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Queridos Fiéis, Dom Bernard Fellay teve, no dia 13 de Junho uma conversa com o Cardeal Levada que naquele momento ainda era Prefeito da Congregação da Fé. O Cardeal entregou-lhe uma carta da Congregação que tinha sido aprovada pelo próprio Papa. Nesta carta revela-se o que é que realmente os Romanos que- riam da Fraternidade: a aceitação praticamente de tudo o que o modernismo trouxe, sobretudo admitir a “liceidade” da Nova Missa; quer dizer que deve- ríamos aceitar que “a missa moderna é boa”. Evidentemente acabam desta maneira as “negociações” porque se trata realmente de tudo! Tornou-se, por- tanto, evidente, que Roma, como no caso dos outros muitos que se têm sepa- rado de nós, quis nada mais nada menos do que uma adaptação nossa, mais ou menos total (talvez com o “privilégio” de poder celebrar “normalmente” a missa em “rito extraordinário”). Quer dizer: acabou-se! O que é que será, não sabemos. Para já, a Fraternidade continua tal e qual como desde há quarenta anos. Se Roma se zangará? - ... vamos a ver. Nesta ocasião vale a pena lembrarmo-nos de algumas verdades importantes que são constantemente combatidas nos tempos modernos, por causa do mo- dernismo: 1. Verdade, Fé e Moral são coisas imutáveis e objectivas; por isso obrigam a todos os homens de maneira igual; Deus é sempre o mesmo, como também Nosso Senhor é sempre o mesmo. Até a natureza humana é sempre a mesma através dos povos, das culturas, ou através dos tempos e séculos; ela é mar- cada pelo Pecado Original e precisa de maneira absoluta da Redenção, a qual não pode produzir ela mesma, mas que recebe unicamente de Nosso Senhor Jesus Cristo. As mudanças sociológicas ou políticas não mudam de nenhuma maneira estas realidades, mudam talvez a maneira de vida das pessoas ou alguns costumes, mas não mudam Deus ou a natureza humana. As heresias de hoje estão contra esta evidente verdade, falando de “evolução da Verdade”, destruindo assim o pensar lógico e o são raciocínio. 2. Apesar do que é dito no primeiro ponto, não existe igualdade naquilo que os modernistas, ou movimentos diversos actuais, às vezes sugerem. Nem os povos são iguais, nem as pessoas singulares são! Homem e mulher não são iguais! (Distinguem-se em muitos aspectos segundo a Sabedoria Divina, e assim completam-se para constituírem uma unidade). A negação disso é uma revolta contra a Ordem Divina! (veja por ex. a emancipação, o feminismo ou os que querem promover o casamento de homossexuais) Nem sequer na ordem sobrenatural existe igualdade! Uns Santos receberam

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Page 1: Queridos Fiéis, Dom Bernard Fellay teve, no dia 13 de ... · missa em “rito extraordinário”). Quer dizer: acabou-se! O que é que será, não sabemos. Para já, a Fraternidade

Queridos Fiéis,

Dom Bernard Fellay teve, no dia 13 de Junho uma conversa com o Cardeal Levada que naquele momento ainda era Prefeito da Congregação da Fé. O Cardeal entregou-lhe uma carta da Congregação que tinha sido aprovada pelo próprio Papa. Nesta carta revela-se o que é que realmente os Romanos que-riam da Fraternidade: a aceitação praticamente de tudo o que o modernismo trouxe, sobretudo admitir a “liceidade” da Nova Missa; quer dizer que deve-ríamos aceitar que “a missa moderna é boa”. Evidentemente acabam desta maneira as “negociações” porque se trata realmente de tudo! Tornou-se, por-tanto, evidente, que Roma, como no caso dos outros muitos que se têm sepa-rado de nós, quis nada mais nada menos do que uma adaptação nossa, mais ou menos total (talvez com o “privilégio” de poder celebrar “normalmente” a missa em “rito extraordinário”). Quer dizer: acabou-se! O que é que será, não sabemos. Para já, a Fraternidade continua tal e qual como desde há quarenta anos. Se Roma se zangará? - ... vamos a ver.

Nesta ocasião vale a pena lembrarmo-nos de algumas verdades importantes que são constantemente combatidas nos tempos modernos, por causa do mo-dernismo:

1. Verdade, Fé e Moral são coisas imutáveis e objectivas; por isso obrigam a todos os homens de maneira igual; Deus é sempre o mesmo, como também Nosso Senhor é sempre o mesmo. Até a natureza humana é sempre a mesma através dos povos, das culturas, ou através dos tempos e séculos; ela é mar-cada pelo Pecado Original e precisa de maneira absoluta da Redenção, a qual não pode produzir ela mesma, mas que recebe unicamente de Nosso Senhor Jesus Cristo. As mudanças sociológicas ou políticas não mudam de nenhuma maneira estas realidades, mudam talvez a maneira de vida das pessoas ou alguns costumes, mas não mudam Deus ou a natureza humana.

As heresias de hoje estão contra esta evidente verdade, falando de “evolução da Verdade”, destruindo assim o pensar lógico e o são raciocínio.

2. Apesar do que é dito no primeiro ponto, não existe igualdade naquilo que os modernistas, ou movimentos diversos actuais, às vezes sugerem. Nem os povos são iguais, nem as pessoas singulares são! Homem e mulher não são iguais! (Distinguem-se em muitos aspectos segundo a Sabedoria Divina, e assim completam-se para constituírem uma unidade). A negação disso é uma revolta contra a Ordem Divina! (veja por ex. a emancipação, o feminismo ou os que querem promover o casamento de homossexuais)

Nem sequer na ordem sobrenatural existe igualdade! Uns Santos receberam

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mais Graças, outros – ainda mais! Só Uma é cheia de Graças! Só Ela foi cha-mada para ser Mãe de Deus, não outra! Há distintos deveres no Reino de Deus! Só doze eram Apóstolos! E somente homens podem ser Sacerdotes e não mulheres! Na parábola, um servo recebe cinco talentos, um outro dois, o terceiro só um! Os Padres da Igreja interpretam isto em vários sítios – mui-to interessante! – sempre unanimemente sublinhando que os Dons de Deus são distribuídos de maneira diferente, e não igual! Igualdade há só nisso: que todos somos chamados para ver a Deus eternamente e todos recebemos sufi-ciente graças e os meios necessários de Deus, para aí chegarmos.

3. Não devemos entender a Liberdade humana como se o homem tivesse uma liberdade moral! Ser livre significa somente ter a possibilidade de fazer uma ou outra coisa, por exemplo praticar um crime ou uma virtude, matar alguém ou fazer-lhe bem. Nem tudo o que podemos fazer (quanto à possibilidade) é lí-cito, mas pode ser um crime. Um crime é sempre um crime. Matar um bebé no seio duma mulher não pode ser desculpado dizendo que “somos livres”. Não temos a liberdade moral de fazer determinadas coisas – não podemos fazê-las, porque seria um crime, embora tenhamos fisicamente a “liberdade” ou possibilidade de o fazer. Assim não podemos escolher a religião que quisermos (há uma única verdade e uma única maneira pela qual Deus quer ser adorado; Deus comunicou esta maneira pelo Seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo), e tampouco não é lícito suicidar-se, fazer eutanásia ou praticar o aborto.

4. A obediência é uma virtude que tem limites; dependendo do conteúdo, pode até ser pecado. Na Rússia no comunismo, por exemplo, os representantes do governo mandaram muitas vezes matar pessoas por motivos políticos ou re-ligiosos, como também aconteceu no regime de Hitler. É evidente que os súb-ditos não somente não são obrigados, mas até não devem obedecer a tais cri-mes (não falando aqui da dificuldade pessoal dos soldados que não quiseram obedecer). Devemos, portanto, entender que há uma “obediência” que não é virtuosa; devemos entender que às vezes não se pode obedecer!

Que Deus vos abençoe!

Padre Anselmo

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Estanoite,falareidaMissadeLuteroedaMissadonovorito.Porqueessacomparação entre a Nova Missa e aMissadeLutero?Porqueahistóriaodiz; a história objetiva não é criaçãominha. (SuaExcia.mostraentãoumlivrosobreLutero,publicadoem�9��,“DoLuteranismoAoProtestantismo”de Léon Cristiani). Ele fala sobre areforma litúrgicadeLutero.Trata-sedeumlivroescritoemumtempo,emqueoautornemconhecianossacrise,nemonovorito;portantonãofoies-critocomsegundasintenções.

Síntese dos princípios fundamentais da Missa

Primeiramentedesejofazerumasín-tese dos princípios fundamentais daMissa, para trazer à nossa memóriaabeleza,aprofundagrandezaespiri-tualdenossaMissa,olugarquenos-saMissaocupanaSanta Igreja.QuecoisamaisbelaNossoSenhorlegouàhumanidade,quecoisamaispreciosa,maissantaconcedeuàSuaSantaIgre-ja, à Igreja sua Esposa, no Calvário,quandomorrianaCruz?FoioSacri-fíciodesimesmo.

OSacrifíciodesimesmo.SuaprópriaPessoa, que continua seu Sacrifício.EleodeuàIgreja,quandomorreunaCruz. A partir desse momento, esseSacrifícioestavadestinadoacontinu-

ar, a perseverar através dos séculos,como Ele o havia instituído, junta-mentecomoSacerdócio.

Quando na Santa Ceia, Jesus insti-tuiuoSacerdócio,EleoinstituiuparaoSacrifício,oSacrifíciodaCruz,por-queesseSacrifícioéafontedetodososméritos,detodasasgraças,deto-dososSacramentos;afontedetodaariquezadaIgreja.Issodevemosrecor-dar,tersemprepresenteessarealida-de,divinarealidade.

Portanto, é o Sacrifício da Cruz queserenovasobrenossosaltares,eoSa-cerdócioestáemrelaçãocomele,emrelaçãoessencial comesseSacrifício.NãosecompreendeoSacerdóciosemo Sacrifício, porque o Sacerdócio foifeitoparaoSacrifício.Poder-se-iadi-zertambém:éaEncarnaçãodeJesusCristo,séculosafora:“usqueadfinemtemporum”(Atéofimdostempos),oSacrifíciodaMissaseráoferecido.

Se Jesus Cristo quis esse Sacrifício,quis também ser nele a vítima, umavez que é o Sacrifício da Cruz quecontinua,Elequisqueavítimafossesempreamesma,quisserElepróprioa vítima. Para ser a vítima, Ele temque estar presente, verdadeiramentepresente nos nossos altares. Se Elenãoestiverpresente,senãohouveraPresençaRealnosnossosaltares,não

AMissadeLutero

Conferência de Dom Marcel Lefebvre

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haverávítima,nãohaveráSacerdócio.Tudoestá ligado:Sacerdócio,Sacrifí-cio, Vítima, Presença Real, portantotransubstanciação.

Aí está “o coração” do tesouro – omaior,omaisrico–queNossoSenhorconcedeu à Sua Esposa, a Igreja, e atoda a humanidade. Assim podemoscompreenderque,quandoLuteroquistransformar,mudaressesprincípios,começouporcombateroSacerdócio;como o fazem os modernistas. PoisLuterobemsabiaqueseoSacerdóciodesaparecesse, não mais haveria Sa-crifício,nãomaishaveriaVítima,nãohaveriamaisnadanaIgreja,nãomaishaveriaafontedasgraças.

Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio?

ComoprocedeuLuteroparadizerquenãohaveriamaisSacerdócio?Dizen-do:“Nãoexistediferençaentrepadrese leigos. O Sacerdócio é universal”.Taiseramasidéiasqueelepropagava.ElediziaquehátrêsmurosdedefesacercandoaIgreja.Oprimeiromuroéessa diferença entre padres e leigos.(Sua Excia. Então lê): “A descobertadequeoPapa,osbispos,ospadres,osreligiosos compõem o Estado Eclesi-ástico, ao passo que os príncipes, ossenhores,osartesãos,oscamponesesformam o estado secular, é pura in-venção, uma mentira”. Essa diferen-çaentrepadrese leigoséentãoumainvenção,umamentira.EisoquedizLutero: “Na realidade, todos os cris-tãos pertencem ao estado eclesiásti-

co”.Nãohádiferença,anãoseradi-ferençadefunções,deserviço.TodostêmoSacerdócioapartirdoBatismo;têm-noemrazãodocaráterbatismal,todososcristãossãopadreseospa-dresnãotêmumcaráterespecial,nãoháumsacramentoespecialparaospa-dres,masseucarátersacerdotal lhesvem do caráter do Batismo. Assimtambémseexplicaestalaicizaçãodospadres;elesnãoqueremmaisterumavesteparticular,nãoqueremmaissedistinguirdosfiéis,porquetodossãopadres;esãoosfiéisquedevemesco-lherospadres,elegerosseuspadres.

Tais foram os princípios de Lutero,que prossegue: “Se um Papa ou umBispo confere a unção, faz tonsuras,ordena,consagraoudáumavestedi-ferenteaosleigosouaospadres,estácriandoenganadores”.Todossãocon-sagradospadres,apartirdoBatismo.Osprogressistasdonossotemponãodescobriramnovidades.

Há um novo livro sobre os Sacra-mentos, aparecido em janeiro desteano em Paris, sob a autoridade doArcebispo, o Cardeal Marty. Saiu hápouco.Seusautoresdescobriramoitosacramentos,nãomaissete,porqueooitavo sacramento é a profissão reli-giosa. Eles dizem claramente, nesselivro,que todososfiéis sãopadresequeocarátersacerdotalvemdocará-terdoBatismo.Osautores,porcerto,devemter lidoLutero,transformadoparaelesemPadredaIgreja.

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Lutero não acreditou mais na Transubstanciação, nem no Sacrifício

Lutero deu também outro passo àfrente,apósasupressãodoSacerdó-cio. Ele não acreditou mais na Tran-substanciação, nem no Sacrifício. Edisse claramente que a Missa não éumSacrifício.AMissaéumaComu-nhão.PodemosentãochamaraMissadeComunhão,Ceia,Eucaristia,tudo,menos Sacrifício. Não há, portan-to, Vítima, nem Presença Real, masapenasumapresençaespiritual,umarecordação ou comunhão. Foi porissoqueLuterosemprecombateuasMissasprivadas;foiumadasprimei-rascoisasfeitasporele,porqueumaMissaprivadanãoéumaComunhão.Éprecisoqueosfiéiscomunguem.AMissa privada, então, não está con-forme a verdade, é preciso suprimirtodasasMissasprivadas.

Ele chamava a Eucaristia de “Sacra-mento do Pão”. A Eucaristia, (diziaele), tornou-se uma lamentável mal-dade. Essa “maldade” da Missa pro-vémdeteremfeitodelaumSacrifício.Somos forçados a constatar que nãosefalamaisdeSacrifíciodaMissanosboletins diocesanos ou paroquiais,masdeEucaristia,deComunhão,deCeia. Que singular semelhança comastesesdeLutero!

Lutero faz ainda uma distinção entre os fins do Sacrifício da Missa

Além disso, Lutero faz ainda umadistinção entre os fins do SacrifíciodaMissa.EledizqueumdosfinsdoSacrifíciodaMissaé rendergraçasaDeus. A Eucaristia é um sacrificiumlaudis,masnãoumsacrificiumexpia-tionis,nãoumSacrifíciodeexpiação,masdelouvor,deeucaristia.Porissoéquesecertosprotestantesaindafa-lamdeSacrifício,nuncaoénosenti-dodesacrifícioexpiatório,queremiteos pecados. No entanto se trata deumdosprincipaisfinsdoSacrifíciodaMissa,aremissãodospecados.

Por isso é que os protestantes mo-dernosaceitamonovoritodaMissa,porque, dizem eles, (isso saiu publi-cado em uma revista da Diocese deEstrasburgo,noticiandoumareuniãodeprotestantesdaConfissãodeAugs-burgo),agora,comonovorito,épos-sívelrezarcomoscatólicos.(L’EgliseenAlsacede8-���-�97�e�-�-�97��).“Defato,comasatuaisformasdece-lebração eucarística da Igreja Católi-ca,ecomaspresentesconvergênciasteológicas, muitos obstáculos quepodiam impedir que um protestanteparticipasse da celebração eucarís-tica estão desaparecendo e agora vaise tornando possível reconhecer nacelebraçãoeucarísticacatólica,aCeiainstituída pelo Senhor. Temos à dis-posição novas orações eucarísticas,quetêmavantagemdeapresentarva-riaçõesàTeologiadoSacrifício”.Isso

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é evidente! Há duas semanas atrás,estando eu na Inglaterra, soube queum bispo anglicano adotou, ultima-mente,onovoritocatólicoparatodaasuadiocese.Edeclarou:“Estenovoritoémuitoconformecomasnossasidéias protestantes.” É pois evidentequeparaosprotestantes,nãohámaisdificuldadesparaadmitironovorito.Porqueelesnãotomamoantigorito?Foi o que o Senhor Salleron pergun-touaospadresdeTaizé:“Porquedi-zeisquehojepodeisadmitirestenovoritoenãooantigo?”

Portanto há uma diferença entre onovo e o antigo e esta diferença éessencial; não é uma diferença aci-dental,porqueelesnãoaceitamusaro antigo rito, com todas as oraçõesdotadasdeprecisãoequeesclarecemrealmente a finalidade do Sacrifício:propiciatório, expiatório, eucarísti-coelatrêutico.EstaéafinalidadedoSacrifíciodaMissacatólicaque,claronoantigorito,nãooémaisnonovorito, porque não há mais Ofertório.Eétambémpor issoqueLuteronãoquisOfertórionoritodele.

Como Lutero inaugurou sua nova Missa

VejamoscomoLutero inaugurousuanovaMissa,suareforma.Aprimeiramissaevangélicafoilevadaaefeitonanoitede����para���dedezembrode�����.Nessaprimeiramissaevangéli-ca,depoisdapregaçãosobreaEuca-ristia,elesfalaramsobreaComunhãosobasduasespéciescomoobrigatória

esobreaConfissãocomoinútil,bas-tando a fé. A seguir, Karlstadt, seudiscípulo,apresentou-senoaltar,comvestesseculares, recitouoConfiteor,começouaMissacomoeraantes,massomenteatéoEvangelho;oOfertórioeaElevaçãoforamsupressos(pág.��8��),oquequerdizerquetudooquesigni-ficava idéiadeSacrifício foi retirado.ApósaConsagraçãoveioaComunhãoe muitos assistentes haviam bebidoe comido,eaté, tomadoaguardente,antesdecomungar;comungaramsobasduasespécieseopãoconsagrado,(dado)nasmãos.Umadashóstiases-capou-lheecaiemcimadaroupadeum assistente. Um padre a recolhe.Uma outra cai no chão e Karlstadtdizaosleigosparaapanhá-la;ecomoeles se recusam, por respeito ou te-mor,eledeclara:“Queelapermaneçaonde está, pouco importa, contantoquenãosepiseemcima”.Poucode-poiselepróprioaapanhou(pág.��8��).Muitosleigos,inúmeraspessoasesta-vamcontentescomanovidadeeerammuitososquevinhamassistiraessanova Missa evangélica, porque umaparteeraditaemlínguaalemã,eelesdiziam que compreendiam melhor.Então os mosteiros começaram a seesvaziar.Luterotinhadeclarado:“Euconservareiomeuhábito,meumododemeapresentarcomomonge”,masmuitos monges saíram; alguns fica-ramnosmosteiros,masamaioriasecasou.Reinavagrandeanarquiaentreospadres.Cadaumcelebravasuamis-sacomoqueria.OConselhonãosabia

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maisoquefazer(pág.��8�),tomandoentão a resolução de fixar uma novaliturgia, de não mais deixar a liber-dadeedepôrumpoucodeordem.Amaneira de celebrar a Missa deveriaserentãoaseguinte:Intróito,Glória,Epístola,Evangelho,Sanctus.Depoishavia uma pregação; Ofertório e Câ-nonficavamsupressos;opadreentãopronunciavaainstituiçãodaCeia,queeleproferia,emvozalta,emalemãoedistribuíaaComunhãosobasduasespécies.DepoisvinhaoAgnusDeieo Benedicamus Domino, para termi-nar.

As modificações da Consagração in-troduzidasnoNovusOrdosãoseme-lhantesàsqueforamintroduzidasporLutero;aspalavrasessenciaisdaCon-sagraçãonãosãomaisunicamenteaspalavrasdaforma,taiscomosempretinham sido conhecidas: “HOC ESTCORPUS MEUM. HIC EST CALIXSANGUINIS MEI,” e as palavras quelheseguem.Não!Apartirdeentão,aspalavras essenciais começam nos se-guintestermos:“Eletomouopão”,atéaspalavrasapósaconsagraçãodovi-nho:“HOCFACITEINMEAMCOM-MEMORATIONEM”. Lutero disse amesmacoisa.Porque?Porqueselêanarrativa da Ceia. “É uma narrativa,nãoumaação,nãoumSacrifício,nãouma ação sacrifical, mas um simplesmemorial”.Porqualrazãonossosino-vadoresocopiaramdeLutero?

Lutero diz também: “As Missas e asVigílias estão encerradas. O Ofício

seráconservado,assimcomoasMa-tinas,asHorasmenores,asVésperas,Completas,massomenteoOfíciofe-rial. Não se comemorará mais santoalgumquenãoestejaexpressamentenomeadonaEscritura”.Dessemodo,elemudoucompletamenteoCalendá-rio,exatamentecomofoifeitoatual-mente(pág.�09).

Donde podemos concluir: A atualtransformaçãoéidênticaàdeLutero.Um último exemplo, o das palavrasda Consagração do pão: “HOC ESTCORPUSMEUM,QUODPROVOBISTRADETUR”. Também Lutero acres-centou essas últimas palavras, por-que,justamentesãopalavrasdaCeia,poiselepretendiaqueaCeianãofosseumSacrifício,masumarefeição.

Ora,oConcíliodeTrentodizexplici-tamente:QuemdisserqueaCeianãoéumSacrifício sejaanátema.ACeiafoi um Sacrifício. E nossa Missa é acontinuaçãodaCeia,porqueaCeiafoiumSacrifício.Issojáseconstatanase-paraçãopréviadoCorpoedoSanguedeJesusCristo.OSacrifíciojáestavasignificadoporessaseparação,noen-tantoLuteroafirma:“Não.ACeianãoé um Sacrifício”, é por isso que nósdevemosrepetirtodasaspalavrasqueNossoSenhordissenaCeia,ouseja:“HOC EST CORPUS MEUM QUODPRO VOBIS TRADETUR”, que seráentregueporvóssobreaCruz.

Por que imitar tão servilmente Lutero na Nova Missa?

Aúnicarazãoquesepodeaduziréa

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doEcumenismo.Poissemessemoti-vo,nadasepodecompreenderdessareforma.Elanãotemabsolutamentevantagemalguma,nemteológica,nempastoral. Nenhuma vantagem a nãoseradenosaproximardosprotestan-tes. Podemos legitimamente pensar,que foi por isso que os protestantesforamconvidadosparaaComissãodaReformaLitúrgica;paraficarmossa-bendoseestavamsatisfeitosounão,ousehaviaalgumacoisaquelhesnãoagradava,seelespodiamounãorezarconosco.Eupensoquenãopodeexis-tir outro motivo para esta presençadosprotestantesnaComissãode re-formadaMissa.Mascomopodemospensarqueprotestantes,quenãotêmnossafé,possamserconvidadosparaumaComissãodestinadaafazerumareformadenossaMissa,denossoSa-crifício, daquilo que temos de maisbelo,demaisricoemtodaaIgreja,oobjetomaisperfeitodenossafé?!

Lutero, em janeiro de ������, promo-veu a impressão de um novo ritualparaascerimôniasdaMissa.Noseupensamento, ele queria a liberdadetotal.Edizia (pág.����): “Sepossível,eugostariadedartotalliberdadeaospadres,parafazeremoritoquequise-rem;masháoperigodeabusos,en-tãoéprecisoestabelecerregras”.Seupensamento,porémerade liberdadetotal.Etambémdeigualdadeentreospadreseosfiéis.Eassim,todososfi-éissendopadres,poderiam,tambémeles,teridéiasdecomocriaroculto.Então, todos juntos,aquelesquesão

padres,aquelesquetêmumafunçãoespecial, aqueles que são escolhidosdentre os fiéis, todos juntos podemdemonstrarsuacriatividadenoculto.

Mascomoeraumpoucodifícil,acaba-riahavendobastantedesordem,entãoeleescreveuumritual.Nessaocasiãoele dizia também: “O uso do latim éfacultativo”. Ele não era absoluta-mentecontraolatim.Queriaatéqueas crianças aprendessem latim. Mastambém dizia: “O desejo dos leigoscomunsdeterumaMissaemalemãoéperfeitamentelegítimo.ContudohápessoasquevãoàIgrejaparavernovi-dade,paravercoisasnovas.Esses,noentanto,nãosãoverdadeiroscristãos,sãocuriosos,comosefossemaostur-cosouaospagãos”.

Nos domingos se celebra a Missa.MasLuteroconservaapalavraMissacomcertarepugnância.Asvestessa-gradas, as velas são ainda mantidasprovisoriamente. Começa-se com oIntróito em alemão, depois o Kyrie,depois uma Oração cantada pelo ce-lebrante, ainda voltado para o altar,nãoparaopovo.MasparaaEpístolaeparaoEvangelho,cantadosemale-mão,sevoltaráparaopovo,quandoentão todos cantam o Credo em lín-guavulgar(pág.����).

O celebrante dirá uma paráfrase doPater, uma exortação à Comunhão,depois vem a Consagração, que serácantada,emalemão,assim: “Nanoi-te em que foi traído, Nosso SenhorJesus Cristo tomou o pão, rendeu

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graçaseopartiueapresentouaseusdiscípulosedisse:Tomaiecomei,istoé o meu Corpo que é dado por vós”.– HOC EST CORPUS MEUM QUODPROVOBISTRADETUR;estassãoaspalavras exatas –. “Fazei isto todasasvezesqueofizerdes,emmemóriademim.Domesmomodo,Eletomoutambémocálice,apósaCeiaedisse:Tomaiebebeideletodos,esteéocáli-ce,umnovoTestamentoemmeuSan-gue, que é derramado por vós, paraa remissão dos pecados”. Não dissePROVOBISETPROMULTIS,fezde-sapareceraspalavrasPROMULTISetambém MYSTERIUM FIDEI. (pág.��7)

Mysteriumfideiepromultisdesapa-receram…“Queéderramadoporvós,para a remissão dos pecados, fazeiissotodasasvezesquebeberdesessecáliceemmemóriademim”.Essaspa-lavrasqueLuterodiziaseraconsagra-ção, portanto as palavras essenciais,correspondem exatamente às pala-vras do documento da CongregaçãodoCulto.Aúnicaexpressãoamaisépromultis,querestounodocumentodo Vaticano. Mas todas as palavras,assim como as que são ditas antes:“Na noite em que foi traído, NossoSenhortomouopão”,essaspalavrasnãosãodaforma;nuncaaIgrejadissequeaspalavras,queprecedemaCon-sagração, fazem parte da forma doSacramento.

Depois da elevação, que Lutero con-servou até ������, vinha a Comunhão

namão.Umaúltimaoração–acoleta– terminava a Missa como a Postco-muniodoscatólicos(págs.��7-��8).

Evidentemente Lutero não aceitou ocelibato e lutou contra os votos dosreligiosos.Elequeriaofimdessescos-tumesda Igreja.Mas,coisabastantecuriosa, ele sempre teve certo medodasreformasqueeletinhafeito.Seusdiscípulosiamàvanguarda,maisde-pressa do que ele; ele sempre estavaum pouco ansioso. Dizia a seus dis-cípulos: “Eu condeno a nova práticade dar a Eucaristia de mão em mão,bemcomoousoirrefletidodaComu-nhãosobasduasespécies”. Issonosprimeirostempos,depoiseleaceitou;mas logo de começo lhe parecia queessa Comunhão na mão não era boacoisa.

DepoisdeterditoqueaConfissãonãoera necessária, mesmo para aquelesque tinham pecados graves, hesitouedisse:“AConfissãoéboa,masseoPapamepedirparameconfessar,eumerecusareiafazê-lo,eunãomeque-roconfessar.Nempor issoeuaceitoquealguémmeproíbaessaconfissãosecreta.Eunãoacedereinemporto-dos os tesouros da terra, porque eusei o que ela já me proporcionou deforçaedeconsolação…”

Lutero estava roído de remorsos, noentanto vivia devorado pela necessi-dade de fazer novidades, de mudartudo, de ir contra o Papa, contra aIgreja Romana, contra o dogma. Porissoelecontinuousuareforma.

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A reforma litúrgica atual se inspira na reforma de Lutero

É evidente que a reforma litúrgicaatual se inspira na reforma de Lute-ro.Eudisseisso,emRoma,amuitosCardeais:“VossanovaMissaéaMissadeLutero!”Aissomefoirespondido:“Masentãoelaéherética!”Eeures-pondi: “Não, ela não é herética, masé ambígua, equívoca, pois um podecelebrá-lacomafécatólicaintegraldoSacrifício,daPresençaReal,daTran-substanciaçãoeoutropodecelebrá-lasemteressaintençãoe,nessecaso,aMissa não será mais válida. As pala-vrasqueelepronunciaeosgestosqueelefaznãoocontradizem.Elaéequí-voca,sim,equívoca.EcertamenteLu-tero,durantemuitosanos,acelebrouvalidamente, quando ele ainda nãoestavacontraoSacrifício,quandoeleeraaindamaisoumenoscatólico.Po-rém, mais tarde, quando ele recusouoSacrifício,oSacerdócio,aPresençaReal, então sua Missa passou a nãotermaisvalidade”.

MascomoumaMissapodeserassimequívoca?Éimpossívelfazerissocomoantigorito,porqueeleéclaro,eleéclaro.OOfertóriotododizcomclare-zaoquenósrealizamos.OOfertórioéumaverdadeiradefiniçãodoSacrifí-ciodaMissa.PorissoéqueLuteroeracontraoOfertório,porqueeleerapordemaisclaro,efoiporissoqueelefezaquelasmudançasnoCânonparanãodeixarperceberseéumanarraçãoouumaação;masnós,nóssabemosque

aConsagraçãoéumaaçãosacrifical.

Eles sabem que em nossos antigosMissais, antes do Communicantes,estáescrito infraactionem,poisnãosetratadeumanarração,nemdeummemorial,umasimplesrecordação.Éumaação.Umaaçãosacrifical.

Todas essas mudanças no novo rito são realmente perigosas

Todas essas mudanças no novo ritosãorealmenteperigosas,porque,pou-coapouco,sobretudoparaospadresnovos, que não têm mais a idéia doSacrifício,daPresençaReal,daTran-substanciação,paraosquaistudoissonãosignificamaisnada,essespadresnovos perdem a intenção de fazer oqueaIgrejafaz,enãocelebrammaismissasválidas;nãohámaisaPresen-çaReal.

Certamenteospadresidosos,quandocelebramconformeonovorito,con-servamaindaafédesempre.Celebra-ram a Missa no antigo rito, durantetantos anos, que conservam as mes-masintenções;entãosepodecrerqueaMissadeleséválida.Masnamedidaem que essas intenções se vão, de-saparecem, nessa mesma medida asMissasdeixarãodeserválidas.

Elesquiseramseaproximardospro-testantes,masforamoscatólicosquese tornaram protestantes e não osprotestantes que se tornaram cató-licos. Isso é evidente, ninguém podedizerocontrário.

QuandocincoCardeaisequinzeBis-

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pos compareceram ao “Concílio dosJovens”,emTaizé,comoessesjovenspoderiamsaberoqueécatolicismoeo que é protestantismo? Alguns re-ceberam a Comunhão das mãos dosprotestantes,outrosdoscatólicos.

QuandooCardealWillebrandsesteveemGenebra,noConselhoEcumênicodasIgrejas,declarou:“Temosquere-abilitarLutero”.Eleodisse,comoen-viadodaSantaSé.

Vede a Confissão. Em que se trans-formouaConfissão,oSacramentodaPenitência,comessaabsolviçãocole-tiva?Éacasopastoralessemododedi-zeraosfiéis:“Nósdemosaabsolviçãocoletiva, os senhores podem comun-gar;quandotiveremoportunidade,setiverempecadosgraves,confessem-seno prazo de seis meses a um ano…”Quem pode dizer que esse modo deprocederépastoral?Queidéiasepo-deráfazerdopecadograve?

E a Confirmação

O Sacramento da Confirmação tam-bémestánumasituaçãoidêntica.Re-almenteeupensoqueaspalavrasdolivro dos Sacramentos da ComissãodoArcebispodeParis,queconstituemaforma,tornamoSacramentoinváli-do.Porque?Porquenãohámaisasig-nificaçãodoSacramentonaforma.OBispo,quandoconfereoSacramentodaConfirmação,diz:“Signote,signoCrucisetconfirmoteChrismatesalu-tis,innominePatrisetFiliietSpiritusSancti”e“ConfirmoteChrismatesa-lutis”.AConfirmação:“confirmote.”

Agora estão dizendo: “Eu teassinalocomaCruzerecebeoEspíritoSanto”.É obrigatório esclarecer qual a graçaespecial do Sacramento, no qual seconfere o Espírito Santo. Se não sedizestapalavra: “EgoteconfirmoinnominePatris…”NãoháoSacramen-to! Eu o disse também aos Cardeais,porqueelesmedeclararam:“OsenhorconfereaConfirmaçãosemterodirei-todeofazer”.–“Euofaço,porqueosfiéistêmmedoqueseusfilhosfiquemsem a graça da Confirmação, porqueelestêmdúvidaarespeitodavalidadedo Sacramento, que é conferido atu-almentenasigrejas.NãosesabemaisseéverdadeiramenteumSacramentoounão.Então,aomenosparateressacertezadeter realmenteagraça,mepedemparacrismar,eeuofaçopor-quemeparecequeeunãopossorecu-saraosquemepedemaConfirmaçãoválida,poisaomenoselesrecebemagraça,mesmoquenãosejalícito,por-quenósestamosnumtempoemqueodireitodivinonaturalesobrenatu-ralpassaà frentedodireitopositivoeclesiástico, já que este se lhe opõe,emvezdelheservirdecanal”.

Estamos em uma crise extraordinária

Nós não podemos seguir essas re-formas. Onde estão os frutos dessasreformas? Eu, de fato, me pergunto!Reformalitúrgica,reformadossemi-nários,reformadascongregaçõesre-ligiosas,todosessescapítulosgerais!Onde eles estão colocando essas po-

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brescongregaçõesatualmente?Tudoseacabando…!Nãohámaisnoviços,nãohámaisvocações…!

Elesprópriosreconhecemquenãohámais vocações. O Cardeal Arcebispode Cincinatti o reconheceu tambémnoSínododosBispos,emRoma:“Emnossos países (ele representava to-dos ospaísesde língua inglesa),nãohámaisvocações,porquenãosabemmaisoqueéopadre”.

Nós devemos nos conservar na Tra-dição. Só a Tradição nos concede re-almente a graça, nos proporcionarealmente a continuidade na Igreja.Se abandonarmos a Tradição, passa-remos a contribuir para a demoliçãodaIgreja.

O liberalismo penetrou na Igreja através do concílio

Também isso eu disse àqueles Car-deais! “NãovedesqueoEsquemadaLiberdadeReligiosadoConcílioéumesquema contraditório? Na primei-rapartedoEsquemaestádito:‘NadamudanaTradição’,e ,dentrodoEs-quema,estátudoaocontráriodaTra-dição. O contrário do que disseramGregórioXVI,PioIXeLeãoXIII”.

Portantoéprecisoescolher!Ouesta-mosdeacordocomaliberdadereligio-sadoConcílioeentãosomoscontrá-riosaoqueessesPapasdisseram,ouentãonosconservamosdeacordocomessesPapaseentãonosrecusamosaconcordarcomoqueestácontidonoEsquemasobreaLiberdadeReligiosa.

É impossível estar de acordo com osdois. E acrescentei: eu me atenho àtradição, eu sou pela tradição, e nãoporessasnovidadesqueconstituemoliberalismo.Nãoéabsolutamenteou-tracoisasenãooliberalismo,quefoicondenado por todos os pontífices,duranteséculoemeio.

Esse liberalismo penetrou na igre-ja através do concílio: a liberdade, aigualdade,afraternidade.

Aliberdade:aliberdadereligiosa.

Afraternidade:oecumenismo.

Aigualdade:acolegialidade.

Eestessãoostrêsprincípiosdolibe-ralismo, originado dos filósofos doséculoXVIII,equelevouaefeitoare-voluçãofrancesa.

Foram essas idéias que entraram noconcílio,pormeiodepalavrasequívo-cas.

Eagoravamosàruína,aruínadaIgre-ja, porque essas idéias são absoluta-mentecontraanaturezaecontraafé.Não existe igualdade entre nós. Nãoexiste verdadeira igualdade. O papaLeãoXIIIdisseissobastanteclaro,emsuaencíclicasobrealiberdade.

AFraternidadetambém!Senãohou-ver um pai, como acharemos Frater-nidade?Senãohápai,senãoháDeus,comopodemosser irmãos?Comosepodeserirmão,senãohouverumpaicomum? Impossível! Devemos entãoabraçar todos os inimigos da igreja,os comunistas, os budistas e todos

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os outros que são contra a igreja, osMaçons?

Esse decreto de uma semana atrás,quedizqueagoranãohámaisexco-munhão para um católico que entrenamaçonaria.Masondeestáa igre-ja?Issoé impossível!OsMaçõessãoosinimigostradicionaisdaigreja,sãoaquelesquequeremdestruirospaísescatólicos! Quem destruiu Portugal?Quem estava no Chile? E agora noVietnam do sul! Porque esses paísessãocatólicos!EqueserádaEspanhadentro de um ano, da Itália, etc…?PorqueaIgrejaabreosbraçosatodaessagentequesãoinimigosdela?

Temos que rezar

Naverdadetemosquerezar,rezar;éumassaltododemôniocontraaIgre-ja,comojamaisseviuigual.DevemosrezaraNossaSenhora,aBem-Aven-turada Virgem Maria, para que Elavenha em nosso socorro, porque re-almentenósnãosabemosoqueseráde amanhã. E realmente parece quetoda essa ruína trará conseqüênciasterríveisaomundo.ÉimpossívelqueDeus aceite todas essas blasfêmias,sacrilégiosquesãopraticadoscontraSuaGlória,SuaMajestade!

Ele tem muita paciência, mas virá odia (quando virá, eu não sei), virá odia do castigo, porque todas essa le-galizações, leis sobre o aborto, quevemos em tantos países, o divórcionaItália,todaessaruínadaleimoral,ruína da verdade, realmente é difícilacreditarquetudoissosepossafazer,

semqueDeusfaleumdia!

EntãotemosquepediraDeusmise-ricórdiapornósepornossosirmãos.Mastambémtemosquelutar,comba-ter.CombaterparaconservaraTradi-çãoenãotermedo.Conservar,acimadetudo,oritodenossaSantaMissa,porqueElaéofundamentodaIgrejae da civilização cristã. Quando nãohouvermaisumaverdadeiraMissanaIgreja,aIgrejaacabará.

Temos que conservar esse rito, esse Sacrifício

Portanto temos que conservar esserito, esse Sacrifício. Todas as nossasigrejas foram construídas para estaMissa, não para uma outra Missa;para o Sacrifício da Missa, não paraumaCeia,paraumaRefeição,paraumMemorial,paraumaComunhão,não!ParaoSacrifíciodeNossoSenhorJe-susCristo,quecontinuasobrenossosaltares! Foi por isso que nossos paisconstruíram essas belas igrejas, nãopara uma Ceia, não para um Memo-rial,não!

Conto com vossas orações por meusseminaristas,para fazerdemeusse-minaristas verdadeiros padres, quetenham fé e que possam assim, mi-nistrar sacramentos verdadeiros e overdadeiroSacrifíciodaMissa.Obri-gado.

+ Marcel Lefebvre, Arcebispo.

Superior da Fraternidade São Pio X.

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Será necessário recordá-lo? OConcí-lioVaticanoIIfoiinauguradohámeioséculo,comaintençãodereconciliaraIgrejaeomundomoderno.

Resultadesdeaíumaespéciedeapos-tasia permanente, com os seus gol-pes de violência, de depressão e depresunção. Todos os métodos forambons para esmagar os adversáriosdeste totalitarismo relativista. Ape-sardostrânsfugas,defissuraemfis-sura,oscatólicosdevemacautelar-seemnãosedesviaremdobomcombatedaFé.Nenhumcombateestáanteci-padamente perdido. A História in-sólita de uma pequenina diocese, nocoraçãodumBrasilqueaparecia,atéao encerramento do Concílio, comoomaiordospaísescatólicos,faculta-nosumexemplo.OBrasilhodiernovêproliferarasseitasevangélicas,conti-nua a sofrer os assaltos da teologiada libertação, com seus desastrososefeitossobreaprática,osbaptismos,oensinodoCatecismoetc.O indife-rentismo que promana do Concílionão parece aí encontrar muitos obs-táculos;daíocaráctersurpreendenteda resistência no seio da diocese deCampos,criadanoséculoXX,nomeiodumapaisagemdecana-do-açúcar.Àcabeça da sua diocese, o seu bispo,MonsenhorAntóniodeCastroMayeréumafiguraemblemática;recorda-sea sua presença em �988, ao lado deMonsenhor Marcel Lefebvre. Graças

àobradodoutorDavidAllenWhite,nóspossuímossobotítulo“Lagueuledulion”(abocadoleão)umaprimei-ranarraçãobiográficaquenosdescre-veavidade«MonsenhorAntóniodeCastroMayeredaderradeiradiocesecatólica».Traduzidoem��0�0porMi-chelBureenriquecidoporumprefá-ciodoPadreRégisdeCacqueray,estelivropoderáauxiliarcertosfiéis,queseesforçamporseculpabilizarem.Aoutros, este livro fará compreendera realidade objectiva do magistérioconciliarepós-conciliar.

«Num recanto do nordeste do Brasil, um prelado permanecia forte»

NoséculoXX,Camposhaviasidorica;acidadequecontahoje,comosseusarrabaldes,maisdeummilhãodeha-bitantes, foi a primeira na Américado Sul a equipar-se de luz eléctrica.Simultaneamente, uma franco-ma-çonaria bem implantada, difundiaas ideias progressistas. MonsenhorAntóniodeCastroMayerfoiotercei-robispodeCampos,a��deMarçode�9��8,OPapaPioXIInomeou-o,aos���anos,bispocoadjutor,comdireitoa sucessão. Monsenhor António deCastroMayeraípermanecerá��anos,interrompidospelasuademissão,exi-gidaporRoma,einfelizmenteaceitepeloprelado,emNovembrode�98�.Retirando-se, ele permanecerá comoo protector do seu rebanho, velandocomtodasassuasforçaspelasusten-

Atençãoparanãocairmosnabocadolobo

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taçãodaresistênciacatólica,atéàsuamorteem���deAbrilde�99�.Nas-cidonodia��0deJunhode�90��emCampinas(EstadodeSãoPaulo),filhode um pedreiro bávaro, João Mayer,e duma piedosa brasileira, FranciscadeCastro,noseiodumafamíliade���crianças,entreasquaisDeusescolhe-ráparaSitrêsvocações.Antóniotem�� anos quando da morte de seu pai—aúnicaherança:AFéCatólica.

Aos doze anos António de CastroMayerentranoSemináriomenor,em�9����.Asuaprofundainteligênciain-citaosseussuperioresaenviá-loparaRoma, para prosseguir os seus estu-dosuniversitários.Em�9��7,elerece-beaordenaçãosacerdotal; em�9��8,na sequência do seu doutoramentoemTeologia, regressaaoBrasil,paraensinarnoSemináriomaior.Oautordolivrodelineia,porestaépoca,ore-tratodumjovemsacerdote,«nobreecombativo».Comoqueobservandoojovem futuro bispo, o autor do livroencontrar-lhe-á «um olhar melancó-lico e prudente». António de CastroMayeratraiorespeitopelasuahumil-dade e simplicidade. Ele não avançapara a frente, nem procura as hon-ras. Em �9����, ele é vigário geral deSãoPaulo.Elevadoaoepiscopadoem�9��8,houvequemdeduzissequetalconstituiriaumaformadealguémsedesembaraçardeumapessoaincómo-da.AssuasrelaçõescomoProfessorPlínio Correia de Oliveira, fundadordaT.F.P.(Tradição–Família-Proprie-dade ), não foram a isso estranhas.

Entretanto Monsenhor António deCastroMayer,porrazõesgraves,que-brará a sua solidariedade com esteopositordoprogressismoedocomu-nismo. Um dos seus sacerdotes dirádele: «Dom António era um homemdegrandesimplicidade.Elepossuíaaalmadumacriança».Amodéstiadassuasorigensnãoembaraçavaemnadaafirmezadasuaautoridade.Vincula-doaoRosário,elerecitava-ocontinu-amente.EmhomenagemànossaMãedoCéu,sobosarminhoseo leãodoseu brasão, Monsenhor António deCastro Mayer tinha feito inscrevercomo divisa “Ipsa conteret”, «Ela teesmagará», tal constitui a vitória daBem-AventuradasempreVirgemMa-riasobreSatanás.

Quem quiser conhecer a inteligên-cia deste prelado, deverá procederà leitura das suas numerosas cartaspastorais.Acartade��deJaneirode�9��, intitulada «Os Problemas doapostolado moderno», traduzida emfrancês,permanecemuitoútilparaacompreensãodacriseactual.Atácticaliberal, consistindo em fazer passarpor verdadeiras as mais perniciosastendências, para «reconciliar errosirreconciliáveis», escreve MonsenhorCastro Mayer, «para encontrar umalinha mediatriz entre a verdade e oerro», Em Roma, aquando do Con-cílio, Monsenhor Castro Mayer per-maneceu ao lado de Monsenhor Le-febvre,SuperiorGeraldosPadresdoEspíritoSanto,equeconstituíaumadascabeçasdo«CoetusInternaciona-

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lisPatrum»,umagrupamentodePa-dres, infelizmente minoritários, masque se posicionavam na vanguardamais enérgica do combate pela pre-servação da Fé. No ano do encerra-mento do Concílio, uma nova cartapastoralinvectivavalongamenteaco-legialidadecomofactordecorrupçãodaSantaIgreja.Em�9����,oproblemada aplicação dos textos é colocado;ambíguos,ostextossolicitamumavi-gilânciaapropriadaanelesrevelaroserros.Oúltimogolpedepunhal,porpartedeRoma,foivibradoem�9��9,comoanúnciodumanovamissa.Talnãoconstituíasomenteumanovida-de, observa o autor do livro, «signi-ficava o esmagamento do antigo ri-tual do Santo Sacrifício, substituídopor uma nova ordem de realidades».MonsenhorAntóniodeCastroMayerpartiu imediatamente para o nortedadiocese,ondeseencontravaoSe-minário;apresentouodocumentoro-manoaoSuperior,opadrePossiden-te,dizendo-lhe:«Nãoépossível,nãoépossível,eunãopossoaceitarisso».Váriascartaspastorais,escritos,via-gens, vão continuar a explicar as ra-zões do seu desacordo. Um progres-sista afirmará que «D. Castro Mayerfoiacausadumrealmauestarentreosbispos».MonsenhorCastroMayerescreveu para Roma a sua recusa donovoOrdo;asuacarta,comotantasoutras,nãorecebeunenhumarespos-ta.Umaconfrontaçãocomoconjuntoda Conferência episcopal Brasileiratornou-se inevitável. Ele começa ser

alvo de ataques públicos, obrigando-oaabandonaraassembleiaepiscopal.Um bispo solicita-lhe que reconside-re: «Porquê?» respondeu D. António,«aminhaposiçãocorrespondeàdou-trina oficial da Igreja Católica. E eudeveriadefender adoutrina CatólicadaSantaMadreIgrejacontraosmeusconfrades,BisposCatólicos?»

Nodiaseguinteaumademissãoim-posta, mas aceite, D. António proce-deuàdivulgaçãoduma«Cartaabertade Monsenhor Castro Mayer ao seuclero e aos seus fiéis. Observaçõessobre a pureza e integridade da Fé».ApósterrecordadoanaturezadaFé,o Bispo opera a verificação autoriza-da «das dúvidas e das ambiguidadesincompatíveis», as quais comprome-tem,desdeoConcílioVaticanoII,«aautenticidade do culto Divino, bemcomoasalvaçãodasalmas»,apresen-tando como exemplos, a declaraçãodaliberdadereligiosa,bemcomoodi-álogoecuménico.Nãoexiste liberda-deparaoerro;aliberdadereligiosafa-voreceeimpõeopluralismoreligioso.Noecumenismo,averdadeécolocadanomesmoplanodoerro;Encontran-do-seasalvaçãoemqualquerreligião,todo o proselitismo é inútil. Global-mente,areformadaIgrejapretendidapeloVaticanoII«nãoépossível».

Nomeando como sucessor Monse-nhor Navarro, Roma esperava ver adiocesedeCamposalinhar-secomasoutras,encontrando-seonovobispoencarregadodedesembaraçaroBrasil

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duma sobrevivência anacrónica. Oratalposicionamentonãotinhanadevi-dacontaaquasetotalidadedasparó-quiasfiéisàantigaMissa.Desdelogo,estaresistênciaconstituíaumarepro-vaçãoradicalatodaaIgrejaconciliar.Porentreanosdramáticos,vendoossacerdotesabandonaremoseuminis-tério,osSemináriosfechandoaspor-tas,emCampos,tudoestavaprepara-doparamanteraFéeosSacramentosdaFé.NãomaisemRomadoquenoRio,umatalsituaçãodefactonãopo-diaperdurar.Entretanto,amudançade Bispo não se afigurava suficienteparaintroduziremCamposareformaconciliareanovamissa.

A Igreja «subterrânea» de Campos

Que podia fazer Monsenhor Navar-ro?Elecomeçoupornãoencontrarossacerdotes refractários às reformas;encerrou o Seminário menor, depoistambém o Seminário maior: era me-lhorumadiocesesemsacerdotes,doquecomsacerdotestradicionais.Igre-jas são encerradas, outras são ven-didas. O novo bispo iniciou as suasvisitaspastoraisàsparóquias,preten-dendo aí celebrar a nova missa. EmVinhosa,oPadreGualandinotificouonovobispo,queemconsciência,nãopoderiaassistirànovamissa.Aigrejatornou-se, em plena cerimónia, umcampo de batalha. Seguiu-se a subs-tituiçãodopároco.Oapegodosseusparoquianosobrigouavoltaratrás,aíseedificandoumanovaigreja,come-çando,comoemqualqueroutrolugar,

pela pequenina casa; uma garagemcapela.

Em �98�, Monsenhor de CastroMayer, que desde �98� tinha esta-belecido em sua casa um seminárioclandestino, veio consagrar o novoedifício, benzer hospitais, orfanatos,obras sociais sustentadas por novasfundaçõesdereligiosas,asquaiscom-pletaram este renovar da Cristanda-de. Monsenhor Navarro, mandatadopor Roma, tornava-se o «destruidorperfeito,» encarniçando-se em fazerdesapareceraMissadeSãoPioV.Elecolocavaespecialênfasenarecusadesacerdotesefiéisemaceitaremasde-cisõesdeRoma.«Avossaresistência,soletrava ele, constitui um insultopessoalparacomoSantoPadre».Ossacerdotes de Campos fizeram sabera João Paulo II a impossibilidade deaceitaremonovorito.Trata-sedumaquestãodeFé«naqualnenhumcom-promissoépossível».JoãoPauloIIja-maisrespondeu.

Navarromultiplicouasreuniões,auxi-liadoporsacerdotesoubispos.NumaProfissão de Fé Católica, os padrestradicionalistas faziam valer a suaexperiência;poucodepoiselespubli-cavamumlongoestudosobreoNO-VUSORDO«umcasodeconsciência».Quando duma reunião em presençado Núncio Apostólico, discerniu-senitidamentequeduas«Igrejas»parti-lhavam a diocese. Os apelos a Romapermaneciamsempresemresposta.Esemsesentirridículo,oNúnciopodia

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declarar: A diocese de Campos cons-titui o problema de maior magnitu-deaqueaIgrejadoBrasildevefazerface».

Concretamente,MonsenhorNavarroprosseguiadestituindoossacerdotes,privando-os dos seus poderes, inter-ditando-lhes todo o ministério. Amaiorpartedotempo,obispodeviaapelarparaopodersecular,àpolícia,para conseguir obter, pela força, aexecução das suas decisões. As igre-jassãoencerradas,masossacerdotesfiéisaMonsenhorAntóniodeCastroMayer instalamcapelas, colocamemmarchaaconstruçãodenovasigrejas,de colégios, onde se reencontrem oscatólicos.Poroutrolado,MonsenhorNavarro,acusandooPadreJonasLis-boadesublevaropovocontraopoderlegítimo,obtémasuaprisão.Amul-tidãoprecipita-seentãoparaaentra-dadaprisão,para fazê-lo libertar;OTribunal Nacional de Justiça Militarabsolvê-lo-á.Portodoolado,oBispomandataaautoridadecivilparafazerexpulsarossacerdotesdassuasparó-quiaseencerrarassuasobras.Opovorevolta-se, recusando em muitos lu-garesassistiraosofíciosdossacerdo-tes «ajuramentados». Durante muitotempo, o Padre Rifan, muito popu-lar na sua paróquia de Rosário, emCampos,resiste.Obispoéobrigadoaaguardaraté�98��atéconcluirasuaobradedestruição,arrancandooPa-dreRifandasuaparóquia,integrandoestatrintacapelasecentrosdeMissa.MonsenhorNavarroreprova-lheasua

declaraçãode�98�:«EmnomedaFé,é impossívelaceitar substancialmen-teoConcílio;quantoaonovoOrdo,aconsciênciacatólicanãopodeaceitá-lo». O Conselho Municipal apoia-o.JoãoPauloIIé informado-masnãoresponde.Apósumalongaresistência,oPadreRifancelebraasuaderradeiraMissanasuaigrejaeparteparaasuaparóquiadeexílio.MonsenhorNavar-ro,comosuportedopodercivil,haviaaparentementeganhoaguerra.Todasasigrejasparoquiaistinhamvistoim-poronovoOrdo.NarealidadeaMis-sa tradicional permanece por todoo lado. Constituem as paróquias dasombra,comoseuSeminário,assuasescolas,osseushospícios;eisqueospadresrefractários levamdevencidaospadresajuramentados.

EmRoma,asadvertênciasdeMonse-nhorLefebvreeMonsenhordeCastroMayerpermanecemvãs.Éaangústiae a perplexidade de muitos dos seussequazes,emvirtude«doserroscon-tidos nos documentos do ConcílioVaticanoII,dasreformaspós-conci-liares,especialmenteareformalitúr-gica,dasfalsasconcepçõesdifundidaspelos documentos oficiais, as quaislançam os fiéis na perturbação e nadesordem».OSínodode�98�foioca-sião para os dois Bispos fiéis dirigi-remaoPapaumverdadeiroultimato:«SeoSínodo,sobavossaautoridade,perseveranestaorientação,vósjánãosereis o Bom Pastor». Em Campos,os Bispos da Fraternidade São Pio XsagrarãoMonsenhorRangel(falecido

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em ��00��) para assegurar a continui-dadedapartesãdadiocese.

À maneira de epílogo

Entretanto,emJaneirode��00��,umapartedosresistentesobtiveramumaadministraçãoapostólica,paraaqualMonsenhorRifanfoiconsagradobis-poem�8deAgosto.Tornadoparaaocasião bi-ritualista, Monsenhor Ri-fandefendeagoraanovareligião.Eleestáorgulhosodepoderdeclarar:«Eupensohaverdemonstradoqueacoa-bitação é possível eútil, simultanea-mente,paraostradicionalistaseparaos progressistas». Para Rifan e seuscolaboradores, o abster-se completa-mente de comparecer à nova missaconstituiumactocismático.Navarrohaviaconsumadoum«trabalhosujo».

Foipromovidoaumarcebispado.Umnovobispo,menosactivista,eaparen-tementemaisconciliador,lhesucedeu–MonsenhorLefebvreeMonsenhorCastroMayerjátinhamfalecido;ape-nasummuitodiminutoagrupamentodefiéisseorientouparaoMosteirodeSantaCruzeossacerdotesdaFrater-nidadeSacerdotalSãoPioX.

Este olhar sobre um passado aindabemrecente,auxiliaráareflectiracer-cadofuturoedasrazõesobjectivasdoprosseguimentodonossocombatedaFé,segundoascoordenadasdestasduasgrandesfigurasepiscopais.ParaelesaGraçadotestemunhodaFéele-vava-seacimadetodaequalquervan-tagemcanónicaoumaterial.

AbbéBrunoSchaeffer

DomGérardCalvet

Transcorria o mês de maio de �97��,quandochegueiaBédoin,acompanha-doporumamigodeminhafamília,oProf.GladstoneChavesdeMelo.

VejoaindaaportadeserviçoquedavaparaaestradaeDomGérard,comseuhábito de trabalho, que nos recebeucommuitaafabilidade.Apaisagemeo próprio mosteiro eram muito bo-nitos, sobretudo a capela do séc. XI,comsuatorrearredondada.DomGé-

rardtinhaorganizadotudocomgos-to,guardandoumespíritodegrandepobreza.Sobreamesadenossacela,encontrei um livro “A Doutrina Mo-nástica de Dom Romain Banquet”,noqualpudetomarconhecimentodavidaedaobradoPe.Muard.

Alguns meses depois, em �� de outu-brodomesmoanode�97��,tomeiohábitoecomeceiomeunoviciado.

Nessa época, Dom Gérard estava

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muitopróximodeDomLefebvre.Eleserá suspenso “a divinis” e excluídoda ordem beneditina, em virtude desuauniãocomofundadordeEcône,vistoque,emconseqüênciadapassa-gemdeDomLefebvrepelomosteiroem�97�,umatremendatempestadeiriaseabatersobrenossacomunida-de.DomLefebvretinhaconferidoasordens menores a dois de nossos ir-mãos,osirmãosJehandeBellevilleeJoseph Vannier. Isso foi o suficienteparaqueoAbadedeNotreDamedelaPierre-Qui-Vire,DomDenisHuer-re, viesse fazer-nos uma visita. Tan-to quanto eu pude compreender, elequeriatirarDomGérardecolocarumoutrosuperioremseulugar.Osmon-ges, reunidos em capítulo diante deumAbadedeternoegravata(nãomelembrobemsedegravataousemela,masdoternomelembrobem),desen-ganaramasesperançasdesteúltimo.DomDenissefoibastantedesconten-te e nós acabamos excluídos da Or-dembeneditina.TudoistoporcausadenossauniãocomDomLefebvre.

Em�97��,nossoIr.JehandeBellevillefoi ordenado padre em Ecône, numacerimôniaqueficougravadaparasem-prenamemóriadosassistentes.DomLefebvretomaraadecisãodeprosse-guirseucombatepelaTradição,ape-sardasinterdiçõesdeRoma.“Eunãoquero escutar, após a minha morte,Nosso Senhor dizer-me: ‘Então vocêtambém contribuiu para destruir aminhaigreja’.”Todoomosteiro,comDom Gérard à frente, estava unido

de coração e pensamento ao grandeBispo,cujaféeaconfiançaemDeusespantavam o mundo e enchiam deadmiraçãoedealegriaosverdadeiroscatólicos.

Nessemesmoano,eufizmeusvotosperpétuos.GustavoCorçãoveioparaa cerimônia. Em seguida, escreveuumbeloartigosobreDomGérardeomosteiro.Pareciafelizcomaescolhafeitapeloantigoaluno,paranãodizerdiscípulo. Dois anos mais tarde, elefaleciaemsuacasa,noRiodeJaneiro,deixandooexemplodeumafidelida-dejamaisdesmentida.

Em�980,fuiordenadopadreemEcô-ne.Tudosorriaà jovemcomunidadequepareciaseroramoreligiosoomaisvigorosoeomaisfieldaTradição.Vo-caçõesnoschegavamdequasetodosos continentes e nós preparávamo-nos para mudar para o Barroux (�),abandonando com pesar, o pequenomosteiro de Bédoin, muito pequenopara receber os numerosos candida-tosquebatiamàsnossasportas.

Agora,apesardoentusiasmoquerei-navanomosteiro,haviajádentrodenossos muros alguma coisa inquie-tante,queexplica,ameuver,aderivaque iria conhecer nossa comunidadealguns anos mais tarde. Isso podesurpreender.Omosteironãogozava,comjustarazão,daconsideraçãoees-timageral?Todaacristandade,comodiziaumpadredominicano,aínãovi-nhaparabeberdasfonteslímpidasdaTradição?Nãohádúvidaquemuitos

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encontraramoureencontraramaTra-diçãoemBédoin.Noentanto,algumacoisa nos faltava e o que nos faltavaeraaquilomesmoquefaziaocentroearazãodeserdaobradeDomLefev-bre:aformaçãosacerdotal.

Alguém me disse que Dom LefebvretinhapropostoaDomGérardenviarseusfuturospadresaEcône.Éprová-vel. Dom Lefebvre sempre abriu ge-nerosamente as portas de seu semi-nário.Maso fatoéqueDomGerardpreferiu guardar-nos no mosteiro.Talvezfossemelhorparaa formaçãoreligiosa, mas certamente não o eraparaaformaçãosacerdotal.

Vale à pena aprofundar um poucoestaquestão,porqueelaédegrandeimportância.AformaçãodadaemBé-doin,desdequeeuchegueiatéminhaordenação, era bastante informal.DomGérardapelavaparaadedicaçãodealgunsreligiosos,osquaisvinhamdar-nos algumas aulas. Assim é quetivemosoPadreGuérarddesLauriersOP para Metafísica e o Padre SimonOMI para os sacramentos e algunsoutrosparaconferênciasbastantein-teressantesouparaosretiros.Dessemodo conhecemos o Pe. Eugène deVilleurbanne OFM, o Pe. de ChivréOP, o Pe. Philibert de Saint DidierOFM,oPe.deMonléonOSBeoslei-gos como Jean Madiran, Pierre Vi-rion,GustaveThibon,HuguesKéraly,emuitosoutros.Masasconferênciasemesmoessescursosnãoformavamum conjunto suficiente para dar-nos

uma verdadeira e sólida formação.Além disso, os cursos não eram da-dos na ordem desejada e, na maiorparte,ficavambemincompletos.En-tãoDomGérardfazia-sedeprofessorpara ensinar-nos alguns tratados, odaIgreja,seguindoolivrodoCardealCharlesJournet,o“deDeoUno”eo“De Trinitate”, mas de uma maneirabastante resumida, infelizmente.Elepedia também aos alunos que des-sem cursos uns aos outros, mas nósnão éramos bastante capazes. Haviamuito poucas aulas por semana e asprovaseramraríssimas.Foiassimquevárias matérias ficaram mais ou me-nos ignoradas ou mal aprofundadaspelaprimeirageraçãodeBédoin.

DomGérard,elemesmo,erabastan-te eclético. Fizera sua síntese, comodizia, apanhando em toda parte oque lhepareciaútil.Elepensavaquedevíamossercapazesdefazeromes-mo.Comoasabelhasfazemomeldaessência de todas as flores, dizia, omongedevepoderfazerseu ‘mel’deváriosautoresdiferentes.Mesmonasflores venenosas, o monge prudentesabeencontrarbenefício.Émuitobo-nito; mas em primeiro lugar é preci-sotornar-seessemongeprudentee,paraisso,nãonosforneciamosmeiosadequados.

AmaneiradeagirdeDomGérarderamais romântica que realista. SantoTomás, segundo ele, tinha um siste-ma. Outros tinham outros sistemas.Issodeixavapairarumadúvidasobre

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alegitimidadedeumaformaçãofran-camenteescolásticaedesuarealne-cessidadetalcomoSãoPioXaapre-sentou na Pascendi, e no código deDireitoCanônico.

Dom Gérard estava muito mais pró-ximo dos escritores do que dos teó-logos. Frequentemente, tínhamos aimpressãodefazermaisliteraturaemBédoindoquefilosofiaeteologia.

O resultado era que da escolásticaconhecíamos mais o nome do que ométodo, e da Summa, mais as con-clusõesdoqueaargumentação.Con-templávamosoexteriordobeloedifí-cio doutrinal da Igreja sem penetrarverdadeiramente em seu interior e,sepenetrávamosumpouco,eramaiscomoprofanosdoquecomohomensde ofício. Pode-se dizer que o papeldos monges não é o de tornarem-seteólogos.Oscontemplativosnãotêmnecessidadedeumagrandebagagempara entregarem-se à contemplação.Isso pode ser verdade em alguns ca-sos, mas se estávamos destinados areceberosacerdócio,seéramosmon-gesepadres,seentrenósalgunses-tavamdestinadosaensinar,então,épouco concebível que não fôssemosinstruídos no método de Santo To-más,segundoasdiretrizesdaIgreja,sobretudonacriseatual.

A teologia moral era ainda uma ou-tra dificuldade. Dom Gérard pareciadesconfiar dos autores comumenteensinados. Quando fui para Ecône,paraumanodeestudosepararestau-

rarasaúde,quatroanosapósminhaordenação, Dom Gérard me impediude assistir ao curso de moral do Pe.Laroche,cujolivrodereferênciaeraomanualdePrümmerOP.Certamente,DomGérardoachavaumtantolimi-tado ou insuficiente ou estreito ouainda alguma coisa que me escapa?A par disso, Dom Gérard telefonavafrequentementeaDomLefebvreparasubmeter-lhecasosdemoral,cujares-postaestavasimplesmentenoslivrosque ele não estudava e nem queriaquenósestudássemos.Condutacon-traditória,frutodafaltadeformaçãosacerdotalparanãodizerda faltadefé esclarecida ou, ao menos, de bomsenso.

À falta de ciência se acrescentava,comoeradeseesperar,afalsaciência.Não podia ser de outro modo. Quecoisas estranhas não escutamos nointeriordomosteiro,sejanoscursos,sejanasconversascomosprofessoresoucomDomGérard!

Atese,segundoaqualaSagradaEs-crituracontémerros,nosfoiensinadaeforamosalunosque,comdificulda-de,fizeramDomGérardcompreenderquequemerravaeraonossoprofes-sor e não as Escrituras. Tendênciasfavoráveisaalgumasmudançasfeitaspor Paulo VI cresciam a cada dia nacomunidadeeinovaçõesforamintro-duzidasnessesentido.Umdenossosprofessoresdeixouomosteiroeade-riuàNovaMissa.Emexegesenóses-cutávamosafalsateoriadoPe.Benoît

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OP sobre a identificação entre Res-surreiçãoeAscensão.Semcairnoex-cessodeafirmarqueemBédoinenoBarrouxéramosmodernistas,écertoque não tivemos em Dom Gérard amesmapureza,vigilânciaesegurançadoutrinal que em Dom Lefebvre. Senãoéramosmodernistas,oclimaqueaíreinavanãonosprotegiaosuficien-te nem contra o modernismo nemcontraumcertoliberalismo.(��)

Conversei em Ecône com Dom Lefe-bvre sobre tudooqueacontecia.Eleescutou-me paternalmente e convi-dou-mea terpaciência.Emborapre-ocupado, Dom Lefebvre tinha a sa-bedoriadosquesabemqueascoisashumanassão,pornatureza,imperfei-tas,frágeis,sujeitasouasobressaltossalutares ou então a quedas dificil-mentereparáveis.Issoaindanãoeraocaso,masiriaviraser,infelizmente.

É por essa época, em dezembro de�98��, que Dom Gérard foi a Roma,paratratar,senãomeengano,dare-gularizaçãodenossomosteiro,exclu-ídodepoisde�97�,daOrdembenedi-tina.Lá,encontrou-secomoCardealRatzinger e regressou fascinado. “Ocardeal,dizia,éalguémcomquemsepodetrabalhar.DomLefevbreémui-to fechado.” E imitava a atitude deDomLefebvrecomoalguémqueestáamuadonoseucanto.“Alémdomais,nãoéprecisoquesejaDomLefebvrequeordenenossospadres.UmoutroBispopodeigualmentefazê-lo,desdequeofaçacomoantigoritual.”Enre-

gelavam-se os nossos ossos escutan-dotudoisso.(�)

Dom Gérard decide então fazer umacordo com Roma. No entanto quis,imediatamente,obteraaprovaçãodeDom Lefebvre. Telefonou-lhe. DomLefebvre espantou-se e fez de tudopara dissuadi-lo. Mas Dom Gérardtinha sua própria idéia. “É precisosaber perder uma batalha para ga-nhar a guerra”, dizia. Dom Lefebvretelefonouaseguirparaosamigosdomosteiro e pediu para intervirem,para evitar o pior. Finalmente, DomGérard cedeu. Tínhamos escapadopor pouco, mas somente por algumtempo. Durante esses telefonemas,eu me encontrava em Ecône e DomLefebvrefalou-medesuaspreocupa-ções.DeveriairaoBarrouxparapre-gar-nosumretiro,masnãosesentiamais à vontade. “Eu temo, dizia ele,que as palavras não saiam de minhaboca”.Asituação,comsepodeperce-ber,eratensa.Fizomelhorquepudeparaconvencê-loa ir.Felizmenteeleveioaomosteiro.

Esse retiro, pregado em �98�, fezmuito bem à nossa comunidade. Naocasião,nossas irmãsquiseramtam-bém um. Dom Lefebvre pregou-lhesem agosto de �987. Parece que elasficaramaindamaiscontentesdoqueosmonges.

Emfinsde�98��,euviajeiparaoBra-silcomDomJosephVannierparaverumterrenoquenoseraoferecidoporum generoso benfeitor, Eng. Sileno

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José Ferreira da Costa, com vistas auma fundação. Eu estava um poucoaliviado de deixar Barroux, cuja at-mosferasefaziacadavezmaispesa-da.Sentia-seomosteiroresvalarporumaperigosaladeira.

Em�demaiode�987,omosteirodeSanta Cruz é oficialmente fundado.Dom Gérard veio visitar-nos em se-tembro do mesmo ano, para a festada Exaltação da Santa Cruz. Apesardetudo,DomLefebvretinha-lhecon-fiado uma missão importante: a deperguntaraDomdeCastroMayerseeleteriaalgunspadresquepudessemsersagradosemEcône.Aindaqueeuestivessepresente,nãomelembrodaresposta de Dom de Castro Mayer.Creioquenomomentoelenadares-pondeu. Um leigo assegurou-me queDom de Castro Mayer era bastantefavorável à idéia. Seja como for, ha-via,aomenos,umahesitação.Talveza data da sagração, prevista primei-ramente para a festa de Cristo-Reido ano de �987 (ou uma outra datadomesmoano),deixoupoucotempopara Dom Antônio refletir. Em todocaso,DomGerárdrealizousuamissãoeretornouàFrança.

Noanoseguinte,DomLefebvredeci-diurealizarassagraçõesnodia�0dejunhoemEcône,apósosdramáticosacontecimentos que são conhecidosdetodos.DomGérard,queantesto-marapartidopelassagraçõescomumretumbantesermão,acaboupormu-dardeidéia.Romaaproveitouaoca-

sião(senãofoielaquemcausouessamudança) para estreitar as ligaçõescom Dom Gérard. O Cardeal Mayerfaz contacto com Barroux. Do BrasileuviajoparaEcônejuntocomacomi-tivadeDomdeCastroMayer.

EmEcône,DomBasílioOSBdoBar-rouxmeconfiouumamissão,oume-lhor,umaordemdapartedeDomGé-rard.Devo“apresentar”DomBasílioaDomLefebvre,poisaqueletinhaumaimportante comunicação a fazer aovenerávelBispo.Era,nemmaisnemmenos,explicaraDomLefebvrequea Dignitatis Humanae era conformeaTradição.Eisondechegavaaforma-çãodadaemnossomosteiro.

No dia seguinte, depois do café, fuiencontrar-me com Dom Lefebvre eexplicar-lhe a situação: “Se Dom Ba-sílioaindanãocompreendeuaques-tão, ele não a compreenderá nunca.Dequalquermodo,estenãoéomo-mentodetratardisso.”Eraodia��9dejunho, se não me engano. A cerimô-nia das ordenações não demoraria acomeçar.Apesardisso,nessamesmamanhã,euseriaobrigadoavoltaraosaposentosdeDomLefebvreparatra-tardeumoutroassunto,aoqualeledará toda sua atenção. Com efeito,Dom Gérard, que já estava no semi-nário, me contou a conversa que eletiveracomDomLefebvreemZaitzko-fen,algunsdiasantes.“DomLefebvreestá de acordo com que façamos umacordocomRoma”.Semacreditar,vique era necessário voltar a ver Dom

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Lefebvre,apesardahora.DeixeiDomGérard,entendi-mecomos“seguran-ças” (poishaviaumpequenoserviçodesegurançaparaprotegerDomLe-febvrenestaocasião)paraquemedei-xassepassar.BatiàportadeDomLe-febvre. Ele fez-me entrar. Narrei-lheentãooqueDomGérardmedissera.Dandoumgolpenamesa,elepronun-ciou estas palavras com gravidade epreocupação:“Eunãodisseisso!Issoé muito grave! Muito grave!” PobreDomLefebvre!Eisque,navésperadassagrações,eledeviacarregaramuitopesada cruz de um provável “cisma”deDomGérard.IssoarriscavadividiraTradiçãonaFrançaereforçaropar-tidodealgunspadresdaFraternidadedeS.PioX,osquaisjásepreparavamparafundaraFraternidadedeSãoPe-dro.Quantaenergiad’almanãodeve-riaterDomLefebvreparapresidir,se-renamente,àslongascerimôniasdosdias��9a�0dejunho,carregandonocoraçãotantasinquietações?Nofinalde nossa breve conversa, disse-me:“Faça alguma coisa com vosso PadrePrior.” Havia, quem sabe, um poucodehumornessaspalavras.QuemsabeaindaumapequenaesperançadequeDom Gérard não se deixasse total-mentecegar.Noentanto,parecia-meimpossíveleuterqualquerinfluênciasobreDomGérard.

Nodia�0,diadassagrações,DomGé-rardpareciaexcessivamenteexcitado.Duranteacerimônialevantou-seporum momento, para ir tomar ar. Elenãoparavaquieto.

Retornei ao Barroux, após as sagra-ções,etiveaconfirmaçãodequeDomGérard havia alterado as palavras deDom Lefebvre ditas em Zaitzkofen.Um padre, que testemunhara a con-versa entre Dom Lefebvre e DomGérard, me confirmou o que disseraDom Lefebvre. Da mesma maneira,assegureiaDomGérarddoqueDomLefebvremefalaraemEcône.Recebiuma resposta bastante brutal: “DomLefebvre,comaidade,perdeamemó-riaeocaráter.”Acisãojáestavafeita.O que viria a seguir não seria senãoconseqüência.

DomGérarddestruíaassimsuaobra.Apesar das lacunas, era uma belaobra. Os ofícios eram rezados commuita atenção, as virtudes monásti-caserampraticadascomoprobidade,e tínhamos excelentes vocações quenos chegavam de famílias verdadei-ramente católicas e tradicionais. Omesmohavianomosteirodasnossasirmãsbeneditinas.

Dom Gérard quis fazer um mosteirotradicional, mas faltou-lhe compre-ensãomaisagudadacriseatual.DomGérard via a necessidade de conser-var a missa de sempre; de preservarasobservânciasmonásticas,masnãopercebia bem o perigo do modernis-moedo liberalismo.Oaspectomaisprofundodacriseescapava-lhe.Tudoissopermitiu-nosmensurarmelhorovalordeDomLefebvreedesuaobra.DomLefebvreviucomexatidãoomale avaliou toda a gravidade da crise.

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Eleteveumavisãoteológicadasitua-ção,nosentidomaisexatodotermo.IssofaltavaaDomGérardque,comoJeanMadiran,viaadeserçãodosbis-pos,masnãoqueriaveradosPapasliberais.

Nesse meio tempo, retornei a SantaCruz. Eu sabia que alguma coisa sepreparava no Barroux. Dom Gérard,após as sagrações, evitara encontrarDom de Castro Mayer que fora aoBarroux para vê-lo. Na comunidademuitos estavam inquietos. No mos-teirodasirmãstambémoclimaesta-vatenso.

Quando a notícia dos acordos che-gou,nósjáaesperávamos.Primeira-mente, decidimos abandonar SantaCruzetudodeixarparaDomGérardeàquelesquequisessemsegui-lo.UmacartadeMons.Lefebvrefez-nosmu-dar de idéia e nós guardamos SantaCruznoseiodaTradiçãocomaajudadosleigos,emparticulardoDr.JúlioFleichman que não obstante, depoisdisso, contou esses acontecimentosdemodo inexato,num livropublica-do em �99��, obrigando-nos a fazerpublicamente um pequeno protesto,aliás muito brando, devido aos laçosqueuniamminhafamíliaàdomesmoDr.Júliodesdehámuitotempo,porcausa de Gustavo Corção, em tornodoqualnossasfamíliasencontravamumambientedeverdadeirocatolicis-moesinceraamizade.

Após esta separação, não tivemosmaiscontactoscomDomGérard.Em

compensação,DomLefebvretornou-secadavezmaisoqueeleéparatodosos católicos fiéis, isto é, o Bispo fiel,sucessordosApóstolosquenosdeuadoutrina e os sacramentos de NossoSenhorJesusCristoparasalvaçãodenossasalmas.

Ir.TomásdeAquinoO.S.B.

(�)NomedalocalidadenosuldaFran-çajuntodaqualfoiconstruídonossomosteiro definitivo sob o patronatodeSantaMariaMadalena.

(��) Eis alguns autores que estavamsejaemtodasasmãos,sejanasmãosdealgunsprofessoresounasdeDomGérard:RogetOP,Journet,BenoîtOP,FeuilletPSS,DaniélouSJ,BotteOSB,etalvezmesmoCaselOSB.QuantoaLambertBeaudoinO.S.B.DomGerarddizia:“Algunsfalammuitobemdele,outros, pelo contrário, mal demais.Algum dia poremos os pontos nos“iis”.Mas,queeusaiba,estespontosnos“iis”nuncachegaram”.

(�)UmmongequeestavanoBarrouxnestaépocaescreveu-me:“Eusemprepensei que o encontro com o Carde-al Ratzinger, muito inteligente e ca-tivante, fora determinante. Mas eunãosabia-oquefiqueiagorasabendo-quejánessaépocanóshavíamoses-capadoporumtrizdeumacordo.eunãosabiaqueascoisastinhamidotãolonge.”

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Quantotempoduraráacrise?

Todo o poder me foi dado no Céu e na Terra. Ide pois ensinar todas as nações, baptizando-as em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo.

EisamissãodaSantaIgreja,amissãodaFraternidadeSãoPioX,bemcomoaFéquenóspossuímosnoPoderdeNossoSenhorJesusCristo,noPoderdo Cristo Rei, do Cristo Sacerdote,OQualvivificaanossaFraternidadedesde a sua fundação. Nós travámoseste combate pelo Cristo Sacerdote,pelo Seu Sacerdócio, pelos Seus sa-cerdotes,epeloCristoRei,querdizer,por uma cidade católica, por um Es-tado Católico. E nós continuaremosalutar,meusqueridosfiéis.Emcon-formidade com o procedimento dossantosnosprimeirosséculosdaIgre-ja,confrontadoscomasheresiasqueminavamaFéCatólica,talcomohoje.Háumacomparaçãoafazerentreasheresias arianas contra a SantíssimaTrindade,eaheresiaactualcontraoSacerdócio e a Realeza de Nosso Se-nhor Jesus Cristo. Pois bem, eu ini-ciareiestacomparaçãosimplesmentevosexpondotrêsheresiasdaAntigui-dadeCristã,queforamvencidaspelossantosepelosPadresdaIgreja.

A crise ariana

Então,primeiroquetudooarianismo.Ário,padredeAlexandria,noEgipto,ergue-se contra o dogma Católico,

declarando: « Não, o Verbo de Deus,oFilho,nãoé igualaoPai.ElenãoéDeus.OVerbodeDeuséumacriatu-ra.»EcitaSãoPauloatortoeadireito,afirmando:«Sim,éoPrimogénitodetoda a criatura». São Paulo escreveuisso:Jesus,oVerboéoPrimogénitodetodaacriatura,ousejanoplanodeDeus.Deusconstituiu-OemprimeirolugarnoSeuplanodaCriação.EleviuSeuFilhoincarnado,etc.

Arius diz: « Não, é indigno de Deustornar-se carne. Eu descobri umanovadoutrina.Não,Deusnão incar-nou.OVerbonãoéDeus.»

UmverdadeiroConcílio,oConcíliodeNiceia,reuniu-seentãoparacondenarÁrioedeclararqueoVerbodeDeuséemtudoigualaSeuPai,queoVerboéconsubstancialaoPai.Enósconfes-samo-lotodososDomingosnoCredo(SímbolodeNiceia-Constantinopla):Consubstancialem Patri. O Verbo,Deus Filho, é consubstancial a SeuPai. Eles formam ( consubstanciam)umasósubstância,umsóDeus.Tra-ta-sedumtermofilosófico,oqualsenãoencontranaBíblia.EosPadresdoConcílio hesitaram em assumir estetermo que constituía um vocábulofilosófico oriundo dos pagãos, e quepodia significar realidades inteira-menteestranhas,comodizerqueporfim,DeusPaieDeusFilhoconstituemduas máscaras duma só pessoa. Em

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Deushaveriaentãoumasópessoa,aqualassumiria,cadaumaporsuavez,amáscaradePaiouamáscaradeFi-lho.

ESantoAtanásio,elepróprio,sentiudificuldades em adoptar este termo« consubstancial», mas finalmente,eleassumiu-o.ESantoAtanásioapli-cou o Concílio de Niceia. Ele lutou,combateu,sofreu, foienviadoparaoexílio, refugiou-se no deserto, etc. Etudo por causa da Fé na SantíssimaTrindade. Para defender a igualdadeabsolutadoPaiedoFilho.Paradefen-deraDivindadedoVerbodeDeus.

Não é isso que nós devemos imi-tar, queridos fiéis, combatendo sempiedade os heréticos arianos? E é aenergiadeSantoAtanásio,aqual,emgrande parte, pôde vencer a heresiaariana. Portanto não cessemos, emcasoalgum,ocombatequevaidurarainda,emmeuentender,vinteanos.Porque a crise que hodiernamentesofremos,éumacrisegrave,daíumacriselonga,eaHistóriadaSantaIgre-jademonstra-nosquetodasascriseslongas perduraram setenta anos. OArianismo, o Grande Cisma do Oci-dente,etc.Eportantoacriseconciliardurarásetentaanos.Nóstemosdees-peraraindatrintaanos.Nãoacredite-mosnumavitóriademasiadorápida.Nóstê-la-emos,porqueNossoSenhorJesusCristooutorgoutodoopoderàsuaIgreja-enóssomosIgreja.

A heresia nestoriana

Segunda heresia que surgiu ulterior-

mente,trata-sedaheresiaNestoria-na.

Nestório, bispo, Patriarca de Cons-tantinopla,declara:queVerbumcarofactusest«oVerbofez-secarne»éumescândalo.ÉumescândaloqueDeusSeunaaumacarne,querdizer;oCor-podeNossoSenhorJesusCristo,talconstituiumescândalo.DeusépuroEspírito, Ele não pode unir-se a umcorpo.Talrepugnaàfilosofiadaépo-ca, e eu, Nestório, eu vou encontrarumaoutracoisa.Não,éJesus,oho-memJesus,oqualpelosseusméritos,mereceuaDivindade.PortantoJesuséquesetornouDeus.PortantoJesuséDeus.JesuséDeus,estáperfeito,aíestá».

PortantoNestórioprofessavaaFéCa-tólica,nãoéverdade?JesusCristoéDeus, sim, mas atenção, como? NãoéDeusquesetornouhomem,éoho-memquesetornouDeus.OhomemJesusquesetornouDeus!?Seráqueistoécatólico?QueohomemJesussetenhatornadoDeus?Masdemaneiranenhuma; é herético! E infelizmenteéprecisamenteaquiloqueumprofes-sordeRatisbona,hàcercade��0anosprofessavaeensinavanosseuscursos,afirmandoqueJesussaitãointensa-mentedesimesmo,pelasuacaridade,queelemesmosedesdobraparaforadesi,unindo-seaoUno,querdizeraDeus. Trata-se duma heresia que seassemelhaàheresianestoriana. Por-tanto,permaneceidesobreavisoque-ridosfiéis,professemos a Fé Cató-

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lica como deve ser.Nãoésuficienteafirmar que Jesus Cristo é Deus; énecessáriodeclararquefoiDeusqueincarnou. Deus fez-Se Homem, talconstitui o mistério da Incarnação.E então houve santos como São Ci-rilo de Alexandria que lutaram porisso,porqueeledisse:«SeJesusnãoéDeus,seéapenasumhomem,entãoaSantaVirgemcolocounomundoumhomem.».PortantoaBem-Aventura-da sempre Virgem Maria não é MãedeDeus.«SantaMariaMãedeDeus,rogaipornós»,não,não.ASantaVir-gem é mãe do homem Jesus Cristo.Ah! Heresia! Ofensa a Nossa Senho-ra!ComorenegarasuaMaternidadeDivina?ESãoCirilodeAlexandriaer-gue-se,ecomele,oConcíliodeÉfeso,declarando:«Não,aBem-Aventura-dasempreVirgemMariaéverdadei-ramenteMãedeDeus.ElacolocounomundoumDeus,OQualjáeraDeus.OHomem-Deus,NossoSenhorJesusCristo».SeElaéaMãedoHomem-Deus,ElaéaMãedeDeus,oseuFilhoéDeus.DeusFilho.Eisumsantoquenãohesitouemrefutarasheresias-eporissofoiperseguido.

Refutar as heresias e explicar a FéCatólica,talcomonósdevemosfazerhoje,meusqueridosfiéis,refutandoaliberdade religiosa e explicando a FéCatólica!Aliberdadereligiosaquepre-tendequeserespeitemtodosaquelesqueprofessamoserrosreligiosos,quepretendequeoEstadodeixeemliber-dadetodososerros,etodasasfalsasreligiões,etudoemnomedaliberda-

dehumana.Enósrespondemos:não!ÉNossoSenhorJesusCristoquedevereinar, é Nosso Senhor Jesus Cris-toquedevereinarnoscorações,quedevereinarpublicamentenaCidade.ACidadedevesercatólica.Vósvedes,nósqueremosrefutaroerrodestafal-sa dignidade humana, da liberdade,que o Estado deveria tolerar, respei-tar. O que é impossível, que é falsoe sempre falso. Consequentemente,afirmemos,pelocontrário,aVerdade:ÉNossoSenhorJesusCristoquepos-sui o Direito de reinar publicamentenaCidade,noEstado.

Eisoquenósdevemosfazer,aexem-plodeSãoCirilodeAlexandria.Enãoacreditemos que hoje, porque Romanospropõeumacordo,umasituaçãooficial no seio da Igreja, que nós de-veríamosrenunciaraproclamarestasverdades, evidentemente fortes, quecontradizemformalmenteoConcílio.Nósnãodevemosrenunciaracomba-teroConcílioeseuserros.

A heresia dos pneumatómacos

Emterceirolugar,umoutroexemploquevosfacultarei,taléaheresiadosPneumatómacos. Após o ConcíliodeÉfeso,pessoasvieramafirmar:«OEspírito Santo não é Deus». Tercei-raheresia:DeuséoPai,sim,Deuséo Filho, mas o Espírito Santo não éDeus.OEspíritoSantoéumacriatu-ra.AprovaéqueNossoSenhorJesusCristooenvia.”OParáclito,oEspíritodaVerdadequevosenviareidapartedo Pai.” Se Jesus envia alguém, esse

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alguéméumacriatura.

Então,meusqueridosfilhos,seráqueéverdadequeoEspíritoSantonãoéDeus? Eu espero que estejam prepa-rados para protestar, para professara vossa fé! Sim, o Espírito Santo éDeus,comooPaieoFilhosãoDeus(…)Nósdizemosbem:«EmNomedoPai,doFilhoedoEspíritoSanto»parademonstrarmos que as três PessoasDivinas são todas as três Deus. EmNomedoPai.HáumsóNomeSubs-tantivo,umasóunidadedeessência;doPai,doFilhoedoEspíritoSanto.UmsóDeusemtrêsPessoas.OEspí-ritoSantoéDeus.EentãoSãoBasílioergueu-se para protestar contra esteerro, proclamando « Não, o Espíri-to Santo é verdadeiramente Deus».NósdevemosadoraroEspíritoSantocomooPaieoFilho.SãoBasíliolutouporisso,etriunfoudoerro.

Aproximando-sedasoluçãodacrise,apóstalvezvinteoutrintaanos,SãoBasílio diz: «Agora se os heréticoscomeçarem a converter-se, isso serábom.»

Se pelo menos os conciliares inicias-semoprocessodasuaconversão;masnãoéocaso.Nenhum,nememRoma,nemnasdioceses.Nenhum!

Então,SãoBasíliovendocomooshe-réticos, os pneumatómacos como sedizia,iniciavamoprocessodasuacon-versão, o seu regresso à Fé Católica,decidiunãoosprecipitarcomaspere-za,compelindo-osadizer:«OEspíritoSantoéDeus»,poisquetrilhandoum

talcaminho,osheréticosteriamhesi-tadoemabraçaraFé.EntãoSãoBa-síliousoudumaformadoce,afirman-do:OEspíritoSantodeveseradoradocomoPaieoFilho.ErecebeamesmaglóriacomooPaieoFilho»Nósde-vemosadoraroEspíritoSanto,comooPaieoFilho.EdevemosatribuiraoEspíritoSantoamesmaglóriadoqueaoPaieaoFilho.Umafórmuladoce,mas que professa a Fé Católica semequívocos. Se nós devemos adorar oEspírito Santo, é porque Ele é Deus.Se nós devemos atribuir ao EspíritoSantoamesmaglóriadoqueaoPaieaoFilho,éporqueoEspíritoSantoéDeus.Portanto,SãoBasílionãousoudepalavraequívocafaceaosheréticosque regressavam à Igreja. Ele exigiuqueelesprofessem,elesmesmos,aFéintegral,masutilizandoumafórmuladoce.SãoBasíliousoudePrudência,eissoémuitobom,masprofessandoaverdadeiraFé,não aceitando assi-nar equívocos,meusqueridosfiéis.

Eiscomodevemosprocederhoje:re-cusar as fórmulas equívocas, não cessando de condenar o erro e de professar,correctamente,a Fé Ca-tólica;equandoosconciliares,dentrodevinteoutrintaanos,regressarem,searrependeremdoconcílio,quandoeles contemplarem a continuação dacatástrofe, os Seminários completa-mentevazios,asigrejasemruínas,aapostasiaeaimoralidadetotalmentegeneralizadas, então, eles quererãofazerpenitência,arrependidos.Entãosim, quando os conciliares, no seio

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daIgreja,fizerempenitência,quandoeles começarem a fazer penitência ,nóspoderemosutilizar fórmulasdo-ces para os ajudar a regressar, mas não agora,numtempoemqueacri-se ferve,deformatotalmenteplena.Agoranósdevemosafirmareconde-naroserrosdoConcílio,especialmen-teanegaçãodoCristo-Rei,arecusadoCristo-Rei.

Eisassim,carosfiéis,onossoprogra-made combate. Nãonos iludamosanós mesmos, a crise não se encon-tra próxima da sua solução. Vai ser necessário combater ainda por muito tempo e portanto devemosorganizar-nosparasubsistirmos,pro-fessandoaintegridadedaFéCatólica.Numa total confiança no Poder deNossoSenhorJesusCristo.

Todo o poder Me foi dado no Céu e na

terra. Ide pois, pelo mundo inteiro. Pre-gai a verdade, pregai a Santíssima Trin-dade, pregai o Cristo Rei, pregai o Cristo Sacerdote. Depositai assim confiança na minha Santíssima Mãe, na minha Santa Mãe que é medianeira de todas as Gra-ças, que distribui todas as Graças. É por ela que eu triunfarei de todos os meus inimigos. É por ela que eu reconduzirei ao seio da minha igreja a fé católica inte-gra. depositai confiança na minha mãe, virgem imaculada na sua fé.

QueElanosguarde,aSantíssimaVir-gem,aFéImaculada.

MonsenhorBernardoTissierdeMal-lerais

(SermãopronunciadoemSaintNico-lasdeChardonnet,noDomingo�deJulho de ��0���, Festa da SantíssimaTrindade)

“Querida”liberdade!

Nodia��dedezembroecomaassina-turadoCardealWilliamLevada,Pre-feitodaCongregaçãoparaaDoutrinadaFé,oVaticanopublicouuma“nota sobre certos aspectos da evangelização”.Algunsviramnistoumretornoàdou-trinamaistradicional.Defato,anali-sando-amaisdetidamente,podemos

ver que não é assim. É verdade quese condena certo relativismo religio-so;noentanto,nãoseexpõearazãoessencial que impulsiona a Igreja hádois mil anos a enviar seus missio-nários ao mundo inteiro. E esse era,porém,oobjetivodanota!

Com efeito, o documento evoca (§

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�0) a ordem dada por Cristo: “Ide,pois, fazeidiscípulosdetodasasna-ções, batizando-os no nome do Pai,do Filho e do Espírito Santo, ensi-nando-lhes a guardar tudo o que Euvos ensinei”, mas não expõe a razãoemquesefundaestemandato,equeseencontranestasoutraspalavrasdeNossoSenhor,quenemsecitamnemsão comentadas no mencionado do-cumento: “Quem crer e for batizadose salvará; quem não crer, se conde-nará”. A Igreja é missionária porquequer arrancar as almas da perdiçãoeentregá-lasaJesusCristo.É issooquegostaríamosdeterlido!

O Prefeito da Congregação para aDoutrinadaFéparecequererignorarestaverdadeessencial.Aomenoscrênela? Contenta-se em citar (§ 7) di-versosdocumentosdoúltimoConcí-lio,taiscomo:“Osnãocristãospodemsalvar-sepormeiodagraçaqueDeusdá<<porviasquesóEleconhece>>”.Agora bem, se podemos salvar-nosem outras religiões à margem da re-ligiãocatólica,quesentidoháemqueaIgrejasejamissionária?Earespostaé:sóparadarlugaraumaamizade.“AIgreja pode passar por alto que nes-temundolhesfaltaumgrandebem:conheceroverdadeirorostodeDeuse a amizade com Jesus Cristo, Deusconosco”(§7).PorquenãoafirmaoCardeal que esta amizade com Cris-to não pode existir verdadeiramenteforadaIgrejaCatólica?Oquefazeledodogma“ForadaIgrejanãohásal-vação”?Deixaemsilêncioestaverda-

de,porqueéprecisosalvarejustificaroespírito“profético”deAssisiniciadopor João Paulo II e continuado peloPapa Bento XVI com o encontro deNápolesháalgumassemanas.

Comorigordaverdade,lendoodocu-mentoseentendequeocatólicodevesermissionárioporqueoanúnciodaférespondeaumdesejoqueeletemno mais profundo de si com ordemafazerparticiparosoutrosnosbensque recebeu. Assim, a evangelizaçãopermite enriquecer o outro (§ ��), oque não é falso, mas gravemente in-completo. Ignora-se na realidadetodaaordemsobrenatural.Doêxitodo impulso evangelizador encaradopelaIgrejadependeasalvaçãoeternadeumagrandequantidadedealmas.Quemaceiteoidealevangéliconasuavida terrestre e o ponha em práticacom a graça de Deus, depois de suamorte gozará eternamente da visãode Deus no Paraíso. Porém, quemnão o faça se condenará no fogo doInferno por toda a eternidade. Este,sim,étodoodramadasalvação!

EstaéarazãopelaqualCristomorreunaCruz,pelaqualfundouSuaIgreja,que é a única depositária do Evan-gelho, pela qual tantos missionáriosdeixaram tudo e ainda derramaramseusangueaolongodedoismilanos:paraganharasalmasparaJesusCris-to.Issoéoquedesejávamoslernestedocumentoeestáausentedele!

Por que não se afirma esta doutrinatradicional? Porque muitos homens

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de Igreja estão impregnados de umanoçãoerróneasobrealiberdade.Comefeito,seperguntamosaumhomemna rua a sua definição de liberdade,responderá que consiste no direitodefazeroquesequeira,comoqueira,quandoqueira,esemnenhumimpe-dimento.Éadefiniçãoliberaldeliber-dade,quesaiudaslojasmaçónicas,equeconduzàruínadetodaaautori-dade,sobretudoadaIgrejaCatólica.

Na realidade, a verdadeira liberdadeé a capacidade que todo o homempossuiparaescolheromelhorbemdeváriosbens.É,comodiziaLeãoXIII,“a faculdade de mover-se dentro dobem”. Porque não somos livres paraamarounãoanossospais:devemosamá-los!Aliberdadenosajudaráaes-colheromelhormeiodemanifestar-lhes nosso amor. Do mesmo modo,nãosomoslivresparaamareadorar,ou não, o verdadeiro Deus: devemosamá-l’O e servi-l’O da melhor ma-neira possível! Quem venera a outroquenãosejaoverdadeiroDeusUnoeTrinoestánoerroepõeemjogosuasalvação eterna. Esta é a linguagemqueosmissionáriostêmtidohávin-te séculos, ainda quando os homensa quem se dirigissem pudessem tersido pessoas sinceras. Mas a sinceri-dadenãofazaverdade…AIgrejaquerlevaroEvangelhoatéosextremosdaTerraporquetemumaobsessãopelasalvaçãodasalmas.

Frente a esta exigência, a lei divinaou humana apresentam ao homem

quaissãoosfinsedelimitaosmeiosaempregarparaalcançá-los.Ohomemnãoseinclinafacilmenteàverdadeeaobemporqueaalmaestáferidapelopecadooriginalesujeitaàdesordemdaspaixões.Aconsciênciaestáobscu-recida.Opapeldaleié,pois,ajudá-laaordenar-seaofim.Daíque,longedeser inimiga da liberdade, a lei – emparticularacivil–égarantiadeliber-dade moral. Fazendo eco aos Papas,sobretudoLeãoXIII,oCardealBillot,cujalucidezlhefaziapreveniracrisequeiasobrevir,apontoumuitoclara-mente: “Este princípio fundamentaldoliberalismoéabsurdo(…)absurdo,no sentido que pretende que o bemprincipaldohomemradicanaausên-ciadetodaobrigaçãocapazdeimpe-dirourestringirsua liberdade(…)Aliberdadenãopodeserumfimemsieofimsupremo”.

Nadeclaração “Dignitatishumanae”,o Concílio Vaticano II adotou a dou-trinaliberal.Julguemporsimesmos:“Estaliberdadeconsisteemquetodosos homens hão- de estar imunes decoacção,tantoporpartedeindivídu-oscomodegrupossociaisedequal-querpoderhumano,eistodetalma-neira, que em matéria religiosa, nãoseobrigueaninguémaobrarcontrasuaconsciência”.Paraevitarestetex-to,DomLefebvreenviouestaslinhasao Secretariado do Concílio Vatica-noII: “Damesmaforma,a liberdadehumananãopodeserdefinidacomoausência de toda coacção, e isto sobpena de destruir toda autoridade. A

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coaçãopodeserfísicaoumoral.Aco-acçãomoralémuitoútilnaesferareli-giosaeseencontraaolongodetodaaEscritura:<<oprincípiodasabedoriaé o temor de Deus>> (…) Uma coisaéafirmaranecessidadeactualdequeaautoridadedeixeumamargemmaisampladeliberdade,eoutraépreten-der que esse estado de facto é maisconformeàdignidadehumana.Seme-lhante pretensão implicaria admitirimplicitamenteodireitoaoescânda-lo,sejapormeiodovício,sejaatravésdoerro.Deusnoslivre!”

Portanto,éprecisovoltaràdoutrinatradicional. A verdadeira evangeliza-

ção não consiste só em apresentar averdadesenãotambémemdenunciarosgravesperigosaqueseexpõemosque querem viver no erro. Essa é averdadeiracaridade.Liberdade,liber-dade, quantas almas se perdem emseunome!

Assim,pois,queridos leitores,naac-tual confusão dos espíritos, estude-mosaverdadecatólica,queéaúnicaque devemos propagar por amor aDeuseporcaridadeàsalmas.Foradaverdadenãoháverdadeiraliberdade.

QueDeusosabençoe!

Rev.Pe.ChristianBouchacourt,FSSPX

Ohomemcompõe-sedecorpoealma.Asuanaturezaéadeumanimalra-cional.Asuaalmapossuiduasfacul-dadesnobres,queconstituemprincí-piosdeoperação:A inteligência,queconfereaohomemacapacidadedeco-nheceraessênciadascoisassensíveis,eavontade,aqualconstituioapetiteoudesejoracionaldoBem.Estasduasfaculdadesnuncahaverãodeseparar-se,porqueavontadeseminteligênciaé cega, e a inteligência sem vontadeé inerte. O homem dispõe, analoga-mente,dasensibilidade,aqualéprin-cípiodasemoções,paixões,instintos

outendências,asquaispossuemfortependorparaomal,depoisdopecadooriginal;maspossuem-nonãodeumaformaquedestruaaliberdadehuma-na, bem como a capacidade humanadeconhecerarealidade.

A ordem sobrenatural da Graça, res-taurada pelo Redentor, corrobora assobreditaspotênciasracionaisesen-síveis, outorgando-lhes uma forçamaiorparaconheceraVerdadeerecu-sarafalsidade,amaroBem,eevitaro mal, ordenando simultaneamenteasmástendências,ouinclinaçõesdasensibilidade,quetendemàiraexces-

Arevoluçãonasprofundidadesdaalma

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sivaouaomedo(apetiteirascívelquetende a um bem árduo, dificilmentealcançável)bemcomoàsensualidade(apetiteconcupiscívelquetendeaumbem sensível, aprazível e facilmentealcançável).

Apartirdapós-modernidade(Niet-zsche-Freud),a“escoladeFrancfurt”bemcomoo“estruturalismo”francêsesforçaram-se por levar a revoluçãonãosóàsociedade,mas tambémaopróprio homem, nas profundidadesracionaisesensíveisdasuaalma.Exa-minaremosentãomelhoraprofundi-dadedaalmaracionalesensível,bemcomoosmeiospararestauraraalmahumana – e o próprio homem. Ho-mem ameaçado de aniquilação pelafilosofiapós-modernaepelateologianeomodernista.

A força aniquiladora das paixões

As paixões, cujo princípio radica nasensibilidade, devem regular-se paraque sejam boas. Em si mesmas sãoneutras:tornam-semássenãoestive-remreguladasouestiveremdescoor-denadas; quer dizer: quando tomamum meio pelo fim. Efectivamente, odesejodofiméinfinito,equandoumhomem tomaummeiopelofim,en-tãoessemeioéporeledesejadoinfi-nitamente.

Noâmbitonaturalsãoarectarazãoeaboavontadeasfaculdadesqueregu-lamaspaixões;noplanosobrenaturalsãoaFéeaCaridadeteologaisasquemovem mais facilmente em direcçãoaofim.Aspaixõesoutendênciasbem

ordenadasconfiguram-seentãocomosobremaneira úteis para operarem ealcançaremofimdamelhormaneira:é óptimo estudar com paixão, amara Deus apaixonadamente; todavia,abandonadasasimesmas,aspaixõestornam-se,depoisdopecadooriginal,forçaspropulsorasfortementedissol-ventesdohomemnoqueestepossuideespecífico:inteligênciaelivre-arbí-trio.Nessaexactamedidaconverten-do-se em vícios e hábitos maus, queinclinamaomal.

A sensibilidade ( sentidos externos:vista,audição, tacto,paladareolfac-to;esentidosinternos:imaginaçãoememória)pertencemtantoaoanimalcomo ao homem. Já nos brutos semanifestaemtodaasuaprofundida-denoqueaoamorconcerne(a leoaquedefendeosseusfilhosdashienas)equantoaoódio(o leãoquedespe-daça a gazela). Mas a profundidadeda sensibilidade é todavia maior nohomem.

Efectivamente, possui duas faculda-des que se situam acima da sensibi-lidade:ainteligência,quetendeaco-nheceraVerdade,eavontade,aqualamaoBemuniversal,queé infinito.Orabem,seohomem,queseordenapornaturezaeporGraçaàVerdadeeaoBeminfinito,sedesordenadevidoàs paixões, então a sua sede ou ten-dência desordenada torna-se insaci-ável,naexactamedidaemqueasuavontade persegue um bem aparente,que é um mal, desejando-o infinita-

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mente,comoseconstituísseumfim;daíqueasuamaldadesejatendencial-menteinfinita.

Arevoluçãocompreendeu-o,etem-noposto em prática no interior do ho-mem,desde�9��0atéhoje,atravésdeuma enorme explosão de desordemno campo religioso ( �9���, VaticanoII),enoplanotemporal(�9��8,rebe-liãocultural).

O porquê de uma depravação que tende ao infinito

«Se a vontade, que está constituídapara amar o Bem supremo e univer-sal, se desvia – explica Garrigou-La-grange – então essa tendência aouniversalnãodesaparece,masincor-pora-se nesse mesmo desvio, o qualsetornaporissotendencialmenteili-mitado. Como que enlouquece, exer-cendo uma má influência em todasas demais faculdades ( inteligência esensibilidade)»(�).

SãoTomásexplicaqueaconcupiscên-cia, ou sensibilidade concupiscível,enquantosegueanatureza,nãopodetenderaoinfinito,porquepossuicomoobjectooqueérequeridopelanature-za,eestasempresolicitaumbemfini-toelimitado.Massetalsensibilidadeconcupiscível é contráriaànatureza,istoé, seédesordenada,entãopodetenderaoinfinito,poisprocededumarazão desviada, e é próprio da razãoproceder até ao infinito, concebendoouniversalsemlimites,propondo-oàsensibilidadecomoobjectoseu(��).

Oleãosacia-se,umavezcaçadasumaou duas gazelas, porque o seu apeti-teconcupiscívelénatural,eporisso,finito. Pelo contrário, se o homemse torna depravado ou subversivo (como foi cientificamente planeadoemFranckfurteemFrança,noMaiode �9��8, pelos «filhos deste século»,osquais«sãomaissagazesdoqueosfilhos da luz) , a sua concupiscênciatorna-se tendencialmente ilimita-da,porqueasuatrilogia inteligência– vontade - imaginação lhe proporásempre novas e maiores riquezas ouprazeresparaobter.

A inteligência possui como objectonão os fenómenos sensíveis, limita-dosefinitos,massimoserinteligível,universal,queelaabstraideumare-alidade sensível. Pode analogamenteconheceroporquêdascoisas,assuascausas, os seus fins, e por isso podeelevar-sedesdeosefeitosatéàCausaPrimeira incausada, que é Deus. To-davia também aqui a profundidadedaalmahumanatendeaoinfinito,naexactamedidaemqueseachaescla-recidapelainteligência,enãoapenaspelaimaginaçãooufantasiasensível,como os animais. A imaginação fazdesejar ao leão tanta carne quantonecessitaparasaciarasuafome,nemmais,nemmenos.A inteligênciahu-mana,pelocontrário,tendeàVerda-de universal e infinita, e quando sedepravaousubverte,entãopropõeàvontade bens aparentes, desordena-dos,comosefossembensinfinitoseilimitados(porexemplo:asriquezas,

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ashonras,ouosprazeressensuais).

Resideaquiaforçapropulsoraeani-quiladoradaspaixões,quearevoluçãovem desencadeando e exacerbando,especialmentedesdeaescoladeFran-cfurt(�9��0)atéaosnossosdias.Nes-te quadro conceptual, se queremosrestauraraordemdasociedade,deve-mosrestabelecê-laprimeironosindi-víduos,eprecisamenteaíapresentarbatalha em ordem à supra-referidarestauração. Pois que é exactamenteassimqueprocedeasubversão,aqualdepoisdeterconquistadoahegemo-nia cultural da sociedade (Gramsci),compreendeu que devia ir mais lon-ge,(AdornoeMarcuse,Levy-Strauss,Sartre)eprocederàconquistadasen-sibilidade, da inteligência e da von-tade de cada homem em particular,para depravá-lo integralmente – atéaoinfinito.

Alutanahorapresentedesenvolve-senoseiodoindivíduoeemtornodele,umindivíduoquefoicorrompidonosplanos sensível, volitivo e intelec-tual. Daí que seja mister restaurá-lo– natural e sobrenaturalmente – emtodo o seu ser, que está constituídoporinstintos,paixõesoutendências,inteligênciaevontade.Sóainteligên-cia não basta para salvar o homem:eladeveiluminarumavontadeboa,eestadeveserservidaporumasensibi-lidadesãenãodegenerada.

Avontadeespiritualsegueedesejaoobjectoquea inteligência lhe fazco-nhecer como bom. Neste enquadra-

mento, a inteligência humana poderemontar-se, com certeza, medianteumsilogismo indutivo,dascriaturasaoCriador,dosefeitosfinitoselimi-tadosàCausainfinitaeilimitada.As-simpois,tambémaprofundidadedavontadecarecedelimiteporquepos-suicomoobjectooBeminfinito.Porisso tende para o infinito e somenteDeus a pode saciar. Fundamenta-seassimporqueéqueaverdadeirafeli-cidadeebem-aventurançadohomemnãopodemconsistiremnenhumbemcriado ( prazeres, riquezas e honrasterrenas ), mas sim no Bem infinitoeIncriado.Éassimnecessáriomedirbem as palavras. Quando se afirmaqueaalmahumanapossuiumapro-fundidade infinita, tal asserção nãosignificaqueaalmasejaemsimesmaontologicamente infinita, pois que écriada, contingente, e por isso mes-mo finita. Somente Deus é infinitoemSimesmo.Significaapenasqueaalmatendeobjectivamenteaoinfini-to,medianteassuasfaculdadespodeedevereconhecereamaroseuCria-dor,oseufundamentoobjectivoqueéDeus,sumaVerdadeesumoBem.

O campo de batalha

Asraízesdosvíciosedasvirtudesen-contram-se nas camadas profundasda alma humana. As virtudes aper-feiçoamohomemeconferemàssuasfaculdadesafacilidadedeobrarbem.Os vícios corrompem as faculdadeshumanas, facilitando-lhes a práticado mal, como se fossem escravas do

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pecado.Abatalhatrava-senesteâm-bito:asraízesdasvirtudesedosvíciosnasfaculdadesoupotênciascognosci-tivasevolitivasespirituaisesensíveisdaalma.

A raiz comum de todos os vícios é atendência desordenada ao amor desi mesmo ou “amor próprio,” o qualse opõe diametralmente ao amor dosumo Bem, que é Deus, O Qual sedistingue realmente do homem, e otranscende. Do orgulho derivam asoutrasduasconcupiscências,quesãoasensualidadeeaavareza.

Aeducaçãodaspaixõesconstituipoisum alicerce de capital importância.Nãosetratadeasanularoureprimir,enquantotais,massimdeasdiscipli-nar,subordinando-asàinteligênciaeà vontade ( Suma Teológica, I-II, qq.����-��8) . São “energias”que podemosutilizarparaobem,ouparaomal.Aalma, se não está dotada de paixõesfortes,nãopoderásobressair,nemnobem, nem no mal; daí decorre a ne-cessidadedeestudara suanatureza,canalizá-lasesublimá-las,querdizerelevá-las a Deus, O Qual constitui onosso fim último. Caso contrário, aspaixões nos arrastarão e esmagarãocomoascheiasdumrio,rumoaomale à desordem, forcejando em tomarporfimoquenãoconstituisenãoummeio.

A educação das paixões consta deduaspartes:umanegativa,amortifi-cação,eaoutrapositiva,asublimaçãoouelevaçãoaDeus.Efectivamente,a

mortificaçãosomentenosconduziriaà “repressão” pura e simples dumasforças naturais que acabariam rom-pendo,maistardeoumaiscedo,osdi-quesdeprotecção–esmagando-nos.

Aindaqueaspaixõesconstituamim-pulsosnaturaismuitofortes(comoascorrentesalpinas),nãosão,contudo,irresistíveis(bastacavar-lhessulcos,ou abrir-lhes um encanamento, paraescoá-lasordenadamente).Ohomem,mesmodepoisdaculpaoriginal,éli-vredeasseguir,ounão,deendereçá-laspeloscaminhosdoBem,oudeporelassedeixararrastarparaastrevasdomal.Aregraaestatuiréaseguinte:A ideia ou imagem inclinam à acçãocujarepresentaçãonosfacultam.Daíqueseconfigureanecessidadedesus-citare fomentar ideiase imagensdeactoseobjectosbons,quenoscorro-borem nas boas obras. Se nutrirmosideias e sensações boas, acalentare-mos por isso mesmo boas inclina-ções e operaremos rectamente. Pelocontrário, se cultivarmos ideias ouimagensruins,possuiremosmásten-dênciaseprocederemosmal.EisaquiporqueéqueaSantaMadreIgreja,aIgrejadeNossoSenhorJesusCristo,porfia em educar o homem inteiro:inteligência,vontadeesensibilidade,com as suas tendências, instintos epaixões;acontra-Igrejaou“sinagogadeSatanás”(Ap��.9),pelocontrário,procuradesordenaratodoohomem-inteligência,vontadeepaixões.

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Noé, uma figura emblemática para o nosso tempo

A sociedade já foi subvertida pelarevoluçãofrancesa;afamíliafoisub-vertidapeloliberalismoepelocomu-nismo;oindivíduo,porúltimo,conse-quentemente,sofredesdehámaisdecinquentaanos,umassaltocadavezmaisviolento.Amaiorpartedosho-menscederam,pervertendo-se.Mui-topoucossenãodeixaramanimalizarpeloniilismoestruturalista.Nestees-tadodecoisas,quefuturonosespera?TodaviacomoaHistóriaéMestradaVida(sobretudoaHistóriaSagrada-Antigo e Novo Testamento), podere-mosprever,deummodogenérico,ossucessosvindourosà luzdaTeologiadaHistória.

Hodiernamente,apósmeioséculodetotal subversão ( em que o próprioMagistério da Santa Madre Igreja seextinguiu, junto com o Santo Sacri-fício da Missa) do homem, das suastendências,paixõese instintos;apósaquase totaldestruiçãodas suas fa-culdadesnobres( inteligênciaevon-tade)porobradareferidasubversão,que as tornou escravas da sensibili-dadedesordenada,poucosepodefa-zer,humanamentefalando.Sòmenteresta orar e fazer penitência. Pareceque a revolução genética nos levaráa reproduzir em laboratório, ou sejaartificialmente,oADNhumano(nãoacriá-lodonada),peloquenosapro-ximamosdumasituaçãoanálogada-quelaemqueseencontravaahuma-

nidadenostemposdaTorredeBabel,queoshomensqueriamfazerchegaraoCéu(ouseja,queriamfazer-sese-melhantesaDeus,equasecriadores).Deus,contudo,interveio,econfundiuaslínguas:deteve-seaconstruçãodaTorre. Analogamente, a corrupçãoquase universal da humanidade nostempos de Noé, provocou o Dilúvio.Podeafirmar-sequeNoééohomemmaisactualparaahorapresente.Re-tirou-separaumamontanhadurante���0longosanos,paraconstruirumaembarcaçãoenorme; todos troçavamdele:umnavionumamontanha!MasquandochegouoDilúviosósesalva-ramosquetinhamachadoresguardona Arca de Noé. Talvez seja hoje ne-cessárioprocederanalogamente:pre-pararmos,comaajudadeDeus,umaarcadesalvação-aGraçaSantificantenasprofundidadesdanossaalma(aadegadovinho) ,eesperarocastigoDivino,oqualconstituiaúnicareali-dadequepoderáreordenarumaplan-tatãotorcidacomoestáahumanida-deactual.SalvanosDomine,perimus!(Mt8,���).Nolitetimerepusillusgrex(Lc ���,���). Ego vici mundum ( Jn���,��).“Senhor!Salva-nosquepere-cemos.”“Nãotemaspequeninoreba-nho.”“Euvenciomundo.”

NOTAS

R.Garrigou-Lagrange,Avidaeternaeasprofundidadesdaalma,Madrid,ediçõesRialp,�9�0,pag.���.SumaTeológica,I-II,q.�0,art.��

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Page 40: Queridos Fiéis, Dom Bernard Fellay teve, no dia 13 de ... · missa em “rito extraordinário”). Quer dizer: acabou-se! O que é que será, não sabemos. Para já, a Fraternidade

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