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Quer saber como tudo começou? O que levou o protagonista ao suicídio?

Baixe a versão completa da primeira parte do mais polêmico e proibido livro

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Todo roxo das pancadas, Yan mal conseguiu voltar para casa. Torturaram-no por bastante tempo, mas ele recusara-se a dar um falso depoimento, e aos tiras restou deixá-lo ir.

“Este é o mundo — Yan pensava indignado, — não há justiça nenhuma. Só o triunfo da mentira e da violência! Não acredito nesta merdocracia judaica, tudo é uma farsa! Uma mentira atrás da outra! Osho1 foi preso e expulso da América livre, também porque ensinava a verdade, liberava as pessoas da teia de enganos. Ele foi envenenado na prisão... Agora querem prender Kalki pelo mesmo motivo... Logo todos serão devorados pelo Apocalipse. Quanto a mim, estou cansado de viver aqui...”

Ele comprou vodca e, ainda no estabelecimento, esvaziou a garrafa inteira de um gole só. “Não tenho nada o que fazer nesse mundo de merda. Esperar pelo fim do mundo, a

terceira guerra mundial, os meteoritos? As geleiras derretem, os golfinhos encalham — eles também não querem viver nessa bosta. Chega! Eu já tive o suficiente!”

Bêbado, ele cambaleou para dentro de casa, sua família não estava. Ligou a música de Mahamudra e começou a se preparar para a próxima tentativa de suicídio.

Desde a infância quis entender a morada sagrada, Voar para o Céu como um pássaro solto, liberto. Agora pelos mais rápidos caças eu sou invejada. Na velocidade do pensamento penetro o Céu aberto. Acabaram litígios, esperanças, caprichos e medos do destino. Tudo é ridículo e ingênuo, como os sonhos infantis. Agora sou como uma ave, e tudo tornou-se cristalino. Agora estou livre. Na Terra há apenas a liberdade dos fuzis. Não aguentava mais essa vida de tortura. Chegara minha derradeira mas solene hora. Mas agora despede-te de mim na sepultura. E eu canto minhas serenatas no céu lá fora. Tudo em vocês eu perdôo, e eu também me desculpo. Voo aos meus deuses feliz e encantada. Preparem meu corpo para o último culto. Minha alma pelos céus já foi convocada. Sinfonia funeral, A vida foi apenas um sonho total, Sinfonia funeral, Olá, minha casa celeste e natal!

Yan abriu a despensa, pegou uma corda e começou a fazer um laço, continuando a ouvir a

sua música favorita. “Já chega! Estou cansado!” Ele amarrou a corda, subiu na cadeira, colocou o laço ao redor do pescoço e chutou a

cadeira debaixo de si mesmo. O laço fechou-se, estrangulando o pescoço — Yan sufocava. O

1 Osho (1931-1990), místico, guru e professor espiritual indiano. (N. do T.)

terror e o tormento tomaram-no completamente, pois ele não conseguia respirar. Movendo seus braços e pernas freneticamente, ele “dançava” no laço. O sofrimento inexprimível parecia durar uma eternidade.

Mas então ele ouviu um zumbido e sentiu-se como se estivesse deslizando rapidamente dentro de um tubo — e de repente estava leve e livre... Yan novamente estava no quarto. Nada mudara.

“Praga! Mais uma vez, nada deu certo! Por que não morri?” Olhando ao redor, Yan viu o cadáver pendurado na corda. “Então eu estou ali! Enforquei-me! Mas por que estou aqui ao lado do meu próprio

cadáver? Aparentemente estou no corpo espiritual... Será que a morte não existe!? — veio-lhe este terrível palpite. — Afinal, eu estava esperando que tudo terminasse agora. Mas sou imortal. O que é este corpo em que vivo agora? Ele é um tanto estranho. Sem peso, sem rigidez.”

Com os dedos ele puxou a pele do seu rosto. O corpo parecia ser feito de algum tipo de borracha macia e esticava-se em todas as direções. Contorcia seu corpo e conseguia se dobrar do jeito que quisesse. Estirou o braço, e ele continuou a se alongar.

“Que interessante” — pensou Yan. Seu corpo inteiro tornara-se um único órgão sensorial. Podia ver com a mão. Ele deslizou-a pelo livro em cima da mesa. Conseguia ler com a sua mão, e mesmo sem virar as páginas via a próxima folha. Olhando para uma xícara sobre a mesa sentiu o gosto do café com seus olhos. Tentou pegar o livro, mas a mão penetrava nele. Ele passava através dos objetos. Tentou andar, mas as pernas não conseguiam se apoiar no chão e se afundavam nele. Queria ir até a janela e, quando deu por si, já estava ao lado dela. Depois de experimentar um pouco, percebeu que seu corpo se movia obedecendo aos seus desejos: ia aonde ele queria. Novas sensações invadiam-no de um jeito que ele até se esquecera do desejo de morrer. Sentia-se nessa nova realidade muito leve e livre como nunca havia experimentado antes.

Sem que ele percebesse, a noite chegou. Alguém começou a esmurrar a porta do quarto. Juntando suas forças ele olhou através dela e constatou que eram seus pais. Eles o chamavam. Yan respondeu que estava bem, mas ninguém ouviu.

Os pais, finalmente, conseguiram arrombar a porta. A mãe ficou na entrada, horrorizada. Seu pai tirava o corpo da corda.

— Mãe, pai, estou aqui! — gritava Yan e tentava tocá-los com as mãos para chamar-lhes a atenção. Mas ninguém o via ou o sentia. Por fim, percebeu que tudo era em vão e passou apenas a contemplar. Os pais corriam pelo apartamento.

Yan percebeu que no quarto voava um enxame inteiro de moscas estranhas. Logo ele entendeu que eram pensamentos. Chegaram voando grandes besouros e lesmas do tamanho da cabeça de uma criança. Eles se cravavam nos pais e bebiam avidamente uma substância que era sugada deles.

“Eles devem se alimentar de suas emoções, suas preocupações e seus sofrimentos” — concluiu Yan e começou a dispersar toda aquela abominação. As moscas e os besouros sentiam suas

pancadas e voavam para longe, mas logo depois voltavam a atacar os pais. Com a chegada de outros parentes ele sentia-se cada vez mais inquieto e ansioso. Logo

entendeu que vivenciava as emoções deles e também aquelas dos familiares para quem a sua mãe ligava dando a notícia, e os sentimentos de Inna, que já viera chegara e que abraçava em prantos seu corpo.

— Estou aqui, estou vivo! Por que vocês estão perambulando ao redor do cadáver!? Não sou eu! — Yan gritava, mas ninguém o ouvia.

Ele ficou surpreso ao descobrir que sabia dos pensamentos deles — especialmente quaisquer sobre ele. Capturava até o raciocínio dos parentes que agora nem estavam no apartamento, já que assim que souberam da morte de Yan, começaram a pensar nele.

Inna correu para fora da casa, e Yan soube imediatamente que ela ia até Kalki, embora não o tivesse dito a ninguém. Ficou curioso e decidiu mover-se junto dela.

No caminho continuou a observar como todos ao redor eram devorados por besouros, lesmas e águas-vivas bizarras, de todo tipo. Estas criaturas penetravam nas pessoas e as forçavam a sentir diferentes emoções negativas, incutindo maus pensamentos e alimentando-se de suas preocupações.

Também notou que podia ver o interior das pessoas diretamente através de suas roupas: muitas eram pretas por dentro. Eram mais claros somente Inna e os demais jovens.

“Obviamente, a cor preta são as doenças” — pensou Yan. Chorando, Inna invadiu a sala bem no meio da aula. Kalki abriu os braços, e ela atirou-se a

ele. Inna sentiu que ele já sabia de tudo.

— Não se preocupe — disse ele. — Ele não está morto, ele está vivo, ele está com você e

ele se sente bem. Está em um mundo melhor. Mas para ele é difícil suportar suas aflições, ele as sente.

Kalki fez um gesto para os seus discípulos, e eles rodearam Inna em um círculo estreito e abraçaram-na, passando-lhe ondas de amor e compaixão. Kalki, como o sol, irradiava luz. Este brilho fluía em torno dele, formando uma silhueta que florescia como o arco-íris. Sobre a cabeça do guru podia-se ver uma auréola. Em uma onda de amor e compaixão, os alunos também estavam mergulhados em luz e, ao contrário das pessoas comuns, eram cercados por uma nuvem prateada. Em vez de besouros e larvas a sala estava cheia de globos de luz. Destas esferas saíam raios que tocavam um por um a todos que lá estavam — passavam pensamentos positivos.

— Oremos por Yan e acompanhemos com alegria sua alma até um mundo melhor — disse Kalki.

Os discípulos começaram a rezar. E enquanto rezavam ao redor de cada um deles formava-se um pilar de luz direcionado para cima. Yan sentia-se muito bem na alma. Ele estava banhado na graça e no amor daquele momento. Quando a oração atingiu seu apogeu, a alma de cada um na sala se encheu de júbilo, e todos enviavam a Yan seus melhores votos.

Quando, porém, a aula terminou e todos já haviam ido embora, Yan começou a ser atacado novamente pelos pensamentos sombrios de seus parentes. Lembrou-se deles e imediatamente se viu em seu apartamento. E, só à noite, quando todos estavam dormindo, a ansiedade que o abalava deixou-o.

Yan continuou os experimentos com seu corpo. Imaginou ser um cão, e transformou-se em um cão. Em seguida, imaginou ser um sapo — e o corpo instantaneamente obedeceu. Voltou à forma humana e, imaginando roupas, elas apareceram no seu corpo.

A cidade dormia, mas Yan não tinha necessidade de dormir — ele nunca se cansava. Quando levavam o cadáver de Yan ao cemitério, ele o seguiu, pois queria assistir ao

sepultamento. No caminho, ele viu mais uma vez parentes e outras pessoas que eram devoradas pelas larvas em forma de águas-vivas, besouros, minhocas, cobras. Sentiu que a infelicidade e o fracasso também estavam ligados a estas criaturas, que compeliam as pessoas a atos negativos e estúpidos. Quando alguém fica com raiva, ciúmes, sofre uma ofensa ou amaldiçoa outrem, ele, assim, envia estas bestas, que partem para a vítima e atormentam-na como uma matilha de cães que ataca a caça. No entanto, se a vítima está positiva, nada funciona, e todas estas pragas voam para longe e passam a torturar aquele que as desencadeou.

Muito raramente, perto de algumas pessoas Yan via uns coágulos brilhantes que lembravam esferas — e concluiu que eram, provavelmente, bons espíritos ou anjos.

Desceram o caixão com o corpo de Yan para a cova e começaram a cobrir com terra. Olhando mais de perto, sobre a sepultura Yan viu uma sombra branca com os traços dele.

“Será um fantasma?” Acima dos outros túmulos Yan viu as mesmas imagens. Lembrou-se de como Inna lhe

contou sobre o duplo etérico. “Talvez este seja o corpo etérico” — pensou Yan. Ele notou que alguns fantasmas eram mais luminosos, outros mais apagados. Os fantasmas

mais obscuros cintilavam sobre túmulos muito antigos... Inna também estava presente no funeral. Ela já se acalmara e mentalmente rezava a Deus

por ele. A mãe e os parentes partiram para a missa na igreja — Yan os seguiu. Acima do templo, viu uma grande nuvem branca que se alimentava das orações das

pessoas. Às vezes, da nuvem saía um turbilhão de energia que se dirigia a algum dos fiéis. “O que é isso? Deus?”— foi o que Yan pensou, mas ele não sentiu que era verdade. Depois um raio saiu da nuvem e caiu mais ao lado. Imediatamente em resposta um outro

raio atingiu esta nuvem. “O que é isso?” Yan voou na direção de onde o relâmpago fora disparado e viu uma

mesquita, a qual tinha sua própria nuvem. Depois viu as mesmas nuvens sobre a sinagoga e a igreja dos batistas: “Provavelmente são os espíritos das egrégoras lutando entre si. Deus está longe deles” — decidiu Yan.

Já aprendera a mover-se rapidamente no espaço. Assim que imaginava a pessoa ou o lugar certo, encontrava-se ao lado dele.

Uma vez pensando em Inna, Yan apareceu na aula de caratê astral conduzida por Kalki. O guru ensinava como se livrar das larvas e limpar a sua aura de diferentes pragas fazendo golpes de energia e também explicava como quebrar sans-contatos com pessoas ruins e egrégoras.

Yan viu que cada um tinha o que pareciam ser fios que o ligavam a outros: geralmente a parentes ou a nuvens de egrégoras. Passavam nestes fios correntes energéticas que controlavam a pessoa como um fantoche. Ela ficava tão enredada por estes contatos e por todos aqueles tipos de larvas que dela não sobrava quase nada. Ela fazia, pensava e vivia não o que realmente queria, não o que era inerente a ela — mas coisas diferentes que lhe foram impostas — e se perdia nisso completamente.

Yan um dia visitou sua universidade e viu um inimigo seu, que se exibia na frente dos companheiros, falando que no passado humilhara Yan. Contava que Yan era gay e que ele o possuíra. Yan ficou tão bravo que queria matar o filho da puta. E neste instante foi cercado por nuvens negras que o arrastaram consigo. Yan tentou resistir — mas nada pôde fazer.

Foi levado a um lugar terrível, sombrio e cheio de criaturas horríveis que lembravam ora demônios, ora bestas disformes. Estes bichos atacaram Yan e se prenderam nele, devorando sua energia. Foi tomado de horror e de insuportável dor. Mas seu medo apenas fortalecia estes monstros. Sentia-se como se o rasgassem, como se nele enfiassem agulhas, como se de suas bocas saísse um fogo que o queimava de forma assombrosa.

Yan percebeu com horror que estava no inferno e que não sabia como sair dali. Sentia um sofrimento inimaginável. E, quanto mais sofria, mais os demônios se revigoravam: infligiam mais dor e inventavam novas torturas. Diante de seus olhos apareciam visões de como essas criaturas aterrorizantes estupram Inna, como seu inimigo o espanca, como as pessoas o ridicularizam. Yan já não compreendia que eram artimanhas dos demônios — e afundou-se completamente nestas dolorosas ilusões.

No meio deste tormento incrível, porém, Yan lembrou-se de Kalki e começou a gritar: “Ajude-me, salvador! Ajude-me! Imploro!” Desesperado, Yan colocou neste apelo toda a sua fé.

E de repente irrompeu uma luz, uma nuvem de luz, e os demônios saltaram para longe. No centro da nuvem Yan viu Kalki.

— Olhe para meu rosto, olhe para mim! — chamava Kalki.

Yan fixou o olhar no rosto do mestre, que era sua última chance de salvação. E se sentiu melhor. Mas Kalki continuou:

— Acalme-se, lembre-se de algo agradável: uma bela paisagem ou algum seminário nosso. Sintonize-se de forma positiva.

Yan sentiu paz e alívio, como se a carga pesada houvesse caído de seus ombros.

— Agora olhe ao seu redor — disse o guru.

Yan olhou em sua volta e viu um prado, um rio pacificamente fluindo, um céu calmo com nuvens brancas. O dia estava chegando ao fim. As cúpulas de um templo brilhavam na distância.

— Está vendo — disse o mestre, — o lugar onde você está no plano espiritual depende da sua sintonia: paraíso, inferno, o mundo do passado ou do futuro — quaisquer lugares na Terra ou em mundos paralelos estão à sua disposição. Você pode se deslocar com a velocidade do pensamento. Mas o que você vê aqui é um produto da sua mente, ou das mentes de outros seres. Tente desfocar o olhar, como você fez aquela vez quando observava a aura de uma vela. Veja, tudo isso é apenas um campo de energia.

Yan fez o que o mestre lhe disse, e viu apenas um brilho iridescente. Ele flutuava como enormes ondas, lentamente mudando de cor e de contorno.

— Então o rio e o templo não são reais? — perguntou Yan. — São tão reais quanto o inferno que você acabou de visitar. Você pode nadar no rio ou

entrar no templo. Mas eles são gerados a partir dessa energia através do poder de sua imaginação, através do seu espírito ou da capacidade da mente de outras criaturas que fazem você ver o que elas imaginam.

— E o que é real de fato? Como ver o mundo como ele é? — perguntou Yan, surpreendendo-se com o que acontecia.

— A verdadeira realidade é Deus. Mas compreendê-Lo não é fácil. Você ainda não sabe como se sintonizar para entrar em contato com Ele, nem mesmo por pouco tempo. Se você não tivesse morrido e estudasse em nossa escola, eu o ensinaria a meditar e a entrar em Samadhi — em união com Deus. Mas no plano espiritual cada um está em seu nível, dependendo de sua atitude. Os seres de diferentes níveis de desenvolvimento apenas se encontram usando uma

sintonização especial e por um tempo muito curto. Mas agora posso levá-lo ao meu Samadhi, para que você entre em contato com a verdadeira realidade por um instante. E, se você for determinado, em sua próxima vida terá um destino diferente e chegará à compreensão da Eternidade. Agora, olhe-me nos olhos e não se distraia nem por um segundo.

Yan fitou os profundos olhos do mestre e caiu em seu olhar. De repente, viu uma esfera de luz branca da qual saíam em todas as direções raios de arco-

íris. Ela brilhava contra o indescritível abismo, que lembrava a infindável imensidão do Cosmos. Yan via toda a sua vida passada — e percebeu o horror e a vergonha de sua existência. Ficou aborrecido que gastara seus anos daquela forma. Mas o brilho de Deus não o julgava; cobria-o com seu imenso amor e esperança, a esperança de que ele entenderá a verdade e alcançará a grande graça. O brilho era silencioso, mas Yan o entendia como que sem palavras, sentindo com o coração e com todo o seu ser o Seu estado, a Sua atitude.

— Aqui está o que você poderia encontrar, meu filho, se em vida tivesse Me procurado. Você se transformaria em Mim — dizia a Yan o silêncio de Deus.

Embora nenhuma palavra fora articulada, Yan entendeu-O melhor do que se as palavras lhe tivessem sido ditas. Sentia o significado da mensagem com todo o seu ser, sem precisar pensar, analisar e duvidar — foi uma experiência holística.

Em seguida, o brilho começou a se expandir e encobriu Yan. Ele sentiu um amor tão infinito, que se dissolvia nele. Depois desapareceu completamente, sem deixar vestígios. Na sua existência estava presente apenas a grande imensidão do Universo. Embora Yan sentisse como se não existisse — ele era Deus, estava presente em todo o vasto espaço que não termina nos diversos mundos, nas incontáveis Galáxias, nas estrelas, nem nos seres que habitam esses mundos. Parecia que Yan sabia ao mesmo tempo tudo acerca de cada ser no Universo, que ele era cada um deles, que viveu suas vidas. Estava simultaneamente no passado e no futuro de cada uma de suas criações. E este passado e este futuro eram sem começo nem fim. A própria criação (existência) não era percebida de forma pontual, ou seja, como ela era num dado momento.

Yan via a criação como a vida Dele. Integralmente, em todas as encarnações — até que se fundiu totalmente com Ele e iluminou-se. Era assim que ele O percebia, ou melhor, percebia a si mesmo em cada uma das suas manifestações. Estava repleto de um colossal poder criativo, elaborando mil mundos em um instante, cheio de uma onisciência incompreensível, saturado de inúmeras experiências de amor, felicidade, santidade e todos os estados possíveis de cada ser vivo.

Isso foi apenas uma pequena parte da experiência com Deus. O resto é impossível descrever em palavras ou submeter a qualquer definição. Era um estado tão imenso, vasto, abrangente — que para compreendê-lo uma pessoa precisaria de uma eternidade. Este estado mudava a cada momento, transformava-se, como se estivesse crescendo. E, para descrever e compreender cada momento seguinte de Deus, era necessário ter outra infinidade de tempo. Era inconcebível e incomensurável. Mas o brilho agora recuava.

Aos poucos, Yan voltou a si mesmo. Este estado antigo lhe causava a impressão de que ele havia sido trancado dentro de um caixão apertado e espremido por todos os lados. Em comparação com o que Yan sentira alguns momentos atrás, ele agora estava morto. Perder a presença de Deus era tão atormentador que no mesmo instante queria morrer, desaparecer. Yan ardia com santidade e amor por Ele. Não podia mais viver desse jeito — mas não sabia como viver de outro. Yan foi, devido a isso, apreendido por emoções insuportavelmente dolorosas.

— Isso é o que acontece quando um inexperiente vê Deus — ouviu a voz do mestre. Olhando para trás, Yan viu o rosto de Kalki. O peso diminuiu. O que acontecera com ele

alguns minutos atrás parecia-lhe apenas um sonho. Nem acreditava que tinha visto Deus. — Assim é melhor — Kalki disse a ele, sorrindo. — Daqui a pouco você decide cometer

suicídio aqui também — ele riu, — embora, na verdade, aqui isso não é possível. Mas está na hora de ir para onde você pode ficar conforme a condição que conquistou com a sua vida terrena. Não se esqueça de que é preciso controlar suas emoções e pensamentos, senão você pode novamente cair no inferno. Lembre-se, tudo o que você vê no plano espiritual é um produto de

sua mente. Não a deixe fazer outra brincadeira cruel com você. E agora, adeus! Acho que ainda nos encontraremos... — Kalki desapareceu no ar.

Surpreso, Yan olhou ao redor e viu diante de si a mesma paisagem com o prado, o rio e o templo. Ele viu que pessoas vinham flutuando na direção dele. Reconheceu algumas; eram seus parentes mortos.

Os mortos cumprimentavam Yan alegremente: — Finalmente você está de volta ao lar, na sua casa, — abraçou o avô. — Agora estamos juntos de novo — disse-lhe a avó, beijando-o, — terminou seu martírio

na Terra. Yan estava surpreso que os avós tinham uma aparência tão jovem. E, embora ele não o

tenha dito, eles já sabiam dos seus pensamentos. — Sim, meu neto — respondeu o avô. — A alma não é o corpo, não tem idade. Aqui todos

são eternamente jovens. Geralmente o corpo terreno atinge a aparência da alma aos 18 ou, em alguns casos, até aos 32 anos. Mas mesmo um bebê tem uma alma com uma aparência adulta. São o corpo e o cérebro que não o permitem ser adulto desde o nascimento. Aqui não temos nem doentes, nem deficientes, porque a alma é sempre saudável. Cada um de nós pode, no entanto, assumir qualquer forma que desejar.

E, para confirmar suas palavras, seu avô novamente ficou um velho fraco e corcunda, apoiado em muletas. Ele tossiu forte, e então riu junto com os outros.

— E agora, vamos para a nossa casa — convidou-o a avó. E eles já estavam na casinha velha da avó, que Yan visitava na infância. — Mas por que vocês moram numa cabana tão velha? — perguntou ele. — Ficamos acostumados assim na vida passada — disse o avô, — embora possamos viver

em qualquer lugar: mesmo num palácio ou no meio do mar — é só imaginar. A avó trouxe uma travessa com empadas, e um cheiro de infância, esquecido há muito

tempo, espalhou-se na sala. — E o que fazem aqui? — Yan perguntou-lhes. — Descansamos, netinho, observamos como as pessoas vivem no mundo, viajamos para o

passado, voamos em mundos diferentes. — Que vida boa! — surpreendeu-se Yan. — Por que, então, tivemos de viver na Terra? O

que esquecemos lá? Por que tudo isso? — Aqui estamos em casa, e a Terra é uma viagem de negócios — disse o avô, — algo

como uma academia de ginástica, onde aprendemos lições, dadas por Deus, ganhamos uma experiência que é simplesmente impossível de obter aqui. É como se Deus estivesse assando nossa alma, tal qual um bolo, e nem todas as fases deste processo são agradáveis, mas elas são necessárias para desenvolver nossa alma, torná-la sábia.

“Quer dizer que eu fiz algo de errado quando cometi suicídio” — pensou Yan. — Muito na vida é predestinado por Deus, e você não é culpado disso. Seu suicídio foi

determinado também pelas escolhas que você fez em vida. Mas você poderia ter vivido de forma diferente, se tivesse ouvido Inna e sem demora começado a se desenvolver espiritualmente. Nesse caso, o seu destino teria tomado um caminho diferente, e talvez você teria alcançado um nível superior de existência, e após sua morte teria ido para uma dimensão onde os anjos, gurus e santos vivem — em felicidade infinita.

Yan lembrou-se das aulas de Kalki, de Inna, ficou com saudades e se viu ao lado dela instantaneamente. Ela estava sentada com os discípulos de Kalki na sala de meditação. Eles formavam um círculo, de mãos dadas, e praticavam pranayama sintonizando-se com o guru que, apesar de estar na prisão, enviava-lhes correntes de amor.

De repente, o avô apareceu junto de Yan: — Ah, aqui está você! Simplesmente sumiu da mesa. E aqui com você Inna. Sua avó e eu

muitas vezes observamos vocês, ficávamos contentes com a sua amizade. Ela está aprendendo a sintonizar-se com as vibrações superiores do amor. Talvez se encontrará, mais tarde, entre os anjos.

Inna estava sentada e chorava baixinho, lamentando a morte de Yan e a prisão de Kalki. Somente o fluxo de amor divino era capaz de confortá-la. Yan voou para o lado dela e a abraçou, tentando acalmá-la. Mas ela não o via. Suas mãos passavam através do corpo dela.

— Não a toque — disse o avô. — Nossa energia é alheia à terrena e a afetará negativamente. Além disso, a energia dela vazará para você. Lembra-se das histórias de vampiros? Para os que estão na Terra nós somos os vampiros. Não bebemos sangue, mas tiramos sua energia com cada toque. Alguns de nós, ligados de forma mais forte à Terra, realmente começam a alimentar-se com a energia das pessoas para ficar no plano terreno. Está sentindo como é difícil ficar aqui?

Yan voou para longe de Inna e sentiu que, de fato, era mais difícil permanecer na dimensão terrena do que no mundo em que há pouco estivera com a avó.

— Para nós, tudo aqui é fatigante — explicou-lhe seu avô. — Para fazer qualquer coisa na Terra precisamos de uma grande quantidade de energia, mas de onde tirá-la? As pessoas extraem sua força do trabalho corporal usando pranayama, e nós só podemos vampirizá-las.

— E como sair daqui? — perguntou Yan. — Basta lembrar-se do rosto de sua avó — e pronto. Yan obedeceu, e estava de volta com ela na cabana. — Estava esperando você — exclamou a avó. — Coma as empadas. Elas não esfriam aqui,

mas ainda assim... — sorriu ela. Yan lembrou-se do sexo com Inna e imediatamente corou de vergonha, sabendo que os

avós conhecem seus pensamentos. — Não tenha vergonha — disse o avô. — Acostume-se: nessa dimensão todos conhecem

os pensamentos uns dos outros. Não há lugar para mentiras. Quando as pessoas sabem tudo um do outro, a alma se torna mais iluminada.

Yan ainda estranhava que os seus pensamentos eram conhecidos por todos; na vida terrena costumava escondê-los dentro de si.

— Descobrimos que muitas coisas — disse seu avô, — que na vida considerávamos ruins na verdade eram boas. Os pensamentos realmente maus ou maldosos e as emoções negativas vivenciadas neste mundo logo mandam a pessoa para o inferno. Assim, gradualmente aprendemos a nos livrar deles, limpando a alma.

— E como os anjos vivem? — perguntou Yan. — Temos como saber disso? — Não é fácil, porque temos muito poucas emoções sublimes para nos aproximarmos

deles. Mas há aqui um sacerdote, chamado Kadzhur, que sabe como fazê-lo. — E podemos nos encontrar com ele? — perguntou Yan. — É claro — disse o avô. — Simplesmente mantenha agora o meu rosto no seu olhar

interior, e eu o apresentarei a você. O avô lembrou-se de Kadzhur e viu-se, com Yan, ao lado dele. Kadzhur estava com outras

pessoas, vestidas, como ele, em um traje atípico, parecido com uma túnica. Estava sentado em um templo incrível, que lembrava uma pirâmide, ornamentada por mandalas e signos mágicos. Olhando fixamente para Yan, Kadzhur disse:

— Sim, você poderia tornar-se uma pessoa espiritual. Tem grande predisposição, mas seguiu o caminho errado. Eu não o culpo, nem todos podem encontrar o seu destino em uma idade tão jovem. No entanto, você poderá visitar os anjos. Na sua vida terrena teve a sorte de encontrar um dos grandes mestres da humanidade. Ajudá-lo-á também agora. Sente-se em nosso círculo.

Yan sentou-se ao lado de uma mulher muito bonita e de um rapaz esguio e macérrimo. — Maxim — introduziu-se o jovem. — Meu nome é Sapfira — disse a menina. — Deem as mãos — ordenou o sacerdote. — Sintonizem-se com o sentimento de amor e

dedicação a Deus, vivenciem essas emoções com todo o coração, transfiram esse sentimento à sua intenção de entrar no plano dos anjos. Cantem o mantra “Illa”!

Yan sintonizou-se e passou por uma experiência reverencial. Houve, então, uma mudança surpreendente: Yan estava num oceano de graça, em torno dele espalhavam-se fluxos de energia iridescentes, nos quais flutuavam globos brilhantes. Em volta soava uma música maravilhosa, e o vento trazia um aroma incrível de incenso.

Gradualmente o brilho iridescente transformou-se em um templo gigante, e os globos em ascetas, pairando em posição de lótus. Cada um deles tinha uma auréola sobre a cabeça, e ao redor do corpo brilhava a aura com cores de arco-íris. Estavam enfeitados com guirlandas de flores.

— Saudações — disse um dos devotos e lançou um olhar de amor infinito aos visitantes. — Aqui estamos em uma felicidade infinita, mas cada um de nós sonha em reencarnar entre as pessoas, para ajudá-las a crescer, cultivar um estado espiritual exaltado, para salvá-los da condição ignorante e dolorosa em que se encontram. Apesar de que na Terra vamos sofrer, oramos a Deus para nos trazer de volta à Terra para que salvemos as pessoas. Se vocês tiverem as mesmas aspirações, aos poucos vão se juntar a nós. Dissolvam seu ego com o amor.

Yan, de repente, sentiu um forte peso que o puxava para baixo — parecia que estava caindo de uma grande altura, e em um instante já estava de volta à pirâmide do sacerdote Kadzhur.

— Ficamos no nível dos anjos enquanto conseguimos manter o nosso estado de espírito elevado, e, uma vez que o perdemos, novamente caímos para o nosso nível — comentou Kadzhur sobre o que acontecera — mas agora vocês sabem a que devem aspirar e o que podem alcançar.

Yan estava sentado, atordoado, lamentando que não dera ouvidos a Inna em sua vida terrena e que não se tornara um discípulo de Kalki a tempo. Naquela época nem tinha ideia do que estava perdendo e qual felicidade poderia lograr — mas agora já era tarde demais.

— Até a próxima, meus queridos — disse o sacerdote e desapareceu do templo. — Yan, você ficou triste? — gentilmente perguntou Sapfira. — Todos nós fizemos

escolhas erradas na vida terrena. Mas você pode se desenvolver aqui, para não perder a oportunidade de evolução espiritual na próxima vida. Vamos voar para a Terra agora, vamos nos distrair, lá a minha família está realizando uma sessão espírita. Vejamos como isso acontece na percepção das pessoas que vivem no plano espiritual.

Yan lembrou-se de como na infância tentara chamar o espírito de Pushkin2 com os amigos dele e ficou interessado.

— Sintonize-se comigo — disse Sapfira. Yan concentrou-se no rosto dela, e eles apareceram em uma casa antiga. Algumas pessoas

estavam sentadas à mesa em um dos cômodos. Estavam com os dedos postos sobre um pires, que

2 Alexander Pushkin (1799-1837), maior expoente da poesia russa. (N. do T.)

se movimentava por sobre uma folha grande de cartolina. O papel estava coberto por letras e números, escritos ao longo de um círculo.

— Espírito de Tutancâmon, chamo você — convocava um rapaz de cabelo comprido com um longo e estreito nariz. Fechou os olhos, sintonizando-se. — Responda uma pergunta: como podemos ficar ricos?

O pires corria pelo papel. Yan viu que ao redor das pessoas sentadas à mesa voavam vários espíritos diferentes, cada um dos quais tentando enviar-lhes sua resposta. Ali havia também uma estátua estranha, semelhante à imagem de Tutancâmon.

O líder, então, estabeleceu contato com uma criatura parecida com um sapo cabeludo com asas de morcego — era um dos espíritos inferiores. Entre os dois formou-se algo como um turbilhão espiral, e o sapo respondia as perguntas do rapaz com uma voz áspera e desagradável.

— Está vendo — articulou Sapfira, desapontada, — ele não conseguiu se sintonizar adequadamente, e, em vez de Tutancâmon, um espírito inferior lhe dá respostas.

— E por que Tutancâmon é tão bizarro? — perguntou Yan. — Não é o próprio Tutancâmon — respondeu Sapfira, olhando para a estátua sem vida. —

Reencarnou-se na Terra já faz tempo. Esta é a sua memória. Encarnando na Terra, deixamos nossa memória de vidas passadas no plano espiritual, e por isso em vida nada lembramos delas.

— E como é que eles poderiam entender Tutancâmon? Afinal, ele falava um idioma diferente — perguntou Yan.

— No plano espiritual não há idiomas, todos falam a mesma língua e facilmente compreendem, sentem um o outro, mesmo sem palavras. Olhe ali: eles não ouvem o que o espírito está respondendo, mas o cérebro converte os sinais em movimentos das mãos, e assim o

pires aproxima-se das letras apropriadas. Mesmo plantas, insetos e animais falam esse idioma único. Agora você vai entendê-los também, da mesma forma que os telepatas entendem, pois o cérebro deles não bloqueia essa habilidade. É possível conversar com pedras, alienígenas — o corpo não impede essa capacidade. Portanto, é mais fácil para uma pessoa obter informações usando pires, videiras, varinhas duplas, assim como ouvindo apenas a voz do corpo. Pode descobrir o que não é perceptível pela mente...

O sapo continuava a responder as perguntas, mas, ao mesmo tempo, tentava empurrá-lo para longe um outro espírito, que lembrava uma toupeira com asas de mosca. Este também queria entrar em contato com as pessoas.

Yan lembrou-se de como seu “Pushkin” falava palavrões quando o chamaram, e riu. Agora entendeu o quão importante é a sintonização apropriada e como é difícil alcançá-la sem prática especial.

— E como se deve sintonizar corretamente? — perguntou Yan. — Sintonizar significa criar harmonia — explicou Sapfira. — Harmonia em três níveis:

mental, sensorial e corporal. A mente deve visualizar uma imagem distintivamente, o coração experimentá-la emocionalmente, e o corpo sentir sua presença fisicamente. O melhor é começar com amigos próximos, parentes, lugares conhecidos, objetos seus. Você tem de imaginar uma pessoa, estabelecer uma conexão emocional com ela e senti-la muito próximo — como se pudesse tocá-la, encostar nela com seu corpo. É preciso gravar essa experiência e tentar transferi-la para pessoas e lugares desconhecidos, esforçando-se por reproduzi-la neste outro contexto.

— Entendi — respondeu Yan, pensativo. Então percebeu que um grupo de criaturas desagradáveis se aproximava deles. Seus corpos

eram cobertos de bolhas e feridas horríveis. Eles se empurravam e se xingavam de forma vil. Vendo Yan e Sapfira, se entreolharam, sorrindo maldosamente, e foram em sua direção. Sapfira agarrou a mão de Yan e ordenou:

— Vamos para Kadzhur urgentemente! Visualize o rosto dele! E em seguida encontraram-se mais uma vez em sua pirâmide. — O que foi? Por que fugimos? — perguntou Yan. — Estas criaturas monstruosas são semelhantes a demônios — disse Sapfira. — Deles

pode-se esperar qualquer coisa. Trata-se de um bando de assassinos, maníacos, bandidos e vários outros criminosos. Pecados não lhes permitem entrar em nosso mundo, e eles ficam próximo à Terra junto de outros espíritos. Viu as feridas deles? O corpo espiritual reflete as emoções muito negativas que eles possuem e estas os deformam.

— E quanto tempo ficarão no mundo dos espíritos inferiores? Por que não querem se corrigir? — perguntou Yan.

— Se uma pessoa busca desculpas, se ela apega-se a atitudes negativas e considera seus vícios algo normal, então ela se prende aos defeitos e ao mundo inferior, permanecendo um monstro moral. Somente através de remorso uma pessoa se livra dessas doenças mentais e pode subir para um mundo melhor. Tais pessoas podem habitar continuamente entre os demônios e as criaturas de sua própria espécie até reencarnarem na Terra se não resolverem livrar-se de sua perversidade. Por isso durante a vida é preciso fazer penitência com frequência e pedir perdão às pessoas, sem defender seus vícios; é preciso expô-los e tentar se livrar, acima de tudo, da má atitude para com as pessoas, de tudo que é contrário ao amor, à bondade e à compaixão.

Um dia Sapfira levou Yan para o laboratório de criadores. Lá reuniam-se os que foram cientistas, artistas e músicos em vida. Compartilhavam entre si suas criações e invenções.

Yan surpreendeu-se com as pinturas dos artistas, que eram tridimensionais e que foram pintadas simplesmente com a imaginação, e com os compositores, que tocavam a música de uma orquestra inteira, apenas com a força da mente. Mesmo os cientistas eram capazes de mostrar suas descobertas visualmente, em ação.

Participava deste encontro também Professor Bed, que discorria sobre a possibilidade de o DNA ser alterado. Após sua apresentação, Yan aproximou-se e perguntou:

— Por que aqui, no plano espiritual, precisamos de todas essas descobertas? Afinal, ninguém aqui tem um corpo físico. Como o senhor pensa aplicar sua teoria na prática?

— Você entendeu tudo corretamente — aqui isso é impossível, meu caro amigo. Mas agora trabalho para aqueles que ficaram na Terra — respondeu o professor. — Aqui é muito mais fácil fazer descobertas: não há necessidade de financiamento para estudos, equipamentos caros, técnicos de laboratório e outras coisas. Preciso apenas da minha mente. Consigo criar qualquer coisa que preciso com a ajuda da imaginação. E o mais importante — aqui é muito mais fácil obter uma resposta para qualquer questão científica.

— Concordo plenamente, professor — disse Yan, — mas como na Terra vão saber sobre sua descoberta?

— Muito simples. Fazíamos esse truque ainda na escola, na minha vida passada: aprendemos a transmitir pensamentos à distância. Eu pensava em um número de um a nove, e, em seguida, aproximava-me de alguém e falava: “Sou um grande telepata. Pense em um número de um dígito, e vou lhe dizer qual você escolheu”, e ao mesmo tempo mentalmente eu repetia o meu número constantemente. A pessoa ponderava, e, na maioria dos casos, escolhia o mesmo número que eu, porque a sua mente estava em procura, buscando um número. E eu apenas ficava repetindo esse número, e a pessoa o captava sem querer. Depois eu só falava o meu número, e muitos ficavam surpresos, pensando que realmente eu era um telepata. O mesmo acontece com cientistas, músicos e artistas — muitas vezes capturam as ideias que estão no ar. Então só tenho que encontrar um cientista que esteja tentando resolver questões de trabalho com DNA e mandar-lhe minhas ideias. Para capturar a solução, o mais importante é que ele deve estar pensando muito, deve procurar uma resposta e ter um alto nível de desenvolvimento científico. Então o pesquisador, assim como Mendeleev, que viu sua tabela em sonho, também pode sonhar com a minha descoberta. Está entendendo?

— Sim, isso é muito interessante — ponderou Yan. — Agora entendo de onde vêm todas as coisas novas na nossa Terra.

— Claro que nem todas as coisas, e nem só daqui — exclamou Bed, — mas que todas vêm de altas esferas e de planos espirituais — isso é verdade. Em geral, a influência do mundo dos mortos sobre o mundo dos vivos é enorme. Antes, até chegar aqui, não percebia isso. Mas quase tudo vem para a Terra a partir do plano espiritual. É claro que, além de nós, no mundo espiritual

agem também os demônios — precisamente por isso a situação na Terra é tão complicada. No começo, quando vim ao mundo espiritual, estava perdido e intensamente deprimido porque não conseguia me comunicar com os parentes, como costumava. Não sabia com que me ocupar. Mas assim que percebi quantas oportunidades há aqui — até mesmo a oportunidade de ajudar as pessoas na Terra, — me encontrei. Quando vivia na Terra, o mundo dos mortos parecia-me algo sombrio, algo inerte. Agora vejo que aqui estamos verdadeiramente vivos e a existência terrena é a vida após a morte: monótona, limitada, com envelhecimento e decadência.

***

— Bem, está se acostumando com aqui, meu jovem? — Kadzhur perguntou a Yan, tirando um cajado debaixo de suas longas vestes sacerdotais.

— Sim, estou me adaptando. Apenas ainda não está claro o seguinte: por que esse mundo terreno árduo foi concebido? Não seria melhor se Deus tivesse criado só anjos?

— Anjos, ao contrário de humanos, são limitados em sua experiência — disse o sacerdote majestosamente. — Não conhecem a maldade, as mentiras, os desejos, a tristeza, a angústia e a esperança da vida terrena... o frio e o calor, a fome e a saciedade, a raiva e o ressentimento, a paixão e a separação, assim como outros aspectos negativos e positivos da vida na Terra. Essa experiência também é importante para o crescimento de alma, para o desenvolvimento da compreensão e da sabedoria. A alma atinge sua perfeição somente após obter todo o espectro de experiências possíveis. Tendo passado por um longo caminho do mineral até Buda, adquire uma individualidade, uma dessemelhança para com as outras almas. Embora no início de sua separação de Deus todas as almas são iguais como duas gotas de água, no final ganham tanta experiência e memória de todas as encarnações anteriores, que ficam muito divergentes. E apesar de que, no final de sua jornada todos chegam a Deus, elas são únicas! Compare Cristo, Buda, Mahavira, Krishna, Maomé, Lao Zi!

— Mas como o mundo é injusto! — falou um homem em uma túnica branca, sentado ao lado de Kadzhur. — Fui morto por bandidos e vim parar aqui. Estou feliz, imensamente feliz. Mas por que eles foram mandados para a prisão e condenados a sofrer por longos anos?

— Sim, irmão Bogumil — endereçou-se a ele o sacerdote. — O drama da vida terrena é fundada na ignorância, incompreensão e cegueira total das pessoas. Afinal, se possuíssem onisciência, este drama seria impossível. O jogo inteiro da vida na Terra é baseado no homem não saber nada: nem passado, nem futuro. A alma de outra pessoa é, para ele, um mistério. Mas o que é crucial é que ele não conhece a si próprio. Esta é a base de sua cegueira e seu sofrimento. Porém, está completamente sob sua capacidade descobrir a si mesmo, e isso começa com auto-observação, introspecção e visão imparcial e distanciada no que tange aos seus pensamentos, sentimentos e sensações. Ele, então, acorda e se transforma em Buda. O homem pensa ser, ao mesmo tempo, ator e espectador do drama da vida. Mas não percebe que é apenas um ator — e esta é a desventura. Pois o drama da vida não passa em vão — tudo o que foi desempenhado permanece para sempre. Hoje veremos uma das partes mais interessantes deste drama, guardada nos Registros Akáshicos: a origem da civilização na Terra. Sentem-se em um círculo — pediu Kadzhur aos presentes, — deem as mãos e entrem em sintonia com o nascimento da civilização de Atlântida...

Viram-se perto de enormes pirâmides em construção. A obra andava a pleno vapor. Imensos blocos de pedra voavam pelo ar, como encantados, e formavam pirâmides. Conduziam este processo homenzinhos verdes com grandes olhos alongados, que ficavam ao lado de um grande disco voador branco.

— Então foram eles que construíram as pirâmides — disse Yan, surpreso. — Sim — respondeu Kadzhur. — Todos os megálitos, como Stonehenge, a Esfinge e

Machu Picchu, foram construídos por eles, a fim de enviar energia espiritual para a Terra. Em áreas específicas dentro destas estruturas, o fluxo de energia é particularmente forte. Lá receberam iniciação e transformação os novos sacerdotes da humanidade. Estes megálitos ainda hoje estão ativos e não permitem que o mundo sufoque na impiedade e na ignorância.

Yan virou a cabeça e viu um grupo de sacerdotes que estavam sentados numa colina em frente a um grande grupo de pessoas antigas. Um deles, em uma túnica preta com o sinal “S”, já conhecido por Yan, ensinava ao povo os mandamentos de Deus.

— Mestre Kalki! Este é o mestre Kalki! — gritou Yan, apontando para o sacerdote. — Eu sei — disse Sapfira com um sorriso encantador. — Esta grande alma encarnou-se

novamente para conduzir os perdidos à luz. Agora elas partem para o mudo terreno uma por vez, e lá elas enfrentam dificuldades. No alvorecer da civilização, porém, as almas poderosas encarnavam-se em grandes grupos liderados pelos profetas de Deus e davam origem às grandes religiões, cujos ecos chegam até nós através do cristianismo, do budismo, do hinduísmo, do zoroastrismo e de outras religiões antigas.

Eles se aproximaram e tentaram ouvir o que dizia Kalki Avatar. Yan ficou impressionado: o mestre repassava os dez mandamentos de Moisés, conhecidos da Bíblia! Mesmo Yan, que não era particularmente religioso, percebeu que a explanação destes mandamentos era claramente diferente daquela que os padres normalmente davam.

Sapfira balançou a cabeça afirmativamente: — Sim, Yan. Deus dá quase os mesmos mandamentos a todas as nações, para que as

pessoas tenham um direcionamento para desenvolver-se internamente e viver em harmonia. Mas do tempo de Atlântida para cá, o significado dos mandamentos foi distorcido. E agora, só os mestres como Kalki podem restaurar a verdadeira mensagem deles.

— Um dos mandamentos mais importantes é: “honrarás o calendário” — pregava Kalki. — De acordo com a doutrina, o calendário é a roda do tempo. Tempo é o movimento da Terra em relação ao Sol, e qualquer outro movimento é tempo. Mas o tempo não é uniforme, já que também inclui o movimento dos planetas e a localização das estrelas relativamente à Terra. Há tempo para criação e destruição, ação e inação, há tempo rápido e lento — um tempo para cada tarefa. Cada um de vocês deve saber quando o tempo virá e qual tempo será, para você e para todos na Terra. Que seus filhos desde a tenra idade estudem astrologia, que lhes contará tudo sobre o tempo e seus ritmos. Nossos irmãos que chegaram de outra galáxia já constroem observatórios para calcularem o tempo com precisão e para determinarem seu efeito sobre os entes da Terra.

Yan lembrou-se de Stonehenge e de outras estruturas antigas que serviam de observatórios. No passado não entendia por que eram necessários a selvagens e ignorantes. Mas agora via que os antigos tinham maior espiritualidade e consciência sobre muitas coisas importantes.

— Sim — Sapfira confirmou seus pensamentos, — naquela época havia deuses na Terra. Agora a civilização degrada-se espiritualmente cada vez mais. Apesar do desenvolvimento da tecnologia, as pessoas se preparam para um grande suicídio. É mais e mais difícil encontrar escolas verdadeiras entre a multidão de falsos profetas e padres, que há muito trocaram Deus por um prato de lentilha.

***

Yan admirava Sapfira cada vez mais. Ficava fascinado por suas maneiras requintadas, sua beleza, charme e inteligência. Ela percebia sua disposição e flertava com ele. Um dia estavam caminhando pelo jardim, apreciando a fragrância das flores, e Yan notou que, com cada sopro de vento, o vestido de Sapfira adoravelmente mudava de cor e de ornamento. Brilhava e transformava-se continuamente, até que se tornou um traje sedutor. Na distância, viam os picos brancos das montanhas, cobertos de neve, e à sua frente o mar mostrava seu azul. O sol se punha, pintando o céu com cores radiantes.

Yan pegou a mão de Sapfira, que languidamente olhou para ele com seus grandes olhos pretos, e o fluxo de energia inebriante percorreu seus corpos. Yan a puxou para ele e a abraçou. Imediatamente seus corpos começaram a juntar-se, mutuamente penetrando um ao outro, trazendo um prazer extasiante aos dois. Fizeram amor com toda a superfície dos seus corpos, trocando fluidos sexuais e gerando euforia um no outro. Yan sentia tudo que vivenciava Sapfira, e ela como que se identificava ao mesmo tempo com ela mesma e também com ele.

***

Após o incrível sexo energético, por muito tempo deitaram abraçados, contemplando o céu estrelado. Um enxame de vaga-lumes voava no ar, formando graciosas guirlandas.

Yan lembrou-se de que uma vez fizera sexo de forma parecida também com Inna, quando ela propusera que tentassem a prática do Tantra. Apenas se acariciaram, sem tocar nos órgãos sexuais. Mas naquele momento seu corpo não permitira que ele apreciasse a totalidade das sensações.

Yan declamava poemas, dedicando-os a Sapfira. Usando o poder de sua imaginação, ela compunha belas melodias, que serviam como fundo perfeito para a sua poesia.

— Te amo tanto! — Yan confessou-lhe. — Estou tão feliz de estar aqui, em casa.

*** Certa vez Sapfira sugeriu assistir aos rituais de um xamã terreno. Foram à Terra, a um

lugar da Sibéria. O povo de uma pequena tribo de pastores que criavam renas se reuniu na tenda do xamã. Sucedera-lhes um infortúnio: Tapyr não retornara da caça, e todos no acampamento tinham um pressentimento de que algo ruim lhe acontecera.

Kam, o xamã, em um traje esquisito, pegou um pandeiro e começou a bater nele, dançando leve e estranhamente. Cantava com uma voz baixa e sobrenatural, descrevendo todas as suas ações e visões aos presentes. Reuniram-se todos em um único campo e apoiavam as ações do xamã no mundo espiritual com toda sua energia conjunta.

Logo ouviam-se grasnidos e guinchos acima deles. Eram um corvo e um bufo — espíritos ajudantes –, que voavam ao redor da tenda. Juntaram-se a eles ainda um esquilo, que corria sobre a superfície externa da tenda, e uma raposa, que a circulava e regougava, dentre muitos outros espíritos.

— Tapyr está vivo? — perguntou o xamã aos espíritos. — Vivo... vivo... vivo... — falavam um por um os espíritos, com suas vozes estranhas. — Onde ele está? — fez outra pergunta o xamã. — Na curva do Rio Negro — responderam os espíritos com a mesma estranha polifonia.

O xamã agora batia no pandeiro furiosamente, invocando Tynbur — o espírito da êxtase xamanística — e ele apareceu ao xamã na forma de uma rena. O xamã montou-a e chamou seu

espírito ancestral. Em resposta à invocação apareceu do mundo dos mortos o xamã anterior da tribo.

— Mostre-me o caminho até Tapyr — solicitou Kam. — Está bem — respondeu o espírito. Kam então voltou-se a Ayami, o espírito de sua terra: — Ó poderosa Ayami, ajudai-me, não permitais que pereça o caçador Tapyr! Nossa tribo

serve-vos fielmente, não fere vossos animais nem vossa terra! Amparai-nos, apiedai-vos de nós! Ayami apareceu na forma de uma figura enorme, semelhante à Rainha da Neve3, elevando-

se sobre a taiga até a cintura. Ela fez um sinal de aprovação, acenando com a mão na direção do Rio Negro. Kam mandou arrear as renas. A noite estava escura, havia uma forte nevasca, e na distância uivavam lobos. Em suas leves vestes xamanísticas, Kam saltou para fora, para o frio. As renas encolhiam-se com medo, não querendo ir para a tundra à noite. No trenó já estava sentado Kite, filho de Kam.

Kam corria pela profunda neve à frente do trenó, exortando as renas. Atrás dele voavam os espíritos ajudantes. O trenó correu incansavelmente vários quilômetros sob a condução do espírito do antigo xamã. Kam via-o contornando ravinas, buracos, árvores caídas... À frente voava o bando de espíritos ajudantes. Yan via que Kam não apenas conduzia o trenó — ele montava sua rena Tynbur.

Tapyr jazia inconsciente à margem do rio e já havia quase congelado. À sua vizinhança já espreitava uma matilha de lobos, à espera de sua presa.

3 Personagem do conto de fadas de mesmo nome escrito pelo dinamarquês Hans Christian Andersen. (N. do T.)

Kam colocou o caçador no trenó e retornou correndo, com as renas atrás de si. Na tenda esperavam-no os outros membros da tribo. Tapyr foi colocado perto da lareira. Kam pegou o pandeiro e iniciou o ritual. Para trazer de volta a alma de Tapyr, o xamã tinha de ir ao Mundo Inferior — pois o corpo espiritual do caçador voara para fora do corpo físico e flutuava na fronteira com o mundo dos mortos.

Kam, montado em sua rena Tynbur, adentrou o plano espiritual, acompanhado pelos espíritos ajudantes. Com o auxílio de seu ancestral, conseguiu encontrar a alma de Tapyr.

— Irmão, é cedo para você se juntar a Erlik. Venha, estamos voltando. Atônito, Tapyr voava em mundos que nunca antes vira, mas seguiu o xamã. Voltaram à

tenda, e Kam empurrou-o para dentro do corpo físico, que estava deitado no chão da cabana. Tapyr acordou, começou a melhorar, mas ainda estava fraco. Kam batia no pandeiro e invocava o auxílio de Ayami, dos espíritos ajudantes e do xamã ancestral, para que todos ajudassem a devolver ao caçador seu Kut — sua força de vida –, para que socorressem Tapyr.

Os demais integrantes da tribo também estavam preocupados com Tapyr e, portanto, alimentavam-no com sua força, que o xamã concentrava e direcionava para sua recuperação. Yan viu como de cada um deles saía uma onda brilhante que penetrava o corpo do caçador. Kam cantava e em sua canção relatava tudo o que fazia para que os membros da tribo participassem no mistério e o ajudassem energeticamente. Assim, o xamã sintonizava-os emocionalmente com a onda apropriada.

Sentindo que Tapyr melhorara, Kam liberou os espíritos e completou o rito. Os demais começaram a retirar-se e levaram o caçador para a tenda dele.

Yan ficou admirado com a força e as habilidades do xamã. Sapfira explicou: — Ele nem sempre foi assim. É claro que era talentoso desde a infância, e os espíritos o

escolheram para ajudar a tribo. Mas ele resistia a seu destino e não queria tornar-se um xamã. Os espíritos, então, começaram a levá-lo ao plano espiritual, comunicando-se constantemente com ele. Parecia-lhe que estava enlouquecendo — fora acometido pela doença xamânica. Ainda assim, contudo, os espíritos conseguiram ensinar a Kam como entrar no plano espiritual por si próprio, e ele aceitou seu destino e tornou-se um xamã.

Yan ficou mais surpreso ainda: — É possível forçar uma pessoa a se desenvolver? — perguntou ele. — Espiritualmente, não, mas qualquer um pode ser obrigado a adquirir habilidades; são

duas coisas diferentes — explicou Sapfira. — Kam apenas dedica-se à tribo, à sua egrégora, ao espírito da tribo, a qual pode morrer sem um xamã aqui. É por esta missão que os espíritos conferem forças a ele. Mas, onde a civilização já chegou, a ajuda de um xamã se torna desnecessária. Lá os xamãs ficam visivelmente enfraquecidos, pois o poder é dado apenas para a sobrevivência de uma tribo.

Yan e Sapfira voaram até Kam, que os percebeu. Yan perguntou-lhe como se tornara um xamã:

— Quando o antigo xamã morreu — contava Kam, — muitas vezes ele aparecia nos meus sonhos. Até de dia comecei a vê-lo. Minha avó disse que os espíritos me escolheram para ser xamã. Mas não queria este destino, pois um xamã não pertence a si mesmo — vive apenas para servir aos outros. Se alguém sofreu um acidente, o xamã é obrigado a ajudá-lo. E é difícil quando você não pode recusar e os espíritos obrigam-no a ajudar a todos. Eu resistia, mas meus antepassados mortos viam minhas habilidades de médium — de alguém que é capaz de entrar em contato com os espíritos. E, conduzidos pelo velho xamã, eles começaram a puxar minha Dzhula (alma) para fora do corpo. Comecei a ter visões. Via espíritos, via antepassados, via o mundo espiritual em plena luz do dia. Era como uma alucinação, e eu contraí a doença xamânica: delirava, falava com os espíritos, que tentavam me convencer a me tornar um xamã, porque era preciso ajudar os membros da tribo. Fugia para a taiga, muitas vezes sentava-me perto da árvore xamânica, onde o corpo do antigo xamã fora sepultado. Nos galhos estavam pendurados seus velhos e espedaçados pertences: tambores, vestes, objetos ritualísticos. O ancestral e os espíritos ajudantes retiravam minha Dzhula do corpo e ensinavam-me a viver em seu mundo. Aprendi a

mover-me no corpo espiritual e a comunicar-me com espíritos. Então peguei pela primeira vez o pandeiro e comecei a fazer rituais para ganhar controle sobre estas experiências. Com o pandeiro na mão, sou um xamã; sem ele, me desprendo e levo uma vida normal.

— E o senhor mesmo faz algo para ajudar as pessoas? — perguntou Yan. — Sim, é claro. Recentemente, o filho de Biya morreu, e ela estava muito abalada, pensava

demais nele. Sua Dzhula voou para o mundo dos mortos. Ela ficava perdida, não reagia a nada. Fui ao plano espiritual, devolvi sua alma ao corpo, cortei o contato dela com o filho, e ela sentiu-se melhor. Às vezes tenho que fazer sacrifícios. Uma pessoa daqui há poucos dias ficou doente — e a doença significa que um espírito maligno a possuiu. Eu o transferi para uma rena e a enviei para a taiga, onde os animais a comeriam. Assim a pessoa se recuperou. Às vezes, se a doença é muito grave, não bastam as forças dos ancestrais, e então mato uma rena. Os antepassados se alimentam de seu sangue, adquirem força e assim conseguem expulsar o mau espírito de dentro do corpo.

— Pensava que as bactérias causavam as doenças. — Os vírus são corpos físicos de espíritos malignos, eles vivem lá.

*** Certa vez, visitando seu avô, Yan conheceu um alemão que se chamava Hans. — Vovô, lembro-me de que na Terra você odiava os alemães! Você passou pela guerra!

Aqui suas opiniões mudaram? — Sim, neto — respondeu o avô. — Hans e eu tivemos uma longa conversa e entendemos

que, durante a vida, simplesmente fomos enganados. Fomos forçados a ir à guerra! Esses demônios, Hitler e Stalin, ensinaram nações inteiras a brigar entre si. Para as pessoas comuns, seria, na verdade, melhor viver sem guerra, mesmo se Hitler conquistasse a Rússia ou Stalin a Alemanha.

— Sim, sim — confirmou Hans. — Pelo menos Hitler não destruía os templos, e isso já é alguma coisa. E, veja, se havia campos de concentração tanto de Hitler quanto de Stalin, qual é a diferença? Ambos queriam apenas uma coisa: atormentar o povo. Um incitava a gestapo e o outro torturava e matava as pessoas no NKVD. São esquemas iguais de tortura.

Yan surpreendia-se que no plano espiritual a opinião de uma pessoa podia mudar tão drasticamente.

— Vamos ao Registro Akáshico — disse o avô, vendo seu estado. — Você vai ver por si mesmo a conspiração desses desumanos contra o povo da Terra.

Encontraram-se no século XVIII, numa reunião de demônios. Numa sala escura, iluminada à luz de tochas, com esqueletos e corpos desfigurados pendurados nas paredes, em uma mesa enorme estavam sentados monstros horríveis, com fisionomias disformes, que se assemelhavam a morcegos, a hienas, a macacos. As aberrações tinham chifres e asas membranosas, eram cobertas de pelos pelos e possuíam dentes caninos e garras compridas.

À cabeceira da mesa, sentava-se Belzebu, o senhor dos demônios, com um rosto peludo e nojento que lembrava um gorila, mas com um nariz adunco e sem olhos — nas órbitas oculares brilhava em seu lugar uma luz vermelha. Encapava-o uma túnica preta com símbolos satânicos.

— Acontecerá uma grande celebração, ao mal sacrificaremos milhões de pessoas — rosnava ele com a voz grave. — Já agora, nas mentes dos iludidos, inserimos a ideia de comunismo — de um “futuro brilhante” — sorriu maldosamente. — E por causa dessa ideia começará uma guerra que cobrirá o globo! Os templos de Deus serão destruídos, e todos que não adoram a Satã serão mortos. Mas isso não é tudo. Logo os demônios, liderados por Egkhed (Lenin), organizarão uma revolução sangrenta e inundarão grande parte da Terra com sangue! No lugar de Egkhed surgirá Samnu (Stalin) — um vilão ainda maior, e atormentará as pessoas forçando-as a acreditar que faz o bem. Mas isso ainda é pouco, juntamente com Abbadon (Hitler) produzirão uma guerra longa e sangrenta, a fim de tornar a vida das pessoas ainda mais insuportável. Uns lutarão pelo comunismo, outros pelo fascismo. Os povos exterminarão uns aos outros, destruindo tudo à sua volta e assolando a Terra.

Depois destas palavras, os demônios berraram de alegria, proferindo gritos horríveis, rangendo e uivando.

— Está vendo, meu neto — disse o avô, — como a história é de fato feita: os grandes lutam pelo poder, mas quem paga com a vida são os pequenos. As pessoas simples têm só uma saída — não acreditar em nenhuma ideologia e nenhuma promessa dos políticos, não se envolver nas guerras, nos golpes e em qualquer tipo de violência que acontece, pretensamente, em nome da bondade. Pelo contrário — é preciso pensar sobre como irradiar mais amor, compaixão e empatia — afinal, a felicidade é justamente isso. Também é necessário ajudar ao próximo, ensinar-lhe a misericórdia e a tolerância. Toda a Terra então se encherá de alegria, e não haverá demônios que serão capazes de seduzir as pessoas. Lembre-se: onde há violência e guerra, Satã prospera.

— Sim, sim — disse Hans, — a violência não pode mudar nada para melhor. Ninguém pensava em derrubar Stalin, Mao Tsé-Tung, Kim Il-sung — assim estes conseguiram transtornar as mentes de seus súditos. Somente um líder bom e democrático se pode destituir. Quantas tentativas de assassinato contra Hitler, e nada adiantou. Nicolau II, imperador russo, ao ver o povo queixando-se abdicou, porque restara nele algo de humano.

— Por que Deus permite tanta maldade? — Yan ficou perplexo. — É uma dolorosa vacina contra o mal. Para que as pessoas vissem a sua verdadeira face,

para que não fossem mais iludidas por ideia nenhuma, para que não acreditassem que Stalin lhes seria um pai e que Hitler faria bem ao povo. Uma vacina para que entendessem que não devem ajudar demônios a fazer o mal. Você já sabe o preço que pagamos para obter esse conhecimento.

— E eu — disse a avó, — sobrevivi ao Cerco a Leningrado. Lá, Stalin submeteu o povo à tortura. Afinal, podíamos simplesmente entragar-nos e os alemães teriam mais uma cidade ocupada, como já estavam Kiev, Odessa... O regime alemão não era pior que o de Stalin, e portanto o povo não teria sofrido e morrido de fome. Mas o cerco foi protegido pela ideia de heroísmo — os demônios precisavam disso para justificar suas atrocidades com uma ideia nobre.

Yan lembrou-se de uma canção de Talkov, Satã Cansou de Dançar... — E agora isso tudo acabou? — perguntou ele. — Claro que não, meu neto! — disse a avó. — Em toda a Terra os demônios estão

divididos em dois grupos e continuam, sob os auspícios do nacionalismo, da luta por justiça e liberdade, a organizar guerras, terrorismo e destruição, a derrubar governos e a dividir territórios. Isso acontece e acontecerá em toda a Terra.

***

Um dia, depois de uma relação sexual energética maravilhosa, Sapfira, numa inundação de euforia, começou a fazer uma dança erótica, em vestes sedutoras — como nas pinturas de Vallejo. Yan imaginou pétalas e botões de flores caindo do céu sobre ela. Soava uma música encantadora, criada na imaginação de Sapfira. Ao redor palmeiras curvavam-se elegantemente. Ondas sussurravam na distância. Depois da dança, Sapfira aproximou-se de Yan e, abraçando-o, fitou seus olhos com atenção.

— Querido, tenho de lhe dizer algo muito importante — falou ela. — Sou todo ouvidos, meu amor — disse Yan, olhando para ela carinhosamente. — Estou aqui há muito tempo, e chegou a hora de me encarnar na Terra. Devo morrer

neste mundo para reencarnar em um novo corpo na Terra. A morte física na Terra não é nada, é apenas uma transição da vida dolorosa terrena para o Jardim do Éden, o paraíso de Adão e Eva. E a morte aqui, que é a nova encarnação na Terra, é a morte verdadeira: uma pessoa nunca voltará à sua antiga personalidade. Não lembrarei mais quem era aqui, esquecerei de você, meu amor, e de toda minha vida passada. Serei uma nova pessoa, com um novo destino. Deixarei aqui a minha memória, e nunca mais haverá esta Sapfira. Haverá uma pessoa diferente. É claro que sentirei em mim, na minha essência, a minha personalidade, com traços do meu caráter, por exemplo, minha propensão para a música...

Yan ficou espantado com as palavras dela. — Mas por quê? — perguntou ele. — Estamos tão felizes juntos. Fique aqui, comigo! — Essa é a vontade de Deus. Não podemos resistir a ela. Deus quer que nós cresçamos,

nos desenvolvamos, nos aproximemos Dele, da Iluminação, e por isso nos envia à Terra — para que aprendamos novas lições.

Yan levou as mãos à cabeça. Girava e uivava em desespero. Sacudia os punhos para o céu e gritava:

— Eu o amaldiçoo, Deus! Nos envia só o sofrimento contínuo! Nos ridiculariza! Não quero ser um palhaço em seu espetáculo, a entreter e a preencher o seu vazio! Não quero que meus sentimentos sejam alimento para você! Não vou ser um fantoche, que você faz passar por diferentes emoções! Não lhe pedi para me criar!

— Chega — Sapfira aproximou-se e abraçou-o, tentando acalmá-lo. Ele irrompeu em lágrimas sobre o peito dela. — Mas eu não quero isso! Quero morrer e encarnar com você, para estarmos sempre

juntos! — protestava Yan. — Infelizmente, não é possível morrer aqui antes do prazo. Estou aqui há muito tempo,

mas a sua hora ainda não chegou. E, mesmo se reencarnássemos simultaneamente, não há

garantia de que iríamos nos encontrar novamente e se apaixonar na vida terrena, meu querido. Não sabemos em que lugares e em que corpos Deus nos encarnará, nem que lições preparou para nós. Aceite isso como outra lição dele, não se preocupe, porque não há nada eterno, tudo é temporário. Tente viver o momento presente, aquilo que temos aqui e agora — sem agarrar-se ao passado. Eu vou conhecer o bem e o mal, como os apreciava Eva, havendo descido do Éden para a Terra. Todos os dias oro a Deus para lá encontrar Bhagavan Kalki e tornar-me sua aluna — ele é a encarnação do Buda Maitreya. Sinto que Deus ouviu minhas preces.

Yan não se aguentou, pôs as mãos na cabeça, e começou a amaldiçoar Deus novamente: — Por que o Senhor criou um mundo tão injusto!? Não há nada além de maldade e

sofrimento! Eu O amaldiçoo por isso! — gritava ele para o céu, com lágrimas nos olhos. — Acalme-se, Yan — abraçou-o Sapfira. — Ainda estou aqui. Ainda não aconteceu nada.

Não se preocupe, vou ficar aqui mais um pouco, e você terá tempo para se acostumar com a ideia. Aqui sabemos a hora da reencarnação, diferentemente da Terra.

Agarrou-se a ela e explodiu em lágrimas de desespero. — Você não deveria maldizer a Deus. Não consegue ver o bem que Ele fez por você? Olhe

o mundo maravilhoso em que vive agora! Pode virar um anjo, tornar-se Ele mesmo! Graças a Ele apareci na sua vida, e você aceitou isso como certo, sem mesmo agradecê-Lo por isso! Aproveitava a vida neste Éden, sem pensar quem criou este paraíso para você. E agora blasfema contra Ele...

— Mas por que você deve morrer? Afinal, tudo está tão perfeito, e nós nos amamos! — não desistia Yan.

— Infelizmente, nossos corpos espirituais não são eternos, são como os da Terra. Embora o corpo espiritual viva mais do que o terreno, ainda chega um momento em que ele entra em colapso. As pessoas que estão envolvidas em práticas espirituais — como ioga — têm um corpo mais forte e mais duradouro. Os corpos das pessoas que levam uma vida sem sentido são mais fracos. Não temos participado das práticas para fortalecer nosso corpo espiritual, e, eventualmente, ele cairá aos pedaços. Naquele momento, chegará a hora de encarnarmos na Terra, porque não poderemos mais viver no mundo espiritual. Nosso nível espiritual não é tão alto para que pudéssemos viver no mundo dos anjos, por isso somos atraídos para a Terra. Tudo é mortal.

Até Deus morre de vez em quando — para ressuscitar novamente. Precisamos da morte para renovar nossa percepção, para que possamos olhar a vida com outros olhos, começar uma nova etapa com ficha limpa. Pois a experiência anterior nos limita, não nos deixa perceber coisas novas, sentir tudo sem a velha avaliação e as velhas opiniões — e sem nada de novo a vida não pode ser completa. Além disso, todas as coisas têm dois lados. O mundo é assim; ele é dual. Se há calor, há frio. Se há acidez, há doçura. Se há algo alto, há algo baixo. Se há encontro, há também separação. Vida e morte, encontro e despedida, eu e você — sem um não há o outro. São duas faces de um mesmo fenômeno — e elas são inseparáveis.

Um inevitavelmente substitui o outro: dia e noite, vida e morte, alegria e tristeza. Só Deus não tem esta dualidade. Até os anjos a têm! Mas você está muito obcecado por detalhes. Não vê a vida em sua totalidade. Se você fosse capaz de ver e aceitar essa integralidade — não sofreria. O apego às coisas e às circunstâncias o faz sofrer. Mas a vida é mais ampla do que este momento que você captura. Houve mil situações em que você encontrou e perdeu algo, ficou atormentado e depois se acalmou e continuou vivendo. Não se lembra, mas isso aconteceu com você muitas vezes. Vejamos suas vidas passadas, que você entenderá tudo. O problema não está no mundo — mas em você. Você não é perfeito, e por isso sofre.

Sapfira pegou a mão de Yan. Foram para o Registro Akáshico e viram as vidas anteriores dele.

Aqui ele é um guerreiro em uma cidade sitiada. Sua esposa e filhos estão mortos. Fica atormentado e abalado por um longo período, mas sobrevive, se acalma e cria uma nova família.

Aqui ele é um comerciante, conduz sua noiva através do deserto com uma caravana. São atacados por ladrões, que os assaltam e roubam a noiva, escravizando-a. Ele milagrosamente

escapa. Vaga pelo deserto por muito tempo em busca da morte. Boas pessoas o recolhem e o retornam à vida. Eventualmente, ele se acalma, torna-se um vendedor, encontra um novo amor e se casa.

Aqui ele é o bobo da corte de um rei. Se apaixona pela dama de companhia e é expulso do palácio. Sofre de amor não correspondido, quer morrer. Mas o tempo passa, ele se acalma, torna-se um ator itinerante e mais uma vez encontra um novo amor.

E da mesma forma outras mil vezes. Quando criança, chora devido à perda do brinquedo favorito ou porque um gato comeu seu papagaio de estimação. Toda vez culpa o mundo, Deus, as pessoas, sem ver que o problema não são eles, mas sim seu apego às coisas com as quais entra em contato. Vive num sonho, sem entender que tudo no mundo é temporário, que cada coisa tem dois lados.

Yan concluiu que os sentimentos não podem viver sem um objeto; eles estão sempre à procura de amor. Quando nada acontece na vida de uma pessoa, seus sentimentos ficam um pouco mais fracos, apagam-se e buscam um novo objeto. Apenas raramente os sentimentos permanecem constantes: às vezes no caso das mães e de algumas mulheres. Mas os sentimentos de cada um têm sua própria intensidade e duração. Yan ficou especialmente surpreso que os sentimentos das pessoas no caminho espiritual também não são perenes. Mesmo que encontre Deus, seu sentimento pode enfraquecer e transferir-se para outra coisa.

Yan assistiu à confissão que fazia, em uma de suas vidas anteriores, quando estava prestes a morrer. Naquela vida conhecera a Cristo, mas também O abandonara. Deitava em seu leito de morte e dizia ao monge:

— ...e eu andava com o Senhor, e vi a impureza e disse-Lhe: “Posso, mais uma vez, a última vez, apenas esta última vez, entregar-me à impureza, apenas por 5 minutos — e então voltarei a andar Convosco!...” E o Senhor afastou-se de mim — falava ele, chorando. — Entreguei-me, então, à impureza. Mas quando me reergui, o Senhor já não estava lá! Não estava comigo! — exclamava com tristeza. — E passaram-se já 20 anos. Perdi tudo! Tudo o que tinha! E agora a morte mostra sua face! Encontrei este fim por causa de minha fraqueza! Porque sucumbi à impureza do diabo! — soluçava ele.

— Como é que pode? — indagava Yan. — Sentimentos tão fortes! Parece que ficarão para sempre — mas depois desaparecem.

— Nada dura para sempre, querido — disse Sapfira carinhosamente. A vida segue seu caminho. Aceite tudo que o Senhor lhe dá com gratidão e compreensão. Afinal, essas são as lições para o desenvolvimento de sua alma. Porém, em relação às coisas importantes temos de confiar em nossas decisões, fortalecendo-as, pois elas são mais duradouras. Precisamos cultivar a compreensão e segui-la, ao invés de falar como uma criança: vou — não vou, quero — não quero...

Um dia Yan descansava perto de uma bela cachoeira, que caía de um alto penhasco. Pedras graciosas, cobertas com musgo decoravam o entorno. Cipós entrelaçavam as árvores. Pássaros vivazes agradavam os ouvidos com seu canto.

Sapfira aproximou-se de Yan com duas meninas muito bonitas. — Meu nome é Reya— apresentou-se uma delas faceiramente. — Sou Bhagavati — disse a outra beldade languidamente. Yan cumprimentou as meninas, que se sentaram à sua frente. As amigas da Sapfira eram

muito bonitas. Devoraram Yan com seus olhos e ajeitavam seus penteados e seus trajes com galhardia, envaidecendo-se diante de Yan.

— Viemos para fazer sexo todos juntos — disse Sapfira. — Para você aprender a não se fixar em mim. Tente dar atenção igual a todas nós.

As meninas dançavam em torno de Yan. Ora uma, ora outra flertava e tocava nele, criando com suas mentes belas canções.

Yan inicialmente ficara imobilizado. Não sabia como reagir a isso... mas então entendeu que Sapfira queria deste modo ajudá-lo, prepará-lo para a partida dela, e ficou-lhe grato por isso.

Juntando-se ao jogo, Yan agora também interagia com as meninas e as acariciava com suas mãos.

As meninas ajoelharam-se em torno de Yan e abraçaram-no de três lados. Todos eles se

fundiram em um único ato de amor. Yan, rodeado por tão grande energia feminina, simplesmente dissolveu-se. Estava em êxtase completo. Sentia todas elas ao mesmo tempo. Era

um estado surpreendente: aperceber-se como se tivesse quatro corpos num mesmo instante. Após a fantástica relação sexual a quatro, todos deitavam-se numa clareira pontilhada de

flores e contemplavam nuvens passageiras, permanecendo em total euforia. Yan ainda sentia a energia das meninas em si mesmo, e nele apareceu um sentimento de afinidade para com elas. Começou a perceber quão egoísta fora; pensara apenas em si próprio. Via agora que Deus dera-lhe uma lição, e que com seu suicídio ele machucara pessoas próximas, sem pensar nos sentimentos deles nem por um momento. Agora Deus lhe abria uma oportunidade de ver a situação do outro lado. Veio-lhe a ideia de que vivia sem propósito, de que sua vida não tinha sentido ou objetivo. Yan ficou tomado de tristeza. Em sua alma apareceu uma oração:

O criador me ama tanto e tanto me atura, E eu lento vou a ele com a consciência impura. Agarrado a capricho e atração, Nada mais ganho senão aflição. Um aluno ruim, sem razão ou meta, Vago numa ignorância completa. No criador há tanta compaixão, Que ele ama um tolo mandrião. O criador me ama tanto e tanto me atura, E eu lento vou a ele com a consciência impura.

Agarrado a capricho e atração, Nada mais ganho senão aflição. Em vão foram tantos esforços e tentativas. Por quanto tempo estarei endividado... A fé do Criador é tão forte e incisiva Que algo bom surge até de um fracassado!

Lembrou-se daquilo que lhe dissera o anjo, e decidiu viver dedicando-se às pessoas, a ajudá-las, a consagrar sua vida ao serviço de Deus. Apenas não sabia como fazê-lo. Yan cansou de levar uma vida ociosa; decidiu servir. As meninas observaram seus pensamentos e ficaram felizes por ele.

— Orávamos para que Deus lhe mostrasse o caminho — disse Reya. — Conheço uma maneira de auxiliar as pessoas — disse Bhagavati. — Podemos ajudá-las

a lidar com as criaturas malignas que as devoram e trazem-lhes infelicidades, a se livrar das larvas, dos maus espíritos e das entidades maliciosas do plano espiritual que os parasitam. Se uma pessoa é propensa a quaisquer emoções negativas, estas bestas atacam-na e alimentam-se com a energia dessas emoções, insinuando pensamentos correspondentes, para que a pessoa continue a vivenciá-los, dando energia às criaturas. Algumas alimentam-se de medo, outras de raiva, outras de ganância, tristeza, ciúme, ressentimento, transformando a pessoa em um psicopata. Assim surgem todos os problemas e transtornos de uma pessoa. Se ela não decidir terminar a sua estadia nos pensamentos negativos, se não adotar as práticas espirituais, será impossível ajudá-la. Portanto, podemos trabalhar com alguém apenas quando ele ou ela o quer, ou quando pedir a ajuda de um mago terreno. O mago o ensinará a não sucumbir às ciladas dos demônios, a alcançar um estado em que eles não mais o parasitarão.

Sapfira, então, declarou: — Conheço tais magos. São discípulos de Kalki. Eles ensinam Sampo às pessoas, ajudando

a resolver todos os seus problemas. Voemos até Kubera, um dos alunos de Kalki. É um Boaguir, um guerreiro astral. Ajuda as pessoas a se livrarem de larvas e a começarem uma vida feliz.

Os amigos voaram à escola de Avatar. Kubera fazia um kata meditativo do Sampo, quando o informaram que uma mulher necessitada viera vê-lo. Yan e as meninas assistiam à cena. Entrou na sala uma mulher jovem, bonita, mas muito infeliz. Em seu rosto havia uma aranha feia e nojenta, que a levava a um estado decadente e pessimista. Ela devorava seu cérebro e avidamente alimentava-se com seu sofrimento.

— Qual é o seu nome? O que aconteceu? — interrogou-a com compaixão Kubera, o discípulo de Kalki, de antemão já sabendo qual era o problema da moça.

— Meu nome é Olga. Meu marido é um alcoólatra. Ele sempre bate em mim, leva tudo embora de casa para sustentar seu vício. Já não temos nem comida para as crianças. Fui demitida do trabalho, sempre fico doente e sinto-me mal constantemente — ela começou a chorar.

Kubera abraçou-a e disse: — Consigo ajudá-la facilmente, ficará bem. Mas precisará mudar completamente seus

pensamentos. E, se você concordar, nos próximos dias sua vida mudará. — O que preciso fazer, então? — sussurrou Olga, continuando a soluçar. — Devido a seu estado de espírito decadente, você atrai pessoas como o seu marido e

também outros infortúnios. Se você está pronta para ser feliz, vou ajudá-la. É preciso abandonar o marido alcoólatra, deixar as crianças temporariamente com os avós e inscrever-se nas Artes Femininas. Lá você aprenderá como se tornar linda, brilhante, atraente, bem sucedida, ativa — e depois todos os problemas acabarão e você conseguirá atingir o que sonhou em sua juventude.

A aranha, pressentindo a desventura vindoura, despertou e com força redobrada afogou Olga em um estado pessimista. A moça pensou mais uma vez que jamais conseguiria nada de bom, que é necessário aceitar o seu destino e lentamente morrer. Já estava pronta para negar a ajuda.

— Peguem a aranha! — gritou Reya. — Vamos destruí-la!

Os quatro amigos tentavam desprender o vampiro e com dificuldade arrancaram-no do rosto da infeliz. Em seguida, materializando espadas astrais, cortaram a aranha em pedaços.

Olga sentiu-se melhor imediatamente. Concordou em tornar-se feliz. Kubera mostrou-lhe os katas do Sampo e ensinou-lhe a quebrar os sans-contatos com o

marido, um vampiro que todo o tempo bebia de suas forças e cortava suas fontes de energia. — É necessário dar um sans-golpe nesses vínculos. Juntos, começaram a fazer um kata, mas Olga o executava lenta e timidamente, e de

maneira insegura. — Assim nada dará certo — pensou Yan e passou a cortar com a espada os tentáculos energéticos com os quais o marido enredara a esposa. Até agora os tentáculos, como metástases de um câncer, destruíam o corpo espiritual dela. Logo a energia da moça parou de vazar para o bêbado. Nela apareceram força e confiança.

Vendo que Olga melhorava, Kubera a levou para Mahapadma, que fez dela uma deusa. Após certo tempo era impossível reconhecer a mulher: seus pensamentos e aparência mudaram completamente. Surpresa, ela se admirava no espelho, sentindo a força e a confiança que poderiam facilmente atrair qualquer sucesso. Olga não acreditava que podia ser tão bonita.

— Mas nem tudo é tão simples — disse Bhagavati. — A pessoa ainda não se acostumou com o estado feliz, e, assim que ela sair da influência da egrégora da escola, os velhos pensamentos retornarão imediatamente, e uma outra aranha pode atacá-la. O marido tentará novamente amarrá-la com seus sans-contatos negativos. Vamos acompanhar Olga para que isso não aconteça.

— Agora mantenha este estado novo e robusto — instruía-a Mahapadma, — e então você alcançará o verdadeiro sucesso.

Olga foi para casa pegar as crianças e seus pertences. Os amigos voaram atrás dela. O marido de Olga era todo carcomido por entidades demoníacas. — Poderíamos ajudá-lo também — disse Reya, — mas ele não o quer. E, mesmo se

melhorasse temporariamente, sem aulas na escola espiritual, sem práticas e sem mudança de pensamento, nada funcionará. Há uma grande variedade de larvas. Não podemos matar todas. Só a própria pessoa, mudando seu estado, consegue deixar de ser vítima desses maus espíritos.

— De onde surge um número tão grande dessas criaturas? Por que elas existem? — Se multiplicaram assim porque as pessoas não as enfrentam. Não têm cultura espiritual

e são facilmente influenciadas por esses monstros, pois agora reina a falta de espiritualidade. Há muitos mestres falsos e religiões degeneradas que não têm nada a oferecer. E as pessoas como Kalki são jogadas na cadeia e declaradas fanáticas.

Em casa o bêbado estava endemoniado. As crianças, intimidadas, escondiam-se dele na sacada.

— Ah, chegou, vadia? — cumprimentou Olga, mal conseguindo ficar em pé. — Vá me trazer uma cerveja!

— Basta! Vou me divorciar e levar as crianças embora — exclamou Olga. — Nada disso vai acontecer, vou acabar com a sua raça — gritou o marido. Quebrou uma

garrafa na quina da mesa e brandiu a fração restante diante do rosto dela como uma rosa vítrea. Olga se escondeu dele no banheiro. Ele martelava a porta com a garrafa, xingando a esposa de forma vil.

Na cabeça do marido de Olga, os amigos viam um anão maldoso e hediondo que causava

nele estes ataques de agressão absurda e descontrolada. Todo o corpo do homem estava coberto com vermes.

Os amigos atacaram o demônio — ele gritava e tentava fugir. Finalmente, conseguiram tirá-lo. Eles o rasgaram com suas espadas. O marido, no entanto, não se acalmava.

— Vamos tirar sua energia — disse Bhagavati.

Começaram a extrair sua energia. Logo ele ficou mole, caiu e adormeceu. Olga tomou coragem e saiu do banheiro. Pegou seus filhos e deixou a casa.

O lugar do anão na cabeça do marido, porém, foi ocupado por um escorpião horrível, estimulando-o a ficar agressivo novamente. Quando acordou, pegou um machado e com gritos selvagens começou a destruir os móveis.

— Vamos continuar a acompanhá-la — decidiram os amigos, — porque, assim que ela mudar seu estado de espírito, outra aranha atacará seu rosto mais uma vez e tomará sua energia.

Pela primeira vez após a morte, Yan sentiu-se cansado.

— Por quê? — perguntou ele. — Ficar perto da Terra é sempre

difícil para nós. Consistimos apenas de um corpo espiritual. Mas, para viver na Terra, é necessário ter também o corpo etérico e vital... Portanto, para nós nada é fácil aqui. É um mundo pesado e repleto de obstáculos. Encontra-se muito perto do inferno, de onde origina-se toda esta imundície, especialmente agora, na era da falta de espiritualidade. Apenas um estado de espírito exaltado e uma conexão com altas egrégoras podem proteger os habitantes da Terra das larvas e demais demônios. As pessoas, contudo, não pensam sobre o assunto e assim sucumbem às emoções negativas que destroem sua vida e sua saúde, sempre justificando-se e apegando-se à mentira criada pelos demônios: a necessidade da guerra, da violência, da vingança, a legitimidade do ressentimento, da inveja, da raiva e de outras formas de autoengano.

Enquanto isso, Olga chegou à casa dos pais para lá deixar as crianças por um tempo, a fim de começar uma nova vida. Ao ouvir que ela queria se divorciar, eles a atacaram:

— Mas que roupas são essas?! Por que se maquiou como uma prostituta?! — gritava a mãe. — Não deve se pintar assim, você tem um marido! Terrível, mas seu! Quem vai querer você com essas crianças? Ninguém vai nem olhar para você — a mãe afogava-a em suas atitudes negativas. Ao mesmo tempo, enxames de várias larvas, percevejos, pulgas e tarântulas voavam em direção a Olga; foram enviados pela negatividade da mãe.

— Trabalho de faxineira? — Está ótimo! Você não é capaz de nada além disso! Sempre vivemos na pobreza, mas somos honestos!

— Por que nos trouxe as crianças? — começou o pai. — Elas precisam de um pai, de uma figura masculina! E você decidiu se divorciar! Não se atreva a fazer isso! Leve-as para casa e crie-as sozinha! Quem você anda ouvindo!? Somos seus pais, desejamos-lhe o bem, não lhe aconselharíamos nada de mal!

Era difícil para Olga suportar esse ataque energético. No estado em que se encontravam, os pais de Olga lançaram-lhe uma torrente de larvas. A moça mais uma vez ficou mal, sentia-se infeliz. Ainda tinha forças, pelo menos, para sair, assim terminando esta lavagem cerebral. Por muito tempo vagou sob a chuva que caía, sequer tentando proteger-se dela. Em sua alma ocorria uma luta: submeter-se à vontade dos pais ou iniciar uma nova vida feliz: um duelo entre a luz e as trevas, o velho e o novo, a vida em sofrimento e o caminho para a felicidade. Chorava porque ninguém a entendia. Todos apenas a pressionavam e impunham suas vontades.

Os amigos correram para ajudá-la, tirando as criaturas impostas pelos pais, destruindo assim os sans-contatos através dos quais eram transmitidos a Olga estados fracos e decadentes e péssimos pensamentos.

— Agora somente a escola de Avatar pode salvá-la — disse Reya. — Oremos por ela — sugeriu Yan, — para que ela vá até lá. Os amigos rezavam por Olga, para que Deus a persuadisse a ir à escola de Kalki, onde ela

poderia receber ajuda. Mandavam-lhe de seus corações raios de luz que alumbravam o seu estado. Por um tempo ela se sentiu melhor. Neste momento de iluminação, Olga fez a sua escolha e decidiu começar uma nova e feliz vida. Foi para a escola a fim de pedir ajuda em seu desejo de obter um destino próspero e uma vida alegre e positiva. Lá, ela foi alegremente recepcionada. Kubera abraçou-a, Mahapadma e Inna cumprimentaram-na com alegria.

— Que bom que você voltou para cá — disse Nandi. — Você aguentou esta batalha — disse-lhe Mahapadma, tendo imediatamente entendido o

que acontecera com ela. — Mas não se contente com o que atingiu até agora — as forças tenebrosas não dormem.

Olga contou-lhes sobre o que sucedera. — Não se preocupe — acrescentou Kubera. — Apenas lembre-se: por tudo é preciso lutar

nesta vida. O mais importante é conectar-se a uma fonte de forças. É a boa energia que faz as pessoas serem felizes e bem sucedidas. Uma vez que você se conectar à egrégora da escola, imediatamente receberá proteção e se encherá de emoções positivas que a ajudarão a conseguir tudo o que você quer na vida. Somente pensamentos e atitudes positivas não bastam, é preciso reforçá-los com emoções e se juntar à egrégora.

Kubera ensinou Olga a fazer o kata meditativo. Ele pegou, então, um retrato de Kalki e disse-lhe:

— Sintonize-se com ele, com toda sua fé, esperança e dedicação, e, em seguida, entrará em contato com a Força e a proteção da egrégora.

Olga sintonizou-se, sentindo na imagem de Kalki algo próximo e querido. As lágrimas corriam pelo seu rosto. Um raio de luz e amor saiu do coração de Olga e subiu até uma nuvem de energia cósmica, que lembrava um grande pássaro branco. Era a egrégora de Ridgen Gyeppo. De lá desceu a ela uma cachoeira de graça e de poder benigno, enchendo sua alma perturbada com amor.

Mahapadma novamente fez dela uma rainha e explicou-lhe como encontrar um parceiro digno, em vez de um marido alcoólatra:

— Agora, nesse estado, tudo dará certo, sem dúvidas você pode conquistar tudo o que quiser!

— O mais importante é conectar-se a uma fonte de energia boa, e então tudo funcionará — disse Kubera a Olga. — O sucesso ou fracasso dependem de seu estado espiritual, de seu poder pessoal. Cuidado com as pessoas que lhe dão emoções negativas. São elas que lhe trazem problemas e infortúnios. Depois de conversar com pessoas assim, faça katas do Sampo e

purifique-se de energias sujas e de sans-contatos hostis. Depois de sair daqui, faça algo que exige sorte.

Olga mal podia acreditar nessa mudança tão grande em sua condição. Nela apareciam agora realeza, poder e autoconfiança. Estava repleta de felicidade e harmonia.

— É uma deusa! — elogiou-a Inna. — Hoje venha passar a noite na minha casa, fique um pouco comigo — disse ela a Olga, — para que as forças tenebrosas não arruínem sua condição, e para que você possa começar uma nova vida.

Logo Olga conseguiu um emprego de prestígio, com o qual sonhava há muito tempo. Todos os homens ao seu redor a notavam, e muitos queriam conhecê-la, vendo seu brilho e plenitude. Mas ela não olhava mais para eles com olhos perdidos, como um cão sem dono. Agora sabia que merecia o que há de melhor na vida.

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