quando mulheres referência para raparigas desafiam … · esta semana trazemos a his-tória de...

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2 Sexta-feira, 8 de Setembro de 2017 Mulher A inda não são muitas, mas as poucas que se interessam pelo ramo ou que tiveram oportu- nidade para se formar e trabalhar na área fazem-no com dedicação e ganham notoriedade por onde passam. Esta semana trazemos a his- tória de três jovens que con- quistaram espaço no mundo das engenharias. Actualmente fazem parte de profissionais da Anada- rko, empresa de hidrocarbonetos que está a fazer a prospecção do gás na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado. Trata-se de Pás- coa, Elma e Esmeralda. As três nasceram e cresceram na cidade de Maputo, onde estudaram até ao nível médio. Não se conheciam antes, mas o destino juntou estas mulheres nesta empresa onde tiveram a oportunidade de se formar nos Estados Unidos de América, em 2014, depois da admissão na Anadarko. Durante a capacitação, que durou dois anos, estas jovens ti- veram a oportunidade de intera- gir com pessoas experientes nos seus ramos de especialização, o que contribuiu para o aumenta dos seus conhecimentos e con- fiança no trabalho. “Tive bastante formação para aprender a trabalhar na pers- pectiva de produção futura com ferramentas específicas, como o modelo 3D para criar mapas”, ex- plica Esmeralda dos Muchangos Dalsuco, engenheira geológica. Nos EUA, o trabalho da en- genheira química consistiu em supervisionar a plataforma. Todos os dias tinha de ver se a produção está nos níveis dese- jados, disse Páscoa dos Santos Magaia. Para Elma da Conceição, tudo era novo na Anadarko, embora tenha feito a pós-graduação em Engenharia de Reservatórios. “Ainda estou no processo de crescimento e a minha expecta- tiva é de continuar a crescer e a desenvolver na área”, disse. A Anadarko está a desenvol- ver a primeira fábrica do Gás Natural Liquefeito (GNL) em ter- ra, que consiste, inicialmente, em dois módulos de produção com a capacidade total de 12 milhões de toneladas por ano (MTPA), através do gás natural proveniente dos campos Golfinho/Atum localiza- dos no mar inteiramente dentro da Área 1. A sua missão é de garantir uma taxa de retorno competitiva e sus- tentável para os seus accionistas através da pesquisa, aquisição e desenvolvimento de recursos pe- trolíferos e gás natural vitais para a saúde e bem-estar mundial. EVELINA MUCHANGA Quando mulheres desafiam engenharias HÁ cada vez mais mulheres que escolhem a engenharia como profissão. Aos poucos vão quebrando estereótipos e conquistando seu espaço, trabalhando em pé de igualmente com profissionais do sexo masculino. CONVERSARMOS primeiro com Páscoa dos Santos Magaia, 33 anos de idade, solteira, que con- cluiu o ensino médio na Escola Secundária Josina Machel, cida- de de Maputo. O seu percurso inicia quando ganha uma bolsa de estudo para fazer licenciatura em Engenharia Química na Malá- sia, onde permaneceu por cinco anos e teve estágio profissional. “A minha integração não foi fácil. Era a primeira vez que ia viver longe de tudo e de todos. Depois a cultura e comida são totalmente diferentes. Levei dois anos para estabilizar”, lembrou. De regresso a Moçambique, Páscoa consegue uma vaga na Sasol, onde iniciou como esta- giária e depois operadora de produção. Enquanto labutava, concorreu a uma bolsa de estudo para mestrado em Engenharia Química, na Suécia, para área de energia e meio ambiente. Questionada sobre as razões que contribuem para que poucas mulheres frequentem cursos de engenharias, Páscoa entende que são vários os factores, na sua maioria culturais. “O problema começa desde a infância. Daquilo que tenho observado, quando se trata de comprar presentes para menina ou rapaz, ela sempre vai ter uma boneca ou uma mini-cozinha e ele recebe carrinhos e talvez um jogo de ferramentas. Isto deve- mos mudar. Claro que vai levar o seu tempo”, opinou. Outro ponto, segundo a fonte, é o pensamento de que fazer En- genharia Química, por exemplo, significa trabalhar sempre no campo e ficar longe da família, para além da pressão que se tem para constituir família, mesmo quando a pessoa precisa de Referência para raparigas continuar com os estudos. “A sociedade esquece que cada um tem o seu momento. Não é o facto de muitos seguirem um determinado padrão que to- dos devem alinhar”, disse. Para Páscoa, as raparigas precisam de ter referências e exemplos de sucesso de mu- lheres que estão no ramo das engenharias e que dão o seu contributo para o desenvolvi- mento do país. “Muitas das engenheiras são casadas, têm famílias e, mesmo assim, estão inseridas no mer- cado dos hidrocarbonetos. Uma das coisas que se tem feito fora do país, mesmo na sede da Ana- darko, é reservar um dia para que os filhos visitem o trabalho dos pais”, disse, acrescentando que o mais importante é que a pessoa consiga equilibrar o trabalho e a família, mas para isso precisa do apoio de todos. QUANDO viu um anúncio publici- tário dando conta da existência de uma vaga para a área de Engenharia de Reservatórios na Anadarko, Elma da Conceição, 32 anos de idade, não perdeu a oportunidade, concorreu, passou por vários processos de selecção e conseguiu. O espírito de enfrentar de- safios nutre nela desde cedo. Exemplo disso, foi quando teve de escolher entre fazer um curso que ela tinha mais ou menos no- ção do que se estudava e outro que nem sequer sabia do que se tratava de concreto, escolheu o caminho mais difícil. “Gosto de Matemática e Física. Quando terminei a 12.ª Classe não sabia o que queria fazer, sabia que queria um curso que tivesse as duas disciplinas. Quan- do vi que quase todos tinham a primeira opção informática (era promissor na altura) decidi escolher a Física Aplicada como segunda. Eu não sabia o que da- vam nesta cadeira, mas percebi que pouca gente ia concorrer e foi nessa lógica que fiz a minha escolha”, explicou. Para ela, fazer Física Apli- cada foi muito bom, apesar de a turma (20 estudantes) onde estava inserida tinha apenas duas mulheres, pois aplicava- -se muito nas aulas ao ponto de se tornar numa das melhores. Aprendeu a conviver mais com homens ao ponto de se trajar como um rapaz para que todos se sentissem à vontade e não a vissem apenas como mulher, mas sim estudante. Entende que as mulheres que fazem engenharias não são mais inteligentes que aquelas que cursam ciências sociais ou outras áreas, como tem ouvido falar na sociedade. A diferença, no seu ponto de vista, reside na inclinação que cada uma tem para determinada actividade. “Adicionado a isso, acho que existe estereótipos na nossa sociedade de que os cursos de engenharia são mais para homens e difíceis. Acho que a dedicação e busca constante de conhecimento é o que se quer”, referiu convidando as raparigas a desafiar áreas que se diz serem difíceis. Quanto ao trabalho e à famí- lia, esta jovem mulher, solteira, é de opinião que todas as áreas de trabalho têm os seus desafios nesta componente. “O importan- te é compensar esse momento, pode ser através de férias goza- das ao longo do ano. Elma fez o ensino primário na Escola Primária da Maxaquene. Licenciou pela Universidade Eduardo Mondlane na área da Física Aplicada e depois fez uma pós-graduação na área de Engenharia de Reservatórios na Itália. A sua ambição é de crescer profissionalmente na Anadarko. Diferença está na vocação ESMERALDA dos Muchangos Dalsuco, 32 anos de idade, ca- sada há sete anos e mãe de uma menina, fez uma formação inte- grada (licenciatura e mestrado) na Universidade de Aveiro, Portugal, em Engenharia Geológica e outro em Biociências de Petróleo na Inglaterra. Filha de pais geógrafos, esta jovem mulher entende que a sua escolha nesta área pode estar re- lacionada ao facto de ter crescido entre mapas e atlas na família, mas nada foi intencional. “Durante um período vivi com meu tio paterno, que é geólogo. Em casa, eu tinha amostras de rochas e gostava de estar em contacto. Mas nunca houve uma intenção directa de me influen- ciar para seguir esta área. Acho que implicitamente foi ficando em mim e quando cheguei ao se- cundário já sabia que gostava de ciências da terra. Foi um gosto que fui desenvolvendo com o tempo sem me dar conta”, observou. Parte do seu percurso aca- démico foi partilhada com os deveres de mãe e esposa. Conta como consegue conciliar, sem prejudicar a família, a formação e o trabalho: “em cada momento temos de procurar equilíbrio nestas duas fases da nossa vida. Para mim é importante o apoio da família. O trabalho que faço é possível porque tenho suporte dos meus pais, sogros, esposo, filha e minhas irmãs. São coisas que se complementam. Para mim, vejo a minha família como importante. O emprego também, mas sempre tem de se procurar um equilíbrio”. Exemplo da pertinência do envolvimento e colaboração da família foi quando Esmeralda teve de ir participar numa formação durante dois anos nos Estados Unidos da América. O seu esposo e filha acompanharam-na para apoiá-la. “Seria muito difícil para mim sem o apoio deles. Fomos juntos e foi uma experiência positiva para todos nós. Decidimos juntos e penso que correu bem. Reforçar que, para o trabalho que faço hoje, sempre tive um apoio muito gran- de da minha família”, reconheceu. Para Esmeralda, a razão de se ter menos mulheres nas áreas como engenharias tem a ver com questões culturais da sociedade que associa determinadas funções ao género. “Ter mulheres a traba- lhar fora de casa é algo novo. Mas, gradualmente, vamo-nos habitu- ando ver em áreas que não são tradicionalmente associadas ao género feminino. É uma questão que tem a ver com a expectativa que nós temos em relação ao pa- pel de cada género”, disse. Apoio da família é crucial QUANDO as mulheres decidem abraçar as engenharias ou ou- tras áreas tradicionalmente ditas como masculinas têm se empe- nhado e destacado como melho- res profissionais ou estudantes. “Sou engenheiro mecânico e professor das engenharias há 32 anos. No meu departamento temos poucas meninas. Este cenário nos últimos oito, dez anos tem sido alterado. Eu per- cebo que as mulheres são muito mais sérias comparando com os rapazes. Aplicam-se muito mais no trabalho. Os rapazes são mais relaxados. Normalmente, nas turmas, as melhores notas são sempre de colegas do sexo feminino e isto é uma coisa muito interessante porque maioritaria- mente são homens. Em termos de relacionamento entre colegas, até hoje eu julgo que é fantástico, não há nenhum problema quer dos rapazes para as meninas, quer das meninas para os rapazes, eles dão-se muito bem”, observou o professor António Matos. Encontramos o docente esta semana no decorrer do VIII Con- gresso Luso-Moçambicano de Engenheiros e o V Congresso de Engenheiros de Moçambique. Ele entende que a pouca participa- ção das mulheres nos cursos de engenharias está relacionado com as dificuldades que estas têm em certas disciplinas, tais como Matemática e Física aliado As mais empenhadas a preconceitos culturais. “Uma engenheira mecânica não é bem vista. A sociedade, os pais e todos nós achamos que ela não pode porque vai estar com óleo, sujar-se, etc. Mas não é este o conceito hoje em dia na engenharia”, exemplificou. Fez saber que a Ordem dos Engenheiros de Moçambique (constituída por 2500 membros, sendo cerca de 65 a 70 por cento do sexo masculino) tem trabalhado junto das instituições de ensino para se incentivar as mulheres a cursar engenharias, oferecendo bolsas para o mes- trado e doutoramento. Há cada vez mais mulheres a cursar engenharias no país - O problema começa desde a infância, Páscoa dos Santos Magaia - A questão não tem a ver com a inteligência, Elma da Conceição - Seria muito difícil para mim sem o apoio da família”, Esmeralda Dos Muchangos Dalsuco - Mulheres que fazem engenharia mecânica não são bem vistas pela sociedade, Professor António Matos FOTOS DE C. BILA PUBLICIDADE

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Page 1: Quando mulheres Referência para raparigas desafiam … · Esta semana trazemos a his-tória de três jovens que con-quistaram espaço no mundo das engenharias. Actualmente fazem

2 Sexta-feira, 8 de Setembro de 2017 Mulher

Ainda não são muitas, mas as poucas que se interessam pelo ramo ou que tiveram oportu-nidade para se formar e

trabalhar na área fazem-no com dedicação e ganham notoriedade por onde passam.

Esta semana trazemos a his-tória de três jovens que con-quistaram espaço no mundo das engenharias. Actualmente fazem parte de profissionais da Anada-rko, empresa de hidrocarbonetos que está a fazer a prospecção

do gás na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado. Trata-se de Pás-coa, Elma e Esmeralda. As três nasceram e cresceram na cidade de Maputo, onde estudaram até ao nível médio. Não se conheciam antes, mas o destino juntou estas mulheres nesta empresa onde tiveram a oportunidade de se formar nos Estados Unidos de América, em 2014, depois da admissão na Anadarko.

Durante a capacitação, que durou dois anos, estas jovens ti-veram a oportunidade de intera-

gir com pessoas experientes nos seus ramos de especialização, o que contribuiu para o aumenta dos seus conhecimentos e con-fiança no trabalho.

“Tive bastante formação para aprender a trabalhar na pers-pectiva de produção futura com ferramentas específicas, como o modelo 3D para criar mapas”, ex-plica Esmeralda dos Muchangos Dalsuco, engenheira geológica.

Nos EUA, o trabalho da en-genheira química consistiu em supervisionar a plataforma.

Todos os dias tinha de ver se a produção está nos níveis dese-jados, disse Páscoa dos Santos Magaia.

Para Elma da Conceição, tudo era novo na Anadarko, embora tenha feito a pós-graduação em Engenharia de Reservatórios. “Ainda estou no processo de crescimento e a minha expecta-tiva é de continuar a crescer e a desenvolver na área”, disse.

A Anadarko está a desenvol-ver a primeira fábrica do Gás Natural Liquefeito (GNL) em ter-

ra, que consiste, inicialmente, em dois módulos de produção com a capacidade total de 12 milhões de toneladas por ano (MTPA), através do gás natural proveniente dos campos Golfinho/Atum localiza-dos no mar inteiramente dentro da Área 1.

A sua missão é de garantir uma taxa de retorno competitiva e sus-tentável para os seus accionistas através da pesquisa, aquisição e desenvolvimento de recursos pe-trolíferos e gás natural vitais para a saúde e bem-estar mundial.

EVELINA MUCHANGA

Quando mulheresdesafiam engenharias

HÁ cada vez mais mulheres que escolhem a engenharia

como profissão. Aos poucos

vão quebrando estereótipos e conquistando

seu espaço, trabalhando em pé de igualmente com

profissionais do sexo masculino.

CONVERSARMOS primeiro com Páscoa dos Santos Magaia, 33 anos de idade, solteira, que con-cluiu o ensino médio na Escola Secundária Josina Machel, cida-de de Maputo. O seu percurso inicia quando ganha uma bolsa de estudo para fazer licenciatura em Engenharia Química na Malá-sia, onde permaneceu por cinco anos e teve estágio profissional.

“A minha integração não foi fácil. Era a primeira vez que ia viver longe de tudo e de todos. Depois a cultura e comida são totalmente diferentes. Levei dois anos para estabilizar”, lembrou.

De regresso a Moçambique, Páscoa consegue uma vaga na Sasol, onde iniciou como esta-giária e depois operadora de produção. Enquanto labutava, concorreu a uma bolsa de estudo para mestrado em Engenharia Química, na Suécia, para área de energia e meio ambiente.

Questionada sobre as razões que contribuem para que poucas mulheres frequentem cursos de engenharias, Páscoa entende que são vários os factores, na sua maioria culturais.

“O problema começa desde a infância. Daquilo que tenho observado, quando se trata de comprar presentes para menina ou rapaz, ela sempre vai ter uma boneca ou uma mini-cozinha e ele recebe carrinhos e talvez um jogo de ferramentas. Isto deve-mos mudar. Claro que vai levar o seu tempo”, opinou.

Outro ponto, segundo a fonte, é o pensamento de que fazer En-genharia Química, por exemplo, significa trabalhar sempre no campo e ficar longe da família, para além da pressão que se tem para constituir família, mesmo quando a pessoa precisa de

Referência para raparigas

continuar com os estudos. “A sociedade esquece que

cada um tem o seu momento. Não é o facto de muitos seguirem um determinado padrão que to-dos devem alinhar”, disse.

Para Páscoa, as raparigas precisam de ter referências e exemplos de sucesso de mu-lheres que estão no ramo das engenharias e que dão o seu contributo para o desenvolvi-mento do país.

“Muitas das engenheiras são casadas, têm famílias e, mesmo assim, estão inseridas no mer-cado dos hidrocarbonetos. Uma das coisas que se tem feito fora do país, mesmo na sede da Ana-darko, é reservar um dia para que os filhos visitem o trabalho dos pais”, disse, acrescentando que o mais importante é que a pessoa consiga equilibrar o trabalho e a família, mas para isso precisa do apoio de todos.

QUANDO viu um anúncio publici-tário dando conta da existência de uma vaga para a área de Engenharia de Reservatórios na Anadarko, Elma da Conceição, 32 anos de idade, não perdeu a oportunidade, concorreu, passou por vários processos de selecção e conseguiu.

O espírito de enfrentar de-safios nutre nela desde cedo. Exemplo disso, foi quando teve de escolher entre fazer um curso que ela tinha mais ou menos no-ção do que se estudava e outro que nem sequer sabia do que se tratava de concreto, escolheu o caminho mais difícil.

“Gosto de Matemática e Física. Quando terminei a 12.ª Classe não sabia o que queria fazer, sabia que queria um curso que tivesse as duas disciplinas. Quan-do vi que quase todos tinham a primeira opção informática (era promissor na altura) decidi escolher a Física Aplicada como

segunda. Eu não sabia o que da-vam nesta cadeira, mas percebi que pouca gente ia concorrer e foi nessa lógica que fiz a minha escolha”, explicou.

Para ela, fazer Física Apli-cada foi muito bom, apesar de a turma (20 estudantes) onde estava inserida tinha apenas duas mulheres, pois aplicava--se muito nas aulas ao ponto de se tornar numa das melhores. Aprendeu a conviver mais com homens ao ponto de se trajar como um rapaz para que todos se sentissem à vontade e não a vissem apenas como mulher, mas sim estudante.

Entende que as mulheres que fazem engenharias não são mais inteligentes que aquelas que cursam ciências sociais ou outras áreas, como tem ouvido falar na sociedade. A diferença, no seu ponto de vista, reside na inclinação que cada uma tem para determinada actividade.

“Adicionado a isso, acho que existe estereótipos na nossa sociedade de que os cursos de engenharia são mais para homens e difíceis. Acho que a dedicação e busca constante de conhecimento é o que se quer”, referiu convidando as raparigas a desafiar áreas que se diz serem difíceis.

Quanto ao trabalho e à famí-lia, esta jovem mulher, solteira, é de opinião que todas as áreas de trabalho têm os seus desafios nesta componente. “O importan-te é compensar esse momento, pode ser através de férias goza-das ao longo do ano.

Elma fez o ensino primário na Escola Primária da Maxaquene. Licenciou pela Universidade Eduardo Mondlane na área da Física Aplicada e depois fez uma pós-graduação na área de Engenharia de Reservatórios na Itália. A sua ambição é de crescer profissionalmente na Anadarko.

Diferença está na vocação

ESMERALDA dos Muchangos Dalsuco, 32 anos de idade, ca-sada há sete anos e mãe de uma menina, fez uma formação inte-grada (licenciatura e mestrado) na Universidade de Aveiro, Portugal, em Engenharia Geológica e outro em Biociências de Petróleo na Inglaterra.

Filha de pais geógrafos, esta jovem mulher entende que a sua escolha nesta área pode estar re-lacionada ao facto de ter crescido entre mapas e atlas na família, mas nada foi intencional.

“Durante um período vivi com meu tio paterno, que é geólogo. Em casa, eu tinha amostras de rochas e gostava de estar em contacto. Mas nunca houve uma intenção directa de me influen-ciar para seguir esta área. Acho que implicitamente foi ficando em mim e quando cheguei ao se-cundário já sabia que gostava de

ciências da terra. Foi um gosto que fui desenvolvendo com o tempo sem me dar conta”, observou.

Parte do seu percurso aca-démico foi partilhada com os deveres de mãe e esposa. Conta como consegue conciliar, sem prejudicar a família, a formação e o trabalho: “em cada momento temos de procurar equilíbrio nestas duas fases da nossa vida. Para mim é importante o apoio da família. O trabalho que faço é possível porque tenho suporte dos meus pais, sogros, esposo, filha e minhas irmãs. São coisas que se complementam. Para mim, vejo a minha família como importante. O emprego também, mas sempre tem de se procurar um equilíbrio”.

Exemplo da pertinência do envolvimento e colaboração da família foi quando Esmeralda teve de ir participar numa formação durante dois anos nos Estados

Unidos da América. O seu esposo e filha acompanharam-na para apoiá-la.

“Seria muito difícil para mim sem o apoio deles. Fomos juntos e foi uma experiência positiva para todos nós. Decidimos juntos e penso que correu bem. Reforçar que, para o trabalho que faço hoje, sempre tive um apoio muito gran-de da minha família”, reconheceu.

Para Esmeralda, a razão de se ter menos mulheres nas áreas como engenharias tem a ver com questões culturais da sociedade que associa determinadas funções ao género. “Ter mulheres a traba-lhar fora de casa é algo novo. Mas, gradualmente, vamo-nos habitu-ando ver em áreas que não são tradicionalmente associadas ao género feminino. É uma questão que tem a ver com a expectativa que nós temos em relação ao pa-pel de cada género”, disse.

Apoio da família é crucial

QUANDO as mulheres decidem abraçar as engenharias ou ou-tras áreas tradicionalmente ditas como masculinas têm se empe-nhado e destacado como melho-res profissionais ou estudantes.

“Sou engenheiro mecânico e professor das engenharias há 32 anos. No meu departamento temos poucas meninas. Este cenário nos últimos oito, dez anos tem sido alterado. Eu per-cebo que as mulheres são muito mais sérias comparando com os rapazes. Aplicam-se muito mais no trabalho. Os rapazes são mais relaxados. Normalmente, nas turmas, as melhores notas são sempre de colegas do sexo feminino e isto é uma coisa muito interessante porque maioritaria-mente são homens. Em termos de relacionamento entre colegas, até hoje eu julgo que é fantástico, não há nenhum problema quer dos rapazes para as meninas, quer das meninas para os rapazes, eles dão-se muito bem”, observou o professor António Matos.

Encontramos o docente esta semana no decorrer do VIII Con-gresso Luso-Moçambicano de Engenheiros e o V Congresso de Engenheiros de Moçambique. Ele entende que a pouca participa-ção das mulheres nos cursos de engenharias está relacionado com as dificuldades que estas têm em certas disciplinas, tais como Matemática e Física aliado

As mais empenhadas

a preconceitos culturais.“Uma engenheira mecânica

não é bem vista. A sociedade, os pais e todos nós achamos que ela não pode porque vai estar com óleo, sujar-se, etc. Mas não é este o conceito hoje em dia na engenharia”, exemplificou.

Fez saber que a Ordem dos

Engenheiros de Moçambique (constituída por 2500 membros, sendo cerca de 65 a 70 por cento do sexo masculino) tem trabalhado junto das instituições de ensino para se incentivar as mulheres a cursar engenharias, oferecendo bolsas para o mes-trado e doutoramento.

Há cada vez mais mulheres a cursar engenharias no país

- O problema começa desde a infância, Páscoa dos Santos Magaia

- A questão não tem a ver com a inteligência, Elma da Conceição

- Seria muito difícil para mim sem o apoio da família”, Esmeralda Dos Muchangos Dalsuco

- Mulheres que fazem engenharia mecânica não são bem vistas pela sociedade, Professor António Matos

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Notícias

When women challenge themselves for engineering

There are more and more women who are choosing engineering as a profession. Gradually they are

breaking stereotypes and conquering their own space, working in the same way with male

professionals.

There are still not many, but the few who are interested in the field or who have had the

opportunity to graduate and work in the area do so with dedication and gain recognition wherever

they go.

This week we bring the story of three young people who have gained space in the world of

engineering. At present, they are professionals from Anadarko, an oil and gas company that is doing

gas exploration in the Rovuma basin in Cabo Delgado. They are Páscoa, Elma and Esmeralda. The

three were born and raised in the city of Maputo, where they studied, until high school. They had

not met before, but fate brought these women together in this company where they had the

opportunity to be trained in the United States of America in 2014, after joining Anadarko.

During the training, which lasted two years, these young women had the opportunity to interact

with people experienced in their areas of expertise, which contributes to increasing their knowledge

and confidence at work.

"I've had enough training to learn how to work from the perspective of future production with

specific tools like the 3D model to create maps," explains Esmeralda dos Muchangos Dalsuco, a

geological engineer.

In the US, the chemical engineering work involved supervising the platform. Every day I had to see

whether the production was at the desired levels, Páscoa dos Santos Magaia says.

For Elma da Conceição, everything was new at Anadarko, although she did the post-graduation in

Reservoir Engineering.

"I am still in the process of growing and expecting to continue to grow and develop in the area," she

says.

Anadarko is developing the first Liquefied Natural Gas (LNG) ashore plant, which initially consists of

two production modules with a total capacity of 12 million tonnes per year (MTPA), using natural gas

from the Dolphin / Tuna fields, located offshore entirely within Area 1.

Its mission is to deliver a competitive and sustainable rate of return to shareholders by exploring for,

acquiring and developing oil and natural gas resources vital to the world's health and welfare.

The difference is in vocation

When she saw an advert announcing a vacancy in the Reservoir Engineering area at Anadarko, Elma

da Conceição, 32 years old, did not miss the opportunity. She competed, she went through several

selection processes and she succeeded.

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The spirit of facing challenges has been in her from an early age. For example, when she had to

choose between taking a course that she had more or less knowledge of what was being studied and

another that she did not even know what it was exactly, she chose the harder way.

'I liked Mathematics and Physics. When I finished 12th grade I did not know whether I wanted a

course that had both subjects. When I saw that almost everyone had the first option as IT at the

time, I decided to choose Applied Physics as the second. I did not know what they were doing in this

subject, but I realized that few people were going to compete and it was in this logic that I made the

choice, she explains.

For her, doing Applied Physics was very good, although the group (20 students) where she was

placed had just two women in it, as she dedicated herself a lot in classes to the point of becoming

one of the best there. She learned to get along better with the men to the point of dressing like a

guy so that everyone would feel at ease and see her not just as a woman but a student.

She understands that women who do engineering are no smarter than those who study social

sciences or other areas, as has been heard in society. The difference, in her point of view, lies in the

inclination each person has for a certain activity.

"Adding to this, I think there are stereotypes in our society that engineering courses are more for

men and are difficult. I think the dedication and constant search for knowledge is what one seeks,''

she says, inviting girls to challenge themselves in areas that are said to be difficult.

As for combining work and family, this young single woman is of the opinion that all work areas have

their challenges in this element. ''The important thing is to compensate for that time. It may be

through vacations enjoyed throughout the year.”

Elma did her elementary education at Maxaquene Elementary School, graduated from the University

of Applied Physics and then did a postgraduate course in Reservoir Engineering in Italy. Her ambition

is to grow professionally at Anadarko.

Family support is crucial

Esmeralda dos Muchangos Dalsuco, 32 years old, married for seven years and the mother of a girl,

did an integrated training (undergraduate and master's degree) at the University of Aveiro, Portugal,

in Geological Engineering and another in Petroleum Bioscience in England.

The daughter of parents who are geographers, this young woman understands that her choice in this

area may be related to having grown up between maps and atlases within the family, but nothing

was intentional.

''For a period I lived with my uncle, who is a geologist. At home, I had samples of rocks and enjoyed

being in contact with these. But there was never any direct intention to influence me to follow this

area. I think it implicitly got into me and by the time I got to high school I already knew that I liked

earth science. It was a taste I developed over time without realizing it,'' she notes.

Part of her academic career was shared with the duties of being a mother and a wife. She tells how

she could conciliate, without harming the family, her training and her work: ''in every moment we

have to seek balance between these two phases of our life.

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For me, the support of the family is important. The work I do is possible because I have support from

my parents, my in-laws, my husband, my daughter and my sisters. These are things that complement

each other. For me, I see my family as important. Work too, but you always have to seek a balance.''

An example of the relevance of the involvement and collaboration of the family was when

Esmeralda had to go to participate in a two year long training in the United States of America. Her

husband and daughter accompanied her to support her.

''It would be very difficult for me without their support, we were together and it was a positive

experience for all of us. We decided on it together and I think it went well. To reinforce that, for the

work I do today, I have always had very great support from my family," she acknowledges.

For Esmeralda, the reason for having less women in areas such as engineering has to do with cultural

issues of the society that associates certain roles with gender. "Having women working outside the

home is something new. But gradually, we have become accustomed to seeing them in areas that

are not traditionally associated with the female gender. It's a question that has to do with the role of

each gender," she says.

Reference point for girls

First we talk to Páscoa dos Santos Magaia, 33 years old, single, who finished high school at Josina

Machel High School in Maputo City. Her internship began when she earned a bachelor's degree in

Chemical Engineering in Malaysia, where she stayed for five years and had a professional internship.

"My integration was not easy. It was the first time I was going to live away from everything and

everyone. Then the culture and food are totally different. It took me two years to stabilize,'' she

recalls.

Upon returning to Mozambique, Páscoa got a position at Sasol, where she started as a trainee and

later as a production operator. While working, she was awarded a scholarship for a master's degree

in Chemical Engineering, Sweden for energy and environment areas.

Asked about the reasons that contribute to a few women attending engineering courses, Páscoa

understands that there are many factors which are mostly cultural.

"The problem starts from childhood. From what I've observed, when it comes to buying gifts for a

girl or a boy, she will always get a doll or a mini kitchen and he gets strollers and maybe a set of

tools. This must change. Of course it's going to take time," she says.

Another point, according to the source, is the thought that doing Chemical Engineering, for example,

means always working in the field and staying away from the family, as well as the pressure one has

to form a family, even when one needs to continue with studies.

"Society forgets that everything has its moment. It's not the fact that many follow a certain path that

everyone should follow it too,'' she says.

For Páscoa, girls need to have a reference point and successful examples of women in the

engineering business who have made their contribution to the country’s development.

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"Many of the engineers are married, have families, and yet are embedded in the oil and gas market.

One of the things that has been done outside the country, even at Anadarko's headquarters, is to

reserve a day for children to visit their parents' work," she says, adding that the most important

thing is that the person can balance work and the family, but for this you need support from

everybody.

The most committed

When women choose to embrace engineering and other areas traditionally thought of as male-

dominated, they have been committed and decorated as the best professionals or students.

"I've been a mechanical engineer and an engineering professor for 32 years. In my department we

have few women. This scenario over the past eight, ten years has been changing. I realize that girls

are much more serious compared to boys. They apply themselves much more to their work. The

boys are more relaxed. Usually in class, the best grades are always from female students and this is a

very interesting thing because the majority of the class are boys. In terms of relationships between

classmates, to this day I think it's fantastic, there is no problem either from boys towards girls, or

from girls towards the boys, they all get along really well,'' notes Professor António Matos.

We have met the professor this week during the VIII Luso-Mozambican Congress of Engineers and

the V Congress of Engineers of Mozambique. He understands that the low participation of women in

engineering courses is related to the difficulties they have in certain subjects, such as Mathematics

and Physics, coupled with cultural prejudices.

"A mechanical engineer is not well-regarded. Society, parents and all of us think that she cannot do

it because it will be working with oil, she will get dirty, etc. But this is not the concept nowadays in

engineering," he says.

He revealed that the Mozambican Order of Engineers (made up of 250 members, about 65 to 70 per

cent male) has worked with educational institutions to encourage women to study engineering by

offering scholarships for masters and doctorate programs.