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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS NOVA AMÉRICA CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DISCIPLINA – TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS I QUESTIONÁRIO SOBRE REALISMO Textos: MORGENTHAU, Hans J. A Política Entre as Nações. Brasília: IPRI, 2003. Capítulo I (Uma Teoria Realista da Política Internacional) pp. 3- 28. NOGUEIRA, João Pontes e MESSARI, Nisar. Teoria das Relações Internacionais. RJ: Elsevier, 2005. Capítulo 2 (O Realismo) pp.20-42. 1. Qual a contribuição de Tucídides, Maquiavel e Hobbes para o estudo da política internacional? Tucídides (a.C.) escreveu “História da Guerra de Peloponeso” que relata a guerra entre Esparta (regime autoritário) e Atenas (democracia directa). Esta guerra durou 30 anos e ambos os países ficaram destruídos. As Relações Internacionais questionam quais as causas da guerra: duas potências mais ou menos equilibradas que desconfiam uma da outra. Atenas queria expandir o seu domínio, pois era imperialista. Conclui que não há forma de se evitar a guerra porque os Estados estão em Estado de Natureza. Maquiavel (século XV) escreve “O Príncipe”, 25 ensaios em forma de carta, onde conclui-se que os “fins justificam os meios” e, por isso, é preciso utilizar a força quando necessário. Thomas Hobbes diz que os Estados entre si vivem num Estado de Natureza pois lutam para realizaram os seus objetivos (interesses) nacionais. Defende que o Homem está dividido entre desejo e Razão. Dificilmente controlado, o Homem é dominado pelo desejo e a Razão ajuda a controlar esse desejo. O Estado de Natureza pode ser controlado por “Leviatã” (nome do seu livro mais famoso) que é a autoridade. No interior do Estado há uma autoridade que mantém as relações pacíficas entre as pessoas. Segundo Hobbes, nas Relações Internacionais não há “Leviatã”, não há autoridade acima dos Estados. Os três autores são conhecidos como autores realistas clássicos R- Qual o papel atribuído ao Estado e à soberania pelos realistas? O Estado é colocado no centro das discussões, pois se considera que o Estado é o ator principal das relações internacionais. Esse Estado sempre atua servindo ao interesse nacional, que em sua forma mais básica é o desejo de sobreviver, mas

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Page 1: Questionario Sobre Realismo M

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS NOVA AMÉRICACURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

DISCIPLINA – TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS IQUESTIONÁRIO SOBRE REALISMO

Textos:

MORGENTHAU, Hans J. A Política Entre as Nações. Brasília: IPRI, 2003. Capítulo I (Uma Teoria Realista da Política Internacional) pp. 3-28.

NOGUEIRA, João Pontes e MESSARI, Nisar. Teoria das Relações Internacionais. RJ: Elsevier, 2005. Capítulo 2 (O Realismo) pp.20-42.

1. Qual a contribuição de Tucídides, Maquiavel e Hobbes para o estudo da política internacional?

Tucídides (a.C.) escreveu “História da Guerra de Peloponeso” que relata a guerra entre Esparta (regime autoritário) e Atenas (democracia directa). Esta guerra durou 30 anos e ambos os países ficaram destruídos. As Relações Internacionais questionam quais as causas da guerra: duas potências mais ou menos equilibradas que desconfiam uma da outra. Atenas queria expandir o seu domínio, pois era imperialista. Conclui que não há forma de se evitar a guerra porque os Estados estão em Estado de Natureza.

Maquiavel (século XV) escreve “O Príncipe”, 25 ensaios em forma de carta, onde conclui-se que os “fins justificam os meios” e, por isso, é preciso utilizar a força quando necessário.

Thomas Hobbes diz que os Estados entre si vivem num Estado de Natureza pois lutam para realizaram os seus objetivos (interesses) nacionais. Defende que o Homem está dividido entre desejo e Razão. Dificilmente controlado, o Homem é dominado pelo desejo e a Razão ajuda a controlar esse desejo. O Estado de Natureza pode ser controlado por “Leviatã” (nome do seu livro mais famoso) que é a autoridade. No interior do Estado há uma autoridade que mantém as relações pacíficas entre as pessoas. Segundo Hobbes, nas Relações Internacionais não há “Leviatã”, não há autoridade acima dos Estados.

Os três autores são conhecidos como autores realistas clássicos

R- Qual o papel atribuído ao Estado e à soberania pelos realistas?

O Estado é colocado no centro das discussões, pois se considera que o Estado é o ator principal das relações internacionais. Esse Estado sempre atua servindo ao interesse nacional, que em sua forma mais básica é o desejo de sobreviver, mas que também se traduz no acumulo e na manutenção do poder. O poder é tido como um instrumento por meio do qual os Estados garantem sua sobrevivência no meio internacional, este último considerado, de acordo com os realistas, como anárquico, isto é, na ausência completa de ordem.

Os realistas não se preocupam com a origem histórica dos Estados, mas os tomam como dados (“naturais”), além de homogêneos, e geralmente pensam a natureza humana de forma pessimista, reivindicando como base de suas idéias as obras de Maquiavel, Hobbes e até mesmo Tucídides.

Nas ciências sociais, e também para os realistas, o Estado deve ser definido a partir de sua capacidade de monopolizar a força coercitiva, ou seja, o poder interno sem o qual não há ordem. “

O ‘Estado territorial’, característico do período clássico na Europa (entre ofim das guerras religiosas e a Segunda Grande Guerra), é definido antes de tudo pelo comportamento unitário de uma unidade política, cuja soberania se estende sobre o território com limites precisos, que podem ser traçados no mapa. O

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soberano (...) pode impor sua vontade sobre todo o território do Estado. Em outras palavras, tem o monopólio da força militar dentro desseterritório”

2 Defina o conceito de “Anarquia”.

R - Anarquia é uma palavra que significa literalmente "sem governo", isto é, o estado de um povo sem uma autoridade constituída. Antes que tal organização começasse a ser cogitada e desejada por toda uma classe de pensadores, ou se tornasse a meta de um movimento, que hoje é um dos fatores mais importantes do atual conflito social, a palavra "anarquia" foi usada universalmente para designar desordem e confusão. Portanto, se considerarmos que o governo é necessário e que sem o governo haveria desordem e confusão, é natural e lógico, que a anarquia, que significa ausência de governo, também signifique ausência de ordem.

A anarquia nas relações internacionais é um conceito na teoria das relações internacionais, que considera a ordem mundial como uma liderança: não existe governos soberanos ou universais no mundo. Não há portanto, hierarquicamente um poder coercitivo para resolver litígios, fazer valer a lei, ou a ordem do sistema, como existe na política interna. Nas relações internacionais, a anarquia é amplamente aceita como o ponto de partida para a Teoria das Relações Internacionais.

Enquanto alguns cientistas políticos usam o termo "anarquia" para se referir à um mundo em caos, na desordem, ou em conflito, outros vêem-na simplesmente como um reflexo do fim do sistema internacional: Estados independentes com nenhuma autoridade central acima deles.

3 Explique o “dilema da segurança”.

R- No plano internacional, contudo, não há “Estado” e, portanto, não há monopólio do poder coercitivo, resultando disso os conflitos e guerras em que mergulha a humanidade freqüentemente. Dessa forma, o âmbito internacional é perigoso, e os Estados devem pensar em estratégias de segurança para impedir que sua soberania (autoridade legítima de cada Estado sobre seu território e sua população) seja ameaçada, e para assegurar sua sobrevivência. Encontramos essa descrição dos fenômenos políticos em Hobbes, que caracteriza a sociedade sem Estados como uma disputa constante de todos contra todos. Muitas vezes os Estados são obrigados a cooperar e fazer alianças para sobreviverem, sobretudo em função de um equilíbrio de poder, isto é, buscando manter um equilíbrio na distribuição de poder no plano internacional. Logo, se um estado se torna muito poderoso, os outros podem formar um bloco para neutralizar seu poder e reduzir seu perigo para a segurança de cada nação. No pensamento realista a ética ocupa espaço reduzido, uma vez que, buscando a sobrevivência, os Estados podem quebrar qualquer acordo e desobedecer qualquer regra moral. A Realpolitik, do alemão “Política Real”, prática da política externa definida como maquiavélica, é normalmente associada a esse pensamento de cunho realista. Auto-ajuda é, para os realistas, a noção de que os Estados só podem contar com a sua própria capacidade no que diz respeito às relações internacionais. Em suma, os realistas enxergam o sistema internacional como um espaço de disputa pelo poder, motivada por um tema saliente em suas exposições: a segurança.

4 Para os realistas, quais seriam os interesses do Estado nas relações internacionais?

R- O papel do Estado nas Relações Internacionais está intimamente relacionado à evolução desta ciência, que foi criada a partir da preocupação com as questões sobre guerra e paz e para tentar explicar as relações de poder entre os Estados modernos. Nas teorias realistas das relações internacionais, que reivindicam um caráter objetivo, empírico e pragmático, o Estado é colocado no centro das discussões, pois se considera que o Estado é o ator principal das relações internacionais. Esse Estado sempre atua servindo ao interesse nacional, que em sua forma mais básica é o desejo de sobreviver, mas que também se traduz no acumulo e na manutenção do poder. O poder é tido como um instrumento por meio do qual os Estados garantem sua sobrevivência no meio internacional.

5 Por que é possível dizer que o “interesse nacional é pré-determinado?

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6. Por que para os realistas o poder é relativo?

7. Segundo Morgenthau, por que os Estados maximizam o seu poder na política internacional?

A análise teórica apresenta o conceito da auto-ajuda, uma vez que os Estados, priorizando sua sobrevivência, buscam fazer alianças temporárias. Entende-se que estas alianças são feitas baseadas em interesses comuns momentâneos e não haverá obrigação de continuidade desta relação em um futuro próximo, já que cada Estado optará pelo seu interesse próprio.

Simulando a insegurança dos Estados, esta teoria entende que os Estados compreendem que a melhor maneira de assegurar sua sobrevivência é se tornando a potência mais poderosa do cenário internacional e que para obter essa maximização de poder, deve-se utilizar de diversos campos como o econômico, militar e até mesmo diplomático.

A limitação de poder a nível internacional coloca em risco a paz e segurança do Estado, já que o controle e as possiblidades de manipulação de recursos ficam restritas. Deve-se, então, maximizar o poder, de forma a garantir maior autonomia ao exercício da política. Eis, então, a proposta de acúmulo de poder multimensional.

8. Qual a importância dos mecanismos de balança de poder para o realismo?

A definição de poder pode ser entendida como algo medido pelas capacidades conjugadas que os Estados têm em seus setores políticos, econômicos e militares, explicitando a importância do desenvolvimento da capacidade econômica para a segurança de uma nação

O Equilíbrio de poder é uma situação, nas relações internacionais, de competição entre diversas potências nacionais, mais ou menos iguais em poder. Tal competição impede uma potência de ganhar a supremacia sobre as demais.

Segundo a teoria realista das relações internacionais, um Estado, no seu relacionamento com outros atores internacionais, defronta-se com a escolha entre alinhar-se com os Estados mais fortes (em inglês, bandwagoning) ou procurar contrabalançar o poder dos mais fortes por meio de coalizões (equilíbrio ou balance, em inglês). Esta escolha pode ser crucial em tempo de guerra e até mesmo determinar a sobrevivência do Estado.

9. Defina o conceito de ”auto-ajuda”.

Auto-ajuda é, para os realistas, a noção de que os Estados só podem contar com a sua própria capacidade no que diz respeito às relações internacionais. Em suma, os realistas enxergam o sistema internacional como um espaço de disputa pelo poder, motivada por um tema saliente em suas exposições: a segurança.

notar a forma como essa corrente de pensamento avalia a política internacional. Trata-se da constatação de que os Estados interagem num sistema de auto-ajuda (self-help). Issosignifica dizer que, inexistindo uma autoridade para garantir o cumprimento de regras etambém para dar segurança aos Estados, eles agem de forma auto-interessada, buscando

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seus próprios interesses. Os Estados se comportam de forma egoísta, preocupados apenas com sua segurança, pois são eles os únicos responsáveis por primar pela sua sob revivência

10.Quais são os seis princípios do Realismo Político estabelecidos por Hans

Morgenthau? Explique cada um deles.

1.  A política obedece a leis objetivas que são fruto da natureza humana. “Para estar em condições de

melhorar a sociedade, é necessário entender previamente as leis pelas quais a sociedade se governa. Uma

vez que a operação dessas leis independe, absolutamente, de nossas preferências, quaisquer homens que

tentem desafiá-las terão de incorrer no risco de fracasso”.

Este princípio retrata que tanto a nossa natureza humana como a política não são mudados de tempos

em tempos, mas obedecem a leis objetivas. Assim, não se pode ignorar a natureza humana, que é a busca

racional pela sobrevivência.

2.O interesse dos Estados é sempre configurado em termos de poder. “Uma teoria política, de âmbito

internacional ou nacional, desprovida desse conceito, seria inteiramente impossível, uma vez que, sem o

mesmo, não poderíamos distinguir entre fatos políticos e não-políticos, nem poderíamos trazer sequer um

mínimo de ordem sistêmica para a esfera política”. O interesse definido em termos de poder “permite como

que remontar ou antecipar os passos que um político - passado, presente ou futuro - deu ou dará no cenário

político.

Este segundo principio quer dizer que os interesses dos Estados não são governados por influências

morais, mas condicionados pela busca racional dos ganhos e perdas na política externa. Assim, a política

exterior de país não deve estar associada às simpatias pessoais do governante, mas se guiar pelo interesse

nacional da nação. Aqui podemos perceber a influência do pensamento de Maquiavel, realista clássico, no

qual considerava que o príncipe virtuoso deveria agir em prol da nação e não a partir de suas preferências e

gostos particulares.

3.     O realismo parte do princípio de que seu conceito-chave de interesse definido como poder constitui

uma categoria objetiva que é universalmente válida, mas não outorga a esse conceito um significado fixo e

permanente. Este princípio ressalta que as relações entre as nações sempre foram definidas em termos de

poder. No entanto, o tipo de interesse das ações políticas varia dependendo de determinado contexto

histórico cultural e político, sendo assim os interesses, que tem como base maximizar o poder dos Estados,

não são fixos e permanentes.

4.     O realismo político conhece o significado moral da ação política e reconhece a inevitável tensão

entre os preceitos morais e as exigências para que uma ação política tenha êxito. “O realismo sustenta que

os princípios morais universais não podem ser aplicados às ações dos Estados em sua formulação

universal abstrata, mas que devem ser filtrados por meio das circunstâncias concretas de tempo e lugar”.

Desse modo, o realismo considera que a prudência - a avaliação das conseqüências decorrentes de ações

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políticas alternativas - representa a virtude suprema na política. A ética, em abstrato, julga uma ação

segundo a conformidade da mesma com a lei moral; a ética política julga uma ação tendo em vista as suas

consequências políticas”.

Assim, termos gerais, a influência da moral e da ética pode ser usada como mecanismos de

justificação e legitimação da aça dos Estados, mas não servem para julgar o comportamento destes.

5.     O realismo político recusa-se a identificar as aspirações morais de uma determinada nação com as

leis morais que governam o universo. Uma coisa é saber que as nações estão sujeitas à lei moral, e outra,

muito diferente, é pretender saber, com certeza, o que é bom ou mau no âmbito das relações entre nações.

Aqui, o autor ressalta que os princípios morais de uma nação, sejam os valores do bloco soviético ou da

sociedade norte-americana, não devem ser aceitos como universais, pois nenhuma visão é a mais

verdadeira ou a mais correta.

6.     O realista político não ignora a existência nem a relevância de padrões de pensamento que não

sejam os ditados pela política. Na qualidade de realista político, contudo, ele tem de subordinar esses

padrões aos de caráter político e ele se afasta das outras escolas de pensamento quando estas impõem à

esfera política quaisquer padrões de pensamento apropriados a outras esferas.

Para Morgenthau, a esfera política é autônoma, não estando sujeita a nenhuma outra ciência como a

economia ou o direito. A política internacional possui suas próprias leis e regras.