raul córdula 50 anos de arte . uma antologia .catálogo
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RAUL CÓRDULA | 5 0 a n o s d e a r t e | u m a a n t o l o g i a
Ministério da Cultura Apresenta
RAUL CÓRDULA50 anos de arte, uma antologia
RAUL CÓRDULA50 anos de arte, uma antologia
CURADORIA
Olívia Mindêlo e Raul Córdula
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1 PauloSérgioDuarteeJoséCláudiofizeramalusãoaesseaspectoemtextosparaexposiçõesdeRaulCórdula.Duarte,em2000,eZéCláudio,em1984(ArteGaleria,Fortaleza/CE).
Muito além das geometriasOlívia Mindêlo
A primeira vez que soube da existência de Raul Córdu-
la estava diante de uma parede. Uma tela com cerca
de um metro de largura – imagino eu – se estendia na
superfície plana, onde figuras geométricas negociavam
um lugar no espaço. Me lembro de um cinza recorrente,
talvez, mas principalmente de linhas retas e diagonais
delimitando uma composição na qual havia um triângu-
lo. Não recordo bem em que museu ou galeria do Recife
(ou Olinda) estava o quadro, mas foi ele o responsável
por me introduzir ao artista – se não me falhe a memó-
ria, entre outros nomes de uma exposição coletiva.
Confesso que aquilo me intrigou e, apesar de eu não ter
registrado tudo muito bem, o nome de Raul Córdula fi-
cou. Percebi que era importante. Minha primeira impres-
são diante de sua obra, contudo, misturou estranhamento
e curiosidade. O quadro parecia deslocado do tempo e
do lugar. E logo depois comecei a entender por que: o
abstracionismo geométrico não é (nem era) mesmo muito
comum pelas bandas de cá do Nordeste, onde a pintura
figurativa acabou se impondo. O próprio crítico Paulo
Sérgio Duarte e o pintor José Cláudio1 já haviam reparado
nisso quando escreveram a respeito de sua obra.
E tinha mais uma questão provável. Tendo sido o início
dos anos 2000 marcado pelo despontar de uma nova
geração de artistas visuais contemporâneos, nos quais
eu sempre esbarrava em minhas descobertas pela arte
pernambucana, uma pintura do tipo me jogava dire-
tamente a um passado artístico. A uma história que,
seguindo a “lógica” dos livros, ficara para trás.
O ponto é que, com algum conhecimento em arte e já
me arvorando a tecer os primeiros comentários sobre a
produção plástica pernambucana, tirei prontamente do
meu (curto) repertório uma conclusão para o que via
ali. Raul Córdula seria, portanto, um legítimo exemplar
do Concretismo, movimento que, a partir dos anos
1950, colocou régua nos pincéis e apartou a pintura
do mundo exterior comumente idealizado. Foi assim
na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil
– todos com uma boa dose de influência da corrente
construtivista. Uma onda de abstracionismo marcou a
produção pictórica num momento em que o interesse
dos criadores se curvou em direção à “estética pura”,
a uma pintura com um fim em si mesma – mínima,
racional, geométrica, formal e antimimética, rompida
com o realismo tradicional e o “subjetivismo artístico”.
Com relação a Raul Córdula, minha observação
incipiente não era de todo equivocada. Era, na verda-
de, precipitada, porque pela tela (e por outras que vi
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2 Comovereiadiante,mesmodialogandocomaestéticadomovimento,RaulCórdulabuscouemsuapinturaumjeitopeculiardelidarcomelementosgeométricos.
depois) eu enquadrei o pintor no rigor de suas formas.
Mas estava apenas diante de uma de suas fases – que,
aliás, jamais recebeu do artista o título de “concre-
ta”2. Por sorte, o conhecimento e o tempo nos livram
de vereditos apressados. Na medida em que fui me
aproximando do trabalho deste paraibano, acolhido por
Olinda há mais de 30 anos, descobri um artista de mui-
tos predicados. Um nome que Pernambuco e outros
estados ainda parecem desconhecer em sua amplitude.
Muitos estudiosos e admiradores da arte certamente
conhecem o curador, o crítico, o pintor abstrato e até o
cenógrafo. Mas o que dizer do artista com mais de meio
século de trabalho e uma porção de obras relevantes
para a nossa história? Fazer um apanhado desse extenso
percurso é, portanto, mais do que a proposta da expo-
sição Raul Córdula: 50 anos de arte (uma antologia). É
um papel e tanto. A seleção dos trabalhos feita por ele,
nesse exercício de revisitar a própria obra, se mostra aqui
generosa e reveladora. Um convite para adentrarmos
melhor num universo ainda pouco explorado, apesar das
suas muitas facetas e consagrações mundo afora.
Este não é um trabalho simples, muito menos se resu-
me ao abstracionismo geométrico – apesar de sua pre-
sença recorrente. Abrangendo uma produção datada
de 1965 até agora, as nove séries escolhidas apontam
para tempos e estilos distintos, capazes de atestar uma
obra que, não raro, carrega na sua complexidade. Não
podia ser diferente. Raul é um desses artistas cons-
cientes do seu ofício. Ele sintetiza a história da arte no
próprio trabalho e ainda traz a reboque conhecimentos
de outros campos, como o religioso e o político. Pode-
ríamos afirmar, portanto, que ele se encaixa no hall dos
artistas cultos, no qual estão nomes como Francisco
Brennand, Montez Magno e João Câmara, seu con-
terrâneo. Ele não gosta muito de ser visto assim, mas
esta me parece uma chave para acessarmos a densi-
dade das pinturas, dos desenhos, dos grafismos e das
demais empreitadas do seu arsenal criativo.
Paradoxalmente, o hermetismo que resvala de boa
parte de seus trabalhos parece contradizer – ou no mí-
nimo tensionar – seu desejo de fazer arte para o povo.
Mas justo nesse impasse reside a poética do artista,
que busca se equilibrar entre o esteta e o político, sem
necessariamente romper essas duas dimensões (qual-
quer ruptura mostra-se arbitrária ou é somente uma
tentativa de abstração).
A meu ver, ambas as tendências – ou essa dualida-
de – pontuam de maneira crucial o conjunto escolhido
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3 ReferênciaàfaladeHélioOiticica(1979)transpostaem:SOARES,PauloMarcondesFerreira.Arte, política e juventude no Brasil:questõesdearteeparticipaçãosocial.In:GROPPO,LuísAntonioet.al.Juventudeemovimentoestudantil:ontemehoje.Recife:EditoraUniversitáriadaUFPE,2008.
4 COUTO,MariadeFátimaMorethy.Por uma vanguarda nacional:acríticabrasileiraembuscadeumaidentidadeartística(1940-1960).Campinas:EditoradaUnicamp,2004.
por ele para representar seus 50 anos de arte. Uma
representação, aliás, para ser encarada não pela
perspectiva cronológica, típica de efemérides como esta
– por sinal, retroativa a 2010, quando Raul relembrou
sua primeira individual, realizada na João Pessoa de
1960. O apanhado deve ser antes visto em seu poten-
cial de antologia, que, como toda ela, produz um olhar,
um dado discurso. Não se trata de uma tentativa de
reducionismo, mas de uma interpretação possível, de
uma estratégia talvez mais proveitosa, através da qual
podemos reter, em maior profundidade, o sentido deste
nome para a história da arte no Brasil.
Um artista de 60
Pela sua fala, pela sua arte, Raul Córdula parece se si-
tuar melhor na geração de artistas como Hélio Oiticica,
Antônio Dias (também paraibano), Carlos Zilio e Lygia
Pape, do que na anterior. Tidos por historiadores como
a neovanguarda brasileira, que despontou com a dé-
cada de 1960, foram eles os responsáveis por colocar
a produção visual do País num novo patamar. À sua
maneira, talvez menos extrema no experimentalismo,
Raul comungou com eles alguns dos ideais artísticos
centrais da época, além da idade semelhante – muitos
deles nasceram também na década de 1940 – e do
convívio direto em momentos históricos, como na expo-
sição Nova objetividade brasileira, realizada em 1967,
no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/
RJ), por iniciativa de Hélio Oiticica.
Foi o artista carioca quem de fato puxou uma revisão
crítica do movimento Concretista, reclamando uma
“nova figuração”, “uma nova objetividade” à arte
brasileira. Seu projeto voltava-se à ideia de “objeto”
(inter-relacional, “perceptivo”, “ambiental”, o princí-
pio da instalação), em contraponto ao que chamou
de “descrença nos valores esteticistas de quadro de
cavalete”3. Curiosamente, ele mesmo havia pintado
abstrações geométricas nos anos 1950, mas logo
deixou de lado, diante do contexto de mudança no
Brasil e no mundo. Na visão da historiadora Maria de
Fátima Morethy Couto4, o rompimento, teorizado pelo
próprio Oiticica, marca a passagem de dois momentos
na história da nossa arte: do Concretismo para o Neo-
concretismo, a partir do eixo Rio-São Paulo. Em outras
palavras, da “arte pura” para uma arte experimental e
engajada, comprometida, em seus princípios, com o
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5 SOARES,PauloMarcondesFerreira.Arte, política e juventude no Brasil:questõesdearteeparticipaçãosocial.In:GROPPO,LuísAntonioet.al.Juventudeemovimentoestudantil:ontemehoje.Recife:EditoraUniversitáriadaUFPE,2008.
envolvimento do público ou, nas palavras do sociólogo
Paulo Marcondes Soares5, com a “participação social”.
Apesar de ele ter trilhado seu próprio caminho, Raul
Córdula é cria desse momento. Isso transparece tanto
em boa parte das obras aqui reunidas quanto no seu
próprio discurso. Logo na primeira vez em que conver-
samos sobre os trabalhos da mostra, me chamou aten-
ção a maneira enfática com que afirmou “Sou de uma
geração que ainda acredita na arte para o povo”. Ora,
até pela carga utópica da frase, ela é típica da geração
1960. Está no discurso de críticos como Mário Pedrosa
e Ferreira Gullar, assim como do próprio Hélio Oiticica.
Na visão de Couto, existiram pontos cruciais que uni-
ram artistas desse momento. Desejos de uma arte para
o povo e pelo povo; de uma arte participativa e coletiva,
para o público; de uma arte experimental e libertária,
sem “ismos”; de uma arte para além da pintura e do
caráter visual – “politecnomorfa”, de múltiplas lingua-
gens; de uma arte ligada ao cotidiano e à realidade,
sem o dever da mímese; em suma, de uma arte polí-
tica. Embora essas vontades tenham, algumas vezes,
se distanciado da prática, e mesmo da relação com
o público, as criações artísticas foram quase sempre
tentativas nessa direção, o que decerto levou parte da
produção brasileira a trilhar novos rumos, ainda mais
radicalizados na geração seguinte, dos anos 1970.
Sob o ponto de vista imediato, que reduz Raul Córdula
a um mero pintor formal, é difícil enxergá-lo nesse
meio. Mas isso não acontece se estivermos dispostos
a mergulhar nos trabalhos escolhidos para representar
sua trajetória até aqui. Mesmo as suas pinturas mais
abstratas são motivadas por um desejo de mundo, de
olhar para o outro. As telas da série Geometrias recen-
tes, por exemplo, têm como uma das suas inspirações
a arquitetura popular das casas de interior. O resultado,
claro, dialoga com a estética formal do Concretismo ou
do Construtivismo, mas há elementos que o tornam um
pintor diferente dentro da corrente abstrata.
Na verdade, Raul não começou por aí. A obsessão pela
geometria se tornou uma característica imponente de
sua obra, é verdade, mas jamais definidora de tudo.
Ele mesmo nunca se inseriu entre artistas “concre-
tos”, como Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e o
próprio Hélio Oiticica, nos anos 1950. Enquanto estes
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6 ManifestoPor uma exposição censurada,redigidoporJomardMunizdeBritoeWillsLealapóscensurasofridapelaexposiçãodeRaulCórdula,nohalldareitoriadaUFPB.
se detinham nas formas, no Sudeste, Raul começava
na Paraíba a pintar flores, pássaros, mulheres, peixes
e outros temas da região. A relação estabelecida com
triângulos, quadrados e círculos só veio anos depois. E,
de maneira recorrente, com mais vinculação simbólica,
de carga religiosa e mística, do que puramente formal.
A conhecida série de aquarelas feitas em Paris, em
1991, é um exemplo disso e também pode ser vista
nas escolhas da exposição.
O trabalho mais antigo do conjunto antológico aqui
exposto, aliás, não compactua com nenhuma tentativa
de formalidade estética. Ao contrário, os desenhos da
série João Pessoa 1965 nascem do interesse do artista
pela arte espontânea, quase primitiva, das garatujas de
criança ou dos rabiscos deixados por pessoas comuns
no muro. Uma atitude bastante moderna, no sentido
artístico da palavra, que já aponta nos seus quadros
também uma postura política, própria de sua geração.
Basta observar, por exemplo, a subversão que ele faz
da imagem dos três macacos do “não vejo”, “não falo”,
“não ouço”, colocando-os para ver, gritar e ouvir, numa
representação figurativa mais humana. E há ainda ou-
tras sutilezas, como a frase “Cuidado com este chão”,
em alusão às Ligas Camponesas.
O engajamento segue seu rumo em obras subsequen-
tes, como as telas de 1968, censuradas na Paraíba, por
ordem do Conselho Universitário da UFPB, onde Raul
trabalhava e expunha na ocasião. Não foi a Polícia Fe-
deral e tampouco uma “proeza” do AI-5, que ainda nem
havia baixado seu capuz negro sobre a liberdade artísti-
ca. A direção da universidade viu nos quadros do pintor
uma “ofensiva à moral e ao pudor público”. A série de
pinturas trazia algumas imagens de mulheres virgens
e nuas, rodeada de guardiões felinos, o que deve ter
incomodado os conservadores da instituição. Isso fez o
agitador Jomard Muniz de Brito soltar, num manifesto6,
provocações como: “A imoralidade está na obra ou na
perspectiva de quem vê? Os nossos doutores provincia-
nos se escandalizariam diante da Vênus de Milo?”.
Havia na série imagens mais impactantes, que dialoga-
vam muito bem com o contexto sociohistórico brasileiro
daquele momento. Em um dos quadros, também vistos
nesta antologia, um homem aponta um revólver para
o espectador. Em quase todas as telas, é direta a refe-
rência de Raul a episódios e símbolos de um período
repressor, como arma, coturno e sangue no chão. Mas
estes não foram, ao que parece, o motivo da censura,
tanto que ele mesmo voltou a montar a exposição no
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7 NoseutextoparaocatálogodaexposiçãoAnos 1970 – arte como questão,promovidapeloInstitutoTomieOhtakeem2007|Arte como questão:anos70=Art as question:the1970s.Curadoria:GlóriaFerreira.Versãoparaoinglês:StephenBergetal.SãoPaulo:InstitutoTomieOhtake,2009.Meioséculodeartebrasileira;2.
Teatro Santa Rosa, logo depois. Meu pai, que é pa-
raibano e militou contra a ditadura, me confessou dia
desses que jamais esqueceu do revólver apontado para
ele na juventude – tempos depois o quadro foi exposto
numa sorveteria de João Pessoa e foi lá que ele viu.
Interessante observar a estética utilizada por Raul
Córdula nesse trabalho, um dos primeiros da arte bra-
sileira a revelar influências da Pop Art, numa pegada
bem cartunesca. Nesse sentido, e mesmo à distân-
cia, o artista revela mais uma vez seu diálogo com a
geração 60 que, lá do Rio de Janeiro e de São Paulo,
também cuidava de enaltecer a vanguarda pop norte-
americana. Os brasileiros viam no movimento artístico
dos Estados Unidos uma aproximação com as mas-
sas, uma linguagem original, atual e popular, mesmo
bebendo da estratégia da publicidade, como fez Andy
Warhol. Hélio Oiticica era um dos que se identificavam
com o movimento, cujas características ajudaram a
colocar mais tintas nos seus ideais de construção no
País de uma arte “para o povo”. Tudo isso reverberou
nas criações surgidas dos anos 1960 em diante no
Brasil, fazendo quadros como Anywhere is my land, de
Antônio Dias, serem primos-irmãos das telas de 1968
pintadas por Raul. E, vale dizer, não pela mesma terra
que viu os dois nascerem, mas pelo trilho artístico no
qual ambos deslizaram suas poéticas.
As séries O país da saudade, Araguaia e Made in
PB – feito em chumbo, também reunidas na presente
antologia, não dialogam tão diretamente com a Pop
Art, mas seguem rumo semelhante na obra de Raul.
Em especial, apontam para um percurso político e
experimental mais evidente na geração de 1970,
embora sejam trabalhos produzidos posteriormente. Se
a geração anterior já havia apontado para um engaja-
mento como resposta a um dado momento na arte e
na política brasileiras, a década seguinte “desdobra-se
em diferentes situações inseparáveis dos contextos
sociopolíticos decorrentes da ditadura”, como enfatiza
a curadora Glória Ferreira7.
Raul não passou ao largo desse desdobramento. De
1982, O país da saudade é um exemplo inserido nesse
tempo, seja pela linguagem, seja pela temática. Política
desde o processo, a série em arte postal segue a linha de
trabalhos que buscaram formas coletivas de produção
– como a do Grupo Fluxus – e vias alternativas para a
arte – a exemplo dos trabalhos em arte correio feitos por
Paulo Bruscky no Recife, ou da série história Inserção
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8 EstanãofoisempreabandeiradaParaíba.AmudançaaconteceudepoisdoassassinatodeJoãoPessoa,entãopresidentedoestado(oequivalenteagovernador),numepisódiotidocomooestopimdachamadaRevoluçãode1930,queinaugurouaEraVargasnoBrasil.Contaahistóriaquecercadeumanoantes,JoãoPessoahavianegadoapoioaocandidatodasituaçãoàpresidênciaJúlioPrestes,masasinsatisfaçõesrelacionadasaele(eàsuamorte)nasceramantes,dentrodaprópriaParaíba.Osperrepistaseramseusprincipaisopositores.OavôdeRaulfaziapartedestegrupo.Eopróprioartistasedizatéhojeumperrepista,emboraoPartidoRepublicanoPaulistatenhasidoextinto.DadosporOtávioCitone,amigodeRaulesobrinhonetodeZéPereira,famosoperrepista,ostirosnoquadrorepresentamamortedopolíticoquevirounomedecidade,mitificadaemseupassadoregistradocomoheroico.
em circuitos ideológicos, de Cildo Meireles, na qual se
apropria de cédulas de dinheiro e garrafas de coca-cola.
Na sua obra, Raul enviou um papel em branco, endere-
çado a artistas e amigos com os quais via identificação.
Na folha, estava o tema (O país da saudade) e o seguinte
pedido carimbado: “Por favor, interfira e me devolva”.
Mais de 60 respostas estão reunidas na série, sendo qua-
se metade de Jomard Muniz de Brito. As interpretações
são múltiplas e dialogam muitas vezes com o contexto
sociopolítico do qual falou Glória Ferreira.
O compromisso com a história do Brasil, na perspectiva
de revisão, também transparece em Araguaia e Made
in PB – feito em chumbo, independente de terem sido
produzidas nos últimos cinco anos. Aliás, o encontro, no
mesmo momento, destas e de outras séries descritas aci-
ma parece não só oportuno como cumpre um papel: nos
atira inevitavelmente na direção da crítica e do questio-
namento. Nunca é tarde para revermos o discurso sobre
nosso passado. E Raul nos incita a isso, assumindo nova-
mente a postura artística e política que mobilizou sua
geração. Seja ao evidenciar o nome dos desaparecidos
políticos na Guerrilha do Araguaia (1972-1975), ainda
arquivados pela história oficial; seja ao sacudir a própria
simbologia da sua terra natal – a bandeira paraibana.
Pelas mãos do artista, a flâmula rubro-negra está longe de
balançar orgulhosa. Apropriando-se da sua imagem e ge-
ometria, Raul procura fazer sua leitura dos acontecimen-
tos que regem a origem do signo onde se lê, em letras
garrafais, “NEGO”. No lado preto da bandeira, o artista
colocou chumbo (literalmente) com três tiros. No ver-
melho, suprimiu o “n”, deixando transparecer a palavra
“EGO”, que, na sua versão, surge de forma velada, como
se largada num muro8. Há outras obras em Made in PB,
mas esta cumpre, sem dúvida, uma função sintetizadora.
Apesar das inclinações ideológicas de esquerda, Raul
conta que nunca assumiu uma postura combativa ou
partidária – como se seus quadros não gritassem para o
mundo... De outro lado, não desconsidera seu frequente
envolvimento com questões coletivas e sociais, que mar-
caram, de forma indelével, sua visão de mundo. Como
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9 Dotexto“AsimbologiadeRaulCórdula”,escritoparaumaexposiçãodoartistarealizadanaGaleriaVicentedoRêgoMonteiro,noRecife,em1990.
ser humano, como artista. Quando perguntei sobre a
participação dele nas lutas contra a ditadura, responde
que nunca foi de fato militante, mas solidário com a cau-
sa, ajudando na fuga de amigos ou dando sua contribui-
ção artística. “Essas coisas nunca saíram da cabeça e
do coração das pessoas da minha geração.”
É preciso dizer que mesmo quando se ocupa da formali-
dade pictórica, Raul não se esquece de sua humanidade,
no sentido menos “racionalista”. Há nas suas pinturas
abstratas uma “geometria do próprio ser”, como assinala
a artista Amélia Couto9. Ora relacionada a figuras simples
e populares, ora a uma dimensão transcendental, repleta
de mistério e espiritualidade. Em nenhum momento, ele
se mostra puro ou frio. Tudo isso pode ser observado mais
de perto no seu livro de artista, no qual revela, de maneira
inédita, um pouco do seu processo criativo.
Realmente me impressionei quando ele me confessou
que passou a pintar figuras abstratas por medo da
repressão – e depois por necessidade de sobrevivên-
cia, haja vista o potencial comercial de seu abstracio-
nismo geométrico. Claro, ele também tem apego pelas
geometrias, mas, de alguma maneira, elas parecem ca-
muflar uma renúncia do artista aos seus ideais, à sua
vocação – o que o faz voltar agora para fazer justiça
com a própria obra. Está certo. Seu trabalho é mais do
que triângulos, quadrados e círculos, sem eximir a rele-
vância dessa produção em sua trajetória. Afinal, não
por acaso está na antologia.
Seu repertório, contudo, é mais vasto do que o discur-
so que o enquadrou nos últimos tempos, embora não
deixe de ser fruto da própria escolha do artista. Pelo
menos em parte. Mas é tarefa nossa, como observa-
dores da arte, abrir novas trilhas interpretativas, novos
campos de fruição. São mais de 50 anos de arte e
quase 70 de vida. De resto, não há mais nada a dizer.
Ainda precisamos conhecê-lo melhor.
Recife, maio de 2012.
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Apesardedialogarvisualmentecommovimentosquelevaramapinturana
direçãodoabstracionismogeométrico,estastelasdeRaulCórdulanãobus-
camumfimemsimesmas.Nãosãoaexpressãodaartepelaarte,daforma
pelaforma,daautorreferênciapreconizadapeloidealda“estéticapura”.
Nestecaso,éprecisoiralémdecódigosreproduzidospelahistóriada
arte.Nãoháaquiumrompimentototaldapinturacoma“realidade”,
ouseja,comasuafunçãorepresentativa.Nãoraro,ascomposições
monocromáticasdoartistaremetemadiversasreferênciasdeseureper-
tóriovisual.Sãoalusões,muitasvezes,aoarsenaldeumaricamemória
imagética;deumaarquiteturaafetiva,sobretudo.
Detalhesdeplatibandasdascasasdeinterior,comadornoslosangulares,
porexemplo,sãotrazidosàcenapeloseuolhargeometrizado.Ografismo
deumcarro,vistopeloartistanasparedesdeumacasadoSertãodo
Ceará,nosanos1980,ganhanovarepresentaçãopelasmãosdele.São
trabalhosrecentescontaminadosporquestõesantigas,comodizopintor.
Entretrípticosedípiticos,pinturasganhamvolumeecoressaltam
aosolhos,camadaacamada.Écomosequisessemconfirmarotítulo
de“colorista”dadousualmentepelaartistaAméliaCoutoaele,seu
marido.Explorandoumageometriafigurativa,eleparecequererbuscar,
outravez,oprincípiodascoisas;o“grauzero”dapinturabrasileira,
usandoaexpressãodePauloSérgioDuarte,queRaulacompanhouem
pesquisassobrecasasdeinterior.
Masnãohánemumapretensãominimalista,tampoucoumpactode
fidelidadecomo“real”.RaulCórdulatrafegaentreasbrechasesegue
seupercursosemquerersaberdemuitasdistinções.
Geometrias Recentes
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Conjunto5pinturasemtela2012331x120cm
GrafiteFotografiaimpressaemtela1980(fotografiaoriginal)/2012(interferênciaeimpressão)150x100cm
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Conjunto e GrafiteTríptico2012280x100cm
18
Fachada5pinturasemtela2012270x120cm
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Fachada3pinturasemtela2012300x120cm
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PlatibandaDíptico2012300x100cm
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Estasérierepresentaumadasfasesmaislongasebem-sucedidasda
carreiradeRaulCórdula.Foiatravésdoestilodesenvolvidonessas
aquarelas–tambémexploradoemoutrastécnicas–queeleficou
maisconhecidoentregaleristasecolecionadoresdearte,sobretudono
Recife.Curiosamente,éumtrabalhobastante“cerebral”ehermético
naproduçãodoartista,queaquiseachaemsuafasemaisexotérica.
Deformarecorrente,Raulfaznestesquadrosummergulhoem
elementossimbólicosquemesclammisticismoeracionalidade.A
tetraktys,dePitágoras,éumadasfigurasmaisexploradas.Nela,dez
bolas(quatrodecadalado)formamumtriânguloequilátero,represen-
tandoumaharmoniasintetizadapelonúmeroquatro.Éconsiderada
umadasfigurasmaistranscendentaisdopensamentopitagórico.Para
oteóricogrego,osnúmeroserammuitomaisdoqueumamaneirade
mensurarascoisasdavida.Eram,antes,ofundamentodouniverso.
ComoestudiosodePitágoraseobservadoratento,Raulfaztambém
nestetrabalhosuasincursõespornúmerosegeometrias,marcando
comcores,pinceladaseoutrasreferênciasvisuaissuainterpretação
domundo.Ummundoondehádiferentesmovimentos,infinitas
possibilidadeseumlimitetênueentreoabstratoeofigurativo.
Paris 1991
ParisConjuntode15
aquarelassobrepapel1999
50x35cm
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26
SobochãodoNortebrasileiro,aindamoraadúvida.Àsmargens
doRioAraguaia,rondamnomesdedesaparecidospolíticos.Onde
estarãoValquíria,Chico,Mané,DudaeOsvaldão?Oquedizerde
Landinho,Amauri,Mundico,Joaquimetantosoutrosfilhosefilhas,
mulheresemaridos,amigoseamigas?Quemsabe?Nestasérie,feita
nosúltimoscincoanos,oartistaretomaumcapítuloduroeainda
obscurodenossahistória:aGuerrilhadoAraguaia.
Movimentopolíticoderesistênciaàditaduramilitar,organizadopor
militantesdeesquerdaentre1972e1975,aguerrilhatinhaideiais
comunistasebuscavaconstruirumaestratégiaalternativanazona
ruralbrasileira,longedoclimadarepressãourbana.Acabousendo
esmagadapelasForçasArmadas.Osaldofoidemortos,desapareci-
dosealgunssobreviventes,quesaírampresos.
Atéhoje,maisde50nomesencontram-sesumidos,arquivados.
Destinosperdidosdefamíliasaindaàprocuradeseusdireitos.
Numaalusãoaomovimento,RaulCórdulaprocurafazer,digamos,a
suajustiça.Comasmãosdeartista,derramaemtintas,desenhos,
colagenseoutrosartifícioscriativosumaversãopossívelparaum
episódioaqueahistóriaaindadevemuitaspáginas.
Araguaia
ARAGUAIABarrocozido200428x46cm
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ARAGUAIANanquimecarvãosobrepapel2012150x100cm
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ARAGUAIAPinturasobrepapel2012450x150cm
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Primavera Negra 1Pinturasobremadeiraerelevo(ColeçãoOtacílioCartacho)196895x140cm
Marcasdahistóriapercorremestaspinturascomosequisessemcontar
tudooqueviveramatéaqui.Estardiantedelasémuitomaisdoque
percebersímbolosfortes,alusivosaumperíododeviolênciamilitar
noBrasil,quepodiam,deoutramaneira,tambémfalardehoje.Estar
frenteaestasérieé,alémdetudoisso,conhecerumavidacujoper-
cursoseconfundecomaprópriatrajetóriapolíticaeartísticadopaís.
Comestasmesmaspinturas,RaulCórdulasentiuopesodacensura
eoconstrangimentodeversuasobrasseremretiradasdohallda
reitoriadaUniversidadeFederaldaParaíba(UFPB),ondeestavam
sendoexpostas.Nãofoiumadeterminaçãodoregimemilitar,tam-
poucoteverelaçãocomoAI-5,queaindanãohaviasidoinstituído,
emboraoanofosse1968.Acensuraaconteceuantesdissoepartiu
deumaordemdoConselhoUniversitáriodaUFPB,queviunestes
quadrosuma“ofensivaàmoraleaopudorpúblico”.
Oepisódionacapitalparaibanaacabousendoamenizadoporuma
intervençãodeJoãoAgripino,entãogovernadordaépoca,quedeter-
minouqueasérievoltasseaserexposta.OTeatroSantaRosarece-
beuastelas,oquenãoevitouademissãodoartistadaUFPB,onde
trabalhavacomocoordenadordosetordeartesplásticasdoDepar-
tamentoCultural.Emseguida,oRecifeeOlindatambémvirama
mostra.Naaberturadestaúltima,CaetanoeGilleramomanifesto
tropicalista“Inventáriodofeudalismoculturalnordestino”,escrito
porJormardMunizdeBrito.
Todasasobrasvistasaquicarregamessehistórico–mesmoastelas
repintadas,porteremsidovendidasouperdidas.Erevelamaindaos
primeirosflertesdaproduçãobrasileiracomapopartnorte-americana.
1968
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Primavera Negra 2Pinturasobretela(releitura)2008180x150cm
Primavera Negra 3Pinturasobretela(díptico,repintura)201280x160cm
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Livro
Odesigner,oartista,opintor,ometiculoso,oestudioso,o
religioso...Esteéumtrabalhoquerevelaasmuitasfacetasde
RaulCórdulae,dealgumaforma,desnudaumpoucodasua
intimidade,escancarando,embrechas,umpoucodomistério
desuascriaçõesnomomentodoprocesso.
Nãoeraparaser,masacabouvirandoumlivrodeartista,um
objetodearte.Destesquedávontadedeviraraspáginas
repetidasvezes,comolhardecuriosidade–paranãodizerde
voyer.Noinício,eraparasersóumcadernodepautas,mas
aospoucosfoivirandoumcompanheiroinseparáveldeRaul,
ondeelederramaatéhojeseusesboços,seusestudos.Oinício
foinosanos1980enuncamaisdeixoudeserocomeçode
muitostrabalhos.Váriosprincípiosestãoaquidesdeentão.O
esboçodeobrasquesematerializaram–comosepodever–e
oprojetodeoutrasquetalvezfiquemporaí.
Deumaformaoudeoutra,olivronosajudaaentenderaarte
deRaul.Nuncareveladoaopúblicoatéentão,surgecomo
umapistanovaparaoentendimentodeumconjuntosignifi-
cativo.Nestecontexto,aparececomopeça-chave.Umapeça
viva,atravésdaqualpodemoscompreenderumprocesso
artísticoquepassanecessariamenteporumlaborintelectual;
porumhermetismocarregadodesimbologia.Ageometria,a
espiritualidade,ahistóriaeografismosãoalgunsdospontos
recorrentes.Nãoháintençãodidática,masopercursopor
essaspáginasamareladaspodenoslançarmuitasluzes.
Livrodecontabilidadecomdesenhosecolagens
1980a2012
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A Gaivota Cega
Umaobraparaservistacomasmãos.Eisopropósitodestetra-
balho:seralcançadoatravésdotato,umaformadeacessomenos
imperativanoterritóriovisualdaarte.Otocaréaquioinstrumento,
omecanismopormeiodoqualoartistaoferecesuasensibilidade
aomundoe,emespecial,aoscegos–aquemdedicaestasérie.
OtrabalhopartedocontoAgaivotacega,escritopelopróprioRaul
Córdula.Namostra,aspalavrasdotextosãoapresentadasem
braile,paraseremlidascomapele...Oenredogiraemtornode
umsupostoencontroentreoartistaeAristides,umhomemcuja
deficiênciavisualchamasuaatençãodeumjeitoinesperado,eisso
acabadoaproximandoosdoisparaumaconversasobrepintura.
NametáforaexploradaporRaulnesteconto,onãoenxergarérela-
tivo.Nestecaso,éumamaneiradetranscenderosentidodaarte;
dascores,dasformas.Enquantooartistafaladepinturaedeuma
desuascriações,oseunovoamigoosurpreendecominterpretações
quasesinestésicas:“...overmelhoécomoogritodopavão!”.
Alémdotexto,eleexpõeseisplacasdeacrílico,comdesenhosem
relevoparaseremtateadospelopúblico.Sãocontornosretiradosde
trabalhosantigos,pelosquaiseletemapego.Sena“conversa”com
Aristidesapalavradeleécomo“umaluz”,nestetrabalhopropostas
alternativasdefruiçãonoslevamaoutrasformasdevisão.
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Placadeacrílicocomdesenhogravado–6peças2012
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OPaísdaSaudadeéumasériedeartepostaleoutraexpressão
dosanguepolíticoquecorrenasveiasdeRaulCórdula.Bemno
espíritocoletivoquemarcasuapersonalidadeeadasuageração,o
trabalhovainatrilhadosquebuscaram,pormeiodecircuitosalter-
nativos,romperasfronteirasinstitucionaisdaartenoBrasil.Através
deenviospostais,Raulestimulouamigos,artistaseoutraspessoas
comasquaistinhaidentificaçãoacolaborarcomasérie.
Oanoera1982eatrocaconsistianoseguinte:elemandavaum
papelembranco,apenascomomote“Opaísdasaudade”.Noenvio
tambémiaumrecadocarimbado–“Porfavor,interfiraemedevolva”.
Várioscolaboradoresenviaramsuasrespostas.Asinterferênciasvisuais
everbais,comosepodeveraqui,foramtãosintomáticasquantoomo-
mentopeloqualpassavanossopaísdeentão–emviasdereabertura
emuitolongeaindadetrazerseusexiladosdevoltaparacasa.
OinquietoJomardMunizdeBritofoioartistaquemaiscontribuiu
comasérie.Emcadaumadesuasplaquetas,épossívelsentiroes-
píritolibertárioeutópicoquemarcouaartepostalbrasileira,tanto
políticaquantoesteticamente.
O País da Saudade
O País da Saudade66folhasdepapelofício
cominterferênciasgráficas1982
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42
Nestetrabalho,feitonosúltimosanos,PBéumasiglatomadaemseu
duplosentido:remetetantoàParaíbaquantoaoelementochumbo.A
junçãoéumametáforadahistoriografiapolíticadoestadodeorigemde
RaulCórdula,queéparaibano,efunde-senumapinturabastantesigni-
ficativa–emborahajaoutrasobrasnasérie.
Sobumaperspectivacrítica,oartistaprocurarever,atravésdeste
trabalho,opassadodesuaterra–etambémoseu.Apropriando-seda
imagemdaatualbandeiraparaibana,elerevisitaosacontecimentospor
trásdaprópriacriaçãodosímbolorubro-negro,ondeselêoriginalmen-
te“NEGO”.Noladopretodabandeira,elecolocouchumbo(literal-
mente)enoladovermelho,suprimiuo“n”,deixandotransparecera
palavra“EGO”,que,nasuaversão,surgedeformavelada,comose
tivessesidodeixadasobreummuro.
Sabe-sequeestanãofoisemprebandeiradaParaíba.Amudança
aconteceudepoisdoassassinatodeJoãoPessoa,entãopresidentedo
estado(oequivalenteagovernador),numepisódiotidocomooestopim
dachamadaRevoluçãode1930,queinaugurouaEraVargasnoBrasil.
Contaahistóriaquecercadeumanoantes,JoãoPessoahavianegado
apoioaocandidatoàpresidênciaJúlioPrestes,masasinsatisfaçõesem
relaçãoaelenasceramantes,dentrodaprópriaParaíba.Osperrepistas
eramseusprincipaisopositores.OavôdeRaulfaziapartedestegrupo.
Eopróprioartistasedizatéhojeumperrepista,emboraoPartidoRe-
publicanoPaulistatenhasidoextinto.Ostirosnoquadrorepresentama
mortedopolíticoquevirounomedecidade.
MadeinPBtambéméumrockdeZéRamalho,amigodoartista.
Made in PB - feito em chumbo
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Made in PB – Feito em ChumboTintaacrílicaemtela2005100x80cm
Bandeira do EGOChumboetelapintada–Díptico2005230x100cm(conjunto)
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João Pessoa 1965
Nestasériededesenhosaquarelados,feitostambémcomoutros
materiais–comocarimbos–,vemosumRaulCórdulamaissolto,
espontâneo,quaseprimitivo.Eisumarelíquiadeseuacervo,ainda
poucoexplorada.Vembemdoiníciodesuatrajetória,quandooolhar
doartistasecurvava,comfrequência,aosdesenhosougaratujasde
criança;aosdizeresegrafismoslargadosnosmuros,nascalçadas,
nasárvores;aosrabiscosfeitosaotelefoneporqualquerpessoa.
OconjuntodessasfigurasorgânicasremeteàbuscadeRaulpelo
espontâneonaarteetalvezatépelo“puro”.Nãonosentidoformal
dadoàprocuraporuma“estéticapura”,levadaacabopormuitos
nomesdesuageração.Masnosentidointuitivo,dequembuscao
princípiodofazerartístico.Oprocesso,contudo,nãoéinconscien-
te.Bastaobservar,porexemplo,asubversãoqueelefazdaimagem
dostrêsmacacosdo“nãovejo”,“nãofalo”,“nãoouço”,colocando-
osparaver,falareouvir.
Sãosutilezasdequemjáafirmouumdiaque,deformaconciente,
“ogrotescocomoengajamento,semquerersersartreano,represen-
taráo‘absurdodocotidiano’”.
Desenhos 19658desenhosemAquarela
enanquimempapel1965
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Apoio
Patrocínio Produção Realização