexto;

4. O objetivo da análise de conteúdo: em toda análise de conteúdo deve-

se enunciar, com clareza, a finalidade ou o objetivo das inferências. Estudos

exploratórios preliminares podem auxiliar o pesquisador a decidir sobre o melhor

enfoque para seu trabalho. Essa decisão é muito importante, porque está

diretamente relacionada à seleção do material a ser analisado. Os projetos de

análise de conteúdo, normalmente incluem um objetivo geral e vários objetivos

específicos;

5. A inferência como tarefa intelectual básica: a tarefa de toda análise de

conteúdo consiste em relacionar os dados obtidos com alguns aspectos de seu

contexto. Uma coisa é analisar o conteúdo dos cartazes oficiais na China; outra bem

diferente é compreender o que os chineses aprendem sobre as decisões políticas do

governo, a partir da análise de conteúdo dos cartazes oficiais;

6. A validade como critério de sucesso: embora a razão de ser da análise

de conteúdo seja justamente a falta de provas diretas sobre os fenômenos

analisados, os quais constituem o objeto da inferência. É necessário que sejam

estabelecidos critérios para a validação dos resultados, para que outras pessoas

possam comprovar se as inferências são de fato exatas.

A partir dos métodos acima apresentados, será possível identificar nas

mídias sociais, a efetividade do Facebook para a divulgação das ações do

movimento estudantil, mostrando que as funções de Relações Públicas podem

direcionar de forma positiva a utilização das mídias sociais, como forma de legitimar

a liderança dos gestores da UNE.

4.2 UNE: 80 ANOS DE FUTURO E TRADIÇÃO

A UNE é uma associação estudantil sem fins lucrativos, sem filiação político-

partidária e independente de órgãos públicos, e que representa cerca de seis

milhões de estudantes universitários de graduação42 de todos os 26 Estados e do

Distrito Federal. Sua sede administrativa fica localizada na cidade de São Paulo-SP,

42 Atualmente, os estudantes de ensino médio, técnico, profissionalizante e de pré-vestibular são

representados pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), enquanto os pós-graduandos constroem, a nível nacional, a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).

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mas possui outras duas sedes: uma no Rio de Janeiro43 e outra em Goiânia.

Atualmente, a entidade possui uma direção, eleita por seus pares, composta por 85

membros e presidida por Marianna Dias de Souza.

A UNE se organiza em três grandes fóruns deliberativos: Congresso da

UNE, que é o espaço onde se altera, em partes ou todo, o Estatuto da entidade,

além de eleger a nova diretoria por dois anos e tomar decisões sobre os rumos da

entidade; Conselho Nacional de Entidades Gerais (CONEG), que é o fórum

realizado anualmente em que se reúnem entidades como Diretórios Centrais dos

Estudantes, Uniões Estaduais de Estudantes, além de executivas nacionais de

curso; e o Conselho Nacional de Entidades de Base (CONEB), que reúne

bianualmente Centros Acadêmicos e Diretórios Acadêmicos das universidades

brasileiras. Existem, ainda, os chamados ―encontros temáticos‖ realizados pela

entidade. Podemos citar alguns deles (todos realizados a cada dois anos): Encontro

de Estudantes Negros e Cotistas (EnUNE), Encontro de Mulheres Estudantes (EME

da UNE) e Encontro de Estudantes Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e

Transexuais (Encontro LGBT da UNE).

4.2.1 Estrutura Organizacional da UNE

Como comentado anteriormente, a UNE possui sedes nas cidades de São

Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia. Porém, toda a sua administração funciona na

capital paulista, situada na Rua Vergueiro, 2485, bairro Vila Mariana, também

conhecida como ―Sede das Entidades Estudantis‖44. O espaço possui ambientes

compartilhados, como um miniteatro e uma sala de reuniões. Cada entidade possui

seu espaço para dispor a sua estrutura administrativa.

A responsabilidade legal da UNE é de sua diretoria, através de sua

presidência. A responsabilidade fiscal (administração das finanças da entidade e

prestação de contas) é da presidência e da tesouraria (membros da diretoria da

43 A sede da UNE no Rio de Janeiro encontra-se em reforma, devido ao incêndio ocorrido em 1964, já

comentado neste trabalho. 44

Junto a este endereço, onde funciona a sede da UNE, atuam, também, as seguintes entidades estudantis: União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Associação Nacional de Pós Graduandos, União Estadual dos Estudantes de São Paulo, União Paulista dos Estudantes Secundaristas e União Municipal dos Estudantes de São Paulo.

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UNE), e também do Conselho Fiscal, formada por nove estudantes indicados pelas

chapas concorrentes a diretoria, pela UBES e pela ANPG.

A diretoria da UNE é composta de 85 membros eleitos pelo Congresso45 da

entidade, realizado a cada dois anos. Desses, 17 compõem a diretoria executiva,

responsável por colocar em prática as decisões da sua diretoria ou das instâncias

deliberativas.

Para a garantia da execução das decisões e ações da UNE, a entidade

possui uma estrutura organizativa, composta da seguinte forma: um departamento

de administração, composto de dois funcionários contratados pela entidade; uma

assessoria jurídica, formada por uma advogada de dedicação integral à organização;

além do Departamento Nacional de Carteiras, responsável pela gerência da emissão

das carteiras estudantis. Funciona, ainda, o departamento de comunicação, o qual

será apresentado a seguir, devido a relevância para este trabalho.

Figura 2 – Estrutura Organizativa da UNE

Fonte: elaborado pelo autor

45 A temática do Congresso será abordada posteriormente.

Diretoria da UNE

Assessoria Jurídica Departamento Administrativo

Departamento de Comunicação

Departamento Nacional de Carteiras

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4.1.2 A Comunicação da UNE46

A partir das vivências do autor, identifica-se que o trabalho de comunicação

da UNE se dá através do seu departamento de comunicação. Supervisionado pela

diretoria de comunicação (que faz parte da diretoria da entidade), este setor é

composto de dois jornalistas de conteúdo, responsáveis pela manutenção e

atualização do site institucional da entidade, além de um publicitário, responsável

pela gerência das mídias sociais, além de um jornalista de audiovisual, responsável

pela produção, edição e finalização dos vídeos da entidade para seus canais de

comunicação. Junto a este departamento, a entidade também conta com uma

agência de comunicação, responsável por auxiliar a entidade em grandes eventos e

ações.

Atualmente, a UNE possui os seguintes canais de comunicação: um site

institucional, uma página no Facebook, um perfil no Twitter, além de contas em

redes sociais como Instagram e YouTube. A entidade publica, ainda, periódicos

impressos, como o jornal ―Nossa Voz‖, de periodicidade bimestral, e a revista

―Movimento‖, de periodicidade semestral. Para a supervisão dos impressos, a UNE

conta com um Conselho Editorial, responsável por gerenciar o que será publicado

pela entidade. As imagens a seguir apresentam estes meios.

Figura 3 – Site da UNE

Fonte: <http://www.une.org.br>. Acesso em 01 nov. 2017.

46 Todos os elementos aqui apresentados foram extraídos da vivência do autor junto a entidade, fruto da observação participante, e também do Plano de Comunicação Institucional, organizado pela UNE.

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O site da entidade possui informações como notícias sobre a entidade,

dados institucionais, conteúdos para download (tais como materiais de campanhas

desenvolvidas), além de matérias especiais, desenvolvidas especialmente para esta

plataforma, como artigos de diretores da entidade e outros conteúdos.

Figura 4 – Perfil da UNE no Twitter

Fonte: <http://twitter.com/uneoficial>. Acesso em 14 nov. 2017.

O Twitter da UNE tem como principais funcionalidades para a entidade o

disparo de notícias (publicadas ou não no site), além de fomentar campanhas

institucionais. Na data de acesso, o perfil da entidade apresentava o total de 19 mil

tweets enviados, 62,2 mil seguidores, 647 pessoas seguidas, além de apresentar

dois links compartilhados nesta rede.

Figura 5 – Perfil da UNE no Instagram

Fonte: <http://instagram.com/uneoficial>. Acesso em 01 nov. 2017.

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O perfil da UNE no Instagram veicula fotos sobre coberturas realizadas em

atividades onde a UNE se faz presente através de sua diretoria, além de veicular

imagens informativas sobre suas atividades. À data de visita, sua conta possuía um

total de 1.452 publicações, 30,9 mil seguidores e 519 usuários a quem a entidade

seguia.

Figura 6 – Perfil da UNE no YouTube

Fonte: <http://youtube.com/uneoficial>. Acesso em 01 nov. 2017.

O canal da UNE no YouTube possui dezenas de vídeos dos mais variados

escopos: campanhas institucionais, notícias e coberturas sobre atividades da

entidade e de outros estudantes, ações de cunho propagandístico, além de outros

materiais. Até então, este canal apresentava um total de 2.798 inscritos.

4.3 SOBRE O ESTUDO DE CASO

O estudo de caso se baseará na 55ª edição do Congresso da UNE. O 55º

ConUNE aconteceu entre os dias 14 e 18 de junho de 2017, em Belo Horizonte

(Minas Gerais). Os debates, grupos de trabalho e atividades culturais aconteceram

na Universidade Federal de Minas Gerais, enquanto a Plenária Final (que será

explicada adiante) aconteceu no Ginásio Mineirinho47. Como comentado

47 Disponível em: <http://www.une.org.br/noticias/programacao-do-55o-congresso-da-une-fortalece-a-

luta-pela-democracia/>. Acesso em 12 nov.2017.

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anteriormente, o Congresso da UNE é o principal espaço de deliberação da

entidade, cabendo a este fórum aprovar as teses, recomendações e moções

apresentadas por qualquer de seus membros, eleger a diretoria e o Conselho Fiscal

da entidade para os próximos dois anos, modificar o estatuto da entidade no todo ou

em parte, e atualizar as opiniões da entidade.

Figura 7 – Identidade Visual do 55º Congresso da UNE

Fonte: <http://www.une.org.br>. Acesso em 01 nov. 2017.

O processo de construção do Congresso da UNE se inicia com a eleição de

delegados: estudantes que representarão seus pares no Congresso. Segundo o

regimento do 55º Congresso da UNE (Anexo C), a proporção estabelecida é de

eleição de um delegado para cada 1000 estudantes regularmente matriculados em

todas as instituições de ensino superior. Esta proporção é baseada no Censo do

Ensino Superior de 2015, divulgada pela entidade a partir do levantamento anual do

Ministério da Educação. As eleições de delegados são gerenciadas por comissões

de estudantes das universidades48 que podem inscrever o calendário eleitoral em

um sistema online, em que todo e qualquer estudante pode monitorar o calendário

eleitoral da sua universidade.

48 Segundo o regimento do 55º Congresso da UNE, os Diretórios Centrais de Estudantes (DCEs)

credenciados no 65º CONEG da UNE podem inscrever Comissões de Três estudantes para coordenar a eleição de delegados. Nas universidades cujos DCEs não se credenciaram, é necessário inscrever uma Comissão de 10 estudantes para que o processo aconteça.

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Figura 8 – Sistema de monitoramento de eleição de delegados para o 55º

Congresso da UNE

Fonte: <http://www.congressodaune.org.br>. Acesso em 01 nov. 2017.

Todo o regimento de eleição de delegados foi aprovado no 65º CONEG da

UNE. Segundo informações do próprio site da UNE, o Congresso reuniu mais de 10

mil estudantes do Brasil inteiro na capital mineira. A cena do Congresso consistiu em

uma programação composta de debates, grupos de trabalho, atos políticos e a

Plenária Final, aonde foram aprovadas as deliberações apresentadas, como as

resoluções49 – organizadas em três eixos: Conjuntura, Educação e Movimento

Estudantil, moções e a nova diretoria eleita.

A análise de conteúdo foi feita através da avaliação da página da União

Nacional dos Estudantes no Facebook. O período de análise foi entre a convocação

do Congresso, realizado no CONEG, e o fim da Plenária Final; isto é, o período

delimitado de 19 de março de 2017 até 18 de junho de 201750. Serão analisadas

publicações selecionadas, buscando postagens de diversos formatos e conteúdos,

totalizando 20 postagens. Primeiramente avaliaremos individualmente cada post, e

após a apresentação individual de cada recorte, vamos analisá-lo através da análise

de conteúdo, onde se especificam as seguintes categorias que foram consideradas

mais decisivas para este estudo:

49 Para conferir as resoluções aprovadas, veja os anexos E, F e G, respectivamente.

50 No estudo, haverá apenas uma publicação fora deste escopo, devido a relevância e relação com o

tema, além do engajamento obtido.

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Forma (imagem, texto, vídeo, live): levantaremos qual formato mais engaja

em relação ao conteúdo publicado, para detectar qual a melhor forma para que as

organizações possam fazer suas publicações;

Engajamento (comentários, reações): apresentação da quantidade de

interações que a publicação recebeu, considerando o volume de pessoas que se

conectam com o conteúdo apresentado;

Data e hora: avaliaremos aqui o momento em que a publicação foi postada,

para saber se existe relação direta com o tipo de postagem feita.

Linguagem: verificaremos, ao longo do processo, se as publicações

possuem linguagem informativa (que procura descrever o que se encontra na

imagem ou vídeo) ou interativa (que convida os usuários a participarem da

postagem).

4.4 ANÁLISE DAS PUBLICAÇÕES

Antes da avaliação e tabulação dos resultados deste estudo,

apresentaremos cada post selecionado individualmente, com o objetivo de

apresentar detalhadamente estas publicações, garantindo um maior enriquecimento

no que tange a conteúdo para análise.

Figura 9 – Postagem 01

Fonte: Facebook da UNE

51

51 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/

a.242056769155122.77484.241149405912525/1583663394994446/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017.

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A primeira publicação localizada acerca do Congresso da UNE52 se refere à

abertura do processo de eleição de delegados que participarão do ConUNE. Com

uma imagem já alusiva ao projeto gráfico do Congresso, a página faz o chamamento

para que os interessados possam conferir maiores informações acerca deste

período eleitoral que ocorre nas universidades.

Figura 10 – Postagem 02

Fonte: Facebook da UNE

53

A UNE, em 2017, comemora sues 80 anos de existência. Para tal, elaborou

uma identidade visual alusiva a esta data. A logo ―UNE 80 anos‖ foi apresentada no

65º CONEG e, um mês depois, foi transformada em foto de perfil da entidade. Boa

parte dos comentários fazem elogios à identidade visual comemorativa da entidade.

Esta publicação contará para análise por ser um marco cronológico da entidade.

52 Considerando a data de convocação do 55º Congresso da UNE, 19 de março de 2017, esperava-se

localizar outras publicações de tema relevante para o estudo, mas não se obteve êxito no levantamento destas publicações. 53

Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/ a.245289402165192.78087.241149405912525/1592158387478280/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017.

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80

Figura 11 – Postagem 03

Fonte: Facebook da UNE

54

Esta publicação, embora não seja alusivo ao Congresso da UNE, apresenta

elementos importantes para a análise. O vídeo publicado teve como objetivo

apresentar a UNE: falar sobre o que ela é, os principais momentos em que a

entidade esteve presente na sociedade, sobre como ela e o movimento estudantil se

organizam. Participaram deste vídeo alguns diretores e estudantes presentes no 65º

CONEG da UNE (inclusive este pesquisador).

A publicação causou um certo engajamento, entre defesa e acusações,

devido ao fato de se ressaltar no vídeo o fato de a entidade ser plural; ou seja, de

garantir a participação de todas as correntes de opinião, organizadas em partidos

políticos ou não. Alguns dos comentários discordam desta visão da entidade, outros

ressaltam a importância desta publicação para apresentar o que é a UNE na sua

essência.

Figura 12 – Postagem 04

Fonte: Facebook da UNE

55

54 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1643732588987526/>. Acesso em 11

nov. 2017.

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No dia 18 de abril de 2017, um dia após a publicação analisada

anteriormente, a UNE apresentou o local onde seria realizado o Congresso. É

importante contextualizar esta publicação: segundo o regimento do 55º ConUNE, a

Comissão Nacional de Eleição, Credenciamento e Organização (CNECO) deveria

escolher entre as cidades de Brasília, Goiânia ou Belo Horizonte, o que fez com que

até a data da divulgação, houvesse bastante expectativa por parte dos estudantes

interessados na atividade.

Figura 13 – Postagem 05

Fonte: Facebook da UNE

56

Com o intuito de garantir os custos do evento, a UNE lançou uma campanha

de contribuição coletiva, onde a então presidente, Carina Vitral, explica as razões

pelo qual se fazia necessário, os possíveis custos (como alimentação dos

participantes, traslado de convidados e custeio de estrutura) e dados para as

doações.

55 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/

a.242056769155122.77484.241149405912525/1611285472232238/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017. 56

Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1643732588987526/>. Acesso em 11 nov. 2017.

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82

Figura 14 – Postagem 06

Fonte: Facebook da UNE

57

Em parceria com o CUCA da UNE, a UNE fez um chamamento público

através de sua página para que estudantes interessados em participar da cobertura

colaborativa, construída especialmente para o Congresso. Esta cobertura consistiu

em garantir que os estudantes pudessem produzir conteúdo para o 55º ConUNE.

Conforme apresentado anteriormente, o CUCA tem investido na organização de

uma rede de fotógrafos midialivristas e para tal, coordenou esta cobertura

colaborativa.

Figura 15 – Postagem 07

Fonte: Facebook da UNE

58

57 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/

a.242056769155122.77484.241149405912525/1661024570591661/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017. 58

Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/ a.242056769155122.77484.241149405912525/1670904426270342/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017.

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83

Ao longo do período de divulgação da atividade, a entidade passou a

apresentar os convidados confirmados para o ConUNE. No início, foram

apresentados em posts separados. Após, foram apresentados de forma coletiva,

através de álbuns de fotos. Vemos, acima, a apresentação da estudante

secundarista Ana Júlia Ribeiro, conhecida no movimento estudantil pela sua

intervenção na audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa do Paraná59,

alusiva às ocupações estudantis de escolas que ocorreram no final de 2016.

Figura 16 – Postagem 08

Fonte: Facebook da UNE

60

Às vésperas da realização do Congresso, alguns convidados e figuras

públicas gravaram vídeos chamando os estudantes e interessados para a atividade.

Neste vídeo, foi convidada a vereadora de São Paulo, Sâmia Bomfim, para fazer

este convite. O vídeo em si mostra Sâmia comentando sobre a importância do

Congresso e a estima pelos estudantes.

59 Veja mais em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/27/politica/1477567372_486778.html>.

Acesso em 12 nov. 2017. 60

Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1672044316156353/>. Acesso em 11 nov. 2017.

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84

Figura 17 – Postagem 09

Fonte: Facebook da UNE

61

No primeiro dia, a entidade lançou uma imagem anunciando o início do

Congresso, onde se apresenta a identidade visual do evento e as informações

básicas, como data e local. A publicação propõe o compartilhamento da imagem e,

ainda, faz uma saudação a todos os estudantes que se dirigem a cidade-sede, Belo

Horizonte, para participar do ConUNE.

Figura 18 – Postagem 10

Fonte: Facebook da UNE

62

61 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/

a.242056769155122.77484.241149405912525/1674399649254153/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017. 62

Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1674713105889474/>. Acesso em 11 nov. 2017.

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85

A postagem acima se refere a primeira transmissão ao vivo realizada pela

página analisada. Durante os cinco dias de atividade, grande parte dos debates,

atos e grupos de trabalho, além da plenária final, tiveram transmissão ao vivo. Esta,

em específico, aconteceu durante a abertura do Congresso, em que autoridades

como o governador do estado de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e ex-

presidentes da UNE, como Aldo Arantes, participaram deste momento. Na ocasião,

aconteceu a devolução da sede da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais,

que havia sido tomada pelo Governo do Estado de MG durante a ditadura militar.

Figura 19 – Postagem 11

Fonte: Facebook da UNE

63

Com o slogan ―ProUni é sinônimo de oportunidade. Vamos deixar acabar?‖,

esta publicação anuncia a realização de um debate sobre este tema dentro do

Congresso. São anunciadas as presenças do membro e ex-presidente da Comissão

Nacional de Acompanhamento e Controle Social do ProUni (CONAP), Victor

Grampa, do ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da educação, Fernando Haddad,

e do vereador da cidade de Campinas e ex-presidente da UNE, Gustavo Petta.

Outras publicações sobre atividades do ConUNE foram feitas, mas selecionamos

esta por contar com maior engajamento.

63 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/

a.242056769155122.77484.241149405912525/1675799209114197/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017.

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86

Figura 20 – Postagem 12

Fonte: Facebook da UNE

64

Esta publicação foi realizada durante o evento ―Minas pelas Diretas Já‖, que

foi um ato político e cultural realizado na Praça da Estação, localizada no centro da

capital mineira. A foto mostra um caminhão de som adornado por bandeiras e faixas

com os dizeres ―Diretas Já‖. Possui, ainda, pessoas demonstrando o público

presente e uma placa feita em papel sulfite com os dizeres ―Foraaaaa Temer!!

Eleições gerais diretas já!!‖. Interessantemente, a descrição do post é bastante

sucinta, ao dizer apenas ―O Brasil clama por #DiretasJá!‖.

Figura 21 – Postagem 13

Fonte: Facebook da UNE

65

64 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/

a.242056769155122.77484.241149405912525/1677080372319414/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017. 65

Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/

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87

O saldo do ato ―Minas pelas Diretas Já‖, que compôs a programação do 55º

Congresso da UNE, foi apresentado na publicação. A imagem apresenta que cerca

de 40 mil pessoas participaram desta atividade na sexta-feira, 16 de junho de 2017,

organizada pela UNE junto a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo.

Destaque para o fundo da imagem, que mostra a multidão presente no evento.

Figura 22 – Postagem 14

Fonte: Facebook da UNE

66

Esta publicação é uma matéria realizada pela comunicação da UNE sobre o

debate realizado na sexta-feira, 16 de junho de 2017. No vídeo, é mostrado um

pouco do que aconteceu no momento, além de uma breve entrevista com o ex-

governador do Ceará, Ciro Gomes. Outras entrevistas aconteceram, mas

selecionamos esta devido ao seu engajamento nas redes.

a.242056769155122.77484.241149405912525/1678071482220303/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017. 66

Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1678104342217017/>. Acesso em 11 nov. 2017.

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88

Figura 23 – Postagem 15

Fonte: Facebook da UNE

67

Esta publicação foi uma das transmissões ao vivo que a UNE realizou

durante os dias 17 e 18 de junho de 2017. Como primeira, foram transmitidas

matérias produzidas durante o Congresso, reportagens, vídeos institucionais, além

de transmitir a primeira parte da Plenária Final: espaço onde acontecem todas as

deliberações da entidade. Nesta transmissão, acontece a leitura e defesa das teses

de Conjuntura Política submetidas à Comissão Nacional de Sistematização e

Votação (CNSV), bem como a votação e aprovação desta resolução.

Figura 24 – Postagem 16

Fonte: Facebook da UNE

68

67 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1677817568912361/>. Acesso em 11

nov. 2017. 68

Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1678113118882806/>. Acesso em 11 nov. 2017.

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89

Nesta publicação, acontece a live da segunda parte da Plenária Final. A

transmissão conta com a apreciação das teses de educação e movimento estudantil,

bem como sua defesa pelos movimentos e correntes que a escreveram e

submeteram para apreciação da CNSV e encaminhadas para a Plenária, além da

votação, por contraste visual (onde o critério para definir a tese aprovada é o maior

volume de crachás levantados no plenário).

Figura 25 – Postagem 17

Fonte: Facebook da UNE

69

Aqui podemos ver a transmissão do segundo e último dia de Plenária Final,

onde aconteceu a votação para a nova diretoria da entidade. As chapas inscritas

antes do início da Plenária fizeram suas apresentações e defesa de ideias. Foram

inscritas, ao todo, seis chapas. Cada chapa teve o tempo de sete minutos para

apresentar suas ideias. Neste momento da captura da tela, acontece a defesa da

chapa ―Frente Brasil Popular: a unidade é a bandeira da esperança‖. A live se

encerra com a mesa diretora – responsável pela condução da Plenária Final,

encaminhando os procedimentos para votação em urna.

69 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1679206825440102/>. Acesso em 11

nov. 2017.

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90

Figura 26 – Postagem 18

Fonte: Facebook da UNE

70

Após ser realizada a votação para a diretoria da entidade, a UNE fez outra

transmissão ao vivo: agora, para anunciar o resultado do processo eleitoral. A

repórter inicia com uma chamada do local da Plenária Final, e logo após passa para

a presidente da UNE na época, Carina Vitral. A presidenta anuncia os números da

votação, e após anuncia o nome da nova presidente da entidade, Marianna Dias.

Figura 27 – Postagem 19

Fonte: Facebook da UNE

71

70 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1679206825440102/>. Acesso em 11

nov. 2017. 71

Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/photos/ a.242056769155122.77484.241149405912525/1679493728744745/?type=3&theater>. Acesso em 11 nov. 2017.

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91

A postagem acima faz um agradecimento a todos os estudantes que

participaram do ConUNE. Com a chamada ―um congresso histórico, que levará esse

legado de luta por muitas gerações‖, a imagem da publicação mostra, ainda, uma

bandeira da entidade sendo segurada por uma pessoa e, ao fundo, os estudantes

presentes no Ginásio Mineirinho. Nos comentários, é possível perceber o

reconhecimento que se dá a importância da UNE e da relevância do Congresso.

Figura 28 – Postagem 20

Fonte: Facebook da UNE

72

Esta publicação, embora tenha sido feita cinco dias após o término do

Congresso, ganha relevância para o estudo devido ao seu engajamento e relação

com o tema. O vídeo apresentado nesta publicação se baseia nos principais

acontecimentos do Congresso, como os debates, grupos de trabalho e Plenária

Final. O post conta, ainda, com depoimentos de estudantes que participaram e de

convidados do Congresso.

A partir dos posts expostos, chegaremos à seguinte tabela, onde na

segunda linha, serão quantificados os seguintes critérios: 1) publicação; 2) data; 3)

hora; 4) reações; 5) comentários; 6) compartilhamentos; 7) conteúdo 8) alcance.

Apresentaremos, ainda, uma tabela apresentando uma análise específica dos

vídeos e transmissões ao vivo, onde se é possível mensurar a quantidade de

visualizações sem, necessariamente, possuir função de administração da página.

72 Disponível em: <https://www.facebook.com/uneoficial/videos/1686308531396598/>. Acesso em 11

nov. 2017.

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Tabela 02: Postagens analisadas na fanpage da UNE

Postagem Data Hora Reações Compartilhamentos Comentários Forma Linguagem

01 27/03/2017 10h 181 11 11 Imagem Informativa

02 03/04/2017 8h 312 24 18 Imagem Informativa

03 17/04/2017 10h 569 393 188 Vídeo Interativa

04 18/04/2017 10h 541 141 40 Imagem Informativa

05 17/05/2017 15h 1.100 237 101 Vídeo Informativa

06 05/06/2017 12h 278 22 5 Imagem Informativa

07 11/06/2017 13h 67 2 1 Imagem Informativa

08 13/06/2017 14h 265 65 20 Vídeo Informativa

09 14/06/2017 11h 255 43 7 Imagem Interativa

10 14/06/2017 19h 378 144 731 Live Interativa

11 15/06/2017 16h 721 106 106 Imagem Informativa

12 17/06/2017 11h 5.200 266 108 Imagem Informativa

13 17/06/2017 13h 513 136 21 Imagem Informativa

14 17/06/2017 13:30 129 44 18 Vídeo Informativa

15 17/06/2017 14h 199 145 50 Live Interativa

16 17/06/2017 16h 865 395 1.200 Live Interativa

17 18/06/2017 12h 768 199 1.200 Live Interativa

18 18/06/2017 19h 131 61 12 Live Interativa

19 18/06/2017 20h 305 59 15 Imagem Informativa

20 23/06/2017 10h 323 77 28 Vídeo Interativa

Fonte: elaborado pelo autor.

Tabela 03: Postagens em vídeo analisadas na fanpage da UNE

Postagem Formato Visualizações

03 Vídeo editado 30.000

05 Vídeo editado 8.400

08 Vídeo editado 8.400

10 Transmissão ao vivo 11.000

14 Vídeo editado 3.600

15 Transmissão ao vivo 12.000

16 Transmissão ao vivo 30.000

17 Transmissão ao vivo 16.000

18 Transmissão ao vivo 2.300

20 Vídeo editado 10.000

Fonte: elaborado pelo autor.

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93

4.5 REPERCUSSÃO MIDIÁTICA

O 55º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) movimentou a

cidade de Belo Horizonte entre os dias 14 a 18 de junho e ganhou as manchetes das

principais mídias do estado. O sucesso do evento ultrapassou os limites da UFMG e

do Mineirinho, em Belo Horizonte, e foi destaque na mídia mineira e nacional com

perfis da até então presidenta Carina Vitral e da nova líder estudantil Marianna Dias.

A repercussão atingiu os mais variados tipos de mídia, como jornais

impressos, rádios, redes de televisão, portais, jornais universitários e blogs.

Apresentaremos aqui algumas das reportagens de maior repercussão nesses

aspectos.

Figura 29 – Reportagem 01

Fonte: Portal G1

73

Veiculada pelo Portal G1 no dia 14/06/2017, a matéria apresenta que são

esperados cerca de 10 mil estudantes do país inteiro vindos em mais de 350 ônibus

de todos os estados do país. Ainda traz a informação de que mais de 50 debates

estão programados para serem realizados no evento, com a presença de lideranças

políticas, de movimentos sociais e de áreas ligadas a juventude.

73 Disponível em: <https://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/belo-horizonte-sedia-o-55-congresso-da-

une-a-partir-desta-quarta-feira.ghtml>. Acesso em 24 nov. 2017

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94

Figura 30 – Reportagem 02

Fonte: Jornal O Tempo

74

O jornal belo-horizontino, de circulação em toda a região metropolitana de

Belo Horizonte, ―O Tempo‖, apresentou uma reportagem sobre a realização do

ConUNE também. Destacou a abertura do evento, realizada no Cine Belas Artes,

onde foi exibido o documentário ―Praia do Flamengo 132‖, destacando a realização

da programação entre o campus da UFMG e o estádio Mineirinho. Destaca, ainda,

com uma fala da então presidente Carina Vitral, a importância da realização do

Congresso e da aprovação de bandeiras e pautas como a realização de eleições

diretas para presidente.

74 Disponível em: <http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/

congresso-da-une-re%C3%BAne-cerca-de-10-mil-estudantes-em-belo-horizonte-1.1486354>. Acesso em 24 nov. 2017.

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95

Figura 31 – Reportagem 03

Fonte: Jornal Estado de Minas

75

Outro evento que teve importante repercussão nos meio de comunicação foi

o ―Minas pelas Diretas Já‖. O Jornal Estado de Minas produziu uma reportagem no

dia 16/06/2017 (data em que se realizou o ato-show) sobre o ato que pediu a saída

do Presidente da República Michel Temer e eleições diretas para substituí-lo. O

periódico ainda ressalta que eventos deste mote já foram realizados em cidades

como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre.

Figura 32 – Reportagem 04

Fonte: Portal UOL Notícias

76

75 Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2017/06/16/interna_politica,876912/

belo-horizonte-tem-ato-pelas-diretas-ja-nesta-sexta.shtml>. Acesso em 24 nov. 2017 76

Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/06/16/ato-por-diretas-reune-milhares-no-centro-de-bh-e-ciro-conclama-povo-contra-tragedia.htm>. Acesso em 24 nov. 2017

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O portal de notícias online da UOL apresentou que o evento ―Minas pelas

Diretas Já‖ reuniu cerca de 40 mil pessoas segundo os organizadores – e que a

Polícia Militar não informaria uma contagem oficial. Destacou, em sua reportagem,

falas como as dos ex-ministros Ciro Gomes e José Eduardo Cardozo, em que

destacam suas opiniões sobre o governo do atual presidente Michel Temer, e a

necessidade de atos como este.

Figura 31 – Reportagem 05

Fonte: Portal G1

77

O Portal G1 noticiou, também, a eleição da nova presidenta da UNE, que

aconteceu no dia 18/06/2017. Com um perfil de Marianna Dias, eleita durante do

Congresso da UNE, o portal destacou as bandeiras que a líder estudantil entende

serem prioritárias para o momento dado, como as eleições diretas para presidente

da república e a defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade. Destacou,

ainda, que mais de 15 mil estudantes participaram dos mais de 50 debates

realizados durante o evento.

77 Disponível em: <https://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/

nova-presidente-da-une-diz-que-vai-defender-carater-publico-e-gratuito-da-universidade.ghtml>. Acesso em 24 nov. 2017

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Figura 32 – Reportagem 06

Fonte: Portal Estadão

78

O Portal Estadão, ao contrário dos outros meios de comunicação, deu

destaque a contraposição entre as bandeiras defendidas pela juventude do Partido

Social Democrata Brasileiro (PSDB) e as principais lideranças deste partido. Nesta

reportagem, o portal destaca a participação organizada desta corrente de opinião

como algo inédito em 10 anos. Ao longo da reportagem, ainda aparece trechos da

fala da presidente eleita no Congresso, Marianna Dias e destaque para o ato pelas

diretas já realizado na capital mineira durante o evento.

4.5 CONFRONTANDO TEORIA E PRÁTICA: RESULTADOS

O levantamento bibliográfico nos trouxe até aqui elementos para que fosse

possível construirmos a análise proposta neste trabalho. Neste sentido, apresentam-

se os resultados em duas partes: a primeira trará uma análise das postagens

verificadas, confirmando a importância das mídias sociais para a legitimidade da

liderança estudantil. Na segunda parte, são feitas considerações sobre a

repercussão que o Congresso da UNE teve nos meios de comunicação, pois estes

78 Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/

geral,tucanos-defendem-fora-temer-e-afastamento-de-aecio-em-congresso-da-une,70001849530>.

Acesso em 24 nov. 2017

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98

elementos poderão nos mostrar se a UNE possui capacidade de influenciar os meios

de comunicação como se espera de um líder de opinião.

Com a análise das publicações selecionadas a partir de critérios de

conteúdo e temas, chegamos a constatação de que apenas 40% das publicações

selecionadas aconteceram antes do início do Congresso, o que mostra que o evento

passou a mobilizar mesmo as lideranças estudantis ao curso da atividade. As

publicações com imagem e vídeo ocupam 50% cada das publicações selecionadas,

não tendo o engajamento esperado em publicações com links. 35% das postagens

foram realizadas no turno da manhã, enquanto 25% foram realizadas a tarde e

outras 40% a noite. Todas as publicações selecionadas possuem alcance orgânico,

ou seja, não tiveram nenhuma forma de estímulo, como patrocínio. Os números de

reações são abaixo do esperado. Neste sentido, é importante lembrar a importância

da interação com o usuário, se considerado o que comenta Terra (2012), que tem a

defesa de que as mídias sociais têm as pessoas e não as organizações como

protagonistas.

Quando se fala em redes sociais, para Terra (2012) e Torres (2009),

interagir com os consumidores é essencial para estabelecer uma relação entre

marca e internauta. E isto ficou pouco nítido nas publicações selecionadas, uma vez

que 60% das publicações analisadas possuíam linguagem informativa. Apesar deste

elemento, é importante destacar que as publicações com maior engajamento são as

transmissões ao vivo – elemento que justifica a afirmação de Martinuzzo (2014), ao

afirmar que é necessário manter a atenção dos seus stakeholders por meio da

interação. A interação é elemento-chave para a conexão entre o usuário de mídia

social e seu público – elemento-chave para a formação de laços sociais e possíveis

relações (RECUERO, 2009). A autora ainda comenta:

As conexões de uma rede social são constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da interação social entre os atores. De um certo modo, são as conexões o principal foco do estudo das redes sociais, pois é a sua variação que altera as estruturas desses grupos. (RECUERO, 2009, p. 30)

O conteúdo gerado pela página é variado, o que é positivo para seu público-

alvo, especialmente no que diz respeito à divulgação de um evento. Esse tipo de

diversidade converge com o entendimento de Martinuzzo (2014) sobre agregar valor

para as organizações. O conteúdo informativo, na sua maioria, serve para situar os

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leitores, apresentar elementos sobre a atividade ou, ainda, esclarecimentos sobre a

dinâmica do evento.

Ao longo do trabalho, comentamos sobre a importância de um líder de

opinião influenciar nos meios de comunicação, como comenta Cervi (2010), na

busca de ressignificar e trazer para a sua realidade códigos e informações que

muitas vezes não são da realidade do público (no nosso caso, os estudantes). Este

conceito, atrelado à folkcomunicação (BELTRÃO, 1980), sob a ótica da

regionalização da informação e da cultura folk e da busca pelos meios de

comunicação acessíveis e familiares, consegue nos demonstrar a importância da

repercussão midiática que o evento teve. Esta análise pode ser compreendida,

ainda, através dos estudos Kunsch (2007), sendo importantes estes conceitos para

que possamos compreender a efetividade da atuação do movimento estudantil.

O Congresso da UNE foi notícia nos principais canais de comunicação quer

seja pela grande quantidade de estudantes que participaram deste evento ou pela

efervescência do debate político que ali aconteceu; ou, ainda, pela grande interação

que o evento proporcionou à cidade. É possível perceber, por meio desta clipagem,

que o ConUNE foi um evento de grande proeminência na cidade, fato pelo qual

chamou a atenção dos meios de comunicação. Este elemento mostra, ainda, a

relevância da União Nacional dos Estudantes para seus representados.

É possível, assim, afirmar que a liderança estudantil acontece nas mídias

sociais ao passo que a transparência e a publicidade das suas ações acontecem. A

UNE, ao completar 80 anos realizando um evento que reúne 15 mil pessoas com a

participação de estudantes e convidados dos mais amplos espectros políticos,

mostra que é possível mobilizar sua base de representação (no caso da entidade, os

estudantes são seus principais stakeholders) para o debate dos temas públicos e de

interesse social. Mostra-se, ainda, as Relações Públicas possuem um grande

espaço nesta área, mesmo que os profissionais que estiveram envolvidos,

profissionalmente, no evento não tivessem essa formação.

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100

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de um profissional de Relações Públicas tem um foco estratégico

à medida que estabelece mecanismos e práticas de comunicação que otimizem o

relacionamento de uma organização com seu público. Torna-se fundamental para o

exercício desse segmento profissional, portanto, se dedicar a conhecer tanto a

organização em que o profissional desta área está inserido como também os

públicos com os quais a mesma interage.

Este trabalho respondeu sua questão norteadora que era: de que forma os

líderes estudantis se utilizam das mídias sociais para atingir a opinião pública e

mobilizar sua base de representação para o debate de temas públicos? Pois

demonstrou que através da transparência de suas ações – elementos primordiais

para a prática de Relações Públicas, as lideranças estudantis têm suas ações e sua

liderança devidamente legitimada, sendo até referenciadas pela sociedade quando

sua base de representação referenda esta liderança. Ademais, isso só é possível

quando suas mídias sociais servem como um instrumento de relacionamento,

prestação de informação e publicidade das ações tomadas pelas organizações e

autoridades estudantis.

Os objetivos desta pesquisa foram atingidos, pois compreender o trabalho

do profissional de Relações Públicas na sociedade contemporânea e sua

contribuição na formação de uma opinião pública consciente e informada se mostrou

de fundamental importância para identificação e análise dos públicos. Mostramos

que as funções de Relações Públicas podem direcionar de forma positiva a

utilização das mídias sociais, como forma de facilitar a atuação das entidades do

movimento estudantil. Através da análise da história e a atuação da União Nacional

dos Estudantes, demonstramos sua importância e reflexos para a sociedade.

Identificamos no Facebook, a efetividade desta rede social para a divulgação das

ações do movimento estudantil, apontando as potencialidades desta rede e

perspectivas para o uso desta ferramenta de comunicação para a entidade.

A abordagem quali-quantitativa permitiu com que o objetivo geral desta

pesquisa se concretizasse, que era o de compreender de que forma as lideranças

da UNE posicionam-se nas mídias sociais e os reflexos desta exposição na

formação da Opinião Pública. Para tal, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e

exploratória para que os conceitos e ideias-chave deste trabalho pudessem ser

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101

compreendidos à luz da teoria. A partir disto, elencamos o estudo de caso a partir do

recorte no 55º Congresso da UNE realizado em 2017, na cidade de Belo Horizonte,

e, por meio da análise de conteúdo, avaliamos publicações selecionadas da fanpage

da entidade no Facebook (num total de 20 publicações). A observação participante

contribuiu para a compreensão do contexto em que o Congresso da UNE se deu: a

dinâmica organizativa e de comunicação da entidade, os ritos de construção do

Congresso, até a cena do evento. Com a entrevista, se pretendia conhecer a visão

daqueles que gerenciaram a comunicação da atividade, o que não foi possível.

O recorte desta se deve ao fato de este ser o principal momento em que os

acadêmicos brasileiros se mobilizam para definir os rumos e opiniões da entidade

para os dois anos seguintes, além de eleger a diretoria para o biênio a seguir. O

Congresso da UNE é, sem dúvida alguma, o principal momento onde os graduandos

do país são envolvidos. As publicações mostraram, ao longo do processo, a

preocupação do reconhecimento da entidade pelos seus pares, a relevância do

Congresso para a sociedade e para a educação brasileira, o reconhecimento da

entidade pelos seus pares e a reputação do movimento estudantil no país.

É importante frisar que o campo da comunicação está em constante

transformação. A análise aconteceu em um momento bastante específico da UNE. A

amostra analisada corresponde apenas a uma pequena parcela do tempo histórico

das pessoas envolvidas e da organização. Outras atividades de Relações Públicas

podem se fazer importantes para a organização, tais como a gestão de crise e a

assessoria de imprensa. Os próprios posicionamentos da entidade podem ser

repensados e atualizados.

Enquanto estudantes, cabe a nós compreender que o destino da educação

brasileira, como forma de transformação social, também perpassa pelo nosso

engajamento e participação dessas discussões. Já na condição de estudantes de

comunicação social, precisamos estar abertos às transformações que a

comunicação pode sofrer. Mas devemos, acima de tudo, ser sujeitos das nossas

ações, da nossa história e do nosso futuro. Este trabalho é apenas uma parte, uma

breve contribuição de uma ampla discussão que pode e deve ser feita na academia

brasileira e internacional, podendo inclusive ser transformada, tendo outras questões

sendo apontadas, hipóteses sendo levantadas e outras respostas sendo

apresentadas.

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APÊNDICE A – PROJETO DE PESQUISA

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

JOSIEL RODRIGUES DOS SANTOS

OPINIÃO PÚBLICA E IGREJAS EVANGÉLICAS NEOPENTECOSTAIS Um estudo sobre as Relações Públicas no contexto da formação de líderes de

opinião evangélicos neopentecostais.

Caxias do Sul 2014

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS

JOSIEL RODRIGUES DOS SANTOS

OPINIÃO PÚBLICA E IGREJAS EVANGÉLICAS NEOPENTECOSTAIS: Um estudo sobre as Relações Públicas no contexto da formação de

líderes de opinião evangélicos neopentecostais. Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para aprovação na disciplina de Monografia I. Orientador(a): Dr.ª Maria Luiza Cardinale Baptista

Caxias do Sul

2014

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 04 2 TEMA .............................................................................................................. 06 2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ............................................................................... 06 3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................... 07 4 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 07 5 QUESTÃO NORTEADORA ............................................................................ 11 6 OBJETIVOS .................................................................................................... 12 6.1 OBJETIVOS GERAIS ...................................................................................... 12 6.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 12 7 METODOLOGIA ............................................................................................. 13 8 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 15 8.1 LÍDER DE OPINIÃO E DECISÃO POLÍTICA (CERVI, 2010) ........................... 15 8.2 FOLKCOMUNICAÇÃO: A COMUNICAÇÃO DOS MARGINALIZADOS (BELTRÃO, 1980) ............................................................................................ 16 8.3 EMOÇÕES E LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO E NA POLÍTICA (MATURANA, 1998) ................................................................................................................ 18 8.4 BÍBLIA DE ESTUDO NVI (BARKER, BURDICK et. al., 2003) .......................... 20 8.5 RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS: A COMUNICAÇÃO EM UMA PERSPECTIVA DIALÓGICA E TRANSFORMADORA (KUNSCH, KUNSCH, 2007) ............................................................................. 21 9 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS .......................................................................... 23 10 CRONOGRAMA ............................................................................................. 24 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 26

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho é sobre as Relações Públicas no contexto das Igrejas

Evangélicas Neopentecostais, onde serão analisados os processos de formação os

processos de formação de líderes de opinião, e sua consequente interação social. A

escolha deste tema se deu por inúmeros fatores.

O primeiro deles é a pouca atenção que a Comunicação Social tem

dedicado a esta temática que, direta ou indiretamente tem se inserido no nosso

cotidiano. É possível perceber isso se analisado dados como o mercado gospel e a

presença destas Igrejas nos veículos de comunicação; tanto tradicionais, como rádio

e televisão, como as mídias digitais.

Mas aí vem uma pergunta: se essa temática tem tido pouca produção

científica por parte dos pesquisadores em Comunicação, por que este se

interessaria pelo tema? Aí entra o segundo fator: existe uma ligação pessoal muito

forte entre o autor e o assunto deste trabalho.

No dia 12 de setembro de 2001, tive pela primeira vez contato direto com

uma Igreja Evangélica. Embora tenha crescido em um lar de orientação evangélica,

nunca tive o estímulo por parte dos meus pais para participar, uma vez que os

mesmos participavam forçadamente de cultos e outras atividades desenvolvidas

naquela época. Mas naquela data, um convite do meu irmão mais velho, Evandro,

fez com que um mundo diferente se abrisse para mim. Diferente.

Tive contato então com uma Igreja Evangélica: a Igreja Missionária Central.

Uma Igreja de cunho pentecostal, com princípios e valores dogmatizados, onde

existiam proibições e regras a seus membros. Desde a roupa que as mulheres

deveriam usar, passando pelas restrições oriundas do não pagamento de dízimos e

ofertas, e até regras de condutas pessoais íntimas. Um conjunto de significações

que, naquele momento, devido a pouca idade que tinha, passaram despercebidas.

Mas que em um outro momento viriam a tona como um susto.

Cinco anos depois, conheci outra Igreja Evangélica. No primeiro contato,

uma mistura de confusão e espanto tinham tomado conta. Quem diria que eu fosse

encontrar uma igreja onde o primeiro contato com os visitantes é um abraço, onde

as mulheres podem usar calças e cortar seus cabelos, onde os membros podem

dançar e celebrar espontaneamente, que os dogmas fossem substituídos por

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conselhos... Uma verdadeira reconstrução de valores! Essa é a Comunidade

Evangélica Sara Nossa Terra

Um mês depois, iniciei meu processo de formação para me tornar um líder

(sem entender muito bem, confesso). Mas o tempo e as práticas foram me fazendo

evoluir, crescer, amadurecer e, principalmente, compreender o que estava

acontecendo comigo. As dúvidas da adolescência foram substituídas pela certeza

que eu tinha um papel ali dentro daquela Igreja e também nos grupos sociais onde

estou inserido.

O tempo passou, a idade foi chegando e, com ela, as dúvidas que tinham

sucumbido na adolescência. A vontade de experimentar a vida tinha dado lugar a

certezas, oriundas de valores que eu tinha aceitado sem entender bem o que

custariam a mim, e essas certezas custaram oito anos da minha vida. Oito anos que

eu repetiria sim. Oito anos que viveria de novo, mas de uma forma mais racional.

Nesse meio tempo, algumas conquistas na minha vida aconteceram. Uma

delas foi a bolsa do Programa Universidade para Todos para o curso de Relações

Públicas. Com uma compreensão rasa e o incentivo de uma pastora desta igreja

onde estava (que é formada em Relações Públicas), me joguei em uma área que eu

aprendi a admirar e defender com muito orgulho.

Alguns semestres depois, precisei matricular-me na disciplina de Monografia

I, e mais uma dúvida bateu na minha porta: sobre o que escrever. Na lista de

assuntos, nem estava a possibilidade de escrever sobre a temática religiosa. Mas ao

me propor escrever sobre algo que ―eu tivesse propriedade para falar e não

estivesse tão próximo de mim‖, deparei-me com esse assunto, sobre o qual hoje

posso encarar o desafio de pesquisar.

Este trabalho se propõe a pensar não apenas a formação dos líderes de

opinião da Igreja Neopentecostal, mas também questionar o seu papel dentro da

sociedade e qual o papel das Relações Públicas. Um profissional de Relações

Públicas precisa conhecer (ou ter uma boa base teórica) seus públicos de trabalho e

de relacionamento, independente de seus gostos e suas orientações políticas,

sexuais e religiosas. Este trabalho se apresenta no contexto científico como mais um

passo para a reflexão acerca dos pré-conceitos estabelecidos tanto pelo senso

comum e pelos relações-públicas sobre as Igrejas Evangélicas como pela própria

Igreja sobre o profissional de Relações Públicas.

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2 TEMA

Relações públicas, liderança e opinião pública.

2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

As Relações Públicas e sua contribuição nos processos de formação de líderes de

opinião em organizações religiosas cristãs evangélicas e sua consequente interação

na sociedade.

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3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A temática sobre Religião e Religiosidade na Comunicação Social ainda não

recebeu da comunidade acadêmica brasileira a relevância necessária, apesar de,

importantes estudos pioneiros, como Beltrão (1980) que dedica parte de seus

estudos a comunicação religiosa, ou ―messiânica‖. Somente em 1999 os cursos de

Teologia ganharam status de bacharelado perante o Ministério da Educação.

Na área de Comunicação Social, a temática tem recebido maior ênfase nos

últimos anos, por conta do surgimento das chamadas igrejas neopentecostais —

Igreja Universal do Reino de Deus (Campos: 1999; Oro, 2001; Giumbelli: 2002;

Refkalefsky: 2004), Renascer em Cristo (Patriota: 2003), Igreja Internacional da

Graça de Deus (Romeiro: 2004; Floriano: 2004; Patriota: 2005; Cabral da Silva:

2005), Bola de Neve (Fuschini: 2004) e Sara Nossa Terra (Leite: 2002; Castro: 2002)

— que contam com estratégias que privilegiam o uso dos meios de comunicação,

como o rádio, as TVs abertas e fechadas, internet, mercado fonográfico e grandes

eventos.

E compreender o neopentecostalismo dentro da Comunicação Social não

significa apenas estudar o uso dos meios de comunicação para efetivação de seus

objetivos. Significa também estudar suas práticas e seu papel na sociedade,

enquanto fenômeno da Opinião Pública, que Cervi (2010, p.70) conceitua da

seguinte forma:

[...] a opinião pública é o resultado de dois processos que ocorrem simultaneamente. Um, de tentativa de persuasão e convencimento a elite política que se manifesta, na maior parte das vezes, pelos meios de comunicação de massas (mas não exclusivamente por elas), materializado na propagação de informações e mensagens supostamente objetivas, mas que sempre trazem em si algum grau de subjetividade de quem as produz ou está influenciando os produtores. Outro, dá-se pela reformulação de crenças, valores e conceitos que o próprio público faz, independente dos interesses da elite política, a partir de informações que recebemos desta ou por meios não institucionais de comunicação interpessoal.

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Partindo do conceito de ―reformulação de crenças, valores e conceitos‖

apontado por Cervi, alguns questionamentos se fazem importantes aqui quando

consideradas as Igrejas Neopentecostais: quem atua nesta reformulação? Como

estes reformuladores reformulam seus próprios valores para se reinserir na

sociedade? Quais instrumentos e ferramentas são usadas? Como as igrejas

identificam possíveis líderes e atores? Como essas igrejas e seus integrantes

interagem na sociedade? Existe alguma ligação entre as Relações Públicas e o

movimento neopentecostal? Essas e outras perguntas, de caráter secundário ou,

consequente destas críticas, levam o interesse do pesquisador em trabalhar na

análise da formação de líderes de opinião dentro das Igrejas Evangélicas

Neopentecostais.

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4 JUSTIFICATIVA

O trabalho de um profissional de Relações Públicas se resume em criar

estratégias e práticas de comunicação que otimizem o relacionamento de uma

organização com seu público. Torna-se fundamental, para o exercício de Relações

Públicas, portanto, dedicar-se a conhecer tanto a organização em que o profissional

desta área está inserido como também os públicos com os quais a organização

interage.

Esta pesquisa tem relevância para a comunidade acadêmica por mostrar

dois recortes interessantes das igrejas neopentecostais: os processos e práticas de

formação de líderes de opinião e sua consequente inserção e interação social,

contextualizado nas práticas das Relações Públicas. Faz-se importante abordar

dentro da Comunicação Social a temática do neopentecostalismo devido sua

constante expansão, crescimento e presença social.

O recorte desta pesquisa nos processos de formação se deve

principalmente ao fato de que compreender as estratégias de formação e

capacitação de líderes podem ser entendidas como uma das principais ferramentas

de comunicação interna das igrejas neopentecostais, que propõem uma ruptura no

que diz respeito a se fazer presentes no cotidiano das pessoas.

O problema de pesquisa se dá principalmente em entender as Relações

Públicas dentro deste universo e do recorte proposto na formulação do problema,

para que o foco da pesquisa e a qualidade da mesma não sejam prejudicadas.

Analisar uma igreja neopentecostal de forma generalista transformaria a pesquisa

em um conjunto de afirmações vagas e não úteis para a comunidade científica.

Também se faz importante compreender este tema devido aos pré-conceitos

existentes e reforçados pelo senso comum. As igrejas neopentecostais, por mais

modernas e contemporâneas que se portem, são instituições arcaicas no que diz

respeito a sua fundamentação e seus valores. Porém, são valores e crenças

adequadas a nossa época, e que sempre estão em discussão. E que,

principalmente, são abordados dentro dos espaços formais e informais de discussão

por seus líderes de opinião.

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Por fim, pretende-se destinar esta pesquisa para acadêmicos de

Comunicação Social, seja na esfera da graduação ou pós-graduação. O tema será

abordado de forma descritiva e crítica, propondo uma reflexão crítica aos que

desconhecem, aos que conhecem e aos que tem interesse em conhecer o assunto.

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5 QUESTÃO NORTEADORA

De que forma a Comunicação e as Relações Públicas contribuem na formação de

líderes de opinião dentro das organizações religiosas cristãs evangélicas?

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6 OBJETIVOS

6.1 OBJETIVO GERAL

Compreender as Relações Públicas nos processos de formação de líderes de

opinião da Igreja Evangélica Neopentecostal, demonstrando também a consequente

interação desse público na sociedade.

6.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Compreender o trabalho do profissional de Relações Públicas na sociedade

contemporânea e no estudo das Igrejas Neopentecostais

- Investigar os processos pedagógicos e institucionais de formação de líderes de

opinião evangélicos neopentecostais;

- Conhecer o público evangélico neopentecostal e sua interação na sociedade.

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7 METODOLOGIA

Após apresentação do problema e dos objetivos a que se quer chegar,

define-se esta pesquisa como qualitativa de cunho exploratório. A pesquisa

qualitativa pode ser entendida a partir das leituras de Minayo (1994, p. 21) como a

resposta à realidades que não podem ser quantificadas, como ―significados, motivos,

aspirações, crenças, valores e atitudes. A metodologia apresentada, conforme

Selltiz, envolve em seu planejamento o ―levantamento bibliográfico; entrevistas com

pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e análise de

exemplos que estimulem a compreensão‖ (1967, p. 63).

Identificada a metodologia que melhor se aplica a proposta, inicia-se o

processo de escolha do método a ser usado. Para esta pesquisa, utilizar-se-á o

estudo de caso, que conforme Lüdke e André (1986, p. 17), vai estudar um único

caso. Ou seja, o estudo de caso consiste no estudo profundo, mas não amplo, por

meio do qual se procura conhecer profundamente apenas um ou poucos elementos

da população e suas interrelações. O estudo de caso permite o uso de inúmeras,

técnicas para a captação das informações necessárias para a conclusão da

pesquisa, que podem ser identificados em cada fase da realização do estudo de

caso, que são a fase exploratória ou pesquisa de campo, o levantamento,

bibliográfico e a análise sistêmica destes dados.

A primeira etapa consistirá na pesquisa de campo, onde será analisada a

realidade de uma igreja neopentecostal, de denominação ainda a ser escolhida,

devido a necessidade de autorização para a iniciação das atividades de pesquisa.

Neto (1994, p. 51) faz uma colocação importante em relação ao trabalho de campo:

―o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de conseguirmos não só

uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, mas também de

criar um conhecimento, partindo da realidade presente no campo‖.

Dentro desta etapa, duas técnicas serão utilizadas: a entrevista (Neto: 1994,

p. 57) e a observação participante (Neto: 1994, p. 59). A entrevista consistirá na

captação de informações obtidas na fala dos líderes de opinião que compõem a

igreja analisada, visando conhecer os valores por eles absorvidos e transmitidos em

suas relações. Já com a observação participante, realizar-se-á o contato direto do

pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade

destes líderes, a partir da análise das ações e atividades que, fundamentadas

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teoricamente, fazem parte das atividades de Relações Públicas, como planejamento

estratégico, eventos e ações e projeto pedagógico dos cursos e treinamentos de

formação. Esta análise se deve principalmente ao fato de as ações de Relações

Públicas consistirem, de forma direta ou indireta, em reforçadores e reformuladores

sociais de valores e crenças.

A segunda etapa consistirá no levantamento bibliográfico. Além do estudo de

artigos, textos, livros e outras fontes teóricas, serão analisados também livros que

baseiam as ações desta igreja, como os manuais de treinamento e a própria Bíblia

Sagrada. Esta etapa se faz importante na fundamentação teórica das hipóteses

levantadas pelo trabalho de campo. Segundo Gil (2002, p. 45), ―[...] a principal

vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a

cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia

pesquisar diretamente.‖

O desenvolvimento da pesquisa bibliográfica dar-se-á por meio de análise de

materiais já elaborados, compostos principalmente de livros e artigos científicos.

Além de buscar conhecimentos em livros que abordaram o problema proposto, usar-

se-á também materiais virtuais. Esses materiais são fontes que possibilitam maior

facilidade para a realização de análises sobre o tema proposto.

Após a conclusão das duas primeiras etapas, a pesquisa será encaminhada

para a terceira e última etapa. Nesta, serão feitas os cruzamentos das informações

obtidas para a criação e estruturação da Monografia. Para Minayo apud Gomes

(1994, p. 69),

podemos apontar três finalidades para esta etapa: estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e/ou responder às questões formuladas, e ampliar o conhecimento dobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural da qual faz parte. Essas finalidades são complementares, em termos de pesquisa social.

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8 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão bibliográfica estabelecerá um roteiro de obras que serão

fundamentais para o desenvolvimento e o bom andamento desta monografia. Livros

e autores de grande referência em temas como religião, comunicação popular,

opinião pública, estudo de percepção das diferenças, razão e emoção, entre outras.

E claro, por último mas igual importância, estudos das Relações Públicas.

8.1 LÍDER DE OPINIÃO E DECISÃO POLÍTICA (CERVI, 2010)

Este texto se insere na lista de Revisão Bibliográfica como um dos

problematizadores da pesquisa. Descobrir a relação existente entre as Relações

Públicas, a Opinião Pública e as Igrejas Neopentecostais (ou defini-la) faz desta

pesquisa um dos principais desafios propostos – e que foi elucidado a partir da

leitura deste.

Neste texto, extraído do capítulo 3 do livro ―Opinião Pública e

Comportamento Político‖, o autor analisa os processos de comunicação política

tendo como base a relação entre a sociedade civil não organizada e os meios de

comunicação de massa. Após, é abordado os conceitos de comunicação popular e

líder de opinião horizontal à luz da discussão sobre comunicação política em

complexas sociedades contemporâneas. O autor também faz uma ligação

interessante entre a liderança de opinião e a folkcomunicação.

Dentro do contexto religioso, é possível fazer uma analogia com a formação

de líderes religiosos, a partir da compreensão de que

quem propõe os temas para o debate, o ambiente informacional gerado com a transmissão e circulação de conteúdos relacionados aos temas públicos e à disposição de alguém para receber e pensar a respeito dos assuntos públicos, são os principais componentes do processo de formação da opiniãopública. (2010, p. 69)

A igreja neopentecostal é fruto de uma ruptura da verticalização da liderança

religiosa, em que seus membros e líderes religiosos se transforam em atores que

precisam estar presentes no cotidiano social. Cervi (2010, p.71) justifica este

fenômeno neste capítulo:

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Os indivíduos passam a ter uma relação direta e constante com os meios de comunicação, o que os torna mais 'independentes' no processo de formação e transformação das opiniões. Evidente que nem todos demonstram ter o mesmo grau de interesse nas informações e opiniões políticas transmitidas pelos meios de comunicação.

Este trecho justifica a inserção das igrejas neopentecostais nas rotinas da

sociedade. Uma vez que nem todos os indivíduos estão predispostos a formular

suas opiniões a partir do fenômeno que o autor explana como ―o resultado da soma

entre informação e predisposição‖ (2010, p. 73), faz-se importante a formação de

interlocutores que possam transmitir e reforçar a opinião da massa. Este argumento

pode ser reforçado a partir desta afirmação do autor:

Ainda que recebam os conteúdos diretamente da mídia, o público precisa, na maioria das vezes, de referenciais com os quais possa se identificar socialmente e buscar auxílio na interpretação de códigos não totalmente adaptados à realidade de cada grupo social. Cabe ao líder de opinião horizontal a transformação das mensagens transmitidas pela mídia para as condições de recepção local. Por isso, eles ganham importância como agentes formadores de percepções sobre os conteúdos, além de apropriá-los e aceitá-los. (2010, p. 85)

Conforme percebido, Cervi institui o líder de opinião como o principal

responsável pela transformação dos conteúdos transmitidos pelos meios de

comunicação em objetos de interesse dos segmentos populares, ―aproximando os

conteúdos midiáticos das diferentes realidades sociais‖ (2010, p. 88). Ainda segundo

a concepção do autor, em sociedades complexas, com grande heterogeneidade de

grupos de pertencimento, a identificação com o líder folk ganha importância para a

explicação teórica do processo de formação da opinião pública. (2010, p. 90)

8.2 FOLKCOMUNICAÇÃO: A COMUNICAÇÃO DOS MARGINALIZADOS

(BELTRÃO, 1980)

―Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados‖ é resultado de

longos anos de pesquisa e reflexão sobre a produção simbólica das classes

trabalhadoras e de todos aqueles que estão longe da ―dominação burguesa‖,

também conhecida como Comunicação Popular.

O termo Folkcomunicação foi proposto em decorrência dos estudos do

professor pernambucano Luiz Beltrão com sua tese de doutorado ―Folkcomunicação

– um estudo dos Agentes e dos Meios Populares de Informação de Fatos e

Expressão de Ideias‖ apresentada em 1967 à Universidade de Brasília, onde o

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termo foi lançado ao pensamento comunicacional brasileiro como forma de

fundamento teórico comunicacional.

Na tese, Luiz Beltrão destaca a Comunicação no Brasil Pré-Cabralino, no

Brasil Colônia e em um terceiro momento destaca as manifestações e veículos

folkcomunicacionais, trabalhando ênfases folkcomunicacionais orais (cantadores,

caixeiros-viajantes e chefes-de-caminhão), escritas (folhetos, almanaques, folinhas e

livros de sortes) e a folkcomunicação opinativa (centros de informação, meios de

expressão como queimas de Judá, serra dos velhos, carnaval, músicas populares,

mamulengos, bumba-meu-boi, artesanato e artes plásticas populares).

Os estudos da comunicação popular se fazem importantes para a

compreensão da atividade religiosa enquanto atividade constituída por seres

marginalizados, que Beltrão define como seres ―à margem de duas culturas e de

duas sociedades que nunca se interpenetraram e fundiram totalmente‖ (1980, p. 39).

Beltrão e Cervi apresentam em comum a atenção dedicada a importância do líder de

opinião na comunicação popular e sua consequente interação com grupos sociais

marginalizados.

Para Beltrão (1980, p. 33),

graças a suas características de liderança e a sua capacidade interpretativa da informação, esse receptor distinguido se transforma (muitas vezes depois de consultar outras fontes, líderes e meios) em comunicador para uma audiência que o procura e o entende, já que emprega veículos (meios de folk) que, ainda se massivos (como o rádio ou impressos do tipo folhetos e volantes), lhe são acessíveis e familiares.

O autor justifica também os estudos do líder de opinião dentro da

folkcomunicação da seguinte forma:

a identificação do líder de opinião como agente-comunicador do sistema de folkcomunicação foi o ponto de partida do trabalho desenvolvido por quantos se dedicaram à busca e análise dos agentes e usuários do processo, das modalidades e dos feitos da grande corrente paralela de mensagens que permitirá o conhecimento das expressões do pensamento popular, do seu intercâmbio de ideias e, afinal, das tentativas de uma convivência, quando não da integração, entre grupos tão fundamentalmente distanciados. (1980, p. 31)

É importante salientar que os grupos culturalmente marginalizados estão

contidos dentro dos grupos marginais urbanos e rurais, sendo que um indivíduo que

pertence a um grupo culturalmente marginal, consequentemente estará dentro de

um contexto rural ou urbano.

Se considerarmos a teoria proposta por Beltrão, podemos classificar as

igrejas neopentecostais a partir de sua marginalização cultural. Os grupos

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culturamente marginalizados, segundo o autor, ―constituem-se de indivíduos

marginalizados por contestação à cultura e organização social estabelecida, em

razão de adotarem filosofia e/ou política contraposta a ideias e práticas

generalizadas da comunidade.‖ (1980, p. 103)

Existem três tipos de grupos culturalmente marginalizados que se

distinguem pela sua maior frequência em ações comunicacionais, estes são: o

messiânico, o político-ativista e o erótico-pornográfico (1980, p. 103) que, mesmo

com a evolução dos meios de comunicação e do próprio acesso aos meios, ainda

têm seus espaços entremeio a essas formas alternativas de se comunicarem.

O grupo folkcomunicacional de estudo desta pesquisa é o messiânico; que,

segundo o autor, é composto por

seguidores de um líder carismático, cujas ideias religiosas representam contrafações, adulterações, exacerbações ou interpretações personalíssimas de dogmas e tradições consagradas pelas crenças ou denominações religiosas estabelecidas e vigentes no universo da comunicação social (p. 103).

8.3 EMOÇÕES E LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO E NA POLÍTICA (MATURANA,

2002)

O livro trabalha na reconstrução dos conceitos de emoção e linguagem a

partir da perspectiva da interação social, mostrando que somos seres mais sociais

que biológicos. A partir desta visão, o autor trabalha estes ―fundamentadores‖ da

relação social dentro da educação e da política.

A linguagem, emoção, razão, conhecimento podem ser compreendidos

como fatores básicos para que se haja uma relação com o outro indivíduo que não

faz parte do seu convívio cultural. O autor esclarece todos os seus conceitos com

base na educação e nas suas vivências de vida, principalmente dando exemplos

dentro da República Chilena.

O autor justifica diversos argumentos e aspectos que devem ser

considerados quando se fala do convívio com o outro. Entre eles, Maturana diz que

―[...] sem aceitação e respeito por si mesmo não se pode aceitar e respeitar o outro,

e sem aceitar o outro como legítimo outro na convivência, não há fenômeno social

(2002, p.31)‖.

Existem também, dentro deste livro, algumas considerações importantes a

serem feitas. Maturana comenta que ―o conceito de servir é um conceito relacional:

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algo serve para algo em relação a um desejo. Nada serve em si mesmo.‖ (2002,

p.11). A igreja neopentecostal trabalha bastante com esta ideia, pois dispõe seus

líderes na sociedade para servir àqueles que precisam.

Outro aspecto importante que também é muito citado nesta obra é a

percepção e o uso do amor na sociedade, principalmente por estar ligado a fatores

emocionais que influenciam no convívio social – ligação essa que muito se atribui a

Igreja. Maturana cita que:

[...] não há ação humana sem uma emoção que a estabeleça como tal e a torne possível como ato. […] Para que se desse um modo de vida baseado no estar juntos em interações recorrentes no plano da sensualidade em que surge a linguagem, seria necessária uma emoção fundadora particular, sem a qual esse modo de vida na convivência não seria possível. Esta emoção é o amor. O amor é a emoção que constitui o domínio de ações em que nossas interações recorrentes com o outro fazem do outro um legítimo outro na convivência. […] O amor é constitutivo da vida humana, mas não é nada especial. O amor é o fundamento do social, mas nem toda convivência é social. O amor é a emoção que constitui o domínio de condutas em que se dá a operacionalidade da aceitação do outro como legítimo outro na convivência, e é esse modo de convivência que conotamos quando falamos do social. Por isso, digo que o amor é a emoção que funda o social. (2002, p. 22).

Dentro desta compreensão, é possível estabelecer um vínculo com a

atividade de Relações Públicas. Os profissionais de Relações Públicas, embora

atuando nem nome de uma organização, com seus rituais e normas específicas,

transitam também em domínios que não pertencem à esfera empresarial. Dito de

outro modo, operam a fim de minimizar as diferenças que existem entre dois

domínios específicos da atividade humana: a dimensão do trabalho e a dimensão do

social.

Na dimensão do trabalho, a conduta é determinada pelo papel que o

indivíduo representa na estrutura hierárquica. Neste domínio, o cumprimento de

tarefas é a única coisa que importa. Na dimensão do social prevalece a aceitação do

outro. ―Nosso problema é que confundimos domínios, porque funcionamos como se

todas as relações humanas fossem do mesmo tipo [...]. As relações que não se

baseiam na aceitação do Outro, as relações de poder, não são relações sociais.''

(2002, p. 69).

Maturana também constrói uma ideia a respeito da transformação da

linguagem que, no contexto de formação de líderes de opinião neopentecostais, é

possível fazer uma análise. Uma vez que os líderes de opinião são formados, os

mesmos estabelecem novas relações sociais e, consequentemente, novas relações

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sociais se estabelecem – o que fundamenta a formação de líderes de opinião

neopentecostais: a formação de líderes de opinião que interajam e estabeleçam

relações sociais em grupos sociais que não compartilham da mesma opinião que os

atores evangélicos. Para Maturana (2002, p. 27),

―[...] a linguagem não se dá no corpo como um conjunto de regras, mas sim no fluir em coordenações consensuais de condutas. […] Se minha estrutura muda, muda meu modo de estar em relação com os demais e, portanto, muda meu linguajar. Se muda meu linguajar, muda o espaço do linguajeio, no qual estou e mudam as interações das quais participo com meu linguajeio.‖

8.4 BÍBLIA DE ESTUDO NVI (BARKER, BURDICK et. al., 2003)

A Bíblia Sagrada é o principal fundamentador da fé neopentecostal, pois é o

livro que embasa todos os princípios seguidos pelos neopentecostais. Nela, existem

ordenanças para que a mesma seja estudada constantemente por qualquer líder de

opinião neopentecostal e também a todo aquele que acredite nos fundamentos da

igreja evangélica neopentecostal.

Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então seus caminhos prosperarão e você será bem-sucedido. (2003, p. 322)

A Bíblia foi escrita por cerca de 40 autores com culturas, épocas, lugares e

estilos diferentes, abrangendo um período de 1600 anos, iniciando sua escrita por

volta de 1500 antes de Cristo e terminando por volta do primeiro século da nossa

era, visando dar uma doutrina única a seus fiéis. Sua narrativa se dá principalmente

onde hoje está localizada a república de Israel, com passagens no Egito e no

Oriente Médio. É organizada em dois grandes grupos: o Velho Testamento e o Novo

Testamento.

Na Bíblia, é possível perceber que a liderança é estimulada em seus

princípios: ―portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em

nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu

lhes ordenei.‖ (p. 1670).

A Bíblia mostra a formação das primeiras igrejas cristãs da história

(conhecida também como Igreja Primitiva), em que alguns princípios de formação e

instituição de líderes podem ser percebidos: ―os diáconos igualmente devem ser

dignos, homens de palavra, não amigos de muito vinho nem de lucros desonestos.‖

(p.2069). São encontrados também ordenanças para conduta pessoal dos

seguidores

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deste livro:

Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; […]. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, […]. Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, […]. Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. (2003, p. 125)

Este livro também relata histórias de pessoas que se portaram como líderes

de opinião dentro do contexto onde estavam inseridas, e que se valiam de ações

que hoje conhecemos como de Relações Públicas, como a rainha Débora (p. 370), a

primeira juíza da história do Antigo Israel que comandou inúmeras batalhas e que

conquistou o respeito de toda a então tribo por conta de seus atributos de liderança.

8.5 RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS: A COMUNICAÇÃO EM UMA

PERSPECTIVA DIALÓGICA E TRANSFORMADORA (KUNSCH, KUNSCH (org.),

2007)

O conceito de Relações Públicas comunitárias, ou seja, de um trabalho

comprometido com a vida e o cotidiano dos segmentos sociais organizados ou com

o interesse público, teve início com as transformações por que passaria a área a

partir da década de 1980, no contexto de articulação crescente dos movimentos

sociais e de desenvolvimento da comunicação comunitária.

Atualmente, estudiosos e profissionais da área, rompendo as fronteiras do

mundo puramente sistêmico, adotam um discurso que, de forma consciente, dá cada

vez mais atenção ao mundo em sua realidade concreta, no processo de construção

da cidadania. E é essa a relação que se faz quando estudado o conteúdo deste livro

para esta pesquisa.

Peruzzo (2007, p. 149), atribui às Relações Públicas um papel fundamental

na construção da comunicação comunitária. A partir das colocações da autora, é

possível compreender a importância do trabalho das Relações Públicas dentro da

coletividade subentendida na ação da igreja neopentecostal:

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Especialmente as Relações Públicas tem o papel fundamental de facilitar o processo de ação coletiva, no que diz respeito tanto ao relacionamento interno, quanto às relações com os públicos de interesse externos, visando conquistar aliados e dar visibilidade pública às novas formas de realização.

Murade, em seu artigo publicado neste livro, afirma que cabe às Relações

Públicas comunitárias ajudar ―o grupo a compreender sua engrenagem, e fazer-se

dissenso, se a realidade se revelar opressora, na forma de conflito expresso‖ (2007,

p.161). Assim, no caso de vínculo a uma organização religiosa, profissionalmente ou

como membro voluntário, significa estar em sintonia com a lógica que motiva e

sustenta as posturas de tal ator social. Em ambos os casos, não se trata da atuação

profissional de alguém que vem de fora e que interpela e invade, mas que respeita a

dinâmica dos grupos e entidades, de maneira a que as reflexões, o conhecimento e

as decisões emerjam de dentro deles e sejam construídos em conjunto.

No âmbito das igrejas neopentecostais não é aconselhável que haja a

transposição de princípios, práticas e processos, pois, o próprio ato de elaborar

dinâmicas de relacionamentos públicos já se transforma numa ação educativa, como

afirma a autora do capítulo 4 deste livro:

A comunicação comunitária é uma via de mão dupla, pautada na comunhão entre sujeitos iguais que participam de seu contexto e o transformam dialeticamente. Esse movimento gera compromisso e amadurecimento do movimento e de seus membros, bem como dos profissionais que atuam nele (CÉSAR: 2007, p. 86).

No caso da comunicação das igrejas com seu público na perspectiva da

responsabilidade social os argumentos para a instituição da mesma giram em torno

das vantagens para as mesmas por causa do valor que agregam à identidade

corporativa, além da necessidade se posicionarem de maneira diferente do passado

devido às novas exigências sociais (KUNSCH, 2007).

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9 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS

1. INTRODUÇÃO

2. ASPECTOS METODOLÓGICOS

3. AS RELAÇÕES PÚBLICAS NO CONTEXTO RELIGIOSO

4. A IGREJA NEOPENTECOSTAL E COMUNICAÇÃO SOCIAL

4.1 Fundamentos Históricos do Cristianismo e do Protestantismo

4.2 Pentecostalismo X Neopentecostalismo

4.3 O Estilo de Vida Neopentecostal

5. SOBRE OS LÍDERES NEOPENTECOSTAIS

5.1 A compreensão dos Líderes de Opinião

5.2 A Igreja enquanto Formadora de Opinião

5.3 Efeitos da Inserção da Igreja Neopentecostal na Sociedade

6. COMPREENDENDO A FORMAÇÃO NEOPENTECOSTAL: RESULTADO DO

ESTUDO DE CASO

6.1 Escolas de Treinamento e Formação

6.2 Etapas de Formação e Inserção Social

6.3 Acompanhamento dos Líderes de Opinião Neopentecostais

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

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134

10 CRONOGRAMA

As datas aqui apresentadas são uma proposta de realização das atividades

inerentes à construção da Monografia; ou seja, poderão apresentar alterações

devido a fatores como calendário acadêmico, acordos entre orientando e orientador

e também cumprimento adiantado ou atrasado dos prazos.

JULHO

17/07/2014: Início das vivências práticas e produção teórica do Capítulo 2 –

Aspectos Metodológicos.

AGOSTO

04/08/2014: Início do segundo semestre letivo e término das vivências práticas.

05/08/2014: Entrega do esboço do Capítulo 2 e início da produção teórica do

Capítulo 3.

19/08/2014: Entrega do esboço do Capítulo 3 e início da produção teórica do

Capítulo 4.

SETEMBRO

02/09/2014: Entrega do esboço do Capítulo 4 e início da produção teórica do

Capítulo 5.

16/09/2014: Entrega do esboço do Capítulo 5 e início da produção teórica do

Capítulo 6.

30/09/2014: Entrega do esboço do Capítulo 6.

OUTUBRO

14/10/2014: início da revisão da Monografia, com a finalização do capítulo 2.

21/10/2014: Entrega do Capítulo 6 finalizado.

28/10/2014: Entrega do Capítulo 5 finalizado.

NOVEMBRO

04/11/2014: Entrega do Capítulo 4 finalizado.

11/11/2014: Entrega do Capítulo 3 finalizado e início da produção teórica do Capítulo

7 – Conclusão.

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135

18/11/2014: Início produção das Considerações Finais, da Introdução e da revisão

final da Monografia..

25/11/2014: Data máxima para encerramento da Monografia.

DEZEMBRO

02/12/2014: Data prevista para apresentação de Banca de Monografia.

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REFERÊNCIAS

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137

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APÊNDICE B – REVISÃO DO PROJETO DE PESQUISA

1 TEMA

Relações Públicas, Opinião Pública e Movimento Estudantil

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

O uso das mídias sociais no movimento estudantil como forma de mobilização e

formação da opinião pública: o case da União Nacional dos Estudantes (UNE) no

55º Congresso da UNE em 2017.

2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O movimento estudantil, ou seja, a organização coletiva dos estudantes, tem

tido papel político de extrema relevância. Conforme relata Júnior (1981), desde 1786

existem as primeiras ações estudantis de caráter político, quando José Joaquim da

Maia, então estudante da Universidade de Coimbra, cria uma sociedade secreta

para lutar pela independência do país.

Podemos perceber, assim, que a história do movimento estudantil nasce

antes mesmo da criação da atual entidade nacional de representação dos

estudantes universitários, objeto de estudo desta pesquisa. Do final do século XVIII

até o início do século XX, existem registros de atividade estudantil na vida política do

país79, o que fez, inclusive com que os estudos e pesquisas acerca da participação

política dos estudantes tratassem essa atuação de forma secundária.

Júnior, nesse contexto, faz uma importante reflexão:

Ocorre, entretanto, que em muitos momentos da vida nacional, os estudantes se converteram em verdadeiras ―pontas-de-lança‖ de uma sociedade amordaçada, reprimida e oprimida, atuando no sentido de desencadear movimentos de caráter mais amplo e que desembocaram em sérias transformações políticas no País. (1981, p. 8)

80

79 Cita-se como exemplo a ciração de sociedades secretas com participação de estudantes em defesa da independência do Brasil e também a presença de estudantes na Inconfidência Mineira, conforme relata Júnior (1981). 80 Cabe aqui o registro de que em 1981, o Brasil ainda se encontrava no período da Ditadura Militar, época em que o movimento estudantil teve ímpar protagonismo, a ser melhor explorado neste trabalho.

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Estas ponderações sobre a atuação política dos estudantes também

merecem análise por meio de estudos em Comunicação Social, uma vez que vários

dos momentos encabeçados pelos estudantes brasileiros configuraram importantes

movimentos de persuasão da opinião pública.

Fruto da compreensão de que os estudantes podem sim ter opinião política,

atuação política e relevante inserção de suas ações e opiniões na sociedade é que

nasce a União Nacional dos Estudantes (UNE), em 11 de agosto de 1937, segundo

informações constantes no site da entidade. Desde então, os estudantes brasileiros

tem tido, por meio da UNE um importante instrumento de luta política.81 A história

nos mostra, por meio de muitos fatos, a importância dos estudantes na história do

país, conforme nos mostra Araújo:

No Brasil, a importância do movimento estudantil acompanha a trajetória de sua entidade máxima,a UNE. Da luta contra o Estado Novo à campanha pelo petróleo, [...], à atuação cultural, ao enfrentamento com a ditadura militar e à participação na fase de consolidação democrática, a UNE esteve sempre presente na política brasileira. Mesmo quando a entidade foi fechada durante a ditadura militar, os estudantes saíam às ruas declarando que, enquanto estivessem vivos, a UNE estaria viva […].(2007, p. 18)

Por isso, estudar o movimento estudantil, em especial a União Nacional dos

Estudantes, no âmbito dos estudos da Comunicação Social significa, também,

estudar suas práticas e seu papel na sociedade, enquanto fenômeno da Opinião

Pública, que Cervi assim conceitua:

[...] a opinião pública é o resultado de dois processos que ocorrem simultaneamente. Um, de tentativa de persuasão e convencimento a elite política que se manifesta, na maior parte das vezes, pelos meios de comunicação de massas (mas não exclusivamente por elas), materializado na propagação de informações e mensagens supostamente objetivas, mas que sempre trazem em si algum grau de subjetividade de quem as produz ou está influenciando os produtores. Outro, dá-se pela reformulação de crenças, valores e conceitos que o próprio público faz, independente dos interesses da elite política, a partir de informações que recebemos desta ou por meios não institucionais de comunicação interpessoal. (2010, p.70)

Partindo do conceito de ―reformulação de crenças, valores e conceitos‖

apontado por Cervi, alguns questionamentos se fazem importantes aqui quando

consideradas a história do movimento estudantil: quem atua nesta reformulação?

Como estes reformuladores reformulam seus próprios valores para se reinserir na

81 Embora o site da UNE reconheça a data de 11 de agosto de 1937 como data de fundação

da entidade, Araújo (2007) diz que ―muitos militantes da época recusam a data de 1937 e

elegeram a data de 1938‖. Esta data seria o dia em que foi aberto o II Congresso Nacional

dos Estudantes, em 5 de dezembro de 1938.

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sociedade? Quais instrumentos e ferramentas são usadas? De que forma o

movimento estudantil efetivamente contribuiu para a história do Brasil? Como as

entidades do movimento estudantil hoje usam os meios de comunicação como

instrumentos de disputa dos valores da sociedade? Essas e outras perguntas, de

caráter secundário ou consequente destas críticas, levam o interesse do

pesquisador em estudar a história e atuação da União Nacional dos Estudantes sob

a perspectiva da Opinião Pública no âmbito da Comunicação Social.

3 QUESTÃO NORTEADORA

De que forma os líderes estudantis se utilizam das mídias sociais para atingir a

opinião pública e mobilizar sua base de representação para o debate dos temas

públicos?

4 JUSTIFICATIVA

O trabalho de um profissional de Relações Públicas tem um foco estratégico

à medida que estabelece estratégias e práticas de comunicação que otimizem o

relacionamento de uma organização com seu público. Torna-se fundamental, para o

exercício desse segmento profissional, portanto, se dedicar a conhecer tanto a

organização em que o profissional desta área está inserido como também os

públicos com os quais a mesma interage.

Esta pesquisa tem relevância para a comunidade acadêmica no sentido que

trará recortes significativos do movimento estudantil e da UNE: o primeiro, mais

notório, é a sua contribuição para os acontecimentos históricos do país; o segundo,

é a análise pelo viés das Relações Públicas de como a UNE se relaciona com seu

público por meio de suas mídias sociais; e o terceiro, de perceber como tais mídias

constituem-se em um importante mecanismo de mobilização e de aglutinação de

jovens estudantes do país inteiro.

O recorte desta pesquisa centra-se no 55º Congresso da UNE, realizado em

2017, na cidade de Belo Horizonte, se deve ao fato de este ser o principal momento

em que os acadêmicos brasileiros se mobilizam para definir os rumos e opiniões da

entidade para os dois anos seguintes, além de eleger a diretoria para o biênio a

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seguir. O Congresso da UNE é, sem dúvida alguma, o momento onde os

graduandos do país são envolvidos.

Analisar a União Nacional dos Estudantes, de forma generalista,

transformaria a pesquisa em um conjunto de afirmações vagas e não úteis para a

comunidade científica. Assim sendo, sob o olhar das Relações Públicas, busca-se

focar o objetivo de estudo de uma forma concreta e embasada numa área de

conhecimento validada e através de instrumentos (as mídias e/ou redes sociais,

como forma de materialização do estudo).

Também se faz importante abordar e trazer elementos fidedignos e reais

para compreensão deste tema, visto os pré-conceitos existentes e reforçados pelo

senso comum. A UNE, ao mesmo tempo que é tida como uma das principais

entidades do movimento social brasileiro, ainda é desconhecida por parte

significativa da sociedade. Trazer a história e a atuação da UNE para a academia

brasileira é, sem sombra de dúvidas, uma importante contribuição para um melhor

entendimento de um público que é a razão de ser de qualquer entidade estudantil de

ensino superior.

Por fim, pretende-se propiciar os resultados desta pesquisa para

acadêmicos de Comunicação Social, seja na esfera da graduação ou pós-

graduação, bem como a todos os interessados no tema Movimento Estudantil. A

abordagem será qualitativa, de cunho histórico, propondo uma reflexão crítica sobre

a temática.

5 OBJETIVOS

5.1 OBJETIVO GERAL

Compreender de que forma as lideranças da UNE posicionam-se nas mídias sociais

e os reflexos desta exposição na formação da Opinião Pública.

5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Compreender o trabalho do profissional de Relações Públicas na sociedade

contemporânea e sua contribuição na formação de uma opinião pública consciente e

informada;

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- Mostrar que as funções de Relações Públicas podem direcionar de forma positiva a

utilização das mídias sociais, como forma de facilitar a atuação das entidades do

movimento estudantil

- Analisar a história e a atuação da União Nacional dos Estudantes e sua

importância e reflexos para a sociedade;

- Identificar, nas mídias sociais, a efetividade da rede social Facebook para a

divulgação das ações do movimento estudantil.

6 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS

1 INTRODUÇÃO 2 ASPECTOS METODOLÓGICOS 3 O MOVIMENTO ESTUDANTIL E SUA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE 3.1 UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES: HISTÓRIA E CONCEPÇÃO 3.2 COMPREENDENDO A UNE ENQUANTO ORGANIZAÇÃO 3.3 A UNE VISTA SOB A ÓTICA DOS LÍDERES DE OPINIÃO 3.4 O LÍDER ESTUDANTIL COMO SER POLÍTICO E AGENTE DE MUDANÇAS 4 AS RELAÇÕES PÚBLICAS E O FENÔMENO DA OPINIÃO PÚBLICA 4.1 A COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E A PERSUASÃO 4.2 A FUNÇÃO POLÍTICA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS 4.3 OPINIÃO PÚBLICA E A IMAGEM, REPUTAÇÃO E LEGITIMAÇÃO 5 AS MÍDIAS DIGITAIS E SUAS INFLUÊNCIAS 5.1 MÍDIAS OU REDES SOCIAIS? 5.2 MÍDIAS SOCIAIS NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA 5.3 AS NOVAS FORMAS DE RELACIONAMENTO INTERPESSOAL 5.4 O FACEBOOK E AS ORGANIZAÇÕES NAS MÍDIAS SOCIAIS 6 A LEGITIMAÇÃO DA LIDERANÇA ESTUDANTIL: O CASO UNE 6.1 O 55º CONGRESSO DA UNE 6.2 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO DE CASO 6.3 ANÁLISE DOS CONTEÚDOS DAS PUBLICAÇÕES 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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ANEXO A – LISTA DE EX-PRESIDENTES DA UNE

1938-1939: Valdir Ramos Borges

1939-1940: Trajano Pupo Neto

1940-1941: Luiz Pinheiro Paes Leme

1941-1942: Hélio de Almeida

1943-1944: Hélio Mota

1945-1946: Ernesto da Silveira Bagdocimo

1946-1947: José Bonifácio Coutinho Nogueira

1947-1948: Roberto Gusmão

1948-1949: Genival Barbosa Guimarães

1949-1950: Rogê Ferreira

1950-1950: José Frejat

1950-1952: Olavo Jardim Campos

1952-1953: Luis Carlos Goelver

1953-1954: João Pessoa de Albuquerque

1954-1955: Augusto Cunha Neto

1955-1956: Carlos Veloso de Oliveira

1956-1957: José Batista de Oliveira Júnior

1957-1958: Marcos Heusi

1958-1959: Raymundo do Eirado Silva

1959-1960: João Manoel Conrado Ribeiro

1960-1961: Oliveiros Guanais

1961-1962: Aldo Arantes

1962-1963: Vinícius Caldeira Brant

1963-1964: José Serra

1965-1966: Altino Dantas

1966-1967: Jorge Luís Guedes

1967-1969: Luís Travassos

1969-1971: Jean Marc Von der Weid

1971-1973: Honestino Guimarães

1979-1980: Ruy César Costa Silva

1980-1981: Aldo Rebelo

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1981-1982: Javier Alfaya

1982-1983: Clara Araújo

1983-1984: Acildon de Matos Paes

1984-1986: Renildo Calheiros

1986-1987: Gisela Mendonça

1987-1988: Valmir Santos

1988-1989: Juliano Coberllini

1989-1991: Claudio Langone

1991-1992: Patricia de Angelis

1992-1993: Lindberg Farias

1993-1995: Fernando Gusmão

1995-1997: Orlando Silva Junior

1997-1999: Ricardo Garcia Cappelli

1999-2001: Wadson Ribeiro

2001-2003: Felipe Maia

2003-2007: Gustavo Lemos Petta

2007-2009: Lúcia Stumpf

2009-2011: Augusto Chagas

2011-2013: Daniel Iliescu

2013-2015: Virgínia ―Vic‖ Barros

2015-2017: Carina Vitral

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ANEXO B – MANIFESTO DA 10ª BIENAL DA UNE ―FEIRA DA REINVENÇÃO‖

“Tinha uma vendinha no canto da rua Onde o mangaieiro ia se animar

Tomar uma bicada com lambu assado E olhar pra Maria do Joá”

(Sivuca e Glorinha Gadelha)

Reinventar é um brado, uma necessidade, uma ardência originária nascida

com o Brasil. Para curar a doença, reinventa-se o remédio ou o próprio doente. Para

curar a alma, reinventa-se a reza, o ritmo ou a música do festejo. Para curar-se da

queda, reinventa-se a receita da volta por cima. Há sempre fé, fruta ou benzedeira

nova para todos os males. Há mistura sempre de sobra para ser remisturada com

alguma outra coisa. Há chá de descoberta e de novos descobrimentos embaixo das

letras mortas dos livros ou dos doutores mais sabidos. No Brasil da sabedoria

popular, há sempre reticências à espreita dos pontos finais.

O potencial criador e criativo do povo brasileiro é uma constante na sua

história de afirmação e resistência ao longo dos séculos. O processo – sempre

inacabado – de formação da brasilidade deriva de guerras, encontros e conflitos

raciais, econômicos, culturais que levam à prática recorrente de recriação do novo

perante uma realidade opressora. Nas agruras da senzala ou do navio negreiro,

surgem os contos, os cantos, os batuques e as danças da nossa mitologia particular.

No desastre da seca e da exclusão do caboclo, surge o cordel, o improviso do

repente e da própria vida em poesia. Na aspereza da favela excluída surge o funk, o

tecnobrega, o arrocha de quem dita o compasso de como se mexem os corpos de

norte a sul.

Ao chegar a sua décima edição em 2017, sempre buscando investigar e

celebrar o Brasil, a Bienal da UNE se permite o desafio da reinvenção. Frente ao

momento crítico da história política do país, na reprimenda aos sonhos de sua

emancipação e superação de suas injustiças, no golpe e silenciamento dos que

lutam face a suas opressões, a União Nacional dos Estudantes evoca a criatividade

transformadora da cultura popular brasileira no maior festival estudantil da América

Latina. A Bienal, que também marca o início das atividades de 80 anos da UNE,

quer revelar a sina de um povo que recorrentemente, sob a gravidade das

intempéries, enfrenta adversidade com a diversidade. Um povo que se faz ativo no

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148

criativo de uma embolada, de uma rima, de uma hashtag da rede social que mobiliza

toda a coletividade.

A UNE convida a juventude brasileira para expor seus sonhos e suas

propostas de reinvenção nessa feira, na cidade de Fortaleza, no próximo mês de

janeiro. Recorre a essa imagem e conceito do mercado popular no Brasil, a feira

livre, o espaço aberto de troca com sua miríade de cores, temperos e possibilidades

imaginativas, seja tanto nas mercadorias, no jargão genial de oralidade de quem

vende o seu ―peixe‖ ou na descoberta inusitada de uma nova batida musical na

banca de aparelhos eletrônicos. Freguês pode chegar. Na Feira da Reinvenção, não

se distingue o que é exatamente produto pronto ou, na verdade, mais uma matéria

prima para a recriação do mundo à volta.

Nessa sacola cabem samplers e bases para os Mcs, sabores e efeitos

misteriosos, tecidos para cortes e retalhos nas artes plásticas ou na moda, poetas

clássicos ou marginais para o intertexto de copyleft, celulares para fazer cinema e/ou

revolução, truques e trocas de estilos, afetos, concordâncias e divergências para um

novo tema de debate. A feira é uma cidade de vida própria, convidativa aos olhos,

cheiros, gostos e gestos de experimentar aquilo que ainda não se conhece de banca

em banca. A feira livre é um ponto do encontro, da socialização e também do fazer

artístico.

Foi na Feira do Crato, interior do Ceará, que um dos poetas mais inventivos

da literatura brasileira, Patativa do Assaré, foi descoberto no talento dos seus versos

matutos. Foi também a imagem da feira livre que levou ao movimento histórico de

músicos cearenses e outros artistas que, no ano de 1979, ocuparam o Teatro José

de Alencar, em Fortaleza, na Massafeira. O evento foi uma eclosão de canções,

pinturas, esculturas, fotografias, traços de costumes populares que relançaram a

cultura local para o país. Construíram a Massafeira nomes como Ednardo, Belchior,

Fagner, além de convidados de outros estados como Zé Ramalho e Walter Franco.

O projeto também se transformou em um álbum, lançado no ano seguinte.

Em outros estados, as feiras também são referências da diversidade cultural.

Luiz Gonzaga imortalizou a Feira De Caruaru, em Pernambuco cantando tudo que

há no mundo e nela para se vender. A mineira Clara Nunes, na sua Feira de

Mangaio, lista o fumo de rolo, o bolo de milho, alecrim e canela ao lado do

sanfoneiro no canto da rua e seus floreios para o povo dançar. No Rio de Janeiro

dos anos 1990, há a Feira de Acari no funk de MC Batata, sucesso nacional que

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despertou olhares para esse bairro da zona norte carioca, e a feira não autorizada

do Rappa, versada em rock, chamando maluco, madame, maurício e atriz para levar

as ervas que amenizam a pressão.

A feira é uma prática antropológica recorrente em muitas civilizações. Na

tradição da cultura ocidental e da América Latina colonizada, ela remete aos

espaços de festividade, religiosidade e trocas de mercadoria desde o império

romano. A etimologia da palavra, com origem no latim, é a mesma que designa

férias, feriado, momento de parada para celebração ou intercâmbio. A feira faz parte

de um processo civilizacional que chegou do outro continente, mas que aqui se

ressignificou com as matizes brasileiras e sua composição multifacetada. Sua

variedade é uma analogia do próprio país em busca dos ingredientes sempre fortes,

difusos e complexos que o compõem do ponto de vista étnico, religioso, cultural e

histórico.

Segundo Darcy Ribeiro, pela amplitude dessas possibilidades, o Brasil seria,

potencialmente, algo como uma nova Roma para a humanidade. Um solo lavado no

sangue indígena e negro, porém tropical e fértil para suplantar as desigualdades

com reinvenção, o berço de uma possível nova sociedade. As contradições do

processo exploratório desta terra, por hora criminalizando os saberes dos povos

oprimidos, como na escravidão, por horas buscando retomá-los, como no indianismo

literário ou na antropofagia modernista, criaram ao longo do tempo um quebra

cabeça virtuoso a ser montado, geração após geração, em uma vastidão de

combinações incrivelmente possíveis.

É assim que o forró de Gonzaga e Humberto Teixeira encontra o rádio e a

massificação em nova roupagem para os grandes centros urbanos da primeira

metade do século XX, em um movimento inédito de difusão da arte nordestina. É

assim que a Tropicália reúne samba, bossa e psicodelia setentista em harmonia de

acordes e discursos. É assim que a guitarra elétrica ganha outra função totalmente

inesperada na música baiana de Dodô e Osmar, que Chico Science funde Maracatu

e música eletrônica com a sua Nação Zumbi, que o heavy metal do Sepultura e a

música dos índios Xavantes tornam-se uma coisa só nas experimentações do

clássico álbum ―Roots‖.

Atualmente, esse processo de reconexões continua dentro ou fora da cultura

de mercado e da indústria. Da marginalidade, das periferias (perifeiras) em torno de

um centro concentrador de riqueza e privilégios, brota a espontaneidade no freestyle

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do rap, nas batalhas de versos, na linguagem imediata e urgente do pixo e do

grafite, no esporte, na moda, nos virais da internet, naquilo que se coloca na roda

para a troca. A ascensão sócio-econômica desses grupos nos últimos anos de

governos populares, associada às políticas sociais, a convergência digital, o acesso

ao ensino superior, permite o seu protagonismo na condução de parte da cultura

nacional, da formação de uma inteligência coletiva e em rede, uma renovação do

fazer político que tem como chave a recriação do futuro a partir das velhas

estruturas do passado.

Mirando essa nova realidade, a feira da Bienal da UNE é um grande

chamado a todas as juventudes e à cultura brasileira para reflexão, reorganização,

reativação de suas energias utópicas e criativas. É uma praça aberta, sensorial,

visionária, pronta para o escambo de quem vem de longe para se reinventar.

Representa o planejamento de um novo ciclo de lutas e ideias, em direção ao Brasil

que queremos, reconhecendo a centralidade da cultura na transformação do

imaginário social e no rumo das nossas narrativas.

O nordeste é mais uma vez sede do evento, pelo reconhecimento de ser

uma região vibrante da arte popular brasileira, inclusiva e solidária para fazer o

contraponto dos preconceitos e arbítrios que ainda precisam ser derrubados mais ao

sul. O Ceará recebe pela primeira vez a Bienal tendo a tradição de manifestações

culturais riquíssimas no interior e na capital, a realização de grandes festivais

nacionais e internacionais de música, cinema, circo, literatura, dança. Fortaleza, uma

das maiores metrópoles do Brasil, que já caminha para os seus 300 anos de história,

é ainda assim uma cidade que se provoca e se redefine.

O festival seguirá todo o modelo de um espaço de trocas, seja em sua

programação, na sua estrutura física, na forma de participação dos seus visitantes,

nas atividades autogestionadas e no ambiente para a promoção de ações

espontâneas e criativas. Além disso, esta décima edição da Bienal servirá para

expor e debater as realizações de suas nove edições anteriores, assim como a

prática das ações culturais dentro da universidade, avaliar e construir ideias sobre o

Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA) da UNE, sua atuação e seu alcance

nas diferentes regiões do país.

Como versa Cecília Meirelles, a vida só é possível reinventada. A vida é uma

resposta de supetão àquilo que não se esperava, como em uma esquete de

improvisação teatral. A vida é a saída bolada para o problema posto, a alternativa, a

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solução, é a gambiarra, bela palavra da língua tupi-guarani que significa

―acampamento provisório no território desconhecido‖. A Bienal da UNE e o

movimento estudantil brasileiro, portanto, levantam suas barracas em Fortaleza

para reciclar, repensar, refazer o caminho dos seus sonhos e objetivos mais

próximos.

Reinventar é uma urgência, uma nota tônica, é a sede dos olhos por uma cor

ainda não utilizada na pintura. Reinventar é a arte de quem se move, de quem não

pode temer os obstáculos à frente pois simplesmente não pode voltar atrás na sua

própria história. Temer jamais. A Feira da Reinvenção está aberta às interessadas e

aos interessados. Ela é um amálgama do que se viveu até aqui e um laboratório do

que se viverá adiante. Traga o seu ingrediente.

União Nacional dos Estudantes

São Paulo, 12 de outubro de 2016.

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ANEXO C – REGIMENTO DO 55º CONGRESSO DA UNE

Seção I – DO CONGRESSO

Art.1º – O Congresso da UNE é a instância máxima de deliberação da União

Nacional dos Estudantes.

Art. 2º – O 55º Congresso da UNE será realizado entre os dias 14 a 18 de junho de

2017, em Brasília, Goiânia ou Belo Horizonte.

Parágrafo 1 – Por motivos relativos à estrutura ou calendário letivo, o Congresso

pode ser antecipado em até 30 dias ou adiado em até 30 dias sob deliberação

Comissão Nacional de Eleição, Credenciamento e Organização (CNECO).

Parágrafo 2 – O local de realização será definido, entre os citados no caput do

artigo 2º, por decisão da CNECO até o dia 10 de abril de 2017.

Art. 3º – Compete ao Congresso da UNE: I. Debater e aprovar as resoluções que

irão orientar a atuação da próxima gestão da entidade; II. Eleger a diretoria da UNE,

para mandato de dois anos; III. Eleger o Conselho Fiscal da UNE; IV. Modificar o

estatuto da UNE, com o voto de no mínimo 3/5 dos delegados credenciados;

Art.4º – Participam do Congresso da UNE, com direito à voz e voto, os estudantes

de cursos regulares de graduação presencial ou à distância, eleitos como delegados

de acordo com os critérios constantes no presente regimento.

Parágrafo único – Também participam do Congresso da UNE com direto a voz,

os/as estudantes observadores/as credenciados/as e os convidados/as.

Seção II – Da Organização do Congresso

Art. 5º – O Congresso da UNE, bem como o processo de eleição de delegados (as)

nas universidades será organizado pela Comissão Nacional de Eleição

Credenciamento e Organização (CNECO).

Parágrafo 1 – A CNECO será composta por 52 membros, eleitos/as pela Plenária

Final do 65º CONEG da UNE.

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Parágrafo 2 – Será permitido, em caso de impossibilidade de comparecimento do/a

titular, o voto por procuração simples, nas reuniões da CNECO. As procurações

deverão ser apresentadas na reunião da CNECO e arquivadas junto aos

documentos e atas da Comissão.

Seção III – Regras gerais para as eleições de delegados/as Ensino Presencial e

Ensino à Distância

Art. 6º – As eleições para delegados/as ao Congresso da UNE serão realizadas nas

Instituições de Ensino Superior (IES), exclusivamente com o voto em urna.; sendo

organizadas por DCEs e Comissões de 10 (dez) estudantes nas instituições de

ensino presencial e Comissões de 10 (dez) estudantes nas instituições de ensino à

distância.

Parágrafo 1º – As eleições devem cumprir o disposto neste regimento, devendo ser

observado as especificidades constantes para a realização da eleição de

delegados/as na modalidade de ensino presencial e na modalidade de ensino à

distância

Parágrafo 2º – O processo de eleição de delegados encaminhado por DCE terá

início a partir do dia 27 de março de 2017.

a) Os DCEs credenciados no 65º CONEG estão automaticamente autorizados a

coordenar o processo eleitoral do 55º Congresso da UNE;

Parágrafo 3º – As inscrições de Comissões de 10 (dez) estudantes, bem como o

processo de eleição de delegados por elas encaminhados, terão início a partir do dia

27 de março de 2017.

Art. 7º – Os critérios para eleição dos/as delegado/as atenderão às seguintes

diretrizes:

I – A proporção de eleição de delegado/as será de 1 (um) para cada 1000 (mil)

estudantes regularmente matriculados na IES. Não serão eleitos delegados/as para

primeira fração subsequente inferior a mil estudantes regularmente matriculados.

II – A IES que tenha menos de 1000 (mil) estudantes regularmente matriculados,

terá o direito de eleger 1 (um) delegado/a.

Exemplo:

IES de 001 a 1999 estudantes – 01 delegado/a

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IES de 2000 a 2999 estudantes – 02 delegado/as

IES de 3000 a 3999 estudantes – 03 delegado/as

IES de 4000 a 4999 estudantes – 04 delegado/as

E assim sucessivamente.

III – O número de delegados de cada universidade será definido de acordo com os

dados constantes no Censo da Educação Superior do MEC do ano de 2015, que a

UNE divulgará em seu sítio. Caso haja divergência com o número de matriculados,

prevalecerá o número fornecido por declaração oficial assinada pelo responsável da

IES ou outro documento que comprove o número total de alunos, que deverá ser

enviado para a CNECO pelo e-mail: [email protected] até 48h antes da

data do início da votação.

IV – Quando houver mais de um/a delegado/a em disputa, as eleições deverão

observar o critério da proporcionalidade simples entre as chapas concorrentes.

V – Só poderão ser indicados/ as como delegados/as e suplentes, os estudantes

devidamente inscritos na chapa junto à comissão responsável pela eleição.

VI – Tanto na inscrição das chapas, quanto na indicação dos delegados através da

proporcionalidade, é obrigatória a indicação de no mínimo 30% de mulheres, na

tentativa de buscar a paridade de gênero.

VII – Deve ser cumprido o quórum mínimo de 5% do total de matriculados, sob pena

da eleição ser anulada.

VIII – Os DCEs e as Comissões de 10 (dez) Estudantes devem cadastrar no sitio do

congresso (www.congressodaune.org.br) as datas da inscrição das chapas e

votação, respeitando os prazos mínimos previstos neste regimento. A CNECO dará

publicidade à data estabelecida através do sítio do Congresso da UNE. O prazo para

inscrição de chapas, previsto neste Regimento, terá vigência a partir da sua

publicação no sítio do Congresso da UNE.

IX – Os DCEs e as Comissões de 10 (dez) Estudantes, devem através do Edital de

Convocação da Eleição fixado na IES, disponibilizar um local e contato que seja

referência e facilite os contatos dos estudantes e das chapas que pretendem

participar do pleito.

X – As comissões de 10 estudantes ou DCEs poderão exigir no ato da inscrição das

chapas, no máximo, a quantidade total de delegados(as) e um suplente por

delegado a que tem direito de eleger a respectiva IES. Exemplo: Uma IES que elege

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10 delegados, poderá exigir no ato da inscrição no máximo 20 membros por chapa.

As chapas podem apresentar um segundo suplente, se quiserem.

XI – Os DCEs e as Comissões de 10 (dez) Estudantes poderão exigir para a

inscrição da(s) chapa(s) no máximo, a título de comprovação de vínculo com a

universidade, atestado de matricula ou comprovante similar da regularidade

acadêmica.

Seção IV – Eleição de Delegados na modalidade de ensino presencial

Art. 8º – Para encaminhar o processo eleitoral de suas IES os DCEs (Diretórios

Centrais de Estudantes) deverão ter sido credenciados no 65º Conselho Nacional de

Entidades Gerais da UNE.

Parágrafo 1º – O DCE deverá cadastrar no sitio do congresso

(www.congressodaune.org.br) as datas do processo eleitoral e indicar três

responsáveis pela organização da eleição na universidade, apresentando seus

nomes completos, curso, e-mail, telefone e número de matrícula ou RG.

Parágrafo 2º – O descumprimento das normas deste regimento pelo DCE implicará

na perda da prerrogativa de organizar a eleição na universidade.

Parágrafo 3º – O DCE tem como prazo até o dia 28 de abril de 2017, para cumprir o

disposto no parágrafo 1º deste artigo, caso este prazo não seja cumprido o DCE

perdera a prerrogativa de organizar a eleição e será aceito que comissão de 10

estudantes organize o processo.

Art. 9º – As IES que não possuem DCEs, as quais os DCEs não se credenciaram no

CONEG ou cujos DCEs extrapolem o prazo máximo previsto neste regimento para

convocar a eleição, poderão ter o processo eleitoral encaminhado por uma

Comissão de 10 (dez) Estudantes, cumprindo o disposto a seguir:

I – As comissões terão de se cadastrar junto a CNECO pelo sitio do congresso

(www.congressodaune.org.br), apresentando o nome completo de seus

componentes, curso, e-mail, número de matrícula ou RG e designar um responsável.

O responsável pela inscrição da Comissão de 10(dez) Estudantes assumirá

integralmente a responsabilidade civil e criminal pelas informações repassadas à

CNECO.

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II – A CNECO dará publicidade à comissão durante 48 horas. Ao final destas, não

havendo questionamento por parte de estudantes da IES, a comissão está

automaticamente habilitada a encaminhar o processo.

III – Caso mais de uma comissão seja inscrita a CNECO tentará estabelecer um

acordo entre as partes, priorizando os Centros Acadêmicos que compõem essas

comissões. Não sendo possível o acordo e mantido o conflito a CNECO arbitrará

sobre quem encaminha o processo.

Art. 10 – Os prazos mínimos do processo eleitoral devem compreender:

I – Três dias úteis para inscrição de chapas

II – Três dias úteis para a campanha.

Parágrafo 1º – Em caso de chapa única não existe obrigatoriedade de cumprimento

dos três (três) dias úteis de campanha.

Parágrafo 2º – O 3º dia de campanha pode ser também o dia de eleição.

Art. 11 – Os DCES ou Comissões de 10 (dez) Estudantes, quando for o caso, se

responsabilizam pela convocação, realização e apuração, proclamação de

resultados e confecção das atas de eleição do/as delegados/as. O modelo de ata

será fornecido pela UNE.

Parágrafo 1º – Nas IES multi campi, será contado o número de estudantes

matriculados/as por município, conforme dados fornecidos pelo Censo da Educação

Superior do MEC de 2015.

Parágrafo 2º – A critério do DCE, respeitando-se locais onde a tradição do

movimento estudantil é a de eleições gerais por universidade, a eleição pode ser

encaminhada considerando o universo total de estudantes daquela IES. No entanto,

estas eleições só serão validadas se for garantida a presença de uma urna em todos

os campi da IES. A possibilidade de encaminhar o processo desta forma não está

aberta para as Comissões de 10 (dez) Estudantes.

Seção V – Eleição de delegados na modalidade de ensino à distância

Art. 12 – A eleição dos delegados(as) de ensino à distância será realizada com base

no número total de estudantes matriculados no estado de cada IES, independente

desta ser multi-polo, ou estar presente em apenas um município.

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Art. 13 – O processo eleitoral nas IES de ensino à distância, será organizado

exclusivamente por Comissão de 10 (dez) Estudantes desta modalidade de ensino,

que deverá cumprir o seguinte cronograma:

I – As Comissão de 10 (dez) Estudantes devem se cadastrar pelo sitio do congresso

para realizar a eleição em sua respectiva IES entre os dias 03 a 18 de abril do ano

de 2017, impreterivelmente.

II – As Comissão de 10 (dez) Estudantes enviar à CNECO entre os dias 03 a 28 de

abril do ano de 2017, o calendário de encontros presenciais locais no 1º semestre de

2017, emitido pela IES, indicando as datas que acontecerá o processo de eleição

dos delegados/as e suplentes.

III – As eleições serão realizadas exclusivamente após o dia 19 de abril de 2017.

IV – Em qualquer caso, se tomará como referência para eleição de delegados o

número total de estudantes de ensino à distância matriculados na IES por estado.

Art. 14 – As comissões autorizadas pela CNECO a realizar a eleição nas IES de

ensino à distância deverão cumprir no mínimo os seguintes prazos:

I – Uma semana para inscrição de chapa, contando a partir do 1º encontro

presencial;

II – Uma semana para a realização da eleição, respeitando o calendário de

encontros presenciais de cada polo.

Art. 15 – A comissão responsável por realizar a eleição se compromete a divulgar

amplamente a realização da eleição dos (as) delegados (as) ao Congresso da UNE,

tanto nos polos de encontro presencial, quanto no Ambiente Virtual de

Aprendizagem (AVA).

Seção VI – Do Credenciamento dos delegados

Art. 16 – O credenciamento será realizado no dia 06 de junho de 2017 das 10 às

22h, nos estados, em locais a serem definidos pela CNECO.

Art. 17 – Para serem credenciados, os delegados/as e suplentes devem apresentar

à Mesa Local de Credenciamento os seguintes documentos:

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I – Ata oficial para eleição de delegado/a fornecida pela UNE, devidamente

preenchida;

II – Lista de participantes da eleição com cabeçalho (constando: ‗Lista de Votantes

para o 55º Congresso da UNE‘ e o nome da IES), nome, RG ou número de matrícula

e assinatura. Da lista de votação deve constar o número de estudantes votantes que

perfazem o quórum mínimo previsto no presente Regimento;

III – Comprovante de matrícula em 2017 do(s)(as) delegado(s)(as) e suplentes;

IV – Em caso de nome social deve se incluir cópia do documento oficial com foto na

ata e número será registrado no crachá e apenas com esse documento terá direito a

votar na eleição da diretoria.

Parágrafo 1º – Será aceito no caso do/a estudante estar com matrícula sub judice,

um documento que prove esta situação, como um comprovante do pagamento de

mensalidade em juízo. O/A estudante inadimplente deverá apresentar

documentação que comprove o vínculo acadêmico e sua situação de inadimplência

com IES, no caso da IES não fornecer o comprovante de matrícula.

Parágrafo 2º – A CNECO encaminhará às mesas locais de credenciamento a lista

de IES aptas a se credenciarem no 55º Congresso da UNE, não sendo permitido o

credenciamento de IES que não conste nesta listagem.

Parágrafo 3º – A ausência de qualquer documento exigido neste regimento

impossibilitará o credenciamento do/a delegado/a.

Art. 18 – Nas atas de eleição oficial deverão constar os nomes, ou no caso nome

social, dos delegados/as e suplentes. As suplências são individuais, ou seja, cada

delegado titular terá direito a dois suplentes específicos.

Art. 19 – A mesa local de credenciamento das atas será indicada pela CNECO.

Poderão dirigir-se à Mesa Local de Credenciamento para credenciar a Ata:

I – Comissão de Estudantes responsável pelo processo eleitoral;

II – Representante do DCE da Instituição de Ensino Superior;

III – Diretores das entidades estaduais;

IV – Diretores da UNE;

V – O próprio delegado.

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Art. 20 – Caso ocorra ausência de uma ou mais entidades à Mesa Local de

Credenciamento no dia e horário previstos neste regimento, o prazo de tolerância

será de duas horas para o início dos trabalhos.

Parágrafo único – Esgotado o prazo de tolerância definido neste regimento a

CNECO autorizará o início dos trabalhos no dia em questão com a(s) entidade(s)

presente(s).

Art. 21 – Qualquer estudante da mesma IES, localizada na mesma cidade, diretor

da UNE ou diretor da entidade estadual poderá impetrar recurso contra o

credenciamento de um ou mais delegado/as somente no ato do credenciamento

deste(s) delegado/a(s).

Parágrafo 1º – Os recursos deverão ser enviados à CNECO, conjuntamente com o

restante dos documentos do credenciamento, para serem julgados somente por esta

comissão.

Parágrafo 2º – As Mesas Locais de Credenciamento devem apenas verificar a

documentação dos delegado/as e, estando esta documentação de acordo com este

regimento, credenciá-los/as e emitir recibo. A Mesa Local não tem poder para

impetrar ou julgar recurso. Todos os recursos devem ser encaminhados à CNECO.

Parágrafo 3º – No caso de recurso impetrado, a Mesa Local receberá os

documentos e entregará um recibo de entrega de documentos ao responsável pelo

credenciamento.

Art. 22 – A Mesa Local de Credenciamento deverá enviar, impreterivelmente após

encerrado o credenciamento, o relatório digital do mesmo para o e-

mail [email protected] , os documentos entregues para o

credenciamento dos delegado/as devem ser enviados para a CNECO que se

localiza na sede da UNE situada na Rua Vergueiro, nº 2485, Vila Mariana, São

Paulo – SP, CEP: 04101-200 . No caso de postagem deverá ser utilizado o serviço

de SEDEX, com envio até o dia 7 de Junho às 16hs, para garantir a tempestividade

do recebimento.

Seção VII – Da Credencial (Crachás) dos participantes no Congresso

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Art. 23 – O delegado/a só poderá exercer suas funções no 55º Congresso da UNE,

apresentando-se à Comissão Nacional de Credenciamento e Organização para

retirar a sua credencial (Crachá), com os seguintes documentos:

I – Documento oficial com foto (Carteira de Identidade, Carteira de Registro

Profissional, Passaporte, Carteira Nacional de Habilitação ou Certificado de

Reservista).

II – Comprovante do pagamento da taxa de inscrição que poderá ser paga através

do site da UNE (www.une.org.br), por Débito, Crédito, Boleto, PayPal ou ainda no

local do evento. A taxa de inscrição terá os seguintes valores para delegados e

suplentes:

a. Entre os dias 1º de abril e 15 de maio, o valor será de R$ 75,00 (setenta e cinco

reais);

b.Entre os dias 16 maio e 10 de junho, o valor será de R$ 125,00 (cento e vinte e

cinco reais); e

c.Nos dias do evento, o valor será de R$ 175,00 (cento e setenta e cinco reais).

III – A taxa de inscrição terá os seguintes valores para Observadores:

a.Entre os dias 1º de abril e 15 de maio, o valor será de R$ 100,00 (cem reais);

b.Entre os dias 16 maio a 10 de junho, o valor será de R$ 150,00 (cento e cinquenta

reais) ; e

c.Nos dias do evento, o valor será de R$ 200,00 (duzentos reais).

IV – Estudantes cotistas e prounistas terão 30% de desconto no pagamento do

primeiro lote da taxa de credenciamento dos Delegados, observadores e suplentes.

Parágrafo 1º – A apresentação dos documentos originais acima, bem como o

pagamento da taxa de inscrição é obrigatória. Não serão aceitos depósitos feitos em

envelopes de caixas eletrônicos, somente comprovante de depósito feito

diretamente no caixa.

Parágrafo 2º – O pagamento da taxa de inscrição dá direito à:

a.1 (uma) credencial de uso exclusivo do seu titular;

b.1 (um) certificado de participação do Congresso;

c.Alojamento em ginásios, escolas ou similares;

d.Traslado veículo coletivo e com horários pré-determinados entre o local do

alojamento e o local das atividades do Congresso;

e.Alimentação em refeitório montado pela organização do evento (café da manhã,

almoço e janta); e

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f.Participação em todas atividades do Congresso.

Parágrafo 3º – A taxa de inscrição não dá direito ao transporte do estado de origem

do estudante à cidade sede do Congresso.

Paragrafo 4º – A CNECO é responsável por divulgar e organizar os horários de

retirada dos crachás.

Art. 24 – A credencial de delegado/a é pessoal e intransferível, não sendo possível

voto por procuração. O uso da credencial por terceiros implicará a anulação imediata

da mesma. Não será fornecida segunda via da credencial e a perda ou extravio

deverá ser comunicado imediatamente à CNECO.

Paragrafo 1º – A CNECO deve dar publicidade aos nomes dos delegados/as

credenciados/as e aptos/as a retirarem credencial até o dia 10 de junho de 2017.

Seção VIII – Da programação e dos trabalhos do 55º Congresso

Art. 25 – Os convidados/as para programação do 55º Congresso da UNE serão

definidos pela CNECO.

Art. 26 – Os trabalhos e as plenárias do 55º Congresso da UNE serão dirigidos por

uma Mesa Diretora composta pela Presidenta da UNE, vice-presidente da UNE e

Secretária Geral da UNE.

Parágrafo 1º – Os trabalhos serão iniciados e concluídos, impreterivelmente, nos

horários estipulados pela programação e com a presença da maioria simples dos

membros da mesa.

Parágrafo 2º – A programação obedecerá ao seguinte cronograma:

Quarta-feira (noite) – Abertura do Congresso;

Quinta-feira – Painéis, GT´s e atividades;

Sexta-feira – GT‘s, atividades e a critério da mesa diretora, poderá ocorrer o início

da plenária final;

Sábado – Plenária Final;

Domingo – Eleição da Diretoria.

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Paragrafo 3º – A UNE dever persistir para garantir a paridade de mulheres e racial

nas mesas de debates de seu congresso.

Art. 27 – O 55º Congresso da UNE será coordenado pelas seguintes comissões,

com as respectivas atribuições:

I – CNECO – Comissão Nacional de Eleição, Credenciamento e Organização:

a) Coordenar o processo de credenciamento a partir das definições deste regimento;

b) Emitir os documentos (ata de eleição, regimento do Congresso, mapa do

credenciamento, folha de recurso, ata da mesa local de credenciamento e recibo de

entrega dos documentos) necessários para eleição e credenciamento dos

delegado/as ao 55º Congresso da UNE;

c) Indicar os Componentes das Mesas Locais de Credenciamento;

d) Receber todas as atas e documentos enviados pelas mesas de credenciamento;

e) Analisar e julgar, como instância única, os recursos impetrados conforme Art.21;

f) Preparar e coordenar a infraestrutura necessária para realização do 55º

Congresso da UNE, na cidade sede;

g) Emitir lista final de delegado/as e suplentes e coordenar a distribuição das

credenciais (crachás);

h) Coordenar as inscrições e pagamento dos delegado/as e observadores ao

Congresso, em conjunto com a Tesouraria da UNE;

i) Indicar os membros da Comissão Nacional de Sistematização e Votação;

j) Deliberar sobre as questões omissas neste regimento que sejam correlatas às

suas atribuições.

II – Comissão Nacional de Sistematização e Votação (CNSV):

a) A CNSV aprovará um regimento interno próprio para o funcionamento da

sistematização.

b) Organizar o processo de contagem de votos para a eleição da nova Diretoria da

UNE e votação de propostas polêmicas;

c) As chapas que disputarão a diretoria da UNE deverão ser compostas por, no

mínimo, 30% de mulheres.

Parágrafo único: A Comissão Nacional de Sistematização e Votação será

coordenada pela Mesa Diretora do Congresso, cabendo exclusivamente a esta

deliberar sobre qualquer questão omissa neste regimento , com exceção a casos

relacionados a CNECO.

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Art. 28 – O Congresso da UNE se constituirá de Painéis, GT´s (Grupos de Trabalho)

e Plenárias.

Parágrafo 1º – O papel dos GT´s é de discutir os pontos de pauta através de

inscrições livres entre delegado/as e estudantes universitários observadores.

Parágrafo 2º – Os Painéis contarão com a presença de convidados, serão

coordenados pela diretoria da UNE ou estudantes por ela indicados.

Parágrafo 3º – O papel da Plenária final é o de apresentar e votar as propostas já

debatidas GT´s, sistematizadas pela Comissão Nacional de Sistematização e

Votação.

Parágrafo 4º – O papel das atividades é reunir grupos auto-organizados e setoriais.

Art. 29 – Cada Grupo de Trabalho (GT) será coordenado por duas entidades

estudantis previamente indicadas pela Diretoria Executiva da UNE.

Art. 30 – A participação nos GT´s é aberta a todos os estudantes credenciados e,

caso seja necessária decisão sobre as questões de encaminhamentos e de ordem,

somente os delegado/as participantes terão direito a voto.

Art. 31 – As propostas relativas aos pontos de pauta deverão ser apresentadas nos

GT´s e entregues por escrito, nas folhas de proposta à coordenação de cada GT

para que sejam sistematizadas pela CNSV.

Art. 32 – Só terão acesso ao plenário do congresso os delegado/as, convidados e

observadores devidamente credenciados.

Art. 33 – As votações durante o Congresso da UNE serão efetuadas com as

credenciais (crachás) dos delegado/as, fornecidas pela CNECO.

Parágrafo único – As decisões do Congresso serão tomadas por maioria simples

dos votos aferidos, exceto as relativas ao Estatuto da UNE, conforme o artigo 3º

inciso IV.

Art. 34 – A Mesa Diretora do Congresso da UNE, encaminhará as votações, em

primeiro momento por amostragem, aferindo-a por contraste visual.

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Parágrafo 1º – Em caso de não haver consenso na mesa sobre a existência de

contraste visual será realizada contagem de votos juntamente com a eleição da nova

diretoria da UNE.

Parágrafo 2º – As questões de encaminhamentos ou de ordem deverão

ser apresentadas à Mesa Diretora do 55º Congresso da UNE, que deliberará de

maneira soberana sobre sua procedência.

Parágrafo 3º – A eleição da nova Diretoria da UNE será feita com voto secreto em

urna, mediante apresentação da credencial (crachá) de delegado/a e documento

oficial com foto constante no art. 24, inciso I.

Art. 35 – As questões omissas, ou casos extraordinários relativos ao

credenciamento e à sistematização serão resolvidos pelas respectivas Comissões.

Art. 36 – As demais questões omissas neste regimento, assim como

encaminhamentos derivados de questões organizativas e de infraestrutura, serão

resolvidas pela CNECO.

São Paulo, 19 de março de 2017.

65º Conselho Nacional de Entidades Gerais da UNE

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ANEXO D – RESOLUÇÃO DE CONJUNTURA APROVADA NO

55º CONGRESSO DA UNE

A UNIDADE É A BANDEIRA DA ESPERANÇA – VENCEREMOS NAS RUAS!

A União Nacional dos Estudantes, em seus 80 anos de história, nunca se

furtou a empunhar com a garra e destemor, próprios da juventude, as bandeiras

democráticas e de defesa da soberania nacional.

Hoje continuamos honrando essa tradição marcada por sangue e lágrimas

de muitas gerações. O golpe jurídico-parlamentar-midiático perpetrado contra a

primeira presidenta mulher da república, Dilma Rousseff, inaugurou um ciclo político

adverso para o povo.

Os acontecimentos no Brasil não estão isolados do contexto mundial,

fortemente marcado pela crise sistêmica do capitalismo desde 2008. Ao contrário,

têm uma forte vinculação. As políticas de austeridade implementadas pelo Consenso

de Washington como saídas para crise em diversos países do mundo, conduzem a

que os trabalhadores paguem por ela.

Na América Latina o imperialismo tem retomado com força tentativas de

desestabilização dos governos democráticos, como aconteceu no Paraguai e tentam

fazer agora na Venezuela. Além de uma grave ofensiva neoliberal que também

aplica a cartilha do arrocho aos direitos do povo como falsa solução para a crise, a

exemplo do governo de Macri na Argentina. No Brasil, o governo de Michel Temer,

desprovido de legitimidade, já que seu programa não passou pelo crivo das urnas,

colocou em marcha um projeto de desestruturação das bases do Estado Nacional. O

Projeto de Emenda Constitucional que aprovou o congelamento de gastos públicos,

por 20 anos, em saúde, educação, ciência e tecnologia e outras áreas estratégicas

ao desenvolvimento nacional ceifa o nosso futuro.

Apressam-se para aprovar reformas estruturantes do modelo neoliberal, que

desregulamentam ao máximo a relação capital-trabalho. Inscrevem-se aí as

reformas trabalhistas, previdenciárias e as terceirizações. Retrocessos

civilizacionais, de maneira que o Estado que deveria ser provedor de

desenvolvimento se mostre apenas com sua expressão de violência à população

pobre diante do colapso social causado pelo desemprego e crescimento da miséria.

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Outra faceta desse processo é a ruptura do Estado democrático de direito. A

violação da Constituição de 1988, que teve seu ponto alto com a aprovação do

impeachment sem crime de responsabilidade, tem consequências ainda mais

graves. A disputa entre setores partícipes do consórcio golpista se materializa numa

crise institucional, onde os poderes constituídos vivem intenso conflito e se mostram

cada vez mais distantes dos anseios do povo trabalhador.

O judiciário, que ganha relativa autonomia nesse processo, tem conduzido

operações através de mecanismos abusivos. Prisões preventivas para forçar

delações, escutas e vazamentos de informações seletivamente, a subversão da

presunção da inocência, tem servido para a perseguição da atividade política e,

especialmente, da esquerda. Querem de toda forma condenar lideranças populares,

como o caso do Presidente Lula, inviabilizando um projeto popular competitivo para

as eleições de 2018.

Desencadeou-se também uma escalada autoritária. Censura nas redações

de grandes jornais, demissões de jornalistas críticos, perseguição a blogueiros e à

mídia alternativa, prisões de líderes populares e fortes repressões aos movimentos

sociais, numa tentativa desesperada de calar a resistência que se faz presente nas

ruas de todo o país contra as Reformas Neoliberais, pelo Fora Temer e pelas Diretas

Já.

Recentemente escândalos envolvendo o presidente ilegítimo Michel Temer e

a JBS desencadearam uma série de reveses em seu governo, infamando sua

rejeição. As prospecções sobre o futuro de Temer ainda são nebulosas e só o povo

na rua irá derrotá-lo. A exemplo disso cabe destacar o resultado do julgamento do

TSE que demonstrou que nesse momento as articulações políticas e conchavos

ainda tem forte influência sobre as decisões do judiciário e do Congresso Nacional, e

portanto, a escolha do destino do país não deve estar nas mãos desses setores, por

isso compreendemos que o povo é quem deve decidir.

É nessa hora que se torna imprescindível a unidade das forças populares

para tirar o Brasil da profunda crise, retomar o crescimento econômico e o

estado democrático de direito. As experiências da Greve Geral do dia 28 de abril e

o grande ato dos movimentos sociais em Brasília no dia 24 de maio devem servir de

exemplo para nossas mobilizações. Para tal, não há outro caminho que não seja o

restabelecimento da democracia e da legitimidade dos governantes através da

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soberania do voto popular. O poder emana do povo e ele quem deve eleger seus

representantes. Fora Temer!

A retomada da democracia precisa estar acompanhada da valorização dos

nossos instrumentos democráticos sob uma perspectiva que combata esse sistema

político viciado e apodrecido. Nesse sentido a UNE deve defender as Diretas Já

também para que o povo eleja um presidente que possa convocar uma

assembleia constituinte soberana, eleita sob novas regras, sem fnanciamento

empresarial, única forma de anular as medidas dos golpistas (PEC do limite de

gastos, reforma do ensino médio, entrega do Pré-Sal) e abrir caminho para as

reformas populares, como a reforma agrária, a regulamentação da mídia, a

reestatização do que foi privatizado, e as mais profundas demandas da

juventude como a desmilitarização da polícia, a retomada da expansão das

universidades públicas, o passe livre estudantil, entre outras.

Articulações como a Frente Ampla Nacional pelas Diretas Já e a Greve

Geral no dia 30 de junho devem contar com todo apoio dos estudantes brasileiros.

Assim como reafirmar o empenho da UNE na construção das Frentes Brasil Popular

e Povo sem Medo, como espaços de construção unitária de ação política do povo.

Os estudantes brasileiros estão mais uma vez convocados a defender o

Brasil. Não abriremos mão da nossa missão histórica. Dia 11 de agosto, dia do

estudante, estaremos nas ruas de todo o país em luta contra os retrocessos. Fora

Temer, Diretas Já!

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ANEXO E – RESOLUÇÃO DE EDUCAÇÃO APROVADA NO 55º CONGRESSO

DA UNE

A EDUCAÇÃO É NOSSO FUTURO: CONTRA A RETIRADA DE DIREITOS

A educação superior brasileira passou por profundas mudanças durante a

primeira década dos anos 2000. Fruto de mobilizações históricas dos estudantes,

conquistamos a ampliação e a popularização do acesso às universidades como o

ENEM/SISU, nas privadas, conquistamos o PROUNI e o FIES, nas públicas o

REUNI, o PNAES e as Cotas sócio raciais, além da expansão dos Institutos

Federais. Muitos dos jovens da nossa geração foram os primeiros das suas famílias

à acessar o ensino superior, sonho tão almejado por muitos de nós. Com isso

alterou-se a composição social da universidade brasileira que hoje conta com muitos

estudantes trabalhadores, que enfrentam muitas dificuldades por terem duas

jornadas (estudo e trabalho) e por contarem com pouco apoio das universidades

com uma estrutura ainda muito elitizada.

Nesse mesmo sentido, apontamos para vitórias históricas que dariam

continuidade a essas conquistas, como a aprovação do PNE que contou com

intensa participação popular e protagonismo da UNE ao lado de outras entidades,

com a meta de 10% do PIB brasileiro para a educação, além dos recursos dos

Royalties e do Fundo-Social do Pré-Sal (a maior riqueza natural descoberta

recentemente pelo Brasil) para este mesmo setor.

Entretanto, sob o pretexto de crise econômica, as últimas medidas adotadas

pelo governo de Michel Temer ameaçam a todas essas conquistas, mas a juventude

não se calou e protagonizou ocupações de escolas e universidades por todo país.

Com a Emenda Constitucional 95, que impõe um teto para investimentos sociais,

praticamente todas as metas do PNE ficam imediatamente inviabilizadas,

especialmente a que propõe 10% do PIB para a educação; a entrega do Pré-sal às

empresas estrangeiras com o fim do marco regulatório coloca em perigo uma

importante fonte de arrecadação para a saúde e a educação; a Reforma do Ensino

Médio e outras propostas em debate, como a Lei Escola sem Partido, também

invertem o sentido emancipador da educação que desejamos, priorizando uma

formação mecânica e técnica. Dizemos em alto e bom som: Abaixo o teto de

gastos! Abaixo a ―reforma‖ do Ensino Médio!

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EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE: NÃO ABRIMOS MÃO!

Mais uma das ameaças que temos assistido nos últimos meses pode afetar

diretamente ao caráter gratuito de nossas universidades públicas. Para além de

projetos que tramitam no Congresso propondo pagamento de mensalidades por

estudantes acima de uma determinada faixa socioeconômica, há um refluxo no

último período da política de expansão e acesso ao Ensino Superior, com o aumento

do valor da inscrição do ENEM, e congelamento ou corte de verba na maioria das

universidades públicas. Portanto, nunca é demais reafirmar: queremos uma

educação pública que seja gratuita e de qualidade.

Com a expansão e a popularização das instituições federais de ensino

superior na última década, novas demandas surgiram. Hoje, as universidades têm

um novo perfil, com muito mais filhos e filhas de trabalhadores e trabalhadoras,

negros e negras, indígenas e quilombolas. Porém, o estudante pobre entra, mas não

consegue permanecer, a falta de bolsas socioeconômicas, falta de moradia

estudantil em campi do REUNI, falta de passe livre estudantil, Restaurantes

Universitários a preços abusivos e falta de creches para mães universitárias

impedem que possam concluir seus cursos. É preciso que se amplie também as

condições de permanência para essas pessoas, tendo em vista inclusive o alto

índice de vagas ociosas por desistência de alunos que não conseguem se manter.

Não aceitamos cortes no orçamento da Assistência Estudantil, precisamos ampliar o

valor do PNAES para R$ 2,5bi! É fundamental que a UNE construa uma campanha

em defesa da Assistência Estudantil no próximo período.

Ainda enfrentamos nas universidades a opressão e a violência sobre as

pessoas LGBTs. Precisamos apoiar o PL 7.582/14 (que criminaliza a LGBTfobia) e a

garantia do reconhecimento e uso do nome social em todas as universidades.

Precisamos aprofundar o debate sobre acessibilidade para estudantes surdo-cegos

nas universidades, pois estão alijados do acesso ao ensino superior por falta de

políticas públicas. É preciso criação de concursos de guia-intérprete nas

universidades e garantir intérpretes nos espaços da UNE.

Faz-se necessário retomar com força o debate da Reforma Universitária.

Alteramos significativamente a composição e o acesso às universidades, mas não

acompanhamos em mesma intensidade as mudanças nos projetos políticos

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pedagógicos dos cursos e na democratização das instâncias internas das

universidades.

O orçamento de 2017 já apresentou uma queda nos recursos investidos, as

universidades federais têm operado com recursos bem abaixo do necessário para

seu pleno funcionamento. Essa medida já tem impactado em serviços essenciais

para universidade, como pagamento de funcionários terceirizados (limpeza,

restaurante, eletricistas, etc.) e mesmo as verbas de custeio, prejudicando não só a

consolidação da expansão, como o próprio funcionamento das universidades. Nos

próximos anos será um desafio fundamental garantir a mobilização contra esses

cortes de orçamento. Portanto, a UNE deve lutar pela garantia de verbas para as

universidades públicas!

AS ESTADUAIS PEDEM SOCORRO!

A crise econômica que assola os Estados é preocupante, a exemplo do Rio

de Janeiro e do Paraná que acusam caso de calamidade financeira e aplicam

ajustes fiscais que prejudicam os trabalhadores e principalmente a educação. As

universidades cariocas, como a UERJ, passam por uma situação de desespero

desde o início desse ano: professores sem receber e a universidade sem verbas

para se manter. No Paraná, o governador Beto Richa apresentou uma proposta

absurda que retira a autonomia administrativo-financeira das universidades em

relação ao pagamento dos professores.

É urgente a construção de um plano de reestruturação das universidades

estaduais, que amplie a capacidade de acesso, melhore as estruturas físicas,

valorize os professores e amplie a pesquisa e extensão, e permanência estudantil

universitária. Ao mesmo tempo, faz-se necessário um novo pacto federativo,

principalmente na questão fiscal, para que haja uma redistribuição dos recursos dos

impostos federais e que parte dessa tributação seja vinculada e destinada à

manutenção dessas universidades.

Além disso, precisamos comemorar a vitória das cotas na UNICAMP e

construir essa luta em todas estaduais que ainda não aprovaram ações afirmativas

em seus processos seletivos. É preciso popularizar as universidades estaduais!

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EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA, EM DEFESA DOS ESTUDANTES DO FIES

E DO PROUNI!

É nas universidades privadas que se concentra a maior parte dos estudantes

trabalhadores. Essas instituições tem uma pluralidade de características, das

grandes universidades às filantrópicas, e das comunitárias até às pequenas

faculdades. Mas é comum a todas elas uma recorrente negligência com os direitos

estudantis e uma falta de apoio à permanência dos estudantes, a exemplo das

disciplinas online obrigatórias, que prejudicam as condições de ensino dos

estudantes. Defendemos o FIM DAS DISCIPLINAS ONLINE OBRIGATÓRIAS!

O ProUni e o FIES ampliaram o acesso ao ensino superior e é preciso

defender este direito. Porém, acreditamos que ainda é preciso avançar na

manutenção desse novo estudante que não tem condições de se manter na

universidade só por meio da isenção da mensalidade, é preciso que existam bolsas

de permanência para prounistas, restaurantes universitários, moradias, e outros

auxílios. O FIES é também um programa que precisa ser defendido, mas

aprimorado. Não podemos permitir altos juros e nem mudança nas taxas de

mensalidade durante o curso que reforçam o endividamento dos estudantes. Além

disso, o governo precisa cobrar melhores contrapartidas de qualidade dessas

instituições que lucram com os investimentos do FIES.

A organização e mobilização dos estudantes nas universidades privadas

também é constantemente cerceada por suas administrações. Queremos mais

democracia nesses espaços. É importante que essas instituições garantam o direito

dos estudantes de se organizarem, terem representação nos espaços de decisão,

participarem das definições das mensalidades e, sobretudo que não sejam

perseguidos por fazer o debate político dentro do ambiente acadêmico.

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ANEXO F – RESOLUÇÃO DE MOVIMENTO ESTUDANTIL APROVADA

NO 55º CONGRESSO DA UNE

MOVIMENTO ESTUDANTIL É ESTUDANTE EM MOVIMENTO

Ao longo de toda sua história, a União Nacional dos Estudantes soube

acompanhar e dar respostas à altura de cada momento do Brasil, e é nesse sentido

que nossa entidade acompanha as mudanças no perfil do e da estudante da

educação superior brasileira. Nesse Congresso marcamos 10 anos desde as

mudanças no sistema eleitoral da UNE, que democratizaram as eleições de

delegados, aproximando esse processo da dinâmica do movimento estudantil, o que

valoriza o debate entre programas, e reconhece as formas locais de organização.

Nesse sentido, continuaremos a buscar mudanças no sistema eleitoral da UNE,

acompanhando as demandas oriundas das bases.

Hoje, o grande desafio da UNE e do movimento estudantil é criar condições

permanentes de diálogo para além de seus próprios nichos, apresentando nossos

debates e trocando ideias e experiências com toda a massa estudantil, o que

perpassa reconhecer e abraçar toda forma de organização dos estudantes, seja no

MEJ-Movimento de Empresas Juniores, nas Atléticas, nos coletivos de Negros e

Negras, feministas ou LGBTs, entre os movimentos de cultura, arte e de

comunicação, enfm, em todo espaço em que hajam estudantes em movimento e

dispostos a construir uma universidade melhor e que sirva ao povo brasileiro.

80 ANOS: A HISTÓRIA DA UNE É A HISTÓRIA DO POVO BRASILEIRO

Em 2017, na 55ª edição de nosso Congresso é também o momento em que

comemoramos os 80 anos da União Nacional dos Estudantes. Nossa entidade

sempre foi uma ferramenta de mobilização que busca reunir toda a diversidade que

compõe a universidade como espaço plural e complexo. Portanto, cabe acentuar

que a União Nacional dos Estudantes sempre fora disputada por múltiplos campos

ideológicos, um dos principais elementos que constitui a sua solidez e democracia

interna.

A retomada da histórica sede da UNE na Praia do Flamengo, 132, também

constitui a grandeza de nossa entidade, pois ali existiu um palco de resistência

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atacada pelo Regime Militar logo em seu primeiro dia, e retomada pelos estudantes

na redemocratização. Hoje estamos a poucos passos de efetuar a retomada

definitiva do espaço com a construção da nova sede da UNE, um símbolo da nossa

história.

A pluralidade da UNE a fortalece, suas posições firmes lhe dão coesão e a

colocam ao lado do povo. Portanto, é importante dizer que a própria forma de

organização da entidade permite que ela represente opiniões e teses aprovadas

pela maioria dos estudantes em seu Congresso, sem prejuízo para o debate e a

diversidade de ideias, se mantendo como a única organização de representação

nacional dos estudantes brasileiros.

A BASE SOMOS NÓS, NOSSA FORÇA E NOSSA VOZ

Os últimos dois anos foram de uma conjuntura turbulenta e com muitos

episódios inesperados, mas o movimento estudantil soube dar respostas à altura

das exigências do momento. A luta contra o golpe, a resistência contra as investidas

pela criminalização dos movimentos sociais e da UNE (como a proposta de CPI, por

exemplo), e a luta contra os retrocessos impostos à educação brasileira

reacenderam uma enorme chama de mobilização e organização nas universidades.

Tudo isso ocupou a agenda dos estudantes brasileiros em luta.

Organizamos Comitês em Defesa da Democracia em centenas de universidades,

participamos das ocupações com inúmeras assembleias que debateram a PEC 55 e

a Reforma do Ensino Médio e reunimos toda essa combatividade no ―Ocupa

Brasília‖ no dia 29 de novembro de 2016 com muita unidade. Esse processo

alimentou uma intensa participação da base estudantil, que gerou ainda mais

aproximação da UNE, nos dando melhores condições para construir um grande

CONEB na próxima gestão, que reúna os Centros Acadêmicos de todo Brasil e

também organize encontros autogestionados dos diversos setores que compõem a

universidade, como o Encontro de Mulheres Estudantes, os LGBTs, Negros e

Negras, etc.

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UMA UNE CADA VEZ MAIS DIVERSA

Fruto da democratização do acesso às Instituições de Ensino Superior (IES)

públicas e privadas através das políticas educacionais implementadas

recentemente, o perfil estudantil das IES gradativamente se populariza e,

consequentemente, a direção e a política do movimento estudantil brasileiro

incorporam a política feminista, antirracista, anti-LGBTfóbica e popular. Nesta

gestão, comemoramos ter realizado o maior Encontro de Negros, Negras e Cotistas;

de Mulheres Estudantes e LGBT da história; comprovando nitidamente que a UNE é

uma das principais entidades comprometidas com a democracia e a

representatividade na política brasileira, aprofundando a cada gestão as políticas de

reparação.

MOVIMENTO ESTUDANTIL É CULTURA EM MOVIMENTO

A última gestão da UNE também marcou um processo importante de

reorganização do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA da UNE), que após a

priorização da Bienal de Cultura e Arte como espaço próprio de realização de

atividades culturais e artísticas dos estudantes brasileiros fez com que o movimento

estudantil se aproximasse ainda mais dos movimentos culturais, que também foram

protagonistas na luta contra o golpe atingindo seu ápice no ―Ocupa MinC‖ em 2016.

Fortalecemos nossa aproximação com esses setores e reforçamos uma nova cultura

política na comunicação, que preza sobretudo pela colaboração e pela produção e

disseminação coletiva da informação.

Agora precisamos seguir fortalecendo o CUCA, realizando atividades

descentralizadas nos estados e nas universidades, seminários de planejamento e

organização e mobilizações conjuntas com os diversos atores, atrizes e movimentos

do setor cultural e artístico.

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MEIA-ENTRADA: O DIREITO NA MÃO DE QUEM TEM DIREITO

Ao tentar pôr um fim às entidades estudantis, sentimento gerado fruto do

intenso combate contra as políticas neoliberais da década de 90, o Governo FHC

editou a Medida Provisória 2208/01. Essa iniciativa permitiu que qualquer entidade

ou associação pudesse emitir a carteira de estudante criando fraudes e entidades

cartoriais que vivem alheias aos interesses dos estudantes e se organizam com o

objetivo de ter lucro em cima dos direitos estudantis.

A lei 12.933/2013 que regulamenta definitivamente a meia-entrada permite

com que apenas as entidades estudantis legítimas confeccionem a carteira de

identificação estudantil, revertendo a renda das vendas para os CAs, DCEs, UEEs e

para a UNE, sob um padrão nacional que evita fraudes e um sistema que verifca a

veracidade da matrícula dos estudantes. Essas ações impedem a emissão de

carteiras por entidades cartoriais e dá o direito a quem é de fato estudante, além de

garantir autonomia financeira das entidades estudantis.

Na última gestão iniciamos um importante processo de apoio jurídico e

burocrático às entidades estudantis, especialmente às UEEs. No próximo período a

UNE deve enfrentar esse desafo com ainda mais empenho, fazendo uma grande

campanha para ampliar a quantidade de entidades regulamentadas que possam de

fato receber o repasse de verba.