que política para a cultura – renato ribeiro

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Texto- Que política para a cultura – Renato Ribeiro

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  • 04/03/2015 RenatoJanineRibeiro

    http://www.renatojanine.pro.br/Cultura/politica2.html 1/3

    Meunomeningum(sobreoCantoIXdaOdissia)

    Daresponsabilidadenapsicanlise

    Quepolticaparaacultura?

    Umapolticadacultura

    ApsicanliseentreoProconeoProzac

    ImaginationandMemoryinStendhal

    Aculturapelacultura

    a

    ArtifopublicadonarevistaBravo,em

    fevereirode2003.

    Quepolticaparaacultura?

    Qualquerpessoabeminformadasabe,hoje,queaeducaosetornouumfatorfundamentalparaosucessoprofissionaldecadaum,eparaoavanodaeconomiacomoumtodo.Easpessoasmaisbeminformadasacrescentariam:acultura,tambm.Masinfelizmentedestaconstataonosaemgrandesresultados.Nemasempresasinvestemnaeducao(ounacultura)tantoquantodeveriam,nemoEstadopriorizasuaspolticasnocasoqueaquinosinteressa,queodacultura.QuandoumministrodaCulturaJernimoMoscardo,nogovernoItamarFrancoafirmouocarteressencialdacultura,epropsquecincoporcentodooramentodaUniolhefossemdestinados,cemvezesmaisdoqueos0,05%dapoca,ningumlhedeuimportncia,eelefoiejetadodocargosobpressodaquelesquelogofariamoPlanoReal.

    Discutamos um pouco o que deveria ser uma poltica de cultura.Antes de mais nada, ela no deveria ter como principaisdestinatriosouautoresnemosartistasnemosintelectuais.Numasociedadedemocrtica(eaculturapodecontribuirparatornarmaisdemocrtica a sociedade, enriquecendo o imaginrio das pessoas,assim as capacitando para decidir melhor suas vidas), quem temmaisaganharcomaculturaopovo,ouopblico,comoumtodo.Assim,oprpriofatodequeadiscussosobreapolticadaculturase dnos cadernos culturais dos jornais, ou nas revistas culturaiscomoBravo,enonaspginascentraisdos jornaisdiriosou dasrevistas semanais, j mostra que ainda no estamos convencidosdequeaculturaumassuntopolticoprioritrio.Eissoseagrava,namedida em que os prpriosministros e secretrios de Culturaparecemfalarmaisemporcentuaiseemleisderennciafiscaldoqueemcultura.

    Faamosumrpidomapadaculturasegundoas famliaspolticas.Parece correto dizer que a direita v a cultura comoentretenimento. Ela faz parte da diverso. Da que privilegiegrandes eventos, comoos que houve em So Paulo nos governosMaluf e Pitta e que continuaram, com o PT, porque afinal decontas as pessoas querem se divertir, e no est no manual deinstruesdaculturaqueeladevaserchata.Oproblema,s,queissopouco.

    Jaesquerdasempreinvestenaidiadeculturacomocidadania.Acultura direito bsico e est includana formaode um sujeitolivre.Concordocomessa idiaque fazpartedodiscursodo PT.Mas acrescento algo que no costuma estar nas falas polticas: culturaltodaexperinciadaqual saiodiferenteemais ricodoqueeraantes.Sejaoquefor,umlivro,umfilme,umaexposio:estou nomundo da cultura quando isso no apenasme d prazer(mediverte,me entretm),masmeabre a cabea, ou para falarmais bonito, amplia o meu mundo emocional, aumenta minhacompreensodomundoemquevivoe,assim,metornamaislivreparaescolhermeudestino.

    Pareceque faltou falardo centro,queondepoderamossituaroPSDB, partido que em 2002, se perdeu o governo federal,fortaleceuse nos Estados. Infelizmente ele no parece ter umaidia clara sobre o papel da cultura na sociedade e issojustamente no partido que talvez desfrute damaior proporo desimpatia entre as pessoas que tm acesso cultura. O quemais

    http://www.renatojanine.pro.br/Cultura/acultura.htmlhttp://www.renatojanine.pro.br/Cultura/prozac.htmlhttp://www.renatojanine.pro.br/Cultura/politica1.htmlhttp://bravonline.uol.com.br/index.phphttp://www.renatojanine.pro.br/Cultura/diogenes201.htmlhttp://www.renatojanine.pro.br/Cultura/psicanalise.htmlhttp://www.renatojanine.pro.br/Cultura/cultura.html

  • 04/03/2015 RenatoJanineRibeiro

    http://www.renatojanine.pro.br/Cultura/politica2.html 2/3

    ouvimos das lideranas tucanas que a cultura uma economia.So quemmais fala mais que a esquerda, o que no espanta,mas tambm mais que a direita, o que curioso em leis deincentivo. H honrosas excees, e oministroWeffort apoiou umprojeto de pesquisa do qual participei vinculando cultura edemocracia, dirigido pelo professor Saul Sosnowski, daUniversidade deMaryland.Mas a idia central dessa pesquisa, ouseja, que mais cultura implica mais democracia, no parece tergerminadonafamliatucana,nemtalveznasoutras.

    Oquefazercomestemapaassimresumido?Oidealumapolticadeculturaqueaposteem tornlaartigodeprimeiranecessidade.Isso significa tomar o ponto de vista do pblico, mais que o doartista porm o de um pblico que no seja apenas entretido,massimenriquecido,pelacultura.(Seentreterquiserdizer"mataro tempo", que afinal de contas um dos sentidos da palavradivertirsignificando"desviar",entoissobempouco).Dareiumexemploquemeimpressionoualgunsanosatrs.

    NaIrlandadoSul,a independnciasignificou,paraseoporbemInglaterraprotestante, um catolicismo intransigente. E isso incluiuno se falar de sexo, e sobretudo emhomossexualismo. (Umdosherisdaindependncia,RogerCasement,queporsinalhaviasidocnsul britnico em Santos, ainda hoje tem negada suahomossexualidade). O resultado disso foi que muitos rapazesirlandeses, ao perceberem que nada sentiam pelas meninas,achavamque tinhama vocao sacerdotal. Comoos desejos cedoou tarde semanifestam,esseshomossexuais ou seenrustiramouterminaram abusando sexualmente de meninos a seu encargo.Muitosofrimentoteriasidoevitadoseamdiairlandesafalasseemamorhomossexual.

    Ora, esse diferencial que a cultura representa, em termos deemancipaohumana,entrenstemficadomaisoumenosaoDeusdar. O desejvel que uma poltica de cultura tematizediretamente o enriquecimento do ser humano que a culturaproporciona. Na verdade, penso que as novelas da Globocontriburambastantepara isso,aodifundirpasaforaanoodeigualdadeentrehomensemulheres,eemcertograuorespeitoaoshomossexuais masculinos, mais aceitos pelo pblico do que aslsbicas (infelizmente, elas continuam tendo uma expectativa devida, nas novelas, de poucomais que umms). Aprender, vendouma novela, que h outros rumos na vida alm daqueles que omicrocosmonosensinou,esseumxitodacultura.Ealmdissotodo aquele que escreve na imprensa j deve ter recebido umacarta dizendo do impacto que algum sentiu comuma frase, umapgina sua: no hmaior prmio do que esse, para um escritor.Mas o que falta que esse impacto deixe de ser acaso, para setornarprojetoqueesseresultadohumanodaculturaparedesereventual,parasetornarsistemticoou,pelomenos,freqente.

    querer muito? Parece, pelo menos, que querer algo que noestnasagendas.Aindasefalaementretenimento,umpoucoemmercadoria, muito em cidadania, vagamente. O discurso dapoltica cultural parece oscilar, hoje, entre esses dois ltimostermos. (Omero entretenimento, como amera direita, esto embaixa).Quando se pretende sonhar e umministro artista issomesmo, algum que pode falar ao id das pessoas vm aspalavras da emancipao. Mas, como isso no basta, e precisoagir,vaiseagircomosnmeros,osporcentuais,aeconomia.Umapontenoseestabeleceuentreessesdoismundos.Curiosamente,isso faz que gestores tucanos e esquerdistas da cultura acabemficando at bastante perto uns dos outros. A ferramentapredominante, para gerir, acaba incluindo a renncia fiscal. Odiscurso a legitimar uma poltica cultural precisa sempre passarpelacidadania.Masnemoinstrumentogeraosonho,nemosonhocria novos instrumentos. Esse o grande dficit de nossa polticacultural.

  • 04/03/2015 RenatoJanineRibeiro

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