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ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA
LUIZ NUNES DOS SANTOS JUNIOR
EMBALAGEM E SEUS NOVOS USOS PELO CONSUMIDOR: UM ESTUDO
SOBRE REFUNÇÃO
Caxias do Sul 2017
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA
LUIZ NUNES DOS SANTOS JUNIOR
EMBALAGEM E SEUS NOVOS USOS PELO CONSUMIDOR: UM ESTUDO
SOBRE REFUNÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social.
Orientadora Prof.ª Dr.ª Ivana Almeida da
Silva.
Caxias do Sul 2017
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LUIZ NUNES DOS SANTOS JUNIOR
EMBALAGEM E SEUS NOVOS USOS PELO CONSUMIDOR: UM ESTUDO
SOBRE REFUNÇÃO
Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social.
Aprovado em: ____/____/____
Banca examinadora: ________________________________ Prof.ª Dr.ª Ivana Almeida da Silva Universidade de Caxias do Sul – UCS ________________________________ Prof. Ms. Eduardo Luiz Cardoso Universidade de Caxias do Sul – UCS ________________________________ Prof.ª Ma Maria Gorete do Amaral Gedoz Universidade de Caxias do Sul – UCS
4
Para minha família, e aos amigos que andaram do meu lado.
Muito obrigado!
5
“Já houve quem apontasse a própria natureza como a primeira inventora das
embalagens, providenciando a vagem para proteger o feijão e a ervilha, a palha para envolver a espiga de milho, a casca
do ovo e da noz.” (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006)
6
AGRADECIMENTOS
Tantos são os nomes que deveriam estar presentes aqui, que até escrever
esta etapa acaba sendo mais complicada do que a própria elaboração da pesquisa.
Foi um longo ano de caminhada e um grande enfrentamento com o meu “eu
universitário”, ao qual não seria possível encarar até o final sem o apoio e ajuda de
meus pais, mas, principalmente, de minha mãe, pelo carinho, cuidado, lanches no
quarto devo confessar, por me ouvir reclamar e ao final sempre me incentivar mais e
mais. Tu és o exemplo de ser humano que eu quero ser um dia e que se Deus
quiser, conseguirei. Esta pesquisa é quase mais tua do que minha. Te amo.
Á todos (quando digo todos, são literalmente todos), os meus amigos que,
querendo ou não, me ouviram falar o ano todo sobre o meu tema, meus anseios,
medos e reclamações. E, claro sem deixar de citar os nomes de quem enfrentou
esta jornada de mãos dadas comigo: Ariane Webber e Caroline Oliveira. Vocês
foram os pilares e as fugas quando o desespero me acompanhava noites adentro.
Meu eterno e sincero agradecimento à professora Ivana, que desde o projeto
me acompanhou e me aconselhou em cada detalhe, sempre paciente e indagadora,
porém sempre com um sorriso no rosto até mesmo em dias mais difíceis. Muito
obrigado!
Por fim agradecer a todos os professores que me ajudaram e se fizeram
presentes na minha jornada acadêmica, saibam que além do conhecimento que
recebi de vocês, também amadureci e me espelhei. Foram mais do que aulas, foi um
compartilhamento de vivências, experiências e sorrisos.
Com tudo que foi dito acima posso concluir que este trabalho de pesquisa
além de me dar uma base científica, ajudou a complementar as pessoas que quero
ao meu redor e que posso levar para a vida.
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RESUMO
Este estudo tem como objetivo entender como o consumidor pode transformar uma embalagem, dando-lhe novos usos e significados em seu dia a dia, a partir do conceito de refunção. Faz-se necessário discutir embalagem, marca, consumidor, refunção e significado, especialmente, além de outros tópicos que contemplam o objetivo maior, a partir da pesquisa bibliográfica. O trabalho possui uma abordagem qualitativa, baseando-se, na sua etapa final, na realização de grupos focais, na busca de um maior entendimento dos usos e refunções das embalagens por parte de consumidores. Ao final conclui-se que a refunção faz cada vez mais parte no cotidiano e que é possível classificar tipos de reuso. Palavras-chave: Embalagem. Consumidor. Refunção. Significado.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Reutilização de embalagem Pringles ....................................................... 12
Figura 2 – Escravos carregando produtos nas primeiras “embalagens” ................... 17
Figura 3 – Caixas gravadas a ferro e fogo ................................................................ 18
Figura 4 - Garrafa da Coca-Cola e Mae West, inspiração ......................................... 21
Figura 5- Cores únicas e registradas pela John Deere ............................................. 22
Figura 6 - Cigarros amarrados por maços de 49 unidades ....................................... 28
Figura 7 - Cigarros em caixas impressas .................................................................. 28
Figura 8 - Embalagem colecionável, mesmo depois da utilização do conteúdo
continuam no cotidiano do consumidor ..................................................................... 32
Figura 9 - Lata dos biscoitos Duchen ........................................................................ 33
Figura 10 - Registro de refunção ............................................................................... 36
Figura 11 - Registro de refunção ............................................................................... 37
Figura 12 - Coleção de latas de cerveja .................................................................... 47
Figura 13 - Pet costumizada...................................................................................... 48
Figura 14 - Embalagem Nestlé para colorir ............................................................... 48
Figura 15 - Caixas de feira sendo usadas como prateleira ....................................... 49
Figura 16 - Lustre que tem sua embalagem também como suporte e caixa de
Redbull que vira óculos de realidade aumentada para celular. ................................. 49
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Tipos de embalagens e suas aplicações ................................................. 22
Quadro 2 - Entrevistas em profundidade – dados essenciais ................................... 38
Quadro 3 - Entrevistas em profundidade – Relações dos entrevistados com as
embalagens ............................................................................................................... 44
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11
1.1 METODOLOGIA ............................................................................................ 13
2. EMBALAGEM E REFUNÇÃO ........................................................................... 16
2.1 VISÃO GERAL ............................................................................................... 16
2.2 PROJETO E CICLO DE VIDA: NOVOS USOS DA EMBALAGEM: A REFUNÇÃO ........................................................................................................... 19
3 EMBALAGEM, MARCAS E CONSUMIDOR ..................................................... 26
3.1 UM NOVO CONSUMIDOR ............................................................................ 27
3.2 O PAPEL DA EMBALAGEM PARA O CONSUMIDOR .................................. 31
3.3 MARCAS, EMBALAGEM E REFUNÇÕES .................................................... 33
4 CONSUMIDOR X EMBALAGEM: A POSSIBILIDADE DA REFUNÇÃO .......... 36
4.1 GRUPO FOCAL ............................................................................................. 37
4.1.1 Consumo X Embalagem ........................................................................... 39
4.1.2 Embalagem e Refunção ........................................................................... 41
4.1.3 Categorização no uso de embalagens: Possibilidades ......................... 43
4.2 CATEGORIZAÇÃO ........................................................................................ 46
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 50
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 52
APÊNDICE A ........................................................................................................ 54 APÊNDICE B .................................................................................................... ....55
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1. INTRODUÇÃO
Nos anos 1000 a.C os egípcios já embalavam seus remédios em frascos de
bambu com rótulos. Com o rápido progresso da sociedade e de certa forma de seu
estado econômico, o consumidor acabou mostrando suas preferências e exigências
por um produto melhor e com um “diferencial”. Foi assim que o aumento e a
importância da embalagem foram ganhando destaque, tanto para o fabricante
quanto para o consumidor final.
Ao longo do tempo a embalagem deixou de ser apenas um invólucro que
facilitou o transporte de mercadorias, e tornou-se um fator de influência e decisão no
momento de compra dos consumidores.
Hoje em dia mais do que nunca, embalagens viraram muito mais do que o um
detalhe e proteção de um produto. Representam características do indivíduo, sendo
elas: culturais, econômicas, sociais, dentre outras, conforme o contexto onde estão
inseridas. Podem, por meio de seu design, superar ou frustrar as expectativas dos
indivíduos. São peças fundamentais nas relações comerciais e culturais durante
todo o ciclo de vida de produtos e serviços. Não se trata apenas de uma criação
artística, torna-se o vínculo definitivo com o consumidor final, carregando a imagem
das empresas e marcas.
Parafraseando Lucy Niemeyer (2003) que fala em seu livro “Elementos da
semiótica aplicados ao design”, sobre dimensões pragmáticas: inclui-se todo um
ciclo de vida desde a sala de projeto do designer até a lixeira. Porém, o que se
questiona aqui, para as embalagens é porque o seu caminho tornar-se um pouco
mais “longo” e diferenciado. Hoje em dia não é difícil encontrar latas que outrora já
foram embalagens sendo utilizadas como porta canetas, por exemplo.
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Figura 1 – Reutilização de embalagem Pringles
Fonte: < http://artesdamanabr.blogspot.com.br/2011/12/reciclagem.html >. Acesso em: 30 jun. 2017.
Observamos o caso da Natura, que tem feito isso com alguns de seus
produtos, avaliando desse modo, inicialmente, que a embalagem não precisa ter um
fim após o uso principal e, pode acabar tornando-se um produto secundário, por
assim dizer.
Esta pesquisa apresenta como tema a embalagem os seus usos e refunções
pelo consumidor na contemporaneidade. E através desse viés procuramos entender:
Como uma embalagem pode adquirir novos usos e significados para o
consumidor, a partir do conceito de refunção?
Este trabalho contribui em descobertas pouco tratadas anteriormente na área.
Tendo como objetivo principal estudar como uma embalagem ganha vida através da
refunção e ainda objetivos específicos como: abordar o conceito de embalagem
(significação) e entender a motivação do consumidor em transformar a embalagem.
Um exemplo do que esta pesquisa propõe é a busca de categorias para tipos
de consumidores e quais usos eles dão às embalagens. O objetivo disto não é
categorizar definitivamente a embalagem, mas sim, dar base a estudos futuros, e ser
usado como referência para o tema.
Outro ponto abordado na pesquisa são as questões ambientais e de que
forma essa prática pode contribuir para um melhor aproveitamento de materiais, que
antes eram descartados, e hoje em dia se fazem cada vez mais presente em nossas
casas.
Também foi trazida para esta pesquisa a motivação que leva o consumidor
final a transformar a embalagem de um produto em um objeto secundário, mas
significativo. Entendendo onde surge a necessidade de tomar para si algo que não
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foi planejado e seguir uma vida útil diferente de seu projeto inicial. Ao fim, descobrir
como o consumidor explora esta embalagem e até que ponto isto é viável.
Para contextualizar a trajetória da embalagem, o segundo capítulo tem como
referência a embalagem e sua história, função e afins, seguidos pela importância do
design e finalizando com a embalagem como signo. As obras de Cavalcanti e
Chagas (2006), Mestriner (2002) são as que guiam o capitulo mais fortemente.
A embalagem e as marcas são os assuntos abordados no terceiro capítulo,
dentro do mesmo ainda temos uma abordagem sobre um novo consumidor, seguido
do papel da embalagem para o usuário, desbravando ao final do capítulo sobre a
refunção. As obras que carregam esta etapa da pesquisa são as de Karsaklian
(2004), Lipovetsky (2007), dentre outros que auxiliam a argumentação.
Por fim o capítulo quatro procura desvendar o assunto que é de interesse
principal, abordando assim: de que forma é feita a refunção; consumo versus
embalagem e ao final, porém o mais importante, a classificação.
1.1 METODOLOGIA
Metodologicamente, este trabalho contém um viés qualitativo exploratório e
adotou, no começo do estudo, uma base de recursos bibliográficos disponíveis na
internet e de livros consultados. Por ser um tema pouco abordado e que traz junto o
comportamento do consumidor foi feito um estudo com base na observação para
entender melhor a “refunção”. Observar é uma técnica que possui algumas etapas
para seu desenvolvimento. Seu objetivo é compreender o objeto observado, o
sujeito, as condições, os meios e o sistema de conhecimentos, a partir dos quais se
formula o objetivo da observação (BARTON; ASCIONE, 1984; BELEI et al, 2006).
Durante a observação são anotados dados que se manifestam e que são de
interesse da pesquisa. As anotações podem ser feitas por registros escritos
contínuos, por palavras-chaves, através de check list e códigos, que são transcritos
posteriormente (DANNA; MATOS, 2006 apud BELEI et al, 2006). Além disto, foram
feitos alguns registros de imagens.
O registro de imagens vem sendo há muito tempo uma ferramenta para
registrar ações e comportamentos (REYNA, 1997; HEIVEIL, 1984 apud BELEI et al,
(2006). Assim, um instrumento pode captar o objeto de estudo, diminuindo questões
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da seletividade do pesquisador e configura estabilidade do estudo (SCAPPATICCI;
IACOPONI; BLAY, 2004 apud BELEI et al, 2006).
Após as observações foram feitas grupo focal que enriqueceram esse estudo
por meio de uma análise criteriosa em relação ao público que dá uma nova vida à
embalagem, após o uso de seu conteúdo/produto. O intuito foi selecionar pessoas
com o devido envolvimento no tema pesquisado. Estes foram escolhidos por
apresentarem características especificas sobre seu relacionamento com
embalagens, ou seja, alguma vivência ou envolvimento com a mesma.
O grupo focal pode ser caracterizado como grupo de discussão que trata
sobre um tema em particular, que recebe estímulo apropriado para o debate. Essa
técnica diferencia-se por suas características próprias, principalmente pelo processo
de interação grupal, que é uma resultante da procura de dados. Em uma experiência
de aproximação, ela permite que o processo de interação grupal se desenvolva,
favorecendo trocas, descobertas e participações comprometidas. Também
proporciona descontração para os participantes responderem as questões em grupo,
em vez de individualmente. Essa técnica facilita a formação de ideias novas e
originais. Gera possibilidades contextualizadas pelo próprio grupo de estudo.
Oportuniza a interpretação de crenças, valores, conceitos, conflitos, confrontos e
pontos de vista. E ainda possibilita entender o estreitamento em relação ao tema, no
cotidiano. (RESSEL et al, 2008).
Desse modo, a fim de alcançar os objetivos, as técnicas utilizadas foram:
a) Pesquisa bibliográfica;
b) Observações;
c) Grupo focal.
Para entendermos os caminhos a serem aplicados na pesquisa, foram
utilizadas teorias dos autores Robert K. Yin (2005), na obra Estudo de caso:
planejamento e métodos, Silvio Luiz de Oliveira (1999), em Tratado de metodologia
científica e Marina de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos (2006), em Técnicas de
Pesquisa. A pesquisa trabalhou com fontes primárias e secundárias que segundo
Marconi e Lakatos (2006), possibilitam enfatizar a descoberta de ideias e
discernimentos.
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Este estudo trata-se de um trabalho qualitativo, uma vez que não possui
pretensão de numerar ou medir unidades, e sim compreender e descrever
complexidades relacionadas ao problema contribuindo no processo de entendimento
do assunto.
16
2. EMBALAGEM E REFUNÇÃO
Podemos apontar alguns pontos importantes da embalagem desde seu inicio
até sua trajetória nos dias atuais, sendo importante a contextualização para
entendermos a relevância do assunto. A embalagem sempre foi uma necessidade
por mais que nem sempre industrializada, porém, sempre se fez indispensável para
transportar produtos e assim nasceu a “embalagem” mesmo sem rotulação alguma.
Também nos é importante entender o ciclo de vida da embalagem, como é
pensada e que fim se dá a tal objeto. A importância na escolha do material, cores e
formas. Responsáveis por tal ato, intervenção no meio do processo e outros tipos de
caminhos que a embalagem pode seguir são alguns assuntos abordados neste
capítulo.
2.1 VISÃO GERAL
O homem começou por deixar de lado às folhas das plantas, o couro, a
bexiga dos animais, foi para a cerâmica e o vidro, para os tecidos e a madeira,
chegou o papel, e assim foi indo até a atualidade, onde contamos acima de tudo
com o plástico e o alumínio nas suas mais diversas modalidades. (CAVALCANTI;
CHAGAS, 2006).
Os autores trazem ainda, muitos relatos em seu livro História da embalagem
no Brasil. Os autores citam que no Brasil arqueólogos resgatam cacos de garrafas
fabricadas na Inglaterra para abrigar os vinhos dos portugueses do Porto ou da
Madeira. Outros cacos são da França como as de licor e de Moscatel, estas
reconhecidas pelo cristal utilizado em sua fabricação.
Porém desde muito tempo as embalagens já ganhavam outros papeis além
de apenas embalar um produto. O tecido dos quais chegavam o trigo acabavam por
virar vestimenta, as latas de biscoitos vazias enchiam-se dos mais variados
alimentos, eliminando dispensas, numa reciclagem que acontecia antes mesmo da
existência da própria palavra (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006).
Os autores ainda revelam que deixaram-se de lado as cestas e os balaios
feitos por índios e por negros, que logo foram adotados pelos brancos, dados que
constam nas pinturas entre 1816 e 1831 por Jean-Baptiste Debret em sua Viagem
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pitoresca e histórica ao Brasil (figura 2). Lá também podem ser encontrados latões
de leite trancados por cadeados, talvez uma das primeiras formas de embalagens
invioláveis. Todas as embalagens até aqui eram mais do que isso, podem até ser
ditas e vistas como artesanato.
Figura 2 – Escravos carregando produtos nas primeiras “embalagens”
Fonte: Cavalcanti e Chagas (2006, p. 15).
A real produção de embalagem se deu com a exportação de produtos
agrícolas. Com eles vieram, ainda no tempo da colônia, os caixotes para o
transporte do açúcar, depois os surrões de couro e as barricas de madeira para o
mate, e os sacos de juta para o café, tornando-se assim realmente uma indústria
acompanhando o grande processo de industrialização no final do século XIX. Surge
assim a sacaria de algodão para os moinhos de trigo, o metal para a lataria dos
frigoríficos, os vidros para os remédios e perfumes, as garrafas para as cervejas,
papeis para os cigarros e embrulhos, juntamente com o papelão que serviam para
todos os tipos de caixas. Neste tempo as grandes caixas de madeira já eram
gravadas a ferro e fogo para demarcarem a origem de seu proprietário (figura 3),
eram obrigados também a numerar suas caixas e marcarem também suas taras e
peso líquido. (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006).
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Figura 3 – Caixas gravadas a ferro e fogo
Fonte: Cavalcanti e Chagas (2006, p. 15).
A embalagem começa a ganhar seu destaque nos anos 1930, quando surgem
nos Estados Unidos os supermercados e o sistema de autosserviço, com ele
desenvolveu-se um novo papel para a embalagem. Em função da crise de 1929,
provocada pela queda da Bolsa de Valores de Nova York. Buscou-se eliminar os
balcões e balconistas e colocar produtos em prateleiras. Nesse cenário, a
embalagem passou a ser um elemento importante para atrair a atenção do
consumidor e despertar o desejo de compra, como é visto em História da
embalagem no Brasil (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006).
Os autores do livro ainda revelam que no Brasil uma empresa norte-
americana se destaca sendo a primeira a deixar cestas de vime na entrada do
estabelecimento para o cliente “servir-se”, o que acabou se tornando comum até os
dias de hoje, tornando assim a embalagem além de algo para proteger e embrulhar
uma arma de venda e marketing.
A embalagem sempre esteve relacionada a um conjunto de funções básicas,
como conter, proteger e viabilizar o transporte. Com o tempo, passou também a
identificar o produto e a marca do fabricante, bem como transmitir informações sobre
estes. (MESTRINER, 2002)
A partir deste contexto, a embalagem evolui para se tornar uma importante
ferramenta do marketing, contribuindo para a construção de identidade das marcas
(MESTRINER, 2002). Para a ABRE1 a embalagem acabou virando uma ferramenta
crucial para atender a nossa sociedade atual em suas necessidades de alimentação,
saúde, conveniência, disponibilizando produtos com segurança e informação para
1 Associação Brasileira de Embalagem. < http://www.abre.org.br/ >. Acesso em: 30 novembro. 2017.
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pessoas, possibilitando a acessibilidade de produtos frágeis, perecíveis e de alto ou
baixo valor agregado. Em meio a um ambiente de mercado competitivo, a
embalagem acaba por tornar-se estratégica para a competitividade dos negócios no
que diz respeito à eficiência de envase, distribuição e venda dos produtos.
Enfrentando o crescimento populacional do planeta, a embalagem tornou-se
indispensável para melhorar o aproveitamento dos alimentos e insumos
demandados pela sociedade e para reduzir o desperdício global.
Nos dias atuais a embalagem é um item obrigatório e decisivo para o sucesso
comercial de praticamente todos os produtos. Mas, além disto, é uma ferramenta
que dá suporte ao atendimento da população mundial para a sua alimentação,
saúde e bem estar.
Para a Associação Brasileira de Embalagem a embalagem possui influência
direta nos custos e na tecnologia de fabricação, na distribuição, na conquista de
consumidores e na forma de consumo dos produtos. Através dela, empresas de
qualquer tamanho e lugar podem agregar maior valor a seus produtos.
A ABRE ainda relata que mundialmente a embalagem movimenta mais de
US$ 500 bilhões, representando, entre 1% e 2,5% do PIB de cada país. No Brasil,
esta movimenta atualmente, R$ 47 bilhões e gera mais de 200 mil postos de
emprego diretos e formais. Grandes mercados de embalagens despontam ao redor
do mundo, mostrando o todo o seu crescimento tecnológico e o Brasil faz parte
deste cenário mundial de negócios, tendo acesso as mais diversas tendências de
gerenciamento de projetos e sendo referência na criação de novas tecnologias,
como por exemplo: o plástico verde a partir da cana de açúcar, o processo de
reciclagem mecânica e a plasma das embalagens cartonadas assépticas, o sistema
abre-fácil de tampas metálicas, em meio a tantas outras melhorias.
2.2 PROJETO E CICLO DE VIDA: NOVOS USOS DA EMBALAGEM: A REFUNÇÃO
Obviamente tendo admirável importância, desenhar uma embalagem não era,
no entanto, a função de maior orgulho e desejo dos publicitários e sim uma tarefa
deixada para designers. Essa atividade ficava bem longe das grandes novidades do
século XX, como o rádio por assim dizer. Criar uma nova embalagem nunca era
tarefa dos melhores funcionários de uma agência. Apenas na segunda metade da
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década de 1940 essa função começou a ganhar o destaque que teria e tem até hoje
pela chegada dos supermercados. (CAVALCANTI; CHAGAS 2006).
Nos dias atuais, para a criação de uma embalagem precisa-se de uma
estratégia em design; repassar os principais pontos e objetivos do briefing para que
o cliente saiba o que realmente foi entendido do projeto; apresentar as observações
e conclusões do estudo de campo na forma de um relatório; descrever as
oportunidades encontradas para a nova embalagem; destacar as premissas básicas
que devem ser seguidas para alcançar o que foi descrito anteriormente e por fim
explicar por escrito e detalhadamente o que está sendo proposto como caminho
estratégico para o design. Sendo assim, abrimos um mundo de oportunidades.
(MESTRINER, 2002).
O autor ainda cita outros conceitos que devem ser levados em conta na hora
de planejar o design de uma embalagem. Os que ganham maior destaque são:
Forma: Segundo Mestriner (2005) a forma é um fato importante de
diferenciação para uma embalagem.
No caso da Coca-Cola o shape do seu frasco tem um efeito muito forte na
identificação do produto, com isso, tornou-se um ícone da peça. A embalagem foi
escolhida em função de sua aparência atrativa, e pelo fato de, mesmo no escuro ou
de olhos vendados, o consumidor poder identificar o produto.
A garrafa da Coca-Cola traz consigo a mais bem-sucedida “forma” de
publicidade mundial, sua silhueta clássica é de fácil reconhecimento e é considerada
um dos fenômenos estilísticos do século XIX. A ideia por trás de tudo era que a
embalagem fosse reconhecida pelo tato e que seu formato fosse tão único ao ponto
de ser identificável mesmo perdendo algumas de suas características. A forma da
garrafa da Coca-Cola, além de tudo ainda trabalha com associações de tipo. O
primeiro modelo da garrafa foi desenvolvido em 1913 por sugestão de Benjamin
Thomas, titular exclusivo dos direitos de engarrafamento e venda do produto nos
Estados Unidos, sua característica devia ser singular devido às adulterações das
embalagens. O design curvado do protótipo tinha a intenção de ser semelhante à
folha usada para fazer o xarope consumido no produto, para que assim o
consumidor pudesse associar a bebida aos seus ingredientes originais. A forma
inspiradora era a folha do cacau que acabou sendo retirada da sua fórmula em
1906, sendo trocada pela de coca. Assim a garrafa arredondada no meio, alongada
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no gargalo e recortada em gomos, é batizada de Mae West, por lembrar as formas
sensuais da atriz americana. (CHINEM, 2005).
Figura 4 - Garrafa da Coca-Cola e Mae West, inspiração.
Fonte: Mestriner (2005, p. 52) e < www.twitter.com/terryoinfluence/status/631122671766519808 >.
Acesso em: 25 novembro. 2017.
Cor: Já a cor, embora nem sempre possa ser exclusiva, constitui-se no
principal elemento da comunicação, provocando estímulo visual como nenhum
outro.
O autor afirma que a cor que vamos atribuir a um produto trata-se talvez da
decisão mais importante num projeto de design.
Mestriner (2005) afirma que os designers devem, entretanto, saber que as
cores provocam estímulos e reações em seus receptores e podem, sim, ser
associadas à ideia, lembranças ou sensações. Ele orienta que as combinações de
cores podem ser associadas, por exemplo, ao público infantil, podem ser alegres ou
tristes, sofisticadas ou populares, modernas ou antiquadas, esportivas e dinâmicas,
e assim por diante.
Ele ainda demonstra que as cores estão sempre combinadas com outras
cores, e essas composições são infinitas e incomensuráveis. O produto precisa ter
uma cor. Essa cor constitui um ingrediente importante de sua personalidade.
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Algumas marcas levam a sério sua cartela de cores e acabam se propondo a
patentear a mesma, como é o caso da John Deere. A marca de máquinas agrícolas
adquiriu direito sobre as cores, sendo proibido utilizá-las tanto juntas quanto
separadas por outras empresas de máquinas.
Figura 5- Cores únicas e registradas pela John Deere
Fonte: < https://www.deere.com.br/pt/ >. Acesso em: 25 novembro. 2017.
Material: Em seu livro Design de Embalagem Curso Básico, Mestriner (2002),
traz os principais tipos de materiais utilizados nas embalagens. Além de elencar os
materiais o autor ainda faz uma distinção do material e dos principais tipos de
produtos que se beneficiam do mesmo.
Quadro 1 - Tipos de embalagens e suas aplicações
Matéria-prima Embalagens Tipos de produtos
Vidro Garrafas
Potes
Copos
Cervejas - Frascos – Cosméticos – Perfumes
–Medicamentos - Copos Requeijão - Extrato
de tomate – Geleias – Conservas
Celulose Cartão
Papel
Papelão
Farinhas – Eletro/Eletrônicos – Leite – Suco –
Embalagens secundárias – Carvão – Ração
Plástico Frascos
Potes
Garrafas
Sacos
Produtos de limpeza – Refrigerantes – Café –
Açúcar – Petiscos – Embalagens de transporte
– Balas – Biscoitos
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Metal Alumínio
Folha de Flandres
Cervejas – Refrigerantes – Energético –
Cartela de comprimidos – Tampas de iogurtes
– Proteção de sucos em garrafa
Madeira Caixas
Barris
Equipamentos e máquinas – Palhetes – Frutas
–Verduras
Embalagens
compostas
Combinam dois
ou mais materiais
Laminados – Multifolhados
Tecido Sacos de estopa
Sacos de ráfia
Açúcar – Batatas
Fonte: Mestriner (2002)
A embalagem que encontramos no mercado é fruto do trabalho de uma
extensa cadeia produtiva e da participação de especialistas de várias áreas que
precisam trabalhar juntos para chegar ao resultado final.
A idealização e criação de uma embalagem consistem numa sequência de
atividades que permitirá ao trabalho ser realizado de forma consciente e organizada
a fim de se alcançar o melhor resultado. (MESTRINER 2002)
Segundo Mestriner (2002), quem vai desenhar a embalagem ou tem
responsabilidade sobre seu processo de criação, deve estar atento a 10 passos
importantes para que se alcance um bom resultado. São eles:
1- Primeiramente conhecer o produto, é a embalagem que projetará a
expressão do produto.
2- Conhecer o consumidor, saber quem é o consumidor do produto é
fundamental para uma boa comunicação através da embalagem.
3- Conhecer o mercado, é no mercado que o produto participará e mostrará
as suas características próprias como história, dimensões e perspectivas.
4- Conhecer a concorrência, o produto precisa conseguir enfrentar sua
concorrência, de nada adianta seu design ser arrojado e elegante
visualmente se no final foge totalmente do conceito que o consumidor
costuma comprar.
5- Conhecer tecnicamente a embalagem que irá ser projetada, obtendo-se o
maior número de recursos disponíveis como para evitar equívocos que
possam prejudicar todo o projeto.
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6- Conhecer os objetivos mercadológicos, são eles que irão nortear o projeto
inteiro e deverão se fazer presente pelo design final apresentado.
7- Ter uma boa estratégia para o design, antes de sair apenas esboçando
desenhos é preciso pensar e fazer com que os itens anteriores tornem-se
diretrizes claras e conscientes.
8- Desenhar de forma consciente, a criatividade deve ser exercida a favor
dos objetivos estratégicos estabelecidos no projeto.
9- Trabalhar integrado com a indústria, o trabalho do designer junto a
indústria permite à embalagem e à marca se beneficiar da experiência e
das soluções tecnológicas mais arrojadas para o consumidor final,
podendo diminuir custos e proporcionar maior qualidade ao projeto.
10- Fazer uma boa revisão final do projeto, esta etapa é feita ao final da
embalagem chegando ao mercado; o designer e o cliente avaliam o
resultado final e propõem eventuais melhorias ou ajustes que possam ser
agregadas nas novas produções e reimpressões,
O desafio das empresas em projetar e produzir embalagens é extremamente
complexo como vimos anteriormente. Por um lado, deve-se assegurar que elas
obedeçam às condições legais e as necessidades do consumidor, sendo atraentes
no ponto de venda, eficientes nas linhas de produção e no transporte, eficazes na
proteção dos produtos que acondicionam sem perder de vista o impacto que podem
ter sobre o custo final do produto (LEVY, 2000A apud GONÇALVES-DIAS, 2006).
Além disso, para pensar a função dos produtos industriais, é fundamental que
seja visualizada a questão do meio ambiente. É impossível falar de facilidade e de
adequação da função de uma embalagem sem levar em conta os critérios
ambientais adotados em um projeto (PEREIRA; SANTOS, 2002 apud GONÇALVES-
DIAS, 2006).
As etapas devem ser analisadas desde o inicio da criação do produto, cada
uma contém um potencial de melhoria ambiental, sendo elas causadas por uma boa
escolha das matérias-primas, optando por melhores tecnologias e dos seus
processos de fabricação, organizando bem a gestão; seguindo um contexto de uso e
valorização ao final da vida da embalagem. Neste cenário, (SANTOS; PEREIRA,
1999 apud GONÇALVES-DIAS, 2006) apresentam interessante abordagem sobre o
ciclo de vida da embalagem.
25
Na concepção e produção considera-se o conteúdo a ser embalado
(características físico, químicas e conservação), processo de embalagem, material a
ser utilizado, produzido e transportado. No consumo são considerados os
procedimentos de venda do produto embalado, além de seu transporte e estocagem.
Fora isto, leva-se em conta, o consumo do produto embalado e a interface do
usuário/embalagem (uso da embalagem, conservação e informação). A rejeição da
embalagem e sua transformação em lixo fazem parte desta fase. Por fim temos o
pós-consumo, para esta fase consideram-se duas possibilidades, ou o reuso da
embalagem pelo consumidor ou a reciclagem, incluindo o complexo trabalho de
coleta, triagem e revitalização da embalagem.
Quando acontece um novo uso para a embalagem após o consumo, as
autoras denominam refunção. Ou seja, a embalagem acaba sendo reciclada e
voltando ao ciclo produtivo ou reutilizada para outra finalidade através do próprio
consumidor. Enfim, as relações entre o design da embalagem e seu ciclo de vida
estão inscritas em contextos sociais e políticos, do ponto de vista do projeto, da
produção, do uso e do pós-uso (SANTOS, 2003; SMITH; WHITE, 2000). Dar valor
ao objeto em fim de vida significa integrar a ideia de ciclo na fabricação de produtos
e suas embalagens. Isto mexe, quase que aos poucos, que todos os produtos
manufaturados adquiram uma nova função essencial: a de serem valorizáveis.
Teoricamente, todos os elementos de um produto deveriam poder circular
indefinidamente – ou pelo menos durante um período tão longo quanto possível –
nos sucessivos ciclos de utilização (PEREIRA, 2003; SMITH; WHITE, 2000 apud
KAZAZIAN, 2005, GONÇALVES-DIAS).
Moles (1994, apud ROCCO, 2013) nos permite discutir essa possibilidade a
partir do conceito de kitsch2. Conforme Moles (apud ROCCO, 2013), o kitsch se
tornou um termo universal correspondente a um estilo estético marcado pela
ausência de estilo, ligado, principalmente, ao supérfluo. O kitsch caracteriza-se,
também, pelos adornos decorativos inúteis, pela oposição à simplicidade e pelo
consumo. Pode ser entendido como um substituto da arte, caracterizado por um
sentimentalismo acentuado. O kitsch é o contrário da arte, e envolve objetos
transformados pelo homem, através da reprodução inadequada. Assim, define-se
kitsch como um objeto que sai do seu contexto e é inserido em outro, sendo a
2 A palavra kitsch surge em Munique, por volta de 1860, segundo Moles (1994). Conhecida em
alemão, à palavra kitschen quer dizer atravancar, transformar móveis velhos em novos.
26
mensagem proposta uma referência a uma obra original, e estimulando experiências
diversas (ROCCO, 2013).
O kitsch é o sistema estético da comunicação de massa, e abrange um
número de fatores que o determinam (MOLES apud ROCCO, 2013). O primeiro é o
empilhamento, ou fator frenesi, que, segundo Kielwagen (apud ROCCO, 2013)
poderia ser chamado, também, de princípio de acumulação.
Existem dois grandes períodos para o kitsch: o primeiro, ligado à ascensão da
sociedade burguesa; e o segundo período, chamado de neokitsch, que é o que se
vive atualmente, sendo considerada a fase do objeto sendo considerado como
produto. (MOLES apud ROCCO, 2013). O neokitsch inicia-se após a Segunda
Guerra Mundial, quando a sociedade para de produzir armamentos e começa a
produzir bens de consumo. Essa fase corresponde à era do supermercado ― é
quando os designers descobrem que o kitsch pode ser funcional quando ligado à
comunicação de massa.
27
3 EMBALAGEM, MARCAS E CONSUMIDOR
Precisamos entender onde surgiu a necessidade de serem criadas as marcas,
como o consumidor se relaciona com elas e como a marca e o consumidor
conversam através da embalagem.
Sabe-se que as marcas juntamente com designers e publicitários
desenvolvem embalagens que possuem a intenção de seduzir, para atrair assim,
com maior facilidade seu público-alvo.
Mas além do visual, existem outros fatores que podem ser explorados, como
as promoções, apelos emocionais e outras ferramentas estudadas pelo marketing,
design e publicidade. Entender algumas dessas práticas podem ajudar a entender
melhor o assunto abordado neste estudo.
3.1 UM NOVO CONSUMIDOR
As marcas vieram para identificar produtos manufaturados como doces,
bebidas, remédios e afins, que nas últimas décadas do século XIX correspondem a
quase metade do total de marcas existentes. Não se sabe ao certo quando surgiram
as primeiras marcas, já que podem-se considerar rótulos como marcas, e estes
acabam por desaparecer com tamanha rapidez com que são consumidos os
produtos que ajudaram a embalar. (CAVALCANTI; CHAGAS 2006).
Um case que pode ser citado é a evolução dos cigarros Pernambuco que
possuem registros que possibilitam datar sua evolução. Os rótulos e as embalagens
acabavam por constituírem-se em uma única peça de inicio, que envolviam e
amarravam 49 (quarenta e nove) cigarros. Porém, seu grande problema era que se
desfazia principalmente no transporte. Este problema só foi realmente resolvido
quando surgiram as caixas de papelão impressas (figura 7), conhecidas como
carteiras ou maços (CAVALCANTI; CHAGAS 2006).
28
Figura 6 - Cigarros amarrados por maços de 49 unidades
Fonte: Cavalcanti e Chagas (200, p. 34)
Figura 7 - Cigarros em caixas impressas
Fonte: Cavalcanti e Chagas (200, p. 34)
A produção em massa desenvolveu o marketing de massa e o consumidor
moderno. Se antes, os produtos eram vendidos a granel e as marcas nacionais eram
poucas, agora elas se desenvolveram e os produtos eram padronizados e
distribuídos nos mercados. “Pela primeira vez, empresas consagram enormes
orçamentos à publicidade; as somas investidas estão em aumento muito rápido”
(LIPOVETSKY, 2007, p. 29).
Esse processo de consumo iniciando pelos incentivos que o consumidor julga
importante, e que vão, de acordo com sua personalidade, ditar suas preferências.
Ainda, de acordo com as suas vivências, o consumidor desenvolve atitudes positivas
ou negativas em relação a produtos, estilos, marcas, etc. Dessa maneira, ele
procura por novas marcas, novas opções e novos modos de uso. Além desses
atributos pessoais, o meio social influencia e muito em todo comportamento de
29
consumo. Nesse meio, os grupos de referência (locais de convívio) do consumidor,
ajudam a ditar seu comportamento de acordo com os integrantes do grupo.
Por fim, ainda podemos elucidar que, de maneira social, a renda do
consumidor classifica-o dentro de classes sociais, porém isso não o restringe a um
comportamento, sendo necessário, cruzar essa informação a outros fatores, como
ao estilo de vida, como ele consome, lugares que frequenta, tendências de moda,
tecnologias que utiliza dentre outras. Tudo isso, o engloba em um padrão mais
amplo que é o cultural (KARSAKLIAN, 2004).
Para falarmos de abordagem de tendências do consumo, vamos nos deter
ao termo “atitudes” dentro do processo de comportamento do consumidor como
norte para este trabalho. De acordo com Karsaklian (2004, p. 73), “a análise das
atitudes e das preferências constitui um objeto de primeira necessidade para a
compreensão dos comportamentos de compra”. Todas as características do
processo são igualmente importantes, porém é em relação as suas decisões que o
consumidor reflete sobre as consequências de seu comportamento. E a conduta
de seu comportamento está intimamente relacionada às mudanças de paradigma
de consumo. Solomon (2002, p. 101) ainda define a atitude como “uma
predisposição para avaliar um objeto ou produto positiva ou negativamente”. E,
alinhando-se a causa, o marketing social vai se referir as mudanças das atitudes e
conduta dos consumidores de um modo que seja benéfico para a sociedade como
um todo.
Para uma avaliação mais clara é importante esclarecer e dividir os termos
comportamento e atitude. Karsaklian (2004, p. 76) aponta que “a atitude não é
observável e o comportamento sim”, o comportamento é uma ação em relação à
atitude que vem através de uma percepção, logo uma atitude positiva é
fundamental para criar um vínculo e um comportamento favorável, enquanto
atitudes negativas provavelmente engajam comportamentos de rejeição. Assim,
atitudes claramente indicam comportamentos.
Do ponto de vista mercadológico, é preciso compreender que existem três
tipos de decisão de compra, São elas:
Decisão rotineira ou habitual - o usuário está disposto a gastar o menor
tempo possível na compra de produtos sendo eles simples, baratos e conhecidos.
Decisão limitada - o usuário quer investir pouco tempo na compra de
produtos em que ele se envolve um pouco mais.
30
Decisão extensiva ou complexa - existe uma demanda maior de
investimento de tempo e envolvimento do usuário.
O processo de decisão de compra tem por base as fases de reconhecimento
da necessidade, busca de informações, avaliação de alternativas, compra, consumo,
avaliação de alternativa pós-compra e despojamento, fatores que examinaremos a
seguir:
Reconhecimento da necessidade: nessa etapa, a necessidade provoca o
indivíduo ao desejo de compra. É ela que o impulsiona e é por isso que a empresa
deve estudar o que leva o usuário a comprar determinado produto. A motivação gera
um desejo que vai motivar o consumidor a ir próxima etapa;
a. Busca de informações: aqui o consumidor busca maiores informações
sobre o que irá comprar. Ele passa a verificar as várias marcas de produtos
existentes que poderiam satisfazer às suas necessidades de compra. Por isso a
importância de a empresa ser conhecida no mercado.
b. Avaliação de alternativas: com base nas informações obtidas, o
consumidor pesa as alternativas e decide a compra. Nessa fase, as marcas são
comparadas.
c. Compra: o consumidor decide pela compra e também quando, onde e
como vai pagar.
d. Consumo: após a compra, o consumidor vai experimentar e consumir o
produto comprado.
e. Avaliação/comportamento pós-compra: nessa etapa, o consumidor
avalia o resultado da compra. Se a avaliação for positiva, ele poderá
desenvolver a fidelidade à marca e passará a influenciar pessoas ao seu
redor.
f. Despojamento: essa fase se dá quando o consumidor tem as opções
de descarte, reciclagem ou mesmo venda do produto no mercado de
usados.
Lipovetsky; Serroy, (2015) ainda dizem que hoje, os produtores dão mais
ênfase aos bens que são capazes de tocar a sensibilidade estética dos
consumidores; não propondo apenas produtos de que se necessita, mas também
produtos diferenciados de que se tem vontade, que agradam e fazem sonhar. O
capitalismo artista forjou uma economia emocional de sedução assim como um
31
consumidor louco por novidades permanentes.
Opções de descarte e reciclagem podem e são motivos para a escolha de
alguns clientes, ao avaliarem e tomarem consciência do produto a ser adquirido.
Nem todos os consumidores praticam a refunção, porém existe outra gama de
usuários que também está preocupada com o ciclo de vida e com o descarte certo,
seja do produto ou da embalagem.
3.2 O PAPEL DA EMBALAGEM PARA O CONSUMIDOR
Com a tripla invenção da marca, do acondicionamento e da publicidade,
temos o consumidor dos tempos modernos. Lipovetsky (2007, p. 30)
Ainda de acordo com Solomon (2002), informações sobre os usuários
facilitam as organizações a definir seu mercado de atuação e identificar os pontos
fracos e fortes para uma marca.
O grande crescimento do processo de sedução estética se manifesta também
através da invenção e da evolução das embalagens. No decorrer da produção das
novas máquinas de alta produtividade, os industriais começaram a embalar seus
produtos, em vez de vendê-los a granel como era a feito antes. Com isso, o
consumidor não pode mais avaliar os produtos apenas vendo-os diretamente,
tocando-os e provando-os, mas somente pela embalagem e a marca que nela se
fazem presentes: sucedeu ao acesso tátil e polissensorial um modo de avaliação
indireto, abstrato, imaginário dos bens de consumo.
Parte daí a exigência de cuidar do visual das embalagens (desenho, grafismo,
cor) a fim de chamar a atenção e o desejo dos consumidores utilizando as mais
diversas armas, seja forma, psicologia das cores e seus derivados estudos da
publicidade e marketing. Com o packaging3, os produtos de grande consumo não se
separam mais de uma dimensão de pequena teatralidade decorativa e sugestiva:
eles se tornam peças fundamentais de espetáculo do cotidiano. Impedindo o contato
físico com os produtos, a embalagem paradoxalmente, acentua o poder que eles
têm de estimular gostos permitindo, por meio dos jogos cenográficos, pôr em
3 Nome dado a embalagem e seu design.
32
movimento as projeções imaginárias e realizações de status do consumidor.
(LIPOVETSKY; SERROY, 2015).
Atualmente as embalagens que desempenham funções além de suas funções
básicas estão ganhando espaço, Segundo Anjos (2007), a embalagem também
pode servir para destacar um produto em relação aos seus concorrentes, em um
determinado ponto de venda, através da explicitação de algumas características
específicas constantes em sua conformação, como exemplos a autora fala da
possibilidade de reutilização ou nova utilização do seu recipiente.
Figura 8 - Embalagem colecionável, mesmo depois da utilização do conteúdo continuam no cotidiano do consumidor
Fonte: < http://tradeye.blogspot.com.br/2010/01/predilecta-oferece-copos-diferentes-em.html >. Acesso em: 30 novembro. 2017.
Atualmente as empresas investem pesado na comunicação de seus produtos
e até na própria embalagem, como: embalagens colecionáveis, edições especiais e
comemorativas. Porém, não é de hoje em dia que esse artifício é usado. Na virada
do século, já havia empresas que utilizavam desse mecanismo de diferenciação nas
embalagens de seus produtos. Cavalcanti; Chagas (2006) em seu livro sobre a
história da embalagem no Brasil cita algumas empresas que viam a utilização da
embalagem mesmo após o término de seu produto como um grande atrativo para os
consumidores.
Um exemplo citado são as latas dos biscoitos Duchen que começaram a
serem fabricadas em 1910. As latas, após o fim biscoitos, eram guardadas
33
cuidadosamente pelas donas de casa na despensa, acondicionando o que mais
conviesse. Hoje em dia podem ser encontradas para a venda na internet ou em
feiras como a de Lavrado no estado do Rio de Janeiro.
Figura 9 - Lata dos biscoitos Duchen
Fonte: < http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-831651449-lata-colecao-decorativa-biscoito-duchen-floresta-magica-_JM >. Acesso em: 30 novembro. 2017.
Cavalcanti; Chagas (2006) ainda citam outro exemplo; as latinhas das
pastilhas Valda, que após o seu uso os usuários, em sua grande maioria ia (e ainda
vai) guardar botões e alfinetes nas cestas das costureiras ou então nos armários de
ferramentas guardando porcas e parafusos.
3.3 MARCAS, EMBALAGEM E REFUNÇÕES
Uma marca pode ser classificada da seguinte maneira: “Marca é um nome,
termo, sinal, símbolo ou combinação dos mesmos, que tem o propósito de identificar
bens ou serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e diferenciá-los de
concorrentes” (KOTLER, 1998, p. 393).
Construir uma marca firme e forte é o objetivo almejado por muitas
organizações, porém é preciso compreender os processos que envolvem as atitudes
dos consumidores em relação à marca. Por este fato que é um dos focos de maiores
estudos do marketing. (NUNES; AYROSA, 2004).
34
As atitudes da marca são, segundo Keller (1993), a avaliação da mesma por
parte dos consumidores. Em relação a ela podem estar relacionadas a crenças
sobre os atributos e a funcionalidade e benefícios dos produtos.
O sucesso dos programas de marketing é um reflexo da criação de associação com a marca – ou seja, os consumidores que acreditarem que a marca possui atributos e benefícios que satisfarão suas necessidades e desejos formarão uma atitude positiva em relação à marca. (KELLER, 1993, p, 5).
Uma das características da marca é a chamada: imagem da marca. Segundo
Keller (1993), o retrato da marca é definido através de como a percepção que os
consumidores têm sobre uma marca reflete nas associações presentes na sua
memória. Essas ligações de marca podem estar relacionadas às características dos
produtos, aos benefícios ou as atitudes em relação à marca. Os atributos são os
fatores descritivos dos produtos e os benefícios são o que os consumidores pensam
em relação ao que o produto pode fazer por eles. Usuários podem escolher uma
marca pelo status que ela representa ou até mesmo por esta marca estar associada
a causas ambientais por exemplo.
Entender a motivação do consumidor em relação à marca tem sido o foco de
interesse de várias pesquisas de Marketing (MINIARD; BHATLA; ROSE, 1990;
LUTZ; MacKENZIE, 1983). A maioria dessas pesquisas vem tentando comprovar
que as intenções dos consumidores a um anúncio com relação à marca é mediada
pela atitude em relação ao próprio anúncio.
A embalagem que encontramos no mercado é fruto do trabalho de uma
extensa cadeia produtiva e da participação de especialistas de várias áreas que
precisam trabalhar juntos para chegar ao resultado final. (MESTRINER, 2002, p. 37)
A idealização e criação de uma embalagem consistem numa sequência de
atividades que permitirá ao trabalho ser realizado de forma consciente e organizada
a fim de se alcançar o melhor resultado.
Aliando as embalagens junto a refunção, também temos além do público
final, que é nosso alvo nesta pesquisa, empresas que utilizam da própria
embalagem para outro fim, como é o caso da AGCO.
Segundo Soares (2007), a empresa AGCO estabelecida no Brasil aderiu e
mantém procedimentos para monitorar e medir as características de seus
35
processos produtivos. São observados os resíduos sólidos gerando uma correta
destinação dos mesmos desde a geração dos resíduos até o seu fim, garantindo
assim diversos benefícios, sendo um deles a preservação ambiental (SOARES,
2007).
Um dos principais programas criados pela AGCO une a preocupação com o
meio ambiente e a preocupação social, sendo chamado de "Programa Reciclar
para o Social uma atitude que faz a diferença” (SOARES, 2007).
Segundo o autor o "Programa Reciclar para o Social" tem como o principal
objetivo a promoção do desenvolvimento da consciência ambiental junto aos
envolvidos e, além de tudo, a geração de renda para a comunidade carente. O
programa é baseado em um sistema de coleta seletiva que respeita o devido
armazenamento e a separação dos resíduos gerados na empresa, sendo feita
pelos próprios colaboradores.
Neste programa, além de todo o reaproveitamento da madeira das
embalagens que englobam a Gestão Ambiental e a Responsabilidade Social
dentro do contexto de Desenvolvimento Sustentável. As sobras das madeiras das
embalagens dos equipamentos agrícolas são enviadas para instituições que
busquem apoio na AGCO (SOARES, 2007).
Sendo assim, a preocupação da empresa AGCO em dar o destino correto a
sua embalagem, aliada a refunção, gera renda para pessoas que precisam deste
tipo de oportunidade.
Este é um case que pode e deve ser explorado por outras grandes
empresas, assim além do gerenciamento do material que seria descartado, pode-
se ainda gerar verba para pessoas mais necessitadas e ainda despertar na
comunidade um novo apreço pelo comportamento de refunção.
36
4 CONSUMIDOR X EMBALAGEM: A POSSIBILIDADE DA REFUNÇÃO
Neste capítulo abordaremos e examinaremos melhor o assunto abordado a
partir de grupos focais, realizados para firmar e concretizar o que foi encontrado no
estudo de observação. Através do cruzamento entre o estudo bibliográfico, a
observação e o grupo focal, poderemos firmar uma conclusão plausível e conclusa
em dados averiguados.
Buscamos através da pesquisa entender como se dá e como é feita a
refunção de embalagens, como o consumidor trata e dá vida a embalagem após seu
ciclo de vida teoricamente ter acabado Lembrando que o objetivo disto não é
categorizar definitivamente, mas sim, dar base a estudos futuros, e ser usado como
referência para o tema.
Abaixo temos alguns registros feitos na pesquisa de observação:
Figura 10 - Registro de refunção
Fonte: Acervo do autor
37
Figura 11 - Registro de refunção
Fonte: Acervo do autor
Estas são algumas fotos que ilustram o que são e podem ser feitas com
embalagens que normalmente vão para o lixo, temos como exemplo acima
recipientes forrados e utilizados como porta canetas e utensílios de desenho (figura
10) e caixas de cordas instrumentais guardadas como forma de coleção (figura 11).
Os donos detentores destas fotos as quais fui concedido do direito de utilizar estão
presentes no grupo focal abaixo e me disponibilizaram seu tempo e seu espaço,
assim como seu acervo de embalagens.
4.1 GRUPO FOCAL
Durante os dias 16 de outubro a 20 de outubro de 2017 nas propriedades da
UCS unidades de Caxias do Sul e Farroupilha, foram entrevistados o total de 14
(quatorze) pessoas cujo perfil é ligado por um traço: reutilizar embalagens. As
entrevistas foram conduzidas por um questionário de perguntas dividido em 3 (três)
blocos (ver APÊNDICE A). Os entrevistados serão representados no texto por letras
do alfabeto, sendo assim, preservaremos a opinião e privacidade dos mesmos. Os
entrevistados da pesquisa são:
38
Quadro 2 - Entrevistas em profundidade – dados essenciais
Entrevistado Idade Sexo Grau de Instrução Residência
A 20 anos
Masculino Ensino Superior em andamento
Caxias do Sul
B 54 anos
Feminino Ensino Médio completo Caxias do Sul
C 24 anos
Feminino Ensino Superior em andamento
Caxias do Sul
D 21 anos
Feminino Ensino Superior em andamento
Caxias dos Sul
E 35 anos
Masculino Ensino Médio Completo Caxias do Sul
F 26 anos
Feminino Ensino Superior em andamento
Caxias do Sul
G 22 anos
Masculino Ensino Superior em andamento
Caxias do Sul
H 24 anos
Feminino Ensino Superior em andamento
Caxias do Sul
I 33 anos
Masculino Ensino Superior Completo Farroupilha
J 21 anos
Feminino Ensino Superior em andamento
Farroupilha
K 22 anos
Feminino Ensino Superior em andamento
Farroupilha
L 42 anos
Feminino Ensino Médio Completo Farroupilha
M 38 anos
Feminino Ensino Superior Incompleto Farroupilha
N 20 anos
Masculino Ensino Superior em andamento
Farroupilha
Fonte: Informações organizadas pelo aluno com base nas entrevistas em profundidade apresentadas (informação verbal).
Como pode ser visto na tabela anterior, oito de quatorze entrevistados são
residentes de Caxias do Sul, sendo os demais residentes em Farroupilha (cidade
vizinha a Caxias do Sul). Percebe-se ainda que, nove dos quatorze entrevistados
estão cursando ensino superior, seguidos de um que possui o ensino superior
completo e três que possuem apenas o ensino médio completo, sobrando ao fim,
uma pessoa que iniciou, mas não finalizou e não está cursando o ensino superior no
momento. Notou-se como dado relevante de pesquisa, que dos quatorze
entrevistados nove deles são mulheres, demonstrando que o sexo feminino possui
uma tendência maior a explorar a embalagem como um “produto”.
39
Para o decorrer da entrevista agrupamos as perguntas em três blocos que
possuíam diferentes abordagens sobre o tema e também foi mostrada aos
entrevistados uma pequena apresentação com as classes descobertas na
observação. Assim, cada um poderia avaliar em qual classe se encaixaria melhor,
não sendo necessário escolher apenas uma classe.
4.1.1 Consumo X Embalagem
A primeira unidade de abordagem foi denominada Consumo x Embalagem
que tinha como objetivo indagar aos entrevistados sobre a relação deles com a
embalagem. As perguntas seguiam o seguinte roteiro: Costuma comprar algum
produto apenas pela embalagem, quais os tipos de produtos costumavam consumir,
se sabiam o porquê de reaproveitarem a embalagem, dentre outras que tinham
como objetivo entender melhor a relação do consumidor com o produto investigado.
As respostas nos mostraram que, dos quatorze entrevistados, nove compram
produtos por serem influenciados com a embalagem.
O entrevistado A é músico. Trabalha dando aulas particulares sobre
instrumentos musicais, enquadra-se em nas categorias Utilitarista (quando utiliza a
embalagem para outros fins mesmo sem modifica-la) e Colecionador. Segundo ele o
design e a possibilidade de usos posteriores são importantes:
Sim, acho que uma boa embalagem é um dos fatores na hora da compra do produto. Muitas vezes a estética e a funcionalidade da embalagem conseguem ser tão relevantes a ponto de me despertarem o desejo de compra. (Entrevistado A, 20 anos).
A entrevistada C é estudante e também se encaixa na categoria Utilitarista.
Ela concorda com a resposta de A e segundo C, algumas marcas já possuem o
propósito de atrair o consumidor pela estética e se aproveitam disso para vender o
produto:
Isso acontece principalmente quando vou ao mercado e vejo nas prateleiras as embalagens, me dá vontade de comprar mesmo que eu não vá comer ou usar. Algumas embalagens parecem já vir com esse proposito de serem utilizadas após o consumo. Eu pelo menos sempre consigo achar alguma função posterior. (Entrevistada C, 24 anos).
40
A entrevistada B é dona de casa, classificada como Utilitarista, nos revela
quais são as embalagens que mais costuma consumir, para ela reutilizar
embalagens é algo normal e que faz parte de seu cotidiano, sempre achando uma
utilidade antes de pensar em por fora:
Normalmente as embalagens que costumo consumir são caixinhas ou algumas embalagens plásticas. Elas são ótimas para armazenar outras coisas que muitas vezes temos que guardar e não temos onde. Na verdade faço isso intuitivamente. (Entrevistada B, 54 anos).
A entrevistada D é vendedora em uma loja de roupas de uma grande
companhia, concorda que pode ser classifica tanto na categoria Utilitarista quanto na
de Customizadora, ela complementa a resposta dada acima com os seguintes
dizeres:
Costumo reutilizar produtos que tenham copo de vidro ou recipientes que venham com tampa e que possam ser reaproveitados. Garrafas Pet também são exemplos, tanto para guardar líquidos ou para serem cortadas e trabalhadas. (Entrevistada D, 21 anos).
O entrevistado E é metalúrgico classificado na categoria Colecionador, nos
contou que não pagaria um valor mais alto em um produto apenas pela embalagem.
Segundo ele o valor que está disposto a pagar é referente ao produto que será
consumido, e se a embalagem vir como um suporte bacana, ele aproveita e não por
ela já ser esteticamente bonita:
O valor para mim importaria sim, quando vou comprar algo sempre vejo pelo lado do produto. Se a embalagem me agradar, ótimo, caso contrário não fará diferença na decisão de compra. (Entrevistado E, 35 anos).
Porém está foi uma das perguntas que dividiram opiniões, basicamente,
metade pensa como o entrevistado E, o que não é o caso do entrevistado G e do
outro restante. G é estudante de moda e trabalha em um atelier, classificado na
categoria Customizador. Para ele a embalagem pode elevar o custo de um produto e
no seu ponto de vista o chamaria a atenção para efetuar a compra:
Tento sempre pôr na balança, o custo e o benefício da compra, e se a qualidade e forma da embalagem estiverem relacionadas a o produto, não vejo problema em pagar mais por isso, afinal, também estarei me beneficiando disto. (Entrevistado G, 22 anos).
41
Só me importaria no caso do valor ser muito exorbitante e passar do valor do próprio produto, caso contrário, acho necessário e de acordo o valor ser um pouco mais alto. Sabemos que o valor difere para produzir uma embalagem dependendo do material usado e de seu formato, acho justo pagar por isso se for algo que realmente valha a pena. (Entrevistada C, 24 anos).
Podemos assim notar que no primeiro bloco, os entrevistados em sua maioria
admitem ser influenciados pelo apelo estético da embalagem e que esse fator pode
pesar na hora da compra. Também pode ser visto que são inúmeras as embalagens
que sofrem uma refunção, tudo depende como o consumidor envolvido dá vida
àquele objeto. Em suma os entrevistados não pagariam um valor muito mais alto
apenas pela embalagem, porém em grande escala, quando questionados
concordam que se considerarem o valor justo quando visto na prateleira ao lado dos
concorrentes podem sim optar pelo valor da embalagem ao invés de apenas seu
valor em reais.
4.1.2 Embalagem e Refunção
A segunda unidade de abordagem foi chamada de Embalagem e Refunção
que tinha como objetivo questionar os entrevistados sobre a relação deles com
outras pessoas que praticam a refunção em embalagens. Também neste bloco foi
possível compreender um pouco melhor quando foi que os entrevistados
começaram a desenvolver o hábito de reusar as embalagens para outros fins, se já
sabem o que vão fazer com a embalagem na hora de comprar o produto ou se o
desejo aparece depois, e ainda atentamos para a opinião deles em relação ao
comportamento de marcas e costumes de outrem em relação ao tema abordado.
Questionados, as respostas nos mostraram que, dos quatorze entrevistados,
doze conhecem e tem pessoas próximas que também possuem os mesmos
costumes em relação a refunção, um número relativamente grande e que pode ser
avaliado um sinal de que este hábito seja passado de pessoas para outras
dependendo o grau de convivência.
A entrevistada F é atendimento em uma agência de publicidade e se
enquadra na categoria Colecionador. F nos conta que sua mãe foi quem a
influenciou ainda quando criança a ter certo apreço por embalagens
42
Sim, aprendi a reutilizar certas embalagens com a minha mãe, quando eu era menor ela sempre achava alguma utilidade para qualquer embalagem. Cresci e acabei tento esse comportamento como comum e normal. Coleciono principalmente frascos de perfumes, principalmente os mais detalhados ou com adereços. (Entrevistada F, 26 anos).
Meu pai colecionava “caixas de fósforo”, cresci o vendo guardar diversas caixinhas com diferentes “desenhos” e acabei adquirindo o mesmo costume de colecionar. (Entrevistado E, 35 anos).
Questionado, o entrevistado I que é professor de informática em uma escola
particular e se enquadra na categoria Utilitarista, responde que é muito raro comprar
um produto pensando em usar sua embalagem. Por mais que ele saiba que
provavelmente vá utilizar, não acha que seja um fator determinante. Para ele,
existem outros fatores na hora da compra:
Normalmente imagino só no momento em encerro o uso do produto, quando saio para comprar algo, é porque realmente preciso do produto e não apenas da embalagem, como meu caso não é colecionar nem nada do tipo eu acabo não levando em conta a embalagem na hora da compra e sim acabo achando uma utilização para ela depois. (Entrevistado I, 33 anos). Confesso que não saio de casa pensando em comprar um produto pela embalagem, porém, quando chego ao mercado ou em alguma outra loja e encontro uma embalagem particularmente interessante, é normal eu pegar na mão, verificar de perto e sentir o desejo de compra. Nesse momento eu já começo a imaginar o que eu posso fazer com a embalagem. Dentre outras formas, como coleciono caixas de cordas para aparelhos musicais, sempre que tenho a oportunidade de pegar uma embalagem diferente da que eu já tenho em casa (desenho/cor/modelo), eu opto por esta. (Entrevistado A, 20 anos). Não, longe disso. É meio difícil eu pensar no momento da compra nessas questões, porém, eu sempre guardo para quando for necessário. A gente nunca sabe quando vai precisar guardar algo pequeno ou alguma coisa que não tenha um recipiente. (Entrevistada B, 54 anos).
Ao final do segundo bloco, a entrevistada H que é estudante e se enquadra
na categoria Lúdico, nos revela que acha sim que as marcas utilizam deste fato e
que vão utilizar ainda mais futuramente. Em relação ao comportamento de outras
pessoas acha que seja possível um número maior de pessoas se envolverem com a
embalagem, afinal, vivemos uma era onde o meio ambiente está em pauta:
Sim, é muito válido que as marcas tenham essa preocupação, pois pode acabar se tornando um grande diferencial para elas. Muitas empresas já fazem produtos que possuem embalagens lúdicas, basta pegar uma revista
43
ou navegar nas redes sociais que é possível encontrar embalagens que são feitas exclusivamente pra você manipular e utilizar depois. Em relação ao comportamento das pessoas, acho válido o aumento deste comportamento, além das marcas estarem fazendo isto ficar mais escancarado, acho que o meio ambiente começará a falar mais alto na vida dos mais jovens e esse hábito pode começar a se popularizar com o tempo. (Entrevistada H, 24 anos). Sim, hoje em dia algumas pautas estão bem em alta e uma delas é o meio ambiente e como o lixo destrói. Acredito que muitas marcas vão acabar pensando ou já estão pensando sobre a reutilização das embalagens. Sobre o comportamento do consumidor espero estar certo, acredito que vai demorar um pouco ainda, mas é a saída sustentável para a produção descontrolada de lixo que nós temos na atualidade. (Entrevistado A, 20 anos).
Ao final da segunda unidade de abordagem podemos tirar algumas
conclusões importantes. A grande maioria dos entrevistos conhecem ou convivem
com pessoas que também praticam a refunção. Sendo assim podemos deduzir que
este comportamento pode ser adquirido por outrem caso o mesmo se solidarize com
o ato.
A respeito da compra, se já consideram ao sair de casa o que fazem com a
embalagem em sua maioria disse que não, tirando ressalvas de pessoas que
colecionam a embalagem, sendo assim, estes entrevistados afirmam que: “não
saem de casa pensando em comprar pela embalagem, mas se no decorrer das
prateleiras avistarem um produto que pode agregar a coleção, os mesmos
efetuaram a compra já sabem o destino final da embalagem”.
Por fim do bloco, todos concordam massivamente que as marcas podem e
vão se apropriar disto num futuro próximo e irão se aprimorar no quesito
embalagem. A respeito do comportamento do consumidor, maior parte conclui que
pode haver uma mudança sim nos hábitos e que a utilização e refunção de
embalagens pode se tornar comum, até mesmo por serem influenciadas pelas
marcas que se adequarem a este método.
4.1.3 Categorização no uso de embalagens: Possibilidades
Na última unidade de abordagem que foi classificada como Categorização no
uso de embalagens: possibilidades, entramos mais a fundo no tema da pesquisa
44
com os entrevistados. Nesta parte do grupo focal as perguntas foram diretamente
direcionadas as categorias que foram criadas a partir da observação, assim o bloco
se torna mais especifico e mais aprofundado.
Nesta etapa as perguntas giraram em torno de que tipo de alteração os
entrevistados fazem nas suas embalagens, se os mesmos costumavam colecionar
alguma embalagem e por que, qual a opinião deles no fato da embalagem acabar
virando um produto e se eles já haviam pensado desta forma e por fim se
costumavam guardar embalagens para repassar a outrem, inclusive crianças.
Quando questionados, os entrevistados automaticamente começaram a
comentar o que faziam com a embalagem.
Quadro 3 - Entrevistas em profundidade – Relações dos entrevistados com as embalagens
Entrevistado A Utilitarista e Colecionador
Entrevistado B Utilitarista
Entrevistado C Utilitarista
Entrevistado D Utilitarista e Customizador
Entrevistado E Colecionador
Entrevistado F Colecionador
Entrevistado G Customizador
Entrevistado H Lúdico
Entrevistado I Utilitarista
Entrevistado J Customizador
Entrevistado K Utilitarista
Entrevistado L Customizador
Entrevistado M Lúdico
Entrevistado N Utilitarista
Na primeira pergunta desta última unidade, referente a que tipo de
customização costumavam fazer, a entrevistada J que é secretária em um
consultório de dentistas e se enquadra na categoria Customizador, (como visto no
quadro acima), Comenta que costuma acrescentar outros materiais a embalagem
para deixar com a cara dela, não poupando esforços até a embalagem combinar
com os outros artefatos que possui no quarto:
Normalmente eu forro as caixinhas com alguma imagem que eu goste muito, tecido ou até mesmo desenho nela, assim eu posso colocar coisas dentro e deixar a embalagem com a “minha cara”. Sempre tento deixar a
45
embalagem conversando com os demais objetos do meu quarto, é muito difícil eu deixa-la como veio do mercado. (Entrevistada J, 21 anos).
A entrevistada L, que é costureira e também se enquadra na categoria
Customizadora, complementa respondendo:
Eu as faço ficarem do jeito que preciso, dependendo do caso eu corto, colo e furo. Não meço esforços para adequar ao que eu preciso. Tenho a imaginação bem criativa quando tenho o material na mão. (Entrevistada L, 42 anos).
Quando questionados do motivo que os levavam a colecionar embalagens o
entrevistado A respondeu de imediato que o fator além de estético é a lembrança e o
sentimento que aquele objeto passa:
Acaba funcionando como uma boa lembrança de um costume que mantive por determinado período e também me desperta a lembrança de um sentimento bom de algo que eu gosto. Como coleciono caixas com estampas e cores diferentes e elas estão ligadas a uma das minhas paixões, a música, acabam me passando o mesmo sentimento que a música me traz, felicidade. (Entrevistado A, 20 anos).
Ao ser indagada pela pergunta da embalagem acabar se tornando um
produto, a entrevistada K que é gerente em uma loja de um shopping de atacado e
se encaixa na categoria Utilitarista, fala abertamente que as vezes pensa em ser
acumuladora, pois sempre guarda muita coisa sendo uma delas embalagens:
Às vezes penso que sou acumuladora. Acabo achando algo muito bonito e fico pensando que teve alguém por trás fazendo aquilo por muito tempo e que muita gente acaba não dando o real valor para isso. E é obvio, tirando o fato de reutilizar em algo futuro. No fim acabo achando uma função para a embalagem e o “peso” na consciência diminui. (Entrevistada K, 22 anos).
O entrevistado N que é funcionário público e também enquadrado na
categoria Utilitarista, complementa os dizeres de K falando que acha interessante se
beneficiar de algo que teoricamente viraria lixo e que leva o ditado “querer sair
sempre ganhando” ao pé da letra:
Eu acho muito interessante me beneficiar de algo que não seria para ser reutilizado. Se eu tenho a ganhar com o uso da embalagem depois não vejo nada contra, inclusive sou bem a favor como diz o ditado “quero sair sempre ganhando”. (Entrevistado N, 20 anos).
46
Na última pergunta, que se retinha para quem se enquadrava na categoria
Lúdico, a entrevistada M que trabalha na cozinha de um restaurante e se enquadra
na categoria comentada anteriormente, nos fala que costuma comprar produtos da
revista Natura para seu filho e que normalmente os produtos vem com a embalagem
para colorir ou destacar:
Normalmente compro coisas pra mim na revista Natura e por estar folhando acabo vendo coisas para meu filho também, as primeiras vezes comprei pelo produto mesmo, porém com o tempo, meu filho foi me pedindo para comprar os produtos, pois gosta de colorir as embalagens. No fim das contas eu compro esse tipo de embalagem para meu filho brincar e pelo valor acessível. (Entrevistada M, 38 anos).
Ao final deste terceiro e último bloco foi possível verificar e comprovar alguns
dos aspectos que haviam entrado em questão prévia através da pesquisa de
observação. Ao fim vemos que são feitas as mais diversas práticas de reuso, e que
as mesmas acontecem de inúmeras formas e maneiras. Cada entrevistado foi único,
mesmo compartilhando a mesma categoria, sempre havia um detalhe ou uma
particularidade singular em respeito ao processo. O que nos faz crer que a refunção
além de tudo acaba tornando-se um reflexo do que o seu criador é, e acaba também
sendo levando em questão a relação e grupo social e a cultura em que o consumidor
final está inserido.
4.2 CATEGORIZAÇÃO
Ao iniciar esta pesquisa alguns métodos de estudo e análises foram feitos
ainda no inicio, sendo um dos métodos escolhidos a observação. Com ela foi
possível observar as mais diversas e inusitadas situações em que a embalagem é
inserida após o fim do produto, acabando assim, por perder o papel apenas de
embalagem e tornando-se uma nova peça e a um novo objeto com total outro
sentido ao qual seu original.
Essas categorias criadas na observação levam em conta também o auxílio da
pesquisa bibliográfica e ao final desta pesquisa, o apoio e concretização com o
grupo focal.
Maranhão (1988, apud ROCCO, 2013) define o kitsch como um substituto da
arte, caracterizado por um sentimentalismo acentuado e açucaradamente
47
deformado. Para o autor, o kitsch é o contrário da arte, são objetos transformados
pelo homem, através da reprodução inadequada.
Assim, define-se kitsch como um objeto que sai do seu contexto e é inserido
em outro, sendo a mensagem proposta a uma referência de obra original e
estimulando experiências diversas (ROCCO, 2013).
O grupo focal permitiu confrontar os novos usos das embalagens e a
possibilidade de organização de categorias. Além disso, foi possível entender o
comportando e o que leva alguém a realizar a refunção.
A seguir apresentamos as categorias, com uma breve explanação a respeito
das mesmas.
Colecionável: Podem ou não conter uma “linha de produtos” que fazem com
que ele se diferencie em grande escala. Podem durar por muito tempo ou serem
produzidas por tempo limitado, e ainda serem propositais para este fim ou não.
Figura 12 - Coleção de latas de cerveja
Fonte: Acervo do autor
Customizado: Embalagem que sofrem alteração na mão do consumidor.
Algo similar ao artesanato, mas nem sempre com intuito de ser comercializado.
Normalmente as embalagens que se enquadram nesta categoria são cortadas,
coladas e perdem sua característica prévia e acabam por se tornar um reflexo do
consumidor.
48
Figura 13 - Pet costumizada
Fonte: < http://ftpormim.blogspot.com.br/2013/12/embalagens-de-presentes-customizadas.html >. Acesso em: 30 novembro. 2017.
Lúdica: Embalagem que pedem a participação do consumidor para ser
finalizada. Normalmente as mesmas são feitas para o público infantil e a atitude
parte inicialmente do projeto do designer juntamente com a marca idealizadora.
Figura 14 - Embalagem Nestlé para colorir
Fonte: Acervo do autor.
Utilitária: Embalagem que acaba virando objeto de uso no cotidiano do
consumidor, algo útil, como por exemplo, um pequeno móvel para sua casa.
Costumam fugir totalmente de sua função original e muitas das vezes não possuem
tratamento ou manipulação alguma para ocuparem o espaço que estão ocupando.
49
Figura 15 - Caixas de feira sendo usadas como prateleira
Fonte: Acervo do autor.
Embalagem/Produto: Embalagem que acaba virando parte do produto. Esta
também é uma opção que já vem pensada pelo designer do projeto juntamente com
a marca idealizadora. Porém, a embalagem possui um aspecto unificado, sendo
embalagem com características da mesma, porém faz parte do produto, assim
trazendo características diferentes das ditas anteriormente.
Figura 16 - Lustre que tem sua embalagem também como suporte e caixa de Redbull que vira óculos de realidade aumentada para celular.
Fonte: < http://lovelypackage.com/not-a-box/ > e < https://abir.org.br/red-bull-lanca-embalagem-que-vira-oculos-de-realidade-virtual/ >. Acesso em: 30 novembro. 2017.
Como dito anteriormente, estas categorias foram encontradas através da
observação, auxiliado por referencial teórico e confirmação a partir do grupo focal,
buscando desse modo organizar o olhar do pesquisador para a questão da
embalagem e suas possibilidades de refunção no dia a dia do consumidor.
50
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As embalagens evoluíram desde sua criação e apresentam todos os dias
novas possibilidades e formas de serem construídas. Logo, tudo que foi visto nos
relata todo o processo e organização que esta passa para chegar até o consumidor
final. Nesse estudo abordamos o assunto de reuso/refunção das embalagens na
contemporaneidade com um viés que se fez observador do passado e presente para
entender o motivo e as propriedades que isto tem.
Para abordar o tema de maneira que tivéssemos mais assertividade, foi
aplicado grupo focal para que fossem confirmadas, ou não, as classes que foram
encontradas na observação pelo pesquisador.
Esse estudo propôs responder a seguinte pergunta: Como uma embalagem
pode adquirir novos usos e significados para o consumidor, a partir do
conceito de refunção?
A partir disto, o objetivo geral da pesquisa era estudar como uma embalagem
ganha vida através da refunção dada pelo consumidor, adquirindo novos usos e
significados, estabelecendo assim a comunicação da embalagem com o consumidor
final e, além disso, envolver seu comportamento perante a proposta. Iniciada essa
etapa durante um período através de diversas fontes bibliográficas e observações,
assim pode-se verificar e alcançar o objetivo geral. Pode-se perceber que são
diversos os motivos que levam o consumidor a praticar a refunção, cada um
trazendo sua particularidade e se enquadrando dentro de uma ou mais classificação.
Normalmente influenciado por outra pessoa próxima. Os usos e significados também
dependem de como o usuário está inserido na sociedade e a sua questão cultural.
Propusemos nos objetivos específicos abordar o conceito de embalagem,
estabelecendo relações com estudos na área de significação, entender a motivação
do consumidor em transformar a embalagem e lhe dar outro significado, desvendar
os reflexos de modificação da embalagem pelo consumidor nas questões
ambientais, que foram atingidos através da observação e dos grupos focais.
Vemos a relevância deste trabalho devido ao seu objeto de estudo, que,
primeiramente, analisou o comportamento do consumidor perante a sociedade e o
consumo. Analisando o comportamento do consumidor entende-se e é aprimorado o
que pode ser aprimorado, facilitando a busca por soluções e preparando-se para no
futuro utilizar deste comportamento tanto para o beneficio da marca e das empresas,
51
quanto também pelo viés do meio ambiente. Quando este assunto foi proposto o
primeiro intuito foi entender o motivo que teoricamente “lixo” tornava-se a ser
produto, querendo entender até que lado isso seria bom para as mais diversas
partes, sendo elas o próprio consumidor, a marca e o meio ambiente. Atualmente o
espaço a conscientização ambiental é grande e ganha cada vez mais relevância.
Concluímos que existem, portanto, comportamentos diversos que foram
observadas e estão categorizados atualmente em 5 (cinco) categorias, porém o
mesmo comportamento só foi encontrado em pessoas que conhecem ou vivenciam
com outras pessoas que também possuem o mesmo hábito. Para que tenhamos
mais pessoas com este “costume” e demonstrando uma atitude similar perante a ao
reuso, será necessário que o assunto ganhe maior visibilidade tento pelas marcas
quanto pelos designers que farão os projetos, fazendo assim a ser difundido cada
vez, para que consequentemente atinja um maior número de pessoas, beneficiando
assim principalmente o meio-ambiente.
Em termos gerais, é ressaltada que como característica de estudo de viés
exploratório, este tema poderá abrir espaço para novas possibilidades e diferentes
abordagens, não sendo uma concretização e também de forma alguma encerrando
as possibilidades a respeito desse assunto.
52
REFERÊNCIAS
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53
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54
APÊNDICE A
ROTEIRO- PESQUISA QUALITATIVA
Unidade 1- AQUECIMENTO
1. Apresentação dos participantes: nome, idade, onde mora.
Unidade 2- CONSUMO x EMBALAGEM
1. Você costuma comprar algum produto apenas pela embalagem do mesmo? 2. Que tipos de produtos/embalagens você costuma consumir? 3. Sabe dizer porque dá importância à embalagem e não a descarta, em certos
casos? 4. Não se importa de pagar mais caro ao consumir determinado produto, apenas
por causa de sua embalagem? 5. Qual motivo o leva a reutilizar uma embalagem?
Unidade 2- EMBALAGEM E REFUNÇÃO
1. Conhece outras pessoas que de alguma forma dão uma nova função à certas embalagens?
2. Quando começou a sentir necessidade/ vontade de reutilizar uma embalagem, após o uso do produto?
3. Quando você compra um produto, você já sabe/ imagina o que vai fazer com a embalagem?
4. Vê este tipo de comportamento como algo que pode tornar-se comum para muitas pessoas?
5. Acha que as marcas podem aproveitar-se deste comportamento- a reutilização das embalagens, num futuro?
Unidade 3- CATEGORIZAÇÃO NO USO DE EMBALAGENS: POSSIBILIDADES
1. Que tipo de alteração você costuma fazer nas embalagens que reutiliza?
2. Você costuma colecionar embalagens? Por quê?
3. O que você acha da ideia de uma embalagem que se transforma no próprio produto a ser consumido? Esse produto seria confiável?
4. Possui o hábito de guardar embalagens para repassar para outras pessoas? Crianças por exemplo?
55
APÊNDICE B
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA
LUIZ NUNES DOS SANTOS JUNIOR
EMBALAGEM E SEUS NOVOS USOS PELO CONSUMIDOR: UM ESTUDO
SOBRE REFUNÇÃO
Caxias do Sul 2017
56
1. INTRODUÇÃO
Nos anos 1000 a.C os egípcios já embalavam seus remédios em frascos de
bambu com rótulos. Com o rápido progresso da sociedade e de certa forma de seu
estado econômico, o consumidor acabou mostrando suas preferências e
exigências por um produto melhor e com um “diferencial”, foi assim que o aumento e
a importância da embalagem foi ganhando destaque, tanto para o fabricante quanto
para o consumidor final.
Ao longo do tempo a embalagem deixou de ser apenas um invólucro que
facilitava o transporte de mercadorias, e tornou-se um fator de influência e decisão
no momento de compra dos consumidores.
Hoje em dia mais do que nunca, embalagens viraram muito mais do que o
um detalhe e proteção de um produto. Representam características, sendo elas:
culturais, econômicas, sociais dentre outras, conforme o contexto onde estão
inseridas. Podem por meio de seu design, superar ou frustrar as expectativas dos
indivíduos. São peças fundamentais nas relações comerciais e culturais durante
todo o ciclo de vida de produtos e serviços. Não se trata apenas de uma criação
artística, torna-se o vínculo definitivo com o consumidor final, carregando a imagem
das empresas e marcas.
Parafraseando Lucy Niemeyer (2003) que fala em seu livro “Elementos da
semiótica aplicados ao design”, sobre dimensões pragmáticas: inclui-se todo um
ciclo de vida desde a sala de projeto do designer até a lixeira. Porém o que se
questiona aqui, para as embalagens é: seu caminho torna-se um pouco mais
“longo” e diferenciado? Não é difícil encontrar latas que outrora já foram
embalagens sendo utilizadas como porta canetas por exemplo.
57
Figura 1 – Reutilização de embalagem Pringles
Fonte: http://artesdamanabr.blogspot.com.br/2011/12/reciclagem.html. Acesso em 30 jun. 2017
A vida útil das embalagens tem mudado e muito por influência do
consumidor?
Podemos levar em conta um modelo comunicacional para entender? O ciclo
após a chegada ao receptor obtém novas possibilidades? De que forma a marca
pode induzir nessa possibilidade de apropriação de uma embalagem? Temos o
caso da Natura, que tem feito isso com alguns de seus produtos. A embalagem
precisa ter um fim após o uso principal, ou pode acabar tornando-se um produto
secundário por assim dizer?
Figura 2 – Possibilidade de uso de embalagem Natura
Fonte: Revista Natura - Ciclo 3 (2017)
58
Seria esse processo dependente do perfil do consumidor? São muitas as
questões abertas a partir da discussão da embalagem e seus usos pelo
consumidor. O desenvolvimento da futura monografia tem base em como uma
embalagem ganha espaço na vida do consumidor durante o seu uso, adquirindo
novos usos e significados.
PALAVRAS-CHAVE: Embalagem, Consumidor, Significado.
59
2. TEMA
Os usos da embalagem pelo consumidor.
2.1 Delimitações do tema
A apropriação da embalagem pelo consumidor no seu dia a dia, trazendo
novos usos e significados para a mesma.
60
3. JUSTIFICATIVA
O interesse pelo design somado às novas formas que estão sendo
trabalhadas as embalagens foi de onde surge nossa proposta, aliando dois assuntos
com a possibilidade de transformá-los em pesquisa. Nada melhor que aprofundar
questão de gosto pessoal e explorá-los para melhor entendimento. O design cada
vez mais faz parte da vida desse aluno. A inexperiência em embalagens e sua
comunicação o fizeram decidir por estudar os dois assuntos juntos, universos tão
amplos que merecem uma abordagem de caráter monográfico como tema.
A futura pesquisa apresentará como tema usos da embalagem pelo
consumidor e como a mesma pode ser trabalhada e ressignificada em suas mãos
nas mãos. Temos muito a desenvolver sobre este tema, principalmente porque não
temos muitos estudos sobre o assunto, e também porque devemos prestar atenção
no que está acontecendo as marcas após serem adquiridas por seu público final.
Esta pesquisa poderá contribuir em descobertas pouco tratadas
anteriormente na área. Trará consigo os impactos que a marca sofre após ter a
embalagem modificada e presente na vida de seu consumidor. Pretende abordar os
benefícios e malefícios que esta prática pode trazer a uma marca e como ela pode
fazer disto uma escolha e projetos futuros para outros produtos.
Outro ponto que justifica uma pesquisa sobre o assunto são as questões
ambientais. De que forma essa prática pode contribuir para um melhor
aproveitamento de materiais, que antes eram descartados, e hoje em dia se fazem
cada vez mais presente em nossas casas? Surge uma nova maneira de consumir
conscientemente e de dar vida própria a objetos antes descartáveis? Quais os
reflexos disso para a nossa geração que se preocupa com a questão do meio
ambiente?
Uma pesquisa mais aprofundada também poderá revelar qual é a motivação
que leva o consumidor final a transformar a embalagem de um produto em um
objeto secundário, mas significativo. De onde surge a necessidade de tomar para si
algo que não foi planejado, para seguir uma vida útil diferente de seu projeto inicial?
Como o consumidor explora esta embalagem e até que ponto isto é viável?
61
A partir de algumas descobertas podemos também analisar com este estudo,
a economia que as marcas podem movimentar com produtos que já venham em
embalagens contendo segundas funcionalidades. A Natura vem trazendo isto vivo
em seus novos produtos atingindo tanto o público infantil quanto ao adulto.
A proposta desta pesquisa se dá por diversas questões que serão
respondidas ao longo do desenvolvimento do futuro trabalho. O design e a
embalagem estão lado a lado, e de forma cada vez mais criativa.
62
4. QUESTÃO NORTEADORA
De que forma uma embalagem é modificada pelo consumidor, adquirindo novos
usos e significados?
63
5. OBJETIVOS
5.1 Objetivo geral
Estudar como uma embalagem ganha vida através da refunção dada pelo
consumidor, adquirindo novos usos e significados?
5.2 Objetivos específicos
Abordar o conceito de embalagem, estabelecendo relações com estudos na área de
significação.
Entender a motivação do consumidor em transformar a embalagem e lhe dar outro
significado.
Desvendar os reflexos de modificação da embalagem pelo consumidor nas questões
ambientais.
64
6. METODOLOGIA
Para entendermos a metodologia aplicada na futura pesquisa, traremos
teorias dos autores Robert K. Yin, na obra Estudo de caso: planejamento e métodos
(2005), Silvio Luiz de Oliveira, em Tratado de metodologia científica (1999) e Marina
de Andrade Marconi e Eva Maria Lakatos, em Técnicas de Pesquisa (2006).
A pesquisa trabalhará com fontes primárias e secundárias, e possui viés
exploratório que segundo Marconi e Lakatos, possibilita enfatizar a descoberta de
ideias e discernimentos. Segundo Vieira (2002), a pesquisa exploratória tende
proporcionar ao pesquisador uma maior compreensão com o problema em estudo.
Este esforço tem como meta tornar um problema complexo mais explícito. Para
MALHOTRA (2001), o objetivo principal é possibilitar a familiarização do problema
enfrentado pelo pesquisador. A pesquisa exploratória é usada em casos nos quais é
necessário definir o problema com maior precisão e identificar cursos relevantes de
ação ou obter dados adicionais antes que se possa desenvolver uma abordagem.
Como o nome já diz, a pesquisa exploratória procura explorar um problema ou uma
situação para prover critérios e compreensão. A pesquisa exploratória utiliza
métodos bastante amplos e versáteis sendo utilizados neste trabalho a pesquisa
bibliográfica, observações e o grupo focal. Este estudo trata-se de um trabalho
qualitativo, uma vez que não possui pretensão de numerar ou medir unidades e sim
compreender e descrever complexidades relacionadas ao problema contribuindo no
processo de entendimento do assunto.
A fim de alcançar os objetivos, as técnicas utilizadas serão:
d) Pesquisa bibliográfica;
e) Observações;
f) Grupo focal.
Iremos nos apropriar da Pesquisa Bibliográfica para edificar o trabalho. Ela
dará aporte para os demais estudos, assim como subsídio para o capítulo 2, capítulo
3 e capítulo 4. De acordo com Stumpf (2005, p.51) “a pesquisa bibliográfica se
caracteriza pelo planejamento global do trabalho de pesquisa”. A autora
complementa que na maioria das vezes são requeridas informações bibliográficas
secundárias, extraídas de bibliografias especializadas, índices com resumo, portais,
65
resumos de teses e dissertações, catálogos de bibliotecas e catálogos de editoras.
(ZATTERA, 2016, p.11).
Também será utilizado o método de observação, visando analisar de maneira
não participante o comportamento dos consumidores em relação as embalagens.
O grupo focal é uma espécie de debate aberto e acessível a todos, contendo
um assunto de interesse comum e formando um debate para troca de ideias e
experiências sem privilegiar pessoas ou pensamentos. Tradicionalmente temos
grupos de oito a dez integrantes que não se conheçam anteriormente. Realizado em
um lugar confortável, por um tempo entre uma ou duas horas. Deve conter um
orientador que conduzirá a conversa, sem deixá-la desviar-se e que encorajem
ativamente todos os participantes falar. Instigações devem ser feitas durante o
debate, como as seguintes questões “O que você quis dizer com isto?” ou “Por que
isto é assim?”.
Neste tipo de pesquisa pode-se fazer uso de inúmeros recursos como
imagens, vídeos, textos e até mesmo dramatização para gerar estímulos à
discussão.
O grupo focal dará maior noção em diversas questões sobre a futura
monografia e ajudará a explorar de perto, costumes e ressignificações que
geralmente são dadas as embalagens.
Categorias:
Estudo
Características Exemplos
Embalagens
Colecionáveis
Podem ou
não conter
uma “linha de
produtos” que
fazem com
que ele se
diferencie em
grande
escala.
Latas de cerveja.
Embalagens Embalagens Caixa forrada e decorada para guardar outros
66
Customizadas que sofrem
alteração na
mão do
consumidor.
Algo como
artesanato.
objetos.
Embalagem
Lúdica
Embalagens
que pedem a
participação
do
consumidor
para ser
finalizada.
Embalagens para colorir.
Embalagem
Utilitária
Embalagem
que vira
móvel da
casa.
Caixa de feira.
67
Embalagem
Produto
Embalagem
acaba virando
parte do
produto.
Caixa de papelão acaba virando o suporte de um
lustre, por exemplo.
68
7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
7.1 EMBALAGEM
A embalagem, desde o seu início, representou uma importante ferramenta
para o desenvolvimento do comércio e para o crescimento de cidades. Inicialmente
suas funções eram apenas embalar, proteger e viabilizar o transporte dos produtos.
Com a evolução da humanidade, a embalagem ganhou novas funções,
passando a comunicar junto ao consumidor, expor, vender o produto e conquistar o
público através de seu visual, movimentando assim o mercado econômico
(MESTRINER, 2002).
Parafraseando Kamitsuji (apud CALVER, 2009) a embalagem com funções
utilitárias assumiu outros papéis, a partir do século XIX, garantindo a diferenciação
ao produto, o reconhecimento da marca do fabricante.
As embalagens dividem-se em alguns grupos, os dois principais são as
embalagens de consumo e as embalagens de transporte. A primeira, mantém
contato direto com o consumidor, exercendo, entre outros aspectos, um papel
persuasivo. Já a segunda, serve para proteger um conjunto de embalagens de
consumo, como para embalar produtos individualmente, servindo para proteção e
conservação (PEREIRA, 2003).
Elas devem conter a mensagem do fabricante, para que assim o consumidor
esteja informado do conteúdo e ciente do que está comprando, identificando
possíveis vantagens, oportunidades e características do produto. Este papel é
importantíssimo na hora de definir a compra e a consagração do produto e marca
(PEREIRA, 2003).
Quase todos os bens comercializados devem ser embalados e que por isso a
embalagem é um elemento fundamental da estratégia de produto na maioria das
empresas, acrescentando valor, influenciando a qualidade percebida pelos
consumidores e posicionando a marca (GOBE, apud FARIA, 2004).
Para Richers (apud FARIA, 2004, p. 16), o setor alimentício é o mais afetado
quando se trata de embalagens, porque os usuários esperam que além das mesmas
69
serem higiênicas, também sejam capazes de conservar o alimento depois de
abertas. Afirma ainda que “...no Brasil não se dá muita atenção à embalagem. Ela
faz parte dos custos de produção e ponto final...”.
Para Kotler (FARIA, 2004), nos dias atuais a embalagem faz não só sua
função primordial de proteger o produto, mas também é uma poderosa ferramenta
de marketing, com várias tarefas de venda, desde atrair a atenção do consumidor
até descrever o produto e realizar a venda.
Não são apenas as informações legais e as indicações do produto que
figuram o desenvolvimento gráfico, a comunicação visual é parte fundamental da
estratégia de marketing, sendo capaz de promover o fabricante e os aspectos
positivos do produto. É por meio deste desenvolvimento gráfico que se transmite a
imagem da empresa, seus valores, crenças e até mesmo o público-alvo (NEGRÃO;
DE CAMARGO, 2008).
Mestriner (2002) fala que a vida nas cidades não seria possível sem a
utilização de embalagens para promover o abastecimento e o consumo de seus
milhões de habitantes. O problema disso é que a embalagem é descartada
rapidamente depois de ser utilizada, tornando-se um componente do lixo urbano.
A questão da preocupação com o impacto que as embalagens têm no meio
ambiente deve se fazer presente na vida dos designers. Prevendo processos
industriais mais limpos, menos materiais e preferência por material reciclado.
Podendo atuar de forma consciente (MESTRINER, 2002).
7.2 CONSUMIDOR
Como já foi dito, a partir da embalagem o consumidor forma a imagem da
empresa, nada mais natural que a empresa conversar com ele através da mesma.
Todas as mudanças que a marca sofrer, seja ela a menor possível, essa mudança
deve transparecer na embalagem.
Agregar informações ao produto mostra que a empresa e o produto têm o que
dizer dicas e campanhas institucionais dentre outros tem boa acolhida
(MESTRINER, 2002).
70
Podemos ir além tornando a embalagem um objeto de desejo. Exemplo a ser
citado são as embalagens de cigarro Camel colecionáveis e os copos de requeijão
impressos que continham motivos decorativos (MESTRINER, 2002).
Figura 3 – Cigarros Camel.
Fonte: http://mundodasmarcas.blogspot.com.br/2006/06/camel-genuine-taste.html. Acesso em 02 jul. 2017
Karsaklian (2011) define o consumidor como apenas uma parte do ser
humano que tem suas motivações para atingir suas ambições, conquistar espaços e
atingir suas realizações pessoais.
Para Solomon (2002, p. 24), o campo do comportamento do consumidor
abrange uma ampla área, e pode ser definido como “[...] o estudo dos processos
envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou dispõem de
produtos ou serviços, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e
desejos”. Ainda de acordo com Solomon (2002), informações sobre os
consumidores auxiliam as organizações a definir seu mercado de atuação e
identificar as ameaças ou oportunidades para uma marca.
De acordo com Richers (apud MEDEIROS; CRUZ, 2006), caracteriza-se o
comportamento do consumidor pelas atividades mentais e emocionais realizadas na
seleção, compra e uso de produtos/ serviços para a satisfação de necessidades e
desejos. Para Kotler e Keller (apud MEDEIROS; CRUZ, 2006), uma vez que o
propósito do marketing centra-se em atender e satisfazer as necessidades e aos
desejos dos consumidores, torna-se fundamental conhecer o seu comportamento de
compra.
71
As empresas investem somas importantes em pesquisas para saber mais
sobre o comportamento do consumidor e como ele age em situações de escolha,
compra e utilização de produtos.
Ter estas informações faz enorme diferença no mercado, ter este
conhecimento para o planejamento e marketing e nas ações de comunicação,
incluindo as embalagens. Empresas que não conhecem o consumidor possuem
enorme desvantagem e acabam cometendo diversos erros por falta de tais
informações.
O consumidor antes de tudo é uma pessoa, um indivíduo com personalidade
e aspirações sobre os produtos que consome. Ele percebe e reage ao design da
embalagem em seus mínimos detalhes (MESTRINER, 2005, p.14).
O consumidor é afetado por embalagens promocionais em relação à tomada
de decisão pela aquisição ou não de um bem. Por intermédio desse veículo de
comunicação, o produto adquire identidade própria. A embalagem confere ao
conteúdo uma personalidade que representa a imagem do produto, de forma
condizente com seu posicionamento no mercado (SANTOS; CASTRO, 1998, p. 28).
O consumidor não compra um produto pensando no material que foi usado
para fabricar sua embalagem, e sim, em tudo que está a sua volta e diversos outros
fatores, que são decisivos para sua compra, desde fatores culturais até mesmo os
pequenos detalhes (FARIA, 2004, p.19).
7.3 SIGNIFICADO
Significado é derivado da palavra “signo” igualmente como semiótica. Surgiu
no início do século XX e não necessitou obrigatoriamente de legitimidade de
disciplinas mais antigas como a filosofia. Sofre ainda do entusiasmo à rejeição, que
nem sempre impede a evolução, progresso de uma nova dinâmica para o
entendimento de diversos aspectos da comunicação humana e animal.
Um signo tem uma materialidade que percebemos com um ou vários de nossos
sentidos. É possível vê-lo (um objeto, uma cor, um gesto), ouvi-lo (linguagem
articulada, grito, música, ruído), senti-lo (vários odores: perfume, fumaça), tocá-lo ou
ainda saboreá-lo. (JOLY, 1996)
72
Em seu artigo Fidalgo (1998) diz:
Na esteira de Saussure, os semiólogos europeus entendem por signo a
entidade significante/significado, em que qualquer significante por mais
complexo ou mediato que seja tem sempre como correlato último um
significado. Em contrapartida, os semióticos americanos concebem o
signo apenas como significante que remete sempre para um outro
significante numa cadeia sígnica interminável.
Segundo Deely (1990):
Para Saussure, a “ciência” dos signos era para ser um ramo da psicologia
social, e a linguística uma subespécie deste ramo, apesar de ser a mais
importante. Dessa “ciência possível”, Saussure a bem da verdade não nos
fala muito. Mas ele ajuizadamente nos avisa que “como ela ainda não
existe, não se pode dizer que forma tomará” (i.1906-1911: 33).
Em seu livro Nöth ainda fala de Platão que tratou de vários aspectos na teoria
dos signos, definiu signo verbal, significação e contribuiu com ideias críticas para a
teoria da escritura. Contendo uma estrutura triádica, o modelo platônico do signo
compreende bem os três componentes: o nome; a noção ou ideia e a coisa à qual o
signo se refere.
Segundo Umberto Eco, a mensagem tem formas significantes que podem ser
preenchidas com diferentes significados. Assim cresce a suspeita que o emissário
organiza as imagens baseando-se em seus próprios códigos, que coincidem com
aqueles da ideologia dominante, enquanto que o receptor preenche isso com
sentidos de acordo com seus códigos culturais particulares. Ou seja, seguindo o
modelo de Eco poderíamos explicar muitas coisas em relação à algumas questões
sobre o significado que a embalagem ganha.
73
Já Abraham Moles (2001) fala em seu livro O Kitsch sobre como a sociedade
saiu de um século onde tudo era muito descartável para onde tudo se torna produto,
dificilmente algo vai fora. A toda hora coisas acabam ganhando novos significados e
novas utilidades. Ganhando assim espaço e apreço ao que antes era considerado
errôneo. Ainda em seu livro Moles (2001) cita a relação do consumidor com o objeto
e como ela vem se modificando e se fortalecendo através dos tempos e de novas
percepções e visões sobre tudo ao seu redor.
Segundo Lucy Niemeyer (2002), a sociedade capitalista é o lugar da sedução.
O sentido do signo simbólico utilitário é o ensejo do consumo impulsivo, da criação
de necessidades, da aceitação irrefletida da obsolescência de desejabilidade. O
projeto de um produto tem este sentido: sedução. Trazendo de alguma forma uma
significação.
Lucia Santaella (2002) fala o seguinte sobre a semiótica aliada a embalagens
e produtos:
Quando aplicada ao design ou à publicidade, a análise semiótica tem por
objetivo tornar explícito o potencial comunicativo que um produto, peça ou
imagem apresenta, quer dizer, explorar, através da análise, quais são os
efeitos que um dado produto está apto a produzir em um receptor. Esses
efeitos podem ser de várias ordens, desde o nível de uma primeira
impressão até um nível de julgamento de valor que o receptor pode e,
muitas vezes, é levado a efetuar.
Ainda em seu trabalho ela dá o exemplo de embalagens dos shampoos seda.
Cada embalagem tem uma cor, o fundo de cada rótulo é atravessado na diagonal
por uma imagem de mecha de cabelo, sendo puramente sugestiva, buscando
sugerir o tipo de cabelo para o qual o shampoo se destina.
74
Figura 4 – Embalagens Seda.
Fonte: http://mundodasmarcas.blogspot.com.br/2006/08/seda-liberte-toda-beleza-dos-
seus.html. Acesso em 02 jul. 2017
75
8 ROTEIRO DOS CAPÍTULOS
1. INTRODUÇÃO
1.1 METODOLOGIA
2. EMBALAGEM 2.1 CONCEITO (HISTÓRIA, FUNÇÕES, ETC...) 2.2 A IMPORTÂNCIA DO DESIGN 2.2.1 PROJETO E CICLO DE VIDA 2.3 EMBALAGEM COMO SIGNO 3. A EMBALAGEM E AS MARCAS 3.1 UM NOVO CONSUMIDOR 3.2 MARCA E COMUNICAÇÃO: O PAPEL DA EMBALAGEM PARA O CONSUMIDOR 3.3 MARCAS, EMBALAGEM E SUSTENTABILIDADE 4. CONSUMIDOR VS. EMBALAGEM 4.1 METODOLOGIA 4.2 CATEGORIZAÇÃO 4.3 GRUPOS FOCAIS 4.4 USOS E SIGNIFICAÇÕES DA EMBALAGEM PELO CONSUMIDOR 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERENCIAS
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9. CRONOGRAMA
Defesa da Monografia em 2017/4
JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Escrita da bibliográfica e Introdução X
X
Escrita do capítulo 2 X
Escrita do capítulo 3 X
Realização de Grupo focal X
Escrita do capítulo 4 X X
Considerações finais, revisão e impressão
X
Preparação da apresentação X
Defesa da Monografia X