quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 - europarl.europa.eu · em nome da presidência húngara,...

140
QUARTA-FEIRA, 2 DE FEVEREIRO DE 2011 PRESIDÊNCIA: Jerzy BUZEK Presidente (A sessão tem início às 15H00) 1. Reinício da sessão Presidente. − Declaro reaberta a sessão do Parlamento Europeu, que tinha sido interrompida na quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011. 2. Aprovação da acta da sessão anterior: ver Acta 3. Declarações da Presidência Presidente. − Gostaria de vos transmitir cinco notícias sob a forma de observações preliminares. Começaria, em primeiro lugar, por abordar a situação no Mediterrâneo, que, como todos sabemos, se está a alterar muito rapidamente. O Parlamento Europeu estava e está disposto a prestar o seu apoio às mudanças democráticas iniciadas pelos próprios cidadãos, que são vizinhos da Europa. Quando realizarmos o nosso debate de hoje sobre a Tunísia, discutiremos um país parceiro que já deu os primeiros passos no caminho para uma verdadeira democracia. Há muito pouco tempo, encontrei-me com o Ministro dos Negócios Estrangeiros tunisino, acompanhado por cinco outros deputados ao Parlamento Europeu. A situação no Egipto é diferente, sendo menos certo o caminho seguido pelas mudanças, que já são irreversíveis. Contudo, estas alterações não podem perder o seu ímpeto. Os dois países têm um aspecto em comum: todas as forças democráticas precisam urgentemente de envidar todos os esforços para empreender reformas políticas e, posteriormente, reformas económicas e sociais. Necessitam também de criar uma base para eleições livres e democráticas, para que os apelos da população à democracia não fiquem sem resposta. Temos igualmente de declarar – e fá-lo-emos durante este período de sessões, hoje e amanhã, no período de votação – que a democracia nos países vizinhos é tão importante para a União Europeia como a sua estabilidade. Não há uma escolha entre democracia e estabilidade, ambas são imperativas. A segunda questão é o facto de 20 de Janeiro de 2011 ter sido o 20.º aniversário do "Domingo Sangrento" na Letónia, como o dia ficou historicamente conhecido. Nesta data, as unidades OMON pro-soviéticas atacaram edifícios estratégicos na capital do Estado que tinha acabado de renascer. Sete pessoas perderam a vida nas barricadas a defender a independência letã, e muitas ficaram feridas. Em 29 de Janeiro de 2011, após um julgamento que foi uma afronta às normas internacionais, a cidadã neerlandesa e, consequentemente, cidadã da UE Zahra Bahrami foi enforcada no Irão. Eu apelaria às autoridades iranianas para que clarifiquem as acusações imputadas à senhora Bahrami e o procedimento judicial pouco transparente. A União Europeia defende a posição de que a pena de morte nunca pode ser encarada como um acto de justiça. 1 Debates do Parlamento Europeu PT 02-02-2011

Upload: others

Post on 04-Sep-2019

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

QUARTA-FEIRA, 2 DE FEVEREIRO DE 2011

PRESIDÊNCIA: Jerzy BUZEKPresidente

(A sessão tem início às 15H00)

1. Reinício da sessão

Presidente. − Declaro reaberta a sessão do Parlamento Europeu, que tinha sidointerrompida na quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011.

2. Aprovação da acta da sessão anterior: ver Acta

3. Declarações da Presidência

Presidente. − Gostaria de vos transmitir cinco notícias sob a forma de observaçõespreliminares.

Começaria, em primeiro lugar, por abordar a situação no Mediterrâneo, que, como todossabemos, se está a alterar muito rapidamente. O Parlamento Europeu estava e está dispostoa prestar o seu apoio às mudanças democráticas iniciadas pelos próprios cidadãos, que sãovizinhos da Europa. Quando realizarmos o nosso debate de hoje sobre a Tunísia,discutiremos um país parceiro que já deu os primeiros passos no caminho para umaverdadeira democracia. Há muito pouco tempo, encontrei-me com o Ministro dos NegóciosEstrangeiros tunisino, acompanhado por cinco outros deputados ao Parlamento Europeu.

A situação no Egipto é diferente, sendo menos certo o caminho seguido pelas mudanças,que já são irreversíveis. Contudo, estas alterações não podem perder o seu ímpeto. Os doispaíses têm um aspecto em comum: todas as forças democráticas precisam urgentementede envidar todos os esforços para empreender reformas políticas e, posteriormente, reformaseconómicas e sociais. Necessitam também de criar uma base para eleições livres edemocráticas, para que os apelos da população à democracia não fiquem sem resposta.Temos igualmente de declarar – e fá-lo-emos durante este período de sessões, hoje e amanhã,no período de votação – que a democracia nos países vizinhos é tão importante para aUnião Europeia como a sua estabilidade. Não há uma escolha entre democracia eestabilidade, ambas são imperativas.

A segunda questão é o facto de 20 de Janeiro de 2011 ter sido o 20.º aniversário do"Domingo Sangrento" na Letónia, como o dia ficou historicamente conhecido. Nesta data,as unidades OMON pro-soviéticas atacaram edifícios estratégicos na capital do Estado quetinha acabado de renascer. Sete pessoas perderam a vida nas barricadas a defender aindependência letã, e muitas ficaram feridas.

Em 29 de Janeiro de 2011, após um julgamento que foi uma afronta às normasinternacionais, a cidadã neerlandesa e, consequentemente, cidadã da UE Zahra Bahramifoi enforcada no Irão. Eu apelaria às autoridades iranianas para que clarifiquem as acusaçõesimputadas à senhora Bahrami e o procedimento judicial pouco transparente. A UniãoEuropeia defende a posição de que a pena de morte nunca pode ser encarada como umacto de justiça.

1Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Em 26 de Janeiro de 2011, David Kato, um defensor dos direitos humanos e activista dosdireitos civis foi assassinado no Uganda. Quero solicitar às autoridades do Uganda quedetenham os autores deste crime. Todos deploramos o facto de a homossexualidadecontinuar a ser encarada como um crime neste país.

Finalmente, a última notícia: no contexto do debate de hoje sobre a preparação do ConselhoEuropeu de 4 de Fevereiro, gostaria de vos informar que, em 8 de Fevereiro ou, por outraspalavras, na próxima semana, terá lugar uma reunião da Conferência dos Presidentes abertaa todos os deputados ao Parlamento. O Presidente do Conselho Europeu Van Rompuyserá convidado desta reunião especial, em que apresentará as conclusões da cimeira desexta-feira em conformidade com o Tratado de Lisboa, que declara que o Presidente nosdeve informar sobre questões dessa natureza.

Michael Cashman (S&D). - (EN) Senhor Presidente, espero que a Assembleia e V. Exa.me permitam esta breve intervenção para o felicitar pela declaração que proferiu em defesade David Kato, assassinado no Uganda. Tratava-se, como o senhor referiu, de um defensordos direitos humanos e de uma pessoa que defendia os direitos das pessoas lésbicas,homossexuais e bissexuais.

Quero apenas dizer que aqui, nesta Assembleia, aprovámos uma proposta de resoluçãosobre o que está a acontecer no Uganda. É vital apoiarmos a sociedade civil do Uganda erecordarmos que David era um gigante que estava acima de quem pregava o ódio e adiscriminação, sendo nossa obrigação lembrar a sua família neste momento triste.

Presidente. − Obrigado.

4. Composição das comissões e delegações: ver Acta

5. Verificação de poderes: ver Acta

6. Rectificação (artigo 216.º do Regimento): ver Acta

7. Declarações escritas caducadas: ver Acta

8. Transmissão de textos de acordos pelo Conselho: ver Acta

9. Perguntas orais (entrega): ver Acta

10. Medidas de execução (artigo 88.º do Regimento): ver Acta

11. Entrega de documentos: ver Acta

12. Ordem dos trabalhos

Presidente. − Foi distribuída a versão final do projecto de ordem do dia elaborado pelaConferência dos Presidentes, depois de consultar os grupos políticos, na sua reunião dequinta-feira, 20 de Janeiro de 2011, nos termos do artigo 137.º do Regimento. Forampropostas as seguintes alterações:

[Quarta-feira/Período de sessões de Bruxelas]:

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT2

Ponto 1: Depois de eu proferir uma declaração sobre o reconhecimento pela UE dogenocídio dos romanichéis durante a Segunda Guerra Mundial, os próximos pontos serãoos seguintes: uma declaração do Conselho, uma declaração da Comissão e uma ronda deintervenções dos grupos políticos sobre o genocídio dos romanichéis.

Ponto 2: O título do debate sobre a situação na Tunísia será alterado, passando ter a seguinteredacção: "Declaração da Vice-Presidente da Comissão/Alta Representante da União paraos Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança sobre a situação no Mediterrâneo, emparticular na Tunísia e no Egipto".

Ponto 3: A votação das resoluções sobre a Tunísia terá lugar, como previsto, amanhã. Avotação das propostas de resolução relativas ao Egipto terá lugar durante o segundo períodode sessões de Fevereiro, em Estrasburgo.

Ponto 4: O debate relativo às declarações do Conselho e da Comissão sobre o aumento dopreço dos bens alimentares será transferido para o segundo período de sessões de Fevereiro.Este debate será substituído pelas declarações do Conselho e da Comissão sobre a nomeaçãode altos funcionários da ESA, a que se seguirá uma ronda de intervenções dos grupospolíticos.

[Quinta-feira/Período de sessões de Bruxelas]:

Gostaria de informar os senhores deputados de que o relatório Speroni, sobre o pedido delevantamento da imunidade do deputado ao Parlamento Europeu Tamás Deutsch, seráapresentado durante o período de votação.

(A ordem dos trabalhos é aprovada) (1)

Ioan Mircea Paşcu (S&D). - (EN) Senhor Presidente, gostaria que analisasse, com aConferência dos Presidentes, a possibilidade de antecipar as intervenções de um minuto,porque nos últimos períodos de sessões, esse ponto foi adiado para o final das nossasdiscussões. O efeito geral é o facto de cada vez menos pessoas estarem inclinadas aparticipar, e eu não quero crer que este tenha sido, de facto, um motivo para o seuadiamento.

Peço-lhe, pois que pondere esta antecipação para nos dar a possibilidade de participarcomo anteriormente.

Presidente. − Obrigado pelo seu comentário. Asseguro-lhe que discutiremos esta questãoe decidiremos os próximos passos a dar a este respeito.

13. Reconhecimento pela UE do genocídio dos romanichéis durante a SegundaGuerra Mundial

Presidente. − Segue-se na ordem do dia a declaração do Presidente do Parlamento sobreo reconhecimento pela UE do genocídio dos romanichéis durante a Segunda Guerra Mundial(2010/3020(RSP)).

Hoje, os romanichéis são a maior minoria étnica da União Europeia. São também acomunidade mais oprimida da Europa neste momento. Durante a Segunda Guerra Mundial,foram perseguidos em razão da raça pelos nazis, da mesma forma que os judeus. Centenas

(1) Para ver outras alterações à ordem dos trabalhos: ver Acta.

3Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

de milhares de romanichéis, cujos antepassados tinham sido cidadãos europeus durantevárias gerações, foram chacinados. O 66.º aniversário da libertação de Auschwitz-Birkenau,que comemorámos em 27 de Janeiro deste ano, recorda-nos que os romanichéis foram oterceiro maior grupo de vítimas deste campo. Infelizmente, nem todos os europeus têmconhecimento deste facto. Apenas alguns Estados-Membros da UE reconheceramoficialmente o genocídio dos romanichéis. É chegado o momento de dar a conhecer aoseuropeus o facto de os romanichéis que vivem entre nós terem vivido o trauma do genocídioenquanto comunidade. A educação é a melhor forma de combater a discriminação. OParlamento Europeu funciona como a voz da UE no combate pelos direitos humanos.Hoje, damos voz aos nossos irmãos e irmãs romanichéis. Gostaríamos que o seu sofrimentofosse recordado e que a sua situação fosse mais bem compreendida.

Caros Colegas, realizar-se-á agora uma discussão muito breve sobre este tema e, por essemotivo, peço-vos que não abandonem a Câmara. Em primeiro lugar, teremos umadeclaração do Conselho e, como os senhores sabem, a integração dos romanichéis é umadas prioridades da Presidência húngara. Seguir-se-á uma declaração do senhorVice-Presidente da Comissão e, posteriormente, declarações curtas em nome dos grupospolíticos.

Enikő Győri, Presidente em exercício do Conselho. − (HU) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, permitam-me que comece por citar as palavras de uma sobreviventedo Porajmos chamada Friderika Kolompár: ‘Encontrámos o meu pai quando fomos aAuschwitz, em 2 de Agosto de 1994 ou 1995. Os nomes dos meus familiares estavaminscritos numa grande placa. Sabíamos que tinham sido levados para a Alemanha, masnão sabíamos o lugar exacto. Se um homem cigano de Fehérvár não me tivesse impedido,eu teria colocado a mão num forno e tirado uma parte de um ser humano. Pensei tirá-lo elevá-lo para casa como uma relíquia. Nesse momento, o meu filho, Józsi, disse o seguinte:

"Não coloques aí a mão, mãe, podes ter uma infecção."

"Não quero saber, filho", disse eu.

"Como sabes que pertenceu ao teu irmão ou ao teu pai?", perguntou em resposta. Eudesmaiei e retiraram-me do crematório.’

Em nome da Presidência húngara, quero associar-me à nobre iniciativa através da qual oParlamento Europeu, e o Senhor Presidente Buzek pessoalmente, pretendem prestarhomenagem às vítimas do Porajmos, o Holocausto dos romanichéis, nesta sessão. Porqueé importante recordar? Não nos devemos preocupar, em vez disso, com o futuro? Ohistoriador americano George Santayana escreveu o seguinte em 1905: "Quem nãoconsegue recordar o passado está condenado a repeti-lo".

Mesmo as estimativas mais conservadoras situam o número de romanichéis e sinti mortosdurante a Segunda Guerra Mundial e nos anos seguintes em 220 000. Foram mortos pelosimples motivo de pertencerem a estes dois grupos étnicos ou, utilizando as palavras dosseus perseguidores, a esta "raça". Eram húngaros, checos, romenos, franceses, alemães,polacos, sérvios e de muitas outras nacionalidades. Homens e mulheres, idosos e crianças.Muitas, muitas crianças. Se estivessem vivas, muitas delas seriam hoje cidadãs da UE. Ashomenagens recordam permanentemente que, ao contrário dos presos judeus, as famíliasdo campo cigano Auschwitz-Birkenau podiam permanecer juntas. Como recordou umsobrevivente húngaro ao Holocausto, "até as SS sabiam que as famílias ciganas não podiamser separadas. Foi-lhes permitido continuar juntos até à noite de 2-3 de Agosto de 1944,

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT4

quando os presos sobreviventes dos 30 000 habitantes do campo foram assassinadosenquanto as suas casernas eram queimadas".

A UE recuperou deste abismo após a Segunda Guerra Mundial; após o inferno de Shoah eo Porajmos. O sonho dos pais fundadores era que todas as populações da Europa rejeitassem,em conjunto, tudo o que tinha conduzido a tal desrespeito pela vida humana, a Auschwitze Birkenau. Refiro-me aos povos da Europa, em conjunto, incluindo a população romanicheleuropeia actual, de 10 a 12 milhões de pessoas. "Mas isto ainda é o passado", poder-se-ádizer. "Onde está aqui o futuro?" A Presidência húngara entende que devemos, de facto,falar sobre o passado e o futuro em simultâneo. Quando o Primeiro-Ministro húngaro,Viktor Orbán, apresentou o programa da Presidência húngara da UE ao Parlamento Europeu,em 19 de Janeiro, afirmou o seguinte: "A estratégia para os romanichéis é um aspectoprioritário da Presidência húngara, porque não vale a pena existir uma Europa inteligentesem coração. Contudo, a Europa só terá coração se criar oportunidades para a inclusãosocial dos grupos mais desfavorecidos".

Pessoalmente, ficaria muito orgulhosa se pudéssemos todos adoptar em conjunto umaestratégia-quadro comum europeia para os romanichéis no final desta Presidência. Estáem curso um trabalho nesse sentido, graças ao empenho do Parlamento Europeu e daComissão Europeia. O Conselho e a sua Presidência húngara gostariam de contribuir paraeste esforço. Queremos ajudar a reforçar a ideia de que os romanichéis, como todas aspopulações e grupos étnicos da Europa e de todo o mundo, não são um problema, masum recurso económico, cultural e humano.

Maroš Šefčovič, Vice-Presidente da Comissão. − (EN) Senhor Presidente, há alguns dias,celebrámos o Dia de Recordação do Holocausto no parlamento Europeu, em conjuntocom sobreviventes do Holocausto. Em nome da Comissão, valorizo bastante o facto dehoje estarmos a homenagear também as vítimas do genocídio dos romanichéis.

Depois de visitar Oswiecim, Yad Vashem ou o Museu do Holocausto em Washington DC,ficamos sempre chocados com a desumanidade dos autores do Holocausto. Os senhoresdeputados que visitaram o Pavilhão das Crianças em Jerusalém concordarão comigo quesaímos do local abalados e sem conseguir acreditar que tais acontecimentos tenham sidopossíveis na Europa há apenas 60 ou 70 anos.

Por conseguinte, temos de falar sobre este assunto. Temos de contar aos nossos filhos estanarrativa triste porque, como sabemos, a história tem tendência a repetir-se. É absolutamenteimperativo que este horror seja recordado e nunca se repita. Devemos lutar em conjuntocontra os fantasmas do passado.

A história deu-nos uma lição amarga sobre o que o ódio racial e a intolerância podem fazer.A União Europeia assenta, portanto, em direitos e valores fundamentais, que incluem aprotecção das minorias, o princípio da livre circulação e a proibição da discriminação, etodos se aplicam plenamente aos romanichéis.

É inaceitável que, no século XXI, esta população ainda tenha de enfrentar discriminaçãocom base na sua origem étnica. Ainda há demasiados romanichéis vítimas de racismo,discriminação e exclusão social. Ainda há demasiadas crianças romanichéis nas ruas emvez de frequentarem a escola. Ainda são negadas a demasiados romanichéis oportunidadesjustas e ainda há demasiadas mulheres romanichéis vítimas de violência e exploração.

A inclusão deste povo é uma prioridade para a UE e exige o compromisso e os esforçosconjuntos de autoridades nacionais e locais, sociedade civil e instituições da UE. Pela sua

5Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

parte, a Comissão está profundamente empenhada em melhorar a situação dos romanichéise, em particular, a sua integração social e económica.

Temos trabalhado continuamente para que isto aconteça: este é um compromissoduradouro e de longo prazo. Contudo, temos de reconhecer que a responsabilidade pelaintegração dos romanichéis é primordialmente dos Estados-Membros e foi por isso que,na comunicação que adoptámos no ano passado, lhes disponibilizámos uma lista concretade medidas para tornar as suas políticas de integração dos romanichéis mais eficazes. Estefoi o primeiro documento político de sempre dedicado especificamente aos romanichéis.

Porém, a nossa avaliação mostra que é necessário desenvolver mais trabalho sério nosEstados-Membros para melhorar a eficácia das políticas de integração dos romanichéis.Será por isso que, em Abril, em estreita cooperação com a Presidência húngara, a Comissãoirá adoptar um quadro europeu para estratégias nacionais de integração dos romanichéis,que fará propostas para fazer face à sua exclusão.

Para concluir, neste momento solene, permitam-me que saliente mais uma vez, em nomeda Comissão, a importância de proteger os direitos fundamentais e zelar pela integraçãoharmoniosa de todos na sociedade. É muito importante assegurar decididamente que ahistória nunca se repita.

Lívia Járóka, em nome do Grupo PPE. – (HU) Senhora Ministra de Estado, Senhor Presidente,Senhor Comissário, caros Colegas, em nome do Partido Popular Europeu(Democratas-Cristãos), gostaria de expressar a minha satisfação e gratidão pelo facto de,pela primeira vez, o Parlamento Europeu homenagear as vítimas romanichéis doHolocausto. Isto é exactamente o que nós, seus descendentes, temos de fazer: recordar eaprender. Precisamos de mostrar respeito pelo sofrimento das vítimas e integrar estas liçõesdolorosas, num espírito de unidade e tolerância mútua, na nossa história comum e nanossa memória comum. Por isso é tão importante para nós apoiar universidades, sociedadescientíficas e institutos de investigação que ajudam a revelar e apresentar as contrariedadesenfrentadas e suportadas pelos romanichéis durante a nossa longa história. Proponho queos currículos nacionais em todos os países europeus apresentem a história comum deséculos partilhada por sociedades maioritárias e pelos romanichéis.

Este dia constitui também uma ocasião para reforçar esta unidade e reafirmar que nós, osromanichéis, somos cidadãos dos nossos países e contribuímos para o Estado; somoscidadãos livres e iguais. Não nos devemos contentar com menos do que isso.

Temos atrás de nós setecentos anos de história comum; sete séculos repletos de lutas, emque demonstrámos a nossa lealdade aos países que nos acolhem e à Europa em inúmerasocasiões. Mesmo recordando os períodos negros de segregação e perseguição, temos deretirar força destes momentos enriquecedores da nossa história partilhada e encontrar aesperança de que, unidos, nos podemos transformar numa comunidade dignificada eharmoniosa. Tal como partilhamos uma história comum, também partilharemos umfuturo comum, como todos sabemos; e quero acreditar que, em conjunto, podemosconseguir tudo, porque também estou certa de que só em conjunto seremos capazes de ofazer.

Serão necessários esforços empenhados de gerações sucessivas para que todos tentemconstruir um mundo mais aceitável e mais perfeito nas suas próprias vidas e no que osrodeia. Os nossos antepassados demonstraram inúmeras vezes que as nossas nações sãocapazes de se unir se o nosso destino estiver em causa. E, para nós, a situação dos

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT6

romanichéis na Europa é uma questão de destino. Chegou agora a nossa vez de actuar, eo primeiro passo tem de ser dado hoje.

Se me permitem que acrescente mais uma ideia, o segundo passo terá de ser dado dentrode duas semanas, na sessão plenária, quando a estratégia europeia para os romanichéis forfinalmente lançada de acordo com as expectativas de todos nós.

Hannes Swoboda, em nome do Grupo S&D. – (DE) Senhor Presidente, obrigado pela suadeclaração; gostaria também de agradecer à Senhora Presidente em exercício do Conselhoe ao senhor Vice-Presidente da Comissão. Quero agradecer a todos os que sugeriram arealização deste debate – no meu grupo, em particular, a senhora deputada Göncz. Comoo senhor referiu hoje, Senhor Presidente, o extermínio dos romanichéis é muitas vezescolocado em segundo plano quando se fala sobre o extermínio dos judeus. Contudo, houvetambém outras vítimas das atrocidades do Nacional-Socialismo. Neste quadro, eumencionaria também os homossexuais, como o senhor fez também hoje num contextodiferente, Senhor Presidente.

Concordo com a Senhora Presidente em exercício do Conselho e também com o oradoranterior quando afirmam que a melhor forma de homenagem é pensar no futuro. Nãopodemos estar satisfeitos com a situação actual dos romanichéis no nosso continente.Ainda são discriminados e ainda existem preconceitos. Quando um país pondera nestemomento voltar à designação de "ciganos" em vez "romanichéis" a fim de evitar qualquerconfusão, não criticarei certamente essa atitude, mas direi apenas que o mais importanteé o combate aos preconceitos e a luta contra a discriminação, não a cedência à discriminaçãoalterando um nome.

Há anos que debatemos a questão dos romanichéis neste Parlamento, e temos de admitir– mesmo nas nossas visitas às várias comissões – que ainda existem grandes problemas,que o ciclo da discriminação e do desfavorecimento ainda não foi interrompido e quemuitas crianças ainda são hoje ensinadas em escolas separadas. Estou, portanto, muitograto à Presidência húngara por abordar este assunto. Apesar de todas as diferenças deopinião que temos, Senhora Deputada Győri, sobre esta questão, espero que alcancemosum êxito importante em conjunto.

O nosso grupo está há algum tempo em contacto, através do senhor deputado Schulz,com Günter Grass, o escritor alemão, que também criou uma fundação para os romanichéis.Günter Grass disse uma vez o seguinte: "Vocês, os romanichéis, no vosso estado de dispersãopermanente, são – em rigor – europeus num sentido que nós, presos na reclusão das nossasnacionalidades, devemos ter em mente para que a Europa unida não se transforme numtodo-poderoso colosso burocrático administrativo e económico. Pelo menos neste contexto,com a sua mobilidade transfronteiras, a população a que chamamos cigana está à nossafrente. Deve ser-lhes permitido, em primeiro lugar, provar a sua identidade através de umpassaporte europeu que lhes assegure o direito de permanecer em qualquer lugar daRoménia a Portugal" (fim de citação).

Devemos criar condições para que todos os romanichéis se sintam em casa onde residirem.Devemos igualmente criar condições que lhes permitam viajar livremente em toda a Europasem serem deportados novamente. Quando isso finalmente acontecer, teremosefectivamente feito muito pelos romanichéis e teremos colocado no passado os actosterríveis que os nazis perpetraram contra os romanichéis ao longo do Holocausto durantea Segunda Guerra Mundial.

7Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

(Aplausos)

Renate Weber, em nome do Grupo ALDE. – (RO) Senhor Presidente, "Samudaripen" é apalavra que significa "o inferno na terra" na língua romanichel, por outras palavras,genocídio ou holocausto. O inferno na terra é a descrição de como os romanichéis daEuropa viviam durante a Segunda Guerra Mundial, quando centenas de milhares destescidadãos foram assassinadas pelos simples motivo de serem romanichéis. Não sabemos,na verdade, o número exacto. O Museu do Holocausto em Washington DC estima quetenham sido aproximadamente 250 mil. Outros estudos referem mais de um milhão deromanichéis assassinados durante esses anos. Esta incerteza deve-se ao perfil discreto dosromanichéis que foram vítimas do Holocausto. Trata-se de mais uma prova de que estapopulação é sistematicamente discriminada ou ignorada há séculos.

É por isso que a declaração proferida hoje pelo Parlamento Europeu, através do seuPresidente, assinala um momento histórico. Contudo, não podemos apenas ficar por aqui.A esta ocasião devem seguir-se medidas específicas a nível da UE e dos Estados-Membros.Esses actos de reconhecimento do genocídio dos romanichéis têm de ser realizados portodos os Estados-Membros e, além disso, o conhecimento sobre este capítulo da nossahistória deve ser disseminado entre os cidadãos europeus.

Enquanto as crianças europeias não aprenderem na escola o que foram este holocausto eos séculos em que os romanichéis eram escravos em muitos países que são agoraEstados-Membros da UE e enquanto a sociedade europeia não perceber que temos umdever histórico para com esta população, não conseguiremos realizar adequadamente asnossas campanhas anti-racismo e também não teremos muito sucesso nas nossas estratégiasde inclusão dos romanichéis a nível nacional e europeu.

Catherine Grèze, em nome do Grupo Verts/ALE. – (FR) Senhor Presidente, intervenhoaqui esta tarde com uma emoção profunda. Acima de tudo, Senhor Presidente, queroagradecer-lhe pessoalmente pelo seu empenho.

O reconhecimento do genocídio dos romanichéis é um momento histórico para os milhõesde europeus que pertencem aos yenish, sinti, romanichéis, manouche e aos travellers.Centenas de milhares de familiares destas pessoas foram assassinadas durante aqueles anosnegros, tendo sido muitas vezes, lamentavelmente, estigmatizados como párias sociais.

Contudo, trata-se também de um momento histórico para todos nós, cidadãos da UniãoEuropeia. Não devemos esquecer que os romanichéis foram os primeiros a percorrerdiferentes países da Europa, muito antes de termos criado o nosso espaço comum. Hoje,com uma população de 10 milhões de pessoas, são a nossa maior minoria. A sua históriaé também a nossa história.

Já era tempo, caros Colegas, de recuperar a confiança destes cidadãos europeus nas suasinstituições europeias. Foram rejeitados pelas nossas sociedades e ainda sofrem um duplocastigo. Aos horrores da guerra juntaram-se a negligência, a indiferença e o silêncio. Oreconhecimento do genocídio dos romanichéis é, pois, um verdadeiro acto de evocação.Proporciona claramente uma oportunidade para recordar, mas deve, acima de tudo, seruma garantia de um futuro diferente.

Na semana passada, no Bundestag, deputados ao Parlamento Europeu e aos parlamentosnacionais, do oriente e do ocidente, assumiram a sua responsabilidade perante a históriaincentivando o reconhecimento deste genocídio. Trata-se do primeiro passo para mudar

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT8

a forma como os nossos concidadãos encaram estes europeus. Ainda há um longo caminhoa percorrer. Façamos dos romanichéis cidadãos europeus de pleno direito.

Marek Henryk Migalski, em nome do Grupo ECR. – (PL) Senhor Presidente, o facto de osromanichéis terem sido vítimas de genocídio durante a Segunda Guerra Mundial é tãoevidente como o facto de os judeus terem sido vítimas do mesmo processo. Qualquerpessoa que negue este facto deve ser tratada de forma tão impiedosa como as que negamo holocausto dos judeus. O senhor tem razão quando afirma que os romanichéisrepresentavam o terceiro maior grupo étnico entre os que foram massacrados emAuschwitz. O segundo maior grupo era constituído pelos polacos. Todas as nações queforam vítimas do Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial devem ser recordadas.Devemos lembrar tudo o que aconteceu em Auschwitz e nos outros campos deconcentração, bem como os assassínios cometidos em Katyń e noutros locais durante essesterríveis cinco ou seis anos, para que tais acontecimentos nunca se repitam. O ParlamentoEuropeu tem o dever moral e político de assegurar que esta memória permaneça viva, e onosso debate de hoje é uma forma de o fazer.

Cornelia Ernst, em nome do Grupo GUE/NGL. – (DE) Senhor Presidente, caros Colegas,este é um momento realmente importante, porque hoje, pela primeira vez no ParlamentoEuropeu, homenageamos as vítimas romanichéis e sinti do Holocausto.

Permitam-me que comece por uma carta de despedida escrita por um rapaz de 14 anos,Robert Reinhard, em 1943, antes da sua deportação para Auschwitz a partir de um lar deacolhimento de crianças da Alemanha. Escreveu o seguinte: "Encontrei novamente os meuspais. Estamos a ser transportados para o campo de concentração. Depois de muita reflexão,cheguei a um ponto em que consigo enfrentar a morte. Obrigado mais uma vez por tudoo que fizeram por mim. Saudações a todos. Vemo-nos no Céu. Robert."

Tal como 500 000 outros romanichéis e sinti, este jovem rapaz nunca regressou, e apesarde os romanichéis e os sinti, em conjunto com os judeus, terem sido as primeiras vítimasdas mortes em massa, hoje – decorridos 66 anos – a verdade completa do que sucedeupermanece por contar. A culpa conjunta da sociedade maioritária é também muitas vezesencoberta. Precisamos de toda a verdade sobre este capítulo da história.

Os romanichéis e os sinti têm de ser desagravados e o Holocausto tem de ser reconhecidocomo um crime contra a Humanidade, para que nunca se repita. É necessário combaterfervorosamente o preconceito contra estas populações. Temos de pôr fim ao ódio racial,bem como à violência racial, a que assistimos há dois anos na Hungria, por exemplo, edevemos fazê-lo com a coragem das nossas convicções. A liberdade, a igualdade esolidariedade não são um privilégio de alguns, mas um direito de todos, porque os direitoshumanos e os direitos civis são indivisíveis.

Niki Tzavela, em nome do Grupo EFD. – (EL) Senhor Presidente, quero apoiar tudo o quefoi referido até ao momento. Os romanichéis prestaram um contributo decisivo para odesenvolvimento da Europa, em especial a sua cultura. O comentário que gostaria de fazer,e trata-se de um comentário racional, é que todos os programas relativos aos romanichéisna União Europeia com origem na Comissão são fragmentados e estão muitas vezesincluídos no quadro da exclusão social. Eu proporia uma abordagem mais racional. Poroutras palavras, sugiro que a Comissão adopte uma iniciativa apenas para os romanichéisfora do quadro da exclusão social, para que exista um programa que diga respeito apenasa esta população. Esta medida permitir-nos-ia trabalhar mais eficazmente a favor dosromanichéis a nível nacional.

9Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Presidente. − Senhora Presidente em exercício do Conselho, Senhor Vice-Presidente daComissão, caros Colegas, gostaria de agradecer a todos pelas vossas observações. Este éum debate muito importante para todos nós e para o Parlamento Europeu no seu conjunto.

Está encerrado o debate.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Cristian Dan Preda (PPE), por escrito. – (RO) Saúdo muito calorosamente o apelo a quea União Europeia reconheça o genocídio dos romanichéis durante a Segunda GuerraMundial. Alguns Estados-Membros já deram este passo, e eu espero que o mesmo aconteçacom igual número de outros Estados-Membros, bem como com a União Europeia enquantoinstituição. Infelizmente, a grande maioria dos cidadãos europeus não conhece o genocídiodos romanichéis. É por isso que, como também foi salientado pelo Presidente romeno nodiscurso em que reconheceu este genocídio, proferido em Outubro de 2007, não nospodemos limitar a um gesto simbólico. Temos de incentivar a inclusão de informaçõessobre o Holocausto dos romanichéis no currículo escolar dos alunos europeus. Por outrolado, é inaceitável que, 66 anos depois de os prisioneiros terem sido libertados do campode concentração de Auschwitz, uma minoria étnica seja sujeita a uma discriminação emtão grande escala em toda a União Europeia. Por isso considero que a inclusão social dosromanichéis, uma das prioridades da Presidência húngara, deve tornar-se o objecto de umapolítica europeia baseada em medidas específicas, efectivas e mensuráveis.

Jarosław Leszek Wałęsa (PPE), por escrito. – (PL) As questões relativas às vítimas datirania do Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial ainda constituem um assuntoextremamente delicado, que, todavia, vale a pena analisar em pormenor. Hoje, queremosampliar o contexto em que o termo Holocausto é encarado, pois o público em geralentende-o como a exterminação em massa de judeus. A "limpeza" de outros grupos étnicos,nacionais e sociais durante a Segunda Guerra Mundial deve também ser recordada eassinalada. Muito poucas pessoas têm consciência do que se passou, em particular os jovensda Europa. É por este motivo que estamos a tentar levantar a questão dolorosa e, de algumaforma, negligenciada do extermínio dos romanichéis durante o debate de hoje. O Porajmos,o termo romanichel para este extermínio, matou entre 500 000 e 2 milhões de romanichéisem toda a Europa. Foi o terceiro maior grupo, em termos de nacionalidade, a ser vítima deassassínios em Auschwitz, depois dos judeus e dos polacos. Estes factos não deixam dúvidasquanto à enormidade das perdas sofridas pelos romanichéis, o que nos obriga, enquantoeuropeus, a homenagear as pessoas que sofreram a injustiça de serem vitimados pelogenocídio e a aumentar o conhecimento sobre o seu destino. A sensibilização para estesacontecimentos é uma prioridade para as actuais e futuras gerações.

Elena Băsescu (PPE), por escrito. – (RO) Os romanichéis são neste momento a maiorminoria étnica da UE, mas também foram a mais oprimida ao longo dos tempos. Centenasde milhares de romanichéis foram mortos e perseguidos durante a Segunda Guerra Mundial.Infelizmente, apenas alguns Estados-Membros reconheceram que o extermínio dosromanichéis foi, na verdade, um acto de genocídio. Em honra da memória das vítimas eem sinal de profundo respeito pelos sobreviventes romanichéis do Holocausto, em 2007,a Presidência romena reconheceu as atrocidades sofridas pelos romanichéis e atribuiu aCruz Nacional de "Serviço de Fidelidade" de terceira classe a três romanichéis quesobreviveram ao genocídio. Os romanichéis fazem parte do futuro da Roménia, de umaRoménia europeia. A tragédia do Holocausto integra agora a nossa memória colectiva.Aproveito esta oportunidade para saudar uma das prioridades da Presidência húngara,

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT10

nomeadamente a estratégia de integração dos romanichéis. A melhor forma de homenagemé olhar para o futuro. Em todos os Estados-Membros, temos de examinar os séculos dehistória em que os romanichéis participaram e reforçar agora esta iniciativa em seu nome.São cidadãos europeus livres e iguais. Devemos também criar as condições necessáriaspara a livre circulação dos romanichéis, sem os expulsar novamente. Necessitamos de umacomunidade que esteja plenamente integrada na sociedade moderna.

Elena Oana Antonescu (PPE), por escrito. – (RO) Saúdo a iniciativa do Senhor Presidentedo Parlamento Europeu Jerzy Buzek de solicitar à União Europeia o reconhecimento oficialdo genocídio cometido pelos nazis e pelos seus aliados contra a população romanicheldurante a Segunda Guerra Mundial porque ela assinala um passo em frente no combatepela defesa dos direitos da minoria étnica mais disseminada da Europa.

Dezenas de milhares de membros da população romanichel foram sujeitos a tortura ouassassinados nos territórios orientais ocupados e milhares morreram nos campos deconcentração do regime nazi. O historiador Michael Billig resume o princípio da doutrinada superioridade racial na seguinte declaração: "Um homem não é assassinado pelo quefaz, mas pelo que é". Esta frase pode ser utilizada para resumir a triste realidade de umperíodo em que mais de um milhão de romanichéis foi oprimido e privado de quaisquerliberdades, incluindo a liberdade de procriar.

Penso que necessitamos de medidas específicas a nível da UE para combater o racismo elutar contra a exclusão social. Defendo que precisamos de melhor cooperação e de umintercâmbio de boas práticas a nível nacional entre estratégias nacionais e europeias deinclusão dos romanichéis.

14. Preparação da reunião do Conselho Europeu (4 de Fevereiro de 2011) (debate)

Presidente. − Seguem-se na ordem do dia as declarações do Conselho e da Comissãosobre a reunião do Conselho Europeu de 4 de Fevereiro de 2011. A primeira intervençãoserá da Senhora Presidente em exercício do Conselho Győri, em nome do Conselho. Tema palavra.

Enikő Győri, Presidente em exercício do Conselho. − (HU) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, Senhor Presidente da Comissão, congratulo-me por poder intervirneste Parlamento antes da próxima reunião do Conselho Europeu, embora, em virtude dodisposto no Tratado de Lisboa, a preparação da reunião do Conselho Europeu seja acimade tudo responsabilidade do Presidente permanente. Contudo, a Presidência em exercíciocooperou muito estreitamente com o Presidente permanente na preparação da reunião daComissão Europeia, por exemplo no que se refere ao Conselho "Assuntos Gerais", realizadona segunda-feira sob a égide da Presidência húngara. Além disso, estamos naturalmente acontrolar a aplicação das conclusões do Conselho Europeu, tanto no contexto do Conselho"Assuntos Gerais" como dos outros Conselhos.

Permitam-me que comece por delinear os principais temas da agenda da reunião deFevereiro, que se debruçará particularmente sobre a energia e a inovação. Ao estabelecera Estratégia "Europa 2020", o Conselho Europeu decidiu, em Março de 2010, levar a caboum debate temático sobre energia e inovação. É escusado salientar a enorme importânciaque estes dois sectores têm para o crescimento económico e para o emprego na Europa.O Conselho Europeu toma esta iniciativa porque que a sua função não é apenas respondera situações de crise, mas também formular orientações estratégicas.

11Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Comecemos pela questão da energia. A segurança energética é uma prioridade para todosnós. Esse objectivo exige uma maior integração e interligação do mercado da energia.Devemos aumentar o investimento na investigação e desenvolvimento, tornar a economiamais competitiva e sustentável, bem como estreitar a cooperação entre os principais paísesprodutores, de trânsito e consumidores. O primeiro elemento é, portanto, um mercadode energia integrado e interligado. A instituição de um mercado interno da energiaplenamente operacional constitui uma necessidade. O Conselho Europeu deve decidirvárias medidas importantes para a prossecução desse objectivo.

Em primeiro lugar, deve implementar legislação em matéria de mercado da energia. Temosigualmente pela frente tarefas de regulação. Devemos, por exemplo, simplificar osprocedimentos de autorização para a construção de novas infra-estruturas. Paralelamente,haverá que envidar esforços significativos para modernizar e alargar as infra-estruturaseuropeias do sector da energia e interligar as redes transfronteiras. Nenhum Estado-Membroou região da UE deverá ficar isolado. Tudo isto deve ser financiado prioritariamente pelosector privado. Além disso, nos investimentos transfronteiras deve haver uma repartiçãoadequada dos custos. Em terceiro lugar, existirão projectos que, muito embora tenhamuma importância excepcional em matéria de segurança energética, não serãosuficientemente atractivos para o sector privado para que este os financie na totalidade.Nesses casos poderá justificar-se um financiamento público limitado, com recursos dosEstados-Membros ou da UE. Todavia, o objectivo das actuais discussões não é formar umjuízo prematuro sobre o debate relativo ao quadro financeiro plurianual, que terá lugar nofinal de Junho.

O segundo grande tema no domínio da energia é a eficiência energética e a energia defontes renováveis. Escusado será dizer que estes dois factores aumentam a competitividadee reforçam a segurança do abastecimento energético, bem como contribuem para asustentabilidade a baixo custo. Em 2011, o Conselho analisará a proposta que a Comissãoapresentará sobre o novo Plano de Acção para a Eficiência Energética. Essa propostadescreverá o que foi alcançado até ao momento no que se refere à meta de eficiênciaenergética da UE até 2013 e apontará medidas suplementares. As relações externas assumemigualmente enorme importância para a política energética. As actividades da UE e dosEstados-Membros relacionadas com os principais países produtores, de trânsito econsumidores devem ser coordenadas de forma mais sistemática. Seria, por exemplo,vantajoso que os Estados-Membros partilhassem não só informação sobre tratados emmatéria de gás natural, como já fazem, mas também informação relativa a outros tipos deenergia. Deve iniciar-se um trabalho concreto a fim de desenvolver parcerias com actoresimportantes no que se refere à abordagem regulamentar em todas as questões de interessecomum. Isto, é claro, aplica-se à Rússia, mas aplica-se de igual modo a todos os parceirose vizinhos da UE.

Passemos ao tema da inovação. A inovação é o factor que poderá contribuir para resolveros desafios sociais mais profundos da nossa era, nomeadamente em matéria de saúde, desegurança alimentar, de segurança energética, de desenvolvimento sustentável, de alteraçõesclimáticas e de envelhecimento da população, criando, por outro lado, oportunidades paranovos mercados. A inovação pode ainda contribuir para solucionar o dilema entre o rigororçamental e uma política em prol do crescimento. Onde se poderá obter o financiamentopara o crescimento até ele se tornar auto-sustentado? Não através do crédito, porque issonão é desejável. Ao fim e ao cabo, queremos travar o endividamento. É, portanto, atravésda inovação que poderemos descobrir reservas de criatividade capazes de nos ajudar aencontrar as respostas adequadas. No âmbito do tema da inovação, devemos, por isso,

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT12

concentrar-nos na resposta a desafios sociais significativos e progredir rumo a um EspaçoEuropeu da Investigação. Há que garantir a mobilidade dos investigadores, bem comomelhorar as condições de enquadramento aplicáveis a empresas inovadoras, e o ConselhoEuropeu deve ainda abordar a questão de hierarquizar as ajudas estatais.

Energia e inovação: investimentos que apontam para o futuro. Contudo, o ConselhoEuropeu deve igualmente tratar questões correntes de teor económico e financeiro, poistodos sabemos que ainda não ultrapassámos totalmente a crise. Encontramo-nos numasituação delicada. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger a moedaúnica, o euro, e para acalmar os mercados. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeiradeve, portanto, ser reforçado e os testes de resistência dos bancos também devem serincluídos na ordem de trabalhos. A Presidência húngara está especialmente empenhadano pacote de seis propostas legislativas sobre governação económica. Queremos apresentarum relatório aos Chefes de Estado e de Governo sobre a evolução das consultas no Conselhoe no Parlamento. Finalmente, devem abordar-se as medidas comuns suplementares paragarantir a competitividade e, como é natural, face à premência da situação, os Chefes deEstado e de Governo debaterão ainda os acontecimentos verificados na Tunísia e no Egipto.

Senhoras e Senhores Deputados, estou convicta de que o Conselho Europeu enfrentarámatérias muito difíceis e deverá formular perguntas específicas que determinarão o trabalhodo Conselho nos próximos meses e o Senhor Presidente Herman Van Rompuyapresentar-vos-á o seu relatório após a reunião.

José Manuel Barroso, Presidente da Comissão. − (EN) Senhor Presidente, este ConselhoEuropeu tem lugar num momento muito importante para alguns dos nossos vizinhos,nomeadamente, o Egipto, a Tunísia e a Bielorrússia. Embora respeitando a situação específicade cada um destes países, espero que este Conselho Europeu declare em termos inequívocosque princípios como o Estado de direito, os direitos fundamentais e a democracia pluralistadevem ser aplicados e respeitados. A democracia é efectivamente a melhor via para aestabilidade e a prosperidade naqueles países, tal como em qualquer outra parte do mundo.

Esta sexta-feira, o Conselho Europeu discutirá duas matérias que são igualmente muitoimportantes para o futuro da Europa e da sua economia: a energia e a inovação. São ambaselementos nucleares da Estratégia "Europa 2020" e fundamentais para cumprir o nossoobjectivo de restaurar o crescimento sustentável e de aumentar a competitividade da UniãoEuropeia. E não esqueçamos que a energia e a inovação são também dois domínios nosquais a abordagem comunitária e a dimensão europeia podem constituir um grande valoracrescentado. Trata-se de um facto que é importante salientar no contexto actual.

No âmbito da Estratégia "Europa 2020" já acordámos um conjunto de metas e objectivosambiciosos em matéria de inovação energética. Poderia referir a iniciativa emblemática"União da Inovação", adoptada em Outubro último, bem como a iniciativa emblemática"Uma Europa eficiente em termos de recursos", adoptada na semana passada e na qual aenergia tem um papel de destaque.

Portanto, o Conselho Europeu desta semana deverá produzir resultados claros e concretos.O debate e as suas conclusões devem ser tão operacionais e produtivos quanto possível.

Descrevi a política energética com o próximo grande projecto europeu de integração enão é fácil entender porque é que um abastecimento de energia estável, seguro, sustentávele a preços acessíveis é fundamental para os nossos interesses económicos e estratégicosenquanto actores globais. Já fizemos muito no passado com o pacote do clima e da energia

13Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

e com a legislação em matéria de mercado interno. Devemos trabalhar sobre essa base,tirando partido das oportunidades criadas pelo Tratado de Lisboa, aprofundando acooperação existente e lançando iniciativas em domínios novos como a segurançaenergética.

Assim, o primeiro teste à credibilidade da nossa política energética é cumprir os pontospor nós já acordados.

A Comissão delineou as medidas que considera serem urgentes na Estratégia "Energia2020" e nas comunicações sobre infra-estruturas energéticas. Quero que o ConselhoEuropeu apoie estas prioridades e, em particular, assuma um compromisso claro com arealização do nosso mercado interno de energia até 2014. Este ano deverão ser adoptadasnormas técnicas comuns para sistemas de carregamento de veículos eléctricos, e o mesmoacontecerá em relação às redes e contadores inteligentes até ao final de 2012.

Um mercado interno da energia realmente integrado é fundamental para aumentar ocrescimento e criar postos de trabalho, promover o progresso tecnológico, modernizar asnossas infra-estruturas e reduzir a exposição às importações e à volatilidade dos preços.

Devemos igualmente assegurar que, no capítulo da energia, nenhum Estado-Membro fiqueisolado do resto da Europa. Quero que os Estados-Membros cheguem a acordo sobre oano de 2015 como prazo limite para o fim das ilhas energéticas na Europa.

Efectuámos um bom trabalho ao ligar os países do Báltico ao sistema continental. Agoravou voltar-me para a Europa Central e Oriental a fim de fazer avançar as interligaçõesnorte-sul. Quero que no Outono seja alcançado um acordo sobre o plano relativo aosprojectos necessários para ligar o Báltico ao Adriático.

Embora estejamos a cumprir o calendário para o cumprimento das metas em matéria deenergia de fontes renováveis, se mantivermos o desempenho actual, só alcançaremosmetade das metas no domínio da eficiência energética. Uma utilização mais eficiente daenergia é a chave para abrir a porta de enormes benefícios ambientais e económicos – ereduzirá a factura energética anual da Europa em cerca de 200 mil milhões de euros. Podeainda criar dois milhões de postos de trabalho até 2020.

Portanto, vou pedir ao Conselho Europeu que dê novo ímpeto à prossecução da eficiênciaenergética. Poderíamos tirar partido da dimensão dos contratos públicos no espaço da UEpara imprimir um forte impulso à eficiência energética e isso representa postos de trabalholocais, postos de trabalho que não podem ser externalizados, postos de trabalho parapequenas e médias empresas, bem como poupanças reais tanto para a indústria como paraos agregados familiares.

A Comissão adoptará nas próximas semanas um plano de eficiência energética que propõemedidas específicas para impulsionar a eficiência energética; por exemplo, até1 de Janeiro de 2012 todos os Estados-Membros deverão incluir nos contratos públicosnormas relativas à eficiência energética. A Comissão avaliará então os progressos alcançadoscom as referidas medidas até 2013 e ponderará medidas adicionais, incluindo, se necessário,a proposta de metas juridicamente vinculativas.

Os Estados-Membros devem chegar a acordo sobre um prazo para a inclusão em todos oscontratos públicos respeitantes a edifícios e serviços públicos normas relativas à eficiênciaenergética. Pelo seu lado, a Comissão está preparada para explorar novas medidas nos

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT14

domínios da poupança de energia nas cidades, biocombustíveis sustentáveis, redesinteligentes e armazenamento de energia.

Devemos igualmente concentrar-nos na dimensão externa da política energética europeia.Há apenas duas semanas, mantive discussões encorajadoras com os Presidentes doAzerbaijão e do Turquemenistão sobre o acesso da Europa às jazidas de gás do Mar Cáspio,o que possibilitaria a concretização do Corredor Meridional. Conseguiu-se um importanteavanço, com a assinatura de uma declaração comum com o Azerbaijão e um compromissoconcreto do Turquemenistão para fornecer gás à Europa.

A mensagem que trago dessa visita é a seguinte: a Europa é um actor mais forte na corridaglobal aos recursos energéticos quando toma as decisões cruciais em matéria de energiaem conjunto. O reforço da importância atribuída à dimensão externa da política energéticada União Europeia deve ser uma das principais mensagens do Conselho Europeu, por issoaguardo uma discussão muito relevante em matéria de energia no Conselho Europeu, bemcomo – apraz-me dizer – aqui no Parlamento Europeu. Sei que este Parlamento é muitofavorável a uma política europeia forte no domínio da energia e o Presidente do Parlamentotem defendido um compromisso mais sólido da Europa nessa matéria.

Passando à questão da inovação, considero que já existe um acordo alargado sobre o quedeve resultar do Conselho Europeu. Talvez menos evidente seja o sentimento de urgência,de enorme urgência, em agir; porque é necessário impulsionar a investigação e a inovaçãoagora, quando os Estados-Membros se deparam com escolhas difíceis ao reduzirem os seusorçamentos.

A consolidação orçamental e o apoio público à inovação não são políticas irreconciliáveis.Vários Estados-Membros demonstraram que é possível reduzir o orçamento globalmantendo despesas promotoras de crescimento, em particular no domínio da investigaçãoe inovação. Isto é importante porque a concretização da economia da inovação é a principalmudança estrutural profunda. Os nossos concorrentes sabem-no e já estão a apostar nainovação.

Para que não fiquemos para trás, necessitamos do apoio do Conselho Europeu para a nossaabordagem estratégica e integrada da inovação. É necessário que a inovação integre a nossapolítica económica e que não se limite a ser um objecto de investigação, como algumaspessoas pensam.

À escala europeia, podemos oferecer um verdadeiro valor acrescentado através domelhoramento das condições de enquadramento da investigação e inovação na UniãoEuropeia. A Europa deve tornar-se o domicílio natural da inovação graças a umanormalização eficaz, a um melhor uso dos direitos de propriedade intelectual, a contratospúblicos promotores da inovação e a medidas destinadas a ajudar pequenas empresasinovadoras a garantirem financiamento.

Muitas destas medidas não custam dinheiro, mas requerem vontade política. Vontadepolítica de tomar medidas com uma abordagem e uma dimensão europeias.

Podemos também extrair muito mais do Espaço Europeu da Investigação, tirando plenopartido do mercado único, nomeadamente ao melhorar a mobilidade dos investigadores.

E, a par da contenção das despesas, é necessário gastar melhor. Com a revisão orçamental,lançámos um debate sobre a racionalização da forma como o dinheiro da União Europeiaé gasto, bem como sobre o trabalho que visa um enquadramento estratégico comum para

15Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

o financiamento da investigação e da inovação. Por outras palavras, para obtermos umamelhor relação custos-benefícios é necessário reduzir a burocracia para que os cientistasfinanciados pela UE possam passar mais tempo no laboratório ou no seu trabalho e menostempo em processos burocráticos. Nunca atrairemos os melhores cientistas e as empresasmais inovadoras se tivermos um conjunto de instrumentos de financiamento incoerentesassentes em normas complexas e burocráticas.

Portanto, este mês, o Conselho Europeu vai discutir a energia e inovação. Mas não seesquivará a discutir a economia. A economia e os problemas dos desempregados continuama ser as maiores preocupações dos nossos cidadãos.

Acabámos de implementar o primeiro Semestre Europeu – pondo em acção a governaçãoeconómica. A Análise Anual do Crescimento foi bem acolhida. As mensagens são objectivase claras. A análise oferece a orientação necessária à escala europeia de modo a que osEstados-Membros possam ter em conta a nossa interdependência ao decidirem as políticasnacionais.

Fizeram-se bons progressos nas propostas legislativas que sustentarão o nosso novo sistemade governação económica. Gostaria de agradecer à Presidência húngara. A Presidênciahúngara tem todo o meu apoio para acelerar os trabalhos a fim de garantir a adopção atéJunho.

Além disso, no quadro desta resposta global, teremos de resolver as questões pendentesrelacionadas com o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) e o MecanismoEuropeu de Estabilização Financeira.

No que diz respeito ao FEEF, para além do alargamento do âmbito das suas actividades, oque está em causa neste momento é como aumentar a sua capacidade efectiva definanciamento – tal como é referido pela Comissão na Análise Anual do Crescimento.

É claro que esta questão deve ser colocada no contexto da resposta global. As discussõesno Conselho Europeu da próxima sexta-feira abrangerão muito provavelmente a necessidadedo reforço da coordenação das políticas económicas na União Europeia e na área do euro.Acolho com bom grado essa discussão, que se articula muito bem com a Análise Anualdo Crescimento da Comissão. Efectivamente, o Semestre Europeu não se limita àcoordenação das políticas orçamentais, mas aborda matérias mais alargadas como osdesequilíbrios macroeconómicos e as diferenças de competitividade.

Devo acrescentar que recentemente ouvimos vozes autorizadas argumentarem a favor doaprofundamento da governação económica, afirmando, no entanto, que só pode ser levadaa cabo através do método intergovernamental.

Devemos ser claros: a Comissão congratula-se com o aprofundamento e a aceleração dagovernação económica e da coordenação de políticas, nomeadamente na área do euro.Mas temos a firme convicção de que o Tratado oferece o enquadramento e os instrumentosadequados para o alcançarmos. Efectivamente, não teríamos êxito se estruturas paralelastrabalhassem de forma que, em última análise, seria incoerente.

A instituição de um sistema de governação económica reforçada para a UE, e em particularpara a área do euro, fora do enquadramento da União levanta questões importantes e muitosensíveis do ponto de vista político. De facto, os Estados-Membros deveriam adoptarmedidas plenamente compatíveis com o método comunitário e com o enquadramentodado pelo Tratado. Se as medidas caem no âmbito da competência nacional – e é claro que

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT16

algumas delas são da responsabilidade nacional – essa competência deve ser exercida emcoerência com o enquadramento global da União.

Estou convicto da extrema importância desta questão porque podemos, de facto, fazergrandes progressos em matéria de governação económica. É necessário – e temosargumentado nesse sentido – mais coordenação de políticas e melhor governaçãoeconómica, mas devemos concretizar tudo isto de forma coerente e compatível com osTratados e com a abordagem comunitária.

A Comissão estará particularmente atenta a estas questões. O Tratado, com o subsequente"método comunitário", implica o respeito pleno pelo papel de todas as instituiçõeseuropeias.

Joseph Daul, em nome do Grupo PPE. – (FR) Senhor Presidente, Senhora Presidente emexercício do Conselho Europeu, Senhor Presidente da Comissão Europeia, Senhoras eSenhores Deputados, que ilações retirarão os cidadãos europeus da reunião dos seus líderesesta sexta-feira em Bruxelas? Concluirão que a procura de respostas europeias para desafioseuropeus – o euro, a energia, a investigação e inovação e o emprego – está a ser feita deboa fé? Ou antes que, mais uma vez, nos sujeitamos ao triste espectáculo da divisão e daslutas pelo poder? Quais serão os títulos dos principais jornais? No sábado, de que falarãoas pessoas nos blogues e no Facebook quando se referirem às decisões do Conselho Europeu?Falarão da timidez da Europa perante a situação nos países do Mediterrâneo, queambicionam que os seus direitos sejam respeitados, ou falarão, pelo contrário, do seu papelde liderança? O dever da Europa nesta questão é muito claro: deve congregar todos os seusrecursos e todas as suas competências diplomáticas para ajudar a transição e a organizaçãode eleições democráticas e abertas.

Senhoras e Senhores Deputados, na opinião do Grupo do Partido Popular Europeu(Democratas-Cristãos), a solução para os nossos problemas é mais Europa, e não menos.Não encontraremos a solução em novas versões das chamadas vitórias nacionais, mas simem novas vitórias comuns e novas respostas coordenadas. A solução não é o laxismo naaplicação das normas comunitárias, mas sim o reforço da disciplina. A solução, Senhorase Senhores Deputados, não é o aumento da divergência entre os nossos orçamentos, anossa legislação laboral e as nossas taxas fiscais, mas sim o reforço da convergência.

Na perspectiva do Grupo PPE, há uma lição a tirar desta crise, ou seja, sem uma visãocomum e sem recursos partilhados, os nossos países afundar-se-ão num crescimento lentoe mergulharão numa crise social. Se há apenas uma lição a tirar desta crise, é que, sepensarmos, trabalharmos e investirmos como europeus, os nossos países ultrapassarão omomento difícil que vivem e ficarão mais fortes para o futuro.

Que mais nos fará reagir a uma só voz se não as dificuldades que acabámos de experimentar?Juntamente com a Comissão Europeia, a maioria dos meus colegas neste Parlamento e,estou convicto, a maioria dos 500 milhões de europeus, coloco a seguinte pergunta aoConselho Europeu: quando começaremos a actuar e a reagir mais a uma só voz?

No que se refere ao euro, hoje sei que os nossos Governos cerrarão fileiras e não permitirãoque os especuladores destruam 60 anos de integração europeia. Insto-os agora aconcentrarem-se na consolidação do Mecanismo de Estabilização Financeira, pois isso éfundamental. Exorto-os em particular a reforçarem a disciplina orçamental e a perseveraremno esforço de reduzir a dívida pública. A governação europeia é a condição sine qua non

17Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

do êxito do nosso projecto comum. O meu grupo apoia este projecto como apoia o euro,isto é, totalmente.

A solução para os nossos problemas, como afirmei no início, é mais Europa, e não menos.E se isso é verdade em matéria de emprego e economia, não o é menos no que se refere àenergia, um tema que o Conselho também vai abordar na sexta-feira. Mais Europa significa,em primeiro lugar, aplicar plenamente a legislação em matéria de mercado interno daenergia. Nunca será de mais salientar que tornar este mercado plenamente operacionalnos tornará mais competitivos, garantirá a segurança do abastecimento e assegurará umaumento substancial da produção de energia de fontes renováveis.

Mais Europa significa também encorajar os nossos Estados a cumprirem o desafio deaumentar a eficiência energética em 20% até 2020. Foram eles próprios que estabeleceramesse objectivo. Devemos certificar-nos de que o cumprem, ou teremos de estabelecernormas mais severas. A concluir, mais Europa no domínio da energia significa investirmais. A Comissão prevê que o nível de infra-estruturas necessário custará mil milhões deeuros. Para esse efeito, esperamos decisões ambiciosas do Conselho Europeu. A Europanecessita de energia segura e limpa, tal como precisa de uma política em matéria deinvestigação e desenvolvimento e de uma política de promoção da inovação industrial.Também aqui a solução é mais Europa e mais atenção às pequenas e médias empresas. Asolução está na redução da burocracia ao mínimo e na obtenção, por fim, de um acordosobre a patente europeia. Também no domínio da inovação esperamos dos nossos líderessoluções comuns e não questiúnculas provincianas.

Senhoras e Senhores Deputados, é tempo de abandonarmos as reacções irracionais dopassado. Promover as nossas diferenças está muito bem, mas torná-las complementaresé ainda melhor. As iniciativas individuais podem ser úteis, mas é com jogo colectivo quese ganha uma partida. Acalentar ambições nacionais é perfeitamente legítimo, mascompreender que, no terreno internacional, o jogo se ganha com uma estratégia de equipaé a melhor forma de garantir um futuro para os cidadãos da Europa.

Martin Schulz, em nome do Grupo S&D. – (DE) Senhor Presidente, o Grupo da AliançaProgressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu realizou ontem umaaudição que serviu para nos prepararmos para a cimeira do próximo fim-de-semana,dedicada à energia. O que nela esteve em discussão será objecto de uma referência maisdesenvolvida por parte de uma colega minha, a senhora deputada Ulvskog. Limitar-me-ei,portanto, a dois aspectos que reputo essenciais.

Se estimarmos o nível de execução a nível nacional dos objectivos "20-20-20" queadoptámos, e que alguns governos da União Europeia aplaudiram, verificamos que, amanter-se a actual situação, não será possível cumprir mais de 9% daquilo que nospropusemos. Portanto, no que respeita à política energética, a cimeira do próximofim-de-semana é uma cimeira de crise, e se não nos empenharmos fortemente nesta matéria,esses objectivos não serão cumpridos.

A minha segunda observação prende-se com o facto de estarmos a assistir a uma tendênciados preços do mercado da energia que começa a provocar pobreza energética na Europa.Grande parte das famílias já olha para a energia e o aprovisionamento energético como seestes fossem um luxo. Os custos adicionais dos alugueres estão a aumentar de tal formaque há-se chegar o dia em que as pessoas com baixos rendimentos terão de se agasalharcom camisolas grossas por não terem possibilidades de aquecer as suas casas. Privar pessoas

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT18

do aceso à energia é uma questão de injustiça social. E é também uma questão que umacimeira como esta, dedicada à energia, deve abordar.

(Aplausos)

Veremos que outras questões serão debatidas nesta cimeira, mas quero retomar a questãoabordada pelo Senhor Presidente da Comissão. O Governo da República da Alemanha –liderado pela Chanceler Federal – deu uma reviravolta. De repente, tudo o que antes estavaerrado em relação à governação económica, que era uma ideia socialista, está agora correcto.Ainda bem – mais vale tarde do que nunca. No entanto, o Senhor Presidente da Comissãotem razão numa coisa. Esta reviravolta não pode levar a uma mudança de direcção quecomprometa o equilíbrio entre as instituições da União.

Uma coisa é mais do que evidente: a política europeia tal como está consignada nos Tratadosem vigor tem de ser definida no seio das instituições existentes. No lugar central está aComissão, e nenhuma outra instituição, e, devo acrescentar, por esta razão fundamental:a Comissão é a instituição que está vinculada ao Parlamento neste domínio, e a autorizaçãoparlamentar para a adopção de medidas em matéria de soberania – e as questões monetáriassão questões essenciais de soberania – é essencial. Por conseguinte, dizemos "sim" àgovernação económica, desde que protagonizada pela Comissão e submetida ao controlodo Parlamento Europeu. É uma condição básica da manutenção do equilíbrio entre asinstituições europeias.

(Aplausos)

A Europa está a enfrentar desafios internos e desafios no domínio da política internacional.Estou – e digo-o com toda a franqueza – perturbado com as declarações feitas por algunspolíticos europeus. Perturba-me a ausência da Europa num processo histórico. O Presidenteda Comissão, Durão Barroso, faz a sua declaração – o que é excelente. O Presidente doConselho Europeu, Herman Van Rompuy, também faz a sua declaração – o que tambémé excelente. A Alta Representante Catherine Ashton faz uma declaração – o que é óptimo.Posteriormente, a Chanceler Merkel, o Presidente Sarkozy e o Primeiro-Ministro Cameronfazem uma declaração numa comunicação conjunta – e eu não sei o que está por detrásdesta nova aliança –, e isso também é óptimo. No entanto, não está lá ninguém – no terrenonão está ninguém que, em diálogo directo com os cidadãos que lutam pela democracia,fale de como nós, europeus, podemos ajudar e apoiar este processo.

Podem pôr tudo o que quiserem no papel, mas o papel não nos servirá de nada. Nãopodemos desperdiçar a oportunidade que temos à nossa frente. Reconheço que foi o senhordeputado Cohn-Bendit quem, na semana passada, me fez ver a grande oportunidade quetinha surgido. Devo admitir que não me apercebi dela de imediato, mas as pessoas que semanifestam nas ruas, as pessoas que lideram esta revolução querem tudo menos um estadoconfessional. Querem um estado laico. Querem uma democracia civil. São nossos parceiros.Temos de trabalhar com essas pessoas para transformar tudo isto numa grandeoportunidade para a Europa.

(Aplausos)

A este respeito, é também necessário que o Presidente Mubarak se demita. Seria um sinalpositivo e animador. Já que estamos a falar dos nossos valores, da nossa democracia e danossa liberdade de expressão, fico satisfeito por a Senhora Ministra Győri estar aqui presente.Quero dizer-lhe, Senhora Ministra Győri, que já li a resposta do Governo húngaro à cartada Comissão. Devo dizer que o texto da carta da Comissão estava excelente. Nela se

19Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

perguntava, muito educadamente, se o Governo húngaro não se importava de nos dizerse estaria eventualmente disposto a admitir o facto de a sua lei não ser, talvez, inteiramenteadequada – e pedia-se desculpa por perguntar! A resposta foi esta: como se atrevem aperguntar-nos semelhante coisa; não há nada de errado nisto. Isto não devia acontecer naEuropa. Vou repetir-me: a lei em causa não é compatível com as normas fundamentais daUnião.

(Aplausos)

Não é compatível com a Directiva "Serviços de Comunicação Social Audiovisual". Isso jáfoi dito, com toda a delicadeza, pela própria Comissária Kroes. Se a lei não for alterada,sentir-me-ei ludibriado pela Senhora Presidente em exercício do Conselho. A SenhoraPresidente e o Primeiro-Ministro da Hungria afirmaram, nesta Câmara, o seguinte: "Se aComissão levantar objecções, alteraremos a lei". A Comissão fê-lo e, portanto, espero quea Hungria altere a sua lei. Se isso não acontecer, que credibilidade teremos para falar dedemocracia no Mediterrâneo, quando nós próprios não a respeitamos na Europa?

Lena Ek, em nome do Grupo ALDE. – (EN) Senhor Presidente, em tempos de crise, éimperioso adoptar uma estratégia dupla: travar a ameaça iminente e aproveitar aoportunidade para dar um salto em frente.

No que respeita às crises energética e climática, qual a reacção do Conselho? Muitosinceramente, considero-a decepcionante e constrangedora.

Fora da Europa, o mundo está a encarar o desafio energético com muita seriedade. OsEstados Unidos estão a investir somas avultadas nas tecnologias verdes. No discurso sobreo estado da União, proferido a passada semana, o Presidente Barack Obama destacou aeficiência energética e as oportunidades que essas tecnologias proporcionam.

(O Presidente fez uma breve intervenção sobre uma questão processual)

O Presidente Obama chegou a comparar estas novas tecnologias à corrida espacial echamou-lhes "o momento Sputnik da nossa geração".

Mas onde está, no Conselho, o nosso projecto europeu de "colocar um homem na Lua"?Nem se atrevem a discutir um objectivo vinculativo de eficiência energética. A eficiênciaenergética é o tema favorito de qualquer orador ou político no domínio da energia, mas oConselho adia-o para 2012.

A China está a investir fortemente em investigação e nas novas tecnologias. Actualmente,já conta com mais de 400 empresas no subsector da energia fotovoltaica. Há dez anos,tinha zero por cento do mercado mundial. Agora tem 23%. Há dez anos, tinha zero porcento do mercado da energia eólica. Actualmente, detém 50% desse mercado.

O que estamos nós a fazer na Europa? O Programa para a Competitividade e a Inovaçãodebate-se com a falta de apoios, e o Plano Estratégico para as Tecnologias Energéticas aindanão obteve metade do financiamento previsto. É neste ponto que somos comparados coma China e os Estados Unidos. Até temos Estados-Membros que já prevêem uma reduçãode 30% nas emissões, como é o caso da Alemanha, mas o Conselho não se atreve a mexer-se;e a propósito, nem a Comissão. Segundo um recente relatório conjunto do Barclays e daAccenture, a mudança para uma economia de baixo carbono está a provocar umdesenvolvimento notável de tecnologias sustentáveis com baixas emissões de carbono.Portanto, os bancos estão a mexer-se.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT20

O que é feito da liderança europeia? O Conselho está a regatear os objectivos energéticos.Nem se apercebe de que os Estados-Membros estão a cumprir o terceiro pacote do mercadoenergético e de que há um debate sobre o financiamento da investigação e da inovação noorçamento a longo prazo. É nesta fase que nos encontramos na Europa, e o Conselho nãodemonstra qualquer capacidade de liderança quando se trata de energia, clima,competitividade ou emprego. É neste ponto que estamos.

Krisztina Morvai (NI). – (Pergunta segundo o procedimento "cartão azul", nos termos do artigo149.º, n.º 8, dirigida ao deputado Martin Schulz) (HU) Todos registámos a grande preocupaçãomanifestada pelo senhor deputado Martin Schulz, líder dos socialistas europeus, em relaçãoà democracia e aos direitos humanos na Hungria. Tenho de lhe perguntar, SenhorDeputado Schulz, onde estava entre 2002 e 2010, quando os seus camaradas socialistas,então no poder na Hungria, ordenavam o uso da força para dispersar qualquer manifestaçãoantigovernamental? Onde estava em 23 de Outubro de 2006, quando deram ordem paraalvejar nos olhos catorze pessoas com balas de borracha disparadas à altura da cabeça?Onde estava no Outono de 2006, quando, segundo uma decisão judicial transitada emjulgado, várias centenas de pessoas foram (o Presidente interrompe o orador) Segundo oRegimento, disponho de um minuto, Senhor Presidente, não é verdade? Onde estava então,Senhor Deputado Schulz? E, já agora, também gostaria de saber o seguinte: por que razãonão faz o Governo do Fidesz a mesma pergunta ao senhor deputado Schulz e aos seuscamaradas? O que impede o Governo do Fidesz de retorquir?

Martin Schulz (S&D). – (DE) Senhor Presidente, Senhora Deputada Morvai, tenhoseguido atentamente a evolução da política interna húngara. Estive por várias vezes naHungria entre 2002 e 2010. Tive, aliás, a oportunidade de assistir, em Budapeste, amanifestações do seu partido, o Jobbik, cujos filiados se apresentavam em uniforme. Nãolhe vou falar do que essas manifestações me trouxeram à memória. Sou alemão e, por isso,dispenso-me de o fazer.

Para responder sem rodeios às suas perguntas, dir-lhe-ei que, entre 2002 e 2010, a Hungriaera uma democracia baseada no Estado de direito – e ainda o é –, com um governo deesquerda que se regia por princípios democráticos. Até agora, não tenho razões para duvidarde que continue a sê-lo com o actual Governo conservador. De uma coisa, porém, estoucerto: o seu partido, Senhora Deputada, é um partido de extrema-direita, um partidoneofascista.

(Aplausos)

Rebecca Harms, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, as últimas reportagens sobre os acontecimentos a sul do Mediterrâneo,nomeadamente no Egipto, referem a ocorrência de tiroteios no Cairo. A situação está aagudizar-se. Face a estas notícias, não posso senão apelar aos Chefes de Estado ou deGoverno europeus para que não esperem até à hora de almoço da próxima sexta-feira parachegarem a acordo sobre uma posição comum em relação à situação no Egipto. Há muitoque devíamos ter pressionado o Presidente Mubarak a apresentar rapidamente a suademissão, que é necessária para evitar que a agitação no país se agrave ainda mais e parapermitir uma evolução semelhante à registada na Tunísia. Seria vergonhoso que noslimitássemos a esperar para ver o que acontece no Egipto.

(Aplausos)

21Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Esta cimeira devia ser dedicada à energia. Contudo, quando vejo as preparações que seestão a fazer para o evento, não me surpreende que haja outros temas a estabelecer a ordemde trabalhos. Obedecendo à palavra de ordem segundo a qual "precisamos de segurançano aprovisionamento energético", estão a ser feitos bastantes contactos – especialmentepor si, Senhor Presidente Barroso – com países como o Azerbaijão ou o Turquemenistão.Recentemente, o Senhor Comissário Oettinger falou na Comissão da Indústria, daInvestigação e da Energia sobre a forma como iremos desenvolver as nossas relações nodomínio da energia com o Iraque, a Geórgia e o Turquemenistão.

Tendo em conta os acontecimentos a sul do Mediterrâneo, que deixam a nu as consequênciasdas nossas políticas relacionadas com os nossos interesses e da nossa política externa emmatéria de energia, considero isso bastante perigoso. Estou ciente de que carecemos dediversificação, pois enfrentamos, também, uma situação problemática e muito difícil aleste com a Rússia e os países de trânsito, ou seja, a Bielorrússia e a Ucrânia. Mas adiversificação não deve implicar o nosso envolvimento em relações com déspotas e paísesem crise.

A eficiência energética e as energias renováveis são a melhor solução para umaprovisionamento energético mais seguro, e devo dizer-lhe, Senhor Presidente Barroso,que tem sido muito permissivo a este respeito. O Comissário Oettinger tem negligenciadoeste domínio, que foi bem gerido pelo Comissário Piebalgs, ou – se preferirmos umaperspectiva pessimista – optou mais uma vez por não promover as tecnologias do futuro,nomeadamente as energias renováveis e a eficiência energética, e regressou ao antigo cabazenergético. A verdade é que, de repente, damo-nos conta de vão ser discutidos na cimeiratemas como o das tarifas de alimentação para centrais nucleares, para a energia atómica –mas qual é, afinal, a nossa posição neste debate sobre modernização e inovação? Destavez, perdi a paciência.

(Aplausos)

Talvez tenhamos sido demasiado pacientes quanto à governação económica. Actualmente,a Alemanha parece estar a seguir o caminho de Schäuble. No entanto, o que agora temossobre a mesa não representa o progresso técnico. Precisamos de mais do que uma pequenaalteração no Instrumento de Estabilidade. Temos de decidir, urgentemente, alterar ascondições do crédito concedido à Grécia e à Irlanda, ou acabaremos por destruir estespaíses. Precisamos de mais dinheiro no instrumento de crise, porque, se não o tivermos,podemos esquecer qualquer ideia de dar assistência a Espanha e Portugal num futuropróximo.

Do que precisamos finalmente – apenas para que não subsistam dúvidas neste ponto – éde uma proposta sobre a forma como tencionamos tratar da reestruturação da dívida. Nãopodemos evitá-la, todos os sabemos, e nós, Parlamento, queremos também aprofundaraqui esse assunto.

Jan Zahradil, em nome do Grupo ECR. – (CS) Senhor Presidente, a UE deve envolver-se naquestão da segurança energética e actuar, nesse domínio, em perfeita unidade e coordenação– ao contrário do que acontece com várias outras iniciativas europeias –, sendo essa a razãopor que nós, os Conservadores e Reformistas Europeus, apoiamos a criação do mercadocomum da energia, que reforçará a posição dos Estados-Membros na sua relação com osprincipais fornecedores e reduzirá as hipóteses de alguns fornecedores de matérias-primasestratégicas abusarem da sua posição dominante para conseguirem vantagens no tabuleiroda sua política externa. No entanto, também pensamos que o processo de integração no

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT22

sector da energia deve respeitar factores nacionais específicos, ou seja, pacotes energéticosnacionais, designadamente os que incluam a utilização de energia nuclear.

Quanto às implicações financeiras, faço notar que o meu grupo é maioritariamentecomposto por partidos de países que não pertencem à área do euro nem utilizam essamoeda. Isso não significa, porém, que queiramos uma área do euro fraca, frágil e instável,ou que desejemos o fracasso do euro. Por outro lado, quero deixar claro que a recuperaçãoda economia e da estabilidade financeira da UE não deve levar a um reforço da vertentesupranacional ou à federalização fiscal, nem servir de pretexto para mais uma transferênciade poderes do nível nacional para o nível europeu. Opomo-nos terminantemente a isso!

Gostaria de fazer alguns comentários sobre os acontecimentos no Norte de África – naTunísia e no Egipto. São muitas as semelhanças com o que se passou na Europa Central eOriental em 1989. Saudamos calorosamente as correntes democráticas desses países, quedevemos apoiar. Queremos que a vizinhança mais próxima da UE seja estável e democrática.Mas devemos, ao mesmo tempo, fazer o possível por evitar que a justa luta e os justosanseios das populações desses países fracassem ou levem à instauração de ditadurasantidemocráticas, autoritárias e religiosas. A UE não pode deixar que isso aconteça.

Marisa Matias, em nome do Grupo GUE/NGL . – Como sabemos, a energia é um sectorvital para a criação de novos empregos e a oportunidade deveria ser, por isso, a palavra deordem, a palavra-chave deste Conselho que agora preparamos. Mas, infelizmente, não oé.

Quando nós precisamos de investimento concreto para tratar da eficiência energética dasnossas cidades e, em particular, nos países que estão a ser sujeitos a maiores ataquesespeculativos e, sobretudo, nos países que têm maiores níveis de desemprego, o que nóstemos da parte dos governos são respostas que são as velhas receitas e é nelas quecontinuamos a insistir.

O que nós precisamos neste Conselho é de uma revolução energética. Não precisamosapenas de mais parcerias público-privadas, isso é insistir no falhanço. Continuamos muitopresos às velhas energias, aos combustíveis fósseis, à energia nuclear e muito poucoambiciosos em relação às novas energias, que são as únicas que podem garantir igualdadede acesso e que são as únicas que podem garantir que é tão importante um grande projectocomo um projecto local. Só juntando tudo é que poderíamos ter, de facto, uma políticaintegrada e é por isso que um Conselho que deveria ser de rotura é um Conselho decontinuidade.

E peço-lhe permissão, Senhor Presidente, só para um apelo final: porque situações deemergência exigem apelos de emergência, e o apelo que eu lhe peço permissão para fazeré que se peça aos líderes europeus que, em relação ao se que se está a viver no Egipto,tenham pelo menos tanta solidariedade com as pessoas na rua como tiveram com osregimes autoritários, enquanto estes governaram em função da economia e não no respeitoda democracia.

Niki Tzavela, em nome do Grupo EFD. – (EN) Senhor Presidente, os meus calorosos votosde boa sorte para o nosso caro Presidente Barroso. Boa sorte para todos nós, agora que osazerbaijaneses e os turquemenos estão no mercado. Dizem que já prometeram abastecerde gás cinco outros países.

23Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Essa é, de facto, a grande questão. Há poucos anos, tivemos a crise entre a Rússia e a Ucrânia,e ainda nos debatemos com essa realidade. Agora temos a crise no Norte de África. O preçodo petróleo já está a subir.

Chegou, pois, o momento de colocarmos na agenda da cimeira de sexta-feira a necessidadede a Europa se virar para os seus próprios recursos e fontes. Chegou o momento decolocarmos a exploração, a extracção e outros temas semelhantes na nossa agenda. Pensoque poderiam pedir aos Estados-Membros que preparassem um quadro sobre o que sepassa em termos de exploração de recursos e fontes energéticas em cada país, avaliar osprojectos mais promissores, aprovar incentivos para as empresas privadas que apostassemna exploração e ver o que é possível fazer com os nossos próprios recursos.

A perda do Canal do Suez é uma hipótese plausível que temos de considerar. Porconseguinte, quanto ao Egipto, a grande preocupação de todos nós deve ser a seguinte:transição ordeira. Caso contrário, teremos grandes problemas.

Francisco Sosa Wagner (NI). – (ES) Senhor Presidente, graças a muitos anos de trabalho,os objectivos da política energética europeia são actualmente muito claros para nós: aconstrução de um mercado interno, a segurança do aprovisionamento, a promoção dasenergias renováveis e a eficiência energética.

Tendo em vista esses objectivos, que nós próprios nos propusemos, o documento sobreo qual o Conselho Europeu vai trabalhar é muito pouco ambicioso e um tanto superficial.Se a iniciativa da política energética comum europeia tem de ser dos Chefes de Estado oude Governo, temos muito que esperar, porque, aparentemente, o seu ponto de vistapredominante é nacional, imediatista e desactualizado.

O que estamos a debater aqui não é de somenos importância, já que a coluna vertebral daEuropa é a política energética. Os seus princípios devem ser defendidos a uma só voz emtodo o mundo, mas, infelizmente, estamos muito longe disso.

Herbert Reul (PPE). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Presidente da Comissão, SenhoraPresidente em exercício do Conselho, Senhoras e Senhores Deputados, a cimeira doConselho Europeu realiza-se numa altura em que há um número exorbitante de outrosassuntos urgentes para além daquele que estava previsto debater.

O senhor deputado Schulz tinha razão ao afirmar que todos esperamos que haja umadeclaração do Conselho Europeu sobre o Egipto e sobre o que aí está a acontecer, e que oassunto mereça a devida atenção. Isso é verdade. Senhor Deputado Schulz, poderia estarinteiramente de acordo consigo nesta matéria se, na segunda parte da sua intervenção, nãotivesse cometido o erro de, mais uma vez, fazer chicana política partidária de mau gostoquando interpelou os húngaros. Isso nada tem a ver com o nosso debate de hoje, que ésobre o Conselho e os outros assuntos incluídos na ordem do dia.

Senhora Deputada Harms, quero também esclarecer uma coisa relativamente ao que disse.A senhora deputada tem toda a razão ao afirmar que as questões prementes que referiu –questões económicas, questões relacionadas com o euro e a questão do Egipto – têm deser discutidas, mas não pode, ao mesmo tempo, acusar o Senhor Comissário Oettinger deter negligenciado a questão energética. Isso é absurdo. A explicação está no facto de oConselho ter de abordar também outros assuntos.

O facto de estar ou não de acordo com a política energética e de outras pessoas terem umaopinião diferente da sua não significa que ela seja boa ou má. Não pode ser avaliada por

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT24

esses critérios. Penso que os preparativos feitos pela Comissão nos últimos meses foramexaustivos e sensatos. Não tem seguido o princípio de fazer novas exigências a toda a hora.Pelo contrário, prepara-se cuidadosa e exaustivamente e, posteriormente, toma medidasque, na prática, darão origem à mudança.

A propósito, Senhor Deputado Schulz – nem está a ouvir, mas não interessa, trata-se apenasdo jogo do debate parlamentar, em que falamos ostensivamente de forma desencontrada.

(Protestos)

O senhor deputado falou na pobreza que pode resultar dos preços da energia. Tem toda arazão. No entanto, Senhor Deputado Schulz, para sermos justos, teremos de fazer a seguintepergunta: porque são tão altos os preços da energia? Qual a razão? Que contributo damosnós quando adoptamos medidas políticas que prejudicam constantemente os preços? Esseé também um factor determinante – não o único –, que deve ser incluído num debatehonesto, e temos de ter em conta os novos requisitos que, de manhã à noite, estãoconstantemente a ser adoptados aqui.

Em minha opinião, esta cimeira constitui uma grande oportunidade para avançarmosfinalmente na questão da infra-estrutura e garantirmos o investimento nela e na energia,porque todas as restantes questões dependem do nosso sucesso nesta fase. Teremos aindade tratar a questão dos preços, a da confiança e, também, a de saber se as energias renováveissão correctamente integradas na rede, mas, infelizmente, para isso precisamos de uminvestimento considerável. Além disso, o Estado não poderá, por si só, suportar esse custo.

(O orador aceita responder a uma pergunta ao abrigo do procedimento "cartão azul" – artigo 149.º,n.º 8, do Regimento)

PRESIDÊNCIA: ROUČEKVice-presidente

Rebecca Harms (Verts/ALE). – (DE) Senhor Presidente, relativamente aos preparativosexaustivos para a cimeira dedicada à energia e quanto às áreas prioritárias no plano político,quero perguntar-lhe o seguinte, Senhor Deputado Reul: qual é a sua opinião sobre o factode, numa entrevista incluída na edição de hoje do jornal alemão Frankfurter AllgemeineZeitung, o Comissário Oettinger ter alertado a União Europeia em relação à fixação deobjectivos demasiado ambiciosos em matéria de energias renováveis? Passaram-se apenasalgumas semanas desde a entrada em vigor da Directiva "Energias Renováveis", de quetodos nós tanto nos orgulhamos. Quanto aos preparativos exaustivos sobre o tema daeficiência energética: qual a sua opinião em relação ao facto de o plano de acção para aeficiência energética estar ainda na gaveta, o que impede que seja discutido na cimeira?

Herbert Reul (PPE). – (DE) Senhor Presidente, há políticos que exigem constantementenovidades, mas nunca levam as coisas até ao fim. Há também políticos que se preparamexaustivamente e que aplicam as iniciativas. Essa é precisamente a questão. Não concordoque se façam exigências constantes, pelo que o Comissário Oettinger tem toda a razão.Façamos primeiro o que já nos comprometemos a fazer.

O deputado Schulz referiu, e muito bem, que, em muitos Estados-Membros, a questão daeficiência deixa muito a desejar e que muitos Estados-Membros não atingiram ainda assuas quotas em matéria de energias renováveis. Nós somos bastante bons, mas nãosuficientemente bons. Por outras palavras, estamos ainda muito longe de onde quereríamos

25Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

estar. Por vezes, é mais sensato cumprir os objectivos fixados para serem alcançados emprimeiro lugar, antes de dar o passo seguinte. Há pessoas que tentam ir demasiado depressae, depois, tropeçam nos próprios pés.

Marita Ulvskog (S&D). – (SV) Senhor Presidente, como foi referido pelo senhordeputado Schulz, o Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas noParlamento Europeu promoveu ontem uma cimeira sobre energias alternativas. Fizemo-lonuma altura em que cada vez mais famílias e cidadãos não têm possibilidade de aqueceras suas casas, ao mesmo tempo que a indústria, que depende da energia e tem de sercompetitiva, se debate com muitas dificuldades. Outra razão para a sua realização prende-secom o facto de as iniciativas ao nível político mais elevado da UE serem muito poucas,espaçadas e extremamente fracas neste domínio. Respondendo ao que o senhordeputado Reul afirmou – deu-se início a algumas coisas, mas acabaram por ficar no papele nunca saíram da gaveta.

A mensagem da cimeira sobre energias alternativas para a cimeira da UE de amanhã émuito simples e clara. Ajam; façam alguma coisa – aqui e agora. Verifiquem se os objectivosvinculativos de eficiência energética são, na realidade, cumpridos. Por exemplo, existemna UE cerca de 190 milhões de edifícios que necessitam de aquecimento. Investir nelespara evitar o actual desperdício de energia traria benefícios financeiros e criaria emprego.Invistam em fontes de energia renováveis, a menos que acreditem que aquelas que temossão inesgotáveis, e invistam em redes de distribuição modernas e eficazes para todos ostipos de energia. Concedam aos consumidores e aos cidadãos direitos concretos einequívocos em relação às empresas do sector da energia. Garantam a transparência e amonitorização do mercado energético. Tal como não queremos um mercado financeiroque não funcione de forma adequada e que esteja fechado e sem qualquer regulamentação,também não queremos um mercado da electricidade que funcione como o mercadofinanceiro funcionava antes da crise.

Utilizem iniciativas radicais para mostrar que a procura energética é uma questão deresponsabilidade social e de decisões políticas, e não um assunto privado com que o cidadãotem de lidar individualmente e por sua conta. Provem, como afirmou o senhordeputado Schulz, que sabemos que a política energética é também política social, políticaindustrial e uma política para o futuro.

Fiona Hall (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, a cimeira de sexta-feira pretende centrar-seestrategicamente na energia e na inovação. Espero que os Chefes de Governo não se deixemdistrair demasiado pela situação no Egipto. Espero, também, que as indispensáveisdiscussões sobre as infra-estruturas energéticas e a cooperação transfronteiriça – a vertenteda oferta de energia – não desviem a atenção do debate sobre a vertente da procura deenergia, que é igualmente importante.

O objectivo de 20% até 2020 para a eficiência energética está muito longe de ser alcançado.O que precisamos de ouvir dos nossos dirigentes na sexta-feira é o seu forte empenhamentona tomada de medidas imediatas para retomar o processo. Tornar imediatamente vinculativoo objectivo de 20% seria a forma mais simples de o fazer. De outra forma, limitamo-nosa desperdiçar grande parte do aprovisionamento energético que tão dispendiosamenteestamos a garantir. Não é boa economia, em particular numa altura de crise.

Claude Turmes (Verts/ALE). – (EN) Senhor Presidente, penso que a importância atribuídaà energia reflecte-se claramente no facto de o Senhor Presidente do Conselho Herman VanRompuy não estar presente por estar a dar uma conferência de imprensa, e de o Senhor

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT26

Presidente da Comissão, Durão Barroso, já ter saído. É esta a importância que dão ao quedizemos.

Ontem, o senhor Jeremy Rifkin esteve em Bruxelas a convite do Grupo S&D e expôsclaramente uma nova visão da economia. Em primeiro lugar, as energias renováveis, quejá consagrámos numa directiva. Em segundo lugar, qualquer edifício que consuma 40%da nossa energia pode ser transformado num edifício de baixo consumo energético seutilizarmos energias renováveis, mesmo tratando-se de um edifício de energia positiva.Em terceiro lugar, penso que a necessidade de acelerar as redes de electricidade é consensual.Em quarto lugar, temos de recorrer com urgência à I&D para desenvolver tecnologias dearmazenamento e, posteriormente, automóveis eléctricos.

Com estas cinco soluções, e, claro, com o que a senhora deputada Fiona Hall referiu apropósito do grande tema da eficiência em todos os sectores, começaríamos por tornar aeconomia europeia uma economia muito menos dependente a nível geopolítico. Emsegundo lugar, pouparíamos 300 mil milhões de euros que são desviados para fora daeconomia europeia e utilizaríamos esse dinheiro para investir no emprego e noutrosinvestimentos na UE. Em terceiro lugar, a corrida às tecnologias verdes já começou; bastaler o novo plano quinquenal da China.

Se, nos próximos meses, não criarmos o quadro que permite que a Europa se torne omercado-piloto de todas estas tecnologias, sairemos a perder num dos poucos sectores emque ainda lideramos a economia mundial. É uma pena esta cimeira não ter sido bempreparada – parte da responsabilidade cabe ao Senhor Presidente do Conselho HermanVan Rompuy e ao Senhor Comissário Oettinger. Não preparou nenhum documentoconsistente sobre eficiência e energias renováveis e passou os últimos três meses a ser ocavalo de Tróia de duas ou três grandes empresas alemãs de electricidade que queriamdestruir a indústria das energias renováveis.

Finalmente, algo em que obtivemos êxito: a possibilidade de derrotarmos a pretensão doSenhor Comissário Oettinger de destruir os regimes de apoio nacionais é de 26 para 1.Apenas os Países Baixos o apoiam. Trata-se de uma vitória muito importante, e as energiasrenováveis continuarão. São a energia número um do futuro.

Konrad Szymański (ECR). – (PL) Senhor Presidente, estamos prestes a tomar a decisãode atribuir mil milhões de euros à expansão da infra-estrutura energética na União Europeia.Gastar dinheiros públicos em questões energéticas só faz sentido se isso nos ajudar asatisfazer as exigências em matéria de segurança. A segurança energética da União Europeiadepende de uma ampla diversificação, que pressupõe não só novas vias de transmissão,mas também o acesso a novas fontes de combustíveis. De outra forma, repetiremos oserros cometidos no Programa RTE-T, que reivindicou o selo europeu para projectos comoo Nord Stream. Não precisamos de novas vias para trazer mais do mesmo combustívelrusso para o mercado europeu. Se repetirmos os erros anteriores, os nossos mil milhõesde euros pagarão apenas um simulacro de mercado e de concorrência.

Vladimír Remek (GUE/NGL). – (CS) Senhor Presidente, espero que a cimeira sobreenergia proporcione, sobretudo uma abordagem ampla, mas também compreensível,relativamente aos interesses dos cidadãos. De acordo com os últimos inquéritos do Eurostat,a estabilidade dos preços da energia constitui uma das principais prioridades para umagrande percentagem dos habitantes da UE. Não é por acaso que a República Checa apareceem primeiro lugar nesta estatística. Neste país, um grupo de interesses políticos eeconómicos irresponsável promoveu um apoio financeiro inadequado às centrais de energia

27Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

solar. A precipitação feroz dos especuladores, incluindo estrangeiros, e a sua busca deelevadíssimos lucros está a colocar o público contra as energias renováveis em si, porqueos cidadãos estão perante um aumento desnecessariamente elevado dos custos da energia.É naturalmente difícil garantir energia suficiente a preços aceitáveis, mas, pelo menos,podemos aproximar-nos disso. Em minha opinião, a resposta está, também, na exigênciade um pacote energético equilibrado, desde as energias renováveis à energia nuclear, e narejeição de pontos de vista extremistas de ambos os lados. Só assim ganharemos a confiançados cidadãos da UE, que são, afinal, quem estamos aqui a representar.

Mario Borghezio (EFD). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, oConselho deve atender ao facto de o sistema produtivo europeu não ter qualquer defesacontra a instabilidade dos preços do petróleo nos mercados, porque os mercados a prazoestão a ficar reféns de uma especulação financeira internacional sofisticada, o que significaque, actualmente, os preços pouco têm a ver com os princípios fundamentais da oferta eda procura. O Conselho deve fixar a si próprio o objectivo de providenciar um instrumentoprático à União Europeia para a criação de um mercado regulamentado, aberto a operadoresseleccionados e gerido por um parceiro europeu inteiramente confiável.

É nesse sentido que vai uma proposta do governo italiano de criação de uma bolsa europeiado petróleo destinada a estabelecer um mercado de petróleo estável, que seria extremamentebenéfico para empresas e consumidores. O entusiasmo dos especuladores pelasmatérias-primas está a influenciar os preços do petróleo, que já não se baseiam no mercadode pronto pagamento, dado que o efeito cumulativo dos pagamentos antecipados e dasmanobras especulativas acaba por determinar a oferta e a procura no mercado real. Umabolsa europeia pode transformar o actual "não-mercado" de barris de papel num mercadoverdadeiro de barris de petróleo, eficiente, regulamentado e monitorizado. Tambémdevemos debater esta questão com o Conselho.

Csanád Szegedi (NI). – (HU) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,congratulo-me com o facto de o Conselho Europeu debater simultaneamente os temas dasegurança energética e da inovação. É inquestionável que a segurança energética não podeser debatida sem incluir a inovação. Naturalmente, consideramos importante a construçãode um oleoduto norte-sul, para além do oleoduto este-oeste, mas isso não resolverá, nemde perto nem de longe, os problemas resultantes da questão do aprovisionamentoenergético. Além do mais, a redução da dependência não será significativa; só muda adirecção da dependência. Esta só pode ser minimizada a longo prazo se, a partir de agora,passarmos a privilegiar as fontes de energia renovável em relação aos combustíveis fósseis.

É precisamente a este propósito que constato a falta de ênfase no tema das energiasrenováveis entre as prioridades para a inovação. A este respeito, há duas coisas em particularque devemos referir: por um lado, as fontes de energia renovável devem ser acessíveis, oque quer dizer que não se devem impor encargos adicionais à população por utilizá-las.Por outro lado, não se deve permitir que a dependência do exterior da União Europeia setransforme em dependência no seu seio, isto é, os novos Estados-Membros menosdesenvolvidos, nomeadamente a Hungria, a Polónia e a República Checa, devem poderaproximar-se em termos de fontes de energia renovável de antigos Estados-Membros comoa Bélgica, os Países Baixos ou a Áustria, que já são grandes potências nesta matéria.

Só através da integração estreita entre a segurança energética e da inovação evitaremos acrise energética que se aproxima e que também afectará a Europa.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT28

Jean-Pierre Audy (PPE). – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhora Presidenteem exercício do Conselho, não haverá progresso social sem crescimento nem crescimentosem energia.

A energia está no cerne do pacto social europeu de prosperidade. Cinquenta por cento donosso aprovisionamento energético vem do exterior da União. É necessário diversificarurgentemente o aprovisionamento e torná-lo mais seguro e "descarbonizado". Trata-se danossa energia e da segurança que devemos proporcionar aos nossos concidadãos.

Sou por isso levado a pedir-lhe, Senhora Presidente em exercício do Conselho, que apoietambém os compromissos que assumimos, no plano internacional, com o projecto ITER,ou seja, o projecto da fusão. Esta tecnologia é segura, é sustentável, é gratuita e é inesgotável.Seria bom que o Conselho Europeu, a instância política mais elevada, apoiasse este projectonas suas relações com a comunidade internacional.

O que me leva ao tema da investigação e da inovação. Desde a década de 1980 que osprogramas-quadro de investigação e desenvolvimento são instrumentos de intervençãoda Europa. Para o período de 2007-2013, reservaram-se 53 mil milhões de euros. Atéonde chegámos? Há quatro meses que esperamos pela sua comunicação sobre a revisãodo sétimo programa-quadro, Senhor Comissário. O Senhor Presidente Barroso afirmouque era necessário haver "menos burocracia". Tem toda a razão. Fomos apanhados numaasfixia administrativa, e os investigadores estão a afastar-se dos programas europeus.

Quero chamar a vossa atenção para a necessidade urgente de simplificar futurosprocedimentos e resolver conflitos antigos, porque temos um problema de confiança comos institutos de investigação. Quero agradecer à Senhora Comissária Geoghegan-Quinno seu excelente trabalho neste domínio.

As relações com a política industrial, que são decepcionantes, devem ser avaliadas. Depoisde um início tremido, as iniciativas tecnológicas conjuntas estão a marcar uma verdadeiradiferença em termos de reconhecimento das necessidades industriais.

Finalmente, como vamos estruturar o nosso espaço europeu? É necessário que o ConselhoEuropeu de Investigação se torne uma organização capaz de garantir que a nossainvestigação seja verdadeiramente europeia. Esta é a Europa de resultados que os nossosconcidadãos europeus desejam.

Teresa Riera Madurell (S&D). – (ES) Senhor Presidente, o nosso grupo realizou ontemuma cimeira sobre energias alternativas em que foi pedido que fossem estabelecidas asmetas vinculativas de 20% de eficiência energética vinculativa e 30% de energias renováveisaté 2020.

Em vez de me centrar nas nossas reivindicações em detalhe, algo que alguns dos meuscolegas fizeram, quero salientar um ponto sem o qual os objectivos que referi não serãopossíveis: as infra-estruturas. A questão é a seguinte: queremos, de facto, um mercadoeuropeu em que um terço da energia fornecida seja composto por energias renováveis? Sea resposta é sim, não deveríamos estar a falar de tornar obrigatória uma meta de 10% dasinfra-estruturas até 2020?

A prossecução dos objectivos relativos às energias renováveis exige uma rede maisorganizada, inteligência e, sobretudo, interconexão, para permitir uma gestão adequadada sua variabilidade. Contudo, estamos longe de alcançar a meta de 10% fixada há quaseuma década no Conselho Europeu de Barcelona. Actualmente, são nove os países que ainda

29Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

não atingiram essa meta; estou certa de que concordam comigo quando digo que, sequeremos ter êxito, necessitamos que este objectivo obtenha um nível de adesão semelhanteao dos anteriores.

Por conseguinte, quero manifestar à Senhora Presidente em exercício do Conselho o desejodo nosso grupo de que a próxima cimeira chegue a conclusões muito mais ambiciosas;conclusões que falem de níveis de energias renováveis na ordem de 30%, 20% de eficiênciae 10% de interconexões, todos eles vinculativos.

Quero ainda dizer uma palavra sobre o tema da inovação: outro domínio acerca do qualgostaríamos de ver mais ambição nas conclusões do Conselho é o dos contratos públicosinovadores. No meu grupo, consideramos a adjudicação de contratos de produtos, processose serviços inovadores um dos principais elementos potenciadores da inovação no mercado.

Estamos particularmente interessados em promover e analisar a sua ligação com associaçõeseuropeias para a inovação no quadro da União Europeia para a inovação. É outra questãoque o Conselho não deve ignorar.

Adina-Ioana Vălean (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, o investimento em infra-estruturasenergéticas é, em minha opinião, o ponto de partida para a prossecução dos nossosobjectivos políticos, porque garante o acesso dos nossos concidadãos e das empresas auma energia segura e a preços acessíveis num mercado interno funcional, e concretiza oambicioso pacote de medidas da Comissão no domínio das infra-estruturas energéticas, oque considero um passo positivo.

Devemos, no entanto, ser pragmáticos e ambiciosos. Em vez de gastarmos rios de dinheiroem grandes projectos, devemos concentrar-nos na identificação e financiamento deprojectos mais pequenos, rentáveis e pragmáticos que podem fazer uma diferençasignificativa, como melhores interconexões. Penso que, como solução para encorajar oinvestimento necessário em infra-estruturas, devíamos considerar a hipótese de lançarobrigações da UE relativas a determinados projectos.

Mas a presente crise obriga-nos sobretudo a adoptar uma abordagem sensata, aberta eintegrada em relação à nossa política energética: em primeiro lugar, a tomar emconsideração todos os componentes do pacote energético sem diabolizar nenhum deles,e, em segundo lugar, a conciliar, com a ajuda de um roteiro integrado, os nossos objectivospor vezes contraditórios em matéria de clima, segurança do aprovisionamento ecompetitividade.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL). - Já sabemos que o aprofundamento do mercado únicosignifica mais liberalizações e, em seguida, uma maior concentração monopolista a favordos maiores grupos económicos dos países mais desenvolvidos da União Europeia.

Queremos aqui tornar clara a nossa oposição a este caminho, em áreas que são estratégicaspara o desenvolvimento económico e social, designadamente nos países da periferia, comosão as questões da energia. Mas o mais grave é que tudo aquilo que aqui foi referido peloConselho e pela Comissão, nomeadamente sobre o reforço da dita governação económica,ignora a realidade dos problemas sociais, o agravamento das desigualdades, do desemprego,da exclusão social e da pobreza energética, que cresce exponencialmente nalguns paísescom o aumento dos preços da electricidade e dos combustíveis.

As políticas económicas e as políticas energéticas deveriam ter um objectivo central: oprogresso social, a melhoria das condições de vida dos nossos povos, mas o que se passa

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT30

é o contrário. Por isso, aqui fica a indignação que vemos crescer nas ruas em muitos dosnossos países e agora também na Tunísia, no Egipto, a cujos povos mandamos a nossasolidariedade e também queremos que sejam respeitados os seus direitos, designadamentepelo Conselho, que deveria tomar uma posição clara sobre tudo isto.

Jacek Saryusz-Wolski (PPE). - (EN) Senhor Presidente, actualmente, é mais do que óbviaa necessidade de a UE "energizar a sua energia", se atendermos ao problema da segurançaenergética, à situação geopolítica envolvente e à própria política da energia.

Neste domínio, a UE não deveria – como acontece em relação à situação no Egipto e naTunísia – deixar-se ultrapassar pelos acontecimentos. No entanto, fazendo minhas aspalavras do senhor deputado Gahler, os EUA estão um passo atrás dos acontecimentos,os Estados-Membros estão um passo atrás dos EUA e Bruxelas está um passo atrás dosEstados-Membros.

Há quatro anos sofremos uma grave crise energética e em 2007 adoptámos neste Hemicicloum relatório sobre segurança energética. Quatro anos depois encontramo-nos numa fasemuito inicial da implementação de uma política de energia comum, incluindo de umapolítica para a segurança energética. É muito importante que este Conselho, nesta próximacimeira, traduza essa mudança das palavras para a acção.

Necessitamos de segurança energética em termos práticos, e não apenas de programas ede documentos, e de palavras e de papéis. É tempo de acordarmos. E se, em termosgeopolíticos, sobrevierem mudanças de efeitos graves no Norte de África e no MédioOriente? Estamos a assistir neste momento ao desenrolar de acontecimentos com impactosprofundos. O custo do petróleo atingiu de novo os 100 dólares. Se, no pior cenário, oCanal do Suez fosse bloqueado, estaríamos preparados, enquanto União, para garantir asustentabilidade do aprovisionamento energético? Já viram em que ponto nos encontramos?Após quatro anos de tempo perdido, não estamos preparados para uma possível futuracrise energética.

Por essa razão, esperamos, fundamentalmente, que o Conselho Europeu seja capaz deoperar uma mudança efectiva em termos do desenvolvimento de um verdadeiro mercadointerno de energia e da segurança do aprovisionamento energético no sentido físico ematerial.

Jo Leinen (S&D). – (DE) Senhor Presidente, na sexta-feira irá realizar-se a primeira cimeirasobre energia da história da União Europeia, dado que, com a entrada em vigor do Tratadode Lisboa, a União passou a ter responsabilidades directas neste domínio. Concordo como Senhor Presidente Barroso quando diz que a política de energia poderá ser o próximogrande projecto de integração da União Europeia. É uma questão que envolve muitosaspectos e o Senhor Presidente Buzek manteve sempre que necessitávamos de umacomunidade energética na UE.

Em relação à cimeira, existiam muitas expectativas de que esta pudesse fornecer umaresposta às questões estratégicas da União Europeia em matéria de aprovisionamentoenergético. Que questões estratégicas são essas? Sim, senhor deputado Saryusz-Wolski,passam pela dependência da UE de energia importada. Passam pela enorme quantidade deenergia que continuamos a desperdiçar e, bem assim, pelas consequências negativas doactual sistema energético para os ecossistemas e, em particular, para a atmosfera terrestre.No entanto, ao olhar para as conclusões do Conselho, fico com a convicção de que estacimeira sobre energia irá ser uma enorme desilusão, pois não irá dar resposta a nenhuma

31Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

destas questões fundamentais. De facto, a sua preparação deixa muito a desejar em termosde definição da visão comum de que necessitamos e em termos de coerência dos recursose instrumentos utilizados.

Gostaria uma vez mais de referir que ontem, na cimeira de energias alternativas do Grupoda Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, avançámoscom um conceito assente em cinco pilares que inclui propostas para respondermos a estasquestões estratégicas, incluindo soluções para a redução das importações de energia e dodesperdício energético e, naturalmente, para eliminarmos os impactos negativos noambiente. Essas soluções assentam no desenvolvimento das energias renováveis, noaumento da eficiência energética e na utilização das tecnologias de informação paracoordenar o emprego destas diferentes fontes de energia. Estamos a falar de uma cimeiraorientada para a inovação. Foi a primeira vez que ouvi referir a utilização das tecnologiasde informação como factor estratégico. Acredito, portanto, que necessitamos de levar acabo uma revolução tecnológica, e esta cimeira deveria encaminhar-nos nesse sentido.Contudo, tenho a impressão de está a tomar a direcção errada.

PRESIDÊNCIA: Jerzy BUZEKPresidente

Georgios Toussas (GUE/NGL). – (EL) Senhor Presidente, a próxima reunião do ConselhoEuropeu irá realizar-se num cenário de crise capitalista contínua e de intensificação dacompetição entre monopólios, no seio da União Europeia, e entre a União Europeia eoutros centros imperialistas, pela energia e pela inovação. Estes dois sectores são vitaispara o capital. Actualmente, vastas regiões do planeta, como o Médio Oriente e oscontinentes asiático e africano, são palco de dura competição imperialista e de luta pelocontrolo de recursos geradores de riqueza e de rotas de transporte de energia, que provocamuma imensa pobreza e conduzem a uma exploração e repressão cruéis, envolvendo asclasses burguesas locais e em detrimento do povo. Esta política reaccionária está a darorigem a revoltas populares, como as que estão a verificar-se no Egipto e noutros países,provando assim que o povo é o protagonista da História.

O Partido Comunista grego manifesta a sua solidariedade para com o povo em protestono Egipto. Exorta as pessoas a expressarem o seu apoio e a sua solidariedade sinceros. Aprincipal prioridade da cimeira, que não consta formalmente da ordem de trabalhos, masirá estar em discussão, é a Estratégia UE-2020. As prioridades em termos de implementaçãode uma governação económica reforçada seguirão o mesmo caminho.

Paulo Rangel (PPE). - Não tenho dúvidas de que este Conselho será muito importanteessencialmente para aquilo que está relacionado com o relançamento das economiaseuropeias, designadamente as matérias da energia e da inovação. E, por isso, não queriadeixar de sublinhar que este Conselho faz parte, no fundo, da implementação desta Estratégia2020 para a Europa e, portanto, faz parte daquela metade, ou daquela face da moeda queé a face do crescimento, da competitividade, do relançamento das economias.

Mas, por isso ser tão importante, eu queria deixar aqui, e é esse o sentido da minhaintervenção, um apelo. Um apelo a que neste Conselho, por entre assuntos tão importantescomo a energia e a inovação, se discuta também e se prepare uma solução para a crisefinanceira em que vive a União Europeia. Eu julgo que nós não podemos perder tempo.

E se não podemos esperar do Conselho da próxima sexta-feira, se não podemos esperardesse Conselho uma solução para este problema, embora a esperemos no de Março, é

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT32

fundamental que os Chefes de Governo e os Chefes de Estado da União Europeia preparem,já a partir de 4 de Fevereiro, a flexibilização do Fundo de Estabilização e também, ao mesmotempo, o relançamento do Governo Económico Europeu.

Julgo que esta matéria é essencial e não pode ficar à margem deste Conselho. E, já agora,se me permitem, ainda uma outra nota para este Conselho: que este Conselho preparetambém uma estratégia da União Europeia para o Mediterrâneo. Que prepare uma respostaàs situações em que vive actualmente a Tunísia e o Egipto. E, portanto, apesar da importânciada matéria da energia e da inovação, que a matéria da crise financeira e da crise políticanos países do Norte de África seja tratada por este Conselho.

Kathleen Van Brempt (S&D). - (NL) Senhor Presidente, gostaria de pedir às senhorase aos senhores deputados que se fixassem no convite do Senhor Presidente do ConselhoVan Rompuy para a próxima reunião do Conselho. Nele, ele anuncia que, cito: "Iremosdiscutir sobre o tema da energia, com destaque para a questão do aprovisionamento e dasegurança energéticos". No entanto, o Conselho está a lançar-se no debate errado. Oaprovisionamento e a segurança energéticos são importantes, é claro que sim, masessencialmente e apenas no quadro de um objectivo mais global, e, em particular, de umsistema energético que se pretende completamente independente e sustentável no longoprazo.

Concordo, naturalmente, com muitos dos pontos que aqui foram levantados, mas gostariaque o debate reflectisse uma visão de mais longo prazo. O senhor deputado Reul, Presidenteda Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia, de que faço parte, que não seencontra aqui presente, disse que os políticos não deveriam apresentar demasiadas propostasnovas. Bem, penso que ele está errado a esse respeito. Compete aos políticos terem umavisão para o futuro e formularem objectivos de acordo com essa visão.

O nosso objectivo deve ser mudarmos completamente para as energias renováveis até2050. Não são apenas alguns políticos a título individual ou alguns grupos políticos queo defendem. Não, os cientistas afirmam que isso é perfeitamente viável, se começarmos atomar as medidas certas agora para conseguirmos alcançar esse objectivo até 2050. Há,depois, a questão da eficiência energética, que já foi referida por vários colegas. Consideroque o Senhor Presidente Barroso fez várias observações positivas sobre essa matéria eespero sinceramente que o Comissário competente não defraude as expectativas.

Além disso, necessitamos de fazer investimentos consideráveis em energias renováveis: anível local, regional, mas também no âmbito de um conjunto de projectos especiais degrande importância, como é o caso do Anel do Mar do Norte e de grandes projectosrelacionados com painéis solares.

Por ultimo, e é aqui que a Europa tem uma tarefa muito especial a desempenhar,necessitamos de uma rede energética que garanta a concretização de tudo isso. É daresponsabilidade da União Europeia fornecer o financiamento, e o Conselho deveria tomardecisões na próxima sexta-feira.

Marian-Jean Marinescu (PPE). – (RO) Senhor Presidente, a cimeira sobre energia poderácolocar a União Europeia de novo no caminho do crescimento económico. No quadro dasua ambição de se tornar a economia mais sustentável do globo, a União tem de traçaruma nova visão para a Europa no domínio da energia. É necessário adoptarmos umaabordagem coerente, comum em matéria de produção e de eficiência.

33Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Produção significa fontes, transporte e distribuição. As regiões do mar Negro e do marCáspio dispõem de novas fontes de energia que podem ser desenvolvidas no longo prazo.Poderemos criar novas rotas de transporte nesta região. O corredor Sul e, em particular, ogasoduto Nabucco são de importância crucial. A estratégia para o Danúbio também poderácontribuir para o desenvolvimento de novas rotas de aprovisionamento de gás e de petróleo.Não podemos discutir uma política comum sem uma rede energética comum. A interligaçãodas redes nacionais é o primeiro passo para um mercado interno único de energia.

A eficiência energética é um factor fundamental. Já demos alguns passos nessa direcção,mas a União tem de implementar o plano de acção neste domínio nos próximos anos. Apolítica de eficiência energética irá ter um enorme impacto ao nível do crescimentoeconómico, dos métodos utilizados para reduzir as emissões de CO2 e da criação deempregos em áreas como as tecnologias de informação, a construção e os serviços.

Quanto à situação no Norte de África, considero essencial que as propostas de acçãoapresentadas pelo Conselho velem por uma transição pacífica na região e por que as novasorganizações assumam o poder de forma democrática.

Edite Estrela (S&D). - Senhor Presidente, energia e inovação são dois assuntos muitoimportantes, que estão na base da Estratégia Europa 2020, e que podem contribuir parao crescimento sustentável e inteligente e para a criação de mais e melhores empregos.

Aliás, energia e inovação são áreas em que o meu país, Portugal, tem feito grandesinvestimentos e com bons resultados. Nos últimos anos Portugal duplicou o investimentoem I&D e atingiu o top 5 das energias renováveis, de tal modo que 31% da electricidadeconsumida provém já de fontes renováveis e espera-se que em 2020 sejam 60%.

Mas este Conselho não pode ignorar, como já aqui foi dito, o que está a acontecer no Egipto,uma revolução popular. E também não pode ignorar a crise financeira e económica. OsEstados-Membros da zona euro com maiores dificuldades estão a fazer o que devemadoptando medidas de austeridade, necessárias para conter o défice e acalmar os mercados,medidas que exigem grandes sacrifícios às famílias e às empresas.

E a União Europeia será que está a fazer o que deve? Não me parece! Perante os ataquesdos especuladores ao euro – porque é através das dívidas soberanas que os especuladoresatacam a moeda única – a resposta europeia tem sido casuística, tardia e ineficiente. Odiagnóstico está feito e a receita é conhecida. A União Europeia deve melhorar acoordenação económica e reforçar e flexibilizar o Fundo de Estabilização Financeira parapoder comprar a dívida pública dos países mais pressionados pelos mercados. Ou seja,estamos perante problemas globais que exigem uma resposta global. Também é isso queos cidadãos esperam do próximo Conselho Europeu.

Lambert van Nistelrooij (PPE). - (NL) Senhor Presidente, momentos especiais exigempolíticas especiais e é certamente positivo que, neste momento em que nos debatemospara sair da crise, se tenha encontrado espaço na agenda do Conselho para a discussão dostemas específicos da energia e da inovação. A energia e a inovação são factores-chave paraa competitividade europeia e para a criação de emprego num futuro próximo. Já basta denúmeros e de relatórios. Temos de avançar e de evoluir.

É no domínio das infra-estruturas e das interligações transfronteiriças que o nosso atrasoé mais evidente. Deveríamos avançar agora com novos instrumentos, como, por exemplo,as obrigações-projecto, e utilizar as garantias do Banco Europeu de Investimento paraintensificar esforços com vista a tornar o investimento possível.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT34

O segundo ponto é, naturalmente, a inovação. No Painel Europeu da Inovação, publicadoesta semana, podemos ver que alguns países estão a ficar para trás neste domínio. Isso écompreensível, em tempo de crise, mas não deveríamos estar a mobilizar também outrosinstrumentos? Os fundos estruturais, por exemplo, que requerem co-financiamento públicopara a concretização das iniciativas. É imperativo que, no preciso momento em que estamosa descurar quase completamente essas áreas, coloquemos uma ênfase muito maior noinvestimento e na inovação. O Senhor Ministro também sugeriu isso. Estou a falar de umtipo de inovação capaz de fazer avançar novos projectos, sem que fossem necessárias, noimediato, novas injecções de capital. Isso iria certamente ajudar-nos a alcançar os objectivosda Europa 2020 de sustentabilidade, de actuação inteligente, que paralelamente tenha emconsideração as questões ambientais, e de criação de emprego. Desejo-vos sucesso.

Silvia-Adriana Ţicău (S&D). – (RO) Senhor Presidente, na cimeira europeia sobre energiaque irá realizar-se em 4 de Fevereiro, a União Europeia tem de chegar a um acordo ao maisalto nível da esfera política sobre as medidas prioritárias a tomar com vista aoestabelecimento do mercado interno de energia e ao desenvolvimento da infra-estruturaenergética, bem como sobre medidas tendentes à redução do consumo energético, aoaumento da eficiência energética e à promoção de fontes de energia renováveis

A UE necessita de um plano de acção a pelo menos 10 anos que promova a solidariedadeinterna em caso de interrupções graves no aprovisionamento de energia e o aumento dasegurança em termos energéticos através da diversificação de rotas e de fontes deabastecimento. A União tem de modernizar as suas infra-estruturas energéticas e deassegurar a interligação das infra-estruturas energéticas dos Estados-Membros. Nestecontexto, devo sublinhar a importância geoestratégica da região do Mar Negro para asegurança energética da União Europeia.

O mercado comum da energia deverá servir o cidadão comum, para quem é essencial queo custo da energia se mantenha comportável, e contribuir para tornar a indústria europeiaecologicamente eficiente, proporcionando emprego na União Europeia e estimulando odesenvolvimento do sector industrial.

Romana Jordan Cizelj (PPE). - (SL) Senhor Presidente, no plano energético, a UE fixouobjectivos que abrangem os três pilares da política comum de energia: competitividade,sustentabilidade e segurança de aprovisionamento. Para alcançarmos esses objectivos, jáadoptámos dois vastos pacotes de medidas: o pacote do clima e da energia e o pacote daliberalização. Considero, portanto, que não necessitamos de mais legislação nesta matéria;na minha opinião, deveríamos, antes, concentrar-nos na implementação da legislaçãoexistente.

Que adianta definirmos mais metas no papel, e metas cada vez mais exigentes, se nãoconseguimos cumprir as actuais? Necessitamos melhorar a credibilidade da União, razãopor que defendo que não necessitamos de mais disposições para melhorar a nossa eficiênciaenergética. As empresas e os agregados familiares têm de tomar decisões de acordo comas condições do mercado. Até aqui, a melhoria da eficiência energética tem sido consideradaa medida mais económica, uma situação em todos os sentidos vantajosa, e não vejo, defacto, qualquer necessidade de definirmos novas metas vinculativas.

Por outro lado, é importante criarmos um ambiente favorável ao investimento eminfra-estruturas. É o mercado que tem de actuar, e não os fundos públicos de orçamentoseuropeus e nacionais. Temos que evitar os subsídios governamentais e outros mecanismosalheios ao livre funcionamento do mercado que conduzem à centralização da economia,

35Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

impedem a livre concorrência e asfixiam a criatividade. A energia é abrangida pelo Regimede Comércio de Licenças de Emissão (RCLE) e o preço das emissões de carbono deve ser oprincipal motor de desenvolvimento.

Além disso, é fundamental que melhoremos a coordenação e o planeamento estratégicoentre fronteiras no que respeita ao desenvolvimento de novas infra-estruturas. É por essarazão que a Agência de Cooperação dos Reguladores de Energia, ou ACER, que iniciará asua actividade em Março, em Ljubljana, deve receber todo o apoio para poder desempenhareficazmente as suas tarefas.

Tunne Kelam (PPE). - (EN) Senhor Presidente, apoio, em princípio, a ideia de um pactode competitividade europeu, que contenha disposições para a harmonização da idade dereforma e que, em especial, torne o processo de reconhecimento mútuo de qualificaçõesacadémicas e profissionais mais rápido e promova uma melhor coordenação dos esforçosde investigação e de desenvolvimento.

Sublinho a necessidade de desenvolvermos um mercado europeu de energia totalmenteintegrado até 2015. Posso acalentar a esperança de que, daqui a quatro anos, a Estónia, aLetónia e a Lituânia já não sejam ilhas isoladas em matéria de aprovisionamento de gás?

Esperamos poder assistir sob a Presidência húngara a progressos efectivos no que respeitaao desenvolvimento de uma rede europeia integrada de infra-estruturas e de interligaçõesde gás, de petróleo e de electricidade que se estenda desde o Báltico ao mar Adriático.

Apelo também ao Conselho para que salvaguarde uma produção local de electricidadesustentável estabelecendo condições de concorrência leal para os produtores de dentro ede fora da UE. Além disso, penso que era tempo de abordarmos ao nível da União oproblema das "fugas de carbono" no sector da electricidade.

Por último, gostaria de acrescentar que considero lamentável que os ministros dos NegóciosEstrangeiros da UE não tenham chegado a acordo sobre a condenação clara dos ataquessectários perpetrados contra os cristãos no Egipto e no Irão. Há duas semanas, o Parlamentoforneceu uma base sólida para a tomada de uma posição forte, unida em relação a estaquestão dramática. A ausência de uma reacção atempada do Conselho irá seguramentecriar a impressão de que a defesa das minorias cristãs tradicionais fora da Europa não éuma prioridade da UE.

Gunnar Hökmark (PPE). - (EN) Senhor Presidente, antes de mais, os cidadãos das naçõesárabes têm o mesmo direito à democracia e ao respeito dos direitos humanos que todosos outros. Considero imperativo que a União Europeia tenha uma política de apoio àsforças democráticas de todos os países que estão a ser palco de mudança. Devemos zelarpara que estas mudanças se traduzam efectivamente na implementação de regimesdemocráticos, onde os direitos humanos sejam respeitados, pois que afectam toda avizinhança europeia. Podemos observar essas mudanças tanto nos países da ParceriaOriental como nos países do Norte de África. É muito importante que transmitamos umamensagem firme, coerente e forte de apoio às forças democráticas, onde quer que seencontrem, contribuindo para as tornar o mais fortes possível.

Em segundo lugar, no que respeita à questão da energia, considero que necessitamos deeficiência energética. Temos vários programas que visam alcançar esse objectivo. Alémdisso, é fundamental que desenvolvamos sistemas e redes de distribuição de gás e deelectricidade comuns a nível europeu. É uma forma de utilizarmos os recursos energéticosde modo eficiente. Por outro lado, é necessário que atinjamos um nível de produção

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT36

suficiente para podermos abandonar os combustíveis fósseis, criando condições paratermos preços baixos sem emissões de dióxido de carbono. O abandono da produção deenergia nuclear está a travar a nosso progresso. O recurso às nossas próprias fontes deenergia e o desenvolvimento de uma rede de aprovisionamento comum e de um mercadointerno de energia são os caminhos a seguir.

Othmar Karas (PPE). – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, irei sermuito franco. Não vejo nenhuma determinação, nenhuma sinceridade, nenhum dinamismo.O tempo está a esgotar-se. Por vezes, tenho a impressão de que estamos ainda a tentarexpressar os nossos desejos aos Chefes de Estado ou de Governo, em vez de irmos directosà questão de definir o que é necessário fazer especificamente. Necessitamos com urgênciade ter mais coragem para termos mais Europa. Ter coragem para chegar a acordo sobre oque é necessário, e não apenas sobre o que é possível. Ter coragem para romper com atradição de bloquear ou de atrasar constantemente o que necessita de ser feito por motivosde política interna. Em vez de elaborarmos listas do que não é possível devido a egoísmosou a proteccionismos nacionais, devemos definir o que necessitamos de fazer em conjunto,enquanto Europa, para sermos competitivos e oferecermos a resposta adequada à crise.

Os acontecimentos exigem novos actos de solidariedade. Exigem que seja dado o passoseguinte no caminho da integração. Exigem a rápida correcção das falhas estruturais queexistem ao nível da união monetária e, em particular, ao nível da união económica e social.Sou a favor do pacto de competitividade e do mercado interno de energia, porque poderãoem certa medida garantir a diminuição dos preços, o aumento da nossa independência, ebem assim o crescimento e a criação de emprego. No entanto, devemos também dizer"sim" ao desenvolvimento das áreas da Investigação, da Inovação e da Educação, ou, poroutras palavras, a uma maior europeização das políticas de investigação e de educação.Concordo igualmente com a governação económica, desde que esta envolva a Comissão,mas sou contra um novo intergovernamentalismo que comprometa o Tratado de Lisboa.

Radvilė Morkūnaitė-Mikulėnienė (PPE). - (EN) Senhor Presidente, espera-se que oConselho Europeu decida que nenhum Estado-Membro da UE deverá permanecer umailha energética após 2015.

Por princípio, não existem interligações nos Estados-Membros em que o sector do gásnatural é dominado por um operador estabelecido. Quaisquer progressos ao nível deinfra-estruturas que permitiriam o acesso a novos intervenientes são muito lentos porqueos monopólios integrados verticalmente investem sobretudo na maior consolidação doseu domínio, e é difícil atrair novos investidores para um mercado fechado.

A execução da directiva comunitária relativa ao gás – ou seja, a separação da propriedade– constitui a única forma eficaz e razoável de encorajar investimentos em infra-estruturas(neste caso na Lituânia), de criar concorrência e acelerar a integração no mercado internoda energia da UE.

No entanto, é absurdo que um Estado-Membro da UE esteja a ser ameaçado, ou atédiscriminado, por executar a legislação comunitária, enquanto a própria UE aparentementeassume um papel passivo.

Por conseguinte, gostaria de solicitar aos colegas deputados, à Comissão e ao Conselho,que utilizem todas as oportunidades para manifestarem abertamente o seu desagrado pelapressão que está a ser exercida sobre um Estado-Membro para não executar o acervocomunitário; e que consolidem o apoio a esse Estado-Membro na reunião do Conselho

37Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Europeu. Gostaria de referir igualmente que a execução da directiva comunitária relativaao gás na Lituânia está a ser acompanhada de perto por outros Estados-Membros comcondições semelhantes.

Sem este acesso, o objectivo de obter um mercado interno da energia na UE plenamenteintegrado e funcional até 2014 será posto em causa.

Arturs Krišjānis Kariņš (PPE). – (LV) Senhor Presidente, neste Parlamento, temosopiniões divergentes sobre o que é mais importante para o desenvolvimento energéticona Europa. Há quem acredite que a resposta reside, nomeadamente, na procura de umcabaz equilibrado de energias, desde as fontes renováveis ao nuclear, rejeitando pontos devista extremistas de ambos os lados. Contudo, um aspecto com que, penso, todosconcordamos é o facto de necessitarmos de redes energéticas comuns na Europa, para pôrfim a uma situação onde alguns Estados-Membros estão completamente isolados dosoutros, no sector da electricidade ou no sector do gás. Neste contexto, ocorrerá umadiscussão na reunião do Conselho a realizar esta sexta-feira sobre como desenvolver redesenergéticas comuns na Europa e, onde aplicável, considero que a questão mais importanteé a proveniência do financiamento. O financiamento tem de ser assegurado para os projectosque não são viáveis directamente a nível comercial a curto prazo – financiamento conjuntopara eliminar ilhas energéticas.

Agradeço a vossa atenção.

Csaba Sándor Tabajdi (S&D). – (HU) Senhor Presidente, gostaria de felicitar a Presidênciahúngara da UE por este tema extremamente importante estar finalmente a ser discutidoao mais alto nível no Conselho. Uma energia a preços comportáveis e universalmenteacessível é do interesse de todos os Estados-Membros da UE. A União Europeia tem deutilizar todas as fontes de energia possíveis. No entanto, esquecemos algo em que ninguémreparou. György Oláh, nascido na Hungria e laureado com o Prémio Nobel, descobriu umaeconomia de metanol. Actualmente já existe um número elevado de centrais de metanolna China, mas na Europa este tipo de fonte de energia só existe na Islândia. Não existequalquer economia com base no metanol na UE, apesar de ser extremamente barato, poisgera energia a partir de dióxido de carbono, água e electricidade, que pode ser utilizadapara alimentar automóveis, para gerar electricidade, aquecimento e para outros fins.

Andrew Henry William Brons (NI). - (EN) Senhor Presidente, uma das questões adiscutir no Conselho Europeu é a melhoria das condições-quadro – sejam quais forem –para investigação e inovação na União Europeia.

É evidente que existe uma distinção entre invenção e inovação, e entre estes dois aspectose os registos de patentes. Porém, se fôssemos considerar a fonte geográfica de qualquer umdestes aspectos, ou de todos, não observaríamos uma distribuição geográfica por todo omundo.

Encontraríamos um número desproporcionado em certos países do mundo com ligaçõesdirectas ou históricas à Europa. Porque será? Poderá o motivo conceder-nos uma pista paraas condições-quadro que a União da Inovação tanto procura? Qual poderá ser a explicação?Bem, depois de excluirmos o clima, uma substância presente na água, a dieta e os hábitosde higiene num clima frio, o que nos resta?

Receio que não tenha uma resposta. Mas seja o que for, temos de garantir que nãodescuramos esse elemento por ignorância.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT38

András Gyürk (PPE). – (HU) Senhor Presidente, a cimeira da energia em 4 de Fevereiropode constituir um verdadeiro avanço, em que se passe finalmente das palavras aos actos.A questão da estratégia e, simultaneamente, da infra-estrutura necessária à sua execuçãoserá apresentada ao Conselho. Espero que o resultado confirme as nossas expectativas eque em 4 de Fevereiro possamos testemunhar a criação de uma verdadeira política energéticacomum europeia.

Se me permite uma consideração final, Senhor Presidente, gostaria de referir que saúdo acorrespondência entre a Comissão Europeia e o Governo húngaro no domínio da legislaçãohúngara sobre meios de comunicação social. Congratulo-me por o diálogo estar a seguiro curso processual comum a estes domínios. As partes interessadas na resolução destaquestão deverão ser assim tranquilizadas. Estou convencido de que o caso poderá serencerrado em poucas semanas. Quaisquer novos ataques políticos maliciosos e infundadosserão redundantes. Acredito que é este o interesse da UE, e não o que foi demonstrado,infelizmente, hoje numa intervenção neste Parlamento.

Zigmantas Balčytis (S&D). - (LT) A próxima década será crucial para toda a UniãoEuropeia, pois os Estados-Membros terão de tomar decisões importantes: a substituiçãodos recursos e da infra-estrutura existentes e a resposta à crescente procura de energia, queserão essenciais para o desenvolvimento económico europeu no futuro. Este ConselhoEuropeu sobre energia é de facto muito importante. Pode tornar-se um acontecimentohistórico se houver um acordo sobre os princípios específicos para o desenvolvimento domercado interno da energia. Deste modo, todos os 27 Estados-Membros da União Europeiapoderiam coordenar as suas acções e concentrar os seus esforços em tornar o nossoambiente económico maior e mais competitivo, em aumentar o emprego e reduzir aexclusão social. Considero muito importante o estabelecimento de calendários específicosque permitam a redução ou eliminação de ilhas energéticas nos Estados-Membros. A fimde atingir este objectivo, é particularmente importante obter vontade política e solidariedade,e garantir que não desenvolvemos apenas projectos apelativos a nível comercial, masprojectos necessários à União Europeia. Considero igualmente muito importante oestabelecimento de prazos vinculativos para os Estados-Membros, para que cumpramatempadamente as suas obrigações de execução destes projectos. Apesar de as decisões deinvestimento normalmente dependerem de intervenientes no mercado, as decisões políticastêm também uma enorme importância para a criação de um ambiente de investimentoestável e transparente.

Maroš Šefčovič, Vice-Presidente da Comissão. − (EN) Senhor Presidente, este debateconfirma claramente que a energia e a inovação são essenciais para o futuro da Europa epara o futuro da economia europeia. Certamente todos concordamos que, se tomarmosas medidas certas agora, não só poderemos dar um contributo importante para a retomaeconómica a curto prazo, como poderemos igualmente tornar a nossa economia maiscompetitiva a longo prazo.

Concordo ainda com todos os deputados que instaram a que fossem estabelecidos objectivostangíveis e fossem tomadas medidas concretas. A Comissão está, por conseguinte, adesenvolver esforços aturados para alcançar metas muito claras. Gostaríamos de obter ummercado interno no domínio da energia até 2014. Temos de desbloquear finalmente opotencial do mercado interno neste domínio tão importante da economia. Apresento-vosapenas um dado: se formos bem-sucedidos, os consumidores poderão poupar13 mil milhões de euros por terem a possibilidade de obter electricidade a partir de umfornecedor mais barato. Trata-se de mais de 100 euros por ano por consumidor, e é apenas

39Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

o início. Assim, temos de pressionar o Conselho Europeu para assumir plenaresponsabilidade pelo mercado interno no domínio da energia e para assumir o seu papelna transposição muito importante da legislação, a nível europeu e a nível nacional emtodos os Estados-Membros.

Ouvi muito atentamente os nossos colegas deputados dos países bálticos. Considero quechegou a altura de ultrapassar a situação em que temos ilhas energéticas isoladas. Porconseguinte, 2015 é o momento certo para a conclusão do trabalho neste projecto muitoimportante e para ligar os nossos Estados-Membros do Báltico à verdadeira rede europeia.

Não concordo totalmente com as afirmações referentes ao discurso do Estado da Uniãode Barack Obama. Ouvi-o, e devo dizer que me pareceu muito inspirado no que fazemosaqui na Europa – no que sugerimos na Estratégia UE 2020. Falou de eficiência energética,da importância da educação, do novo ímpeto para a protecção do ambiente, e da reduçãoda pobreza. São precisamente os objectivos que estabelecemos para a UE para os próximos10 anos.

Acredito de facto que somos líderes no domínio das políticas ambientais. Podem confirmara posição da União Europeia em todas as cimeiras ambientais e observar a energia investidaem conduzir todo o planeta ao rumo certo neste domínio específico. Quanto aos nossosobjectivos – os nossos famosos objectivos para 2020 – estamos muito bem encaminhadosno que diz respeito à redução de emissões. Estamos igualmente a ter bons resultados noaumento da percentagem de recursos renováveis em toda a nossa produção de energia.

Porém é verdade – e tenho de o admitir aqui – que estamos atrasados no cumprimento dasmetas para a eficiência energética. Por isso, enquanto Comissão, acompanharemos muitode perto a evolução neste domínio e faremos uma revisão dos objectivos em 2013. Possoprometer-vos que, se os resultados não forem suficientemente ambiciosos, consideraremosseriamente a imposição de objectivos juridicamente vinculativos também neste domínio.Todos sabemos que a energia mais limpa é uma energia segura.

No que diz respeito aos comentários sobre a economia de inovação, considero muitoevidente que temos de aumentar o nível de prioridades de inovação e de políticas deinovação. Temos de desbloquear o potencial que já existe neste domínio na Europa hámuitos anos. Observamos que, no que se refere a colmatar o défice de inovação face aosEUA e ao Japão, não estamos a ser tão bem-sucedidos como esperaríamos. Vemos a formacomo as economias emergentes se estão a aproximar de nós, pelo que temos de nosconcentrar o máximo possível neste domínio.

Temos de analisar as verdadeiras causas da nossa falta de progressos ambiciosos. Umadelas já foi referida, nomeadamente o problema da burocracia e de normas demasiadocomplicadas. Por conseguinte, a Comissão já sugeriu – e esta sugestão foi adoptada nasemana passada – uma simplificação das normas para o Sétimo Programa-Quadro paratodas as políticas de inovação. Penso que todos teremos uma boa oportunidade no contextoda próxima discussão do quadro financeiro plurianual para melhorar a forma comoexecutamos os programas europeus, pois discutiremos igualmente regulamentosfinanceiros. Temos de procurar cuidadosamente um equilíbrio entre o controlo adequadoe a flexibilidade necessária na execução de programas, a fim de não criarmos maisburocracias no que diz respeito a programas de especial importância para a promoção daspolíticas de inovação na Europa.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT40

É evidente que a economia será igualmente discutida. O Conselho Europeu de Fevereiroserá uma reunião de transição e uma tentativa de abordagem ampla aos desafios económicosactuais na Europa, para a área do euro e no domínio da melhor governação económicapara toda a União Europeia. Posso assegurar-vos de que a Comissão é incansável na propostade medidas para a estabilização da situação no mercado financeiro e na procura de soluçõesde longo prazo. Consideramos que todos estes aspectos devem constituir uma abordagemampla que nos permita, finalmente, abandonar o modo reactivo e planear medidas delongo prazo e um fortalecimento de longo prazo da economia europeia.

Quanto aos comentários sobre alterações ao Tratado e a criação de um Mecanismo Europeude Estabilidade permanente, a Comissão está convencida de que o Tratado cria o quadrocerto para um maior reforço da governação económica. É evidente que efectuar esteprocedimento fora do quadro da União Europeia suscita questões políticas e institucionaisque terão de ser examinadas muito cuidadosamente pela Comissão. Tenho a certeza deque os líderes também discutirão este tema na reunião de sexta-feira do Conselho Europeu.

A situação no Egipto e na Tunísia foi discutida esta manhã no Colégio de Comissários.Verificou-se um apoio claro às aspirações legítimas dos cidadãos do Egipto e umaconfirmação explícita de que a Comissão está pronta a aumentar o seu apoio ao Egipto eaos seus cidadãos nesta transição. Seguir-se-á um debate sobre a situação na Tunísia e noEgipto, e estou certo de que a minha colega Vice-Presidente Catherine Ashton será capazde a abordar em termos mais exactos.

Enikő Győri, Presidente em exercício do Conselho. − (EN) Senhor Presidente, gostaria deagradecer aos oradores por todos os comentários e intervenções. Assisti a um debateextremamente proveitoso neste Parlamento, que contribuirá para o debate de sexta-feirados Chefes de Estado e de Governo sobre questões de energia e inovação.

Entendo plenamente que o Parlamento afirme que não estamos a fazer o suficiente pelaenergia ou pela inovação. Estamos muito empenhados na disposição do Tratado de Lisboarelativo à criação do mercado interno europeu da energia; estamos extremamenteempenhados a avançar nesse sentido. O vosso encorajamento para desenvolvermos maisesforços neste domínio é bem-vindo. Não pretendo entrar em pormenores porque consideroque o senhor Vice-Presidente Šefčovič foi muito minucioso quanto a todos os aspectos dafutura política energética comum na Europa.

O mesmo se aplica à inovação. Todos aceitamos que temos de discutir mais os aspectosreferentes à inovação; a União da Inovação é um grande investimento no futuro.

Uma Europa forte não pode viver sem políticas comuns fortes e a política europeia deenergia e de inovação deveria ser uma delas.

Pergunto ao senhor deputado Schulz por que motivo me permitiu responder enquantorepresentante do Governo húngaro. Penso que o senhor deputado Schulz leu uma cartadiferente da que enviámos à Comissão. Afirmou que o Governo húngaro negligenciou oconsenso da Comissão e não estava disposto a tê-lo em conta. Permitam-me citar algumaslinhas desta carta, começando pela declaração de que o Governo da República da Hungriaestá disposto a alterar a lei sobre os meios de comunicação social. "A modificação dalegislação poderá ser considerada". "O Governo Húngaro está igualmente disposto aponderar a possibilidade de encontrar outras soluções jurídicas se necessário". Por fim, "sea Comissão ... ainda considerar necessário" após as consultas "alterar a lei húngara ...,estamos preparados para começar a redigir essas modificações".

41Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Com efeito, gostaria apenas de os informar de que, como se refere explicitamente na carta,existe um processo de consulta. Estamos prontos. A Comissão afirmou ontem que secongratulava pela chegada da resposta. Os peritos farão agora o seu trabalho e compete-nosencontrar uma solução para este tipo de problema. Espero sinceramente que no futuro asdiscussões sejam dedicadas à energia e à inovação e não misturem a presidência com algunsaspectos de determinados partidos políticos.

Presidente. − Está encerrado o debate.

Declarações escritas (artigo 149.º)

João Ferreira (GUE/NGL), por escrito. – Este Conselho adopta como temas de discussãoa energia e a inovação. Propõe-se aprofundar e "concluir" o mercado único da electricidadee do gás. Sabemos bem como este enunciado tem sido sinónimo de limitações ao cabalexercício pelos Estados da sua função social, através de serviços públicos devidamenteapetrechados, financiados e actuantes; sinónimo de liberalizações e de privatizações, a quese sucede, mais tarde ou mais cedo, a inevitável concentração monopolista à escala da UE.Nesta área estratégica, de vital importância, não será, pois, diferente. Pelo meio, e comoforma de mais facilmente viabilizar este caminho, colocam-se (demagogicamente) questõesrelativas à segurança do aprovisionamento energético, certamente relevantes e que deverãoser consideradas e resolvidas, mas noutro quadro. Já a inovação é encarada, antes de mais,como um mero meio para a "valorização de ideias no mercado" e não - como devia ser -como um meio necessário para ajudar a responder a vários dos problemas e desafios comque a humanidade se confronta. Mas ficou claro durante o debate que estes temas maisnão são do que um biombo para uma outra discussão: a do aprofundamento dos nefastose anti-democráticos mecanismos da chamada "governação económica" e do apertar docolete-de-forças sobre povos e países como Portugal e outros.

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. – As áreas da energia e da inovação sãofundamentais para o crescimento e emprego. A energia é um grande projecto de integraçãoeuropeia como foi no passado o mercado interno. A Europa precisa de uma visão ambiciosae de um plano concreto na área da inovação e da energia. Espero que o Conselho Europeude 6ª feira constitua um marco essencial neste sentido. Muito já foi feito no âmbito daestratégia europeia para a energia e clima, mas precisamos de ir mais além. Precisamos demanter a liderança tecnológica: • Investir mais em investigação e inovação; • Construir asinfra-estruturas necessárias; • Formar mais engenheiros, cientistas e técnicos. Nestemomento crítico, em que atravessamos uma crise económica, é urgente agir. E há umaforma de o fazer: alterar radicalmente o modo como produzimos e utilizamos a energiana nossa sociedade.

Lena Kolarska-Bobińska (PPE), por escrito. – (PL) A cimeira da energia que decorre estasemana servirá para salientar a importância da solidariedade energética. As formas maiseficazes de garantir a segurança dos abastecimentos energéticos são: um mercadoplenamente comum; uma rede pan-europeia; a aplicação da legislação e normastransparentes. Infelizmente, alguns dos líderes dos nossos países não percebem este facto.Em vez disso, preferem depender das suas próprias soluções nacionais para questões deenergia e negociar com fornecedores de países terceiros. Por conseguinte, deveríamosatentar nos recentes apelos das empresas energéticas europeias para que se liberalize omercado e se execute plenamente a legislação comunitária no domínio da energia. Temosde assegurar, quando prepararmos o Pacote de Infra-estruturas, que os projectos europeusem que queremos investir serão seleccionados com base em critérios claros e transparentes.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT42

Quando criarmos uma rede pan-europeia, teremos igualmente de salientar em especial oinvestimento em países que possuem uma infra-estrutura energética muito poucodesenvolvida e ultrapassada, como referiu o Senhor Presidente Barroso. O mercado nãofará esta distinção por si só; são necessárias medidas públicas. Não podemos permitir umaEuropa a duas velocidades no domínio da energia. Obrigada.

Petru Constantin Luhan (PPE), por escrito. – (RO) Para a União Europeia atingir osobjectivos que se propôs, a principal prioridade é executar apropriada e rapidamente oterceiro pacote para os mercados da electricidade e do gás. O desenvolvimento dainfra-estrutura energética desempenha um papel essencial na garantia do funcionamentodo mercado interno da energia. Neste contexto, gostaria de salientar que deve ser dedicadaparticular atenção ao financiamento desta infra-estrutura para o período que termina em2020. A Comissão Europeia tem de apresentar valores específicos sobre os requisitos deinvestimento e submetê-los assim que possível ao novo instrumento para o financiamentoda infra-estrutura energética. Além das medidas que têm de ser tomadas pela ComissãoEuropeia, é importante reforçar as parcerias da União Europeia com instituições financeirasinternacionais a fim de identificar instrumentos financeiros inovadores. Terá igualmentede ser criado um quadro de financiamento adequado, em particular através da melhoriadas normas para atribuição de custos a projectos transfronteiriços ou a projectostecnologicamente avançados.

Bogdan Kazimierz Marcinkiewicz (PPE), por escrito. – (PL) Considero que, na próximacimeira de 4 de Fevereiro, o Conselho Europeu de Energia deveria ter o objectivo de garantirque todas as fontes de energia, tradicionais ou não, serão tratadas de forma igual. As fontesde energia locais devem ser destacadas em particular, incluindo combustíveis minerais(carvão e gás de xisto), a fim de garantir a segurança energética da UE. A utilização destasfontes, com o devido apoio da UE, será um factor decisivo para a segurança dosabastecimentos de energia, assim como para a competitividade da UE e os níveis de emprego.Simultaneamente, gostaria de destacar que, ao assegurar o devido investimento nainfra-estrutura energética da UE, estamos a garantir o desenvolvimento dosEstados-Membros. Espero que as conclusões do Conselho Europeu sejam um reflexo fieldos debates que ocorreram até agora sobre os objectivos de 2050, e que não sejampublicadas antes do debate destes objectivos, que deverá ocorrer em Março de 2011.Obrigado.

Iuliu Winkler (PPE), por escrito. – (RO) Existem actualmente 27 mercados de energia emfuncionamento na UE. A falta de ligação entre eles resulta da incapacidade de atingir osobjectivos da UE para a competitividade económica e a segurança energética. A falta deum mercado único integrado significa que a política energética da UE é incapaz de fornecersoluções eficazes para os problemas associados à diminuição das reservas petrolíferas e degás da Europa, ao aumento dos preços do crude e do gás natural, ao aumento da procuramundial de energia e ao aquecimento global. Congratulo-me com o anúncio do SenhorComissário Oettinger quanto ao prazo ambicioso proposto pela Comissão Europeia,apontando 2015 como o prazo para a conclusão do mercado interno da energia. Saúdoigualmente a intenção de interligar as redes de gás e electricidade dos 27 Estados-Membrose de criar uma infra-estrutura adequada para que a UE atinja os seus objectivos. Espero queo compromisso da Comissão seja entendido pelos líderes europeus como uma exortaçãopara que seja dada prioridade aos verdadeiros interesses de longo prazo dosEstados-Membros. Só será possível iniciar a criação e o reforço do mercado único da energiae da política comum neste domínio através de uma tomada de decisão firme assim que

43Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

possível. São estes os únicos factores que podem garantir a segurança energética de todosa médio e longo prazo.

Martin Kastler (PPE), por escrito. – (DE) É chocante que cristãos em todo o mundocontinuem a ser perseguidos e assassinados. O facto de os Ministros dos NegóciosEstrangeiros dos Estados-Membros representados no Conselho não conseguirem respondera esta questão é uma condenação da Europa. Tratam a vontade do Parlamento com desprezo.A UE tem de tomar medidas. Insto o Conselho a demonstrar responsabilidade pelo direitobásico da liberdade de religião, a elaborar rapidamente uma estratégia executável paraproteger os cristãos em todo o mundo e a estabelecer uma unidade independente para asquestões interculturais e religiosas no Serviço Europeu de Acção Externa. Estas medidastêm de ser tomadas imediatamente, e não num futuro incerto.

Angelika Werthmann (NI), por escrito. – (DE) Tenho comentários a fazer quanto a duasquestões: 1. Política energética: no caminho actual, a nossa política energética demorarádemasiado tempo a atingir o seu objectivo. Através de procedimentos simplificados eacelerados no domínio do desenvolvimento de infra-estruturas energéticas, a UE podefazer progressos importantes no estabelecimento do seu rumo – apesar de este aspectonão poder, em quaisquer circunstâncias, funcionar em detrimento dos cidadãos ouprejudicar a Convenção de Aarhus. A transparência e a rastreabilidade nestes trabalhossão condições necessárias. É evidente que as PME, com a sua capacidade de inovação, têmde ser envolvidas na qualidade de parceiras em situação de igualdade. 2. A crise financeira:o mundo dos mercados financeiros gira mais depressa do que o Conselho conseguiu reagiraté agora. A fim de contrariar a resultante incerteza geral sentida pelos cidadãos e no mundofinanceiro, são necessárias medidas rápidas e decisivas.

Lidia Joanna Geringer de Oedenberg (S&D), por escrito. – (PL) Durante a próximacimeira do Conselho Europeu prevista para 4 de Fevereiro, os Chefes de Estado e de Governodiscutirão dois temas; a política energética da Comunidade e a investigação edesenvolvimento. Os aspectos principais associados ao primeiro tema serão a eficiênciaenergética, as fontes renováveis de energia e a segurança do abastecimento (uma questãode particular importância para a Polónia), enquanto os aspectos principais associados aosegundo tema serão a cooperação científica internacional e a racionalização dos programascientíficos da UE. Sinto, no entanto, que a cimeira, organizada ao abrigo dos slogans daenergia e da inovação, se transformará numa conferência sobre questões da actualidade –questões internas da União Europeia (política económica) e outras aparentemente distantes(a situação política na Tunísia, no Egipto e na Bielorrússia). A UE tem sido confrontadacom um rápido aumento dos problemas, o que não será resolvido por uma maior frequênciade cimeiras da UE, como propôs o Presidente da UE, senhor Van Rompuy. A UE tem deencontrar respostas rapidamente para várias questões, nomeadamente se deve aumentaro financiamento do Instrumento Europeu de Estabilidade Financeira, a forma como deveser coordenada a política económica dos Estados-Membros a fim de garantir que oInstrumento não será necessário no futuro e, finalmente, o modo como devemos reagir aacontecimentos de importantes dimensões internacionais para garantir que a voz da UEseja ouvida. Não serão apenas números, ou seja, os indicadores energéticos a atingir até2020, que terão uma importância extrema na formulação de uma resposta, mas tambéma vontade política genuína dos Estados-Membros. A Europa consome um quinto da energiado mundo; quanto tempo será dedicado à energia na reunião de sexta-feira em Bruxelas?

Wojciech Michał Olejniczak (S&D), por escrito. – (PL) O problema da política energéticada União Europeia foi abordado durante o debate sobre os preparativos para a cimeira do

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT44

Conselho Europeu a realizar em 4 de Fevereiro de 2011. A segurança energética constituium domínio prioritário e a criação de um mercado comum da energia deveria ser umobjectivo europeu partilhado que exige o recurso a medidas integradas. As fontes alternativasde energia, que começam a desempenhar um papel crescente na Europa, foram outro pontoessencial deste debate. O desenvolvimento de tecnologias modernas e a criação de empregosverdes estão intimamente ligados à política energética. Deveria ser dedicada atençãoparticular à necessidade de ampliar o Espaço Europeu de Investigação. Trata-se de exemplosideais de medidas que se coadunam com as ideias subjacentes à Estratégia Europa 2020,que atribui prioridade à inovação e ao desenvolvimento da investigação científica, assimcomo à criação de empregos verdes. A Europa deveria integrar igualmente as suas forçasneste domínio.

15. Situação no Mediterrâneo, em especial na Tunísia e no Egipto (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia a declaração da Vice-Presidente da Comissão eAlta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança sobrea situação no Mediterrâneo, em especial na Tunísia e no Egipto.

Catherine Ashton, Vice-Presidente da Comissão/Alta Representante da União para os NegóciosEstrangeiros e a Política de Segurança. − (EN) Senhor Presidente, tenho seguido com muitaatenção os acontecimentos recentes na Tunísia e, posteriormente, no Egipto.

Os cidadãos de ambos os países manifestaram descontentamentos e aspirações legítimose esperam uma reacção adequada dos seus próprios países e dos seus parceiros, incluindoda União Europeia. A sua mensagem é clara: os seus sistemas políticos atingiram um pontosem retorno, e a mudança tem de ocorrer agora.

Aproveito esta oportunidade para manifestar a minha admiração pela dignidade e coragemdestes cidadãos e, em particular, à luz do que assistimos agora nas nossas televisões dosacontecimentos no Egipto, apelo à calma, à contenção e ao diálogo.

Começarei por falar da Tunísia. As mudanças que ocorreram foram impressionantes eabriram caminho a um maior desenvolvimento democrático no país. Apesar de muitosobstáculos, já podemos observar desenvolvimentos positivos na Tunísia, onde se efectuaramesforços para responder às exigências da população. O governo de transição tomou algumasmedidas importantes, particularmente através da libertação de prisioneiros políticos epermitindo a liberdade de expressão, assim como através do julgamento dos familiares doex-presidente Ben Ali por corrupção.

Além disso, foram criadas três comissões independentes que iniciaram o seu trabalho: acomissão de inquérito à corrupção e desvio de fundos públicos; a comissão de inquéritoaos abusos cometidos durante a repressão no decurso dos recentes acontecimentos; e oAlto Comissariado para a Reforma Política.

Tomei nota igualmente da reorganização governamental mais recente em resposta àvontade popular. O Governo recebeu o apoio dos principais partidos da oposição e doprincipal sindicato – a União Geral de Trabalhadores da Tunísia. A paz e a estabilidade sãoimportantes para permitir que a Tunísia organize eleições democráticas e transparentes,e efectue alterações políticas, económicas e sociais essenciais. A União Europeia está presenteno país para o apoiar, assim como aos seus cidadãos, neste momento difícil de transição,e reagiu de imediato – não para impor as nossas opiniões ou ideias, mas para oferecer anossa ajuda e para trabalharmos em conjunto.

45Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Falei na semana passada com o novo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sr. Ounaies, noseguimento da sua nomeação, e reunimo-nos hoje em Bruxelas. Realizámos então umadiscussão substancial – no primeiro local que visitou desde a sua tomada de posse – sobrea melhor forma de a União Europeia apoiar a transição e de prestar assistência aos cidadãosda Tunísia. O Sr. Ounaies confirmou hoje o pedido de apoio à UE na fase preparatória daseleições e na observação das futuras eleições. Estamos prestes a enviar uma missão deperitos à Tunísia para avaliar a legislação eleitoral e prestar aconselhamento jurídico àsautoridades de transição neste domínio, e na semana passada Hugues Mingarelli,Director-Geral do SEAE, esteve na Tunísia a discutir com os cidadãos as suas necessidades.

Quanto a outros tipos de assistência, aumentámos as dotações para a cooperação com asociedade civil. Este facto será aliado a uma reorientação dos nossos programas de apoio,para auxiliarmos os cidadãos de forma mais directa. As políticas liberais por si sós nãopoderão levar o bem-estar económico e social necessário e a distribuição de riqueza a todosos cidadãos tunisinos. Por isso, iremos rever as nossas prioridades com a Tunísia, a fim deter em consideração a nova situação e de adaptar o nosso apoio às suas necessidades sociais.

O Senhor Ministro transmitiu-me hoje pormenores das suas preocupações e dos seusplanos, para que possamos responder, juntamente com outros parceiros internacionais.

Ofereci-lhe apoio concreto, inicialmente nos domínios do apoio eleitoral; governação etransição para a democracia; apoio à sociedade civil e às ONG; apoio ao Estado de direitoe à reforma judicial; governação económica e combate à corrupção; desenvolvimentoeconómico e social (incluindo apoio a regiões empobrecidas no centro e sul da Tunísia).

Estamos igualmente dispostos a considerar, com os Estados-Membros, medidas associadasà mobilidade e ao maior acesso aos mercados. Os contactos de trabalho estão bemencaminhados em todos estes domínios e continuaremos o diálogo. Tenciono deslocar-meà Tunísia daqui a duas semanas.

Quanto ao pedido das autoridades tunisinas para que os activos do Sr. Ben Ali e das pessoasintimamente ligadas ao seu regime sejam congelados, já tomámos as medidas iniciais.Acelerámos os procedimentos para permitir que o Conselho "Negócios Estrangeiros" nasegunda-feira adopte uma decisão sobre medidas restritivas, com vista à imposição de umcongelamento de activos das pessoas sob investigação por desvio de fundos estatais naTunísia. As autoridades tunisinas comunicaram-nos uma lista de pessoas que devem serobjecto destas medidas.

Conforme referi, o nosso Director-Geral, Hugues Mingarelli, deslocou-se à região na semanapassada. Manteve discussões com o governo de transição e com os presidentes de cadauma das três novas comissões, e reuniu-se com representantes da sociedade civil.

Gostaria de saudar igualmente a iniciativa do Parlamento Europeu de enviar uma delegaçãoà Tunísia. Considero essencial que os cidadãos tunisinos testemunhem o forte apoio daUE, e em particular do Parlamento Europeu, neste momento crítico de transição para ademocracia. Necessitamos de reforçar todos os contactos interpessoais possíveis eestabelecer laços com a sociedade civil, incluindo através do apoio a ONG, associaçõesprofissionais e programas de intercâmbio de estudantes.

Temos neste momento uma oportunidade de reforçar a parceria entre a Tunísia e a UniãoEuropeia com base numa afirmação da democracia e da reforma económica e social. Esperoque possamos evoluir com base no respeito mútuo e na confiança entre os nossosrespectivos cidadãos para garantir a estabilidade e um futuro democrático e próspero para

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT46

a Tunísia. Neste contexto, aguardo ansiosamente as próximas eleições livres e democráticase a criação do novo governo. Acordei com o Ministro dos Negócios Estrangeiros tunisinoo reatamento em breve das negociações sobre o Estatuto Avançado, com vista à suaconclusão assim que esteja em funções um novo governo eleito democraticamente.

Por último, o Ministro dos Negócios Estrangeiros descreveu o clima do país como sendode reconciliação. Espero que sejamos capazes de desenvolver esforços com a Tunísia parafazer esse clima avançar para uma nova democracia de maior liberdade.

Tratarei agora a situação no Egipto. Há pouco mais de uma semana testemunhámos oinício de um movimento extraordinário nesse país. Os protestos contra o governo –claramente inspirados nos acontecimentos na Tunísia e em outros locais, e organizadosprincipalmente através de meios de comunicação social e de contactos interpessoais –surpreenderam, a meu ver, todo o mundo.

O grande ponto forte desta revolta popular é o facto de estar a suceder em todo o Egipto.Centenas de milhares de pessoas, jovens e idosas, homens e mulheres, estão a sair à rua ea exigir os seus direitos políticos e socioeconómicos legítimos. Os protestos alastraram doCairo a Alexandria, ao Suez e a outros locais do Egipto, e as multidões continuaram acrescer em tamanho e diversidade, com uma união dos protestantes nas suas exigênciasde mudança de regime e do respeito dos direitos humanos fundamentais.

Os protestos, de início relativamente pacíficos, foram-se tornando violentos, com a políciaa disparar gás lacrimogéneo, balas de borracha e canhões de água. Temos suspeitas de quepossam igualmente ter sido utilizadas munições verdadeiras. Tal como todos os deputadosaqui presentes, deploro a perda considerável de vidas durante os protestos e apresento asminhas condolências a todos os que perderam entes queridos. O número elevado decidadãos feridos e detidos constitui igualmente um motivo de grande preocupação e todasas partes envolvidas têm de mostrar contenção e deter a violência.

Estamos preparados para o Conselho "Negócios Estrangeiros" de segunda-feira com asnossas conclusões que instam as autoridades egípcias a libertarem imediatamente todosos manifestantes pacíficos detidos. A liberdade de expressão e a liberdade de reunião sãodireitos humanos fundamentais de todos os cidadãos, que o Estado tem o dever de proteger.As restrições impostas aos meios de comunicação social, incluindo à Internet, sãoinaceitáveis e exorto as autoridades egípcias a restabelecerem o funcionamento de todasas redes de comunicação sem demora.

Através de manifestações a nível nacional, os cidadãos egípcios manifestam o seu desejode mudança. Reuniram-se centenas de milhares de pessoas em cada protesto por todo opaís. É extremamente importante que se preste atenção a essas vozes, neste precisomomento, e que a situação seja resolvida através de medidas urgentes, concretas e decisivas.Chegou o momento de uma transição ordeira e de uma transformação pacífica e ampla.

As autoridades têm de procurar, e levar a sério, um diálogo aberto com as forças políticas.É importante que a sociedade civil desempenhe um papel essencial nesse diálogo. Asautoridades egípcias têm de avançar rapidamente através de um governo de base amplaque conduza a um processo genuíno de reforma democrática substancial e que abra caminhoa eleições livres e justas.

Ofereceremos o nosso pleno apoio a um Egipto que procure uma transformação que otorne mais democrático e mais pluralista. Temos interesse comum na paz e na prosperidadeno Mediterrâneo e na região do Médio Oriente.

47Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Neste momento temos de adaptar e reforçar os meios ao nosso dispor para apoiarmos asreformas políticas, económicas e sociais necessárias. A nossa cooperação já tem ademocracia, os direitos humanos e o Estado de direito como elementos constituintes, etemos de reorientar e redobrar esse trabalho.

Para mim, a política consiste em alterar situações: em apoiar os cidadãos no processo dedar forma à sua vida. Em todo o mundo árabe, estamos a assistir a muitas mudançaspotencialmente positivas, motivadas pelas exigências dos cidadãos.

Enquanto União Europeia, a nossa oferta à região e aos seus cidadãos é a solidariedade e oapoio para que executem as reformas. Somos uma união de democracias – temos umavocação democrática, pelo que apoiaremos este processo de mudança com criatividade edeterminação.

PRESIDÊNCIA: Stavros LAMBRINIDISVice-Presidente

José Ignacio Salafranca Sánchez-Neyra, em nome do Grupo PPE. – (ES) Senhor Presidente,Senhora Baronesa Ashton, Senhoras e Senhores, qualquer que seja o resultado ou odesenvolvimento da situação no Egipto, creio que não erraremos se dissermos que haveráum antes e um depois, no que diz respeito aos acontecimentos que têm tido lugar naTunísia.

Em minha opinião, não devíamos estar à procura de culpados nesta Assembleia por a criseter apanhado a União Europeia a dar um passo em falso, mas creio que devemos retirarconclusões quanto à matéria em questão.

Em primeiro lugar, a União Europeia tem de ser mais visível, falar a uma só voz e evitarcacofonias; foi essa a razão por que criámos o Serviço Europeu para a Acção Externa e afigura do Alto Representante.

Em segundo lugar, precisamos de retirar as devidas ilações na sequência de políticascomplacentes com os inimigos da liberdade, desde a Bielorrússia a Cuba, passando pelospaíses do Mediterrâneo. Temos de questionar-nos se há realmente mais estabilidade, maisprosperidade e mais democracia, como era intenção do processo de Barcelona.

Em terceiro lugar, Senhor Presidente, sinto que temos de distinguir entre o que a UniãoEuropeia tem de fazer a médio prazo e o que tem de cumprir a curto prazo. A curto prazo– e penso que a Senhora Baronesa Ashton traçou o caminho a seguir –, a União Europeiatem de prestar um apoio indefectível a estes processos de transição, para não frustrar asesperanças de liberdade destes países amigos. É também nosso dever alertá-los para osriscos que tais processos envolvem, para que não fiquem reféns dos inimigos das sociedadeslivres.

A meio prazo, Senhor Presidente, é importante que a União Europeia faça uma reflexãoprofunda sobre uma abordagem estratégica conducente à reforma da nossa política devizinhança, o que também solicitámos ontem ao Senhor Comissário Füle na Comissãodos Assuntos Externos.

Tudo isto, Senhor Presidente, tendo em mente que muitas vezes é mais difícil manter oequilíbrio da liberdade do que sacudir o jugo da tirania.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT48

Adrian Severin, em nome Grupo S&D. – (EN) Senhor Presidente, os actuais acontecimentosna Tunísia, no Egipto e noutros países da região, devem fazer-nos pensar que estabilidadesem liberdade é, se não uma mera ilusão, pelo menos uma realidade insustentável.

Devemos ter presente que uma revolução ou uma insurreição social serão uma garantiade mudança, mas não uma garantia de mudança para melhor. Espero que encontremosinspiração para apoiar este processo de modo a poder constituir uma mudança para melhore não para pior.

Requer-se uma análise da situação na Tunísia e no Egipto (e não só aí), uma vez que temosde entender se, no passado, fizemos o que estava certo para se evitarem estas crises. Quepassos devemos dar no futuro para antecipar ou evitar crises semelhantes? E, finalmente,o que podemos fazer para nos certificarmos de que a crise actual conduzirá à liberdadedos povos em questão e à estabilidade da região, evitando qualquer desvio para mais (ououtro tipo de) instabilidade e outra forma de totalitarismo ou opressão?

Temos de adoptar uma atitude preventiva e proactiva a este respeito, e isso exige umaestratégia. Claro que as nossas mensagens estavam certas em termos de equilíbrio entre apalavra-chave "reforma" e as palavras-chave "ordem" e "estabilidade". Mas o problemareside, precisamente, nos detalhes e muitos de nós sentimos que ainda não nosconcentrámos neles e que não mostrámos suficiente capacidade de visão ou força paraenfrentarmos os desafios. Outro factor importante é a nossa capacidade para estabelecerconversações com todos os intervenientes qualificados, incluindo as forças islâmicas, detal modo que sejamos capazes de integrá-los num processo positivo.

Esperamos que a Comissão e o Conselho consigam, no futuro, delinear uma tal estratégiae muito apreciaríamos se nos pudessem dizer algo mais sobre ela.

Guy Verhofstadt, em nome do Grupo ALDE/ADLE. – (FR) Senhor Presidente, creio queos acontecimentos que estão a ter lugar na Tunísia e, especialmente, nestas últimas horasno Egipto, são, ao mesmo tempo, históricos e muito trágicos.

Acabamos de ouvir que centenas de pessoas ficaram feridas nas últimas horas. Mencionoeste aspecto, essencialmente porque encontro semelhanças entre o que está a acontecerneste momento no Médio Oriente, no Norte de África, e o que aconteceu na Europa em1989. É exactamente por isso que estou surpreendido, estupefacto e desapontado com omodo como a Europa está a cometer precisamente os mesmos erros que em 1989, e gostariade deixar isso bem claro.

É inacreditável, Senhor Presidente, que nós, o chamado continente democrático, ainda nãotenhamos oferecido o nosso apoio incondicional às multidões nas ruas – multidões quemais não pedem do que o nosso apoio.

(Aplausos)

Senhoras e Senhores Deputados, ainda não ouvi a Senhora Baronesa Ashton oferecer onosso apoio, nem ontem nem hoje.

Senhor Baronesa Ashton, por que é que a Europa reage tão frouxamente? Aliás, bem vistasas coisas, nós praticamente nem reagimos. A Senhora Baronesa reagiu, e depois a Alemanha,a França e o Reino Unido também emitiram um comunicado, sem se consultarem uns aosoutros, como se a Europa não existisse. Tenho de confessar que o único discurso europeusatisfatório veio de fora da União, ou seja, do Primeiro-Ministro turco, Senhor Erdogan,

49Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

que disse ao Senhor Mubarak que ele devia ouvir os anseios do seu povo e, como tal,demitir-se. Foi a única reacção decente ouvida a nível europeu.

(Aplausos)

Creio que comunicação que hoje faz é muito importante para as pessoas nas ruas, quepodem até estar a lutar pelas suas vidas. Julgo que a Europa cometeu dois erros nos últimosdias.

Em primeiro lugar, não nos apercebemos de como este momento é histórico e, em segundolugar, o que é ainda muito mais importante, avaliámos mal a situação. Temos medo – edaí a má interpretação desta comunicação – de que, após as eleições, chegue ao poder umregime islâmico. Pois bem, deixem que vos diga que eu não tenho medo. Confio no povoda Tunísia e no povo do Egipto.

(Aplausos)

São eles que querem a democracia e o facto de coptas e muçulmanos estarem agora amanifestar-se lado a lado é prova suficiente do que querem, que é uma democraciaverdadeiramente aberta.

Vou dar-vos um segundo exemplo para ilustrar por que razão não devemos ter medo declamar por uma democracia aberta nesses países. Todos ouviram falar de MohammedBouazizi, o homem que desencadeou a revolução na Tunísia ao auto-imolar-se. Ora,Senhora Baronesa Ashton, o caixão do Senhor Bouazizi não estava coberto com a bandeiraverde do Islão. Via-se a bandeira vermelha da Tunísia, pelo que não estamos a assistir arevoluções islâmicas. Muito pelo contrário: são revoluções pela liberdade.

(Aplausos)

Por isso, agora que milhares de pessoas se têm juntado no Cairo desde há quase uma semanae agora que há também manifestações na Jordânia, no Iémen, na Síria e na Argélia, peço-lhe,Senhora Baronesa Ashton, que mude a posição da União Europeia. Gostaria que falasseem nosso nome e dissesse hoje claramente, aqui, neste Hemiciclo, que a União Europeiaapoia a 100% o povo do Egipto e as suas pretensões. Queremos que o Presidente Mubarakescute finalmente o seu povo e, demitindo-se, liberte o seu país, para que este possa hojeusufruir de democracia e liberdade. Esta é a mensagem que eu gostaria de ouvir na respostaque nos dará dentro de instantes.

(Aplausos)

Daniel Cohn-Bendit, em nome do Grupo Verts/ALE. – (FR) Senhor Presidente, SenhoraBaronesa Ashton, V. Exas. apelam à calma. Mas há que chamar as coisas pelos seus nomes!São as tropas do Senhor Mubarak que trouxeram o terror às ruas, hoje, no Egipto, não osmanifestantes! Por isso, não peçam calma às pessoas. Peçam ao Senhor Mubarak que parede atacar os manifestantes, porque ele está a fazê-lo para depois poder dizer: "Vou restaurara ordem no meio do caos". Esta é a armadilha que está a preparar -nos e o que nós sóconseguimos fazer é dizer a ambos os lados: "Acalmem-se!" Não, não e não! Temos dedizer ao Senhor Mubarak para, ele sim, se acalmar, e a melhor maneira de as coisas seacalmarem é ele afastar-se, ir-se embora. Então, sim, haverá calma no Cairo.

Repararam que as pessoas que vieram para a rua com facas eram os polícias do SenhorMubarak? Foram pessoas pobres, trazidas de autocarro hoje de manhã, lá dos confins doEgipto, que causaram os problemas. Isto tem de ser dito, Senhora Baronesa Ashton, e não

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT50

podemos fingir que não vemos. Há uma coisa que me surpreende na Senhora Baronesa:hoje compreende tudo o que aconteceu, tudo o que se passava na Tunísia há três semanas.Mas, quando há três semanas, no Parlamento Europeu, tomámos a iniciativa de lhe apelara que parasse as negociações referentes ao apoio à modernização da Tunísia, por causa daditadura, disse-nos que não era possível. Ora hoje já é possível. É uma lutadora de últimahora. Isso explica tudo. Peço-lhe, por isso, uma coisa, Senhora Baronesa Ashton: diga-nosonde é que, no caso da Tunísia, a Europa investiu o seu dinheiro. Diga-nos que empresasreceberam dinheiros europeus; diga-nos quais foram as empresas do Senhor Ben Ali e dasua esposa que foram apoiadas por dinheiros europeus. A Senhora Baronesa pode dizer-nos.Este Parlamento tem o direito de saber.

Em segundo lugar, Senhora Baronesa Ashton, uma vez que diz que vai agora apoiar o povoda Tunísia, peço-lhe que se certifique de uma coisa: que haverá igualdade de oportunidadesno processo democrático durante a transição. Se houver novas eleições – como sabe, aColigação Constitucional Democrática (RCD) tunisina tem dinheiro, mas os partidos daoposição, proibidos desde há anos, não têm –, a União Europeia deve desempenhar o seupapel, promovendo a lisura e a igualdade democráticas. No caso do Egipto, SenhoraBaronesa Ashton, uma coisa é hoje clara: se não formos capazes de apoiar os egípcios noprocesso de libertação, os povos do Médio Oriente, os povos árabes, vão mais uma vezvoltar-nos as costas, num momento em que temos uma situação extraordinária em mãos,uma situação que também se esqueceu de mencionar, Senhor Deputado Verhofstadt: emGaza, fez-se uma manifestação de apoio aos Egípcios, uma manifestação que o Hamasproibiu. Isso prova que os ventos da liberdade sopram agora também contra as teocraciasno Médio Oriente e nos países árabes e que nos compete ajudá-los. Desde há anos queandamos a lamuriar-nos de que a única escolha era entre ditaduras e teocracias. Pois bem,Inshallah! Há uma terceira possibilidade, que é a liberdade e a luta pela liberdade contraditaduras e teocracias e, como Europeus, é nosso dever apoiar os que estão a conduzir essaluta.

(O orador aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento "cartão azul", nos termos don.º 8 do artigo 149.º)

Niki Tzavela (EFD). – (EN) Senhor Presidente, com todo o respeito pelos senhoresdeputados Verhofstadt e Cohn-Bendit, gostaria de dizer à Senhora Alta Representante quetenho fortes objecções ao que foi dito por estes dois senhores. Toda esta situação me fazlembrar o Irão. Por favor, vamos com cuidado na questão do Norte de África. Esta partedo mundo não é a Europa.

A questão é esta: não se lembram do que aconteceu no Irão? Não encontram semelhanças?Não concordam que temos de assegurar uma transição ordeira nos casos presentes?

(O Presidente retira a palavra à oradora)

Daniel Cohn-Bendit (Verts/ALE). – (FR) Senhora Deputada Tzavela, não me atreveriaa dar-lhe uma lição de História, mas gostaria mesmo assim de frisar que no Irão foi oOcidente, foram os Estados Unidos, a apoiar o Xá e que, até ao último momento, mesmosob o governo de Bakhtiar, ficámos do lado errado e demos todas as armas para ajudar ateocracia iraniana a vencer.

E essa é exactamente a questão que eu quis levantar: se cometermos o erro de não apoiarmosos que estão a lutar pela liberdade, acabaremos num impasse e vai ser o outro lado a ganhar.É precisamente essa a lição que aprendemos com o Irão, Senhora Deputada Tzavela. A

51Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

lição aprendida com o Irão foi condensada numa frase de Mikhail Gorbachev: "A Históriaencarregar-se-á de punir os que chegam tarde demais."

Peço que, por uma vez que seja, a Europa não chegue tarde demais a esta região.

(Aplausos)

Charles Tannock, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhor Presidente, a França, é certo,apoiou o Aiatola Khomeini e levou-o de regresso a Teerão.

Mas, por outro lado, desde 1956 que o Egipto é uma república, mas Mubarak é só o terceiropresidente. Na Tunísia, Ben Ali foi só o segundo líder desde a independência, há 53 anos.Quando o espectro político oferece tão pouca esperança de mudança, é inevitável que asfrustrações venham ao de cima – como agora testemunhamos, com o furacão de mudançasa soprar na região.

O meu grupo, o ECR, apela a uma transição genuinamente democrática e pacífica no Egipto.Hoje assistimos a uma escalada preocupante da violência. É difícil perceber como é queMubarak poderá desempenhar um papel credível nessa transição a não ser demitindo-se.

A Tunísia continua em agitação e, quanto mais tempo assim permanecer, maior será operigo de os islamistas tomarem a iniciativa política. Na Tunísia pode ter havidoautoritarismo e corrupção, mas era profundamente secular e pró-ocidental; não podemosesquecer isso.

E isso é realmente também um perigo no Egipto, onde, enquanto estamos aqui a falar, aIrmandade Muçulmana procura preencher o vazio político. A radicalização da políticaegípcia seria um desastre para o país e para o vizinho Israel. Mas pode ter também sériasrepercussões no funcionamento do Canal do Suez.

Os esforços diplomáticos da UE na Tunísia e no Egipto devem visar por inteiro assegurarema estabilidade e a ordem, opondo-se àqueles que, como vemos hoje, gostariam de espalhara violência e o medo. Para construir uma democracia liberal nestes países sem tal tradição,a UE, os EUA e os nossos grupos de reflexão na Europa devem apoiar significativamenteos políticos e os novos partidos democráticos moderados, empenhados no pluralismodemocrático e na realização de eleições livres e justas, que, contrariamente à IrmandadeMuçulmana, estejam preparados para ceder o poder se forem derrotados nas urnas. Trata-sede um enorme desafio e é claro que podemos estar agora a assistir ao momento históricoda "queda de um muro de Berlim" no mundo muçulmano.

Há já bons modelos de democracia em países de maioria muçulmana, como a Indonésia,a Turquia e o Bangladesh, que o Egipto e a Tunísia podem emular. Esperemos que a escolhano mundo muçulmano não seja entre a tirania secular e as teocracias islâmicas, mas antesuma democracia consistente.

(O orador aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento "cartão azul", nos termos don.º 8 do artigo 149.º)

Marc Tarabella (S&D). – (FR) Senhor Presidente, gostaria simplesmente de me dirigirao senhor deputado Tannock para denunciar a sua atitude para com aqueles que se estãoa manifestar hoje e comentar também o que o senhor deputado Verhofstadt e senhordeputado Cohn-Bendit disseram.

Estamos perante uma revolta popular, porque as pessoas estão sujeitas a uma pobrezaabjecta. Assim, os líderes que temos apoiado, por assegurarem uma certa estabilidade e

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT52

evitarem o perigo do Islamismo, têm reinado na base do terror, mantendo o povo napobreza. Gostaria, por isso, de perguntar-vos se concordam que as pessoas têm o direitode revoltar-se quando só lhes é dada uma vida de pobreza.

(Aplausos)

Charles Tannock (ECR). – (EN) Senhor Presidente, penso ter deixado bastante claro nomeu discurso que não quero um tirano secular ou um teocrata islâmico a governar nenhumdos países nossos vizinhos. Gostaria, naturalmente, que um democrata liberal se preparassepara concorrer a eleições livres e justas. Penso que a situação económica e os elevadosnúmeros do desemprego na Tunísia e no Egipto constituem um problema sério, que temosde tentar por todos os meios resolver. Mas não é isso que está aqui em causa. Essencialmente,o que está em causa agora é ver uma transição ordeira e pacífica nestes países e não umcolapso na lei e na ordem pública. Queremos ver perto de nós estabilidade, paz e, claro,democracia.

Presidente. − Deixe-me assinalar, Senhor Deputado Tannock, que a sua referênciafavorável aos democratas liberais gerou muita felicidade no meio do hemiciclo. Mais tardepode ser que tenha de dar algumas explicações.

(Risos)

Marie-Christine Vergiat, em nome do Grupo GUE/NGL. – (FR) Senhor Presidente, nãoera meu desejo revisitar o passado, mas tenho estado a ouvir alguns discursossurpreendentes. Penso que nos últimos tempos, já há uns meses, fomos praticamente osúnicos, juntamente com alguns eurodeputados do Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia,a solicitar um debate sobre a situação na Tunísia. Como o senhor deputado Cohn-Benditmuito bem disse, há realmente muitos que só à última da hora se lembram de lutar.Poderíamos dizer muito sobre o passado, mas dissemo-lo na nossa resolução e pensamosque, mais do que tudo, devemos concentrar-nos no futuro.

Primeiro, devemos evitar interferir, seja de que forma for, nos assuntos internos destespaíses. Não nos compete a nós, enquanto europeus, decidir qual deve ser a composiçãodos seus governos. O povo tunisino agiu sozinho para se libertar de um regime ditatorial.Devemos permitir-lhe expressar-se e apoiá-lo no caminho para a democracia. Quemacompanha a situação na Tunísia sabe que o passado ainda não está morto e enterrado eque há quem esteja a mexer os cordelinhos e a manobrar nos bastidores.

Hoje, a violência a acontecer no Egipto mostra também como as coisas são difíceis. Porisso, condenem sim, e energicamente, toda a violência e não peçam apenas que diminua,como fizeram no caso da Tunísia. A violência policial é sempre inaceitável: é tão inaceitávelcomo no passado; é tão inaceitável na Tunísia e no Egipto como em toda a parte.Perguntemos às autoridades e ao povo tunisino o que esperam, sem lhes impormos nada.

Senhora Baronesa Ashton, passou em revista as suas discussões com o Ministro dosNegócios Estrangeiros, mas acrescentou, aparentemente sem que tal tivesse sido pedido,que queriam acesso ao mercado na Tunísia. Do meu ponto de vista, isso é bastanteinapropriado, visto que não há escassez de apoio da União Europeia nesse domínio.

Toda a gente parece ter despertado agora para a corrupção do regime do Senhor Ben Ali.Sim, a liberalização económica na Tunísia beneficiou as famílias Ben Ali e Trabelsi, graçasà ajuda da União Europeia. Sim, a União Europeia deve ser firme no que respeita a todasas violações dos direitos humanos. A União Europeia perdeu grande parte da sua

53Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

credibilidade nestes países. Sim, finalmente, devemos apoiar os democratas e condenartodas as ditaduras.

Fiorello Provera, em nome do Grupo EFD. – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores,a velha ordem está a mudar no Magrebe e esta crise levanta uma série de problemas quenão serão fáceis de resolver.

Tanto há riscos como esperanças. É possível que os regimes autoritários seculares possamser substituídos por teocracias fundamentalistas islâmicas, agressivas e desestabilizadoras.Devíamos recordar o que se passou no Irão: é difícil para o desenvolvimento democráticoir de mão dada com uma revolução. Há lições a retirar do Irão.

Outro perigo é que a crise económica na área é susceptível de piorar, originando desempregoainda maior entre a juventude e grandes fluxos de emigrantes, com que a Europa não saberácomo lidar.

Estes acontecimentos são um sinal de que a nossa política euromediterrânica é inadequadae mostram que a política de cooperação até agora em vigor não está à altura da tarefa decriar condições que levem ao desenvolvimento e à democracia. O que tem estado a acontecernão é só devido à crise económica, ainda que tenha sido aguda, mas à falta de estabilidadesocial, por outras palavras à falta de veículos que representem os interesses do povo, comosindicatos, uma imprensa livre, pluralismo político, um sector voluntário, o respeito pelalei a igualdade de oportunidades para todos.

Apoiar os países nesta região, nesta sua jornada, deve estar no centro das atenções dapolítica da Europa, bem como a ajuda económica e comercial. É esse o caminho que conduzà estabilidade: não a estabilidade proporcionada pelos regimes autoritários, mas aestabilidade fundada em consensos sociais, na participação e nas instituições democráticas.

Nicole Sinclaire (NI). – (EN) Senhor Presidente, a minha maior preocupação no momentoem que me preparo para integrar amanhã a delegação ad hoc para a Tunísia – o que façocom todo o gosto – é o bem-estar do povo tunisino e a necessidade de todos nos lembrarmoscomo ele é importante e por que respeitamos os seus valores culturais e a sua identidade,enquanto o ajudamos a construir um novo futuro baseado na respeito pela lei e nos ideaisdemocráticos.

As pessoas esperam mudança e esperam ajuda sem amarras. Alegra-me que o senhordeputado Cohn-Bendit tenha secundado a opinião que manifestei esta manhã, no comitéda delegação, exactamente acerca do que tem acontecido ao dinheiro da UE ao longo destesanos. O representante do SEAE que a integrou disse que foi gasto em reformas. Quereformas? Se tivesse havido reformas adequadas, as pessoas não se teriam revoltado daforma como o fizeram. Podemos ter respostas verdadeiras? Temos de incentivar o governoprovisório a investigar para onde foi o dinheiro e certificarmo-nos de que o dinheiro daUE é gasto correctamente no futuro.

Ioannis Kasoulides (PPE). – (EN) Senhor Presidente, o mundo árabe é nosso parceirona União para o Mediterrâneo. Em todo o nosso envolvimento com os países árabes temossempre proclamado os princípios da democracia pluralista, da liberdade da comunicaçãosocial, de expressão e de associação, o respeito pelos direitos humanos, uma justiçaindependente e uma boa gestão. Mas sempre mantivemos que estes princípios deviam serconcretizados a partir do interior e não por uma imposição vinda de fora.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT54

O povo da Tunísia foi bem-sucedido, a partir do seu interior, ao desafiar a repressão, umestado policial e a tortura e ao ganhar a liberdade e a democracia. As autoridades tunisinasdevem respeitar a vontade do povo e encetar, sem demoras, um processo de democratização,que preste contas pelos casos de corrupção ou repressão levados a cabo pelos protegidosde Ben Ali.

Por razões idênticas o povo do Egipto tem desafiado assassinatos, prisões, gaseslacrimogéneos e balas, pedindo pão e liberdade, dignidade e emancipação.

Cuidado: democracia não significa eleições. Significa muito, muito mais do que isso.Apoiamos inequivocamente o povo do Egipto e apelamos aos seus actuais líderes para queescutem a sabedoria do seu povo e não se tornem um obstáculo na resposta às suasaspirações.

Aos nossos representantes europeus, o Conselho e a Vice-Presidente/Alta Representante,digo o seguinte: é decepcionante ouvir o Presidente Obama ou Hillary Clinton falarem semhesitações e a tempo, enquanto vós vos pareceis sempre contentar com um papelsecundário, mal fazendo ouvir a vossa voz.

Véronique De Keyser (S&D). – (FR) Senhor Presidente, há efectivamente momentosem que uma pessoa tem de saber qual o lado a escolher. Isto já me foi dito muitas vezes noâmbito da União Europeia. Hoje, o lado a escolher está bem claro: como já foi dito pelosmeus colegas, é o lado da liberdade, é a voz do povo.

No momento em que falo, o Museu do Cairo está em chamas, estão a eclodir confrontosnas ruas e, em minha opinião e pelo menos no caso do Egipto, não fomos suficientementeclaros. O Presidente Mubarak tem de sair, e isto tem de ser dito de forma clara. O PresidenteMubarak, na situação em que se encontra hoje – e respeito o seu longo combate – é incapazde conduzir a transição política; seria loucura pedir-lhe isso e deixar o clã Mubarak enfrentaro clã ElBaradei hoje nas ruas do Cairo. Temos de assumir as nossas responsabilidades nestaquestão.

Gostaria também de vos dizer que, nos últimos dias e noites, não parei de pensar no erroque cometemos. Cometemos um erro enorme: apoiámos regimes corruptos em nome daestabilidade, sem sequer pensar na justiça social ou nas aspirações dos povos à liberdade.

(Aplausos)

Isto é um erro que temos de rectificar, e chegou o momento de o fazermos.

O segundo erro, lamento dizê-lo, Senhoras e Senhores Deputados, é o de não termos sidocapazes de compreender o Islão político. Eu não disse "não termos sido capazes de aceitaro Islão político"! Há uma diferença entre terroristas, fundamentalistas e alguns irmãosmuçulmanos. Compete-nos ver a diferença, encetar um diálogo, pôr de parte aqueles quenão queremos, mas hoje abrimos o caminho a estes fundamentalistas. Abrimos o caminhoa certos tipos de terroristas!

Chegou o momento de reavaliar estas posições e, por último, devemos ater-nos àsrealizações passadas destes países, da Tunísia, do Egipto, etc. Refiro-me às estruturas laicasdos países e aos direitos das mulheres, que existiam em grande número nestes países, emestruturas e constituições laicas não relacionadas com a lei sharia. É possível construirdemocracias com partidos profundamente diferentes. Não deitemos tudo a perder.Cinjamo-nos a esta ideia de um Estado laico e do respeito por religiões e crenças diferentese pela diversidade política.

55Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

(Aplausos)

Edward McMillan-Scott (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, penso que a questão degrande urgência hoje é a situação actual no Egipto. Em 2005, presidi a uma pequena missãode observação das eleições naquele país. Foi-nos pedido que estivéssemos presentes naprimeira ronda e, seguidamente, na segunda ronda, mas a primeira ronda foi de tal formacaótica e mal organizada, com tanta corrupção, que decidimos não regressar para a segunda.

O Egipto é um país onde, durante cerca de 30 anos, um ditador, na pessoa de Mubarak,assumiu poder total através de um regime particularmente brutal, tirânico e arbitrário e,apesar de todos reconhecermos a evolução extraordinária nas ruas do Egipto, tambémreconhecemos na reacção de Mubarak alguém que sente que tem apoio, não só no Egiptomas também noutros países.

Reconhecemos também agora que a União Europeia não tem a Sexta Esquadra. Apenaspodemos projectar poder moral e, por isso, quando a Baronesa Ashton falou, muitosuavemente, no início deste debate, ela não vinha, infelizmente, munida também de umenorme bastão. Por isso, temos de falar suavemente, sim, mas também temos de falar auma só voz, e penso que o problema da Europa no momento é que não está a falar a umasó voz ao nível de Catherine Ashton e de outros dirigentes.

Este aspecto já foi referido anteriormente – tendo os primeiros-ministros da Grã-Bretanha,França e Alemanha proferido declarações separadas. Falemos em conjunto. Sejamosperfeitamente claros relativamente à nossa posição – de apoio à democracia e aos direitoshumanos, não só na Europa mas em todo o mundo e, em especial neste momento, noMediterrâneo.

Franziska Katharina Brantner (Verts/ALE). – (DE) Senhor Presidente, Senhora BaronesaAshton, gostaria de repetir o pedido para que nos faculte a lista de beneficiários de dinheiroda UE nestes países. Existem receios bem fundados de que o clã de Ben Ali, bem como assuas empresas, também estejam a beneficiar de dinheiro da UE.

Penso que temos de reavaliar o nosso próprio trabalho nesta região. Precisamos de umaclarificação sobre a forma como o nosso dinheiro está a ser utilizado e de uma mudançade percurso clara. Para esta mudança clara no percurso, aquilo que é necessário antes demais na Tunísia é um novo chefe de delegação. Gostaria de vos ler aquilo que ele nosescreveu hoje num e-mail:

(FR) A estratégia da Europa na Tunísia não precisa de ser reavaliada. Teremos uma maiorliberdade na nossa escolha de interlocutores e parceiros, mas os sectores de intervenção eos nossos acordos com o país estão a revelar-se hoje ainda mais relevantes.

(EN) Considero incrível que o chefe da delegação escreva que não precisamos de reavaliaras nossas políticas relativamente à Tunísia. Apelo-lhe a que assuma a responsabilidade pelasubstituição do chefe da delegação.

Gostaria de acrescentar um ponto àquilo que foi dito pela senhora deputada De Keyser;penso que também chegou o momento de apoiar as mulheres nesta transição. Por exemplo,porque não organizar uma conferência alargada com o seu apoio onde fosse apoiar asmulheres na transição, sublinhando o papel que desempenham e apoiando-as para reforçare sublinhar o processo laico e secular nestes países. Esta poderia ser uma agenda feministapara si.

(Aplausos)

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT56

Mirosław Piotrowski (ECR). - (PL) Senhor Presidente, os poderes políticos em todo omundo estão dominados pelos protestos maciços na Tunísia e, nomeadamente, no Egipto,país de importância estratégica. Vários cenários são possíveis, desde uma tomada pacíficado poder pelas forças pró-democráticas, ao caos económico e ao eclodir de conflitosarmados, e nem a utilização de armas nucleares pode ser excluída.

A situação está a evoluir constantemente e é difícil de prever. As sociedades árabes, que háanos se vêem privadas de direitos fundamentais como a liberdade de expressão ou o direitoa eleições livres, estão apostadas em conseguir provocar mudanças no poder a qualquercusto. O Parlamento Europeu deve alcançar uma posição comum e tomar medidasdestinadas a garantir que a região no seu todo não seja destabilizada. Não podemosesquecer-nos da resolução adoptada recentemente pela nossa Câmara sobre a perseguiçãode cristãos, na qual também era feita referência ao Egipto. Devemos considerar a adopçãode medidas mais concretas e enviar uma missão de observação ao Egipto.

Willy Meyer (GUE/NGL). – (ES) Senhor Presidente, Senhora Baronesa Ashton, a UniãoEuropeia necessita de rever a sua política de vizinhança, uma vez que parece claro quedemos a impressão de estarmos mais preocupados com a celebração de acordos de comérciolivre do que com o desenvolvimento dos povos e com os seus direitos humanos. Oproblema, Senhora Baronesa Ashton, não é a posição que a União Europeia tem hoje sobreos regimes de Ben Ali ou Mubarak, mas a posição que a União Europeia adoptou anteontem,posição que não demonstrou o mínimo apoio às mudanças que as populações têm exigidona rua.

É este o problema que a União Europeia tem de resolver: o facto de não estarmos a mostrarqualquer apoio às mudanças que as populações estão a exigir, não só na Tunísia, mas emMarrocos, no Egipto, na Jordânia e no Iémen; há um número gigantesco de pessoas que jánão aceitam a autocracia ou uma crise que afecte os mais fracos. É esta a revisão que aUnião Europeia tem de fazer; tem de estar na vanguarda dos acontecimentos através deuma mudança de orientação da sua política de vizinhança.

Bastiaan Belder (EFD). - (NL) Senhor Presidente, não admira que os desenvolvimentospolíticos empolgantes que estão a ocorrer na Tunísia e no Egipto estejam a ser observadosde perto pela República Islâmica do Irão. Quer o Governo iraniano, quer a oposição estãoa apoiar as vozes na rua. Muito interessante é o facto de ambos reclamarem para si a autoriadeste levantamento popular no mundo árabe. O regime iraniano saúda a chegada da ondarevolucionária que se iniciou no seu próprio país em 1979 e que considera estar agora aalastrar ao mundo árabe, ao passo que a oposição iraniana considera-se instigadora dosprotestos populares maciços em Tunes e no Cairo.

Apesar de a facção pragmática árabe do Médio Oriente estar à beira do colapso, as chefiasiranianas têm mais motivos para estarem optimistas do que a oposição. A União Europeianão deve fingir que não vê esta ameaça. A radicalização do mundo árabe é decididamenteincompatível com uma vida condigna, que é aquilo por que os manifestantes tunisinos eegípcios anseiam com toda a razão. A República Islâmica do Irão não deve ser vista deforma alguma como um modelo, mas antes como um alerta.

Philip Claeys (NI). - (NL) Senhor Presidente, aquilo que está a acontecer agora em paísescomo a Tunísia e o Egipto constitui um desenvolvimento extremamente importante. Aspessoas estão a sublevar-se contra déspotas ditatoriais, e isto é algo de bom.

57Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

A grande questão é, obviamente, a de saber o que irá suceder na sequência destesacontecimentos. Há algo de paradoxal quando se trata da democratização do mundoislâmico, onde mais democracia conduz frequentemente a mais Islamismo que, por suavez, conduz a menos democracia. É óbvio que nós, na Europa, deveríamos apoiar o processodemocrático. Contudo, esse apoio deve ser dado a forças genuinamente democráticas enunca deveríamos apoiar deliberadamente uma organização como a Irmandade Muçulmanana criação de uma ditadura teocrática no Egipto através do apoio dado pela UE. Casocontrário, acabaremos confrontados com situações como aquela que estamos a observarno Irão e que está a alastrar-se a toda a região.

Sejamos pois prudentes ao escolhermos os nossos parceiros. Afinal de contas, Ben Ali e oseu partido continuavam a ser membros da Internacional Socialista até há poucas semanas.Mas agora que os ventos mudaram, foi expulso da mesma de um dia para o outro. Senhorase Senhores Deputados, há que ser prudente no futuro e ter cuidado na escolha de parceirose não facilitar as coisas para os islamitas.

Hans-Gert Pöttering (PPE). - (DE) Senhor Presidente, Senhora Baronesa Ashton, Senhorase Senhores Deputados, a nossa resposta aos acontecimentos no mundo árabe tem de terpor base o nosso conceito de humanidade. Todo o ser humano, quer muçulmano, judeu,cristão ou sem qualquer religião específica tem o mesmo valor e o mesmo direito de vivercondignamente. Se assim for, então isso significa também que as pessoas nos países árabestêm direito a viver em liberdade, em democracia e num estilo de vida que respeite a dignidadehumana.

Assim, temos hoje como dever, como responsabilidade e como tarefa importante para ofuturo dizer às populações do mundo árabe que estão a insurgir-se em prol da liberdade eda democracia, que estamos solidários a seu lado. Expressamos a nossa solidariedade paracom os muçulmanos pacifistas no mundo árabe.

(Aplausos)

Cometemos uma vez o erro de fechar os olhos ao comunismo totalitário porque dizíamosque precisávamos de estabilidade. Não podemos cometer este erro outra vez hoje, porquea estabilidade também implica liberdade e democracia, e isso é algo que devemos apoiar.

Se aquilo que estamos a ouvir neste momento for verdade – eu não sabia antes que estavama ser disparados tiros no Cairo, e antes o exército também estava a mostrar algumacontenção, quer na Tunísia, quer no Egipto – e se o exército está a avançar com violência,então esta situação só pode durar pouco tempo. Na Europa, houve sublevações na Alemanhade Leste em 1953, na Hungria em 1956, na Checoslováquia em 1968 e depois surgiu oSolidarność.

A liberdade acabará por prevalecer, e por isso temos de dizer a todos os que usam da forçahoje: parem de disparar e dêem às pessoas a liberdade através de eleições livres. Temos deorientar todos os nossos esforços no sentido de apoiar este objectivo em palavras e actos,inclusive nesta Assembleia.

Hannes Swoboda (S&D). – (DE) Senhor Presidente, Senhora Baronesa Ashton, algumaspessoas dizem que não se pode aprender com a História. Contudo, devemos mesmo assimtentar fazê-lo. No que diz respeito aos protestos relativamente ao Irão – e o deputadoCohn-Bendit já respondeu a isso – gostaria de referir uma vez mais aquilo que aconteceuno Irão nessa ocasião. Apoiámos um regime sujo. Tolerámos mais ou menos a políciasecreta que, naquela época, actuava contra as pessoas e as torturava. Os Estados Unidos,

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT58

juntamente com o Reino Unido, derrubaram Mohammad Mossadegh, que pretendia umarevolução pacífica.

Fizemos alguns progressos neste aspecto agora, mas ainda não fomos suficientementelonge. Penso que temos de dizer muito claramente – e a este respeito concordo como omeu colega que já referiu esta questão – que temos de estar do lado das pessoas que iniciarame intensificaram esta revolução – e não foram os islamitas. Regozijemo-nos com estaexcelente oportunidade proporcionada pelo facto de a revolução não ter sido começadapelos islamitas, mas pelas pessoas da rua, cidadãos comuns, que estavam descontentescom a injustiça social, a situação económica e a falta de democracia. Foi isso que aconteceuaqui.

Senhora Baronesa Ashton, Senhoras e Senhores Deputados, olhemos para nós próprioscom um olhar crítico, pois parte da nossa estratégia de vizinhança desmoronou-se comoresultado destes acontecimentos. Além disso, parte da nossa estratégia de vizinhançatambém tinha por pressuposto a estabilidade. Precisamos de paz no Médio Oriente.Esperávamos que a paz no Médio Oriente assentasse em ditaduras e em ditadores, mas issonão é possível, nem aceitável.

Precisamos, pois, de dizer e exprimir a nossa opinião com clareza. A paz no Médio Orientesó será duradoura se assentar na democracia e não em ditaduras. Assim, Senhora BaronesaAshton, temos de exprimir a nossa opinião de forma clara e audível. Sei que V. Exa. éconhecida pela sua abordagem suave, mas nesta questão concordo como os meus colegasdeputados de que precisamos de falar alto e ser claros. V. Exa. precisa de falar tão alto, quepossa emudecer muitas das vozes dos nossos ministros dos Negócios Estrangeiros, porvezes até tão alto para que não se ouça a voz de Hillary Clinton, mas sim a voz de CatherineAshton. É isso o que este Parlamento espera. Aceite isto também como prova da nossaconfiança em si e de que esperamos que seja bem clara naquilo que disser.

Metin Kazak (ALDE). – (BG) Senhor Presidente, os protestos na Tunísia e no Egipto,desencadeados pela ira e a intolerância relativamente ao aumento do desemprego dosjovens, métodos brutais da polícia, corrupção e autoritarismo, bem como pelo desrespeitopelos direitos humanos, liberdade de expressão e princípios democráticos, são desafiosque também se colocam a outros países árabes que já estão a exigir mudança.

Os acontecimentos ocorridos na Tunísia, país que era considerado como um paraíso deestabilidade e segurança económica, são notoriamente semelhantes aos que deram inícioao desmoronar do bloco soviético na Europa de Leste. Estão a servir de rastilho que vemanunciar o colapso do pseudo-modelo árabe de estabilidade e que irá desencadear mudançasdemocráticas na região.

As exigências são claras e as populações tunisinas e egípcias não aceitariam meias medidas.Muitos dos pré-requisitos para a transição para a democracia já estão a ganhar terreno,nomeadamente uma sociedade civil activa e bem organizada, uma imprensa livre, figurasrespeitadas na oposição e partidos políticos em funcionamento. Contudo, temos de revercompletamente a nossa política externa actual, Senhora Baronesa Ashton.

A União Europeia deve fazer uma escolha estratégica, estabelecendo um equilíbrio entreos seus interesses políticos e económicos e os valores democráticos que nos unem. AEuropa tem de demonstrar que defende firmemente a democracia e que não se limita aapoiar a estabilidade na região. A razão para tal está em que, quando chega a mudança, as

59Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

pessoas irão lembrar-se de quem estava do seu lado e de quem defendia o status quo que jáse tinha tornado impossível.

Heidi Hautala (Verts/ALE). – (EN) Senhor Presidente, há 60 anos a revolução no mundoárabe traduziu-se no fim do domínio colonial europeu. A segunda revolução no mundoárabe está agora a acontecer perante os nossos olhos. Este é o momento em que a UniãoEuropeia tem de escolher se está do lado certo ou errado da História.

A tarefa está em ajudar a fomentar uma sociedade civil independente no mundo árabe. Onosso orçamento na UE tem de ser reavaliado de forma a solucionar as necessidades urgentesda Tunísia, que sofre há 23 anos de um regime autocrático.

A maioria da população tunisina não tem confiança alguma neste governo temporário eque não foi eleito. Já foi iniciado um processo de verdade na Tunísia, mas a União Europeiaprecisa, ela própria, de um processo de verdade, tão grande tem sido o seu grau denegligência relativamente aos direitos humanos e aos valores democráticos no mundoárabe ao longo dos anos. Chegou realmente a hora dos direitos humanos.

Ivo Strejček (ECR). – (EN) Senhor Presidente, não partilho a opinião de que a sublevaçãoque está a ocorrer no Egipto seja sobretudo impulsionada por forças que anseiam por umademocracia ao estilo europeu. Vejo os distúrbios e o caos actuais como uma revoluçãopela mudança que é motivada por um desejo de uma vida melhor.

Mas a questão crucial que se coloca a nós, Europeus, é a ameaça de que a situação dramáticapossa ser indevidamente utilizada por radicais islamitas. Se houvesse uma mudança políticadramática desse tipo, a Europa, e também a América, perderiam um aliado moderado árabee o tratado de paz com o Egipto ficaria ameaçado. O Egipto pode transformar-se rápida efacilmente num regime que seja hostil à Europa, a Israel e à América e que se torne próximodo Hamas. A posição da UE deve continuar a ser firmemente ao lado dos que lutam pelaliberdade e que apoiam incansavelmente a realização de eleições livres.

Takis Hadjigeorgiou (GUE/NGL). – (EL) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, obviamente que a maioria no Parlamento apoia a sublevação no Egipto e isso,é claro, está bastante correcto, apesar de haver algumas excepções, como acabámos deouvir. Contudo, penso, e deverão concordar comigo, que política significa ser rápido eatempado, e penso que todos nós aqui temos de reconhecer que não vimos o que estava aacontecer no Egipto nas últimas décadas.

Onde estávamos nós todos quando milhares de milhões de dólares dos Estados Unidosestavam a ser canalizados para o Egipto para apoiar este regime? Estamos com a populaçãodo Egipto que protesta pelos seus direitos à prosperidade, à saúde e à educação. É por essemotivo que o Parlamento deve continuar a dar o seu apoio unânime. Gostaria de referirque temos de ter os Palestinianos em mente durante este processo, para que o povopalestiniano não passe a ser a vítima. Aqueles de nós que representam nesta Câmara oChipre, um dos vizinhos do Egipto, estão a fazer um acompanhamento muito atento dosacontecimentos e, repito, apoiamos os direitos do povo egípcio nesta sublevação.

Lorenzo Fontana (EFD). - (IT) Senhor Presidente, Senhora Baronesa Ashton, Senhorase Senhores Deputados, como muitos disseram, é certamente desejável que a democraciaseja instaurada no Norte de África, tal como a democracia que temos aqui na Europa.

Contudo, também existem riscos que temos de enfrentar. Todos nos lembramos do ataquecontra os cristãos coptas ocorrido no Natal, precisamente no Egipto. O nosso receio,

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT60

Senhora Baronesa Ashton, é que possamos acabar um dia destes com uma ditadura islâmicano Norte de África.

Deste ponto de vista, é crucial que a Europa esteja atenta para que não nos coloquemosnuma situação em que haja países hostis no Norte de África que, convém recordar, temmuitas ligações comerciais com a Europa. Não há qualquer dúvida de que, na actual criseeconómica, as nossas economias não vão reagir bem a esta destabilização. Devemos tambémter em mente que esta destabilização vai certamente ter repercussões na imigração, emespecial para os países do Sul da Europa.

Apelo assim à Comissão e à Alta Representante para que se mantenham vigilantesrelativamente a estas questões.

Barry Madlener (NI). - (NL) Senhor Presidente, Senhora Baronesa Ashton, deixem deser tão ingénuos. Senhor Deputado Verhofstadt, deixe também de ser ingénuo. Afinal decontas, o que a Irmandade Muçulmana quer é a lei sharia, e a lei sharia não é democracia.

O partido mais importante da oposição, a Irmandade Muçulmana, quer guerra com Israel.Senhora Baronesa Ashton, a senhora não disse uma só palavra relativamente a esta questão.Está a fingir ser ingénua aqui quando apela a um melhor futuro para o Egipto, mas se recusaao mesmo tempo a reconhecer os perigos que o Islão representa. Porque Islão e democracianão podem coexistir.

Gostaria que a senhora o anunciasse bem alto e de forma clara, porque não quero ver umaSenhora Ashton ingénua a ir ao Egipto com a mensagem errada. Senhora Baronesa Ashton,esteja atenta aos perigos que esperam o Egipto e a nós, e comunique esses perigos. Aviseo povo egípcio de que a lei sharia significa catástrofe, uma catástrofe para todos nós.

(O orador aceita responder a uma pergunta de outro deputado segundo o procedimento "cartão azul",nos termos do n.º 8 do artigo 149.º.)

Nirj Deva (ECR). - (EN) Senhor Presidente, a pergunta que eu queria fazer ao senhordeputado era a seguinte: como pode a democracia florescer em sociedades onde não existeminstituições nem registos de tradição democrática?

A democracia não aparece do nada num campo estéril. Continuamos a falar em criarEstados democráticos sem termos trabalhado na criação de instituições democráticas sobreas quais a democracia se desenvolve.

Barry Madlener (NI). - (NL) Senhor Presidente, só posso concordar com o senhordeputado Deva. É claro que a democracia não vai simplesmente surgir do nada, mas nãovejo nenhuma outra alternativa para o Egipto. Na verdade, não consigo referir uma sópessoa no Egipto que pudesse assumir a liderança. Afinal de contas, é aos egípcios quecompete a escolha dos seus próprios dirigentes.

Aquilo que podemos fazer é exortar os Egípcios a elegerem, não a Irmandade Muçulmana,mas dirigentes seculares.

Mario Mauro (PPE). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, SenhoraBaronesa Ashton, posso ter sido duro consigo no passado, mas tenho de reconhecer queesta questão deve estar a tornar a sua vida muito complicada, pelo que espero que aquiloque tenho para dizer lhe seja útil.

61Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

A primeira coisa que quero dizer com muita clareza é que o papel dos Estados é protegeros seus cidadãos, e não dirigir as vidas destes. Quando um governo dirige as vidas daspessoas em vez de as proteger, deixa de ser um governo e transforma-se num regime. Foiisto o que aconteceu na Tunísia e no Egipto, porque as situações políticas que começaramcom o idealismo profundo de conseguir a independência tinham sido regimes durantemuitos anos. A nossa tarefa é defender a liberdade e a democracia nos corações daquelesque estão hoje a defendê-las nas ruas.

O segundo tema a que quero aludir diz respeito a nós, a União Europeia. Temos dereconhecer que não temos uma estratégia política para a região euromediterrânica, o queimplica reconhecermos que o Processo de Barcelona e a União para o Mediterrâneofracassaram. É uma ficção: são apenas jogos políticos que de nada servem e que nadaconseguiram. Temos de agir com determinação quanto a isto. Temos de começar a criaresta estratégia: temos de planeá-la e precisamos de levá-la até ao fim, como fizemosrelativamente à Europa Oriental e aos Balcãs, apesar de terem sido forçados a fazê-lo. Senão tivermos esta estratégia, não fará qualquer diferença falarmos ou não a uma só voz,porque as nossas palavras não terão qualquer significado.

Pier Antonio Panzeri (S&D). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,Senhora Baronesa Ashton, fico com a impressão de que não estão suficientemente cientesdaquilo que se está a passar na região do Mediterrâneo. Tenho de dizer que a lentidão comque as instituições da UE abordam a questão mediterrânica só pode ser explicada por umafalta de sensibilização para a situação e por uma incapacidade para sentir as mudanças quese desenham no horizonte.

Estamos a chegar ao fim de uma era política e histórica em que a política da Europarelativamente ao Sul tem sido confusa e contraproducente. A crise económica, asdificuldades enfrentadas com a imigração e a falta de mudança entre as classes dirigentescriaram uma combinação explosiva que está a afectar a Tunísia e o Egipto agora, mas queirá provavelmente alastrar a outros países.

Dirigindo-me a alguns dos meus colegas deputados, diria que nada conseguiremos secontinuarmos a pensar que a única coisa que precisamos de fazer é apoiar as manifestaçõesque estão a ter lugar agora. A Europa precisa de mostrar uma maior maturidade política.Para tal, precisamos de reorientar as antenas políticas da Europa. A política externa daEuropa precisa de sair do seu modo meio opaco e assumir um papel de liderança na cenainternacional, apoiando os processos de transição democrática que estão actualmente emcurso.

Precisamos, nomeadamente, de políticas claras numa série de domínios: uma política deparceria e de vizinhança nova, e uma nova política de segurança para a região mediterrânica;uma vontade mais forte por parte da Europa para solucionar a questão mediterrânica; euma política de acção conjunta para que a Europa actue na região ao lado de outrosintervenientes, como os Estados Unidos e a Turquia.

Precisamos de uma mudança de percurso importante e isto exige um acto de humildadeconsiderável por parte da Comissão para a reabertura do debate sobre a política externarelativamente ao Mediterrâneo e para olhar de uma forma nova para a União para oMediterrâneo, assegurando ao mesmo tempo um papel para a Europa no seio da mesma.Isto é crucial para a Europa, e temos de estar plenamente cientes desta questão.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT62

PRESIDÊNCIA: Diana WALLISVice-presidente

Marielle De Sarnez (ALDE). – (FR) Senhora Presidente, o mundo está numa viragem eem mudança, e isto aplica-se sobretudo ao mundo árabe onde, gostaria de vos recordar,40% da população vivem abaixo do limiar da pobreza e os jovens têm a taxa de desempregomais elevada do mundo.

Os povos árabes aspiram ao desenvolvimento e à democracia, e como ambas as coisascaminham lado a lado, quer na Tunísia quer no Egipto as populações tomaram o seu destinonas suas próprias mãos para imporem as mudanças a que têm direito. Além disso, e apesarde todos os actos de provocação – como pudemos assistir hoje de novo no Cairo – e detodas as dificuldades, nada nem ninguém vai parar este movimento.

No caso da Tunísia ontem, e no do Egipto hoje, ouvimos uma voz, a dos Estados Unidos,que se colocaram firmemente do lado dos democratas. Acredito na Europa, mas tambémacredito que não tem qualquer significado se a Europa também não se puser semprefirmemente do lado dos democratas. O meu sonho seria que a Europa tivesse agarradoesta oportunidade; eu teria ficado muitíssimo satisfeita se assim fosse. Mas não o fez. E istonão é só por causa do papel que desempenharam; é também por causa da cautela exageradados seus dirigentes, que vezes demais preferem ficar quietos em vez de agirem.

Mais de 20 anos depois da queda do Muro, estamos a assistir a uma mudança histórica.Exorto-os a lidarem com esta mudança para que não percamos a oportunidade de fazerhistória mundial.

Derk Jan Eppink (ECR). – (EN) Senhora Presidente, tudo aquilo que eu queria dizer jáfoi efectivamente dito, por isso vou limitar-me a uma pergunta à Alta Representante.

O Senhor Blair, antigo Primeiro-Ministro britânico, que possivelmente conhecerão, teceuhoje um enorme louvor ao Presidente egípcio, Hosni Mubarak. Disse hoje na CNN, "Mubaraké imensamente corajoso e uma força do bem". O Senhor Blair também alertou contra umacorrida às eleições no Egipto.

O Senhor Blair é agora enviado no processo de paz israelo-palestiniano, que é apoiadopela União Europeia. O que pensa sobre as afirmações de Tony Blair?

Gerard Batten (EFD). – (EN) Senhora Presidente, o grande perigo para o Egipto e osoutros países do Norte de África é, obviamente, que o derrubar dos seus governos nãovenha abrir caminho a uma democracia liberal ao estilo ocidental mas, em vez disso, a umregime fundamentalista islâmico e a uma nova idade das trevas, como a que vimos no Irão.

Apesar disso, é possível retirar alguma satisfação da possibilidade de povos oprimidosderrubarem os seus governos não democráticos e não representativos. Todos os governos,mesmo as tiranias, vão buscar o seu poder, em última instância, ao consentimento daspessoas que os mesmos governam. E só se pode reprimir as pessoas durante um determinadoperíodo e num determinado grau, mas há sempre a possibilidade de elas se revoltarem.

Ora, existe um paralelo aqui com a Grã-Bretanha, onde sucessivos governos de todas ascores políticas têm traído de forma consistente o nosso país e entregue o nosso direito àautodeterminação democrática à União Europeia. De acordo com a Magna Carta, os Inglesestêm o direito à rebelião legítima. Gostaria de saber até onde terão de ser empurrados osIngleses antes de se sentirem forçados a ir para a rua como os Egípcios.

63Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Andrew Henry William Brons (NI). – (EN) Senhora Presidente, todos deveríamosaplaudir a queda ou a queda iminente de regimes repressivos, mas talvez só quandosoubermos – ou tivermos bastante certeza – sobre quem ou o que irá provavelmentesubstituir esses regimes.

A Tunísia, tal como o Iraque e o Egipto, era um regime politicamente repressivo mesmosegundo os padrões do Médio Oriente, mas também era, segundo os mesmos padrões, umregime secular e até liberal em termos sociais. Há o perigo de uma autocracia socialmenteliberal ser substituída por uma autocracia socialmente repressiva, ou até por uma democraciasocialmente repressiva.

Aqueles que esperam uma transferência do poder civilizada e sem sobressaltos em todosou algum destes países talvez devam pensar de novo. Se víssemos guerras civis, atrocidadese a destruição das economias destes países, poderíamos dar bons conselhos e as nossaspopulações poderiam enviar ajuda, mas espero que não consideremos que é nossa funçãomandarmos para lá tropas para serem mortas. Certamente que a nossa função não é salvaras populações destes países e trazê-las para a Europa.

Mário David (PPE). - O Mundo, e a Europa em particular, não podem ficar indiferentesà força de um intenso movimento de contestação popular que está a ocorrer em váriospaíses do Norte de África e do Médio Oriente, nem deixar de reconhecer a importância ea legitimidade dessas manifestações. Qualquer povo que aspira à democracia e à liberdadesó pode receber da nossa parte toda a solidariedade, como fizemos, aliás, no passado recentecom os nossos amigos do Leste Europeu.

Vivemos actualmente um raro momento da História, daqueles que mudam o seu curso eque constroem novas realidades. É preciso afirmar, objectivamente, que o islamismoextremista tem surgido como uma resposta política, e não religiosa, a alguns destesproblemas, alimentado pela exclusão social e como resposta a esta. O futuro desta regiãoprecisa de democracias sólidas, tolerantes e respeitadoras das minorias, onde o Estado sejauma promessa para todos e não o abuso de alguns.

Aqui ao lado há uma parte do mundo que tem que aproveitar este momento derenascimento para aprofundar um caminho de paz e de progresso social. Provar que nestaregião vizinha, independentemente da sua confissão religiosa, opção política, ou etnia,todos podem coabitar em paz e com respeito mútuo.

É preciso, e termino Senhora Presidente, que a Europa no seu todo, e não apenas algunslíderes em conjunto ou isoladamente - em português diz-se, Senhora Alta Representante,"é difícil ser-se pároco na sua freguesia" -, assuma um papel claro de liderança política naajuda a estas reformas e encontre para o Médio Oriente um novo paradigma, semradicalismo, no respeito pelos direitos humanos, e das mulheres em particular.

Saïd El Khadraoui (S&D). - (NL) Senhora Presidente, neste preciso instante, ocorramviolentos confrontos entre os manifestantes pró e contra Hosni Mubarak. Temos de enviarum sinal claro a Hosni Mubarak e apelar aos seus apoiantes para que procedam à retiradaimediata e evitem um banho de sangue desnecessário.

O que está a acontecer no Egipto foi para todos nós uma surpresa. Devíamos ver isto comouma oportunidade incrível para ajudar esta região a evoluir para uma verdadeira democracia,com oportunidades para todos, depois de anos de estagnação política e económica.Refiro-me, sobretudo, aos milhões de jovens que anseiam por mais liberdade e por mais

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT64

oportunidades. O seu impacto não pode ser subestimado. Há quem fale de um 1989 nomundo árabe, mas isso ainda está para se ver.

A União Europeia poderia mostrar um pouco mais de disponibilidade para impulsionarde forma significativa o processo de transição e, claro, gostaria muito – como outrosdeputados já o disseram – de tê-la ouvido falar sobre o assunto. Devemos deixar claro, coma maior brevidade, que este processo de transição deve começar imediatamente e que HosniMubarak já não tem, claramente, qualquer legitimidade para liderar ou conduzir o processo.

Cumpre-nos, por conseguinte, o mais rapidamente possível, elaborar um calendário, umaagenda clara, sobre as medidas e reformas que deverão conduzir às primeiras eleições livrese transparentes em Setembro deste ano. Isso significa, por exemplo, a alteração daconstituição, da legislação eleitoral e do modo como os meios de comunicação socialtratam as questões políticas, por forma a que todos os candidatos possam apresentar osseus programas à população.

Todas as forças democráticas devem reunir-se à mesa das negociações, o mais rapidamentepossível, para conduzir este processo na direcção certa, sendo que a Europa devedesempenhar nele um papel construtivo e positivo.

Simultaneamente, também devemos estar conscientes da complexidade da situação. Oexército, por exemplo, está a ser aplaudido pelo seu papel moderador e decisivo, um papelque lhe mereceu grandes elogios. Não esqueçamos também que é um actor muitoimportante do ponto de vista económico. Se queremos implementar verdadeiras reformasdemocráticas, as reformas económicas também serão necessárias e não serão fáceis.

Annemie Neyts-Uyttebroeck (ALDE). - (NL) Senhora Presidente, ouvi com grandeinteresse a comunicação da Alta Representante e dos meus colegas. Muitos de vós afirmaramestar totalmente surpreendidos com o que está a acontecer na Tunísia e no Egipto. Eu diriaque me espantam estas afirmações, porque a verdade é que já sabíamos há muito tempoque estes regimes não eram exactamente democráticos e que, pelo contrário, eram regimesautoritários ou muito autoritários que mantinham subjugadas as populações.

Optámos por não encarar esta realidade, porque pensámos que seria a melhor forma degarantir a estabilidade na região e em todo o Mediterrâneo. Contudo, temos mais uma veza prova de que apoiar regimes autoritários e corruptos em nome da estabilidade e paraevitar o caos quase sempre acaba na instabilidade, no caos e na falta de oportunidades parao futuro.

Espero que sejamos sensatos e que apoiemos o processo democrático com sensatez.Pedir-vos-ia, a esse respeito, uma especial atenção no apoio a uma diversidade de partidospolíticos na Tunísia e no Egipto. Estão em causa partidos fracos. Nos últimos anos, estespartidos não tiveram grandes possibilidades de se estruturarem. Necessitarão, portanto,de toda a ajuda possível para desempenharem o seu papel nas eleições que esperamosserem justas e realizáveis num curto prazo.

Geoffrey Van Orden (ECR). - (EN) Senhora Presidente, o aspecto para que gostaria dechamar a atenção prende-se com o facto de, demasiadas vezes, termos visto o santuáriodas nossas sociedades livres do Ocidente ser abusivamente utilizado por extremistas queacabam por regressar aos seus países de origem, hostis aos nossos valores e transportandoa revolução. Ontem foi o 32.º aniversário do regresso ao Irão, vindo de Paris, do AyatollahKhomeini. Sabemos qual foi o resultado.

65Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Rachid Ghannouchi, que tem defendido o aniquilamento do Estado de Israel, acabou deregressar à Tunísia depois de duas décadas em Londres. Considera ilegítima a liderança daAutoridade Palestiniana; apoia o Hamas. O Hamas, claro, é um ramo da IrmandadeMuçulmana, o único grupo político bem organizado no Egipto. Estas organizaçõesconstroem a sua base de poder respondendo às necessidades quotidianas das pessoas econsolidam-no depois através do terror.

Temos de tomar medidas mais enérgicas para impedir a incubação do extremismo nasnossas próprias capitais e esforçarmo-nos por dar mais legitimidade à sociedade civil empaíses como o Egipto e a Tunísia, com um apoio bem direccionado, incluindo apoiofinanceiro devidamente controlado.

Vito Bonsignore (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,concordo com as palavras dos meus colegas do Grupo do Partido Popular Europeu(Democratas-Cristãos). Contudo, gostaria de sublinhar o facto de os recentes acontecimentosno Mediterrâneo nos terem causado a todos um profundo espanto, porque, até há poucassemanas, eram completamente imprevisíveis.

O Serviço Europeu para a Acção Externa dirigido pela Senhora Baronesa Ashton pareceter sido apanhado de surpresa e está agora a demonstrar, na minha opinião, uma fracacapacidade de resposta. Pergunto-me, neste contexto, se vale a pena gastar tanto dinheironum serviço organizado deste modo. Mais uma vez, assistimos a uma total ausência dadimensão europeia no cenário euromediterrânico.

Defendemos o direito de todos os povos a decidir sobre o seu próprio governo e a suaprópria classe dirigente, através de eleições livres e democráticas, e não através de acçõesimpostas pela violência e pelo extremismo. Como já foi dito, é tempo de conjugar aestabilidade com a democracia. Por conseguinte, estamos actualmente a utilizar todos osmeios legítimos para reforçar a democracia e o pluralismo político, no respeito do Estadode direito, dos direitos humanos e da segurança dos cidadãos.

O mundo inteiro, e nós europeus, em primeiro lugar, necessitamos de um Mediterrâneoem paz. A União Europeia deve alterar a sua própria política e procurar, sem mais delongas,assegurar ajudas e colaborações adequadas para o necessário desenvolvimentosocioeconómico em todos os países do Mediterrâneo.

Carmen Romero López (S&D). – (ES) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, os democratas tunisinos deram-nos uma lição exemplar de maturidade nosúltimos tempos. Nestes momentos de tensão que estamos a viver e à luz do massacre quese está a produzir no Egipto, queremos que haja uma só voz na União Europeia parapodermos realmente pôr fim a este massacre e para que estes ventos de liberdade suponham,de facto, uma mudança profunda no sentido da democracia, também no Egipto.

No entanto, no caso da Tunísia, ainda estamos a tempo. Este Parlamento votará amanhãuma resolução – será enviada uma delegação ao país – e o nosso apoio, o nosso avaldemocrático é igualmente muito importante nestes momentos, sobretudo na Tunísia,depois no Egipto e em todos estes países que anseiam por mais liberdade.

Há muito que pode ser feito, pois o colapso económico causado por uma ruptura e poruma revolução desta natureza deve ter o menor custo possível. Há demasiados inimigosque querem transformar a Tunísia num modelo totalmente diferente daquele que todosnós desejamos. A Tunísia converteu-se num modelo e, de facto, o que estamos a assistir éo fim de uma era pós-colonial e o começo da verdadeira independência.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT66

Por conseguinte, a situação económica da Tunísia permite pensar que – para além dasajudas que a Senhora Ashton referiu – seja possível uma tomada de posição por parte doBanco Central Europeu para que não se deixe perder uma experiência que poderá ser vitalpara o futuro do Mediterrâneo. É essencial que esta decisão seja tomada com carácterurgente.

Marietje Schaake (ALDE). - (EN) Senhora Presidente, neste preciso momento, cidadãosno Egipto estão a ser capturados e agredidos na Praça Tahrir e o exército e a polícia estãoalegadamente a reprimir em vez de proteger. Nos seus protestos pacíficos, os egípcios dediversas origens pedem o respeito pelos direitos humanos e pela democracia, reformapolítica, boa governação e desenvolvimento socioeconómico.

Talvez estas reivindicações vos soem familiares porque são precisamente os objectivos dosprogramas da UE para o Médio Oriente e, especificamente, para o Egipto. Só a Comissãogastou um total de quase 3 mil milhões de euros nestes programas nos últimos 15 anos.Uma vez que as reivindicações da população já são consentâneas com os nossos objectivospolíticos, por que razão é tão difícil emitir, num curto espaço de tempo, uma declaraçãoenérgica da UE?

A necessidade de uma Europa forte e pró-activa é mais do que nunca urgente. À medidaque o sol da liberdade e da democracia se ergue no Médio Oriente, nuvens de divisão criamobstáculos à unidade europeia e à capacidade de assumir responsabilidades. Exorto-vos aolhar para o que está a acontecer no momento em que falamos e a agir em apoio inequívocoda população. Os seus direitos e a credibilidade da UE são indissociáveis.

As tecnologias da informação e comunicação constituem um outro fenómenosistematicamente presente nas relações entre a população e as ditaduras. O Governotunisino foi classificado como um dos casos mais graves de utilização da censura, davigilância e das tecnologias de filtragem para reprimir os cidadãos. Empresas europeias,como a Vodafone e a Telecom francesa, tiveram uma forte presença no Egipto e no cortedas ligações ao carregarem no interruptor e "desligarem" o Egipto. Gostaria que seprocedesse a um inquérito sobre o papel desempenhado pelas empresas europeias naviolação dos direitos humanos, dificultando a liberdade de expressão, a liberdade deimprensa e o acesso à informação, e criando um ambiente no qual as violações dos direitoshumanos podiam ocorrer sem serem documentadas.

Tomasz Piotr Poręba (ECR). – (PL) Senhora Presidente, Senhora Baronesa Ashton, naminha opinião a União Europeia cometeu diversos erros nas suas relações do passado coma Tunísia e o Egipto. Cometemos um erro em relação à Tunísia, quando nos mantivemoscalados depois de Ben Ali ter vencido as eleições presidenciais, em 2009. Recordo que esteobteve 90% dos votos, mas que as eleições não foram nem livres, nem democráticas. Omesmo aconteceu aquando da revisão do Código Penal na Tunísia, que pôs fim às actividadesdas organizações não governamentais para os direitos humanos. Não nos podemos permitiruma política de passividade e de inacção quando estão em causa medidas a adoptaractualmente pela Europa na região do Norte de África. Vai ser muito difícil devolver aestabilidade à região se não desempenharmos um papel activo e demonstrarmos a nossadeterminação em alcançar este objectivo. Os governos que respeitam os direitos humanos,a liberdade de expressão e os meios de comunicação social só voltarão ao poder no Nortede África se adoptarmos uma abordagem activa e determinada aos acontecimentos nestespaíses. Muito obrigado.

67Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Cristian Dan Preda (PPE). – (FR) Senhora Presidente, Senhora Baronesa Ashton, Senhorase Senhores Deputados, há um ano debatíamos nesta Assembleia, as relações da UniãoEuropeia com a Tunísia, e disse, na altura, que as conquistas sociais de que tanto seorgulhavam os tunisinos deviam ser acompanhadas de progressos políticos.

Nestas últimas semanas pudemos ver progressos políticos, pelo menos no sentido em quea revolta incipiente é a expressão extremamente clara e definida de um desejo de liberdade.A situação no Egipto é semelhante, embora as coisas estejam a evoluir rapidamente. Nãosabemos qual será o resultado e, no futuro, haverá, sem dúvida, outros locais que mostrarãoeste desejo de liberdade de forma igualmente clara.

Simultaneamente, como vimos esta noite, alguns de nós receiam que este vento de mudançanão conduza necessariamente ao laicismo ou à continuação de um Estado laico, àmoderação ou à estabilidade. Creio que devemos estar conscientes de que muitopossivelmente, nas próximas semanas e nos próximos anos, esta região não conheceráregimes políticos que sejam simultaneamente estáveis e assentes na liberdade e moderação.Essa é de facto uma probabilidade, e será bom que estejamos preparados.

Neste sentido, gostaria de encorajar a Senhora Baronesa Ashton a eventualmente reorientara estratégia da União no sentido da trajectória já esboçada pela Comissão, em 2005, noseu relatório para a cimeira de Barcelona.

Kader Arif (S&D). – (FR) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, até agoratinha a impressão de que os povos estavam sempre à frente das suas elites políticas. Hojetenho a certeza. Gostaria, em primeiro lugar, de louvar a coragem e a determinação dospovos tunisino e egípcio. Recordaram-nos que os valores que representamos no mundo– os direitos humanos e a democracia – não são valores exclusivos do Ocidente, comoalguns proclamam, mas são, pelo contrário, valores universais partilhados por todos.

A Europa, em meu entender, já não pode continuar a cometer erros nesta parte do mundo,oscilando entre análises erradas e projectos mal orientados. Estes povos estão à espera deuma resposta nossa que esteja à altura da sua coragem e das suas aspirações. Não pedemcaridade, mas pedem seguramente solidariedade e, sobretudo, responsabilidade. Nestestempos incertos, ninguém quer o caos, mas também ninguém tem de continuar a aceitaro statu quo.

Devemos dizer sim à esperança criada por estes acontecimentos na Tunísia e no Egiptopor forma a contribuir para o estabelecimento e consolidação de democracias quebeneficiarão estes países e as suas populações, mas também nos beneficiarão a nós, e penso,Senhora Baronesa Ashton, que o expressou de uma forma muito enérgica.

Gostaria de concluir citando as palavras de um poeta: "O mundo dorme por falta deimprudência" Estes povos, muito justamente, foram imprudentes ao reivindicarem a sualiberdade, mas espero, sobretudo, que tenham despertado as nossas consciências.

Alexander Graf Lambsdorff (ALDE). – (DE) Senhora Presidente, Senhora BaronesaAshton, gostaria de lhe pedir que fosse mais corajosa. Desloque-se ao Cairo antes doConselho dos Ministros dos Negócios Estrangeiros. Fale com os representantes do governoe com a oposição. Regresse a Bruxelas e relate aos seus colegas o que viu e ouviu. Fixe aagenda e não escute 27 opiniões diferentes, caso contrário, depois será muito difícil fazer,de facto, alguma coisa.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT68

Quando o Senhor Director-Geral Adjunto da Direcção-Geral das Relações Externas daComissão Europeia, Hugues Mingarelli, for à Tunísia – o que considero bastante positivo–, gostaríamos que nos informasse, não só para ficarmos a par do que se passa mas tambémpara que os cidadãos tenham conhecimento de que a Europa está presente. Tomei primeiroconhecimento da presença do representante americano e só depois da presença do SenhorHugues Mingarelli. V. Ex.ª é a Ministra dos Assuntos Externos para a Europa e gostaria dea aconselhar, muito sinceramente, a ser, por um lado, a nossa Ministra dos AssuntosExternos, por outro, enquanto Ministra dos Assuntos Externos para a Europa, não deveráseguir toda e qualquer sugestão que lhe seja apresentada.

Hoje foram feitas comparações com 1989, e penso que são correctas. A Praça Tahrir, noCairo, em 2011, corresponde à Alexanderplatz, em Berlim, em 1989. A revolução está aacontecer neste país. Contudo, se pensarmos, por um momento, na revolução de 1989,recordar-nos-emos de que, nessa altura, vivemos o mesmo dilema. Queríamos a liberdade,a estabilidade e a democracia, e esquecemo-nos de que este processo, a transição de umaditadura estável para uma democracia, raramente é pacífico, ordenado e estável. Nestaperspectiva, a diplomacia, a organização e a prudência também têm o seu lugar.

Isso não deveria desviar-nos do nosso grande contentamento face a esta revolução. Esta éuma revolução contra a ditadura e pela liberdade. Estou convencido de que a Europa podeditar a transição nestes países. Todavia, embora a nossa alegria deva ser manifesta, tambémé claro que, mesmo com influência limitada, não será certamente possível construir umEstado com Hosni Mubarak. Com a violência de hoje na Praça Tahrir, perdeu-se o últimovestígio de legitimidade deste governante no Egipto.

Sajjad Karim (ECR). - (EN) Senhora Presidente, há muito que este momento se adivinhava.Está a ser conduzido pelos mais velhos e por aqueles que não conheceram outra realidadeque não fosse a de Mubarak no Egipto. A nossa resposta tem sido dizer que o Egipto nãodeve ser mais destabilizado do que já está; que ao povo do Egipto deve ser dado um governoda sua escolha através da sua vontade livremente expressa.

Bem, isso é verdade, mas não é suficiente. E ainda ouvi, nesta Assembleia, alertas sobre umtsunami islâmico que está a chegar e nos destruirá a todos.

Receio bem que, ao apresentarem estes argumentos, os senhores deputados não fazemoutra coisa senão defender um regime totalitário mal disfarçado por uma finíssima camadade democracia, negando simultaneamente todo o valor às pessoas que pagaram com o seusangue e com as suas vidas, tanto na Tunísia, como no Egipto. Estas pessoas pagaram comas suas vidas lutando pela liberdade dos seus concidadãos e não atribuem à vossa liberdadeum valor inferior. As pessoas nas ruas, apesar de muito numerosas, são uma minoriaruidosa que representa, de facto, uma maioria silenciosa ainda mais alargada.

Senhora Alta Representante, não é tempo de baixar os braços. Opte pela firmeza e envieuma mensagem clara: Hosni Mubarak deve sair já.

Simon Busuttil (PPE). - (MT) Senhora Presidente, não há dúvida de que a Europa poderiater feito muito mais para ajudar o mundo árabe e os seus países no caminho rumo àdemocracia. Contudo, se houve um resultado positivo dos acontecimentos dramáticosque testemunhámos, este foi certamente o facto de os árabes terem tomado o controlo doseu próprio destino para melhorarem a sua situação.

Afinal de contas, a história está repleta de exemplos de intervenções por parte dos paísesocidentais que fizeram mais mal do que bem. Devemos, por conseguinte, afastar a ideia

69Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

de que temos de correr para salvar o que seja, sempre que se impõe a necessidade de umasolução, ditando e pregando sermões aos outros sobre o modo como devem gerir os seusassuntos. Hoje devíamos perguntar-nos o que se pode fazer, de ora em diante, à luz dosacontecimentos ocorridos.

Na minha opinião, há duas coisas que necessitam de ser feitas. Em primeiro lugar, devemosintervir com toda a nossa força, e com toda a ajuda que pudermos oferecer para melhoraro ambiente democrático nestes países e, em especial, para reforçar as instituiçõesdemocráticas. Deste modo, estas poderão desenvolver-se e, simultaneamente, afastar osnovos extremistas e ditadores.

Em segundo lugar, devemos perguntar-nos onde é que errámos. Temos de perguntar se anossa política euro-mediterrânica se resumia apenas a palavras sem nunca se traduzir emqualquer acção. Onde estava a nossa União Mediterrânica em tudo isto? Algum dia a Europadeixará de reagir e, ao invés, decidir agir?

Rosario Crocetta (S&D). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, jáera tempo de a Europa desenvolver esforços para oferecer um apoio concreto ao povotunisino e ao seu governo de transição e para relançar um diálogo euromediterrânico quetem sido muito negligenciado nos últimos anos.

A explosão de ira entre os jovens e os pobres no Magrebe e no Egipto foi causada peladistribuição desigual da riqueza e pelas restrições impostas às pessoas no que respeita àssuas liberdades fundamentais. O Norte de África está inflamado e reivindica maisdemocracia, melhores economias, mais participação e mais emprego, ao mesmo tempoque olha incrédulo para o velho continente europeu, imóvel e incapaz de agarrar atransformação social ocorrida na região ou de desenvolver políticas reais de progresso epaz.

A Europa deve dar mais atenção aos direitos humanos e à democracia e deve promovermais diálogo, mais colaboração e mais medidas concretas de natureza económica. A Europadeve abrir as suas portas e o seu coração ao Norte de África, para que o Mediterrâneo sepossa tornar um mar de paz. Basta de rejeição de imigrantes através da colaboração violentacom países como a Líbia. O que necessitamos é de mais investimento, mais abertura, maisajuda e mais política euromediterrânica. É o que a História nos pede.

Zbigniew Ziobro (ECR). – (PL) Senhora Presidente, não podemos comparar a situaçãointerna da Tunísia com a do Egipto. A causa subjacente dos protestos em massa foi a mesma,mas têm implicações totalmente diferentes para a situação internacional.

As mudanças que se operaram no povo da Tunísia, causadas pelo fim do apoio público aBen Ali, podem significar a possibilidade de um futuro melhor para este país. Emcontrapartida, deve usar-se de uma certa prudência na avaliação da situação no Egipto.Apesar do seu regime feudal, Hosni Mubarak actuava como um garante da estabilidadeneste país. Se for agora derrubado, tendo em conta que a falta de condições adequadas, atéà data, se traduziu na não formação de uma oposição democrática – e este é um aspectoque gostaria de salientar –, tudo indica que o Egipto poderá ser empurrado para os braçosde grupos políticos extremistas associados à Irmandade Muçulmana. As consequênciasinternacionais de um tal desenvolvimento devem ser consideradas. Uma possível aliançacom o Hamas, uma política de linha dura em relação a Israel, a intensificação da perseguiçãoaos Cristãos e o exacerbar da situação na região – serão estas possibilidades melhores doque a estabilidade com Mubarak? Embora se reconheçam as suas grandes falhas, bem como

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT70

a legitimidade dos protestos contra o que tem sucedido sob o seu regime, deveríamosreflectir sobre qual será a melhor solução neste caso, e qual a abordagem a adoptar pelaUnião Europeia.

Francisco José Millán Mon (PPE). – (ES) Senhora Presidente, os acontecimentos naTunísia e no Egipto revestem-se de grande significado e é possível que estes processos demudança se estendam a outros países da região do Mediterrâneo, região da maiorimportância para a União Europeia. Estes são os nossos vizinhos próximos e unem-nos aestes países amigos laços variados e fortes.

Na última década, a União Europeia não foi capaz de persuadir as suas autoridades arealizarem as necessárias reformas. Na legislação anterior, eu próprio insisti em que aestabilidade não podia continuar a ser utilizada para justificar a falta de mudança, mas que,pelo contrário, estes países necessitavam de reformas políticas, económicas e sociaisprofundas. Agora, a mudança e as reformas são reivindicadas pelos cidadãos e nas ruas.

Senhoras e Senhores Deputados, saúdo o facto de o Conselho ter, finalmente, prestadoatenção a estes acontecimentos, na segunda-feira, e ter tomado uma posição. Tambémtenho a impressão de que o processo de transição na Tunísia se encaminha na direcçãocerta. Contudo, a percepção mais generalizada é, infelizmente, a de que a União Europeiaesteve praticamente ausente destes processos nas últimas semanas. Ouvimos diversosdiscursos do Presidente Obama, ouvimos declarações da Secretária de Estado Hillary Clinton,e até ouvimos contactos entre o exército tunisino e representantes do exército dos EUA…

A visibilidade da União não foi, de forma alguma, comparável. Os novos mecanismos doTratado de Lisboa deveriam ter sido mais activos e visíveis, incluindo o Presidente doConselho Europeu.

Senhora Baronesa Ashton, saúdo a sua viagem à Tunísia dentro de duas semanas, mastambém considero que devemos melhorar as nossas capacidades de previsão e de reacção.Não queremos ser um actor global importante? Então, necessitamos, no mínimo, decomeçar por ser importantes a nível regional.

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D). – (RO) Senhora Presidente, a União Europeia está aacompanhar muito de perto a situação na Tunísia e a apoiar os esforços do povo tunisinocom vista a uma transição pacífica para a democracia. As medidas iniciais adoptadas peloGoverno de transição, na Tunísia, vão na direcção certa. Exortamos as novas autoridadesa implementar integralmente os compromissos assumidos em termos de governação,respeito pelo Estado de Direito e pelas liberdades fundamentais, bem como em termos dereformas económicas e sociais. Creio que todas estas reformas constituem uma das melhoresformas de investir no futuro da Tunísia e de ajudar a instaurar uma democracia estável.

A Europa procura estabelecer uma parceria estável com a Tunísia no quadro da EUROMEDe deverá mobilizar todos os instrumentos que possui para facilitar o processo de transição,criar instituições democráticas fortes e encorajar a formação de uma sociedade civil activa,envolvida na implementação das reformas. É do nosso especial interesse ter uma Tunísiaestável, próspera e democrática com a qual poderemos desenvolver uma cooperaçãomutuamente benéfica baseada em interesses e valores comuns.

Michael Gahler (PPE). – (DE) Senhora Presidente, Senhora Baronesa Ashton, Senhorase Senhores Deputados, o que é preciso fazer agora já foi dito muitas vezes – a este respeitohá um amplo consenso. A nossa resolução é clara, em relação à Tunísia, mas em relaçãoao Egipto, teremos de a elaborar mais, conforme necessário, por meio de alterações orais.

71Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Julgo haver razões para fazer uma autocrítica. Os nossos executivos em Bruxelas e nosEstados-Membros aceitaram o status quo durante demasiado tempo. Se tivéssemos levadoa sério os nossos próprios princípios na actividade política diária com respeito ao carácteruniversal dos direitos humanos e da democracia, teríamos sido obrigados a abordar semrodeios a Tunísia e o Egipto sobre as suas gritantes falhas. Sabíamos que as medidas tomadascontra os Islamistas e fundamentalistas não visavam exclusivamente estes grupos, mastambém quaisquer críticas à política governamental existente. Não é ainda demasiadotarde. O apelo à democracia e ao respeito pelos direitos humanos não é nem interferêncianos assuntos internos, nem pode ser denunciado como algo que contribuiu paradesestabilizar a situação. Nenhuma ditadura, nenhum regime autoritário é, em si mesmo,estável. Portanto, com a nossa actual política, limitámo-nos a ganhar tempo, mas nãoestabilidade.

A Tunísia e o Egipto servem de exemplo para outros. Todos sabem quem são os outros naregião. Muitas pessoas têm medo de os identificar. Na minha opinião, por exemplo, aArábia Saudita é um possível candidato. Esta situação exige a liderança política da SenhoraAlta Representante. Todavia, os 27 não têm interesses divergentes. Se estiver clara sobrea posição a tomar, não espere pela opinião transmitida por cada um dos cépticos diplomatasaos seus Ministros dos Negócios estrangeiros. O que o Senador John Kerry disse antes deontem e Barack Obama disse esta noite, em relação ao Egipto, também deveria ter sidodito por si. Emancipe-se no interesse da União, para que a própria UE, e mais ninguém,formule as suas políticas para o futuro no que respeita aos seus países vizinhos. Talvezpudesse mesmo deslocar-se à Tunísia e ao Egipto na próxima semana e depoiscomunicar-nos as suas conclusões daqui a quinze dias em Estrasburgo.

Richard Howitt (S&D). - (EN) Senhora Presidente, como todos os outros participantesneste debate, também eu considero profundamente preocupante a situação dosmanifestantes pacíficos no Egipto, em especial à luz dos novos actos de violência de hoje.

Gostaria de deixar registado neste debate a preocupação com a continuação doencerramento do canal Al Jazira, em relação ao qual a Europa se tem mantido, até agora,silenciosa, e com a detenção de seis jornalistas do Al Jazira, bem como a necessidade dediscutir com as empresas de tecnologias da informação e fornecedores de Internet e detelefonia móvel, incluindo a Vodafone do meu próprio país, as escolhas que fizeram noEgipto ao longo das últimas semanas.

Também gostaria que os líderes da UE tivessem dito antes o que estão a dizer agora. OPresidente Nicolas Sarkozy afirmou em Dezembro de 2007: "Gostaria de dizer ao SenhorPresidente Mubarak que aprecio muito a sua experiência, sabedoria e visão moderada. …oPresidente Mubarak é, para nós, um amigo." Agora apela à mudança.

Ou ainda Alistair Burt, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, que afirmoudesejar a estabilidade no Egipto, mais do que qualquer outra coisa. William Hague, que serecusou a dizer com que brevidade gostaria que as eleições se realizassem, está agora apedir mudança.

Por último, concordo com a Senhora Baronesa Ashton, a nossa Alta Representante. AEuropa acompanha bem a adequação da justiça às mudanças, a organização de eleições ea construção da democracia, bem como o desenvolvimento da sociedade civil. Sejam quaisforem os erros e a herança do passado, tanto a Alta Representante como nós devemosencarar os acontecimentos não só como uma crise na região, mas também como umaoportunidade de a Europa dedicar os seus recursos à construção da democracia e ao respeito

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT72

pelos direitos humanos. Estes não são valores que a Europa impõe! São reivindicados nasruas de Tunis e do Cairo e é nossa obrigação ouvir.

Bogusław Sonik (PPE). – (PL) Toda a revolução implica o risco de as reivindicações dedemocracia e pão serem apropriadas por inimigos de um Estado de Direito baseado emfundamentos legais e verdadeiramente democráticos. Não temos qualquer garantia de quea revolta na Tunísia, no Egipto e noutros países da região não venha a ser um pretexto paraa tomada do poder por parte de extremistas islâmicos, como aconteceu no Irão. O momentoda verdade também se aproxima para as Instituições europeias. A União Europeia tem,finalmente, toda a oportunidade de desempenhar o papel para que foi criada. Deverá prestarum apoio efectivo aos poderes políticos favoráveis ao pluralismo. Também deverá revera política de vizinhança, uma vez que é bastante óbvio que a forma como tem sidoconduzida, até à data, permitiu utilizá-la para manter os governos de dirigentes corruptos.Uma parte substancial do dinheiro afectado ao desenvolvimento de zonas vizinhas e àpromoção da liberdade, democracia e prosperidade deve chegar aos cidadãos destes paísesatravés de uma estreita cooperação com organizações não governamentais e com ascomunidades académicas e culturais. O apoio a projectos destinados a jovens e associaçõesde mulheres também deve constituir uma prioridade.

Senhora Baronesa Ashton, a política da União Europeia até à data, para esta região domundo, terminou num fracasso. Devemos arriscar e apoiar um Egipto sem Mubarak, navia de uma República do Egipto, laica e pluralista, que respeite as suas minorias. Já é tempode Mubarak sair; o seu tempo acabou. Desperdiçou o tempo que teve.

Nicole Sinclaire (NI). - (EN) (Pergunta segundo o procedimento "cartão azul" nos termos don.º 8 do artigo 149.º do Regimento, dirigida ao deputado Richard Howit). O Senhor Deputadoreferiu alguns comentários feitos pelo Presidente Nicolas Sarkozy e por Alistair Burt. Nãosei se o Senhor Deputado estava neste hemiciclo quando um colega referiu as declaraçõesde Tony Blair sobre Hosni Mubarak. Pode confirmar se concorda ou discorda de TonyBlair?

Richard Howitt (S&D). - (EN) Senhora Presidente, repito o que disse no meu discurso,nomeadamente que há muitas coisas do passado sobre as quais deveríamos reflectir e comas quais deveríamos aprender.

Mas isso não nos deve impedir, enquanto União Europeia, de colaborarmos com o Egiptoe o mundo árabe para apoiar a democracia e o respeito dos direitos humanos, e espero quea minha colega, apesar das divergências de opinião sobre a Europa, concorde comigo nesteaspecto.

Dominique Vlasto (PPE). – (FR) Senhora Presidente, muito já foi dito sobre o assunto,mas gostaria de me associar a todos as manifestações de simpatia e apoio dirigidas aospovos da Tunísia e do Egipto. Estes povos representam um símbolo de esperança paratodos os que defendem a liberdade. Recordo também as vítimas.

Gostaria agora de dizer que a União Europeia que - como se afirmou - se tem feito notarpela ausência de resposta, deve de facto estar ao lado dos povos da Tunísia e do Egipto paraos ajudar a levar a bom termo a vontade dos seus países de proceder a reformas e de instaurara democracia.

A União Europeia decidiu apoiar os líderes tunisinos nos seus esforços tendentes a umatransição pacífica, preparar a organização das próximas eleições tendo em vista a conquista

73Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

da liberdade e ajudar o povo tunisino a encontrar a prosperidade que resulta dodesenvolvimento e da paz social e de uma economia que promove o emprego dos jovens.

Gostaria de terminar dizendo que a União para o Mediterrâneo tem um importante desafioa vencer, pois a Revolução dos Jasmins repercutiu-se em todos os Estados do Norte deÁfrica, do Próximo Oriente e do Médio Oriente. Deve implementar uma estratégia forteem relação a estes países. Mas atenção: face a este movimento democrático legítimo, aEuropa deve encontrar um equilíbrio entre a não ingerência nos assuntos internos, o apoioàs legítimas aspirações destes povos e a estabilidade.

Alf Svensson (PPE). – (SV) Senhora Presidente, no Parlamento Europeu falámos muitasvezes sobre o respeito da democracia e dos direitos humanos e das liberdades, mas - epenso que o podemos reconhecer esta noite - a verdade é que demos muitas vezes prioridadea outros aspectos, nomeadamente à estabilidade política e às boas relações comerciais.Agora, fomos colhidos de surpresa, como por um ladrão na noite, ao aperceber-nos deque as pessoas no mundo árabe também aspiram e anseiam por liberdade. Falamos agoramuito sobre os riscos associados à transição e não há dúvida de que estes existem.Provavelmente, não há aqui ninguém capaz de se levantar e dar três vivas pela IrmandadeMuçulmana. Contudo, sabemos que, a longo prazo, todos os indivíduos desejam e têm odireito à liberdade e ao respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades.

Impõe-se agora garantir que a UE não se limita a ser exclusivamente um espectador,permitindo que as coisas aconteçam de qualquer forma. Pelo contrário, devemos tomar ainiciativa e, tal como a Senhora Baronesa Ashton salientou aqui, esforçarmo-nos porparticipar na construção da democracia. É impressionante que os jovens tenham iniciadoestas revoltas, talvez em parte devido aos meios de comunicação agora disponíveis. Porconseguinte, não considero que, neste momento, se deva dar um cunho demasiadoideológico ou religioso a estes movimentos. Todavia, independentemente do que estesdefendam, a longo prazo, é a liberdade e o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdadesque deve merecer de nós, neste hemiciclo, e do Parlamento no seu todo, uma atençãoprioritária.

Anna Záborská (PPE). – (SK) Senhora Presidente, mais de dois anos de monitorizaçãorevelaram-nos a erosão gradual da democracia, da liberdade de expressão, da liberdade dereunião e da liberdade de religião nos países em questão. Os resultados das eleições nestespaíses fornecem provas claras.

Os regimes totalitários não nascem de uma hora para a outra Apesar dos sinais claros, aUnião Europeia não conseguiu adoptar uma posição sobre a observância dos direitoshumanos. Infelizmente, somos dos últimos a adoptar uma posição comum.

Por que razão criámos a União Mediterrânea durante a Presidência Francesa? Faltaram-nosos recursos diplomáticos para negociarmos a estabilidade nesta parte do mundo?

Os países da União Europeia apoiaram estes governos durante décadas, em especial atravésdo apoio financeiro. Os mesmos países começam agora a pensar na maneira de congelaras contas bancárias e no modo de apoiar os opositores a estes governos. Não será isto omesmo tipo de hipocrisia? A situação no Mediterrâneo é uma lição para nós sobre ainobservância dos direitos humanos. Por exemplo, se a liberdade de religião não forrespeitada, pode tornar-se uma arma para fundamentalistas e terroristas, marcando ocomeço de um regime totalitário.

Digo isto porque há muitos outros países com as mesmas características.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT74

Ernst Strasser (PPE). – (DE) Senhora Presidente, Senhora Baronesa Ashton, o debatenesta Assembleia, que seguiram com interesse, tem um denominador comum específico,a saber, o pedido que lhe é dirigido, Senhora Baronesa Ashton. Erga a sua voz. Tome ainiciativa, seja um pouco mais corajosa e faça-se ouvir mais. Defenda os que, numa sociedadecivilizada moderna, apoiam a democracia e a liberdade de expressão e de imprensa.

A Tunísia, o Egipto e se calhar alguns outros países estão prestes a sofrer uma mudançadifícil. Para isto, precisam do nosso apoio e, portanto, não está certo que o principalrepresentante diga que não é necessária qualquer alteração na estratégia. Pelo contrário,necessitamos da estratégia do Mediterrâneo e, talvez, da do Médio Oriente, ou mesmorepensar a coexistência para além do Mediterrâneo, e obviamente que a principal prioridade,além de que se impõe fazê-lo muito rapidamente, é a adaptação, preparação e apoio daseleições.

Não deverá escapar à atenção do principal representante da UE neste país que o governode transição na Tunísia tenciona agora celebrar quatro convenções internacionais para aprotecção dos direitos humanos, que todos os presos políticos foram libertados, osdissidentes regressaram e estão a ser preparadas eleições democráticas. Devemos apoiareste processo, e o Parlamento deseja ouvi-la falar mais energicamente sobre este tema.

Marco Scurria (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhora Baronesa Ashton, Senhoras eSenhores Deputados, esta crise deve levar-nos a compreender se a União Europeia desejarealmente desempenhar um papel em matéria de política externa.

A política externa é uma questão séria: necessita de estratégias, objectivos seguros e aliançasclaras. Não podemos continuar a viajar pelo mundo e a dar palmadinhas nas costas detodos, fazendo de conta que está sempre tudo bem. As eleições no Egipto realizaram-sehá algumas semanas atrás e nós não contestámos porque nos apercebemos de que haviauma ditadura que nos enganava a todos. Agora que milhões de pessoas saíram para as ruas,todos nós começámos a falar de democracia e de direitos humanos. É de facto isso quequeremos e cumpre-nos tentar que se concretize, porém há que ser cauteloso ao seguir asmultidões. Recordo o povo iraniano, que se mobilizou para mandar embora o Shah, ecomo tudo terminou: num regime que continua ainda nos dias de hoje a enforcar dezenasde pessoas.

Espero, por exemplo, que o novo Governo egípcio consiga manter afastados os extremistase desempenhar um papel estabilizador na crise israelo-palestiniana. Senhora BaronesaAshton, certamente que é necessária mais democracia nesta parte do mundo, mas tambémé necessária mais política europeia.

Miroslav Mikolášik (PPE). – (SK) Senhora Presidente, estamos a assistir a uma enormetensão e conflito entre o governo e a sociedade civil na Tunísia e no Egipto, que surgiraminevitavelmente em resultado de problemas, que vinham de há muito, na economia e nasociedade que foram ignorados pelas autoridades.

A violência física durante os confrontos é, no mínimo, lamentável, e apenas confirma anecessidade urgente de apoio externo a uma transição pacífica para a democracia. A UniãoEuropeia deve, pois, estar preparada para mobilizar todos os seus recursos no sentido defortalecer o Estado de direito e os direitos humanos nestes países, incluindo os direitosreligiosos. Não queremos que islamistas intolerantes e militantes tomem o poder.

No quadro da manutenção de boas relações de vizinhança e da segurança regional, énecessário privilegiar actividades orientadas para o fortalecimento da sociedade civil, para

75Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

a criação de uma oposição saudável e que assegurem a realização de eleições democráticas,a fim de evitar que grupos de extremistas radicais usurpem o poder.

Ioan Mircea Paşcu (S&D). - (EN) Senhora Presidente, o próprio facto de estarmos adiscutir a Tunísia – o nosso assunto inicial – num momento em que o Egipto atingiu oponto de ebulição mostra bem como estamos atrasados em relação à realidade, embora otítulo do nosso debate possa ser mudado com facilidade.

As nossas reacções públicas têm sido tímidas, expressando preocupação e fazendo apelospiedosos à contenção e ao diálogo no meio de revoluções, revelando uma falta de sensoprático. Mesmo a esperança de que as revoluções conduzam a sociedades alicerçadas nosnossos valores ignora as diferenças culturais e religiosas que separam essas sociedades dasnossas.

Como reagir, então? Em primeiro lugar, temos de compreender que isto é um desafio quepede uma resposta coordenada comum, e não uma competição sobre quem demonstraprimeiro mais compaixão. Senhora Baronesa Ashton, as suas palavras só terão a necessáriaautoridade junto de quem as ouvir se forem pública e cabalmente apoiadas por todo oConselho.

Em segundo lugar, devíamos começar a preocupar-nos com o resultado final dessesmovimentos revolucionários. A que tipos de regimes darão origem? E, por último, devíamosrespeitar o direito daqueles povos a decidir por si próprios.

Ivo Vajgl (ALDE). - (SL) Senhora Presidente, quando terminar a revolução quepresentemente grassa nas ruas do Cairo, o povo egípcio escolherá um sistema político eos seus dirigentes. É muito possível que haja também quem reconheça o papel positivodesempenhado pelo Presidente Mubarak na manutenção de algum grau de estabilidade noMédio Oriente. Porém, não é esse o aspecto que agora aqui quero focar.

Os desenvolvimentos na Tunísia e no Egipto revelam o papel marginal desempenhadopela União Europeia no Mediterrâneo e em todas as regiões abrangidas pela nossa políticade vizinhança. Precisamos de reformar a política europeia de vizinhança, precisamos deuma estratégia dinâmica que aborde a resolução dos problemas actuais, da Bielorrússia,Ossétia, Abecásia, Nagorno-Karabakh, Transnístria, Chipre, Palestina e Sara Ocidental.Precisamos de uma estratégia para os países da antiga União Soviética na Ásia Central e naTranscaucásia. Também eles serão varridos pelo vento da democratização; não é precisosermos profetas para vermos que isso está para breve. Há aqui muito trabalho para si,Senhora Baronesa Ashton. Seja ambiciosa, e apoiá-la-emos.

Malika Benarab-Attou (Verts/ALE). – (FR) Senhora Presidente, Senhora Baronesa Ashton,depois de termos erradamente apoiado regimes ditatoriais ao longo da costa sul doMediterrâneo, supostamente como baluartes contra o fundamentalismo islâmico,precisamos agora de estar à altura do desafio que representam estes acontecimentoshistóricos.

A Europa tem de rever a sua actual política em relação a regimes autoritários e a ditaduras.O Presidente Mubarak tem de se demitir imediatamente. Compete-nos apoiar as democraciase os processos democráticos escolhidos pelos povos destes países, e não impor simplesmentea nossa maneira de ver. Ouçamos as suas vozes, sejamos humildes, e não confundamossecularismo e segurança. Nestes países, a mudança já está a acontecer. Os nossosinstrumentos financeiros precisam de ser adaptados a fim de proporcionar um apoio sólidoaos campeões da democracia…

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT76

(A Presidente retira a palavra à oradora)

Marisa Matias (GUE/NGL). - Senhora Presidente, eu penso que estes dois países, comooutros desta região, nos mostram como, nos últimos anos, não raras vezes, os lídereseuropeus souberam estar mais do lado dos negócios do que da democracia, mais do ladodos ditadores do que dos pobres.

Estou francamente preocupada com a situação que se vive actualmente no Egipto e comos desenvolvimentos de hoje, e é por isso que entendo que não é calma que deveremos ter,mas devemos ter solidariedade, solidariedade com os milhões de cidadãos e de cidadãsegípcios que estão no Cairo e em todo o país fartos de fome, fartos de opressão, fartos dedesemprego. E é por isso que, depois do discurso de hoje de Mubarak, depois de terem sidosoltados os cães do regime, depois de se ter criado uma via aberta e limpa para a violência,nós devemos dizer que temos de estar ao lado destas pessoas. Não podemos permitir queseja criada uma estratégia de medo para que elas voltem para casa.

Há trinta e seis anos, em Portugal, teríamos voltado para casa se tivéssemos ouvido essesconselhos. Ainda bem que não voltámos, porque assim tivemos uma revolução democrática.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) Senhora Alta Representante, o serviço europeu de acçãoexterna tem um grande número de empregados, especialistas e analistas. Por conseguinte,os nossos peritos deviam ser capazes de avaliar as convulsões sociais na Tunísia e no Egiptode um modo profissional, e de recomendar a V. Exa. os passos adequados, através dos quaisa Europa ajudará estes países a ultrapassar problemas com dirigentes políticos indesejáveis.Porém, a política da avestruz que seguimos até agora em relação à agitação política nospaíses africanos dá lugar a dúvidas quanto à capacidade de agir do nosso serviço de acçãoexterna.

Senhora Alta Representante da União Europeia, se houver mais atrasos na preparação deuma resposta profissional aos presentes acontecimentos na Tunísia e no Egipto, os nossoscontribuintes terão razão em perguntar-se por que motivo estão a pagar por estamultiplicidade de diferentes burocratas no serviço europeu de acção externa, se eles sãoincapazes de lhe apresentar uma resposta imediata e profissional para as convulsõesnaqueles países.

Andreas Mölzer (NI). – (DE) Senhora Presidente, Senhora Baronesa Ashton, os optimistasconsideram que os acontecimentos revolucionários na Tunísia e no Egipto podem ser oinício de qualquer coisa como a Primavera Árabe das Nações – acontecimentos como osque vimos, por exemplo, na Europa Oriental em 1989. Enquanto europeus, devemosevidentemente estar sempre do lado da liberdade e da democracia, e ficaríamos muitosatisfeitos se fosse esse o caso. Contudo, não devemos esquecer que nós, europeus, e oOcidente como um todo temos até certo ponto também entrado em acordos com as maisdesagradáveis e brutais ditaduras do mundo árabe.

Não devemos ter ilusões. Embora o Facebook, a Internet e o Twitter sejam os meiosmodernos de desencadear uma revolução, eles não substituem as estruturas democráticase o Estado de direito que têm de estar constituídos nos bastidores para que uma revoluçãoseja capaz de fazer a transição para um sistema democrático. O que nós, europeus, podemose devemos fazer é tornar clara a nossa posição e ajudar a construir essas estruturasdemocráticas, a fim de, em última análise, podermos levar o Estado de direito bem comoa economia de mercado, que são necessários à democracia, a essas regiões.

77Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Catherine Ashton, Vice-Presidente da Comissão/Alta Representante da União para os NegóciosEstrangeiros e a Política de Segurança. − (EN) Senhora Presidente, permita-me que comecepor ser absolutamente clara. Não aceito o princípio de que, de algum modo, a Europa tenhasido lenta ou tenha reagido tarde. Fomos os primeiros a fazer declarações sobre a Tunísiae o Egipto. Começámos a falar na Tunísia em 10 de Janeiro e fiz declarações sobre o Egiptona semana passada. Estivemos à frente de todos os outros. Não se trata de uma competiçãonem de uma corrida, mas não aceito essa crítica.

Também não aceito que tenhamos sido lentos a agir. Estivemos em contacto hora a horacom as pessoas na Tunísia e no Egipto, com as nossas delegações, a quem saúdo por aquiloque tiveram de enfrentar nas últimas semanas, e também em contacto directo com ogoverno e com os serviços. Os senhores deputados têm também certamente conhecimentodas outras questões de que temos andado a tratar ao mesmo tempo, pelo que não aceito acrítica de termos sido demasiado passivos e de não termos feito o suficiente.

Admito, sim, que podemos fazer mais. Deram-me todos os instrumentos de que precisocom o Tratado de Lisboa? Provavelmente não. Deram-me todos os recursos de quenecessito? Provavelmente não, mas faremos o melhor que pudermos dentro deste contexto,no quadro do qual temos o Serviço da Acção Externa e a função que desempenho. Nãosou alguém que possa emitir opiniões pessoais em público. Falo em nome da UniãoEuropeia. Ouço-vos, ouço os Estados-Membros e ouço a Comissão. Essa é a função quecriaram no Tratado de Lisboa e é isso que farei.

A alguns de vós que não estiveram aqui desde o princípio direi que o ministro dos NegóciosEstrangeiros tunisino esteve hoje no meu gabinete, para a sua primeira visita fora da Tunísia,à União Europeia, porque o convidei e porque ele sabe como somos importantes, nãoapenas hoje, mas na próxima semana, no próximo mês e no próximo ano. Quando falocom ele, falo em nome da Europa. Ele sabe que o que digo será apoiado por 27 países, etambém, como esperamos, pelo Parlamento Europeu, bem como pela Comissão.

Isto significa alguma coisa para estas pessoas. Tem significado para elas o facto de que,quando falamos, é de uma mensagem única que se trata; não necessariamente – como aspessoas continuam a dizer – uma só voz. É a mesma mensagem, quer seja proferida pelaChanceler da Alemanha, pelo Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha, pelo Presidente de outropaís da União Europeia, ou por qualquer um dos 27. Dizemos a mesma coisa. É por issoque a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros na segunda-feira, as conclusões aque chegaram e as conferências de imprensa que deram sobre todas as questões com quenos defrontamos na nossa vizinhança e para além dela são tão importantes para as pessoasno terreno. Não podemos perder isso de vista em tudo o mais que façamos.

Concordo convosco quando dizeis que precisamos de ser mais activos no terreno parafazer mais, e concordo em absoluto com a necessidade de reanalisar a política de vizinhança.Há muito tempo que o digo. Precisamos de garantir que temos uma abordagem maisdiversificada, que consideramos cada país individualmente e que estabelecemos o quequeremos alcançar com o povo desse país – sim, fazer mais com a sociedade civil, sim,centrarmo-nos nos direitos humanos e na democracia e, sim, resolver as questões de políticaexterna comuns que temos com eles. Concordo. É o que procuro fazer. Se olharem parao trabalho que efectuámos nos últimos dois ou três meses, verão um tema comum naquiloque tenho vindo a afirmar, que tem sido a necessidade de sermos mais activos na nossavizinhança. Essa deve ser a nossa principal prioridade depois da criação do Serviço, e esteprecisa de ser melhor e mais inteligente, e de estar mais relacionado com as necessidadesdos povos vizinhos.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT78

Não posso assumir a responsabilidade pelo que aconteceu antes da minha entrada emfunções, mas assumo a responsabilidade de transformar o que herdei numa estratégia parao futuro de que vos possa fazer sentir tão orgulhosos como eu tenciono sentir-me. Issocomeça com o que fazemos agora e com a medida em que podemos assumir aresponsabilidade e andar para a frente.

Não subestimo o grau de dificuldade da situação e a rapidez com que está a evoluir.Concordo com aqueles que também acentuaram que a democracia não é um instante notempo. É um processo. Construímos a democracia e criamos as organizações que podemtrabalhar com as pessoas para as ajudar a compreender os seus direitos democráticos, oque a democracia pode significar e o que pode fazer – a transformação da sociedade.Utilizamos essa palavra nas conclusões do Conselho pela simples razão de que acreditona transformação, não apenas para hoje e para amanhã, mas a longo prazo. É isso que aEuropa tem para oferecer. Foi isso que a Europa ofereceu aos nossos vizinhos que setornaram nossos parceiros e que ofereceu aos seus próprios Estados-Membros. Produziutransformação que perdurará por gerações. É essa a nossa missão. A nossa tarefa não éproduzir reacções e respostas descoordenadas. É fazer alguma coisa que damos às pessoaspara o resto da sua vida, para a vida dos seus filhos e para além disso.

Evidentemente que, em tudo isto, não esqueci todas as outras questões. Estou atenta aoque se passa na Jordânia. Estou em contacto com esse país. Estou naturalmente envolvidacom os acontecimentos no Irão. Passei o penúltimo fim-de-semana em conversações comos iranianos e todos sabem a emoção que sinto a respeito dos direitos humanos no Irão,com todas as declarações que fiz e todas as questões que levantámos.

Certamente que não esqueci o processo de paz no Médio Oriente. Falei ontem com GeorgeMitchell. Amanhã avistar-nos-emos com o Primeiro-Ministro Fayyad. Estamos envolvidoscom o Quarteto. Este terá um encontro no sábado, presidido por mim, por ocasião daConferência de Segurança de Munique.

Não esqueci nenhuma das outras questões. Também não esqueci a Albânia, aonde MiroslavLajčák regressa esta semana para continuar o diálogo com aquele país em meu nome. Nãoesquecemos todas as outras coisas que precisam de ser tratadas, nem as questões que iremosdebater esta noite neste Parlamento.

Não sou responsável pelo que diz Tony Blair. Posso partilhar a mesma língua, possopertencer ao mesmo partido político, mas não sou responsável por ele nem posso serresponsabilizada pelas suas posições.

Na próxima semana irei ao Conselho de Segurança, e fá-lo-ei também em vosso nome. Aíteremos de novo a oportunidade de mostrar o que a União Europeia tem para oferecer aesses povos, hoje e no futuro. É realmente importante ter o vosso apoio para fazer isso –não em voz baixa, posso falar muito alto – mas adequadamente, com coesão, com umrumo, com um objectivo, com uma estratégia e um plano, de tal modo que, quando oministro tunisino dos Negócios Estrangeiros vem ao meu gabinete, tenho um plano paralhe apresentar. Não lhe digo "É um prazer vê-lo, venha aqui falar comigo diante das câmarasda televisão durante cinco minutos". Não. Disse-lhe "Vamos reunir durante uma hora evamos analisar o seu plano com aquilo que penso que lhe podemos oferecer. Quantodinheiro é preciso? O que posso fazer? O que preciso de mudar? Que instrumentos seránecessário reunir? Que grau de flexibilidade temos agora? E de que grau de flexibilidadeprecisamos? O que precisam da nossa parte, do Banco Europeu de Investimento, do Banco

79Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

da União Africana, dos Estados Unidos, dos vossos outros parceiros? Como construímoso plano?"

Depois encontrei-me com o ministro dos Negócios Estrangeiros iemenita e fizemos amesma coisa: de que modo o grupo de países amigos do Iémen cria um novo fundo dedesenvolvimento? Fazemo-lo com os países árabes com quem tenho falado? O que fazemos?

Em minha opinião, é assim que a Europa deve trabalhar, e é isso que faço todos os dias emvosso nome e continuarei a fazer.

Espero agora poder deixar este debate daqui a pouco e pedir a outro Comissário que mesubstitua. Peço desculpa por isso, mas os acontecimentos no Egipto, como os senhoresdeputados muito bem disseram, estão em evolução e posso dizer-vos o que fizemos tambémenquanto estivemos aqui a falar. Enviámos mensagens, falámos, em meu nome, com ovice-ministro dos Negócios Estrangeiros. As mensagens seguiram agora directamente. Asforças de segurança têm de intervir imediatamente para parar a escalada de violência. Essamensagem foi elaborada por mim enquanto estou aqui a falar convosco. Eles precisam deassumir a responsabilidade; o governo é responsável por fazer intervir o exército paraajudar o povo e assegurar que os cidadãos estão agora protegidos. Tem que se permitir queas ambulâncias entrem na praça e saiam dela, pois estão-nos a dizer que elas não sãoautorizadas a entrar. Vou falar com o Vice-Presidente Suleiman logo que abandonar oHemiciclo. A chamada está a ser feita agora e por isso vão-me desculpar por ter de sair.

Está a decorrer uma reunião para tentar elaborar um roteiro com a oposição, enquanto osdirigentes europeus estão atarefados a falar em nosso nome com outros líderes da regiãoe a conseguir que eles estabeleçam também contacto telefónico. Isto tem de ser uma "árvoretelefónica" como nunca antes se viu, de líderes a falar com líderes, levando as mensagensao Egipto. Enquanto tudo isto acontece, temos uma reunião de crise a decorrer nos meusgabinetes para analisar o que faremos em qualquer eventualidade em que nos venhamosa encontrar.

Foi isso que fiz todos os dias desde que a crise começou: fi-lo com o que aconteceu naAlbânia, com o que aconteceu na Bielorrússia, com o que fizemos no Sudão, onde o nossorepresentante especial dirigiu uma task force e onde Véronique De Keyser viu com os seuspróprios olhos, no terreno, o que a Europa estava a fazer.

É isto que fazemos. Podíamos fazer mais? Claro que sim. Gostaria de me desdobrar emquatro? Sim, gostaria. Penso que os instrumentos são os certos? Não. Penso que fizemosprogressos? Sim. Penso que podemos fazer muito mais? Evidentemente.

Se tudo o que querem de mim é que apareça e seja vista ao lado de toda a gente, não o farei.O que farei por vós é cumprir aquilo para que eu considero que a Europa foi criada, que écolocar a democracia e os direitos humanos no cerne de cada simples acção queempreendemos e, hoje, apoiar o povo do Egipto e da Tunísia.

(Aplausos)

Presidente. − Recebi seis propostas de resolução (2) , apresentadas nos termos do n.º 2do artigo 110.º do Regimento.

Está encerrado o debate.

(2) Ver acta.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT80

A votação das propostas de resolução relativas à Tunísia terá lugar na quinta-feira.

As propostas de resolução relativas ao Egipto serão votadas no período de sessões deFevereiro II.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Sergio Berlato (PPE), por escrito. – (IT) Nos últimos dias, a situação na Tunísia e em outrospaíses da orla sul do Mediterrâneo agravou-se. Dezenas de pessoas perderam a vida emmanifestações violentas contra o elevado custo de vida e a ausência de um mercado livre.Aproveito a oportunidade para recordar que, em 1995, a UE lançou em Barcelona umprograma de parceria com os países mediterrânicos, destinado a implementar umacooperação económica, política, militar e social. Contudo, estes objectivos estão longe deter sido alcançados. A situação dramática na Tunísia demonstra a urgente necessidade deuma visão europeia para o Mediterrâneo bem como, na realidade, de um efectivoenvolvimento dos países da orla meridional nas actuais políticas de parceria e vizinhança.A situação no Egipto agravou-se ainda mais nas últimas horas. Há notícia de vários feridose mortos em confrontos, por todo o país, entre a polícia e pessoas que se manifestavamcontra o governo do Presidente Mubarak. Penso que o caminho que devemos tomar nointeresse destes países, mas sobretudo no interesse da Europa, é o de apoiar reformaseconómicas e sociais capazes de satisfazer as aspirações de grande parte da população esusceptíveis de assegurar a paz e uma melhoria gradual das condições de vida nos paísesdo Norte de África.

Richard Falbr (S&D), por escrito. – (CS) Em 1995, a União Europeia estabeleceu oobjectivo ambicioso de criar paz, estabilidade e prosperidade na região mediterrânica. Ospaíses mediterrânicos obtiveram financiamentos na condição de empreenderem asnecessárias reformas económicas e políticas. Porém, nada disto aconteceu. Na maioria doscasos, a tentativa da UE de ajudar os seus vizinhos do Sul foi sobretudo determinada peloreceio de os radicais islâmicos chegarem ao poder, ameaçando assim a estabilidade daregião. A história mostra que o apoio aos regimes autoritários não compensa. Nãocompensou para os Estados Unidos na América do Sul e Central, e também não está acompensar para a União Europeia. Alguns críticos chamam-nos hipócritas, e com razão.Falamos de direitos humanos, da necessidade do diálogo social e do desenvolvimentoeconómico, mas durante décadas ignorámos o facto de a Tunísia e outros países do Nortede África terem sido governados por regimes cruéis e antidemocráticos. Tem de ser ditoque isto representa um enorme fracasso para aqueles que fomentaram essa política. Oembaraçoso apelo feito a Mubarak por representantes da União Europeia para queorganizasse eleições democráticas é apenas o triste resultado desta política falhada.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito. – A onda de indignação e as lutas dos povos depaíses de África, com destaque para os povos da Tunísia e do Egipto, exigem a nossa maioratenção e solidariedade. No caso concreto do Egipto, cujo povo continua a luta pelos seusdireitos sociais e laborais, pela justiça social, a democracia e a liberdade, condenamosveementemente a repressão que, às ordens do governo de Hosni Mubarak, foi e continuaa ser direccionada contra os trabalhadores e o povo em luta, e prestamos homenagem aoscerca de 100 cidadãos egípcios mortos pela violência de Estado.

A exemplo da Tunísia e de vários outros países do Mundo Árabe e de África, a situação noEgipto é indissociável do aprofundamento da crise do capitalismo e da violenta ofensivaanti-social que a caracteriza, nomeadamente com o crescimento exponencial do desemprego

81Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

que afecta a juventude, bem como com o aumento exponencial dos preços dos bensalimentares.

Os recentes acontecimentos no Egipto e a ampla mobilização popular que os caracterizanão são também separáveis da coragem, persistência e determinação de organizaçõesrepresentativas dos trabalhadores e de outras forças populares e progressistas que, hámuitos anos e em condições muito difíceis, desenvolvem importantes processos de luta.Insistimos na defesa de uma solução política encontrada no quadro do estrito respeito pelavontade soberana do povo do Egipto, livre de quaisquer ingerências, manobras ou pressõesexternas.

Filip Kaczmarek (PPE), por escrito. – (PL) Os actuais acontecimentos na Tunísia e noEgipto podem ser a chave para o futuro de toda a região. Há muito que as sociedades destaregião não têm possibilidade de exprimir abertamente as suas ambições, sonhos e receios.Ainda não sabemos qual irá ser o desfecho dos acontecimentos no Norte de África. O queé certo é que devíamos tentar exercer uma maior influência no desenvolvimento da situação.No fim de contas, estes acontecimentos estão a ocorrer em países da nossa vizinhançaimediata. A Europa, de facto, tem tido um envolvimento considerável na região que estamosa debater. Sabíamos há muito tempo que os governos locais nem sempre corresponderama todas as expectativas das suas sociedades. Os protestos foram desencadeados pelosproblemas que mais frequentemente alimentam o descontentamento social – pobreza,desespero e a arrogância das autoridades. Não acredito que a Tunísia e o Egipto estejam asonhar com a democracia tal como a entendemos no Ocidente. As pessoas sonham apenascom uma vida melhor, e uma vida melhor não significa necessariamente democracia.Merecem eles uma vida melhor? Sem dúvida. Toda a gente tem direito a uma vida melhore o direito ao respeito pela dignidade humana, à liberdade e ao desenvolvimento. Oxalá assuas esperanças se possam tornar realidade rapidamente e sem derramamento de sangue.Muito obrigado.

Kelam, Tunne (PPE), por escrito. – (EN) A primeira conclusão a extrair das profundasmudanças que estão a ocorrer na Tunísia, no Egipto e noutros lugares é que o mundodemocrático não estava, em absoluto, preparado para elas. A UE, tal como os EUA, foramapanhados de surpresa e ainda têm de improvisar na sua reacção e acomodação a estesdesenvolvimentos revolucionários.

Aconteceu o mesmo há vinte anos, quando a União Soviética se desmoronou. Verificou-seque milhares de sovietólogos haviam menosprezado, nas suas análises, a poderosa forçalatente que acabou por abater a ditadura soviética – a vontade de liberdade do povoescravizado.

A actual situação pôs a nu uma fraqueza inerente da jovem política externa comumeuropeia. Pôs a nu uma crise crónica dos valores em que a União Europeia está oficialmentealicerçada. Na Realpolitik, estes valores têm sido sistematicamente desprezados oudesvalorizados em nome da estabilidade ou de relações pragmáticas de vistas curtas.

Está na altura de compreender que fazer vista grossa à supressão da liberdade com ajustificação da salvaguarda da estabilidade e dos interesses económicos conduzinevitavelmente a erros políticos devastadores. Só a verdadeira democracia pode garantira estabilidade a longo prazo. Confiar nos regimes autocráticos significa aumentar a bolhade ilusão que rebentará mais tarde ou mais cedo, saldando-se em graves danos morais paraos nossos parceiros democráticos.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT82

Krzysztof Lisek (PPE), por escrito. – (PL) Os especialistas acreditam que os motins naTunísia provocaram um efeito dominó. É muito provável que o próximo país da região asofrer mudanças, depois da Tunísia e do Egipto, seja o Iémen. A Líbia, a Argélia, a Jordânia,a Síria e Marrocos foram também mencionados. A globalização e o fluxo livre de informaçãoque a acompanha estão a abrir os olhos dos cidadãos desses regimes. Estes querem mudança,uma vida decente num Estado democrático moderno e uma legislação aprovada segundoprincípios transparentes. Em situações deste género, a UE deveria promover estes valorese fazer todos os possíveis para assegurar que os países árabes evitem a guerra civil ou atomada do poder por extremistas. Gostaria de salientar que o nosso apoio se deve limitara medidas políticas e não pode incluir intervenção militar. Enquanto União Europeia,deveríamos apoiar os países árabes na realização pacífica de reformas. Existe umanecessidade clara de diálogo, tanto com os representantes das autoridades demissionáriascomo com a oposição, nomeadamente os movimentos islâmicos. A UE tem de estar maispresente na região, e toda a política de vizinhança europeia precisa de ser revista, o quepossibilitará a promoção mais eficaz da democracia, não apenas nos países árabes, masigualmente em países nossos vizinhos a leste, como a Bielorrússia. Precisamos de planosestratégicos eficazes, que incluam uma ajuda financeira europeia apropriada para apromoção da democracia, da sociedade civil e dos direitos humanos. Penso que a UE devefalar a uma só voz e expressar a sua condenação inequívoca dos regimes antidemocráticos.

Nuno Teixeira (PPE), por escrito. – Os acontecimentos que se sucedem em inúmerospaíses árabes, em especial na Tunísia e no Egipto, são manifestações que ficarão para ahistória da libertação dos povos de regimes autoritários, não cumpridores das regras básicasde uma sociedade democrática: o Estado de Direito e a defesa dos direitos humanos.

Penso que agora será importante repensar as estratégias, a curto e a longo prazo, para aTunísia e o Egipto, no longo processo de transição democrática, evitando a subida ao poderde extremismos. Congratulo a missão da UE na Tunísia de avaliação à situação jurídica dafase anterior às eleições e à missão de observação das mesmas – medidas idênticas deverãoser tomadas logo que se alcance a estabilidade no Egipto.

Contudo, considero de extrema importância a revisão da política de vizinhança, que vimosnão desempenhar um dos seus objectivos, a promoção da democracia e dos direitoshumanos. Penso que a abordagem dos acordos euromediterrânicos deve apresentar umamaior diversificação e incidir directamente na sociedade civil. O diálogo com a Tunísia, oEgipto e os países vizinhos deve prosseguir a fim de garantir a estabilidade democrática.Para isso é necessário criar estratégias e reforçar os meios disponíveis para as necessáriasreformas socioeconómicas e políticas.

Traian Ungureanu (PPE), por escrito. – (EN) Se bem que o progresso democrático nomundo árabe deva ser encorajado, os interesses estratégicos da UE não devem ser postosem perigo. Os acontecimentos na Tunísia e no Egipto provaram que a autocracia não ésolução. Contudo, esses mesmos acontecimentos não garantem um desfecho democrático.A história recente mostrou que as revoluções democráticas podem ser desviadas pormovimentos islâmicos bem organizados. A Revolução Iraniana de 1979 é um exemplofamoso de uma sublevação democrática que se transformou numa autocracia. Devemosencontrar um justo equilíbrio entre as políticas sociais do Presidente Mubarak e a orientaçãoestratégica do Egipto. O Egipto é um aliado resiliente, uniu-se às forças que libertaram oKuwait e assegurou mais de trinta anos de paz com Israel. Há esperança e há perigo nosacontecimentos que ocorrem actualmente no Egipto. Os manifestantes e as suas exigênciaslegítimas são uma expressão genuína da necessidade de abrir um debate. Mas há um enorme

83Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

potencial de políticas, práticas e comportamentos opressivos na sociedade egípcia. Acircuncisão feminina, a aprovação das execuções públicas, a tortura e a interpretação estritada lei islâmica são generalizadas. A Irmandade Muçulmana está a promover abertamenteesta agenda e conta com 20% das preferências eleitorais. Impõe-se prudência nestemomento, se quisermos que a democracia tenha futuro no Egipto.

Antonio Masip Hidalgo (S&D), por escrito. – (ES) A instabilidade no Mediterrâneo e noSuez dá aos nossos argumentos acerca da importância do carvão um maior significado.

Apoiemos a energia produzida dentro da UE, que é um recurso seguro.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) Os motins desencadeados no mundo árabe pelojovem Mohamed Bouazizi, que se imolou pelo fogo, não patenteiam de modo algumqualquer elemento religioso ou ideológico manifesto. As exigências socioeconómicas sãoevidentemente a principal preocupação numa altura em que, no Egipto, o aumento dopreço dos alimentos exacerbou as condições duras em que metade dos 80 milhões dehabitantes do país se esforça por sobreviver, abaixo do limiar da pobreza, com dois dólarespor dia. Penso que a nossa atitude em relação aos acontecimentos que se desenrolam nomundo árabe deve ter em conta o apoio natural ao desejo de liberdade, por um lado, mas,por outro, não podemos ignorar as ameaças à estabilidade global que podem resultar docolapso desta região, que está a ficar cada vez mais imprevisível, caótica ou sob a influênciaislamista. Sinais alarmantes mostram que muitos dos manifestantes não aspiram de formaalguma ao modelo de democracia do Ocidente, muito pelo contrário. Não posso terminarsem recordar a invasão russa da Geórgia há dois anos, quando o mundo ocidental, apanhadode surpresa, observou em silêncio e se limitou a ignorá-la. Assistimos, uma vez mais, àocorrência de desenvolvimentos cruciais ao longo das fronteiras da UE que nos apanharamdesprevenidos. Uma vez mais, não estamos envolvidos na acção, embora essa acção afectedirectamente a estabilidade europeia em muitos aspectos.

John Attard-Montalto (S&D), por escrito. – (EN) A primeira deslocação ao estrangeiropor parte do novo Primeiro-Ministro tunisino foi à União Europeia. A Baronesa CatherineAshton recebeu com satisfação o Primeiro-Ministro, e o facto de a UE ter sido o local dasua primeira visita ao estrangeiro foi manifestamente apreciado. A escolha em si éimportante, uma vez que o Primeiro-Ministro tunisino queria transmitir uma mensagemclara do rumo que deseja para o seu país. A UE defende a democracia, o Estado de direito,o respeito pelos direitos humanos e os princípios fundamentais. Defende a estabilidade ea segurança, neste caso, na região do Mediterrâneo. A Tunísia é um dos vizinhos do Nortede África mais próximos de Malta. O que acontecer neste período de transição é importante,não apenas para o meu país mas também para a região. Sendo a Tunísia considerada umEstado moderado, encaro com optimismo a possibilidade de a sua política externaprosseguir na mesma direcção. Tenho também esperança de que a sua situação internamelhore. É importante que a UE esteja visível nos diversos programas de ajuda edesenvolvimento que podem ser dirigidos à Tunísia. Os países que abraçam os valoresdemocráticos e contribuem para a estabilidade e para a segurança numa região devem serreconhecidos pelos seus esforços. Por isso, é vital que a UE manifeste este reconhecimentode forma visível e tangível.

Rafał Trzaskowski (PPE), por escrito. – (PL) A ONU anunciou ontem que mais de200 pessoas morreram como resultado dos tumultos que acompanharam a revolução naTunísia. Este é o lado trágico dos acontecimentos no Sul, que ocorreram de forma tãoinesperada. Isto deveria levar cada um de nós a fazer todos os esforços possíveis para a

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT84

democratização, quer deste país, quer da região no seu todo, em particular porque a velhaordem está a ruir perante os nossos olhos também no Egipto. Infelizmente, não hápossibilidade de a União Europeia falar a uma só voz. Não nos deixemos iludir pensandoque a recém-criada diplomacia europeia desempenhará um papel de primeira linha desdeo início, quando cada Estado-Membro tem interesses particulares tão fortes. No caso daTunísia, contudo, os instrumentos à nossa disposição são talvez menos espectaculares mascapazes de produzir resultados muito tangíveis. Neles se incluem a política de vizinhançade UE, que está actualmente a ser objecto de revisão e que deveria ser modificada de formaadequada face aos actuais acontecimentos. Neles se incluem igualmente a possibilidade deenviar uma missão de observação da UE, e provavelmente já ninguém tem de ser convencidodesta necessidade. Trata-se de tarefas concretas para as quais o Parlamento Europeu deveagora dirigir a sua atenção.

Kristiina Ojuland (ALDE), por escrito. – (EN) Gostaria de subscrever a admiraçãoexpressa durante o debate pela coragem que o povo da Tunísia e o do Egipto revelaram aoexpressar o seu descontentamento e a sua decepção com os respectivos regimes. Nestemomento, a agitação atingiu um ponto irreversível e a União Europeia tem de contribuirpara o processo de transição que foi desencadeado. Algumas vozes cautelosas têm apeladoa que se mantenha o status quo, sobretudo no Egipto, com o argumento de que derrubaro regime poderia provocar uma guerra civil, o que, por sua vez, poderia levar osfundamentalistas religiosos ao poder. Julgo que não nos compete fazer previsões sobre ospossíveis desenvolvimentos naqueles países. Recorde-se que, quando o Bloco de Lesteestava à beira do colapso, ainda havia quem não quisesse agitar as águas com receio degerar uma futura instabilidade na região. Não cometamos esse erro, antes ajudemos, damelhor forma que pudermos, o povo da Tunísia e o do Egipto a lançar as bases de umaverdadeira democracia. Acredito que o Islão e a democracia não são incompatíveis – aIndonésia, uma democracia, tem a maior população muçulmana do mundo.

16. Referendo sobre o futuro estatuto do Sudão Setentrional (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia a declaração da Vice-Presidente da Comissão/AltaRepresentante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança sobre oreferendo relativo ao futuro estatuto do Sul do Sudão.

Catherine Ashton, Vice-Presidente da Comissão/Alta Representante da União para os NegóciosEstrangeiros e a Política de Segurança. − (EN) Senhora Presidente, vou ler a declaração eapraz-me informar que, em seguida, o meu colega Michel Barnier continuará o debate eencerrá-lo-á por razões que julgo que os senhores deputados já compreenderam.

Estamos a assistir a um momento histórico para o Sudão e, em boa verdade, para toda aÁfrica. O povo do Sul do Sudão esperou muito tempo pela oportunidade de exercer o seudireito à autodeterminação. A forma oportuna, pacífica e credível como o referendo sedesenrolou foi um êxito notável de que toda a gente se deve orgulhar.

Os resultados preliminares do referendo nos dez estados do sul foram anunciados em30 de Janeiro e mostraram uma maioria esmagadora (99,5%) a favor da secessão.Aguardamos ainda os resultados finais, que serão divulgados nas duas próximas semanas.

Felicitamos o povo do Sul do Sudão pela determinação, dignidade e paciência quedemonstraram ao participar na votação em tão grande número. Louvamos igualmente aspartes do Sul no Acordo de Paz Global pela sua liderança e as autoridades sudanesas

85Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

responsáveis pelo referendo pelo notável trabalho que fizeram na organização do mesmo,apesar dos enormes desafios que enfrentavam.

O êxito deste referendo é, acima de tudo, uma conquista sudanesa, mas reflecte igualmenteo apoio da União Africana e do Painel de Implementação de Alto Nível da UA dirigido peloPresidente Mbeki, que ajudaram as partes envolvidas a avançar, bem como a atençãodiplomática contínua que o país recebeu da comunidade internacional, nomeadamenteda ONU, dos EUA e, evidentemente, da União Europeia.

O Sudão tem sido uma das prioridades na nossa agenda política em Bruxelas nos últimosmeses. Debatemos a situação no Sudão no Conselho "Assuntos Externos", tanto emNovembro como em Dezembro. Chegámos igualmente a conclusões consensuais noConselho "Assuntos Externos" desta semana e continuaremos a acompanhar a situação.

Acima de tudo, porém, gostaria de agradecer a Véronique de Keyser, chefe da missão deobservação eleitoral para o referendo do Sul do Sudão, e à sua equipa da missão deobservação da UE, pelo importante papel que desempenharam para ajudar a criar confiançaentre o povo do Sudão relativamente a este processo. O envio de uma missão de observaçãovasta e experiente foi uma contribuição europeia importante e tangível, e agradeço-vossinceramente o papel relevante que desempenharam pessoalmente e que foi plenamentereconhecido.

Fornecemos igualmente assistência técnica e apoio financeiro às autoridades sudanesasresponsáveis pelo referendo.

Enquanto aguardamos a divulgação dos resultados finais, gostaria de reiterar que a UErespeitará o resultado do referendo como uma expressão dos desejos do povo do Sul doSudão. Sentimo-nos encorajados pelos comentários do Presidente al-Bashir em Juba, a4 de Janeiro, reafirmados na mini-cimeira sobre o Sudão, realizada a 31 de Janeiro emAdis-Abeba, de acordo com os quais o Governo do Sudão aceitará os resultados doreferendo, será o primeiro a reconhecer o novo Estado e oferecer-lhe-á a sua plenacooperação. Apelamos a todas as partes envolvidas para que continuem a agir comcontenção e garantam que a calma prevaleça e que sejam salvaguardadas a segurança e aprotecção de todas as pessoas no Sudão.

Embora o referendo sobre a autodeterminação do Sul do Sudão tenha sido um êxitoimportante, não podemos permitir-nos ser complacentes. Temos enormes desafios pelafrente.

O referendo de Abyei, que deveria ter sido realizado ao mesmo tempo que o referendo doSul do Sudão, ainda não teve lugar. Estamos preocupados com a violência que ocorreu emAbyei na véspera do referendo e apelamos a todas as partes para que evitem quaisqueroutros actos de violência e procurem encontrar uma solução consistente para criar as basesde uma coexistência duradoura das comunidades locais no terreno.

Existem outras questões pendentes relacionadas com o Acordo de Paz Global que continuampor resolver, nomeadamente a demarcação da fronteira norte-sul e a realização de consultaspopulares no Nilo Azul e no Kordofan do Sul. Esperamos que as partes interessadas voltemagora a centrar as suas energias na resolução destas questões, bem como de questõesimportantes no período pós-referendo, designadamente as da cidadania, das medidas desegurança, das receitas petrolíferas e outras de carácter económico. Congratulamo-noscom o facto de ambas as partes terem acordado numa série de princípios, nomeadamenteem trabalhar pela criação de dois estados viáveis com fronteiras "flexíveis", e em erigir

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT86

relações construtivas. Todavia, ainda há muito trabalho por fazer e continuaremos a apoiaros esforços de mediação do Presidente Mbeki.

Enfrentamos igualmente um importante problema humanitário. Todos os dias, cerca de2 000 pessoas regressam ao Sul do Sudão vindas do Norte e precisam de auxílio para sereintegrarem nas suas comunidades locais.

Continuo profundamente preocupada com a crescente violência no Darfur, que levou àrecente deslocação de dezenas de milhares de pessoas, e com o grave impacto que isto estáa ter nas operações humanitárias. Três cidadãos europeus permanecem reféns.

Continuamos igualmente preocupados com a detenção de defensores dos direitos humanos,de jornalistas, de políticos da oposição e de estudantes que se manifestaram pacificamente.Um dos princípios básicos do Acordo de Paz Global foi a instauração de um regimedemocrático baseado no respeito da diversidade e das liberdades, e queremos ver respeitopelas liberdades fundamentais e um regime democrático genuinamente inclusivo, tantono Norte como no Sul.

No futuro, asseguro-vos que este continuará a ser um ponto prioritário na nossa agenda.Continuaremos a cooperar, quer com Cartum, quer com Juba. Estamos dispostos aintensificar o nosso relacionamento com Cartum e a fortalecer o nosso diálogo.Continuamos empenhados em prestar auxílio ao povo do Norte, em particular nas áreasafectadas pela guerra, tais como o leste, a Zona Transitória e o Darfur. O Sul do Sudão nãoserá estável se o Norte do Sudão não for estável, e vice-versa. Os ministros dos NegóciosEstrangeiros da UE afirmaram estar dispostos a examinar cuidadosamente o apoio da UEao alívio da dívida internacional do Sudão, em consonância com os progressos políticos.

No Sul do Sudão, a UE tem um contributo importante a dar para a estabilização, odesenvolvimento e a criação de capacidades institucionais. Estamos já a prestar auxílio aserviços básicos e ao desenvolvimento agrícola – além dos importantes programas bilateraisdos Estados-Membros – e estamos a analisar a nossa estratégia a longo prazo para acooperação para o desenvolvimento com o Sul do Sudão.

Mas reconhecemos também que o Darfur merece o mesmo nível elevado de atenção quefoi recentemente concedido à implementação do Acordo de Paz Global. Por conseguinte,apelamos a todas as partes para que cessem as hostilidades, concluam um acordo decessar-fogo e avancem para um acordo político abrangente e justo, e nós intensificaremosos nossos esforços para incentivar todas as partes a empenharem-se seriamente no processode paz de Doha.

Por fim, uma palavra sobre justiça: a paz duradoura no Darfur não pode ser alcançada semjustiça e reconciliação. Tem de se pôr fim à impunidade. O Conselho chamou repetidamentea atenção para a obrigação do Governo do Sudão de cooperar de forma plena com oTribunal Penal Internacional.

Acredito que a UE tem um papel importante a desempenhar no apoio a um futurodemocrático, pacífico e estável para o povo sudanês, seja num país ou em dois. Temos aobrigação de ser solidários com o povo sudanês, tanto do Norte como do Sul, e de lhesoferecer apoio e encorajamento neste momento crucial.

Mariya Nedelcheva, em nome do Grupo PPE. – (FR) Senhora Presidente, SenhoraBaronesa Ashton, Senhoras e Senhores Deputados, o Governo sudanês em Cartum está a

87Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

enviar sinais positivos, nomeadamente a realização pacífica do referendo e a disposiçãode aceitar os resultados do referendo no Sul do Sudão.

Após décadas de guerra civil, penso não estar a exagerar ao afirmar que este é um momentohistórico para África. Mas os momentos históricos são transitórios – não duram parasempre. Se quisermos virar a página e avançar para um novo período da história, os actoresda mudança não podem permitir-se descansar à sombra dos louros. Têm de definir basesclaras, saudáveis e viáveis que venham a garantir um futuro melhor.

O Sul do Sudão está a atravessar um período de transição, pois muita coisa pode aindaacontecer entre hoje e 9 de Julho, a data em que obterá formalmente a sua independência.Os dois estados têm muitas questões a resolver, a mais urgente das quais é a das fronteiras.O estatuto de Abyei permanece incerto. Tem de ser encontrada uma solução, a fim de evitara ocorrência de novos conflitos.

Depois, há a questão dos chamados retornados. Que recepção terão estas pessoas?Conseguirá este jovem estado integrar tanta gente num período de tempo tão curto? Têmde ser criadas instituições estáveis – justiça, polícia, exército e um verdadeiro sistemaadministrativo – a fim de garantir que estes indivíduos possam beneficiar da cidadania,encontrar trabalho e ter condições de vida decentes.

Porém, o referendo constitui igualmente um verdadeiro desafio para o Norte: as autoridadesterão de se ajustar a uma nova realidade política. Este fim-de-semana já houve manifestações.Irá o governo encorajar a diversidade política, étnica, cultural e religiosa? Uma coisa é certa:não podemos permitir que se repitam os erros do passado.

Para ambos os países, a chave para o êxito reside em garantir uma esfera política pluralista,com diversidade étnica e religiosa sob a primazia do direito. Só assim estes paísesconstituirão verdadeiras democracias.

Gostaria de acrescentar uma última coisa. A interdependência económica, social e políticadeveria incentivar as autoridades dos dois países a empreender uma cooperação e umdiálogo constantes. Pela sua parte, ao oferecer verdadeiros projectos de desenvolvimento,a União Europeia será um parceiro fundamental no futuro de ambos os países.

Véronique De Keyser, em nome do Grupo S&D . – (FR) Senhora Presidente, na sequênciados debates sobre a Tunísia, o Egipto e outros países que presentemente clamam liberdade,gostaria de dizer que a nossa missão de observação ao Sudão do Sul para o referendo foiuma experiência maravilhosa e exemplar. O referendo foi exemplar porque foi um sucesso,apesar de todas as vozes que auguravam o contrário. Foi também uma experiênciamaravilhosa porque era visível que a população do Sudão do Sul estava a votar com lágrimasnos olhos - depois de ter aguardado tanto tempo por este momento (mais de 50 anos emalguns casos), depois de ter sobrevivido à guerra civil - e abraçou a transição pacífica comuma alegria indescritível.

É verdade que os próximos meses serão difíceis, mas precisamos celebrar este momentode viragem. Tenho a dizer que à luz dos instrumentos da União Europeia e tendo emconsideração o quanto eu critiquei outras missões de observação de eleições que nãotiveram um final feliz, a missão em que participei foi uma verdadeira bênção.

O Sudão do Sul passará a ser o 54.º estado de África, em 9 de Julho. Presentemente,depara-se com uma série de desafios, conforme foi realçado pela Baronesa Ashton.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT88

Em primeiro lugar, há o petróleo na região de Abyei, situada na fronteira entre o Norte eo Sul, mas para a qual não foram definidos limites claros e que não teve o seu próprioreferendo. É necessário encontrar uma solução para Abyei, mas, de momento, a questãocontinua pendente. Houve ocorrência de violência na zona durante o referendo, tal comono "État d'Unité" (Estado de Unidade) e no Kordofan Sul. Esta região tem potencial paradestabilizar o país inteiro.

Depois, há a questão assinalada por Mariya Nedelcheva - a quem gostaria de agradecer pelasua participação na missão de observação - e pela Baronesa Ashton: a cidadania. Apopulação do Sudão do Sul que viveu e trabalhou no Norte, por vezes sendo até proprietáriade bens, fugiu às dezenas, ou mesmo, centenas de milhares para o Sul. Agora provavelmenteterá de ser reintegrada na economia do Sul. Não confiam no Norte, não sabem se vãomanter os seus empregos - quase de certeza que não, se as colocações forem no sectorpúblico - o que é um problema grave.

Por último, há o problema do Tribunal Penal Internacional. Salva Kiir, o presidente doSudão do Sul, deseja a cooperação com o Norte, desde que este reconheça o resultado doreferendo. Já conseguiu persuadir o Presidente al-Bashir a visitar o Sul, onde foi formalmenterecebido em Juba. Isto foi surpreendente, sendo sinónimo de reconciliação e de uma novaera. Salva Kiir diz-nos que se hoje assinasse o Estatuto de Roma, teria de prender oPresidente al-Bashir na próxima visita que este fizesse. Pergunta-se como é que podemcooperar nestas condições, como é que podem conseguir a tão apregoada reconciliaçãoNorte-Sul. "Não nos peçam para fazer isso", argumenta. Obviamente que temos umcompromisso com o Tribunal Penal Internacional, mas ao mesmo tempo estamosconscientes de que a cooperação Norte-Sul é a solução para a paz.

Como tal, receio que haja muitos problemas para resolver. Conforme afirmei, a missão foiuma experiência maravilhosa, mas o Sudão continua a ser um só país até 9 de Julho.

PRESIDÊNCIA: Rainer WIELANDVice-presidente

Charles Goerens , em nome do Grupo ALDE. – (FR) Senhor Presidente, há mais de vinteanos que sabemos que a população do Sudão do Sul não quer a Sharia imposta por Cartum.Daí uma guerra civil que ceifou a vida de mais de dois milhões de pessoas. O Acordo dePaz Global, assinado em 2005, pôs termo a essa guerra.

A semana passada, a vontade da população sudanesa do sul foi expressa formalmente:independência, secessão do Norte. Mas não basta querer: o país tem também de conseguirgerir essa independência numa base diária.

O novo Estado ainda não possui uma fronteira formal com o Norte. Nem sabemos comoirão ser partilhados os lucros da extracção petrolífera. Milhares de pessoas continuam asair do Norte em direcção ao Sul. Até à data, o potencial de desenvolvimento continuamuito pouco claro, tendo em conta os recursos limitados no Sudão do Sul, por um lado,e os níveis de instrução incrivelmente baixos, por outro. Essencialmente, este novo Estadoterá de ser criado de raiz.

Embora a criação de um Estado novo seja a principal preocupação da população do Sudãodo Sul, a independência vai originar algumas mudanças fundamentais. Doravante, qualquerconflito entre o Norte e o Sul, será uma questão internacional, e não um problema interno,

89Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

como acontecia no passado. Por isso as regras vão mudar para o Conselho de Segurançadas Nações Unidas.

Necessitamos urgentemente de uma estratégia clara, identificando as principais prioridadespolíticas e económicas que irão tirar a população do Sudão do Sul da pobreza extrema.Embora respeitando o direito de todas as nações à autodeterminação, na qualidade deprincipal doador estabelecido, a União Europeia tem de conseguir cumprir as expectativasdas pessoas no terreno. A União Europeia deve ainda assumir o manto de líder de todosaqueles que irão trabalhar em parceria com o novo Estado no esforço hercúleo de reformaresta parte de África.

Judith Sargentini, em nome do Grupo Verts/ALE. – (NL) Senhor Presidente, estamos atestemunhar o nascimento de um novo Estado. Isso deixa-me muito satisfeita, mas tambémpreocupada. Afinal, o Sudão do Sul é um dos países mais pobres da África. É também umpaís com muito petróleo no seu território. Além disso, é um país ao qual estão a regressarmuitas pessoas, refugiados sem ter onde viver, sem comida e sem trabalho. Isso é umareceita para o desastre e até mesmo uma receita para o conflito armado.

A menos que quem controla os recursos petrolíferos no Sudão do Sul e os portos na partenorte do país através dos quais o petróleo tem de ser expedido chegue a acordo, então defacto, conforme afirmou o meu colega deputado Goerens, irá surgir um conflitointernacional. Assim sendo, o que é que podemos fazer?

A Europa tem de estabelecer uma presença nesse território e aí permanecer. Porque nãoenviar uma missão Eupol para o Sudão do Sul para ajudar a criar um Estado de direito edar a este país uma oportunidade totalmente nova e, quem sabe, pode ser que este paísvenha a ser um exemplo para o resto de África. Espero muito sinceramente que seja issoque aconteça.

Charles Tannock, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhor Presidente, nunca duvidei deque a divisão do Sudão fosse a única forma de garantir paz, justiça e desenvolvimento parao Sudão do Sul. Como tal estou muito satisfeito pelos sulistas terem votado com tão grandedeterminação a favor de um futuro independente e soberano.

O facto de mais de 99% dos eleitores ser a favor da secessão é uma acusação grave a Cartume às décadas de esforços do Presidente Bashir para conquistarem e subjugarem o sul cristãoe animista ao islamismo de linha dura e à Sharia.

O Sudão do Sul deve ser agora a prioridade número um da UE no que toca aodesenvolvimento humanitário. O referendo não é o fim do processo, mas sim o seu início.O Sudão do Sul necessita ter a certeza do empenhamento total e inabalável da UE, e umadas coisas a que apelo à Alta Representante é que assegure a transferência imediata de todaa verba do FED para o novo Estado, mesmo antes de ratificarem o Acordo de Cotonu.

Apelo também aos 27 Estados-Membros da UE para reconhecerem imediatamente estanova nação africana a 9 de Julho conforme decretado no AAP. Sem isto, todo o progressofeito pelo Sudão do Sul nos últimos anos terá sido em vão. Outra guerra teria consequênciasinimagináveis para a África como um todo.

Por último, espero que estejam a ser dados passos para assegurar a atribuição dos recursoshumanos e financeiros adequados à delegação da UE em Juba.

Espero também que a Alta Representante possa visitar o Sudão do Sul dentro em breve.Estou também entusiasmado, particularmente como cidadão britânico, com o facto de o

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT90

novo Governo de Juba estar empenhado em reconhecer a independência da República daSomalilândia - o antigo protectorado britânico da Somalilândia - e estou igualmenteconvicto que muitos outros Estados africanos e europeus se seguirão dentro em breve.

Gostaria de agradecer também ao Dr. Francis G. Nazario na galeria, que é o chefe da Missãodo Sudão do Sul para a UE e que dentro em breve será o seu embaixador. Talvez o Dr.Nazario e a delegação do Sudão do Sul, que também está sentada na galeria, se possamlevantar.

(Aplausos ao Dr. Nazario e à delegação do Sudão do Sul)

Sabine Lösing, em nome do Grupo GUE/NGL. – (DE) Senhor Presidente, a situação dapopulação do Sudão do Sul vai melhorar agora ou a divisão é mais do interesse do Ocidentepara assim poder controlar as reservas de petróleo? Em qualquer caso, o Sul tem grandesdesafios à sua frente. Sem uma infra-estrutura funcional e com a actual situação económicadesastrosa, a assistência civil e a ajuda humanitária irão ser necessárias durante muitotempo.

Infelizmente, é provável que o perigo de conflitos violentos não tenha sido eliminadodefinitivamente. Contudo, os peritos são da opinião que esta situação não pode ser resolvidapor meios militares. Pelo contrário, uma concentração em meios militares impede que seencontre uma verdadeira solução para os conflitos. A assistência civil necessária pode serprestada muito mais eficientemente se não houver envolvimento militar. A transferênciade tarefas civis para os militares dificulta o desenvolvimento sustentável das estruturascivis.

Um exemplo disto é Darfur. Um gigantesco aparelho militar assumiu agora as tarefas dasorganizações humanitárias e de desenvolvimento neste local, algo que foi duramentecriticado por estas organizações. Nós queremos que se dediquem a medidas meramentede assistência e de gestão de conflitos civis, por outras palavras, uma redução da missãodas Nações Unidas para os componentes civis e nenhum uso potencial de agrupamentostácticos da UE. Além disso, em termos de uma perspectiva de desenvolvimento, apelamosa um perdão da dívida do Sudão.

Bastiaan Belder, em nome do Grupo EFD. – (NL) Senhor Presidente, tudo parece indicarque o resultado do referendo de 9 de Janeiro no Sudão do Sul será o apoio praticamenteunânime da independência. Isso é perfeitamente compreensível, ou razoável, e de facto,deve ser bem acolhido.

Contas feitas, o Sudão do Sul deixou recentemente para trás 23 anos de guerra civil como norte árabe, na qual morreram 2,5 milhões de pessoas e mais de 4 milhões foram expulsas.E nem sequer estamos a falar da escravatura no norte, de que possivelmente foram vítimascentenas de milhares de mulheres e crianças do Sudão do Sul. Contra este cenário histórico,escusado será dizer que este jovem Estado em construção agradece qualquer auxíliointernacional para ajudar a construir as suas instituições.

Contudo, esse processo requer, evidentemente, uma força policial fiável. Ainda a semanapassada recebi alguns relatórios preocupantes sobre este assunto, ou seja, relatórios sobreirregularidades graves na nova academia de polícia em Rajaf. Como tal peço a atenção daEuropa e apelo a que sejam feitos esforços para ajudar a resolver isto, mas também, domesmo modo, ajudar na situação desesperante que o Sudão do Sul irá enfrentar.

91Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Martin Ehrenhauser (NI). – (DE) Senhor Presidente, há duas coisas que eu trouxe comigoda viagem ao Sudão: em primeiro lugar, a convicção da viabilidade do Sudão do Sul e, emsegundo lugar, o facto de não haver alternativa a esta convicção de viabilidade do Sudãodo Sul. Contudo, tal como acontece com uma criança pequena, necessitamos apoiartambém este jovem Estado até estar preparado para ser independente. É simplesmente issoque se pede à comunidade internacional.

Gostaria de abordar dois pontos. Em primeiro lugar, o cancelamento da dívida. Comodeputado austríaco, isto é algo que me diz particularmente respeito porque, contas feitas,a Áustria é o maior credor do Clube de Paris. Sou da opinião que aqui temos de dar oexemplo e, mesmo que seja uma tarefa para os Estados-Membros, não deixa de ser muitoimportante que, sob a supervisão da União Europeia, haja uma coordenação excelente dosEstados-Membros.

O segundo ponto que gostaria de mencionar aqui é a situação de impasse em que nosencontramos: por um lado temos o mandado de captura do Tribunal Penal Internacionale por outro lado há também a vontade e a necessidade de desembolsar os fundos do 10.ºFundo Europeu de Desenvolvimento. Penso que necessitamos aqui de uma solução rápida,mas muito pragmática.

Filip Kaczmarek (PPE). – (PL) Senhor Presidente, estamos muito satisfeitos com o factode o referendo no Sudão do Sul ter decorrido de forma tão pacífica. Os nossos observadoressão unânimes no seu elogio ao que viram durante a missão de observação. Tambémemitiram uma avaliação positiva do referendo em si, do ponto de vista das normas quepromovemos. O referendo foi credível e bem organizado e deu aos eleitores a oportunidadede fazerem ouvir a sua opinião. A importância que os cidadãos do Sudão do Sul atribuírama este referendo foi também bastante evidente, com uma afluência de 60% ao quarto dia.Isto é um testemunho claro do empenho da população em obter a auto-determinação.

O Presidente Bashir foi frequentemente criticado por esta Câmara, mas desta vez temosde lhe dar crédito pela sua declaração do dia 24 de Janeiro em Juba, a que a Baronesa Ashtonfez referência. O Presidente anunciou que reconheceria qualquer decisão tomada com baseno referendo, ainda que isso significasse a secessão do Sudão do Sul, e tudo indica queaqueles que vivem na região deixaram bem clara a sua vontade. Faço eco dos desejos e daesperança expressos por outros que, se o Sudão for de facto dividido em dois países, estestenham uma co-existência pacífica.

Agora é importante que a atmosfera pacífica que reinou durante o referendo seja seguidade um período pacífico durante o qual serão anunciados os resultados e os dois Estadospossam dar início às transformações. Muitos observadores receiam que a actual onda demotins e de exigências democráticas que estão a ter lugar em vários países, incluindo noSudão, se torne uma desculpa para congelar o processo de paz e inviabilize a realizaçãode planos ambiciosos. Por outro lado, as perspectivas em alguns quadrantes são positivas,por exemplo, na União Africana, que se sabe estar pronta para reconhecer a independênciado novo Estado africano. É preciso ter também a noção de que o referendo não é o fim daquestão, e que o êxito final significa realizar os desejos de quem vive no Sudão. Como sesabe, estes desejos poderão ser realizados a 9 de Julho de 2011, altura em que seráproclamada a independência do Sudão, e só então poderemos celebrar o fim deste longoe sangrento conflito.

Corina Creţu (S&D). – (RO) Senhor Presidente, ao fim de quatro décadas de guerra civil,com um saldo de mais de 2 milhões de mortos e 4 milhões de refugiados, a secessão do

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT92

Sudão do Sul é uma resposta à intolerância étnica e religiosa, na sequência do relatório de2005 e do referendo que teve lugar há um mês. As partes envolvidas chegaram a acordoquanto a esta separação e creio sinceramente que isto irá acelerar e facilitar a aceitação doSudão do Sul na comunidade internacional. Contudo, existe o risco do efeito dominó numcontinente traumatizado por guerras causadas por fronteiras artificiais herdadas dos temposcoloniais. É por este motivo que o período de transição de seis meses até à separaçãodefinitiva é essencial em termos de definição do futuro percurso do novo Estado.

Por um lado, depara-se com desafios militares e estratégicos, o ressurgimento de violênciaentre antigos líderes militares do movimento secessionista, a interferência de algumasmilícias, a privatização de segurança interna, os incidentes nas fronteiras com o Sudãomuçulmano e a questão da divisão dos recursos petrolíferos com este último. Por outrolado, existe um grande problema humanitário e, na minha opinião, o envolvimento daUnião Europeia neste deve ser feito em grande escala. Caso contrário, seremos confrontadoscom um desastre que contribuirá para aumentar a instabilidade na região. No Sudão, umaem cada dez crianças morre durante o primeiro ano de vida e uma em cada sete morreantes de atingir os cinco anos de idade. O acesso a água potável e a serviços de saúde élimitado, enquanto quatro quintos da população são analfabetos. Metade da populaçãodo sul tem menos de 18 anos de idade e, se escapar ao flagelo da mortalidade infantil, correo risco, devido à pobreza e falta de perspectivas, de acabar como carne para canhão nosconflitos que podem minar a independência do novo Estado.

Espero que a União Europeia tenha em consideração a complexidade desta situação.

Marielle De Sarnez (ALDE). – (FR) Senhor Presidente, fico verdadeiramente satisfeitapelo facto de a população do Sudão do Sul ter tido a liberdade de escolher o seu futuro.Estou orgulhosa por poder afirmar que o inegável resultado final foi obtido graças ao forteapoio da comunidade internacional e da União Europeia.

Estamos a aproximar-nos de um ponto de viragem histórico: o estabelecimento da pazduradoura e a criação de um Estado novo num país que viveu quase 40 anos de guerra civilnos 55 anos desde a sua independência. Isto marca uma nova era, a era das negociaçõesentre o Norte e o Sul sobre as questões que necessitam ser resolvidas para implementar oAcordo de Paz Global assinado em 2005: cidadania, definição de fronteiras, decidir se aregião de Abyei será do Norte ou do Sul, partilha de recursos petrolíferos e questões sobrea dívida.

A União Europeia necessitará, claro está, de apoiar este processo político e odesenvolvimento do novo Estado. A comunidade internacional e a União Europeia nãopodem esquecer o Norte do Sudão, tal como não nos podemos esquecer de Darfur, ondeo conflito está longe de estar resolvido e onde a violência aumentou consideravelmentedurante os últimos 12 meses, com mais de 270 000 indivíduos forçados a abandonar assuas casas e mais de três milhões ainda a viver em campos.

Oriol Junqueras Vies (Verts/ALE). – (ES) Senhor Presidente, o princípio fundamentalda União Europeia é a democracia e, dado que a vasta maioria dos habitantes do Sudão doSul votou democraticamente a favor da independência, a União Europeia tem de dar o seuapoio à criação imediata do novo Estado. É necessário fazê-lo porque, entre outros motivos,a democracia é a base para a estabilidade, a segurança e a prosperidade em África assimcomo no Mediterrâneo. Dentro deste espírito, saliento também a importância internacionalque o direito à auto-determinação está a ganhar como uma ferramenta para relações

93Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

internacionais: isto já foi constatado no Kosovo e estamos agora a constatá-lo no Sudãodo Sul.

O próprio Tribunal Penal Internacional concluiu que os processos de independênciademocráticos são perfeitamente legais à luz do direito internacional. A definição defronteiras está a voltar a onde tem de estar: democracia. Como tal, para fortalecer a própriaUnião, a UE tem também de estar preparada para reconhecer o direito à auto-determinaçãode qualquer país europeu - como a Catalunha, a Escócia ou a Flandres - que optemdemocraticamente pela independência.

Peter van Dalen (ECR). - (NL) Senhor Presidente, estamos a viver tempos apocalípticos.Da Mauritânia a Omã, as pessoas estão em mudança. Por todo o mundo, milhares depessoas morrem na sequência de catástrofes naturais. Na América e na Europa, a dançaem torno do bezerro de ouro do euro e do dólar é cada vez mais louca. Os cristãos estãoa ser perseguidos em muitos países.

Ninguém sabe quando vai ser o fim do mundo, mas a Bíblia diz-nos para estarmos atentose preparados.

Contudo, no meio deste tumulto global, estamos a assistir a um desenvolvimentomaravilhoso: o nascimento do Sudão do Sul. Ao fim de muitos anos de opressão e deguerra, a população do Sudão do Sul está a ser libertada da escravatura. A população doSudão do Sul está a ser libertada da casa da escravatura que é chefiada por Omar Al Bashir,um criminoso com mandado de captura internacional. Isso é um motivo para grandeagradecimento e alegria.

Felicito calorosamente os meus amigos do Sudão do Sul aqui hoje presentes, por esteacontecimento. Rezo para que este novo país tenha bom senso, para que a lei e a justiça aípossam florescer. Que seja um país onde a piedade e a fé andem lado a lado. Que seja umanação onde a paz e a justiça estejam de mãos dadas.

Peço especificamente à Comissão, aqui representada pelo Comissário Barnier, parareconhecer o novo Estado do Sudão do Sul imediatamente, ou seja, o mais rapidamentepossível. Que dê seguimento a esse reconhecimento com acção. Que apoie o Sudão doSul, sempre que possível. Que torne este país uma prioridade da nossa política externa.Fico a aguardar uma resposta específica da vossa parte ao meu pedido.

Gay Mitchell (PPE). - (EN) Senhor Presidente, isto é uma oportunidade para o povosudanês, do Norte e do Sul, se concentrar no desenvolvimento das suas economias e utilizara riqueza que os seus recursos petrolíferos podem proporcionar para alimentar e alfabetizaro seu povo, mas nós temos também de ajudar, e de o fazer sem demora.

Presentemente 80% da população do sul não tem acesso a instalações sanitárias. Uma emcada dez crianças morre antes de completar o seu primeiro aniversário. Nas regiões maispobres do Sul, menos de um por cento das crianças termina a escola primária. Todos osanos, o Sudão exporta milhares de milhões de dólares de petróleo. Se o Norte e o Sulconseguirem chegar a uma solução diplomática e pacífica - e vão conseguir - então ambasas partes podem usar a sua riqueza em recursos naturais para saírem da sua terrível pobreza- a pobreza que assola o seu território - com uma ajuda dos seus amigos.

É claro que o futuro de ambos os governos dependerá de questões como a demarcação defronteiras, a partilha de receitas petrolíferas e do estatuto de Abyei, a disputada regiãofronteiriça, rica em petróleo, entre o Norte e o Sul. Apelo à Alta Representante e à Comissão

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT94

no sentido de incentivarem negociações diplomáticas rápidas entre o Norte e o Sul pararesolver as restantes questões com a maior celeridade possível e, mais importante, paramanterem este ponto no topo das prioridades da Ordem de Trabalhos da União Europeia.

Gostaria de receber, muito em breve, parlamentares de ambos lados, em representaçãodos seus Estados de pleno direito, para uma reunião futura da Assembleia ParlamentarParitária dos países ACP com este Parlamento. É sinal de que formaram um Estado. Creioque é algo que devemos incentivar o quanto antes.

Guido Milana (S&D). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, não éminha intenção pôr fim a esta atmosfera de alegria.

É verdade que chegámos ao fim da fase iniciada em 2005, durante a qual a diplomaciacontribuiu para que os eventos se desenrolassem da melhor forma possível. Contudo, háainda muitos problemas por resolver. Este é um país jovem e será um país jovem depoisda secessão. É um país que necessita de definir ainda as suas fronteiras, resolver o problemaque ouvimos mencionar várias vezes dos conflitos na região de Abyei, o problema dooleoduto, que é a coisa mais importante nesse país, e também o sistema de ajudainternacional.

Como tal, gostaria de referir um ponto muito simples ao Comissário. Há duas ou três coisasque é preciso fazer. É preciso definir uma estratégia para o Sudão do Sul, e reconhecer esteEstado novo a 7 de Fevereiro, sem aguardar até 9 de Julho quando os resultados das eleiçõesforem tornados oficiais. É igualmente preciso colocar o nosso serviço internacionalimediatamente em acção, e criar uma delegação no Sudão do Sul.

Esta é a única forma de apoiar um processo; esta é a única forma de a diplomacia inteligentee estratégica apoiar este país no caminho rumo à democracia. Saliento que a primeira coisaque o país necessita de fazer é elaborar a sua Constituição, e nisto a Europa pode serextremamente útil.

Niccolò Rinaldi (ALDE). – (IT) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, comecei a trabalhar no Parlamento Europeu como consultor políticoem 1991 e nessa altura o conflito entre o norte e o sul do Sudão era já uma crise recorrente.Finalmente, ao fim de 20 anos, parece que estamos a ver alguma luz ao fim de um longoe árduo túnel.

Conforme o deputado Milana e outros salientaram, há ainda muito por fazer, mas muitosde nós estavam a preparar-se para o pior, à espera que a guerra civil começasse novamente.Como tal, dou os meus parabéns ao norte e ao sul do país por este resultado inicial doreferendo. Agora cada dia conta até à declaração de independência. Ninguém se pode darao luxo de cometer um erro, quer seja em Fartou, em Juba, em Bruxelas ou na UniãoAfricana em Adis Abeba. Por exemplo, a ideia de abrir uma delegação da UE com estatutoespecial até à declaração de independência é definitivamente bem-vinda. O Sudão estáprestes a dar-nos a nós, comunidade internacional, uma lição fantástica sobre civismo esobre crises, que muitas vezes, mais por uma questão de resignação do que por outra coisaqualquer, achamos que não têm solução.

Frank Engel (PPE). - (FR) Senhor Presidente, registo com satisfação a independênciafutura do Sudão do Sul e felicito a população do Sudão do Sul por este feito.

Conforme o nosso colega deputado Goerens, que teve a amabilidade de me abordar nestaocasião, acabou de afirmar, temos o direito de não viver segundo as regras da Sharia. É um

95Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

direito que temos de respeitar. Contudo, preciso salientar também que há algumaspopulações que são abençoadas com a oportunidade de obter o direito a esta liberdade.Ali próximo, o povo da Somalilândia não tem essa oportunidade.

Gostaria que revíssemos também a nossa política, a qual, até ao momento, consistiu emnão reconhecer os esforços da população da República da Somalilândia, que construiu umEstado muçulmano livre e democrático, mas o qual nós tratamos como se não existisse.

Senhor Presidente, no que diz respeito ao Sudão do Sul, gostaria também de dizer umapalavra sobre o estado do país. O Sudão do Sul continua a ser o país mais pobre da Áfricaapesar do facto de, nos últimos cinco anos, ter conseguido aceder a metade dos recursospetrolíferos de todo o Sudão. Constato que houve um subdesenvolvimento flagrante, oqual, até ao momento, se deveu grandemente à negligência e descuido de Cartum.

Contudo, de agora em diante, gostaria que a União Europeia insistisse na necessidade degovernação e desenvolvimento, e que não ajudasse a financiar o subdesenvolvimento queé susceptível de ser criado, no futuro, no Sudão do Sul.

Jarosław Leszek Wałęsa (PPE). – (PL) Senhor Presidente, devemos resistir à tentação deser excessivamente optimistas durante o debate de hoje. As previsões de eventos do Sudãonão passam de previsões de bola de cristal. Apesar de todas as esperanças suscitadas pelorecente referendo, não devemos assumir que o assunto já está resolvido. Está longe de sero caso, e ainda ninguém sabe se o país será dividido de acordo com a vontade de quemvive no Sul.

Um outro problema é o facto de a região sul do país estar presentemente unida no seudesagrado pelo norte muçulmano. Quando esta emoção passar e chegar a altura de construirinstituições estatais, o equilíbrio entre as três tribos cultural e linguisticamente diferentesrapidamente ficará visível. Este problema será extremamente significativo e devemosconcentrar-nos nele agora.

A pergunta seguinte que temos de fazer a nós próprio e para a qual temos de encontraruma resposta, é a seguinte: porque motivo temos esperança de que um conflito, que durouquase meio século, termine agora de forma pacífica? A resposta é clara: petróleo bruto.Tanto as empresas estrangeiras, sem as quais seria impossível extrair petróleo num paístão pobre como este, como os representantes das duas partes do país sentiram o cheirodos petrodólares.

Esperemos que a ganância não nos cegue, e que a nossa vontade de ajudar assegure não sóa atribuição de fundos para medidas de construção do Estado, mas também paraimplementar programas que beneficiem a sociedade.

Anna Záborská (PPE). – (SK) Senhor Presidente, antes do referendo estávamos muitopreocupados com todo o descontentamento que o acompanhava, e estou satisfeita como facto de o referendo ter decorrido de forma pacífica e ter sido válido. No entanto, énecessário garantir, como referiu a Baronesa Catherine Ashton, a realização de mais umreferendo idóneo em Abyei, bem como na região onde está localizado o petróleo. A missãode observação do Parlamento Europeu também será necessária nesta votação adicional.

Mesmo após a declaração de independência do Sudão do Sul, este país continuará a serum dos mais pobres do mundo. Há muitas ONG eslovacas a trabalhar na região e éimportante que tenham as condições adequadas para o seu trabalho. Gostaria ainda desalientar o papel da igreja local e das organizações ligadas à igreja, dado que também

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT96

merecem o nosso apoio. Já criaram e estão a gerir várias escolas e infra-estruturas decuidados de saúde, sendo amplamente respeitadas na região.

Gostaria agora de terminar referindo que, na sequência da secessão do Sudão, não podemosesquecer a minoria de sudaneses do Sul que fugiram para o Norte sob a ameaça daperseguição, e têm vivido nesta parte do país durante muitos anos. Se o Sudão do Nortenão reconhecer a dupla nacionalidade, como prometido pelo Presidente al-Bashir,aplicar-se-á a lei da Sharia, e eles poderão tornar-se cidadãos de segunda categoria.

María Muñiz De Urquiza (S&D). – (ES) Senhor Presidente, estamos a debater umahistória de sucesso: o facto de, após anos de conflito, o Sudão ter completado, de formapacífica e democrática, um complexo processo de secessão, de acordo com os critériosconsagrados na lei internacional: o direito à autodeterminação de qualquer populaçãosubmetida à dominação estrangeira, colonial ou racista, e o de qualquer população queaceita a sucessão através de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidasou um acordo entre as partes.

Também se trata de um êxito para a União Europeia, que apoiou e monitorizou o processoeleitoral, como fará, quanto antes, no Chade e no Uganda. Esperemos que a União Europeiaassuma um papel de liderança no seio da comunidade internacional ao apoiar qualquernovo Estado que venha a formar-se na sequência do referendo do Sudão do Sul, de formaa resolver todos os problemas pendentes aqui mencionados, desde os retornados aosrecursos humanos. Esperemos que a União Europeia dê todo o apoio necessário.

Izaskun Bilbao Barandica (ALDE). – (ES) Senhor Presidente, gostaria de prestar aqui omeu tributo ao fim do referendo do Sudão do Sul. Graças ao processo democrático, umasociedade complexa, com diferenças étnicas e religiosas, e com conflitos económicosgraves, pôs termo a confrontos que custaram a vida a dois milhões de pessoas. Assim,gostaria de congratular-me com os principais intervenientes no processo e expressar omeu reconhecimento ao papel das Nações Unidas, que completaram a sua missão demanutenção da paz. Além disso, gostaria que outros conflitos seguissem este exemplo eespero que alguns Estados percam o seu medo relativamente a princípios como o direitode os povos escolherem e exercerem o seu direito à autodeterminação.

Ambição, obstinação, incapacidade de reconhecer as minorias e os seus direitos, a par daincapacidade de aceitar a pluralidade: aqui reside a causa de muitas tensões. O diálogo e apolítica servem para resolver estas tensões. O recurso atempado ao diálogo e à políticaprevine os conflitos, mas ao negar o que está a acontecer e ao procurar ultrapassar estesconflitos sem dizer a verdade estamos no caminho mais certo para acabar com remorsos.

Charalampos Angourakis (GUE/NGL) . – (EL) Senhor Presidente, infelizmente nãopartilho do enorme optimismo expresso pela maioria dos oradores nesta Assembleia.Antes de mais, porque temos de nos perguntar porquê o Sudão do Sul conquistoujustamente a sua independência ‘tão facilmente, numa altura em que o regime do SaaraOcidental se encontra da forma que sabemos sem ver reconhecido o seu direito àindependência. Para mim, e para o Partido Comunista Grego, a resposta é muito simples.O Sudão do Sul teve a grande sorte de ter petróleo.

Esperemos que o seu petróleo não se torne uma maldição para o povo do Sudão do Sul,tal como o foi para o povo do Iraque e de outras nações. Continua a haver problemas gravespor resolver. Infelizmente, acreditamos que aumentará a concorrência entre as principaispotências sobre esta área e exortamos os trabalhadores do Sudão do Sul a não cederem à

97Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

estratégia de dividir para reinar e a unirem-se aos trabalhadores do Sudão do Norte paracriar perspectivas diferentes para o seu país.

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhor Presidente, no mais recente referendo no Sudãodo Sul, o povo decidiu que as antigas e arbitrárias fronteiras coloniais deveriam cair. EmJulho, foi oficialmente fundado o 193.º Estado mundial. Houve 3,8 milhões de pessoasque votaram a favor de um Estado independente e apenas 45 000 votaram pela manutençãodo statu quo: este número representa uma esmagadora maioria a exercer o direito àautodeterminação, e é um motivo de grande alegria.

No entanto, a separação por si só não criará estabilidade no país. O Sudão continua a serum local problemático, e no Norte existe o omnipresente islamismo radical. Para além deoutras medidas, é por isso importante desenvolver estruturas administrativas, devido ànecessidade de gestão e controlo de uma nova fronteira.

Esta situação requer uma política de segurança eficiente em toda a região – na Somália, noSudão e no Sudão do Sul. Juntamente com os intervenientes internacionais, a AltaRepresentante da UE é chamada a promover a segurança e a estabilidade nesta região e,acima de tudo, a combater as tendências radicais e a apoiar corajosamente o Sudão do Sul.

Seán Kelly (PPE). - (EN) Senhor Presidente, temos por fim, no meio de tanto pessimismoe tristeza, uma boa história noticiosa. Uma boa história noticiosa de que me orgulho muitopor a União Europeia ter desempenhado um papel de grande importância – felicitações àBaronesa Catherine Ashton e aos seus colegas e também aos deputados responsáveis pelasupervisão do referendo.

Como é óbvio, o trabalho propriamente dito está agora a começar com a concretizaçãoda transição para a liberdade e o estatuto de nação para o Sudão do Sul. Trata-se de umatarefa difícil e a história do mundo já demonstrou que conduziu muitas vezes à guerra civil.

No entanto, a União Europeia pode desempenhar um papel crucial ao garantir que atransição se concretize, de modo que o povo do Sudão do Sul possa ter os direitos humanosfundamentais a que se referiu o deputado Gay Mitchell, como por exemplo a educação ecasas de banho.

Em especial, considero que as fronteiras e a divisão dos recursos petrolíferos serão questõescruciais. Um famoso herói irlandês, Michael Collins, disse uma vez que a terra de fronteiraé problemática e sempre será.

A União Europeia, considerada como independente e objectiva, pode desempenhar umpapel crucial na concretização da transição de que tanto se necessita. Muito obrigado.Desejamos ao povo sudanês a melhor sorte do mundo.

Michel Barnier, Membro da Comissão. − (FR) Senhor Presidente, a Baronesa CatherineAshton pediu-me que ouvisse cada um dos senhores deputados, e eu escutei com atenção.Queria agradecer-lhes pela compreensão demonstrada, dado que a Baronesa CatherineAshton teve de deixar esta Assembleia por motivos urgentes depois de ter explicado a suaposição, enquanto Alta Representante, sobre a questão extremamente delicada do Sudão.

Nesta vasta região africana está aos olhos de todos e, senhoras e senhores deputados, todosos discursos de V/Exas. o provam, que o que acontece num determinado país pode afectartodos os outros países em termos de desenvolvimento, paz e estabilidade. Há que recordarque nove países fazem fronteira com o Sudão. Por isso, o que aconteceu com o referendoé tão importante.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT98

A deputada Véronique De Keyser, cujo papel como Chefe de Observação Eleitoral gostariaaqui de reconhecer, recordou, tal como a Baronesa Catherine Ashton, o êxito deste referendo– um processo exemplar e uma transição que se pretende pacífica. À semelhança do queela fez, também gostaria de agradecer aos Deputados do Parlamento Europeu e a outrospela boa cooperação demonstrada relativamente a este processo entre as instituiçõeseuropeias e, em especial, o Parlamento Europeu.

Senhoras e senhores deputados, muitos de vocês falaram do Darfur. Da minha parte, nãome esqueci da altura em que, em 2004, no pico da crise, me desloquei na minha qualidadede Ministro francês dos Negócios Estrangeiros a Al-Fashir no Darfur mais profundo, nemdo que ouvi e vi nesse local.

É por isso que me regozijo com a oportunidade que me foi dada de comentar sobre estasituação em nome da Baronesa Catherine Ashton. Estamos a dedicar muita atenção a esteassunto e estamos, naturalmente, a seguir os desenvolvimentos com grande preocupaçãocom o que está a acontecer actualmente, deplorando ao mesmo tempo as muitas violaçõesdos direitos humanos e os raptos de funcionários das Nações Unidas. É por isso queesperamos, de todas as partes, que enveredem por este processo de paz. Naturalmente,apoiaremos este processo de paz. É este o objectivo da nossa acção política, de tudo o queestá a ser feito para criar estabilidade e, mais especificamente, da nossa ajuda humanitária,como é óbvio.

Senhor Presidente, gostaria de salientar que, desde 2003, a União Europeia contribuiu com776 milhões de euros para a cooperação humanitária com o Sudão, em especial para oDarfur, que tanto necessita dessa ajuda, e para o Sudão do Sul. Gostaria ainda de sublinharou confirmar que o departamento para a Ajuda Humanitária e Protecção Civil da Comissão(ECHO) permanecerá pró-activo, e desejo agradecer a todos os funcionários que trabalharamjuntamente com a ECHO em prol da reintegração das pessoas que regressam ao Sudão doSul desde o Norte, em cooperação com as Nações Unidas.

No que respeita à cooperação com o Sudão do Sul, a União Europeia prestará maisassistência nesta área muito específica, a fim de promover a capacidade de desenvolvimentorural e de produção agrícola, de que estas pessoas tão desesperadamente necessitam, deforma que possam deixar de depender das importações, que se estão a tornar mais carasdevido à volatilidade dos preços. Aqueles que me conhecem sabem do meu empenhamentoinabalável nesta causa, hoje na qualidade de Comissário e anteriormente noutras funções.A Comissão falou amplamente sobre esta questão na sua comunicação hoje de manhã.Por isso, em domínios tão vitais como o desenvolvimento rural, o desenvolvimento agrícola,os serviços essenciais, a educação e a saúde, a Comissão continuará a aumentar a suaassistência. Neste momento, estamos a planear a criação de fundos especiais no valor decerca de 150 milhões de euros para os grupos mais vulneráveis da população do Sudão e,naturalmente, do Sudão do Sul.

Era o que tinha para vos transmitir. Muito resumidamente, gostaria agora de tecer maistrês considerações. Quanto à cidadania, questão que foi levantada por vários deputados,gostaria de referir que apoiamos plenamente o trabalho realizado pelo Painel presididopelo Presidente Mbeki, que está a facilitar as negociações relativas à futura cidadania eoutros temas relacionados com este grave problema da cidadania.

No que respeita ao tribunal internacional, a União Europeia continuará a apoiar o TribunalPenal Internacional sem qualquer reserva. Vezes sem conta, exortámos as autoridades, emespecial as do Sudão, a cooperarem plenamente com o Tribunal Penal Internacional.

99Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Senhor Presidente, gostaria agora de terminar com uma consideração sobre uma questãoque muitos dos senhores deputados já levantaram, ou seja, a dívida. Quero recordar-lhesas mais recentes conclusões do Conselho, que foram muito claras: a União Europeia apoiaráa amortização da dívida para este país ao ter em conta, à semelhança dos outros parceiros,o progresso que esperamos e que queremos acompanhar e fomentar no plano político eeconómico, com vista a garantir a estabilidade do país.

Foram as respostas que tinha para lhes transmitir em nome da Baronesa Catherine Ashton.

Presidente. – Está encerrado o debate.

Indrek Tarand (Verts/ALE), por escrito. – (EN) A situação em todo o Norte de África é,sem dúvida, perigosa, mas, ao mesmo tempo, portadora de esperança. As característicasda região exigirão uma tónica específica na capacidade humanitária e militar, com o intuitode assegurar a segurança e a estabilidade. No entanto, por termos observado que a UE estáa vender equipamento militar avançado, como por exemplo navios de guerra Mistral àRússia, alguém já reparou que a Rússia ainda tem de passar por estas revoluçõesdemocráticas?

Andreas Mölzer (NI), por escrito. – (DE) O facto de, no referendo, o Sudão do Sul tervotado a favor da separação era de esperar. Também era de esperar que este desfecho nãoporia de forma alguma cobro aos problemas na região. É certo, porém, que o Sul continuainstável e deve dar provas de ser um estado independente. Tal poderá eventualmente ocorrerantes da data planeada em Julho, porque a perda de 25% das terras e 20% da populaçãonão afectará o Sudão do Norte tão gravemente como ter de abrir mão de uma parteconsiderável das receitas do petróleo. Por este motivo, a UE deverá ajudar o novo Estadoa manter a sua independência e a proteger a sua soberania, porque a ajuda aodesenvolvimento para o Sudão do Sul poderá também desempenhar um papel importanteno que respeita ao abastecimento do petróleo da Europa no futuro. Por isso, a UE deveriaarrancar uma página do livro da China, especialmente dado que Pequim está a relacionar,inteligentemente, a ajuda ao desenvolvimento com o fornecimento de matérias-primas.Assim, ambas as partes beneficiam com o modelo chinês. O problema da migração ilegalpara a Europa também não pode ser negligenciado. Por conseguinte, é necessário celebrarum acordo com o Governo do Sudão do Sul relativamente à readmissão dos seus cidadãosnacionais que entraram ilegalmente na União Europeia. Seguidamente, teremos de observarpor perto no sentido de averiguar se o Sudão do Sul está de facto preparado para cumprireste acordo.

17. Nomeação de altos funcionários da ESA (debate)

Presidente. – Seguem-se na ordem do dia as declarações do Conselho e da Comissãosobre as nomeações de altos funcionários da ESA (Autoridade Europeia de Supervisão).

Enikő Győri, Presidente em exercício do Conselho. − (EN) Senhor Presidente, gostaria deagradecer ao Comissário e aos ilustres deputados – meus caros ex-colegas – por me daresta oportunidade de me pronunciar, em nome do Conselho, relativamente ao processode nomeação dos presidentes e directores executivos das novas Autoridades Europeias deSupervisão – as ESA – e sobre os princípios que deveriam orientar o desempenho das suasfunções.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT100

O Regulamento da ESA, que adoptámos há menos de três meses, não atribui qualquerpapel específico ao Conselho na nomeação do presidente e director executivo de cada ESA,que é assegurada pelo respectivo conselho de supervisores.

Por conseguinte, de acordo com o Regulamento da ESA, o presidente de cada ESA énomeado pelo conselho de supervisores. Além disso, o Regulamento da ESA atribui umpapel crucial ao Parlamento Europeu, a quem foi concedida a possibilidade de se opor ànomeação dos referidos executivos sénior e de remover um presidente do seu cargo nasequência de uma decisão por parte do conselho de supervisores.

Assim, qual é a posição do Conselho neste cenário? Ora bem, o Conselho, enquantoco-legislador, concordou com o Parlamento a inclusão, neste regulamento, de cláusulascujo objectivo é garantir que os membros do conselho de supervisores – o conselho deadministração – o presidente e o director executivo de cada ESA estão protegidos evinculados por uma independência rigorosa de forma a agir unicamente nos interesses daUnião.

Não vou citar na íntegra as cláusulas deste regulamento, e em especial os seus artigos 42.º,46.º, 49.º e 52.º, mas o seu espírito está claro. Tal significa que nem os membros dosconselhos com direito a voto, nem o presidente ou director executivo, procurarão ouaceitarão instruções das instituições da UE ou seus órgãos, governos dos Estados-Membrosou quaisquer organismos públicos ou privados, e que estes, por sua vez, não procurarãoinfluenciar o presidente ou o director executivo na execução das respectivas tarefas.

O Regulamento da ESA está sujeito ao Regulamento relativo aos funcionários, adoptadopelas instituições da UE. Também contém um conjunto de disposições fundamentais quevisam garantir que o presidente e o director executivo de cada autoridade são seleccionadosda forma mais objectiva, rigorosamente com base nos critérios estabelecidos nos artigos48.º e 51.º do Regulamento.

Para além da experiência de gestão específica para cada perfil de director executivo, há quereferir que ambos os artigos citados enumeram entre os critérios: ‘mérito, competências,conhecimento das instituições e dos mercados financeiros, e a experiência relevante paraa supervisão e regulação financeira.

No que respeita ao financiamento, o Conselho colocou ambições elevadas nas ESA quandoadoptou o Regulamento, e estou certo de que o mesmo aconteceu com o Parlamento.Compete agora a ambas as instituições, na sua qualidade de autoridades orçamentais,garantir que essas ambições são traduzidas nos meios apropriados todos os anos, combase na proposta orçamental da Comissão.

A Presidência atribui ainda grande importância ao cumprimento, por parte de todos osEstados-Membros, das suas obrigações para com as novas autoridades. Para o Conselho,enquanto co-legislador, é essencial que todas as cláusulas do Regulamento são aplicadasna íntegra e fielmente. Esperamos da Comissão Europeia, enquanto Guardiã dos Tratados,que garanta que tal aconteça.

Como os ilustres deputados bem sabem, foi ainda confiada à Comissão, no considerandon.º 55 do Regulamento, a responsabilidade de elaborar uma lista de candidatos paraconduzir o processo de selecção do primeiro presidente de cada autoridade. O Parlamentoe o Conselho acordaram este procedimento de arranque quando adoptaram o Regulamento.

101Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Espero que os presidentes possam agora estar em condições de começarem o seu trabalho.É de importância primordial que as novas agências estejam constituídas e a funcionar omais rapidamente possível. São um elemento essencial da resposta da UE aos desafios quesurgem com a crise financeira. Não nos podemos dar ao luxo de esperar e estou certo deque poderei contar com o pleno apoio do Parlamento, de modo a garantir o estabelecimentoe o regular funcionamento das novas agências.

Como resultado da boa cooperação entre o Parlamento e o Conselho, a UE possui umanovíssima estrutura de autoridade de supervisão. É nossa responsabilidade comum garantirque as ESA comecem a trabalhar tão cedo quanto possível.

Na minha qualidade de representante de uma Presidência amiga do Parlamento, estoutotalmente empenhado em trabalhar em plena harmonia com o Parlamento Europeu, eespero ainda poder vir a trabalhar com um Parlamento que seja um parceiro fiel.

Michel Barnier, Membro da Comissão. − (FR) Senhor Presidente, Senhor Ministro, Senhorase Senhores Deputados, a União Europeia tem um novo sistema de supervisão para o sectorfinanceiro desde 1 de Janeiro.

Este sistema, aliado a uma reforma fundamental da regulação dos mercados e dos operadoresfinanceiros permitirá melhorar a estabilidade financeira na União e, estou convencido,alargará oportunidades e colocará sólidos alicerces para a indústria financeira, que éextremamente importante nos nossos países.

Queria antes de mais congratular-me com o Parlamento Europeu pelo papel crucial quedesempenhou neste processo ao longo dos anos. O facto de termos actualmente um sistemade supervisão mais eficaz para o sector financeiro e estarmos a aprender com as liçõessobre a crise neste domínio, a par de outras, deve-se largamente ao Parlamento Europeu.

Estamos a aproximar-nos das fases finais da criação desta nova arquitectura das trêsAutoridades Europeias de Supervisão com a nomeação dos seus presidentes e directoresexecutivos nos próximos dias. Senhoras e senhores deputados, estes procedimentos denomeação foram conduzidos com a máxima transparência e em plena conformidade comos regulamentos que criaram as autoridades, bem como outros que disciplinam a nomeaçãodos dirigentes das agências reguladoras da União.

Foram recebidas aproximadamente 275 candidaturas para seis lugares de que acabei dereferir. Todas foram consideradas com cuidado e objectividade. Os papéis atribuídos àsdiferentes partes interessadas, ao Parlamento Europeu, ao conselho de supervisores, e àprópria Comissão foram escrupulosamente cumpridos. No futuro, continuaremos a garantira transparência do processo e o seu correcto planeamento, de forma a permitir à Comissãodos Assuntos Económicos e Monetários (ECON) do Parlamento Europeu desempenhar oseu papel muito importante com o melhor dos resultados.

Este Parlamento já fez, e continuará a fazer, importantes exigências a estas autoridades, epenso que uma tal atitude está correcta. Está a fazer exigências que consigo compreender.À semelhança do Parlamento, a Comissão é da opinião que os presidentes e os directoresexecutivos destas autoridades devem ser escolhidos com base no mérito, experiência,independência, o seu compromisso com a Europa e o seu conhecimento de questõesrelacionadas com a supervisão e a regulação dos mercados financeiros. Senhoras e senhoresdeputados, é este o espírito que moveu o processo de selecção em curso com base nascandidaturas que recebemos.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT102

Além disso, dado que o Parlamento e o Conselho decidiram, no artigo 68.º do Regulamentoque criou estas autoridades, que os presidentes e os directores executivos estariam sujeitosao regulamento aplicável aos funcionários das instituições da União, a Comissão garantiuque é isso que está a acontecer e que, nesta área bem como noutras, os regulamentos estãoa ser cumpridos.

Senhoras e Senhores Deputados, expressaram alguma preocupação relativamente aossalários e à idade máxima dos gestores seniores destas autoridades. Neste âmbito,explorámos todos os caminhos possíveis de forma a obtermos a máxima flexibilidade eesta questão poderá, se necessário, ser reanalisada aquando da revisão do funcionamentodas autoridades, que está previsto para final de 2013.

Também apoio a intenção, por parte deste Parlamento, de alcançar um equilíbrio ideal emtermos de igualdade de géneros nos órgãos de direcção destas autoridades. No procedimentode pré-selecção, a Comissão aplicou rigorosamente o princípio da igualdade deoportunidades com base nas candidaturas que foram recebidas. Faço notar neste sentidoque, no mais recente processo de nomeação dos directores executivos, que está a decorrere ainda não foi completado, duas mulheres de grande capacidade estão a concorrer a umlugar de director executivo.

Estou plenamente de acordo com o Parlamento quanto à necessidade de termos autoridadesfortes, que sejam independentes de interferências políticas ou de outra natureza. Ospresidentes, directores executivos, e membros com direito a voto dos diferentes conselhosdeverão ser completamente independentes e agir unicamente no interesse da União. OParlamento e o Conselho consagraram este princípio no Regulamento que cria estasautoridades, designadamente nos seus artigos 42.º, 46.º, 49.º e 52.º, que a Senhora MinistraEnikö Győri acabou de referir.

A Comissão, enquanto guardiã da lei da UE, assumirá, integral e plenamente, as suasresponsabilidades de forma a garantir que estes preceitos são rigorosamente cumpridos.Posso acrescentar que a Comissão estará presente nos órgãos directivos das autoridades eque, nesse respeito, será naturalmente vigilante de modo a garantir que todas as decisõessão tomadas no interesse da União.

Quanto à composição do conselho de supervisores, a Comissão já salientou o imperativolegal e a importância política de garantir que estes conselhos são constituídos pelosdirectores das autoridades nacionais competentes. Já escrevi pessoalmente às autoridadespara esclarecer este ponto, onde carecia de clarificação. Na sequência disso, algumasautoridades nacionais já alteraram a sua representação. Outras ainda precisam fazê-lo.Podem ficar descansados de que a Comissão manterá este ponto sob monitorização rigorosae que será inflexível.

A composição dos conselhos das autoridades deverá respeitar plenamente os desideratosdos senhores deputados e os do legislador em geral, e pessoalmente zelarei para que osdirigentes das autoridades nacionais estejam de facto presentes, pelo menos, e repito-o,pelo menos duas vezes por ano, de acordo com o artigo 40.º do Regulamento que criouestas autoridades.

Por fim, Senhoras e Senhores Deputados, apoio a intenção, por parte deste Parlamento,de garantir que estas autoridades são dotadas dos recursos financeiros e humanosnecessários para a realização das suas funções de maneira credível. A autoridade orçamentalpode contar com o apoio técnico da Comissão para assegurar a coerência entre, por um

103Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

lado, as responsabilidades atribuídas a estas autoridades e, por outro, e como é natural, osrecursos que lhes são atribuídos para assumir estas responsabilidades.

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, é agora fundamental que osprocedimentos de nomeação e confirmação dos presidentes e directores executivos destasautoridades sejam completados com êxito. Estas autoridades necessitam começar atrabalhar. Posso garantir-lhes que, todos os dias, tenho provas da utilidade destas novasautoridades, dado que as consultamos actualmente com regularidade praticamente diária.

As tarefas que estas autoridades deverão assumir, em cooperação com o Conselho Europeudo Risco Sistémico, revestem-se da máxima importância. Quisemos que estivessem empleno funcionamento a partir de 1 de Janeiro. Cabe agora a cada um de nós aresponsabilidade de, cada um no papel que lhe compete, permitir que cumpram a sua tarefade forma expedita e em boas condições. Para alcançar este objectivo, é necessário o plenoapoio da sua respectiva instituição.

Quero aqui reafirmar que, na parte que lhe compete, a Comissão garantirá que a intençãodo legislador é plenamente respeitada e que estas autoridades trabalham, única eexclusivamente, no interesse da União Europeia.

PRESIDÊNCIA: Dagmar ROTH-BEHRENDTVice-presidente

Jean-Paul Gauzès, em nome do Grupo PPE. – (FR) Senhora Presidente, Senhora MinistraGyőri, Senhor Comissário Michel Barnier, o que temos actualmente não é um debate sobrequestões legais, mas sim um verdadeiro debate político. Um debate sobre o futuro daregulação financeira na Europa. É o culminar de um dos aspectos do trabalho realizadopelo Parlamento, com o Conselho, sob a orientação da Comissão. Por isso, serei bastanteclaro.

Para nós, não se trata de nos deleitar com alguma espécie de revolução ou de mostrar osnossos músculos por mera diversão. Trata-se antes de garantir que o espírito que norteouos acordos entre o Conselho e o Parlamento seja, de facto, respeitado. Não se trata de umaaula de direito. Os textos não interessam. Nós conhecemo-los bem. O que conta é a formacomo estes textos serão aplicados. Neste sentido, gostaria de agradecer ao Comissário pelaclareza do seu discurso.

Nunca procurámos envolver a Comissão nesta questão, e as palavras proferidas peloComissário estão em pleno acordo com os desideratos do Parlamento. O que queremostransmitir é um acto político que consiste em afirmar: "Estas instituições foram estabelecidas,por isso temos de lhes dar os recursos concretos para que possam funcionar correctamente."

No entanto, penso que não temos apenas dúvidas, mas também suspeitas sobre a formacomo estas disposições foram, de facto, aplicadas por uma série de Estados-Membros, poraqueles que pretendem desfazer a supervisão europeia e evitar a regulação financeira anível europeu. É contra isto que nos insurgimos, porque acreditamos que, se tivesse sidoesse o caso, teríamos sido enganados nas negociações sobre a supervisão. As negociaçõesforam longas; foram difíceis. Todos fizeram cedências. A Presidência belga fez um trabalhodigno de nota e o Comissário deu um impulso extraordinário. Hoje poderíamos estarperante instituições sem poder efectivo: devido ao baixo estatuto dos funcionáriosnomeados; devido ao facto de os Estados-Membros não terem escolhido os melhores, eprovavelmente porque os salários não eram atractivos.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT104

Seja como for, o Parlamento necessita hoje de uma resposta concreta. Senhora Ministra,vejo-me obrigado a dizer, apesar da amizade que nos une por termos partilhado a mesmabancada, o mesmo grupo e a mesma comissão, que a carta que vi e que, devo dizer, é apenasum primeiro esboço, é inadequada.

Trago-lhe a resposta do Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos). Ésimples. A Senhora Ministra refere, em nome do Conselho, que apoia plenamente o queo Comissário acabou de referir. Posso dizer-lhe que, para nós, esta será uma declaraçãosatisfatória. A declaração proferida pelo Comissário é precisa. Tem a ver com problemasde recursos humanos e financeiros. O que a sua carta precisa de dizer é isto: "Concordamospraticamente com tudo o que o Comissário referiu." Senhora Ministra Győri, isto é muitoimportante.

Concordamos praticamente com tudo o que o Comissário referiu em plenário, esta tarde.

Udo Bullmann, em nome do Grupo S&D. – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, por que motivo estamos aqui? O Comissário Barnier diz que é porque oParlamento Europeu conseguiu estabelecer autoridades europeias de supervisão dignasdeste nome. Isso era algo que não fazia parte do programa do Conselho, nem do programados Estados-Membros. A Comissão também tinha dúvidas quanto à nossa perseverançano respeitante à criação desta nova instituição. O Conselho acabará por perceber, terá decompreender, os motivos da nossa preocupação, e a Comissão também.

Este Parlamento Europeu quer impedir que os poderes destas novas autoridades desupervisão venham a ser prejudicados por manobras nacionais, e isto aplica-se, no meuentender, a todos os grupos partidários e não apenas a nós, sociais-democratas. Daí queestejamos atentos ao recrutamento do pessoal, como é óbvio. O PE tem uma palavra adizer neste domínio, pois devemos ser consultados.

Com efeito, há um ou dois assuntos que nos preocupam. Enviam-nos listas de candidatosnas quais não conseguimos verificar se o critério de género tem sido respeitado. Todas aspropostas de candidatos que nos têm sido entregues nos fazem pensar que estamos perantepessoas capazes de fazer um bom trabalho, e digo-o com todo o respeito pelas pessoas emcausa. São claramente pessoas sérias que já demonstraram o seu valor em experiênciasprofissionais anteriores. No entanto, os candidatos que nos apresentam não são pessoascuja experiência passada, a nosso ver, lhes confira autoridade suficiente para apontarefectivamente uma eventual situação de conflito às autoridades nacionais de supervisão.No âmbito de uma supervisão europeia, os interesses nacionais podem desembocar emimpasses. Isto surpreende-nos e preocupa-nos, trata-se de um risco a que devemos estaratentos.

Não estamos satisfeitos com estes procedimentos, e pergunto aliás por que motivo nãohavemos de adoptar a abordagem seguida, por exemplo, em relação aos responsáveis doOLAF, a respeito dos quais, naturalmente, a opinião desta Câmara suscita o vosso interesse.Por que razão não podemos fazer o mesmo? No que respeita aos directores executivos,existe ainda mais uma oportunidade para o PE. Ainda é possível mostrarem que estãointeressados no parecer do Parlamento Europeu. É uma nova oportunidade. Convidaria,deste modo, tanto a Presidente em exercício do Conselho e ex-colega, senhora deputadaGyőri como o Senhor Comissário Barnier, a aproveitarem-na. Ainda estão a tempo deacolher as objecções desta assembleia e de dizer-nos, com toda a clareza, de que formaquerem trabalhar connosco no futuro. Podem dizer-nos muito francamente que objectivosestão dispostos a apoiar para a reforma de 2013 e como pretendem equipar as instituições.

105Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Podem também dizer de forma inequívoca se estão interessados no nosso parecer emrelação aos membros do pessoal que ainda não foram nomeados. Por isso, peço-vos comtoda a seriedade, a bem dos interesses da Europa, que corrijam rapidamente taisprocedimentos.

Sylvie Goulard, em nome do Grupo ALDE. – (FR) Senhora Presidente, Senhora MinistraGyőri, Senhor Comissário, muito obrigada por estarem connosco esta noite. Estamos bemconscientes do pouco tempo disponível, por isso agradeço ainda mais o facto de já teremcomeçado a responder-nos. Julgo que é importante explicar a nossa motivação, como osmeus colegas têm feito.

O que nos motiva é o facto de termos lutado, colectivamente, durante meses, para garantirque haveria um "antes da crise" e um "depois da crise", neste mercado interno que facilitoua expansão dos serviços financeiros e da actividade bancária. Somos totalmente a favor detodo o trabalho transfronteiriço desenvolvido pelo sector e do alinhamento das regrascomuns e de supervisão. Para ser franca, durante as negociações - com o apoio da Comissão,de resto – apercebemo-nos claramente de que estávamos a desempenhar um papelincómodo. Percebemos nitidamente que alguns Estados-Membros pretendiam manter ocontrolo da fiscalização e não desejavam que ninguém metesse o nariz nos seus negócios.

A Senhora Ministra Győri diz-nos que o Conselho não tem nenhuma influência nanomeação destes funcionários, o que do ponto de vista legal está correcto, mas algunsEstados-Membros estão muito atentos. Além disso, o Senhor Comissário salientou que osseus serviços tiveram de recomendar a alguns países que enviassem funcionários de altonível. Portanto, este Parlamento está a fazer o trabalho que lhe compete, esforçando-se porassegurar independência, recursos e determinação para avançar.

Temos, naturalmente, plena consciência das nossas responsabilidades. O PE, mais do queninguém, deseja que estas autoridades comecem a trabalhar, já que tanto contribuiu paraa sua criação. Não queremos de modo algum atrasar o trabalho; e estou a pensar, porexemplo, nos testes de esforço dos bancos, que são tão importantes. No entanto, e comotem sido sublinhado, a verdade é que vamos ser exigentes, reflectir sobre o assunto edemorar o tempo que for preciso para analisar em pormenor o que nos disseram, tanto aComissão como o Conselho, para tomar uma decisão de consciência tranquila.

Gostaria de agradecer ao Comissário Barnier por ter feito algumas declarações muito clarase de convidar a Senhora Ministra Győri a não ser ingénua. O que está em jogo é muitoimportante.

Sven Giegold, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhora Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, na minha opinião, trata-se de aproveitar da melhor maneira aspossibilidades previstas pela lei para dotar a Europa de uma supervisão financeira efectiva.Temos dúvidas quanto a saber se tais possibilidades estão de facto a ser utilizadas da melhorforma nas instituições. Constatamos deficiências nos procedimentos. Ao Parlamento nãofoi facultada com antecedência a lista dos candidatos, mas apenas a selecção final. Seriamuito fácil enviarem-nos agora a lista dos administradores executivos. Existe um clarodesequilíbrio entre os sexos no preenchimento dos lugares e, considerando determinadasocorrências ao longo do processo, ficamos com algumas dúvidas quanto à vontade dosEstados-Membros de preencherem os cargos desta instituição numa verdadeira perspectivaeuropeia.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT106

Este e outros pontos da nossa carta levam-nos a formular esta dúvida fundamental. Noentanto, e para além disso, resta naturalmente a questão da adequação dos candidatos aoscargos, e cada pessoa tem de ser avaliada individualmente, com base na sua competência.Neste contexto, há dois grandes problemas: nas audições, verificámos que um doscandidatos contestava que estivesse em causa uma instituição europeia, referindo-se antesa uma rede de autoridades de supervisão. Mesmo depois de interrogado sobre esta questão,não mudou de posição.

Os candidatos não nos responderam claramente quando lhes perguntámos se estavamdispostos a introduzir uma transparência total nos contactos com os lobbies do sectorfinanceiro. Enviámos uma carta aos três candidatos e, pela parte que nos toca, o resultadoda votação depende de recebermos respostas claras e definitivas a estas perguntas.

Kay Swinburne, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhora Presidente, o Grupo ECRcongratula-se com a oportunidade do debate desta tarde nesta Câmara.

Gostaria de sublinhar que nosso grupo acredita que os três candidatos à presidência dasESA, apresentados ontem à Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, sãoplenamente qualificados e competentes para exercer as importantes funções em causa.

Os meus comentários prendem-se assim exclusivamente com o processo seguido parachegar a este ponto. Gostaria, com efeito, de sublinhar que os futuros processos de selecçãodevem visar o recrutamento de candidatos com competências tão diversas quanto possível,a fim de garantir a independência de pensamento e uma nova composição dos quadros degestão destas autoridades. Para o efeito, a escala salarial deve adequar-se à responsabilidadeexigida dos cargos. Devem evitar-se a todo o custo os critérios irrelevantes e desnecessáriosem termos de qualificações técnicas e competências, como o limite de idade, por exemplo.

Esperamos que no futuro as coisas melhorem um pouco em termos dos procedimentos eda transparência para com o Parlamento. Espero que no futuro isto seja tomado emconsideração.

Marta Andreasen, em nome do Grupo EFD. – (EN) Senhora Presidente, não acredito nanecessidade destes cargos de supervisão das agências, na medida em que não estouconvencida da necessidade das próprias agências. Será que um novo patamar de supervisãochamado ESMA vai significar melhorias em comparação com as autoridades de supervisãoexistentes? Creio, pelo contrário, que só vamos criar confusão sobre quem é responsávelpor quê.

A autoridade de supervisão será capaz de produzir regulamentação adequada à maior zonafinanceira do mundo? Duvido muito. Julgo, pelo contrário, que as teorias preferidas dosquadrantes antimercados prevalecerão e serão impostas à City de Londres. Os problemascausados pela actividade financeira nos últimos anos ficaram a dever-se ao desprezo e àignorância das regras por parte de quem tinha a obrigação de as aplicar.

Não existe nenhuma garantia de que estas autoridades consigam fazer melhor. Além disso,foi-nos apresentado um único candidato para cada cargo, um procedimento totalmenteantidemocrático. Claro que é o mesmo que foi seguido para nomear o Presidente daComissão, os restantes membros da Comissão e a Alto Representante. A lista é longa. Instotodos os colegas a votarem contra estes e quaisquer outros candidatos.

Michel Barnier, Comissão. − (FR) Senhora Presidente, serei breve, pois já me exprimi emtermos tão francos e concretos quanto possível. Ponderei cuidadosamente cada palavra

107Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

do meu discurso, que será confirmado por escrito numa carta que co-assinei com oVice-Presidente Šefčovič para que as coisas fiquem muito claras.

Em resposta a cada uma das intervenções, que agradeço, gostaria de referir apenas trêsquestões.

A primeira diz respeito à independência e aos poderes dos presidentes das autoridades.Sinto-me muito satisfeito, mas não surpreendido, com a firmeza demonstrada peloParlamento, que é partilhada pela Comissão, em defender a independência destas autoridadese garantir que ela seja respeitada ao longo do tempo. Este princípio é fundamental e o maisimportante de todos para o futuro, tendo em conta a multiplicidade das tarefas eresponsabilidades que estas autoridades terão de exercer. Anteriormente, haviam-secolocado os problemas respeitantes às agências de notação e aos testes de esforço. Sãoquestões que dependem da competência destas autoridades e da sua credibilidade. Este erao primeiro ponto que eu desejava salientar, sobre o qual o Parlamento e a Comissão estãoevidentemente de acordo, e espero e acredito que o Conselho também.

O segundo ponto é o processo de selecção. Senhoras e Senhores, recordo-me das discussõesnos trílogos, em que este procedimento foi amplamente debatido e, finalmente, objectode acordo entre os co-legisladores. É o que é, e talvez não seja perfeito. No intuito de omelhorar, introduzi pessoalmente a cláusula de rendez-vous. Não tenho qualquer motivopara pensar – e digo-o de consciência plenamente tranquila – que ele tenha prejudicado aselecção de bons candidatos. Não tenho nenhuma razão para duvidar das motivações doscandidatos escolhidos. Após receber a lista restrita e ter conhecido pessoalmente todos oscandidatos, assumi a responsabilidade de estabelecer uma lista, segundo os critérios queconsiderei, com a máxima objectividade, mais úteis e mais credíveis. No entanto, para aselecção desses bons candidatos, baseámo-nos na lista que nos foi entregue e nas 275candidaturas das autoridades reguladoras dos Estados-Membros. Dispomos duma cláusulade rendez-vous para melhorar estes procedimentos, que podem com certeza ser melhorados.Mas gostaria de afirmar, em plena consciência, que, pela parte que me toca não tenhonenhuma razão para dizer ou pensar que não seleccionámos bons candidatos, capazes deerguer-se à altura das suas responsabilidades.

Por fim, há um terceiro ponto, que tem sido mencionado por alguns de vós, o do nível derepresentação das autoridades. A Comissão será sempre garante da plena conformidadedessa representação com os regulamentos, ao mais alto nível. Gostaria de expressar meussinceros agradecimentos ao Parlamento Europeu por nos apoiar nesta área absolutamentecrucial, em que se situa uma das chaves da nossa credibilidade.

Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, eis o que vos queria transmitir, antesde todos nos recolhermos para reflectir, como disse uma oradora. Era esta a garantia comque desejava deixar-vos, expressando-me a título pessoal e em nome de todos oscomissários: a garantia da vigilância necessária ao êxito destas autoridades. Uma supervisãoeuropeia genuína não deve substituir as autoridades supervisoras nacionais mas fazer comque trabalhem em conjunto de forma mais eficaz, e precisa de dispor de competênciaspróprias perante desafios e riscos que hoje são claramente transnacionais.

Precisávamos, e agora já os temos, em grande medida graças ao PE, destes três instrumentos,destas três autoridades além do Comité Europeu do Risco Sistémico. Senhoras e Senhores,urge agora iniciar o trabalho porque, digo-vos com toda a franqueza, os mercados movem-semuito rapidamente nesta nossa era de democracia, muito mais depressa do que nós, e asautoridades precisam de acompanhar o ritmo.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT108

Enikő Győri, Presidente em exercício do Conselho. − (EN) Senhora Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, em primeiro lugar, permitam-me responder à pergunta formuladamuitas vezes ao longo deste debate: o Conselho concorda com a revisão do procedimentode nomeação do regulamento?

Bem sei que o mesmo considerando estipula, para as nomeações subsequentes dospresidentes, que a oportunidade de dispor de uma lista elaborada pela Comissão deveráser revista num relatório.

Sei também que o artigo 81.º do regulamento prevê uma análise da Comissão, que seráenviada ao Parlamento Europeu e ao Conselho até 2 de Janeiro de 2014 e repetida cadatrês anos subsequentes. Portanto teremos oportunidade de melhorar a regulamentaçãoem tempo útil, com base na experiência adquirida, e nesse espírito aguardo um diálogoconstrutivo entre as nossas instituições para preparar o caminho para uma futura avaliação.

Presidente em exercício do Conselho. - (HU) Senhora Presidente, as declarações proferidas peloSenhor Comissário e por mim mesma enquadram-se nas nossas competências respectivas.Recebemos a carta do Presidente da Comissão dos Assuntos Económicos e ambos tentámosresponder às perguntas formuladas na óptica das nossas competências respectivas. Pelaminha parte, esforcei-me por convencer o Parlamento de que existem garantias deindependência e, na elaboração do orçamento, a tarefa do Conselho e do Parlamento, asduas instituições com responsabilidade financeira, consiste em assegurar condições defuncionamento para estas novas autoridades. Como tal, parece-me haver uma partilhaclara de tarefas e um compromisso inequívoco por parte de todas as instituições.

A carta enviada hoje pelo Presidente do ECOFIN, Ministro György Matolcsy, em respostaà carta do Presidente da Comissão ECON, esta manhã, foi redigida neste espírito, e estouconfiante de que, tal como no parecer da Comissão, o Parlamento a interpretará comouma resposta satisfatória. O Conselho e a Presidência em exercício estão inteiramente deacordo com ela. Trata-se da pergunta do deputado Gauzès, a que a Comissão respondeuno âmbito dos temas que são da sua competência. Desta forma, espero que amanhã nãorestem mais obstáculos que impeçam o Parlamento de aprovar os candidatos, e que asautoridades de supervisão possam finalmente iniciar seu trabalho.

Presidente. − Recebi três propostas de resolução, apresentadas ao abrigo do artigo 120.ºdo Regimento, para encerramento do debate.

O debate está encerrado. A votação terá lugar amanhã, às 11H30.

Declaração escrita (artigo 149.º)

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. – (IT) Este Parlamento deu um contributo importantepara a criação das novas autoridades europeias de supervisão financeira. Deseja por issosublinhar o seu papel, esta noite, e exortar o Conselho e a Comissão a comprometerem-sea garantir que as autoridades actuarão de forma independente e poderão contar com opessoal e os recursos de que necessitam. Isto é válido independentemente de quem venhaa ser nomeado. Com efeito, os candidatos aos cargos de presidentes das AES jácomprovaram, pela sua experiência profissional anterior, a sua competência eprofissionalismo, e estou certo de que serão capazes de desempenhar o papel que lhescompete da forma mais imparcial e satisfatória. Penso que é essencial apoiar os candidatose garantir que as autoridades possam começar a trabalhar o mais rapidamente possível, jáque existem muitos problemas por resolver que requerem uma acção imediata. Foi esta

109Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

necessidade que levou ao estabelecimento destas autoridades e devemos lembrar-nos dissoamanhã, quando procedermos à votação.

18. Acordos sobre o comércio de bananas - Revogação do Regulamento (CE) n.º1964/2005 do Conselho relativo aos direitos aduaneiros aplicáveis às bananas -Acordos sobre o comércio de bananas (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta sobre:

- a recomendação (A7-0002/2011) da deputada Francesca Balzani, em nome da Comissãodo Comércio Internacional, sobre o projecto de decisão do Conselho relativa à celebraçãode um Acordo de Genebra sobre o comércio de bananas entre a União Europeia e o Brasil,a Colômbia, a Costa Rica, o Equador, a Guatemala, as Honduras, o México, a Nicarágua, oPanamá, o Peru e a Venezuela, e de um Acordo sobre o comércio de bananas entre a UniãoEuropeia e os Estados Unidos da América [07782/2010 - C7-0148/2010 - 2010/0057(NLE)];

- o relatório (A7-0003/2011) da deputada Francesca Balzani, em nome da Comissão doComércio Internacional, sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e doConselho que revoga o Regulamento (CE) n. º 1964/2005 relativo aos direitos aduaneirosaplicáveis às bananas [COM (2010) 0096 - C7-0074/2010 - 2010/0056 (COD)],

- a pergunta oral (O-000012/2011 - B7-0007/2011) ao Conselho, relativa à celebraçãode um Acordo de Genebra sobre o Comércio de Bananas, apresentada pelo deputado VitalMoreira e pela deputada Francesca Balzani, em nome da Comissão do ComércioInternacional , e

- a pergunta oral (O-000013/2011 - B7-0008/2011) à Comissão, relativa à celebração deum Acordo de Genebra sobre o comércio de bananas, apresentada pelo deputado VitalMoreira e pela deputada Francesca Balzani, em nome da Comissão do ComércioInternacional.

Francesca Balzani, relatora. – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,o Parlamento foi chamado a pronunciar-se sobre dois acordos que foram celebrados comos Estados Unidos e 11 países latino-americanos, os quais encerram um percurso que foilongo e difícil. Este caso levou a União Europeia a ser contestada na Organização Mundialdo Comércio, e sobretudo, a ser a parte perdedora no litígio.

Trata-se de um caso delicado, como todos os litígios relacionados com o princípio da nãodiscriminação no comércio internacional, em que a Europa tem sido acusada de violar asnormas pela forma como as importações de banana são organizadas na UE. É por estemotivo que temos um sistema de duas vias, um dos quais destinado aos países de África,das Caraíbas e do Pacífico (ACP) e outro diferente para outros países. Este sistema permitiuaos países ACP trazer este produto para o mercado europeu sem pagar direitos deimportação, ao contrário de outros países, que estão sujeitos a uma tarifa de 176 eurospor tonelada.

O acordo em apreço reequilibra, deste modo, a situação, e, sobretudo permite que paísesACP mais frágeis em termos de desenvolvimento exportem os seus produtos para a UEsem pagar direitos. Ao mesmo tempo, outros países que subscreveram os acordos poderãoexportar bananas para a UE, sujeitos a direitos de importação que, no entanto, serão

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT110

gradualmente reduzidos ao longo do período 2011-2017, do montante actual de 176euros por tonelada para 114 euros por tonelada.

No entanto, e além de realinhar finalmente a UE com seus compromissos, enquantomembro da Organização Mundial do Comércio, e portanto, de certo modo, restabelecera sua credibilidade, até como instituição, o mais importante é que, com estes acordos, sãofeitas concessões aos países ACP mais vulneráveis em termos de desenvolvimento, aopreverem-se instrumentos que lhes proporcionam apoio financeiro. Tais instrumentosirão permitir que esses países invistam na diversificação da sua produção e, deste modo,esperamos que fortaleçam suas economias. O que está previsto neste momento é que estasmedidas, no valor de 190 milhões de euros, sejam aplicadas até 2013.

Considero estes acordos um passo positivo, não apenas porque põem termo a litígios emque a UE tem sido a parte perdedora, com as consequências que isto acarreta em termoseconómicos e disciplinares e, ainda, de credibilidade institucional, como já tive oportunidadede referir, mas também porque conduzem a uma solução equilibrada que respeita asnecessidades tanto dos países ACP como dos produtores europeus das regiõesultraperiféricas, que não podem evidentemente ser abandonados à concorrência desenfreada.

Proponho, assim, que o Parlamento aprove estes acordos e inste o Conselho e a Comissãoa assumirem um compromisso firme. Numa primeira fase, devem preparar, o maisrapidamente possível, uma avaliação do impacto que estes acordos terão daqui até 2020– ou seja, num prazo muito longo – sobre os países ACP e os produtores europeus dasregiões ultraperiféricas, cujas economias estão intimamente ligadas ao sector da banana.Em segundo lugar, o Parlamento Europeu deve pedir um compromisso firme de que osefeitos das medidas financeiras de acompanhamento destinadas aos países ACP serãoobjecto de avaliação 18 meses antes do seu fim. Isto garantiria a possibilidade de estespaíses beneficiarem de assistência e de medidas de apoio complementares, se necessário,para os ajudar a contrariar e atenuar, até certo ponto, eventuais consequências negativasda entrada em vigor dos acordos no seio da União Europeia, devido a ajustamentos depreços e, portanto, à concorrência das bananas provenientes de outros países.

Assim, julgo que este acordo resolve uma questão complicada ao mesmo tempo que prevêuma solução, ao levar em consideração as necessidades dos países mais vulneráveis, que,como eu já disse, têm sido sempre a nossa principal preocupação, inclusive durante o longodebate que tivemos na Comissão do Comércio Internacional. Espero que estes países retiremum forte apoio e uma solução favorável destas medidas, nomeadamente em termos deacompanhamento, e do compromisso que o Parlamento Europeu está a pedir à Comissãoe ao Conselho, sobre a análise das consequências do acordo e dos efeitos das medidas deauxílio, reforçando-as se necessário no futuro.

Enikő Győri, Presidente em exercício do Conselho. – (IT) Senhora Presidente, Senhora Balzani,Senhoras e Senhores, gostaria de agradecer calorosamente a oportunidade dada à Presidênciaem exercício e ao Conselho de se pronunciarem sobre esta questão, que é importante tantodo ponto de vista do comércio internacional, como da solidariedade e do desenvolvimento.

Espero ser capaz de responder às questões colocadas pelo senhor deputado Moreira eesclarecer as dúvidas e preocupações que a senhora deputada Balzani mencionou. Se mepermitem prosseguirei agora em húngaro.

(HU) No que respeita à subsistência dos produtores de bananas da UE e dos países ACP, oConselho está ciente de que a produção de banana tem uma importância social e económica

111Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

fundamental para as regiões produtoras da UE. O projecto de regulamento estipula que asMedidas de Acompanhamento para o Sector da Banana (MAB) devem ser avaliadas 18meses antes do termo do programa. No entanto, Senhoras e Senhores Deputados, comosabem, a elaboração desse relatório de avaliação e quaisquer propostas complementaressão da competência da Comissão, e não do Conselho, mas estou certo de que o ComissárioCioloş desenvolverá esse ponto. O mesmo se aplica às avaliações de impacto referidas napergunta oral.

A implementação das Medidas de Acompanhamento para o Sector da Banana (MAB)destinadas aos países ACP exige uma alteração do conjunto de instrumentos de relaçõesexternas da UE. No interesse dos países beneficiários, o Conselho conta com a cooperaçãoconstrutiva do Parlamento Europeu para resolver as questões institucionais que estão aatrasar a adopção das disposições necessárias.

Quanto à repartição, entre os países beneficiários, das dotações atribuídas às Medidas deAcompanhamento para o Sector da Banana, o Conselho, na sua posição adoptada emprimeira leitura, manifestou o seu apoio à proposta de regulamento sobre as MAB, quedefine indicadores e critérios claros para essa mesma repartição, e são os seguintes: ovolume de comércio de banana com a UE, a importância das exportações de banana paraa economia do país ACP em causa e o nível de desenvolvimento do país.

No que se refere ao programa POSEI, a Comissão apresentou uma proposta de regulamentodo Parlamento Europeu e do Conselho, de 24 de Setembro de 2010, que estabelece medidasindividuais no domínio agrícola para as regiões ultraperiféricas da UE. A proposta está aser analisada pelas instâncias preparatórias do Conselho. No que respeita aos direitosaduaneiros aplicáveis à banana, discutidos no âmbito dos acordos de comércio livre acelebrar pela Comissão com a Colômbia, Peru e América Central, gostaria de salientar queo Conselho ainda não tem uma opinião formada sobre estes acordos, pelo que não possotransmitir-vos neste momento uma posição oficial.

A UE iniciou negociações com toda a Comunidade Andina, com vista ao estabelecimentode um acordo de associação inter-regional. As conversações foram suspensas em Junhode 2008, devido a divergências dos países andinos no tocante aos objectivos e conteúdodo capítulo sobre o comércio. Em Janeiro de 2009, foram iniciadas novas negociaçõescom os países andinos interessados, ou seja Colômbia, Equador e Peru, destinadas a alcançarum acordo multilateral de comércio livre. Depois de o Equador ter suspendido a suaparticipação em Julho de 2009, as negociações prosseguiram com o Peru e a Colômbia.A Comissão Europeia concluiu as negociações com o Peru e a Colômbia em 1 de Marçode 2010.

O acordo multilateral negociado com estes dois países permanece aberto à participaçãode outros membros da Comunidade Andina, incluindo o Equador. Nos últimos meses,este país anunciou oficialmente a sua disposição de retomar as negociações e aderir aoacordo multilateral. O Conselho congratula-se com esta decisão. Se as negociações como Equador prosseguirem, o nível de ambição em matéria de abertura do mercado devecorresponder ao nível dos compromissos negociados com a Colômbia e o Peru.

A concluir, exorto assim os senhores deputados a darem o seu consentimento à celebraçãodo acordo relativo à banana, e a votarem amanhã a favor da proposta de revogação doregulamento relativo aos direitos aduaneiros aplicáveis à banana. Conto com a vossacolaboração e agradeço a vossa atenção.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT112

Dacian Cioloş, Membro da Comissão. − (FR) Senhora Presidente, Senhora Ministra Győri,Senhora Deputada Balzani, Senhoras e Senhores Deputados, em primeiro lugar,congratulo-me pelo facto de os principais pontos e orientações gerais da proposta daComissão sobre as bananas terem merecido a apoio da relatora. Além disso, a senhoradeputada Balzani faz na introdução uma apresentação muito clara do contexto em que asnegociações decorreram e em que este acordo foi celebrado.

A Comissão apoia sem reservas as conclusões do projecto de resolução legislativa do PE edo relatório sobre a mesma questão. Importa sublinhar a importância dos acordos deGenebra 2009 sobre as bananas, e a senhora deputada Balzani soube explicar muito bemporquê. Gostaria também de salientar que estes acordos vão pacificar este assunto delicado,facilitando desta forma o processo de Doha e a criação das condições necessárias para quehaja estabilidade e previsibilidade do mercado europeu da banana nos próximos anos.

Gostaria de voltar a algumas das questões mais importantes suscitadas pela relatora e pelossenhores deputados, nas perguntas orais ou escritas, bem como no próprio projecto deresolução, que faz parte do pacote.

No que respeita ao apoio destinado aos produtores da União Europeia, estou inteiramenteconsciente do papel essencial, em termos socioeconómicos, da produção de banana nasregiões da União Europeia em causa - em especial nas regiões ultraperiféricas - e daspreocupações existentes quanto à viabilidade económica da produção de bananas nessasregiões.

Num relatório recente sobre o sistema POSEI, apresentado ao Parlamento Europeu e aoConselho em Setembro de 2010, a Comissão explica as consequências dos Acordos deGenebra e o facto de estas já terem sido integradas na reforma de 2006 do regime aplicávelàs bananas.

A fim de proteger os produtores da União Europeia num contexto de liberalização crescente,o orçamento para o sector da banana foi consideravelmente reforçado, e a avaliação deimpacto realizada na altura teve em conta ulteriores reduções tarifárias, superiores ao quetinha sido acordado.

No entanto, a Comissão demonstrou estar disposta a acompanhar de forma atenta oimpacto dos acordos no mercado e, se necessário, tomar as medidas necessárias paramitigar os seus efeitos.

Quanto à questão do reforço da posição dos produtores de banana no sector, gostaria desalientar, em primeiro lugar, que esta questão não se prende em exclusivo com o sectordas bananas, mas se estende a todo o sector agro-alimentar. Os problemas na esfera daprodução - problemas relativos ao poder de negociação e à distribuição de valoracrescentado ao longo da cadeia alimentar - também afectam outros sectores. Para darresposta a este problema, e também no âmbito da reforma da política agrícola comum, aComissão apresentará propostas destinadas a fortalecer as organizações de produtores, opapel que desempenham no sector e o seu poder de negociação.

Além disso, a Comissão criou um Grupo de Alto Nível para a Indústria Agro-Alimentarque reúne diversos comissários, que deverão apresentar propostas nesse sentido. Aresponsabilidade e os poderes do Comissário da Agricultura são limitados, mas neste grupoparticipam outros quatro comissários que dirigem os grupos de alto nível. O grupo deverápreparar um roteiro e propostas que a Comissão apresentará nos próximos meses e anos

113Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

sobre os temas da transparência na cadeia de abastecimento alimentar e do poder denegociação. Tal contexto abrange os produtores do sector da banana.

Quanto à repartição das dotações destinadas às Medidas de Acompanhamento para oSector da Banana (MAB) aplcáveis aos ACP, como sabem, o projecto de regulamento queinstitui as MAB foi aprovado pelo Parlamento Europeu em 21 de Outubro, e estabelece ascondições para a afectação desses recursos. Deste modo, os critérios exigidos já se encontramem vigor e, além disso, os resultados e a repartição deste pacote já estão definidos.

Neste contexto, a Comissão tem trabalhado em colaboração estreita e frutífera com oParlamento Europeu, e chegámos a um bom acordo sobre o conteúdo relativo a este ponto.

Charles Goerens, relator de parecer da Comissão do Desenvolvimento. − (FR) SenhoraPresidente, uma das disposições do direito internacional é o princípio da não discriminação,o que é muito positivo. Em teoria, não é passível de contestação. A realidade é ligeiramentediferente.

Os países ACP não pagam direitos de importação de bananas, se exportarem para a UniãoEuropeia. Existe um acordo - um aquis - e o presente acordo não altera nada quanto a estefacto. Os países não ACP, por outro lado, que até agora pagavam 176 euros por tonelada,vão ver os seus direitos de importação reduzidos para 141 euros. A redução de 35 eurosnos direitos de importação também altera a situação em termos de concorrência. Os paísesACP, que até agora foram alvo de uma protecção maior, serão um pouco menos protegidosno futuro. A Comissão negociou este acordo em nome da União Europeia. A meu ver,enquanto relator de parecer, resta saber se poderia ter agido de forma diferente. E a respostaé muito clara: não podia. Se tivesse agido de forma diferente, se se tivesse recusado a abrirnegociações, o assunto teria sido apreciado pelo Órgão de Resolução de Litígios da OMC.É correcto dizer que os resultados teriam certamente sido diferentes dos alcançados duranteas negociações em apreço. Será que isso significa que tudo está bem quando termina bem?Certamente que não.

Sou relator de parecer sobre este acordo, e também sou relator sobre as Medidas deAcompanhamento para o Sector da Banana, e apresentarei o relatório amanhã, em segundaleitura. Farei os comentários seguintes sobre esta questão.

Primeiro, o orçamento para o sector da banana foi consideravelmente aumentado. Comoo Senhor Comissário acabou de sublinhar, isto é muito positivo e reconheço-o. O assuntotambém se prende com uma pergunta da senhora deputada De Sarnez, que manifestougrande preocupação perante a nova situação criada para os produtores de banana dosdepartamentos ultramarinos e regiões ultraperiféricas.

Em segundo lugar, outro aspecto que preocupa a senhora deputada De Sarnez, e mepreocupa, bem como à nossa Comissão do Desenvolvimento: é que a tendência para abaixa não vai ficar nos 114 euros, porque a Comissão está actualmente a negociar outrosacordos que reduzem o montante para muito abaixo dos 114 euros. Fala-se mesmo em75 euros. Assim, e respeitando o princípio de não discriminação, seremos forçados aacompanhar esta tendência, muito preocupante.

Em terceiro lugar, quanto às Medidas de Acompanhamento para o Sector da Banana, deque falarei em mais detalhe amanhã de manhã, acho que o Parlamento fez bem emintroduzir alguns elementos novos – e agradeço ao Senhor Comissário também o tersublinhado – com destaque para a avaliação do impacto a realizar 18 meses antes de o

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT114

programa terminar. Esta avaliação permitirá ver um pouco para além de 2013, porque eunão acredito que os problemas no sector da banana fiquem resolvidos até 2013.

Laima Liucija Andrikienė, em nome do Grupo PPE. – (EN) Senhora Presidente, em nomedo Grupo PPE, gostaria de instar o Parlamento Europeu a dar luz verde a um acordo de tãogrande importância, que, em nosso entender, facilitará a ronda de negociações de Doha,dando ainda o impulso necessário às nossas negociações bilaterais com os países doMercosul sobre o acordo de comércio livre.

Congratulamo-nos com a tendência geral para a liberalização do comércio mundial debanana, incluindo o actual acordo da OMC, bem como os acordos bilaterais com os paísesandinos e da América Central e, possivelmente no futuro, com o Mercosul.

A proposta de resolução – pela qual presto a minha homenagem à relatora – é assazequilibrada, em particular porque se teve em conta os interesses dos nossos parceiros dospaíses ACP, bem como os dos produtores de banana europeus.

É minha profunda convicção, ao avançarmos para uma maior liberalização do comérciomundial de banana, que devemos garantir que não arruinamos as indústrias e sectores que,por tradição, têm um peso importante do ponto de vista económico e social emdeterminadas regiões europeias, como as Ilhas Canárias, Guadalupe, Martinica, Madeira,Açores, entre outras.

Por último, esperamos que a Comissão tenha estas preocupações em consideração e iniciemedidas de ajustamento do pacote de ajuda aos produtores nacionais da União Europeia,inscrito no orçamento do programa POSEI e, se necessário, tome outras medidas no sentidode assegurar que, a par da tendência de liberalização do comércio mundial de banana, osprodutores europeus sejam capazes de se manter no mercado e fomentar as suas actividadestradicionais. As discussões sobre as próximas perspectivas financeiras da UE constituemuma boa oportunidade para uma iniciativa dessa natureza.

Kriton Arsenis, em nome do Grupo S&D . – (EL) Senhora Presidente, todos nós sabemoso que significa uma "república das bananas". É um país onde os grandes produtores debanana erguem e derrubam governos conforme mais lhes convém. Quando sãoincomodados por governos que tentam conservar os direitos mínimos do Estado ouaumentar os salários base, chegam a fazer golpes de Estado.

Nestes países, as mesmas empresas continuam a produzir bananas. A destruição de florestase do ambiente, as condições de trabalho miseráveis e a utilização de pesticidas proibidosna União Europeia são práticas diárias. Simultaneamente, por culpa destas multinacionais,99% das bananas que comemos são de uma só espécie, apesar de existirem milhares deespécies de banana diferentes e de esta espécie correr o risco de ser afectada por uma doençaespecífica associada ao sistema de monocultura.

As medidas de apoio aos países de África, das Caraíbas e do Pacífico foram muitoimportantes e a sua redução teria consequências graves para os produtores daqueles países.São países muito pobres que carecem da nossa ajuda. A União Europeia é, em termosglobais, o maior e mais lucrativo mercado de banana. Durante os próximos anos, iremosdecerto assistir aos esforços destas grandes multinacionais no sentido de assumirem ocontrolo absoluto do mercado da UE, afastando os produtores mais pequenos, e é a estasituação que temos realmente de prestar atenção. A Comissão tem de se manter alerta afim de assegurar que as leis da concorrência europeias sejam cumpridas à letra, de modoa impedir o abuso de posição dominante no mercado por parte das grandes multinacionais,

115Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

em que estas começam por forçar uma descida artificial dos preços obrigando os pequenosprodutores a saírem do mercado para, depois, formarem cartéis e aumentarem os preços,tornando os produtos muito caros para os consumidores europeus.

Catherine Grèze, em nome do Grupo Verts/ALE. – (FR) Senhora Presidente, no que dizrespeito à aprovação dos acordos comerciais no sector da banana, o Grupo dosVerdes/Aliança Livre Europeia votará contra.

Estes acordos defendem uma liberalização do mercado da banana através do reforço daposição dominante das grandes multinacionais americanas, que já detêm o controlo demais de 80% do mercado mundial. Uma aprovação de acordos desta natureza é agir contraos interesses, designadamente, dos países ACP, das regiões ultraperiféricas e do Equador.Mais uma vez, os penalizados serão os pequenos produtores. Urge uma reforma radicaldas regras do comércio internacional a fim de garantir a soberania alimentar e odesenvolvimento da produção local para todos.

As medidas financeiras propostas pela Comissão Europeia para apoiar estes produtoressão insuficientes. A União Europeia deve comprometer-se não só a realizar uma avaliaçãode impacto destes acordos, mas também a alterar a sua legislação nessa conformidade, demodo a promover sectores de produção e economias sustentáveis.

Elie Hoarau, em nome do Grupo GUE/NGL. - (FR) Senhora Presidente, em minha opinião,estes acordos não são positivos. São demonstrativos de como os pequenos produtores debanana, nos países ACP e nas regiões ultraperiféricas, foram feitos reféns dos acordos deGenebra em 2009 e das negociações de Doha a decorrer neste momento – acordos enegociações desejados e impostos pela Organização Mundial do Comércio.

É verdade que a sorte dos pequenos produtores dos países ACP e das regiões ultraperiféricastem pouco peso perante os interesses poderosos que estão em jogo – não só os interessesdos gigantes da América Latina mas também os da União Europeia.

A reforma do mercado da banana e a reforma do mercado do açúcar são, no fundo,expressões do mesmo movimento inexorável de viragem para um grande mercado mundialque, infelizmente, está a esmagar os mais fracos e os mais frágeis. Além disso, SenhoraPresidente, as medidas de compensação previstas não serão suficientes para impedir a ruínaque o futuro reserva aos pequenos plantadores, nem para conduzir os países ACP, queestão entre os mais pobres do mundo, rumo ao verdadeiro desenvolvimento.

A verdade é que estamos a ser pressionados a assinar estes acordos para salvar as negociaçõesde Doha. Se, ao menos, os nossos líderes fossem instados a demonstrar a mesma vontadeem salvar os acordos mundiais relativos à protecção do ambiente e à harmonizaçãoascendente dos direitos e do nível de vida dos trabalhadores. Se assim fosse, acredito queas pessoas se mostrariam hoje menos reticentes em relação à globalização.

David Campbell Bannerman, em nome do Grupo EFD. – (EN) Senhora Presidente, estabanana é o objecto de disputa numa guerra comercial de inspiração europeia contra aAmérica que dura há 16 anos e que se perdeu, agora, de forma impressionante.

A União Europeia foi multada em quase 200 milhões de dólares pela Organização Mundialdo Comércio e foi forçada a desistir das suas tarifas aduaneiras ilegais – tudo por causa doproteccionismo que grassa no seio da UE, neste caso a protecção das colónias francesas.Se me permitem, até esta banana que comprei hoje no supermercado do Parlamento

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT116

Europeu é ilegal! Não obedece às regras da UE em termos de comprimento, largura ecurvatura das bananas. O que é que se passa, afinal?

Perante um proteccionismo tão irracional e regras tão disparatadas, há que perguntar: aUnião Europeia está louca ou apenas "abananada"?

Laurence J.A.J. Stassen (NI) . – (NL) Senhora Presidente, há décadas que a União Europeiaprossegue uma política comercial proteccionista, que também se aplica às bananas, entreoutros produtos. O propósito das nossas taxas de importação é manter as bananas daAmérica Latina longe, ao mesmo tempo que distribuímos subsídios aos países exportadoresque são competitivamente fracos.

A maior fatia destes subsídios, quase 300 milhões de euros por ano, destina-se às regiõesultraperiféricas da União Europeia: isto é puro proteccionismo, pelo qual a OMC já advertiua UE inúmeras vezes. A União Europeia está sempre desejosa de se armar em advogada dodireito internacional e do comércio livre, de dedo moralizador em riste apontado aosoutros.

No entanto, quando se trata da União Europeia, preferimos olhar para o lado. Tudo épermitido desde que se proteja a indústria não lucrativa da banana em ilhas como a GuianaFrancesa, os Açores ou as Ilhas Canárias. Parecemos demasiado dispostos a tolerar o factode o contribuinte europeu ter de arcar com a despesa de centenas de milhões de eurostodos os anos em subsídios desperdiçados. É chegado o momento de abolirmos esta mágestão europeia e de a União Europeia deixar de subsidiar esta ineficiência económica.

Gabriel Mato Adrover (PPE). – (ES) Senhora Presidente, gostaria de informarrespeitosamente o senhor deputado Campbell Bannerman de que essa banana não é dasIlhas Canárias.

Senhoras e Senhores Deputados, vou falar de bananas nesta sessão plenária e consideropositivo que se discuta aqui a questão das bananas. É positivo porque é importante reiterara necessidade de se proteger os produtores de banana da União Europeia, incluindo os dasCanárias. E digo isto porque entendo que a celebração do Acordo de Genebra sobre oComércio de Bananas não é uma boa notícia para os produtores comunitários. Além disso,a resolução que hoje debatemos tem aspectos que, do ponto de vista agrícola e de protecçãodos produtores de banana da UE, não são inteiramente satisfatórios.

Ainda assim, estou ciente de que esta proposta emana da Comissão do ComércioInternacional que, em algumas questões, tem uns critérios muito diferentes daqueles queeu me permito ter. Por conseguinte, apreciarei os seus aspectos positivos e não os aspectosnegativos.

É positivo que se ponha fim a tantos anos de litígios no seio da Organização Mundial doComércio, restabelecendo assim a tranquilidade num sector que carece, acima de tudo, decerteza e de estabilidade para o futuro. Os produtores da UE pertencem a regiõesultraperiféricas que enfrentam enormes dificuldades na produção de bananas – de excelentequalidade, pelo menos – que não se assemelha em nada à produção de bananas dos paísesterceiros, seja do ponto de vista de custos, mão-de-obra, ambiente, garantias fitossanitárias,ou qualquer outro.

Do ponto de vista agrícola, importa destacar que o acordo é prejudicial para os produtoresda União Europeia. Estamos perante uma redução drástica dos direitos aduaneiros de 176

117Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

euros/tonelada para 114 euros ou, no caso dos acordos com a Colômbia e o Peru, para75 euros.

Por isso, Senhor Comissário, com todo o respeito, posso dizer-lhe que não é credível,porque não é verdade, que esta redução dos direitos aduaneiros estivesse já prevista noorçamento do Programa de Opções Específicas para o Afastamento e Insularidade (POSEI)de 2006. O Senhor Comissário referiu que estava prevista no âmbito do Acordo de Genebra,mas tenhamos em conta que esta tarifa é de 114 euros. Nunca se poderia prever em 2006que a redução da tarifa chegasse aos 75 euros, conforme consta agora na sequência dessesacordos.

Por conseguinte, creio que devem realizar-se as avaliações necessárias e que se confirmaráque é absolutamente necessária uma actualização do orçamento do Acordo porque, entreoutras coisas, a Comissão já considerava a tarifa aduaneira de 176 euros por tonelada umvalor baixo quando foi aplicada. Assim, os produtores da UE não estão a pedir nada que,aliás, não seja plenamente justificado, e este Parlamento, tal como a Comissão, tem aobrigação de os proteger.

Catherine Stihler (S&D) . – (EN) Senhora Presidente, gostaria de focar aqui o comérciojusto de banana. A importância do apoio aos produtores de banana das nações mais pobresdas Caraíbas é absolutamente crucial. Embora tenham sido já afectados 200 milhões deeuros aos países exportadores de banana de África e das Caraíbas, importa reflectir sobreesta questão.

Não há quem testemunhe a forma como os trabalhadores deste sector são tratados, emparticular pelas grandes organizações multinacionais, sem ficar profundamente indignado.É por essa razão que o comércio justo de banana é tão importante, seguramente para osprodutores mais pequenos, mas também para assegurar um melhor tratamento dostrabalhadores.

A banana é o fruto preferido na Escócia e, como tal, os meus eleitores querem ter a certezade que o que comem foi produzido segundo os padrões mais elevados e com o máximocuidado. Gostaria de incentivar os meus colegas deputados a fazerem um esforço porcomprar apenas bananas de comércio justo e apresentarem uma reclamação quandoperceberem que não estão à venda num determinado supermercado.

Como tivemos a oportunidade de ver esta noite, a política subjacente ao comércio debanana é controversa. É imperativo que a nossa acção ajude os trabalhadores maisvulneráveis e as nações mais vulneráveis do mundo.

Giovanni La Via (PPE). - (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, osacordos comerciais bilaterais são geralmente lesivos para os produtores europeus, que têmsido penalizados com a liberalização das regras de importação.

Os acordos que votaremos amanhã prevêem uma redução dos direitos de importaçãoaplicados às bananas provenientes da América Latina. Esses acordos, embora por um ladotenham ajudado a resolver um conflito que perdurava há uma década, por outro, ameaçamdeixar os produtores de bananas europeus em sérias dificuldades. É evidente que as reduçõesdas tarifas aduaneiras negociadas com os países da América Latina, aliadas ao programade apoio aos países de África, Caraíbas e Pacífico (ACP) e ao programa de medidas deacompanhamento para o sector da banana, ameaçam comprometer seriamente acompetitividade dos produtores europeus.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT118

Até agora, o apoio financeiro aos nossos produtores de bananas tem sido asseguradoatravés das subvenções do programa POSEI (Programa de Opções Específicas para oAfastamento e Insularidade), mas a última reforma do POSEI, em 2006, não teve em devidaconta a celebração dos mais recentes acordos. Considero, por isso, que é importanteconvidar o Conselho a ponderar a necessidade de identificar instrumentos e recursosadequados para suprir as carências financeiras dos produtores europeus, melhorando assima sua situação e procurando, ao mesmo tempo, compensar eventuais penalizações quepossam sofrer em resultado dos acordos e da redução dos direitos sobre importações.

Não considero que seja possível proceder, todos os anos, a uma procura de recursos parasuprir as necessidades dos produtores de bananas europeus, mas creio que importaencontrar uma solução estável e duradoura para compensar as penalizações que sofreramcom a expansão e a abertura dos mercados.

Elisabeth Köstinger (PPE) . – (DE) Senhora Presidente, ao fim de muitos anos de litígioentre a União Europeia, de um lado, e os produtores de bananas da América Latina, dooutro, foi dado um passo importante com o Acordo sobre o Comércio de Bananas. Apoioeste Acordo porque também põe fim ao diferendo existente no seio da Organização Mundialdo Comércio.

No entanto, as concessões feitas pela UE e os produtores de bananas da América Latinanão devem votar ao esquecimento a situação global dos países ACP. Importa acompanharatentamente o apoio que a UE presta aos países ACP e, se necessário, aumentá-lo. Para esseefeito, e isto tem de ficar bem claro, é importante realizar a avaliação de impacto solicitadapelo Parlamento Europeu. Não obstante toda a assistência prestada, que é sem dúvidafundamental e importante, não se deve proceder a reafectações no âmbito do orçamentoda União Europeia. É com demasiada frequência que os fundos disponibilizados paradomínios específicos são reafectados e utilizados para outros fins. Esta prática tem deacabar, seja, como no caso actual, em relação ao Fundo Europeu de Desenvolvimento sejaem relação a outros fundos, designadamente o fundo agrícola, que tem sido objecto dediscussão frequente. A União Europeia tem o dever de recordar as suas responsabilidadespara com os países ACP e as regiões ultraperiféricas e agir em coerência.

Se analisarmos agora este acordo encorajador de uma perspectiva global, tenho de referiras negociações de Doha. O Fórum Económico Mundial em Davos parece ter dado algumímpeto. O G20 exprimiu o desejo de concluir as negociações na Organização Mundial doComércio antes de 2012. Resta saber se vão realmente passar das palavras aos actos. Noentanto, parece que o Acordo sobre o Comércio de Bananas contribuiu com mais umapeça para o grande puzzle de Doha.

Seán Kelly (PPE). – (EN) Senhora Presidente, há algumas semanas, sentíamo-nos"abananados" num debate sobre as abelhas. Hoje estamos a zumbir como abelhas em tornodas bananas e, em particular, deste acordo proposto.

Como se pode observar, as reacções foram contraditórias – o que não é surpreendente. Hávantagens, especialmente para os produtores que vão ser beneficiados com o acordo, mastambém há preocupações – preocupações com o impacto no ambiente e, em especial,preocupações com o impacto nos produtores da União Europeia.

Considero de extrema importância tomar isso em consideração, porque a principalresponsabilidade de qualquer organismo, país ou união é cuidar primeiro do seu sector deprodução. Apenas dessa forma é que se pode realmente estender a mão da amizade a

119Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

terceiros. O mesmo se aplica ao acordo proposto com o Mercosul. São muitos os que naUnião Europeia sentem que irá discriminar e dizimar a indústria da carne bovina na UniãoEuropeia e, em particular, no meu país. Por isso temos de ser muito cuidadosos. Sim aestender a mão da amizade, mas não à custa dos nossos próprios produtores.

Nuno Teixeira (PPE). - Senhor Presidente, Senhores Deputados, já o disse aquianteriormente nesta câmara e volto hoje a repeti-lo. As regiões ultraperiféricas, e a Madeiraem particular, a região de onde provenho, não têm qualquer tipo de objecção, nem àcelebração do Acordo de Genebra, nem à celebração dos acordos bilaterais que foramfeitos posteriormente. Todos reconhecemos não só a sua importância, como também asua inevitabilidade. Mas todos sabemos também que nestes acordos há vencedores e hávencidos. E nestes acordos, em particular, as regiões ultraperiféricas são claramente vencidase prejudicadas.

O que não posso aceitar é que, tal como voltou hoje a Comissão a fazer, se insista noargumento de que a revisão do POSEI de 2006 já previa esta situação e que, portanto, nessamedida, já compensou os produtores no que aqui estava em causa, quando sabemos queo que foi tido em consideração em 2006 foi uma tarifa de 176 euros por tonelada e agoraestamos a tratar de uma tarifa de 148, 114 ou mesmo 75 euros por tonelada. O que pedimossão medidas de compensação.

João Ferreira (GUE/NGL). - Ao abrir, melhor dizendo, ao escancarar as portas do mercadoeuropeu às multinacionais americanas, que já hoje controlam mais de 80% do comérciomundial de bananas, este Acordo terá consequências graves que mesmo aqueles que o vãoaqui aprovar não escondem.

Os produtores europeus de Portugal, de Espanha, da Grécia, do Chipre e de França, queem 2008 foram responsáveis pelo abastecimento de quase 600 000 toneladas ao mercadoeuropeu, serão duramente atingidos. A própria relatora admite que o Acordo ameaça asua existência futura. Neste contexto, para lá da substância do Acordo, é muito grave quea Comissão, reconhecendo os impactos, não preveja nenhuma medida específica de apoioaos produtores europeus, designadamente através de alterações ao Regulamento e aoorçamento POSEI aprovado em 2006.

Também os produtores dos países ACP, que não foram tidos nem achados na discussãodeste acordo, serão duramente afectados pelas suas consequências e os paliativos anunciadosnão vão evitar estas consequências. Quem aprovar este Acordo tem de assumir asresponsabilidades pelas suas consequências e de nada vale virem aqui exprimir preocupaçõespias e inconsequentes sob a forma de pergunta ou pedidos à Comissão e ao Conselho.

Dacian Cioloş, Membro da Comissão. − (FR) Senhora Presidente, vou tentar responderdirectamente a algumas das perguntas e questões levantadas.

Em primeiro lugar, falámos aqui da resolução de um conflito, o que pode ajudar-nos numacordo multilateral. No caso dos acordos bilaterais negociados com os países da AméricaCentral e alguns países da América Latina, trata-se de um contexto diferente uma vez que,também nessa matéria, a União Europeia teve interesses ofensivos e obteve igualmentecoisas em troca daquilo que ofereceu.

Em seguida, foi feito um comentário acerca das multinacionais e do facto de serem asúnicas beneficiadas nos países ACP, e de que as medidas financeiras não são suficientespara os países ACP. É evidente que a União Europeia não pode tomar as decisões quecompetem aos governos dos países ACP, mas entende que muito pode ser feito com o

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT120

orçamento que foi disponibilizado se o dinheiro for bem utilizado. Além disso, consideroque o mesmo se aplica às regiões ultraperiféricas ou, pelo menos, às regiões da UniãoEuropeia que são produtoras de bananas.

Senhores Deputados Mato Adrover e Teixeira, posso mostrar-vos os números. Quandoeu digo que, em 2006, para além do orçamento que estava previsto para o programa POSEI,fizemos cálculos – e tenho esses números aqui – quero dizer que previmos uma reduçãoda tarifa dos 176 euros para os 137 euros em 2009. Também alertámos para a possibilidadede, nas negociações de Doha, cujos resultados ainda desconhecíamos, aquelas tarifaspoderem baixar para os 79 euros por tonelada. E foi por isso que aos 245 milhões de eurosprevistos para o orçamento do programa POSEI acrescentámos 8,4%, ou seja, mais 22milhões de euros por ano destinados especificamente à antecipação de um eventual impactodesta natureza. É por esta razão que, segundo a avaliação de impacto, o orçamento calculadopara o POSEI em 2006 era muito superior à situação real de 2006. Não disse que iremosparar por aqui ou que não teremos em conta uma eventual necessidade adicional decompensação. E deixem-me dizer com toda a clareza: estou preparado para fazer estaanálise. Além disso, se for necessário, no quadro do regulamento do POSEI que estamosagora também a discutir com o Conselho e com este Parlamento, podemos contemplarainda uma outra compensação. Uma boa parte da compensação necessária já foi, todavia,coberta. E posso prová-lo aqui com números e com cálculos dos estudos de impactorealizados. Mantivemos muitas discussões com os Estados-Membros envolvidos, e possodizer que, quando faço uma afirmação, baseio-me em números.

E o que dizer em relação a este dinheiro? Referiram muitas vezes os pequenos produtores.De facto, penso que, nestas regiões, incluindo as ultraperiféricas, talvez devêssemos protegermais os pequenos produtores. Para começar, o dinheiro do POSEI deve ser utilizado, emprimeiro lugar, nos pequenos produtores. Nem sempre é o caso, e talvez no futuro, quandodiscutirmos o POSEI, tenhamos de ponderar em proceder a uma reforma, uma adaptação,para que este dinheiro seja efectivamente utilizado na reestruturação do sector. No entanto,se o dinheiro que já foi afectado ao POSEI, juntamente com qualquer compensação, fosserealmente utilizado na ajuda à reestruturação, a par dessa compensação, talvez pudéssemosigualmente encontrar outras soluções para os pequenos produtores dentro de alguns anos.Estejam certos de que estou muito receptivo à procura de novas soluções, eventualmentetambém no âmbito do POSEI, para que este dinheiro seja ainda melhor utilizado.

Gostaria apenas de responder ao senhor deputado Campbell Bannerman que manifestouuma opinião diferente quanto à utilidade de uma compensação desta natureza. Creio queos produtores das regiões ultraperiféricas também são cidadãos e contribuintes europeus.Parece-me, pois, correcto que os apoiemos na medida em que tal se justifique. No que dizrespeito à banana que nos mostrou, creio que se não estivesse conforme com as regras quemencionou, não a teria podido comprar. O facto de ter conseguido comprá-la significaque o seu tamanho e curvatura estão conformes com as normas europeias.

Bom, creio ter respondido às principais questões. Concluindo, fiquem certos de que, nasdiscussões sobre o POSEI, estou sempre disposto, com base nos números que estão namesa, a ver como as compensações existentes ou eventualmente outros tipos decompensação podem responder a estes desafios. No entanto, contas feitas, considero queeste acordo, como a relatora também aqui referiu, ajuda-nos de muitas formas e põe termoa um conflito histórico.

121Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Enikő Győri, Presidente em exercício do Conselho. − (HU) Senhora Presidente, SenhoraRelatora, Senhoras e Senhores Deputados, Senhor Comissário, gostaria de agradecer aoSenhor Comissário por já ter respondido a algumas das perguntas e preocupaçõesmanifestadas. Ainda assim, permita-me mencionar também algumas. Muitos expressarama sua preocupação com o que irá acontecer aos países ACP. A proposta de medidas deacompanhamento para o sector da banana foi criada pela simples razão de os apoiar ecompensar e compensará esses países, como bem sabemos, com um montante anual deaproximadamente 190 milhões de euros pelo fardo pesado que lhes é imposto com acessação do regime de isenção de direitos sobre a importação de bananas. A outrapreocupação manifestada dizia respeito ao que acontecerá se baixarmos ainda mais osdireitos aduaneiros e prosseguirmos com a liberalização. Ora, convém não esquecer queo assunto em discussão é a celebração e reforço do Acordo de Genebra sobre o Comérciode Bananas e o Parlamento Europeu e o Conselho terão ainda a oportunidade de discutirse pretendem apoiar convenções adicionais de comércio livre com os países andinos e daAmérica Central mais tarde, quando, evidentemente, a Comissão apresentar uma propostapertinente.

Senhoras e Senhores Deputados, acredito que a celebração do acordo sobre o comérciode bananas irá pôr fim a um diferendo comercial que se prolonga há quinze anos, um factoque é seguramente de saudar. Este desfecho reforçará a posição negocial da União Europeianas conversações internacionais sobre trocas comerciais, em particular nas negociaçõesde Doha em curso no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Creio que é necessáriomanter sempre na agenda todas essas preocupações e questões que aqui expressaram emmatéria de solidariedade – preocupações respeitantes exactamente aos países mais pobres– e procurar soluções conjuntas, mas também dar luz verde a este acordo sobre o comérciode bananas e ao acto legislativo que revoga o acordo anterior. Por conseguinte, solicito aoParlamento Europeu que, amanhã, decida dar o seu consentimento ao acordo sobre ocomércio de bananas.

Francesca Balzani, autora . – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,creio que este debate tem sido muito interessante e tem recuperado, em certa medida,receios e questões que havíamos já ponderado na Comissão do Comércio Internacional.

Gostaria de voltar a salientar um facto importante que, de quando em quando, creio,perdemos de vista. Estes acordos representam a materialização de um compromissoespecífico assumido pela União Europeia, na sua qualidade de membro da OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC). Algo que não devemos esquecer. São estes acordos quepermitem que a União Europeia resolva um problema sério com países importantes, oqual se viu obrigada a solucionar por ter violado o princípio da não discriminação. São,por conseguinte, acordos que restabelecem a nossa credibilidade e propriedade comomembros da OMC.

Este acordo decorre, assim, de litígios e tensões existentes e insere-se num clima que terásido seguramente prejudicial a outras vertentes das nossas relações. Enquanto acordo deresolução definitiva, procura e consegue criar um novo equilíbrio, como havíamos dito etambém declarado na resolução, com especial atenção aos países com condições frágeisde desenvolvimento.

As medidas de acompanhamento passarão seguramente a ser fiscalizadas, e diria que esteé o ponto mais importante. É importante que tenham sido previstas medidas deacompanhamento, mas será ainda mais importante ter as avaliações do seu impacto e ter

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT122

o compromisso, que – para minha satisfação – recebemos hoje da parte do Conselho e daComissão, de manter o controlo constante da situação e da sua evolução e, acima de tudo,a disponibilidade de intervir com outras medidas de apoio, quando necessário.

O próprio POSEI (Programa de Opções Específicas para o Afastamento e Insularidade) foiinscrito na resolução como ponto sensível a manter sob controlo devido ao equilíbriodelicado entre as contribuições financeiras feitas ao abrigo desse programa e a nova situaçãodas regiões ultraperiféricas. Assim, o impacto dos acordos nas regiões ultraperiféricas daUE produtoras de bananas será igualmente objecto de monitorização e de observaçãoatenta.

O Conselho referiu também a necessidade de trabalhar em prol da transparência na cadeiaagro-alimentar, com o que me congratulo, visto ser um ponto importante. Temos faladomuito dos produtores, mas há que considerar também a grande questão da distribuiçãoda banana no espaço da União Europeia.

São, portanto, muitas coisas que ainda têm de ser feitas no futuro. É necessário vigiar osefeitos dos acordos, a execução das medidas de acompanhamento e a capacidade doprograma POSEI de proteger os produtores europeus. Também temos de utilizar outrosinstrumentos como a transparência da cadeia agro-alimentar, alargando assim o âmbitode fiscalização de modo a integrar igualmente a cadeia de distribuição que exerce um forteimpacto no custo final da fruta. Temos de reflectir na protecção dos consumidores, umamatéria que merece tanto a nossa atenção quanto os outros interesses envolvidos nestaquestão. No entanto, todas estas iniciativas, incluindo a protecção dos consumidores,devem partir da situação actual e da resolução destes litígios em que a UE se viu obrigadaa fazer concessões aos Estados Unidos e aos países da América Latina.

Por conseguinte, espero que estes acordos sejam aprovados, porque creio que constituemum ponto de partida indispensável para fazer funcionar os instrumentos relacionados como equilíbrio delicado do mercado da banana. Além disso, podem garantir práticas claras ebenéficas também para outros interesses, como a protecção dos consumidores, ligados àtransparência da cadeia agro-alimentar que, por sua vez, contribuirão com melhorias parao mercado da banana e para os produtores europeus, impossíveis de se alcançar sem umabase sólida como a que é proporcionada com a resolução destes litígios no seio da OMC,da qual a União Europeia faz parte.

Presidente. − Recebi uma proposta de resolução, apresentada nos termos do n.º 5 doartigo 115.º do Regimento (3) , para encerramento do debate.

Está encerrado o debate. A votação terá lugar amanhã às 11H30.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. – A conclusão destes acordos, vem permitir pôrfim a um dos litígios mais complexos e prolongados contra a UE na OMC. De referir que,durante todo o processo negocial, alertámos a Comissão para a necessidade de seacautelarem: - os interesses e especificidades dos produtores de banana das RUP,designadamente através do reforço das verbas do POSEI, já que os rendimentos dosprodutores e o escoamento das produções poderão ficar comprometidos pelas pressõescriadas por um reforço da liberalização crescente do comércio global de bananas. - os

(3) Ver Acta.

123Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

interesses e especificidades dos produtores de banana dos países ACP. Pelo que consideroum contributo de grande pertinência as conclusões da recomendação da relatora - na linhado qual as RUP também deveriam ser atendidas - em que o PE deve aprovar os Acordos sea Comissão e o Conselho assumirem: - apresentação ao PE, o mais rápido possível, de umaavaliação de impacto sobre as consequências dos acordos para os países emdesenvolvimento produtores de bananas e para as RUP - Concretização de iniciativasespecíficas destinadas a reforçar a posição comercial dos produtores de bananas - Adopçãode medidas de financiamento do programa em favor dos países ACP produtores de banana

George Sabin Cutaş (S&D), por escrito . – (RO) Em 15 de Dezembro de 2009, a UniãoEuropeia, os Estados Unidos e um grupo de países da América Latina assinaram o acordosobre os direitos aduaneiros aplicados pela UE ao comércio de bananas. Este acordo pôsfim a um litígio complicado que se prolongou quase por duas décadas. É demonstrativodo compromisso da UE nesta matéria e será incluído nos resultados finais da ronda denegociações de Doha. Infelizmente, não podemos apreciar plenamente o sucesso alcançado.A redução aprovada dos direitos aduaneiros aplicáveis às bananas exportadas pela AméricaLatina deverá ter consequências económicas e sociais adversas no grupo de países de África,Caraíbas e Pacífico, cujos produtores não têm acesso aos mesmos recursos técnicos dosseus concorrentes. É por esta razão que me congratulo com o programa de ajuda financeiraprevisto no acordo, segundo o qual os países ACP irão receber 190 milhões de euros até2013 em fundos de apoio destinados a estimular a competitividade e a diversificação daprodução. No entanto, é imperativo que a Comissão Europeia apresente uma avaliação deimpacto do acordo até 2020, bem como do programa de ajuda, a par com eventuaisrecomendações para o seu alargamento e fornecimento de ajuda financeira suplementar.

Anneli Jäätteenmäki (ALDE), por escrito. – (FI) É excelente que a União Europeia tenhachegado a acordo com os países da América Latina e com os Estados Unidos sobre o litígiorelativo ao comércio de bananas, que foi uma questão sensível durante muito tempo. Émelhor chegar a um acordo do que continuar a alimentar uma disputa no seio daOrganização Mundial do Comércio. Tem sido dito que o acordo e as reduções de direitosaduaneiros favorecem grandes empresas multinacionais e grandes países produtores debanana. Importa, contudo, perceber que, no futuro, os interesses dos países pobres ACPcontinuarão a ser beneficiados em comparação com os países da América Latina. Alémdisso, a União Europeia também está a utilizar um enorme pacote de ajuda destinado aospaíses ACP que visa apoiar a diversificação das suas economias de modo a diminuir a suadependência da exportação de bananas. Resta ver se o acordo agora alcançado terárepercussões nos preços para os consumidores europeus. Independentemente disso, é umacordo histórico, porque mostra que a União Europeia é capaz de dar provas de coerênciainterna e de tomar decisões mesmo em situações complicadas e no âmbito de negociaçõesduras. Assim, votarei a favor do acordo.

Dominique Vlasto (PPE), por escrito. – (FR) O Acordo de Genebra sobre o comércio debananas representa uma oportunidade para as economias emergentes da América Latina,mas também cria uma nova concorrência para os produtores de banana dos países deÁfrica, Caraíbas e Pacífico (ACP), cujo desenvolvimento económico assenta essencialmentena exploração dos seus recursos naturais. Devemos, por conseguinte, velar para que estanova concorrência seja justa. Preocupam-me também os acordos bilaterais negociadoscom a União Europeia pelo Peru e a Colômbia no sentido de beneficiarem de uma taxapreferencial de direitos aduaneiros, inferior à prevista no Acordo de Genebra. Nestascircunstâncias, considero que é urgente passar à execução das medidas de acompanhamento

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT124

para o sector da banana previstas naquele acordo, que permitirão aos países ACP modernizareste sector de actividade e fazer face à concorrência global. Por conseguinte, convido oConselho a pronunciar-se sem demora sobre a nova proposta do Parlamento para que ospaíses ACP possam beneficiar das medidas anunciadas para 2010 e solicito à Comissãoque garanta o respeito recíproco das exigências sociais e ambientais pelos países produtorese exportadores fora da região ACP. Isto é, em minha opinião, indispensável para que todosos produtores fiquem em pé de igualdade, o que está longe de ser o caso neste momento.

Véronique Mathieu (PPE), por escrito. – (FR) O acordo sobre o comércio de bananascelebrado pela UE na OMC em Dezembro de 2009, que hoje ratificamos, deve seracompanhado de mecanismos de apoio aos nossos produtores. A redução pela UE dastarifas aduaneiras sobre as bananas importadas da América Latina colocará várias regiõeseuropeias, designadamente os departamentos franceses de Guadalupe e Martinica, a Grécia,Portugal e as Ilhas Canárias espanholas, numa situação difícil, ao terem de fazer face àliberalização do mercado. É por esse motivo que teremos de acompanhar o impacto realda ajuda financeira, que tem por objectivo apoiar o investimento e as políticas dediversificação económica, bem como reforçar o impacto social e ambiental. Esta avaliaçãode impacto deverá dizer-nos se as ajudas são suficientes para contrabalançar a nova situaçãointernacional do mercado da banana.

19. Iniciativa para a vacinação contra a tuberculose (debate)

Presidente. − Segue-se na ordem do dia o debate sobre a pergunta oral apresentada àComissão pelos deputados Louis Michel, Charles Goerens, Antonyia Parvanova, FrédériqueRies, Olle Schmidt, Maria Da Graça Carvalho, Nessa Childers, Marc Tarabella, Bart Staes eMarina Yannakoudakis, em nome do Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pelaEuropa, sobre a Iniciativa para a vacinação contra a tuberculose (O-0203/2010 -B7-0006/2011).

Charles Goerens, autor. – (FR) Senhora Presidente, congratulo-me com o facto de poderprestar o meu apoio a um projecto pan-europeu muito ambicioso, tanto para a UniãoEuropeia como para os países em desenvolvimento, que visa eliminar a tuberculose atravésde um programa de vacinação.

Convém lembrar que mais de 1,7 milhões de pessoas morreram de tuberculose em 2009.O custo em termos de vidas humanas é de 4 700 pessoas por dia, a que acresce ainda asperdas económicas anuais estimadas em mais de 50 mil milhões de dólares por ano só emÁfrica. Daí que reduzir a tuberculose a um problema típico dos países em desenvolvimentoseria estarmos a enganar-nos.

Com efeito, os casos comunicados no Reino Unido e na Irlanda durante o Verão de 2010lembram-nos que a doença está bem perto, já para não falar da devastação causada poressa mesma doença a leste do nosso continente, em particular na Rússia e na Moldávia. Ainiciativa para a vacinação contra a tuberculose (TBVI) é uma iniciativa que visa criar vacinaseficazes com vista a proteger os países em desenvolvimento a um preço acessível. À luzdestes factos, se me permitem, gostaria de fazer os seguintes comentários.

Em primeiro lugar, a saúde não tem preço, mas tem um custo. Muito embora o acesso aoscuidados de saúde deva ser universal, a capacidade de pagamento mantém-se ela próprialimitada aos países industrializados. Assim sendo, importa repartir bem os encargos. Ospacientes do Norte, ou seja, dos países industrializados, têm evidentemente de pagar o

125Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

preço mais alto, senão as fontes de financiamento da investigação esgotar-se-iam assazrapidamente. Entretanto, dado que a contribuição financeira dos países do Sul é, senãoinexistente, pelo menos puramente simbólica, a nossa solidariedade torna-se indispensávelpara colmatar essa insuficiência.

Em segundo lugar, a iniciativa TBVI também ocupa um lugar na Estratégia UE 2020. Ilustrana perfeição o que podemos alcançar se soubermos definir, em tempo oportuno, as nossasprioridades em matéria de saúde.

O meu terceiro – e derradeiro – comentário é: que isto não exclui, de forma alguma, umfinanciamento adicional ou complementar por parte dos grandes financiadoresinstitucionais tais como, nomeadamente, o Banco Mundial. Outros países como, porexemplo, os Estados Unidos, o Canadá ou uma série de países emergentes afectados peloproblema da tuberculose, seja directamente ao nível das suas populações, ou indirectamenteno âmbito da solidariedade internacional, deveriam logicamente dar também o seucontributo para esta iniciativa. Refiro-me, para ser preciso, ao modelo de parceriapúblico-privada.

Esta nova abordagem pode ser benéfica desde que se limite a solidariedade aos que têmnecessidades simultaneamente de natureza médica e financeira. A alternativa consistiriana protecção exclusiva das populações em boa situação financeira.

Dacian Cioloş, Membro da Comissão. – (FR) Em 2008, a Iniciativa para a vacinação contraa tuberculose (TBVI) foi instituída sob a forma de parceria público-privada com o apoiodo Programa de Cooperação em Saúde no âmbito do Sétimo Programa-Quadro para ainvestigação, com vista a mobilizar recursos suplementares para um domínio tãoimportante.

Neste momento, a maior parte das vacinas candidatas recentemente desenvolvidas aindase encontra na fase de desenvolvimento pré-clínico ou de desenvolvimento clínico inicial.Um ponto crucial a destacar é o facto de não dispormos de dados clínicos que sustentema ideia de que uma das vacinas candidatas em desenvolvimento possa demonstrar umamaior eficácia do que a vacina actualmente utilizada – a vacina Bacillus Calmette-Guérin(BCG).

Para chegarem ao mercado, as novas vacinas candidatas devem provar ser mais eficazesdo que a vacina BCG ou poder substituí-la como melhor vacina. O facto é que continuamosa não dispor destes dados importantes. A iniciativa TBVI não deverá ser consideradaisoladamente de outras iniciativas de apoio aos ensaios clínicos.

Para fazer face a estrangulamentos em matéria de desenvolvimento clínico, foi criado oprograma Parceria Europa-Países em Desenvolvimento para a Realização de Ensaios Clínicos(EDCTP - European and Developing Countries Clinical Trials Partnership), enquantoprimeira iniciativa ao abrigo do artigo 185.º, na qual 14 Estados-Membros, 2 EstadosAssociados e a Comissão assumiram um compromisso colectivo no valor de 400 milhõesde euros – dos quais 200 milhões de euros provêm da União Europeia – com o objectivode promover a investigação nas fases 2 e 3 dos ensaios clínicos para a SIDA, por exemplo,malária e tuberculose na África subsaariana. O programa prevê completar até 2015 todosos ensaios actualmente em curso, incluindo oito ensaios sobre a vacina contra a tuberculose.Por conseguinte, esta alternativa já existe, e funciona. A Comissão acompanha tambémcom muito interesse o chamado "modelo de negócio", que foi desenvolvido por parceriaspúblico-privadas, designadamente a apresentada pela iniciativa TBVI.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT126

A iniciativa TBVI propôs, aliás, um modelo que tem potencial para se tornar um instrumentoútil no futuro. No entanto, isso exige uma análise exaustiva do projecto comercial, assimcomo uma avaliação de risco. Consequentemente, mesmo que a iniciativa TBVI beneficiede um apoio financeiro significativo, o seu sucesso não está garantido, precisamente pornão existir informação suficiente que permita aferir se o que está actualmente em ensaiopode vir a produzir resultados.

No entanto, a Comissão prosseguirá estas discussões internas e irá igualmente analisar omodelo com as instituições financeiras, contribuindo assim para o desenvolvimento deum conceito que possa fazer parte da aplicação prática da Estratégia UE 2020. Nestaperspectiva, esta possibilidade poderia, então, ser examinada.

Maria Da Graça Carvalho, em nome do Grupo PPE . – Senhora Presidente, SenhorComissário, a incidência da tuberculose a nível mundial continua a suscitar grandepreocupação, apesar dos progressos realizados. Devido ao aumento das resistências a estapatologia e à insuficiente investigação científica morrem, hoje em dia, cerca de dois milhõesde pessoas por ano.

Através da presente resolução saudamos as iniciativas da UE para combater a tuberculose,mas apelamos ao desenvolvimento de mais investigação científica para desenvolver novasformas de vacina contra esta doença. As vacinas são a medida de saúde pública mais eficientepara proteger os cidadãos das doenças infecciosas, mas é importante que os cuidados desaúde cheguem também aos países em desenvolvimento, de forma a contribuir para oaumento da esperança de vida e para o combate à pobreza.

Como referi, tem havido alguns progressos e estamos no bom caminho, mas há que renovaro empenho da UE e apelar a uma maior acção concertada e de integração da investigaçãoeuropeia em prol do combate às doenças relacionadas com a pobreza. Só desta formaconseguiremos reduzir a dramática situação que se vive em vários países emdesenvolvimento.

Gostaria de perguntar à Comissão como tenciona dar seguimento aos esforços deinvestigação científica nesta área, intensificar estes esforços e traduzir os resultados destainvestigação em benefício das populações à luz da Estratégia Europa 2020?

Michael Cashman, em nome do grupo S&D – (EN) Senhora Presidente, é sempre bomvê-la na presidência quando examinamos assuntos relativos às difíceis circunstâncias deterceiros. Aliás, sei que partilha das nossas preocupações.

Queria juntar a minha voz às palavras do senhor deputado Goerens e, na verdade, pedir àComissão que vá um pouco mais longe. A tuberculose constitui, sem dúvida alguma, umaimportante preocupação sanitária à escala global e, como todos nós sabemos, de entre asdoenças infecciosas é a segunda maior causa de óbitos no mundo. Tal como ouvimos, essadoença ceifa anualmente a vida de 1,6 a 2 milhões de pessoas. O financiamento da UE temdesempenhado um papel catalisador a favor de potenciais vacinas inovadoras contra atuberculose, conforme referiu a Comissão permitindo o seu desenvolvimento precoce logona fase I e IIA dos ensaios clínicos.

Infelizmente – aqui reside o problema – de momento os mecanismos de financiamento,incluindo a Parceria entre a Europa e os Países em Desenvolvimento para a Realização deEnsaios Clínicos (EDCTP), só outorgam um financiamento muito limitado à última fasedos ensaios clínicos – as fases IIB e fase III – extremamente onerosa, sendo estes vitais para

127Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

comprovar a segurança da vacina. Temos vacinas, porém para fins de licenciamento é vitaldemonstrar a sua eficácia e segurança.

Saúdo a Comissão por ter referido a concessão de um financiamento adicional, agora restasaber se as regras relativas a qualquer nova dotação orçamental da EDCTP permitem queo financiamento seja canalizado para a construção e o desenvolvimento de unidades paraensaios clínicos, incluindo estudos epidemiológicos? Estará a Comissão a encarar aintrodução de mecanismos de financiamento competitivos para a última fase dodesenvolvimento clínico de vacinas inovadoras dirigidas a doenças negligenciadas, taiscomo a tuberculose?

Angelika Werthmann (NI). – (DE) Senhora Presidente, na actualidade a tuberculosecontinua muito disseminada, em particular nos países mais pobres. Um terço da populaçãomundial está infectada e, anualmente, 2,5 milhões de pessoas morrem devido à tuberculose.Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde a cada hora que passa surgem 49novos casos e ocorrem sete mortes, na Europa por si só. Nos países industrializados,regista-se um ressurgimento da tuberculose, em particular como doença secundária nospacientes com VIH e SIDA, mas também em virtude do turismo e das migrações.

A prevenção, o diagnóstico e o tratamento podem, de facto, levar ao controlo doalastramento desta doença. Os seres humanos são os únicos hospedeiros da microbactériainerente à tuberculose e a sua erradicação seria perfeitamente possível. Todavia, o númerocrescente de bactérias resistentes suscita preocupações. Existem vacinações novas e, deacordo com um estudo, tomar vitamina D reduz a duração do tratamento contra atuberculose. Em que medida a Comissão terá já intensificado a sua actividade neste campo?

Filip Kaczmarek (PPE). – (PL) Senhora Presidente, a quatro anos da meta para sealcançarem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio o número de novos casos detuberculose diagnosticados pelo mundo mantém-se alarmante. A tuberculose é uma doençacurável. Nos países em desenvolvimento, infelizmente, e nomeadamente na Ásia e Áfricasubsariana, continua a ser um grave problema. Estimativas recentes apontam queaproximadamente 2 mil milhões de pessoas estão infectadas com o bacilo, quer isso dizerum terço da população mundial. Em termos estatísticos, desses um em cada dez indivíduosirá desenvolver tuberculose. As regiões mais pobres do mundo encontram-separticularmente expostas ao aumento do número de novos casos de tuberculose, pois asmás condições de vida e nutricionais e o stress criam um quadro favorável ao aparecimentoda doença. O acesso a um tratamento eficaz desta doença é restrito em muitos países, nemhá coordenação entre o tratamento contra a SIDA e a tuberculose. Isso deve-se ao factodos governos dos países em desenvolvimento não despenderem o suficiente em saúde.Para além de que os sistemas de saúde nas zonas rurais se confrontam com escassez depessoal e a falta de meios para tratar doenças como estas. Em países com possibilidadesde financiamento limitadas, os efeitos sentem-se por conseguinte com mais acuidade naszonas rurais. Os países desenvolvidos gastam cerca de 5% do PIB em cuidados de saúdepúblicos, ao passo que os países em desenvolvimento apenas gastam metade. Assim sendo,torna-se inviável para os países pobres aumentarem a despesa em saúde sem ajuda externa,como também o indicou o senhor deputado Goerens. Para mais a tuberculose não é apenasum problema médico, trata-se igualmente de um problema social e económico pois fazbaixar a produtividade e tem ramificações económicas. Tudo isto significa que deveríamosencontrar uma resposta decisiva, e envidar todos os esforços para garantir que as vacinasestejam mais amplamente disponíveis.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT128

Ricardo Cortés Lastra (S&D). – (ES) Senhora Presidente, Comissária, Senhoras e SenhoresDeputados, a saúde é uma das questões que ainda temos de solucionar na luta contra apobreza. Na Declaração do Milénio comprometemo-nos antes de mais a reduzir amortalidade infantil, em segundo lugar a melhorar a saúde materna e em terceiro a combatera SIDA, o paludismo e muitas outras doenças, inclusive a tuberculose.

Todos nós aqui presentes, no entanto, sabemos serem esses os objectivos que maior atrasotêm em relação às metas. Temos de tomar medidas: aumentar o financiamento dosprogramas de saúde nos países em desenvolvimento. O acesso a sistemas de saúde gratuitosdeveria ser em última análise o grande objectivo da União Europeia nesta área.

Creio que haveríamos de conceder apoio a iniciativas globais como sejam fundos verticaispara ajudar a combater a SIDA, o paludismo e a tuberculose. Porém, Senhora Comissária,também é necessário apoiar os países a nível político e económico para que possamdesenvolver sistemas de saúde eficientes. Estou convicto que seria a melhor forma degarantir o princípio da apropriação e permitir ao segmento mais vulnerável da populaçãoo acesso à saúde.

Anna Záborská (PPE). – (SK) Senhora Presidente, a tuberculose, tal como o paludismoe a SIDA, é uma das grandes pandemias que têm dizimado as populações dos países emdesenvolvimento, em particular na Ásia e em África. Isso decorre directamente do estadode deterioração económico e social desses países.

Contudo, os países europeus também não foram capazes de lidar com a elevada incidênciade tuberculose. Essa doença não pode ser considerada apenas como um problemamédico-farmacêutico, ou apenas como um problema de comportamento humano. Tambémcomporta questões de integridade e desenvolvimento humano, assim como de justiça, queexigem uma abordagem global. Nos países em desenvolvimento as pessoas tuberculosastambém são vítimas de injustiça, visto o tratamento que recebem não ser suficiente nemda mesma qualidade que no mundo desenvolvido.

Precisamos de mais investigação e de um fluxo contínuo de novos medicamentos e vacinascapazes de dar resposta a novas complicações e estirpes resistentes a vários agentespatogénicos. Todavia, gostaria de chamar a vossa atenção para esses heróis singelos quelutam contra a tuberculose, permitindo-nos continuar a tratar os doentes, a resistir àsvicissitudes inerentes às infecções combinadas de tuberculose e SIDA, e a ajudar todos ospaíses a cumprir os desafios do milénio. Compete-nos apoiar quem trabalha no sector dasaúde dos países em desenvolvimento. Os trabalhadores do sector da saúde estão a rumarpara países mais abastados devido ao corte dos orçamentos da saúde nos seus paísesrespectivos.

Pessoalmente, apoio a Iniciativa para a vacinação contra a tuberculose (TBVI), mas temosde seguir uma abordagem global para superar essa doença. Não basta apoiar a investigaçãoe a indústria farmacêutica, porque, além de tudo o mais, demorará tempo antes que essainvestigação surta efeitos.

Miroslav Mikolášik (PPE). – (SK) Senhora Presidente, gostaria de salientar que atuberculose está longe de ser erradicada, e verificamos que sucumbem perto de 2 milhõesde pessoas por ano devido a esta doença grave.

Gostaria de dizer que é bom estarmos cientes disso, e saúdo a iniciativa da Comissão pelofacto de não estarmos apenas a falar da pandemia de SIDA, mas também de tuberculose,que ceifa a vida a milhões de pessoas.

129Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Concordo, é necessário dedicar mais recursos ao desenvolvimento de novas vacinas. Talcomo a Comissão acaba de o referir, ainda não dispomos dessas novas vacinas, é certo,pois ainda nos encontramos nos estádios pré-clínicos, estando para já apenas a ser testadaa sua eficácia quando administradas em humanos. Deixem-me lançar um apelo – estouquase a terminar, Senhora Presidente – com vista a novos recursos e financiamentos.

Claudiu Ciprian Tănăsescu (S&D). – (RO) Senhora Presidente, com uma taxa demortalidade anual de 1,6 a 2 milhões de pessoas a tuberculose é, à escala mundial, umadas duas principais causas de óbitos por doença infecciosa. Isso justifica que as organizaçõesde saúde pública a nível mundial estejam cada vez mais preocupadas.

Numa era em que a medicina regista progressos espectaculares, temos de assumir quechegou a hora de substituir a tradicional BCG por uma nova vacina, mais moderna eeficiente contra a tuberculose. Porém, nada disto pode ser conseguido sem que, por umlado, a UE conceda fundos mais generosos para se completar a investigação nesse campoe, por outro, se encontrem outras fontes de financiamento revendo o modelo proposto aoabrigo da TBVI e perspectivando métodos inovadores e alternativos de financiamento.

Fornecer garantias financeiras poderá tornar esse modelo mais atraente para a comunidadede negócios europeia, e assim garantir o seu envolvimento e o necessário apoio financeiro.

Seán Kelly (PPE). - (EN) Senhora Presidente, a tuberculose usualmente referenciada comoTB no meu país, grassava na Irlanda há pouco mais de meio século, matando muita gente,fossem jovens ou velhos.

Com o enriquecimento do país apagou-se e a vacinação foi interrompida durante 36 anos.Mas, como aqui foi apontado, a tuberculose voltou a aparecer nos últimos anos. Só no anopassado, no meu próprio círculo eleitoral, uma criança apanhou a doença na escola e umbebé na creche.

A nível mundial, o problema é bem maior tendo em conta os 2 milhões de pessoascontaminadas pela bactéria e o facto de matar uma pessoa de 20 em 20 segundos. Porconseguinte, temos uma grande tarefa pela frente se quisermos alcançar a nossa meta, istoé eliminar a doença em 2050.

A investigação é imprescindível nesta área, a União Europeia merece louvores porque,apesar de na pesquisa em geral se situar atrás dos EUA e do Japão, no caso vertente lidera;60% da investigação é realizada na UE, em particular, autoridades e cientistas dinamarquesesdesenvolveram a vacina.

João Ferreira (GUE/NGL). - A quatro anos do termo do prazo definido para aconcretização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, a tuberculose ceifa doismilhões de vidas por ano. A tuberculose constitui um exemplo flagrante das desigualdadesque grassam neste mundo. Não esqueçamos que se trata de uma doença de muito reduzidaprevalência nos países industrializados.

O problema da tuberculose, como de outras enfermidades, não se resolve sem serviçospúblicos de saúde de qualidade acessíveis a toda a população, incluindo os cuidados desaúde primários. A política de cooperação e de ajuda ao desenvolvimento tem aqui umpapel essencial que, naturalmente, deve envolver o apoio a programas de vacinação, masé necessário mais. É necessário romper de vez com mecanismos, como os da dívida e doseu serviço, que drenam os recursos do terceiro mundo e que permitem a manutenção desituações de atraso, de dependência, de subjugação e de miséria.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT130

Csanád Szegedi (NI). – (HU) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, onúmero de casos de tuberculose e de mortes por ela provocadas na Hungria disparou parauma taxa assustadora nestes últimos anos. Este é o resultado do pensamento liberaldestruidor da nação, entre outros aspectos. Refiro-me aqui à vergonhosa Lei húngara dasaúde de 2006, que assentou no encerramento de hospitais e na prestação de serviços desaúde orientados pelo lucro. A pobreza é um factor relevante na propagação da doença,inclusive o número crescente de pessoas sem-abrigo e a dificuldade crescente em acederaos centros de saúde. Julgo ser importante reforçar o papel dos cuidados de saúde, emtermos preventivos e curativos, alargar os rastreios, e não somente ampliar a abrangênciae eficácia da vacinação, mas também disponibilizá-la a qualquer um. Esses passos tornariama nação mais saudável, logo a sociedade e a Europa também elas seriam mais saudáveis alongo prazo.

Dacian Cioloş, Membro da Comissão. − (FR) Senhora Presidente, procurarei dar algumasrespostas aos pontos focados.

Antes de mais, temos de intensificar a investigação, conforme o referi na minha introdução.A Comissão está a ponderar formas de aumentar o financiamento dos seus programasdedicados à tuberculose, e uma hipótese seria reforçar o programa da EDCTP, de que faleia V. Exas. Actualmente, o programa funciona com 400 milhões de euros, dos quais aComissão fornece 200 milhões. A Comissão também tem estado a considerar a possibilidadede criar um programa EDCTP 2, por exemplo. Devo ainda sublinhar que, como tive aoportunidade de o dizer ao senhor deputado Tănăsescu, a Comissão já dedica avultadosrecursos ao programa de investigação da tuberculose. A título de informação, citaria umnúmero: 65 milhões de euros foram já atribuídos a esse programa. Mas, claramente nãochega, e a opção de parcerias público-privadas também deve ser ponderada.

Posto isto, se voltarmos à questão do financiamento de potenciais vacinas na sua faseclínica, haverá que considerar a sua eficácia. Conforme vos disse, a informação de quedispomos neste momento não nos garante que um financiamento significativo leve aresultados positivos. As vitaminas constituem ainda outra abordagem actualmente emestudo, mas sobretudo temos de evitar o desenvolvimento de resistências. Talvez seja estauma via a explorar, tendo presente a existência desse risco.

Falemos agora mais geralmente dos sistemas de saúde na União Europeia, bem como nospaíses em desenvolvimento. Na União Europeia, a saúde é, outrossim, um dos objectivosque a Comissão tenta promover nos Estados-Membros, por intermédio de vários programas,incluindo a Agenda Europa 2020. Por outras palavras, tem promovido o investimento emsaúde. No campo da investigação, numa das iniciativas de pesquisa e inovação, a Comissão– e um grupo de Comissários em particular – está a trabalhar este tópico para dar umimpulso à inovação nos Estados-Membros, intensificando a investigação relacionada comsaúde, em paralelo com as questões do envelhecimento da população.

No que diz respeito aos países em desenvolvimento, a União Europeia já realiza muito naárea da saúde através do fundo de desenvolvimento, e esse é um ponto em relação ao quala Comissão continuará a prestar toda a atenção no futuro.

Espero, em nome da Comissão, ter conseguido proporcionar algumas respostas às vossasperguntas. Apenas me resta assegurar-vos que a investigação permanece uma das maiorespreocupações da Comissão.

131Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Presidente. − Para finalizar o debate, comunico que recebi quatro propostas de resolução,apresentadas nos termos do n.º 5 do artigo 115.º do Regimento. (4)

Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã, às 11H30.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Joanna Senyszyn (S&D), por escrito. – (PL) Como membro da delegação à AssembleiaParlamentar Paritária ACP-UE , sou a favor de que os resultados da investigação que a UEleva a cabo para desenvolver vacinas contra a tuberculose sejam disponibilizados aos paísesem desenvolvimento, e que se ajudem esses países a financiar o tratamento daqueles quepadecem da doença. A tuberculose é uma das três doenças infecciosas de maior incidência,a par do VIH e do paludismo. Um terço da população mundial está infectado pelo baciloda tuberculose; em cada ano, é diagnosticada em oito milhões de pessoas esta doença, quemata entre 2,6 e 2,9 milhões pessoas. Mais de 95% dos casos ocorrem nos países emdesenvolvimento. A cada segundo, o bacilo faz uma nova vítima. Cerca de 10% dosinfectados desenvolvem a doença, que pode ser mortal caso não seja tratada. A maioriados casos é diagnosticada na Índia, China, Indonésia, África do Sul, Nigéria, Bangladesh eEtiópia. Na Ásia e em África, a incidência cifra-se em 100-120 por 100 mil habitantes. Oacesso a um tratamento mais eficaz é limitado em muitos países. A tuberculose constituium problema económico sério. A quebra mundial de produtividade da mão-de-obra devidoà doença representa USD 13 mil milhões por ano. Eliminar a tuberculose é um dosObjectivos do Milénio para o Desenvolvimento que a UE pretende alcançar até 2015. Orajá só dispomos de quatro anos. A tuberculose é hoje em dia uma doença totalmente curável.Precisamos de programas holísticos, tanto para prevenir como para tratar a tuberculose.Deveria ser lançada, o quanto antes, uma campanha de informação sobre a tuberculose,sobre as formas de a evitar e de a tratar, assim como se deveria dar início a um programade vacinação.

Lívia Járóka (PPE), por escrito. – (EN) Ao longo da história da humanidade, a tuberculosematou mais pessoas do que qualquer outra doença. Esta bactéria altamente contagiosa,que se propaga pelo ar, pode infectar dez a cinquenta outras pessoas antes dos seus sintomasse manifestarem.

Habitações sobrelotadas, vivência em bairros da lata e falta de higiene adequada sempreconstituíram um factor de risco para a tuberculose, por conseguinte trata-se da doençaque mais se relaciona com a pobreza e em parte por ela é causada.

Mau grado os esforços das autoridades nacionais e da OMS, o número de pessoas quemorrem de tuberculose ascende a 1,5 milhões todos os anos e o número não pára decrescer. Pessoalmente acarinho a Iniciativa para a vacinação contra a tuberculose e esperosinceramente que possa proporcionar mais vacinas a quem dela padece na Europa e pelomundo fora.

Convém contudo realçar que a luta contra a tuberculose só pode avançar a par e passo daluta contra a pobreza e a exclusão social. É necessário identificar os grupos vulneráveisassim como determinar e eliminar as barreiras que impedem esses grupos de aceder àpanóplia de meios de prevenção, diagnóstico e tratamento da tuberculose.

(4) Ver acta.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT132

De igual modo, seria benéfico alterar a agenda dos serviços associados à tuberculose nosentido de responder melhor às necessidades locais e dedicar atenção às práticasdiscriminatórias disseminadas nos sistemas de saúde.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D), por escrito. – (LT) Temos de combater a tuberculose, porqueesta doença mata perto de dois milhões de pessoas no mundo todos os anos e quase umterço da população mundial está infectada. Gostaria de chamar a vossa atenção para ofacto de a tuberculose ser uma questão sensível de saúde mundial e a segunda maior causade morte de entre as doenças infecciosas à escala mundial. Tuberculose e problemaseconómico-sociais têm uma correlação pesada, nomeadamente a pobreza, o desemprego,o alcoolismo, as toxicodependências e o VIH/ SIDA, assim como as deficientes e inadequadascondições dos sistemas de cuidados de saúde nos países pobres e os diagnósticos tardios.Portanto, vejo com bons olhos a criação do modelo da Iniciativa para a vacinação contraa tuberculose, porque assim todos os pacientes que sofrem de tuberculose no mundopoderão beneficiar dos resultados das actividades de trabalho e investigação. Para alémdisso, este projecto contribuirá para implementar os objectivos da Europa 2020 e cumpriros Objectivos do Desenvolvimento do Milénio em 2015. Gostaria de indicar que ofinanciamento para combater a tuberculose é insuficiente e o financiamento da UniãoEuropeia é deveras importante para conceber um pacote potencialmente novo de vacinascontra a tuberculose. Espero que se progrida o mais depressa possível no processo delicenciamento desse potencial de vacinas europeias contra a tuberculose, e que possamestar disponíveis para aquelas que mais precisam delas Para além disso, é importanteencontrar oportunidades conducentes à implementação de mecanismos de financiamentocompetitivos para levar a cabo as fases finais da investigação clínica de novas vacinas contraa tuberculose.

Elżbieta Katarzyna Łukacijewska (PPE), por escrito. – (PL) No contexto do nosso debate,gostaria de fazer notar que, no dealbar do século XXI, a tuberculose mata cerca de trêsmilhões de pessoas todos os anos à volta do mundo. As estatísticas mostram que um terçoda população mundial está infectada com o bacilo. Este problema constitui uma fonte depreocupação. Cabe-nos velar que apenas sejam usadas as melhores e mais inovadorasvacinas como ferramentas fundamentais na luta contra a doença. Temos de tentarintensificar as medidas internacionais e considerar o financiamento de vacinas, em particulardestinadas aos países em desenvolvimento. Além do mais, precisamos de uma campanhamediática activa com o intuito de alertar a sociedade para o problema e para as vias decontaminação, bem como as formas de prevenir a doença, sobretudo quando tanta gentejulga que a tuberculose não é uma doença que nos toca no mundo moderno. Bem-haja.

Artur Zasada (PPE), por escrito. – (PL) Estou preocupado com as conclusões às quais osautores da pergunta oral chegaram; a cinco anos do prazo para alcançar os Objectivos deDesenvolvimento do Milénio, deu-se um ligeiro decréscimo na incidência mundial datuberculose. Segundo a informação ao meu dispor, mais de 73% dos médicos na Europacentral e oriental admitem não se sentirem suficientemente formados para diagnosticar etratar a tuberculose. O sentimento geral expresso pelo corpo médico é que a situação seriabastante pior; 75% dos médicos acreditam que o número de novos casos de tuberculoseestá em aumento. Como se poderão justificar tais discrepâncias entre estatísticas oficiaise observações dos médicos praticantes? O sistema de recolha de dados relativo a novoscasos está desactualizado, e as entidades de prestação de cuidados de saúde amiúdenegligenciam as suas obrigações a esse respeito. Há que salientar que uma arma essencialpara combater a doença continua a ser a prevenção, a educação e a adesão a regras de

133Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

higiene, que permitem evitar a infecção pelo bacilo da tuberculose. Concordo com osautores da pergunta quando dizem que uma das soluções para este problema pode passarpela introdução de um programa de vacinação em simultâneo com uma campanha deinformação a larga escala.

Cristian Silviu Buşoi (ALDE), por escrito. – (RO) Apesar de se terem dado alguns passos,a tuberculose prossegue sendo uma das principais causas de mortalidade no mundo, emespecial nos países em desenvolvimento, cifrando-se aproximadamente em 2 milhões deóbitos por ano. Valerá também a pena aludir à situação na Roménia onde foram registados110 casos por 100 mil habitantes em contraponto com a média europeia de 39 por 100mil.

O acesso à saúde é um direito universal e não nos deveríamos apenas preocupar com oseu custo financeiro. Persiste um desequilíbrio entre países industrializados e países emdesenvolvimento. Temos de mostrar a nossa solidariedade e o nosso apoio fazendo usode todos os métodos disponíveis no âmbito da estratégia "Stop TB" - parar a tuberculose-, lançada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A Europa tem o dever de encontrar métodos inovadores e viáveis destinados a garantir ofinanciamento da investigação no sentido de combater a tuberculose bem como outrasdoenças transmissíveis. A TBVI, uma organização que conta com o apoio da União Europeia,dá a solução à situação vigente proporcionando vacinas a preços acessíveis, que podemser facultadas à população através de programas de vacinação estruturados. A inclusão daTBVI na estratégia UE 2020 poderá ser a solução permitindo à Europa reforçar a suaindependência estratégica na luta contra a tuberculose e a sua posição enquanto motor dainovação.

20. Intervenções de um minuto (Artigo 150.º do Regimento)

Presidente. − Seguem-se na ordem do dia intervenções de um minuto, ao abrigo do artigo150.º do Regimento, sobre questões políticas importantes.

Theodoros Skylakakis (PPE). – (EL) Senhora Presidente começaria com algumas palavrassobre o Egipto. O Serviço de Acção Externa terá de ser activado ao máximo nos complicadostempos vindouros para proteger os cidadãos europeus no Egipto, os direitos das minoriasno Egipto e as instituições históricas que os representam, nomeadamente o PatriarcadoOrtodoxo de Alexandria.

Voltando agora ao meu assunto de base relativo ao lixo. Embora tenhamos um quadrolegislativo de alto nível, praticamente todos os Estados-Membros deparam-se comdificuldades de infracção. Muitos relatam crises de resíduos e alguns sectores, como otransporte transfronteiriço de lixos, estão maciçamente em violação da legislaçãocomunitária. Ao mesmo tempo, por razões políticas, a célebre política "no meu quintalnão", os Estados-Membros não têm participado de forma tão efectiva quanto se esperarianos esforços envidados.

Por conseguinte, é preciso que a Comissão proponha instrumentos adicionais, estendendoas responsabilidades da Agência Europeia do Ambiente e respectivos mecanismos paraque a União possa enviar missões encarregues de verificar a informação nosEstados-Membros. A Comissão tem de pensar nisso à luz das propostas para 2012.

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT134

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D). – (RO) Senhora Presidente, pretendo salientar a situaçãona Roménia no que diz respeito à gritante violação pelo actual governo dos princípios queregem o Estado de direito. Um proeminente membro da oposição, Constantin Nicolescu,foi detido, e a sua prisão decretada ainda antes do início da audiência judicial sem qualquerprova cabal, o que é demonstrativo da acção não democrática do actual governo. A detençãolevada a cabo por ordem política, além do ultraje aos cidadãos comuns através das medidasanti-sociais aprovadas pelo Governo, tem empurrado pessoas que foram rebaixadas econdenadas à pobreza para a rua. No intuito de esmagar o descontentamento contramedidas antidemocráticas e abusivas, o Governo tratou de adquirir equipamento antimotimno valor de 10 milhões de euros.

Tudo isto retrata claramente a actual ditadura política e o que poderá vir a acontecer nofuturo, caso essas acções, que violam os valores europeus, continuarem a não serrepreendidas. Não estamos a protestar contra a justiça, mas contra os abusos impostos porvia política. A União Europeia exige a países como a Tunísia e o Egipto o respeito pelademocracia, ora trata-se de algo que deveria ser estritamente observado nosEstados-Membros.

Metin Kazak (ALDE). – (BG) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, osproblemas pendentes de solução com que os plantadores de tabaco se confrontam naBulgária levaram ao escalar da tensão em determinadas regiões do país e a protestos emque participaram mais de 10 mil pessoas. Expressaram a sua discordância na declaraçãoacerca da política actualmente seguida que foi adoptada e motiva a sua calamitosa situaçãofinanceira, devido à interrupção a nível nacional dos pagamentos compensatórios relativosà produção de tabaco para a safra de 2010.

Na Europa, o tabaco é plantado em 17 dos 27 Estados-Membros, com subsídios concedidospelos respectivos governos em todos os casos. Acontece que a Bulgária é o únicoEstado-Membro diferindo o sistema de pagamentos compensatórios determinado a nívelnacional, aprovado por lei e notificado à Comissão Europeia. Nele se prevê uma ajuda aosplantadores de tabaco búlgaros no valor de 76 milhões de euros, cujo pagamento estáneste momento a ser diferido. Com os atrasos na concessão desta ajuda, centenas de famíliassão compelidas à fome e à emigração, estando-se a comprometer a paz social no país.

Michail Tremopoulos (Verts/ALE). – (EL) Senhora Presidente, hoje, num clima deunanimidade digno de registo, o Parlamento Europeu aceitou o apelo do seu Presidente,Jerzy Buzek, no sentido de a União Europeia reconhecer oficialmente o genocídio dosRoma, vitimados pelos Nazis durante a II Grande Guerra. Como disse, os Roma foram aminoria mais reprimida durante um longuíssimo período de tempo.

Mas a quem nos dirigimos? Quem irá aplicar as nossas políticas, conjuntamente decididas?Em Julho de 2008, a Comissão encomendou um relatório sobre as políticas europeiasreferentes aos Roma em 18 países e, desde Junho, o relatório tem-se mantido na sua posse.Apresentei uma pergunta a este respeito pois considero não haver justificação para o atrasoda publicação de um relatório tão valioso. De facto, houve um apelo internacional nosentido de ser publicado. A Senhora Comissária Reding respondeu à minha pergunta eprometeu a sua publicação em finais de Dezembro de 2010. Já estamos em Fevereiro de2011 e o relatório ainda não foi publicado. Gostaria muito de perceber porquê.

Zbigniew Ziobro (ECR). – (PL) Senhora Presidente, por várias vezes durante os debatesno Parlamento Europeu exprimi a minha posição sobre a política da UE acerca da limitaçãodos gases com efeito de estufa, uma política que é fortemente apoiada, quer pelo Parlamento

135Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

Europeu, quer pela Comissão Europeia. Contudo, também chamei a atenção dado essapolítica estar igualmente a levar a mudanças económicas muito adversas. Em muitossectores configura-se pela deslocalização de unidades fabris para países fora da UniãoEuropeia.

Infelizmente a Comissão Europeia não terá tomado nota, apesar de muitos outros colegasdeputados terem salientado os aspectos negativos inerentes à radical limitação das emissõesde CO2. Aliás, recentemente, soubemos das últimas mudanças de grandes unidadesindustriais que planeiam passar a sua produção da Alemanha e Polónia para a antiga UniãoSoviética, ou até para África ou a América do Sul. Estes desenvolvimentos requerem daparte da Comissão acções tangíveis que continuam a ter falta de perspectiva e visão.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL). - Quero transmitir aqui, como prometi no Ágora dosCidadãos que o Parlamento Europeu organizou na semana passada, o grito de indignaçãoque nos trouxeram as diversas organizações sociais que estiveram connosco em debatessobre a crise económica e financeira e as graves consequências no aumento do desemprego,das desigualdades sociais, da pobreza, apesar de 2010 ter sido declarado o Ano Europeude Luta contra a Pobreza.

Aí foi solicitado que as actividades e os trabalhos do Parlamento Europeu reflictam aindignação das organizações implicadas na luta contra a pobreza tendo em conta asconsequências sociais da crise e a gravidade e extensão da pobreza.

De entre os inúmeros exemplos gritantes de exploração, pobreza, discriminação e exclusãosocial, das diversas propostas, exigências e sugestões, destaco as que se referem ao papelque o Parlamento Europeu deve desempenhar na denúncia da situação, designadamentecriando um Grupo de Trabalho encarregado de seguir as consequências da crise no domíniosocial e das medidas tomadas pelo Conselho e pela Comissão no seguimento das decisõesdo Parlamento Europeu, como as que se referem ao rendimento mínimo...

(A Presidente retira a palavra à oradora)

Marian-Jean Marinescu (PPE). - (RO) Senhora Presidente, o grupo de trabalho "Avaliaçãode Schengen" aprovou todos os relatórios de avaliação para a Roménia. As conclusõesindicam que a Roménia cumpre todas as exigências do acervo de Schengen. Infelizmente,o Conselho Europeu recusa-se a fornecer os relatórios ao Parlamento Europeu, causandoum entrave ao funcionamento dos procedimentos do Parlamento. Os deputados nãopodem votar sem conhecer o conteúdo dos relatórios. A Comissão das Liberdades Cívicas,da Justiça e dos Assuntos Internos solicitou os documentos e a Roménia propôs a suadivulgação. No entanto, o Conselho está a atrasar a tomada de uma decisão sem que hajaum bom motivo para tal.

Tendo em conta esta situação, penso que a Roménia tem o direito de apresentar aoParlamento todos os relatórios sobre a sua adesão ao espaço Schengen. Estes relatórios sãoos únicos critérios que podem ser usados como base para tomar uma decisão sobre aadesão. A solicitação de critérios suplementares não está de acordo com os Tratadoseuropeus, não é uma abordagem europeia e não se baseia em argumentos sólidos. ARoménia cumpriu a obrigação legal de se preparar para proteger as fronteiras externas daUnião e agora tem de obter uma resposta adequada das instituições da UE.

Rovana Plumb (S&D). - (EN) Senhora Presidente, gostaria de informar que nunca, duranteos últimos 20 anos, a democracia na Roménia esteve sob tanta pressão. Já alertámos parao facto de o presidente da Câmara dos Deputados ter falsificado os resultados da votação

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT136

da importantíssima lei sobre pensões. O recente caso do social-democrata ConstantinNicolescu, presidente do Conselho de Argeş, é mais uma prova de que, na Roménia, osmétodos utilizados pelo partido no poder constituem uma severa ameaça aos direitos eliberdades fundamentais dos cidadãos.

As medidas adoptadas pelo governo demonstram que o Partido Liberal Democrata daRoménia está em pé de guerra com a totalidade do povo romeno. Não podemos permitirque um membro democrático da União Europeia actue de forma não democrática, detendoquem quer e utilizando as instituições públicas em vinganças pessoais. Juntos, temos dedefender os nossos direitos, a nossa liberdade e a nossa democracia.

Marian Harkin (ALDE). - (EN) Senhora Presidente, é como deputada irlandesa que peçoà UE que trate de forma justa a impossível situação financeira da Irlanda.

Sim, temos de assumir a responsabilidade pelas nossas inúmeras falhas, mas não agimossozinhos. Os investimentos do tipo casino feitos por muitos países inundaram os bancosirlandeses, que ruíram como um castelo de cartas, e agora os contribuintes irlandeses estãoa assumir um fardo insuportável.

Estamos a pagar uma taxa de juro punitiva de 5,8%. A nossa capacidade de pagamento,no âmbito de um plano de austeridade de quatro anos instituído pela UE, baseia-se nocrescimento, mas não há lugar para esse crescimento. Porquê? O desemprego está aaumentar, mesmo com o aumento vertiginoso da emigração. As empresas estão a entrarem colapso e, pelo quarto ano consecutivo, o nosso PIB diminuiu.

Enquanto o BCE canaliza132 mil milhões de euros pela porta da frente dos bancosirlandeses, 110 mil milhões de euros fugiram pela porta das traseiras desses mesmos bancosem 2010, 40 mil milhões dos quais em Dezembro de 2010.

A situação está rapidamente a tornar-se insustentável e se, como disse o Presidente Barroso,a Europa é parte da solução, agora é preciso actuar a sério.

Diane Dodds (NI). - (EN) Senhora Presidente, terroristas republicanos dissidentes deixaramna semana passada, no meu círculo eleitoral na Irlanda do Norte, duas bombas nasimediações da Antrim Road, no Norte de Belfast. É realmente só por graça de Deus quenão estamos hoje a falar de inúmeras fatalidades. Centenas de pessoas foram removidasdas suas casas, enquanto as forças de segurança lidavam com a ameaça imposta àquelacomunidade.

O alvo deste ataque frustrado eram policiais, sendo esta a mais recente de uma série detentativas de assassinato de oficiais de polícia ao serviço da Irlanda do Norte.

Estes ataques não chegam aos noticiários do Reino Unido, para não falar da Europa, massão um sinal de que, embora tenha havido enormes progressos na Irlanda do Norte, aindahá quem nos queira fazer regredir.

Antes do Natal, o Presidente Durão Barroso reuniu-se com o Primeiro-Ministro da Irlandado Norte, Peter Robinson, e reiterou o seu compromisso com a task force de Barroso.Congratulo-me com esse trabalho e também fico satisfeita com o trabalho inicial destaAssembleia em relação ao financiamento da paz.

Csaba Sógor (PPE). - (HU) Senhora Presidente, temos ouvido muitas reclamações eindignação em relação à Presidência da Hungria. É interessante notar que nenhuma dascríticas é sobre o programa da União Europeia da Presidência em exercício. Houve quem

137Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

levantasse a voz por causa da lei de imprensa. A Comissão Europeia já formulou as suasobjecções e o Governo húngaro mostrou-se disposto a alterar a lei.

Pergunto-me por que razão não houve o mesmo interesse internacional em relação à leisobre a língua até hoje em vigor na Eslováquia, que continua a impor multas a quem usaa sua língua materna. Por que razão as palavras de protesto por causa dos direitosfundamentais no âmbito da lei de imprensa não se fizeram ouvir quando um dos direitoshumanos mais naturais da minoria húngara na Eslováquia foi posto em causa? Algumaspessoas sentiram-se perturbadas com o gigantesco tapete retratando um mapa da Hungriade há 160 anos estendido no edifício do Conselho. Este mapa representa a ideia de que sópodemos construir uma Europa forte baseada no conhecimento e no respeito da nossahistória comum e dos valores nacionais.

Catherine Stihler (S&D). - (EN) Senhora Presidente, 14 de Fevereiro, o Dia de SãoValentim, assinala o primeiro Dia Europeu da Epilepsia. Diz-se que o próprio São Valentimsofria de epilepsia.

Actualmente, seis milhões de europeus sofrem de epilepsia. Na Escócia, isto representacerca de 39 000 pessoas, embora apenas 20 000 escoceses tenham sido diagnosticados econtrolem a doença com medicamentos. Isso quer dizer que 19 000 pessoas convivemdiariamente com o medo de uma crise epiléptica. Se extrapolarmos estes valores para aUE, significa que milhões de pessoas enfrentam o mesmo problema.

Em 14 de Fevereiro, temos de chamar a atenção para a epilepsia. Temos também de tentarfazer com que aqueles que sofrem da doença sejam diagnosticados correctamente e apelaraos Estados-Membros para que se formem mais neurologistas especializados em epilepsia.Em 15 de Fevereiro, haverá uma série de eventos no Parlamento e gostaria de incentivaros colegas a participarem. Muitos dos seus eleitores estarão presentes.

Gostaria também de aproveitar a oportunidade para desejar boas-vindas a Joanne Hill,enfermeira especialista em epilepsia, e Fiona Nicholson, gerente de um centro de epilepsiaescocês.

Csanád Szegedi (NI). - (HU) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,permitam-me dedicar o tempo que me foi concedido ao caso do povo Székely. Nos últimosdias, infelizmente o Presidente da Roménia voltou a afirmar que não apoia a autonomiado povo Székely. Ficaria satisfeito se, de uma vez por todas, pudéssemos esclarecer estaquestão aqui no Parlamento Europeu e declarar que o povo Székely tem o direito a umterritório autónomo. Não se trata de uma questão de boa vontade por parte de TraianBăsescu; o povo Székely tem o direito à sua autonomia. Gostaria de lembrar a todos quea autonomia é um direito reconhecido internacionalmente. A dualidade de critériosadoptados pela União Europeia, ao dizer que algumas etnias têm o direito à autonomia,enquanto outras não, é inaceitável. Os bascos e os catalães têm direito à autonomia, masos Székely não. À luz desta lógica, estou convicto de que aqueles que não apoiam os esforçosdo povo Székely em prol da autonomia não são europeus.

Seán Kelly (PPE). - (GA) Senhora Presidente, gostaria de salientar que a liberdade é umdos objectivos fundamentais da Comunidade Europeia: liberdade para viajar, liberdade decomércio e liberdade para trabalhar. Não temos liberdade para trabalhar porque não temoso reconhecimento mútuo das qualificações.

Hoje ouvi falar de um médico que trabalhou em Itália e levou nove meses para conseguiruma autorização para trabalhar na Irlanda. Não faz o mínimo sentido. Deveríamos olhar

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT138

para o sistema norte-americano UPMC; é um exemplo útil para nós. Nomeadamente, sequeremos serviços médicos electrónicos, precisamos do reconhecimento das qualificações.Caso contrário, não poderemos fazer progressos.

Claudiu Ciprian Tănăsescu (S&D). - (RO) Senhora Presidente, o abuso recorrente dopoder por parte daqueles que actualmente governam a Roménia fez com que o paísmergulhasse no período mais negro da sua história desde 1989. Apesar de a Roménia teruma Constituição democrática, os artigos constantes desta Constituição são muitas vezesflagrantemente desrespeitados. Embora, em teoria, exista uma separação dos poderes doEstado de acordo com os princípios democráticos, na prática, um só homem, o PresidenteTraian Băsescu, controla a totalidade do poder na Roménia, ditando ordens à toa e abusandodiariamente do poder, numa tentativa de destruir a oposição política e calar qualquer vozque se erga para oferecer uma alternativa viável à catastrófica administração Băsescu-Boc.

A Roménia é um Estado-Membro da União Europeia e o seu destino não deve ser tratadocom indiferença pelas instituições da UE, nem pelos representantes dos outrosEstados-Membros, que deveriam assumir uma posição em relação a esta questão. Por favor,não se deixem enganar pelas explicações incoerentes e pelas desculpas por vezesconstrangedoras apresentadas por aqueles que actualmente governam a Roménia ou poraqueles que os apoiam abertamente, seja por medo ou por interesse. As suas acções sãosuficientes para mostrar a quem quiser ver a triste realidade do meu país.

Cătălin Sorin Ivan (S&D). - (RO) Senhora Presidente, decidi que irei recordar o senhordeputado Buzek com regularidade sobre os avanços da democracia na Roménia. Ele esteveno Parlamento romeno e apoiou o governo Boc e Traian Băsescu. Gostaria de dizer aosenhor deputado Buzek que o Parlamento romeno não tem qualquer poder e que todas asleis são aprovadas e impostas pelo governo. O Governo romeno também não tem qualquerpoder porque é Traian Băsescu quem nomeia os ministros, quem manda neles e anunciaas medidas importantes tomadas. Na Roménia, pessoas inocentes são detidas por 30 dias,após os quais tem de enfrentar julgamento.

Pedi ao senhor deputado Buzek uma posição oficial e recebi uma resposta através de umcomunicado de imprensa do partido PD-L e Traian Băsescu. Peço instantemente e aguardouma posição oficial do senhor deputado Buzek.

Alexander Mirsky (S&D). - (LV) Senhor Presidente, por que razão acha que o ParlamentoEuropeu aprova resoluções? Justamente para que possam ser implementadas. No entanto,parece que o Governo da Letónia não tem nenhuma intenção de implementar a resoluçãode 11 de Março de 2004. Esta resolução afirma claramente que deve ser concedido o direitode voto nas eleições locais a pessoas que sejam residentes permanentes no território letão.Quanto à questão sobre quando a Letónia irá implementar esta resolução, possivelmentereceberemos esta resposta: "Kad pūcei aste ziedēs" (em letão). Em russo, poder-se-ia dizer:"Kogda rak na gore svistnet", e em inglês: "When pigs fly", ou seja, quando os porcos tiveremasas. No fim de contas, ou os porcos começam a voar juntos, ou temos de acabar com adiscriminação contra as 335 000 pessoas que vivem na Letónia.

Muito obrigado.

Ioan Enciu (S&D). - (RO) Senhora Presidente, hoje estamos a ser testemunhas deacontecimentos que mudarão o rumo da história do Norte de África e não só. Em qualquerlugar do mundo, os regimes ditatoriais não podem manter-se firmes por muito tempo. Noentanto, gostaria de chamar a atenção para o facto de que poderão surgir novas formas de

139Debates do Parlamento EuropeuPT02-02-2011

ditadura, mesmo num Estado-Membro da União Europeia considerado democrático,nomeadamente, a Roménia. Ao abrigo do Estado de direito, uma pessoa deve serconsiderada inocente até ser condenada e deve ir a julgamento como um cidadão livre, amenos que represente uma ameaça para a sociedade.

Estes princípios universais do direito não são válidos hoje em dia na Roménia do PresidenteBăsescu e do Partido Liberal Democrático. A declaração do Presidente Băsescu, emEstrasburgo, cinco horas antes da detenção de Constantin Nicolescu, prova claramenteque a Roménia está a deter pessoas por decisão política. Passo a citar: "Foi detido umimportante membro da oposição". Fim da citação. Constantin Nicolescu nem sequer tinhasido presente a tribunal. Que provas mais concretas são necessárias para mostrar que oPresidente Băsescu decide quem vai ser preso e quando?

Corina Creţu (S&D). - (RO) Senhora Presidente, também eu partilho os sentimentos dosmeus colegas que chamaram a atenção para a perseguição da oposição política na Roménia,através de instrumentos jurídicos de um governo que dá cada vez mais provas de abusosautoritários. Com um índice de popularidade em queda livre e na sequência de um conjuntode medidas de austeridade extremamente severas, com forte impacto no nível de vida, oGoverno romeno está a recorrer a métodos antidemocráticos cada vez mais violentos parase manter no poder.

Como já disseram os meus colegas, a prisão injustificada e dura de um membro proeminenteda oposição eleito directamente pelos cidadãos é o mais recente e preocupante exemplode uma série de ameaças e actos de intimidação contra a oposição. Ao mesmo tempo, oorçamento do Estado está a ser objecto de saques por parte dos apoiantes políticos dogoverno, cujas medidas caóticas estão a agravar a crise económica e social e a aumentar atensão social a níveis alarmantes. É por isso que também estamos a protestar juntos contraos ataques que estão a ser realizados numa tentativa de intimidação dos políticos da oposiçãoe dos sindicatos. Penso que os fóruns da UE têm de assumir uma posição contra a flagranteviolação dos direitos democráticos na Roménia.

Ricardo Cortés Lastra (S&D). - (ES) Senhora Presidente, gostaria de partilhar com todosvós um motivo de grande satisfação. Um grande pacto social e económico foi recentementeassinado entre o governo, sindicalistas e empresários em Espanha. Este acordo mostra quea Espanha é um país capaz de unir esforços para superar dificuldades, enfrentar desafios ereforçar o Estado social. Senhoras e Senhores Deputados, nesta crise global, este acordo éum exemplo único de como, através da responsabilização da sociedade como um todo,estamos a alcançar acordos para vencer o futuro e construir uma Espanha forte, numaUnião que desempenha um papel cada vez mais importante.

Presidente. - Está encerrado este ponto.

21. Ordem do dia da próxima sessão: ver Acta

22. Encerramento da sessão

(A sessão é suspensa às 23H25.)

02-02-2011Debates do Parlamento EuropeuPT140