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Jornal Paralímpico QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 CADERNO ESPECIAL Nº 1 COMEÇA A CORRIDA RUMO AO OURO Alan Fonteles é um dos destaques do Time Brasil UM GUIA PARA TORCER NOS JOGOS PARALÍMPICOS Modalidades, atletas e curiosidades da Rio-2016 EM COOPERAÇÃO COM

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Page 1: QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 Jornal Paralímpico › downloads › 19734340 › 1 › ... · Paralímpico QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 CADERNO ESPECIAL Nº 1 COMEÇA A CORRIDA RUMO AO OURO

JornalParalímpico

QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 CADERNO ESPECIAL Nº 1

COMEÇA A CORRIDA RUMO AO OUROAlan Fonteles é um dos destaques do Time Brasil

UM GUIA PARA TORCER NOS JOGOS PARALÍMPICOSModalidades, atletas e curiosidades da Rio-2016

EM COOPERAÇÃO COM

Page 2: QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 Jornal Paralímpico › downloads › 19734340 › 1 › ... · Paralímpico QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 CADERNO ESPECIAL Nº 1 COMEÇA A CORRIDA RUMO AO OURO

2|Jornal Paralímpico|Quarta-feira 7.9.2016

ÍNDICE3 | EditorialMárvio dos Anjos, editor de Esportes do GLOBO, Lorenz Maroldt, editor-chefe do jornal alemão “Tagesspiegel”, e MarianaVieira de Mello, gerente-geral de Integração Paralímpica do Comitê Rio-2016, celebram o espírito dos Jogos

4 e 5 | Guia de modalidadesUm resumo de todos os esportes paralímpicos e os principais destaques da equipe brasileira

6 | História e metas do Time BrasilBalanço da participação do país em Paralimpíadas e os objetivos para a Rio-2016

6 | Campeão e atleta-guia Medalhista sul-americano, Adauto Galdino fala sobre o desafio de conduzir Lucas Prado

6 | ‘Paratodos’ Documentário mostra rotina de atletas paralímpicos

7 | O pesadelo de Oscar PistoriusUm perfil do velocista Alan Fonteles, fã de Senna e Bolt

7 | ‘Tubarão’ nas piscinas do RioClodoaldo Silva quer despedida em casa em grande estilo

7 | Silêncio, por favorEm dois esportes, a torcida não pode fazer barulho

7 | Em constante mudançaAvaliação contínua determina classe de cada atleta

8 | Novas modalidades Canoagem e triatlo estreiam nos Jogos Rio-2016

8 | Estrelas internacionaisQuatro atletas para ficar de olho durante a competição

8 | Veteranos em plena formaCompetidores com idade avançada têm alto rendimento

8 | Brasil e AlemanhaParceria entre os dois países cria projeto social de inclusão

DIVULGAÇÃO/CPB

ExpedienteCoordenação de projeto: Clara Kaminsky, Karin Preugschat (“Der Tagesspiegel”) e Luiz Henrique Romanholli (O GLOBO) | Edição: Ingrid Brack e Luciana Barros | Consultoria editorial: Fernando Ewerton (ECO/UFRJ) | Diagramação: Christiana Lee Reportagem: Fernanda Lagoeiro, Guilherme Longo, Gustavo Altman, Hugo L’Abbate, João Pedro Soares, Jorge Salhani, Leonardo Levatti, Letícia Paiva, Natália Belizario e Thaís Contarin. Jornal Paralímpico é um projeto especial do GLOBO em parceria com o jornal alemão “Der Tagesspiegel”, em associação com a Deutsche Gesetzliche Unfallversicherung (DGUV). As reportagens foram produzidas por estudantes brasileiros selecionados esupervisionados pelo GLOBO e pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ). Capa: Alan Fonteles em Londres-2012, nas eliminatórias dos 100m T44 | Foto: Divulgação/Buda Mendes/CPB

AGENDA: PROVAS EM DESTAQUEATLETISMOESTÁDIO OLÍMPICO – ENGENHÃODia 8 (amanhã). Das 10h às 13h. Odestaque desta sessão é o americanocampeão mundial de salto em distân-cia Lex Gillette. Estrela na classeT11, o atleta pode quebrar o recordeolímpico ou mundial.

Dia 9 (sexta-feira). Das 17h30m às20h45m. Compete neste dia o britâ-nico Johnnie Peacock, consagradoem Londres-2012. Agora, ele defen-de o título da classe T44 nos 100m.Outro para ficar de olho é o america-no Jarryd Wallace.

Dia 13 (terça-feira). Das 17h30m às20h40m. A brasileira Terezinha Gui-lhermina, guiada por Usain Bolt nu-ma prova, é chance de medalha, masterá a potência chinesa Cuiqing Luentre suas principais adversárias.

Dia 14 (quarta-feira). Das 10h às13h10m. Aos 19 anos, a velocistabrasileira Verônica Hipólito prometeser um dos rostos dos Jogos. A expec-tativa é de vibração no estádio se elafor medalhista na categoria T38.

Dia 15 (quinta-feira). Das 17h30màs 20h40m. Os principais nomes damodalidade estarão reunidos. AlanFonteles vai defender o título dos 100mna classe T43. Outra estrela é o cariocaFelipe Gomes, velocista cego e campe-ão paralímpico dos 200m na classeT11. Mas os brasileiros não são as úni-cas atrações no atletismo. O americanoDavid Brown tem batido novos recor-des mundiais nos 100m e 200m daclasse T11. Entre as mulheres, TatyanaMcFadden lidera o time americano.Dona de 11 medalhas, ela tenta se tor-nar, na Rio-2016, a primeira atleta acompletar cinco provas de atletismoque vão dos 100m à maratona.

Dia 17 (sábado). Das 10h às13h15m. Chamado de “blade jum-per” alemão, o campeão mundialMarkus Rehm, pode pular mais, nosalto em distância, do que o vencedorolímpico deste ano, Jeff Henderson,com 8,38m. Rehm é recordista dacategoria T44, com 8,40m. Das17h30m às 20h30m. Com 14,61segundos, Martina Caironi é dona dorecorde mundial nos 100m classeT42. A atleta vai conduzir a bandeiraitaliana na abertura.

BASQUETEARENA OLÍMPICA DO RIODia 17 (sábado). Das 15h15m às19h45m. A final masculina aconte-ce nesta data, logo após a disputapelo 5º lugar. Austrália e Canadá es-tão entre os favoritos nos Jogos.

BOCHAARENA CARIOCA 2Dia 16 (sexta-feira). Das 10h às14h10m. O evento reúne cinco dis-putas de medalhas: os bronzes indi-viduais nas categorias BC1, BC2,BC3 e BC4 e o ouro na BC1. O ho-landês Daniel Perez e o britânicoDavid Smith são destaques na BC1.

CANOAGEM DE VELOCIDADELAGOADia 15 (quinta-feira). Das 9h às11h50m. Um dos principais car-tões-postais do Rio é palco das se-mifinais e finais masculina e femini-na, todas num só dia. Campeãomundial, o australiano Curtis Mc-Grath está entre os favoritos na Rio-2016, quando a classe VL2 fará suaestreia nos Jogos Paralímpicos.

CICLISMO DE PISTAVELÓDROMO OLÍMPICO DO RIODia 8 (quinta-feira). Das 16h30màs 18h15m. A data reúne as diferen-tes finais masculinas e femininas.Participando pela sétima vez de umaParalimpíada, a britânica Sarah Sto-rey foi destaque em Londres-2012 e éuma das estrelas desta sessão, ondecompete na classe C5. Como nadado-ra, Sarah ganhou cinco ouros, oitopratas e três bronzes entre 1992 e2004. Após a mudança para o ciclis-mo, garantiu seis novos ouros.

ESGRIMA DE CADEIRA DE RODASArena Carioca 3Dia 13 (terça-feira). Das 14h às18h. A sessão reúne a semifinal e asdisputas de bronze e ouro. O brasi-leiro Jovane Silva Guissone, meda-lha de ouro em Londres-2012, é ti-do como uma das principais apostasdo país na competição.

FUTEBOL DE 7ESTÁDIO DE DEODORODia 16 (sexta-feira). Das 17h às18h15m. Será a final masculina doesporte, que faz sua despedida dosJogos Paralímpicos. Um dos pontos

altos do torneio será a disputa, naprimeira fase, entre Brasil e Ucrânia,atual campeã do mundo e medalhade prata em Londres-2012.

GOALBALLARENA DO FUTURODia 16 (sexta-feira). Das 18h30màs 21h55m. O público poderá confe-rir as disputas de ouro masculina efeminina de um dos mais fascinantesesportes Paralímpicos. O Brasil é fa-vorito e pode aproveitar a Rio-2016para ter a revanche contra a Finlân-dia, de quem perdeu o ouro por 8 a 1em Londres-2012. Os dois paísesvoltaram a se enfrentar em 2014,com vitória brasileira por 9 a 1.

HALTEROFILISMORIOCENTRO - PAVILHÃO 2Dia 14 (quarta-feira). Das 16h às17h30m. A disputa do ouro masculi-no, na categoria acima de 107kg ,pode se transformar num momentohistórico: o iraniano Siamand Rah-man, considerado o atleta paralímpi-co mais forte do mundo, espera al-cançar a marca dos 300kg e estar noalto do pódio na categoria. O levanta-dor de pesos quebrou o próprio recor-de este ano, na Copa do Mundo deDubai, com 296kg – e espera mantero título de campeão conquistado naúltima edição dos Jogos.

HIPISMOCENTRO OLÍMPICO DE HIPISMODia 14 (quarta-feira). Das 10h às17h20m. O campeonato individualmisto terá a presença do austríacoPepo Puch. O cavaleiro enfrenta olendário britânico Lee Pearson, quecompete pela quinta vez nos JogosParalímpicos. Já Puch foi ouro emLondres-2012 na classe 1b, quatroanos depois de um acidente que odeixou paraplégico e apenas algunsdias após a morte da mãe.

JUDÔArena Carioca 3 Dia 9 (sexta-feira). Das 15h30m às17h55m. O judô é um dos esportesmais promissores para os brasileiros,tanto na Olimpíada quanto na Paralim-píada. Disputas por ouro e bronze são odestaque do evento, que reúne o mas-culino até 73kg/81kg e o feminino até57kg/63kg. Lucia Araújo, que garantiua prata na última edição dos Jogos, éuma das maiores esperanças brasilei-

ras até 57kg. Ela também foi ouro noParapan de Toronto no ano passado.

Dia 10 (sábado). Das 15h30m às18h35m. A sessão reúne disputasde bronze e ouro, sendo as masculi-nas nas categorias 90/100kg/+100kg e femininas de até 70/78kg. Antonio Tenorio, o primeirojudoca a ganhar quatro ouros para-límpicos consecutivos, espera con-quistar uma nova medalha.

NATAÇÃOESTÁDIO AQUÁTICO OLÍMPICODia 11 (domingo). Das 17h30m às21h30m. As finais masculina e femi-nina terão entre os destaques o cana-dense Benoit Huot, vencedor de 19medalhas paralímpicas na classe S10.É sua quinta participação nos Jogos.

Dia 12 (segunda-feira). Das17h30m às 21h45m. Entre os mo-mentos mais emocionantes dos Jo-gos estarão certamente as finaismasculina e feminina da natação.Daniel Dias, a maior estrela paralím-pica brasileira, compete numa sériede eventos na classe S5, incluindoos 100m peito, 50m borboleta e50m livre. Na mesma data, o públi-co também vai acompanhar AndréBrasil, da classe S10. Foram três ou-ros e duas pratas somados em Pe-quim-2008 e Londres-2012. Outrodestaque é a espanhola Maria Tere-sa Perales, que deseja garantir a me-dalha nos 100m livres pela quartavez seguida antes da aposentadoria.

Dia 14 (quarta-feira). Das 17h30màs 21h35m. Um dos destaques dasessão, que terá finais masculinas efemininas, é a brasileira Verônica Al-meida. Dona do bronze em Pe-quim-2008 e em Londres-2012 erecordista mundial na natação emalto mar, ela vai em busca de seu ou-ro paralímpico.

REMOLAGOADia 11 (domingo). Das 8h30m às11h30m. Serão oito corridas, comprovas masculinas, femininas e mis-tas. Prata em Londres-2012 e semperder nenhuma disputa desde en-tão, o australiano Erik Horrie é o fa-vorito na classe AS masculina. Noscampeonatos de 2015, ele garantiuseu terceiro título mundial.

RÚGBI EM CADEIRA DE RODASARENA CARIOCA 1 - BARRADia 18 (domingo). Das 12h30m às14h30m. A disputa pelo ouro vaimovimentar o Parque Olímpico nes-te dia. Os quatro maiores times doesporte são os Estados Unidos, nú-mero 1 do ranking, a Austrália, cam-peã em Londres-2012, a Nova Ze-lândia, ouro em Atenas-2004, e oCanadá, três vezes segundo coloca-do. Todos presentes na Rio-2016.

TÊNIS DE MESARIOCENTRO - PAVILHÃO 3Dia 13 (terça-feira). Das 16h às20h. É nesta data que acontece a dis-puta do ouro da classe 10, da favoritaNatalia Partyka. A estrela polonesa éuma das raras atletas que competemtanto nos Jogos Olímpicos quanto nosParalímpicos. Nascida sem a mão e oantebraço direitos, ela apoia a bolinhano braço e usa a raquete com a mãoesquerda para sacar. É três vezescampeã paralímpica nas individuaisfemininas em sua classe e não perdeuma partida desde 2008.

TÊNIS EM CADEIRA DE RODASCENTRO OLÍMPICO DE TÊNISDia 15 (quinta-feira). Das 12h às22h30m. A briga feminina individu-al pelo ouro vai dividir as atençõescom as disputas de ouro e bronze deduplas masculinas. Dona de doisouros no Parapan do ano passado, abrasileira Natalia Mayara espera re-petir o pódio. Mas as holandesas sãoas favoritas e chegam ao Rio com afama de imbatíveis. Em Wimbledon,Jiske Griffioen ganhou seu quarto tí-tulo do Grand Slam, batendo a com-patriota Aniek van Koot. Ambascompetem nas duplas na Rio-2016

Dia 16 (sexta-feira). Das 12h às22h30m. O público poderá conferiras disputas de bronze e ouro mascu-linas individuais e de ouro para asduplas femininas. No masculino, es-tão garantidas as presenças de algu-mas das maiores estrelas do esporteem sua melhor forma. O britânicoGordon Reid, por exemplo, ganhou acompetição inaugural individual emWimbledon depois de vencer o Aus-tralian Open, em junho. Competiráainda em dupla com Alfie Hewett.Outros candidatos ao ouro são o ar-gentino Gustavo Fernandez, o fran-cês Stephane Houdet, dono da prata

em Londres-2012, e o japonês Shin-go Kunieda.

TIRO COM ARCOSAMBÓDROMODia 16 (sexta-feira). Das 15h às19h30m. As oitavas, quartas, semifi-nais e finais masculinas de arco recurvoterão como destaque Matt Stutzman, o“arqueiro sem braços” americano. É de-le o recorde mundial para a maior dis-tância já atingida por uma flecha.

Dia 17 (sábado). Das 9h às13h30m. Será possível conferir asoitavas, quartas, semifinais e finaisfemininas de arco recurvo, com aparticipação de Zahra Nemati, pri-meira mulher iraniana a ganhar umamedalha de ouro nos Jogos Olímpi-cos e Paralímpicos. Será uma daspoucas esportistas a competir tantona Olimpíada quando na Paralimpía-da nesta edição do evento.

TRIATLOFORTE DE COPACABANADia 11 (domingo). Das 10h às 13h45m. É a final feminina da pri-meira competição paralímpica de tri-atlo. Serão 60 participantes, entreelas a americana Melissa Stockwell,primeira mulher a perder uma pernaem combate. A atleta servia o exérci-to no Iraque quando foi atingida pelaexplosão de uma bomba.

VELAMARINA DA GLÓRIADia 17 (sábado). Das 12h às17h30m. O evento reúne as regatasmasculina e feminina. Aos 50 anos, oalemão Heiko Kroeger tentará recu-perar o título paralímpico que con-quistou 16 anos atrás. Ele participoude todas as edições dos Jogos desdeque a vela foi incluída no programa,em Sydney-2000.

VOLEIBOL SENTADORIOCENTRO - PAVILHÃO 6Dia 18 (domingo). Das 9h30m às15h. No último dia acontecem a dis-puta de bronze e a final masculina,em sessão única. Irã e Bósnia-Herze-govina, favoritos que se enfrentamnas finais Paralímpicas desde Syd-ney-2000, estão no grupo B da com-petição masculina. Mesmo assim,podem se enfrentar. O Brasil, no gru-po A, levou os ouros nos dois últimosParapan-Americanos.

As reportagens do Jornal Paralímpico que você lê nesta edição especial foram escritas por dez jovenstalentos brasileiros. Eles participaram de um concurso de redação promovido pelo jornal alemão “DerTagesspiegel” e foram selecionados por uma banca formada por jornalistas do GLOBO e professoresda Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De vários estados do Brasil, os estudantes Fernan-da Lagoeiro (de 22 anos), Guilherme Longo (23), Gustavo Altman (18), Hugo L’Abbate (22), JoãoPedro Soares (22), Jorge Salhani (22), Leonardo Levatti (22), Letícia Paiva (20), Natália Belizario(20) e Thaís Contarin (22) demonstraram garra e dedicação. Apuraram belas histórias sobre a Para-limpíada, que renderam este suplemento especial. A partir de hoje, ao lado de 12 colegas da Alema-nha e Grã-Bretanha, também escolhidos por concurso em seus países de origem, eles vão fazer a co-bertura da Rio-2016. Esse trabalho de reportagem vai render uma segunda edição do Jornal Paralím-pico, que circulará encartada no GLOBO dia 21 deste mês, trazendo um balanço da Paralimpíada. Criado pelo “Tagesspiegel” com o nome de “Paralympics Zeitung” para Atenas-2004, o projeto prevêuma parceria com um jornal da cidade-sede onde se realizam os Jogos. O GLOBO foi escolhido pelodiário berlinense para a iniciativa, que tem patrocínio da empresa de seguros Deutsche GesetzlicheUnfallversicherung (DGUV). A dobradinha teve início em maio deste ano, quando os estudantes dosdois lados do Atlântico se reuniram no Rio de Janeiro (foto) para participar de workshops, conhecer asinstalações paralímpicas e cobrir eventos-teste de atletismo.

THILO RUECKEIS/TAGESSPIEGEL

Conexão Brasil-Alemanha na Rio-2016

O PROJETO

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O esporte paralímpico

é, sem dúvida, um irre-sistível convite à refle-xão sobre como encara-mos as competições e avida. Num país apaixo-nado por futebol e acos-tumado a desdenhardas outras modalidades, um evento como esses é umduro golpe na lógica do vencer ou vencer: sobretudo,porque fundamentalmente somos convidados a ad-mirar os atletas. Seus movimentos. Suas táticas. Aagilidade e, por que não?, as virtudes que volta e meianos escapam no dia a dia, como a paciência, a con-centração e a perseverança. Na vitória ou na derrota.Em uma Paralimpíada, nossos conceitos de “supera-ção”, “fracasso” e “limites” são postos em xeque, em-baralhados e relativizados. É muito fácil e óbvio res-ponder à pergunta “será que eu faria o que MichaelPhelps e Usain Bolt conseguem fazer?”. Porém,quando transferida para qualquer uma das arenas pa-ralímpicas, essa conversa fica muito mais interessan-te. Neste projeto executado por estudantes brasileirose europeus, o que sobressai é o frescor do olhar, des-provido de preconceitos adquiridos em horas e horasde eventos esportivos acompanhados por obrigação— sim, eles se divertem. Tudo isso é ótimo porque, seapenas oferecesse espaço de reflexão, o esporte para-límpico seria... chato. Pelo olhar desses jovens talen-tosos, percebemos que há entretenimento, emoção ehistórias envolventes, ou seja, o pacote completo pa-ra um megaevento inesquecível. Se haverá oportuni-dades para criar novos ídolos e modelos de comporta-mento, certamente seremos também apresentados anovos vilões, trapaceiros, dopados e maus perdedo-res, todos costurados em tragédias demasiadamentehumanas — o que me leva a crer que, se existe ummonte chamado Paralimpo, ele divide com o Olimpoa mesma cordilheira, e seu cume pode ser conquista-do tanto por almas filosóficas quanto por espectado-res apaixonados por ação. É hora de aceitar este con-vite e celebrar tanto a imperfeição humana quanto abeleza de lutar contra ela, em qualquer grau. Boa lei-tura e boa Paralimpíada.

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MÁRVIO DOS ANJOSEditor de Esportes do GLOBO

Quarta-feira 7.9.2016|Jornal Paralímpico|3

EDITORIALUm novo mundo, umslogan inspirador e umlema desafiador foramfeitos no lançamentodos Jogos Rio-2016. OsJogos Olímpicos termi-naram e agora é a vezdos Jogos Paralímpicos,mostrando “novos heróis, fazendo novos amigos, cri-ando novas famílias” —, como diz o manifesto daRio-2016. Os XV Jogos Paralímpicos de Verão sãouma oportunidade única para mostrar o que “quebrarbarreiras” realmente quer dizer. Se você quiser teste-munhar o que significa superar obstáculos e se inspi-rar no que os seres humanos são capazes de ser e fa-zer tem que ir aos Jogos Paralímpicos! Mais de quatromil atletas de diversos países, que têm treinado duropara participar do terceiro maior evento esportivo domundo, virão para o Rio contagiar a cidade. O JornalParalímpico — uma publicação com foco exclusiva-mente no esporte paralímpico no Brasil — é escritopor jovens estudantes e transmite o entusiasmo delespelo espírito paralímpico. Estou orgulhoso de ser umco-editor do projeto “Paralympics Zeitung”, que foifundado pelo jornal alemão “Der Tagesspiegel” e a se-guradora alemã Deutsche Gesetzliche Unfallversi-cherung (DGUV) por ocasião do Jogos Paralímpicosde Atenas-2004. O nosso projeto, bem como os Jo-gos Paralímpicos, já percorreu um longo caminhodesde então. O “Paralympics Zeitung” é um suple-mento publicado nos principais jornais alemães e nopaís anfitrião dos Jogos. Estamos muito satisfeitospor ter ganho um parceiro de mídia como o jornal OGLOBO. Os artigos foram escritos por jovens talentosentre 18 e 23 anos de idade, selecionados através deconcursos de texto. A equipe que traz as informaçõesdos Jogos para você é composta por 22 estudantes doBrasil, Alemanha e Grã-Bretanha. Os europeus escre-verão em alemão para o “Paralympics Zeitung” e umaversão em inglês do Jornal Paralímpico. Coube aosbrasileiros a edição em português. Nosso time editori-al, internacional e entusiasta, tomou para si o lema daRio-2016: sempre à procura de histórias com novosolhos, adoção de novas atitudes e respeito um ao ou-tro e ao que é diferente. Estamos todos ansiosos paraos Jogos no Rio, e espero que sejam espetaculares.

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LORENZ MAROLDTEditor-chefe do “Tagesspiegel”

A festa do esporte con-tinua. O Rio recuperouo fôlego para entregarJogos Paralímpicosinesquecíveis. A popu-lação carioca dará bo-as-vindas a mais dequatro mil dos melho-res atletas com deficiência do mundo. Feitos incríveisacontecerão aqui. Serão 23 modalidades, três mil ofi-ciais de equipe, 1.400 árbitros. Mais de quatro milprofissionais de mídia gerarão imagens para mais decem países e levarão feitos destes superatletas para omundo. São dois milhões e meio de ingressos à vendapara o terceiro maior evento esportivo do planeta. E seos números já mostram por si só a grandeza da com-petição, não é a matemática que faz imperdíveis osJogos Paralímpicos. É o esporte. Como o saltador emdistância alemão Markus Rehm. Amputado de umadas pernas, no último mundial de atletismo Paralím-pico ele quebrou recorde saltando inacreditáveis8,40m. Isso daria a ele o ouro nos Jogos OlímpicosRio-2016, onde o vencedor saltou 8,38m. E os brasi-leiros têm muitos motivos para comparecer às are-nas. Além de conhecer ou voltar aos palcos olímpicos,teremos a chance de ver incríveis brasileiros brigandopor muitas medalhas. O Brasil está entre os melhorespaíses do mundo no esporte paralímpico de alto ren-dimento, e a meta do Comitê Paralímpico Brasileiro éestar entre os cinco melhores na Rio-2016. A pro-messa é pódio todo dia! O esporte mostra a pessoacom deficiência de uma forma positiva. Após dez mi-nutos numa arena, o espectador deixa de enxergar adeficiência e passa a se encantar com a eficiênciadestes atletas, que treinam horas por dia e se dedi-cam durante anos. Por último, os Jogos Paralímpicosdo Rio já são inovadores. Temos a primeira marcamultissensorial da história do evento, o maior númerode emissoras de TV credenciadas e o maior númerode atletas paralímpicas mulheres. Vamos lotar as are-nas, criar uma experiência memorável. A última coisada qual você vai se lembrar desses Jogos é a deficiên-cia. Estes atletas são pura eficiência.

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MARIANA VIEIRA DE MELLOGerente geral de Integração Paralímpica do Comitê Rio-2016

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A Lagoa Rodrigo de Freitas será o palco de estreia dacanoagem nos Jogos Paralímpicos, modalidade quecostuma render medalhas ao Brasil em competiçõesinternacionais. Tricampeão mundial na canoa e cam-peão mundial no caiaque, Luís Carlos Cardoso (foto)ganhou a votação popular do Prêmio Paralímpicoscomo melhor atleta masculino do país em 2015, edisputará a categoria KL1 (uso apenas de braços nasremadas) na Rio-2016. Outra esperança de medalhaera Fernando Rufino, o Cowboy, que foi afastado porproblemas cardíacos e será substituído por Alex Tofa-lini na KL2 (troncos e braços). O país conquistoucinco das seis vagas possíveis e terá ainda Debora

Benevides na KL2 e Mari Santilli eCaio Ribeiro na KL3 (amputaçãonuma perna) na disputa.

Canoagem

Presente nos Jogos desde a primeira edição em Ro-ma-1960, o tênis de mesa é um dos esportes paralímpi-cos mais tradicionais. No início, a modalidade era dividi-da em três classes. Hoje são 11. Atletas das classes 1 a5 competem em cadeiras de rodas; nas classes 6 a 10 os

confrontos são de pé e a classe 11 é para pessoascom deficiências intelectuais. No Rio, o Brasilterá 11 homens e seis mulheres, três compe-

tidores a mais do que em Londres-2012,quando o país terminou na 24ª posição.Dentre eles está o paranaense Welder

Knaf (foto), um dos doisúnicos medalhistas brasilei-

ros da modalidade.Em Pequim-2008,com Luiz Algacir Silva,Knaf surpreendeu nas

semifinais os anfitriõeschineses e ficou com aprata na final por equipescontra a França. As dispu-

tas serão no Riocentro.

O hipismo integra o programa dos Jogos Paralímpicosdesde Atlanta-1996. O Brasil estreou em Ate-nas-2004, com Marcos Fernandes Alves, o Joca(foto), que quatro anos depois conquistaria duasmedalhas de bronze em Pequim: no estilo livree na prática individual. Já em Londres-2012,o país não voltou ao pódio e terminou em 13ºno geral, tendo o 7º lugar de Sérgio Oliva,montando Emily no Individual Estilo Livre 1a,como melhor resultado. Sérgio e Marcos vol-tam aos Jogos do Rio, juntamentecom Vera Mazzilli e RodolphoRiskalla. As provas são dispu-tadas, em Deodoro, porhomens e mulheres comdiversos tipos de deficiên-cia, sendo que os atletasdo Grupo I (a e b) sãocadeirantes com diferen-tes graus de comprome-timento de movimentosde tronco e membros.

Hipismo

O tiro com arco é disputado desde a primeira edição dosJogos Paralímpicos, em Roma-1960, mas o Brasil farásua estreia apenas na Rio-2016. Embora seja a primeiraparticipação paralímpica, o país já conquistou dois ourose duas pratas nos Jogos Mundiais da Federação Esporti-va Internacional de Amputados e em Cadeiras de Rodas(IWAS), em 2009, na Índia. Os destaques entre os seteatletas brasileiros são Luciano Rezende (foto) e Jane

Karla, medalhistas de ouro no Para-pan de Toronto-2015, em que ThaísCarvalho ganhou prata e DiogoSouza, que também integram aequipe, ficou em 4º lugar. No Rioserão nove provas – masculinas,femininas e mistas – disputadasindividualmente ou por equipeem distâncias de 50 ou 70metros, no Sambódromo.

O Judô é a única arte marcial nos Jogos Paralímpicos. Aestreia aconteceu em Seul-1988, apenas para homens,com as mulheres passando a competir em Atenas-2004.A modalidade é praticada por atletas com deficiênciavisual, divididos em categorias de acordo com o peso e onível de comprometimento da visão. As regrassão iguais às do judô olímpico, com dife-rença apenas no início da luta. Oprimeiro ouro do Brasil veio emAtlanta-1996, com Antônio Tenó-rio (foto), que repetiria o feitonas três edições seguintes. EmLondres-2012, o melhorresultado foi a prata deLucia Araújo, com MicheleFerreira, Daniele Bernar-des e Tenório ganhandobronze. Destes, apenasDaniele não está entre os12 atletas que competirãona Arena Carioca 3, noParque Olímpico.

Com provas de estrada e pista, que acontecemno Pontal e no Velódromo, respectivamente,o ciclismo integra os Jogos Paralímpicosdesde Nova York-1984. As três primeirasedições tiveram apenas provas de estra-da, com o ciclismo de pista incluído emAtlanta-1996. Rivaldo Martins foi oprimeiro brasileiro a competir no espor-te em Jogos Paralímpicos, em Barcelo-na-1992, mas o Brasil não tem meda-lhas na modalidade. Em Londres-2012,dois atletas ficaram perto do bronze.João Schwindt e Soelito Gohr chegaramem quarto e quinto lugares na prova deestrada C4-5. Soelito integra a equipede cinco atletas no Rio, que terá tam-bém Lauro Chaman (foto), ouro namesma prova e categoria no Parapan deToronto-2015, onde também ganhououro no contra relógio C1-5 e bronze naperseguição individual C4-5 em pista.

Presente desde a primeira edição dos Jogos Para-límpicos, em Roma-1960, a esgrima em cadeirade rodas é uma das modalidades mais tradicionaispara atletas com deficiência motora. As cadeiras deroda são fixadas ao solo, permitindo ao esgrimistamovimentar apenas o tronco e os membros superi-ores. Assim como nos Jogos Olímpicos, há disputasem florete, espada e sabre. Na Rio-2016, o Brasilterá cinco atletas – dentre eles Jovane Guissone(foto), que começou a treinar em 2008 e quatroanos depois foi ouro na espada em Londres, a

única medalha da esgrimabrasileira em Jogos Paralímpi-cos e Olímpicos. A equipetem ainda Fabio Damasceno,Monica Santos, Rodrigo

Massarutt e Sandro Colaçode Lima na competição

que ocorre na Arenada Juventude, emDeodoro.

A hegemonia do Brasil no futebol de 5, disputado poratletas com deficiência visual, é incontestável.Desde que a modalidade passou a ser dispu-tada nos Jogos Paralímpicos de Ate-nas-2004, o país conquistou o ouro emtodas as edições. Na Grécia, a adversá-ria da final foi a Argentina, derrotadapor 3 a 2 nos pênaltis. Em Pe-quim-2008, os rivais da decisãoforam os anfitriões chineses, queperderam por 2 a 1. Em Lon-dres-2012, o título veio de formainvicta, com sete gols a favor enenhum contra, batendo a Françana final por 2 a 0. Liderada porRicardinho (foto), consideradomelhor jogador do mundo na modalidade,a seleção brasileira, tricampeã no Parapande Toronto-2015, vai em busca do quartoouro paralímpico no Centro Olímpico deTênis, na Barra.

A modalidade surgiu em 1978, adaptada para atletascom paralisia cerebral, entrou no programa dos JogosParalímpicos em Nova York-1984 e sairá nosJogos de Tóquio-2020. O Brasil estreou como 6º lugar em Barcelona-1992. Quatro anosdepois, em Atlanta, o país ficou em penúl-timo, antes de conquistar o bronze emSydney-2000 e a prata em Ate-nas-2004. Nas duas últimas ediçõesdos Jogos, a equipe brasileira terminouem quarto lugar. Campeão no Parapanem Toronto-2015, o Brasil foi segundo noPré-Paralímpico, em maio passado, naEspanha, quando perdeu a final para aUcrânia, uma das favoritas ao ouro no

Rio.A

competição reúne oito seleções, empartidas de 60 minutos divididas em doistempos de 30, com intervalo de 15minutos. Os jogos serão disputados noEstádio deDeodoro.

Disputado por deficientes visuais, o Goalball é umamodalidade exclusivamente paralímpica e estreou nosJogos de Toronto-1976. A primeira participação brasilei-ra foi em Atenas-2004. A equipe masculina ganhou umaprata inédita para o país em Londres-2012, quandosuperou o “grupo da morte” na 1ª fase, bateu a Lituâniana semifinal, mas perdeu para a Finlândia na disputa doouro. Nos Jogos do Rio, o destaque do time masculino éLeomon Moreno, artilheiro do Campeonato Mundialvencido pelo Brasil em 2014. O feminino conta com aexperiência de Ana Carolina Custódio e Cláudia Paula,que competem nos Jogos pela quarta vez – foram 7ºlugar em Londres. No Parapan em Toronto-2015, as

duas seleções ganharam o ouro, ambasderrotando os Estados Unidos nafinal. As partidas acontecem na

Arena do Futuro.

O tênis em cadeira de rodas integra o programa dosJogos Paralímpicos desde Barcelona-1992. É disputadopor atletas com alguma limitação locomotora, que usamcadeiras adaptadas para a intensa movimentação emquadra – a única diferença para o tênis convencional éque a bola pode quicar duas vezes. O Brasil estreou emAtlanta-1996 e nunca foi ao pódio. Na Rio-2016, o paísterá sua maior equipe, com oito atletas, três a mais doque em Londres-2012, quando terminou em 8º lugar. Odestaque é Natália Mayara (foto), a primeira brasileira acompetir nos Jogos, há quatro anos. Ela ganhou ouro noParapan em Toronto-2015, quando Daniel Rodrigues foi

bronze individual e prata nasduplas ao lado de CarlosSantos, que vai para suaquarta Paralimpíada. Aspartidas acontecem noCentro Olímpico de Tênis.

O Brasil participa das provas de tiro esportivo desde asua estreia nos Jogos Paralímpicos, em Toronto-1976.A modalidade é uma adaptação do tiro olímpico,disputada por atletas com deficiência locomotora, quecompetem sentados ou em pé. No Rio, quatro brasilei-ros buscarão uma medalha inédita, com destaquepara Carlos Garletti (foto), único representante do paísem Pequim-2008 e Londres-2012, onde disputouquatro provas. Além dele, a equipe conta com Alexan-dre Galgani, Debora Campos e Geraldo Von Rosenthal.Ao todo, o programa paralímpico inclui 12 provasindividuais – masculinas, femininas e mistas – usandocarabina e pistola, de ar comprimido ou calibre 22. A

competição acontece noCentro de Tiro, no ParqueOlímpico de Deodoro.

O primeiro campeonato mundial de triatlo para pessoascom deficiência ocorreu em 1996, nos Estados Unidos.Vinte anos depois, o esporte estreia nos Jogos Paralímpi-cos no Rio. A competição inclui três provas em sequência(750m de natação, 20km de ciclismo e 5km de corrida),

nas quais os atletas disputam seis meda-lhas de ouro, em três classes masculinas etrês femininas. A delegação brasileira

conta com dois representantes: AnaRaquel Lins, na categoria PT4, eFernando Aranha (foto), na cate-goria PT1. O país colecionamedalhas em competições inter-nacionais desde 2009, quando

Rivaldo Martins ganhou a prata noMundial, na Austrália. As provas

serão disputadas no próximo fim desemana, dias 10 e 11, com largadae chegada próximo ao Forte deCopacabana.

O Brasil disputará pela primeira vez o rúgbi em cadeira derodas, modalidade que integra dos Jogos Paralímpicosdesde Sydney-2000. Cada time é formado por quatroatletas cadeirantes, cujo objetivo é cruzar a linha de goldo adversário com a bola. Dos 12 convocados para aequipe brasileira, o destaque é Alexandre Keiji Taniguchi(foto), que em 2012 foi eleito MVP (jogador mais impor-tante) na Metro Cup, disputada na Polônia. Na Arena

Carioca 1, a seleção enfrentaráas três principais equipes domundo na atualidade: Austrá-

lia, Canadá e Estados Unidos,ouro, prata e bronze em Lon-dres-2012. Em 2015, a modali-

dade estreou no Parapan deToronto e o Brasil termi-

nou em quarto lugar,ganhando três partidas eperdendo o bronze paraa Colômbia por ape-nas dois pontos.

Na vela adaptada, homens e mulheres competemjuntos, em barcos para um, dois ou três tripulantes. Amodalidade estreou nos Jogos em Atlanta-1996,como esporte de exibição, e passou a distribuirmedalhas em Sydney-2000. A segunda participa-ção do Brasil, em Londres-2012, foi marcadapela presença da primeira mulher na equipe:Elaine Cunha, que terminou em 11º lugar comBruno Landgraf, na classe Skud 18, em queos atletas disputam em duplas, sendo umintegrante obrigatoriamente do sexofeminino. Landgraf, ex-jogador defutebol, volta a competir no Rio aolado de Marinalva de Almeida, quejá passou por diversas modalida-des antes de ser velejadora. Aequipe tem outros quatrointegrantes nas provas, queserão disputadas na Baíade Guanabara.

A modalidade integra os Jogos Paralímpicos desde Ar-nhem-1980. Até Sydney-2000, as competições eramdivididas em duas categorias: voleibol sentado e em pé.Desde Atenas-2004, apenas a primeira modalidade édisputada, por atletas com amputações ou algum tipo dedeficiência nas pernas. O Brasil busca aconquista inédita de medalha com ostimes masculino e feminino. Lon-dres-2012 marcou a estreia para-límpica da equipe feminina doBrasil, que terminou em quintolugar, mesma posição do mascu-lino, seu melhor resultado nosJogos até agora. No Parapan deToronto, ano passado, os homensconquistaram o terceiro ouroseguido na competição, enquanto asmulheres ganharam a prata, ambosem finais contra os Estados Unidos.As partidas acontecem no Riocentro.

A natação é o segundo esporte que mais deu vitóriasao Brasil na história dos Jogos, atrás apenas doatletismo. Desde 1984, quando Maria JussaraMatos se tornou a primeira brasileira campeã para-límpica na modalidade, foram 83 medalhas, sendo28 de ouro, 27 de prata e 28 de bronze. NaRio-2016, a equipe de 32 atletas conta com seustrês principais destaques: Daniel Dias (foto), omaior medalhista brasileiro em Paralimpíadas, comdez ouros, cinco pratas e um bronze; Andre Brasil,dono de sete ouros e três pratas; e o veterano Clodo-aldo Silva, que se despede das piscinas após aRio-2016, com seis ouros, quatro pratas e umbronze. Em Londres-2012, o país obteve sua me-lhor posição nos Jogos (6ª), ganhando nove ouros ebatendo cinco recordes mundiais e três paralímpi-cos. As competições acontecem no Estádio Aquáti-co Olímpico.

O remo é uma das modalidades mais recentes nos JogosParalímpicos, estreando em Pequim-2008. Nas duasedições realizadas, o Brasil esteve presente em todas asquatro provas do programa e foi ao pódio uma vez, com obronze de Josiane Lima e Elton Santana no Double SkiffTA Misto (tronco e braços), logo na primeira participa-ção. Josiane, que ficou em 8º com Isaac Ribeiro háquatro anos, volta a competir no Rio, desta vez comMichel Pessanha. Cláudia Santos (foto) também disputaos Jogos pela terceira vez no Single Skiff AS Feminino (sóbraços), no qual foi 4º em Londres-2012, o melhorresultado do país. Renê Pereira, no Single Skiff AS Mas-culino, completa a equipe, que pela primeira vez nãocompete no Quatro ComLTA Misto (tronco, per-nas e braços). A Lagoaserá o palco dacompetição.

Tiro com arco

Judô

Responsável por cerca de um quarto de toda a delegaçãode atletas da Paralimpíada do Rio, o atletismo faz partedos Jogos desde a primeira edição, em 1960. Em 1972,na cidade de Heildeberg, na Alemanha, o Brasil levouseus primeiros competidores — de lá para cá, sempreteve representantes. No total, são 109 medalhas, sendo32 de ouro, 47 de prata e 30 de bronze. Em Londres, oBrasil ficou em 7º lugar na modalidade. No Rio, os prin-cipais destaques são os velocistas Alan Fonteles, Terezi-nha Guilhermina (foto), Yohansson Nascimento, Petrúcio

Ferreira, Lucas Prado, FelipeGomes e Verônica Hipólito.A saltadora Silvânia Oliveiratambém tem boas chances

de pódio. As dispu-tas serão no

Estádio Olímpico(Engenhão) e achegada mara-tona será noForte de Copa-

cabana.

Quarta-feira 7.9.2016|Jornal Paralímpico|54|Jornal Paralímpico|Quarta-feira 7.9.2016

BasqueteO basquete em cadeira de rodas está entre aspoucas modalidades presentes em todas asedições dos Jogos Paralímpicos, desde 1960.No entanto, os times femininos só entraram nacompetição oito anos depois. Foi a primeiramodalidade paralímpica a ser praticada noBrasil, a partir de 1958, mas a estreia do paísnos Jogos ocorreu apenas em Heidel-berg-1972. O time masculino, cuja melhorposição é o 8º lugar em Pequim-2008, não seclassificou para Londres-2012, onde o femini-no terminou em 9º, seu melhor resultado atéhoje. No Parapan em Toronto, ano passado, asmulheres conquistaram o bronze, e oshomens ficaram em quarto. Asatuais campeãs paralímpicas sãoas seleções do Canadá, no masculi-no, e da Alemanha, no feminino,com Austrália de vice em am-bos. Os jogos acontecem nasArenas Carioca 1 e Olímpicado Rio.

Ciclismo Esgrima Futebol de 5 Futebol de 7 GoalballO halterofilismo estreou nos Jogos Paralímpicos emTóquio-1964, apenas com participação de homens.Somente 32 anos e oito edições depois as mulherespassaram a disputar a modalidade, em Atlanta-1996. Efoi nessa edição a primeira atuação do Brasil, com Mar-celo Motta. O resultado dos brasileiros no Mundial Para-límpico de Halterofilismo, em janeiro deste ano, no Rio,traz esperança para a conquista do primeiro pódio namodalidade. Os atletas ganharam dez medalhas emcasa, sendo duas de ouro, uma delas conquistada por

Marcia Menezes(foto). Além dela (a única do grupoatual a competirem Londres, como 6º lugar até

85kg), Bruno Carra,Evanio Rodrigues e

Terezinha dos Santos disputama modalidade no Pavilhão 2 doRiocentro.

Tênis Tiro esportivo Triatlo

Rúgbi Tênis de mesa

Vela Voleibol sentado

Os esportes paralímpicos e osdestaques do Brasil Com 23 modalidades (duas no ciclismo), Rio-2016 reunirá 4.350 atletas

de 176 países, recorde na história dos Jogos. Serão 528 provas, 225 femininas,

265 masculinas e 38 mistas. Brasileiros estreiam no tiro com arco e rúgbi

Natação Remo

Atletismo

Halterofilismo

Parte do programa dosJogos Paralímpicos desdeNova York-1984, abocha é uma das promes-sas de pódio para o Brasilna Rio-2016. Em Pe-quim-2008 e Londres-2012, adelegação brasileira terminou emprimeiro no quadro de medalhas damodalidade, acumulando cincoouros e dois bronzes no total.Em 2012, Dirceu Pinto (foto) eEliseu dos Santos foram bicam-peões de duplas na categoriaBC4 (atletas com grave disfun-ção locomotora nos quatromembros). Dirceu também foi campeão individual, naprova em que Eliseu ficou com o bronze. O terceiroouro do país em Londres foi de Maciel Santos, nacategoria BC2 (atletas com paralisia cerebral). Os trêsestão entre os dez integrantes da equipe que vai competirna Arena Carioca 2, no Parque Olímpico na Barra.

Bocha

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Page 5: QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 Jornal Paralímpico › downloads › 19734340 › 1 › ... · Paralímpico QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 CADERNO ESPECIAL Nº 1 COMEÇA A CORRIDA RUMO AO OURO

Foram 750 horas gravadas, transformadas em 110minutos de filme. O resultado é uma experiência naarte de repensar o outro e a si mesmo. Do riso ao cho-ro, quem assiste a “Paratodos” muda sua percepçãosobre a pessoa com deficiência. Dividido em quatronúcleos (atletismo, natação, canoagem e futebol), olonga é um mergulho no universo dos atletas paralím-picos. Ou melhor, dos atletas, apenas. Era compro-misso mostrar que são como quaisquer outros.

— Não são coitados, nem super-heróis. São sereshumanos. Riem e choram, acertam e erram comonós. Fomos em busca dessa abordagem — enfatizaMarcelo Mesquita, diretor do filme.

Sem um narrador, as histórias ficam na boca dosatletas e das pessoas ao redor deles – o que confere àprodução interessante polifonia. Quanto à linguagemcinematográfica, muito movimento, planos-sequên-cias e a constante aproximação da lente, explorando olimite entre o real e o fictício.

— Vimos de perto uma queda da Teresinha Gui-lhermina, do atletismo. Estivemos dentro do vestiáriodos atletas do futebol de 5, antes do tetracampeonatomundial. O espectador talvez pergunte: eles realmen-te estavam ali? E estávamos! — explica Marcelo.

Em alguma medida, “Paratodos” é esperança deuma narrativa humana e equilibrada sobre pessoascom deficiência. De uma linguagem que escapa do“coitadismo” e evita heroificar. Para a cidadania, umserviço, de uma sobriedade desconcertante.

6|Jornal Paralímpico|Quarta-feira 7.9.2016

OBrasil construiu um legado de potência es-portiva nos 44 anos em que participa dosJogos Paralímpicos. A presença inauguralda delegação brasileira, porém, foi tímida:

os 20 atletas retornaram de Heidelberg, na Alema-nha, em 1972, sem nenhuma medalha.

O primeiro pódio do esporte paralímpico brasileiroviria já nos Jogos seguintes, em Toronto-1976, com aprata de Robson Sampaio de Almeida e Luiz CarlosCosta no lawn bowls, esporte percursor da bocha, jo-gado sobre a grama. A conquista da medalha de ouropor brasileiros se tornou realidade nos Jogos de1984, em Stoke Mandeville (Inglaterra) e Nova York(EUA): seis delas no atletismo e uma na natação. Apartir desses Jogos, o hino nacional foi ouvido em to-das as edições do evento.

O bom desempenho dos atletas brasileiros colocouo país na 27ª posição no quadro geral de medalhasem Paralimpíadas, com 73 de ouro, 83 de prata e 73de bronze, totalizando 229 medalhas.

O esporte paralímpico nacional está em ascensão,considerando o desempenho nas últimas edições dosJogos. Em Pequim-2008, os atletas brasileiros subi-ram ao topo do pódio 16 vezes, terminando a compe-tição no 9º lugar, com 47 medalhas. Em Lon-dres-2012, as 21 medalhas de ouro conquistadas le-varam o país à 7ª posição geral, melhor colocação doBrasil na história nos Jogos, atrás apenas de China,Rússia, Grã-Bretanha, Ucrânia, Austrália e EUA.

Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB),Andrew Parsons está otimista:

— O Brasil é uma potência paralímpica, alcançougrandes resultados e virou uma referência.

O atletismo e a natação, que inauguraram as con-quistas de medalhas de ouro do Brasil, continuamsendo as modalidades que mais contribuíram para aescalada do país no quadro geral de medalhas: 60das 73 medalhas de ouro conquistadas em Jogos Pa-ralímpicos são fruto dessas modalidades.

Outro esporte com bons resultados para os brasilei-ros é o judô. Apesar de não ter conquistado medalhasde ouro em Londres-2012, o judô soma 18 pódios nototal. Os quatro ouros do país no esporte são do tetra-campeão paralímpico Antônio Tenório, que ganhousua primeira medalha em Atlanta-1996, na categoriaaté 86kg.

Nos últimos Jogos Paralímpicos, o Brasil competiuem 18 modalidades e ganhou medalhas de ouro emcinco delas: atletismo, bocha, esgrima, futebol decinco e natação. No atletismo, vieram sete. Alan Fon-teles, nos 200m rasos, categoria T44 (amputados),venceu o sul-africano Oscar Pistorius, favorito na pro-va, que terminou com a prata. A recordista mundial

Terezinha Guilhermina trouxe dois ouros ao Brasil,nos 100m e 200m livres, categoria T11 (deficiênciavisual), que se somaram a suas outras quatro meda-lhas paralímpicas, conquistadas em Pequim-2008 eAtenas-2004. Os demais ouros do atletismo foramcom Felipe Gomes, Yohansson Nascimento, ShirleneCoelho e Tito Sena, campeão da maratona na catego-ria T46 (amputados).

As conquistas de ouro na natação concentraram-se em dois atletas: Daniel Dias e André Brasil. Diasparticipou de seis provas individuais (nas classes S5e SB4, limitações físico-motoras) e saiu de todascom o ouro no peito – mesma quantidade de ourosconquistada por Clodoaldo Silva em Atenas-2004.O número de vitórias de Dias foi ainda superior à suamarca em Pequim-2008, quando o atleta ganhouquatro medalhas de ouro (e outras quatro de prata euma de bronze). Com participação em duas ediçõesdos Jogos, Dias se tornou o maior medalhista para-límpico do país.

André Brasil coleciona sete medalhas de ouro, sen-do quatro em Pequim-2008 e três em Londres-2012,nos 50m e 100m livres e 100m borboleta, na classeS10 (limitações físico-motoras). O nadador aindapossui três medalhas de prata.

Na bocha, classe BC4 (deficiências severas, semassistências), Dirceu Pinto ganhou uma medalha deouro na competição individual e outra nas duplas,com Eliseu Santos, repetindo o feito de Pe-quim-2008. Maciel Souza Santos ficou com o ouro naclasse BC2 (paralisia cerebral, sem assistências).

No futebol de 5, a seleção brasileira se consagroucomo favorita: assegurando o tricampeonato, o Brasilcontinua sendo o único país com medalhas de ourono esporte, que estreou oficialmente nos Jogos emAtenas-2004.

Jovane Silva Guissone fecha o time dos medalhis-tas de ouro do Brasil em Londres-2012. Vencedor namodalidade espada, o atleta foi o primeiro campeãoda esgrima em cadeira de rodas do país.

Jorge Salhani, de 22 anos

Evolução a cada edição dos JogosSétimo colocado no quadro geral de medalhas em Londres-2012, Brasil

já soma 229 pódios desde sua primeira participação numa Paralimpíada,

em 1972. Atletismo, natação e judô são os esportes mais vencedores

DIVULGAÇÃO/BUDA MENDES/CPB

Daniel Dias na final dos 100m livres em Londres: o nadador foi responsável por seis das 21 medalhas de ouro conquistadas há quatro anos que levaram o Brasil à 7ª posição geral, melhor colocação do país na história nos Jogos Paralímpicos

‘Não são coitados,nem super-heróis’

Leonardo Levatti, de 22 anos

Diretor do longa ‘Paratodos’, Marcelo Mesquitaacompanhou um grupo de atletas durante os quatro anos de preparação para a Rio-2016

Meta é ficarentre os cincomelhores

O Brasil participa dos Jogos Paralímpicosdeste ano com 279 atletas, sua maior dele-gação até hoje. São quase cem a mais doque em Londres-2012, quando 182 foramconvocados.

Pela primeira vez, os brasileiros competi-rão em todas as 23 modalidades quecompõem o programa da Paralimpíada, in-clusive nas estreantes: canoagem e triatlo.Ao todo, atletas de mais de 160 delegaçõesdisputarão 528 provas ao longo de 11 diasde competição.

De acordo com o Comitê ParalímpicoBrasileiro (CPB), a meta é que a delegaçãobrasileira termine os Jogos Paralímpicos notop cinco do quadro de medalhas, melho-rando a posição de Londres-2012. AndrewParsons, presidente da organização, dizque essa meta “é bastante ousada”, mas épossível, tendo em vista os resultados dosúltimos Jogos.

— Trabalhamos firmes com este objetivono nosso horizonte — afirma Parsons.

É esperado que os Jogos tragam mudan-ças positivas na inclusão de pessoas comdeficiência e no investimento ao esporte pa-ralímpico no Brasil. Segundo Parsons, o pa-ís apresenta uma situação confortável emrelação aos investimentos nesses esportes.Como suporte, atletas de diversas modali-dades contam com uma equipe multidisci-plinar de orientação, desenvolvimento eavaliação esportiva. (JS)

Maior de sua história, delegação brasileiraconta com 279 atletas. Pela primeira vez, país disputará as 23 modalidades

Um campeão e coadjuvante de luxo

“Eu?”, olhou desconfiado Adauto Galdino Ricar-do, de 28 anos. “É que ninguém nunca fala comi-go, moça!”, se explica, sorrindo.

Adauto saiu aos 12 anos de casa em Nanuque,interior de Minas Gerais, para tentar a vida comojogador de futebol, mas não foi bem-sucedido.

Desempregado, aos 19 anos começou a prati-car corrida como um hobby, “só para não ficarparado em casa”. Aumentou o ritmo aos pou-cos, até que chegou ao nível de um atleta olím-pico: foi campeão sul-americano e do TroféuBrasil de Atletismo. Mas ainda buscava satisfa-ção pessoal.

Em dezembro do ano passado, foi convidado pa-ra correr ao lado de um maratonista deficiente vi-sual durante um evento beneficente. Acompanhouem seguida outros maratonistas até virar atleta-guia do brasileiro Lucas Prado, um dos corredoresparalímpicos mais rápidos do mundo.

— Não é fácil ser guia. Você tem sempre queacompanhar o ritmo do outro — conta.

De acordo com as regras do esporte, o atleta-guia tem que ser os olhos do velocista na com- Fernanda Lagoeiro, de 22 anos

Medalhista sul-americano, Adauto Galdinoenfrenta desafio de competir como atleta-guiapara Lucas Prado. Parceria inclui treinoconjunto, manutenção de estratégias competitivas e apoio emocional

DIVULGAÇÃOGaldino começou a atuar como guiaem dezembro: “Você tem sempre que acompanhar o ritmo do outro”

petição, mas sem puxá-lo, sob pena de desclas-sificação. Ou seja, deve apenas conduzi-lo pormeio de uma corda que une os braços de ambos.

Além disso, o guia deve ser atleta, treinar duasvezes ao dia por cerca de seis horas (sozinho e como atleta paralímpico) e também ajudar seu compa-nheiro a manter estratégias competitivas e a con-trolar a pressão psicológica.

Segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro(CPB), os atletas-guia da Seleção Brasileira re-cebem apoio financeiro de acordo com sua ex-periência na modalidade — que é medida pelaperformance e pelo histórico de medalhas con-quistadas.

A profissão começou a ser mais reconhecidaem 2011 nos Jogos Parapan-Americanos deGuadalajara, quando os atletas-guia tambémpassaram a ganhar medalhas. Adauto garanteque vale a pena.

— Para mim, é um trabalho como qualquer ou-tro. Tenho infraestrutura de treino, e recebo auxíliomédico e psicológico — diz.

A diferença? A tal da satisfação pessoal. O “me-nino dos olhos” de Lucas Prado vai muito além deser apenas um guia: é a extensão das pernas, dasasas e também do coração, a cada vitória em queambos se ajudam a viver um sonho.

“O BRASIL É UMA POTÊNCIA

PARALÍMPICA, ALCANÇOU GRANDES

RESULTADOS E VIROU REFERÊNCIA”Andrew Parsons, presidente do CPB

Page 6: QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 Jornal Paralímpico › downloads › 19734340 › 1 › ... · Paralímpico QUARTA-FEIRA, 7.9.2016 CADERNO ESPECIAL Nº 1 COMEÇA A CORRIDA RUMO AO OURO

Oparaense Alan Fonteles, um dos mais co-nhecidos atletas paralímpicos brasileiros,até muito recentemente não tinha o costu-me de ler. Aos 24 anos, começou a se inte-

ressar pelos prazeres de um bom livro. Nos últimos di-as, diz estar devorando a biografia de Ayrton Senna,do jornalista inglês Christopher Hilton.

— A história dele é espetacular. Me inspiro muitonele. Ler esse livro me motiva a buscar sempre algomaior — conta Fonteles.

O atleta, natural de Marabá, no Pará, vê em Sennaa trajetória de um homem que sempre buscou a exce-lência, apesar da adversidade, e cuja morte trágicailuminou um personagem ainda mais interessante,alguém que ajudava instituições de caridade no ano-nimato. Essa mistura de empenho com convicções éque inspira Fonteles.

Em 2012, o brasileiro conquistou rápida notorieda-de ao vencer o sul-africano Oscar Pistorius, famosopor ter competido tanto na Paralimpíada quanto naOlimpíada com suas próteses (e que depois ganhouas manchetes do mundo todo ao ser preso, acusadode ter assassinado a namorada).

— Foi o meu ponto máximo no esporte, mas eu gos-to de destacar outras conquistas. Dois dias depois doMundial de Lyon, em 2013, quebrei o recorde mundi-al dos 100m em uma competição sem muito desta-que — ressalta Fonteles, como quem quer dizer aomundo que sua histórica ultrapassagem nos metrosfinais em Londres foi um marco decisivo, sim, masapenas mais uma vitória, como tantas outras colecio-nadas no esporte.

São vitórias que impressionam. Fonteles é recordis-ta mundial dos 100m e dos 200m na categoria T43,para biamputados. Dentre todos os atletas paralímpi-cos, sejam deficientes visuais ou físicos, ele é o se-gundo mais rápido da história. Seria o Usain Bolt daParalimpíada?

— Não sei se posso pensar assim, mas caminho embusca disso — garante.

Acompanhar seus treinos, no Centro ParalímpicoBrasileiro, em São Paulo, ou no Centro de Treinamen-to da BM&F Bovespa, em São Caetano, ajuda a com-preender a rotina de um esportista de alto rendimen-to. Depois de trocar a prótese de madeira, com a qual

passa a maior parte do tempo, pelo equipamento defibra de carbono, ele deixa de ser o menino pacato,que gosta de ficar em casa com a mulher Lorrany eque adora cinema, para se transformar num motivadosuperatleta.

Ao disputar uma corrida contra colegas da delega-ção brasileira — de distintas categorias, como é praxena preparação para os Jogos —, queima a largada ebrinca: “vocês me deixaram nervoso, pô!”, como sefosse um iniciante. Retorna, calmamente, para outrotiro rápido. Momento raro, fica em último lugar. Ocastigo, uma espécie de incentivo para a melhoria derendimento, é duro: 50 abdominais, como determinao treinador Amauri Verissimo, responsável pela maio-ria dos 61 atletas que representarão o Brasil nas pro-vas no Engenhão.

Desde os 21 dias de idade sem a parte inferior dasduas pernas, em decorrência de um quadro de infec-ção generalizada, Fonteles gosta de reafirmar que afalta delas é o menor de seus problemas. Hoje, seuprincipal adversário tampouco é algum colega depista. Em 2014, o paraense afirmou que tinha perdi-do a alegria de correr e decidiu tirar um ano sabático,longe da rotina de treinamentos e competições. Doisanos depois, essa decisão ainda pesa: Fonteles se-gue no encalço de sua forma ideal.

Na Paralimpíada deste ano, Fonteles competirá emquatro modalidades do atletismo: nos 100m, 200me 400m, além do revezamento 4x100m. Sua especi-alidade, admite, são os 200m. Foi justamente nessaprova que o paraense conquistou sua única medalhade ouro em Paralimpíada, em 2012. Dessa vez, o ob-jetivo é maior:

— Meu foco é ganhar todas as provas. Quando aParalimpíada acabar, espero que todos saibam quemeu sou — afirma.

A fama, que já o cerca e inevitavelmente cresceráno Rio, o faz se interessar ainda mais pela trajetóriade persistência de Senna, o ídolo que agora ele des-cobre no papel. Cada um a seu modo, Senna e Fon-teles podem ser equiparados num aspecto: a dedi-cação para superar obstáculos. Não por acaso, o ri-gor e o empenho de Senna fazem parte de um vídeomotivacional do Comitê Paralímpico Brasileiro deapoio aos Jogos no Rio — “para não fazer feio emcasa”, como disse o tricampeão mundial de Fórmu-la-1, há muitos anos, antes de uma decisiva corridano Brasil.

Senna e Boltinspiram FontelesRecordista mundial dos 100m e 200m na categoria T43, para biamputados,

corredor paraense ficou famoso ao derrotar Oscar Pistorius em Londres-2012.

Ele tem como meta vencer as quatro provas que disputará no Engenhão

Gustavo Altman, de 18 anos

DIVULGAÇÃO/MARCIO RODRIGUES/MPIX/CPB

Fonteles em ação: noMundial de Atletismo deDoha, Qatar, em 2015

“QUANDO A PARALIMPÍADA

ACABAR, ESPERO QUE TODOS

SAIBAM QUEM EU SOU”Alan Fonteles

Quarta-feira 7.9.2016|Jornal Paralímpico|7

Modalidades em

classes permitem

disputas mais justas

Nos Jogos Paralímpicos, as classes são divisões ne-cessárias para que atletas com diferentes limitaçõesde distintas intensidades não sejam prejudicados oufavorecidos. Dessa maneira, é possível organizarcompetições mais justas e equilibradas.

Os competidores são separados em suas respecti-vas categorias após passarem por um júri formadopor dois ou três classificadores do Comitê Paralímpi-co Internacional (IPC), que, através de exames médi-cos e de rendimento físico, determina em qual classeas limitações do atleta se encaixam melhor.

Entretanto, devido às possíveis mudanças gradati-vas dessas limitações e seus impactos no rendimentodos esportistas, alguns são reavaliados e reclassifica-dos múltiplas vezes ao longo de suas carreiras. Alémdisso, há circunstâncias nas quais uma categoria po-de se juntar a outra. Dependendo do panorama decertas classes, existe ainda a possibilidade do cance-lamento de provas.

— Dois anos antes dos Jogos, o IPC decide quaismodalidades terão quais provas em quais classes. Noentanto, classes com poucos atletas de alto nível aca-bam não sendo realizadas — explica Frank-ThomasHartleb, Diretor Esportivo da Federação ParalímpicaAlemã (DBS).

É o caso do arremesso de dardo da classe F53, paraatletas com movimentos limitados dos membros su-periores, prova cujo recordista mundial é o jamaicanoAlphanso Cunningham. Na Rio-2016, a F53 se fun-diu à F54, composta por esportistas sem restriçõesnos movimentos dos membros superiores, e cujo atu-al recorde mundial supera em mais de cinco metros amarca de Cunningham. Sem chances reais de pódioapós a junção, o jamaicano migrou para provas depista, onde ainda há competições só da classe F53 e,consequentemente, possibilidade de medalha.

Hugo L’Abbate

Limitações dos atletas são avaliadas e classificadasconstantemente por especialistas. Resultados dostestes podem determinar mudanças na carreira

‘Tubarão’ quer morder na despedida

Após 18 anos de carreira e 13 medalhas conquista-das em quatro Paralimpíadas, o veterano ClodoaldoSilva está próximo de suas últimas braçadas em com-petições oficiais. Apelidado de “Tubarão”, o nadadorde 37 anos se aposenta ao fim da Rio-2016.

Natural de Natal (RN), Clodoaldo nasceu com para-lisia cerebral, o que compromete a mobilidade de su-as pernas. Em 1996, aos 16 anos, o potiguar encon-trou no esporte uma forma de reabilitação e começoua praticar natação.

Apenas dois anos depois, competiu em seu primei-ro Campeonato Brasileiro e, no ano seguinte, passoua fazer parte da seleção nacional. Em 2000, Clodoal-do foi ainda mais longe e ganhou três pratas e umbronze em sua primeira Paralimpíada, em Sydney.

No entanto, a consagração ainda estava por vir. EmAtenas-2004, Clodoaldo arrebatou seis ouros e uma

prata, com direito a quatro recordes mundiais, aju-dando a tornar o esporte paralímpico mais conhecidono Brasil. De quebra, adquiriu a alcunha de “TubarãoParalímpico”.

Diante de seu alto desempenho, Clodoaldo Silvaacabou sendo reavaliado pelo Comitê Paralímpico In-ternacional (IPC) em 2008 e trocou sua antiga classe,a S4, para atletas com problemas de coordenaçãomotora nos quatro membros, pela S5, para nadado-res com problemas de coordenação apenas no troncoe nas pernas. A mudança impediu que os notáveis re-sultados de Atenas-2004 se repetissem, mas, aindaassim, o nadador foi ao pódio duas vezes em Pe-quim-2008, com uma prata e um bronze.

No Rio, o “Tubarão” irá disputar quatro provas:50m e 100m livre, 50m borboleta e revezamento4x100m. Sem conquistar nenhuma medalha emLondres-2012, Clodoaldo Silva espera agora con-seguir retornar ao pódio para encerrar sua carreiracom chave (e, talvez, medalha) de ouro.

Hugo L’Abbate, de 22 anos

Dono de 13 medalhas ao longo de 18 anos decarreira, Clodoaldo Silva vai disputar quatro provasnos Jogos deste ano. Sem subir ao pódio emLondres, ele busca a consagração final no Brasil

DIVULGAÇÃO/CPB

O nadador Clodoaldo Silva participará de quatro provas: 50m e 100m livre, 50m borboleta e revezamento 4x100m

A participação brasileira nos estádiosfoi motivo de polêmica durante aOlimpíada. As vaias dirigidas a atle-tas que disputavam medalhas combrasileiros não foram bem recebidas,especialmente em competições quedemandam muita concentração.Aprove-se ou não o comportamentodo público local, em duas modalida-des dos Jogos Paralímpicos é condi-ção primária que os espectadores es-tejam em absoluto silêncio.O futebol de 5 e o goalball são dispu-tados por atletas cegos. Para tanto,há um sino no interior da bola utiliza-da em cada uma das modalidades,para que os jogadores saibam ondeela está e em que direção se movi-menta. Caso o público desrespeite a“lei do silêncio” enquanto a bola estáem jogo, perde-se essa referência so-nora fundamental. É nesse momentoque os árbitros precisam intervir. — Mesmo que o público esteja em si-lêncio, a gente consegue sentir aenergia das pessoas — diz SimoneRocha, de 40 anos, atleta da seleçãobrasileira feminina de goalball. — Éimportante que, nos momentos debola parada, o público manifeste todoo seu apoio, para que a gente faça va-ler o fato de estar jogando em casa.A profissional de marketing NathaliaSenna, de 33 anos, comprou ingres-sos para ela e o marido assistirem aosjogos do Brasil na modalidade, e tam-bém para o futebol de 5. E faz planos:— Vai ser difícil segurar os gritos deangústia nos “quase gols”. Mas voutentar me comportar e guardar a emo-ção para os momentos permitidos.

No futebol de 5,torcer em silêncioé obrigatório

João Pedro Soares, de 22 anos

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Idade avançada, atletas de alto rendimentoIniciação tardia e modalidades com menor exigência energética permitem que competidores veteranos participem da Paralimpíada em alto nível

A amazona Vera Lúcia Mazzilli, integrantemais velha da delegação brasileira, tem a pri-meira chance de brilhar nos Jogos Paralímpi-cos, aos 65 anos. Alguns fatores explicam porque para-atletas se mantêm em disputas dealto rendimento mesmo em idade avançada,enquanto muitos esportistas convencionaisdeixam as competições mais cedo.

O professor de Educação Física EduardoCarmona, que se especializou em esportesadaptados e paralímpicos, aponta a demorano acesso ao esporte como um dos motivos.

— A maior parte deles passa a ter contatocom o esporte por meio de associações, e is-so geralmente acontece na fase adolescenteou na adulta — explica.

Além disso, poucas cidades trabalham comos esportes adaptados. O alto rendimento ain-da é exclusividade de alguns locais e, assim, onúmero de praticantes é menor em relação àsmodalidades convencionais. Questões fisioló-gicas também influenciam.

— A permanência é mais difícil em mo-dalidades que exigem muita movimenta-ção e dinamismo. Por isso a presença depessoas mais velhas é constatada em es-portes com menor exigência energética,como, por exemplo, provas de tiro — expli-ca o especialista.

Contudo, existem casos de atletas queainda disputam provas eletrizantes. O ciclis-ta alemão Hans-Peter Durst, de 58 anos, éfavorito nas provas de estrada e corrida con-tra o relógio. Medalhista de prata em Lon-dres-2012, ele afirma que força e condicio-namento físico são fundamentais, mas obem-estar psicológico também contribuipara o desempenho:

— A tecnologia é minha aliada. Permiteque eu trabalhe em diferentes níveis orien-tados de rendimento.

Para os que não precisam necessaria-mente da resistência física, outro elementoé essencial.

— O que eu mais preciso ter no hipismo éconcentração. São dois corações. O meu e odo cavalo — diz Vera Lúcia Mazzilli.

Thaís Contarin, de 22 anos

DIVULGAÇÃO/CPB

Vera Lúcia Mazzilli estreianos Jogos Paralímpicosaos 65 anos

Projetos sociaiscomo legadoParceria Brasil-Alemanha, projeto Pulsarcapacita profissionais para trabalhar comatletas paralímpicos. Em Santa Catarina,ação visa à inclusão social e reabilitação

Aos poucos, o esporte paralímpico ganha visi-bilidade e investimento privado e governa-mental. E uma das maiores preocupações dosJogos Rio-2016 é o legado para o país. Assim,diversos projetos surgem com esse intuito, en-quanto outros se fortalecem em todo o Brasil.

Para comemorar seus 100 anos de funda-ção e os Jogos Rio-2016, a Câmera de Comér-cio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK-RJ) cri-ou o Projeto Pulsar, de capacitação para pro-fissionais. Feito em conjunto com a Universi-dade Alemã de Educação Física de Colônia, aFirjan e o Instituto Supera, a proposta do Pul-sar é proporcionar a possibilidade de lidar comatletas com qualquer tipo de deficiência.

Por seis meses, 50 profissionais de dife-rentes áreas participam de aulas de história,sociologia e comunicação, entre outras, eoficinas de basquete em cadeira de rodas,

vôlei sentado e futebol de 5. A ideia é expan-dir para outros estados.

Em Florianópolis, um dos projetos é o Sá-bado no Campus, criado em 1997 naUFSC. A proposta é aproximar a comunida-de, dando acesso aos esportes adaptadoscomo fonte de reabilitação ou lazer. E, paraos acadêmicos, vivenciar as teorias ensina-das em sala de aula.

O Sábado no Campus oferece goalball, bo-cha adaptada e vôlei sentado, entre outros es-portes. Para divulgar o projeto, as equipes res-ponsáveis pelas modalidades fazem demons-trações em escolas da Grande Florianópolis.

— Nosso grupo mais novo tem entre 14 e17 anos. Mas temos os que começaram noesporte depois dos 30, 40 anos. É só vir.Nós sabemos o bem que isso faz no dia a diadas pessoas — diz o professor Roger Sche-rer, treinador do goalball.

O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)criou em 2009 o Clube Escolar, que formacategorias de base nacionais, pela promo-ção da prática esportiva para crianças e jo-vens com deficiência. Em 2013, 20 associ-ações receberam R$ 60 mil para financiar ocusto de profissionais, materiais e outrositens. Em 2014, o projeto passou a ser coor-denado pelo Ministério do Esporte.

Guilherme Longo, de 23 anos

Edina MüllerAté 2014, a alemã Edina Müller era atletado basquete em cadeira de rodas. Foi trêsvezes campeã no Campeonato Europeu emedalhista de ouro com a seleção de seupaís em Londres-2012. No Rio, ela vaicompetir na canoagem, modalidade naqual é estreante nos Jogos.

ARQUIVO PESSOAL

Marieke VervoortA belga Marieke Vervoort ganhou destaquerecentemente por tocar num assunto tabuem diversas sociedades: a eutanásia. Aatleta, de 37 anos, anunciou que pensa empedir a eutanásia após o fim dos Jogos,lembrando que muitos veem suas medalhas,mas poucos sabem do sofrimento causadopor sua doença crônica degenerativa. Meda-lhista em Londres e no Mundial Paralímpicoem Doha na corrida em cadeira de rodas,Marieke enxerga na Rio-2016 a oportunida-de de encerrar bem a sua carreira.

ARQUIVO PESSOAL

Qing XuGanhador de quatro das 95 medalhas deouro da China nos Jogos de Londres-2012,Qing Xu é destaque do estilo livre na nata-ção. O atleta teve bons resultados no cam-peonato mundial de Glasglow, no anopassado, e está na lista de destaques doComitê Paralímpico Internacional. No Rio,Qing Xu será um forte adversário dos brasi-leiros no estilo livre e no nado borboleta.

DIVULGAÇÃO/COMITÊ PARALÍMPICO INTERNACIONAL

Martina CaironiOuro nos 100m em Londres-2012 nacategoria T42 (amputação de uma pernaacima do joelho ou algum comprometi-mento físico similar), a italiana Martinaserá a porta-bandeira do país nos Jogos. Avelocista é dona dos recordes mundiais nasprovas de 100m e 200m, sendo uma fortecandidata ao pódio nesta edição do evento.

ARQUIVO PESSOAL

Estrelas internacionais em que vale a pena ficar de olho durante a Rio-2016

Entre os 4.350 atletas de 176 paí-ses que vão disputar os Jogos Pa-ralímpicos no Rio misturam-se es-treantes e nomes consagrados nas23 modalidades, que competirãoem diferentes locais espalhadospela cidade. Serão 528 provas, di-vididas entre 225 femininas, 265masculinas e 38 mistas. Algumashistórias e personalidades mere-cem destaque (veja perfis ao lado).

E, assim como na Olimpíada,haverá a presença de refugiados.Serão dois: o sírio Ibrahim Al-Hus-sein, que perdeu a parte inferior daperna direita ao ser atingido poruma bomba em 2013, e o iranianoShahrad Nasajpour, que sofre deparalisia cerebral.

Natália Belizario, de 20 anos

Uma ex-jogadora de basquete nacanoagem, uma medalhista quese despede, um chinês craquedas piscinas e uma corredoraitaliana recordista mundial

Canoagem e triatloestreiam na Rio-2016Na Lagoa, canoístas vão percorrer distâncias de 200 metros. Em Copacabana,

os triatletas precisarão nadar 750 metros, pedalar 20km e correr 5km

Depois dos pódios inéditos de IsaquiasQueiroz e Erlon de Souza na Olimpíada doRio, a canoagem estreia em Paralimpía-das, nos dias 14 e 15 deste mês, na mes-

ma Lagoa Rodrigo de Freitas onde se deram as con-quistas da dupla. Outra modalidade a debutar nosJogos é o triatlo, que, no próximo fim de semana, di-as 10 e 11, reunirá etapas de natação, corrida e ci-clismo em Copacabana.

A canoagem paralímpica tem três categorias deprovas, estabelecidas de acordo com o grau de mo-bilidade e a extensão da deficiência dos competi-dores: a KL1, para atletas com mobilidade nos bra-ços e pernas e funções do tronco limitadas; a KL2,destinada àqueles com limitações nas pernas; e aKL3, em que os atletas possuem deficiência de mo-bilidade, mas contam com funções motoras nosbraços, pernas e também no tronco. Na Rio-2106,as provas – com percurso de 200 metros — serãoapenas no caiaque. A canoa Va’a (também chama-da de Havaiana ou Polinésia) ficou de fora, emboraesteja presente no Mundial da modalidade, queacontece anualmente.

Os campeões mundiais Luís Carlos Cardoso, da ca-

tegoria KL1, e Caio Ribeiro, da KL3, dedicavam-se àcanoa, mas mudaram para o caiaque após o anúnciode que apenas ele integraria os Jogos.

— Considero que sou faixa branca no caiaque,nunca tinha pegado essa embarcação. Mas meu

objetivo é o lugar mais alto do pódio, o que podeacontecer já no Rio ou em uma competição futura— afirma Caio.

Melhor do mundo em 2015, Caio conta que sem-pre se dedicou aos esportes, mesmo antes do aci-

dente que ocasionou a amputação de uma perna,quando era jogador de futebol nos Estados Unidos.

Igor Tofallini completa o time masculino, na cate-goria KL2, substituindo o multicampeão FernandoRufino, afastado por problemas cardíacos. No femini-no, o Brasil contará com duas atletas: Debora Benevi-des, na KL2, e Mari Santilli, na KL3.

— Embora os ventos contra sejam prejudiciais paratodas as equipes, nós conhecemos o Rio de Janeiro.Isso pode fazer a diferença em nosso desempenho —explica Mari, ouro no Pan-Americano da modalidadeem 2015.

Com apenas 20 anos, Debora Benevides é a maisjovem da modalidade na Paralimpíada, e tambémmigrou da canoa para o caiaque para estar naRio-2016.

— A canoagem me faz flutuar, faz com que eu mesinta livre e me torne igual a todo mundo — diz a atle-ta, medalha de prata no Mundial deste ano, realizadoem Duisburg, na Alemanha.

A segunda estreia na Paralimpíada é a do triatlo, es-colhido para integrar a competição pelo Comitê Exe-cutivo do IPC (Comitê Paralímpico Internacional) em2010, juntamente com a canoagem. A prova consisteem um percurso de 750 metros de natação, 20km debicicleta e 5km de corrida.

São seis categorias, de acordo com as classifica-ções funcionais dos atletas. A TR1 compreende pa-raplégicos, tetraplégicos e biamputados, queusam bicicleta de mão para competir; na TR2 es-tão atletas amputados acima do joelho, que usampróteses para pedalar e correr; a TR3 abarca atle-tas com esclerose múltipla, distrofia muscular, pa-ralisia cerebral, biamputados e paralisados demais de um membro; na TR4 competem atletascom paralisia nos braços ou que têm o membroamputado; a TR5 destina-se a atletas com com-prometimento moderado na perna, usando próte-ses; e a TR6 é para atletas com baixa visão ou ce-gos, competindo na companhia de um atleta guia evendas.

O Brasil tem duas vagas na modalidade. No mascu-lino, Fernando Aranha, precursor da bicicleta de mãono Brasil e que já representou o país na Paralimpíadade Inverno em Sochi-2014, onde disputou o esquicross-country. No feminino, o país terá a estreanteAna Raquel Lins, que começou no triatlo há cerca deum ano.

— A meta, por enquanto, não é medalha. Masquero trazer visibilidade para o esporte, como a pri-meira brasileira a competir na modalidade – afirmaAna Raquel, que projeta terminar entre a quinta e aoitava colocação.

Letícia Paiva, de 20 anos

DIVULGAÇÃO/GRAZIELLA BATISTA/CPB/MPIX

Mais jovem atleta da canoagem na Paralimpíada, Debora Benevides vai competir no caiaque. Aos 20 anos, ela é medalha de prata no Mundial da categoria, disputado este ano

“A META NÃO É MEDALHA.

EU QUERO TRAZER VISIBILIDADE

PARA O ESPORTE” Ana Raquel Lins, triatleta