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doi:10.20396/revpibic.v0i0.id Que blocos afro são esses na cultura afro-brasileira soteropolitana? Uma reflexão sobre as atuações política, social e cultural em Salvador Gustavo Reis de Araujo* Orientador: Prof. Mário Augusto M. da Silva Resumo O projeto de iniciação científica pretendeu elaborar um histórico político-social dos blocos afro atuantes no carnaval e na agenda política da cidade de Salvador. Teve-se a pretensão de entender historicamente a construção desse modelo estético, administrativo e político o qual chamamos de blocos afro, norteados pela questão: quais os elementos que caracterizam esses blocos afro? À luz da análise de suas atuações no carnaval soteropolitano e em seus bairros de origem, a partir da perspectiva das produções de estéticas negras e da revisão bibliográfica em torno da ideia de baianidade. Palavras-chave: Blocos afro; Baianidade; Relações Raciais na Bahia; Introdução O objetivo da pesquisa foi em dar continuidade a elaboração do histórico político e social dos blocos afros Ilê Aiyê, Olodum, Malê Debalê. E junto a isso, expandiu- se os estudos sobre a produção cultural afro-brasileira, seus modos e contribuições na discussão sobre as relações sociais racializadas no Brasil e também contribui-se para a expansão da bibliografia acerca dos estudos sobre a “ideia de Bahia” ou baianidade. Resultados e Discussão Os resultados obtidos seguiram o desenvolvimento de três chaves de reflexão, as quais orbitam em torno de: a) revisão bibliográfica sobre a ideia de baianidade ; b) a presença da baianidade em meio à produção dos blocos afro; e c) cultura e política nos blocos afro. Sobre o primeiro ponto, entende-se que o termo baianidade refere-se a um conjunto de elementos que deram vida a “ideia de Bahia”, os quais nascem, sobretudo, devido a três fatores: primeiro, a importância histórica da cidade de Salvador como primeira capital do Brasil; segundo, devido ao grande contingente de europeus, negros e indígenas que coexistiram nessa região do país; e terceiro, a utilização da Bahia como “amostra” perfeita do processo de harmonia racial e exemplo maior do êxito da miscigenação das três raças no Brasil. Já o segundo ponto traz a discussão sobre a contraposição dos blocos afro em relação ao discurso hegemônico de baianidade, em que a principal expressão disso é o Concurso Deusa do Ébano do Ilê Aiyê e sua valorização e construção da beleza da mulher negra a partir de outras referências que não sensualidade, hipersexualização e exotismo. E por fim, para as reflexões em torno da conexão entre cultura e política, utilizou-se a obra de Hall, para se entender os blocos afro como grupos que embaralham os elementos políticos e sociais a partir da centralidade da cultura com a qual trabalham, e assim, reivindicam melhorias para seus bairros de origem, para as populações negra e periférica, à medida que são mediadores dessas populações junto ao Estado. Figura 1. Artes que representam os blocos afro Ilê Aiyê, Malê Debalê, Olodum e Muzenza, respectivamente Conclusão Foi possível compreender o conceito de baianidade como uma construção discursiva ideológica, cuja propagação mobiliza ações, construções estereotipadas, dentre outros elementos que orbitam em torno da concentração de poder, seja ele econômico, político, social, cultural e simbólico. Onde a cidade de Salvador se tornou a principal arena de disputa na criação das mais diversas “ideias de Bahia”. Agradecimentos Agradeço a minha família, baiana de origem e costumes, por todo o apoio. E ao professor Mário A. Medeiros pelas longas e intensas reflexões que contribuíram no desenvolvimento deste trabalho. MAIA, Rita; LIMA; Dete. “A beleza negra do Ilê Aiyê” in Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê: Ilê Aiyê – 40 anos. Editora Neoplan, Salvador – BA, 2014, pp. 203 – 248. MARIANO, Agnes. A invenção da baianidade. São Paulo: Annablume, 2009. HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. In: Educação & Realidade. Porto Alegre, v. 22, no. 2, p. 15-46, jul./dez. 1997. Rev trab. Iniciaç. Cient. UNICAMP, Campinas, SP, n.26, p. out. 2018

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doi:10.20396/revpibic.v0i0.id

Que blocos afro são esses na cultura afro-brasileira soteropolitana? Uma reflexão sobre asatuações política, social e cultural em Salvador

Gustavo Reis de Araujo* Orientador: Prof. Mário Augusto M. da Silva

ResumoO projeto de iniciação científica pretendeu elaborar um histórico político-social dos blocos afro atuantes no carnaval ena agenda política da cidade de Salvador. Teve-se a pretensão de entender historicamente a construção desse modeloestético, administrativo e político o qual chamamos de blocos afro, norteados pela questão: quais os elementos quecaracterizam esses blocos afro? À luz da análise de suas atuações no carnaval soteropolitano e em seus bairros deorigem, a partir da perspectiva das produções de estéticas negras e da revisão bibliográfica em torno da ideia debaianidade.

Palavras-chave:Blocos afro; Baianidade; Relações Raciais na Bahia;

IntroduçãoO objetivo da pesquisa foi em dar continuidade a

elaboração do histórico político e social dos blocos afrosIlê Aiyê, Olodum, Malê Debalê. E junto a isso, expandiu-se os estudos sobre a produção cultural afro-brasileira,seus modos e contribuições na discussão sobre asrelações sociais racializadas no Brasil e tambémcontribui-se para a expansão da bibliografia acerca dosestudos sobre a “ideia de Bahia” ou baianidade.

Resultados e DiscussãoOs resultados obtidos seguiram o

desenvolvimento de três chaves de reflexão, as quaisorbitam em torno de: a) revisão bibliográfica sobre aideia de baianidade; b) a presença da baianidade emmeio à produção dos blocos afro; e c) cultura e políticanos blocos afro.

Sobre o primeiro ponto, entende-se que o termobaianidade refere-se a um conjunto de elementos quederam vida a “ideia de Bahia”, os quais nascem,sobretudo, devido a três fatores: primeiro, a importânciahistórica da cidade de Salvador como primeira capital doBrasil; segundo, devido ao grande contingente deeuropeus, negros e indígenas que coexistiram nessaregião do país; e terceiro, a utilização da Bahia como“amostra” perfeita do processo de harmonia racial eexemplo maior do êxito da miscigenação das três raçasno Brasil.

Já o segundo ponto traz a discussão sobre acontraposição dos blocos afro em relação ao discursohegemônico de baianidade, em que a principalexpressão disso é o Concurso Deusa do Ébano do IlêAiyê e sua valorização e construção da beleza da mulhernegra a partir de outras referências que nãosensualidade, hipersexualização e exotismo.

E por fim, para as reflexões em torno da conexãoentre cultura e política, utilizou-se a obra de Hall, para seentender os blocos afro como grupos que embaralhamos elementos políticos e sociais a partir da centralidadeda cultura com a qual trabalham, e assim, reivindicammelhorias para seus bairros de origem, para as

populações negra e periférica, à medida que sãomediadores dessas populações junto ao Estado.

Figura 1. Artes que representam os blocos afro Ilê Aiyê,Malê Debalê, Olodum e Muzenza, respectivamente

ConclusãoFoi possível compreender o conceito de

baianidade como uma construção discursiva ideológica,cuja propagação mobiliza ações, construçõesestereotipadas, dentre outros elementos que orbitam emtorno da concentração de poder, seja ele econômico,político, social, cultural e simbólico. Onde a cidade deSalvador se tornou a principal arena de disputa nacriação das mais diversas “ideias de Bahia”.

AgradecimentosAgradeço a minha família, baiana de origem e

costumes, por todo o apoio. E ao professor Mário A.Medeiros pelas longas e intensas reflexões quecontribuíram no desenvolvimento deste trabalho.MAIA, Rita; LIMA; Dete. “A beleza negra do Ilê Aiyê” in Associação CulturalBloco Carnavalesco Ilê Aiyê: Ilê Aiyê – 40 anos. Editora Neoplan, Salvador –BA, 2014, pp. 203 – 248.

MARIANO, Agnes. A invenção da baianidade. São Paulo: Annablume, 2009.

HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais donosso tempo. In: Educação & Realidade. Porto Alegre, v. 22, no. 2, p. 15-46,jul./dez. 1997.

Rev trab. Iniciaç. Cient. UNICAMP, Campinas, SP, n.26, p. out. 2018