rabiscos de um velho professor - perse€¦ · nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. eu...

19
Rabiscos de um Velho Professor Rubens Alves Figueiredo

Upload: others

Post on 18-Jul-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rabiscos de um Velho Professor

Rubens Alves Figueiredo

Page 2: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se
Page 3: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rubens Alves Figueiredo

Rabiscos de um Velho Professor

Primeira Edição

Catanduva

2013

Page 4: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se
Page 5: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Apresentação

Sempre gostei de escrever.

Nunca me preocupei com forma ou com nor-

mas.

Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto.

De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-

sa se perdeu. O que foi preservado, aqui consta

e é reunido sob os títu1os: Contos, Dedicatórias

e Rabiscos.

Page 6: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se
Page 7: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Dedicatória

Para minha esposa

"Ineida dos meus amores

aquela em quem vejo flores

bailando nos olhos dela”.

Page 8: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se
Page 9: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rabiscos de um Velho Professor

9

Sumário

Contos _______________________________ 11

Série Justiça ____________________________________ 13

Culpado ou Inocente? _______________________________ 14

Culpado ou Inocente (2) ______________________________ 19

O “Espírito” Barulhento ______________________________ 31

Série Família ____________________________________ 38

A Cruz de Cristo ____________________________________ 39

Por Amor __________________________________________ 43

Amor ou Desespero? Um Sorriso de Vitória ______________ 48

Série Memórias _________________________________ 55

O Sal da Sopa ______________________________________ 56

Concurso de "Causos"- A Petição _______________________ 61

“A Casa dos Meus Sonhos” ___________________________ 64

Chico Marcha-Ré ___________________________________ 67

Série Por Trás da Notícia __________________________ 70

Frio e Fome ________________________________________ 71

A Noiva Esperta (Do jornal local: “A vida imita a novela.

Noiva foge do altar”) ______________________________ 74

Série Fé ________________________________________ 77

A Ira de Deus Pai ____________________________________ 78

Dedicatórias ___________________________ 85

Rabiscos ______________________________103

Carta à Ineida do Prado _____________________________ 105

Confissão de um Velho Esposo, Pai e Avô. ______________ 107

Oração ___________________________________________ 108

Page 10: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rubens Alves Figueiredo

10

Presente de Namorado _____________________________ 109

Dedicatória _______________________________________ 110

Realidade e Esperança ______________________________ 112

Eternidade do Amor ________________________________ 113

Pensamento ______________________________________ 114

Acalanto _________________________________________ 115

Cristo Presença ____________________________________ 116

Reconhecimento ___________________________________ 117

Dedicatória _______________________________________ 118

Ipê Branco ________________________________________ 119

Mel _____________________________________________ 120

Jabuticabeiras _____________________________________ 121

Convite de Natal ___________________________________ 122

Sua Benção Senhora ________________________________ 123

Omissão _________________________________________ 125

Natal ____________________________________________ 127

Partilha __________________________________________ 129

Oração do Avô ____________________________________ 130

Crônica do Adeus – Meu Pai, um HOMEM ______________ 131

Estorinha de Natal _________________________________ 133

Vó Sinhá _________________________________________ 135

Retrato de Família _________________________________ 137

Ontem e Hoje _____________________________________ 139

Professor _________________________________________ 140

Brisa ____________________________________________ 140

Saiu o Semeador ___________________________________ 141

Zé Luiz ___________________________________________ 144

Page 11: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rabiscos de um Velho Professor

11

Contos

Page 12: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rubens Alves Figueiredo

12

Page 13: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rabiscos de um Velho Professor

13

Série Justiça

Page 14: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rubens Alves Figueiredo

14

Culpado ou Inocente?

Cursava o 2° Ano Técnico de Agricultura quando, de um professor, ouviu a frase pela primei-ra vez. No dia seguinte, numa livraria, encontrou

um adesivo com a mesma frase: Os fins justificam os meios. Num impulso comprou o adesivo e o transformou num pequeno quadro.

Há três anos estava formado. Sentado na ca-deira de balanço, naquele fim de tarde de domingo, já não prestava atenção à discussão do pai, na ca-deira de rodas, com seu tio que, como sempre, che-gara bêbado da cidade. Conhecia todas as ofensas que trocavam e sabia como terminaria: o pai aos gritos, tentando sair da cadeira de rodas e o tio pu-xando o revolver descarregado (ele, José, o descar-regara) e ameaçando atirar. Às vezes chegava mes-mo a puxar o gatilho.

Estava cansado. Não conseguira, apesar de to-do o conhecimento de técnicas rurais que adquirira mudar uma só rotina do pequeno sítio.

O velho Tomás continuava a tirar leite das dez ou doze vacas leiteiras; o tio a fazer queijos que

vendia aos domingos na cidade; ele cuidando da roça de milho e mandioca; o pai a remoer o acidente de caminhão, em que (segundo ele, seu tio dirigia bêbado) sua mãe morrera e o pai fora para uma ca-deira de rodas. Tudo igual. Estava cansado.

Page 15: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rabiscos de um Velho Professor

15

O tio continuava bebendo o dinheiro dos quei-jos, pouco sobrava para as despesas da semana e nenhum para aplicar no sítio.

O pai continuava a “jogar na cara” do irmão sua culpa pelo acidente. As discussões. Nada muda-ra.

Quando conseguira ser o titular da conta ban-

cária (poupança da mãe) imaginara ser o começo das mudanças. Nada, nada mudara.

Lá dentro a discussão aumentara e estavam chegando ao acidente do caminhão. Precisava fazer alguma coisa.

Lembrou-se: os fins justificam os meios.

Finalmente decidiu-se. Naquele domingo, de-pois que o tio saiu com o velho Tomás (e os queijos) não foi descarregar a arma. Foi andar pelo sítio. Vol-tou mais uma vez à cratera do formigueiro velho que a enchente formara e lhe povoava a cabeça de so-nhos.

Via nela uma pequena lagoa, com uma bomba instalada, canos para irrigação e verde, muito verde; desde que o gerente do Banco Popular lhe oferecera financiamento a juros baixos, estes sonhos eram mais frequentes. O pai e o tio, entretanto, se encar-regavam de sepulta-los. Amanhã, pensou seria ou-tro dia.

Voltou para casa a tempo de ver o velho Tomás entrar quase carregando o tio, bêbado como sempre. Algum tempo depois o tio acordaria e...

Page 16: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rubens Alves Figueiredo

16

Tudo aconteceu como previsto: a discussão dos dois irmãos, o crescimento de acusações e raiva, a arma. Ouviu o barulho dos tiros e correndo, junto com o Tomás, entrou na sala. O pai estava caído num lado da cadeira de rodas e o tio, numa poça de sangue, ainda com o revolver na boca.

Estavam mortos. Ouviu os soluços do preto Tomás, benzeu-se e saiu. Foi chamar a polícia.

VEREDITO: Assassinato seguido de suicídio. Estava livre para voar.

Depois do velório, aguardou ainda uns três di-as, demonstrando uma dor que não sentia, e come-çou a “revolução rural” que planejara.

Vendeu as vacas velhas, efetivou o Tomás co-mo caseiro e cozinheiro. Levantou o saldo da conta de poupança, comprou um trator usado, uma grade e, emprestando uma lâmina de frente, pôs-se a tra-balhar na cratera do formigueiro velho. No fim do dia tinha uma linda lagoa seca. Como último traba-lho escavou um canal, seguindo a trajetória da en-xurrada e ligou, mais acima, o canal ao riozinho. Ficou longo tempo vendo a água descer vagarosa e continuadamente em direção de sua lagoa.

Lagoa cheia, financiamento concedido, bomba instalada.

Iniciou a irrigação. Molhava e gradeava. Mo-lhava e plantava.

Trabalhava de sol a sol, almoçando na roça a comida preparada pelo Tomás, sempre silencioso

Page 17: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rabiscos de um Velho Professor

17

(desde a morte dos patrões não dissera uma única palavra).

Plantou berinjelas, tomates, vagens, pimentões e jilós. Tornou-se o maior produtor e vendedor de hortigranjeiros da região, suprindo supermercados da cidade. Pagou o financiamento antes do prazo.

Sentado na velha cadeira de balanço, beberi-

cando um copo de vinho, pensava:

Agora meu futuro está garantido. Posso sonhar em casar e ter filhos, “voar” alto. Conseguira: sor-rindo, sonhando, adormeceu.

O velho Tomás não sabia ler e escrever, mal assinava o nome.

Nascera ali mesmo, no sitio dos Feitosa. Filho de escravos fugitivos de um Quilombo, quando da invasão do mesmo pela Captura.

Em suas lembranças, a figura do pai pegando--o no colo e contando histórias do Quilombo, da Senzala e da Mãe África, predominava e enchia suas noites insones. Os cantos, as danças, os estranhos rituais de purificação e justiça, deixando para os deuses o castigo (ou não) das transgressões das leis e costumes da tribo... Tudo povoava sua mente en-quanto caçava, como de costume, cobras que depois o “seu menino” remeteria para o Butantã.

Colocou a coral na caixa de madeira e voltou para casa.

Page 18: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rubens Alves Figueiredo

18

Não acreditava na justiça dos homens, acredi-tava na justiça de Deus.

Contemplou o “seu menino” dormindo, com o estranho quadro (só letras, sem desenho) no colo. Chorando mas decidido, silenciosamente aproxi-mou-se. Nas mãos trazia a pequena caixa de madei-ra.

Desde a morte dos irmãos pensava em justiça. Sabia, por instinto, que o "seu menino" tinha feito alguma coisa errada. O que? Não sabia.

Chegou, pé ante pé, abriu a pequena caixa e deixou que a coral deslizasse para cima do quadro, no colo do "seu menino".

Pensava, em meio ao choro: Ele não vai ser pi-cado porque é inocente, mas se for... Será a justiça de Deus.

Page 19: Rabiscos de um Velho Professor - PerSe€¦ · Nunca me preocupei com forma ou com nor-mas. Eu escrevia, ainda escrevo, e ponto. De tudo que escrevi de 1956 a 2013, muita coi-sa se

Rabiscos de um Velho Professor

19

Culpado ou Inocente (2)

Peguei o ônibus das 6h para São Paulo.

Sentado, num ônibus quase vazio, busquei preparar-me para a difícil missão que me esperava.

Voltei o pensamento para meses atrás. Num exame de rotina a médica de minha esposa colhera material para exames do útero.

Dez dias depois o resultado: Terrível e inespe-rado, presença de mioma cancerígeno no colo do útero e logo abaixo: sugerimos novos exames, para confirmação, em Instituto Especializado.

A médica leu o resultado e nos perguntou:

- Vocês leram?

Respondemos que sim.

- E o que pretendem fazer?

- Queríamos um encaminhamento para o Hos-pital do Câncer de Barretos.

Assim tudo começara. Os novos exames, no Hospital de Barretos, confirmaram o Mioma e os médicos optaram por Radioterapia.

- Quantas sessões Dr.?