r4 - a regulamentação da profissão do assistente social (3)

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R4 - A Regulamentação Da Profissão Do Assistente Social (3)

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  • 1

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    ROTEIRO DE ESTUDOS 04

    A regulamentao da profisso do assistente

    social

    Rosane Aparecida de Sousa Martins

    Valquria Alves Mariano

    O desafio re-descobrir alternativas e

    possibilidades para o trabalho profissional no

    cenrio atual; traar horizontes para a

    formulao de propostas que faam frente

    questo social e que sejam solidrias com o

    modo de vida daqueles que a vivenciam, no

    s como vtimas, mas como sujeitos que

    lutam pela preservao e conquista da sua

    vida, da sua humanidade. Essa discusso

    parte dos rumos perseguidos pelo trabalho

    profissional contemporneo.

    Iamamoto, 2009

    Introduo

    Compreender a Lei de regulamentao da profisso de Servio

    Social datada de 07 de junho de 1993, e seus respectivos

    cdigos de tica, passando pelos anos de 1947, 1965, 1975,

    1986 e 1993, nos remete a uma anlise crtica do trabalho

    profissional do assistente social, possibilitado por meio da

    contextualizao histrica, sciocultural, econmica, poltica e

    tica da realidade social, visando o reconhecimento dos

    aspectos legais, e a avaliao das implicaes ticas do

    trabalho profissional, nos vrios espaos scio-ocupacionais.

    Para Simes (2009), No custa lembrar que, nesse sentido,

    todas as leis profissionais exigem, como contrapartida, a

    instituio de um cdigo profissional de tica.

    Desta forma, o presente captulo prioriza a leitura,

    compreenso e re(conhecimento) do exerccio profissional do

    assistente social, pelo vis dos aparatos legais concernentes

    profisso, destacando suas competncias e atribuies,

    enquanto base para o exerccio profissional, que de acordo

    com Simes (2009),

    FORMAO E TRABALHO PROFISSIONAL UNIVERSIDADE DE

    UBERABA

  • 2

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    esto assim vinculadas eficcia e

    efetividade dos direitos sociais e, portanto,

    defesa do aprofundamento da democracia,

    enquanto socializao da participao

    poltica e da riqueza socialmente produzida,

    um dos princpios fundamentais do Cdigo.

    Neste contexto, nos compete, ainda, apresentar os papis dos

    Conselhos representativos da categoria. No tocante ao

    exerccio profissional, este deve pautar-se nos onze princpios

    institudos no Cdigo de 1993, visando a autonomia e

    emancipao da classe trabalhadora, de forma que sejam

    efetivados, os direitos garantidos constitucionalmente, e

    desrespeitados cotidianamente em virtude de polticas pblicas

    de atendimento, fragmentadas, excludentes que no atendem

    demanda apresentada na contemporaneidade, expressa nas

    mais diversas expresses da questo social.

    O presente captulo prope apresentar a voc, uma viso

    panormica da profisso de Servio Social, considerando os

    aspectos relacionados regulamentao da profisso do

    assistente social, sob um vis crtico, o que possibilitar a

    compreenso acerca da legitimao da profisso, do

    re(conhecimento) dos espaos scio-ocupacionais do

    assistente social, com vistas a um trabalho pautado no que

    preconiza o cdigo de tica de 1993 cdigo vigente em

    consonncia com o projeto tico poltico profissional.

    Nesse lapso de tempo, o Servio Social

    construiu um projeto profissional

    radicalmente inovador e crtico, com

    fundamentos histricos e terico-

    metodolgicos hauridos na tradio

    marxista, apoiado em valores e princpios

    ticos radicalmente humanistas e nas

    particularidades da formao histrica do

    pas. Ele adquire materialidade no conjunto

    das regulamentaes profissionais: O

    Cdigo de tica do Assistente Social (1993),

    a Lei da Regulamentao da Profisso

    (1993), e as Diretrizes Curriculares

    norteadoras da formao acadmica.

    (IAMAMOTO, 2009, p. 1).

    Assim, visando atender ao explicitado, o captulo est

    assim dividido:

    1. pressupostos para anlise da Lei de Regulamentao Profissional do Assistente Social apresenta um prembulo acerca da temtica proposta, convidando-o para a leitura do material que ser apresentado, oportunizando

  • 3

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    uma maior reflexo e curiosidade sobre os aspectos legais que permeiam a profisso de Servio Social;

    2. a apresentao da profisso do assistente social e sua regulamentao retoma a discusso da trajetria histrica do Servio Social brasileiro, enfatizando a organizao da categoria em prol de um fortalecimento da sua identidade profissional desvinculada de uma identidade alienada e acrtica;

    3. no tocante ao Servio Social e lei profissional: a lei 8.662, de 07 de junho de 1993 apresenta a disposio da lei, indicando as condies legais para o exerccio da profisso, o que so competncias e atribuies do assistente social, e quais so os rgos representativos da categoria profissional que atuam junto a categoria, em prol da garantia de condies de trabalhos dignas para si e consequentemente para o usurio atendido pelo assistente social;

    4. o Cdigo de tica profissional dos assistentes sociais consiste na normatizao das relaes de trabalho do assistente social. Esse aspecto est relacionado compreenso de todas as implicaes ticas que permeiam o trabalho cotidiano profissional do assistente social. Considerando a trajetria histrica da profisso, sero destacados os cdigos desde 1947 at 1993, em observncia a todas as mudanas ocorridas dentro e fora da profisso, como forma de apresentarmos respostas aos usurios do Servio Social, que sejam condizentes com a proposta do projeto tico poltico j mencionado.

    Objetivos

    Aps a leitura do captulo, voc dever ser capaz de:

    identificar as legislaes que regulamentam a profisso de Servio Social;

    reconhecer a importncia dos conhecimentos dos aspectos legais que regulamentam a profisso do assistente social;

    interpretar criticamente o trabalho profissional do assistente social, por meio da contextualizao histrica, sciocultural, econmica, poltica e tica da realidade social;

    avaliar as legislaes que embasam a regulamentao da profisso, avaliando as implicaes ticas do trabalho profissional.

  • 4

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Esquema

    1. Pressupostos para anlise da Lei de Regulamentao

    Profissional do assistente social

    Nos captulos anteriores, voc teve a oportunidade de estudar alguns aspectos do componente curricular Servio Social trabalho e formao profissional. Agora, daremos continuidade aos nossos estudos, comentando e discutindo a regulamentao da profisso do assistente social.

    Para tanto, realizaremos o estudo sobre a Lei de

    Regulamentao da profisso Servio Social, Lei n 8.662, de

    07 de junho de 1993, e sobre o Cdigo de tica profissional do

    assistente social.

    Esta Lei tem o objetivo de controlar os

    procedimentos e a natureza dos servios

    profissionais, por meio dos quais se realizam

    os princpios constitucionais da assistncia

    social; assim como da sade, previdncia

    social e demais atividades sociais. (SIMES,

    2007, p. 437).

    De acordo com as reflexes apresentadas, at agora, neste componente curricular, a regulamentao da profisso resultado de um processo de construo iniciado na dcada de 1930 e fortalecido com o movimento de reconceituao a partir das dcadas de 1970 e 1980.

    4 momento: A trajetria dos Cdigos de tica profissional

    dos assistentes sociais

    1 momento: Pressupostos para anlise da Lei de

    Regulamentao Profissional do assistente social

    2 momento: A profisso do assistente social e sua

    regulamentao

    3 momento: O servio social e a lei profissional: a Lei 8662,

    de 7 de junho de 1993

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    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Neste contexto,

    a luta contra a ditadura e a conquista da democracia possibilitaram o rebatimento, no interior da categoria profissional, da disputa entre projetos societrios diferentes projetos que se confrontavam no movimento das classes sociais. As aspiraes democrticas e populares, irradiadas a partir dos interesses dos trabalhadores, foram incorporados e at intensificados pelas vanguardas do Servio Social. Pela primeira vez, no interior da categoria profissional, rebatiam projetos societrios distintos daqueles que atendiam aos interesses das classes e camadas dominantes. (NETTO, 1999, p. 101)

    Esta construo caracteriza-se pela busca de rompimento com

    a vertente conservadora do Servio Social e pela proposio

    de um novo projeto profissional que se aproxime dos projetos

    societrios.

    Desta forma, a regulamentao da profisso caracteriza-se

    pelos determinantes scio-histricos, pela dimenso poltica

    atrelada ao compromisso com a classe trabalhadora e pelos

    interesses, demandas e aspiraes do projeto coletivo dos

    assistentes sociais.

    No Brasil, a regulamentao da profisso decorrente da

    organizao da categoria por meio dos rgos representativos:

    Conselho Federal de Servio Social - CFESS, Conselhos

    Regionais de Servio Social - CRESSs e Entidade Nacional de

    Estudantes de Servio Social - ENESSO, Associao Brasileira

    de Ensino e Pesquisa em Servio Social - ABEPSS, Sindicatos

    e associaes de assistentes sociais.

    Segundo Netto (1999, p. 94), os projetos societrios so projetos coletivos;

    mas seu trao peculiar reside no fato de se constiturem projetos

    macroscpicos, em propostas para o conjunto da sociedade.

    Importante!

    Para voc obter mais informaes sobre os conselhos, acesse os sites: www.cress-mg.org.br e www.cfess.org.br. Esses sites lhes apresentaro quais as funes do Conselho em observncia s determinaes constantes na Lei de Regulamentao profissional.

    Pesquisando na Web

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    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Esta organizao permite que o projeto profissional do Servio Social tenha visibilidade na sociedade. Assim, ganha respeitabilidade e credibilidade frente sociedade civil, aos usurios dos servios sociais e frente s instituies sociais pblicas e privadas. Para que isto ocorra, faz-se necessrio que este projeto profissional esteja em sintonia com os movimentos e necessidades sociais e tambm com as transformaes societrias nos aspectos econmicos, sociais, polticos e culturais. Alm disso, por pertencer a uma categoria profissional, este projeto precisa tambm estar em consonncia com o desenvolvimento do Servio Social nos mbitos terico-metodolgicos, tcnico-operativos e tico-polticos, reforando a ideia de que os projetos profissionais, assim como a realidade social, tambm esto em constante transformao.

    A partir do Movimento de Reconceituao e da organizao da categoria de assistentes sociais, desencadearam-se mudanas no seio da profisso e nos espaos scio-ocupacionais do Servio Social por meio da abertura de cursos de ps-graduao em Servio Social, ampliao da produo terica e fortalecimento do processo de reflexo crtica acerca da profisso nos aspectos terico e tcnico-operativo, mediante a acumulao terica adquirida desde as dcadas de 1970 e 1980. Apesar de no possuir teoria prpria, os intelectuais do Servio Social buscaram respaldo nas cincias sociais e humanas para desenvolverem suas pesquisas e produzirem conhecimentos.

    As transformaes scio-histricas e as mudanas no mbito do Servio Social definiram a necessidade de reorganizao do ensino, indicando um novo perfil para o profissional e a reafirmao do projeto profissional, conforme anlises j apresentadas no captulo 1 O servio social e a formao profissional deste livro. Em linhas gerais, a profisso avanou na produo de conhecimentos, incorporou a reflexo crtica como elemento fundamental no contexto do Servio Social e abriu-se ao pluralismo de concepes terico-metodolgicas, desde que compromissadas com o projeto coletivo da sociedade. Neste contexto, a formao profissional torna-se o foco de debates e reflexes, a partir da dcada de 1980, at a dcada de 1990. Neste perodo, ocorreram vrios encontros, oficinas e seminrios, organizados pelas instituies representativas da profisso. Esta reorganizao pauta-se pelas mudanas scio-histricas da sociedade, pelas demandas das diversas manifestaes da questo social, pelas diretrizes indicadas pelos profissionais a partir da acumulao terica adquirida e pelas demandas dos usurios, com a promulgao da Constituio de 1988.

    Sobre estas mudanas, rever o captulo 2 Os espaos scio-ocupacionais do assistente social.

  • 7

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Voc certamente est se perguntando: Qual a importncia da promulgao da Constituio de 1988 neste contexto? Ento, vejamos:

    Foi com a instituio do Estado democrtico de direito, pela Constituio de 1988, que os direitos sociais foram institudos democraticamente, superando o liberalismo social. Nela, alm da ampliao dos direitos civis e polticos, os direitos sociais getulistas, que denominamos de clssicos, foram mantidos, porm a par dos direitos sociais de natureza universal. Basta ler seu art. 6 para se constatar que, alm de reafirmar os direitos clssicos, instituiu tambm a universalidade do direito educao, sade, moradia, ao lazer, segurana, proteo, maternidade e a infncia e a assistncia aos desamparados. (SIMES, 2009, p. 411).

    Dito de outra forma, a Constituio de 1988, conhecida tambm como constituio cidad, institui, como bem apresenta a citao, a universalidade do direito educao, sade, moradia, a toda a populao sem distino. Na mesma perspectiva, foi proposta, tambm, a reformulao do Cdigo de tica profissional do Servio Social, em 1986, em substituio ao Cdigo organizado em 1975, que no mais atendia realidade social e s demandas das dcadas posteriores, e nem mesmo s proposies da categoria diante destas novas demandas. A concluso da reviso do Cdigo de tica ocorreu em 1993, representando o coroamento do projeto profissional do Servio Social pela aprovao da Lei 8662/93, da reformulao das Diretrizes Curriculares e da apresentao do Cdigo de tica revisado, configurando o projeto tico-poltico da profisso. neste contexto que iremos apresentar, a seguir, a regulamentao da profisso com nfase na Lei 8.662/93 e no Cdigo de tica profissional do assistente social, com nfase nas competncias e atribuies do profissional, e no reconhecimento da funo dos rgos representativos da categoria. Na atualidade, o assistente social competente desenvolve seu trabalho profissional com fundamentao terico-metodolgica, com embasamento e habilidades tcnico-operativas e com compromisso tico-poltico com a sociedade civil. Portanto, o contedo deste captulo imprescindvel formao profissional do assistente social na contemporaneidade. Esperamos ter despertado em voc a curiosidade sobre o contedo abordado. Sendo assim, vamos a ele! Ao final, voc certamente concluir que valeu a pena, e que esse

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    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    conhecimento realmente indispensvel para a sua formao profissional.

    2. A profisso do assistente social e sua

    regulamentao

    A reflexo sobre a regulamentao da profisso exige a

    retomada da discusso sobre a trajetria histrica do Servio

    Social na sociedade brasileira, com nfase na organizao da

    categoria e sua luta pelo fortalecimento da identidade

    profissional.

    Historicamente, o Servio Social uma profisso que surge no

    Brasil na dcada de 1930, sob forte influncia da Igreja

    Catlica, para atender aos interesses da classe dominante.

    Apesar da subalternidade do Servio Social aos interesses da

    Igreja, da burguesia e, posteriormente, do Estado, desde sua

    gnese, constata-se a preocupao da categoria em se

    organizar e regulamentar a profisso. Um dos fatores que

    demonstram esta preocupao a criao da Associao

    Brasileira de Assistentes Sociais ABAS, em 1945, que, em

    1947, prope a criao do Cdigo de tica do assistente social

    e, em 1957, o Servio Social reconhecido como profisso

    devidamente regulamentada no Brasil.

    A profisso de assistente social,

    comemorada em 1 de maio, foi

    originariamente reconhecida pela Lei n.

    3.252, de 27/08/57, e regulamentada pelo

    Decreto n. 994, de 15/05/62 (15 de maio,

    dia do assistente social, na tradio

    inaugurada pelas encclicas Rerum

    Novarum, de Leo XIII, de 15/05/1891, e

    Quadragsimo Anno, de Pio XI, de

    15/05/31), classificada como de natureza

    tcnico-cientfica, cujo exerccio determina

    a aplicao de processos especficos de

    servio social. (SIMES, 2007, p. 438).

    A profisso nasceu, no Brasil, a partir de aes sociais de inspirao

    catlica, crescendo com a interveno estatal ou privada, especialmente a

    partir dos anos 1940. A primeira escola de servio social, a atual Faculdade

    de Servio Social da PUC/SP, foi fundada em 1936. At o final da II Guerra

    Mundial, sofreu a influncia franco-belga, inspirada em So Toms de

    Aquino e nos princpios do direito natural. Nos anos de 1950, destaca-se a

    influncia norte-americana, de matriz positivista. At meados dos anos

    1960, essa influncia adquiriu o iderio do desenvolvimentismo. (SIMES,

    2007, p. 439).

    Relembrando

    Subalternidade

    resultante direta das

    relaes de poder na

    sociedade e se

    expressa em diferentes

    circunstncias e

    condies de vida

    social, alm da

    explorao do trabalho

    (ex.: a condio do

    idoso, de mulher, de

    negro etc.) (YASBECK,

    1999, p. 95).

  • 9

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    A regulamentao profissional ocorreu no perodo de ditadura

    militar, quando o Estado Brasileiro assumiu uma perspectiva

    reguladora, prevalecendo aes de coero, presses

    polticas, perseguies e subalternidade aos interesses da

    classe dominante. Contudo, ocorre a mobilizao da categoria,

    almejando o enfrentamento do controle social por parte do

    Estado.

    Na luta pelo fortalecimento da proposta profissional, o Servio

    Social que se respaldava na doutrina de Santo Toms de

    Aquino e nos princpios do direito natural ainda na dcada de

    1940, busca outras referncias tericas visando fundamentar

    sua ao.

    Para tanto, tem suas intervenes balizadas pela matriz

    positivista nas dcadas de 1950 e 1960, fortemente

    influenciadas pela ideologia desenvolvimentista norte-

    americana. Posteriormente, respalda-se na corrente

    fenomenolgica por um breve perodo histrico e, ainda, no

    final da dcada de 1960, com o movimento de reconceituao,

    busca embasamento na teoria crtica.

    Portanto, o Servio Social enquanto profisso, introduzida no

    Brasil a partir do interesse da classe dominante, assumiu o

    papel estratgico de agente primordial na atenuao dos

    conflitos sociais advindos da expanso capitalista no pas e no

    adestramento da classe trabalhadora no espao contraditrio

    da acumulao capitalista.

    A partir da dcada de 1950, at meados da dcada de 1980, os

    profissionais organizam congressos, espaos de debates e

    discusses acerca da profisso. Estes eventos possibilitaram a

    produo de conhecimentos como o Documento de Arax

    (1967), o de Terespolis (1970), e o de Sumar (1978), alm

    da proposta do Mtodo de BH (dcada de 1970).

    Toda esta produo, advinda da organizao da categoria e

    sua luta pela articulao do trabalho profissional s demandas

    sociais dos usurios naquele perodo histrico (dcadas de

    1960, 1970 e 1980), foi impulsionada pela criao dos cursos

    de ps-graduao, em especial stricto sensu (mestrado e

    doutorado em Servio Social), no contexto brasileiro.

    Desta forma, o Servio Social amplia sua produo de

    conhecimentos e adota uma fundamentao terico-

    metodolgica que possibilita o fortalecimento do processo

    crtico, enquanto instrumento de proposio de um projeto

    profissional de carter tico-poltico.

    O protagonismo das entidades representativas da profisso,

    como o Conselho Federal de Servio Social CFESS,

  • 10

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Conselhos Regionais de Servio Social CRESSs e Entidade

    Nacional de Estudantes de Servio Social - ENESSO foi crucial

    para o desencadear de um novo projeto tico-poltico no

    Servio Social brasileiro. Neste perodo, estes conselhos

    assumem o compromisso de superar a funo meramente

    burocrtica e seu carter disciplinador.

    neste contexto que, na dcada de 1990, a Lei n 3252, de 27

    de agosto de 1957, foi alterada pela Lei n 8662, de 07 de

    junho de 1993, com alteraes determinadas pelas resolues

    CFESS n 290/94 e n 293/94, e ainda pelo Cdigo de tica do

    assistente social, aprovado por meio da resoluo CFESS, n

    273/93, de 13 de Maro de 1993.

    A Lei n. 8.662/93, anteriormente examinada, resulta da iniciativa do Congresso Nacional, na condio de representante da vontade poltica nacional, promovendo o discernimento objetivo da profisso, relativamente s demais profisses, distinguindo suas competncias e atribuies privativas e a estrutura e funcionamento de seus rgos institucionais. J o Cdigo de tica resulta por determinao da lei profissional, de um ato de autorregulao da categoria, por meio de seu rgo mximo de representao, o encontro CFESS/CRESS, instituindo os valores ticos que devem presidir a autonomia profissional. (SIMES, 2007, p. 465).

    Esta Legislao expressa a recusa e o questionamento s

    determinaes scio-histricas da sociedade capitalista e o

    posicionamento crtico da categoria de assistentes sociais

    frente ao conservadorismo profissional. Para tanto, a Lei de

    Regulamentao da Profisso e o Cdigo de tica/93 fornecem

    Na realidade qual voc est inserido, a qual Conselho Regional a categoria de assistentes sociais est subordinada? Informe-se e anote para posteriores contatos, e para que voc conhea mais de perto suas funes junto ao profissional do Servio Social.

    Curiosidade

    Sobre a Lei 3252, 8662 e as resolues 290 e 293 mencionadas, consulte o site do conselho da sua regio l voc encontrar alm dessas Leis e resolues, outras concernentes ao Servio Social e tambm, assuntos do cotidiano profissional.

    Saiba mais

  • 11

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    respaldo jurdico e legal ao exerccio profissional do assistente

    social.

    Por meio de um conjunto de conhecimentos particulares e

    especializados, que podero nortear o trabalho profissional e

    balizar as respostas concretas s demandas sociais dos

    usurios, delineia-se uma nova dimenso aos instrumentos

    normativos e ticos do Servio Social.

    Legalmente, assumem um papel jurdico e poltico, contribuindo

    diretamente para a defesa do Servio Social enquanto

    profisso inscrita na diviso scio-tcnica do trabalho e para a

    qualidade dos servios prestados aos usurios (compromisso

    estabelecido pela categoria de assistentes sociais e expresso

    nos onze princpios do mencionado Cdigo), alm de nortear o

    trabalho profissional do assistente social na atualidade.

    Percebeu a relevncia desta temtica? Para os

    que tm dvidas quanto profisso, ou ainda

    sobre sua escolha profissional, uma sugesto:

    voc vai se dar bem se quiser atuar no sentido de

    luta pelos direitos de cidadania e

    reconhecimento do outro enquanto sujeito de

    direitos, com autonomia e perspectiva de

    emancipao social.

    isto que a Lei de Regulamentao da profisso, como um

    dos instrumentos legais da profisso aponta. Precisamos

    aprofundar nossos conhecimentos sobre esta legislao.

    Vamos fazer juntos este aprofundamento?

    2.1 O Servio Social e a lei profissional: a lei 8.662, de

    07 de junho de 1993

    O ensino superior de Servio Social no Brasil garante a

    formao de Bacharis em Servio Social. Para atuar como

    assistentes sociais, estes bacharis, alm de colar grau nos

    cursos de Servio Social, devidamente reconhecidos,

    necessitam inscrever-se nos CRESS Conselho Regional

    de Servio Social de seu estado ou de sua regio e cumprir

    com as determinaes legais para o exerccio profissional.

    Entre as legislaes especficas que norteiam o trabalho

    profissional, podemos citar a Lei de Regulamentao da

    profisso.

    Portanto, ao refletir sobre tal lei, precisamos ter claro que

    esta legislao incide diretamente sobre o trabalho

  • 12

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    profissional do assistente social, direcionando o seu

    exerccio profissional.

    A Lei 8.662/93 dispe sobre a profisso de assistente social

    e d outras providncias. Esta Lei, sancionada pelo

    congresso nacional, apresenta 24 artigos, indicando as

    condies para o livre exerccio da profisso de assistente

    social, as condies legais para tal exerccio, as

    competncias e atribuies privativas, as alteraes de

    denominaes dos rgos representativos da profisso e as

    competncias e responsabilidades dos organismos

    representativos CFESS e CRESS perante os profissionais e

    a sociedade.

    Para maior esclarecimento da populao, a Lei 8.662/93 indica, em seu artigo 2, as condies para exercer a profisso de assistente social:

    I - os possuidores de diploma em curso de graduao em Servio Social, oficialmente reconhecido, expedido por estabelecimento de ensino superior existente no Pas, devidamente registrado no rgo competente;

    II - os possuidores de diploma de curso superior em Servio Social, em nvel de graduao ou equivalente, expedido por estabelecimento de ensino sediado em pases estrangeiros, conveniado ou no com o governo brasileiro, desde que devidamente revalidado e registrado em rgo competente no Brasil;

    III - os agentes sociais, qualquer que seja sua denominao com funes nos vrios rgos pblicos, segundo o disposto no art. 14 e seu pargrafo nico da Lei n 1.889, de 13 de junho de 1953.

    A legislao aponta, em seguida, em pargrafo nico, que o

    exerccio da profisso requer prvio registro nos Conselhos

    Regionais que tenham jurisdio sobre a rea de atuao do

    profissional.

    Tal afirmativa estabelece que o assistente social dever estar

    devidamente inscrito no CRESS daquela regio na qual ir

    realizar sua atuao profissional. Atualmente, contamos com

    24 (vinte e quatro) CRESS e 03 (trs) delegacias de base

    estadual e o Conselho Federal de Servio Social (CFESS).

    Estas entidades representativas da profisso tm rgos de

    fiscalizao do exerccio profissional no pas, dando cobertura

    a todos os estados nacionais.

  • 13

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Considerando que a Lei 8.662/93 dispe sobre o Servio

    Social, objetivando respaldar o exerccio profissional, instituiu-

    se no artigo 3 que a designao profissional de Assistente

    Social privativa dos habilitados em Servio Social, conforme

    indicativos do artigo 2, citado anteriormente.

    A preocupao em reafirmar que somente o assistente social

    devidamente capacitado e habilitado possa exercer as

    atividades (competncias e atribuies privativas do exerccio

    profissional do assistente social) e que s podem se intitular

    assistente social os bacharis em Servio Social devidamente

    inscritos nos CRESSs.

    Conforme reflexes propostas desde o captulo O Servio

    Social e a formao profissional, deste livro, e, tambm,

    mediante as leituras dos captulos Servio Social no contexto

    histrico; A histria do Servio Social na Amrica Latina e

    Servio Social no Brasil parte I, do livro Fundamentos

    histricos do Servio Social, constata-se que o Servio

    Social tem sua origem sob a influncia da Igreja Catlica, da

    burguesia e do Estado. Para atender aos interesses desta

    classe dominante, o Servio Social tinha como caractersticas

    principais a ajuda, a caridade e o assistencialismo.

    Tais caractersticas contriburam erroneamente para a

    criao de uma identidade profissional pautada na ideia de que

    aquelas pessoas que ajudam o prximo, que realizam qualquer

    atividade voluntria ou filantrpica poderiam ser chamadas de

    assistente social.

    Objetivando superar esta identidade atribuda e relembrando

    que o objeto de interveno do assistente social compe-se

    das expresses da questo social e que seu exerccio

    profissional pode se dar, nos diversos espaos scio-

    ocupacionais que compem a rea social, pode-se

    compreender a relevncia dos artigos 4 e 5 da lei 8.662/93,

    que tratam, respectivamente, das competncias e atribuies

    privativas do assistente social.

    O que voc entende por competncia, quando

    estamos falando da competncia do assistente social?

  • 14

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Ento, vejamos: competncias so qualificaes profissionais,

    de mbito geral, que lhe so reconhecidas por esta lei, para

    realizar servios, independentemente de tambm serem

    reconhecidas a outros profissionais, nas respectivas leis

    profissionais, como advogados, socilogos, historiadores,

    psiclogos e outros (SIMES, 2007, p. 443).

    Dito de outra forma, aquilo que compete ao assistente social,

    tambm pode competir a outro profissional no sendo

    garantido que s o assistente social o tenha competncia para

    realizar algum servio. Competncia diz respeito ento como

    mencionado na citao, a qualificaes profissionais expressas

    por mais de uma profisso.

    Art. 4 Constituem competncias do Assistente

    Social:

    I. elaborar, implementar, executar e avaliar polticas

    sociais junto a rgos da administrao pblica, direta

    ou indireta, empresas, entidades e organizaes

    populares;

    II. elaborar, coordenar, executar e avaliar planos,

    programas e projetos que sejam do mbito de

    atuao do Servio Social com participao da

    sociedade civil;

    III. encaminhar providncias, e prestar orientao social

    a indivduos, grupos e populao;

    IV. (Vetado);

    V. orientar indivduos e grupos de diferentes segmentos

    sociais no sentido de identificar recursos e de fazer

    uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus

    direitos;

    VI. planejar, organizar e administrar benefcios e

    Servios Sociais;

    VII. planejar, executar e avaliar pesquisas que possam

    contribuir para a anlise da realidade social e para

    subsidiar aes profissionais;

    VIII. prestar assessoria e consultoria a rgos da

    administrao pblica direta e indireta, empresas

    privadas e outras entidades, com relao s matrias

    relacionadas no inciso II deste artigo;

  • 15

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    IX. prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais

    em matria relacionada s polticas sociais, no

    exerccio e na defesa dos direitos civis, polticos e

    sociais da coletividade;

    X. planejamento, organizao e administrao de

    Servios Sociais e de Unidade de Servio Social;

    XI. realizar estudos scioeconmicos com os usurios

    para fins de benefcios e servios sociais junto a

    rgos da administrao pblica direta e indireta,

    empresas privadas e outras entidades.

    Portanto, o artigo 4, que trata das competncias do assistente

    social em seu exerccio profissional, aponta que a formao em

    Servio Social deve desenvolver a capacidade para que o

    profissional possa intervir na realidade com competncia. Para

    tanto, deve estar apto a executar sua atuao nos diversos

    espaos scio-ocupacionais, tendo como foco o compromisso

    com a classe trabalhadora e, consequentemente com a

    transformao social da sociedade capitalista.

    Agora, que voc j tem clareza das competncias

    do assistente social. Quais so suas atribuies

    privativas? O que so atribuies privativas?

    As atribuies privativas so competncias, porm exclusivas,

    decorrentes, especificamente, de sua qualificao profissional.

    Significa dizer que, no campo dessas atribuies, as

    respectivas tarefas somente tero validade institucional se

    realizadas somente por assistentes sociais. Por isso, so

    ilegais, se realizadas por servidores, empregados, voluntrios

    ou profissionais no habilitados, perante o CRESS da

    respectiva jurisdio (SIMES, 2007, p. 443).

    Diferentemente das competncias do assistente social, as

    atribuies privativas dizem respeito quilo que prprio,

    especfico do assistente social, portanto s podem ser

    realizadas por este.

    Somente o assistente social em pleno gozo de suas atividades pode supervisionar o aluno que esteja cursando o curso de Servio Social e que esteja em perodo de realizao do estgio, seja ele obrigatrio ou no. Isso quer dizer que o aluno do curso de Servio Social no pode ser supervisionado por nenhum outro profissional que no o assistente social.

    Exemplificando!

  • 16

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Na mesma direo, a Lei 8.662/93 traz, em seu artigo 5, as atribuies privativas do Assistente Social, que so:

    I. coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na rea de Servio Social;

    II. planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Servio Social;

    III. assessoria e consultoria e rgos da Administrao Pblica direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matria de Servio Social;

    IV. realizar vistorias, percias tcnicas, laudos periciais, informaes e pareceres sobre a matria de Servio Social;

    V. assumir, no magistrio de Servio Social, tanto a nvel de graduao como ps-graduao, disciplinas e funes que exijam conhecimentos prprios e adquiridos em curso de formao regular;

    VI. treinamento, avaliao e superviso direta de estagirios de Servio Social;

    VII. dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Servio Social, de graduao e ps-graduao;

    VIII. dirigir e coordenar associaes, ncleos, centros de estudo e de pesquisa em Servio Social;

    IX. elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comisses julgadoras de concursos ou outras formas de seleo para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Servio Social;

    X. coordenar seminrios, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Servio Social;

    XI. fiscalizar o exerccio profissional atravs dos Conselhos Federal e Regionais;

    XII. dirigir servios tcnicos de Servio Social em entidades pblicas ou privadas;

    XIII. ocupar cargos e funes de direo e fiscalizao da gesto financeira em rgos e entidades representativas da categoria profissional.

    A definio das atribuies privativas do assistente social,

    legalmente institudas e aprovadas pelo Congresso Nacional,

    representa uma conquista da categoria e o reconhecimento da

    sociedade perante o trabalho profissional. As atribuies

    privativas indicam a exclusividade de exercer as atividades do

    assistente social, ressaltando aquilo que a diferencia das

    demais profisses que atuam na rea das cincias sociais e

    humanas.

    H que se ter claro, tanto para a prpria categoria, como para

    toda a sociedade, que o Servio Social uma profisso que,

    desde sua origem at a atualidade, tem se redefinido,

    reconhecendo-se enquanto profisso inserida na diviso scio-

    tcnica do trabalho, com insero na realidade social do Brasil.

    Neste contexto, a profisso tem seu significado social

    determinado pelas demandas dos usurios dos servios e

    tambm pelas diversas expresses da questo social

    brasileira, reveladas pelas desigualdades scioeconmicas,

    polticas e culturais, objeto da atuao profissional, manifestas

  • 17

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    no empobrecimento populacional, excluso social, violncia,

    fome, desemprego, dificuldade de acesso a direitos e polticas

    sociais, dentre outras.

    Mediante tal realidade, a definio das atribuies privativas

    expressam as incumbncias/obrigaes exclusivas dos

    assistentes sociais no cotidiano do trabalho profissional e

    possibilitam a fiscalizao do exerccio profissional, bem como

    do exerccio ilegal da profisso, por parte de outras

    profisses/profissionais, que tentam, muitas vezes, de forma

    indevida, se apropriarem da profisso.

    Alm disso, tanto as competncias como as atribuies

    privativas reafirmam a capacidade e ampliao das

    perspectivas de atuao do assistente social, demonstrando

    que o trabalho profissional, na atualidade, extrapola a ideia

    tradicional de que se resume a um executor de polticas

    sociais.

    A partir dos artigos 4 e 5, reconhece-se que o assistente

    social possui habilidades para identificar a realidade social na

    qual ir realizar sua atuao, desvelar as expresses da

    questo social manifestas nesta realidade social, analisar

    criticamente as potencialidades e estratgias de enfrentamento

    destas expresses e propor aes para efetivar este

    enfrentamento.

    Voc saberia destacar algumas dessas aes

    desenvolvidas pelo assistente social? Pense na

    sua realidade local? Quais so as aes

    desenvolvidas pelo assistente social no seu

    Municpio?

    Dentre as aes, podemos destacar o planejamento, a

    elaborao de planos, programas, projetos e polticas sociais,

    bem como sua gesto e/ou execuo direta.

    Desta forma, podemos afirmar que a Lei 8.662/93 vem nortear

    o exerccio profissional, e, tambm, fortalecer as perspectivas

    de insero do assistente social nos diversos espaos socio-

    ocupacionais conquistados pela categoria. Para respaldar o

    exerccio profissional, encontram-se legalmente institudos os

    CRESSs e o CFESS.

    O que quer dizer mesmo CRESS e CFESS? E o

    que compete a cada um deles?

    Para garantir a clareza e atualizao das informaes, no

    artigo 6, desta Lei, so esclarecidas as mudanas de

  • 18

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    denominao das entidades representativas que, at 1992,

    eram denominadas de Conselho Regional de Assistentes

    Sociais - CRAS e Conselho Federal de Assistentes Sociais -

    CFAS. Com a aprovao da Lei 8.662/93, as entidades foram

    denominadas: Conselho Regional de Servio Social - CRESS e

    Conselho Federal de Servio Social - CRESS

    A mudana de denominao objetivou fortalecer a identidade

    da profisso, desvinculando qualquer relao com a lei

    Orgnica da Assistncia Social.

    A necessidade desta alterao decorreu da

    instituio da assistncia social como

    poltica pblica, pela Constituio de 1988

    e pela LOAS, e da atribuio formal de

    suas diretrizes ao CNAS e, nos limites

    legais, aos conselhos estaduais e

    municipais. Isso formulou, com clareza, a

    distino institucional entre a assistncia

    social e o servio social [...] De fato, os

    conselhos profissionais tm suas

    competncias adstritas ao exerccio

    profissional, no mbito do servio social,

    pois no lhes compete, enquanto entidades

    institucionais, a formulao de polticas de

    assistncia social. (SIMES, 2007, p. 448).

    Do artigo 7 ao artigo 22, da Lei 8.662/93, h a indicao das

    competncias dos CRESSs e do CFESS como entidades

    representativas da profisso no Brasil.

    Art. 7 O Conselho Federal de Servio Social (CFESS) e os conselhos regionais de Servio Social (CRESS) constituem, em seu conjunto, uma entidade com personalidade jurdica e forma federativa, com o objetivo bsico de disciplinar e defender o exerccio da profisso de Assistente Social em todo o territrio nacional.

    Assim, a legislao aponta a relevncia destas entidades como

    instituies representativas da profisso, organizadas e

    coordenadas por assistentes sociais eleitos e comprometidos

    com a defesa e a disciplina do exerccio profissional. Desta

    forma, o conjunto CFESS/CRESS representa os interesses

    coletivos e individuais dos assistentes sociais, porm com

    competncias distintas. O CFESS um rgo normativo que

    delibera as questes de interesse coletivo e/ou individual dos

    assistentes sociais, e os CRESSs tm funo executiva

    mediante tais deliberaes, porm sem perder sua autonomia

    financeira e administrativa.

  • 19

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Portanto, a elaborao e aprovao da Lei 8.662/93 um

    avano no sentido de indicar os aspectos que definem a

    regulamentao da profisso no Brasil. Ao mesmo tempo,

    contribui decisivamente para o fortalecimento do trabalho

    profissional, norteando o seu exerccio e reafirmando a

    relevncia das entidades representativas da profisso por meio

    de atividades de normatizao, regulamentao e disciplina da

    atuao do assistente social na atualidade.

    A Lei de Regulamentao da profisso fruto de um

    movimento advindo da categoria, a partir do Movimento de

    Reconceituao. Portanto, sua aprovao consequncia do

    processo histrico da prpria profisso, que vem construindo

    uma proposta de superao do conservadorismo no seu

    contexto. Assim, esta Lei torna-se um dos instrumentos na luta

    pelo reconhecimento da profisso comprometida com os

    sujeitos coletivos, com a cidadania, com a justia social, com a

    equidade e justia social e com a qualidade dos servios

    prestados.

    Publicada no mesmo perodo que a Lei de Regulamentao da

    profisso Lei 8.662/93, a Resoluo CFESS, n 273/93, de 13

    de maro de 1993, institui o Cdigo de tica profissional dos

    assistentes sociais. Estas duas legislaes do a base legal

    para o exerccio profissional na atualidade. Assim, a seguir,

    propomos o estudo e a reflexo sobre o Cdigo de tica dos

    assistentes sociais.

    3. A trajetria dos Cdigos de tica profissional dos

    assistentes sociais

    O trabalho profissional est regido por duas normas

    fundamentais: a Lei de regulamentao da profisso Lei

    8.662/93, que j estudamos no item anterior, e o Cdigo de

    tica profissional dos assistentes sociais, aprovados pela

    resoluo CFESS n. 273/93, com posteriores alteraes pelas

    Resolues CFESS n 290, e n 293/94.

    Alm destas duas normas, que so referncias nas diretrizes

    para o exerccio profissional, os assistentes sociais tm seu

    trabalho profissional determinado pelas demais legislaes

    brasileiras. Entre elas, podemos destacar: a Constituio

    Federal de 1988, a Consolidao das Leis do Trabalho - CLT e

    as indicaes de direitos e deveres dos estatutos e regimentos

    jurdicos sob os quais os profissionais so admitidos em seus

    contratos de trabalho, tanto na esfera pblica como na esfera

    privada, bem como tambm na esfera filantrpica no

    lucrativa.

    Todavia, os assistentes sociais, mediante a sua formao

    profissional, tm em seu Cdigo de tica, a referncia de

  • 20

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    legislao que norteia e regulamenta o exerccio profissional.

    Isto porque o Servio Social considerado uma profisso

    liberal.

    As profisses liberais tm como caractersticas a definio de

    seu cdigo de tica com a indicao das regras de tica e

    normatizao de condutas, direitos e deveres no exerccio da

    profisso, face aos interesses coletivos da sociedade. O

    controle, a institucionalizao e a prpria fiscalizao so

    realizados por rgo normativo criado no interior da profisso,

    devidamente institudo, regulamentado e aprovado pelo poder

    pblico (Estado).

    Assim, podemos afirmar que um cdigo de tica representa

    uma exigncia legal de regulamentao da profisso,

    configurando-se, assim, como um importante instrumento

    especfico de explicitao de deveres e direitos de cada

    profisso, referindo-se a uma necessidade formal de legislar

    sobre o comportamento profissional.

    No Servio Social, desde as origens da profisso no Brasil, na

    dcada de 1930, a categoria se mobilizou na organizao e

    normatizao das relaes de trabalho dos assistentes sociais.

    Neste sentido, prosseguiremos com os nossos estudos,

    focando neste item, os cdigos de tica profissional do

    assistente social, que assim se dividem:

    Cdigo de tica de 1947;

    Cdigo de tica de 1965;

    Cdigo de tica de 1975;

    Cdigo de tica de 1983;

    Cdigo de tica de 1993, que vigora atualmente.

    Em continuidade proposta de apresentarmos, neste captulo,

    as questes que envolvem o processo de regulamentao da

    profisso do assistente social, tornam-se pertinente e

    indispensvel conhecermos e reconhecermos as implicaes

    ticas do trabalho profissional que so norteadas por princpios

    que se constroem, historicamente, em resposta s

    determinaes sociais reconhecidas no cotidiano do trabalho.

    O tema relacionado tica profissional no deve ser

    interpretado somente em relao ao cdigo de tica, porque

    isso seria admitir a restrio imposta categoria nos cdigos

    anteriores, dentro de um contexto estritamente legalista. O que

    necessrio que saibamos distinguir entre o limite de fazer o

    bem aos outros e o de ter um projeto de organizao da vida

    social, que a base das relaes cotidianas entre o indivduo e

    a sociedade.

    Considerando as transformaes societrias e os impactos

    diretos no mbito poltico-institucional, na economia, na rea

  • 21

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    cientfica, na cultura e na rea social, reconhecemos a

    necessidade de refletirmos sobre a efetivao de valores ticos

    que fundamentam a vida social.

    Na atualidade, como os interesses da classe dominante tm

    determinado as relaes do indivduo com a sociedade,

    precisamos repensar, construir, reconstruir e reafirmar a tica

    como referncia para a compreenso da vida humana.

    A partir da, podemos inferir que o espao onde se desenvolve

    a tica, s tem sentido quando vinculado ao momento histrico,

    cultura e sociedade na qual subsiste.

    A questo central, ento, no a de saber

    qual o espao que ela ocupa na relao

    indivduo/sociedade, mas, principalmente,

    como esse espao vem se alterando na sua

    composio e tambm sua direo, sob o

    ponto de vista histrico e social. (CORTELLA,

    2006, p. 49).

    Resulta disso, a necessidade de que faamos uma leitura

    crtica da realidade social, suscitando o debate sobre a tica

    enquanto componente primordial na compreenso do processo

    de sociabilidade humana e ampliando as discusses acerca

    das questes complexas e desafiantes impostas aos sujeitos

    sociais na sociedade capitalista. Neste contexto, mister

    considerarmos a centralidade que a tica adquire no interior

    das Cincias Humanas e Sociais, em especial ao Servio

    Social.

    O que temos que fazer como pensadores da

    rea social e como praticantes dessa mesma

    rea refletir sobre qual a tica que informa,

    no sentido de dar forma a determinados

    grupos sociais, para podermos atuar com

    eles. Principalmente porque as relaes

    possveis so aquelas produzidas

    historicamente. (CORTELLA, 2006, p. 56).

    Neste sentido, faz-se necessrio compreender que a tica

    assume um papel importantssimo na constituio histrica da

    humanidade, nas determinaes sociais em relao vida e

    aos interesses da populao. Pensar a tica, ento, exige

    reconhecer sua funo poltica no sentido coletivo, mediante o

    aprofundamento das mazelas sociais e a complexidade das

    expresses das questes sociais vividas pela classe

    trabalhadora.

    neste contexto que podemos pensar as relaes entre tica e

    o debate contemporneo do Servio Social, pois este tem um

    compromisso tico-poltico com o enfrentamento das

    manifestaes da questo social vivenciadas pelos

  • 22

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    trabalhadores e com a superao da banalizao da vida em

    sociedade.

    Desta forma, propor um debate sobre o Cdigo de tica

    pressupe um repensar do trabalho profissional, sem nos

    esquecermos da trajetria histrica da profisso, que se

    desenvolve nos marcos do pensamento conservador, com forte

    influncia catlica e do conservadorismo europeu e, mais tarde,

    da sociologia funcionalista norte-americana.

    Aps contextualizarmos um pouco sobre a tica, daremos

    continuidade ao tema proposto, situando os cdigos de tica

    profissional do assistente social de 1947, 1965, 1975, 1986, at

    chegarmos ao cdigo vigente, que o de 1993.

    A primeira formulao do Cdigo de tica do Servio Social

    aconteceu em 1947 Aprovado em Assemblia geral da

    Associao Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS) So

    Paulo, 29-09-47, sob a influncia da encclica papal Rerum

    Novarum.

    O referido cdigo defendia o respeito s leis de Deus e aos

    direitos humanos, reafirmando os preceitos determinados pela

    Igreja Catlica os quais, claro, deveriam ser seguidos e

    obedecidos pelos assistentes sociais.

    O Cdigo de tica reformulado e aprovado em 1965, no difere

    muito do anterior, trazendo no seu Artigo 9, enquanto dever

    dos assistentes sociais, a correo dos desnveis sociais e a

    indicao de que as aes profissionais deveriam se dar dentro

    de princpios fraternos; prestando servios aos chamados

    clientes , sempre dentro de um esprito de solidariedade.

    Em linhas gerais, pouca ou nenhuma modificao foi proposta

    no Cdigo de tica de 1965, que trouxesse autonomia s

    aes profissionais do assistente social, devendo este

    permanecer subordinado aos ditames da Igreja Catlica e do

    Estado, reafirmando atuaes assistencialistas e caritativas.

    Apesar da reformulao do Cdigo de tica ocorrida em 1975,

    o fazer profissional manteve-se sob a gide do pensamento

    neotomista, prevalecendo o ideal de bem comum. Propunha-

    se a manuteno da hegemonia catlica e a ao

    disciplinadora do Estado, vinculando o homem ordem social,

    alm de prevalecer a ideia de neutralidade profissional.

    O intuito desse cdigo centrava-se na garantia de direitos e

    fidelidade ao interesse social, que no contava com a vontade

    e/ou necessidade da coletividade, sobretudo da classe

    trabalhadora.

  • 23

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Considerando o avano na produo de conhecimento a partir

    do final da dcada de 1970, e incio da dcada de 1980, e a

    incorporao da reflexo crtica como elemento fundamental no

    contexto do Servio Social, os profissionais comeam a

    questionar o verdadeiro sentido social da profisso, e enquanto

    profissionais inseridos na diviso scio-tcnica do trabalho,

    passam a ver o homem como sujeito de suas aes,

    considerando-o em sua totalidade.

    Diante desse despertar profissional, a reformulao do cdigo

    de 1975 resultou no Cdigo de tica de 09 de maio de 1986,

    como sendo uma necessidade enquanto instrumento mais

    eficaz no resguardo da atividade profissional, uma vez que o

    cdigo anterior no refletia mais os interesses propostos pela

    categoria profissional e sobretudo s exigncias da sociedade.

    O Cdigo de tica profissional regulamentado em 1986 veio

    firmar a proposta de um trabalho profissional vinculado s lutas

    e interesses da classe trabalhadora.

    Este cdigo passou a ser o reflexo da vontade coletiva da

    categoria de assistentes sociais, que esteve vinculada

    consolidao do Movimento de Reconceituao.

    A significao do cdigo de 1986 pode ser

    aferida, resumidamente, se recordam as

    trs dimenses substantivas que ele revela:

    a negao da base filosfica tradicional,

    nitidamente conservadora, que norteava a

    tica da neutralidade, enfim recusada; e a

    afirmao de um novo papel profissional,

    implicando uma nova qualificao,

    adequada pesquisa, formulao e

    gesto de polticas sociais. (PAIVA,

    NETTO, BARROCO, SILVA & SALES,

    2006, p. 160).

    O Cdigo de tica de 1986 muito representou para a categoria,

    pois rompeu com a viso caritativa e protetora apregoada ao

    trabalho do assistente social. Tal perspectiva resultou no

    fortalecimento de um novo fazer profissional, em que a

    concepo de sociedade se alarga, buscando propiciar aos

    trabalhadores um pleno processo de desenvolvimento por meio

    da luta pela erradicao de todo processo exploratrio,

    opressor e alienante que outrora fora vivenciado.

    A profisso assumiu um compromisso com o projeto coletivo da

    sociedade e a formao profissional ganhou notoriedade e se

    transformou em ponto central de debates e reflexes que

    culminaram em encontros, seminrios, realizados pelas

    instituies que representavam a profisso a fim de buscar o

    rompimento com o conservadorismo que ainda imperava no

    interior da profisso.

  • 24

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Todo o seu processo histrico, as lutas e conquistas da

    profisso e o compromisso assumido reafirmam a necessidade

    de se pensar a tica como pressuposto tico-poltico que

    remete a categoria ao enfrentamento das contradies da

    sociedade capitalista.

    neste contexto de lutas, dificuldades, avanos e retrocessos

    que os assistentes sociais retomam as discusses e reflexes

    acerca da profisso, da realidade social e as demandas postas.

    Mediante o acmulo de reflexes sobre a tica, a redefinio

    dos valores ticos fundamentados no compromisso com os

    usurios, e, consequentemente, com a liberdade, com a

    democracia, com a justia social, a cidadania e a igualdade

    social, institudo o Cdigo de tica profissional do assistente

    social.

    Destarte, cabe a ns o entendimento de que importante que reconheamos a insuficincia dos cdigos anteriores, visto toda a trajetria social, poltica e econmica do pas, sem que percamos de vista a importncia de cada um, em cada contexto apresentado, inclusive como forma de chamar a sua ateno sob o ponto de vista da luta cotidiana travada por aqueles que buscam no seu trabalho profissional cotidiano, assumir efetivamente o compromisso firmado no Cdigo de 1993, que passaremos a conhecer.

    Para alm da referncia normativa, o Cdigo

    de tica dos assistentes sociais revelou-se

    como uma frtil condensao dos

    compromissos histricos, sobre os quais

    erigimos os princpios fundamentais que

    substanciam a profisso, a saber: a liberdade

    e a justia social, articuladas a partir da

    exigncia democrtica , esta compreendida

    na sua definio mais ampla, enquanto

    socializao da poltica e riqueza socialmente

    produzida. (PAIVA; SALES, 2006, p. 201).

    Nestes termos, a discusso firmada sobre a tica no Servio

    Social no est limitada ao texto legal do Cdigo e, sim, na

    concretizao da luta pela construo de uma sociabilidade

    sem dominao e ou explorao de classe, gnero, etnia, que

    vise em primazia pela autonomia, emancipao dos indivduos

    sociais. Isso, graas ao investimento feito pela categoria

    profissional no tocante produo de um saber e de um

    trabalho profissional crtico, sintonizado com a histria de lutas,

    e seus reflexos na contemporaneidade.

  • 25

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    Decorre formalmente das conquistas democrticas, inscritas na

    Constituio de 1988, relativas participao popular nos

    organismos estatais de interesses da populao e da

    concepo da assistncia social como direito subjetivo pblico

    e instituio poltico-constitucional. Agregou o compromisso do

    profissional com os princpios democrticos e, portanto, atribuiu

    natureza institucional sua conduta. Os novos valores ticos, a

    que se refere, so os que decorrem desse compromisso e

    esto lastrados nos valores constitucionais, que fundamentam

    os direitos humanos e sociais. (SIMES, 2007, p. 475).

    O Cdigo de tica de 1993 fruto de um esforo coletivo pela

    busca do redimensionamento e do significado dos valores e

    compromissos tico-profissionais dos assistentes sociais. Sua

    organizao inicia-se com a introduo, de forma sucinta,

    sobre a necessidade da reformulao do cdigo anterior. Em

    seguida, apresenta os 11 (onze) princpios fundamentais, que

    iro nortear o exerccio profissional do assistente social, os

    quais sero apresentados, a seguir. So eles:

    reconhecimento da liberdade como valor tico central e das demandas polticas a ela inerentes autonomia, emancipao e plena expanso dos indivduos sociais;

    defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbtrio e do autoritarismo;

    ampliao e consolidao da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas garantia dos direitos civis, sociais e polticos das classes trabalhadoras;

    defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socializao da participao poltica e da riqueza socialmente produzida;

    posicionamento em favor da equidade e justia social, que assegure universalidade de acesso aos bens e servios relativos aos programas e polticas sociais, bem como sua gesto democrtica;

    empenho na eliminao de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito diversidade, participao de grupos socialmente discriminados e discusso das diferenas;

    garantia do pluralismo, atravs do respeito s correntes profissionais democrticas existentes e suas expresses tericas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual;

    Feita essa explanao, apresentamos a voc o compromisso assumido

    pelos assistentes sociais constantes do Cdigo de tica de 1993, que

    representa, norteia e respalda todo o agir profissional, tendo como foco a

    preservao do direito e qualidade dos servios prestados queles que

    buscam pelos seus direitos sociais, por meio do Servio Social.

    Importante!

  • 26

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    opo por um projeto profissional vinculado ao processo de construo de uma nova ordem societria, sem dominao-explorao de classe, etnia e gnero;

    articulao com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princpios deste Cdigo e com a luta geral dos trabalhadores;

    compromisso com a qualidade dos servios prestados populao e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competncia profissional;

    exerccio do Servio Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questes de insero de classe social, gnero, etnia, religio, nacionalidade, opo sexual, idade e condio fsica. (CRESS, 2005/2008).

    Os onze princpios apresentados no Cdigo de tica esto

    fundamentados nos valores democrticos e foram institudos

    como parmetros para o exerccio profissional do assistente

    social na atualidade.

    O cdigo abre com a instituio de alguns

    princpios fundamentais da ordem

    democrtica, aplicados insero da

    categoria profissional na sociedade. Insere-

    se, no mbito do servio social, como

    instrumento poltico do conjunto de suas

    aes integradas, mas com o objetivo

    institucional de realizao do exerccio

    profissional, em sua natureza poltica. So

    princpios, em primeiro lugar, que regulam a

    relao do profissional com o conjunto

    social, exigindo-lhe uma conduta de claro

    contedo poltico: a liberdade como valor

    tico central; a defesa dos direitos

    humanos, contra o arbtrio; a favor da

    equidade e justia social, contra todas as

    formas de preconceitos; e a garantia do

    pluralismo poltico. (SIMES, 2007, p. 475).

    Desta forma, podemos destacar que os onze princpios

    reafirmam o reconhecimento da liberdade como valor tico

    central, a defesa intransigente dos direitos humanos e recusa

    do arbtrio e do autoritarismo, apontando a possibilidade do

    rompimento com o conservadorismo, enquanto justificador da

    desigualdade, visando o combate a todas as situaes que

    ferem a integridade dos indivduos, em que os assistentes

    Os 11 (onze) princpios ora apresentados so indicadores para o exerccio

    profissional competente e devem ser apropriados pelo discente, desde a

    formao profissional na graduao at a sua insero no mercado de

    trabalho, por meio da materializao nas suas intervenes dirias junto

    aos usurios.

    Importante!

  • 27

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    sociais devem se imbuir de uma postura plasmada numa

    cultura humanstica e essencialmente democrtica.

    Outro aspecto importante o compromisso assumido pela

    categoria com a cidadania implicando apreend-la na sua real

    significao, que deve ultrapassar a orientao civil e poltica

    imposta pelo pensamento liberal. Neste contexto, a cidadania

    consiste na universalizao dos direitos sociais, polticos e

    civis.

    Aliado a isso, os princpios fundamentais indicam o

    compromisso com a defesa do aprofundamento da democracia,

    fundamentada na necessidade de socializao da riqueza e na

    distribuio de renda de forma equnime, representada pela

    igualdade de acesso e oportunidade a todos os indivduos,

    oportunizando trabalho, sade, educao e condio de vida

    digna.

    Na mesma direo, os princpios ratificam o posicionamento

    em favor da equidade e justia como sendo frutos do

    amadurecimento de uma conscincia coletiva, possibilitada

    atravs de intensas mobilizaes, justificadas pela busca da

    equidade. Ao assistente social, cabe apoiar a sociedade civil na

    luta em prol da universalidade de acesso a bens e servios.

    Articulado s transformaes societrias e s novas demandas

    sociais constata-se o empenho na eliminao de todas as

    formas de preconceito, cabendo salientar aqui, que o

    assistente social trabalha cotidianamente se confrontando com

    valores culturais e sociais, seja na sua relao com o usurio,

    com outros profissionais ou mesmo no interior da categoria. O

    cumprimento ao estabelecido nesse princpio se d por meio

    do resgate da tica na perspectiva da afirmao dos indivduos

    sociais, que devem ser considerados enquanto sujeitos livres,

    crticos e criativos.

    Portanto, no exerccio profissional devemos, enquanto

    assistentes sociais, superar atitudes pautadas nos nossos

    valores religiosos, morais. Isso no significa atuar dentro de

    uma perspectiva de neutralidade, e, sim, o de preconizar o

    respeito diferena.

    O 7 Princpio apresenta o compromisso com a garantia do

    pluralismo. A concepo de pluralismo defendida pela

    categoria pauta-se na hegemonia do debate terico, o que

    supe respeito entre as correntes de pensamento terico que

    circulam no interior do Servio Social.

    Alm disso, os princpios apontam a opo por um projeto

    profissional vinculado ao processo de construo de uma nova

    ordem societria. Tal perspectiva contribui para a ampliao da

    viso sciopoltica quanto ao ser social, exigindo do

  • 28

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    profissional um novo olhar, em resposta s determinaes

    como as de gnero e de etnia.

    Neste contexto, visualizamos uma articulao da categoria,

    firmada na intensificao da participao dos profissionais nos

    fruns de discusso, na formulao e controle social das

    polticas sociais, enquanto eixo do projeto poltico profissional

    centrado na defesa das polticas pblicas e da qualidade dos

    servios prestados populao.

    H, tambm, o propsito de fortalecer a articulao com os

    movimentos sociais de outras categorias profissionais. Assim,

    incentiva-se o fomento de uma cultura profissional gestada a

    partir da ideia da no submisso, que vinculada aos sujeitos e

    s realizaes coletivas, configura-se na essncia do

    compromisso tico-profissional do assistente social, que luta

    junto classe trabalhadora.

    O 10 princpio ratifica o compromisso com a qualidade dos

    servios prestados. Tal situao nos remete mais uma vez a

    assumirmos um exerccio profissional crtico, propositivo,

    sintonizado com a histria de lutas e com as prioridades dos

    usurios. Para tanto, necessrio que o profissional seja um

    sujeito participativo e ativo nos fruns de discusso da

    categoria, na formulao, implantao e gesto de polticas

    pblicas, juntamente aos sujeitos sociais.

    O 11 Princpio faz um coroamento da proposta estabelecida

    nesse cdigo, tratando do exerccio do Servio Social, sem ser

    discriminado, nem discriminar por questes de insero de

    classe social, gnero, etnia, religio, nacionalidade, opo

    sexual, idade e condio fsica, assegurando aos assistentes

    sociais direitos, e exigindo o respeito destes para com as

    diferenas dos usurios e outros profissionais.

    A partir da anlise dos onze princpios fundamentais do Cdigo

    de tica do assistente social, podemos entender que:

    No se trata, portanto, de um cdigo de contedo meramente corporativista. Ao contrrio, institui como princpio, a opo do assistente social por um projeto profissional vinculado construo de uma nova ordem

    Reflita de forma crtica sobre a importncia dos onze princpios fundamentais institudos pelo Cdigo de tica e com base nessa reflexo, faa uma leitura da sua realidade e responda como vem sendo incorporado pela categoria profissional esses onze princpios. No deixe de fazer as suas anotaes e socializ-las com seus colegas.

    Parada obrigatria

  • 29

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    social, sem dominao e explorao de classes sociais e a luta geral dos trabalhadores. A insero destes princpios poder parecer uma parcialidade poltica, em contradio com a prpria natureza da tica profissional; ou uma alocao imprpria, para aqueles que o reduzem a norma tcnica, de carter puramente instrumental. No assim por dois motivos. Porque nada mais so do que a expresso dos mandamentos constitucionais e porque so da prpria natureza da profisso. Esta uma instituio cuja prtica, mesmo quando elitizada, implica sempre esta ou aquela concepo poltica da ordem social. Por isso, o servio social, como conjunto de aes integradas, estar sempre a servio de determinados princpios integralizados da poltica social, consagrado na Lei Maior. (SIMES, 2007, p. 476).

    Como podemos visualizar, a necessidade da reviso textual do

    Cdigo de 1986, que resultou no Cdigo de 1993, partiu da

    compreenso e do reconhecimento da liberdade e da equidade

    como valores centrais, visto que um Cdigo de tica deve

    extrapolar somente a esfera da legitimidade, devendo ter

    eficcia e legalidade no respaldo da conduta profissional.

    Nestes termos, alm de respaldar a normatizao do exerccio

    profissional, o texto do cdigo vigente preocupou-se em

    traduzir sentido prtica profissional, tendo como ponto de

    partida as demandas e interesses dos usurios e da sociedade

    como um todo, cuidando que esses valores incorporados aos

    princpios fundamentais, se traduzam no relacionamento entre

    assistentes sociais, instituies/organizaes e populao,

    visando a preservao dos direitos e deveres profissionais, a

    qualidade dos servios prestados e a responsabilidade diante

    do usurio.

    Prosseguindo em nossa reflexo acerca dos aspectos legais do

    Cdigo de tica de 1993, cabe-nos apresentar a voc de que

    forma esse documento de fundamental importncia para o

    exerccio profissional do assistente social se estrutura. Sendo

    assim, faremos a apresentao de como o Cdigo est

    disposto.

    O Cdigo traz em suas Disposies Legais, Art. 1, as

    competncias previstas ao Conselho Federal de Servio Social,

    traduzidas em: fiscalizao das aes dos Conselhos

    Regionais e da prtica profissional, instituies e organizaes

    na rea do Servio Social, com o intuito de zelar pela

    observncia do cumprimento dos princpios e diretrizes

    traados no Cdigo.

  • 30

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    No Ttulo II, que trata Dos Direitos e das Responsabilidades

    Gerais do Assistente Social, este se compe dos Art. 2 ao 3,

    dividido entre direitos e deveres do assistente social, e daquilo

    que a ele vedado, com nfase em garantir uma atuao

    profissional pautada sempre eticamente, em observncia ao

    cumprimento deste cdigo.

    Dividido em VI captulos, assim se apresenta:

    Captulo I Trata das relaes profissionais com os usurios nos Art. 5 e 6, estabelecendo deveres do assistente social nas suas relaes com os usurios e daquilo que ao profissional apresenta-se vetado;

    Captulo II Trata das relaes com as instituies empregadoras e outras. Divide-se em trs artigos: do 7 ao 9;

    Captulo III Trata das relaes com assistentes sociais e outros profissionais, assim dividido: Art. 10 e 11;

    Captulo IV Vem tratando das relaes com entidades da categoria e demais organizaes da sociedade civil, podendo ser encontrado em seus Art. 12 , 13 e 14;

    Captulo V Trata de uma questo essencial na atuao profissional e que esteve sempre no debate por parte dos profissionais, que trata do Sigilo profissional, apresentando-se de quatro artigos: 15 ao 18 que traduz quando a quebra do sigilo profissional admissvel.

    Captulo VI Trata das relaes do assistente social com a justia, nos Art. 19 e 20;

    Captulo IV Trata da observncia, penalidades, aplicao e cumprimento do cdigo apresentado, dispostos em dois artigos: 21 e 22 . E das penalidades em seus Art. 23 ao 36.

    Considerando a relevncia de todos os captulos do Cdigo de

    tica do assistente social, queremos ressaltar o captulo V, que

    trata do sigilo profissional em quatro artigos e dois pargrafos

    nicos:

    Captulo V Do Sigilo Profissional

    Artigo 15 - Constitui direito do Assistente

    Social manter o sigilo profissional.

    Artigo 16 - O sigilo proteger o usurio

    em tudo aquilo de que o Assistente Social

    tome conhecimento, como decorrncia do

    exerccio da atividade profissional.

    Pargrafo nico - Em trabalho

    multidisciplinar s podero ser prestadas

  • 31

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    informaes dentro dos limites do

    estritamente necessrio.

    Artigo 17 - vedado ao Assistente Social

    revelar sigilo profissional.

    Artigo 18 - A quebra do sigilo s

    admissvel, quando se tratarem de

    situaes cuja gravidade possa,

    envolvendo ou no fato delituoso, trazer

    prejuzo aos interesses do usurio, de

    terceiros e da coletividade.

    Pargrafo nico A revelao ser feita

    estritamente necessrio, quer em relao

    ao assunto revelado, quer ao grau e

    nmero de pessoas que dele devam tomar

    conhecimento.

    A partir da leitura deste captulo, podemos observar que o assistente social poder garantir a inviolabilidade das informaes e dados coletados durante a atuao direta aos usurios. Tal garantia instituda por meio do sigilo profissional garante autonomia profissional aos assistentes sociais e respeito aos direitos dos usurios do Servio Social.

    Passemos, ento, compreenso do que vem a

    ser o sigilo profissional mencionado no Cdigo

    de tica:

    Consiste na obrigao do profissional de

    no divulgar fatos, relatados pelo usurio ou

    beneficirio, ou constantes de documentos,

    relativos sua privacidade ou de terceiros e

    que somente so por ele conhecidos em

    conseqncia do exerccio profissional.

    Esto excludos do dever do sigilo, portanto,

    os fatos conhecidos em decorrncia das

    atividades no profissionais (familiares,

    lazer e outros) (SIMES, 2007, p. 480).

    Para concluirmos, gostaramos de salientar que o Cdigo de

    tica profissional vigente traduz todo o esforo coletivo da

    categoria frente s demandas apresentadas cotidianamente na

    contemporaneidade, reflexos das mais variadas expresses da

    questo social, que resultou no redimensionamento da ao

    profissional pela busca de uma coerncia com os interesses da

    classe que vive do trabalho.

    Esperamos ter suscitado em voc a curiosidade por buscar

    novas leituras acerca da temtica apresentada, firmando esse

  • 32

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    compromisso com sua formao proposto pela citao

    mencionada.

    At o prximo encontro!!!

    Resumo

    A categoria profissional dos assistentes sociais foi ganhando

    visibilidade e reconhecimento, a partir do momento em que

    comeou a questionar suas prticas profissionais de outrora,

    voltadas exclusivamente para atender aos ditames da igreja

    catlica e da burguesia, para dar lugar a prticas profissionais

    condizentes com a proposta do projeto tico-poltico, visando

    romper com o conservadorismo.

    Esse projeto profissional assume um posicionamento crtico

    frente s transformaes sociais, polticas e econmicas,

    fundamentado histrica, terica e metodologicamente, na teoria

    marxista, em defesa de valores e princpios ticos

    fundamentalmente humanistas.

    Alm disso, a materialidade desse projeto, s possvel,

    considerando o conjunto de regulamentaes profissionais

    mencionados. Sendo assim, o presente captulo enfatizou a

    importncia da Lei de regulamentao da profisso e dos

    cdigos de tica: 1947, 1965, 1975, 1986, 1993, sendo que

    nossa prioridade centrou-se em nos convidar apropriao do

    verdadeiro sentido da Lei de Regulamentao e do Cdigo de

    tica vigente, com vistas a sua efetividade em prol dos

    usurios dos nossos servios.

    Nestes termos, a proposta de operacionalizao desse Cdigo

    ultrapassa o disposto enquanto somente deveres e direitos do

    assistente social. Ressalta-se o constante desafio de aproxim-

    los da realidade cotidiana, em que podemos lanar mo de um

    instrumento privilegiado que permite profisso expressar por

    meio de aes fundamentadas, coerentes, crticas e

    propositivas, uma identidade tico-poltica.

    Chamamos a sua ateno para o ponto crucial dessa

    discusso relacionada aos Cdigos de tica da profisso,

    assim traduzido:

    Cabe registrar que o Cdigo de tica, por

    melhor elaborado que seja nos seus mais

    diversos aspectos, e por mais projees

    que se faa nele em termos de realizaes,

  • 33

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    de valores e intenes, no pode ser

    garantido s a partir dele mesmo. Para que

    ele se realize absolutamente em tudo o que

    prescreve e aponta enquanto projeto

    poltico e tico-profissional, depende de

    outros fatores, tais como: a qualidade da

    formao profissional, o nvel de

    conscincia poltica e de organizao da

    categoria, o compromisso dos profissionais

    enquanto cidados, e tambm as

    condies objetivas que incidem sobre o

    desempenho profissional. (PAIVA; SALES,

    2006).

    REFERNCIAS

    BARROCO, M. L. S. tica e servio social: fundamentos ontolgicos. So Paulo: Cortez, 2005. BONETTI, D. A et all. Servio social e tica: convite a uma nova prxis. So Paulo: Cortez, 2006. BRASIL. Lei 8.662/93, de 7 de junho de 1993. Resoluo CFESS n 273/93 de 13 de maro de 1993. Legislao brasileira para o servio social, CRESS: Belo Horizonte, 2006, p. 7-33. BRASIL. Ministrio da Educao e do Desporto. Conselho

    Nacional de Educao. Resoluo n 15 , de 13 de maro de

    2002. Estabelece as Diretrizes Curriculares para os cursos de

    Servio Social. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 9 abr.

    2002. Seo 1, p. 33.

    CFESS, ABEPSS, CEAD-UNB. Capacitao em Servio

    Social e Poltica Social Reproduo social, trabalho e

    Servio Social (02). Braslia: UNB, 1999.

    CFESS/ABEPSS. Servio Social: direitos sociais e

    competncias profissionais. Braslia: CFESS/ABEPSS, 2009.

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    GUERRA, Y. Novas perspectivas de atuao do profissional: o perfil do profissional hoje. Revista Construindo o Servio Social. v.10. Bauru: ITE, 2002. IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovao e conservadorismo no Servio Social: ensaios crticos. So Paulo: Cortez, 1995. IAMAMOTO, Marilda Vilela. Rumos tico-polticos do trabalho profissional. In: O servio social na contemporaneidade: trabalho e formao profissional. 1 parte, p. 75-81. So Paulo: Cortez, 1998.

  • 34

    CURSO DE SERVIO SOCIAL

    SERRA R. M. S. Crise da materialidade no servio social: repercusses no mercado de trabalho. So Paulo: Cortez, 2000. SIMES, C. Curso de Direito do servio social. So Paulo: Cortez, 2007. ______. Na Ilha de Robinson: a autonomia e a tica profissional no neoliberalismo. Revista Servio Social e Sociedade, n. 99, jul./set. 2009. YASBEK, M.C. Classes subalternas e assistncia social. So Paulo: Cortez, 1993.