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INFORMAçãO E CONHECIMENTO ANO 3 . Nº 12 . NOVEMBRO 2012 ESTÁGIO VISITA Embora prevaleça a impressão de paz, há nesta casa política uma constante oposição de ideias divergentes.

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I n f o r m a ç ã o e c o n h e c I m e n t o ano 3 . nº 12 . novembro 2012

ESTÁGIOVISITA

Embora prevaleça a impressão de paz, há nesta casa política uma constante oposição de ideias divergentes.

apre sen taç ão

Prezado(a) UnIversItárIo(a),

É com imensa satisfação que o(a) felicito pela meritória oportu-nidade de participar do Programa Estágio-Visita da Câmara dos Deputados, que permite ao universitário(a) conhecer e acompa-nhar as atividades desenvolvidas pelos órgãos responsáveis pelo processo de elaboração das leis federais.

Nessa oportunidade, serão compartilhadas experiências ob-tidas durante a observação de reuniões das comissões e das sessões plenárias, nas quais são debatidos os mais diversos assuntos relacio-nados às proposições legislativas submetidas às suas deliberações.

Ademais, você assistirá a palestras sobre a elaboração das leis, a atu-ação parlamentar na decisão de políticas públicas, o funcionamento dos órgãos envolvidos no processo legislativo, além dos instrumentos de integração com os parlamentares oferecidos à sociedade.

A Câmara dos Deputados concebe esse programa para permi-tir a integração das futuras gerações, formadoras de opinião, com a pluralidade da representação popular e suas convicções, a fim de desenvolver uma concepção valorativa do trabalho desenvol-vido pelo parlamento brasileiro.

Busca-se o despertar do interesse estudantil sobre o papel do parlamento na Democracia, com o intuito de fazer germinar a compreensão sobre a necessidade do engajamento dos cidadãos no processo de elaboração de leis e na formulação de políticas pú-blicas, em prol do fortalecimento da Democracia e da Cidadania.

Aproveite ao máximo essa experiência para que nasça em você um acendedor de ideias, que permita iluminar novos interessados em conhecer e compreender o fundamental papel do Parlamento Brasileiro no desenvolvimento de nosso País.

Deputado JORGE TADEU MUDALEN

Segundo-Secretário da Câmara dos Deputados

A Casa é sua. Aproveite ao máximo essa experiência.

sum ário

05 entrevistaEntrevista com Renato Janine Ribeiro, filósofo e professor de Ética e Filosofia Política na USP, sobre a publicação do livro “Política para não ser idiota”.

08 capa“Mídia, Democracia e Regulação”, texto de Cristiano Aguiar Lopes.

11 saiba mais“Marco Regulatório das Comunicações: Liberdade ou Censura?”, texto de Verônica Lima.

15 perfil iEduardo Carvalho, estudante de Relações Internacionais na Univale, participou do Estágio-Visita em junho de 2012.

16 perfil iiFranciela Ostrovski, estudante de Engenharia de Produção na Universi-dade Tuiuti do Paraná, participou do Estágio-Visita em agosto de 2012.

17 perfil iiiTatiana Carreira, estudante de Direito na UNESP, participou do Estágio-Visita em setembro de 2012.

18 enqueteVocê concorda com a internação compulsória de dependentes e usuários de drogas e bebidas alcoólicas pelo prazo necessário para o tratamento integral (PL 3167/12)?

24 educação e democracia“Sim, o Povo Pode Colaborar com o Legislativo na Elaboração das Leis!”, texto de Alessandra Müller Vidal Guerra.

28 protagonismo“Brasília me Desperta! Uma Viagem pela História de Brasília, do Congresso Nacional e o Florescer da Consciência Política”, texto de Naiara Larsen, estudante de jornalismo e participante do Estágio-Visita de agosto de 2012.

32 manualNosso objetivo nesses cinco dias será mostrar a você qual o papel da Câmara dos Deputados, como funciona o processo legislativo e como é a rotina dentro do parlamento.

Mesa DiretoraPresiDente

Marco Maia - PT/RSPriMeiro Vice-PresiDente

Rose de Freitas - PMDB/ESsegunDo Vice-PresiDente

Eduardo da Fonte - PP/PEPriMeiro-secretário

Eduardo Gomes - PSDB/TOsegunDo-secretário

Jorge Tadeu Mudalen - DEM/SPterceiro-secretário

Inocêncio Oliveira - PR/PEQuarto-secretárioJúlio Delgado - PSB/MG

suPlentes De secretários1º - Geraldo Resende - PMDB/MS

2º - Manato - PDT/ES3º - Carlos Eduardo Cadoca - PSC/PE

4º - Sérgio Moraes - PTB/RSProcuraDor ParlaMentar

Nelson Marquezelli - PTB/SPouViDor-geral

Miguel Corrêa - PT/MGDiretor-geral

Rogério Ventura Teixeirasecretário-geral Da Mesa

Sérgio Sampaio Contreiras de AlmeidaDiretor De recursos HuManos

Luiz César Lima CostaDiretor Do centro De ForMação, treinaMento e aPerFeiçoaMento

Fernando Saboia Vieira

PlanejaMento e execução PeDagógica

Equipe NUDEMreVisão

Natália Oliveira / Bruna de AlmeidaMª Alice Gomes / Raquel Rodrigues

Projeto gráFico e DiagraMaçãoAna Patrícia Meschick

caPa Gabriel BredaiMPressão DEAPA/CGRAF

O PONTO DE VISTA DE ENTREVISTADOS E PARTICIPANTES NãO ExPRESSA A OPINIãO DA REVISTA.

enVio De [email protected]

c âm ar a dos depu tados

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Renato Janine Ribeiro é filósofo e professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo. Em 2010, Renato, em parceria com o também filósofo Mário Sérgio Cortella, publicou o livro “Política para não ser idiota”, que apresenta um debate sobre os rumos da política na sociedade e que provoca o leitor a refletir sobre seu papel como cidadão na democracia brasileira. São abordados temas como a participação na vida pública, o conflito entre a liberdade pessoal e o bem comum, o des-caso dos jovens em relação à democracia, entre outros.

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1. Em seu livro “Política para não ser idiota”, a palavra “idiota”, originada do grego idiótes, significa aquele cidadão que somente vive a sua vida privada, que rejeita a política e que, contraditoriamente, afirma que “política é coisa para idiotas”. Como o senhor enxerga essa postura, cada vez mais normal em nossa sociedade? Por que as pessoas, principalmente os jovens, estão cada vez mais se distanciando da política?

Posso dar duas respostas que se complementam. Primeira, a política realizou boa parte de suas promessas. Vivemos, no Brasil e no mundo, em meio a liberdades democráticas que nunca antes tiveram tal plenitude. As pessoas escolhem seus cônjuges, sua profissão, sua crença religiosa e partido político com maior liberdade do que no passado. Ora, tudo o que se realiza deixa de ser instigante como era antes. Os desejos são mais passiveis de realização hoje do que alguns anos atrás. O que parecia muito difícil, fosse a liberdade de expressão, fosse a iniciação na vida sexual (pensando agora mais em termos dos jovens), ficou muito mais disponível. E há uma segunda razão, que é contrária à primeira: a política deixou de realizar muito do que se esperava. A corrupção incomoda os cidadãos no mundo todo. Os eleitores sentem que votam, mas depois quem manda é o detentor do dinheiro, não o do mandato. Há um terceiro turno, mundo afora, que conserva o mando em mãos do poder econômico. Esse conjunto de frustrações traz uma decepção. Qual a saída: é nem ficar satisfeito – e indiferente – com o que foi conquistado, até porque os jovens, por exemplo, receberam de presente das gerações anteriores as liberdades atuais, sem terem lutado por elas, nem ficar frustrado demais – e desanimado – com o que falta obter. O quadro atual é o desafio para as gerações novas. Cabe a elas dar continuidade à melhora do mundo que só a democracia pode promover.

2. Em meio a tantos escândalos de corrupção na política, atualmente discute-se muito sobre ética. O que é ser ético na política?

Começo pelo negativo, é não roubar. Mas é também não trair o eleitor, isto é, é cumprir as promessas a ele feitas e atender a suas demandas legítimas. Contudo, o ético não é apenas aquele que não é antiético. Hoje, e na verdade a partir dos Dez Mandamentos bíblicos, que principiam qua-se todos com o adverbio “não”, acredita-se com frequência que, se você não faz a coisa errada, está sendo ético. Mas não é assim. Num país com miséria e desigualdade social, temos a obrigação não apenas de não fazer o mal, mas de promo-ver o bem. No caso, isso quer dizer reduzir a desigualdade, eliminar a miséria, avançar na educação, saúde, cultura. Quem não se bate por isso não pode ser dito ético.

3. No livro, você fala de como a liberdade e o direito são frequentemente tidos como propriedade do sujeito, numa visão consumista. “Faço isso porque quero, porque tenho...” Como essa visão distorce o conceito de cidadania?

Cidadania é um direito, mas também é um dever. Cada liberdade cidadã de que desfruto me impõe a obrigação de reconhecer igual liberdade aos outros. E isso me custa alguma coisa. Por exemplo, se tenho o direito de passar no sinal verde, devo esperar que o outro passe quando estiver vermelho para mim. Se quero ter um atendimento de saúde decente, devo agir para que todos o tenham, o que significa, antes de mais nada, pagar os impostos e tudo o que seja necessário para manter o sistema. No Brasil, muitos se relacionam com o poder público querendo apenas desfru-tar de vantagens. Esquecem que, na democracia, a res publica é construída por nós mesmos.

“O quadro atual é o desafio para as gerações novas. Cabe a elas dar continuidade à melhora

do mundo que só a democracia pode promover.”

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4. Muito se fala de liberdade como pilar fundamental da Democracia, na qual podemos fazer nossas escolhas e expressá-las livremente. Entretanto, quando se fala em res-tringir liberdades individuais em prol da coletividade, em alguns casos, isso é considerado por muitos uma afronta ao regime democrático. Como resolver o conflito entre o individuo e o bem comum?

A fronteira aqui é sempre complicada. Não basta dizer que o bem comum é superior ao individual. Essa tese, sozinha, justificaria toda e qualquer opressão sobre o indivíduo. Há direitos da pessoa que não podem ser retirados, a não ser num único caso extremo, que é o salus populi, a salvação do povo ou da pátria. Quero dizer, se o país estiver em risco extremo, numa guerra por exemplo, aí se justifica a suspensão maior das liberdades, mas só na medida em que seja necessário para a salvação da pátria. Mas, em outras circunstâncias, há muitas vezes uma fronteira lábil, que precisa ser debatida em cada caso, de modo que nem o indivíduo seja esmagado, nem a sociedade desconstituída.

5. Segundo Confúcio “o maior prazer de um homem inte-ligente é bancar o idiota diante do idiota que quer bancar o inteligente”. O fortalecimento da democracia passa pelo amplo acesso pelos cidadãos a informações e conhecimentos que possibilitam a formação de opinião, o diálogo, os debates. Como enxerga a atuação da grande mídia brasileira em nossa democracia?

Nossa mídia se partidarizou demais. Os grandes órgãos da imprensa brasileira não escondem, na maior parte, a sim-patia pelo principal partido de oposição. Nas reportagens e nas colunas de opinião, prepondera uma determinada visão do mundo. Isso não contribui para a democracia, a meu ver.

Note, porém, que não estou sugerindo nenhum modo de mudar isso. É comum, quando alguém tece o juízo que acabei de expressar, dizerem em seguida que a pessoa está propondo o controle social, ou estatal, da imprensa. Não é meu caso. Estou expondo um problema ético. A imprensa, ao pender demais para um lado, não contribui para o caráter democrá-tico do debate, que supõe que sempre haja pelo menos duas posições opostas legítimas, sobre as questões políticas. Ao apresentar um lado como certo e o outro como errado, um como honesto e outro como desonesto, ela não reconhece a liberdade de escolha do cidadão. Agora, de minha parte, acredito que possa haver uma crítica ética à mídia, sendo que as soluções para o problema que apontei podem ser as mais variadas. A melhor mesmo seria que a própria mídia assumisse, moto proprio, a importância da divergência democrática.

6. Como despertar o gosto pela política?

Fazendo entender que, para mudar o mundo, é difícil abrir mão da política. Se as coisas estão ruins, é improvável que se consiga melhorá-las se não for por uma ação sobre o espaço público e, em especial, sobre o poder político. Sem dúvida, muitas ações podem se exercer diretamente sobre a opinião, sem passar pelos partidos, por exemplo. As ONGs têm exem-plos admiráveis de atuação. Mas o problema é que elas não dão escala, isto é, elas beneficiam poucos e não têm garantia de continuidade. Se quisermos realmente mudar as coisas, será preciso ter a escala que só a ação política permite. Será necessário, então, as pessoas verem melhor que, quando agem coletivamente sobre o espaço público, elas melhoram o mundo. E será também preciso indicar, sobretudo aos mais jovens, que eles receberam conquistas importantes que são das gerações que os precederam. Têm um dever, uma dívida, um desafio para com o mundo.

“A imprensa, ao pender demais para um lado, não contribui para o caráter democrático do debate, que supõe que sempre haja pelo menos duas posições opostas legítimas, sobre as questões políticas.”

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Por Cristiano Aguiar LopesJornalista, mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília e Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados para as áreas de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática.

Você, que agora visita esta casa que chamamos carinho-samente de “casa política”: saiba que está adentrando um campo minado, em que poderosos atores se digladiam, e no qual interesses conflitantes estão prestes a explodir. Porque uma casa política é isso, um local em que se exerce o poder, um local no qual existe uma relação deveras com-plicada entre governantes e governados. Como você verá, aqui, nesta casa política, há uma constante oposição de ideias divergentes, embora prevaleça a impressão de paz.

E, em uma democracia, esta batalha política - na qual a força bruta dá lugar ao embate de ideias, e a violência real é substituída por formas de dominação simbólicas e pactuadas entre os diversos agentes políticos – deve ocorrer da forma o mais transparente pos-sível. Como diz Norberto Bobbio, a democracia é “a política exercida de forma visível”, ou o “governo do poder público em público”.

Instrumentos de transparência

Historicamente, democracias vêm acompanhadas de uma série de mecanismos instituídos com o intuito de manter em funcio-namento seus preceitos. Muito sabiamente, os vários pais da de-mocracia fizeram um acurado diagnóstico – a tendência natural é a tirania, na qual os mais fortes subjugam os mais fracos. Um governo do povo para o povo, portanto, deve ser capaz de reverter essa tendência natural, de modo a desequilibrar o exercício do poder e a dar voz a todos, com absoluta igualdade.

Isso só é possível, ao menos idealmente, se diversos mecanismos de controle da atividade estatal são postos em prática. O maior desses controles é o voto, por certo, que periodicamente recompõe a representação de acordo com os anseios populares. Mas para que esse mecanismo funcione corretamente – assim como diversos outros controles democráticos - há um insumo fundamental, sem o qual nenhuma democracia é viável: informação.

Exatamente por isso, as liberdades de informação e expressão são alçadas, em qualquer democracia que se preze, ao mais alto patamar de proteção possível. No Brasil, por exemplo, a liberdade de expressão está elencada como um direito fundamental na Constituição Federal – além disso, diversas outras garantias ao livre fluxo de informações são previstas em várias outras partes do texto constitucional.

Liberdade ontem e liberdade hoje

Mas as formas como são exercidas as liberdades de informação e expressão mudaram muito desde a criação das primeiras demo-cracias. Mais que isso: o modo como se dá o fluxo de informações

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se alterou profundamente desde então, principalmente nas últimas décadas. Saímos de uma sociedade em que as informações políticas circulavam predominantemente no boca a boca ou, quando muito, por meio de uma imprensa local de baixa tiragem, para um mundo em que a mídia ocupa um papel central na transmissão de fatos do coti-diano, especialmente de fatos políticos.

Cientistas sociais dos mais diversos campos de conhe-cimento começaram a chamar esta nova sociedade de “centrada na mídia” (media centered). Nessa nova compo-sição social, as instituições tradicionalmente responsáveis pela disseminação de ideologias (igrejas, escolas, partidos políticos, etc.) vêm perdendo espaço para a mídia, que passa a ocupar um papel predominante no processo de socialização, em especial na socialização política.

Um simples exercício, e você poderá confirmar isso. Pense em todos os fatos políticos recentes que você conhece. Agora pense em como você soube desses fatos. As respostas, salvo pouquíssimas exceções, serão: rádio, TV, jornal, revista, internet… Enfim, usualmente foi por meio da mídia – agora exercendo o papel vital de porta voz oficial dos fatos políticos – que você tomou conhecimento das informações políticas, que são um insumo essencial para a sua formação. E nos poucos casos em que um bate papo foi a sua fonte de conhecimento, é bem possível que seu interlocutor tenha tido acesso às informações que lhe repassou por meio da mídia, em um processo batizado pelos comunicólogos de two-step flow, ou fluxo comunicacional em duas etapas.

Por que regular a mídia?

Então, juntemos as pontas deixadas no texto. Se a democra-cia é a política exercida de forma visível, e se nas sociedades centradas na mídia são os meios de comunicação que

exercem a atividade de publicizar os fatos políticos, logo podemos concluir que a mídia exerce um papel político fundamental – na verdade, mais que fundamental, essencial nas democracias.

E também é de se concluir que quem controla a infor-mação, controla em grande medida o próprio ambiente político. Ao definir o que será notícia e qual o enquadra-mento que será dado a determinados fatos políticos, a mídia atua de forma significativa na formação da opinião pública e no modo como a população exercerá sua ativi-dade política.

Ora, então é mais do que necessário determinar por meio da lei algumas regras fundamentais, que garantam que os meios de comunicação atuarão de forma a preservar a democracia. Afinal, se a liberdade de expressão é fundamen-tal para o autogoverno do cidadão, e se essa liberdade de expressão está sendo exercida primordialmente por meio da mídia, nada mais justo e necessário do que estabelecer regras que garantam que os meios de comunicação atendam ao interesse público.

Mas, como garantir, por meio da regulação, que isso efetivamente aconteça? A resposta é simples, embora a implementação seja deveras complicada: estabelecendo regras que garantam liberdade e pluralidade. É necessário que coexistam diversos modelos de prestação dos serviços de comunicação, não apenas com fins comerciais, mas também com uma vasta e influente rede de organismos educativos e comunitários. É preciso que limites de pro-priedade sejam estabelecidos, evitando assim monopólios e oligopólios em um setor tão sensível. Enfim, é necessário que, por meio da lei, seja garantido ao cidadão que ele tenha acesso à mídia, que ele possa se fazer ouvir e, desse modo, exercer este bem tão fundamental em uma demo-cracia: a liberdade de expressão.

“A tendência natural é a tirania, na qual os mais fortes subjugam os mais fracos. Um governo do povo para o povo,

portanto, deve ser capaz de reverter essa tendência natural.”

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As últimas propostas de mudança na legislação brasileira sobre comunicações foram recebidas com desconfiança por alguns setores da sociedade. Para muitos, as propos-tas de novo marco regulatório são o primeiro passo para uma censura real e efetiva dos meios de comunicação.

Por Verônica LimaVerônica Lima é jornalista da Rádio Câmara e mestre em Comunicação pela UnB.

O texto foi extraído de duas séries de reportagens especiais produzidas pela repórter. O material completo está disponível no site da Rádio Câmara.

www.nanihumor.com

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De fato, ainda que não haja mais censores nas redações de jornais e revistas, por meio do Poder Judiciário, o Estado bra-sileiro ainda exerce censura sobre os meios de comunicação. Para citar um exemplo, uma liminar dada por juíza de primeira instância de Minas Gerais proibiu, em setembro de 2011, a circulação da edição de uma revista que trazia denúncias de irregularidades na administração do município de Nova Lima.

Mas esses casos, apesar de reprováveis, são esporádicos no Brasil atual, diz o membro do conselho consultivo do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, Leandro Fortes. Na opinião de João Brant, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, tão grave quanto a censura estatal é a censura praticada indiretamente pelos próprios veículos de comunicação, que impedem a circulação de opiniões que divirjam de seus interesses.

“O principal canal de televisão do Brasil não tem sequer um minuto dedicado a um programa de debate. Todas as opiniões são veiculadas ou editadas por eles. Não há espaço para que diferentes ideias se apresentem ao público”.

Para Brant, ao contrário de restringir a liberdade de expressão, a regulação do setor de comunicação no Brasil deve ampliá-la, ao criar condições para que um maior número de pessoas ou grupos sociais tenha direito a voz.

A VOZ: UM DIREITO DE TODOS

Garantir o Direito à Comunicação implica dar ao cidadão mais do que só o direito de ser bem informado, mas também o direito de falar e de ser ouvido nos espaços públicos, nos meios de comunicação. E o Estado precisa garantir con-dições técnicas, econômicas, sociais, políticas e culturais para que o cidadão exerça esse direito.

As rádios comunitárias, geridas diretamente pelos cidadãos e instituições da localidade, surgiram como uma

ferramenta para garantir esse direito. Mas elas estão sendo su-focadas, sem condições técnicas nem econômicas para atuar, diz João Brant, do Intervozes. A lei que instituiu a Radiodifusão Comunitária [Lei 9.612/98], por exemplo, destina ao serviço apenas um canal na faixa de FM. Dessa forma, um mesmo bairro não pode contar com mais de uma rádio comunitária.

A população pode ter voz também nos meios tradicionais de comunicação, exercendo controle social sobre a atuação de emissoras de rádio e televisão. A deputada federal Luiza Erundina, da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação, defende a criação de conselhos regionais para acompanhar a prestação dos serviços de radiodifusão, com participação de servidores do Ministério das Comunicações e de entidades representativas da sociedade civil. Isso porque, ao contrário do que se entende no senso comum, o empresário de televisão e de rádio não é o dono do canal, como explica a gerente da Rádio Nacional da Amazônia, Sofia Hammoe.

“Tanto as rádios quanto as televisões são concessões públicas. Isso quer dizer que é de todos e não é de ninguém e que, na verdade, os canais, as empresas comerciais que estão explo-rando esse serviço, estão apenas operando com a permissão de todos. Então, por se tratar de um serviço público, essas empresas teriam a obrigação, na verdade, de se ater às neces-sidades da sociedade brasileira”.

O presidente da Federação Nacional de Jornalistas, Celso Schroder, propõe uma forma ainda mais direta para o exercício desse controle social. Sem caráter de censura, ele diz, conselhos de redação e ouvidorias públicas trariam ao setor de comunicação o jogo de pesos e contrapesos inerente a qualquer sistema democrático.

“Eu gostaria de ver, por exemplo, a Rede Globo e as grandes redes disponibilizarem para o povo brasileiro, num horário nobre, uma vez por semana, por exemplo, a possibilidade de

“Ao contrário de restringir a liberdade de expressão, a regulação do setor de comunicação no Brasil deve ampliá-la, ao criar condições para

que um maior número de pessoas ou grupos sociais tenha direito a voz.”

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ter um observador, ou um grupo de pessoas, que cumprisse o papel de analisar a programação televisiva da Rede naquela semana”.

PLURALIDADE E DIVERSIDADE

Apenas uma rede de TV aberta do Brasil, a Globo, detém quase 50% da audiência e 75% da verba publicitária do setor. Os dados são apresentados pelo membro do Intervozes, João Brant. Ele destaca ainda a prática das grandes emissoras de TV de obrigar as suas retransmissoras nos estados a vei-cular até 90% da programação da cabeça de rede, o que faz com que a programação que se vê de Norte a Sul do País seja praticamente a mesma.

“Isso vai abafando a nossa diversidade regional. O Brasil que é tão rico e tão diverso, acaba não conhecendo o próprio Brasil, e as pessoas que estão em algumas localidades, às vezes, têm que saber como está o trânsito na Marginal Tietê, na cidade de São Paulo, mas não têm acesso a informações interessantes e relevantes para a sua região”.

João Brant sugere uma forma de reduzir essa uniformização de conteúdo.

“Nos EUA, por exemplo, quem é dono do principal jornal numa certa cidade não pode ser dono da principal TV. Com isso, você impede que haja só um grande formador de opinião naquela cidade”.

O estímulo à produção independente nacional (aquela que não é feita pela emissora que detém a licença para operar o canal) seria outro bom caminho para a pluralidade, diz Brant.

“O Brasil produz de 70 a 100 longas metragens por ano, a maioria deles paga com dinheiro público, incentivos fiscais.

Quantos são passados na televisão? (...) Você está gastando uma enormidade de recursos públicos com esses filmes para, às vezes, não chegar a 100 mil espectadores”.

Para Rodrigo Santos, da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão, a falta de apoio aos produtores que não têm vínculo com emissoras ou programadoras deixa o público sem opção. Resta apenas assistir aos que as TVs comerciais querem veicular.

“É como se todos os feirantes do Brasil se reunissem e re-solvessem que, na feira, eles vão começar a vender apenas maçã e pera, porque maçã e pera têm uma margem de lucro maior, são acessíveis durante o ano todo e todo mundo gosta de maçã e pera. É muito mais fácil para a gente vender só maçã e pera. (...) Não importa se a laranja não tem margem de lucro tão boa, se a banana é mais difícil de você conseguir em todas as épocas do ano. O brasileiro tem que poder escolher. Ele tem que poder escolher maçã, tem que poder escolher pera, laranja, limão, kiwi, abacaxi”.

COMUNICAÇÃO PÚBLICA

Quando foi criada, em dezembro de 2007, a TV Brasil foi ape-lidada de “TV do Lula” por alguns setores da imprensa e da sociedade. O medo, à época, era de que o então presidente estivesse investindo dinheiro público em um veículo “chapa branca” (aquele que só defende os interesses do governo).

A confusão entre o que é público e o que é estatal tem razão de existir na mente dos brasileiros, acostumados a uma história política entrecortada por governos ditatoriais. Mas, segundo representantes de movimentos pela democratiza-ção das comunicações, a TV Brasil significou, na verdade, um avanço na direção de uma comunicação pública autônoma em relação ao governo, a exemplo do que já existe em muitas democracias avançadas. (Além da TV Brasil, a Empresa

“A confusão entre o que é público e o que é estatal tem razão de existir na mente dos brasileiros, acostumados a uma história política entrecortada por governos ditatoriais.”

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Brasil de Comunicação, EBC, conta com a Agência Brasil e oito emissoras de rádio, como a Rádio Nacional e a Rádio MEC, e parceiras estaduais).

Em linhas gerais, a diferença entre a emissora pública e a estatal é que, na pública, o Estado, ainda que pague a conta, não dá a palavra final sobre o conteúdo. Segundo o presidente da Associação das Rádios Públicas do Brasil, Mário Sartorello, a principal característica que define uma emis-sora como pública é a participação da sociedade na sua gestão e na sua programação. A EBC, por exemplo, conta com um conselho curador com 22 membros, sendo 15 da so-ciedade civil. As resoluções do órgão são de acolhimento obrigatório pela direção da EBC.

Com o apoio da Ouvidoria , o conselho curador da EBC recebe re-clamações e sugestões dos ouvintes, leitores e telespectadores. Da análise dessas manifestações podem sair mu-danças na programação ou na gestão dos veículos da rede. Ao responder às demandas e críticas dos cidadãos, os veículos da EBC buscam conquistar a confiança dos ouvintes, leitores e teles-pectadores. Na Europa, por exemplo, essa credibilidade faz com que os cida-dãos reajam sempre que uma emissora

desrespeita seu caráter público, o que acaba resguardando as emissoras de desmandos governamentais.

Mas, para Jonas Valente, do Inter-vozes, a dependência de recursos do orçamento anual da União torna, sim, a EBC vulnerável a influências governa-mentais. Ele sugere um tipo de finan-ciamento mais estável e autônomo.

“Um modelo de financiamento ba-seado em fundos em que o governo não possa diminuir de um ano para o outro a dotação que ele vai passar, que é o que está sendo feito no caso de São Paulo para sucatear a TV Cultura. O governo pode até não mandar que a emissora faça algo politicamente ou fale bem dele, mas, ao retirar dinheiro dessa emissora, ele faz com que ela acabe se submetendo aos seus desígnios”.

Outra maneira sugerida pelos movi-mentos sociais para evitar o sangramento de emissoras públicas por governos é a criação de taxas específicas. A lei da EBC criou a Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública, mas ela está sendo contestada judi-cialmente pelas empresas de teleco-municações, que devem recolhê-la.

Outra opção é a taxa paga dire-tamente pelo cidadão para financiar

emissoras públicas, muito usada na Europa. No Brasil, isso poderia ser feito por meio de uma taxa sobre a venda de televisores, por exemplo. A dificuldade seria convencer o cidadão a pagá-la. Primeiro, ele teria que ser convencido da importância das TVs e rádios públi-cas. E isso depende da disseminação do conceito de direito à comunicação e do fortalecimento das emissoras públicas.

Há muitas décadas, democracias mais antigas e consolidadas que a bra-sileira, como Inglaterra, Estados Uni-dos e França, têm emissoras públicas e instrumentos de regulação dos meios de comunicação. Eles garantem a plu-ralidade de vozes, opiniões e pontos de vista. O Brasil ainda precisa debater sua legislação, de modo a combater a con-centração, e regulamentar princípios constitucionais. O caminho é longo, mas já começa a ser trilhado, com iniciativas como a Conferência Na-cional de Comunicação, realizada em 2009. Ela deu origem a uma proposta de marco regulatório construída pela sociedade, que está disponível no site www.comunicacaodemocratica.org.br. A sociedade articulada em torno do tema aguarda, agora, que o Ministério das Comunicações envie ao Congresso Nacional a sua versão de novo marco regulatório das comunicações.

“O Brasil ainda precisa debater sua legislação, de modo a combater a concentração,

e regulamentar princípios constitucionais.”

perfil i

Eduardo Zanatta de Carvalho mora em Balneário Camboriú e cursa o último semestre de Relações Interna-cionais na Univale de Santa Catarina.

O estudante gostou de tudo no Es-tágio Visita, principalmente porque o Estágio serve para desmitificar a visão que o senso comum tem do Congresso Nacional: “A imprensa passa a imagem de um parlamento hermético, fechado à população. Aqui pudemos ver que o cidadão tem vários meios de acesso aos debates, que há representação de organizações da sociedade civil, como sindicatos” disse.

Eduardo considerou a atividade Simulação das Comissões muito enri-quecedora, disse que ela ajudou os esta-giários a perceberem que a maioria dos

debates não ocorre em Plenário, e sim nas comissões. O jovem destacou tam-bém que o debate sobre cotas raciais nessa atividade foi muito interessante, visto que o deslocamento para parti-cipar do Estágio é caro, acaba havendo a seleção de um elite geralmente branca. Ele disse que pôde perceber que, para essa elite, as ações afirmativas, como cotas, não são necessárias, porque na visão deles a população marginalizada pode simplesmente ascender socialmen-te se apenas tiver vontade para tanto.

Outro ponto alto para Eduardo foi a entrevista com a deputada Janete Pietá, pelo ativismo dela em favor das minorias. Chamou sua atenção também o nível de qualificação pro-fissional dos servidores da Câmara e

a estrutura de formação impressio-nante disponível para esses.

O jovem já morou na Suíça, em Portugal e na China. Em todos esses países com bolsa de intercâmbio. Conviver com culturas tão diversas entre si foi uma experiência trans-formadora para ele. Na China, por exemplo, devido às grandes barreiras culturais e linguísticas, ele enfrentou várias dificuldades determinantes para seu crescimento pessoal. Lá ele disse ter se sentindo um “alienígena”.

Questionado sobre os projetos profis-sionais, Eduardo respondeu que está par-ticipando de um processo seletivo para uma multinacional, mas que gosta muito do setor público e de política, e que mais para frente pretende fazer concursos.

perfil i i

Franciela Aparecisa Ostrovski tem 24 anos e está cursando o 4º semestre de Engenharia de Produção, na UTP – Universidade Tuiuti do Paraná. Está gostando tanto do curso que pretende fazer mais uma engenharia depois que se formar. A estudante mora em Medianeira, município do estado do Paraná com pouco mais de 40 mil habitantes.

A jovem ficou muito grata pela opor-tunidade de participar do Estágio Visita. Gostou de conhecer Brasília, cidade que achou muito organizada e com um bom trânsito. Disse ter sido emocionante conhecer o Palácio do

Planalto e o Memorial JK – monu-mentos que só conhecia pela televisão. Ela elogiou o Cefor pela maneira como conduz o Programa e pela atenção que dá aos estagiários.

Franciela queria ter a oportuni-dade de fazer o Estágio novamente. Ela disse que a simulação do trabalho das comissões dá aos estagiários uma boa visão de como os debates legislativos funcionam na prática. Acrescentou que o mais importante é que o estágio mudou a opinião dela sobre o trabalho realizado na Câmara, visto que, na cidade em que mora, a visão da política é muito influenciada

pela mídia. A estudante planeja até ministrar palestras na UTP sobre o fun-cionamento da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, já que a maioria dos jovens não conhece o trabalho realizado pelo Parlamento.

Franciela é candidata a vereadora em sua cidade, a jovem tem espírito de liderança e deseja transformar o lugar em que vive e acredita que a me-lhor maneira de alcançar esse objetivo é por meio da política. “Não é fácil ser político, disputar o voto do eleitor, mas acredito que o Estágio-Visita me deu um bom embasamento para seguir essa carreira” – ressaltou.

perfil i i i

Tatiana Scaranello Carreira, aos 22 anos já mora sozinha. Ela tomou essa decisão porque a vida na república atrapalhava seus estudos: “Penso que tenho que aproveitar tudo o que a universidade me proporciona para que depois eu possa devolver à população. Encaro isso como um dever cívico”. A estudante dedica-se bastante ao curso de Direito, que faz na UNESP – no campus de Franca – e ao estudo de alemão, além de já ser formada em inglês e espanhol.

Tatiana disse que aproveitou bastan-te o Estágio-Visita. Entre as atividades de que mais gostou, citou ter assistido a uma Audiência Pública e ter acom-

panhado o deputado que a indicou no trabalho das comissões. Quanto às pa-lestras, a jovem destacou a de Processo Legislativo, matéria que ela considera não receber a atenção devida no curso de Direito, e a da deputada Janete Pietá: “essa foi essencial, vou passar tudo que aprendi aqui sobre gênero para meus colegas de faculdade”.

A estudante, desde os 15 anos, acompanha o trabalho parlamentar e, por isso, já sabia que a Câmara conta com diversos mecanismos de participa-ção popular, algo que impressionou os outros estagiários. Ela acompanha, prin-cipalmente, o trabalho do deputado de seu estado, Antonio Carlos Mendes

Thame, com o qual ela se identifica por sua atuação na área de patentes, tema pelo qual a estudante se interessa.

Tatiana já trabalhou na Empresa Júnior da Faculdade de Direito da Unesp e atualmente está estagiando no Ministério Público de São Paulo, con-comitantemente está desenvolvendo uma pesquisa, na FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, sobre o tema: A responsabilidade civil objetiva do estado frente aos aciden-tes ambientais marinhos causados por derrames de hidrocarbonetos durante seu transporte. Ela pretende fazer mestrado e seguir a carreira de magistério, além de almejar também ser juíza federal.

enque t e

Aos participantes do Programa Estágio Visita dos meses de junho, agosto e setembro de 2012, a Enquete perguntou:

A Câmara analisa proposta que cria a possibilidade de inter-nação compulsória de dependentes e usuários de drogas e de bebidas alcóolicas pelo prazo considerado necessário para o tratamento integral. Pelo Projeto de Lei (PL 3167/12), do deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), a internação compulsória poderá ser requisitada por membro da família, por quem tenha a guarda ou tutela do usuário, ou pela autori-dade pública competente. O PL estabelece que o uso do en-torpecente poderá ser comprovado por exame clínico, prova testemunhal ou pela apreensão dos objetos e drogas utiliza-das pelo usuário. A proposta altera a Lei que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Lei 11.343/06).

A legislação atual estabelece como penas possíveis para usuários de drogas a advertência sobre seus efeitos no organismo; a prestação de serviços à comu-nidade; e a aplicação de medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo, porém a internação compulsória fere o direito à liberdade e repete práticas semelhantes já superadas, como a internação de doentes mentais em manicômios.

A Revista Estágio Visita quer saber: “Você concorda com a internação com-pulsória de dependentes e usuários de drogas e bebidas alcoólicas pelo prazo necessário para o tratamento integral (PL 3167/12)?”

Dos 106 (cento e seis) estagiários que responderam à pesquisa, 55 concor-daram com o PL nº 3167/12 (51,9%), 44 não concordaram com a internação compulsória proposta (41,5%) e 7 ainda não possuem opinião formada (6,6%).

Confira algumas opiniões:

Concordo

“O direito à liberdade não é absoluto, assim como os demais direitos fundamentais. As drogas se tornaram um problema de saúde pública, de forma que as pessoas vêm cada vez mais sendo contaminadas por este mal. Destarte, faz-se necessária a intervenção do Estado com o fim de coibir e prevenir o uso das drogas, mesmo que, para isso, seja necessário restringir, na forma da lei, o direito à liberdade.”Adna Araújo de OliveiraEstudante de direito da Universidade de Cuiabá | Rondonópolis/MT

“A internação compulsória de dependentes e usuários de drogas e bebidas alcóo-licas pode parecer uma medida autoritária, já que não leva em consideração a existência de interesse no tratamento por parte do dependente/usuário. Contudo, ao se levar em consideração os efeitos psíquicos ocasionados pelo consumo de tais substâncias, pode-se afirmar que esses usuários não se encontram em condições legais de tomar essas decisões e partindo do pressuposto constitucional de que todos têm direito à vida, a internação compulsória é justificada.”João Victor MussiEstudante de engenharia civil da Universidade Estadual Paulista - UNESP | Jaú/SP João Victor Mussi

Adna Araújo

2 0 E s t á g i o - V i s i t a - I n f o r m a ç ã o e C o n h e c i m e n t o

enque t e

“A atual legislação brasileira sobre o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre as Drogas trata o usuário como doente. O usuário passou a ser um problema de Saúde Pública, então acredito que essa é a forma de tratar um doente, apesar de sua resistência.”Edilma Batista de LimaEstudante de Direito da Faculdade Integrada de Pernambuco – FACIPE | Recife/ PE

“Sou a favor da internação compulsória, pois um indivíduo usuário de drogas precisa de ajuda médica/ psicológica para vencer o vício. Submetê-los à prestação de serviço social apenas, seria um “castigo” e não vejo como isso iria recuperá-los. Este tipo de ati-vidade, pode até ser importante, mas depois que o psicológico estiver em tratamento.”Joelcio da SilvaEstudante de Administração/Marketing no Centro Universitário para desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí | Rio do sul/SC

“Eu concordo com o PL 3167/2012, mormente em virtude da atual legislação não ser capaz de atender aos anseios tantos do dependente quanto da coletividade em geral, considerando, dentre outros aspectos, a saúde física e mental do usuário, bem como o interesse público, que, como sabido, deve ser superior ao particular, tendo em vista que a dependência pode gerar confrontos no seio familiar, aumento da criminalidade e financiamento da mercancia ilegal de drogas. Contudo, urge ressaltar que a norma só deveria ser utilizada como ‘ultima ratio’ no tratamento dos dependentes, sob pena de gerar constrangimentos exacerbados em casos de fácil resolução.”Gabriel Brandão Cabral DutraEstudante de Direito da Faculdade de Minas - FAMINAS | Muriaé/MG

“Concordo com ressalvas. Antes de mais nada, é importante salientar que os usuários de drogas não devem ser agrupados em um mesmo patamar. Existem diferentes estágios que um usuário pode alcançar. A comprovação aqui utilizada é muito ge-nérica. O fato da pessoa portar objetos ou drogas acaba sendo muito radical para justificar a internação. Entendo que a internação compulsória de usuários de drogas e bebidas alcóolicas carece de um laudo médico que ateste sua condição e não de forma superficial que o projeto de lei propõe.” Ana Carolina Trindade da SilvaEstudante de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ | Rio de Janeiro/RJ

Ana Carolina

Edilma de Lima

Joelcio da Silva

Gabriel Dutra

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enque t e

Não concordo

“Minha divergência pauta-se pelo seguinte ponto: a liberdade. Na minha humilde opinião, as atitudes só terão eficácia se adstritas ao livre convencimento do indivíduo. As críticas a essa percepção assentam-se sobre uma visão a curto prazo, pois olvidam-se da reinci-dência. Haja vista que não existe parâmetro científico probo no intuito de qualificar um indivíduo como ‘ex-dependente’. Dessa forma, essa iniciativa incidirá em mais gastos públicos sem realmente atacar o cerne do problema. Ademais, essa visão agradará a ‘interesses curtos’ e não a sociedade a longo como deveriam ser as discussões.”Rafael Piva PenteadoEstudante de Direito da Universidade Federal de Pelotas | Pelotas/RS

“O assunto abordado é de total importância para a sociedade. Não apenas por se tratar de homens e mulheres doentes, presos pela falta de liberdade que as drogas e as bebidas alcóolicas proporcionam, mas também pelo desencadeamen-to de outros problemas sociais como: a criminalidade, o aumento dos índices de prostituição, as doenças psicológicas e físicas causadas na estrutura familiar dos dependentes. Face ao exposto, acredito que a solução para esse problema deve partir por conta própria do dependente, através da conscientização do problema; aí sim, entraria o apoio da família e do Estado.”Daniel Maurício de Sousa FilhoEstudante de Direito da NOVAFAPI | Teresina/PI

“O Projeto de lei 3167/12, de fato, fere o direito à liberdade dos usuários e depen-dentes de drogas e bebidas alcoólicas. Medida adequada seria uma política de redução de danos e de prevenção, ao passo que a internação compulsória poderia ser mal vista pelos próprios usuários e dependentes objetos do PL.”Jonathan Percivalle de AndradeEstudante de Direito da Universidade Católica de Santos | Santos/ SP

“Concordaria com tal proposta caso o internado não exercesse mais um controle próprio sobre seus atos, existindo uma forte dependência. Contudo, a possibilidade de internação compulsória, por qualquer nível de dependência, não seria a solução mais eficaz para problemas com usuários de drogas e de bebidas alcoólicas.” Lucas Barreto RosaEstudante de Direito na Universidade Federal do Ceará | Fortaleza/ CE

Rafael Penteado

Daniel Maurício

Jonathan de Andrade

Lucas Rosa

2 2 E s t á g i o - V i s i t a - I n f o r m a ç ã o e C o n h e c i m e n t o

enque t e

“A meu ver, o problema brasileiro concernente às drogas é muito mais amplo. O projeto de lei referido não resolveria os problemas dos dependentes de drogas, posto que a própria iniciativa deles em se recuperar conta muito para o sucesso da internação. Há também a carência de recursos que poderiam contribuir para que a lei não ‘pegue’.”Ana Cláudia Martins SilvaEstudante de Direito da Faculdade de Direito Santo Agostinho | Montes Claros/MG

“Uma lei que estabeleça internação compulsória a dependentes e usuários de drogas e de bebidas alcóolicas é inadmissível, por se apresentar demasiadamente gravosa, desarrazoada, extrema, e, sobretudo por colidir frontalmente com um dos princípios mais caros previstos na Constituição Federal, qual seja, o da liberdade. De nada adianta libertar-se dos vícios, escravizando sua liberdade individual à vontade de outrem.”Klauss Cardoso SousaEstudante de Direito da Faculdade Anhanguera de Anápolis | Cocalzinho de Goiás/GO

Não tenho opinião formada ainda:

“Sou a favor da internação do dependente ou usuário de drogas justificada e requisitada pelos responsáveis legais, entretanto, na medida em que se torna compulsória tenho dúvidas ainda sobre a garantia dos direitos fundamentais e das consequências psicológicas possam decorrer da adoção dessas medidas, apesar de acreditar na necessidade de implementação de políticas mais contundentes no combate ao uso de drogas. Talvez seja mais razoável submeter à apreciação da necessidade de internação do usuário ao Judiciário, diante do caso concreto.”Mariana Lima PereiraEstudante de Direito na Universidade Estadual do Piauí | Teresina/ PI

Mariana Pereira

Klauss Cardoso

Ana Cláudia

Venha abrir essa porta

ESTÁGIOVISITA

Informaçõeswww.camara.leg.br/edulegislativa

Acesse nossa página no facebook e venha fazer parte dessa rede.www.facebook.com/estagiovisita

educação e democracia

Por Alessandra Müller Vidal GuerraGerente do Programa e-Democracia e Pós-graduada em Políticas Públicas pelo Centro de

Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento da Câmara dos Deputados

Desde o fim da ditadura, a participação da sociedade em questões públicas vem crescendo, e hoje, na era da Internet, das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) e de governo aberto, ela encontra o ambiente ideal para se fortalecer. Nesse contexto, surgem novas formas de participação popular digital que são estudadas no âmbito da democracia eletrônica.

A democracia eletrônica, ou digital, ou e-Democracia é uma prática ainda recente no Brasil e no mundo, ainda mais inovadora quando aplicada para promover a ampla participação social nos trabalhos do Poder Legislativo. Nesta perspectiva, essa prática atende à necessidade da sociedade, que pressiona por maior inserção política, bem como a dos parlamentares, que conferem maior legitimi-dade ao seu poder de legislar.

Este artigo pretende abordar a democracia eletrônica por meio da experiência do Portal e-Democracia da Câmara dos Deputados. O título deste texto é uma res-posta ao título provocativo da publicação “O Parlamento aberto na era da internet – pode o povo colaborar com o Legislativo na elaboração das leis?”, de autoria de Cristiano Ferri Soares de Faria (2012), que se aprofundou na análise de democracia eletrônica em parlamentos. No decorrer do texto serão descritos resultados dos debates promovidos no Portal, que confirmam a contribuição da sociedade no processo legislativo.

O Portal e-Democracia foi lançado, em formato de projeto experimental, em junho de 2009. Esse espaço virtual de interação entre a sociedade e a Câmara dos Deputados torna possível a participação da sociedade na elaboração de leis e políticas públicas. No Portal, o cidadão participa de debates temáticos, compartilhando ideias e experiências, bem como apresentando suas opiniões, depoimentos, argumentos, sugestões e críticas de forma sistemática. O conteúdo das discussões, consolidação do conhecimento coletivo, geram subsídios para os trabalhos legislativos e a tomada de decisão parlamentar.

Relançado em junho de 2011, mais moderno, fácil e conectado às redes sociais, a nova versão do portal oferece novos instrumentos de participação popular virtual, além de orientar o cidadão sobre em que fase está a discussão e sobre o processo legislativo. Dentre os principais instru-mentos de interação destacam-se: fóruns multimídias, salas de bate-papo com vídeo ao vivo, enquetes tradicionais e

sofisticadas e o Wikilegis, instrumento para construção co-laborativa de textos de lei, artigo por artigo. Há também o “Espaço Livre”, onde qualquer cidadão cria novos debates, que poderão despertar o interesse de outros internautas ou de parlamentares. Além disso, a fim de agregar o po-tencial participativo das grandes redes sociais (Facebook e Twitter), todas as páginas do Portal são compartilháveis.

O Projeto de Lei 4529/04, que cria o Estatuto da Juven-tude, começou a ser discutido no Portal e-Democracia em agosto de 2009. O debate realizado nos fóruns temáticos foi uma das fontes de informações que subsidiaram os deputados responsáveis pelo projeto na elaboração do Relatório Preliminar do Estatuto da Juventude. O relatório foi publicado no Wikilegis, no qual a sociedade apresentou suas sugestões no próprio texto. A relatora do Projeto de Lei, tendo acatado algumas dessas contribuições, afirmou que quase 30% do seu relatório foram de contribuição do e-Democracia. Em sua mensagem para os membros do Portal, a deputada reforçou: “é a prova de que vocês participam, a gente acolhe e o Brasil muda com a participação de vocês!”.

O artigo 19 do texto do Estatuto da Juventude (PL 4529/04) teve sua redação acrescida da previsão de “compa-tibilização entre os horários de trabalho e de estudo”, e ainda “oferta dos níveis, formas e modalidades de ensino em horários que permitam a compatibilização da frequência escolar com o trabalho regular”, em resposta à demanda de internautas que reivindicavam condições para que estudantes pobres pudessem estudar e trabalhar.

O referido Projeto foi votado na Câmara e encontra-se no Senado.

A participação da sociedade também foi efetiva na ela-boração do Projeto de Lei do Marco Civil da Internet (PL 2126/11) recentemente, em julho de 2012. O Projeto visa estabelecer condições de uso da Internet em relação aos direitos e deveres de seus usuários. Após diversos debates presenciais e virtuais entre cidadãos, deputados e técnicos da Câmara dos Deputados, o texto proposto pelo relator

“A relatora do Projeto de Lei, tendo acatado algumas dessas contribuições, afirmou que quase 30% do seu relatório foram de contribuição do e-Democracia.”

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educ aç ão e democr acia

Já o internauta Pedro Eugenio Pereira sugeriu a supressão das pala-vras “conforme regulamentação” do art. 3º, inciso IV (preservação e garantia da neutralidade da rede, conforme regulamentação), que foi acatada. Ele alertou para o fato de que muitas dúvidas

surgiram em relação a quem caberia a regulamentação e como ela seria emitida e aprovada. “As dúvidas são tantas e o projeto se omi-te destas questões ao ponto que fica insustentável a manutenção destas palavras no referido Inciso”, justifica Pedro Eugênio.

incorporou contribuições provenientes desses debates, inclu-sive de internautas, por meio do Portal e-Democracia. O texto agora será submetido à votação dos parlamentares.

O processo participativo, viabilizado pelo Portal e-Demo-cracia, alcança, com mais esse resultado, seu objetivo de possibilitar que a sociedade contribua com a criação de uma lei. O internauta José Eduardo Mendes, por meio do

Portal, fez sugestão sobre fundamentos que disciplinam o uso da internet no Brasil. Ele alertou para o fato de que, como atualmente os usuários se organizam em rede, “existem várias redes de relacionamento que devem ter seu direito de existência garantido neste Marco Legal”. Como resultado dessa participação, foi acrescentada a “finalidade social da rede” ao texto do artigo 2º.

“O processo participativo, viabilizado pelo Portal e-Democracia, alcança, com mais esse resultado, seu objetivo de possibilitar

que a sociedade contribua com a criação de uma lei.”

w w w . c a m a r a . l e g . b r / e d u l e g i s l a t i v a 2 7

educ aç ão e democr acia

As atividades desenvolvidas no Portal e-Democracia desper-tam o interesse da área acadêmica e estão sendo estudadas por pesquisadores nacionais e internacionais, que agregam informações refinadas e análises aprofundadas ao trabalho prático realizado na Câmara dos Deputados. Um desses estudos tratava-se de pesquisa sobre o perfil e opinião dos usuários sobre o Portal, que, entre outras estatísticas, revelou que mais de 90% dos entrevistados consideram o Portal e-Democracia muito importante ou importante para a política brasileira.

Na fase experimental do projeto, o Portal foi premiado como uma das 20 melhores experiências de democracia do mundo pelo Vitalizing Democracy Through Partici-pacion 2011 (Fortalecimento da Democracia por meio da Participação), programa da Fundação alemã Bertelsmann

Stiftung; projeto destaque em inovação tecnológica do Ins-tituto Conhecimento, Inovação e Práticas de TI na Gestão Pública (Conip), em 2009; projeto destaque de democracia na área de políticas públicas pelo Breaking Borders Award (Prêmio Ultrapassando Fronteiras) da Fundação Global Voices, em 2010.

Ao final do texto, é possível constatar que houve par-ticipação efetiva da sociedade em alguns projetos de lei. O título do artigo está afirmado. É preciso ressaltar que os resultados do Portal e-Democracia não são apenas as con-tribuições expressas em um projeto de lei ou política pú-blica. A oportunidade do debate por si só e a consideração das contribuições virtuais pelos deputados ao construírem o texto legislativo, devem também ser registrados como grandes resultados.

“A oportunidade do debate por si só e a consideração das contribuições virtuais pelos deputados ao construírem o texto legislativo, devem também ser registrados como grandes resultados.”

protagonismo

O que você pensa de Brasília? Qual a primeira palavra que vem a sua cabeça quando falamos em Câmara dos Deputados? Estas indagações foram colocadas em discussão no meu primeiro dia de atividades na capital federal.

Por Naiara LarsenParticipante da edição de agosto de 2012 do Programa Estágio Visita, Naiara é estudante de jorna-

lismo do Instituto Educacional Luterano de Santa Catarina – IELUSC e seu texto foi divulgado na Revista Eletrônica de sua faculdade no seguinte link: http://www.ielusc.br/portal/?REVI&NOT=3017

w w w . c a m a r a . l e g . b r / e d u l e g i s l a t i v a 2 9

Explico: fui indicada para participar do

programa Estágio Visita da Câmara dos

Deputados. Durante uma semana me

juntei a um grupo de estudantes univer-

sitários do país inteiro para participar de

palestras sobre as funções parlamentares.

Voltando às questões propostas,

as respostas do grupo foram quase

unânimes. Corrupção. Impunidade.

Safadeza, de acordo com os mais indig-

nados. Dinheiro na cueca, brandaram

os irônicos. Minhas ideias também não

foram muito diferentes. Mas sabia que

corria riscos ao assumir essa posição,

porque coros uníssonos sobre um

assunto tendem a serem preconceitu-

osos e equivocados.

No nosso país acreditar que um po-

lítico é corrupto se tornou normal, quase

aceitável. A máxima é tão repetida que

por vezes é tomada como verdade.

Então, o que nos perguntavam naquele

momento não parecia ter outra resposta.

Nossa opinião sobre as atividades par-

lamentares ficou evidente também na

segunda parte do exercício, em que de-

veríamos representar de forma artística

o que havíamos discutido.

Saiu teatro, música e até uma versão

alternativa ao programa da Band CQC, o

PQP (Pra quê Perguntar?!). Nas encena-

ções, havia todos os elementos já “conhe-

cidos”, o político mentiroso, o assessor

sem noção, a aprovação da Bolsa Cha-

pinha e o aumento do próprio salário

em 300%. Claro, estereótipos elevados

ao último grau de sátira , mas que

representavam nossa descrença pelo

trabalho parlamentar.

Todas as atividades que se seguiram

pelo resto do dia e da semana foram na

tentativa de desconstruir essa imagem da

Câmara do Deputados e despertar uma

consciência crítica nos universitários e

uma posição mais proativa e de partici-

pação nas atividades democráticas.

Ao todo tivemos 11 palestras du-

rante o estágio, a maior parte voltada a

explicar o funcionamento e o Regimento

Interno da Câmara dos Deputados, além

das apresentações sobre os trabalhos da

‘Casa’ na web e mecanismos de interação

com o internauta. Particularmente duas

palestras me chamaram mais a atenção:

“O processo legislativo” e “História da

Concepção Arquitônica de Brasília e de

seus Edifícios”.

A explicação sobre como ocorrem

os trâmites legislativos foi a primeira

palestra que tivemos após as discussões

a respeito da capital e dos trabalhos dos

políticos. Foi esclarecedor entender o

funcionamento da Câmara, perceber

que existe um aparato jurídico res-

ponsável e atuante para assessorar os

parlamentares. Compreendi como são

organizadas as Comissões que avaliam

os projetos antes de passarem para a

votação no plenário. Essa palestra foi

a porta de entrada para o meu enten-

dimento do resto das atividades que

aconteceriam no decorrer da semana.

A outra palestra que destaquei foi

sobre a construção de Brasília. O que

mais me encantou na apresentação foi a

paixão com que o palestrante falava, ele

conseguiu transmitir todo o idealismo e

patriotismo que pairava sobre o Brasil

na época da construção da nossa capi-

tal, contextualizando com o movimento

artístico e cultural corrente na década

de 50. Falou ainda da singularidade de

Brasília e do simbolismo presente em

cada construção federal idealizada por

Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.

Além das palestras, duas outras ati-

vidades me chamaram a atenção pela

proposta e conteúdo. Uma foi a simu-

lação de uma Comissão Parlamentar

que aconteceu na quinta-feira. A inten-

ção era que nos colocássemos no lugar

dos Senhores Deputados, e realizás-

semos discussões sobre dois Projetos

de Lei reais e que estavam “correndo”

no Parlamento. O primeiro era o PL

73/99 sobre cotas sociais e raciais na

3 0 E s t á g i o - V i s i t a - I n f o r m a ç ã o e C o n h e c i m e n t o

protagoni smo

universidades públicas e o outro era o

PL 5003/01 a respeito da criminaliza-

ção da homofobia. Foi uma atividade

interessante e que nos fez pensar sobre

o papel do deputado na representação

dos anseios da sociedade.

Na última atividade do estágio, a

turma foi dividida em pequenos grupos

e foi-lhe dada a missão de construir um

cartaz colocando o que nós desejaría-

mos para a Câmara daqui a 20 anos.

Assim como no começo, as respostas

foram unânimes. Respeito, participação

popular, ética, cidadania. Mas o que

tinha mudado em nós nesta uma sema-

na?! De indignados fomos levados ao

estado de engajados, nunca conforma-

dos, só para deixar claro. A proposta era

tentar entender o papel de cada um na

sociedade e perceber que o que os polí-

ticos fazem muitas vezes é o reflexo da

própria sociedade egoísta e interesseira.

Pensar, propagar e participar ativamen-

te da democracia foi o desafio que nos

foi lançado.

Como estudante de jornalismo con-

sidero que essa semana valeu por um

semestre da faculdade, equivalente a

uma matéria optativa. Os conhecimen-

tos adquiridos foram muito relevantes

e abriram muitas portas antes fechadas

pelo preconceito, desconhecimento

e desinteresse pelos assuntos políticos.

Entender como funcionam os trâmites

da Câmara dos Deputados não me fez

ficar mais complacente com as ma-

nobras ilícitas feitas por políticos, mas

me deu ferramentas para poder julgar

sem cometer enganos, e saber procurar

as informações corretas e confiáveis. E

claro, como agente da mídia tentar des-

mistificar o papel da Câmara e procurar

propagar a ideia de um lugar onde a

democracia realmente aconteça.

Apesar de o meu relato ter sido

fiel a respeito do que eu acredito ter

aprendido na semana do Estágio Visita,

sinto que ele será estéril se não forem

mencionadas outras perspectivas e

vivências que tive durante o período.

Para além das palestras, foram

programadas também visitas à cidade.

Nada mais justo e mais pedagógico, pois

saltamos do teórico ao palpável. Passamos

pelo Congresso Nacional, visitando os ple-

nários da Câmara e do Senado. Paramos

no Memorial JK e Catedral. Visitamos

também o Palácio da Alvorada e termina-

mos nosso tour no Palácio do Itamaraty.

Todas as obras lindas e cheias de significa-

dos para a história do nosso país.

Outro aspecto que não posso deixar

de ressaltar é a convivência com o grupo.

Foi uma semana de proximidade inten-

sa porque passávamos o dia inteiro juntos,

tomávamos café da manhã, almoçávamos

e jantávamos juntos, além de dormimos

no mesmo alojamento. Claro que, numa

turma grande como a nossa (43 pessoas),

a tendência é que se formem grupos

menores definidos por afinidades. Foi isso

que aconteceu comigo e com mais gente.

Mas nem por isso deixei de admirar

a mistura com que essa turma foi forjada.

Eram pessoas de todas as partes do

país, trazendo seus trejeitos próprios,

contando suas histórias, convivendo,

trocando experiências e sotaques. Se

de um lado você ouvia um “Mãs bá”, do

outro um “Ôxe” já respondia. Experiên-

cia que poucos conseguem vivenciar.

E nesse momento, não posso deixar

de pegar emprestado um termo alcu-

nhado por uma nordestina porreta do

grupo, Bruna Japiassú, que nos chamou

de os Atípicos. A justificativa era que no

nosso estágio algumas coisas que esta-

vam programadas não ocorreram, como

a visita ao Supremo Tribunal Federal e o

acompanhamento das Comissões Parla-

mentares. O primeiro estava “fechado”

para o julgamento do mensalão e o ou-

tro não foi possível devido à semana do

recesso branco, no qual os parlamentares

voltam para o seu estado para trabalhar

nas eleições. Nossa falta de sorte rendeu

um apelido mais que apropriado.

Mas pego o termo e peço licença

para tentar tornar algo ruim em bom.

Acredito que fomos atípicos sim, mas

no sentido de ter a sorte de nos encon-

trar, de aproveitar e construir algo novo

e diferente juntos. É um momento que

nunca mais vai se repetir. E voltamos

para as nossas universidades mais atí-

picos ainda, sabendo a raridade que é

desfrutar de um projeto como este de

que participamos.

“E voltamos para as nossas universidades mais atípicos ainda, sabendo a raridade que é desfrutar

de um projeto como este que participamos.”

m anual

Legal, você está inscrito no Estágio-Visita de Curta Duração da Câmara dos Deputados! Durante cinco dias você irá respirar os ares da política e da democracia no Congresso Nacional. Nosso objetivo nesses cinco dias será mostrar a você qual o papel da Câmara dos De-putados, como funciona o processo legislativo e como é a rotina dentro do Parlamento. Para quem ainda não conhece, também será uma ótima oportunidade para conhecer Brasília. Uma cidade totalmente construída com ideias modernistas, que recebeu o título de Patri-mônio Cultural da Humanidade, em 1987, pela UNESCO.

Para saber mais sobre o Programa Estágio-Visita e conhecer o regulamento acesse: www.camara.leg.br/edulegislativa.

gRUPO

Você fará parte de um grupo de 50 universitários de cursos, culturas e hábitos diversos, vindos de várias regiões do país.

Venha disposto a conviver com a diversidade, a trocar experiências e a refletir sobre seu papel como cidadão brasileiro!

PROgRAMAÇÃO

A programação foi concebida para que você tenha a oportunidade de observar de perto o funcionamento do Parlamento. Para isso, será necessário conhecer um pouco sobre o processo legislativo e os principais órgãos envol-vidos. Além disso, você saberá como participar e contribuir com as ativida-des parlamentares, conhecendo alguns dos mecanismos de participação do cidadão na Câmara dos Deputados.

MATERIAL

Parte do material referente às pales-tras ministradas estará disponível no site da Câmara. Acesse www.camara.leg.br/edulegislativa

TRAjE

Para os homens, é exigido o uso de paletó e gravata para transitar em al-gumas dependências da Câmara; para as mulheres, apenas um traje compa-tível com a formalidade do ambiente (o uso de calça é permitido). Não é permitido o uso de shorts, camisetas e blusas sem mangas ou alças.

O uso de traje esporte é autorizado apenas durante o período de recesso ou nos dias em que não se realizem sessões na Casa.

Na sexta-feira é permitido o uso de traje esporte, lembrando que é proibi-da, em qualquer hipótese, a entrada de pessoas com bermudas, shorts, camisetas sem manga ou qualquer outro vestuário incompatível com a dignidade do Órgão.

Procure usar sapatos confortáveis e baixos, porque haverá algumas cami-nhadas extensas.

É indispensável o uso do crachá do programa para transitar nas depen-dências da Câmara dos Deputados.

Também está prevista uma visita ao Supremo Tribunal Federal, onde é exigido terno e gravata para os homens e para as mulheres calça social com-prida, saia ou vestido com blazer de manga longa (o blazer é obrigatório).

m anual

barbearIaAnexo IV . Subsolo . . . . . . . 3216 4280

correIos e telégrafos Anexo IV . Térreo . . . . . . . . 3216 9840

Telefones ÚteisdIretorIa-geral | Thaís Lucena. . . . . . . . . . . . . . 9649 1301 / 3216 2035coede/cefor — Coordenação de Educação para a Democracia . . . . . . . . . . . . . . 3216 7619 / 3216 7618

segUnda-secretarIa. . . . . . . . . . . . . . 3215 8163 / 3215 8166

enaP. . . . . . . . 2020 3212 / 2020 3213aeroPorto . . . . . . . . . . . 3364 9000rodoferrovIárIa. . . . 3363 2281

Rádio Táxi

Rádio Táxi Brasília . . . . . . . . 3323 3030 Rádio Táxi Maranata . . . . . 3323 3900Rádio Táxi Alvorada . . . . . . 3224 5050COOBRAS . . . . . . . . . . . . . . . 3224 1000Brasília Rádio Táxi . . . . . . . . 3223 1000

Táxi Brasília . . . . . . . . . . . . . . 3224 7474Divirta-se

Os sites abaixo informam a programa-ção cultural de Brasília:

• www.correiobraziliense.com.br/divirtase

• www.agitosbsb.com.br• www.candango.com.br• www.deboa.com

Para a hospedagem dos alunos par-ticipantes do programa, a Câmara firmou convênio com a Fundação Escola Nacional de Administração Pú-blica (ENAP). A hospedagem se inicia após às 12h do domingo e termina, impreterivelmente, às 9h do sábado.

É fundamental que o regulamen-to do alojamento, que está disponível nos quartos, seja observado. Vale res-saltar a necessidade de se manter silêncio após as 22h, não sendo per-mitido utilizar o hall ou os quartos para confraternizações.

O traslado entre o local da chegada e da partida (aeroporto/rodoviária) e o local da hospedagem é de res-ponsabilidade do estagiário. Assim, é importante verificar com cuidado o local da sua hospedagem.

Durante a semana, é oferecido transporte da ENAP até a Câmara e, ao final das atividades, da Câmara à ENAP.

O transporte sai diariamente às 7h30 e retorna por volta das 19h30.

Fique atento aos horários. Seu atra-so deixará outros colegas esperando!

Em caso de emergência médica, o estagiário pode ser atendido no Depar-tamento Médico, situado no Anexo III. Caso seja necessário, procure um dos servidores responsáveis pelo programa.

Nas dependências da Câmara dos Deputados existem alguns serviços que podem ser úteis a você.

Agências de Passagens AéreasGOL . . . . . . . . . . Anexo IV | 3216 9966AVIANÇA . . . . Anexo IV | 3216 9946TAM . . . . . . . . . Anexo IV | 3216 9955WEBJET . . . . . . . Anexo IV | 3216 9960TRIPS . . . . . . . . . . Anexo II | 3216 9975

Bancosbanco do brasIl s.a. Central de Atendimento . . . 4004 0001Ed. Principal . . . . . . . . . . . . . 3321 9589Anexo IV . . . . . . . . . . . . . . . . 3216 9865

caIXa econÔmIca federal Central de Atendimento . .0800 7260104Ed. Principal . . . . . . . . . . . . . 3216-9850 Anexo IV . . . . . . . . . . . . . . . . 3216-9846

Serviços geraisrestaUrantesAnexo III . Subsolo | Anexo IV . 10º Andar | CEFOR . Complexo Avançado — Setor de Garagens Ministeriais

lanchonetesSalão Verde | Anexo I | Anexo III | Edifício Principal | Torteria — Anexo IV | CEFOR . Complexo Avançado

banca de jornaIs/lIvrarIa Anexo IV . Térreo . . . . . . . . 3216 9970Ed. Principal . Chapelaria . . . .3216 9971

bIblIoteca Anexo II . . . . . . . . . . . . . . . . . 3216 5780

farmácIaAnexo II . . . . . 3216 9817 / 3216 9821

SERVIÇOS DISPONÍVEIShOSPEDAgEM

TRANSPORTE

EMERgêNCIA