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Tradução Ryta Vinagre QUARTO VOLUME DA SÉRIE TÚNEIS

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Tradução Ryta Vinagre

QUARTO VOLUMEDA

SÉRIE TÚNEIS

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Parte Um

Revelações

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Capítulo Um

Ondas de chamas em tonalidades vermelhas e brancas. O cabelo chamusca, a pele se contrai. O uivo de uma ventania

quando todo o oxigênio é sugado do lugar, depois, os respingos de água de Rebecca Dois se atirando no poço, levando a irmã. Atordoado e pouco consciente, o corpo de Rebecca Um é flácido como uma boneca de trapos, mas nem a água fria consegue fazê- la recuperar os sentidos.

Elas afundam sob a superfície. Abaixo do calor intenso.Rebecca Dois coloca a mão na boca e no nariz da irmã, numa

tentativa de fechá-los. Depois se obriga a pensar. Só tenho sessenta segundos para sair, diz a si mesma enquanto seus pulmões come-çam a ficar extenuados. E agora?

Ela olha o inferno em fúria no alto, ondas carmim refratadas pelo movimento da água. Incitada pelos explosivos de Elliott, a vegetação seca como osso alimenta o incêndio, obstruindo a su-perfície do poço com cinzas pretas e densas. E, para piorar, Elliott ainda está lá em cima – aquela vadia! –, olhando e esperando, pronta para pegá-las no momento em que aparecerem. Como

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Rebecca Dois sabe disso? Porque é exatamente o que ela faria nessa situação.

Não, não há como voltar. Não se elas quiserem sobreviver a isto.

Remexendo, atrapalhada, o bolso da camisa, ela pega um globo luminoso sobressalente. Perdeu mais alguns segundos, mas precisava enxergar aonde ia.

Devo decidir logo... Agora... Enquanto ainda posso.Por falta de alternativas, ela decide mergulhar mais fundo

na meia-luz turva, puxando a irmã. Rebecca Dois pode ver que a menina sangra pelo ferimento na barriga, a trilha de sangue espiralando como fitas vermelhas e finas atrás dela.

Cinquenta segundos.Vertigem. O primeiro sinal de privação de ar.Em meio ao tumulto de bolhas e à torrente de água nos ou-

vidos, Rebecca Dois escuta os gritos da irmã. A falta de ar impul-sionou a menina à tona, e suas palavras indistintas são de pânico. Fraca, ela começa a lutar, mas Rebecca Dois crava os dedos com força em seu braço – a irmã parece entender e fica flácida nova-mente, deixando-se ser levada.

Quarenta segundos.Reprimindo a compulsão para abrir a boca e respirar, Re-

becca Dois continua a mergulhar. O halo lançado por seu globo luminoso revela uma superfície vertical coberta de plantas. Um cardume de peixes minúsculos foge em disparada, as escamas azuis metalizadas refletindo as luzes de arco-íris do globo.

Trinta segundos.Rebecca Dois localiza uma abertura escura. Enquanto esper-

neia e empurra a irmã e a si mesma para dentro dela, sua mente

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volta num átimo a uma vida anterior: todas as aulas de natação que teve em Highfield.

Vinte segundos.Percebe que é um canal. Talvez, ela se atreve a ter esperanças.

Talvez. Seu peito arde – não conseguiria segurar por muito mais tempo, mas continua nadando pelo canal, olhando em volta ao prosseguir.

Dez segundos.Ela está desorientada – não sabe mais distinguir o lado de

cima do lado de baixo. Depois, percebe um reflexo. A alguns metros, a luz do globo é refletida em ondas a partir de um trecho cambiante, como de um espelho. Com suas últimas forças, ela leva a si mesma e a irmã para lá.

As cabeças rompem a superfície da água, explodindo em um bolsão de ar preso no teto do canal.

Rebecca Dois enche os pulmões torturados, grata por não ser metano nem o acúmulo de outro gás prejudicial. Depois que cessam a tosse e os balbucios, vai ver como está a irmã. Embora a cabeça da menina ferida esteja fora da água, ela pende para a frente.

– Vamos! Acorde! – grita Rebecca Dois, sacudindo-a.Nada.Ela passa os braços pelas costelas da menina e aperta com

força várias vezes.Ainda nada.Ela aperta o nariz da irmã, fechando-o, e faz respiração boca

a boca.– Isso! Respire! – grita Rebecca Dois, a voz trovejando no

espaço fechado enquanto a irmã solta um pequeno gorgolejo e a

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água é expelida por sua boca. Em seguida, ela inspira plenamen-te, mas isso só a faz engasgar ainda mais, começando a se debater, num pânico cego. – Calma, calma – diz Rebecca Dois. – Agora estamos bem.

Depois de um tempo, Rebecca Um se acalma e sua respira-ção fica regular, embora superficial. Com a mão na barriga sob a água, ela sente claramente uma dor terrível em seu ferimento. O rosto está mortalmente pálido.

– Você não vai desmaiar de novo, vai? – pergunta Rebecca Dois, olhando-a com preocupação.

Rebecca Um não responde. As duas meninas se olham, sa-bendo que estão em segurança – pelo menos por ora. Sabendo que sobreviveram.

– Vou dar uma olhada no que há mais para a frente – diz Rebecca Dois.

Rebecca Um lhe lança um olhar vago. Depois faz um esforço imenso para falar, mas só consegue formar um “P” com os lábios.

– Por quê? – articula por ela Rebecca Dois. – Olhe acima de você – diz, incitando a irmã a focalizar o que ela, por instinto, tentava usar como escora. Vários cabos grossos como serpentes estão fixados no teto do canal – antigas linhas de força torcidas, com invólucros quebrados, e o núcleo visível e encrostado de uma ferrugem pegajosa e marrom. – Estamos numa espécie de escava-ção. Pode haver outra saída.

Rebecca Um assente de leve e fecha os olhos, mal conseguin-do manter a consciência.

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Capítulo Dois

Depois de mais de dois dias no rio subterrâneo, Chester con-duziu a lancha até o longo cais.

– Use sua luz! Veja o que tem ali! – gritou ele para Martha acima do rugido do motor de popa.

Martha ergueu o globo luminoso, dirigindo seu facho para as estruturas escuras no fundo do cais. Enquanto reduzia a velo-cidade e a lancha costeava, Chester observou as construções e o guindaste das docas. Esse porto, certamente, era muito mais subs-tancial do que qualquer um dos menores por que passaram, onde pararam para reabastecer e tirar uma ou duas horas de descanso. O coração de Chester martelava de apreensão quando se atreveu a pensar que finalmente tinham chegado ao final de sua jornada.

A lancha esbarrou na lateral e Chester desligou o motor. Martha segurou um dos postes, prendendo nele o cabo de amar-ração. Depois lançou a luz novamente, e Chester viu uma grande arcada destacada na tinta branca. Lembrou-se do que Will havia lhe dito sobre a entrada emparedada para o porto, que tinha lar-gura suficiente para permitir a passagem de um caminhão. Tinha que ser a mesma.

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Embora estivesse encharcado e sentisse muito frio, Chester ficou eufórico. Consegui! Eu consegui, caramba!, gritava ele por dentro, mas não pronunciou uma só palavra enquanto eles saíam da lancha e pisavam em terra firme.

Voltei à Crosta de novo!Mas, apesar do fato de estar quase em casa, a situação não

era ideal.Ele lançou um olhar a Martha, que arrastava alguns passos

desajeitados pelo cais. A mulher rotunda, com suas muitas cama-das de roupas sujas, grunhia como um urso selvagem prestes a atacar. Isso não era novidade alguma – seu comportamento sem-pre foi errático –, mas agora ele notou que ela virava a cabeça para o escuro e xingava como se houvesse alguém ali. E não havia.

Chester só queria que Will tivesse voltado com ele. Ou com um dos outros. Quando a sorte foi lançada, Chester ficou preso a essa mulher. Ela grunhiu de novo, dessa vez ainda mais alto, de-pois abriu a boca num bocejo tão grande que ele teve um vislum-bre de seus dentes manchados. Chester sabia que ela devia estar exausta da viagem e que a força total da gravidade não ajudava em nada. Ele mesmo sentia a gravidade puxando seu corpo para baixo, por isso, imaginava que devia ser muito pior para Martha, que não vivia nada parecido em anos.

Também ocorreu a Chester o quanto o momento devia ser estranho para ela. Criada na Colônia, Martha nunca esteve na superfície e estava prestes a ver o sol pela primeira vez na vida. Certamente, não teve a melhor vida do mundo: ela e o marido foram Banidos pelos Styx para as Profundezas, oito quilômetros abaixo da Colônia. Lá fizeram parte da brigada errante e fora da lei de renegados, que podiam matar uns aos outros com a mesma

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probabilidade com que sucumbiam aos perigos daquelas terras sombrias. Por incrível que pareça, ela deu à luz um filho, Natha-niel, ainda nas Profundezas, mas o marido tentou matar os dois, atirando-os à beira do Poro.

Embora tenham sobrevivido à queda, Nathaniel mais tarde morreu de febre, e Martha teve que se virar sozinha. Por mais de dois anos ficou totalmente isolada, sem ver vivalma. Trancando- se numa barricada em uma velha cabana, ela sobreviveu montan-do armadilhas e comendo as criaturas bizarras que compunham um farto suprimento lá embaixo.

Quando Will, Chester e uma Elliott muito ferida chegaram ao local, ela de imediato se apegou aos meninos, como se fossem substitutos do amado filho que perdera. Na realidade, essas liga-ções eram tão fortes que ela estava mais do que preparada para a morte de Elliott se isso significasse manter os dois meninos a salvo. Ela não lhes contou que havia um suprimento de remédios modernos em um submarino que afundara em outro dos poros. Mas depois que Will descobriu a verdade, Martha se redimiu, levando os dois ao submarino e efetivamente salvando a vida de Elliott. Então os meninos perdoaram sua atitude.

E foi assim.Nesse momento Chester não tinha a mais remota ideia do

que fazer. Precisava lidar com Martha, além da eterna ameaça dos Styx, que o perseguiam sempre que ia à Crosta. Não tinha para onde ir e ninguém a quem pedir ajuda, exceto Drake: sua única esperança, seu único bote salva-vidas.

Drake, por favor, por favor, esteja aqui!, pensou Chester en-quanto vasculhava a escuridão turva do cais, desejando que o ho-

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mem aparecesse. Chester queria gritar seu nome, mas não podia, porque, sem dúvida, Martha levaria a mal se soubesse que ele ten-tara entrar em contato com Drake. Sabia que ela era superprotetra e possessiva, e a última coisa que precisava era que ela mergulhasse em um de seus prolongados aborrecimentos. Chester não tinha como saber se Drake recebera o recado que ele havia deixado no servidor remoto. Nem mesmo se ele ainda estava vivo.

Ainda sem falar, Chester e Martha seguiram as instruções de Will e tiraram a lancha da água. Trabalhando arduamente sob a pressão da gravidade, os dois logo ficaram sem fôlego. Porém, com muitos gemidos e palavrões de Martha, conseguiram por fim arrastar a lancha até um dos prédios vazios, onde a deixaram encostada de lado.

Chester se curvou sobre os joelhos para se recuperar e per-cebeu que tudo o que queria era ir a Londres e ver seus pais, independentemente dos riscos. Talvez a mãe e o pai conseguissem consertar aquela bagunça. Talvez pudessem escondê-lo em algum lugar. Ele não se importava – tinha que encontrá-los e contar que estava bem.

Rebecca Dois nadou rapidamente de volta para a irmã. Ficou aliviada ao descobrir que ainda estava com os dedos enganchados nos cabos de eletricidade. A menina Styx conseguira se manter acima da água, mas suas forças se esvaíam rapidamente. A cabeça estava deitada contra o braço erguido, e os olhos firmemente fe-chados. Rebecca Dois precisou de vários segundos para erguê-la. Agora era imperativo que a levasse para um lugar seco e a aque-cesse antes que ocorresse o choque.

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– Tome o máximo de ar que puder. Vou tirar nós duas daqui – disse Rebecca Dois. – Tem um lugar mais à frente.

– Que lugar? – murmurou Rebecca Um, sem prestar muita atenção.

– Segui uns trilhos estreitos pela base do túnel – respondeu Rebecca Dois, passando os olhos pela água pouco abaixo do quei-xo. – Cheguei a uma parte que não está inundada. É mais larga do que um bolsão de ar qualquer...

– Vamos – interrompeu Rebecca Um. Respirou fundo e sol-tou os cabos do alto.

Rebecca Dois arrastou a irmã até que chegaram ao lugar des-crito. Enquanto Rebecca Um flutuava de costas, Rebecca Dois a puxava como uma salva-vidas.

Logo a água se tornou rasa o suficiente para andar, embora Rebecca Dois fosse obrigada a sustentar a irmã a cada passo. Elas cambalearam e chapinharam até chegarem enfim a um terreno seco.

Rebecca Dois percebeu que os trilhos continuavam no túnel à frente, mas, por mais que quisesse descobrir para onde levavam, precisava primeiro cuidar da irmã. Deitou-a e com muita delica-deza levantou sua blusa para examinar o ferimento. Havia uma pequena perfuração na cintura, pouco acima do quadril. Embora à primeira vista o ferimento não parecesse grave, uma quantidade alarmante de sangue saía dele, deixando uma camada vermelha e transparente na barriga molhada da menina.

– Como está? – perguntou Rebecca Um.– Vou rolar você de lado – avisou Rebecca Dois. Em seguida,

com cuidado, ergueu a irmã para verificar suas costas. – Como pensei... – disse ela à meia-voz ao encontrar uma segunda ferida, por onde a bala tinha saído.

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– Como está? – repetiu Rebecca Um, entredentes. – Pode me dizer.

– Podia ser pior. A má notícia é que você está perdendo mui-to sangue. A boa é que a bala a atingiu de lado na barriga, na parte carnuda...

– Como assim, “parte carnuda”? Está me chamando de gor-da? – grunhiu Rebecca Um, indignada, apesar do estado enfra-quecido.

– Você sempre foi a fútil, não é? Deixe-me terminar – disse Rebecca Dois, virando a irmã de costas. – A bala a atravessou, então, pelo menos não terei que escavar. Mas preciso estancar a hemorragia. E você sabe o que isso significa...

– Sim – murmurou Rebecca Um. De repente, ficou louca-mente furiosa, cerrando o punho. – Nem acredito que aquele bostinha fez isso comigo. Ele atirou em mim! Will atirou em mim! – Ela espumava. – Mas que audácia!

– Acalme-se – disse Rebecca Dois, tirando a própria blusa. Roeu a bainha até conseguir rasgar uma tira, em seguida rasgou várias outras.

Rebecca Um ainda esbravejava.– O maior erro dele foi não acabar comigo. Ele devia ter ter-

minado o serviço quando teve oportunidade, porque eu vou me vingar. E vou me empenhar, pode ter certeza, para que ele sinta essa dor, só que mil vezes pior.

– É melhor acreditar nisso – concordou Rebecca Dois, unin-do duas tiras num nó e dobrando as restantes para que formas-sem chumaços.

– Quero cortar e sangrar aquele porquinho, mas lentamen-te... Muito lentamente... Durante dias... Não... Semanas – fervi-

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lhava Rebecca Um, quase delirando. – E ele nos roubou o vírus Dominion. Ele vai pagar, mer...

– Vamos recuperar o Dominion. Agora pode se calar, por favor? Precisa poupar suas forças – disse Rebecca Dois. – Vou colocar ataduras em seus ferimentos, depois apertar bem.

Rebecca Um se contorceu quando a irmã colocou os chu-maços de tecido por cima dos dois ferimentos de bala. Quando Rebecca Dois passou uma tira pela cintura da irmã e puxou com força, os gritos terríveis de dor, da menina Styx, ecoaram pelo túnel escuro.

– Não se apresse, queridinho. – Martha pressionou Chester en-quanto ele tentava decidir o que queria levar. Ele não respondeu, mas por dentro estava a ponto de explodir.

Ah, me deixe em paz, sim?Martha realmente parecia uma tia intrometida e irritante,

sempre o atormentando e lhe lançando dedicados olhares tristes. Além disso, ela suava profusamente desde que eles haviam tirado a lancha da água, e Chester tinha certeza de sentir um odor acre emanando da mulher.

– Não tem sentido embromar por aqui, queridinho – disse ela numa voz enjoativa.

Já bastava. Ele não suportaria mais Martha pairando ao redor dele. Ela sempre ficava perto demais, e isso o deixava muito pou-co à vontade. Chester pegou alguns objetos ao acaso e os enfiou no saco de dormir de sua mochila.

– Pronto – anunciou ele, colocando a mochila nos ombros para que Martha fosse obrigada a recuar e evitar que esbarrassem. Depois marchou rapidamente pelo cais, para longe dela.

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Mas em segundos ela estava atrás dele de novo, como um cão perdido.

– Aonde, então? – perguntou Martha incisivamente, en-quanto Chester tentava se lembrar das instruções de Will. Ele podia ouvir a respiração dela ficar mais ruidosa, como se estivesse irritada com ele ou com a situação em que agora se via.

Embora o comportamento de Martha fosse uma fonte cons-tante de irritação para Chester, volta e meia o outro lado dela se revelava. Repentinamente, Martha perdia a cabeça e se tornava completamente perversa. Chester ficava muito apavorado nessas ocasiões.

– Não sei – respondeu ele com a maior civilidade que pôde –, mas se Will disse, é por aqui que vamos encontrar.

Eles olhavam entre os prédios de um andar só, estruturas rústicas de concreto, nenhuma com vidros nas janelas. Não ha-via nada que explicasse para que serviam – não tinham placas, apenas números em estêncil com tinta branca. Havia algo nas construções que dava arrepios em Chester. Ele se perguntou se em algum momento do passado as construções tinham sido usa-das para alojar soldados, que viveram aqui embaixo, no escuro e no isolamento. Mas agora não havia nada nos prédios, a não ser entulho e peças de metal retorcido.

Enquanto Martha começava a respirar ainda mais pesada-mente, o prelúdio para outro resmungo, a luz de Chester recaiu sobre a abertura que ele procurava.

– Arrá! É isso! – anunciou ele rapidamente, na esperança de silenciar a mulher. Os dois olharam a passagem que Will abrira ao remover vários tijolos de cimento.

– Sim – disse Martha, sem emoção nenhuma.

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Chester teve a impressão de que ela se decepcionara. Erguen-do a besta como se esperasse problemas, ela entrou primeiro. Chester não a seguiu de imediato, balançando a cabeça antes de ir atrás dela. Do outro lado, seus pés se molharam numa água de cheiro ruim, e o fedor era ainda mais intensificado pela agita-ção criada pelo movimento dos dois.

– Argh! – Ele fechou a cara, consolando-se com a ideia de que pelo menos não podia mais sentir o cheiro de Martha. Viu umas tábuas de madeira meio submersas, depois vários tambores de óleo enferrujados. Um dos tambores estava vazio e flutuava de lado. Quando a água em volta dele era perturbada, batia na pa-rede e soltava um ruído oco e metálico, como um sino tocado no mar.

Mas havia outro ruído – um tap tap constante. Chester loca-lizou uma lata de Coca Diet vazia, batendo no tambor de óleo. Ele a olhou, atônito com seu desenho vermelho e prateado – tão limpa, clara e moderna –, e seu estado de espírito foi às alturas. A lata era inconfundível: viera da superfície e para ele represen-tava algo de seu próprio mundo. Chester se perguntou se talvez Will a tivesse jogado ali quando ele e o dr. Burrows voltaram a esse porto subterrâneo, pouco antes de fazer a viagem de volta ao abrigo nuclear. Ele gostou da ideia de que a lata era uma ligação com seu amigo.

Martha percebeu que Chester parou para olhar a lata e gru-nhiu para ele seguir em frente. Aquilo não significava nada para ela. Passaram por uma porta e entraram em uma sala ladeada de armários de metal. Exatamente onde Will disse que estaria, encontraram uma escada numa pequena sala adjacente que per-mitia que eles subissem a curta distância até a superfície. Martha

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testou alguns degraus engastados na parede de concreto e então, movendo-se lentamente, começou a subir.

Estou realmente aqui? Nem acredito!, pensou Chester, en-quanto Martha ia na frente, em direção à luz. Embora estivesse protegendo os olhos, o brilho do céu foi demais para Chester e ele tropeçou às cegas ao sair do alçapão. Caiu de quatro, engati-nhando para trás de um espinheiro, onde Martha já se instalara. Os dois continuaram escondidos ali e, pouco a pouco, os olhos de Chester se adaptaram à luz do dia. O tempo não estava tão cla-ro – era o final de uma tarde melancólica, o céu estava nublado.

– Então aqui estamos, queridinho – disse Martha, querendo conversar.

Se este era o grande momento de Chester, o momento em que ele saía das profundezas da Terra e voltava para casa, depois de mais meses do que conseguia se lembrar e depois de tudo o que teve que suportar, então aquilo era um anticlímax terrível. Para dizer o mínimo.

– A terra do cruel povo da Crosta – acrescentou Martha num tom depreciativo.

Chester a viu enrolar um cachecol sujo na cabeça, deixando apenas uma fenda para os olhos. Martha tentava olhá-lo, e ele percebeu que ela ia precisar de um bom tempo para se acostumar com a luz.

Uma ideia lhe veio à mente.Eu podia abandoná-la!Deveria sair correndo? Com a visão ainda prejudicada, Mar-

tha teria dificuldade de alcançá-lo. Agora é a sua chance, disse ele a si mesmo, enquanto ela fungava com todo o corpo. O muco em suas narinas chocalhou e ela levantou uma parte do cachecol,

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apertando cada uma das narinas alternadamente, como se tentas-se extrair o que restava de creme dental de um tubo.

Chester se lembrou de quando chegou com Will e Cal à Es-tação dos Mineradores, nas Profundezas, e precisou fazer algo igualmente nojento. Bom, pelo menos aquilo tinha enojado Will. Recordou-se do amigo e das vezes em que estiveram juntos – nos bons e maus momentos – e percebeu que não podia mais sentir raiva dele. Ele não sabia se Will sobrevivera ao salto no poro cha-mado Jean Fumarenta ao seguir o pai. Tampouco Elliott, já que preferira seguir o mesmo caminho.

Chester estremeceu.Todos se foram, talvez estivessem mortos, e aquela fora a úl-

tima vez que os vira.Ou talvez eles estivessem dando sequência à grande aventu-

ra em que ele e Will embarcaram naquele dia no porão da casa dos Burrows, quando partiram pelo túnel. Chester percebeu que descrevera em sua mente o que aconteceu como uma aventura e sentiu uma pontada de dor por perdê-la agora.

Ele pensou nos três fazendo coisas extraordinárias... Will, o dr. Burrows e Elliott... Elliott... Elliott... Ele a imaginou com tal clareza que podia vê-la parada diante dele... Exatamente como no momento em que ela bebeu o líquido do globo ocular do lobo... Ele viu seu sorriso malicioso e implicante quando ela se virou e su-geriu que ele também experimentasse. Chester só tinha admiração por Elliott – ela o manteve vivo com suas habilidades incríveis. Mas, sobretudo, era aquele sorriso que persistia em seu olho men-tal, preenchendo-o com uma enorme sensação de perda e exclusão.

Chester suspirou, lembrando-se de que estaria melhor na superfície. Já havia tido encontros suficientes com a morte para várias encarnações... Tinha que ser mais seguro ali em cima.

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Pelo menos era o que ele tentava dizer a si mesmo quando Martha conseguiu arrancar um bolo cinza de muco da narina, limpando-se com o casaco já sujo.

Por favor, pensou Chester.Então tudo se reduzia a isso – ele precisou escolher entre

Elliott... e essa velha revoltante?– Sim, estamos aqui – respondeu ele a Martha por fim, des-

viando os olhos rapidamente dela. – Estamos na Crosta, é ver-dade.

A luz diminuía rapidamente com o cair da noite e era mais fácil para Martha enxergar. De onde estavam escondidos, eles po-diam ver vários prédios, quadrados e de aparência funcional.

Assim, depois de várias horas e agora sob o manto da escuri-dão, decidiram sair de trás do espinheiro. Com cuidado, pegaram o caminho entre os prédios abandonados no antigo campo de pouso. Will dissera a Chester que ficava em Norfolk, a uns bons cento e cinquenta quilômetros de Londres.

Eles atravessaram o que parecia ser o antigo campo de exer-cícios, um lugar sinistro em que mato crescia nas rachaduras do asfalto. Ao passar por trás, Chester inspecionou um caminhão de carroceria aberta que, a julgar pela aparência, devia pertencer a construtores ou algum tipo de comerciante. Ele percebeu que estava certo quando viu andaimes em volta de um dos prédios – os acontecimentos, obviamente, mudaram desde que Will e o dr. Burrows estiveram aqui, e a obra já estava em andamen-to. Depois, ao longe, viu uma cabine de obra. Suas janelas eram iluminadas e um Land Rover estava estacionado ao lado. Will o alertara sobre os seguranças que patrulhavam a pista, e a base deles devia ser ali. Chester podia ouvir seus risos e as vozes altas, carregados pelo vento.

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– Podemos pedir ajuda a eles – sugeriu Chester.– Não – respondeu Martha.Ele não se deu o trabalho de discutir com ela, mas quando

estavam mais afastados da cabine Martha de repente o deteve.– Nós não vamos pedir ajuda aos Pagãos! Nunca! – Ela se

enfureceu, sacudindo-o. – O Povo da Crosta é mau!– Tudo bem... Sim... Sim – disse ele, ofegante e completa-

mente assombrado com a ferocidade de sua reação. Depois, de modo tão abrupto quanto havia começado, a fúria de Martha pareceu evaporar, e um sorriso bajulador se alojou em seu rosto gorducho. Chester não sabia o que preferia. Mas, depois disso, pensaria com muito mais cuidado no que diria a ela.

Com todo o peso da irmã nas costas, Rebecca Dois estava grata pela baixa gravidade ao subir com dificuldade o túnel inclinado. Embora a menina ferida tivesse perdido a consciência de novo, Rebecca Dois mantinha uma conversa unilateral com ela.

– Vamos pensar em alguma coisa... Você verá. Vamos ficar bem – disse ela. Na verdade, estava freneticamente preocupada com o estado da irmã. O curativo improvisado parecia ter fun-cionado, mas Rebecca Um já perdera sangue demais. Não parecia nada bom.

Porém, Rebecca Dois ainda não ia desistir de suas esperan-ças, carregando seu fardo humano por quilômetro após outro enquanto pisava a poeira entre os corroídos trilhos da ferrovia. Embora tenha deparado com a abertura de outras passagens, manteve-se no túnel principal, acreditando que por fim ele a ti-raria da mina.

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E ela ficou animada ao passar por peças de maquinário an-tigo, prova da civilização responsável por esta obra no subterrâ-neo. Não parou para examinar o equipamento, que parecia ser de bombas e geradores. Embora o projeto fosse um tanto datado, ela deduziu serem variações da tecnologia da Crosta usada em mineração profunda. De vez em quando também via picaretas, pás e capacetes descartados pelo caminho.

Sua prioridade máxima era voltar à abertura, especialmente porque ela mesma começava a ficar tonta devido à carência de comida e água. Mas também queria substituir o curativo tem-porário da irmã por algo mais eficaz assim que possível. Rebecca Dois xingou ao se lembrar dos curativos de batalha na jaqueta que foi forçada a deixar para trás quando Will e Elliott as pega-ram numa emboscada.

Depois de vários quilômetros com a única companhia do esmagar constante das botas, ela começou a tomar consciência de outro ruído.

– Ouviu isso? – perguntou, sem esperar uma resposta da irmã. Parou para escutar. Embora fosse intermitente, parecia um gemido distante. Ela partiu novamente e, à medida que a ferrovia aos poucos a levava para um canto, sentiu uma lufada de vento no rosto. Era ar fresco. Cheia de esperança, ela apertou o passo.

O uivo ficava mais alto e a brisa, mais forte, até surgir um brilho vindo de cima.

– Luz do dia... Acho que pode ser – disse ela. Depois, se-guindo os trilhos para uma parte ainda mais íngreme do túnel, a origem da luz entrou em seu campo de visão.

O trilho continuava, mas perto da lateral do túnel, onde de-via haver pedra talhada, havia uma luz ofuscante. Pelo que ela

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podia ver, não era artificial. Mas depois de tantas horas no escu-ro, com apenas o brilho verde lançado pelo globo luminoso, era difícil olhar diretamente para a luz.

– Vou deixar você aqui por um segundo – disse ela e, com cautela, baixou a irmã ao chão.

Protegendo os olhos com o braço, avançou para a luz. As lufadas de vento sopravam com tanta intensidade que a empur-ravam para trás.

Rebecca Dois disse a si mesma para ser paciente até que sua visão pudesse lidar com o clarão e, depois de algum tempo, ela conseguiu retirar o braço. Pela abertura irregular, via um céu branco. Combinado com o vento, o efeito geral era de que estava em algum lugar muito alto, pouco abaixo das nuvens, se houvesse alguma.

– Então... Esse tempo todo... Estive subindo o interior de uma montanha? – perguntou a si mesma.

Dando de ombros, ela se aproximou mais da abertura.E gritou de assombro.– Precisa ver isso! Você vai adorar! – gritou Rebecca Dois

para a irmã inconsciente.Bem abaixo dela havia uma cidade cortada no meio por um

rio. Ao seguir seu curso, Rebecca Dois viu que ele corria para uma área de águas que se estendia até onde a vista alcançava.

– Um oceano? – perguntou ela.Mas era a cidade que a enchia de assombro. Era imensa, e

seus prédios também pareciam proporcionalmente grandes. Mes-mo a essa distância era possível distinguir a olho nu o que parecia ser um arco enorme, não muito diferente do Arco do Triunfo de Paris, com largas avenidas irradiando-se a partir dele. Embora o

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arco fosse, de longe, a estrutura mais volumosa, havia numerosas outras construções, todas de proporções clássicas e dispostas em blocos regulares. Os olhos de Rebecca Dois deixaram o centro da cidade e viram áreas extensas de prédios menores, que ela supôs que fossem casas.

E esta, certamente, não era uma cidade fantasma e deserta.Se olhasse com muita atenção, algo parecido com veículos

se movia na avenida e nas ruas, menores ainda do que moscas a essa distância.

Ela pegou a batida constante de um motor e viu um helicóp-tero pairando sobre a cidade – era diferente de qualquer outro que tivesse visto na Crosta, com rotores dos dois lados da fusela-gem, em vez de um em cada extremidade.

– Mas o que é isso? – disse ela.Rebecca Dois voltou sua atenção para o oceano além da ci-

dade. Se ela protegesse os olhos, onde o sol cintilava na superfície da água, podia enxergar toda sorte de embarcações, grandes e pequenas.

Mas o que mais a impressionou foi a aura de ordem e po-der que emanava daquela imensa metrópole. Ela assentiu consigo mesma, aprovando-a.

– Um lugar feito para mim – disse ela.

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