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J.L. AUSTIN QUANDO DIZER , E FAZER PALAVRAS E AÇÃO Trad ução e apresent ão à edição brasilei ra: Pro f. DANI LO MARCONDES DE SOUZA FILHO A936q Austin, John Langshaw Quando dizer é faze r. / John Langshaw Austin; Tr ad. de Danilo Marcondes de Souza Filho . / Porto Alegre: Artes di cas: 1990. 136p. CDU:800.1 fndices para o catálogo sistemático: Filosofia da linguagem 800. 1 Ficha catalográfica elaborada pela Bibl. Carla P. de M. Pires CRB 10/753 r ... ::DICAS PORTO ALEGRE/1990

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  • J.L. AUSTIN

    QUANDO DIZER , E FAZER PALAVRAS E AO

    Traduo e apresentao edio brasilei ra:

    Prof. DANILO MARCONDES DE SOUZA FILHO

    A936q Austin, John Langshaw Quando dizer faze r. / John Langshaw Austin; Trad. de Danilo

    Marcondes de Souza Filho. / Porto Alegre: Artes Mdicas: 1990. 136p.

    CDU:800.1

    fndices para o catlogo sistemtico: Filosofia da linguagem 800. 1 Ficha catalogrfica elaborada pela Bibl. Carla P. de M. Pires CRB 10/753

    ~~TE5 r...::DICAS PORTO ALEGRE/1990

  • J.L. AUSTIN

    QUANDO DIZER , E FAZER PALAVRAS E AO

    Traduo e apresentao edio brasilei ra:

    Prof. DANILO MARCONDES DE SOUZA FILHO

    A936q Austin, John Langshaw Quando dizer fazer. / John Langshaw Austin; Trad. de Danilo

    Marcondes de Souza Fi lho. / Porto Alegre: Artes Mdicas: 1990. 136p.

    CDU:800.1

    rndices para o catlogo sistemtico: ;;ilosofia da linguagem 800.1 Ficha catalogrfica elaborada pela Bibl. Carla P. de M. Pires CRB 10/753

    .~lE5In :DICAS PORTO ALEGRE/1990

  • Publicado originalmente em ingls sob o trtulo

    HOW TO DO THINGS WITH WORDS

    ~ Copyright 1962, 1975 by the President and

    Fellows of Harvard College.

    Capa: Mrio Rhnelt

    Superviso editorial:

    l1R1rEXiO -rua 13 de maio. 468 - 101.(0504)222 .6223 - caxias do sul rs

    Reservados todos os direitos de publicao EDITORA ARTES MDICAS SUL LTDA. Av. Jernimo de Ornelas, 670 - Fones: 30.3444 e 30.2378 90040 - Porto Alegre, RS, Brasil

    LOJA-CENTRO Rua General Vitorino, 277 - Fone: 25.8143 90020 - Porto Alegre - RS , Brasil

    IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL

    Sumrio

    Apresentao ... .. . . . . ... ........ .. .. .. .. . ... .. . 7

    Prefcio . .. . ..... .. ... .. ..... .. . .... . .. ...... . . 18

    Conferncias:

    I Perfonnativos e Constatativos .. . ..... .. .. .. ......... 2 1

    11 Condies para Perfonnativos Felizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

    III Infelicidades: Desacertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

    IV Infelicidades: Maus usos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

    V Clitrios Possveis de Perfonnativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . S7

    VI Performativos Explcitos ...... ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

    VII Verbos Perfonnativos Explcitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

    VIII Atos Locucionrios, Ilocucionrios e Perlocucionrios . . . . . . 8

    IX Distino entre Atos Ilocucionrios e Perlocucion rios . . . . . 95

    X "Ao dizer ... " versus "Por dizer ... " .. . . . . . . . . . . . . . . . .. 10

    XI Declaraes, Performativos e Fora Ilocucionria .... ... " I I 1

    XII Classes de Fora Ilocucionria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1

    Apndice ....... . . .. .. . .. . ....... .... .......... 133

  • Apresentao

    A FILOSOFIA DA LINGUAGEM DE J. L. AUSTIN

    Danilo Marcondes de Souza Filho

    Esta apresentao no pretende ser uma sntese do pensamento fJlos6fico de Austin em geral, ou mesmo das idias desenvolvidas na presente obra em particular, j que seria impossvel superar, em rigor e conciso, a apresentao do pr6prio autor. Meu objetivo , antes, situar a teoria dos atos de fala dentro da chamada "virada lingstica", caracterstica de grande parte da atividade fJlosfica de nosso sculo, bem como traar o percurso desta teoria, desde sua gnese - em sua motivao fJlosfica inicial, explicitando os elementos fundamentais do mtodo proposto e empregado por Austin - at as teses por ele defendidas na presente obra.

    O projeto fJlosfico da teoria dos atos de fala, tal como foi inicialmente proposto por Austin, insere-se na tradio britnica da fJlosofia analtica, inaugurada por G. E. Moore, B. Russell e L. Wittgenstein nas primeiras dcadas de nosso sculo. Nesse momento, a fJlosofia analtica surge como uma dupla reao s correntes de pensamento fJlosfico ento dominantes na GrBretanha ao fmal do sculo passado: o idealismo absoluto de F. H. Bradley e T. H. Green e o empirismo, influenciado sobretudo por J. S. Mil!. Bradley e Green, dentre outros, sustentavam no s a identificao da realidade com a totalidade, mas tambm a necessidade de a conscincia reconhecer-se como parte do Absoluto. J o empirismo psicologista e subjetivista reduzia a realidade experincia psicolgica do sujeito emprico. A fJlosofia analtica, em seus primrdios, com Moore e Russell, vai partir de uma concepo realista, mantendo que a principal tarefa da fIlosofia realizar um processo de clari-

    Quando dizer fazer 7

  • ficao ou elucidao dos elementos centrais de nossa experincia. Esto "Iucidao se d no atravs de um mtodo especulativo ou introspectivo, mas mediante a anlise da fonna lgica das sentenas em que nosso conhecimento, crenas e opinies sobre o real se expressam e nossa experincia se articula.

    A questo central da investigao filosfica passa a ser ento: como pode uma sentena ter significado? A problemtica da conscincia d, assim, lugar problemtica da linguagem, e o conceito de representao, ponto central da tradio anterior, substitudo pelo conceito de significado.

    Podemos, portanto, considerar que dentro da corrente analtica, que ento se inaugura, a tarefa filosfica se desdobra nas duas seguintes atividades: por um lado, analisar a sentena, buscando estabelecer sua fonna lgica e seus elementos constitutivos; por outro, reinvestigar os problemas filosficos tradicionais em teoria do conhecimento, teoria da percepo, tica, etc. , atravs da anlise lingstica dos conceitos centrais destas reas e do uso dos mesmos na linguagem ordinria. Tal anlise visa obter um esclarecimento do sentido destes conceitos, estabelecendo novas distines, explicitando articu laes at ento no reconhecidas, elucidando obscuridades, etc. Ambas' as prticas encontram-se em Russell e Moore, os iniciadores da filosofia analtica na tradio britnica.

    A primeira tarefa a que acima nos referimos d origem ao que se pode chamar, em um sentido estrito, de filosofia da linguagem: uma teoria filos -!\

    fica sobre a natureza e estrutura da linguagem, examinando noes como tenno e proposio, sentido e referncia, nomes prprios e predicativos, verdade, etc., que viro a ser os conceitos-chave desta teoria da linguagem.

    A segunda tarefa da filosofia ser desenvolvida pela corrente conhecida por vezes como filosofia da linguagem ordinria, filosofia lingstica ou, ainda, Escola de Oxford. Austin pode ser considerado um dos principais representantes desta tendncia. Muitos de seus mais importantes trabalhos como A Pleafor Excuses, Other Minds, Three Ways of SpiLling Tnk e Sense and Sensibilia se caracterizam por suas discusses, de grande sutileza e penetrao, de certos problemas centrais da tradio ftlosfica, como responsabilidade e ao, percepo e conhecimento, etc. Todas estas discusses so desenvolvidas atravs do mtodo que acima denominamos anlise filosfica da linguagem ordinria, que Austin julgava ser capaz de clarificar e desmistificar estes problemas tradicionais, situando-os em um plano menos abstrato, genrico e fonnal e, por conseguinte, tomando possvel uma anlise e com-

    K J . l.. AI/stin

    prcensi\o destes pr.oblemas sem recurso u I)lcssupustos IIlcluJ CSlcOS lrudiclo nais que, inevitavelmente, gerariam n.ov.os probJemos e n.ovas discusscs.

    Para ilustrar o mtodo de anlise austinno bastaria aqui reconstruirmo sua elucidao de um problema dos mais importantes da tica, a questo da responsabilidade que decorre de uma ao. Esta anlise encontra-se no qu talvez seu trabalho mais elaborado no gnero, A Pleafor Excuses. Pelo procedimento que Austin estabelece, em lugar de partir de noes abstratas oriundas de uma teoria tica ou de conceitos muito amplos como responsabilidade, ao , vontade, etc. , toma como ponto de partida a anlise de advrbios como "voluntariamente", "deliberadamente" , "acidentalmente", " inadvertidamente" e outros congneres, exatamente por serem, enquanto advrbios, palavras que qualificam ou determinam o tenno "ao" . E a razo de assim proceder radica-se no fato de as condies de possibilidade de emprego destes tennos revelarem as circunstncias que permitem ao falante uslos para justificar, desculpar ou eximir-se da responsabilidade de seu ato.

    Neste tipo de anlise encontramos o genne de uma de suas concepes mais originais, desenvolvida no presente livro, segundo a qual. "minha palavra meu penhor" , o que faz com que se considere o ato de fala, a interao comunicativa propriamente dita, como tendo um carter contratual ou de compromisso entre partes.

    Nesta sua anlise, Austin recorre a uma srie de exemplos tirados no s da prtica cotidiana do uso lingstico, como tambm de processos criminais em que algum foi ou no responsabilizado por uma ao, e ainda de situaes imaginrias e fictcias. O mtodo de Austin revela, pelo recurso a exemplos, seu interesse pelas regras de uso da linguagem, pelo que se pode ou no dizer, enfim pela "gramtica" . A finalidade da anlise no , est claro, emprica. O recurso a exemplos, reais ou imaginrios, apenas uma fonna de tomar a reflexo mais concreta, mais precisa, mais prxima de nossa experincia de falantes, apoiando-se no carter intersubjetivo da linguagem e assim fazendo com que suas concluses tenham a ver mais diretamente com nosso universo de discurso e nossa prtica cotidiana.

    Assim, todo problema filosfico fica sistematicamente restrito a um "campo semntico" bem delimitado, no contexto do qual o uso de certas expresses deve ser examinado, levando-se em conta quando, como, por que e por quem determinadas expresses podem ser usadas e outras no. Em ftmo deste procedimento elaboram-se distines ou aproximaes e estabelecem-se as caractersticas bsicas de possibilidade de seu uso, que fornecem os elementos para a determinao do significado e conseqentemente para o esclarecimento ou elucidao