radio jornalismo em londrina: um perfil de vita guimarães

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DEBORAH DA SILVA VACARI RADIOJORNALISMO EM LONDRINA: UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES Londrina 2013

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TCC (Tese de Conclusão de Curso) de Deborah Vacari, Jornalismo UEL 2013: O objetivo principal deste estudo é acrescentar às pesquisas de história da mídia em Londrina o registro da trajetória profissional de Vita Guimarães, jornalista que iniciou sua carreira no rádio em 1968 e trabalhou em nove emissoras da cidade até 2005. Nesta pesquisa são traçadas algumas peculiaridades sobre sua vida profissional no contexto das ocorrências históricas no radiojornalismo londrinense.

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Page 1: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

DEBORAH DA SILVA VACARI

RADIOJORNALISMO EM LONDRINA:

UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES

Londrina

2013

Page 2: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

DEBORAH DA SILVA VACARI

RADIOJORNALISMO EM LONDRINA:

UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Guirado de Carvalho

Londrina

2013

Page 3: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

DEBORAH DA SILVA VACARI

RADIOJORNALISMO EM LONDRINA:

UM PERFIL DE VITA GUIMARÃES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Guirado

de Carvalho Universidade Estadual de Londrina

______________________________________ Prof.ª Dr.ª Marcia Neme Buzalaf

Universidade Estadual de Londrina

______________________________________ Prof.º Dr. Osmani Ferreira da Costa Universidade Estadual de Londrina

Londrina, 10 de novembro de 2013

Page 4: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

Aos meus pais e irmãos que sempre me

incentivaram e me apoiaram ao longo

dessa árdua e gratificante jornada.

Page 5: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

AGRADECIMENTOS

Foram quatro anos de aprendizado, de textos construídos, de histórias ouvidas

e descritas. Por tudo isso, são necessários inúmeros agradecimentos.

Agradeço, primeiramente, a Deus e a Doutrina Espírita por me abençoar e

conceder a serenidade necessária para a conclusão deste ciclo.

Aos meus queridos pais, Geruza e Ivo, por nunca terem medido esforços para

a realização deste sonho. Cheguei até aqui por vocês.

Aos meus amados irmãos, Eduardo e Juliana, pelo amor, carinho e parceria

compartilhados desde a infância.

Ao meu amor, Juka, pelo apoio e por sonhar junto comigo sempre. “E o mundo

é perfeito”.

À minha querida, Marielen, pelas risadas e conselhos motivadores.

À minha família que sempre acreditou em meu potencial. Obrigada avós, tias,

tios, primos e primas. Vocês são importantes. Em especial obrigada ao meu

eterno inspirador, José Pereira.

À minha segunda família do Centro Espírita Allan Kardec por me motivar a

levar a vida com alegria, fé e dignidade.

Agradeço a minha querida orientadora, Prof.ª Dr.ª Maria Cecília Guirado de

Carvalho, por ter acreditado e mergulhado neste trabalho tanto quanto eu.

À Vita Guimarães, exemplo de jornalista, pela honra de poder contar parte de

sua história no Rádio Londrinense. Muito obrigada!

Aos professores da Universidade Estadual de Londrina pelos importantes

ensinamentos ao longo destes quatro anos.

Ao Bruno Cardial, pela paciência e por aguçar a minha paixão pelo

radiojornalismo.

À Casa de Cultura da UEL, Rádio UEL e ao Projeto Música Criança por me

envolverem na apaixonante prática jornalística.

Page 6: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

Aos professores e funcionários do Colégio Estadual Vereador José Balan, local

onde dei os primeiros passos rumo à universidade.

Ao Colégio Alfa, professores e funcionários, obrigada por tudo que fizeram por

mim. Em especial, Seu Jair, Pedro e Rodrigo.

“Quem tem um amigo tem um tesouro”. E os meus tesouros umuaramenses

são muitos e maravilhosos, o que me impede de citá-los. Muito obrigada,

sintam-se abraçados!

Não posso deixar de mencionar o grande incentivador por eu ter adentrado

uma das melhores universidades do Paraná: Vinícius Benício, muito obrigada!

Aos colegas e amigos de classe, aos veteranos e calouros que me fizeram

amar ainda mais a UEL. À Paola pela alegria de viver e por me mostrar que

existe um mundo de possibilidades para a realização dos meus sonhos. À

Giulia que por vezes abandonou suas coisas para me aconselhar e cuidar de

mim nos momentos de dificuldade. À Isabela pelos abraços carinhosos e pelas

palavras sempre bem colocadas. Ao Adam por ser a pessoa mais brilhante que

tive a oportunidade de conviver. Ao Allyson por sempre deixar os papos, as

manhãs, a minha vida mais alegre. Ao Guilherme pelas ponderações, pelos

conselhos e pelas piadas que refrescavam a tensão diária.

A todos os entrevistados que contribuíram para a minha formação, que

estimularam a minha vontade de desempenhar o ofício diário do jornalismo.

Enfim, obrigada a todos por ajudarem a realizar este sonho.

Page 7: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

VACARI, Deborah da Silva. Radiojornalismo em Londrina: um perfil de Vita Guimarães. 2013. 103 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2013.

RESUMO

O objetivo principal deste estudo é acrescentar às pesquisas de história da mídia em Londrina o registro da trajetória profissional de Vita Guimarães, jornalista, que iniciou sua carreira no rádio em 1968 e trabalhou em nove emissoras da cidade até 2005. Nesta pesquisa são traçadas algumas peculiaridades sobre sua vida profissional no contexto das ocorrências históricas no radiojornalismo londrinense. Dentre estas reflexões destaca-se o caso da cassação do prefeito Antonio Belinati, no ano 2000. Vita Guimarães apresentou a compilação de materiais que serviram de ponto de partida para desvendar a corrupção em órgãos da prefeitura municipal. Por meio deste estudo pode-se constatar que o trabalho desenvolvido pela jornalista, ao longo de 33 anos de carreira, colaborou em questões sociais, políticas e históricas.

Palavras-chave: Vita Guimarães. História da mídia. Radiojornalismo. Londrina.

Page 8: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

VACARI, Deborah da Silva. Radio journalism in Londrina: a profile of Vita Guimarães. 2013. 102 pages. Final Paper (Graduation in Journalism) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2013.

ABSTRACT

The main objective of this study is to add to the researches of the history of the media in Londrina, the register of the professional trajectory of Vita Guimarães, journalist who began her career in the radio on 1968 and worked in nine radio stations of the city until 2005. In this research are described some peculiarities of her professional life in the context of the historical occurrences in the radio journalism of Londrina. In those reflexions, it's highlighted the case of the repeal of the mayor Antonio Belinati in the year of 2000. Vita Guimarães showed the amount of materials which served as a starting point to reveal the corruption in the agencies of the city hall. By this study it can be noted that the work developed by the journalist, over 33 years of career, collaborated on social, political and historical subjects. Key words: Vita Guimaraes. Media history. Radio journalism. Londrina.

Page 9: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11

2 PRIMEIROS PASSOS NA CAPITAL DO CAFÉ .............................................. 15

2.1 DE RÁDIO-ATRIZ PARA O MUNDO DAS NOTÍCIAS ................................... 16

2.2 EXPERIMENTAÇÕES DE UM PERCURSO PROFISSIONAL ...................... 23

2.3 O RÁDIO E SUAS EXTENSÕES ................................................................... 25

3 DOS ESTÚDIOS PARA A RUA ........................................................................ 31

3.1 A IMERSÃO NO OFÍCIO DIÁRIO .................................................................. 37

3.1.1 CASO ELEFANTE BRANCO ...................................................................... 38

3.2 PARTICULARIDADES DE UMA VIDA ........................................................... 39

4 ESTUDO DE CASO: A CASSAÇÃO DE ANTONIO BELINATI ....................... 44

4.1 VITA AJUDA A DESMASCARAR BELINATI .................................................. 45

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 57

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 61

REFERÊNCIAS DIGITAIS.................................................................................... 63

ANEXOS .............................................................................................................. 65

ANEXO A – CARTEIRA DE TRABALHO ............................................................. 66

ANEXO B – PROJETO PESSOAL ....................................................................... 70

ANEXO C – JORNAL DA CASA .......................................................................... 71

Page 10: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

ANEXO D – REQUERIMENTO ............................................................................ 73

ANEXO E - MATÉRIA RECONHECIMENTO ....................................................... 74

ANEXO F - CERIMONIAL – DIPLOMA DE RECONHECIMENTO PÚBLICO ...... 75

ANEXO G – REVISTA SELEÇÕES ..................................................................... 78

ANEXO H – TERMO DE DECLARAÇÃO ............................................................. 82

ANEXO I – TERMO DE COMPARECIMENTO .................................................... 85

ANEXO J – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 86

ANEXO K – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 89

ANEXO L – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 90

ANEXO M – JORNAL DE LONDRINA ................................................................. 92

ANEXO N – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 94

ANEXO O – JORNAL DE LONDRINA ................................................................. 96

ANEXO P – JORNAL DE LONDRINA .................................................................. 98

ANEXO Q – JORNAL DE LONDRINA ................................................................. 100

ANEXO R - ÁUDIO DAS ENTREVISTAS............................................................. 102

Page 11: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

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1 INTRODUÇÃO

A ideia para a realização deste trabalho surgiu após o debate

sobre a História do Rádio Londrinense, promovido pelo Centro Acadêmico de

Comunicação na Universidade Estadual de Londrina, em 31 de outubro de

2012. A discussão foi mediada pelo Professor Doutor Osmani Ferreira da Costa

e debatida pelos profissionais da área do rádio: Nicéia Lopes, Neto Almeida,

Valdir Bezerra e Vita Guimarães. Das histórias e relatos descritos pelos

componentes da mesa, a de Vita Guimarães destacou-se.

Mulher e negra, nascida em 14 de setembro de 1952, em

Santa Rita de Cássia, Minas Gerais, ela chegou a Londrina ainda bebê e, aos

16 anos de idade, aceitou aposta feita por um amigo para fazer o teste da

Rádio Atalaia. Evento divisor de águas da vida de Vita Guimarães. Passou pelo

teste e começou a trabalhar como rádio-atriz. Posteriormente, aceitou outro

desafio: trabalhar com radiojornalismo.

Obteve o primeiro registro em carteira em 1970, pela Rádio

Atalaia e o último na Rádio Paiquerê em 2003, aposentando-se em 2007.

Porém, os trabalhos difundidos pelas ondas hertzianas compreendem o

período de 1968 a 2012, ano em que trabalhou nas últimas eleições para

prefeito, na cidade de Londrina.

No decorrer da trajetória profissional de Vita Guimarães

constataram-se peculiaridades; dentre elas a regularização de seu registro

profissional em 1999, já que não havia frequentado a academia. Este fato foi,

portanto, um marco na carreira da profissional, que pôde dessa forma obter os

direitos da classe. Outro ponto importante na carreira da jornalista ocorreu no

ano de 2002, quando a Câmara Municipal de Londrina conferiu-lhe o Diploma

de Reconhecimento Público pelas atividades que desempenhara em favor do

município.

A jornalista, reconhecida por sua voz potente esteve

relacionada a lutas coletivas das comunidades londrinenses. Passou por

diversas funções em nove emissoras, porém o trabalho com o qual mais se

identificou foi o de dar voz à população em programas cujo foco era atender às

reivindicações dos ouvintes.

Page 12: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

12

A trajetória de Vita Guimarães e suas peculiaridades dão corpo

a este trabalho, a fim de demonstrar a riqueza de sua história profissional.

Dessa forma, registra-se também parte da história da mídia de Londrina.

Dentre estas peculiaridades estão os casos polêmicos nos quais a jornalista

participou ativamente na resolução, sendo, entre estes o caso-estudo deste

trabalho: a cassação do prefeito Antonio Belinati.

As próximas páginas do trabalho combinarão a história da

jornalista ao quadro teórico embasado nos conceitos dos Estudos Culturais,

pelas abordagens propostas por esta teoria que explica os processos

midiáticos e as consequências que estes causam, tanto no contexto individual,

quanto no que se refere à coletividade de determinada comunidade.

Estima-se, portanto, com o auxílio desta teoria, compreender a

relação e o reflexo que a história profissional de Vita Guimarães tem com o

processo histórico da mídia local. Ainda sobre a teoria utilizada pode-se

reafirmar a sua correlação com este caso pelos estudos propostos por Stuart

Hall, que pontua as questões da identidade e suas concepções na pós-

modernidade, além de trazer um conceito amplo do que é cultura. Outro ponto

importante são os questionamentos feitos por Pierre Bordieu que discutem a

linearidade proposta na construção de histórias de vida, o autor desconstrói

essa ideia e crítica à organização cronológica dos textos biográficos.

Quanto às técnicas de trabalho de campo utilizadas nesta

pesquisa seguem os conceitos de Duarte por meio de entrevistas em

profundidade, com o objetivo de explorar ao máximo o tema em questão.

Utilizou-se, portanto, entrevistas: “abertas, semi-abertas e fechadas,

originárias, respectivamente, de questões não estruturadas, semi-estruturadas

e estruturadas” (DUARTE, 2006, p. 64).

Para compor este trabalho foram necessários encontros com

Vita Guimarães, que ocorreram entre os meses de abril e outubro deste ano, e

totalizaram mais de quatro horas de gravação em áudio. No primeiro encontro,

o método utilizado foi a entrevista aberta, pela sua flexibilidade e pela garantia

da fluência e naturalidade, tanto por parte da entrevistada quanto da

entrevistadora.

Page 13: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

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Durante o segundo e terceiro encontros, achou-se mais

apropriado o método de entrevista semiaberta, ou seja, o auxílio de um roteiro

com questões-chaves ditou a ocasião. Já no último encontro foi utilizado o

método de entrevista fechada que se justifica por “aprofundar resultados

obtidos em entrevistas em profundidade” (DUARTE, 2006, p.67).

Ainda acerca das técnicas utilizadas, é importante citar o

método biográfico que ajudou a compor este trabalho, com o propósito de

possibilitar um aprofundamento singular na história profissional de Vita

Guimarães. O método biográfico “é a dicotomia entre o real e o pessoal, a

produção e a ruptura. É na verdade, a nosso ver, a renovação do presente”

(DUARTE, 2006,p.84).

E para contextualizar os momentos vividos pela jornalista foram

necessários documentos oficiais como, o Jornal de Londrina, alguns

documentos registrados pelo Ministério Público, carteira de trabalho, dentre

outros. Foram estudados também cartas e e-mails, neste caso, enviados à Vita

Guimarães tanto pela população quanto por autoridades da cidade. Fotos e

clippings também auxiliaram na contextualização dos fatos vividos por Vita

Guimarães.

Outro método utilizado foi o estudo de caso, que possibilitou o

levantamento de informações sobre o acontecimento em questão.

Visando à descoberta, o pesquisador trabalha com o pressuposto de que o conhecimento não é algo acabado, mas que está sempre em construção por isso faz parte de sua função indagar e buscar novas respostas ao longo da investigação (DUARTE, 2006, p. 233).

Quanto à organização, este trabalho divide-se em cinco

capítulos, incluindo esta introdução. No segundo capítulo, discorre-se sobre os

primeiros trabalhos desenvolvidos pela jornalista desde quando deu início a

carreira no rádio em 1968 até 1989, demarcando, dessa forma, o que vivenciou

entre o ofício de atriz no rádio e a transição para o jornalismo voltado às

questões sociais.

Page 14: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

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O terceiro capítulo é composto por mais uma transição vivida

pela jornalista; em 1989 na Rádio Brasil Sul, Vita Guimarães começa a

desenvolver o radiojornalismo fora dos estúdios. Este período é demarcado

entre os anos de 1989 e 2003, ano do último registro profissional da jornalista.

Posteriormente, Vita parte para um projeto pessoal, entre 2003 e 2005, com o

programa “Bairros em Revista”. São tratados também, neste capítulo, alguns

casos polêmicos e particularidades da vida profissional da jornalista.

No quarto capítulo está compreendido o estudo de caso sobre

a cassação do então prefeito Antonio Belinati. Fato que Vita Guimarães não só

acompanhou como foi peça fundamental para a resolução. Neste capítulo, a

composição para o entendimento do fato será feito por meio dos depoimentos

da jornalista, e também por materiais veiculados no diário Jornal de Londrina.

O quinto e último capítulo contém as considerações finais, que

reafirmam a necessidade deste estudo para o registro da história profissional

de Vita Guimarães. Em seguida, estão as referências bibliográficas e digitais e

também os anexos com os materiais necessários para a compreensão deste

trabalho, dentre eles os periódicos e as gravações das entrevistas editadas.

Page 15: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

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2 PRIMEIROS PASSOS NA CAPITAL DO CAFÉ

Em 1968, dentre os fatos que marcavam o contexto histórico

internacional estavam a desapropriação dos últimos estabelecimentos privados

em Cuba; neste mesmo ano foi morto a tiros o ativista Martin Luther King que

recebeu o Nobel da Paz em 1964; na Tchecoslováquia começavam os rumores

da Primavera de Praga. No Brasil, foi o ano da realização da “Passeata dos

Cem mil”, da criação da lei de censura pelo então presidente Costa e Silva e

também do decreto do AI-5, ato que suprimia as liberdades democráticas no

país.

No Paraná, a lavoura de café tomava os campos do estado,

principalmente no norte, onde despontava a pequena Londrina, que teve

investida em suas terras, desde a década de 50, a referida produção. Foi neste

cenário que Vitalina da Silva Guimarães, conhecida posteriormente como Vita

Guimarães, adentrou aos 16 anos no universo do rádio.

A mineira, nascida na cidade de Santa Rita de Cássia, chegou

a Londrina de pau de arara com seus oito irmãos e mais três famílias. Ela tinha

nove meses de vida. O que trouxe a família de Dona Benedita da Silva e

Senhor Abílio Dias Guimarães, pais de Vita, foi o êxodo e a esperança de

novas oportunidades na “terra” onde tudo dava. Aos sete anos ajudava os pais

nos afazeres domésticos e, com o passar dos anos, no cuidado com a roça.

Já moça, trabalhando como empregada doméstica, Vita

Guimarães fez uma aposta com um amigo cobrador de ônibus, e esta

brincadeira mudaria o curso de sua vida. A aposta consistia em ir até a Rádio

Atalaia e participar da seleção para compor o quadro de funcionários da

emissora, especificamente, na área do rádio-teatro. Como não tinha nada a

perder e aquilo seria apenas o cumprimento de uma aposta, topou.

Para o rádio eu fui por acaso, fui por uma aposta. Eu sempre falei muito e um dia um cobrador do ônibus que também virou amigo, falou assim: ─Ah! Você fala muito, mas eu duvido que você tenha coragem de fazer o teste lá na rádio Atalaia. Era um vestibular, sabe? A rádio Atalaia ficava aqui na Avenida São Paulo, em cima da Vantajosa. Quando surgia uma vaga para o rádio-teatro era uma concorrência enorme, e fizeram esse

Page 16: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

16

chamamento que precisavam de homens e mulheres, vozes masculinas e femininas para compor o rádio-teatro.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

Chegando à emissora se deparou com professoras, advogadas

e “mulheres muito bem vestidas”. O número de candidatos às vagas

disponibilizadas também era considerável, naquele dia mais de 60 pessoas

lotavam as escadas e corredores da rádio.

O teste era assim: o diretor ficava na ponta de uma mesa, a pessoa vinha, saia do lugar da fila e sentava do lado dele. Ele dava um texto para ler de revista científica. Vinha um daqueles bonitões, começava a ler, ele [o diretor]: ─ Você não serve![...] Quase no final chegou a minha vez. [...] Eu comecei a ler e ele não mandava parar. Fui lendo, fui até o fim. Geralmente, as pessoas [candidatos ao teste] não liam mais de duas linhas. Ele falou: ─ É de você que eu preciso.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013.)

Esta chance encaminhou Vita Guimarães ao mundo

jornalístico. Vita confessa que não sabia o que aconteceria no dia após o teste,

pois “estava somente cumprindo uma aposta”. Das pessoas que se

candidataram apenas cinco passaram; destes, somente dois permaneceram

para desempenhar a função.

2.1 DE RÁDIO-ATRIZ PARA O MUNDO DAS NOTÍCIAS

CRONOLOGIA PROFISSIONAL DE VITA GUIMARÃES

Dados carteira de trabalho (ANEXO A – Carteira de Trabalho)

ANO EMISSORA FUNÇÃO

1970 – 1973 Rádio Atalaia Rádio-atriz

1974 Rádio Clube Rádio-atriz

Page 17: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

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1975 Rádio Londrina Locutora-noticiarista

1975 – 1976 Rádio Cruzeiro do Sul Locutora-noticiarista

1977 – 1978 Rádio Clube Datilógrafa-redatora

1979 – 1981 Rádio Clube Locutora-noticiarista

1981 – 1982 Rádio Atalaia Produtora executiva

1983 – 1984 Rádio Clube Produtora executiva

1984 Rádio Norte Chefe de escritório

1987 – 1988 Rádio Cruzeiro do Sul Gerente comercial

1989 Rádio Atalaia Produtora executiva

1989 – 1991 Rádio Brasil Sul Repórter

1991 – 1992 Fundação Mater Et

(Rádio Alvorada)

Repórter

1993 – 1996 Rádio Brasil Sul Locutora/entrevistadora

1996 – 1999 Rádio Paiquerê Repórter entrevistadora

2000 – 2003 Rádio Paiquerê Repórter entrevistadora

A Rádio Atalaia “foi a sexta emissora a entrar no ar em

Londrina” (COSTA, 2005, p. 93). Isto aconteceu no ano de 1962, quase 20

anos após a inauguração da primeira rádio da cidade, a Rádio Londrina. A

emissora tornou-se poucos anos mais tarde uma escola: formou locutores e

rádio-atores, dentre estes, Vita Guimarães.

[...] a Rádio Atalaia foi, em todos os sentidos, uma grande escola de rádio de Londrina. Não apenas porque mantivesse uma “escolinha” para a formação de locutores e radioatores, mas porque lá se aprendia a fazer de tudo. De serviços de mecanografia (para cópia dos scripts), à redação de textos

Page 18: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

18

para as mini-séries e demais programas teatralizados. (PINHEIRO, 2001, p. 84)

E foi nesta grande escola que Vita Guimarães deu os primeiros

passos. Mantinha dois empregos e também estudava; chegou a concluir o “2º

grau”, equivalente ao Ensino Médio ainda durante o início da carreira.

A futura jornalista explica que enfrentou preconceitos relativos

à época. Estava no imaginário de algumas pessoas da sociedade daquele

período, segundo Vita, que a mulher que trabalhava em rádio era tida como

desocupada e o homem como desqualificado. “Mesmo assim era um paradoxo,

porque era muito difícil chegar lá [rádio-teatro], as pessoas eram mal faladas,

mas todo mundo queria”, destaca Vita.

Em 1968, como é sabido, o país passava pelo regime militar

(1964–1985). A jornalista explica que o Departamento Nacional de

Telecomunicações (DENTEL) fiscalizava os scripts das rádios-novelas, e

determinados textos tiveram de ser reescritos, porém as mudanças muitas

vezes eram nas colocações das palavras, mudando um ou outro vocábulo.

A gente tinha que levar as rádios-novelas que a gente escrevia para que eles vissem o que havia sido escrito. Mas era um negócio tão bobo, ele pegava o papel, lia alguma coisa e: ─ Não, não gostei dessa palavra. ─ Não gostei dessa frase. ─ Eu não gostei desse texto. Não havia um critério político, era um critério que ninguém sabe como é que é. A gente voltava para o estúdio e ia reescrever.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013.)

Ainda menor de idade, em algumas circunstâncias, ela teve de

se esconder da fiscalização dentro da própria rádio e quando, por ventura, a

encontravam por lá, se questionada quanto a sua presença, negava o

envolvimento empregatício, revelava somente que estava fazendo visita.

Vita Guimarães possuía uma carteira de trabalho especial,

direcionada a jovens menores de 18 anos. Mas, em algum momento de sua

estadia na Rádio Atalaia este documento foi extraviado, ficando na carteira

Page 19: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

19

profissional somente o registro a partir de 1970, quando já somava dois anos

de trabalho na emissora.

No dia 1º de fevereiro de 1970, curiosamente um domingo, teve

o seu primeiro registro na carteira de trabalho, constando o cargo de rádio-atriz.

Nesta primeira experiência ela permaneceu até 1973, quando foi tentar a vida

na cidade do Rio de Janeiro.

Na capital fluminense, local onde um de seus irmãos morava,

teve a chance de assessorar Antonio Luiz Vendramini, que apresentava um

programa da Rádio Tupi denominado “A turma da Maré Mansa”.

Eu fiquei lá no Rio de Janeiro oito meses, mas era muito ruim pra mim porque eu morava muito longe. Eu morava em Jacarepaguá. Para chegar no centro da cidade eram 3 horas, três conduções [para ir], três pra voltar. O Antonio Luiz me levava de volta pra casa e eu comecei pensar: ─Nossa! Estou dando trabalho, não é legal.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

Não adaptada à cidade, Vita Guimãraes retornou a Londrina e

foi para a Rádio Clube, no ano de 1974. “A sétima rádio a entrar no ar na

cidade, no ano de 1963, foi a Clube de Londrina” (COSTA, 2005, p. 93). Nesta

emissora a futura jornalista também desempenhou a função de rádio-atriz e, de

acordo com o seu registro profissional, ficou somente alguns meses. Isto se

deu pelo fato de o rádio-teatro ter entrado em declínio, e também por um

convite inusitado:

Um amigo falou para mim assim: ─Você não quer trabalhar comigo lá na Rádio Londrina? Aí, eu falei: ─Fazer o que lá? Ele: ─Eu estou fazendo o projeto de um jornal e eu queria que você fosse comigo. Eu fui, acabei ficando lá um tempo.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013)

Neste momento, é importante avaliar as mudanças, a transição

que a vida de Vita Guimarães foi exposta. Saiu, em 1974, portanto do mundo

da ficção, das histórias, da beleza das rádio novelas para trabalhar com as

notícias, sendo a primeira emissora a Rádio Londrina, em 1975. Em seu

Page 20: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

20

registro, o nome da função que desempenhara foi o de locutora-noticiarista,

sendo a mudança evidente inclusive na carteira de trabalho.

“A modernidade de Marconi chega a Londrina”, como destaca

(COSTA, 2005, p.87) quando o município contava com apenas nove anos de

fundação e foi denominada Rádio Londrina posteriormente, esta seria a

emissora em que Vita Guimarães daria as primeiras passadas para o

radiojornalismo. Neste contexto, é importante lembrar também os estudos

feitos por Francisca Sousa Mota e Pinheiro sobre a fase inicial do rádio na

cidade.

Todavia, as promessas de crescimento eram alardeadas pela Companhia de Terras Norte do Paraná, subsidiária da firma inglesa Paraná Plantation, responsável pelo empreendimento de colonização da região. As peças da campanha publicitária, cartazes, anúncios em jornais e rádio, espalhados pelos diferentes Estados do país pela empresa colonizadora continham apelos estimulantes. A fertilidade do solo, a riqueza da mata, e a oportunidade de (re)começar a vida numa terra de muito futuro eram as principais atrações oferecidas nessa campanha (PINHEIRO, 2001, p. 6).

Dados os primeiros passos, a jornalista destaca que não sabia

quase nada de jornalismo, utilizava o método gillette-press – prática de noticiar

a partir de textos antes publicados, sendo, geralmente, textos recortados de

jornais lidos em rádio com a ausência de créditos. A respeito desta prática,

Ortriwano (2003) destaca que eram comuns estes procedimentos pelo fato de

que as rádios eram munidas, muitas vezes, de locutores e não de repórteres.

Apesar de subverter a função do rádio, era comum nos seus primeiros tempos e continua presente em muitas de nossas emissoras, com roupagem nova: gillette-press virtual, resultado do copy and paste obtidos em sites da Internet (ORTRIWANO, 2003, p.70).

Ainda neste período dos primeiros contatos com o mundo das

notícias, em 1975, Vita Guimarães soube que uma das emissoras da cidade

estava precisando de locutores, e se aventurou a perguntar ao diretor “se não

serviria uma locutora”. E foi na Rádio Cruzeiro do Sul que a jornalista diz ter

Page 21: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

21

aprendido o que era realmente o ofício diário da profissão, que desempenharia

no decorrer dos anos.

De acordo com (COSTA, 2005, p. 92) e (PINHEIRO, 2001, p.

72), a Rádio Cruzeiro do Sul foi a quarta emissora londrinense, sendo a

primeira da década de 60, inaugurada em 1961. O diretor a quem Vita

Guimarães faz referência é Antonio Marcos Dametto, que em determinada

época foi também dono da emissora. “A minha faculdade foi aqui. Ele [Antonio

Marcos Dametto] me ensinou tudo”.

A jornalista permaneceu nesta Rádio entre os anos 1975 e

1976. No ano de 1976 nasceu Fabiane Guimarães, filha da jornalista que diz

ter somente ficado em casa durante os quatro meses de licença maternidade,

pois naquela época já assegurava à mulher a garantia do emprego (Lei nº

5.452, de 1º de maio de 1943).

Após o nascimento da filha, a jornalista voltou para a Rádio

Clube, tendo em sua carteira de trabalho dois registros profissionais seguidos:

um entre 1977 e 1978 e outro de 1979 a 1981. Em 1980, nasceu a segunda

filha: Paula Guimarães. Nesta década, de acordo com dados do censo do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população de Londrina passava

de 300 mil sendo que 88,48% residiam em área urbana e 11,52% se

encontravam nas áreas rurais.

A explicação para este retorno à emissora, segundo a

profissional, se dá por questões salariais. “Era bem rotativo. Como não tinha

piso, onde estava melhor a gente ia. Ficava alguns meses, saía e depois

voltava ou ficava sem registro um tempão”.

Um fato intrigante, recorrente na carteira de trabalho da

jornalista, são as denominações de suas funções. Como exemplo, nesta época

em que esteve na Rádio Clube, em um de seus registros está: datilógrafa-

redatora e no outro locutora-noticiarista. A jornalista explica o porquê destes

artifícios:

[...] Era tudo atividade de radiojornalista, mas para burlar a lei eles colocavam assim. Inclusive locutora-noticiarista, isso nunca existiu. Isso tudo era para burlar a lei. [...] A questão é

Page 22: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

22

que estavam começando as cobranças na área trabalhista, as mudanças pós-ditadura.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013)

Nos caminhos desta trajetória está também o retorno da

profissional à emissora que abriu as portas para que ela mostrasse o seu

talento. Entre os anos de 1981 e 1982, a jornalista retoma os trabalhos na

Rádio Atalaia, agora para desempenhar a função de radiojornalista. Deixando a

emissora em 1982, ela regressa à Rádio Clube em 1983 e fica até 1984.

A Rádio Clube “é considerada a recordista em alterações de

contrato social. Oficialmente, passou por dez alterações. Extraoficialmente,

este número vai bem além” (PINHEIRO, 2001, p.94). Conhecida por passar por

mudanças repentinas, aquela emissora mudou de nome e tornou-se Rádio

Norte, sendo a jornalista registrada como chefe de escritório.

Na verdade eu era gerente da Rádio, fazia de tudo. Da noite para o dia ela se transformou em Rádio Norte tanto que eu sou a primeira funcionária dessa Rádio porque eu já era funcionária. [...] Essa Rádio foi levada lá para o lado da UEL. Ela funcionava dentro de um ônibus. Tinha uma casinha onde tinha escritório e tinha uma carcaça de um ônibus. Era um cara bem visionário que nós tínhamos aqui que era o dono da Rádio, chamava-se Celso Aarão.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 19 de outubro de 2013)

A jornalista declara também que não tinha horário para ir

embora da Rádio Norte, o cargo e as demandas que chegavam até a emissora

exigiam que permanecesse lá durante o dia todo. Atualmente, os jornalistas

têm a carga horária de cinco ou sete horas diárias, de acordo com as normas

vigentes no Artigo 303, da Consolidação das Leis do Trabalho.

Em 1985, nasce André Guimarães, o terceiro filho de Vita.

Nesta época, o prefeito da cidade era Wilson Rodrigues Moreira. Mineiro como

Vita Guimarães, ficou conhecido pelas obras que deixou para a cidade, por

exemplo, o Terminal Urbano de Transporte Coletivo e o Anfiteatro do Zerão.

Page 23: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

23

A profissional volta à Rádio Cruzeiro do Sul em 1987

permanecendo até 1988. A lacuna existente entre a saída da Rádio Norte e a

entrada na Cruzeiro é justificada pelo fato dela continuar trabalhando naquela,

mesmo sem registro. Neste retorno, à emissora Cruzeiro assumiu o cargo de

gerente comercial, fazendo como ela mesma relata, “de tudo”. Saiu do cargo e

da emissora, quando esta foi vendida. O mesmo aconteceu quando seguiu pela

terceira vez para a Rádio Atalaia, em 1989.

2.2 EXPERIMENTAÇÕES DE UM PERCURSO PROFISSIONAL

A vida profissional de Vita Guimarães, como se pode notar até

aqui, passou por várias peculiaridades e transformações:

Foi uma transformação gradual, desde o início do aprendizado. Como você sabe, eu não tenho academia. E eu fui aprendendo aos poucos como lidar com as pessoas que tinham maior compreensão, assim como as que tinham menor compreensão dos fatos. Porque, às vezes, você vê uma pessoa graduada que não tem a menor educação. Você vai, lá na ponta da vila, encontra uma pessoa que não sabe escrever, que não sabe ler, que não sabe nada e que te ensina muito com a vida dela. Te tratando com respeito, com carinho, com observação. Às vezes, tratando com uma pessoa graduada você não encontra isso. Eu encontrei de tudo. Isso, foi me ensinando no dia a dia como tratar as pessoas, como encarar o ser humano.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 31 de agosto de 2013)

“Um homem que tem algo a dizer e não encontra ouvintes está

em má situação. Mas, pior ainda, estão os ouvintes que não encontram quem

tenha algo a dizer-lhe”. A frase de Bertolt Brechet, que apresenta o Manual de

Radiojornalismo (BARBEIRO, 2001), causa certo estranhamento à primeira

leitura. Porém, no âmbito comunicacional as suas entrelinhas ganham força e

fazem todo o sentido. A curiosidade aguçada, a afinidade com a caneta, o

bloquinho de papel e o gravador definem minimamente estes homens que têm

o que dizer.

Page 24: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

24

Olhar para o passado, faz-se necessário para compreender o

processo da informação da atualidade. O rádio carrega em si a efemeridade, o

agora, a simplicidade. Com o advento da televisão e da internet, muitos

acreditaram que este veículo de comunicação fosse se tornar obsoleto e que

as ondas hertzianas jamais seriam utilizadas. A afirmação leva à reflexão de

que o rádio é ainda condutor massivo da informação, seja pelas suas ondas

tradicionais ou pela publicação nas páginas da internet.

O rádio nunca vai perder essa qualidade de chegar às pessoas. Onde você estiver tem um rádio. [...] Porque o rádio foi a grande transformação do mundo. E hoje você chega lá nos rincões da Amazônia tem um radinho. Agora também já tem satélite, tanta coisa que mudou, mas o precursor de tudo isso foi o rádio.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 31 de agosto de 2013)

Adentrando o universo peculiar dos padrões organizacionais,

ou seja, a culturalidade de um povo, é possível entender as suas escolhas, os

seus ritos e, é claro, o que se noticia em qualquer tipo de mídia. Como aqui a

previsão é trabalhar com estudos relacionados ao rádio intenta-se

compreender como essa culturalidade influencia nas escolhas, principalmente

de quem noticia. Leva-se em consideração a máxima de Brechet e acrescenta-

se que o homem “tem [sempre] algo a dizer”.

Sobre isto, é importante ressaltar os conceitos estudados por

HALL (2003) que define a cultura como “o estudo das relações entre elementos

em um modo de vida global”, fazendo cair por terra o conceito arcaico de que

cultura é apenas o que se desenvolve nas práticas e costumes de um povo.

O repórter que se apóia em seu background cultural tem uma

visão mais globalizada de seu espaço, deixando de lado, talvez, a visão

maniqueísta, mais parcial que envolve essa prática social do fazer jornalístico.

A cultura é esse padrão de organização, essas formas características de energias humanas que podem ser descobertas como reveladoras de si mesmas – “dentro de identidades e correspondências inesperadas”, assim como em “descontinuidades de tipos inesperados” – dentro da subjacente a todas as demais práticas sociais (HALL, 2003, p. 128).

Page 25: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

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O pesquisador é categórico ao correlacionar a análise da

cultura, ou seja, suas particularidades existentes em um caso com as

complexas experimentações sociais da atualidade. Tal estudo possibilita a

compreensão, as respostas aos porquês e as práticas desenvolvidas pelas

interrelações humanas de um dado período.

Percebe-se, assim, que a sensibilidade para determinadas

situações é inerente a alguns desses seres que habitam a Terra. Pode-se dizer

que uma parcela dos que têm o chamado feeling para o ofício jornalístico se

incluem entre aqueles que desejam interferir nas questões sociais com o intuito

de melhorar a qualidade de vida das pessoas.

2.3 O RÁDIO E SUAS EXTENSÕES

Aspectos descritos por Ortriwano (1985) caracterizam alguns

elementos práticos relativos à atividade de propagar a informação no rádio. A

pesquisadora destaca que a linguagem oral tem “vantagens sobre os veículos

impressos”, pois quem escuta a programação não precisa necessariamente

saber ler. Outro ponto é acerca da penetração destas informações, ou seja,

chegam aos ouvintes em pontos remotos, demonstrando, dessa forma, a sua

abrangência.

Entre os meios de comunicação de massa, o rádio é, sem dúvida, o mais popular e o de maior alcance público, não só no Brasil como em todo o mundo, constituindo-se, muitas vezes, no único a levar a informação para populações de vastas regiões que não tem acesso a outros meios, seja por motivos geográficos, econômicos ou culturais. (ORTRIWANO, 1985 p. 78)

Há que se considerar também a relação emissor/receptor. No

rádio, a emissão é menos complexa tecnicamente do que na televisão,

possibilitando menos recursos e uma transmissão mais rápida. A evolução do

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26

aparelho de rádio tornou possível a mobilidade de quem o escuta, podendo as

pessoas, portanto, desempenhar várias atividades enquanto ouvem a

programação, as informações.

A pesquisadora destaca também o baixo custo, sendo o

aparelho de rádio uma aquisição ao alcance financeiro de grande parte da

população. A instantaneidade e a sensorialidade marcam a efemeridade da

emissão e da recepção da informação. Revelam também um universo

envolvente com recursos da sonoplastia despertando emoções e marcando,

dessa forma, o ouvinte em sua individualidade. A jornalista mesmo após a

aposentadoria explica a relação que ainda mantém com o rádio:

Eu ouço rádio diuturnamente. Acho que vai ser assim a vida inteira, aprendendo [com o rádio]. Fico lá sozinha escutando rádio e, às vezes, ouço alguma coisa e digo:─Não é isso! [...] Na cozinha eu tenho rádio, tenho rádio no quarto. Tenho rádio em cada canto da casa. [...] O rádio é um elemento familiar. Marconi fez um bem muito grande para a humanidade.

(Vita Guimarães, em entrevista exclusiva, 31 de agosto de 2013)

Outro ponto a ser discutido são os signos acústicos que

juntamente com os sinais mostram vestígios, explicitam a força da voz e por

sua vez a força imaginativa. Pensar o rádio em sua magnitude envolve

complexas afirmações, dentre elas a de que “os meios de comunicações são

extensões dos seres humanos”. Essa afirmação de Marshall McLuhan (1964, p.

334) se aplica também ao rádio como meio de comunicação capaz de ser tão

progressivamente efetivo que se conecta de maneira direta com o sistema

nervoso central dos seres humanos, ou seja, o sistema da informação.

Ainda são possíveis delongas sobre o tema. O autor faz

afirmações contundentes acerca do profundo envolvimento que o material

processado pelo rádio causa em seus ouvintes, sendo ele sentimental e

emocional provocando como já descrito uma imagem auditiva. Em experiência

vivida por Vita em uma de suas visitas para venda de suas iguarias, fica

explícita a imagem que os ouvintes criam ao escutar a programação das

emissoras de rádio.

Ontem mesmo, eu estava na Rede Massa. O rádio tem essa coisa da fantasia. Ontem, mais uma vez eu vivenciei isso.

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Levando meus salgados para o pessoal. Tinha um moço de uma empresa de segurança. Começou a conversar comigo, perguntou dos salgados, passei para ele o que tinha. No final, ele falou:─Gostei muito da senhora, não sei o porquê, mas gostei muito da senhora. Os meninos que estavam do lado falaram:─Você não conhece ela, não sabe quem ela é? E ele:─Não, não sei. Eles falaram:─Ela é a Vita. O rapaz fez assim deu um pulo: ─Eu pensava que a Vita Guimarães era loira.

Então, muita gente faz essa fantasia de como é a pessoa que esta do lado de lá das ondas. Eu achei tão engraçado porque isso já há muito tempo acontece, mas eu não achava que agora ainda fosse acontecer. E as pessoas ainda fazem uma imagem. Foi interessante e ele é um negro. [...] Ele levantou me deu um abraço:─Que felicidade te conhecer!

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 31 de agosto de 2013)

O capítulo em que McLuhan expõe suas considerações acerca

do rádio, denominado “O tambor tribal”, possibilita entender que a atuação da

mensagem propagada pelo rádio leva ao processo de retribalização.

Analisando o comportamento da jornalista é possível notar a movimentação

que ela causava na cidade quando das suas coberturas jornalísticas como no

caso em que teve de tomar a frente para que a população de um bairro da

cidade tivesse acesso à rede de esgoto.

Eu tive um proveito muito grande fazendo jornalismo comunitário. Eu podia levar rede de esgoto para um bairro, através do meu trabalho. No caso do Mister Thomas, numa das ruas, não tinha como a Sanepar fazer esgoto para aquele povo. Fossa caindo dentro do quintal, aquela coisa toda.

Eu reuni o pessoal e falei:─Vamos fazer essa rede de esgoto nós mesmos?─Vamos conseguir o material e fazer a rede de esgoto.

Não era meu bairro. Fazendo aquele trabalho eu vi a tristeza daquelas pessoas, sem rede de esgoto. Correndo perigo. [...] Nós começamos a fazer. Por nossa conta e risco. Sem saber nada de metragem. Aí a Sanepar encampou o trabalho e foi lá fazer.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

Sendo assim, é possível afirmar que o veículo resgata e

constrói vínculos, os enaltece, engrandece suas intenções e motiva a

congruência da batida do tambor, revitalizando as trocas pessoais, as

Page 28: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

28

interações e, certamente, suas trocas multiculturais no sentido exposto por

Stuart Hall.

Altamente capaz de provocar transformações, o rádio é, então,

protagonista do imediatismo comunicacional, portando experiências

particulares que têm sua ressonância para além da caixa preta dos estúdios e

gravadores, ressona em um potente eco capaz de modificar condições pré-

moldadas, pré-estabelecidas.

O rádio possui o seu manto de invisibilidade, como qualquer outro meio. Manifesta-se a nós ostensivamente numa franqueza íntima e particular de pessoa a pessoa, embora seja, real e primeiramente, uma câmara de eco subliminar cujo poder mágico fere cordas remotas e esquecidas. Todas as extensões tecnológicas de nós mesmos são subliminares, entorpecem; de outra forma, não suportaríamos a ação que tal extensão exerce sobre nós. Mais do que o telégrafo e o telefone, o rádio é uma extensão do sistema nervoso central, só igualada pela própria fala humana. (MCLUHAN, 1964, p. 339).

Dessa forma, apesar da retribalização que nos remete a

imaginar que o rádio é um meio de comunicação grupal, as pesquisas de

McLuhan em sua época afirmam que o aparecimento da TV centralizou as

informações, fazendo com o que o rádio se despisse da carga de fazer o

mesmo, partindo então para a diversificação e a individualidade, ou seja, o que

antes era ouvido em conjunto passou a ser uma atividade individual.

Ocorre aqui o afastamento do “grupo” para a audiência

particular. Segundo McLuhan, “com a TV, o rádio se voltou para as

necessidades individuais do povo, em diferentes horas do dia, bem em sintonia

com a multiplicidade de aparelhos receptores” (1964, p. 335).

As reflexões de McLuhan eram consideradas descabidas para

a época, porém, para a sociedade atual é completamente aceitável acreditar

que determinados aparelhos são prolongações de nós mesmos e condicionam

o nosso corpo de tal forma que não conseguimos resistir ao seu uso.

Pode-se citar a forma que condicionamos as relações

humanas, ou seja, tudo está interligado aos meios eletrônicos, o contato é feito

por meio de celulares, internet, i-pods etc. Tais explicações se fazem

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29

necessárias para compreender a atual função e os mecanismos implícitos do

rádio bem como a vivência da jornalista Vita Guimarães.

Outro ponto imantado nos conceitos de radiojornalismo é o que

matérias, reportagens e locuções causam na memória de uma comunidade. Os

pedaços das histórias são alinhavados pelo que foi dito desde as histórias sem

“expressividade” até as colocações impostas pela mídia. O que torna-se

conclusivo aqui são as histórias descritas pela jornalista cujo trabalho é um

grande legado para a história do radiojornalismo da cidade de Londrina.

A descrição de Meihy faz ressalvas a histórias como a de Vita

Guimarães que por sua abrangência esclarece momentos da história individual

e também da social.

Algumas histórias ganham relevos na medida em que expressam situações comuns aos grupos ou sugerem aspectos importantes para o entendimento da sociedade mais ampla. Essas histórias, contudo, não podem ser generalizadas ou consideradas típicas. Por suas características narrativas, elas são mais completas e abrangentes pela capacidade narrativa ou pela coleção de fatos arrolados. (MEIHY, 2002, p.37).

Sob a ótica de estudos de Meihy é importante afirmar que a

memória individual traz consigo fragmentos culturais que, dependendo da

situação, podem projetar verdades sobre a coletividade. A história em seu

sentido estrito leva consigo lembranças carregadas de objetividade, de

oficialidade, já a história oral busca aquilo que foi encoberto pelo oficial, busca

o lado esquecido.

As questões aqui levantadas, também fazem parte do estudo

de Delgado (2003). A autora afirma ser o tempo o causador de mudanças

cotidianas, agente capaz de orientar o percurso para o futuro, a determinação

do presente e os fatos passados. A autora quer intentar a compreensão de que

é por meio do tempo que se tiram conclusões a respeito da historicidade.

Acerca da relação entre tempo, memória, espaço e história,

Delgado dirige sua interpretação ao tensionamento existente entre essas

áreas. Porém, o conceito de tempo se sobressai ao se pensar que em todas as

interpretações existe o tempo como senhor da palavra ditando o que foi vivido:

Page 30: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

30

as representações. Tais conceitos ajudam na compreensão de que a análise

proposta deve ser reinterpretada, não modificada. A autora é também

categórica ao afirmar que:

Sem qualquer poder de alteração do que passou o tempo, entretanto, atua modificando ou reafirmando o significado do passado. Sem qualquer previsibilidade do que virá a ser, o tempo, todavia, projeta utopias e desenha com as cores do presente, tonalizadas pelas cores do passado, as possibilidades do futuro almejado. O passado apresenta-se como vidro estilhaçado de um vitral antes composto por inúmeras cores e partes. Buscar recompô-lo em sua integridade é tarefa impossível. Buscar compreendê-lo através da análise dos fragmentos é desafio possível de ser enfrentado (DELGADO, 2003, p. 10).

Os fragmentos da vida profissional de Vita Guimarães reunidos

neste trabalho demonstram a atualidade dos estudos de McLuhan, pois se o

rádio está intimamente ligado ao nosso sistema nervoso central, certamente o

gravador da jornalista era a extensão de seus ouvidos e o microfone a

extensão de sua fala

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3 DOS ESTÚDIOS PARA A RUA

É muito bom ser jornalista. Eu fiquei durante todo esse tempo. Não tenho nada para reclamar. Levantar de madrugada, não dormir são coisas inerentes à profissão. Fique sabendo disso. Dentro do jornalismo isso é normal, de repente você pega uma matéria e você não consegue dar conta dela em oito horas. Você tem que optar, você tem que saber que o tempo é da matéria, não seu.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

A trajetória de Vita Guimarães, para fins didáticos, pode ser

dividida em três momentos: o primeiro, quando entrou para o mundo das ondas

médias em 1968 com o rádio-teatro; o segundo quando lhe foi proposto fazer

radiojornalismo, ainda que de uma forma precária pelas condições que as

rádios londrinenses propagavam as notícias, de 1975 a 1989; e o terceiro de

transição entre o radiojornalismo feito nos estúdios e o desenvolvido

propriamente na rua pela profissional. Esta fase compreende do ano 1989 ao

ano de 2003, sendo os anos entre 2003 e 2005 direcionados para um projeto

pessoal.

Acontece, portanto, em 1989, esta referida transição. Vita

Guimarães chega à Rádio Brasil Sul que, segundo Pinheiro (2001), tem sua

história iniciada em 1954. Entre os anos de 1989 e 1996, ela trabalhou na

referida emissora, passando apenas pelo hiato entre 1991 e 1992 na Rádio

Alvorada, também na cidade de Londrina. Esta emissora foi a “oitava a operar

em Londrina, a partir de 18 de abril de 1964 (COSTA, 2005, p. 94)”.

No momento em que se propôs a trabalhar como repórter, nas

ruas da cidade, a jornalista foi convidada a desenvolver trabalhos na área do

radiojornalismo policial, onde diz não ter tido prazer algum em trabalhar. Vita

Guimarães descreve em entrevista que a vertente policial, por vezes, a fez

sentir mal e por isso ficou nesta editoria por três anos.

Ela descreve que nunca foi alvo de ameaças e repressão.

Acreditava que estava nos locais das ocorrências para desempenhar o seu

trabalho e não para procurar desavenças com os moradores. Sobre essas

questões foram ouvidas apenas as confissões da jornalista. Os assuntos,

Page 32: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

32

quando tratados durante as entrevistas, levavam Vita Guimarães a recorrer ao

mesmo argumento: o de que tentava trabalhar com o diferencial e sobretudo

com “dignidade”, assim como comenta.

Consegui desempenhar a minha função com dignidade e não fiz inimigos, nunca tive esse negócio de alguém me ameaçar. Eu tinha até ajuda de muitos chefões do crime no meu trabalho. Eu chegava no União da Vitória, por exemplo, eu podia deixar o carro aberto, cada vez que acontecia alguma coisa lá, que eu tinha que ir para lá eu podia ficar sossegada. Eu podia ir pra lá de noite, porque eu tinha essas pessoas, alguns que eu nem conheci.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

Em entrevista à Escola de Comunicação e Artes da

Universidade de São Paulo, o pesquisador José Marques de Melo explica que

o jornalismo policial é o “segmento jornalístico que focaliza o desempenho das

instituições responsáveis pela administração das infrações legais dos

cidadãos”. É, então, uma editoria ou seção de jornais, radiojornais ou

telejornais.

O pesquisador não faz referência acerca do início do jornalismo

policial, porém completa que, desde o século XIX, os crimes despertavam o

gosto dos jornais diários. Acrescenta que não existe diferença da prática

profissional o que se pode considerar é que a maneira, o agir em determinados

seguimentos pode ser diferenciado.

Outro ponto que Marques de Melo é questionado, é em relação

ao sensacionalismo, que segundo ele deve ser evitado em qualquer editoria.

Sobre a ética, acrescenta que ela tem de existir em todas as esferas do

cotidiano desde a cobertura de fatos econômicos até o acompanhamento de

ocorrências policiais.

“O jornalismo policial constitui um tópico negligenciado pelos

cursos de jornalismo”, afirma Marques de Melo comentando que ainda existem

preconceitos nas universidades quando o enfoque são dificuldades vivenciadas

pelas classes populares – estas só ganham espaço quando são responsáveis

por infrações. Ele diz que, hoje em dia, são raras as academias que

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33

contemplam em sua grade o jornalismo policial, esta editoria permanece,

geralmente, no campo das pesquisas e debates.

O pesquisador coloca também que as camadas marginalizadas

são as maiores usufruidoras dos programas policiais, pois estes se tornam

espelho do cotidiano. Marques de Melo destaca que uma das falhas dos

dirigentes destes programas é a falta de preocupação com o papel educativo:

“Resvalando não raro para situações em que exacerbam os ânimos, quer dos

agentes policiais, quer das lideranças do crime organizado”.

Algumas histórias de Vita Guimarães causam inquietude,

outras causam horror e também existem aquelas que deixam a sensação de

dever cumprido. O radiojornalismo policial é um campo de batalha, literalmente,

pois nunca se sabe o que a natureza humana está por tramar. Os desafios

desse ofício estão para além de carnificinas, estão relacionados a diversas

questões sociais. Com determinados relatos, assim como já mencionado neste

trabalho, é possível construir uma identidade e, além disso, compreender o que

se passa em determinada sociedade.

“Não é brincadeira enfrentar o jornalismo, porque no jornalismo

você lida com a vida dos outros, lida com a vida de terceiros, é muito sério”.

Está frase define de maneira concisa quem é Vita Guimarães. A jornalista, que

no início da carreira interpretava personagens, trabalhou a vida toda no rádio.

No radiojornalismo policial e encarou o radiojornalismo como desafio. Vita

afirma com segurança que nunca sentiu medo de desempenhar a sua função e

que as denúncias feitas nunca foram usadas contra ela no sentido de ser

rendida, maltratada.

Nunca sofri nenhum tipo de problema, risco à minha vida. Eu vi a pessoa chegar e falar: “Esse carro aqui ninguém mexe hein, quem mexer nesse carro aqui tá... (falou um palavrão) Quem mexer vai se ver comigo, não mexa. A Vita é nossa amiga”. E eu nem sei quem é essa pessoa, eu vi essa pessoa, mas eu não sei quem é.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

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A boa convivência com policiais rendia bons materiais, noite ou

dia, não existia horário; tanto que a jornalista afirma não ter visto seus filhos

crescerem:

[...] era amiga de muitos policiais. Quando tava acontecendo alguma coisa eles ligavam: “Olha, está acontecendo tal coisa, você não quer ir lá?”. Eu saia de madrugada, não importava a hora e cumpria a minha missão. Mas, depois a minha alma começou a ficar pesada por não poder fazer nada, por não poder ajudar. O que você faz por uma pessoa que cometeu um crime? Você só aumenta a dor dela. Hoje, como se mostra na televisão, aquele tempo era bem menos, eram poucos os programas policiais na TV. O Luiz Carlos Alborghetti: nunca compactuei com ele dizendo “bandido bom é bandido morto”, aquela coisa se ele fala o problema é dele, eu não vou falar isso.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

Para construir suas matérias, a jornalista ouvia primeiro o que o

delegado tinha para falar sobre o caso. Ressalta que sem exceções os

delegados de seu antigo convívio sempre foram solícitos e prestativos, sendo o

seu acesso “muito bom, desde o delegado chefe até a faxineira que até hoje eu

tenho como amiga”, conta.

Vita Guimarães explica que os casos vistos e narrados no

radiojornalismo policial tiveram a função de divisor de águas. A proximidade

com as mazelas humanas serviram para analisar do que o homem era capaz,

apesar de que nem sempre conseguia compreender tais situações.

Você consolida isso. Você aprende que só pelo trabalho honesto e digno você vence. Que não há crime perfeito, a ganância não te leva a lugar nenhum, ela é efêmera. Isso tudo você pode ver na porta de uma delegacia, onde você vê chegar pessoas ditas de bem, os pés eram de barro. Aí você vê o ladrão de galinha que embora seja uma galinha ele não pode roubar, embora seja uma agulha ele não pode roubar. O ser humano não pode fazer isso. Então, você consolida os seus princípios. Aquilo que você aprendeu com o seu pai, a sua mãe, com as pessoas da sua convivência na infância: „isso não pode‟, isso é errado. Eu pude consolidar ali, “N” coisas, sabe? De repente você esta vendo uma pessoa pela cidade com um bom nome, de repente é um estelionatário, uma pessoa que está passando a outra pra trás, está enganando alguém.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013.)

Page 35: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

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O seguinte relato explicita muito bem o sentimento descrito por

Vita Guimarães. O caso ocorreu em Bela Vista do Paraíso e estava relacionado

ao estupro de uma garotinha de sete anos.

E nós tivemos por lá, ouvindo as pessoas, tentando encontrar essa criança. E o danado do cara que estuprou a menina, ajudou a procurar a menina. Isso, depois ao longo do tempo a gente vê que acontece muito.

Ouvindo essas histórias de crianças desaparecidas, depois você vê que aquela pessoa estava ali também ajudando entre aspas ajudando e esse cidadão, é um cidadão. Fazer o que né? Ele usou.

Quando o delegado trouxe ele, já era muito tarde da noite e eu estava lá na delegacia. Aí o doutor Sebastião Petrucci falou assim:

─Vita, conseguimos pegar o cara e ele está lá na minha sala, você quer entrevistar ele?

Eu falei: ─Petrucci, será que eu vou? Será que eu vou entrevistar esse cara? Bom, depois eu falei: „é minha missão, vou lá entrevistar o cara‟.

E eu tinha as minhas filhas pequenas, eu tenho duas filhas, e elas eram pequenas ainda, meninas. Quando ele começou a falar eu perguntei: ─Mas por que o senhor fez isso?

Ele falou assim: ─Ela me pediu.

A gente usava um gravador enorme, era o que nós tínhamos na época, até hoje eu me emociono com a história dessa criança.

Quando ele falou „ela que pediu‟ eu ia bater na cabeça dele com o gravador, o delegado segurou a minha mão.

Senti assim muita raiva, e raiva é um sentimento que eu não gosto de ter, mas naquele momento a minha vontade era fazer alguma coisa para vingar aquela criança.

A criança pediu? Como? E você atendeu e por isso você matou? Por que ela te conhecia, era vizinha?

Ele tava lá junto. Andava por tudo, matreiro. E a menina escondida, deixada debaixo de um pé de café. E quando ela foi encontrada, numa posição terrível.

Do jeito que ele estuprou ela, ela morreu, sabe. E trouxeram ela do jeito que estava, na posição de sexo. Uma coisinha magrinha.

Eu vi a menina no necrotério, então aquilo me doeu muito. E o Petrucci até hoje está por aí e sempre lembra disso. Então, quer dizer eu ia acabar cometendo um crime também por indignação. Eu pensei nas minhas filhas.

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Se uma pessoa dessa fizesse uma coisa dessa com a minha filha! Aquela criança ali poderia ser a minha filha! Isso doeu muito.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

Depois disso, a jornalista perdera o gosto por desempenhar o

seu trabalho na editoria policial, quis, portanto, iniciar em outra área. Neste

momento surgiu a oportunidade de mudar de editoria na própria emissora,

Rádio Brasil Sul; começou ali o seu trabalho jornalístico com as comunidades.

Melhores propostas a encaminharam à Rádio Paiquerê. Esta emissora deu

início a sua história em 9 de fevereiro de 1957, sendo a terceira emissora a

operar em Londrina (COSTA, 2005, p. 92).

Vita Guimarães permaneceu na emissora de 1996 a 2003,

sendo este o último trabalho registrado em sua carteira de trabalho. Neste

período estão alguns dos casos mais polêmicos vividos pela jornalista, dentre

eles a caso da cassação do prefeito Antonio Belinati.

Após esta longa trajetória nas emissoras de rádio de Londrina,

Vita Guimarães criou um projeto abrindo uma empresa de publicidade e para

concretizar uma vontade antiga e retornou à Rádio Brasil Sul com programa

próprio: “Bairros em Revista”.

Nesta ocasião, a jornalista produzia as matérias e também

apresentava o programa, contando com auxílio de “três bons patrocinadores”,

destaca. O programa esteve no ar durante dois anos e quem sintonizasse na

Rádio Brasil Sul, das 13h às 14h, poderia saber o que estava acontecendo nas

comunidades, nos bairros de Londrina.

A Folha Norte (ANEXO B) da semana de 22 a 28 de março de

2003 noticia a nova fase da jornalista, dando destaque ao fato de ela ser

moradora de um dos bairros da Zona Norte. Na página nove, o trecho que se

destaca é uma das características de Vita Guimarães: “Porta-voz da população

e de seus problemas, ela sempre leva informações úteis para moradores de

bairros mais afastados”.

De uma forma geral, a jornalista participava dos radiojornais

das emissoras nas quais trabalhava inclusive em sua produção independente,

Page 37: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

37

como já citado. Geralmente, as questões a serem trabalhadas eram decididas

em reuniões de pauta, com a intenção de mostrar as necessidades dos bairros;

as próprias comunidades sugeriam as pautas, ajudando a compor o jornal.

Questionada quanto à mudança nos aparatos tecnológicos, e

também quanto à maneira que decidia escolher as matérias para produzir, a

jornalista destaca que não se lembra precisamente de datas em que houve

mudanças nos aparelhos eletrônicos; sabe é claro que no começo de seus

trabalhos tinham de cuidar para não errar nas gravações.

Gravar demandava um trabalho imenso por parte dos próprios

jornalistas e também da equipe técnica. Os aparelhos não tinham o mesmo

tamanho que os de hoje em dia, portanto, tinham de ser, de acordo com a

jornalista, grandes. Do aparato enorme que dava trabalho para ser carregado,

surgiram os de fita cassete e recentemente os digitais.

3.1 A IMERSÃO NO OFÍCIO DIÁRIO

As proporções que o trabalho da jornalista ganhou não

passaram despercebidas. Assim, é possível compreender tanto a intenção de

suas reportagens, como também entender o papel que a jornalista

desempenhava naquele contexto.

O jornalismo de serviço é conceituado por Maria Pilar Diezhandino como a informação que dá ao receptor a possibilidade de efetiva ação e/ou reação: aquela informação, oferecida oportunamente, que pretende ser de interesse pessoal do leitor – ouvinte – espectador; que não se limita a informar sobre senão para; que se impõe a exigência de ser útil na vida pessoal do receptor, psicológica ou materialmente, mediata ou mediatamente, qualquer que seja o grau de alcance dessa utilidade. A informação cuja meta deixa de ser oferecer dados circunscritos ao acontecimento, para oferecer respostas e orientação (DIEZHANDINO apud MOREIRA, 1991 p. 152).

A citação reforça as intenções deste trabalho de compreender

o tipo de jornalismo desenvolvido por Vita Guimarães bem como a sua

importância para as comunidades locais.

Page 38: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

38

Por vezes, quando o poder público não tinha atitudes com

relação a melhorias de infraestrutura básica para a população, Vita Guimarães

chamou atenção para o que deveria ser feito, não propriamente pelas mãos

dela, mas pelo compromisso do dever público com a população.

3.1.1 CASO “ELEFANTE BRANCO”

“A gravação ou a transmissão ao vivo é mais que uma

ilustração sonora, é a própria materialidade da informação em um meio que se

faz por uma oralidade aparente”. A afirmação de Moreira (1991, p.111) é

importante para esta análise pelo fato de colocar as fontes como ponto

primordial da veiculação de uma notícia.

Ao escutar as comunidades, Vita Guimarães criava uma

imagem descritiva daquilo que estavam passando, mencionava o contexto para

que a população entendesse o que ocorria, e pelo seu poder de persuasão e

denúncia, fazia com que aquelas necessidades falassem aos ouvidos dos

responsáveis.

Um exemplo, um viaduto que seria construído em local

impróprio na Zona Sul da cidade, que não auxiliaria a população em suas

necessidades. Vita Guimarães ficou novamente à frente desta briga

reivindicando o real desejo da população.

Nós ficamos do lado da população reivindicando um viaduto. Mas a sociedade ali acabou sendo corruptada pelo Belinati, e fez o viaduto no local errado. Que hoje ta lá é um elefante branco, só serviu para uma moça pular de lá e se suicidar. E os menininhos que ficam fumando o que não deve.

Ninguém passa por ali porque foi feito no lugar errado. Era pra ser feito lá na ponta do bairro onde ia servir pra comunidade e foi feito do outro lado.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

Nem todas as ocorrências em que a jornalista se enveredava

tinham o resultado esperado por ela e pela população. Isto demonstra que a

junção da figura Vita Guimarães com as necessidades reais do povo

Page 39: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

39

dependiam, quase que em todas às vezes, de atitudes positivas por parte do

meio político.

Nesse período, quem estava comigo nessa luta era o José Granado, que era do JL, nem sei se ele permanece lá. E nós enfrentamos o pessoal do DER querendo passar por cima da população. Um engenheiro do DER mandando o caminhão seguir.

Eu segurei o cara com o meu gravador, gravador não, celular. Eu comecei a gritar. Era o Fiori [Fiori Luiz, locutor] que tava na rádio─Fiori, o engenheiro do DER está mandando o caminhão passar por cima da população. E o cara mandando.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

O caso prossegue, e o que se pode notar no episódio a seguir

é que a participação da jornalista era por vezes confundida com atitude de

quem fazia parte daquela comunidade. Acredita-se acontecer isto, pelo

tamanho do envolvimento dela nas causas pela qualidade de vida da

população.

Cheguei e perguntei:─Qual o seu nome? Ele empurrou a minha mão. Eu voltei e insisti. Aí que ele percebeu... Eu era muito confundida com a própria população nessas histórias de comunidade.

Então, muitos não me viam como da imprensa, mas me viam como agitadora, participante. Então, aconteceu esse caso. Aí quando ele percebeu que eu era da rádio, que eu tava falando pra rádio.

E o Fiori pedindo reforço policial, pedindo pra que a polícia fosse pra lá, porque ia acontecer morte e ia mesmo. Porque o cara na maior suntuosidade mandando o caminhão seguir e o povo fazendo barreira na rua.

Por isso que depois eu fiquei muito desgostosa também com aqueles líderes comunitários que foram na conversa do “Seu Antonio” [Antonio Belinati] e fizeram o viaduto no local inadequado que não serve pra nada. E o povo continua morrendo lá na travessia, lá embaixo.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, em 20 de abril de 2013)

3.2 PARTICULARIDADES DE UMA VIDA

Page 40: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

40

Sobre as particularidades de sua trajetória profissional cabe

citar o ano de 1999, no qual a jornalista teve sua carteira profissional

regularizada, pois sua “academia” foram os adventos práticos trazidos desde o

rádio-teatro até a atividade jornalística nas emissoras londrinenses.

O Jornal da Casa - periódico do Sindicato dos Jornalistas de

Londrina – veiculado em março de 1999 (ANEXO C) – descreveu que um

acordo, entre o Sindicato dos Jornalistas e a Delegacia Regional de Trabalho

possibilitou a regularização de 72 profissionais que trabalhavam na área

jornalística há mais de 15 anos, dentre eles Vita Guimarães.

Há pelo menos cinco anos o sindicato tentava resolver o problema do exercício profissional. Havia dois caminhos: ou tentava a regularização de quem exercia as atividades privativas sem o devido registro ou simplesmente pedia o expurgo dos não habilitados. Para decidir qual o caminho, os sindicatos discutiram o assunto em assembleias nas redações de Londrina e Curitiba. A categoria entendeu que os sindicatos deveriam tentar a regularização desses profissionais (JORNAL DA CASA, 1999, p. 3).

O advento desta regularização proporcionou aos profissionais

da área os direitos da classe, ou seja, a integração na categoria. A jornalista,

após este momento, passa a ter seus vencimentos de acordo com o piso

salarial assegurado por lei.

Outro fato importante para a carreira de Vita Guimarães foi o

recebimento do Diploma de Reconhecimento Público (ANEXO D) proposto pela

vereadora Elza Correa – a quem a jornalista entregou documentos que

serviram para a cassação de Antonio Belinati.

A homenagem foi realizada na Câmara Municipal de Londrina

no dia 16 de abril de 2002, época em que a jornalista trabalhava na Rádio

Paiquerê AM, nos programas Fala Povo e Rádio Comunidade.

O Jornal de Londrina (ANEXO E) publicou matéria sobre este

acontecimento e nela foi descrita um pouco da trajetória da jornalista. A mesa

de honra que compunha a cerimônia contava com nomes importantes da

cidade, como: Bernardo Pelegrini, Secretário Municipal de Cultura que naquela

ocasião representava o então prefeito Nedson Micheleti; J.B. Faria, diretor-

Page 41: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

41

presidente da Rádio Paiquerê; João Milanez, presidente da Folha de Londrina;

e o tenente-coronel Rubens Guimarães. Estavam presentes também

vereadores, familiares e amigos da jornalista, além da imprensa local.

Durante a cerimônia, J.B. Faria homenageia a jornalista e

menciona suas qualidades e seu interesse por prestar serviços à comunidade.

E uma das pessoas que hoje faz muito bem este lado do rádio é a Vita Guimarães, que é o seguimento da utilidade pública, principalmente da prestação de serviço para aquelas pessoas que têm dificuldades. [...] O rádio continua sendo aquele caminho para tentar resolver, minimizar o sofrimento ou chegar à conclusão de algo ou objetivo que se pretenda. E realmente nós temos esta linha na Rádio Paiquerê. E a Vita Guimarães é a grande responsável por este serviço, o chamado Fala Povo. (ANEXO F)

A vereadora Elza Correa também fez seus cumprimentos a Vita

Guimarães com palavras fortes, contando parte da história da jornalista e

dentre estas palavras deve-se destacar o que vem sendo mencionado ao longo

deste trabalho:

Há 35 anos, Vita, armada de seu microfone, informa e defende a população que bem conhece. Vita conhece a vida dos que defende. A história da população mais pobre, da periferia da cidade, não é mistério para Vita. Ela transmite na sua locução a veracidade dos que sabem o que é sentir dificuldade, em sua defesa e cobrança; e expressa a força daqueles que conhecem bem o que é ter direitos aviltados. Por isso, Vita é respeitada por todos e amada pelos ouvintes (ANEXO F).

Após estas menções e a entrega do Diploma, a palavra foi

passada para a jornalista que agradeceu a todos os presentes e a homenagem

que lhe foi concedida.

O carisma e o trabalho voltados às necessidades da cidade, do

povo, são evidentes tanto nas descrições do companheiro de trabalho, quanto

no da vereadora; e tal circunstância causou rumores na população e em órgãos

da cidade. Para exemplificar, serão mostrados trechos de e-mails e cartas

sobre aquele momento:

“Veja nessa homenagem o reconhecimento de todos aqueles

que, nestes anos todos, acompanham o seu trabalho em prol

Page 42: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

42

da comunidade, intermediando os problemas da cidade e

buscando solução para eles, sem demagogia e com muito

carinho pelos cidadãos londrinenses. Gildalmo de Mendonça e

funcionários da Transportes Coletivos Grande Londrina”

“Impossibilitada de comparecer à sessão solene de entrega do

diploma de Reconhecimento Público, por compromissos

anteriormente assumidos, parabenizamos pela merecida

homenagem recebida. Prof.ª Magda Madalena Tuma,

Secretária de Educação”

“Receba meus cumprimentos pela sua brilhante carreira

profissional, com sinceros votos de pleno êxito e sucesso

crescente em suas realizações. Octávio Cesário Pereira Neto,

presidente da Companhia de Desenvolvimento de Londrina –

Codel.”

“Nós ficamos muito felizes e concordamos plenamente com a

homenagem feita a você ontem pela Câmara dos Vereadores.

Excelente profissional você merece como ninguém o

reconhecimento de todos os londrinenses. Márcia Moreno e

Eloiza Pinheiro, assessoria de imprensa – SERCOMTEL.”

Estes depoimentos demonstram, portanto, a relação que a

jornalista tinha com alguns dos diversos órgãos do município, e é claro com a

comunidade. Dessa forma, é possível analisar esta relação no que tange os

conceitos utilizados pelos estudos culturais, ou seja, estes explicitam a

influência que os meios de comunicação têm no contexto social em seu

aspecto cultural.

Outra particularidade é sobre a candidatura de Vita Guimarães

a uma vaga na Câmara de Vereadores. De acordo com os estudos de

(COSTA, 2005, p. 220), a jornalista foi a única mulher radialista, no período

entre 1968 a 2000, a tentar investir no cargo. A empreitada foi no ano de 1992

e o partido escolhido por Vita Guimarães foi o PSDB, pelo qual chegou a 81

Page 43: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

43

votos. Hoje, a jornalista não tem um parecer concreto a respeito de novas

candidaturas.

Aposentada desde 2007, dedica-se à panificação. Saiu das

rádios para investir neste projeto. “A minha vida não tem muito: este é o meu

norte! Não é assim. Estou nas mãos de Deus”, reflete.

A jornalista também assessorou campanhas políticas. De

acordo com ela desde 1976, exceto em 1996, sendo a última que trabalhou no

ano de 2012, quando fez todo o programa de rádio da candidata Márcia Lopes

e também do atual prefeito Alexandre Kireff, fazendo reportagens nos últimos

20 dias da campanha.

Page 44: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

44

4 ESTUDO DE CASO: A CASSAÇÃO DE ANTONIO BELINATI

Do glamour do rádio teatro às ruas durante 33 anos de

atividade profissional – registrados em carteira – Vita Guimarães percorreu

nove rádios de Londrina, contribuindo para mudanças em comunidades que

ficavam à margem das vontades e intenções políticas. A jornalista, além de

exercer as funções obrigatórias da profissão, intermediava os problemas pelos

quais a cidade passava e, desta forma, buscava soluções junto às autoridades.

Vita Guimarães identificava-se com o seu público num

processo identitário, conforme abordado por Stuart Hall. Para o autor, a

identidade relacionada ao contexto sociológico dá-se pelo preenchimento

“entre o mundo pessoal e o mundo público” (2006, p. 12).

Você não consegue ver isso [falhas na administração] e ficar

quieta. Em qualquer situação, hoje mesmo fora da mídia, eu

não gosto de ver coisa errada. E dou a cara a tapa, vou atrás.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

Outro ponto a ser considerado sobre a construção da reflexão

desta trajetória é atentar-se a crítica “A ilusão biográfica” de Pierre Bourdieu

(1996). O autor reitera a necessidade da reconstituição de determinados

contextos para valorar e compreender o conjunto de fatos que ajudam a

construir uma história de vida, neste caso um perfil.

Para tanto, considera-se que os trabalhos feitos pela jornalista

completavam os seus intentos como repórter e, definia o futuro de algumas

comunidades.

Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda estória sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu”. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida que os sistemas de significação e representação cultura se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente (HALL, 2006 p. 13).

Page 45: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

45

Sabe-se que estas definições de identidade não são

estanques, ou seja, o ser humano moderno não é limitado, não possui uma

identidade plenamente unificada. No contexto profissional da jornalista, essa

versatilidade está exacerbada, descrita nas diversas áreas que trabalhou nas

emissoras de rádio; isto demonstra, portanto, a complexidade de compreender

a representação desta mulher para a cidade de Londrina.

Bordieu constata também que das diversas instituições sociais

o nome próprio é o que possui a singularidade necessária para a durabilidade

de uma identidade social.

O nome próprio é atestado visível da identidade do seu portador através dos tempos e dos espaços sociais, o fundamento da unidade de suas sucessivas manifestações em registros oficiais. [...] Em outras palavras, eles só pode atestar a identidade da personalidade, como individualidade socialmente constituída, à custa de uma formidável abstração (BOURDIEU, 1996, p. 187)

Os estudos de Bordieu contribuem, portanto, para o

entendimento do contexto o qual o objeto de estudo está inserido e, a forma

como atua nos meios sociais os quais está inserido. O autor prioriza, dessa

forma, a singularidade para a construção de uma trajetória calcada na

constância e na durabilidade da identidade.

4.1 VITA AJUDA A DESMASCARAR BELINATI

Uma história mal contada, um funcionário pressionado e uma

jornalista engajada. O caso, que tem início um tanto turbulento, possivelmente

poderia ter o final no mesmo rumo. Porém, a curiosidade e acima disso as

cobranças de Vita Guimarães, acerca de serviços fornecidos pela Prefeitura

Municipal de Londrina, especificamente, pela Autarquia do Meio Ambiente

(AMA) e pela Companhia Municipal de Urbanização (COMURB) foram adiante,

desvendando, assim, um enorme esquema de corrupção que acometia estes

órgãos no mandato do então prefeito Antonio Belinati.

Page 46: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

46

O chamado esquema Ama/Comurb funcionou nas duas

autarquias entre o segundo semestre de 1998 e o

primeiro semestre de 1999. O Ministério Público investiga

até hoje cerca de 200 licitações feitas nesse período,

algumas sob suspeita de superfaturamento dos valores –

como no caso da licitação para a roçagem do mato,

através da qual as investigações tiveram início

(SILVEIRA, 2004, p. 36).

Belinati naquele momento, em 1999, quando o caso começou a

ser desvendado, já estava em seu terceiro mandato como prefeito de Londrina;

sendo o único que conseguiu essa empreitada. Antonio Casemiro Belinati é

natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e antes de enveredar para o

mundo da política era radialista.

O primeiro mandato foi entre os anos de 1977 e 1982. O radialista Antonio Belinati foi eleito prefeito pelo MDB com 36.198 votos, vencendo outros três concorrentes. Ele fora o vereador mais votado em 1968, e candidato a prefeito derrotado em 1972 (COSTA, 2005, p.120).

O próximo mandato de Belinati foi de 1989 a 1992 e “entre um

mandato e outro, o radialista-político foi deputado estadual” (COSTA, 2005, p.

121). E foi no terceiro mandato – 1997 a 2000 – que o então prefeito não

concluiu o ciclo, sendo afastado antes do final do ano.

Em 15 de maio de 2000, Belinati foi afastado do cargo pela Justiça sob acusação de improbidade administrativa. Em 22 de junho daquele ano, teve o mandato cassado pela Câmara dos Vereadores pelo mesmo motivo. Os últimos seis meses de gestão foram completados pelo então presidente da Câmara, Jorge Scaff, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). O vice-prefeito de Belinati, Alex Canziani, renunciou para assumir o mandato de deputado federal pelo Partido da Frente Liberal (PFL) (COSTA, 2005 p.121).

Neste período, Vita Guimarães trabalhava na Rádio Paiquerê

AM como repórter já na editoria voltada às necessidades das comunidades –

Page 47: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

47

dividia este ofício com o repórter Manoel Osvaldo sendo sua permanecia na

redação, enquanto Osvaldo trabalhava na rua.

Sobre essa forma de fazer jornalismo Marcelo Parada a

descreve como campanhas:

Uma das finalidades mais importantes do rádio é mobilizar a comunidade em torno de temas de interesse comum. São as chamadas “campanhas”. Os alvos são os mais variados possíveis, mas o resultado é sempre um sucesso. [...] Além disso, os temas abordados podem colaborar para a discussão de soluções de certos problemas, propondo alternativas e oferecendo ao poder público algo mais do que uma simples crítica (2000, p. 119).

E foi com essa campanha de denúncias sobre as necessidades

da cidade de Londrina que Vita Guimarães tornou-se ainda mais conhecida: a

mulher que ajudou na cassação do ex-prefeito Antonio Belinati. A jornalista

conta que “a cidade estava um caos, estava de pernas pro ar. Era o terceiro

mandato de Belinati. Já tinha tido um desastroso, conseguiu mais um

desastroso e conseguiu o terceiro também desastroso”.

Com a intenção de minimizar os problemas de estrutura pelos

quais a cidade passava a Rádio tornou-se “fiscal”. “A rádio Paiquerê AM vai ser

a caixa de ressonância da população e cada um no seu bairro liga pra cá, pra

dizer o que está acontecendo. Aí, a gente mobilizou a cidade inteira”, relembra

Vita Guimarães.

No começo, os pedidos foram atendidos, mas com o passar

dos dias e semanas, as necessidades da população foram deixadas de lado. A

jornalista, intrigada com toda aquela situação, revolta-se pelo não atendimento

à população e vai sondar o que poderia estar acontecendo.

Passado para ela o quadro de funcionários e as estruturas que

a cidade possuía chegou à conclusão de que com aquele pessoal “não se

cuidava de Lerroville [distrito de Londrina atualmente com 4.700 habitantes]”,

assegura Vita. As reclamações e informações passadas pela jornalista

começaram a incomodar.

Page 48: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

48

E foi aí que um funcionário da COMURB, Délcio Garcia Martin,

de acordo com a Revista Seleções (ANEXO G) veiculada em junho de 2003,

procurou a jornalista para mostrar números que demonstravam que algo estava

errado, ou seja, era provável que verbas estavam sendo desviadas. Dessa

forma, colocou provas e a decisão do que fazer com aquele material nas mãos

da jornalista (ANEXOS H e I).

O funcionário levou para Vita Guimarães cópias do contrato de

capina e roçagem da cidade, e também três notas fiscais que já haviam sido

pagas. A soma destes pagamentos chegava à R$400 mil, “era um absurdo”,

ressalta a jornalista. Martin, cansado das ameaças, explicou minuciosamente o

que estava acontecendo na AMA/COMURB.

Ele [funcionário da Comurb] falou: „─É muita coisa, muita coisa. E eles estão me pressionando depois dessa tua reportagem, eles começaram a me pressionar para que eu mude as planilhas, que coloque uma metragem diferente nas planilhas‟. Porque era isso que tava sendo feito, para ser pago. Foi onde começou a história da corrupção.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

Délcio Garcia Martin continuava procurando Vita para

conversar e repassar como eram feitos os esquemas. “Ele gravava numa fita

pequenininha e eu ia para a rádio à noite e passava para a cassete normal”,

conta a jornalista. O funcionário, como descreve Vita, foi se sentindo acuado,

porém com o apoio dela se sentiu forte para ir atrás de desvendar as

falcatruas:

‘─Eu tenho coragem de passar o que eu tenho aqui pra

você. Eu não passo para mais ninguém. Eu só vou passar pra você‟. E me entregou os documentos, tudo direitinho. As cópias das notas que foram pagas. Eu fui procurar alguém pra fazer a denúncia.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

A jornalista a princípio não sabia muito bem para quem poderia

entregar todo esse material. Foi quando resolveu repassar para a vereadora

Page 49: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

49

Elza Correia todas as provas que denunciavam, de maneira clara, o esquema

de corrupção. Sobre esse momento Silveira descreve que “as investigações [...]

começaram na segunda quinzena de fevereiro de 1999, graças à denúncia feita

pela então vereadora Elza Correia (PMDB)” (2004, p. 20)

Antes de adentrar especificamente neste caso é necessário

citar o porquê dessa sede por justiça tão aflorada durante a execução do ofício

diário de Vita Guimarães. Para tanto, chega-se a considerar que a jornalista

assume a “romântica” postura fiscalizadora do poder, especialmente no que diz

respeito às decisões públicas dos governantes, que a partir de sua candidatura

assumem o compromisso de exercer o poder e também de manter uma

imagem impecável diante de seus eleitores.

O papel da mídia é formar opiniões, levar ao público-eleitor as

verdades sobre os seus candidatos, e, posteriormente, sobre as benfeitorias

que estes fazem para a comunidade como um todo.

A postura fiscalizadora da imprensa em relação aos governos aconteceu em praticamente todo o mundo, com exceção dos momentos em que imperava o totalitarismo de um ou outro governo. Com um papel fiscalizador cada vez mais acentuado, também aumentou a valorização do espaço que se ocupa nos meios de comunicação. No momento em que a mídia assume esse espaço público, necessário para a prática da democracia, há um esvaziamento dos debates públicos e da participação dos indivíduos na política. O voto torna-se a principal instância de participação da sociedade na vida política (PACCOLA, 2004, p. 5).

A citação demonstra os dois lados dessa postura fiscalizadora:

um que valoriza o trabalho do jornalista como formador de opinião e o lado

negativo que faz com que o público, a população em si, renegue o seu papel

na participação da política, resumindo a sua participação unicamente por meio

do voto.

Nesta instância, é importante ressaltar que Vita Guimarães

exercia o papel de jornalista dentro dos conceitos descritos e dava

oportunidade, por meio de seu programa, para a população “participar” forma

Page 50: Radio Jornalismo em Londrina: Um Perfil de Vita Guimarães

50

da vida política da cidade, cobrando infraestrutura daqueles que estavam no

poder.

Após mostrar a compilação das provas para Elza Correia,

vereadora oposicionista que estava em seu primeiro mandato na cidade, a

jornalista acompanhada pela vereadora procurou o advogado Carlos

Scalassara, que, após analisar o material, concluiu sua gravidade,

encaminhando-o ao Ministério Público aos cuidados do promotor Bruno Galatti.

Aquele dia nós ficamos a tarde inteira dentro do fórum. Levei os dois rapazes, o que tinha denunciado e o companheiro dele que também tava sendo pressionado, levamos para o promotor ouvir. Ele explicou a situação.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

Entretanto, nesse espaço de tempo, de acordo com a

jornalista, o dono da Rádio Paiquerê, João Batista Faria – mais conhecido

como JB Faria – pediu ao engenheiro Edgar Marin para que fizesse o cálculo, a

projeção do que poderia ter sido feito com aquela quantia de dinheiro paga à

empresa licitada pela AMA. E a conclusão foi ainda mais rumorosa: a cidade

poderia ter sido limpa três vezes.

Galatti, por sua vez, pediu a Vita Guimarães que se mantivesse

em silêncio, “estamos com a ratoeira aberta, mas eu preciso da sua ajuda”. O

pedido foi atendido e o desenrolar da história foi decisivo para a efetivação da

cassação de Belinati.

Após esse momento de silêncio foi dada a permissão para que

a Rádio Paiquerê AM divulgasse as gravações.

As desconfianças de que acontecia algo de errado na administração pública aumentaram quando uma emissora de rádio, a Paiquerê AM divulgou fitas com gravações de conversas telefônicas feitas por um funcionário da AMA que ocupava cargo de chefia na Autarquia. As conversas giravam em torno das planilhas de roçagem, que foram fraudadas. A empresa contratada estava recebendo um valor desproporcional aos serviços prestados até então e havia dúvidas quanto à execução do serviço. (SILVEIRA, 2004 p. 20)

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51

Dessa forma, para compreender um pouco mais sobre o caso

AMA/COMURB é necessário resgatar algumas matérias veiculadas no Jornal

de Londrina, fundado em julho de 1989 na cidade. As matérias veiculadas em 4

e 5 de abril de 2000 tomam a página inteira, e discorrem sobre a investigação

feita pelo Ministério Público a respeito da compra de imóveis feita pelo ainda

prefeito (ANEXOS J e K).

Curiosamente, entre os anos 1998 e 1999 a família de Belinati

adquiriu imóveis que somavam mais de R$ 1 milhão. Neste espaço é discutido

também o posicionamento de alguns vereadores a respeito do caso. Estes se

dividem em acreditar na omissão do prefeito quanto ao caso e outros defendem

Belinati.

Entre as considerações feitas pelo MP [Ministério Público] é citado o fato de que a compra desses imóveis coincidiu com os anos em que ocorreram irregularidades na Autarquia Municipal do Ambiente (AMA) e na Companhia Municipal de Urbanização (COMURB). Os promotores também citam declarações como as do ex-diretor financeiro da Comurb, Eduardo Alonso, de que o dinheiro supostamente desviado teria ido para campanha eleitoral do deputado Antonio Carlos Belinati (PSB) – filho do prefeito – e para o patrimônio da família.

(Jornal de Londrina, 4 de abril de 2000, p. 3A)

A linha cronológica sobre o caso foi publicada no jornal

veiculado em 4 de abril de 2000, e divide didaticamente, o que vinha

acontecendo nas investigações sobre os esquemas de corrupção. De acordo

com esta publicação, em 25 de fevereiro de 1999, o Ministério Público começa

a fazer as investigações sobre denúncias de superfaturamento. No esquema,

está esclarecido o passo a passo das investigações, o último ponto retratado é

o do dia 23 de março de 2000, quando a Câmara aprova a abertura da

Comissão Processante.

No jornal de 16 de maio de 2000 (ANEXO L), a notícia que

estampa a capa é sobre o afastamento de Belinati, por um período de 120 dias,

determinado pelo juiz da 6ª Vara Cível, Celso Saito. A matéria foi publicada

também na página 3A (ANEXO M) e ressalta que é a “primeira vez na história

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52

de Londrina que um prefeito é afastado do cargo sob a suspeita de

envolvimento em corrupção”.

Com esta decisão o prefeito tinha dez dias para recorrer ao

Tribunal de Justiça do Paraná. Neste momento, outro problema foi que não se

sabia quem iria assumir a Prefeitura do município. Ainda sobre o afastamento

do ex-prefeito, publicado em 20 de maio de 2000, no jornal há uma matéria

sobre uma nova determinação: justiça afasta o ex-prefeito pela segunda vez,

agora por 90 dias (ANEXO N).

A ação que resultou no novo afastamento de Belinati trata de três licitações supostamente irregulares que teriam causado um prejuízo de R$ 212 mil à Autarquia Municipal do Meio Ambiente. Conforme o MP, parte do dinheiro teria sido usado para financiar a campanha eleitoral de 98, dos deputados: estadual Antonio Carlos Belinati (PSB) – filho do prefeito – e federal José Janene (PPB), em Ibiporã.

(Jornal de Londrina, 20 de maio de 2000, p. 3A)

É importante mencionar, novamente, a matéria de Daniel Rome

Levine, veiculada na Revista Seleções em junho de 2003; na qual o repórter

descreve alguns dos impasses e falcatruas feitas no governo Belinatti.

Exemplifica com o caso Vêneto, empresa-fantasma de Curitiba, cujo “diretor-

presidente” era um jardineiro. Porém, os trâmites para provar este esquema

foram demorados, pois os diretores da AMA se recusaram, por um tempo, até

confessarem o esquema de desvio de verbas.

O dinheiro fora empregado na campanha de Antonio Carlos Belinati, eleito deputado estadual no ano anterior. Antonio Carlos era filho de Antonio Belinati, prefeito de Londrina. (Revista Seleções, junho de 2003, p. 85)

O promotor Galatti investigou a Companhia Municipal de

Urbanização de Londrina, que igualmente mantinha esquemas de desvio de

verbas. As fraudes não foram feitas somente para o investimento na campanha

eleitoral do filho de Belinati, estavam além disso, e “Belinati não só sabia de

tudo, como os esquemas fraudulentos eram todos armados por ele”, (Revista

Seleções, junho de 2003, p 86).

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53

As investigações do promotor não amedrontaram o até então

prefeito de Londrina e mesmo com os esquemas sendo desvendados, Belinati

continuou com os contratos fraudulentos.

Além disso, a família de Belinati era uma formidável máquina política: não só o filho era deputado estadual, como a mulher era a vice-governadora e o irmão, diretor da companhia telefônica. (Revista Seleções, junho de 2003, p. 87)

Outro ponto que contribuiu para a cassação do então prefeito

foram as mobilizações populares, ainda de acordo com a Revista. Cidadãos

londrinenses marcharam no centro da cidade todos os sábados por quase um

ano, fazendo pressão contra o prefeito e ficou conhecido pelo slogan “Pé

vermelho! Mãos limpas!”. Sendo assim, esta mobilização popular protocolou

um requerimento para que o esquema de corrupção fosse investigado.

A partir da primeira denúncia de Délcio Garcia Martin, os promotores acumularam uma montanha de provas, incluindo extratos de mais de 400 contas bancárias e gravações de escuta telefônica. Em maio de 2000, a equipe apresentou 22 denúncias, referentes a vários crimes.

As evidências indicavam uma pilhagem dos cofres públicos. Entre os furtos, segundo a acusação, R$1,7 milhão beneficiou diretamente a mulher e o filho do prefeito. „Os eleitores e a sociedade não merecem isso‟, disse o juiz Celso Seikiti Saito em 15 de maio de 2000, ao suspender o prefeito do cargo por 120 dias. (REVISTA SELEÇÕES, junho de 2003, p. 88)

A jornalista, além de contribuir para as investigações

mobilizava a população contra os atos imorais do ex-prefeito. Vita Guimarães,

em seu ofício diário, recebeu um release da Assessoria de Comunicação da

Prefeitura sobre a inauguração do Pronto Atendimento Infantil, o PAI, onde

haveria um show com a presença da artista Xuxa, que custaria aos cofres

municipais cerca de R$250 mil reais. Tal ação levou Vita à indignação. Ela

contatou lideranças da cidade, para que não compactuassem com mais este

gasto indevido.

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54

A cidade em pandarecos e vão gastar isso? Para inaugurar um hospital que é obrigação a cidade ter?

Liguei para as minhas amigas que eram lideranças nos bairros. Tinha uma que era Iracema das Ardósias. Ela brigou muito pelo conjunto onde eles foram morar. O conjunto não valia nada e custava um absurdo e era feito de pedras de ardósia. Aquilo era um gelo quando esfriava e um calor enorme quando esquentava. [...] Eu liguei para ela: ─Iracema, vão fazer um show de inauguração do PAI. Você sabe quanto vai custar?

Ela falou:─Vita, não me venha com nenhuma bomba.

─Pois é R$250 mil. Sabe quem vem? A Xuxa.

Ela ficou tão indignada. E falou:─O que a gente pode fazer?

Eu falei:─Me dá uma entrevista dizendo que a comunidade não aceita isso. [...] Botamos no ar e cancelaram o show, mas o Ministério Público foi para cima. Ele foi cassado por esse detalhe mais um dos ingredientes da pizza.

(Vita Guimarães, entrevista exclusiva, 20 de abril de 2013)

A junção destas ações que indignaram a jornalista, o promotor

e a população resultaram na cassação de Antonio Belinati, que durante a

seção na Câmara Municipal de Londrina teve dentre o total de 20 votos, 14 em

favor da cassação.

O caso segue e no Jornal de Londrina dos dias 5 e 6 de maio e

27 de julho de 2001 retratam a prisão do ex-prefeito (ANEXOS O, P e Q). Na

primeira e na segunda data, as matérias descrevem como foi à primeira noite

que o político passou na prisão.

No dia 5 de maio, são descritas as ações propostas pelo

Ministério Público, dentre elas uma medida cautelar que tem como objeto 30

licitações fraudulentas da Comurb, totalizando R$ 3.393.296,50 milhões.

Na última publicação, fala-se sobre a segunda prisão do ex-

prefeito ainda pelo mesmo motivo. “O ex-prefeito é acusado de ser um dos

principais mandantes e beneficiários do esquema” (Jornal de Londrina, 27 de

julho de 2001). Todas essas matérias são publicadas na página 3A do

periódico.

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55

Durante a entrevista sobre o caso, fica evidente a importância

da participação de Vita Guimarães na resolução de todo este imbróglio. A

jornalista que acredita ter sido essa a sua missão, certamente, fez além do seu

papel, do seu ofício diário.

Os códigos utilizados por Vita Guimarães continham o

chamado “discurso significativo”, ou seja, a concretude, segundo Hall (2003).

No caso estudado as provas que intimaram diversos setores da comunidade

desde a população aos órgãos competentes a julgar os trâmites defendidos

pelo ex-prefeito.

Conforme Hall, esse é o efeito daquilo que se quer propagar,

ou seja, além de sua concretude devem-se levar em conta os aspectos sociais

que se quer atingir (2003, p. 368).

No caso, a linguagem da rádio AM já é mais próxima da

população pelo fato de seus códigos serem mais simples. Não se está

querendo dizer aqui que há linguagem piegas, pelo contrário, quer-se dizer que

muitas vezes esta aproximação tem efeitos mais positivos do que linguagens

um tanto mais elaboradas, é o que se vê nas reportagens impressas do caso

em debate.

De acordo com Fábio Alves Silveira, o comportamento da

imprensa a respeito do caso AMA/COMURB envolvendo o ex-prefeito Antonio

Belinati, pode ser divido em três fases. Sendo que estes três momentos não

afetaram somente as publicações dos jornais, refletiram “a reação da

sociedade ao teor das informações investigadas pelo Ministério Público”. (2006,

p. 10)

Silveira descreve o primeiro momento como “cautela e

„silenciamento‟” e destaca que as informações das investigações eram

camufladas e amenizavam a situação do prefeito.

Já no segundo momento há resistência “tanto no interior das

redações, quanto na sociedade” é neste momento que surgem o Movimento da

Moralidade e a Comissão Especial de Inquérito, já mencionados, segundo o

autor é esta pressão popular que “leva o Caso AMA/COMURB às páginas dos

jornais londrinenses.

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56

A partir dessa resistência é possível chegar ao terceiro momento, que é o momento da ruptura, que acontece nos primeiros meses de 2000 com as votações das Comissões Processantes, na Câmara de Vereadores, uma das quais viria a cassar o mandato de Belinati em junho de 2000.[...] No momento em que Belinati é afastado do cargo de prefeito, através de liminar concedida pelo juiz da 6ª Vara Cível, Celso Saito, na Medida Cautelar Inominada protocolada pelo Ministério Público e que viria a se tornar os Autos 307/2000, o bloqueio já está rompido. (SILVEIRA, 2006 p. 10 – 11)

Esta reflexão é necessária para compreender o trabalho de

Vita Guimarães, que ao contrário das publicações dos jornais locais não teve

medo de enfrentar a verdade; o silêncio a acometeu unicamente no momento

em que o sigilo era necessário. Não negou informação à população,

demonstrando assim, seu comprometimento com a justiça e a dignidade do

povo.

Dessa forma, estas questões reafirmam o que Hall quer

polemizar em seus estudos, quando destaca o que o efeito do conjunto de

significados pode causar em determinada situação, ou seja, a influência que

estes códigos podem ter ao persuadir e dissuadir as complexas relações entre

os indivíduos.

Em um momento “determinado”, a estrutura emprega um código e produz uma “mensagem”; em outro momento determinado, a “mensagem” desemboca na estrutura das práticas sociais pela via de sua decodificação. Estamos agora plenamente cientes de que esse retorno às práticas de recepção e “uso” da audiência não pode ser entendido em termos simplesmente comportamentais. (HALL, 2003 p. 368)

Vita Guimarães levou a informação do povo para o rádio,

responsabilizou políticos e autoridades municipais. Ela não mudou

comportamentos, mas ajudou a iniciar o movimento do “basta para a

corrupção”, deixando resquícios éticos no imaginário dos cidadãos com relação

a sua atitude profissional. Como exemplo, tempos depois, o ex-prefeito

cassado em 2012, Barbosa Neto, não teve as muletas da impunidade.

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57

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Revisitando algumas passagens da história do rádio em

Londrina não é possível ignorar a trajetória da profissional Vita Guimarães,

mulher conhecida pela voz e pelo trabalho singular, que alcançou respeito e

prestígio na mídia local, fato que não era esperado por ela quando iniciara na

Rádio Atalaia em 1968. Foram inúmeras falas, textos dramatizados até chegar

ao jornalismo, que no princípio foi precário, ainda nos moldes do gilette-press.

Após esta fase, foi a vez de fazer jornalismo “de verdade”, como ela mesmo

ressalta; e foi esta verdade que fez Londrina conhecer Vita Guimarães.

Após mudanças e mais mudanças de emissoras foi-lhe

atribuída a função de repórter na editoria policial, que não a agradou,

permanecendo ali pouco tempo. Posteriormente, ela abraçou causas sociais e

foi além do que lhe cabia como jornalista. Trabalhou com o jornalismo de

bairros, de comunidades, ajudou desde as classes mais pobres até o Poder

Judiciário com a intenção de desvendar o caso de corrupção do ex-prefeito

Antonio Belinati.

Há 25 anos casada com Alcides Lhamas, companheiro que

sempre lhe deu apoio às causas em que enveredara, deixou o rádio por

motivos pessoais. Aposentada desde 2007, hoje se dedica à religião Perfect

Liberty e à arte da panificação. É feliz desta forma. Não há rumores para

retornar ao ofício que dedicou a maior parte de sua vida. Vita Guimarães, 61

anos, 60 anos de Londrina, mais de 40 anos dedicados ao rádio londrinense.

A evolução e o aprofundamento na história de Vita Guimarães

levam à reflexão de que ainda existem jornalistas com os velhos preceitos

“românticos” de que o poder da voz, das palavras pode comover àqueles que

estão no poder.

Do ponto de vista teórico e metodológico, as entrevistas foram

realizadas no sentido de entender a biografia e assimilar a história da

personagem levando em conta os estudos de Stuart Hall – conhecido pelo seu

pioneirismo no universo das pesquisas que alavancam os estudos culturais.

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No trabalho foram compilados alguns pontos chaves,

elencados para afirmar a importância das peculiaridades vividas pela jornalista.

Nestes pontos, as discussões traçadas apelam, principalmente, para um

registro substancial de parte da história da mídia londrinense.

Sobre essas questões foram encontradas dificuldades, pois

não existem publicações recentes sobre a história do rádio em sua amplitude,

bem como, não são discutidas trajetórias profissionais em livros ou artigos.

Enveredar nesta área de pesquisa é arriscar e priorizar o que há de novo e de

incomum.

Ainda sobre os pontos chaves escolhidos, é importante

ressaltar que foram utilizados estes artifícios para tornar a compreensão um

tanto mais didática, porém, haveria muitas outras nuances a serem exploradas

e pesquisadas. A respeito desse procedimento didático destaca-se a crítica

feita por Pierre Bordieu. Este pesquisador polemiza quando desconstrói a ideia

da concatenação linear dos fatos, ou seja, critica a organização cronológica a

que os textos biográficos enveredam. Apesar de existir uma intenção em

utilizar elementos facilitadores para o entendimento da trajetória profissional de

Vita Guimarães, não há respeito a uma cronologia, porque não existe uma

linearidade estanque de fatos que levam ao resultado final desta pesquisa.

A não exatidão está justamente nos pontos chaves pré-

determinados que guiaram e foram elementos importantes para o entendimento

das linhas gerais aqui trabalhadas. A utilização deste método levou ao risco de

se permanecer na superficialidade dos fatos, ou seja, as linhas gerais

mencionadas formam um grande esboço, permitindo novas pesquisas sobre a

mesma temática.

Acredita-se que desses detalhes outras discussões poderão

ser trabalhadas, não especificamente sobre a história profissional de Vita

Guimarães, mas de outros profissionais do rádio e da mídia local.

Essa análise levou a considerar que a não existência de

materiais voltados a estudos biográficos empobrecem, inclusive, a história da

mídia local, fazendo com que grandes profissionais tenham suas histórias de

vida e vivências profissionais esquecidas pelo tempo.

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O fato de não serem preservados materiais históricos

exemplificam a precariedade com que se lidava com a história durante as

décadas passadas. Sabe-se que foi muito mais fácil e viável guardar os

documentos impressos do que qualquer outra forma de mídia, e sabe-se que

os materiais utilizados pelo rádio era usados exaustivamente, fazendo com que

as matérias fosse perdidas nos rolos das cassetes antigas. Hoje, a digitalização

de uma maneira geral, permite o armazenamento e a catalogação destes

materiais, seja para fins comunicacionais ou para fins acadêmicos.

A falta desses recursos históricos tornou difícil a criação de

uma imagem auditiva, como descreve Marshall McLuhan, como exemplos no

caso de Vita Guimarães como eram as suas interpretações ou suas matérias

no radiojornalismo. Criar esse mecanismo no imaginário é, portanto,

extremamente complicado, tanto pelo motivo de não ter tido acesso a esses

áudios quanto pelas diferenças ocasionadas pelo fato de as gerações serem

distintas.

Hoje, o culto existente permeia o mundo das imagens na

fugacidade da internet. Sendo assim, torna-se ainda mais importante resgatar e

manter a história de um aparato tecnológico que está presente no dia a dia das

pessoas, mas que não é mais o carro chefe da comunicação. “O rádio merece

um estudo profundo”, afirma a jornalista. Declaração válida, que chama a

atenção para uma necessidade acadêmica nem sempre priorizada.

Ainda acerca das histórias que caíram no esquecimento reflete-

se na análise deste trabalho, justamente sobre um caso que envolveu a

comunidade londrinense por completo, mas que a maioria das pessoas não faz

ideia de que a ocorrência começou com denúncias feitas por uma jornalista de

uma emissora de rádio da cidade. A porcentagem de pessoas que conhecem o

envolvimento de Vita Guimarães na resolução do caso AMA/COMURB – que

resultaria na cassação do prefeito Antonio Belinati - diminuiu ainda mais ao

longo dos tempos.

No entanto, no auge das denúncias, Vita não se deixou levar

pela fase de silenciamento como ponderou o jornalista político Fábio Alves

Silveira, “foram reportagens publicadas pela imprensa que impediram, por

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60

exemplo, a contratação da apresentadora Xuxa Meneghel para inaugurar o

PAI” (2004, p.124).

O ponto que se quer considerar com toda essa explanação é

justamente evidenciar as dificuldades que acometeram esse trabalho, bem

como perceber a necessidade de um estudo aprofundado sobre a história da

mídia local. Assim, partindo de histórias individuais que são fragmentos

necessários para a compreensão da coletividade, como descreve José Meihy

em seus estudos sobre a história oral, poder-se-ia montar – ao longo de várias

perspectivas – uma reflexão histórica da mídia de Londrina, a partir das

biografias dos profissionais que dela fizeram parte.

Compreender o que se passa culturalmente, aquilo que

acontece na individualidade da jornada diária e as ações que essa

movimentação causa em nosso sistema nervoso são processos necessários.

Esses processos individuais e coletivos permitem-nos entender as questões

sociais, que estão diretamente relacionadas às políticas e que resultam nos

processos históricos de uma maneira geral.

Sendo assim, o perfil aqui traçado evidencia a singularidade

discutida por Pierre Bordieu. As entrevistas exclusivas para a elaboração desse

perfil, assim como o material selecionado na imprensa para comprovar os

depoimentos mais contundentes carregam consigo a expressividade da

trajetória profissional de Vita Guimarães, que não traçou em mente sua história

antes de vivê-la e tampouco a reduziu a pequenos eventos cotidianos,

descobriu o que queria e viveu. “Cada um descobre onde está a nascente da

sua água”, conclui.

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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ANEXO A

CARTEIRA DE TRABALHO

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ANEXO B

PROJETO PESSOAL

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ANEXO C

JORNAL DA CASA

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ANEXO D

REQUERIMENTO

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ANEXO E

MATÉRIA RECONHECIMENTO

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ANEXO F

CERIMONIAL – DIPLOMA DE RECONHECIMENTO PÚBLICO

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ANEXO G

REVISTA SELEÇÕES

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ANEXO H

TERMO DE DECLARAÇÃO

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ANEXO I

TERMO DE COMPARECIMENTO

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ANEXO J

JORNAL DE LONDRINA

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ANEXO K

JORNAL DE LONDRINA

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ANEXO L

JORNAL DE LONDRINA

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ANEXO M

JORNAL DE LONDRINA

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ANEXO N

JORNAL DE LONDRINA

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ANEXO O

JORNAL DE LONDRINA

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ANEXO P

JORNAL DE LONDRINA

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ANEXO Q

JORNAL DE LONDRINA

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ANEXO R

ÁUDIO DAS ENTREVISTAS