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QUANDO A CRÔNICA FLORESCE

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Chanceler

Dom Dadeus Grings

Reitor Norberto Francisco Rauch

Vice-Reitor Joaquim Clotet

Conselho Editorial: Antoninho Muza Naime

Antonio Mario Pascual Bianchi Délcia Enricone

Helena Noronha Cury Jayme Paviani

Jussara Maria Rosa Mendes Luiz Antônio de Assis Brasil e Silva

Marília Gerhardt de Oliveira Mirian Oliveira

Urbano Zilles (presidente)

Diretor da EDIPUCRS: Antoninho Muza Naime

Ir. Elvo Clemente

QUANDO A CRÔNICA FLORESCE

Porto Alegre, 2004.

© EDIPUCRS 1ª. Edição: 2004

Capa: José Fernando Fagundes de Azevedo Preparação de originais:

Eurico Saldanha de Lemos Revisão de normas:

Anaí Zubik Camargo de Souza Revisão: do autor

Editoração e composição: Print Line Artes Gráficas Ltda.

Impressão e acabamento:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C626q Clemente, Elvo, Irmão Quando a crônica floresce / Ir. Elvo Clemente. – Porto

Alegre: EDIPUCRS, 2004. 218 p.

ISBN 85–7430–497–2 1. Crônicas Rio-Grandenses. 2. Literatura Rio- Grandense I. Título. CDD 869.9987

Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Processamento Técnico da BC-PUCRS

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem

autorização expressa da Editora.

EDIPUCRS Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 33

Caixa Postal 1429 90619-900 – PORTO ALEGRE – RS

BRASIL FONE/FAX: (51)3320-3523 E-mail: [email protected]

www.pucrs.br/edipucrs

SUMÁRIO

TESTEMUNHO DE FÉ E HUMANISMO – Luiz Antônio de Assis Brasil ............. 9 CAMBIANTES DA CRÔNICA

O que é escrever bem?.................................................................................. 14 Crônica Versus Conto .................................................................................... 15 A crônica desafia o tempo.............................................................................. 16 O que é CRÔNICA ......................................................................................... 17 CRÔNICA RÓSEA (105 Anos)....................................................................... 18 A vida da Crônica ........................................................................................... 19 Literatura & Literacia ...................................................................................... 20 Professores de Espanhol? ............................................................................. 22 Falar espanhol por quê? ................................................................................ 23 Treze línguas na Itália? .................................................................................. 24 Língua Japonesa – 40 anos........................................................................... 25

CRÔNICA E CULTURA Quando floresce a cultura .............................................................................. 28 Como anda a cultura? .................................................................................... 29 O vaivém das culturas.................................................................................... 30 O Despertar da Cultura .................................................................................. 31 Rádio e Cultura .............................................................................................. 33 Por que o Conselho Estadual de Cultura?..................................................... 35 Mais cultura nos municípios! .......................................................................... 36 A Cultura nos municípios ............................................................................... 37 Os diálogos da Cultura................................................................................... 39 O Tempo e a Cultura...................................................................................... 40 Vocação dos jornais ....................................................................................... 42 Som potente e amigo ..................................................................................... 43 Lições dos velhos periódicos ......................................................................... 44 E a Escola Arte do Livro?............................................................................... 46 O elogio do livro ............................................................................................. 47 Florescem os Museus .................................................................................... 48 Instituto Histórico e Geográfico ...................................................................... 50

CULTURA E HUMANISMO LATINO Cultura e Nacionalidade ................................................................................. 53 Globalização e humanismo latino .................................................................. 54 Brasil Latino.................................................................................................... 57 Os Caminhos do Humanismo ........................................................................ 58 Humanismo Latino ......................................................................................... 59

PORTUGUÊS: ALÉM DOS MARES, ESCRITORES DE ÁFRICA Cultivo e culto da Língua................................................................................ 63

Preservar a Língua Portuguesa ..................................................................... 64 Língua precisa de Lei? ................................................................................... 65 Eça de Queirós e a língua portuguesa........................................................... 68 Domínio do Português.................................................................................... 70 Polêmicas da Língua...................................................................................... 71 Poesia Portuguesa ......................................................................................... 72 Andanças do Português ................................................................................. 74 Ibéria Luso-Brasileira ..................................................................................... 76 Escritores de África ........................................................................................ 78 Moçambique e Mia Couto .............................................................................. 80 José Craveirinha ............................................................................................ 82 Timor Leste – o que será? ............................................................................. 84

ACADEMIA E ESCRITORES DO RIO GRANDE DO SUL Academia ano 2000! ...................................................................................... 87 Academia prepara Antologia .......................................................................... 88 Vida da Academia .......................................................................................... 89 Três notáveis Centenários ............................................................................. 90 Ivo Caggiani.................................................................................................... 94 O Silêncio do Guerreiro.................................................................................. 95 O Poeta de Quaraí ......................................................................................... 97 Semana de Língua Portuguesa?.................................................................. 100 Santo Amaro – QG de Chico Pedro............................................................. 101 Carlos Dante de Moraes .............................................................................. 102 Lobo da Costa: 150 anos. ............................................................................ 103 Lobo da Costa: sesqüincentenário............................................................... 106 10º Concurso Literário Mansueto Bernardi .................................................. 107 90 Anos nas Letras ...................................................................................... 108 Quatro Centenários ...................................................................................... 109

UNIVERSIDADE, HISTÓRIA, MESTRES E IDÉIAS

Donde veio a PUCRS?................................................................................. 112 70 anos de Economia................................................................................... 113 60 Anos: Letras e Filosofia........................................................................... 114 São 30 anos de História ............................................................................... 115 30 Anos de Geriatria e Gerontologia............................................................ 117 Mestre e Magistrado..................................................................................... 119 Celso Pedro Luft........................................................................................... 120 Centenário do Mestre de gerações.............................................................. 122 Professores eméritos ................................................................................... 123 Vinte e cinco anos depois ............................................................................ 124 Egito Antigo .................................................................................................. 125 Editoras Universitárias ................................................................................. 127 Editora Universitária ..................................................................................... 128 Que universidade é esta? ............................................................................ 129

Universidade: Novos caminhos?.................................................................. 132 Universidade em mudança........................................................................... 134 Para onde vai a Educação? ......................................................................... 136 Universidade renovada ................................................................................ 138

NA TRILHA DE MARCELINO CHAMPAGNAT Champagnat – O Educador.......................................................................... 141 Champagnat: além do horizonte .................................................................. 142 Um coração sem fronteiras .......................................................................... 144 O que é ser humilde? ................................................................................... 146 Centenário Marista ....................................................................................... 147 Aqueles moços!............................................................................................ 148 A longa viagem centenária........................................................................... 150 Donde vieram os Irmãos Maristas ............................................................... 151 Maristas, III Século!?.................................................................................... 152 A grande reforma ......................................................................................... 154 A Vida do Irmão Pacômio............................................................................. 155 Irmão Faustino João..................................................................................... 157 Adeus ao Irmão Faustino João .................................................................... 159 Irmão Dionísio Fuertes Alvarez.................................................................... 163 O Misssionário Marista................................................................................. 164 Irmão Mainar Longhi .................................................................................... 165

CRÔNICA — VIDA E SENTIDO DO VIVER

Quem prepara o professor? ......................................................................... 168 “Queremos mais professores”...................................................................... 169 Flores, frutos, formaturas ............................................................................. 170 O lado positivo do idoso ............................................................................... 171 Como é belo o Rosário!................................................................................ 173 A vida é bela!................................................................................................ 174 O outro existe. E eu?.................................................................................... 175 Natal, Novo Milênio! ..................................................................................... 176 Natal, para quê?........................................................................................... 177 A coisa mais importante ............................................................................... 179 Novo Millennio ineunte ................................................................................. 181 L’osservatore Romano: 140 anos ................................................................ 182 A liberdade de servir .................................................................................... 184 Adesão a Jesus Cristo ................................................................................. 185 Como é belo viver! ....................................................................................... 187 O Tempo Voa... ............................................................................................ 188 A arte da oração........................................................................................... 189 MATEUS – Evangelista da Felicidade ......................................................... 190 Como são belos os pés................................................................................ 192 O Velho se faz Novo! ................................................................................... 193 Os 100 anos de Dom Vicente ...................................................................... 194

Meus mestres, meus alunos ........................................................................ 196 Paz para o século XXI.................................................................................. 197

TESTEMUNHO DE FÉ E HUMANISMO

Se é verdade — como queria Buffon — que o estilo é o homem, esse

mesmo homem se revela, em igual medida, pelos temas que escolhe.

O leitor agora tem em mãos um livro de crônicas, que trata de

diversos temas. É preciso levar em conta o conceito desse gênero: a palavra

vem de Kronos, tempo, mas não é apenas ao tempo que se refere. A crônica

dispersa-se por espaços, pessoas, circunstâncias, episódios, ideologias,

reflexões várias, significando a opinião de seu autor. E aí entramos na

questão temática.

O Irmão Elvo Clemente, professor, Doutor em Letras, pensador

educacional, escritor e religioso, só poderia escrever crônicas em

que pulsassem todas essas marcas pessoais que o distinguem entre

seus concidadãos.

Falemos do escritor. Elvo Clemente possui aquelas qualidades que

se esperam de um bom texto, mas uma dessas sobreleva. Refiro-me ao

rigor dos conceitos com que opera. Só a segurança conceitual é capaz de

dar articulação coerente às idéias. Idéias desarrazoadas determinam um

texto incompleto, contraditório, feito mais para confundir do que para

estabelecer um contato com seu leitor. Tal não é o caso deste livro. Em

nenhum momento você estará perdido. Operando com pensamentos nítidos,

as crônicas aqui reunidas primam pela solidez do que defendem ou atacam.

O Doutor em Letras e o professor estão presentes em textos que

tratam de dois aspectos que se completam: a linguagem e a reflexão

literária. Quanto à linguagem, temos em Elvo Clemente um defensor sem

tréguas do idioma de Camões. Não se deve pensar, contudo, em posições e

intocáveis. Como intelectual de nosso tempo, ele entende a língua pátria

como um ente em mutação, passível de ser enriquecida dia a dia,

eventualmente até com alguns estrangeirismos, de resto tão comuns em

9

nossa época informatizada; essa mutação, contudo, não se processa de

modo anárquico. Há um padrão que, desrespeitado, pode colocar em

jogo a própria noção de identidade nacional; sabe-se: a língua é o primacial

veículo identitário.

Quanto à literatura, os interesses do autor são amplos, circulando

pelo mundo da lusofonia portuguesa, brasileira e africana. Discute autores e

suas contribuições à cultura; não apenas os antigos, mas os atualíssimos,

cujas obras estão, ainda, in fieri. Desses depoimentos se abebera para

reflexões que vão para além do estritamente literário. Há momentos em que

o autor estabelece uma fusão de pensamentos de diversas ordens, como a

política e a cultura, e assim acontece no belo texto referente ao Timor, essa

pátria longínqua e tão perto pela língua que ali e pratica. O homme de lèttres

está presente, também, em seu lado associativo. Desde muito pertencente à

Academia Rio-Grandense de Letras, nela ocupando os maiores e relevantes

encargos, é um repositório vivo da instituição que, com as naturais

dificuldades das instituições brasileiras, vem reunindo, desde o século

anterior, pessoas representativas da intelectualidade gaúcha.

Ainda vemos o professor ao encontrarmos vários textos em que nos

fala de seu gênero predileto, a crônica, sobre a qual, ainda que brevemente,

dissemos algo acima. Intenta, e com sucesso, conceituá-la, separá-la do

conto, estabelecendo seu estatuto ontológico. Vemos, aí, o autor em sua

melhor forma, e eu diria que essas crônicas sobre a crônica são modelos

definitórios que deveriam ser seguidos pelas escolas.

O pensador educacional revela-se nos tantos textos em que a

formação dos jovens é dominante. Isso o faz até um historiador, que

acompanha com carinho insuperável aquela Universidade que é sua vida: a

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; nela obteve seu título

de Doutor, nela desenvolve sua atividade, nela sente-se bem; está sempre

atento seus colegas de magistério e ministério, destacando as biografias de

10

ilustres fundadores e mantenedores. Elvo Clemente e a PUCRS

estabelecem uma criativa simbiose, feita de produtivas trocas cotidianas. A

Universidade é, para ele — e também para nós — um solo sagrado, feito da

projeção de todas nossas esperanças e nosso saber.

Na base de todas essas reflexões e afetos, está o humanismo, que

Elvo Clemente traz entranhado na alma. Humanismo, para ele, não é uma

forma de ostentação e de apregoar as próprias virtudes; trata-se de um

sentimento que está presente nas linhas e entrelinhas deste livro, como uma

espécie de leitmotiv permanente e fundamentador dos seus argumentos.

Bem sabe ele que, em nosso mundo contemporâneo, os valores humanos

parecem sofrer uma espécie de irremediável atração pelo abismo, e não são

poucas as guerras e os martírios a comprová-lo. Para assumir a atitude

defensora do humanismo, é preciso ter coragem, pois é nadar contra a

correnteza e expor o rosto à injúria. Mas Elvo Clemente mostra que combate

o bom combate, lembrado do Apóstolo. E só o bom combate justifica uma

vida. Ao contrário de Paulo, porém, a carreira de Elvo Clemente está longe

de estar terminada. Sua luta irá muito mais à frente, para alegria de quem

tem o privilégio de com ele conviver.

A configuração do homem estaria incompleta se não falássemos no

ser religioso. Para ficar ainda nas palavras de Paulo, Elvo Clemente, em seu

combate, guardou a fé. É uma fé sem vacilações, sem instantes de dúvida,

aquela que pode, se quiser, remover as tantas montanhas que nos

aparecem a todo instante. Quase sempre suas crônicas terminam com uma

referência ao AMOR — que ele grafa assim, em maiúsculas, a evidenciar

esse sentimento que humaniza e dá finalidade à existência.

Tudo que dissemos acima são palavras que, em sua pobreza, não

conseguem dizer tudo sobre o Irmão Elvo Clemente que, nascido em sua

pequena e italiana Maróstica, escolheu o Brasil para dar um testemunho que

vai além daquele que se poderia esperar e desejar de um professor, de um

11

escritor, de um pedagogo: é, por todos os títulos, um testemunho de ardente

fé e visceral humanismo, cujos frutos estão aí, visíveis a quem queira vê-los.

E se pelos frutos se conhece a árvore, esta é larga e generosa.

Boa leitura.

Luiz Antonio de Assis Brasil

Doutor em Letras. Escritor

12

Cambiantes da Crônica

13

O que é escrever bem?

Em momentos de tranqüilidade recordam-se mestres da língua

Portuguesa recentemente falecidos tais como Gládstone Chaves Melo, em

7/12/2001. Recordo com saudade a sua vinda a Porto Alegre em julho de 1953,

homenageado pelos professores de nossa Universidade. Era vibrante a sua

palavra, agradável a sua maneira de dissertar sobre tema gramatical, histórico,

estilístico ou religioso. As palavras vinham-lhe com facilidade, as comparações

e as metáforas surgiam ao natural. Era mestre de bem escrever e de falar.

Alcançara essa habilidade graças a seus anos de diuturnos e perseverantes

leituras e estudos. Num belo texto em seu livro ENSAIO DE ESTILÍSTICA da

Língua Portuguesa se lê: “Falar ou escrever bem é escolher com justeza as

palavras, as construções, o ritmo. Para tanto, necessário é saber pensar e ter

gosto: esprit de géométrie e esprit de finesse, conforme dizia Blaise Pascal.

Trata-se de descobrir e exercitar, tomar consciência e formar o habitus, tarefa

da escola, da família, de cada um para si mesmo. Tarefa nobre e esquecida

hoje, quando já não se ensina a língua, não se forma o gosto e muito mais

grave se estimula a confusão mental e a subversão das hierarquias

nacionais”. Por isso mesmo é atualíssimo o estudo da Gramática e o estudo

da Estilística, como remédio a um mal crescente e avassalador.

Essas palavras eram publicadas em livro de 1975, o que se observa 28

anos depois? Onde está a leitura correta e gostosa em sala de aula e em casa?

Onde está a preparação da redação (descrição, narrativa ou dissertativa)?

Admiramo-nos de ver o Brasil entre os países de menor letramento em Língua

Portuguesa e em Matemática. As crianças, os adolescentes e os jovens não

são treinados a pensar, a refletir sobre pequenos textos, sobre pequenas

narrativas, pequenas fábulas. O pensar, o refletir não surgem espontaneamente

nos pequenos cérebros.

14

Vem-me à mente a lamentação do profeta Jeremias: “A terra de meu

povo está desolada porque não há quem medite, quem saiba pensar..” Como é

que formaremos um povo pensante se ninguém se preocupa em formar os

pequenos? Prezados colegas, não desanimemos, juntemos forças, embora

pequenas, são sempre forças para salvar os adolescentes e jovens que estão

em salas de aula. Pelo bom exercício da fala e da escrita em língua vernácula

podemos formar as pessoas que falam e escrevem corretamente e assim

saibam conduzir seus passos no bem, na virtude da verdadeira cidadania.

Correio do Povo, 1°/04/2003, p. 4, Opinião.

Crônica Versus Conto

Como é belo escrever crônicas! Às vezes, a gente não percebe a

diferença entre a CRÔNICA e o CONTO. Para cada gênero há um estilo, além

do estilo peculiar do escrevente.

A crônica conforme a tradição vem de velhos tempos em que o escriba

anotava as ações do soberano ou do chefe de uma comunidade. As crônicas

ficaram célebres, até apareceram cronicões. A etimologia liga a crônica ao

KRONOS, deus do tempo, porque os relatos estavam jungidos à temporalidade.

Modernamente, na época romântica, a ligação com o tempo foi-se adelgaçando,

em certas circunstâncias, desaparecendo. Surgiu a crônica de fatos temporais ou

de circunstâncias espaciais e sociais. Fazer crônica tornou-se ação lúdica das

palavras, das figuras e dos tropos literários. Em todo o texto que se diz crônica

deve ter o sabor do belo, o jogo da novidade e o encanto da surpresa.

Conto é o relato de um acontecimento real ou fictício em que o

protagonista é o ser humano. Em todo conto há as peripécias, um conflito entre

as partes com o resultado feliz ou indesejado, sempre inesperado. O conflito

torna-se a característica do relato, que joga com atitudes ou soluções opostas.

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O sabor dos opostos dá ao conto o granum salis que lhe confere o sabor

palatável, prenúncio de prazer estético. Saber retratar a personagem ou

personagens, saber conduzir a narrativa com elegância e beleza, são medidas

para se obter um belo e agradável conto. A literatura espanhola mantém para o

conto a denominação de narrativa corta, para o romance narrativa larga.

Como é belo e inteligente iniciar os adolescentes desde o ensino

fundamental na arte da leitura, na arte de sentir, de usufruir o gozo literário

que faz pulsar o coração juvenil no ritmo das frases e na surpresa das

expressões, densas do belo que traduz o AMOR.

Correio do Povo especial, 8/12/2002, capa, VII Concurso CIPEL e A

Platéia., 1°/12/2002, Santana do Livramento, p. 6, Opinião.

A crônica desafia o tempo

A crônica nasceu naquela tarde maravilhosa em que o venerando

ancião, sentado ao lado do jovem cheio de esperanças e de porvir, começou a

relatar velhos fatos enrustidos em sua memória. Recordava as manhãs

ensolaradas cheias de primavera, lembrava os dias sombrios carregados de

nevascas e de tempestades, mostrava com as pupilas cansadas as tardes onde

tantos sóis haviam mergulhado no oceano escuro do olvido. Aquela mão

trêmula recolhia as últimas palavras para relançar a esperança de novas

manhãs e de dias promissores nos páramos das planícies de Hur da longínqua

Caldéia. Agora, atravessado o deserto, iluminado pelos sinais divinos do monte

Sinai, a terra prometida era a nova e risonha conquista. E a grande crônica dos

livros sagrados, sob o nome de Pentateuco, que se ilumina e cria vida eterna

com o Evangelho.

16

É a crônica da caminhada do povo de Deus desde as planícies dos rios

Tigre e Eufrates até às escarpas alcantiladas das geografias hodiernas em

suores, lágrimas e cânticos de alegria.

A vida continua entre guerras e perseguições, entre Kosovo e Timor Leste,

entre reuniões dos sete potentados do mundo atual; entre as parlendas de Norte e

Sul; nos conluios da União Européia ou das divergências e convergências do

Mercosul. É a crônica das grandes e mesquinhas civilizações que se amarguram

no azáfama em busca do azinhavre que se amealha tinto de sangue de tantas

gerações sacrificadas. É a crônica entretecida pelo ouro da caridade e pelos fios

tênues e imorredouros da esperança.

A crônica atravessa os séculos vibrátil, fugaz, ora ingênua ou matreira,

sempre espelhando a face mais escondida que se tenciona revelar. É o jogo

ligeiro, sério ou brincalhão de quem deseja partilhar com outros o que lhe vai

inquieto no recôndito mais profundo do ser. Texto literário que jogou com todos

os recursos da linguagem sem jamais esgotar-lhe a profundeza.

Correio do Povo Especial, 05/12/1999, p. Central.

O que é CRÔNICA

Está sendo famoso e muito procurado o concurso de crônicas

CIPEL/CORREIO DO POVO como se pode notar nos últimos anos. O que é

Crônica? A crônica é um gênero literário menor que exige conhecimentos e

habilidades tais como: gosto de escrever, versatilidade, jogo no uso das figuras

de pensamento e de retórica. O tema pode estar ligado a tempo (KRONOS) ou

a alguma idéia, fato da existência ou circunstância histórica.

Escolhido o tema é pôr-se a escrever com o propósito de alcançar

determinado efeito nos possíveis leitores ou ouvintes (se a crônica for transmitida

pelo rádio). O objetivo não necessita ser de ordem moral ou educativa, importa

17

que o jogo da escrita culmine num produto belo e agradável, pois a arte literária

procura realizar o belo pela palavra.

Sacudido o torpor do cansaço gera-se a vida da crônica. Deslizam-se

os dedos no teclado do computador ou a mão vai conduzindo a caneta Bic a

pulsar do coração e nos vôos minúsculos da imaginação. As linhas vão

crescendo no papel ou na telinha, são pulsações de vida, pequenos lampejos

de luz e suspiros de esperança. O tecido da crônica vai-se cerzindo na urdidura

das palavras buscadas e apropriadas ao segmento desejado. Uma

circunstância, uma palavra, um diálogo, um solilóquio tudo é possível acontecer

até que o tecido, texto inconsútil esteja pronto, mereça as flores das metáforas

ou dos adjetivos requeridos pelos vocábulos o entrevero de idéias e de

sentimentos. Construir uma crônica é um pequeno ensaio de vida, é ensaiar

novos caminhos do viver até o coroamento do derradeiro ponto ou suspiro.

Tudo pronto, tudo revisado, tudo revivendo aquelas vicissitudes ou

circunstâncias eis a bela crônica, retrato ou miniatura de uma existência que se

quer bela risonha e iluminada daquela luz que conheceu a grande Aurora e não

conhecerá jamais Tramonto.

Correio do Povo Especial, 05/12/2001, VI Concurso CIPEL.

CRÔNICA RÓSEA (105 Anos)

Já passaram 105 anos desdeo dia 1° de outubro de 1895... Há pouco

findavam as lutas fatricidas e o Rio Grande voltava a pensar suas feridas e a

chorar seus mortos.

Nova vida perpassava naquela primavera com o farfalhar de folhas

róseas do jornal de Caldas Júnior. O Correio do Povo assistiu os funerais do

discutido e monumental político Júlio de Castilhos. Transmitira em suas colunas

outras pugnas sangrentas de 1923, as aventuras da Coluna Prestes. O triunfo

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espetacular da Revolução de 1930 em que os populares partindo da Avenida

Independência dominaram os quartéis, tudo teve registro no Correio do Povo.

Outras revoltas e agitações tiveram a cobertura fidedigna pelos repórteres de

Caldas Júnior.

São 105 anos de memórias, relíquias de história, de vida social, de

artigos de grandes poetas e escritores, de ensaios de estudiosos, de crônicas,

de editoriais

Tudo pulsa e revive sob os olhares do investigador que abre uma

página do Correio do Povo. Quanta matéria primorosa a ser pesquisada sobre a

vida da Província, de Porto Alegre, do Brasil e do mundo nas páginas dormidas

sempre prontas a despertar para comunicar vida, entusiasmo e amor aos

devotados investigadores. Neste século de história e de documentação como

seria belo e apaixonante observar a evolução político-sócioeconômica de nossa

gente. Como seria instrutivo observar as mudanças de nossa língua

portuguesa, através dos artigos e textos dos escritores das décadas

pregressas. Tudo no Correio do Povo centenário e mais um lustro é merecedor

de estudo, de análise, tudo é objeto de amor e de admiração ao constatar como

é lindo e maravilhoso falar e escrever português.

Como é notável a sedução daquelas folhas róseas que atraíram tantos

curiosos amantes da poesia, da história e da vida...

Correio do Povo, 12/10/2000, p. 4, Opinião.

A vida da Crônica

O pequeno gênero literário — CRÔNICA — alimenta-se de pequenos

episódios do cotidiano da pessoa ou da sociedade em que vivemos. Qualquer

fato, idéia, encontro, desencontro, efeméride, pode ser embrião de uma crônica.

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Daquele primeiro momento em que uma luzinha mexeu no íntimo do escritor, a

crônica começa a desenvolver-se, a estruturar-se, a viver. De repente está

pronta na telinha do computador ou colorindo o branco do papel. Depois poderá

ser lida entre amigos, numa roda de chimarrão, na tertúlia ou em reunião

literária. Aí percebe-se a vida da crônica, às vezes, alegre, outras vezes,

solitária, ou relegada ao olvido. Simples, despretensiosa vive a sua vida até que

alguém a leia e a transforme em nova vida. A leitura dá ao texto literário a

verdadeira razão de existir. Aquelas frases que o escritor transformou em

colorido mosaico pela leitura adquirem brilho, tomam força e se energizam, se

expressam em mensagem, capaz de gerar alegria, fé, esperança e amor.

Como é bela a vocação da crônica, em sua humildade vive a vida

oculta do grão deitado ao solo que ao calor e com umidade vai germinando.

Morto adquire a vida para dar nova vida àquele que o recebe. Igual acontece

com a crônica silente e solitária, definha na dormência de papéis esquecidos

até que a luz de um olhar amigo e carinhoso a tome para si para dar-lhe

nova vida repleta de esperança e de amor.

Igaçaba, 11/12/2000, Mundo da Cultura.

Literatura & Literacia

O jornal de Letras de Lisboa (17 a 30 de abril) nos traz a proposta de

renovação da capacidade de desempenho do aluno-Literacia — para as letras,

para as ciências, para a matemática, pela prática da Literatura. A Literatura é a

resposta para a reintegração dos valores da Humanidade. É um eco que ressoa

através dos séculos. O grande tribuno romano Cícero já afirmara há dois mil

anos —Humaniores litterae (as letras nos fazem mais humanos).

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O projeto Literatura & Literacia é coordenado pela profª Maria do

Carmo Vieira, na Escola Secundária Marquês de Pombal, em Lisboa. Para

ela o texto literário é um dos grandes suportes a que se devem aliar outras

artes como a música ou a pintura, levando os alunos desde tenra idade, a

percorrer um caminho em que a afetividade e a convivência com a Arte

lhes possibilite o gesto criativo de bem viver consigo próprios e com os

outros. A Literatura é o caminho para tornar as crianças, os adolescentes e

jovens mais humanos para serem adultos responsáveis capazes de

preparar uma sociedade melhor, um mundo mais habitável, mas vivível

sem violências, O projeto Literatura e Literacia começou pelas mãos de

Conceição Rolo, professora que apostou no sistema pedagógico francês,

método Freinet. O método pretende fazer dos alunos pessoas conscientes

e responsáveis que lutarão por um mundo sem guerra, sem racismo ou

qualquer outra forma de discriminação ou exploração do homem. A Bíblia é

o grande livro presente nos primeiros e nos demais passos do método. As

figuras dos profetas, dos homens que conduziram o povo sob a inspiração

de Deus — Moisés e tantos outros. Tudo culminando para nós cristãos na

figura de Jesus Cristo.

Existem iniciativas entre nós, como o CELIN (Centro de referência

para o desenvolvimento da linguagem) na Faculdade de Letras da PUCRS.

Há professoras que preparam atividades lingüísticas e literárias para grupos

de alunos e de professores com o objetivo de realizar a educação plena no

ensino fundamental e secundário através da leitura de obras literárias.

Entusiasmam-se as crianças pelos contadores de histórias, passando a

novas fases da leitura criativa confirmando: a literatura é o caminho.

Correio do Povo, 26/04/2002, p. 4, Opinião e A Platéia, 12/05/2002,

p. 6 Opinião.

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Professores de Espanhol?

Estamos vivendo dias de grandes decisões no ensino superior do

Brasil. Os acontecimentos do MERCOSUL levam a pensar mais longe da linha

do horizonte. Existe o projeto de Lei, aprovado pela Câmara Federal, em

tramitação no Senado, que tornará o Espanhol, uma segunda língua obrigatória

no ensino médio. A revista VEJA, de 10/11/99, fala da necessidade de 200 mil

professores dentro de dez anos. A USP forma anualmente 50 professores de

Espanhol por ano. Nos cursos de Letras, em Porto Alegre, não chega a uma

centena de diplomados por ano. É tempo de despertar! Em muitos setores

dezenas e dezenas de pessoas conhecedoras da língua espanhola, sem a

formação adequada se improvisam de professores. Ainda bem quando sabem a

língua e trabalham honestamente. Por que é que os Cursos de Letras dormitam

em projetos tradicionais? O momento atual reclama currículos mais ágeis,

respostas mais objetivas às necessidades de emprego e de cultura.

Existem os cursos seqüenciais que vêm sendo implementados em tão

poucas universidades. Por que não faria uma experiência com o aprendizado de

língua e cultura espanhola na modalidade seqüencial? Formar-se-ia o

conhecedor de Espanhol, capaz de assumir vários empregos na vida de

empresas e em setores de administração pública, além de ser aproveitado para

o ensino da língua de Castela. A licenciatura em letras prepara para o exercício

do magistério quando o bacharelado tem um arco mais amplo de ofertas. Há

tantas possibilidades de melhores ofertas de estudo e de possíveis empregos

aos estudantes de Letras.

Por que não acontecem ofertas de oportunidades? O engessamento

dos currículos, o confinamento a uma interpretação estreita das normas

vigentes, acomodação ao modelo existente onde dominam os métodos e

definham conhecimentos. O editorial de “O Estado” de São Paulo de 2/11/99,

conclui: “E as universidades, sem descurar da qualidade do ensino tradicional,

22

podem adaptar-se às novas necessidades dos jovens e do mercado de

trabalho”. Urge escutar as vozes que clamam de situações novas, que exigem

que se repensem currículos, pré-requisitos e profissões, para que o novo

milênio possa sorrir na civilização do AMOR.

Correio do Povo, 10/11/1999, p. 4, Opinião.

Falar espanhol por quê?

Surpreendeu-me o amplo e primoroso artigo no JL/Educaçáo de 24 de

fevereiro, Lisboa 1999, escrito por Alexandra Veiga Pereira. O título

PORTUGAL — ESPANHA: APROXIMAÇÃO LINGUÍSTICA, subtítulo: Um

triunfo para o futuro. Há a descoberta mútua de Portugal e Espanha, colocando

no túmulo do passado a história de guerras, desavenças e temores.

O número de estudantes que assistem às aulas de espanhol, quer em

institutos particulares, quer em liceus, cresce de ano para ano. Em 1997/98

eram 1.000 matrículas, no ano letivo 1998/99, são 1.517. É preciso esclarecer

que o espanhol é disciplina optativa. Os alunos de espanhol já perceberam a

vantagem de saber falar a língua do país vizinho na Península Ibérica e a sua

força na Comunidade Européia...

O que acontece entre nós? Os estudantes da licenciatura em língua e

cultura espanholas são poucos, e pouco informados sobre o futuro próximo do

ensino do espanhol em todo o território nacional.

As escolas da Província de Buenos Aires, que somam a metade do

ensino secundário da Argentina ensinam Português por determinação de

uma lei provincial.

Dentro do MERCOSUL deve haver a paridade de currículos e de

idiomas ensinados. O fascínio do inglês não deve afastar a busca do estudo do

23

espanhol e da cultura hispano-americana. Algumas faculdades de letras do

interior do Rio Grande, a URI por exemplo, despertam para essa realidade.

Alguns meses atrás uma revista de âmbito nacional estimava a

necessidade imediata de 10 mil professores de espanhol para atenderem às

escolas do Brasil de maneira simples e modesta. A remuneração dos

professores das redes públicas de ensino será tão forte para inibir tantas e tão

excelentes vocações destinadas a ensinar a outra língua da Ibéria, realizando

com isso um grande passo na realização da verdadeira civilização do AMOR.

A Platéia, 13/04/1999, p. 4, Opinião.

Treze línguas na Itália?

Os 125 anos da imigração italiana no Rio Grande nos levam a pensar e

a escrever sobre coisas da Itália. Importância especial tem a língua do povo.

Surpreendeu-me o artigo na revista Trevisani nel mondo de março 2000: Doze

línguas reconhecidas pelo Estado, além do italiano. Sabíamos da existência de

500 dialetos, falados na Península, agora deparamos com 13 línguas: albanês,

falado por 100 mil; catalão, falado por 20 mil; o alemão, por 280 mil; o

grecânico, por 12 mil; o esloveno, por 100 mil; o croato, por 2 mil; o franco-

provençal, por 85 mil; o friulano, por 600 mil; o ladino, por 40 mil; o ocitano, por

50 mil; e o sardo por um milhão. São os idiomas de outras tantas comunidades

étnicas que, com a lei aprovada recentemente pelo Senado, terão a

oportunidade de usar quer na escola, quer nos atos públicos oficiais a língua da

respectiva comunidade étnica. Os pais poderão solicitar que os filhos sejam

instruídos na prática de sua língua. Nas aulas maternais, o sardo, o friulano, o

ocitano e o grecano, como outro idioma das minorias podem ser ensinados.

24

Nos cursos elementares ou secundários as referidas línguas podem ser

usadas como atividades educativas. Nas universidades o ensino dessas línguas

poderá ser parte dos currículos dos cursos de letras. Esta lei lingüística tão

liberal levará os municípios e regiões a tomarem outras decisões quanto aos

nomes de ruas ou de lugares que devem aparecer em língua italiana e na

língua da respectiva comunidade. Faltaria nesta sinfonia lingüística o dialeto

vêneto de grande abrangência e de grande variedade, por isso mesmo não foi

aprovado como língua das importantes e prósperas comunidades do Trivêneto.

De certo, dentro de pouco tempo, poderá ser aprovado o idioma desta região

como a 13ª língua além do italiano.

A Itália dá por esse gesto o exemplo ousado de multicultura. Os alunos

nessas regiões mantêm a ligação com as raízes culturais de um passado

longínquo e ao mesmo tempo vivem a força da modernidade na conquista de

uma terceira língua para dialogar com os países do mundo. Tudo é cultura, tudo

colabora para a civilização do amor.

Correio do Povo, 29/05/2000, p. 4, Opinião.

Língua Japonesa — 40 anos

A década de 1960 notabilizou-se por numerosos cursos livres de

línguas. O Ir. José Otão incentivava o surgimento de cursos de extensão. Era a

Universidade conquistando e sendo conquistada pela comunidade. No dia 2 de

abril de 1960, inaugurava-se o Curso Prático de Língua Russa, ministrado por

Sioma Breitman. Em 1961 o Dr. Sérgio Zukov continuava com sucesso o curso

de russo, a partir de 20 de março. No dia 13 de março de 1961 começava o

Curso de Português para estrangeiros ministrado pela Profª Mercedes

Marchand. No dia 4 de abril era instalado o Curso de Língua Hebraica,

25

conduzido pelo Rabino Dr. Eliahu R. Kandel. No dia 18 de abril abria-se, com

solenidade o curso de Japonês, ministrado por Alfredo Yamachita. Em 1962

continuou sob a direção do Frater Brand, missionário jesuíta no Oriente. No dia

14 de abril o Reitor Ir. José Otão assinou importante convênio com o Diretor do

Instituto de Cultura Hispânica de Madrid, Dr. Blas Piñar, para incentivar os

estudos de Língua e Cultura Espanholas.

O estudo das línguas teve grande incremento, até falou-se de curso

de chinês. O japonês atraiu numeroso alunado. Em 1965, Paulo Gick

formado na PUCRS, iniciou o Curso de Japonês na UFRGS. Depois vieram

os cursos na UNISINOS.

Criou-se, o Centro de Cultura japonesa amparado pela PUCRS pela

pessoa extraordinária do Irmão Liberato, com amplo espaço no prédio 8.

A força do cultivo da língua e da cultura do Japão está no união forte e

produtiva do Japão com a PUCRS nas grandes realizações do Instituto de

Geriatria e Gerontologia. O Investimento milenar realizado pela J.l.C.A no referido

programa para a saúde dos idosos, pelos excelentes serviços do Consulado

Geral e pela força irradiadora do espírito apostólico de Yukio Moriguchi.

Nessa conjugação de forças, de ideais e de espírito está o segredo da

continuidade dos cursos de língua e cultura e a parceria para as realizações

técnico-científicas para o bem da pessoa humana.

Correio do Povo, 30/07/2001, p. 4, Opinião e A Platéia, 02/08/2001, Opinião.

26

Crônica e Cultura

27

Quando floresce a cultura

Ao término do ano, é o momento de os semeadores contemplarem o

campo coberto de searas ondulantes, onde as paveias replenas sorriem

contemplando o azul do céu. Após dois anos de aplicação da Lei de Incentivos

à Cultura, em que houve, de início, dificuldades de compreensão e de aplicação

de alguns dispositivos, pode-se hoje contemplar a magnífica colheita de eventos

e de ações culturais.

O Rio Grande do Sul, antes da LIC, tinha manifestações tímidas,

embora constantes, nos diversos ângulos e âmbitos da cultura. A partir do

conhecimento da nova lei, aconteceu um estremecer de vida nos diversos

redutos onde a cultura era vivida como sangue da cidadania.

Houve grandes projetos: a I Bienal do Mercosul; a recuperação do

Correio antigo para transformá-lo em Memorial: e o projeto da construção da

sede da Fospa. Houve numerosos pequenos e médios projetos em grandes

cidades e cidades pequenas em todos os quadrantes do solo rio-grandense.

Os conselheiros, impelidos pela soma crescente de projetos, dobraram seu

trabalho e sua dedicação em prol da análise, do exame, da discussão e

votação de pareceres redigidos com prudência, com um olho no texto legal e

outro olho na importância da ação cultural.

Nos horários semanais dedicados ao CEC, os conselheiros foram

apreciando a soma de 600 projetos culturais, onde são contemplados eventos

de teatro, de cinema, de dança, de Carnaval, de campeirada, de orquestras

clássicas, de rock ou de autores tradicionais, de Natal, de confecção de livros,

de CDs, etc. Não houve manifestação artística que fosse esquecida pelos

empreendedores artísticos ou pela criteriosa análise dos conselheiros. Ao

contemplar a seara loira e madura da LIC, digo com o poeta:

28

Bendita a terra onde tudo cresce.

Onde mais cresce é o amor!

Correio do Povo, 31/12/1998 e 01.01.1999, p. 4, Opinião e A Platéia,

05/01/1999, p. 4, Opinião.

Como anda a cultura?

O Conselho Estadual de Cultura havia planejado recesso para o mês de

fevereiro, porém não aconteceu, a fim de sintonizar as atividades e as ações

com o governo eleito em outubro de 1998. Com a sabedoria que rege as

pessoas cultas, houve entendimento no aparar das possíveis arestas. O diálogo

respeitoso sempre esteve presente entre o secretário Luiz Pilla Vares e o

presidente do CEC, Roque Jacoby. Fez-se enorme progresso no

aperfeiçoamento do processo seletivo na apresentação dos projetos. O trabalho

foi realmente hercúleo, correspondido pela boa vontade dos 12 conselheiros

eleitos e dos seis nomeados pelo governador Olivio Dutra, em janeiro. No

esforço concentrado venceram-se as classificações e priorizações dos

projetos apresentados em 1998, ainda numerosos, mais de uma centena.

Durante o mês de maio, a Secretaria da Cultura encaminhou para a nova

modalidade de análise e classificação 160 projetos.

Em 40 dias de trabalho intensivo nas reuniões das câmaras técnicas e

no plenário, os projetos eram avaliados sob o nome de recomendados ou não à

avaliação coletiva. Todos os conselheiros, com boa vontade, abraçaram a árdua

tarefa. Nos últimos 15 dias de junho, eram três a quatro tardes dedicadas aos

projetos. No dia 30 de junho, realizou-se a grande reunião da seleção

coletiva. Durante horas, poliram-se orçamentos, aprovando ou reprovando

29

projetos. Em 1° de julho, foi entregue à Sedac o relatório dos 160 processos,

devidamente avaliados.

Ao descortinar o panorama de tantos projetos, vê-se como o Rio

Grande floresce em atividades culturais no campo da música clássica, moderna

ou tradicionalista; das artes plásticas; da produção de espetáculos de dança

com os coloridos das etnias que formam o nobre povo sul-riograndense; do

patrimônio físico e cultural preservado e recuperado; das letras com suas

manifestações em livros ou em recitais no campo e na cidade. Há esforços

humildes, cheios de fé e de poesia, como há feitos majestosos de grandes

apresentações. A variedade de projetos faz a beleza e a afirmação das

iniciativas de nossa gente, amparadas pela Lei de Incentivo à Cultura.

Correio do Povo, 09/07/1999, p. 4, Opinião.

O vaivém das culturas

Ao tecer loas a mais um 14 de julho, lembramos toda uma civilização

que vem se projetando há 210 anos. Desde o reinado dos Luíses de França, a

cultura das Gálias se espalhava por todos os quadrantes do globo: Graças à

intervenção de Luís XVI as 13 colônias inglesas adquiriram a Independência a

partir de 4 de julho de 1776 ... Tudo isso valeu a quebradeira dos cofres

franceses e o surgimento da Revolução de 1789 na França e no mundo. As

revoluções que espocaram por toda a parte na Europa: Espanha, Itália,

Alemanha e sobretudo na América todas tinham sotaque cultural francês. O

século XIX, século das luzes, filho do Iluminismo, tinha o domínio de Paris, na

língua, nos costumes e na cultura. A França pretendeu civilizar o mundo com a

língua, com a esplêndida literatura de Jean Jacques Rousseau a Zolá ou a

Flaubert. Os livros franceses, os poetas, os filósofos eram recitados, discutidos

30

nas cortes de Viena, de Berlim, de São Petersburgo, e nas capitais americanas:

Buenos Aires, Santiago, Rio de Janeiro, Assunção e Bogotá.

Quando encontramos, maravilhados, as bibliotecas de Theodemiro

Tostes, de Eloy José da Rocha, de Moysés Vellinho vemos a quantidade

dominadora de Literatura, de Filosofia, de Direito, de Medicina, tudo em Língua

Francesa. Foram três séculos do domínio da cultura de França que findariam na

alvorada sangrenta de 3 de agosto de 1914. A 1ª Grande Guerra mudou a face

cultural do mundo e começou o alastramento lingüístico anglo-saxônico. Os

U.S.A. ao entrarem no conflito europeu em 1916 jogavam uma cartada decisiva,

respondendo de maneira ingrata o gesto de Luís XVI no ocaso do século XVIII.

Os vencedores de 1918 e sobretudo de 1945 foram os Americanos do Norte. O

que mudou nestes 80 anos?! É inacreditável que tudo isso acontecesse em

apenas oito décadas. O século iniciara a sua caminhada na descoberta do

motor a explosão. Marinetti cantaria a conquista da velocidade, tudo iria tão

rápido, tão veloz até o avião a jato ou supersônico. Os três séculos de domínio

cultural da Língua Francesa em pouco mais de meio século seriam substituídos

pelo domínio da Língua Inglesa, rearticulada no sotaque ianque.

Oxalá possa toda essa força cultural se transformar em bem para a

pessoa, para a sociedade, em preparação da civilização do Amor, cujos albores

se prenunciam com a vinda do TERCEIRO MILÊNIO!...

Jornal Minuano, 07/08/1999, Bagé p. 5, Caderno de Cultura.

O Despertar da Cultura

Ao contemplar no mapa do Rio Grande do Sul os pontos que designam

cidades, vê-se a sinalização de ERECHIM, ainda há os que escrevem EREXIM.

Aqui a ortografia pouco importa. Vale o desenvolvimento cultural do povo e da

31

região. Entende-se por CULTURA o desenvolvimento harmônico das

potencialidades de uma pessoa, de um grupo de pessoas ou de uma cidade ou

região. É um crescimento pessoal, espiritual, intelectual, social e político.

Poderá, outrossim, traduzir-se em manifestações do folclore ou de outras ações

quer sociais, quer políticas ou científicas e literárias e filosóficas.

Erechim situada no planalto médio, em seus oitenta anos de existência

viveu muitas mudanças, atraiu etnias diferentes, adotou modelos vários, sabe

ser diferente para ser nova. O comércio local é aberto às novas idéias e a novos

modelos para servir melhor a população citadina e de toda a região.

Entre as pessoas líderes destaca-se Jaci José Delazeri, cujos antepassados

emigraram da Lombardia, de Mântua para Garibaldi, e daquele município para Paiol

Grande na década de 1920.

Jaci é um dos Quatro J que mais movimentam a indústria e comércio da

região. Começou muito pequeno, livraria, onde junto com livros havia papelaria

e outros objetos. Pequena tipografia. Mais adiante ampliou a gráfica, passou

para pequena editora para finalmente surgir a EDELBRA indústria gráfica e

editora Ltda. A visita àquelas instalações moderníssimas deixa a gente de

queixo caído. No interior do Estado tamanha indústria gráfica e editora com

projeção nacional e com projetos além fronteiras?! O parque gráfico é o que há

de mais moderno no Sul e na América Latina, ocupa amplos espaços no Distrito

Industrial. A EDELBRA edita obras encomendadas por grandes editoras do Rio

e São Paulo, de Buenos Aires e alhures. Jaci José sempre atento vai em busca

do que há de melhor entre as novidades dos Estados Unidos, da Alemanha, da

Itália, da França. Ultimamente realizou nova edição em 12 volumes dos

SERMÕES do P. ANTÔNIO VIEIRA, de acordo com a edição de 1679, revisada

e corrigida por Frederico Ozanam Pessoa de Barros, supervisão do P. Antônio

Charbel S.D.B, supervisão técnica do Prof.ª Della Nina e introdução geral do

prof. Luiz Felipe Baêta Neves. A obra monumental terá seu lançamento em

março na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

32

A Universidade de Erechim está desenvolvendo o Parque

Tecnológico de modo espetacular para as práticas, experiências e

pesquisas científicas, em vasto terreno perto da Capela São Carlos.

Outro trabalho, fruto da força de Delazeri o PÓLO CULTURAL,

monumental edifício dedicado à cultura das etnias que povoaram os 150

municípios da região. Além do palácio central do Pólo haverá quatro casas uma

para cada etnia, ou seja: alemã, italiana, polonesa e judaíca. O pólo cultural é

algo de fenomenal que incita a todos os municípios a desenvolver sua cultura.

Muita responsabilidade coube ao Conselho Estadual de Cultura na direção dos

trabalhos e na consecução das verbas através da Lei de Incentivo à Cultura. A

inauguração do PÓLO CULTURAL no dia 11 de novembro de 2001 é uma

página de glória e de motivação para novos e audaciosos lançamentos em prol

da cultura pessoal, social, espiritual, intelectual e artística do povo brasileiro que

aposta positivamente nos valores da iniciativa de pessoas e de grupos sociais,

como Jaci José Delazeri e da comunidade de Erechim.

Diário da Manhã, 9 e 10/02/2002, Erechim p. 7, Geral.

Rádio e Cultura

Falar em rádio torna-se sinônimo de cultura, entendida como

aperfeiçoamento pessoal ou social. Desde os experimentos de nosso

concidão Padre Roberto Landell de Moura, em fins do século XIX, e de

Guilherme Marconi, na Itália como evoluiu o rádio a serviço da cultura! O

invento, o aperfeiçoamento e a evolução do rádio foram e são frutos da

cultura para gerar mais cultura. Entre nós as experiências bem-sucedidas

estabeleceram as rádios Gaúcha, Farroupilha e centenas de outras.

33

Em 1957, o jornalista da Folha da Tarde, Arlindo Pasqualini, coadjuvado

por Breno Caldas, da Empresa Caldas Júnior, inaugurou moderna e potente

emissora no dia 30 de abril. Nestes 44 anos de constante e ininterrupta

irradiação cultural a Rádio Guaíba vem-se notabilizando nos céus do Rio

Grande e do universo. Pelos estúdios passaram figuras notáveis, paladinas do

bem e da cultura, pessoas que fizeram e fazem do jornalismo e do rádio os

veículos seguros que levam a cultura aos ouvidos e aos corações.

Os aumentos da força da emissora de centenas de quilovates

prolongam e jogam aos confins do planeta as mensagens, as vozes, as

músicas, as notícias densas de cultura e de esperanças. FM ou AM se

conjugam numa expressão redentora e de amor em suas músicas, nos

noticiosos, nas transmissões esportivas (especialmente do futebol), nos avisos

de utilidade pública. Tudo é vida, tudo é cultura. O rádio não desaparece com

os novos inventos eletrônicos e internets, mantém-se vivo, forte e atuante.

Veio para ficar, toma novas formas, mas está sempre presente, nas horas

festivas com suas músicas, nas entrevistas e debates, nas conferências...

Nas horas de solidão e de insônias a voz do rádio está presente para

distrair, para consolar o coração aflito ou amparar um grito que clama por

ajuda. A vida cultural de uma pessoa, de uma comunidade, de uma

sociedade se alimenta, se amplia graças às mensagens que as ondas

hertzianas lhe fazem chegar ao ouvido aflito ou ansioso. Bendito seja o rádio

que semeia a mãos cheias tanta cultura e notícias que fazem pulsar o

coração com mais calma, mais ordem, mais amor!

Correio do Povo, 30/04/2001, p. 4, Opinião.

34

Por que o Conselho Estadual de Cultura?

O Conselho Estadual de Cultura teve sua criação no Rio Grande do Sul

pelo Decreto n° 19.911 de agosto de 1968. Até 1989 teve diversas

modificações, alcançando a sua maioridade pelo artigo 225 da Constituição

Estadual. O CEC visando à gestão democrática da política cultural, tem as

funções de: I- estabelecer diretrizes e prioridades para o desenvolvimento

cultural do Estado; II- fiscalizar a execução dos projetos culturais e aplicação de

recursos; emitir pareceres sobre questões técnico-culturais.

Atualmente o CEC é regido pela Lei n° 11.289 de 23/12/1998 e pelo

Regimento Interno de 20/08/1998.

A Constituição estabelece a vida e as responsabilidades do CEC, com

12 membros eleitos pelos segmentos culturais e seis nomeados pelo

Governador do Estado. Nos últimos oito anos o CEC desenvolveu atividades

importantes, entre elas destaca-se a Lei de Incentivo à Cultura que tantos

benefícios trouxe à vida cultural do Rio Grande do Sul. Quem olhar como

funcionava a Cultura no início da década de 1990 e como funciona, hoje,

notará as diferenças em número e em qualidade dos eventos culturais. Mais

de mil projetos foram examinados e uma centena de eventos teve sua

realização graças à lei de incentivos culturais.

Aos poucos a sociedade rio-grandense vai compreendendo e

usufruindo os efeitos sadios das decisões e orientações do CEC.

O diploma legal vai-se aperfeiçoando graças aos estudos e reflexões

dos conselheiros procedentes dos segmentos culturais. Nos próximos dias

haverá eleições para dois representantes de cada um dos seis segmentos

culturais. É oportuno alertar para a escolha séria dos candidatos

representantes dos segmentos culturais. Acontecerá por força da legislação

vigente uma renovação de conselheiros para o novo quatriênio que iniciará

em janeiro de 2002 a 2005. A reforma da Lei apareceu na Assembléia com

35

atraso, não conseguindo vencer democraticamente o processo eleitoral

iniciado nos primeiros dias de novembro. Para que o novo CEC esteja de

conformidade com os anseios e com os objetivos culturais das associações,

das comunidades é necessária uma sábia conscientização dos componentes

dos segmentos culturais. Vale a pena pensar nos futuros orientadores da

política cultural de nosso Rio Grande para termos uma cultura mais digna e

mais de acordo com a alma gaúcha.

Jornal do Comércio, 10/12/2001, p. 4, Opinião.

Mais cultura nos municípios!

O que entendemos por cultura? É o desenvolvimento harmonioso de

todo o ser humano, de toda a pessoa, bem como de qualquer grupo social a

começar pela família, comunidade religiosa, civil, política, etc. Na cultura

humanista deve-se levar em conta os elementos de instrução, de religião, de

socialidade, de política.

A cultura da pessoa inicia na família, ou antes da família se constituir,

com os futuros pais da criança. Depois vem a ação cultural da Igreja, da escola

e do meio social em que vive.

Muito importante é formar a criança, adolescente, o futuro cidadão a

conviver culturalmente com os outros. Aí surge a prática das virtudes

cívicas. Na igreja, na assembléia dos fiéis nos dias dedicados ao Senhor e

em outras circunstâncias a criança, adolescente, jovem é educado na prática

das virtudes religiosas, a começar pelas virtudes teologais Fé, Esperança

e Caridade que proporcionam o relacionamento filial da criatura com o

Criador, Deus-Pai.

36

Na prática das virtudes humanas que preparam, que qualificam a

vida de relação com as outras pessoas, está a relação da pessoa, com os

conterrâneos com os munícipes, com os cidadãos.

Aí as autoridades constituídas devem zelar junto das diferentes

comunidades para o desenvolvimento cultural através das belas-artes: letras,

música, teatro, cinema e outros. A Secretaria de Educação e Cultura do

Município envidará esforços para criar o Conselho Municipal da Cultura que vai

cuidar da tradição e do desenvolvimento cultural da comuna. A SMEC por sua

vez cuidará dos projetos culturais do governo municipal, A cultura no município

andará bem se houver harmonia entre a SMEC e o Conselho Municipal de

Cultura: Uma força propulsora de um programa de governo, outra força

permanente de planejamento e de fiscalização para manter a lídima cultura de

um povo. Agindo assim haverá mais cultura nos municípios!

Jornal Igaçaba, 7/04/2001, Roque Gonzáles/RS, n° 47, No mundo

da Cultura.

A Cultura nos municípios

O trabalho do Conselho Estadual de Cultura é reconhecido por

muitos prefeitos, secretários de educação e cultura. A FAMURS, quarta-

feira, dia 21 de fevereiro, fez um contato oficial com a direção do Conselho

Estadual de Cultura, Foi muito interessante e importante o diálogo surgido

entre as mensageiras da Federação das Associações Municipais e a

Câmara diretiva do Conselho. Os municípios querem ter conselhos de

cultura, querem compreender melhor a Lei dos Incentivos, querem, numa

palavra, ser mais eficientes em seus movimentos e ações culturais. O

Conselho, desde 1992, vem-se firmando em sua missão de difundir e de

37

preservar os bens culturais do Rio Grande do Sul. Os conselhos municipais

de cultura terão uma função específica de estimular os movimentos e as

ações culturais, em especial, de estabelecer os programas culturais da

comuna. A FAMURS solicitou a colaboração do CEC e de seus membros na

implantação dos conselhos municipais. Significativo número de conselheiros

aderiu ao plano de colaboração CEC — FAMURS. Formou- se, de imediato,

uma comissão especial.

Nas próximas semanas começam a agir os conselheiros e os

representantes da FAMURS. Do esforço conjunto surgirão novos horizontes

para a Cultura no Rio Grande do Sul. Nunca é demais unir ações, idéias e

planos de todas as forças vivas do município e do estado. Ao se tratar da

cultura ninguém pode ficar do lado de fora, todos devem contribuir com a

sua boa vontade, com suas forças, com suas luzes. Tudo em harmonia em

amplo e sereno diálogo entre o Conselho municipal de cultura e a respectiva

Secretaria de Cultura e Educação, com o Conselho Estadual. Todos com o

grande objetivo: propiciar ao Estado um organismo válido, ágil e eficiente

nas ações culturais e desenvolvimento da cultura das pessoas e das

comunidades locais e regionais.

Os problemas da Cultura têm solução pelo diálogo franco, sincero e

objetivo entre os organismos constituídos por lei federal, estadual ou

municipal. Averdadeira democracia é feita de colaboração, de diálogo e de

mútua ajuda deixando de lado os interesses pessoais, partidários ou

ideológicos. Realizar a verdadeira cultura é elevar o cidadão em sua

dignidade, em sua vocação de filho predileto de Deus.

Correio do Povo, 14/03/2001, p. 4, Opinião.

38

Os diálogos da Cultura

Hoje, fala-se muito de diálogo em todos os setores da vida sociocultural

do país, do estado e do planeta. Diálogo é o espaço reservado a cada

interlocutor para expor a sua posição sobre o tema ou sobre o problema em

questão. No diálogo não há vencidos nem vencedores apesar da arrogância de

nossa civilização competitiva.

Existe diálogo constante entre a Secretaria do Estado e o Conselho

Estadual de Cultura. Ambos cuidam da Cultura dentro de suas

competências. A Secretaria procura aviar os atos culturais dos programas do

Governo do Estado, o Conselho estabelece, fiscaliza e orienta a Cultura no

âmbito do Estado, numa visão perene e mais abrangente. O diálogo propicia

a harmonia e no respeito das competências de cada organismo e de cada

pessoa responsável por algum setor. O Conselho Estadual de Cultura em

seu surgimento em 1968 e depois em sua reestruturação em 1991 até hoje

tem estimulado a verdadeira vocação cultural do Rio Grande.

Desde que entrou em vigor a Lei de Incentivo à Cultura, o Conselho não

teve mais sossego pela exigência de atendimento dos exames dos projetos,

culturais oriundos de todos os quadrantes do Estado. Nestes últimos cinco anos

aconteceu um despertar cultural maravilhoso em todos os segmentos culturais:

eventos musicais, teatros, exposições de artes plásticas, feiras de livros,

festivais campeiros. Todas as expressões da cultura têm a sua vez e voz no

Conselho Estadual de Cultura. Por vezes, as belas intenções de um projeto

relevante não têm sua melhor apresentação no Projeto objetivo e consistente. A

análise dos projetos é feita sobre papéis que, às vezes, escamoteiam os belos

propósitos. Há, sem dúvida, grande progresso na apresentação, na análise e na

discussão dos projetos quer pelos produtores culturais quer pelos componentes

das câmaras técnicas.

39

No último trimestre do ano 2000 foram aprovados projetos num total

prioritário de R$ 13.988.934,26; tendo havido a solicitação de R$ 43.368.623,94. Os

projetos destinados à Capital tiveram 28% e os do interior 72% da verba disponível.

Em todo o ano 2000 foi aprovado o total prioritário de R$ 34.411,58. Para

chegar a esse resultado final foi necessário realizar a análise de 836 projetos, lidos,

discutidos por 15 Conselheiros, pois, não foi completado, por razões várias, o

número de 18 conselheiros determinado pela lei.

Nota-se o trabalho denodado dos Conselheiros cada qual examinando na

média 56 projetos nos 12 meses.

A harmonia existente entre os membros do Conselho facilita a discussão e

a solução dos problemas que surgem no exame dos projetos dentro dos segmentos

culturais específicos. O que importa é o avanço da cultura.

O que vale é o diálogo dos estratos culturais e das pessoas envolvidas

para o progresso, expansão e otimização das expressões da cultura em todos os

pontos do Rio Grande do Sul, caleidoscópio de etnias e de culturas.

Jornal da Semana, 25/08/2001, p. 4, Artigos.

O Tempo e a Cultura

Frederico Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, autor do super-

homem, aos 26 anos iniciou suas aulas na Universidade de Basiléia, onde

lecionou por dez anos. Gostava muito de Filologia com o seu mestre

Frederico Ritschl. Entre os seus livros destacam-se: Aurora, A gaia ciência,

Assim falou Zarathustra, o Anticristo. Em janeiro de 1889 teve um ataque de

loucura que o manteve até a morte. O estranho filósofo tinha idéias

interessantes sobre o tempo e a cultura. Recomendava a leitura lenta,

meditada que produz cultura. Admirava a Filologia, chamada de arte

40

venerável que exige de seu admirador antes de tudo uma coisa: afastar-se,

dar-se tempo, tornar-se silencioso, tornar-se lento, como um conhecimento

de ourives aplicado à palavra que tem de fazer seu trabalho fino e cuidadoso

e nada alcança se não alcança lentamente.

É precisamente nisso que ela é hoje mais necessária do que nunca, é

justamente nisso que ela nos atrai e nos encanta no mais alto grau, numa

época de pressa, de indecente e suada velocidade que quer acabar logo com

tudo e também com todos os livros velhos e novos.

Isso o filósofo escreveu em 1881, 120 anos atrás; ainda não

aparecera Marinetti com as loucuras futuristas... O que diria, hoje, o autor de

A gaia ciência?

Como vai a nossa pressa em ler, em passar por cima dos textos com

o dedo traçando diagonais? Em nossos dias de vertiginosa pressa em tudo o

que fazemos, nada se sedimenta, pouco ou nada contribui para nos cultivar.

Cultura é o fruto de leituras calmas, meditadas, tranqüilas... Onde fica a

cultura pessoal: crescimento na reflexão, na meditação e sobretudo na

contemplação? A nossa época marcada pelo frenesi não coopera para a

cultura intelectual, artística ou espiritual. A fugacidade do tempo não é

avaliada sob o olhar da eternidade. Joga-se o tempo, maior fortuna que

Deus nos dá em cada dia gota-a-gota, que jogamos fora de nós aos

baldes... Esquecemos que seremos julgados sobre o AMOR com que

aproveitamos o tempo para louvar a Deus, como a Virgem Maria fazia,

naquela morada de Nazaré, onde 30 anos preparavam os três de

Jesus Cristo!...

Correio do Povo, 25/10/2002, p. 4, Opinião e Igaçaba, 11/2002, Roque

Gonzáles/RS, p. 8, Cultura.

41

Vocação dos jornais

Ao considerar a história da imprensa em Porto Alegre e no Rio

Grande vemos como os jornais presentes nos momentos de lutas, de

revolução, de novos empreendimentos e de manifestações de novos ideais.

O Jornal tem uma vocação insubstituível, nem o rádio, nem a televisão, nem

a lnternet podem superar.

Quantos escritores, poetas e filósofos começaram a apresentar suas

idéias, seus sonhos, seus poemas nas páginas dos jornais.

Os jornais mais procurados foram e são os que trazem a informação de

modo simples e conciso, sem detalhes óbvios ou conhecidos.

Julián Marías, em o Estado de São Paulo, 3 de janeiro de 1999, tem

uma assertiva lúcida: “A primeira condição de um jornal é a veracidade, não se

pode permitir a falsidade, a tergiversão, a distorção por meio de títulos

tendenciosos confiando em que, às vezes, essa é a única parte que se lê.”

A frase parece o eco àquela afirmação do Papa João XXIII, aos jornalistas,

em Roma, em 1961: “Mai Tradir La Verità”.

O problema sério dos jornais coloca-se na visão ética da empresa e na

consciência ética do jornalista diante da liberdade de expressão.

A liberdade que não respeita a verdade deteriora-se em libertinagem.

Outro elemento importante para escrever em jornal é preciso saber escrever. O

conhecimento da língua vernácula é imprescindível, é base de comunicação

clara e objetiva. Recordam-se jornalistas inquestionáveis e brilhantes pelo

usado correto, estilístico da língua.

Existe o lado literário do estilo jornalístico que se manifesta presente

nos artigos, nos editoriais, nos noticiosos e nas entrevistas.

Os jornais superam a força fugaz do rádio e da televisão pela força da

continuidade. Voltando a Julián Marías, o nonagenário filósofo espanhol, cita: “A

42

formação da opinião, a possibilidade que as múltiplas opiniões particulares se

convertem em opinião pública, é conseqüência, em parte decisiva, dos jornais”.

A cultura dos povos e o destino político dos países depende em

altíssimo grau da existência dos jornais dignos de apreço, inteligentes,

decentes, atraentes.

Ao passar o olhar pelos jornais de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul,

vemos uma pleiade de jornais: diários, semanários, quinzenários, todos

procurando transmitir o seu modo de ver a cultura, a política e a economia do

Estado, da capital e do Brasil. Quantos desses jornais podem ser considerados

fiéis mensageiros da veracidade no relato dos fatos, na serenidade do

julgamento dos acontecimentos sociais e políticos, na avaliação condigna da

pessoa e dos grupos sociais no momento histórico que se vive?

A Platéia, 16/01/1999, p. 4, Opinião.

Som potente e amigo

No dia 30 de abril de 1957, na voz vibrante e decidida de Arlindo

Bortoluzzi Pasqualini, começou oficialmente a vibrar nas ondas hertzianas o

som potente e amigo da Rádio Guaíba. São 42 anos de ininterrupta ação

sonora através do Brasil e do mundo. Presente nos grandes momentos da

história humana, momentos de triunfos, de glórias ou em momentos de luta

e pranto: nas horas de lazer, de esporte, lá da Suécia ou do Japão ou das

cercanias de Porto Alegre, no mapa do Brasil e na geografia do Rio Grande

do Sul. O som potente e amigo levado em FM ou em AM chega aos ouvidos

de pessoas alegres, chega ao coração de gente aflita e desesperançada; a

todos a Rádio Guaíba leva a palavra, a voz que consola, colorida de um raio

de esperança... Prodígio extraordinário da mente do gaúcho padre Landell

43

de Moura ou do cientista italiano Guilherme Marconi, o Rádio nos cem anos

de história muito realizou.

O ser humano tem em si mesmo, como dizia o Santo Cura d’Ars —

João Maria Vianney: “A voz do anjo e a voz da fera”. A Rádio Guaíba, em

seu dever de transmitir, de irradiar, de anunciar, carrega em suas ondas

notícias alegres, alvissareiras, promissoras, como também relatos de fatos

desagradáveis e nefandos. Quem se propõe a manter a fidedignidade e a

credibilidade dos fatos deve levar ao conhecimento dos ouvintes a

veracidade objetiva das circunstâncias e dos protagonistas das ações boas

ou más. A alegria e a suavidade das horas de lazer musical intercalam-se

com a audiência, relatos de crimes, de violências.

A realidade humana e social está em suas grandezas ou em suas

mesquinhezas. Os dias de sol amenos e revitalizantes se intercalam com horas

e noites de tormentas, de cataclismos e desventuras. A tudo a Rádio Guaíba é

fiel, transmitindo a verdade dos fatos em seus noticiosos, nas entrevistas, nas

mesas redondas com o público, nas discussões das situações locais,

regionais, nacionais e internacionais. A Guaíba sempre foi e é paladina do

“bem informar” a fim de formar gerações mais humanas, mais afinadas com a

civilização do amor.

Correio do Povo, 30/04/1999, p. 4, Opinião.

Lições dos velhos periódicos

Nos dias 20 e 21 reúnem-se pesquisadores de vários estados

brasileiros no 1º Encontro Nacional de Pesquisadores em periódicos

literários. As dezenas de estudiosos percorrerão as etapas e os espaços

ocupados nos últimos 150 anos pela imprensa divulgadora das letras. É belo

observar como aquelas folhas desbotadas pelo tempo e vitoriosas das

44

intempéries criam nova vida pela leitura dos olhares investigadores. Antonio

Dimas, da USP apresentará, Periódicos em pesquisa: problemas e

perpectivas. As folhas amarelecidas criam vida nova como os ossos dos

esqueletos sobre os quais o profeta Ezequiel assoprava novo espírito.

Representantes universitários da Bahia mostrarão as revistas baianas

do início do século e na Revista Renascença. Maria Eunice Moreira,

coordenadora do Encontro apresentará uma história da literatura brasileira em

periódicos sul-rio-grandenses do século XIX. A Revista Niterói (1836) mostrará

sua modernidade pelas observações da Profª Maria Orlanda Pinassi, da

UNESP/Araraquara. Luiz Roberto Velloso Cairo da UNESP/ASSIS apresentará

memória e crítica literária nos periódicos brasileiros. Regina Zilberman, da

PUCRS discutirá no encerramento: periódicos literários e fontes primárias. Alice

T.C. Moreira mostrará a nova vida dos acervos literários.

Por que tanto empenho em retornar aos velhos jornais? Por que

retomar a leitura das páginas que são velhas no dia seguinte de sua

publicação? Os textos adormecidos durante anos, mesmo séculos falam muito

ao estudioso atual que vai perlustrando os caminhos de outrora para lançar

mais luz sobre as letras de hoje. A peregrinação do ser humano através das

gerações, apresenta aventuras, sobressaltos, avanços sempre, apesar de

aparecer sob as cores de derrotas. Que bela sabedoria surge lépida e faceira

das folhas guardadas em baús ou ataúdes prenhes de ressurreições. Os

esforços humanos, as mensagens artísticas, os ritmos de vetustos poemas,

brilham em luz inefável no pulsar constante da visão de forças redentoras. O

espírito não se aprisiona nas páginas dos periódicos, o espírito anseia para

vivificar outros destinos, para brilhar em outras manifestações de Beleza, de

Verdade e do Amor.

Correio do Povo, 22/08/2002 , p. 4, Opinião.

45

E a Escola Arte do Livro?

O nordestino Jayme Castro, professor de encadernação de livros, foi

bem acolhido pelo Instituto Parobé, instituição especializada em formar técnicos

em diversos misteres. O Professor Jayme tinha estilo artesanal bem particular

na formação de técnicos em encadernação. As suas aulas se desenvolveram

em técnicas e em número de alunos, por isso, adquiriu casa própria à rua da

República, criando então a Escola Arte do Livro. Em 15 de dezembro de 1955 o

governo do Estado adquiriu a Escola transformando-a em Escola Artesanal Arte

do Livro. Em 1968, aconteceu a compra do imóvel à rua Venâncio Aires, 559,

onde se encontra até hoje. Seria bonito percorrer todas as mudanças e os

benefícios da Escola neste meio século de existência. Quantas pessoas tiveram

a possibilidade de desenvolver suas habilidades artísticas na encadernação, na

douração, na recuperação de livros... Muitas bibliotecas públicas e particulares

tiveram seus livros encadernados, com capas artísticas, douradas e de variadas

cores. Aquilo que o prof. Jayme sonhara estava-se realizando: jovens, adultos e

gente de terceira idade, todos indo à escola para aprender e fazer

encadernação de livros e de documentos caros às famílias e úteis à sociedade.

A escola na direção da Profa Maria Terezinha Oliveira Santos, por mais de vinte

anos, desenvolvia os cursos: Iniciação à técnica; Encadernação comercial e

artística; Encadernação para excepcionais; Conservação de livros e bibliotecas;

Encadernação de livros, documentos, mapas e jornais; Douração de livros;

Aproveitamento de material de encadernação. Na reforma do ensino de 1970, a

Escola serviu para aulas práticas das primeiras séries do 1° grau. Era belo ver

aquelas crianças e adolescentes aprendendo encadernação, fazendo blocos,

realizando cadernetas artísticas. Nestes 30 anos a Escola despertou vocação

artística de alunos de escolas públicas da Capital. Como eram interessantes as

exposições em várias salas da Escola em que se podia apreciar os trabalhos de

alunos referentes à arte do livro, isto é, dar ao livro apresentação artística. Além

46

dos alunos regulares vindos das escolas estaduais, havia os cursos livres em

que pessoas adultas ou provectas em idade buscavam o entretenimento de

sua vocação artística ainda que serôdia. As várias disciplinas do curso

enriqueciam as opções dos alunos: encadernação, desenho, decoração

(várias técnicas), douração, restauração de livros e documentos e pintura de

papéis. Toda essa programação tradicional e tão apreciada pela sociedade

hodierna está sendo ameaçada de fechar as portas, como contribuição do

Estado à população. Como é que modalidades de ensino que beneficiam a

cidadania de repente, sem maiores explicações são suspensas? O despertar

dos valores artísticos e sua prática constitui a base da cultura de um povo que

busca o BEM, o BELO e a VERDADE!

Correio do Povo, 10/04/2002, p. 4, Opinião, Igaçaba, 04/2002, Roque

Gonzáles/RS, p. 4, Cultura e A Platéia, 04/04/2002, p. 6 Opinião.

O elogio do livro

Relembrando 23 de abril — Dia Internacional do Livro, vale prestar-

lhe homenagem com elogio. O eminente filósofo italiano/alemão Romano

Guardini escreveu o Elogio del libro, em 1951, fruto de uma conferência

realizada em 1948 no Colégio de Leibniz da Universidade de Tubinga.

Iniciou a conferência deste modo: “Vois amais o livro? Pois falarei apenas

àqueles que amam o livro. Para os outros as minhas palavras terão sentido

vago ou supérfluo”. A seguir começou a explicar: “Quem ama o livro, toma-o

na mão com sentimento de tranqüila familiaridade. Considera-o uma criatura

que ele tem em muito honra e respeito”. O elogio continua de modo poético:

“O amor ao livro pode ser expresso de outra maneira: quando alguém está

sentado em seu escritório, em silêncio, os livros nas prateleiras... Naquele

47

âmbito de solidão aqueles livros aparecem como seres vivos, cada qual fala

de seu modo ao amante dos livros ...” Estabelece-se o diálogo misto de

alegria e de saudades, os livros recordando o passado, traçando os

caminhos do presente e do porvir.

Para aquele que ama os livros, todos são belos, todos são sementeiras

de cultura, todos são púlpitos donde se ouvem as palavras de vida e de amor...

Perlustra o mundo dos clássicos, dos filósofos, dos líricos, dos romancistas, da

ficção, da história e da realidade. Em todas as bibliotecas aquele que ama o

livro encontra o livro por excelência — a BÍBLIA. Ouve as vozes remotas que

falam línguas estranhas da Caldéia, do Egito, do Sinai, de Jericó, até a

conquista plena de Jerusalém. A Bíblia, história do povo de Deus, história de

cada ser humano que andeja pelo deserto da existência em busca da Terra

prometida. Encontra, então, Aquele que mais amou, que deu a VIDA por seus

amigos, Jesus de Nazaré.

Ouve aquelas palavras que são daquele que tanto amou e traçou e

orienta o livro da vida de cada um, Aquele que disse e nos diz: Eu sou o

CAMINHO, a VERDADE e a VIDA.

Tudo isso meus amigos, vós que amais o livro, o LIVRO por excelência

nos confidencia nesta hora de festa e de amor.

Correio do Povo, 12/05/2000, p. 4, Opinião.

Florescem os Museus

Acaba de ser lançado o livro MUSEUS do Rio Grande do Sul,

organização de Aroldo Medina e Gilnei Bueno respectivamente capitão e

cabo da briosa Brigada Militar. É uma terceira edição, toda reformada e

preciosamente guarnecida de substanciosas informações históricas,

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antropológicas, científicas e tecnológicas. O historiador Osório Santana

Figueiredo escreve: “O museu é o templo da história dos povos. Ele guarda

no seu repositório a gênese, as raízes e o simbolismo dos acontecimentos

memoráveis das civilizações mais conhecidas e estudadas”(Prefácio).

Museu ampliou seu âmbito alargando-se para as ciências, para as

tecnologias, para as ciências naturais, físicas, matemáticas e eletrônicas.

Na origem das primeiras edições está a força inteligente do Major Helio

Moro Mariante, o apaixonado da história, das letras e das artes do povo rio-

grandense. Quantas iniciativas culturais tiveram seu começo entre os dedos

hábeis e criativos de Moro Mariante, simbiose perfeita de duas culturas

penisulares. Hoje, curtindo a solidão e o cinzento dos dias numa casa geriátrica.

A retomada do trabalho pelo major Paulo Rubens Brochado Filho deu origem à

obra publicada pela primeira vez em 1990. O seu amor à cultura reestruturou o

Museu da Brigada Militar, abriu-lhe as portas para novos avanços culturais, em

especial pela parceria com a PUCRS. Em 1992, aconteceu a Segunda edição

com o apoio da Livraria do Globo, obteve grande aceitação junto dos museus,

bibliotecas, universidades e centros culturais.

Agora o Capitão Aroldo Medina empreendeu tarefa mais

abrangente procurando em cada cidade do Rio Grande do Sul: museus,

etnológicos, históricos, genealógicos, geológicos, institucionais, militares,

de mineralogia, de oceanografia, de paleontologia, de polícia, de

tecnologia, de costumes, do carvão, da comunicação, do trabalho, do

transporte, do trem, de telecomunicações, de tradições e folclore, de

Zoobotânica e museus interativos.

É realmente maravilhoso percorrer as páginas do livro de Aroldo Medina

e Gilnei Bueno e ver a situação de cada um dos centros em que se preservam a

memória, a história, os exemplares de seres vivos e de seres minerais. O museu

é um livro aberto em que se lêem a história, as transformações da vida e dos

povos em todos os quadrantes do solo rio-grandense.

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Os autores dão uma bela lição de democracia, de estudos e de

investigações sérios de todos os museus e memoriais do Rio Grande do

Sul. Ao peregrinar pelas 312 páginas transporta-se o espírito do leitor em

todas as regiões e cidades de nosso Rio Grande, onde encontra idéias,

visões de um passado presente, força de andar ainda mais nas

interrogações do porvir. O Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS tem

lugar especial por ser a grande novidade no gênero, na América Latina,

onde milhares de visitantes se abeberam no dia-a-dia das novidades que o

desenvolvimento lhe coloca diante dos olhos.

Por isso bem hajam os jovens promissores autores de MUSEUS no

Rio Grande do Sul, pelos caminhos que colocam diante do caminheiro

sedento de luz e de porvir.

Jornal do Comércio, 05/10/2000, p. 4, Opinião.

Instituto Histórico e Geográfico

No dia 5 de agosto transcorreu o 80° aniversário da fundação do

Instituto Histórico e Geográfico do R.S., efeméride celebrada no dia 7 de agosto

com sessão solene presidida por Luiz Alberto Cibils. Sérgio da Costa Franco leu

esplêndida e saborosa crônica sobre a vida e as atividades do IHGRS.

No ato da fundação estavam presentes os cidadãos: Souza Docca

(diretor da sessão), Dr. Florêncio de Abreu e Silva, (aclamado presidente);

Mons. Luiz Mariano da Rocha, Padre Carlos Teschauer S. J.; Aquiles Porto

Alegre, Dr. Francisco Leonardo Truda, Amaro Batista, Eduardo Duarte, Padre J.

B. Hafkemayer S.J, Adroaldo Mesquita da Costa, Padre Roberto Landeli de

Moura e outras personalidades. Outros estados haviam-se adiantado na criação

do Instituto ligado à preservação da História e do meio ambiente. O grupo dos

fundadores, pessoas estudiosas e pesquisadoras não descansaram, deixaram

50

após si acervos de livros, de invenções que muito contribuíram e contribuem

para a cultura histórico-social e política. O IHGRS situado no belo prédio doado

pelo Governo do Estado, em seus três pisos, é verdadeira e fabulosa fortuna de

livros, revistas, documentos vários, obras de arte. Tudo está à disposição dos

pesquisadores de nosso Estado e de outros lugares do Brasil e do mundo.

Atualmente o IHB está à disposição na Internet. A partir de 1940, quando do

surgimento das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, a investigação

histórica e geográfica mudou muito. Abriram-se outras fontes, marcaram-se

outros métodos, ampliaram-se os horizontes. A biblioteca e os acervos do

IHGRS continuam aumentando, oferecendo mais oportunidades aos

investigadores. É belo observar os estudiosos que se encontram ao lado das

preciosas cacimbas donde brotam correntes de luz. Os 80 anos do Instituto são

um marco de vida e lançamento de novos desafios para ampliar os espaços,

para dispor de mais funcionários. A atual estrutura administrativa é

extremamente enxuta. Poder-se-Ia ampliar-lhe as oportunidades para que

houvesse investigadores e orientadores de pesquisa à disposição dos que vêm

buscar mais alimento para a sua verdadeira curiosidade de ciência e cultura. Os

80 anos do IHGRS são uma clarinada para despertar para os verdadeiros

valores da Historiografia e Geografia de nossa terra e de nossa gente.

Correio do Povo, 12/08/2000, p. 4, Opinião.

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Cultura e Humanismo Latino

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Cultura e Nacionalidade

A Semana da Pátria nos propicia saudáveis e positivas reflexões sobre

a Nacionalidade, sobre o cerne de nossa entidade nacional. Oportuno foi o

artigo de Sandra Cavalcanti, sob o título “A CNBB e a evangelização”. O que

aconteceu nestes cinco séculos no campo da cultura é algo de maravilhoso. As

quinas que tremulavam nos mastros das naves de Pedro Álvares Cabral

proclamavam a vontade daqueles navegadores intrépidos de “Dilatar a Fé e o

Império...”. Era de conquistar mais povos para o Reino de Cristo dentro do

modus vivendi da época.

A secretária especial da Secretaria da Prefeitura do Rio afirma:

“Infelizmente, ainda há grupos bastante atrasados, ignorantes mesmo, que se

empenham em julgar as façanhas dos descobridores pela ótica do mundo de

hoje, com países estruturados, com democracia e liberdade, com direitos

humanos definidos em lei e com relações internacionais cada dia mais claras.

Não se dão conta de que, por trás de toda aquela deslumbrante coragem, de

toda aquela louca audácia, existiam, além de grandes negócios lucrativos,

outros costumes e outras regras de conviver.”

A primeira missa realizada pelo franciscano Frei Henrique de Coimbra,

depois continuou vigorosa e fraterna a ação dos filhos de São Francisco. Em

1549, chegaram os jesuítas. Com os padres Nóbrega, Anchieta e outros,

implantaram vasto programa de cultura pela alfabetização, aprendizado da

língua tupi-guarani para catequizar o indígena. Através dessa inculturação,

como se diz hoje, os jesuítas e outros missionários transformaram aquelas

gentes nômades e dispersas em povos civilizados, fundamentos de nova

sociedade, da nova pátria que os lusitanos implementaram na Bahia, em São

Paulo e no Rio de Janeiro. A ação evangelizadora no sentido do século XVI ou

no século XXI não diverge muito: é lançar raios de luz ao viandante que se

esgueira entre sombras e escolhos na caminhada da existência. A Luz da

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evangelização que ilumina os olhos e desperta o coração para novas

caminhadas ao encontro de Deus, ao encontro da verdadeira Cultura de pessoa

e da sociedade.

O prof. Pedrinho Guareschi fez uma afirmação notável:

“Ideologia, a nova arma de dominação”. De fato, a meia-verdade

destilada pela ideologia vê todo esse esforço imenso de cultura e civilização como

simples e tirânico domínio da prepotência e da fúria das avarezas humanas que

destroçam vidas e nações. O Brasil que amanhecia em abril de 1500, que

proclamava-se independente, em 1822, o Brasil de quinhentos anos é a terra

maravilhosa, pátria amada de 160 milhões de almas que aspiram o bem, o belo e

o verdadeiro, vencendo as dificuldades e as arrogâncias dos imperialismos

egoístas dentro e fora das fronteiras pessoais, sociais, vislumbrando o amanhã do

novo milênio com mais esperança, com mais cultura, com mais amor.

Jornal do Comércio, 09/09/1999, p. 4, Opinião.

Globalização e humanismo latino

No mês de maio p.p. aconteceu em Nova lorque, importante Seminário

sobre o tema Globalização e humanismo latino, patrocinado pela Unione dei

Triveneti nel Mondo cuja sede é Treviso (Itália). Naquela reunião estiveram

presentes personalidades convidadas e especialistas do tema — HUMANISMO.

O Seminário concluiu longa série de reuniões acontecidas nos dois últimos

anos: em Treviso (Itália), São Paulo (Brasil), Tolosa (França), Constanta

(Romênia), Manila (Filipinas) e Cabo Verde África).

O objetivo desses seminários apoiados pela Fondazione Cassarnarca

de Treviso, é de estimular uma reflexão intercontinental sobre o papel e o

significado que o Humanismo latino, em suas manifestações de Romanidade,

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de Cristianismo, de Renascimento e de Latinidade Européia deve ter em

confronto objetivo e colaborativo com outras variedades de humanismos à

medida em que a sociedade vai-se globalizando.

O Seminário de Nova lorque, realizado na St John’s University, com a

participação de 150 pessoas de alta cultura e projeção em sua comunidade e

cem jovens, chamou a atenção sobre o fato que desde séculos o Humanismo

latino deu início e sustentação ao processo de globalização, sob forma diversa

e muito mais rica da contemporânea, baseada, sobretudo em princípios de

hegemonias políticas e de prioridades econômicas.

O Seminário pretendeu traçar a metodologia a seguir, onde iniciar o

processo de harmonização entre os diversos humanismos que hoje se

reclamam as culturas do mundo, do anglo-saxão ao islâmico, ao oriente

asiático, ao africano, ao eslavo, etc.

No encerramento do Seminário foi decisiva a intervenção do Prof. Rocco

Caporale, da St John’s University, culminando com as importantes conclusões do

Presidente da Fondazione Cassamarca, Dr. Senador Dino De Poli.

O grande filósofo tomista Octavio Nicolas Derisi, fundador da

Universidade Católica Argentina, conceitua o humanismo nestes termos:

“Desenvolvimento harmônico e hierárquico das diferentes partes do homem

culminando em sua vida espiritual — individual e social -, e como uma

modificação da natureza para melhor submetê-la ao serviço do homem, e

este, por sua vez submetido ao ser — verdade e bem — transcendente.

Semelhante humanismo ou aperfeiçoamento ontológico das coisas e do

homem está organizado pelo espírito humano, em escala hierárquica: das

coisas materiais e das partes inferiores do homem que servem à sua vida

espiritual e esta que por sua vez se submete e se nutre do ser — verdade,

bondade e beleza transcendente. Tal é o sentido ontocêntrico, de validade

absoluta deste humanismo.”

55

Modernamente ao lado de Derisi surgiram outros pensadores tomistas

tais como Emmanuel Mounier e Jacques Maritain, que serão o tema do próximo

seminário a ser celebrado nos dias 8, 9 e 10 de setembro em Bardolino

(Verona) perto do lago de Garda. O seminário destina-se especialmente aos

jovens, terá como participantes: Senador Dino De Poli, professora doutora

Eleonora Belluzzo que exporá o pensamento do personalismo comunitário de

Mounier; do Prof. Dr. Mario Gaetano Lombardo que apresentará o Humanismo

Integral de Jacques Maritain e do Prof. Padre Graziano Tesselo que

desenvolverá suas reflexões sobre as novas gerações de italianos fora da Itália.

O seminário de setembro dirigido especialmente aos jovens continuará

a desenvolver as grandes idéias sobre Globalização e Humanismo Latino.

Foram os jovens, participantes do Seminário de Nova lorque, que propuseram o

estudo dos grandes humanistas franceses da atualidade: Mounier e Maritain.

No centro de suas reflexões se encontra o homem e o seu papel na sociedade,

a pessoa “integral” e “comunitária”, numa visão que, diferente de ideologias

passadas e presentes concebe o homem, ou melhor, a pessoa na inegável

multiplicidade e complexidade de seus aspectos, excluindo conseqüências

prospectivas reducionistas e minimalistas. Vê-se a grande atualidade do

pensamento desses filósofos que pode prestar forte estímulo na solução dos

problemas que a globalização pode acarretar à comunidade internacional.

Propõe-se, portanto, o Humanismo latino como uma força antiga e sempre

renovada graças às constantes e grandes migrações em todo o mundo em que

italianos e descendentes de italianos procuram criar as novas gerações no

verdadeiro sentido humanístico e cristão.

Jornal do Comércio, 29/08/2000, p. 4, Opinião.

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Brasil Latino

Sucessivos estudos, reiteradas conferências, vários congressos sobre o

grande tema: A influência do humanismo latino na história e na cultura latino-

americana culminaram no Programa BRASIL LATINO. Nos anos de 1999 e

2000 aconteceram o Congresso Internacional sobre Globalização e Humanismo

Latino em Nova lorque; Humanismo e Cultura, em São Paulo. Os

pesquisadores presentes nos congressos sentiram a necessidade de dar maior

consistência cultural e científica aos temas e aos objetivos do Humanismo em

face da situação atual da humanidade, A Fundação Cassamarca sediada na

cidade de Treviso (Itália) sob a inteligente, perspicaz e humanística pessoa do

Onorevale Dino de Poli aprovou no dia 15 de novembro o financiamento das

atividades de pesquisa, ensino, tradução e edição de livros do Programa

BRASIL LATINO.

As atividades previstas sobre o humanismo Latino no Brasil

desenvolverse-ão nos âmbitos: Humanismo, cidadania e política; Migrações,

Humanismo latino e Territorialidade; o Humanismo latino para jovens

universitários e outras categorias sociais; Humanismo latino, globalização e os

sistemas de tributação; As fontes do pensamento humanista e o processo de

globalização; Humanismo latino na formação dos conglomerados produtivos;

Humanismo latino e cultura jurídica brasileira; O humanismo latino na produção

científica sobre imigração italiana; Globalização e humanismo na administração

da Saúde Pública; Humanismo latino, tempo livre e qualidade de vida;

Globalização, humanismo latino e estética. O Programa é colossal envolverá

direta e imediatamente 45 professores e 60 pesquisadores universitários de

instituições universitárias públicas e particulares nos Estados de São Paulo,

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O magno Programa BRASIL

LATINO foi proposto e coordenado pelo Prof. Dr. Arno DaI Ri da Università

Luigi Bocconi de Milão, e pelo Prof. Dr. Jayme Paviani da Pontifícia

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Universidade Católica do Rio Grande do Sul e da Universidade de Caxias do

Sul. A Fondazione Cassamarca colocou à disposição do Programa 1.450.000

dólares. É um momento de alta significância para o estudo e a investigação

em nossa terra sob os influxos do Programa Brasil Latino.

Correio do Povo, 06/12/2000, p. 4, Opinião.

Os Caminhos do Humanismo

São longos tortuosos e sofridos os caminhos do Humanismo, dos

primeiros indícios na misteriosa Índia, aos albores da Suméria, ao longo das

curvas do Rio Nilo, até o esplendor da arte, das letras e da Filosofia na

Hélade, em Roma. Quantos pensadores, quantas tentativas para definir a

vocação humana sobre a terra? Quantas perguntas marcaram os séculos

até a vinda da Luz plena, daquele que “sabia e sabe o que há no homem”.

O Papa João Paulo II, nos primeiros dias de maio repetiu a bordo de

possante aeronave o périplo de São Paulo pelo Oriente Médio, a começar pela

Grécia. Recorda-se neste tempo a frase do filósofo J. Burkhardt: “Vemos com

os olhos dos gregos e ainda falamos com as suas palavras”. A viagem do Papa

teve o sentido profundo do Pontífice (fazedor de ponte) unir os povos, enlaçar

as doutrinas no humanismo cristão. Memorável foi o discurso de Paulo no

Areópago, inolvidável a mensagem do Papa junto do arcebispo ortodoxo de

Atenas Christodoulos Christos Paraskevaïdis: “Que o Senhor da paz vos

conceda a paz em todo o tempo e por todas as formas” (2T3,16). O lamentável

cisma do Oriente rompeu tantas pontes, interceptou os caminhos da luz e do

humanismo. Surgiram novas interpretações, novas ideologias, novos campos

em que o humanismo floresceu com flores e frutos diversos. Após dez séculos a

admirável ousadia de João Paulo II procura refazer as pontes, retomar sobre

58

novas iniciativas os caminhos do humanismo cristianizado, latinizado, com o

sabor moderno adaptado a todas as latitudes, pacificando as consciências que

buscam a verdadeira PAZ, que se encontra no coração Daquele que disse: “Eu

sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Em toda a sua peregrinação foi semeando

palavras e gestos que fazem brotar plantas que florescem e dão frutos de

paz e de alegria.

É o reverdecer do humanismo que floresceu na Roma dos Césares

regado pelo sangue de tantos mártires para que os povos fossem beneficiados

com as águas lustrais do novo humanismo nos ensinamentos de Agostinho

novo intérprete de Platão e Plotino e de Tomás de Aquino, tradutor de

Aristóteles para a linguagem hodierna.

Dentro da mensagem fecunda e vicejante do humanismo ressurge depois

de 700 anos a Universidade de Treviso com cursos reclamados pela modernidade:

Direito, Economia e Administração, Estatística e Informática, Tradução e

Interpretação, e Engenharia Informática. Outro sinal de nossos dias: dos 936 alunos

matriculados 59% são moças, a sede dos cursos é a reestruturação do ex-hospital

São Leonardo. Tudo isso aconteceu porque há um ideal de humanismo latino na

pessoa do administrador, deputado Dr. Dino Poli. As idéias redentoras não

envelhecem, em cada geração tomam novo ânimo, novo florescimento e os frutos

para o bem da humanidade são incontáveis e perenes.

Jornal do Comércio, 21/06/2001, p. 4, Opinião.

Humanismo Latino

A Unione Latini nel mondo e a Unione dei Triveneti nel Mondo

estimuladas pelo Senador Dino De Poli, Presidente da Fondazione

Cassamarca, de Treviso, desenvolveram importantes congressos e seminários.

Tiveram início na cidade de Treviso, novembro de 1970 — Congresso

59

Internacional de estudos sobre o tema — Humanismo latino no mundo, história,

valores e prospectivas. No ano seguinte acontecia o Congresso em Craiova, que foi a

primeira projeção concreta das teses apresentadas em Treviso — O Humanismo

latino na Romênia. Encontrou prosseguimento no Congresso de 26 de setembro de

1998 em Tolosa (França) com o sugestivo título — A Europa latina com contributo

cultural e civil para a unidade da Europa. Em 1999 o processo de conhecimento e de

aprofundamento da realidade do Humanismo Latino prosseguiu no Congresso de

Manila (Filipinas), em março de 1999 com o tema — O Humanismo Latino na área

asiático — pacífica, herança e prospectivas. No mês de maio do mesmo ano

acontecia o Congresso Geral Sul-americano, em São Paulo (Brasil) com o tema — O

Humanismo Latino na história e na cultura da América Latina.

Semelhante congresso aconteceu no mês de janeiro, nas ilhas de Cabo

Verde para avaliar a influência que humanismo Latino ainda conserva com novas

formas de liberdade na África.

Tudo isso foi realizado em preparação do Congresso Mundial de 1° de maio

de 2000, em Nova lorque, com o tema — Globalização e Humanismo Latino, em que

tomaram parte estudantes e docentes universitários de todo o mundo.

Nos dias 22 e 23 de setembro, realizou-se em Bucarest um congresso de

estudos sobre o ambicioso tema do Humanismo Latino nos países do Leste europeu

e em particular na Romênia. O congresso que se insere no número de muitos outros

organizados graças à louvável e pertinaz iniciativa do Senador Dino De Poli, um

pouco em toda a parte pela Fondazione Cassamarca, aconteceu nos salões do Hotel

Continental, com a presença de numerosos estudiosos, de representantes das

associações de emigrantes e de nutrido número de jovens, romenos e italianos.

Articulado entre sexta-feira e sábado, o congresso foi aberto pelo Senador

Dino De Poli que sublinhou a contigüidade entre a cultura latina da Europa ocidental e

aquela romena.

Os trabalhos prosseguiram com importantes comunicações sobre a

Cultura humanística latina e identidade cultural da nação romena pelo Prof.

60

Nicolae Luca em que se evidenciam no ponto de vista histórico e literário os

profundos traços da matriz latina e humanística na Romênia. A profª Amélia

Toader, da Universidade de Constança apresentou a figura de Dimitrie

Cantemir, precursor do humanismo em terras romenas, que viveu no século

XVII, escritor original e pensador da Romênia. Encerrou a apresentação dos

grandes temas o prof. Gheorge Stoica da Universidade de Bucarest sobre As

idéias da cultura humanística e a integração européia da Romênia.

Importantíssimas são estas iniciativas de repensar e de meditar os

inexauríveis mananciais do Humanismo Latino que recebeu a água lustral da cultura

que emana do Evangelho de Cristo.

É oportuno lembrar que a PUCRS acaba de lançar o livro organizado pelos

Cultura e Humanismo Latino

Professores Jayme Paviani e Arno Dal Ri Júnior com o título Globalização e

Humanismo com excelentes textos de autores que intervieram nos vários

Congressos nos vários países da Europa, Ásia, África e América.

Vale a pena pensar e reconquistar para os nossos dias, para nossas

vidas e nossa cultura os valores do Humanismo Latino, valores sem fronteiras.

O Nacional, 27/12/2000, Passo Fundo/RS.

61

PORTUGUÊS: ALÉM DOS MARES

ESCRITORES DE ÁFRICA

62

Cultivo e culto da Língua

A língua é o melhor instrumento da comunicação humana, daí decorre a

necessidade de seu cultivo e de seu culto. São dois atos: o estudo, o exercício

do idioma e admiração e o respeito prestados ao idioma. Miguel de Unamuno o

grande Reitor da Universidade de Salamanca, o contemporâneo de Fernando

Pessoa e correspondente de Teixeira de Pascoaes, afirmava: “La lengua es la

sangre de mi espírito”. E o autor de Mensagem exclamava: “A minha pátria é a

língua portuguesa”.

Por causa de certos vezos de nossa civilização não se tem hoje o

cuidado que se deveria ter no cultivo e na prática de nossa língua, elemento

fundamental da vida social, intelectual e espiritual da pessoa.

No extremo Oriente, o país do sol nascente mantém fidelidade no

cultivo da língua porque existe verdadeiro culto de veneração à tradição, ao

purismo e à beleza da expressão.

Em comemoração dos 40 anos de ensino da língua e da cultura

japonesa na PUCRS, aconteceu o 7° Concurso Nacional de Oratória da

Língua Japonesa. No sábado, dia 17, às 13h com a presença do cônsul do

Japão Kanji Tsushima, do Prof. Dr. Yukio Moriguchi, do Ir. Elvo Clemente,

representante do Reitor, iniciou solenemente o Concurso de Oratória. Houve

representantes de Fortaleza (CE), Manaus (AM), Curitiba (PR), São Paulo

(SP), Belém (PA), Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS).

Os 20 candidatos formavam três categorias, conforme seu nível de

aprendizado. Cada candidato dissertou durante cinco minutos sobre o tema

indicado pelo Concurso. Os vencedores por categoria: Saori Maekawa, de

São Paulo; Aline Marie Teófilo de Moura, de Fortaleza; Rosiane Gonçalves

da Costa Santos, de Belém.

63

O Consulado do Japão ofereceu aos participantes um jantar típico.

Notou-se no Concurso o cuidado pelo uso correto e estético da Língua

Japonesa. A Fundação Japão destinou verba especial para o 7º Concurso

Nacional. Pagou viagem e estada dos concorrentes vindos de outros Estados.

Tanto dinheiro, tanta dedicação no treinamento dos candidatos significa grande

veneração, expressivo culto pela Língua Japonesa.

Ao escutar aquelas falas, me perguntava: o que se faz no Brasil para

que a Língua Portuguesa seja correta, bela e expressiva de nossas vidas e

de nosso amor?

Hoje, 19/12/2001, p. 2, Opinião e Igaçaba, 01/2002 p. 3, Cultura.

Preservar a Língua Portuguesa

O Instituto Internacional de Língua Portuguesa, constituído em reunião da

comunidade dos países de Língua Portuguesa, em São Luís do Maranhão, no

governo Sarney, está dando sinais de vida e de vigorosa atividade. O objetivo da

dita organização é preservação, valorização da Língua Portuguesa no concerto de

outros idiomas no mundo globalizado. A CPLP é formada pelos países: Portugal,

Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé — Príncipe e

Timor Leste. A referida comunidade tem altos objetivos sociais, políticos e

sobretudo culturais irmanada pela Língua Portuguesa com seus múltiplos sotaques.

O mundo globalizado compõe-se de numerosos grupos lingüísticos tais como: o

anglo-saxônico, o francês, o italiano, a árabe, o chinês, etc. A língua se constitui em

elemento profundo de cultura entre os países. Na União Européia o choque dos

idiomas é algo de interessante e de intrigante graças à comunidade dos países de

língua portuguesa, Portugal pode apresentar-se entre os colegas com a língua de

Camões. Causou espécie o discurso do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da

64

Silva, que usou a língua portuguesa com sotaque brasileiro, em Davos, na Suíça.

Mostrou a independência do Brasil e a beleza lingüística no panorama de outros

idiomas com sotaque dominador.

O IILP está sendo dirigido atualmente pela professora e escritora Ondina

Ferreira, com sede na cidade da Praia no Cabo Verde. A direção, de acordo com o

Estatuto do Instituto é rotativa vai passando de país para país na ordem alfabética

de seus nomes. Há muito a ser feito pela atual diretora executiva, Ondina Ferreira,

dependendo sempre das iniciativas dos oito estados - membro, no enriquecimento,

na difusão e na defesa da Língua Portuguesa. Cada um dos falantes do idioma tem

responsabilidade de manter e salvaguardar a integridade e unidade da língua que

vem vindo desde o século Xl. Preservar a língua dos solecismos e do desleixo no

falar e escrever; criar e fortificar o maravilhoso instrumento das comunicações, pelo

estudo, pela leitura e pela escrita. A língua revive em cada pessoa no uso cotidiano

realimentado pela leitura de textos em prosa e verso.

Jornal do Comércio, 28/02, 1 e 2/03/2003, p. 4, Opinião.

Língua precisa de Lei?

O deputado AIdo Rebelo, enviou à Câmara Federal Projeto de Lei

com a finalidade de proteger ou preservar a Língua Vernácula da invasão de

estrangeirismo. Jussara Cony, insiste junto da Assembléia Legislativa do Rio

Grande do Sul na criação de uma lei em defesa do Português ameaçado

pelos termos técnicos e anglicismos. A que pode levar a promulgação de

uma Lei, para defender a pureza do idioma nacional, implantado no solo

brasileiro há 500 anos?

A douta e clarividente França desde 1975 tem a sua lei em defesa do

Francês... Nestes 25 anos os estrangeirismos continuam a pulular na fala e na

65

escrita dos franceses. Em meados de abril tivemos a visita de uma colega,

vinda de Paris, ao correr da conversa em francês, os vocábulos e expressões

anglo-saxônicas vinham ao natural. Pode ser que a lei valha ou possa coibir os

anglicismos nos documentos oficiais. Na língua corrente, na comunicação

hodierna, mergulhada nas teclas dos computadores ou no pulsar constante dos

(ratinhos) mouse, não há como ficar ileso ao avanço da terminologia que vem

do uso e operação da máquina. É um dito lingüístico irrefutável: “Junto com o

objeto vem o seu nome”, tanto do objeto como o das ações a ele restritas ... Aí

surge o deletar, da velha cepa latina — delere — para significar delir, apagar.

Para o deputado Aldo Rebello assiste-se a uma verdadeira

descaracterização da língua portuguesa; “por isso é necessário uma lei para

manter a estrutura do vernáculo”.

Abel Reis critica o projeto: “Considero os princípios equivocados ao

restringir a interação com outras culturas”. Estamos abertos ao mundo,

a civilização atual invade todos os setores da cultura pessoal, familiar,

escolar e social.

Lygia Fagundes Telles, em sua brilhante produção literária, no

campo da ficção, acredita no poder milagroso da lei: “Vamos poder contar

com uma extraordinária arma para impedir a colonização da

língua portuguesa”.

Há cem anos Eça de Queirós, o grande escritor da língua, em quem

tantos literatos lusos e brasileiros se abeberaram, escrevia suas obras

eivadas de expressões francesas. Todos acharam e achamos maravilhoso o

escritor, os galicismos não nos preocupam quando percorremos as páginas

daqueles romances.

O gramático Evanildo Bechara julga o processo desnecessário: “Ele é

bem intencionado mas terá pouco resultado prático”. A língua é um fenômeno

histórico-social e acrescenta: “Ela acompanha a história do homem que fala e,

por isso, está sujeita a todas as influências.” O mestre professor insiste: “O fato

66

mais importante é o descaso que se faz das coisas nossas”: língua, cultura,

tradições. O mais importante é criar uma mentalidade de valorização de nossa

nacionalidade: língua, tradição, cultura, religião.

Miguel Reale em artigo recente, em o Estado de São Paulo, insistia

sobre o verdadeiro sentido do PATRIOTISMO, que não deve ser confundido

com nacionalismo. O verdadeiro patriota é a pessoa que conhece os bens de

sua terra e de sua gente e sabe defendê-los. O bem cultural, por excelência, é a

língua que aprendemos em nossa casa, aperfeiçoamos na escola, continuamos

a enriquecê-la e adaptá-la a nós e às nossas vivências pela vida a fora. A

aprendizagem da língua é constante pela leitura de bons autores, pela consulta

assídua ao bom dicionário e à boa gramática.

O embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Knopfli, em artigo, na

Folha de São Paulo escreve: “o desafio que o fenômeno da “globalização

lingüística” nos coloca pode e deve ser vencido”. Somos a terceira língua mais

falada no ocidente com cerca de 220 milhões de falantes. No último ano muito

se fez para que Timor Leste viesse a ser de fato e de fato é a oitava reptíblica

lusófona. Muito sangue derramado, muitas vidas sacrificadas para que a

civilização cristã e a língua portuguesa pudessem viver lá longe na Indonésia e

perto de nosso amor à humanidade, à liberdade.

Novamente somos mensageiros e missionários da paz e da

solidariedade para os nossos irmãos timorenses que falam ou querem aprender

a Língua Portuguesa, sob a lei potente do Amor. Portanto apliquemo-nos a

amar, a estudar sempre a nossa língua a fim de que ela represente sempre a

nossa maneira de falar, de agir, de conviver e de ser verdadeiro patriota da

língua portuguesa, que é a nossa pátria, no dizer de Fernando Pessoa.

Zero Hora, 06/06/2000, p. 25, Opinião.

67

Eça de Queirós e a língua portuguesa

O dia 16 de agosto marcou o centenário da morte do escritorJosé

Maria Eça de Queirós, o estilo magistral da língua portuguesa. Nasceu em

Póvoa de Varzim a 25 de novembro de 1845, veio a falecer em Neuilly

(França). É conhecida a sua juventude de rebelde em Coimbra, na Questão

Coimbrã, as conferências do Casino Lisbonense. Em 1871, concorreu a um

posto na diplomacia. No ano seguinte assume o consulado em Havana

(Cuba). Depois vem a Inglaterra, Egito, China e França.

Começa, então, a contradição do diplomata com o escritor.

Apresentar o país bom, belo, progressista perante os estrangeiros;

descrever as mazelas administrativas, econômicas, culturais e morais nos

romances. A começar: O Primo Basílio, escrito em Bristol em 1874; O Crime

do Padre Amaro; 1875; Os Maias e o Mandarim, 1880; A Relíquia, 1884;

Correspondência de Fradique Mendes, (1889 — 90); A ilustre Casa de

Ramires, 1897; As cidades e as serras, 1900.

É o subversivo na abalizada crítica de Moysés Vellinho; é o estilista

magistral, na escrita de Carlos Felipe Moisés. Tudo isso mostra a realidade

de quem combatia o romantismo e não obedecia inteiramente aos cânones

do Realismo. Os seus livros quando apareciam nos jornais, nas livrarias

eram lidos com sofreguidão e curiosidade, pois mostravam postura moral,

política ou religiosa contrária aos preceitos e costumes da época. A

grandeza de Eça encontra-se na revolução estilística de escritores

brasileiros e portugueses. Revolucionou a língua literária, carregando-a de

sem-número de expressões francesas. O cientista e crítico galego Guerra da

Cal, em sua tese, perlustrou o Estilo de Eça de Queirós em dois grossos

volumes. Pouco se importava com os galicismos tão verberados pelos

mestres da gramaticalidade e da pureza da língua, em especial por Cândido

de Figueiredo. Eça não cuidava se a sua escrita era ou não obediente à

68

gramática e à genuína expressão lusitana. Para ele o estilo era o mais

importante, mesmo se isso exigisse a expressão francesa, do mestre Flaubert.

Hoje, a ilustre Câmara dos Deputados, na Comissão de Justiça,

aprovou o texto de um projeto-lei oriundo de Aldo Rebelo. Um dos editoriais de

O Estado de São Paulo assinala: “A língua portuguesa dispensa proteções

nacionalistas ultrapassadas”. Se o leitor destas linhas recapitular a heróica história

do dialeto galego que se oficializa em língua portuguesa verá como o idioma se

manteve preservado das influências do castelhano, lindeiro na Serra da Estrela.

Mesmo nas décadas do Domínio Espanhol (1580 — 1640) a língua manteve-se

incólume em seu povo singelo dos montes, dos vales ou das planícies; das

cidades e das glebas rurais.

Não há lei que possa coibir influências da vida social, cultural ou

lingüística. Temos maus exemplos no passado. Haja vista a ordem de

Mussolini: “Usate il voi” em que ficou? O Estado Novo restringiu a divulgação de

músicas estrangeiras, impondo sanções aos infratores, sem que isso impedisse

a maré de músicas alienígenas. Um deputado gaulista conseguiu uma lei pelo

parlamento francês sobre os danos das expressões inglesas, sem contudo

alcançar seus objetivos.

É preciso ter o verdadeiro patriotismo que sabe cultuar e cultivar o

verdadeiro valor da língua pátria, evitando o nacionalismo chauvinista. O

escritor saberá usar a língua a exemplo de Eça de Queirós, o professor saberá

educar os discípulos nos verdadeiros valores culturais e tradicionais de nossa

bela e imortal língua portuguesa.

Zero Hora, 26/10/2000, p. 19, Opinião.

69

Domínio do Português

Numa breve e substancial reportagem publicada em janeiro pelo

Correio do Povo, a Profª Florence Carbone, da UPF, mostrava como os dialetos

italianos e alemães desapareceram da fala dos jovens, em Carazinho/RS.

Trabalho importante para a etnolingüística de Helena Monfortin, da URICER,

Doutora pela USP, mostra a presença do bilingüismo nos municípios de

colonização italiana do Alto Uruguai. O fenômeno do apagamento lingüístico de

Carazinho pode ser notado em outros municípios. A fala é uma corrente

constante que une as pessoas, enlaça gerações e solidifica culturas. Uma é a

observação de Helena Monfortin, outra a de Florence Carbone usando

métodos diversos nas investigações lingüísticas. Ambos os trabalhos

colocam-nos diante de uma realidade inconfundível: a língua se mantém, se

diversifica ou se apaga segundo as atividades de seus falantes. Houve um

fato traumático: a 2ª Guerra Mundial, em 1942, em todo o Brasil e em especial

no Sul, foi proibido falar italiano, alemão e japonês. Em 1950, foi-se

retomando discretamente o uso dos dialetos. Ali surgiu outro elemento

decisivo para o apagamento das referidas falas o prestígio do usuário. Além

disso a política educacional brasileira exigia o uso do Português. Depois

vieram as forças o rádio e a televisão. As novelas radiofônicas ou

televisionadas iam imprimindo nas pessoas e nas populações a hegemonia da

língua lusitana. Houve reações interessantes em muitos municípios, na

organização de sociedades recreativas e culturais onde se praticavam os

vários dialetos. Apesar dos esforços ingentes dos cultivadores do TALIAN, o

Português domina a vida social e cultural dos municípios de formação

européia. Mantém-se hábitos interessantes de festas e canções. Os programas

de rádio sob a denominação de hora italiana ou vêneta ou alemã, na realidade,

as falas dos locutores em 90% dos vocábulos e frases são Português matizado

de formas dialetais. Os dialetos como tais desapareceram das cidades e das

70

zonas rurais. Os dialetos como tais em sua vida e aparência desapareceram.

Consolida-se o domínio do Português. Deve-se, conservar a cultura dos

ancestrais sempre renovada para se manter viva e ao mesmo tempo estudar o

Italiano ou o Alemão para ter mais de uma janela aberta para os novos tempos,

para não se limitar à língua franca da Albião.

Correio do Povo, 16/02/2001, p. 4, Opinião.

Polêmicas da Língua

No dia 26 de abril realizou-se em Lisboa o lançamento do Dicionário de

Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências. Foram 12 anos

de investigações e estudos no universo da lusofonia pelo Prof. Malaca

Casteleiro, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e sua

equipe. O resultado está aí: 2 volumes e 70 mil entradas, numa edição Verbo.

Com as propostas de mudança de grafia de várias palavras, em especial dos

estrangeirismos e dos neologismos. Todo o avanço cultural ou científico suscita

polêmicas, tais como: reforma ortográfica (já dura 25 anos), invasão de

anglicismos, questões referentes à necessidade de uma política da língua pelas

Academias de Lisboa e do Rio de Janeiro. É importante formar nos alunos

desde as classes elementares a consciência da língua portuguesa, quando se

lê o domínio do Português no mapa mundi: Portugal 10 milhões de falantes;

Brasil 179 milhões; Cabo Verde 369 mil; Guiné-Bissau 980 mil; Angola 10

milhões; Moçambique 16 Milhões; São Tomé e Príncipe 116 mil; Timor Leste,

900 mil. São aproximadamente 220 milhões de lusófones sem contar uns 200

mil nos Estados Unidos.

Vejam-se os números do Dicionário: 4.000 páginas; 70 mil entradas

lexicais; 1.000 estrangeirismos (750 aportuguesados); 85 mil sinônimos; 16 mil

antônimos; 14 mil locuções e expressões idiomáticas; 32 mil termos científicos e

71

técnicos; 6 mil brasileirismos; mil africanisinos; 150 asiaticismos. A obra é

gigantesca, fruto de tantas horas de pesquisa, de indagações e de consultas a

outros dicionários existentes. No Brasil, Aurélio Buarque de Holanda e sua equipe

realizaram, a aventura do Dicionário mais consultado de nossa língua. A Academia

Brasileira de Letras também tem o dicionário, realizado pelo grande filólogo Antenor

Nascentes. As academias deveriam ser os cenáculos em que as polêmicas da

língua vigorassem e conseguissem resultados no aperfeiçoamento do vernáculo.

Conta-se, o poeta e cronista Carlos Drumond de Andrade era assíduo freqüentador

das páginas do léxico. De pouca valia são novos decretos e novas leis para

preservar a vernaculidade do falar e escrever luso-brasileiro. A respeito da

ortografia unificada na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, se posiciona

o prof. Malaca Casteleiro: “Considero o acordo ortográfico essencial para a

definição da política comum da língua”. Diante de tantos problemas que preocupam

os parlamentares, o assunto língua, ortografia, etc. ficam sempre para depois. É

urgente a unificação ortográfica na língua portuguesa, veículo, por excelência, da

fé, da esperança e do Amor para as pessoas e as nações do 3° milênio.

Correio do Povo, 28/05/2001, p. 4, Opinião e Igaçaba, 11/07/2001,

Roque Gonzales/RS.

Poesia Portuguesa

O Salão do Livro de Paris que encerrou em 21 de março teve belo

Pavilhão do Instituto Camões dedicado à exímia poetisa Sophia de Mello

Breyner Andresen, nome universal da poesia portuguesa. Aos 81 anos, nascida

no Porto, continua sua produção literária: poemas, contos e teatro. O COLAR

será levado à cena pela companhia independente CORNUCÓPIA. Sophia teve

excelente formação humanista na família e na Universidade com base cristã.

72

Colaborou com as idéias e ações do bispo Dom Antônio Ferreira Gomes. Em

1991 foi-lhe outorgado o Prêmio Camões, máximo galardão dos artistas da

língua portuguesa nos países lusófonos. Em março, a França atribuiu-lhe o

Prêmio Max Jacob, que pela primeira vez contemplou escritor estrangeiro. A

antologia galardoada se intitula — Malgré les ruines et la Mort, publicada em

Paris, em 2000. “Num tempo cheio de frivolidades e de busca de efeitos

imediatos, Sophia é com a sua escrita e o seu exemplo, uma referência forte

que fica para além dos jogos de palavras e de circunstâncias.” (Guilherme

D’Oliveira Martins).

Em Arte Poética III, 1964: “Gomo Antígona a poesia de nosso tempo

não aprendeu a ceder aos desastres. Há um desejo de rigor e de verdade

que é intrínseco à íntima estrutura do poema e que não pode aceitar uma

ordem falsa”. Guilherme D’Oliveira Martins afirma: “Sophia é, podemos dizê-

lo com segurança, um caso maior da poesia européia do nosso tempo —

ombreando com Rilke.”

Nasceu no Porto em 1920. Neste 2001, Porto é a capital européia da

cultura. Exaltada a cidade, exaltada sobremaneira a poetisa ilustre! Os seus

poemas falam do mar, celebram a Grécia; os Contos exemplares sublimam o

dia-a-dia na busca ansiosa do infinito. Maria Alziro Seixo escreve: “É à natureza

que Sophia vai buscar a temática da nitidez pura e integral, uma espécie de

ordem primordial do mundo que só o reencontro com o divino consegue

representar”. Leia-se o poema A manhã: A manhã estática parada /Entre o Tejo

azul e a Torre branca/que branca e barroca sobe das águas/Manhã acesa de

silêncio e louvor/Na breve primavera violenta/Assim a minha vida era calma/De

repente se tornou ânsia e saudade/ Sophia, Prêmio Camões, Prêmio Max

Jacob, Sophia síntese, brilho e música da Poesia Portuguesa! Paladina do

amor, da liberdade e da Verdade.

Correio do Povo, 10/04/2001, p. 4, Opinião e Igaçaba, 11/5/2001,

Roque Gonzales/RS, p. 3, No Mundo da Cultura.

73

Andanças do Português

O Jornal de Letras e Artes e Idéias, de Lisboa de 1° a 14 de maio,

apresenta uma rica entrevista com o jovem escritor José Eduardo Agualusa,

nascido em Humabo (ex-Nova Lisboa) há três décadas e meia. Ultimamente

viveu algum tempo em Olinda/Recife. Desfrutou de bolsa de estudos de 13

meses em Berlim, onde produziu o livro — O ANO EM QUE ZUMBI TOMOU O

RIO. O livro foi lançado em Lisboa neste mês de maio, em junho será a vez de

Luanda e agosto, Rio de Janeiro. São três edições do mesmo livro, uma em

cada continente.

O jovem escritor, tem viajado pelo mundo lusófono e daí trouxe

informações curiosas, sobre a Língua Portuguesa.

Em Goa, o português é falado por pouca gente, aliás nunca foi muito

falado, mesmo antes da posse indiana em 1961. Era famoso o carnaval, o

idioma vai sendo esquecido.

Caso estranho é Timor Leste, tornado Estado independente a partir de

1° de maio. Por lá nunca se falou muito português. O número de pessoas que o

tem como língua materna é insignificante. Para Agualusa no futuro falarão tetum

e outras línguas indígenas.

Os timorenses que se refugiaram em Portugal defendem o Português,

os que se refugiaram na Austrália, falam inglês. Aqueles que estudaram na

Indonésia falam o bahasa ou malaio mistura de dialetos. Agora observamos

grande afluxo de ajuda brasileira e portuguesa no campo cultural. A língua

oficial ordenada por Xanana é o Português. Qual Português? Do Brasil ou de

Portugal? Com as línguas e culturas de Timor poderá acontecer conflito

lingüístico-cultural.

Maior atenção de Agualusa é para o Português de Angola, sua pátria.

Na data da independência 1975, o Português tinha expressão significativa, um

quinto da população tinha-o como língua materna, hoje pelo menos 42% da

74

população de 10 a 12 milhões de habitantes. O libertador de Angola, Agostinho

Neto era escritor e festejado poeta, compunha na língua de Camões. A

literatura em Angola é só em Português, mesmo tendo outra língua materna.

Manuel Rui Monteiro escreveu o livro — QUEM ME DERA SER

ONDA, teve a tradução em UMBUNDO, feita por um deputado da UNITA.

Alguns meses após a independência criou-se a União dos escritores

de Angola, com a língua oficial, o Português. Alguns sócios pleitearam uma

segunda língua de origem dialetal. Hoje entre a juventude das cidades

fala-se o Português.

Os adeptos da UNITA e da FNLA provinham de realidades rurais,

alfabetizados nas missões protestantes, sua língua materna era o Português.

Grande massa que se refugiara no Congo — Zaire, falava e fala o Francês.

Aumenta desse modo a disputa sociolingüística cultural. O crescimento do

Português abafa o surgimento das línguas nacionais, em particular o kimbundo

com tradição literária nos séculos XIX e XX. Alguns jornais no século XIX em

Luanda eram bilíngües. Realmente o “melting-pot” cultural angolano com o

Português transnacional e com as línguas regionais torna-se um desafio para as

próximas décadas, permeadas pela mundialização. É difícil prever como serão

as andanças do Português em África, na Ásia ou na Oceânia, até mesmo no

Brasil. É certo que os campos mais abertos a conflitos são os dois grandes

Estados Angola e Moçambique, por suas extensões territoriais e pela

multiplicidade de línguas e dialetos. Constituem grande programa de desafios

para o Português de Portugal e do Brasil.

O vaivém cultural é fonte de novos horizontes onde acena límpida e

bela a bandeira da PAZ e do AMOR.

Jornal do Comércio, 11/06/2002, p.4, Opinião.

75

Ibéria Luso-Brasileira

Dois fatos luso-brasileiros chamam a atenção, no corrente ano: 1) A

inauguração do Centro de Língua Portuguesa pelo Instituto Camões na

Universidade Autônoma de Barcelona, no dia 22 de março; 2) Criação do

Centro de Estudos Brasileiros na Universidade de Salamanca, no dia 28 de

março. Curiosa coincidência, os dois centros surgiram nas extremidades da

Espanha. Os objetivos das duas instituições são distintos, ambos coincidem no

desenvolvimento da Língua Portuguesa em seus dois estilos mais significativos.

O Centro de Barcelona visa, entre outros objetivos, aprofundar a cooperação na

área específica da tradução e interpretação português/espanhol e

português/catalão pela iniciativa conjunta-o primeiro curso de tradumática. O

Centro de Língua Portuguesa/Instituto Camões será o coordenador das

atividades de divulgação da Cultura portuguesa nas comunidades autônomas

de Catalunha, llhas Baleares e País Valenciano. Articulará, outrossim, as

iniciativas pedagógicas e culturais naquelas três regiões.

O Presidente do Instituto Camões, Jorge Couto, definiu outro objetivo

deste novo centro: “Pretendemos que a experiência acumulada no domínio da

tradução e interpretação português-espanhol, e vice-versa, seja associada às

universidades latino-americanas que possuem experiência neste domínio com

especial destaque para as de Santiago do Chile e Cidade do México”.

Em Barcelona, Jorge Couto manteve reuniões de trabalho com

responsáveis da Faculdade de Tradução e Interpretação tendo em vista o novo

estatuto do Português, bem como a diretoria das Ediciones del Bronce da

Editorial Planeta, uma das maiores editoras espanholas que pretende criar uma

coleção de autores portugueses e africanos da Língua Portuguesa.

A tradicional Universidade de Salamanca criou um Centro de Estudos

Brasileiros para formar especialistas em temas relacionados ao Brasil. O Centro

oferece ensino de graduação e pós-graduação nas áreas de Economia, História,

76

Ciências Sociais, Direito, Língua e Literatura. Os cursos serão ministrados por

professores brasileiros. O objetivo é formar espanhóis que dominem assuntos

relacionados com o Brasil para trabalhar em empresas, na imprensa e em

Português: Além dos mares, Escritores de África instituições de ensino.

Uma das razões dessa iniciativa é o grande interesse econômico que a

Espanha manifesta pelo território brasileiro, neste nosso tempo.

Em Salamanca foi empossado o conselho assessor do Centro de

Estudos com a presença dos ministros da Educação Paulo Renato Souza e

Pilar del Castillo. Fato a destacar: partícipe no Conselho assessor está a

professora Regina Zilberman, coordenadora do Curso de Pós-Graduação de

Letras da PUCRS.

Ao contemplar a realidade sociocultural e política da implantação

dos Centros de Cultura Portuguesa em Barcelona e brasileiro em

Salamanca, vem à mente a pergunta: que se pode esperar dessa iniciativa

luso-brasileira? No mundo globalizado formam-se núcleos culturais

destinados a preservar culturas, línguas, literaturas em benefício dos

humanos que atuam ou atuarão nas áreas de comércio, de indústria, para

propiciar melhores e maiores bens para humanidade. De ambos os lados da

Espanha os centros são vocacionados a produzir mais cultura, mais

fraternidade para o bem dos respectivos países e de toda a comunidade

luso-brasileira e hispânica para voltar com força renovada ao espírito da

ibéria, que dilatou os impérios na expansão cultural de novos horizontes de

fé e de amor em busca da Verdade e do Bem.

Jornal do Comércio, 12/03/2001, p. 4, Opinião.

77

Escritores de África

Jornal de Letras de Lisboa de 28 de junho de 2000, traz duas

reportagens sobre a Literatura na África, de expressão portuguesa.

Apresenta Albertino Bragança, da república São Tomé e Príncipe, e Mia

Couto, de Moçambique.

O primeiro tem uma história agitada desde os anos do Curso de

Engenharia na Faculdade de Ciências, de Coimbra, na república Kimbo dos

Sabos, onde se encontravam estudantes portugueses e africanos apoiantes da

luta contra a ditadura. Conseguiu ser jogador de futebol, com isso pode pagar e

concluir os estudos. Passou depois a trabalhar na divisão de estatística do

Ministério do Trabalho, ao mesmo tempo freqüentava o curso de Engenharia

em Lisboa. Foi membro militante da Associação Cívica, resto legal do

Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe. Assistiu feliz o 25 de abril de

1974, em que terminou a ditadura. Começa depois a luta de libertação das

colônias portuguesas. Lamenta a maneira em que aconteceu a libertação:

“Os movimentos libertários, hostilizados pelo ocidente, abraçaram os

modelos dos regimes comunistas do leste europeu e formaram governos

opressores das liberdades e adeptos de um sistema centralizado de

economia que veio atrasar o desenvolvimento dos respectivos países.”

Esteve ligado ao governo e à política nos anos conturbados por lutas

fratricidas, até a restauração das liberdades democráticas em 1991. O

partido da Convergência Democrática vence nas eleições e Albertino é

escolhido para exercer as atividades no Ministério de Educação e Cultura,

passou ao depois para o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Hoje

continua nos misteres políticos como assessor do Ministério de Educação,

Cultura e Desporto. Encontra tempo para dedicar-se à arte literária.

Em 1997 escreveu o primeiro e único romance, Rosa do Riboque,

retrato de um momento de viagem que constituiu a sua vida entre a ilha africana

78

onde é desmesuradamente aberto o sorriso das crianças; onde se fala melhor o

português das ex-colônias portuguesas. Além dessa eufórica afirmação

Albertino apresenta as incertezas e dúvidas sobre a situação do país, afirma:

“Temos carências muito grandes, que nos cortam as possibilidades de nos

darmos a conhecer. Não existe parque gráfico capaz de suportar a nossa

literatura e os escritores sentem-se desencorajados a escrever”. Aguarda uma

colaboração mais decidida de Portugal e do Brasil.

O romance Rosa do Riboque retrata a vida do bairro do Riboque da

capital do pequeno e importante país ilhéu. Os planos de Albertino é escrever

ficção sobre a época colonial, em especial, do século XIX em que os bens de

sua família foram roubados. Os reencontros com a história da ilha cruzam-se

com a História de Portugal. E são os seus mistérios que Albertino Bragança

procura desvendar reconstituindo “um percurso marcado pelo encontro de

civilizações e culturas.”

As parábolas de Mia Couto vão continuando a revelar o ambiente e a

História de Moçambique. Agora é o novo livro- o último vôo do Flamingo que

continua o programa traçado nos livros anteriores: Terra sonâmbula, 1992, e a

Varanda do Frangipani; 1996. No romance de 1992 é a história da guerra, das

ferocidades, tudo pacificado pelo jovem Muindinga, Tanto lutar, tanta pobreza

em busca da liberdade...

A Varanda do Frangipani é a representação de uma ilha que resguarda

os valores do tempo dos mais velhos, cercada pela ignorância do tempo

presente, marcadamente urbano, no dizer de Ana Mafalda Leite.

Em quase todos os contos e romances faz uma crítica aos novos

poderes, ao desvio de bens, à corrupção, ao desrespeito pelos valores morais e

éticos, representados ali pela sobrevivência moribunda de um asilo, que ainda

se alimenta do conhecimento proverbial e das máximas formadoras e

orientadora dos velhos. Retrata-se, outrossim, o país fraccionado na

perplexidade dos novos tempos, em que a miséria se sustenta do ganho fácil e

79

da despersonalização cultural. Mas o Frangipani renascendo continuamente e

repassando a relação entre vivos e mortos, mantém, nesse romance a

esperança da terra e da nação, capaz de renovar e crescer das cinzas.

Nos livros de Mia Couto existe uma atenção especial às minórias do país:

os indianos, os mestiços, os brancos. E ainda os camponeses, os velhos que

vivem “muito oralmente esses que representam outro tempo, os sem-tempo e fora

dele e talvez, por isso, sem-espaço e sem-terra.

Tanto Albertino Bragança em sua pequena república ilhoa, como Mia

Couto no vasto e desolado Moçambique escrevem sentindo e traduzindo a

alma de um povo sofrido, estraçalhado pelas guerras, pela fome, que revive

sempre na esperança de dias melhores nesta África que há tantos séculos

sangra sem piedade!..

Como é belo ler estes textos que traduzem essa alma que sobrevive,

que se imortaliza na expressão da língua portuguesa.

A literatura das terras de África fala forte e profundamente na alma

brasileira, sedenta de paz, de vida e de amor.

Jornal do Comércio, 14,15 e 16/07/2000, p. 4, Opinião.

Moçambique e Mia Couto

Mia Couto é a expressão sociopolítico-cultural de Moçambique 2001.

Lançou ultimamente, em Lisboa, o livro MAR ME QUER que teve grande

repercussão em Portugal e no Brasil. O autor define o livro: “Mais que uma

história de amor é uma história de desencontros das pessoas com o seu

próprio destino. Passa-se em lugar nenhum. Ou nesse outro lugar onde

sonhamos os nossos amores”. O pensamento mágico é a força do africano,

modo de fugir do racionalismo.

Moçambique foi vítima há um ano de aluviões que arrasaram

cidades, lavouras, pontes, estradas. Durante o ano 2000 a solidariedade do

80

mundo olhou para Moçambique, ajudou com roupas, mantimentos, remédios

e voluntários. A reconstrução do país, das aldeias e cidades é um fato

marcante nos ideais daquele povo.

Houve durante o ano, o assassinato de Carlos Cardoso, jornalista,

diretor do Metical, branco de 48 anos, moçambicano, nascido na Beira. Era

muito prático e crítico do Governo, da Frelimo, da Renamo, sabia apontar

caminhos. A máfia o liquidou. O jornal circula por fax e por e-mail, numa

garagem está uma redação de quatro pessoas.

O fato mexeu com a opinião pública que é limitada entre os brancos e

alguns dirigentes de povos mais instruídos.

O uso do português pertence a 40% dos moçambicanos. A maioria se

comunica pela língua mãe, uma dentre as várias existentes de acordo com as

tribos de origem. Por isso é difícil falar da existência de uma moçambicanidade,

de um espírito de nação, de pátria.

A época colonial portuguesa respeitava o senso de justiça

tradicional dos povos colocando em paralelo a justiça de tradição cristã e

lusitana. Na situação atual há uma imposição de conceitos advindos do

marxismo e da renovação ideológica do atual governo.

O país ressente-se da falta de escolas onde se ensine a cidadania e o

modo de viver a civilização atual, com bons currículos de ciências e de

conhecimentos humanos.

O modelo ocidental é muito forte e vai-se impondo. O jovem, diz Mia

Couto, quer ser Michael Jackson, toda a gente quer água canalizada em casa.

Há um convite permanente à falta de auto-estima e de admiração pelo

americano e pelas tecnologias. Moçambique se orgulhou com a conquista da

medalha de ouro olímpico nos 800 metros por Maria de Lurdes Mutola.

Moçambique também se orgulha de ter o escritor Mia Couto conhecido nos

países de fala portuguesa e em outros países da Europa, da América e da Ásia.

81

O escritor conclui uma entrevista com as palavras: “Os meus filhos

terão que aprender a felicidade lutando contra um estado de coisas do

presente. O que não é mau. É melhor do que usufruir apenas o que é

oferecido. Eu fui feliz na minha vida lutando”.

Moçambique, território importante em sua cultura, em seu futuro,

tudo pode conquistar através de suas culturas regionais e tradicionais,

amalgamadas nas lições lusitanas através da força multissecular da Língua

Portuguesa e da mensagem do Evangelho de Jesus Cristo.

Jornal do Comércio, 9,10 e 11/2/2001, p. 4, Opinião.

José Craveirinha

No dia 6 de fevereiro silenciou a voz insubmissa de José Craveirinha,

poeta fundador da moderna literatura moçambicana.

Nasceu em 28 de maio de 1922, em Lourenço Marques, hoje, Maputo,

no bairro de Mafala. Era filho de um português e de uma africana. Sontinho foi o

primeiro nome que recebeu, diminutivo de Sonto, Domingo, em rongo, língua

materna, pois era domingo, o dia de seu nascimento. O pai, algarvio de Aljezur,

chamou-lhe José João Craveirinha, embora nunca o tivesse batizado, por ser

contra suas convicções maçônicas. Matriculou-o mais tarde na Escola 1°

de Janeiro, orientada pela maçonaria. Realizou curso de esperanto que

seria a língua dos pedreiros livres.

Viveu na casa paterna por exigências da madrasta com o

consentimento da mãe. Impedido de estudar no liceu, pela situação econômica

da família, valeu-lhe a determinação da professora primária que lhe deu aulas

particulares facilitando-lhe os livros sem lhe cobrar um centavo.

82

Passou a adolescência na casa de um tio. Aos 11 anos sentiu o gosto

pelas letras por influência do pai, lia Antero de Quental, Eça de Queirós, Zola e

outros. Recitava de cor estâncias de Os Lusíadas.

O lirismo juvenil expresso em sonetos, tranformar-se-ia mais tarde

no grito aflito de seu povo. Criava uma espécie de mestiçagem poética que

rompia com os cânones e abria clareiras nas expressões mescladas de

cores e sons das línguas faladas pelas diversas tribos. O Brado Africano,

nos anos 40, revelou a voz insubmissa de um povo que buscava a

liberdade. Atleta de corrida dos 1.500 metros e no futebol, jornalista e

amigo dos pobres. Foi militante da FRELIMO e amigo de Samora Machel,

primeiro presidente de Moçambique livre. Trabalhou em vários jornais da

Beira: Notícias e A Tribuna. Em 1964 publicou o primeiro livro de poemas

Shibugo. O segundo seria publicado traduzido na Itália — Cantico a un Dio

di Catrame, edição bilíngüe. Outros livros traduziam lembranças do

cárcere. Em 1974, pouco antes da independência, saiu da cadeia e

publicou Babalaze das hienas e Maria, dedicado à esposa, Maria de

Lourdes Nicolau, que, morreu em 1979. Publicou ainda coletânea de ficção

Hamina e outros contos, em 1997. A editora Caminho (Lisboa) publicou

num volume toda a Obra Poética. Craveirinha está presente em várias

antologias. Tive o prazer de encontrar Craveirinha no Congresso de

Lusitanistas, em 1996, em Oxford. Fez belas intervenções recebeu

expressivas homenagens dos congressistas de muitos países.

Presidiu a Associação dos Escritores de Moçambique até 1987, foi

distinguido por várias honrarias: Prêmio Camões, Prêmio Cidade de

Lourenço Marques, Prêmio nacional de poesia, em Itália. No ano 2002 o

presidente Joaquim Chissano promoveu-lhe homenagem nacional ao

completar 80 anos.

Na bela expressão de Maria Leonor Nunes, em Jornal das Letras

de Lisboa: “permaneceu a vida em Moçambique, desse lugar onde os

83

batuques ficam a ressoar remotamente como um rumor da terra José

Craveirinha fez ouvir para sempre a sua voz muito suave, por vezes irônica

e sempre insubmissa “mesmo depois/ eu quero que me escutem/ na razão

da minha voz insepulta” deixou escrito num verso.

Os seus restos mortais repousam no Panteão dos Heróis

Moçambicanos, em Maputo. Fica para sempre a sua palavra universal a pulsar

no coração da Língua Lusitana.

Jornal O Mundo das Letras, 05/2003, p.06, Academia Pelotense de Letras.

Timor Leste — o que será?

A ilha de Timor, descoberta pelos portugueses em 1512 teve a história

repartida entre os huguenotes e os católicos lusitanos. Em 1975, libertou-se do

domínio português sendo em seguida subjugada pelas forças do governo

ditatorial da Indonésia, os sequazes de Suharto. Após 25 anos de opressões

conquistou a sua independência, proclamada e reconhecida em 19 de maio

deste ano. Xanana Gusmão é o herói da independência junto com bispo de Dili.

A Organização das Nações Unidas (ONU) tomou a si o encargo da proteção

daquela metade da ilha Timor com 14.873 km2 e cerca de 900 mil habitantes. O

trabalho da reconstrução física das cidades desmanteladas pelos opressores

indonésios começou a partir de 1999. Ao mesmo tempo começava a

remodelação política, cultural e humana. Verdadeiras cruzadas culturais e

religiosas se formaram em Portugal, no Brasil e em outros países. Precisava-se

de gente para reeducar o povo no sentido da democracia, no valor do ser

humano e de seu destino eterno. Para desenvolver cultura é necessária a

prática de uma língua. Está ali um problema e uma interrogação que se coloca

para o governo de Timor Leste e para os povos que enviam ajuda àquela gente.

O escritor Luís Cardoso, timorense que emigrou para Portugal aos 16 anos e

84

retorna agora aos 43 anos. Escreveu dois livros cuja matéria é o povo e a

situação da cultura: Crônica de uma travessia, (traduzido para o inglês, francês,

sueco, italiano e alemão), Olhos de gato bravo, livro sobre a presença

portuguesa. Numa entrevista o escritor declarou: “A colonização portuguesa em

Timor foi meramente administrativa. As professoras eram as esposas dos

militares que cumpriam tempo de serviço. Há forte tradição oral correspondente a

vários grupos etnolingüísticos. Além do drama humano, há o drama de

desenraizamento. Esperemos que a proximidade com a Indonésia venha a ser um

valor e não o contrário.” (JL de Lisboa, n°826, 29/10/2001). Qual será a língua dos

900 mil habitantes? Xanana Gusmão e o parlamento optaram pelo Português,

língua oficial. Os habitantes em maioria tem o TETUM, língua materna. Timor Leste

é um verdadeiro caldeirão onde se estrutura nova cultura, onde professores e

missionários portugueses e brasileiros, australianos e americanos, todos falam a

língua que sabem. Que língua dominará? Importante é que seja a língua do

entendimento e do AMOR.

Correio do Povo, 04/07/2002, p. 4, Opinião e Igaçaba, 07/2002, Roque

Gonzáles/RS, p. 4, Cultura.

85

ACADEMIA E ESCRITORES DO RIO GRANDE DO SUL

86

Academia ano 2000!

A Academia Rio-Grandense de Letras reelegeu, no dia 2 de dezembro,

a diretoria para o ano 2000. Ao contemplar este número, fica-se perplexo ao

sentir o ecoar das sílabas dos vocábulos. Os números redondos têm força

mítica sobre as pessoas e sobre os grupos sociais em todos os povos que

medem o tempo a partir do nascimento de Jesus Cristo, quando “se

completaram os tempos”. As diversas civilizações com base em acontecimentos

religiosos ou políticos têm seus marcos milenares diferentes: a era hebraica, a

era budista, a era xintoista, a era islâmica e outras.

A Academia Rio-Grandense de Letras teve seu nascimento a 1º de

dezembro de 1901, sob a égide do ilustre médico e professor Olintho de

Oliveira. A pequena sociedade recebeu os nomes mais importantes da

literatura. Apeles Porto Alegre, Aquiles Porto Alegre, Apolinário Porto Alegre,

Paulino de Azurenha, Mario Tota, Caldas Júnior, Marcelo Gama, Zeferino

Brasil, Alcides Maia, Alfredo Ferreira Rodrigues e outros.

Os nomes da entidade foram-se modificando, continuando-lhe o

espírito: Academia de Letras do Rio Grande do Sul, em 1910; Academia Sul-

Rio-Grandense de Letras, em 1944; e, a partir de 6 de maio de 1963, sob a

presidência de Gevaldino Ferreira, retomou o nome de Academia Rio-

Grandense de Letras. Neste século de existência, as letras no Rio Grande

do Sul tiveram expoentes que ilustraram a literatura brasileira com projeção

no exterior. A diretoria reeleita para o biênio que se inicia em março e se

encerra em dezembro de 2001 tem junto com os sócios tarefas importantes

a realizar. Entre as atividades programadas: 8° Ciclo de Palestras,

estruturação da Secretaria Executiva, na sede na Rua dos Andradas, 1234,

conjunto 1.002; preparação e realização do Encontro Nacional das

Academias Academia e escritores do Rio Grande do Sul Estaduais e

Regionais; história e antologia dos patronos e ocupantes das academias

87

no arco dos cem anos; exposição de obras literárias dos acadêmicos; criação

do concurso literário Olintho de Oliveira para as produções nos diversos

gêneros literários. A Academia Rio-Grandense de Letras tem vasto e

consistente programa a realizar na aurora e no pleno dia do 1° Centenário.

Deo juvante, como diziam os antigos e hoje dizemos nós, tudo será realizado.

Igaçaba, 07/12/1999, Roque Gonzáles/RS, p. 3, No Mundo da Cultura.

Academia prepara Antologia

A Academia Rio-Grandense de Letras, fundada pelo ilustre médico,

catedrático e beletrista OLINTHO DE OLIVEIRA em 1° de dezembro de

1901, prepara a celebração de seu centenário de existência, de estudos, de

publicações, de lutas e vitórias. Entre as ações previstas e propostas está a

presente ANTOLOGIA, iniciativa do confrade Rui Cardoso Nunes e

aplaudida em sessão plenária. Antologia, em sua acepção etimológica,

relembra tratado de flores. Os poemas, os versos, são as flores que os

acadêmicos apresentam aos leitores, aos amigos que vêm celebrar o

Centenário da Academia.

Os poemas são flores de linguagem, que se enfeixam e se ofertam

de coração aberto. O poema é cintilação da palavra que se abriu no

entressono e sonho para o despertar com a beleza das cores das alvoradas.

O ritmo dos versos, na cadência das sílabas no tapete florido das estrofes, torna-se

música, torna-se vida, expressa AMOR.

Esta ANTOLOGIA é o barquinho florido que a Casa de Olintho de

Oliveira oferece ao Rio Grande e ao Brasil, no flutuar das ondas das horas

e dos dias até a madrugada de 1° de dezembro de 2001. O frágil batei

enfrentará adversidades, incompreensões, mas tem em si a força e o vigor

da POESIA, que é Esperança e Vida.

88

Lembro aquele poema sublime de Paulo Corrêa Lopes:

Largai as velas que o mar é largo!

Para longe, para o fim de tudo!

Largai as velas

e vereis como é mais bela a vida

entre relâmpagos e abismos!

Largai as velas que o mar é largo

e embala os corações

que não tremem diante do mistério.

(Obra poética, p.75)

Antologia vai singrando pelo Rio Grande a fora, levando a mensagem

de fraternidade e de amor a todos que lhe derem o porto seguro de seu carinho

e de sua leitura.

Jornal RS LETRAS, 02/2001, p. 2.

Vida da Academia

No biênio 2000 e 2001 a Academia Rio-Grandense de Letras teve vida

exuberante e profícua. Novos sócios fortaleceram o convívio beletrístico: José

Clemente Pozenato, Luís Coronel, Flávio Loureiro Chaves, José Francelino de

Araújo e Jaime Cimenti. O ciclo de palestras de 2001 reverenciou

centenários e virtudes de escritores e datas: Moysés Vellinho, enaltecido por

sua herança de crítica literária; Francisco Ricardo, lembrado em seus

poemas e biografia; Guilherme Shultz Filho, Poeta e jurista; Cecília Meireles,

poetisa da Inconfidência e da Ternura; Murilo Mendes, a poesia em pânico;

Felipe D’Oliveira, poeta e espadachim; Darcy Azambuja, contista do Galpão

89

e dos jogos; os 500 anos, o resgate que não aconteceu; Curt Nimuendaju,

morte misteriosa na Amazônia; Raul Bopp, estranhas invenções; Olintho de

Oliveira, iluminado fundador de nova Luz; do livro na formação de

consciência. O Solar dos Câmara, gentilmente cedido pela direção da

Assembléia Legislativa continua sendo o cenáculo de serões, de

conferências, de celebrações da cultura como acontecia nos anos em que o

Mestre Armando Pereira da Câmara criava e irradiava suas idéias.

A Academia chegou a milhares de famílias com os Concursos do

Escritor Universitário, promoção conjunta com o C.I.E.E. A clarinada de

vida nova nas letras e artes ressoa como nos dias de 1901, como em

1948, como nas jornadas e discussões do primeiro e de outros sodalícios

literários aparecidos e submersos nas ondas do tempo. Sempre acesa e

bela a chama da Verdade de Bondade e da Beleza, em todos os amantes

das Letras. O artista sabe trabalhar a argila da palavra, argila irrequieta

que se adapta ao pensamento, ao sonho, à imaginação para tornar-se

crônica, poema, discurso e finalmente POESIA, essência do Belo e do

AMOR. A Academia envia a mensagem de Beleza a todos os leitores

destas palavras. Os acadêmicos poetas, escritores, dramaturgos,

cronistas, ficcionistas, todos vivem e transmitem a experiência de criar e

recriar ilusões e realidades.

Correio do Povo, 19/12/2001, p. 4, Opinião.

Três notáveis Centenários

Como é belo e dignificante celebrar as vidas de pessoas que

passaram entre nós espalhando benesses, distribuindo gestos e ações

humanitários. Nesta reflexão lembro ações humanitárias. Nesta reflexão

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lembro três nomes: Moysés Vellinho, Darcy Azambuja e Ladislau Ruttkay.

Dois de nosso torrão gaúcho: Santa Maria e Encruzilhada e o terceiro de

Budapeste (Hungria). Unidos por terem nascido em 1901 e pelo amor que

deram à nossa gente. As letras e a arte de curar sempre estiveram irmanadas

desde a antiga Grécia. Nas artes há estudo de textos que são tecidos de

palavras e de formas distintas dos tecidos da Fisiologia.

Moysés Vellinho abre a tríade por ter aberto os olhos no dia 6 de

janeiro. Depois de sua formação primária e secundária, bacharelou-se iniciando

a carreira política e literária

Em 1922 ensaiava as primeiras refregas nas letras com um comentário

crítico sobre a obra de Monteiro Lobato, publicado pelo Correio do Povo, Ligado

à pessoa e aos ideais de Oswaldo Aranha, acompahou o grande líder no

governo do Estado e no Governo Provisório, pós-revolução de 1930. Volta a

Porto Alegre, onde constituiu família e se dedicou com mais freqüência às letras

com ensaios críticos, publicados em livro em 1944, sob o título Letras da

Província. De 1938 a 1964 foi ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em

1939, saudou com brilhante discurso o centenário de nascimento de

Machado de Assis. Dedicou-se às artes e à história com a criação da

Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, com a publicação de Capitania d’el-Rei

e Fonteira. Erigiu-se em defensor da lusitanidade, responsável pela cultura e

desenvolvimento político-cultural da Província de São Pedro do Rio Grande

do Sul. Exerceu vice-presidência do Instituto História e Geográfico do Rio

Grande do Sul, por longos anos.

A Revista Província de São Pedro com os 21 fascículos, manteve altos

e brilhantes oculto e o cultivo das Letras de 1945 a 1957. Quantas revelações

literárias aconteceram naquelas imorredouras páginas da Revista! Velo a

falecer no dia 26 de agosto de 1980.

A Academia Rio-Grandense de Letras realizou no dia 19 de abril solene

celebração da vida e obra de Moysés Vellinho, no centenário de seu

91

nascimento, teve a presença de seleto público e de modo especial dos

familiares: filhas e filho, netos e sobrinhos.

Darcy Azambuja surgiu entre as brumas e geadas de 26 de agosto, em

Encruzilhada do Sul, Alfabetizado na cidade de Natal, veio a Porto Alegre onde

freqüentou o Colégio Militar, não prosseguiu na escola das armas, preferiu

trabalhar no comércio em 1922. Ingressou na Faculdade de Direito em 1923. O

terceiranista surpreendeu o Rio Grande com o livro de contos No galpão,

editado pela Livraria do Globo, 1925. Bacharelou-se em 1927, foi promotor

público e inspetor de ensino do Estado. Em 1933, concorreu à cátedra de

Direito Constitucional e de Teoria Geral do Estado, conquistando a vaga e o

título de Doutor. Professor da Faculdade de Direito especializou-se na Teoria

Geral do Estado, produzindo excelente tratado que ainda hoje, é compulsado

por mestres e alunos.

Por sua afeição à história do Rio Grande obteve um lugar de destaque

no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Continuou a produzir

boa literatura no gênero de contos: Contos Rio-Grandenses, 1928; Coxilhas,

1956; em 1940 apareceu Romance antigo. Darcy Azambuja empenhou sua

vida no magistério Universitário primeiramente na Faculdade de Direito de

Porto Alegre (1933) e a partir de 1947 na PUCRS com as cadeiras de Teoria

Geral do Estado (Direito) e Estética no curso de Filosofia. A sua habilidade na

ficção literária ombreava com a seriedade na investigação e transmissão da

ciência jurídica. O conhecimento da língua portuguesa propiciava efeitos

interessantes às aulas a discípulos atentos, aos textos às leituras dos contos

e dos casos da gente simples da Campanha. Em seus 69 anos Darcy

Azambuja foi o mestre das letras na estética e na dialética da jurisprudência.

Ladislau Ruttkay nasceu no dia 30 de março de 1901. Após os

estudos primários e secundários realizou a sua formação na Faculdade de

Medicina da Real Universidade Húngara Elisabetana em 1924. Especializou-

92

se em Ginecologia e Cirurgia Geral, em Paris, de 1926 a 28, no Serviço

do Prof. Brindeau.

Voltou a Budapeste para ser assistente do Prof. Alexandre Fekete na

Cátedra de Ginecologia e Obstetrícia.

Com o advento da socialização da medicina na Hungria, resolveu, em

1930, vir ao Rio Grande do Sul com a esposa Edith Ronai Ruttkay. Após a

revalidação de seu diploma exerceu atividades médicas em Santa Cruz do Sul,

Cruzeiro do Sul, Taquara e Santo Angelo, sendo muito estimado por sua

habilidade médica e por seus gestos humanitários. Em Porto Alegre fundou e

dirigiu o Hospital São Manoel, à Av. Independência de 1940 a 1950. O Dr.

Oscar Pereira o convidou para organizar o serviço de Ginecologia do Sanatório

Belém. Em 1953, organizou com o Dr. Tasso Vieira de Faria o serviço de

assistência, o SAMU, inaugurado em 1954.

Em 1962, convidado pelo Dr. Lauro Dornelles, diretor geral do SAMU,

do Rio de Janeiro, organizou postos médicos em todo o norte do país.

Em 1970, a convite do Prof. Dr. Manuel May Pereira, exerceu, na

década de 1970, docência no Departamento de Patologia da PUCRS, novel

Faculdade de Medicina. Teve reconhecidas homenagens por ocasião de seus

50 e 60 anos de formatura e pelo meio século de atividades médicas no Brasil.

Em tudo foi o bom samaritano em suavizar as dores, em curar as moléstias e

iluminar os caminhos tortuosos e escuros de tantas vidas. No dia 20 de julho de

1991, aos 90 anos entregava sua bela alma ao Criador.

Os três notáveis centenários recordam as gerações atuais como é belo

e dignificante ser útil aos outros em Serviços de Cultura e da Saúde quer

corporal, psíquica ou espiritual.

Jornal do Comércio, 02/05/2001, p. 4, Opinião.

93

Ivo Caggiani

No dia 19 de abril, de madrugada, encerrou a sua produtiva carreira de

homem devotado às letras, à história, à política, à investigação, o escritor e

historiador Ivo Caggiani. Pertinaz doença sacrificou-lhe os últimos anos quer no

hospital quer em sua residência. Poucos meses antes de seu último suspiro a

pena estava-lhe entre os dedos, produzindo naquela letrinha modelar textos

de história ou de cartas a seus amigos. Seu aspecto grande e volumoso

distinguia-o em qualquer grupo de pessoas, os amigos chamavam-no

carinhosamente Gordo.

A vida começou desde cedo com pequenos serviços de jornaleiro para

o jornal O REPUBLICANO, em sua Sant’Ana do Livramento, assim costumava

escrever-lhe o nome com o característico apóstrofe. O Republicano, de

propriedade do coronel Francisco Flores da Cunha, foi-lhe o currículo de

aprendizado de revisor, de repórter até de redator-chefe. Em 1955, um ano

após ter concluído o Curso Técnico de Contabilidade fez ressurgir a Folha

Popular. Labor intenso no jornal, professor de História no Ginásio de 1952 a

1958, teve tempo e dedicação de fundar o Museu Municipal David Canabarro,

em 1952. Sofreu perseguições da ditadura implantada em 1964, perdendo o

cargo de inspetor escolar do município.

Ardoroso defensor dos princípios trabalhistas de Getúlio Vargas e de

Alberto Pasqualini foi eleito vereador em 1976. Permaneceu em várias

legislaturas até que solicitou a demissão irrevogável em 1992.

Como historiador foi honrado e respeitado em todo o Estado e no Brasil.

Escreveu 25 livros, alguns breves outros volumosos sobre a história de

Sant’Ana do Livramento e de seus principais filhos: General Flores da Cunha,

Cabeda, Honório Lemes- um herói popular. Deixou em suas gavetas duas obras

prontas: Oriovaldo Greceller- político e radialista e general Nelson de Melo.

Vivia e trabalhava incansavelmente no Museu que era a sua casa. Colaborou

94

em 1992 na reestruturação do novel Conselho Estadual de Cultura. Os seus

cadernos sobre Sant’Ana têm uma riqueza maravilhosa de preciosas

informações sobre gente e história da fronteira.

Ricardo Carle escreveu preciosa crônica em Zero Hora de

20/4/2000, sob o título -Um provedor de lendas. Dele toma as frases: “O

historiador usava os papéis para comprovar sua capacidade mnemônica

veramente prodigiosa. Aquela saleta na rua Vasco Alves era depositária de

um vasto passado. Ivo era um homem voltado para o passado. Devotado ao

tempo, devorado pelos homens e aos homens devastados pela História. É

um tipo de paixão que ele encarava com uma seriedade feroz”.

Tive a graça e o prazer de ser amigo de Ivo Caggiani nestes últimos 15

anos. Quaisquer dúvidas sobre personagem da fronteira ou de homens e

mulheres ilustres nas Letras, Ivo me ajudava incontinenti. Abriu-me as páginas

de A PLATÉIA, onde os meus artigos eram reclamados, quase semanalmente.

A nossa grande amizade continua além da efemeridade do tempo e se projeta

na eternidade. O exemplo de Ivo Caggiani, estudioso, ardoso pesquisador,

amante impenitente de nossa terra e de nossa gente, deve germinar e vigorar

entre tantos jovens que desejam ter um Estado e um Brasil mais cultos, mais

respeitados da Verdade e do Amor.

Jornal da Semana, 27/05/2000, Sant’Ana do Livramento/RS, p. 02.

O Silêncio do Guerreiro

No dia 4 de março, aos 72 anos, silenciava para sempre a voz de

Guerreiro, caía-lhe a pena das mãos... O Jornalista, o idealizador de novos

caminhos para o Jornal do Comércio, para a imprensa oficial do Estado,

entregava os pontos. Ficava seu testamento de vida dedicada a bem servir a

95

comunicação social, como deixou escrito: “Em jornalismo, como na vida,

devemos ter sempre idéias, mas enquanto isso, ir fazendo o melhor que nos é

possível, dentro da realidade empresarial e profissional”.

Filho de tradicional família de Vacaria, decantada em versos no livro

“Tropeiro da saudade”, desde guri foi aprendendo no colégio marista São

Francisco o verdadeiro caminho da vida. Adolescente veio para a capital. Em

1952 ensaiava os primeiros passos nos misteres jornalísticos. Freqüentou o

Curso de Jornalismo da PUCRS, pioneiro no Sul do Brasil. Bacharel em

jornalismo, em 1953 iniciou a sua caminhada de 49 anos no Jornal do

Comércio. Dominava com rara maestria o vernáculo, além disso o seu tino de

administrador o levou a outros patamares no JC, na imprensa oficial do Estado.

Criou a Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (CORAG) em 1970. Com

Alberto André e Antônio González criou o Museu da Comunicação Hipólito José

da Costa. Amigo do fundador do JC, Jenor Jarros e de Dona Zaida soube

imprimir em seus colaboradores a sua filosofia de trabalho, apostando no

segmento da economia e na fidelidade à verdade na notícia. Na reestruturação

do Jornal nos anos 90, Homero passou a integrar o Conselho de Administração,

ao lado da viúva do fundador Zaida e do filho Delmar Jarros.

Homero Guerreiro foi dedicado à esposa, Prof. Nair e à filha Silvana,

considerava a família base sólida e insubstituível da organização social e humana.

Quantas promoções culturais nasceram da iniciativa de Homero! Sabia

colocar em tudo a palavra certa, o conselho apropriado, a visão, o justo valor

que Deus Nosso Senhor coloca na existência ao confiá-la a cada pessoa para

que administre esse tesouro de valor imensurável. Homero soube administrar a

vida no âmbito familiar, social e empresarial. Soube dar a si mesmo o que a

vida lhe destinara, soube dar-se à família em gestos de amor e de profunda

compreensão, soube dar à empresa o necessário para seu desenvolvimento,

soube dar à sociedade todo empenho de cidadão para vê-la cada vez mais

vivível, cada vez mais solidária para ter a pátria sem males. Após os 72 anos

96

Guerreiro silenciou, o seu silêncio nos conclama a ser pessoas fiéis à verdade

na comunicação, a ser pessoas construtoras da família e empreendedoras na

tarefa de um mundo melhor.

Jornal do Comércio, 25/03/2002, p. 4, Opinião.

O Poeta de Quaraí

Figura notável nas letras nacionais é ANTÔNIO CARLOS OSÓRIO,

nascido em Quaraí/RS, em 1928. Terra fértil de escritores: Dyonélio Machado,

Cyro Martins e Lila Ripoll, entre outros. Alfabetizou-se na terra natal, buscou o

colégio Marista de Sant’Ana e depois o Colégio Rosário na capital do Estado.

Freqüentou ao mesmo tempo as faculdades de Direito na UFRGS e o Curso de

Filosofia na PUCRS. Liderou a política acadêmica durante cinco anos.

Perigosa enfermidade comprometeu-lhe por vários anos os estudos

e as leituras. Finalmente ei-lo duplamente bacharel em Direito e Filosofia,

duas forças que lhe abrirão o caminho na sociedade e no trabalho. Amante

da leitura dos clássicos do século XIX Dostoievski, Tolstoi, Verlaine, passou

a ler os modernos: R.M.Rilke, Garcia Lorca, Paulo Neruda, T.S.Eliot, Cecília

Meireles e Fernando Pessoa. Com as leituras dos poemas ia-se

estruturando a alma do poeta Antônio Carlos Osório.

Teve a idéia desafiadora que o levou a Brasília, onde a advocacia tinha

terreno propício e abundante. Tornou-se brasiliense de corpo e alma.

Estruturou a vida profissional como também a vida cultural, criando a

Academia Brasiliense de Letras, de que é presidente há várias décadas. Ser

presidente de sodalício lítero-cultural é exercer a missão de servir às letras e

aos colegas com denodo e perseverança.

97

A trajetória de Osório nas lides literárias se concretiza em: Rebanhos de

Ventos; O Desafio do Branco; Arsenal da Vigília; O Silêncio e suas Raízes;

Quase Hai-Kais.

Agora aparece ANTOLOGIA PESSOAL, Os Degraus do Tempo, 2, com

excelente esboço de auto-retrato intelectual. No poema NUPCIAS, celebra a

grande missão da palavra:

Deixa que palavra

Por si mesma fale.

Se dela pedes magia e liberdade

Liberta-se das travas dos teus pavores. (p.24)

O poeta se reinventa com a força e a magia do engenho:

Revisto-me, refaço-me, reinvento-me em metáforas de sonho.

(p.27).

O tema da palavra retorna com força em cântico de Libertação, leia-se

a penúltima estrofe:

Palavra, és liberdade

Que crias, e recrias o criado

O mundo é todo herdado

Dominas todo o fado

E se sonhas, realidade se faz o teu sonhado (p.33).

É expressivo o “Quase Hai-kais Sísifo com a força mítico-fabulosa do

refazer de cada dia:

Retombo. Levanto.

E retomo de novo nos ombros

O peso do tempo. (p.69)

98

Em seus poemas percorre a vida, as pessoas, os lugares

habitados, os sonhos que foram tantas gentes. Tudo vai passando nas

estrofes, nos poemas, nas andanças do poeta, são os descaminhos da dor

que se encontram e se distanciam dos corações devorados pelo ócio e

pelo trabalho.

Em todas as expressões de elegia, de canções, de noturnos, de

sofrimento, de desventura ouve-se o palpitar firme e esperançado do Poeta

que espera o amanhecer de nova aurora.

Emocionalmente é o poema C.T.l, em memória do irmão Walter, que se

encerra no terceto:

O arquejo final do homem

não era mais humano:

só um solavanco da máquina (P.131).

TEMPUS FUGIT é o soneto que põe o fecho no panorama belo,

exuberante da Antologia pessoal de Antônio Carlos Osório, poeta de Brasilia,

poeta de Quaraí:

Caminhos, trilhas, passos, um dia

Todos unidos, e hoje bem distantes

Por crueza do tempo e geografia.

Não adianta sonhar o sonho de antes

Ele está sufocado sem piedade

Por garras de gigante sem idade. (p. 131).

A Platéia, 29/01/2002, Santana do Livramento/RS, Opinião.

99

Semana de Língua Portuguesa?

A Academia Brasileira de Filologia acaba de realizar a Semana

Nacional de Língua Portuguesa, iniciativa do presidente Leodegário de Azevedo

Filho. O evento teve pleno êxito em número e qualidade dos participantes. A

Língua Portuguesa situa-se como necessidade existencial para uma população

de 200 milhões de pessoas, é a oitava mais falada do planeta. Entre os idiomas

ocidentais fica atrás apenas do inglês e do castelhano. No país somos 170

milhões. Para esta população, aprender o Português é mais do que uma

questão educativa, é uma necessidade existencial na afirmação de Andréa

Antunes em reportagem da FOLHA DIRIGIDA.

A importância do idioma foi discutida no I Seminário Nacional de Língua

Portuguesa, realizado de 8 a 12 de abril, na Universidade Estadual do Rio de

Janeiro. A conclusão das teses e discussões que ocuparam os eruditos é de

ampliar e aprofundar científica e politicamente a aprendizagem da forma correta da

língua usada no Brasil. Para o filólogo Leodegário de Azevedo, a importância do

idioma ultrapassa as fronteiras territoriais. A tendência do mundo moderno é

fortificar os grandes blocos lingüísticos. Então temos que lutar pela unidade do

mundo lusofônico porque os grandes blocos linguísticos é que vão ter cada vez

mais lugar. “Nosso bloco terá importância universal na medida em que se mantiver

unido e forte”. Para manter a unidade é necessário o estudo contínuo e sério. Além

do estudo a leitura acompanhada de assíduos exercícios de expressão oral e

escrita. O cuidado no uso que idioma começa na família. A alfabetização é

fundamental. Falhas ocorridas nela podem comprometer a boa linguagem. No

ensino fundamental e médio o adolescente vai firmando a sua língua para enfrentar

o curso superior com o domínio do vernáculo. O que está se propondo é utópico

para nossas escolas. Haja vista os resultados da pesquisa da UNESCO em 2001

entre milhares de estudantes de 15 anos de idade. A literacia em língua materna no

Brasil alcançou níveis baixíssimos.

100

Oportuna e urgente é a ação do MEC na decisão do ministro Paulo

Renato Souza, de lançar a cruzada da literatura e educação, colocando livros ao

alcance dos estudantes. Além dos livros é preciso criar condições e mecanismos

propícios à leitura. “O trabalho pela qualidade do ensino passa pelo hábito da

leitura. Toda a sociedade deve participar”. (min. Paulo Renato).

Correio do Povo, 22/04/2002, p. 4, Opinião.

Santo Amaro — QG de Chico Pedro

O eminente escritor Francisco Pereira Rodrigues no dia de seu 90º

aniversário fez o lançamento solene, no salão Mourisco da Biblioteca

Pública, do livro — Santo Amaro, QG de Chico Pedro. É uma obra

histórico-literária de cerca de 90 páginas em que se narram as aventuras

de um lutador pela legalidade nos anos da Revolução Farroupilha. O autor,

filho de Santo Amaro, argumenta: “Por que as lutas e as vitórias dos

vencedores imperiais não têm as atenções literárias das hostes farrapas?”.

A história de Francisco Pedro de Abreu é uma saga de devotamento e de

patriotismo e de fidelidade à Pátria. A narração dos feitos de Chico Pedro

transcorre tranqüila nos vaivéns das tropas farrapas e imperiais à margem

direita do Jacuí onde a Revolução se desenrolou até as fronteiras argentino-

uruguaias. Ao mesmo tempo em que se acompanham as refregas vê-se

crescer a pessoa e o heroísmo dos combatentes. Santo Amaro, vila, cidade

cresce serena e bucólica, tranqüila como as águas do Jacuí.

Fragmentos da História Rio-grandense somam-se à grande história

de tantas famílias açorianas que em 1752 chegaram para povoar aquelas

ribanceiras para formar um povo trabalhador, consciente de sua vocação

101

de povoadores daquelas imensidões que hoje formam o mapa cívico-

político e cultural do Estado Meridional do Brasil.

Francisco Pereira Rodrigues com 90 anos de idade tendo andejado

pelas veigas e pelas serras do Rio Grande sempre teve o coração ancorado

naquele grupo de casas, junto da igreja protegida por Santo Amaro, que

espera novo diploma político para a comuna tranqüila e promissora.

Igaçaba, 06/2003, n° 73, p. 8, Cultura e Braças Literárias, Dom Pedrito/

RS, 07/2003, p. 3.

Carlos Dante de Moraes

Transcorre no dia 27 de julho o centenário de nascimento do crítico

e literário ensaísta Carlos Dante de Moraes, nasceu em Santa Maria e

faleceu em Porto Alegre. Freqüentou o Colégio Anchieta e o Colégio Militar.

Bacharelou-se em 1927 pela Faculdade de Direito. Exerceu jornalismo em A

Federação e no Correio do Povo, funcionário da Secretaria do Interior do RS

e procurador do Estado. Foi um dos principais críticos literários ao lado do

primo Moysés Vellinho, nas décadas de 1930 a 1970. Os seus artigos

ilustram a revista Província de São Pedro. Além desses textos, publicou:

Viagens Interiores, Tristão de Ataíde e outros estudos, Fim Trágico de

Antero de Quental, Algumas Reflexões sobre Rimbaud, O povo rio-

grandense às vesperas de 35, Figuras e Ciclos da História rio-grandense,

Três faces da Poesia, Alguns Estudos e fragmento de autobiografia. Era um

eremita em seu gabinete de leitura, de estudos e de redação de seus

artigos, que apareciam no Correio do Povo, na Revista da Província de São

Pedro ou revista Estudos. Sua formação intelectual e artístico-literário tem

mito de sua leitura de autores franceses e alemães.

102

O seu drama interior é relatado no fragmento de autobiográfia, onde

triunfa a luz que jorra da Verdade do Verbo de Deus-Jesus Cristo, após dias

e anos de intensos sofrimentos. Em 1975, mestre Gulhermino César

escreveu: “Carlos Dante de Moraes, sem sair de Porto Alegre, de seu

gabinete de estudos, onde se encaramuja para mais isento registrar os sons

do grande mundo das paixões ainda vivas numa página amarelada; de sua

solidão ele estende os olhos para alcançar nos escritores seus amigos que

elegeu para o comércio diário-preocupação que mais o absorve: ser livre em

face da sociedade escrava das convenções, das utopias barbarizantes, das

leituras ideológicas, das ambições materiais, das artes desumanizadas”. A

leitura dos ensaios críticos de Carlos Dante é agradável e ilustrativa, os

escritores ou poetas estudados aparecem de face atraente e reveladoras de

seus valores estéticos e humanos. A sua crítica tanto na metodologia como

na profundidade se modela na crítica humanista e ontológica apregoada e

praticada pelo mestre Alceu Amoroso de Lima. Os jovens, colegas e amigos

de seus filhos freqüentavam o gabinete de Carlos Dante, transfigurava-se,

então, no educador incansável, sabia derramar seus conhecimentos nos

espíritos juvenis e sedentos de paz e amor.

Correio do Povo, 22/07/2002, p. 4, Opinião, O Estafeta, 24/07/2002,

Veranópolis/RS, p. 2, Opinião, A Platéia, 02/08/2002, Sant’ana do

Livramento/RS, p. 06, Opinião e O Mundo das Letras, 09/2002, p. 02.

Lobo da Costa: 150 anos.

A cidade de Pelotas, o Rio Grande e o Brasil preparam-se para

celebrar os 150 anos de nascimento de Francisco Lobo da Costa. Aquele vate

lírico-romântico que enfeitiçou os salões nos saraus de várias cidades do Sul.

103

A sua presença enaltecia uma festividade com a recitação de seus poemas

longos ou breves, sempre maravilhosos.

Desde a mocidade estive e estou muito ligado à Literatura, a leitura de

antologias me dá prazer. Ao chegar ao Colégio São Francisco, em Rio

Grande/RS, o pai de aluno meu, ao encontrar-me certo dia, me recitou o

poema de Francisco Lobo da Costa — VINGANÇA. Emprestou-me o senhor

Alcides Duarte o livro AURAS DO SUL. Foi a minha descoberta do vate. Anos

mais tarde em 1952 quando pensei o nome e o tema de tese de doutoramento

veio-me à mente Francisco Lobo da Costa. Com o meu caro e saudoso

orientador de tese Prof. Guilhermino César empreendi a investigação dos

textos do poeta em livros, jornais e revistas nas bibliotecas de Pelotas, de Rio

Grande e de Porto Alegre.

Estávamos às vésperas do centenário do nascimento do poeta.

Registravam-se belas conferências de Moysés Vellinho, de Mozart Vitor

Russomano e outros. Aos poucos a tese ia-se estruturando. Em novembro

aconteceu a defesa com banca de cinco examinadores: Guilhermino César

(orientador), Francisco da Silva Juruena, Moysés Vellinho, Silvio Elia

(PUCRJ) e Pedro Vergara. Após todos esses trabalhos e indagações era

DOUTOR em LETRAS. Foi minha maneira de celebrar o 1° Centenário de

nascimento de Francisco Lobo da Costa. Nas aulas de Língua ou de

Literatura na Universidade fui utilizando poemas do inspirado vate. Como

era interessante e belo ouvir recitação de versos do Lobo por gente do povo

tanto na Capital como no interior do Estado.

No Curso de Mestrado e Doutorado começaram aparecer teses e

dissertações sobre a obra lobatiana.

A colega Dulce Zimmermann ao realizar a dissertação de Mestrado

apresentou o estudo sobre a novela ESPINHOS d’ ALMA.

A Dra. Alice Therezinha Campos Moreira defendeu tese de doutoramento

em 1989 com a fixação do texto da OBRA POÉTICA de Lobo da Costa.

104

A tese mereceu ser publicada em parceria com FAPERGS, Instituto

Estadual do Livro e EDIPUCRS. É um excelente livro que está nas bibliotecas das

universidades desde 1991.

A fortuna crítica do poeta pelotense foi-se ampliando, ampliando

horizontes, afirmando-se como o grande romântico rio-grandense e brasileiro.

A Profª. Dra. Ângela Machado Treptow Sapper após longo estudo e

incansável investigação apresentava-se à argüição de sua tese em janeiro

de 2003, no dia 17, sob o título ficção em Dramaturgia e ficção em Lobo da

Costa edição crítica de textos. Vencedora é a propagandista por excelência

do pelotense ilustre.

A sobrevida do poeta vai-se alastrando através dos anos e das

existências sendo como dizia o latino Horácio: “Aere Perennius” (mais

duradouro que o bronze).

No dia 29 de junho de 2001, assumi a cadeira na Academia Sul - Brasileira

de Letras, em Pelotas, cujo patrono é Francisco Lobo da Costa. Pronunciei, na

época, entusiasta oração em que recordava e enaltecia a arte sedutora dos

poemas lobianos.

A poesia domina as palavras do grande vate de tão curta existência terrena

(1853-1888), e de intérmina sobrevida que vem atravessando século e meio para

se projetar no ocaso dos tempos ad aeternitatem.

Novo livro está-se preparando, novas e maravilhosas possibilidades de a

poesia chegar à admiração e ao curtir prodigioso do prazer estético.

Lobo da Costa mais conhecido e mais amado é uma festa para os

corações que amam a poesia, que exultam ao dedilhar as novas e ocultas

harmonias que estão adormecidas no imo de cada pessoa.

Com a edição da Obra de Lobo da Costa, marca imorredoura

do sesquicentenário do nascimento, Jandir João Zanottelli se perpetua

na galeria sublime de quem semeia poemas para colher felicidade,

alegria e AMOR.

105

Jornal O Mundo das Letras, 07/2003, p. 05. Academia Pelotense de Letras.

Lobo da Costa: sesqüincentenário

No dia 12 de julho celebraram-se, em Pelotas os 150 anos do

nascimento do maior poeta rio-grandense Francisco Lobo da Costa. Por

iniciativa da Academia Sul-Brasileira de Letras e da Universidade Católica

realizou-se magnífico Seminário de três dias. Seleto e numeroso público

freqüentou as sessões de conferências e debates. Na abertura da celebração o

Dr. Mozart Victor Russomano apresentou novidades sobre a vida e obra de

Lobo da Costa, acrescentando fatos relatados por ocasião do centenário em

1953. Ir, Elvo Clemente apresentou os estudiosos de Lobo da Costa: Alice TC.

Moreira e Ângela Treptow Sapper.

Aconteceu no 1° dia o lançamento do livro: LOBO DA COSTA — Obra

completa — organizada por Jandir Zanotelli e Ângela T. Sapper. As 100

primeiras páginas apresentam críticas e impressões sobre a obra de Lobo da

Costa, escritas por eminentes críticos e admiradores. Nas 500 páginas está a

Obra Poética com 345 páginas e restantes 158 com dramaturgia e ficção em prosa.

Depois de 115 anos do falecimento do poeta saem a prosa e os poemas

enfeixados em livro de 603 páginas, edição da Academia Sul-Brasileira de Letras,

assumida pela EDUCAT. Alice T. Campos Moreira apresentou análise e crítica da

obra poética, tema de tese de doutoramento. Ângela Treptow apresentou o seu

trabalho de tese sobre a prosa de Lobo da Costa. Foram ouvidos outrossim:

Valter Sobreiro, Manoel Magalhães, Adão Monquelat, Aldyr Schlee, Eduardo

Arriada, Beatriz Loner, Nelson Nobre e Gilnei Oleiro Corrêa.

Por que tantas celebrações em honra de Lobo da Costa? É o poeta

romântico por excelência cuja poesia atravessa os séculos XIX, XX e XXI.

Como é belo ouvir gente do povo recitar poemas curtos e longos do grande

andarengo que tanto escreveu em jornais e revistas em seus 35 anos de

106

existência. A grande lição do querido vate pelotense é de saber cantar as

alegrias, as tristezas, os dissabores e as aventuras da vida. Muitos poemas são

recitados nos gaipões na imensidão do pampa ou nas lonjuras do planalto. A

OBRA COMPLETA, livro de 600 páginas é fonte de estudos e de belos textos a

serem recitados em ocasiões festivas ou de luto. Lobo da Costa vive e revive

em cada geração com lirismo romântico que se aninha em cada coração que

sonha com a Esperança e com o Amor.

Correio do Povo, 5/08/2003, p. 4, Opinião.

10º Concurso Literário Mansueto Bernardi

A prefeitura de Veranópolis pela Secretaria de Educação lançou no

dia 09 de junho o 10° Concurso Literário Mansueto Bernardi.

É a clarinada do alto da serra que reboa nos vales do caudoso rio das

Antas, conclamando os poetas a dedilharem a lira do coração.

São dez anos em se ouvem os toques dos clarins, sempre encontram

eco no recôndito das pessoas que amam o belo nas letras, que amam a

cadência do poema, que amam a beleza que se pereniza e se lança no infinito

em busca da eterna beleza. O patrono, sempre lembrado, é Mansueto Bernardi,

aquele frágil emigrante de 1882, cedo largou as fraldas em que veio envolto da

cara Itália para a Roça Reiúna (Alfredo Chaves), Veranópolis.

A lição de vida de Mansueto com a esposa Idalina Mariante da Costa,

perdura não só pela presença física da Vila Bernardi, mas sobretudo pelas

lições de amor e de vida na Livraria do Globo, na emulação dos jovens

escritores como Erico Verissimo e muitos outros. Pelas mãos de Mansueto

Bernardi muitas vocações literárias encontraram caminho e ambiente onde viver

e justificar. Aí estão não só a Revista do Globo como também escritores da

107

década de 30 e 40 no Rio Grande do Sul. Hoje, no Concurso Literário, a estrela

de Mansueto Bernardi e a imagem de beleza de Idalina vão inspirar aos

adolescentes, aos jovens e aos adultos a realizarem o grande poema de sua

vida, luz de nosso porvir.

O Estafeta, 02/07/2003, p. 2, Opinião.

90 Anos nas Letras

No dia 23 de abril o escritor Francisco Pereira Rodrigues completa 90

anos de existência. Nasceu em 1913, em Santo Amaro. Cedo perambulou pelo

Rio Grande, de 1923 a 1925 foi aluno do colégio Santo Antonio (Garibaldi) que

lhe deixou saudades adolescentes. Realizou bacharelado em Direito,

alcançando por concurso o cargo de fiscal do ICM. Jovem brilhante de intensa

vida política, foi vereador em Itaqui, Taquari, Farroupilha e prefeito de General

Câmara que absorvera Santo Amaro. Dedicado esposo e solícito pai de família.

Enveredou desde cedo pelas trilhas das Letras sendo polimorfo

freqüentador da prosa e do verso. Os temas de sua ficção em contos e

romances, versam sobre a problemática social dos últimos 60 anos. Alguns

títulos lembram as lutas sangrentas de 1923: Sombras e Sangue; Terra

afogada, Marinheiros da Lama, Desumana solidão, Os degolados, Moinho

recorda a adolescência garibaldense e episódios da Revolução de Trinta. Os

poemas voltam-se para a campanha, recordam as planuras do Jacuí:

Quintilhas do meu Tear; Troteada. Nos versos na inspiração ombreava com o

saudoso mano Lauro Pereira Rodrigues. A vida política é lembrada em

Memórias de um Vereador.

Ultimamente Francisco P Rodrigues tem-se dedicado veementemente

no restabelecimento do foro municipal do atual Distrito de Santo Amaro. A força

política de Francisco Pereira Rodrigues jamais sossegou. No ano 2000,

108

inaugurou valiosa Casa de Cultura em Santo Amaro, a Academia Rio-

Grandense de Letras, esteve lá. Aos 90 anos o escritor, o político, continua

sendo aquele homem ativo, sempre disposto a novas iniciativas culturais. Os

embates e as durezas da existência fizeram-no amável e resistente, clarividente

e decisivo. As agremiações literárias a que pertence são para ele sua casa e

sua razão de ser cultural. Na presidência da Academia Rio-Grandense de

Letras, na sucessão do saudoso Dante de Laytano, empenhou-se e conseguiu

do governo do Rio Grande a sede da Academia. Notável coincidência, o dia 23

de abril é o Dia Internacional do Livro, lembrando os escritores falecidos nessa

data em anos diferentes: William Shakespeare e Miguel Cervantes. Para o Rio

Grande é a data do livro, celebrada em prosa e verso e pela vida laboriosa e

fecunda de Francisco Pereira Rodrigues exemplo de carinho pela história, e

lendas do Rio Grande nos 90 anos nas Letras e no afeto dos amigos.

Correio do Povo, 21/04/2003, p. 4, Opinião.

Quatro Centenários

O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul celebrou no dia

5, o 83° aniversário com a comemoração do centenário de nascimento de

quatro sócios efetivos: Cardeal Vicente Scherer, José de Araújo Fabrício,

Manoelito de Ornellas e Darcy Azambuja. O prof. Luiz Alberto Cibils apresentou

o Cardeal Vicente Scherer, arcebispo de Porto Alegre de 1947 a 1981. Criou o

Jornal do Dia que teve vida eficiente por 20 anos; notabilizou-se pela Voz do

Pastor Depois de resignar o mandato aos 75 anos, aceitou o cargo de Provedor

da Santa Casa. Desse ato heróico surgiu a salvação do grande complexo que

salvaguarda a saúde de tantas pessoas de todas as classes sociais. Nascido a

5 de fevereiro de 1903 faleceu no dia 8 de março de 1996.

109

O general José de Araújo Fabrício foi comemorado pelo Prof. Luiz

Alberto Cibils. Foram exaltadas as suas virtudes de militar devotado à vida

da Pátria, no ensino da juventude. Notabilizou-se em estudos e

investigações genealógicas. Mereceu por seu amor à história de famílias e

notáveis genealogias, ser membro efetivo e atuante da direção do IHGRS

por várias décadas.

O Prof. Dr. Miguel Frederico do Espírito Santo apresentou a vida e obra

de Darcy Azambuja, nascido na vila de Encruzilhada. No terceiro ano de

Faculdade apareceu com o livro No Galpão, livro premiado pela Academia

Brasileira de Letras. O jovem promissor na seara literária continuou a produzir

ficção com Coxilhas e Cidade Antiga. Notabilizou-se pelo livro TEORIA DO

ESTADO de que foi por dezenas de anos mestre nas faculdades e da Capital.

O professor Espírito Santo apresentou de maneira entusiasta e viva a

figura de Manoelito de Ornellas, nascido em 17 de fevereiro de 1903, em Itaqui.

Manoelito foi poeta, orador melodioso, professor, produziu Gaúchos e

Beduínos, Terra Xucra e Rodeio de Estrelas. As vidas centenárias passaram

em filme maravilhoso de valor, de poesia e de enaltecimento dos valores das

pessoas que deram força o vigor ao Instituto Histórico Geográfico. O presidente

Gervásio das Neves agradeceu envaidecido as brilhantes manifestações.

Correio do Povo, 2/09/2003, p. 4, Opinião.

110

UNIVERSIDADE, HISTÓRIA, MESTRES E IDÉIAS

111

Donde veio a PUCRS?

No dia 9 do corrente mês a PUCRS completa 54 anos de equiparação

universitária. Entre as universidades européias seria considerada pré-

adolescente, entre as coirmãs brasileiras é veterana. Nesta data recordam-se

as peripécias de uma fundação e de uma existência acadêmica. Em 1903, o

governo francês punha em prática a Lei Combes, que expulsava os religiosos

que não quisessem secularizar-se. Entre os milhares de banidos estava o

jovem Irmão Afonso (Charles Désiré Joseph Herbaux) com 16 anos. Entre

lágrimas deixaram a França para assegurar nos quadrantes do orbe a difusão

da fé católica e a cultura francesa.

Irmão Afonso, em 1904, ei-lo em Uruguaiana; de 1907 a 26, no

Colégio Santa Maria; em 1927 a 36 no Colégio Nossa Senhora do Rosário, à

Av. Independência. Em 1931, fundava, a pedido dos alunos, a Faculdade de

Ciências Políticas e Econômicas, a primeira no Sul do País. Em 1940, surgia

a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras; em 1945, a Escola de Serviço

Social; em 1947, a Faculdade de Direito. Em 1948, no dia 9 de novembro o

Decreto presidencial criava a Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Em 1950, o Papa Pio XII conferia-lhe o título de Pontifícia. Nesta caminhada

salientaram-se as atividades dos Irmãos Afonso, Faustino, José Otão,

coadjuvados por brilhantes professores como: Eloy José da Rocha, Elpídio

Ferreira Paes, Salomão Pires Abrahão, Ivo Wolff, Manoel Parreira, Francisco

Juruena, Antonio César Alves, Balthazar Gama Barbosa, Elyseu Paglioli e

tantos outros cujos nomes estão no livro da vida e no coração de Deus.

A Universidade veiu de uma Lei iníqua que a Providência

transformou em benefícios imensos para a educação, a cultura e a ciência

de muitos países. Irmão Afonso obedeceu ao Espírito que o guiou. Mais

tarde o Espírito esteve com os Reitores: Armando Pereira da Câmara,

Alberto Etges, Irmão José Otão, Irmão Liberato e desde 1979, com o Irmão

112

Norberto Francisco Rauch. O Espírito conduziu os primeiros anos, o

translado para o Partenon, para a Cidade Universitária, maravilhosa nos

edifícios, nos jardins e na paisagem. O Espírito tem sempre novas alvoradas

alvissareiras, novas jornadas de ciência, de cultura e de fé, que preparam a

civilização do Amor.

Correio do Povo, 08/11/2002, p. 4, Opinião.

70 anos de Economia

Em 1930, Irmão Afonso escutou as vozes dos alunos do Curso Superior

de Comércio que pediam FACULDADE. Existiam Cursos de Comércio desde os

primeiros anos do século. Os Maristas chegados, em Bom Princípio, agosto de

1900, a partir de 1904 abriram cursos de Comércio em Santa Cruz do Sul,

Santa Maria, Garibaldi, Bom Princípio, Porto Alegre (Rosário). Foram os

verdadeiros pioneiros do ensino comercial no Sul do País. Em 1909, o

desembargador André da Rocha, criava a Escola Superior de Comércio na

Faculdade de Direito. O colégio Rosário sob a direção do Irmão Afonso ampliou

os estudos do Comércio passando a Curso Superior. Ainda não era curso

universitário. A turma de 1930 do Curso Superior de Comércio solicitou ao

Diretor, a criação da Faculdade. Durante 1930 foram feitos os preparativos junto

do Ministério de Educação. Autorizado o curso naquele ano, começou a

funcionar em março de 1931. Estava criada a primeira Faculdade Superior pois

a Escola Superior de Comércio correspondia ao Curso de Contabilidade de

nível médio. No dia 12 de março de 1931, iniciaram as aulas do Curso Superior

de Administração e Finanças, tomando em seu reconhecimento em 1933, pelo

Decreto n° 23.993 do presidente Getúlio Vargas, o nome de Faculdade de

Ciências Políticas e Econômicas, a pioneira no sul do Brasil.

113

A Faculdade teve os primeiros professores: Eloy José da Rocha (Diretor),

Félix Contreiras Rodrigues, Salomão Pires Abrahão, Elpídio Ferreira Paes, Breno

Pinto Ribeiro, José Pereira Coelho de Souza, além dos Irmãos Afonso, Estamislau

e Gabriel Victor.

A novel Faculdade foi singrando solitária quando, em 1940, surgiu a

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a primeira do Sul, em 1945 e 46

seguiram-se as Faculdades de Serviço Social e Direito. Estava ali concretizada

em 9/11/1948, a Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

A faculdade pioneira, em 1998, com a reforma do estatuto, tomou o

nome de Administração, Contabilidade e Economia. No início de fevereiro,

começaram as obras do prédio 50, que terá 11 andares, destinado a

receber os alunos, mestres e pesquisadores, que, em 2001, celebrarão os

70 anos das Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas.

Correio do Povo, 25/02/2000, p. 4, Opinião.

60 Anos: Letras e Filosofia

No dia 26 de março de 1940, o salão nobre da centenária Faculdade

de Direito se engalanava para a sessão solene de inauguração da

Faculdade Católica de Filosofia, Ciências e Letras, pioneira no Sul do País.

O Prof. Armando Pereira da Camara, proferiu a aula inaugural sob o tema —

Filosofia e a Cultura Nacional. O Irmão Afonso, o idealizador e fundador

esteve presente, acompanhou a sessão emocionado. Colheu naquela hora

os primeiros frutos de sua semeadura: começavam a funcionar os Cursos de

Filosofia, Letras Clássicas, Neolatina e Anglo-germânicas, Geografia e

História e Ciências Sociais.

114

Daquela maravilhosa e profícua tarde surgiram as atuais faculdades

de Letras, de Filosofia e Ciências Humanas, com os respectivos cursos de

Doutorado e Mestrado. Dessa Faculdade, houve irradiação nos diversos

bispados com a colaboração do Irmão Faustino: Caxias do Sul, Pelotas,

Bagé, Santa Cruz do Sul, Santa Maria e Uruguaiana.

Nesses 60 anos, quantos professores formados partiram da Praça Dom

Sebastião, da Cidade Universitária do Partenon, a semear a ciência, a cultura e

a luz da fé em tantos corações e em tantas mentes juvenis do Rio Grande e do

Brasil! 60 anos depois contemplamos o milagre realizado pela centelha do

espírito iluminado do Irmão Afonso, secundado pelo espírito empreendedor

do Irmão José Otão e de tantos mestres como: Eloy José da Rocha, Elpídio

Ferreira Paes, Salomão Pires Abrahão, Manoel Coelho Parreira, Irmão

Roque, Irmão Dionísio Fuertes Alvarez, Ernani Fiori, Ivo Wolff, Francisco

Juruena, Antonio César Alves para mencionar alguns dessa plêiade

maravilhosa e devotada ao ensino e à ciência. Ao comemorar os 60 anos as

atuais Faculdades de Letras e de Filosofia e Ciências Humanas elevam um

grande hino de louvor a Deus por tanto bem realizado, por tantas vocações

que floresceram para que a Educação, a Ciência e a Cultura estejam no

nível atual, lançadas sempre para um futuro de melhores dias na

salvaguarda da infância e juventude para alçançarmos a verdadeira

civilização do amor.

Correio do Povo, 25/03/2000, p. 4, Opinião.

São 30 anos de História

No dia 28 de agosto celebrou-se o 30º aniversário da criação do

Programa de Pós-Graduação de História, na PUCRS. Houve comemoração

115

interna com o lançamento da Revista ESTUDOS IBERO-AMERICANOS em

edição especial. Naquele 1973 os programas de Pós-Graduação no Rio Grande

do Sul iam tomando feição mais séria. Com a presença do Prof. Gregório

Martin, do Luis-Lorenzo Rivero, o coordenador Prof. Irmão Elvo Clemente, com

Mons. Urbano Zilles, resolveram iniciar a caminhada do Mestrado em História

da Cultura em três lances: Brasileira, Portuguesa e Ibero-americana.

Com o andar dos estudos e pesquisas o curso chegou a ser

reconhecido como MESTRADO em História, passando a DOUTORADO. A

galeria dos coordenadores não é pequena nem sempre tranqüila. O

Programa se desenvolve num perfil próprio, com destaque: a formação

acadêmica internacional, a pluralidade temática de ensino de pesquisa, com

abordagem interdisciplinar.

A área de concentração é vasta e se expressa na História das

Sociedades Ibéricas e Americanas. As principais linhas de investigação:

Sociedade, Estado e relações internacionais, em liberalismo e Reação na

Península Ibérica e na Ibero-América; Sociedades, Práticas políticas e conflitos

na América Latina; Relações entre os países do Cone Sul e Política interna

brasileira. São seus coordenadores: Braz Augusto Aquino Brancato, Earle Diniz

Macarthy Moreira, Sandra Maria Lubisco Brancato e Helder Gordim da Silveira.

Este último coordena o setor de Meios de Comunicação de Massa na Política

externa do Brasil.

Outras linhas de investigação: Sociedade, Urbanização e Imigração

com os itens: Cidadania e Nacionalidade: Problemas de integração política de

alemães e descendentes no Rio Grande do Sul sob a coordenação de René

Ernaini Gertz; Urbanização, Estrutura Social e Mentalidade, sob a coordenação

de Núncia Santoro de Constantino; Porto Alegre, cidade, relações municipais,

história sob a coordenação de Margaret Marchiori Bakos; História das

mentalidades — o sagrado e o profano, coordenação de Moacyr Flores.

116

Outra linha de investigação é a Sociedade, Ciência e Arte com os

projetos sobre: a modernidade no Brasil e Países platinos sob a

coordenação de Maria Lúcia Bastos Kern; As fronteiras entre a tradição e

Modernidade, coordenação de Ruth M. Chittó Gauer; Cidades, Cultura

Urbana e Elites, coordenação de Charles Monteiro.

Outra linha de investigação denomina-se Sociedade, Cultura material e

povoamento: Projeto internacional de investigação interdisciplinar da Região

Platino Oriental, sob a coordenação de Arno Álvarez Kern; Arqueologia pré-

histórica no Sul do Brasil, coordenada Maria Cristina Santos.

Com os títulos das áreas e respectivas linhas de pesquisa pode-se

inferir como a abrangência do Curso de História é imensa.

Nenhuma atividade do ser humano é olvidada pelo investigador de

História, pois qualquer atividade humana é história, pode ser narrada e

investigada para orientação e guia das novas gerações. Procura pela

pluralidade dos temas a unidade da família humana.

Jornal do Comércio, 11/09/2003, p. 4, Opinião.

30 Anos de Geriatria e Gerontologia

A Faculdade de Medicina da PUCRS foi criada em março de 1970, em

seu currículo estava presente a GERIATRIA, primeira faculdade dar tal

destaque a essa disciplina sendo professor o Prof. PhD. Yukio Moriguchi. Com

visão ampla vislumbrou e viu claramente o futuro da vocação do médico para o

idoso. Celebrou-se no dia 13 de novembro os 30 anos da fundação do Instituto

de Geriatria que acrescentou mais amplitude com a Gerontologia. Após a missa

de ação de graças, começou o Seminário comemorativo que reuniu centenas e

centenas de ex-alunos do Instituto iniciado em 1973, no Reitorado do Irmão

117

José Otão e na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação do Prof. Dr. Ir. Elvo

Clemente. Além da disciplina na Graduação, começou o Curso de

Especialização em Geriatria com duração de 360h, além de horas de estágio e

de práticas geriátricas. Na abertura do Seminário o Prof. Dr. Yukio Moriguchi

forneceu dados importantes da vida do Instituto que passou da Especialização

para o Mestrado e para o Doutorado, funcionando numa ala do Hospital São

Lucas. Em 1999 o Instituto de Geriatria e Gerontologia teve da Organização

Mundial da Saúde o título de Centro de referência para prevenção das

patologias e doenças crônico-degenerativas associadas ao envelhecimento. Se

IGG está nesta situação grandiosa isso é devido primeiramente à Reitoria da

Universidade que autorizou espaço e outros benefícios.

Em segundo lugar deve-se relembrar e realçar os investimentos do

Governo do Japão através da JICA quer financeiros, quer doação de aparelhos

e máquinas sofisticadas, quer em bolsas para estudo e doutoramento de

dezenas de brasileiros e da vinda dc professores de várias universidades

japonesas que vieram ministrar cursos no Instituto de Geriatria.

Vejam-se alguns dados:

Nestes 30 anos o IGG recebeu a colaboração científica de 41

professores de várias universidades. Muitas investigações científicas têm sido

subvencionadas pelo Japão; O curso de treinamento para médicos especializou

146 médicos na América Latina e dos países de língua portuguesa; O Curso de

Especialização para alunos do Rio Grande do Sul especializou 630 geriatras;

foram 55 os residentes formados em Geriatria, no Programa de Pós-Graduação

até momento formaram-se 59 mestres e doutores. A presença de membros da

equipe do IGG em congressos e seminários nacionais e internacionais é

assídua e eficiente apresentando trabalhos e teses cujo número é de 428

trabalhos originais.

O governo japonês através do Consulado Geral e da JICA tem

proporcionado verbas importantes num total de cinco milhões de dólares. Há

118

projetos de pesquisa sobre geriatria e gerontologia que ultrapassam as

fronteiras do Brasil: Projeto Veranópolis e o Projeto Gravataí. No corrente ano

iniciou o projeto Glorinha.

Além do ensino, a pesquisa e a extensão o IGG é responsável pelo serviço

de internação de 10.228 pacientes e o ambulatório geriátrico já atendeu, até

outubro deste ano, 75.752 pacientes.

Paralelamente a esses trabalhos do IGG o Prof. Dr. Yukio Moriguchi

e sua equipe têm realizado trabalho pioneiro nas colônias japonesas na

região Sul do Estado, examinando seus hábitos de alimentação com os

imigrantes nipônicos.

O Instituto de Geriatria e Gerontologia tem hoje uma estrutura que serve

de referência nacional e internacional. Como é belo ver a Ciência, a Técnica e a

Medicina praticadas por profissionais abalizados em tornar a vida dos idosos mais

apreciada e digna e mais humana, conforme os desígnios de Deus.

Jornal do Comércio, 26/11/2003, p. 4, Opinião.

Mestre e Magistrado

No dia 29 de abril faleceu o Ministro, professor Eloy José da Rocha, aos

91 anos. A sua vida perpassou o século, as suas atividades abrangeram

Universidades e tribunais de justiça. Em 1931, era companheiro do Irmão

Afonso e de Elpídio Ferreira Paes na fundação da primeira Faculdade de

Ciências Econômicas do Sul, sendo seu diretor de 1933 a 38. Em 1939

colaborou na estruturação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,

novamente a pioneira do Sul, sendo seu diretor de 1939 a 1946. Além do Irmão

Afonso estavam presentes Irmão Faustino e Irmão José Otão. Em 1947 ajudou

a fundar a Faculdade Católica de Direito, culminando em 1948 com a formação

119

da Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Eloy seguiu sempre os

ensinamentos do Irmão Weibert e do Irmão Afonso, sendo sempre um homem

de bem, nas funções de professor, de diretor, de juiz, de ministro do Superior

Tribunal de Federal, de que foi presidente.

Eloy José da Rocha na simplicidade e na operosidade foi modelo de

chefe de família, de cidadão e de magistrado.

Pouca gente relembra-lhe o nome pois passou os últimos dez anos no

retiro de seu apartamento, privando com os familiares, com os amigos mais

íntimos e com os livros inesquecíveis. Professor de Direito do Trabalho, soube

com Alberto Pasqualini dar uma orientação séria e profunda às Teorias e aos

princípios do Direito. Formou a equipe que prosseguiu a missão com Carlos

Alberto Barata da Silva e colegas de jornada na UFRGS e na PUCRS, traçando

as diretrizes amplas e cristãs.

O exemplo e a obra construtiva e perene do homem de bem - Eloy José

da Rocha - permanecem e prosseguirão entre mestres e discípulos, nas

gerações vindouras. A inestimável colaboração dada à fundação e à estrutura

da PUCRS, desde o berço, em 1931, prosseguiu e prosseguirá perene na

maravilhosa biblioteca, que os filhos, cumprindo o desejo do ministro Eloy José

da Rocha, acabam de incorporar à Biblioteca Central Irmão José Otão.

Correio do Povo, 11/06/1999, p. 4, Opinião.

Celso Pedro Luft

No dia 28 de maio, Celso Pedro Luft, se vivo fosse completaria 80 anos

de profícua existência. Desde jovem dedicou-se aos estudos e, em especial, à

Língua Portuguesa. Éramos colegas. Tivemos um professor muito dedicado:

Irmão Vendelino, exímio mestre da leitura e da redação. Era admirável vê-lo

corrigir as composições; não perdoava erro de sintaxe ou de morfologia.

120

Em 1940, no início do Curso de Letras Clássicas, Celso Pedro foi aluno

da primeira turma. As aulas de Português, densas de exercícios e metódicas na

execução. Em 1963 deixou a vida marista para abraçar o matrimônio, sendo

esposo de Lya Fett. Em sua vida de magistério no Rosário, na PUCRS e na

UFRGS, foi o abnegado professor, exemplar de rara sabedoria filológica e

lingüística. Em 1954/55 esteve na Universidade de Coimbra, onde se

aprofundou e se especializou na Filologia Portuguesa com o mestre Manoel

Paiva Boléo. Celso Pedro estudioso incansável, enriquecia a biblioteca para

ampliar os horizontes de suas aulas. Aos poucos iam brotando as flores e os

frutos de seus estudos e meditações. Em 1954, aparecia Guia Ortográfico; em

1958 editava pelo I.E.L. o livro de poemas: Arcos da Solidão, denso de poesia e

de música interior. Em 1960, surgia Gramática resumida, acompanhada em

1967 pelo Dicionário de Literatura Portuguesa e Brasileira. Outros escritos mais

práticos enriqueceram a estante dos estudiosos: Textos e Testes e Moderna

Gramática Portuguesa, 1976. Em 1985 publicava o “Mundo das palavras”

durante vários anos era coluna procurada e anotada do Correio do Povo. Em

1982, contava com 4.000 artigos publicados.

Espírito sensível, alma amorosa, tudo em sua vida era marcado pela

sensibilidade e pelo afeto. As letras da Província não fizeram justiça ao valor de

Celso Pedro Luft como professor universitário, como exegeta da língua, como

gramático ponderado e justo na interpretação de dúvidas da sintaxe, da

morfologia, do léxico e da ortografia. Ao celebrar a lembrança de seus 80 anos,

recordo-o como amigo sincero, como colega competentíssimo, como mestre

insuperável da nossa amada Língua Portuguesa. Em tudo havia a harmonia da

lógica e do afeto. Sabia amar as pessoas e a Língua Portuguesa instrumento da

Fé, da Verdade, da Esperança e do Amor.

Correio do Povo, 05/07/2001, p. 4, Opinião.

121

Centenário do Mestre de gerações

Elpídio Ferreira Paes nasceu na Palmeira, no dia 24 de fevereiro de 1902.

Em 1910, o major Pedro Pelágio foi transferido para a Capital. O jovem freqüentou

os Cursos Preparatórios, dirigidos pelo Irmão Weibert, no Colégio Rosário. Anos

depois era bacharel em Direito. Advogou em Taquara, onde encontrou a jovem

Isolda Holmer, que lhe foi esposa até a sua morte aos 12 de fevereiro de 1972.

Elpídio sentiu-se atraído pelo ensino: o curso pré-jurídico do Rosário conheceu o

professor de Português, de Literatura e de Latim. Em 1931 Irmão Afonso, mente

iluminada, resolveu atender o pedido dos alunos do Curso Superior de Comércio e

fundou a Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas, a primeira no Sul do

Brasil. Junto a Eloy José da Rocha estava Elpídio; com Irmão Afonso os três

fizeram Collegium. Elpídio era secretário e professor de Direito. Em 1939, projetou-

se a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, começou a funcionar em 26 de

março de 1940. Elpídio estava lá na organização e como professor de Latim e

Literatura Latina. Em 1941, iniciaram os trabalhos para estruturar a Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Estado, Elpídio era um dos

incentivadores, também professor. Abriu concurso para Direito Romano na

Faculdade de Direito, Elpídio se inscreveu e venceu com brilhantismo o

concorrente, pessoa de alto saber humanístico e jurídico. Eis o professor Elpídio

com aulas nas Faculdades de Filosofia e Direito. Em 1946, preparava-se a

Faculdade Católica de Direito, Elpídio sempre presente prestando seu nome, sua

habilidade e seu saber para a novel Faculdade, inaugurada em 1947. Professor de

quatro Faculdades, mestre eficiente e estudioso das novas conquistas nas letras e

nas investigações do Direito Romano. No fim da década de 1950 Elpídio foi-se

aposentando das aulas da PUCRS como já se havia retirado da Faculdade de

Economia, em 1940. Ajudou na criação do Colégio de Aplicação com a Isolda e

Graciema Pacheco. Atendia os alunos com o sabor agridoce da ironia sempre

cordial. É o mestre de gerações em seu centenário.

122

Jornal Igaçaba, 03/2002, Roque Gonzales/RS, p. 4, Cultura, A

Platéia, 27/02/2002, Sant’ana do Livramento/RS e Correio do Povo,

23/02/2002, p.4, Opinião.

Professores eméritos

É bela a etimologia de emérito. Provém do verbo e-merére. Na antiga

Roma o soldado emérito era aquele que deixava de servir no exército,

mantinha, porém a dignidade e as condecorações. Professor emérito é o

docente que deu sua vida, sua dedicação, sua cultura, sua ciência aos alunos e

agora deixa a cátedra para colher o reconhecimento de sua Escola, de seus

colegas e de seus alunos, nova lição de vida.

No dia 25 de novembro 11 professores da PUCRS receberão o diploma de

Professor Emérito — na Faculdade de Letras: Adda Nari Menezes Alves e Maria

Zita Englert; na Faculdade de Direito: Carlos Alberto Allgayer (post-mortem),José

Sperb Sanseverino e Paulo Claudio Tovo; Faculdade de Biociências: Milton

Menegotto; Faculdade de Medicina: Eduardo Beck Paglioli, José João Menezes

Martins, José Torquato Severo, Manuel Adolpho May Pereira e Oscar Belmiro. Bela

galeria de nomes e mais que nomes de méritos. Cada um merece um vasto e

eloqüente artigo de jornal, de fulgurante programa de televisão, de infinitos

aplausos de tantas gerações que conquistaram saber e habilidade profissional na

água cristalina das lições dos mestres eméritos.

Olhando para os diversos centros onde atuaram os mestres notam-se a

diversidade de conhecimentos e a variedade de métodos e de práticas

convergindo para um grande ideal: formação integral do profissional de Letras,

de Direito, de Biologia e da Medicina. Os 11 eméritos brilham na galeria das

pessoas que construíram a PUCRS nos últimos trinta anos. A grande lição que

os mestres eméritos ensinam é a mesma que o MESTRE deixou no Evangelho

123

— “Não vim para ser servido, vim para servir”. Eis a grande lição de altruísmo,

do semeador da boa semente, que se preocupa em dar, sem esperar retorno

das benesses de suas mãos. Ensinaram a manter a vida com saúde e

dignidade; ensinaram a prática das leis no respeito do outro; mostraram o

caminho da comunicação pelas línguas começando pela língua materna e

alargando horizontes pelo inglês e pelo espanhol. Os professores eméritos

recebem esta uníssona e grande saudação, o grande agradecimento numa

cascata de louvores que começa na caudal do tempo e se lança além dos

umbrais da eternidade, onde os sábios eméritos brilharão como estrelas.

Correio do Povo, 18/11/2002, p. 4, Opinião.

Vinte e cinco anos depois

Naquele 1978 houve dias festivos e horas de luto. No dia 28 de março

faleceu o Prof. Manoel Coelho Parreira, filiado ao Instituto dos Irmãos

Maristas, Vice-Reitor da PUCRS por seis anos, dedicado professor catedrático

de Mineralogia na UFRGS e no Curso de História Natural, Diretor da Viação

Férrea do Rio Grande do Sul. No dia 2 de maio concluiu sua viagem terrestre

o lrmão José Otão, Reitor desde o dia 8 de dezembro de 1954. A

Universidade no Partenon já cobria vasta gleba de um de outro lado do riacho

Dilúvio. O Hospital São Lucas fora inaugurado no dia 29 de outubro de 1976.

A Cidade Universitária fora inaugurada no dia 16 de setembro de 1968. A obra

sonhada pelo Irmão Afonso e conduzida por nobres e devotados

colaboradores: Elpídio Ferreira Paes, Eloy José da Rocha, Francisco

Juruena, Manoel Parreira, Ivo Wolff e outros recebera a consagração pela

vida heróica do Irmão José Otão. A Universidade estava realizada dentro

dos ideais da década de 1970. O ano de 78 teve o operoso esforço do

124

saudoso Irmão Liberato. O Irmão Norberto Francisco Rauch foi nomeado

Reitor pelo Cardeal Vicente Scherer no dia 28 de dezembro.

O ano de 1979 abria suas portas para novos labores, para novos

obreiros, para novos desafios. Novos edifícios foram surgindo linhas atrevidas

romperam a arquitetura anterior. Seguiram-se: Prédio 12, o Prédio 40,

dedicado à Extensão Universitária com o magnífico Museu de Ciências e

Tecnologia, único na América Latina. Convênios culturais com a Universidade

de Tubinga criaram novas oportunidades no PRO-MATA. O ano de 1998 viu a

inauguração do MCT, do prédio de eventos. A urbanização concluída em 1999

transformou o campus em múltiplos jardins. O campus de Uruguaiana

modernizou-se em âmbito de estudos e pesquisa.

Vinte e cinco anos depois, encontramos a PUCRS entre as principais

universidades da América Latina ombreando com as academias americanas e

européias. O Hospital São Lucas é ponto de referência. Vinte cinco anos

depois 30 mil alunos freqüentam as escolas em vários pontos do Rio Grande

em busca da VERDADE plena. Vinte e cinco anos recordam o passado,

energia para o Futuro sereno e alvissareiro.

Correio do Povo, 02/05/2003, p. 4, Opinião.

Egito Antigo

Realizou-se, sábado, dia 29 de junho a 8ª Jornada de Estudos do

Oriente Antigo, promoção do Curso de História da PUCRS. A Jornada teve

pleno êxito com a presença de várias centenas de professores, procedentes

dos Estados do Sul. A coordenação esteve com as professoras Margaret

Marchiori Bakos e Cláudia Musa Fay que conduziram galhardamente a Jornada

focalizando O EGITO na História.

125

O Prof. Ciro Flamarion Cardoso realizou duas brilhantes palestras, o

Irmão Elvo Clemente abriu os trabalhos com o texto sobre Egito Antigo.

Congratulo-me com a equipe organizadora deste evento pelo temário

escolhido e proposto à consideração desta ilustre platéia — Egito Antigo. A

história da humanidade está intimamente ligada ao Egito. A sua posição

geográfica, entre o berço e a expansão da raça humana, os acontecimentos

históricos passam pelo Cairo, navegam pelo rio Nilo e se expandem pelo porto

de Alexandria. As civilizações, as culturas têm seu nascedouro ou sua

incubadora junto das pirâmides. Por que o “Povo de Deus”, que teve sua manhã

nativa em UR na Caldéia, teve sua infância e juventude nas terras de Canaã;

teve de alcançar a maturidade junto das planícies do Egito para depois retornar

à Palestina, após os acontecimentos do Sinai e da peregrinação dos 40 anos

bíblicos, pelos desertos, até chegar à Terra prometida. O Egito está sempre

presente. Tema da 8ª Jornada de Estudos do Oriente Antigo, vão resplandecer

as conferências do Prof. Dr. Ciro Flamarion Cardoso com o seu conhecimento e

experiências do país das pirâmides, dos areais e das terras férteis que tantas

vezes saciaram a fome do mundo e que hoje vai minguando faminto de

alimento e de verdadeira paz.

Jesus Cristo teve a sua experiência salvadora no Egito. Nas terras do

exílio em que andaram os filhos de Israel, andou o Filho de Deus, ali aprendeu

a falar a língua de seus pais, ali conviveu escutando a fala dos adultos e

crianças dos vizinhos egípcios. De lá voltou adolescente para Nazaré e assim

respondeu à visão dos profetas — será chamado Nazareno.

Nos conflitos, nas horas de paz, o Egito Antigo, medieval, moderno

e atual, está sempre presente. No dealbar do século XIX, aí estavam as

pirâmides atentas às palavras de Napoleão, que apelou pelos 40 séculos,

para que sua façanha durasse duas décadas apenas...

Egito antigo vai-nos entreter nesta Oitava Jornada de estudos, de

investigações e descobertas na contemplação das Pirâmides que se erguem

126

mudas reverenciando os séculos e interrogando o futuro que brilha nas

águas barrentas ou diáfanas do misterioso e prodigioso Rio Nilo que espelha

as sombras fugazes dos milênios.

A Platéia, 07/07/2002, Santana do Livramento/RS, p. 6, Opinião.

Editoras Universitárias

Quem disse que a Universidade precisa de editora? A vocação da

universidade é produzir saber ou ciência, descobrir a verdade em todos os

seres e de todos os seres. Bolonha (Itália) viu o nascimento do primeiro

centro de altos estudos em 1088. Alunos e mestres de todos os pontos da

Europa se reuniram para estudar, para aprofundar questões filosóficas e

jurídicas. Era a verdadeira Alma Mater. Lá estudaram grandes cientistas,

filósofos, literatos como Dante, Petrarca, Copérnico, Erasmo de Roterdam,

Carducci e tantos outros.

As aulas se traduziam em manuscritos, havia a profissão de copista,

havia o lente (legente) (que lia o texto na aula magna). Já havia o divulgador dos

textos, que em Coimbra séculos depois em 1308, tomavam o nome de sebentas.

Com Gutenberg se processaram os incunábulos, depois os livros. Para a época

moderna apareceram outras modalidades de comunicação ou de levar além o

produto da pesquisa ou do saber. O livro, porém, mantém sua hegemonia, com

apresentações variadas mas sempre mantendo a essência de livro. As

universidades brasileiras também viveram seus anos de sebentas ou de textos

policopiados, nas últimas décadas xerocados, etc. O que sempre valeu foi o texto

impresso em forma de livro seja anuário ou atas de algum evento.

Em 1931, iniciou o surgimento da escola superior católica de Ciências

Econômicas em Porto Alegre, na Avenida Independência. Logo surgiu o Anuário

127

que se repete há 72 anos. Nos começos era feito em gráficas particulares, a

partir de 1956 tanto a Revista VERITAS como o Anuário e os Anais eram

processados no Editorial da Universidade. Várias dezenas de obras foram

editadas sob essa égide. A partir de 1988 o Reitor Irmão Norberto Francisco

Rauch resolveu criar a EDITORA, termo atualizado com programação definida.

Nestes 15 anos se publicaram mais de 833 títulos de obras sem contar a edição

das 16 revistas especializadas.

As coleções são especialidade da EDIPUCRS, a melhor coleção é de

Filosofia com 190 títulos. Dessa maneira o saber conquistado nas investigações

é levado para longe para leitores de todo o Brasil e do mundo. A vocação da

editora complementa a vocação da Universidade expandir a VERDADE.

Correio do Povo, 07/11/2003, p. 4, Opinião.

Editora Universitária

A Universidade, alma mater do saber, desde o século X, em que

surgiram os primeiros cursos em Bolonha (Itália), foi e é a criadora de livros.

Antes do século XV estavam em voga os pergaminhos, os papiros. Depois de

Gutenberg os escritos impressos em papel. Na Europa e no Brasil as

universidades ilustraram-se na edição de textos, frutos de investigação e de

elaboração dos mestres. As arcadas de São Paulo e de Recife madrugaram no

Brasil com as edições de livros. Hodiernamente as Universidades do Rio, de

São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre tomaram a iniciativa de inaugurarem

editoras. A PUCRS desde os começos manteve o Editorial que em 1988 tomou

o nome de EDIPUCRS. Centenas de livros foram publicados naquele período,

com duas revistas e o anúario. Nesta última década sob a coordenação do

conselho editorial, presidido pelo Prof. Dr, Urbano Zilles e a direção do Prof.

128

Antoninho Muza Naime, a Editora teve notável desenvolvimento. O ano de 1989

teve 12 publicações, em novembro do corrente ano chegou a 83 títulos, além de

editar 20 revistas com várias periodicidades. É notável essa produção de obras

científicas, literárias, históricas e sobretudo filosóficas.

As coleções são a força propulsora das edições dentre elas destacam-se:

FILOSOFIA com 104 títulos; HISTÓRIA com 28 títulos; TEOLOGIA com 18 títulos;

LITERATURA com 25 títulos; EDUCAÇÃO com 20 títulos; CADERNOS com 13

títulos diferenciados. Além da publicação de livros, a EDIPUCRS edita periódicos :

Jornal Mundo Jovem, Análise, Biociências, Estudos Ibero-americanos,

Odontociência, Psico, Letras de Hoje, Teocomunicação, Veritas, Educação, Revista

da FAMECOS, Comunicação do Museu de Ciências e Tecnologia, Brasil/Brazil, Acta

Médica, Revista de Medicina e Direito e Justiça.

A Universidade cumpre a sua vocação originária: ser lugar rico de formação

e humanitas, ao serviço da qualidade de vida, seguindo a verdade integral do homem

no seu caminho na história. É cultura do homem e para o homem, que se difunde e

se robustece nos diversos campos do saber, nas modalidades e formas de costume,

no ordenamento correto e harmônico da sociedade (Fides et Ratio). Castro Alves

declamava: “Espalhai livros à mão cheia. Mandai o povo pensar!”...

Correio do Povo, 10/12/1999, p. 4, Opinião.

Que universidade é esta?

Hoje, muito se escreve e muito se discute sobre a universidade. Na

maioria das vezes, porém, fica-se na periferia da problemática, teme-se entrar

no âmago da questão. Por isso vamos à definição de universidade, oferecida

pelo professor Basílio Rueda Guzmán, educador e superior marista por 16

129

anos, falecido em janeiro de 1997 no México: “Universidade é um espírito que

cria o pensamento e o capacita à ação científica universal” (2/5/1973).

Este espírito se apresenta em três dimensões:

1. Pensamento puro ou a vida do pensamento, que vive e se

desenvolve faz sua trajetória em si e para si. É aquela atividade silenciosa,

profunda, dos pensadores, dos inventores, dos poetas, dos profetas, que desde

as eras mais remotas vem alimentando as gerações até o surgimento dos

primeiros núcleos de estudos — universitas studiorum. Aqui menciona-se

Bolonha, que, em 1088, organizou o primeiro centro universitário, impulsionado

pelo espírito renovador que surgia dos mosteiros.

2. A universidade é um espírito que cria pensamento para educar os

que acreditam nela e nela ingressam. E o sentido mais profundo da

universidade, como alma mater (mãe como nutriz). Cada jovem universitário é

uma vida que se abre, é um processo que se inicia, é uma pessoa que se

aventura e se entrega à vida de um modo completamente distinto daquele em

que chegou. Daí decorre a grande responsabilidade da instituição, dos diretores

e mestres dessas jovens existências.

3. A universidade tem a vida para si mesma, mas também para a

sociedade, para o país, como educadora, como emissora de mensagem. A

universidade se abre e se insere numa sociedade como uma vida criadora de

pensamento que se difunde entre as pessoas de seu tempo e de seu âmbito. A

universidade seria uma espécie de consciência crítica da sociedade, do Estado,

do país e do mundo.

A grande vocação da universidade é a formação de líderes, de

profissionais do pensamento, das artes, das ciências, das tecnologias, capazes de

indicar novos rumos para o bem de cada pessoa, de cada grupo e de cada país.

Que universidade é esta que cada leitor, que cada pessoa tem diante

dos olhos ou diante de seu pensamento? Desde a década de 1930, a

130

universidade brasileira vem-se desenvolvendo, abrindo espaços, criando

pensamentos, formando profissionais...

Como está reagindo a universidade diante dos novos desafios, das

crises, das incertezas e das mutações freqüentes da atualidade? Os dirigentes da

universidade pensam realmente formar pessoas, profissionais nas dimensões

humanas, sociais, religiosas e cívicas? Vive-se a universidade que não evoluiu

muito do modelo napoleônico presente até pouco tempo, passando, no Brasil, por

duas ditaduras que durante mais de três décadas ditavam o processo

administrativo-pedagógico da instituição superior. Habituou dirigentes e

funcionários a receberem tudo pronto para ser executado. Com a

democratização, a nova Lei de Diretrizes derrubou barreiras e obstáculos, e os

responsáveis pela redação do estatuto, pela estruturação dos regulamentos,

parecem ter medo de usar a liberdade ou a autonomia que lhes é conferida.

Vivem-se, então, problemas cujas soluções dependem do espírito da

universidade, desse espírito que cria ciência e saber, que abre portas e leva o

aluno a pensar e a sentir-se em seu ambiente de estudo, de pesquisa e de

valorização pessoal. Não se nota o engessamento de currículos ultrapassados,

de pré-requisitos regulamentados mais pela desídia do professor do que pelo

espírito de facilitar novos caminhos, novos avanços ou salvar novas vocações de

lideranças jovens.

Que o espírito divino que ilumina as mentes e esclarece os corações dê

força para que a universidade que está aí seja renovada e atenta ao espírito e à

aventura salvífica dos jovens em formação.

Zero Hora, 05/10/1999, p. 25, Opinião.

131

Universidade: Novos caminhos?

Fala-se tanto em mudanças, em novos caminhos para a indústria, para

o comércio, e a Universidade como fica? O espírito que moveu os fundadores,

os basiladores de sua estrutura parou, tornou-se inativo? O espírito de uma

instituição nunca está parado, nunca esmorece, poderá lamentavelmente,

ausentar-se. Desde a implantação da primeira Universidade em Bolonha em

1088 até o presente, o espírito de investigação da Verdade, do Bem e do Belo

teve e tem sua vida em muitos corações. Aqueles homens irrequietos desde os

bosques de Academo, na antiga Hélade, vêm passando gerações, séculos,

milênios, até nós com o facho da inquietação em busca da Verdade na

natureza, nos seres humanos, nas sociedades, nos remos mineral, animal e

vegetal. O espírito não sossega enquanto não descobrir a Verdade física,

natural, espiritual, transcendente. Como escrevia e exclamava a grande

inteligência do século V, Agostinho de Hipona: “O nosso espírito, nosso coração

não tem paz enquanto não descansar em Deus, a plenitude da VERDADE.”

O coração humano é insaciável peregrino em busca do Santo Graal

das Ciências, das Artes, da Tecnologia e da Ética.

Cada centro universitário tem sua alma, seu modo de ser, de

estruturarse, de abrir-se para novos horizontes. Em todos os centros, em

todas as unidades acadêmicas e em todas as disciplinas há o despertar da

curiosidade, dos porquês.

Fato importante na história da Universidade no Brasil é que tudo foi

sempre determinado por ordem superior, por ação do Governo surgiram as

Faculdades de Direito de Recife — Olinda e de São Paulo, as faculdades

de Medicina do Rio e Salvador e outras. Em Porto Alegre, houve bela e

importante iniciativa excepcional de intelectuais que entenderam o valor do

ensino superior em Medicina, Direito, Engenharia, Farmácia e outras

faculdades. A legislação, porém, foi comandando o crescimento, a

132

estruturação das Universidades a partir do Estado Novo com o ministro

Campos, em 1934. Depois vieram outras etapas de governos totalitários:

nas escolas superiores tudo era feito sob a batuta do CNE ou dos ministros

de Educação. As administrações das Universidades federais, estaduais ou

particulares deviam pautar-se de acordo com as Leis e Diretrizes da

Educação ou com os decretos. A administração tida como excelente era

aquela mais obediente e submissa à legislação. Dessa forma o espírito

científico foi controlado, às vezes, embotado. Os administradores reitores,

diretores ou coordenadores de departamentos olhavam mais para o

cumprimento do mandamento legal do que para o espírito de iniciativa dos

docentes, dos reclamos das Comunidades docente e discente e da

Sociedade. Assim é que a estrutura Universitária se tornou lerda e pesada,

os currículos engessados, as disciplinas repetidas ao sabor da boa vontade

de professores.

No dia 24 de setembro de 1998, Roberto Macedo escrevia em O Estado

de São Paulo, o artigo — A inflexibilidade dos cursos superiores, em que

ressalta a assertiva: É preciso que as Universidades e faculdades vençam a

acomodação e as resistências.

Diante de uma iniciativa surgida de um grupo de professores ou de

alunos ou de setor social, a primeira preocupação é ver a posição legal, em

vez de auscultar a necessidade e importância do que foi apresentado.

É preciso que as lideranças Universitárias sejam atentas às vozes do

espírito que clama por mudanças em prol da Ciência, da arte e da tecnologia

para o bem da sociedade em todos os seus escalões, para que se consiga a

verdadeira civilização do AMOR, no dizer do Papa Paulo VI.

Zero Hora, 22/02/2000, p. 17, Opinião.

133

Universidade em mudança

Sopram ventos fortes sobre as estruturas da Universidade exigindo

mudanças urgentes. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional aponta

para a liberdade e autonomia universitárias. Acontece, porém, que surgem ou

proliferam cursos superiores com a mesma estrutura dos cursos que têm 70 ou

30 anos de funcionamento. Teme-se tomar iniciativas de mudança pois o

verdadeiro espírito que ilumina as mentes docentes e administrativos se

pergunta: O que o MEC pensa disso? O que o Conselho Nacional de Educação

vai aceitar? Essas interrogações eram válidas nos temidos anos da ditadura.

Hoje, graças a Deus, e à nova Lei, está livre o espírito de iniciativa. Administrar

uma Faculdade ou um Departamento é muito mais fácil quando se pensa

simplesmente no que a legislação orienta ou obriga. Nesse caso onde está o

espírito universitário? Onde está a vocação do curso superior que deve atender

aos reclamos profundos dos alunos e das empresas?

Deve-se atender mais o clamor, a necessidade de formação do aluno

ou simplesmente reger-se pelo estatuto legal? Ser professor universitário, não é

simplesmente ministrar aulas tecnicamente boas ou realizar pesquisas úteis

para si ou para a ciência ou tecnologia em geral. É preciso ser pessoa de

espírito aberto, inquieto, preocupado pela boa formação do aluno para que seja

um cidadão consciente de seu dever de patriota dentro de um país em

mudanças vertiginosas. Quem é que pode dar garantia que determinado

currículo é o melhor na formação da pessoa que a sociedade e o país precisam

em suas tarefas de renovação, de melhoria social, de melhor atendimento às

necessidades locais, regionais e nacionais?

O Estado de São Paulo, de 9 de julho, traz ampla reportagem sobre a

alteração de estrutura de ensino da Harvard University. Um dos professores

caracterizou as mudanças com estas palavras: “Uma corrida infernal para se

manter em dia”. Em 1995, reconheceu o prof. Clark: “Estávamos bem atrasados

134

no caminho”. Naquela data não se usava o e-mail entre a Universidade e os

alunos. Finalmente o espírito assoprou nas inteligências e surgiram as reformas

de currículos. A alteração mais significativa foi a mudança da exigência do

estudo de Administração Geral para Administração Empresarial durante o

primeiro ano do curso.

A alteração do currículo foi uma medida mais complicada, explica David

Leonhard do The New York Times, e de alcance profundo. Até meados da

década de 80, a escola só oferecia um ou dois cursos de Empreendimentos;

muitos docentes achavam que o tema não merecia estudo detalhado. As

medidas tecnológicas dos últimos 20 anos obrigaram os professores a

repensarem os currículos e atenderem os reclamos dos alunos. O

Departamento de Empreendimentos atualmente oferece cerca de 18 cursos,

ministrados por 28 professores, que são acadêmicos veteranos ou

administradores de grandes empresas.

É preciso que o espírito de mudança agite as cabeças dos

administradores, coordenadores e docentes de Cursos superiores e assim

promovam substanciais e eficientes câmbios nos currículos, nos programas

e nas disciplinas e nos famosos pré-requisitos.

A Universidade é um corpo vivo movido por um espírito

irrequieto e inquiridor.

Um grupo de reflexão, formado por professores dos diversos ramos de

ensino, deve agir e discutir diuturnamente, auscultando a opinião de empresa, de

setores de educação e cultura do Estado e do País.

A USP em 1999 resolveu fazer um vestibular único para os 26

cursos de Engenharia! Por que para cada curso, para cada turno de aulas

há um vestibular em algumas Universidades? As barreiras de currículos, de

pré-requisitos, de vestibulares setorizados facilitam as administrações mas

prejudicam o aluno. O Curso deve atender a administração ou o aluno? É

bom quando serve ambos.

135

Colocando-se a boa formação do aluno em primeiro lugar

acontecerão quedas de barreiras de um curso para outro e de pré-requisitos.

É preciso flexibilizar a vida acadêmica, ora para que servem tantos

programas de computadores?

Sentindo o pulsar forte do progresso tecnológico, deve-se melhorar a

vida do atendimento ao aluno. Do espírito de compreensão para as mudanças

que se impõem pelo bom senso, surgirão medidas aptas a formar as novas

gerações na verdadeira civilização do Amor, como requeria Paulo VI.

Zero Hora, 28/07/2000, p. 21, Opinião.

Para onde vai a Educação?

Passamos os últimos anos em discussões de métodos, de resultados de

provões, de conseqüência de avaliações... Nova Lei de Diretrizes e Bases aponta

para mais liberdade, mais iniciativas de pessoas e de instituições, parece que

estamos marcando passo. O número de professores com o título de doutor e de

mestre tem crescido aritmeticamente. E o ensino de graduação não demostra

melhoras. Aumentou o número de estudantes nos cursos superiores. Cresceu o

número de faculdades e de universidades surgidas às vezes de maneira

atabalhoada. Sempre os números e a qualidade tão falada pouco aparece. Quem

é que está realmente pensando a educação ou o ensino no país? A família tem

preocupações financeiras por isso faz todos os esforços para que o filho consiga

uma vaga num curso da universidade pública, onde não precisa pagar. Há

famílias que se preocupam com a verdadeira formação dos filhos, esbarram com

dificuldades econômicas ou com a desídia dos filhos.

Guilherme D’ Oliveira Martins, escritor e pensador português da

atualidade, insiste na eficácia da persistência e do gradualismo para obter

136

resultados. “Trata-se de pôr o fermento na massa e, sobretudo, de fazer

interiorizar em toda a sociedade a responsabilidade de educar melhor e de

recusar todas as tentações de uniformização ou de nivelamento por baixo. Daí

que tem sido fundamental o assumir, com todas as conseqüências, de uma

autêntica cultura de avaliação”. É preciso estar abertos e atentos à ação dos

professores em todos os níveis de ensino; estar vigilantes com o comportamento

dos alunos na base de respeito a seus mestres. Conclui o educador D’ Oliveira

Martins: “Criar a sociedade educativa é aprofundar a democracia na sua essência

- como lugar de liberdade e responsabilidade”.

Os boicotes ao provão, as resistências às avaliações dos cursos no foro

interno da instituição são formas de romper com a democracia de um povo e com

a respectiva responsabilidade de educar-se, de formar-se, de subir no escalão

exigido hoje. Para sermos fiéis aos ideais da PAIDEIA e da HUMANITAS e às

lições do DE MAGISTRO é indispensável que compreendamos que em Educação

o trabalho está sempre por realizar, volta a firmar o escritor Martins. O

fundamental é a atitude e o compromisso. A emancipação e a solidariedade

ligam-se à liberdade e à responsabilidade sempre. Daí porque a educação não se

faz por decreto ou por impulsos motivados pelas ideologias da moda. Agostinho

de Hipona refletiu ao longo das praias de Cartago sobre as diretrizes da PAIDÉIA

e da HUMANITAS para dar-lhes um sentido mais elevado, à luz benéfica e

transformadora do Evangelho donde surgiu o tratado DE MAGISTRO. A formação

da personalidade do adolescente e do jovem é a grande meta da educação

assumida pela sociedade toda. Há nisso tudo a necessidade dos princípios, que

balizam os atos educativos que modelam ou remodelam os currículos, sempre os

princípios educativos. Parece que a palavra princípios está em desuso em

algumas casas ou instituições de ensino. Dali vem a importância fundamental do

professor educador, não do simples repassador de esquemas ou teorias. É

preciso que toda a sociedade, em seus níveis, esteja compenetrada de que a

137

EDUCAÇÃO ocupa o primeiro lugar num país, num estado, numa cidade, num

bairro, em cada família.

Se deixarmos essa preocupação para algumas instituições, para as

secretarias dos vários níveis governamentais não acontecerá a verdadeira

formação de personalidades estruturadas em princípios humanos que não são

diversos dos princípios pregados por Jesus de Nazaré. Ele em sua sabedoria

divina e profética sabia o que havia no homem por isso ensinava com

autoridade. Cícero, no senado de Roma debatia as mesmas teses defendidas

pela HUMANITAS oriundas da PAIDÉIA, cimentadas pela visão profunda de

Agostinho em DE MAGISTRO. Educar é formar um homem novo para o milênio

que desponta feliz nas madrugadas de janeiro de 2001.

Zero Hora, 03/01/2001, p. 19, Opinião.

Universidade renovada

Na tarde de 11 de dezembro, o Papa João Paulo II recebeu na Basílica

S. Pedro, Reitores e estudantes de Roma e de países, em vista da preparação

do Natal. Na homilia o Santo Padre falou com entusiasmo ao sentir-se rodeado

de autoridades universitárias, de professores e acadêmicos. Reviveu saudoso

os anos de professor em Cracóvia. Destacou: “Queridos jovens trabalhai para

uma Universidade digna do homem, ao serviço da sociedade de modo crítico.”

É uma clarinada veemente às consciências dos formadores das novas

gerações. É preciso renovar a Universidade, não só em tecnologia, instalações,

investigações, currículos, programas ou cursos. É preciso chegar ao âmago —

a renovação do coração do futuro cientista, do novel filósofo, do novo politólogo,

do mestre em letras, em ciências... Universidade digna do homem, conforme os

138

valores humanos, hauridos do Evangelho, ensinados pela tradição cristã

através dos séculos.

No mapa-mundi das academias observam-se profundas inquietações,

aspirações transcendentes, em busca do melhor para a mente e o coração. O

Papa renova seus apelos e conclama: Duc in altum, (conduze para o alto) non

timere (não temer). A palavra dita por Cristo a Pedro soa aos nossos ouvidos

pelo sucessor de Pedro. A Europa, a Ásia, a América, o Brasil precisam de uma

nova vitalidade intelectual. Uma vitalidade, insiste o Papa, que proponha

projetos de vida austera, capaz de empenho e sacrifício, simples nas suas

legítimas aspirações, linear nas suas realizações, transparente em seus

comportamentos. É necessária nova audácia do pensamento, livre e criativo,

pronta para receber, na perspectiva da fé, as perguntas e os desafios que

surgem da vida, para fazer emergir com clareza as verdades últimas do homem.

A experiência da unificação da moeda em 12 países da Europa leva a trabalhar

para a unidade do pensamento em suas diversidades, caracterizada pela Uni-

versidade (unidade na diversidade). No Brasil e em especial no Mercosul,

apesar de todos os solavancos políticos e econômicos caminhamos para a

Unidade. É preciso repensar, renovar a Universidade, partindo da renovação do

ensino fundamental e secundário. Desde cedo é preciso pensar na formação

pela escola digna da criança e do adolescente. Daí a urgência da formação de

mestres dignos da escola para que a escola seja digna do homem para o bom

serviço à sociedade.

Correio do Povo, 08/02/2002, p. 4, Opinião.

139

NA TRILHA DE MARCELINO CHAMPAGNAT

140

Champagnat − O Educador

No domingo, 18 de abril, o Papa João Paulo II presidiu o rito de

canonização de Marcelino Champagnat, elevando-o à categoria dos Santos da

Igreja. Aquele humilde jovem, nascido no Rosey, no Forez, perto de Lyon

(França) no dia 20 de maio de 1789, desde 1955 tinha o título de Bem-

aventurado, agora será invocado pelo nome de São Marcelino Champagnat.

Viveu as agruras do homem das montanhas, na agricultura, no trabalho rude.

Aos 17 anos sentiu-se chamado à carreira sacerdotal. Ei-lo sacerdote aos 26

anos! Nomeado vigário da freguesia de La Vallá, em 1816... Deparou logo a

grande miséria material, cultural e espiritual daqueles... Resolveu fazer a

revolução do ensino: aquela gente precisava ser alfabetizada, instruída para

vencer na vida e andar no caminho do bem e da virtude.

No dia 2 de janeiro de 1817, reuniu dois jovens semi-alfabetizados,

foram seus primeiros discípulos — estava fundado o Instituto dos Irmãos

Maristas! Tudo um tanto improvisado, mas estava lançada a grande

aventura da redenção da infância e da juventude, mais elevados que os

píncaros do Pilat e de outros montes do Forez! Tornou como guia e

protetora a Virgem Maria Mãe de Deus, por isso os discípulos foram

chamados “Pequenos Irmãos de Maria” e hoje Irmãos Maristas.

Marcelino Champagnat em sua rápida e laboriosa existência de 51

anos, dedicou-se totalmente às tarefas da educação. Empreendeu a renovação

dos métodos de ensino. Adotou a língua francesa em vez dos dialetos falados

nas diversas regiões. Alfabetizava as crianças com estímulos antes ignorados.

Os seus discípulos foram formados para serem captadores dos melhores

métodos a fim de que os jovens aprendessem com facilidade ler, escrever e

fazer contas, juntamente com o catecismo que mostrava o melhor caminho para

vida virtuosa e para a prática da verdadeira e genuína cidadania. Espírito

prático ensinava a aprender fazendo. Em poucos meses as crianças das 48

141

escolas existentes por ocasião de seu falecimento no dia 6 de junho de 1840,

eram alfabetizadas e conhecedoras do que necessitavam de mais urgente no

viver. O amor ao trabalho foi sempre a grande característica do educador

Champagnat. O gosto pela novidade, orientado pela prudência, levava os

educadores a amarem o estudo, a leitura e a pesquisa nas letras e nas ciências.

Os Maristas presentes em 75 países, se adaptaram a todos os climas,

adotaram novas culturas, mantêm escolas paroquiais, amplos colégios de ensino

médio, universidades modernas. Da incipiente escolinha de La Vallá às PUCs do

Rio Grande do Sul e Paraná, os Irmãos Maristas procuram manter o espírito e os

ideais de Marcelino Champagnat.

Nos 182 anos do Instituto dos Irmãos Maristas não faltaram

dificuldades, perseguições, mártires: 172 na Guerra Espanhola, (1936 - 38);

recentemente um irmão trucidado em Argel; cinco Irmãos assassinados em

Ruanda, quatro Irmãos vitimados em 1998, no Zaire. Para os apóstolos,

continuadores da obra de Champagnat educador não há obstáculos, não há

desânimos, pois como ele costumava dizer: “se Deus e a Virgem Mãe Nossa

Senhora estão por nós, não há o que temer”.

São Marcelino Champagnat, educador, protegei a educação do mundo

e do Brasil!

Marcelino Champagnat dizia: “Todas as dioceses do mundo estão

dentro de nossos projetos”, era o verdadeiro coração sem fronteiras.

A platéia. 04/05/1999, Santana do Livramento, p. 4, Opinião.

Champagnat: além do horizonte

Marcelino Champagnat nascido a 20 de maio de 1789, faleceu em 6 de

junho de 1840, declarado santo em 18 de abril de 1999, era filho de pais

142

agricultores, habitantes dos contrafortes montanhosos do Pilat, na região de

Forez, perto de Lyon, França. Jovem costumava palmilhar aquelas paragens,

no pastoreio de ovelha, contemplando as lonjuras do horizonte. Entrou no

Seminário, passados os vinte anos. Ei-lo sacerdote aos 28!... Designado

vigário-coadjutor na paróquia de La Vallá, viu desde logo a imensa seara que

ondulava, loira de promessas, nos vales e nas fraldas daqueles montes.

Infância e juventude jejunas das primeiras letras e ignaras das verdades da Fé.

Em sua alma de sacerdote, do devoto da Virgem Maria de Fourvière, sentia

arder uma chama que os gélidos ventos das serranias e as neves dos cimos

não poderiam apagar. Era o zelo que lhe devorava o íntimo e punha energia em

seus pés de peregrino da esperança e do amor.

Era preciso criar uma congregação de irmãos para instruírem as

crianças e jovens carentes de ciência e de Fé. Era preciso ter irmãos da Virgem

Maria, Maristas, para abrirem escolas nas aldeias, nas cidades, nas capitais

para difundirem a verdadeira ciência e arte das letras do caminho para Deus,

formar honestos cidadãos e verdadeiros cristãos.

Para além do horizonte os discípulos de Champagnat estabeleceram

suas tendas, suas casas, suas escolas. Em 1836 já partiram para as ilhas da

Oceania. Depois vieram a Inglaterra, a Bélgica, a África do Sul, a Espanha, a

Itália, o Brasil em 1897.

Depois em 1900 era a vez do Sul receber os maristas, em Bom

Princípio. Em 1903, chegavam a Belém do Pará. Açoitados pelos vendavais

adversos de sua França, os maristas levaram a sua cultura para os quadrantes

do mundo. Os horizontes do elevado Pilat, difícil de galgar, tornaram-se

pequenos quando outros horizontes foram ultrapassados, além dos Himalaias,

para longe dos Alpes, para os desafios dos Andes. “Todas as dioceses do

mundo entram em nossos projetos!” dissera Marcelino Champagnat. As

perseguições fecharam colégios, dizimaram os obreiros do Senhor. Na Argélia

de nossos dias, o Irmão Henry Berger caiu sob os golpes do alfanje. No Zaire,

143

quatro Irmãos espanhóis, trabalhavam em campos de refugiados, além de

darem o pão de cada dia aos órfãos e aos carentes de amor, deram suas vidas.

Vidas e sangue generoso ofertados em holocausto ao Senhor para que aquelas

povoações tenham mais vida, tenham a catequese do amor, tenham a

educação para que novos horizontes surjam anunciando paz e justiça. Outros

maristas se lançaram e se lançam na construção de escolas, de colégios, de

universidades para que os povos de todas as etnias, de todos os credos tenham

os caminhos abertos para a construção “da cultura de uma nova humanidade

em que brilhem os horizontes da paz, da justiça e da solidariedade”. As obras

dos maristas nas creches populares, nos centros sociais de reabilitação, nas

escolas, nos bancos e laboratórios das Academias, nos hospitais e centros de

saúde, procuram atualizar e dinamizar aquele espírito que impelia São Marcelino

Champagnat a transpor os vales, a vencer os cimos alcantilados para além dos

horizontes. O espírito sempre vivo de Marcelino revive em cada coração marista

em quaisquer situações onde haja necessidades, onde se encontre uma boca

faminta, uma inteligência ávida de saber, um coração órfão de amor.

Correio do Povo, 06/06/2002, p. 4, Opinião, Versão Semanal. 13 a

19/06/2002, p. 6, Opinião e Jornal O Estafeta, 12/06/2002, Veranópolis p. 2, Opinião.

Um coração sem fronteiras

Domingo, 18 de abril, na Praça São Pedro, Roma, o Papa João Paulo II

presidiu o rito de canonização do Padre Marcelino Champagnat, do Padre João

Calábria e da Irmã Agostinha Pientrantoni, do Instituto das Irmãs da Caridade.

Marcelino Champagnat é o nome que vem soando aos ouvidos de

milhares e milhares de gaúchos desde 1900, nos colégios dos Irmãos Maristas,

fundados por esse grande amigo da infância e da juventude - Um coração sem

144

fronteiras. Nascido a 20 de maio de 1789, levou em sua vida as marcas

redentoras de uma revolução em favor da alfabetização e da assistência a

tantos jovens dos quatro cantos do universo. Ao morrer em 1840, no dia 6

de junho, o Instituto marista contava 280 Irmãos atuando em 48 localidades

na França e em 4 comunidades no exterior (uma na longínqua Oceânia).

Hoje passados 159 anos, os 5.000 Irmãos estão presentes nas escolas e

obras sociais de 75 países. No Brasil são 535 Irmãos em 65 colégios, 35

obras sociais, duas editoras (FTD e EDIPUCRS), duas universidades e mais

uma em parceria.

Marcelino Champagnat viveu 51 anos, o câncer vitimou-lhe os dias em

plena atividade, as pessoas que tiveram curas consideradas milagrosas,

tiveram a mesma enfermidade.

A canonização de um servo de Deus, feita pela Igreja Católica, significa

a exaltação das virtudes que notabilizam uma vida a serviço das pessoas quer

na saúde, na educação, na salvação das almas.

São Marcelino Champagnat, um coração sem fronteiras, trabalhou e os

Irmãos Maristas continuam a sua obra em favor da infância e juventude

carentes de educação, de assistência social e de conforto espiritual e moral,

centralizando os esforços na imitação de Maria de Nazaré, Mãe de Jesus.

Como é belo ouvir as vozes de milhares de crianças, jovens, adultos e ex-

alunos, exclamarem: Viva São Marcelino Champagnat.

Correio do Povo, 14/04/1999, p. 4, Opinião, A platéia. 18/04/1999,

Santana do Livramento, p. 4, Opinião e Jornal Minuano, 21/04/1999,

Bagé p. 5, Geral.

145

O que é ser humilde?

Nos livros de ascese, no belo cântico do Magnficat, da Virgem Maria de

Nazaré, exalta-se a pessoa humilde. A humildade é o fundamento da vida

espiritual, é o alicerce da vida cultural e científica de alguém. O que é ser

humilde? É curioso observar a etimologia do vocábulo humilde, que provém de

humus, que significa terra fértil, propícia à cultura de plantas. Ser humilde é

conhecer-se como a gente é. É saber de suas boas qualidades e de suas

carências. O humilde é aquele que reconhece ter necessidade do outro, dos

conhecimentos, das experiências dos outros. Sempre se aprende em contato

com os outros. Com as pessoas de nosso convívio diário e costumeiro, com as

pessoas estranhas, sempre acontece um aprendizado. O humilde tem fome de

saber, de aumentar seus conhecimentos. A fome do saber é outra característica

do humilde. O presunçoso, orgulhoso, imagina-se sabedor de tudo, não sente

necessidade de acompanhar em livro uma leitura feita por outra pessoa. O

humilde é pessoa atenta ao que os outros fazem, como falam, como escrevem,

para aprender!...

Nas crônicas maristas nos cem anos devida no Rio Grande do Sul,

aparecem muitos testemunhos de humilde aprendizagem da língua portuguesa,

do estudo de filosofia, de física, de química e de história. Como os Irmãos

sabiam ajudar-se como se ensinavam mutuamente! Como os Irmãos eram

disponíveis para explicar, para perguntar. Vejo a figura do Irmão Robertão, nos

cursos de férias a perguntar: Que problemas ou teoremas de Matemática, de

Álgebra ou Geometria querem que explique? Outro fato notável no aprendizado

do Português. Por que os Irmãos europeus e os jovens provindos das falas

alemã, italianas, francesas ou espanholas, falavam tão bem o vernáculo?

Sempre funcionava a correção de quem sabia um pouco mais, e aquele que

sabia menos, tinha fome de aprender. Os jovens iam para as comunidades e lá

se dedicavam a preparar as aulas, aprendendo sempre dos mais velhos. Ter

146

fome de aprender, ter humildade, ter fome de aprender pois aquilo que a gente

sabe é sempre muito pouco. O Padre Champagnat como sabia pedir

explicações, como aprender com os colegas, Vianney, Colin, com os Irmãos,

com o Irmão Luís Maria e outros. A Virgem de Nazaré, obediente à voz do Anjo

Gabriel quis aprender: “Como se fará isso?” Depois em magnífico canto

proclama: “Depôs do trono os poderosos, e elevou os humildes. Encheu de

bens os famintos e despediu vazios os ricos” (que não precisam dos outros).

Igaçaba, 04/05/2002, Roque gonzales/RS, p. n° 60/A, Cultura.

Centenário Marista

No próximo dia 2 de agosto, em Bom Princípio/RS, às margens do rio

Caí, será aberto o 1° Centenário da vinda dos Irmãos Maristas ao Sul do Brasil.

Dom Cláudio Ponce de Leão, Bispo de Porto Alegre, solicitou aos superiores na

França, o envio de Irmãos para as escolas dos imigrantes alemães e italianos.

O Congresso dos católicos alemães de Bom Princípio foi o ato decisivo para a

iniciativa do Antístite do Rio Grande do Sul. Em 1900, partiram três irmãos do

norte da França, perto de Lille — Beaucamps, para o Sul do Brasil. Eram eles:

Weibert, Domingos e José. Tiveram rápida preparação lingüística antes de

enfrentarem a longa travessia. Chegados ao porto de Rio Grande foram

recebidos pelos padres jesuítas do Colégio Stella Maris, atual São Francisco.

Em Porto Alegre, foram recepcionados pelos padres do Colégio Anchieta.

Depois a viagem até São Sebastião do Caí, no barco de passageiros. Depois, a

carreta e a recepção solene dos habitantes de Bom Princípio, no dia 2 de

agosto de 1900. O pároco era o Padre Stemans, Jesuíta. Os maristas entraram

no sul do Brasil pelo pedido do Bispo Dom Cláudio e pelo cuidado dos padres

jesuítas que estavam nesta terra desde 1847, semeando o evangelho e

147

ensinando em várias importantes escolas. Os três primeiros irmãos foram a

semente de mostarda da parábola evangélica, semente pequenina que germina

e se transforma em árvore frondosa.

Nesses cem anos, quantas peripécias! Quantos momentos de proteção

miraculosa da Providência Divina, do Sagrado Coração de Jesus e da Boa Mãe,

Nossa Senhora! Em 1904 se abriam colégios em Garibaldi, Porto Alegre, Santa

Maria, Uruguaiana, São Leopoldo. Os Irmãos vinham expulsos das terras de

França pela famigerada Lei de Combes e assim o Brasil, a América, a Ásia e a

Oceânia tiveram educadores religiosos maristas, lassalistas e de outras

congregações que floresciam no território francês. O bem sempre triunfa! Naquele

2 de agosto de 1900 estava a célula inicial do grande corpo educacional marista

que nos anos subseqüentes ia-se ampliando nos estados de Santa Catarina e do

Paraná. Como é belo ver a trajetória providencial e exuberante de um pequeno e

humilde grupo congregacional tornar-se alma mater da ciência, da tecnologia e da

Cultura! Deus seja louvado por essa alvorada esplêndida do Centenário da

chegada dos Irmãos Maristas ao Sul do Brasil!

Correio do Povo, 25/7/1999, p. 4, Opinião e Jornal do Comércio, 04/08/

1999, p. 4, Opinião.

Aqueles moços!

Ao findar o século XIX, perpassou uma onda de entusiasmo e de fé

pelos países da América Latina: era preciso educar as novas gerações nas

veredas do Senhor. Tantas almas sedentas de cultura, de Deus estavam à

espera de obreiras da seara do Senhor. Ao mesmo tempo, a França, filha

primogênita da Igreja, promulgava a Lei de Combes — expulsão dos religiosos

dos colégios, dos hospitais, etc. Aqueles moços recém-ingressados no Instituto

dos Irmãos Maristas, zelosos de seu amor a Cristo e à Nossa Senhora tinham

148

um ideal — levar as crianças e jovens a Jesus por Maria mediante a educação

cristã. Aqueles moços tomam a decisão: abandonar a pátria querida a fim de

cumprir a missão de seguir a Cristo e ir pelo mundo a ensinar... Os mares, as

lonjuras dos horizontes ficaram perto, o Amor, o espírito missionário leva-os a

quaisquer rincões: sentiram no peito aquele mesmo ardor de Paulo: Ai de mim

se não evangelizar, (se não ensinar a Jesus Cristo numa escola) ... Aqueles

moços partiram da França e chegaram ao Rio Grande do Sul em fins de julho

de 1900... No dia 3 de agosto eram recebidos triunfalmente em Bom Princípio...

Dias depois já estavam ministrando aulas àqueles jovens sedentos de ciência e

da sabedoria de Deus.

O espírito trouxe aqueles jovens, que vinham em vários grupos a doarem

suas vidas, seu elã às novas gerações em múltiplos municípios. Até 1914 haviam

chegado 173 jovens irmãos maristas vindos da França e da Alemanha, que

ministravam aulas na roda dos ventos do Rio Grande: Uruguaiana, Santana,

Santa Maria., Alegrete, Porto Alegre, Garibaldi, São Leopoldo, Bom Princípio,

Santa Cruz, Hamburgo Velho, etc.

O espírito nobre e sublime guiava aqueles moços! Depois vieram

espanhóis formados no Colégio São Francisco Xavier e tantos outros. A seara

do Rio Grande recebeu e se agigantou na ciência e na cultura graças às

dezenas de colégios que distribuíam o pão da ciência, o pão da vida que leva

adiante o Espírito da investigação científica, o Espírito de união com Deus,

pelos gestos maternos de Maria Santíssima. Aqueles moços acenderam em

outros corações e mentes o mesmo Espírito que construiu e mantém colégios,

que idealizou, criou e mantém a Pontifícia Universidade Católica — Tudo isso é

obra daqueles moços que disseram sim ao Espírito.

Correio do Povo, 12/01/2000 , p. 4, Opinião.

149

A longa viagem centenária

No dia 18 de junho de 1900, os Irmãos Weibert, Domingos e José,

despediam-se de Beaucamps para iniciar a longa viagem até Bom Princípio/RS. O

trem levouos a Paris. Visitaram longa e piedosamente o Santuário do Sagrado

Coração, inaugurado em 1899. Lá fizeram a consagração de sua vida e das obras

que iriam fundar. Depois a ida para Le Havre, o navio transatlântico: mar oceano;

Rio de janeiro, Rio Grande e Porto Alegre. Mudanças de navios, de portos, de falas

e por fim porto de São Sebastião do Caí e a carreta de bois a levá-los a Bom

Princípio, dia 2 de agosto. Longa viagem de 45 dias... Peripécias, mãos amigas, os

jesuítas em Rio Grande, em Porto Alegre, e Bom Princípio. A obra marista

começava a 3 de agosto de 1900, numa pobre casa, na escolinha no campanário

da igreja matriz. Os foguetes e os hosanas da chegada emudeceram e começou a

vida na simplicidade, no silêncio e na pobreza. Irmão Weibert e os dois

companheiros não descansaram: aulas aos meninos, aulas para si mesmos a fim

de aprender a língua portuguesa e a linguagem da afabilidade da acolhida da gente

rio-grandense.

Bom Princípio: bom começo entre imigrantes alemães, depois em 1904,

em Garibaldi, com os imigrantes italianos, depois viriam Porto Alegre, Santa Maria,

Uruguaiana, São Leopoldo... Sempre encontro com descendentes de imigrantes

lusos, açorianos, poloneses, todos integrados pela tradição brasileira e pelo

amálgama da língua portuguesa. O que fizeram de grande aqueles irmãos maristas

expulsos da douta França, de Combes! Até 1914 chegaram 174 irmãos formaram

os quadros de magistério dos colégios em dezenas de cidades. Como aqueles

jovens após abandonarem as famílias, a sua pátria deram tudo de si para

construírem a obra educativa marista no Sul Brasil! Vinham com o Curso Normal,

feito com seriedade e dedicação. Tinham em si aquela luz missionária de dar a

vida para o bem da juventude, “tudo a Jesus mas por Maria”... Marcelino

Champagnat deixara-lhes o exemplo de piedade, de estudo e de pertinácia. E

150

eles sabendo apenas o francês em poucos dias se apresentavam falando

português. Isso exigiu deles força de vontade, iniciativa perseverante de

autodidatas. A longa viagem de um século indica as grande peripécias da

educação marista da humilde escolinha do campanário de Bom Princípio ao

majestoso campus universitário da PUCRS.

Igaçaba, 11/07/2000, Roque Gonzales, n° 38.

Donde vieram os Irmãos Maristas

Há duzentos anos um rapaz de 14 anos semi-analfabeto demandava o

Seminário. Deixara o rebanho no Rosey, buscava pastorear outras ovelhas. Em

1916, sacerdote, era destinado a coadjuvar o velho pároco de La VaIlá, nos

contrafortes do Pilat. Ao tocar aquela ignorância cultural e religiosa, sentia

dentro de si o desejo: “Precisamos de irmãos para ensinar a ler, a escrever, a

fazer contas e a tornar Jesus Cristo mais conhecido e amado”. Era um

programa de vida, era a doação de uma e muitas vidas para a redenção da

infância e juventude. Sem mais delongas, no dia 2 de janeiro de 1817, em casa

alugada reúne dois jovens, que serão os primeiros irmãos maristas. Preparados

por ele mesmo começaram em 1818, a reger a primeira escola. Vieram outros

enviados a Champagnat por Nossa Senhora do Puy. La Vallá recebera mais

jovens, escolas iam-se abrindo nas vilas e lugarejos nas encostas dos montes

ou nas fraldas dos vales. Mais adiante, construíram Casa maior, num lugar

silencioso L’Hermitagio (o eremitério). Braços fortes, inteligência viva do pastor

de homens, desbravaram as rochas, como desbravariam as mentes sedentas

do pão da verdade e da luz da ciência. Em 1840, aos 51 anos, no dia 6 de

junho, Marcelino Champagnat deixava o vale de lágrimas para repousar de

suas lides de pai e de educador.

151

Em 1900 aportaram no Rio Grande do Sul, os três Irmãos guiados por

Weibert, destinados a Bom Princípio, o nome da vila era feliz augúrio. Até 1914

eram 110 Irmãos franceses e alemães em 15 escolas no Sul do Brasil. O

dinamismo do Irmão Weibert e do discípulo Irmão Afonso abriu, preparou os

colégios de Santa Maria e do Rosário para uma etapa mais ampla na educação.

Os cursos técnicos de Contabilidade prepararam várias gerações de diretores

de empresas, de políticos, prefeitos, deputados, vereadores, administradores. O

Ginásio e o Colégio preparavam profissionais liberais e líderes com cursos

universitários. Em 1931, Irmão Afonso fundou a primeira Faculdade de Ciências

Políticas e Econômicas, no Rio Grande. Culminando em 1950 com o título de

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aquele pastorzinho do

Rosey é hoje o santo pastor de milhares e milhares de jovens universitários,

estudantes de todos os níveis nos cinco continentes, para se formarem

honestos cidadãos e bons cristãos.

A platéia, 17/06/2003, Santana do Livramento, p. 6, Opinião.

Maristas, III Século!?

Ao passar do vale de 2000 para 2001 entramos no novo ano, novo

século, no novo milênio!...É algo de surpreendente.

No dia 2 de janeiro celebramos os 184 anos do gesto fundador de São

Marcelino Champagnat, na humilde e pobre La Vallá. Tudo isso nos leva a

refletir, a meditar diante da cremalheira do tempo de dois séculos, entrando

para o terceiro. No primeiro século o Instituto foi-se estabelecendo, se

difundindo na França, pelas petites écoles, com pequenas e notáveis exceções

de grandes colégios. Uma vez reconhecido pela Santa Sé e pelo governo

francês o Instituto dos pequenos Irmãos de Maria se firmou, abrindo seus ramos

152

para a Espanha, Inglaterra, Oceania, Itália e América. O contingente de 6 mil

irmãos sofreu o forte sacudão pela Lei de Combes, da secularização dos

religiosos e suas propriedades na França. Muitos irmãos fiéis à sua vocação se

transformaram em missionários para os cinco continentes, outros preferiram

ficar em sua pátria, mestres-escola ou em estabelecimentos clandestinos... O

número diminuiu nas primeiras décadas do século XX. A celebração do primeiro

centenário, em 1917, encontrou a Europa em guerra total, muitos irmãos nas

trincheiras dos países beligerantes. Depois em vários países da América

começou o reflorescimento da obra educativa marista. Escolas surgiam na Síria,

na Turquia, na Grécia, nos U.S.A, Canadá, México, Brasil, Colômbia e tantos

outros países.

De 1936 a 38 os Irmãos Maristas em suas belas e promissoras escolas

de Espanha sofreram dizimação de 72 membros, pela foice comunista. Em

meados do século, novo reflorescimento surgido das ruínas e do sangue

derramado, colocaram a obra marista na Espanha na dianteira do Instituto. De

1927 a 1960 os irmãos no México resistiram heroicamente à perseguição

marxista apesar da lei contrária à escola cristã. Os irmãos na China são outros

tantos exemplos de mártires em prol da escola marista, da catequese. Em 1940

começa a expansão universitária no Brasil. O Instituto na década de 1960

chegava perto dos 9 mil irmãos.

Começou então, após o Concílio Vaticano II, a grande debandada, por

interpretações equivocadas do grande pentecoste da Igreja, decretado pelo

Papa João XXllI.

Os vários capítulos gerais se sucederam, o êxodo de irmãos

continuava. Iam rareando as comunidades dedicadas à escola, à educação.

Surgiram as vozes conclamando para o social, ação dirigida aos pobres como

se os longos anos, os grandes colégios e as escolas nada tivessem feito pelo

social. O que os colégios nos diversos países promoveram de ação social ainda

não foi escrito nas páginas de história, mas sua ação salvadora está em

153

centenas e milhares de ex-alunos que formam forças dirigentes graças à mão

dadivosa de um diretor ou administrador, que compreendeu a situação do

adolescente pobre desejoso de estudar.

Agora estamos no dealbar do terceiro século marista para onde vai a

barca do Instituto com 3 mil e poucos irmãos, muitos deles em avançada idade

e pouquíssimos em tarefas educativas? O Capítulo Geral começará em

setembro, os representantes das províncias e distritos estudarão, discutirão,

proporão novos rumos?! Desde já cada irmão, cada comunidade, o Instituto

inteiro se unem numa fervorosa e incessante prece à Boa Mãe, tão solícita aos

rogos de São Marcelino Champagnat e dos primeiros irmãos, para que indique

e conduza o destino ao barco do Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas.

lgaçaba, 11/08/2001, Roque Gonzales, n° 51, Cultura.

A grande reforma

No dia 10 de junho de 1970, no Hospital São Francisco, o Irmão

Afonso, fundador da PUCRS, entregava sua bela e dinâmica alma ao Criador.

Havia concluído a sua exuberante e frutífera carreira. Veio da França, ainda

jovem, em 1904, esteve em Uruguaiana, depois Santa Maria onde firmou sua

base de estudos e pesquisas e sua capacidade administrativa.

De 1920 a 26 elevou o Colégio Santa Maria à categoria do Colégio Dom

Pedro II. Jovens de todo o Rio Grande ocorriam ao grande Ginásio. Galerias de

homens ilustres nas ciências, nas artes e na política colocaram bases sólidas em

suas vidas e no porvir profissional. Em 1927, começou a reger o Colégio Rosário,

na Avenida Independência. Poucos anos transcorridos o colégio é estadualizado

junto com o Anchieta, Bom Conselho e Sévigné, tudo ação do Irmão Afonso e da

equipe dos Irmãos. Em 1930 atendendo o apelo veemente dos alunos do Curso

154

Superior do Comércio, estrutura a primeira Faculdade de Ciências Políticas e

Econômicas do Sul. Em 1940 era a vez da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras para formar professores para o curso secundário. Seguiram-se as

Faculdades de Serviço Social e de Direito.

Em 9 de novembro de 1948 o Decreto presidencial equiparava a

Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Em 1950 recebia o Diploma da

Santa Sé com o título de Pontifícia. Irmão Afonso, homem dinâmico, estudioso

perseverante, administrador de visão clara, de grandes horizontes. Homem

profundamente religioso, colocava Deus e Nossa Senhora em primeiro lugar

por isso é que foi tão magnânimo para atender os anseios de tantos que

desejavam a Universidade Católica, luz serena, tranqüila e perseverante na

investigação das verdades científicas irmanadas com as luzes da Fé.

Armando Câmara, primeiro Reitor, em 1948, atribuiu à caridade do Irmão

Afonso, a realização da Universidade e de outros empreendimentos em prol

da ciência e da cultura. Passados 50 anos, aí está a PUCRS no seu vigor e

projeção além fronteiras graças aos trabalhos do Irmão Otão até 1978 e de

1979 até hoje sob a orientação serena e eficiente do Irmão Norberto e sua

equipe. A figura do Irmão Afonso é uma luz para os atuais responsáveis do

ensino, da pesquisa e da extensão, tarefas constantes sempre vivas em favor

dos alunos e ex-alunos.

Correio do Povo, 16/06/2000, p. 4, Opinião.

A Vida do Irmão Pacômio

No dia 1º de junho, sábado, entregou sua bela alma a Deus na

casa São José de Mendes, Rio de Janeiro, Irmão Pacômio, no registro civil

Armando Corbellini, que nos seus longos anos de África assumiu o nome

155

de Armando Cordeiro. Nascido em Garibaldi da tradicional família

Corbellini, no distrito de Araripe. Freqüentou as aulas no Colégio Santo

Antonio, depois dirigiu-se para o Instituto Champagnat. Terminada a

formação marista e pedagógica iniciou a sua trajetória de professor nos

colégios de Santa Maria, Rosário, Internato Paranaense, de Curitiba. Em

1948, o Irmão Afonso abria as fundações maristas em Portugal e

Moçambique. Irmão Pacômio deixou os pagos e lançou-se à aventura de

África: Moçambique e Angola de 1948 a 1975. A chegada gloriosa não

imaginava a retirada em fuga 27 anos depois. Voltou ao Brasil para

dedicar-se à recepção e colocação dos refugiados e fugitivos brancos de

Angola e Moçambique que em 1976 se organizavam independentes sob o

regime marxista.

Milhares de refugiados receberam das mãos do Irmão Armando

Cordeiro o auxílio, novo assentamento na terra hospitaleira do Brasil, no

estado do Espírito Santo, no Rio de Janeiro ou alhures. Não tinha

descanso de dia ou de noite para atender os refugiados carentes de

comida, de vestuário, de moradia. A tudo ele acorria para salvar os irmãos

necessitados. Nesse trabalho, passaram-se largos dez anos. Depois que

as coisas serenaram do lado dos refugiados, Irmão Pacômio ofereceu-se

para nova missão - os meninos de rua da zona da Tijuca, ali perto do

Colégio São José. Longos dias de sacrifício e privações salvaram e

encaminharam dezenas e centenas de jovens para um emprego, para uma

vida mais digna e mais útil a ser vivida.

Em janeiro último, tendo encerrado a sua missão junto dos meninos de

rua, resignou-se a recolher as armas e bagagens na Casa São José, em

Mendes, Rio de Janeiro, onde no dia 1°, Nossa Senhora foi buscá-lo para

recompensar-lhe a existência octogenária a serviço dos alunos nos colégios,

das comunidades em Angola e Moçambique e na dedicação aos desvalidos.

156

Irmão Pacômio foi uma figura singular como professor, como vigilante

de internato, como coirmão e companheiro de estudos e trabalhos. Recordo

aquele perfil severo, feito estátua de pedra que logo se transformava em

amigo e confidente.

Irmão Pacômio, poeta, pára-quedista, professor de Língua

Portuguesa, beletrista. Soube, como poucos, dedilhar o mistério da alma

humana nos versos e nos gestos humanitários e fraternais. Descansa o

coração inquieto após tantas batidas de amor em prol do bem de tantos, como

aconteceu em 1994, em prol dos reféns da Unita, libertados graças ao

telefone do Irmão Pacômio ao Savimbi, de quem fora protetor e amigo.

A generosidade constante e prodigiosa, que acompanhou os 81 anos e

quatro meses do Irmão Pacômio, Armando Corbellini ou Armando Cordeiro, é

lição perene para as gerações atuais e futuras, que procurarem trilhar os

caminhos do Padre Marcelino Champagnat e de Maria Santíssima.

Jornal do Comércio, 07/06/1996, p. 4, Opinião.

Irmão Faustino João

Irmão FaustinoJoão (Salomón Torrecilla Vesga) nasceu no dia 21 de

outubro de 1908 na Vila de Quintanilla de San García, perto de Burgos

(Espanha). lngressou na Congregação dos Irmãos Maristas, em Turim

(Itália), em 1926. Em 1927 foi enviado como missionário para o Brasil.

Chegou a Porto Alegre no dia 27/09/1927. Toda a sua vida de educador no

colégio Rosário ou na PUCRS foi nesta Capital. Formou-se bacharel na

Faculdade de Ciências Econômicas, em 1937. A sua formação continuou

com curso especial em Lyon, na França; com estágio em Universidades

norte-americanas, a convite do governo; com cursos e estágios em

157

Universidades da Espanha (Madrid, Barcelona); com estágios na Itália. Foi

permanente estudioso e atualizado por suas inúmeras leituras. A seguir

começou a lecionar na estruturação da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras, inaugurada em março de 1940. Foi professor, secretário e membro

dos Conselhos. Preparou, outrossim, a Faculdade de Serviço Social em

1945 e a Faculdade de Direito em 1947. Sempre foi a força eficiente e

silenciosa das iniciativas da Universidade e das Faculdades de 1940 a 1990.

Nestes 50 anos a vida da PUCRS passou por suas mãos ou por sua

orientação. Nos últimos dez anos supervisionou e observou os atuais

progressos da Instituição e teve o merecido ócio com dignidade.

Irmão Faustino, em 1951, organizou o Curso de Jornalismo que

começou a funcionar em 1952. As reformas de Estatutos e de regulamentos

todos passavam por ele, por sua análise e visão. Professor e Diretor da

Faculdade de Educação, Pró-Reitor de Extensão foram alguns de seus

cuidados. Trabalho notável executou na preservação dos documentos e do

acervo histórico. Em 1994, empreendeu com o Ir. Elvo Clemente a tarefa de

redigir a História da PUCRS, que tem três volumes: 1931 — 1951; 1954 —

1978; 1979— 1998. Na bela, operosa e extensa existência o Irmão Faustino

João (Salomón Torrecilla) distinguiu-se em três aspectos: 1) O apóstolo —

convidado a deixar a sua terra, Castella — Espanha, ainda jovem obedeceu

à voz que o chamava para o Brasil — Porto Alegre. Deu sua vida, seu saber,

seu tempo todo à educação e à instrução da juventude no Colégio Rosário e

na PUCRS. Soube pregar o Evangelho de Jesus Cristo pela palavra e pelo

exemplo; 2) O educador marista, aquele ardor juvenil pela missão de

Marcelino Champagnat se manteve viva e forte em toda a vida de 94 anos. A

vocação se manteve graças à perseverança de seu espírito na união com o

Divino Mestre a exemplo da Senhora Bendita de Nazaré; 3) Foi o

Consolidador da obra iniciada pelo Irmão Afonso, ampliada pelo Irmão José

Otão. Teve o reconhecimento de sua obra pela Prefeitura que o fez Cidadão

158

de Porto Alegre; do Estado que o consagrou Professor emérito; da Espanha

que lhe outorgou a Comenda de Isabel a Católica no mais alto grau. O maior

reconhecimento é de tantos corações que o veneram e amam como pai e

protetor. Muitas vidas tiveram seus rumos melhorados graças à palavra, ao

conselho e à ação do Irmão Faustino. Obra duradoura é sem dúvida a

Fundação Irmão José Otão de que foi primeiro presidente e constante

conselheiro e orientador. Irmão Faustino por sua vida devotada ao ensino e à

educação da juventude, imitando o Divino Mestre no seguimento de Maria

Santíssima é exemplo para as novas gerações maristas e para as pessoas que

se dedicam aos jovens nas escolas e nas Universidades. Será para sempre

uma estrela a indicar o verdadeiro caminho da ciência, da fé e da virtude.

Jornal do Comércio, 01/07/2002, p. 4, Opinião e O Estafeta,

17/07/2002, Veranópolis/RS.

Adeus ao Irmão Faustino João

Aqui estamos para o adeus ao Irmão Faustino João, um dos pilares

mestres da Universidade, um dos sustentáculos e apóstolo da Educação

Católica no Rio Grande e no Brasil, fundador da Associação da Educação

Católica (AEC) há 50 anos; o co-autor ou melhor a história viva da

Universidade: o Irmão Marista exemplar, o homem que durante 75 anos esteve

presente e atuante na vida da educação e do ensino, o mestre, o orientador dos

caminhos de nossa Universidade.

Muitos dos presentes aqui, estivemos lado a lado com ele no Colégio

Nossa Senhora do Rosário, nos últimos 34 anos na Comunidade Santo Tomás

de Aquino, na PUCRS.

159

Em toda esta trajetória era o homem, o discípulo fiel de São Marcelino

Champagnat, na humildade, na simplicidade e modéstia, as três flores tão caras

à Nossa Boa Mãe, Virgem Santa Maria.

Poderíamos resumir a biografia desta longa e benemérita existência em

poucas palavras: Irmão amigo, compreensivo na Comunidade, nas aulas, no

gabinete, no trato de quem quer que fosse, ou o procurasse. Homem de estudo

e de leitura perseverantes, religioso de escrupulosa observância das

constituições; fiel aos destinos presentes e futuros da obra marista no Brasil e

no mundo; era feliz e semeava a felicidade do verdadeiro filho de Deus.

Irmão Faustino João, nasceu Salomón Torrecilla Vesga, em 21 de

outubro de 1908, no pueblo de Quintanilla de San García, a 40kms de Burgos,

Castela, Espanha. Educado na família profundamente cristã. Completou a

escola primária na casa dos Irmãos Maristas, em Arceniega. Aos 14 anos

aceitou o convite para continuar os estudos no juvenato Internacional de São

Francisco Xavier, em Grugliasco, perto de Turim (Itália). Neste educandário se

preparavam jovens missionários para as longínquas escolas da Ásia, Oceânia,

América e África.

Em 1926, o jovem Salomón revestiu o hábito marista no noviciado de

Santa Maria (Turim) adotando, então, o nome de Irmão Faustino João, que

soube honrar por 76 anos. Em 1927, foi enviado ao Brasil Meridional,

chegando a Porto Alegre, no dia 12 de outubro. Designado para o Colégio

Nossa Senhora do Rosário, encontrou Irmão Afonso na direção do

educandário, na Avenida Independência, n°359. Aprendeu, rapidamente, o

Português, em março de 1928, estava lecionando para uma turma de 56

meninos no terceiro ano primário. Dedicava-se de corpo e alma ao estudo e

ao ensino. Anos depois lecionava no Ginásio várias disciplinas: matemática,

história e geografia e francês.

160

Em 1931, assistiu à fundação da Faculdade de Ciências Políticas e

Econômicas. Em 1934 era aluno e em 1939, era bacharel, sem com isso

diminuir suas aulas no Ginásio.

Naqueles anos teve início a amizade profunda com o Fundador da

Universidade e o executor dos grandes sonhos do Irmão Afonso. O acréscimo

de compromissos no ensino superior não lhe diminuíram as obrigações no

Ginásio, no Curso Comercial e na Comunidade.

Em 1940 era inaugurada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,

26 de março. Em 1942, começaram, em junho, os Cursos da Ciências, de

Pedagogia e Didática.

Em 1945 era estruturada e começava a funcionar a Faculdade de

Serviço Social.

Em 1947, a Faculdade de Direito despontava promissora para constituir

a Universidade Católica do Rio Grande do Sul, cuja equiparação federal

aconteceu a 9 de novembro de 1948.

Naquele magno empreendimento o Irmão Faustino João colocou a alma

e o coração, até conseguir-lhe o título de Pontifícia, outorgado pelo Servo de

Deus, o Papa Pio XII, no dia 1° de novembro de 1950.

Seguiram-se as outras faculdades — Odontologia em 1953; Engenharia

em 1960... Outras mais vieram sempre com a presença ativa e criativa do Irmão

Faustino junto dos Reitores: Irmão José Otão e Irmão Norberto Francisco Rauch.

As Faculdades de Filosofia começaram a surgir em várias cidades,

graças à ação do Irmão Faustino e respectivos bispos: Caxias do Sul, Pelotas,

Bagé, Santa Cruz do Sul, Uruguaiana, Caxias do Sul.

Irmão Faustino sabia desdobrar-se no magistério, na direção da

Faculdade de Educação, na criação do Curso de Pós-Graduação. Depois

esmerou-se na Pró-Reitoria de Extensão e na Assessoria do Reitor. Era o

factótum de tantas iniciativas, cuidando sempre de manter o arquivo da

161

Universidade. Juntos realizamos a História da PUCRS, junto com o Irmão

Roque Maria escrevemos a vida do irmão Weibert e do Irmão Afonso.

Sempre ocupado, dando ao descanso e ao lazer o mínimo de tempo.

Sempre presente no Conselho Universitário, no Conselho Provincial, presente

na vida acadêmica, na vida comunitária, nos exercícios de piedade, nas

horas de lazer.

Sempre ativo trabalhando nos bastidores, planejando

reformas e melhorias.

Recebeu significativas honrarias de reconhecimento de seu

incessante trabalho e dedicação em prol da Educação e do Ensino.

Mencionamos apenas algumas:

Do Município: Cidadão Porto-alegrense

Do Estado: Educador Emérito e Gaúcho Honorário

Da França: Palmas Acadêmicas

Da Mãe Pátria, Espanha: Encomienda de numero del Orden de Isabel

la Catolica, título recebido no dia 21 de outubro de 1998, ao completar 90 anos.

Sempre foi um verdadeiro Irmão Marista, devoto de Nossa Senhora, fiel

discípulo de São Marcelino Champagnat e apaixonado pela vitalidade e

desenvolvimento do Instituto. Viveu intensa e santamente cada dia de sua rica

existência dentro da pobreza religiosa de seus compromissos sagrados dando

de si para a organização da Universidade e nos últimos anos na criação e na

consolidação da Fundação Irmão José Otão, obra de benemerência para

investigação científica e para o amparo aos estudantes.

As forças físicas iam minorando, seu estado de saúde necessitava

melhoras e constantes cuidados de médicos e enfermeiros. No dia 16 de junho

de 2000 deixava a sua e nossa Universidade para receber o amparo fraterno e

amigo da Casa São José, em Viamão. Aos poucos o depauperamento do

organismo foi-lhe limitando as energias e confinando-o ao apartamento onde

recebia diuturnamente todas as atenções que se lhe faziam mister. Na tarde às

162

16h, de 28 de junho, entregava serena e tranqüllamente sua bela alma a Nossa

Senhora que a conduziu a Nosso Senhor a quem ele servira com tanto amor,

devotamento e fidelidade. Eram as primeiras vésperas da festa dos apóstolos

Pedro e Paulo, Salomón Torrecilla pôde dizer em seu silêncio: “Combati o bom

combate, completei minha carreira, guardei a fé”. Seja Deus louvado! Os santos

apóstolos puderam apresentar a Deus Nosso Senhor o grande lutador vitorioso

das causas da educação e do ensino no Rio Grande do Sul e no Brasil.

No dia 29, aconteceram as exéquias presididas pelo bispo

emérito de Uruguaiana, Dom Augusto Petró e por distinta equipe de

sacerdotes concelebrantes.

Bela vida, bela existência entregue a Deus, à Boa Mãe para levar

tantas pessoas a conhecerem Jesus Cristo e a amá-lo. Eis a beleza de uma

existência que fecha o ciclo terrestre para florir nos páramos celestes!

Versão Semanal, 18 a 24/07/2002, Porto Alegre, p.06, Opinião.

Irmão Dionísio Fuertes Alvarez

No dia 21 de julho faleceu o prof. Dr. Irmão Dionísio Fuertes Álvarez,

presidente do Instituto de Cultura Hispânica, membro da Academia Rio-

Grandense de Letras, professor emérito da PUCRS. Nascido em Léon

(Espanha) a 28 de março de 1913, fez a formação marista na Itália, perto de

Turim. Obedeceu ao chamado missionário e veio ao Brasil em 1930. Exerceu

o magistério no Colégio Rosário, em Garibaldi, Rio Grande e Uruguaiana e

sobretudo na PUCRS de 1941 até 1999. Irmão Dionísio notabilizou-se por

suas atividades:

1) Na organização da Biblioteca Central, de que foi Diretor durante 25

anos: organizou o prédio e a classificação geral, antes da informatização.

163

2) No Instituto de Cultura Hispânica, foi um dos fundadores em 1956 e

Diretor durante 35 anos. Esmerou-se em transformá-lo no melhor centro de

Cultura, de Literatura de Espanha: biblioteca e videoteca — tesouros imersos.

3) No magistério, Irmão Dionísio lecionou nos cursos de Comércio do

Colégio Santo Antonio e no Colégio São Francisco, na PUCRS lecionava

Língua Espanhola e respectivas literatura e Cultura hispânica, Introdução à

Filosofia em várias unidades acadêmicas, Didática Geral e Didática Especial.

4) Nas Letras foi exímio escritor e poeta com os dois ensaios: Núcleo

mínimo da e.pressão lingüística e Poesía y belleza; os livros de poesia;

Salmos do Silêncio, 1957; Terra habitada, 1958; Casa dourada, 1961;

Escuro labirinto, 1972. A poesia dele tem o sotaque marcado pelos ritmos

de São João da Cruz e de Santa Teresa de Ávila. Aquele tom místico,

aquela flor sobre a paisagem humana. Era notável orador tanto em

português como em sua língua materna. Encantava qualquer público.

5) Na cultura em todos os sentidos, Irmão Dionísio foi longe. A grande

paixão pela leitura o levou a explorar os tesouros escondidos nos livros de

ciências, de filosofia, de ficção, sempre em busca da VERDADE, da Esperança

e do AMOR.

Jornal Igaçaba, 08/2000, Roque Gonzáles/RS, p. 07, No mundo da

Cultura.

O Misssionário Marista

Faleceu no dia 21 de fevereiro, o Irmão José Pasa, natural de Nova

Roma/RS, nascido no dia 26/12/1926. Desde cedo dirigiu-se do juvenato dos

Irmãos Maritas. Em 1948 era religioso de votos e pronto para as lides do

ensino. Lecionou em 1951, no Colégio Nossa Senhora do Rosário. Em 1952,

pediu para ir às missões de África. Esteve 11 anos em Moçambique naquele

164

tempo com três prósperos colégios em Maputo (Lourenço Marques), Beira e

Quilemane. Em 1964 foi enviado para Angola. No início tudo lindo, tudo

progressista. Começavam as guerras da independência. As missões eram

invadidas. Em 1975, época da independência, saíram os portugueses para Portugal

e para os quatro cantos do mundo. Irmão José Pasa ficou no posto, em suas

missões. Alguns irmãos voltaram ao Brasil, ele, o Irmão Antonio Bet e Irmão

Firmino Schneider ficaram no posto missionário. Viram os belos colégios arrasados,

viram as cidades desmanteladas, viram Luanda saqueada e invadida. Todo o belo

e próspero território angolano reduzido à miséria e à fome. As cidades incharam

pelo povo que se deslocava dos territórios agrícolas, infestados de inimigos. As

estradas minadas, imensos caminhos que haviam sido cimentados ou asfaltados

tudo foi pelos ares. A luta fratricida destruiu tudo, desanimou os braços amigos,

mas o Irmão José com os coirmãos resistiu. Tudo via, tudo procurava reparar e

melhorar. Na volta de tempos melhores, retomou o trabalho de reconstrução de

Ndalatando, onde passou ensinando às crianças e adolescentes o verdadeiro

caminho Jesus Cristo, o verdadeiro Deus, filho de Nossa Senhora. No dia 22 de

fevereiro toda aquela região realizou o enterro do Irmão José Pasa, verdadeira

ovação, entre lágrimas e preces àquele que fora pai e mãe daquele povo.

O Estafeta, 12/03/2003, Veranópolis/RS, p. 14, Variedades.

Irmão Mainar Longhi

Na hora noturna, no profundo silêncio dos seres e das coisas, o prof.

Irmão Mamar Longhi deixou as contingências deste mundo pelas realidades

eternas. Ia chegando às vésperas dos 65 anos (23/7) e já amadurecera a seara,

o anjo do Senhor veio colher os frutos de seis décadas e meia de serviços.

Abrira os olhos para a vida, em Vila Segredo (Vacaria), mesmo chão do ilustre

165

falecido Raimundo Faoro. Mestre devotado ao estudo, à pesquisa, para ser

cada vez mais luz e orientação para os alunos dos cursos de Letras e de

Comunicação Social. Por 35 anos foi o fiel distribuidor dos ensinamentos

perenes da Língua Portuguesa e da Literatura.

Era belo ver como sabia dedicar horas e horas a leituras, à preparação

de aulas, buscando novos textos, novas formas de apresentar os fatos da

língua. Para a Literatura Brasileira ia buscar as novidades nos jornais e revistas.

Pouca gente amou tanto quanto ele a leitura de jornais e revistas. Belos artigos

eram enviados à redação do Correio do Povo. Ficava faceiro quando via suas

letras estampadas na 4ª página! Vibrava com os acontecimentos políticos e

sociais, participava da vida como exemplar cidadão. Amando e exaltando seus

próceres como o Lacerda e outros. Detinha-se na leitura de biografias ou de

autografias dos personagens da cena literária e política do Brasil, da Espanha,

da França e da Itália. Sabia ser amigo de seus alunos e de seus colegas. De

modo geral reservado e silencioso, sabia numa roda de amigos expandir seu

bom humor, com ditos e piadas bem contadas. Na vida com os coirmãos era de

poucas palavras, em horas especiais era entusiasta nas conversas e anedotas.

Soube nos 47 anos de Irmão Marista viver o carisma de religioso e

educador. Dedicou muitas horas de investigação e de leituras na realização de

seu Mestrado e Doutoramento em Lingüística aplicada, em temas ligados à

língua nas Letras e no Jornalismo. Acumulou leituras, jornais, revistas e livros

em vista da continuidade às perquirições estilísticas do gênero jornalístico.

Atendia com assiduidade as funções de conselheiro da TVE. Sempre disponível

às solicitações da Reitoria, da Comunidade ou da Província: participava de

comissões, de seminários e de estudos para o bem da cultura, da ciência e da

religião. Irmão Mainar era e é para nós o mestre modelar, o amigo sincero e fiel

discípulo de São Marcelino Champagnat.

Correio do Povo, 08/07/2003, p. 4, Opinião.

166

CRÔNICA — VIDA E SENTIDO DO VIVER

167

Quem prepara o professor?

Nas mudanças todas que se apregoam na política, na religião, nas

ciências, nas escolas não se fala da preparação do professor. As outras

profissões chamam a atenção dos governos nas esferas do município, do

estado e do país, o professor não é pensado nem considerado. Olhando

objetivamente o professor está em toda a parte, é o elemento incentivador,

realizador e aperfeiçoador de todas as profissões e atividades. Em tudo e em

toda a parte necessita-se da pessoa que ensina, que instrui e que eduque.

O Evangelho tem alto conceito de MESTRE, a ninguém chameis de

mestre, o MESTRE é CRISTO. A benemérita mestra das primeiras letras, o

mestre da aldeia, do ensino fundamental e do ensino médio são pessoas

vitais para a vida da família, da sociedade, da organização científico-cultural,

religiosa e política. Apesar da importância enorme do mestre, pouco ou nada

se faz para a formação dele. Os incentivos do Ministério da Educação visam

aumentar o número de alunos nas escolas, diminuir a população infanto-

juvenil fora da sala de aula. Pouco ou nada se faz para que essas crianças e

adolescentes tenham mestres bem preparados e bem pagos. Observa-se um

paradoxo: salas de aulas modernizadas, equiparadas com máquinas de última

geração, ligadas à lnternet, etc. E o professor como é que fica? Os diários

oficiais conclamam tantos docentes para que as salas de aula tenham o

mestre. A paga é pequena, sempre serve para um bico. Que educação se faz

com esses docentes improvisados? Resolveram alguns autodenominar-se de

trabalhadores do ensino ou da educação. Deixaram de lado toda a tradição de

respeitabilidade que a categoria angariou através dos tempos com tão

devotados mestres desde os pedagogos da Grécia até a legião de santos

educadores que seguiram as pegadas de Jesus Mestre.

É necessário que desde o município, passando pelo estado e

alcançando o país haja uma verdadeira e sadia reforma quanto à

168

preparação científica e moral dos docentes. Haja bolsas de estudos para

formar mestres competentes, que as instituições religiosas dêem exemplo

de preparação de mestres entusiastas no seguimento do Mestre por

excelência para ter uma sociedade melhor numa terra sem males.

Correio do Povo, 06/03/2002, p. 4, Opinião.

“Queremos mais professores ...”

A imprensa desta semana apresentou significativa manchete —

Protesto de estudantes na França mobiliza 100 mil. Nas primeiras semanas de

aula, após as férias do verão europeu, os estudantes franceses se mobilizaram

em 140 cidades da França gritando: “Queremos mais professores ...” É um grito

juvenil que ressoa nos umbrais de novo ano letivo, no término de um século, no

alvorecer de novo milênio. Entre nós as vozes soam diversamente celebrando

menor evasão das aulas, graças ao método de não-reprovação... Tudo estará

tão tranqüilo assim sob o céu do Cruzeiro do Sul? As marchas dos professores

do norte, do leste, do oeste sobre Brasília o que procuram? Os professores

querem ser ouvidos, querem ser respeitados, tratados como cidadãos

vocacionados para uma tarefa ingente: formar gente! formar filhos da Pátria;

formar cidadãos, filhos de Deus!

Mais um dia do professor em nossas vidas, mais uma folhinha a cair do

bloco do calendário, são tantas as folhas caindo no outono europeu, tantas

folhas a reverdecerem nos ramos que florescem em nossas primaveras.

Como serão os frutos? Como é que está sendo preparada a geração do novo

milênio? A dança dos métodos, o entrechoque das ideologias, a solidez dos

princípios, quanta coisa é necessária para o professor esculpir a nova

humanidade na tosca pedra das novas gerações... A Universidade, a Escola

169

normal, os cursos de magistério, são os formadores de professores: pessoas

que vivem o presente, olhando o passado e gerando o porvir. Assim, como no

Gênesis, cada professor, cada escola pode repetir a famosa e divina

sentença: “Façamos o homem e a mulher à nossa semelhança.” Será que o

labor do mestre chega a modelar um ser humano livre, inteligente e capaz do

amor construtivo da nova humanidade? Como são formados os mestres, tais

serão os discípulos em todos os níveis de ensino e de educação.

Neste 15 de outubro, ao mestre com amor e carinho, não só no beijo

ingênuo e inocente das crianças e adolescentes, mas também pela ação

decisiva do Estado garantindo o justo salário, assegurando dias melhores

aos professores e famílias. O mestre sentindo-se amado e respeitado pelas

famílias, pelos alunos, pela sociedade, tem ânimo de ir adiante e responder

com entusiasmo ao grito lancinante dos adolescentes: queremos mais

professores e melhores condições materiais de ensino. Na alegria do

semeador a semente jogada nos corações germina e frutifica, prometendo a

verdadeira civilização do AMOR.

Correio do Povo, 21/10/1999 , p. 4, Opinião.

Flores, frutos, formaturas

Vivemos este verão escaldante em que se colhem tantas flores, tantos

frutos, em que se realizam tantas formaturas. São diplomas colhidos após

longos e trabalhosos anos, frutos de paciente e concentrada dedicação ao

estudo, à investigação científico-literário-filosófica. Tudo para se ter na

sociedade uma pessoa renovadora, sinalizadora de novos caminhos e de outros

horizontes de progresso e paz. Na.hora de formatura, quanta beleza, quantas

flores, quantos risos e quantas lágrimas de alegria. Justifica o salmo que reza

170

assim: “Aqueles que semeiam entre lágrimas colherão com a alegria ...”. Valeu

a pena fazer os sacrifícios de pais, de cônjuges, de irmãos e de namorados.

Estão aí lindos ramalhetes, estão aí os frutos sazonados amadurecidos ao

longo do percurso de quatro a seis anos. Nessa hora pouco contam os

sacrifícios da caminhada, pouco valem as horas passadas sobre os livros,

diante da telinha do computador, nos laboratórios ou nas bibliotecas, pois

brilham as luzes da formatura.

Nesta temporada assisti a algumas formaturas, encontrei ali entusiasmo,

agradecimentos aos pais, aos mestres, à faculdade; esperança de um emprego

imediato. Assisti à formatura da Educação Matemática, na URI, Campus de

Erechim. Dezoito licenciados prestaram seu juramento de revigorar o ensino, de

oferecer à juventude de nossa terra aulas melhores, educação aprimorada para a

formação de cidadãos honestos e responsáveis pela pátria que desejamos ver e

viver forte e feliz. Como é belo presenciar tantos jovens, vencedores, de um

currículo, sonhadores de uma missão especial, renovadora do ensino, semeadora

de novas e seguras esperanças e certezas de uma existência melhor, apesar dos

prenúncios augurentos. Só o amor constrói, dá ânimo e ensina a viver.

A valorização do magistério, eis a tônica da formatura, quer dos

mestres, quer dos novos licenciados em Educação Matemática. Amar a

vocação, valorizar a profissão, acreditar em Deus para que cresça o amor na

vida e nos corações.

Correio do Povo, 24/01/1999, p. 4, Opinião.

O lado positivo do idoso

O Livro Sagrado, repleto de sabedoria, glorifica a idade avançada de

mulheres e homens que atravessaram as tempestades da existência. O

171

salmo 89 enaltece os setenta anos e chama os oitenta anos de fato notável

quando a vida for vigorosa. O salmista ora a Deus: “Ensina-nos a contar

nossos dias para que venhamos a ter um coração sábio! Sacia-nos com o

teu amor pela manhã, e alegres, exultaremos nossos dias todos.”

A longevidade em toda a tradição bíblica e das culturas orientais e

ocidentais é bênção de Deus. O ideal da ciência da Medicina Geriátrica

preventiva é vida longa com saúde.

Para todas as etapas da vida é válida a Pedagogia da Positividade. O

idoso passou pela vida e agora olha os anos passados entre dificuldades,

acertos e desafios, sorri, vê como pôde vencer, vê como superou momentos

duros. Graças a Deus e à sua coragem venceu! O olhar para trás dá forças e

visão para estar com a visão atenta para frente. Como é belo ver os

sexagenários, os septuagenários os octogenários sorrindo à vida, sorrindo a

seus familiares, sorrindo aos amigos ao mesmo tempo em que sabem

sentir-se úteis. O que passou, passou, está no regaço da misericórdia e

bondade infinitas de Deus! O patamar de sua visão abriu o horizonte

apesar das miopias e presbitias, ele vê longe. A vida tem outros degraus, a

vida se prolonga sempre mais, pois transforma o ocaso numa rutilante

aurora. Os incômodos de cada dia, os achaques de cada idade se

transformam no gesto positivo de novo degrau, de nova maneira de colher

outros frutos que alimentam a esperança e revigoram a fé na vivência do

verdadeiro AMOR.

Como é bela a cena em que o idoso aparece sorrindo, em que o

idoso recebe as atenções dos familiares, crianças, jovens e adultos que

vêem no avô, na avó, aquele momento de sabedoria. O elã esmorece, mas a

voz enfraquecida diz tantas palavras carregadas de vigor e de sabedoria...

Ver o mundo, a vida, as pessoas, os acontecimentos com positividade

não é iludir-se ou iludir, é saber viver o dia-a-dia sub specie aeternitatis (sob a

172

luz da eternidade) em que o sol da vida brilha sempre no coração que sabe e

pode amar além dos tropeços do existir, além da luz opaca dos desânimos.

Viver positivamente é resgatar para si e para outros a beleza, o bem e o

verdadeiro que estão nas pessoas, nas coisas e nos acontecimentos.

Jornal do Comércio, 18/10/1993, p. 13, 2° Caderno.

Como é belo o Rosário!

Como é belo ver o Rosário nas mãos de uma pessoa orante,

contemplativa das glórias e encantos da Vida de Jesus Cristo e de Nossa

Senhora! O terço do Rosário em sua vida redentora de mais de 700 anos, levou

muitíssima gente a rezar numa relação de amor com Deus.

Frei Betto, em artigo recente em O Estado de São Paulo (22/09/99)

escreve coisas lindas sobre o ato de orar. “Na oração é preciso entregar-se

a Deus. Deixar que ele ore em nós. Se temos resistência à oração, é

porque, muitas vezes, tememos a exigência de conversão que ela encerra.

Parar diante de Deus é parar diante de si mesmo”.

A reza do terço é este ato de entregar-se a Deus pela recitação das

avemarias, na suavidade monótona de nossa voz, o coração em

contemplação dos grandes acontecimentos da encarnação, vida, morte e

ressurreição de Jesus Cristo, na presença da Mãe Medianeira.

Como a Santa Madre Igreja é sábia ao recomendar a reza do terço

do rosário em horas quietas do dia ou da tarde, a reza em família, em

pequenos grupos, na contemplação dos grandes mistérios que resumem a

vida de cada cristão nesta terra.

Como é belo o Rosário nas mãos de uma pessoa idosa, de uma

pessoa adulta, de um jovem ou de uma jovem ao repassar das contas e ao

173

balbuciar carinhoso das ave-marias e dos pai-nossos. As fadigas, as

pressões, a agitação do dia tudo se harmoniza pois a reza do terço

descansa, repousa no Coração de Jesus e nos braços da Boa Mãe.

lgaçaba, 07/10/1999, Roque Gonzales/RS, nº 29, No Mundo da Cultura.

A vida é bela!

Ao abrir-se a manhã de um novo ano, do Ano 2000, como a vida sorri

bela e promissora!

O nosso caro poeta de Itaqui, Paulo Corrêa Lopes, cujo centenário de

nascimento celebramos em 1998, no belo poema LARGAI as velas conclui com

os versos: E vereis como é mais bela a vida entre relâmpagos e abismos!

Apesar de tudo a vida é bela! É o maior dom que recebemos da

Divina Providência que zela por nós dia e noite com o olhar e o

carinho de Pai.

A cada dia novo tesouro se nos apresenta para valorizá-lo em saúde,

bemestar, atividade cultural e aperfeiçoamento espiritual.

Quantos exemplos extraordinários de pessoas encarceradas no leito

de dor, às vezes, imóveis, às vezes, dependentes totalmente da mão

caridosa de outrem, aquele sorriso nos lábios sofridos nos diz: Como é bela

a vida! A vida é bela pelo valor humano-divino que ela tem. Por um ato de

amor de um homem e de uma mulher Deus nos destinou à existência.

Quantos ficaram a meio caminho, quantos não tiveram a dita de ver o dia de

nascimento e nós o tivemos! Não só aquele venturoso dia como outras

centenas e outros milhares de dias

E o nosso coração repete no seu pulsar: Como é bela a vida!

174

Cada um de nós tem uma missão a cumprir em tantos dias, em

tantos anos, conforme os altos e amorosos desígnios de Deus! Alguns

cumprem sua missão em poucos meses ou poucos anos, outros avançam

nas décadas... No dia 22 de janeiro o grande jornalista, presidente da

Associação Brasileira de Imprensa, Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho,

completou 103 anos. Ainda escreve, ainda dirige a A.B.l., ainda é um lutador

em prol da liberdade de expressão e da imprensa.

Nos festejos destes dias, ele canta um hino centenário que inicia com a

exclamação: Como é bela a vida!

A cada dia, ao despertar pela manhã, elevemos a Deus o Cântico de

agradecimento que “Vai acordar a aurora!” É um novo dia de dar a glória a Deus,

de realizar o bem aos outros, de traduzir a beleza da vida com nosso sorriso que

reconforta e anima as pessoas de nosso convívio de nosso ambiente de trabalho.

Encerro esta louvação à vida com os versos da canção italiana:

Vivere! Che la vita é bela!

Vivere sempre più!

A Platéia, 17/02/2000, p. 10, Opinião e Jornal Novo Milênio, 14/02/2000,

p. 07, Artigos.

O outro existe. E eu?

Estamos vivendo uma atmosfera carregada de egoísmos, Parece, para

muita gente, que só existe o eu. Tudo converge para a pessoa que se considera

o centro de tudo num grupo social, numa comunidade. Tudo e todos dependem

daquele centro - egocêntrico. Nada há de mais anti-evangélico do que o

egoísmo. Jesus Cristo pregou e realizou em sua vida a grande missão de servir.

“O maior dentre vós deve ser aquele que serve” Jesus Cristo, homem-

Deus, é o exemplo espetacular de solidariedade, de serviço. A grande lição do

175

lava-pés, naquela derradeira noite de sua vida peregrina neste mundo... Vale a

pena reler aquela página sublime escrita por São João.

Ainda depois da Ressurreição, Jesus Cristo continua sendo Aquele-

que-serve. A caminho de Emaús, no lago do Tiberíades, no Cenáculo, sempre o

Mestre a servir não só a Fé dos discípulos, como a fome e as dúvidas. Maria

Santíssima, a Mãe do sublime amor, quanta caridade, quanta solidariedade

para com cada um dos discípulos do Filho, para as pessoas necessitadas de

qualquer raça, língua ou crença. Ela é a Mãe solícita, todos somos filhos da São

Marcelino Champagnat, exemplo perene de serviço aos colegas, aos irmãos,

aos alunos. Olhando para estes exemplos quanto devemos fazer para vencer o

nosso enrustido egoísmo, e ser os verdadeiros servos de quem está perto de

nós e das pessoas que vêm até nós!

Igaçaba, 11/06/2000, Roque Gonzales/RS, n° 37, No Mundo da Cultura.

Natal, Novo Milênio!

Bimbalhavam os sinos em todas as igrejas da terra: É NATAL! Jesus

nasceu, Jesus inaugura novo milênio... Que força extraordinária tem o

sorriso dessa criança que sorri, que chora sobre a caminha de palha. A força

do infante se opõe aos fortes, aos dominadores soberbos dos caducos

remos deste mundo. Ei-lo Jesus o doce menino, embalado nos braços

virginais da donzela Maria. A fraqueza, a ternura, a meiguice vencem os

olhares arrogantes, as forças das bombas dos potentados, elas vencem

porque são a força miraculosa de Deus.

Jesus pequenino atrai todos a si, não se apavora daquele velho vestido

de vermelho que mente com abraços e promessas. Jesus Menino é a

expressão da Verdade que brilha no presépio franciscano, aquele velho com

176

nome de pai, infecundo, joga mentiras aos ouvidos inocentes. São as mentiras

do consumismo, dos presentes sem a presença do afeto, dos abraços frios e

calculados que não têm o calor revitalizante do AMOR, daquele que é Senhor

do céu e da terra, e que, para conquistar os corações se fez CRIANÇA.

Jesus Menino em nossos corações pela sinceridade das atitudes;

Jesus Menino em nossa família pelo amor e pelo perdão sincero que revive

os corações; Jesus Menino acompanha nossos passos pelas mãos de Maria

e de José na simplicidade de vida, na verdade e no Amor da PALAVRA que

une, que salva no verdadeiro amplexo de AMOR. Assim o Natal é feliz,

assim o terceiro Milênio nasce com muita fé, com muita esperança coroada

com as luzes do AMOR.

Muitas são as luzes nas ruas, nos edifícios, tudo é tão lindo e

maravilhoso em nossas cidades, vilas e povoados. É preciso que se acendam

as verdadeiras luzes da Fé de quem disse: Eu sou a Luz do mundo! Não é

possível andar nas trevas. Nascemos, vivemos na luz e para a Luz.

Naquela manjedoura de Belém conflagrada como seria maravilhoso

ouvir de novo as vozes dos anjos aos pastores: “Glória a Deus nas alturas e paz

na terra aos corações que amam a Deus”. E no canto e no encanto daquelas

vozes repercutindo em cada coração humano surgirá nova terra e novo céu no

terceiro milênio, para a alegria dos que sabem viver com justiça e amor.

Correio do Povo, 22/12/2000, p. 4, Opinião e A Notícia, 28/12/2000, p.

4, Segundo Caderno.

Natal, para quê?

Dentro de poucos dias estamos no Natal, festejando o nascimento do

VERBO de Deus que se fez homem. É a união hipostática do SER infinito com

a criatura finita, do SER por excelência com o relativo frágil e mensurável.

177

Observando as imensas invenções de nossa civilização, o que vemos? O

que temos? Publicidade de bens perecíveis, alarde de preços competitivos

para coisas que satisfazem de imediato as necessidades de ter mais

objetos, coisas que amanhã são obsoletas, que amanhã se colocam de lado,

talvez numa lixeira...

Então pergunto: Natal para quê? Para termos mais entulhos em nossos

aposentos? Mais aparelhos eletrônicos para distrair a minha atenção, minha

necessidade de recolhimento, de silêncio à contemplação daquele Infante

pequenino? A Igreja me convida nas quatro semanas do Advento a preparar o

caminho do Senhor Jesus que procura sua morada no coração de cada pessoa,

que deseja dar amor a tanta gente ensurdecida pelo barulho de instrumentos,

pelo ruído do espocar de foguetes e rojões...

Natal para quê? É o momento especial para uma pausa, urna parada

no frenesi de nossas ingentes e estressantes atividades. A campina de Belém

naquela noite memorável celebrava o silêncio, os astros na imensidão do

universo percorriam suas óbitas mais lentos, mais silenciosos para não

pertubarem o silêncio misterioso da gruta santa. Os pastores, aquelas

pessoas simples, vigiavam os rebanhos, defendiam-se dos gélidos ventos. As

sanfonas entoavam cantigas gregorianas na unção da Fé e no pulsar da

Esperança. O Salvador deveria vir numa noite assim, dominada pelo silêncio de

tantos séculos; o Salvador deveria chegar numa paisagem em que a PAZ

soberana dominava silente e misteriosa. E assim Jesus nasceu, a Esperança de

milênios completava o ciclo do mistério da Revelação. Ei-lo deitado na

manjedoura, o Infante pequenino. É Infante, não falante, fala por seu sorriso,

pelo brilho daqueles olhos que penetram as penumbras do coração...

Aquelas mãozinhas sentem as pontas agudas das palhas. O soberano

do universo, ei-lo pequenino, indefeso, entregue às vicissitudes da temporada

álgida e curtindo a indiferença dos albergues bem aquecidos, dos salões

iluminados onde as músicas, os ruidosos bailes, profanam o silêncio da Noite

178

Santa. Natal para quê? Para ter para mim, para meus parentes e amigos aquela

hora redentora de silêncio e comtemplação!...

Correio do Povo, 24 e 25/12/2002, p. 4, Opinião.

A coisa mais importante

No dia 17 de junho de 1999 a Igreja perdia uma das grandes figuras

que lhe dera mais prestígio neste final de século: o cardeal Basil Hume, primaz

da Inglaterra e do país de Gales. Na idade de 76 anos o novel arcebispo de

Westminster morria em conseqüência dum câncer que se revelara dois meses

antes. Segundo o comunicado oficial do arcebispado: “Sem sofrer e com

serenidade”. A serenidade era realmente a virtude que o definiu melhor em vida.

Era a sua característica que o distinguia no episcopado católico. Paulo VI o

nomeou cardeal da Grã-Bretanha, em 1976. Em 1994 foi relator no Sínodo

sobre a vida religiosa.

Em sua relação com a Igreja universal e seus irmãos bispos teve uma

ação notável de elevação espiritual.

Numa assembléia de bispos da Europa deixou uma alocução primorosa

sob o título — A coisa mais importante.

Muitas pessoas se fazem a pergunta: que tipo de Igreja deve emergir

no século XXI? Farei outra pergunta antes da resposta, que tipo de pessoas

querem ser?

À medida em que avança em seu peregrinar na história, a Igreja há-se

ser continuamente purificada e renovada.

Enquanto as pessoas se preparam para viver no século XXI quereria

sugerir nova reflexão sobre importante passagem da Evangelii nuntiandi; escrita por

Paulo VI em 1975: “O mundo ... reclama evangelizadores que falem de um Deus

179

que conhecem e que tratam familiarmente como se vissem o invisível.” Notem bem

as últimas palavras: como se vissem o invisível. Este paradoxo é muito importante.

Com os olhos da fé, deve-se olhar mais além das coisas visíveis que possam ver e

contemplar as coisas invisíveis que não podem ver (RM 1,19).

Em 1997, João Paulo II falando na reunião do Conselho das

conferências episcopais européias afirmou que os anunciadores do Evangelho

“sejam experts em humanidade, conheçam as profundezas do coração humano,

possam compartilhar as alegrias e as esperanças, as angústias e os

sofrimentos das pessoas de hoje, sejam ao mesmo tempo contemplativos

enamorados de Deus”.

Todos nós na Igreja devemos ser mais espirituais. A oração é uma

prioridade para todos nós. Hoje, as pessoas pedem com insistência que se lhes

ensine a rezar e a lhes dar um sentido mais profundo do que é a vida. As

pessoas buscam a espiritualidade. Faz alguns anos fui convidado, diz o cardeal

Home, a falar a um numeroso grupo de profissionais dirigentes de empresa e

pessoas desse ramo. Pediram-me o tema: “Espiritualidade e moralidade”. É

esta a grande necessidade do nosso tempo. As pessoas querem ouvir falar de

Deus e da nossa relação com Ele.

Querem que as pessoas que indicam os caminhos como se

pudessem ver o invisível e sejam realmente enamoradas de Deus. O povo

de Deus peregrino que acaba de entrar no novo milênio, há de tornar a

encontrar o peregrino que avança na direção oposta, aquele que é o

Caminho, A Verdade e A Vida, aquele que vendo-o, se vê o Pai. Para que

Cristo renasça em nosso mundo.

(Tradução do texto colhido do livro He tingut un sommi)

Igaçaba, 11/06/2001, Roque Gonzales/RS, n° 49, Cultura.

180

Novo Millennio ineunte

João Paulo lI, no dia 6 de janeiro, ao encerrar solenemente o jubileu,

lançou a carta apostólica Novo MILLENNIO INEUNTE, em português NO INÍCIO

DO NOVO MILÊNIO. O latim é sintético, o português é analítico daí a diferença no

título da carta apostólica. É a um tempo, relatório do ano jubilar e a prospectiva para

o milênio que inicia. A motivação do papa é o Evangelho de Lucas 5,4 em que

Cristo diz a Pedro: Duc in altum! (conduze a barca para o alto mar!).

O primeiro capítulo — Encontro com cristo, legado do Grande jubileu. A

memória traz à leitura os principais fatos do Ano 2000!

O segundo capítulo — Um Rosto a contemplar caracteriza-se por uma

forte inspiração contemplativa. O Papa convida a Igreja a aprofundar a

contemplação do mistério de Cristo, permanecendo com os olhos fixos no seu

divino Rosto. Lembra o episódio de Marta e Maria (Lc 10, 41) Maria escolheu a

melhor parte.

O terceiro capítulo entra na programação — Partir de Cristo — convoca

as igrejas locais a prosseguir e aprofundar a sua programação pastoral,

conforme as exigências dos diversos contextos. A pastoral deve assentar sobre

a experiência de uma fé sólida. Convite à oração pessoal, comunitária e

litúrgica, meta e fonte da vida eclesial. É preciso redescobrir o domingo, a

Páscoa da semana! Fazendo da Eucaristia o coração da vida das pessoas, das

famílias e das comunidades.

O último capítulo — Testemunhas do amor continua a falar da

programação na vertente da comunhão, da caridade e do testemunho no

mundo. A Koinomia, vista pelo Concílio Vaticano II como categoria central para

descrever o próprio mistério da Igreja, partindo de sua dimensão espiritual para

passar às exigências que daí derivam. O cristão não pode esquivar-se dos

compromissos ligados ao bem-estar de seus concidadãos, dos seus familiares,

dos seus coirmãos.

181

A Carta encerra suas iluminações e convites como havia começado

recordando a ordem de Jesus a Pedro: Duc in altum. Aqui estaria bem o poema

de Paulo Corrêa Lopes: Largai as velas!

Largai as velas que o mar é largo!

Para longe, para o fim de tudo!

Largai as velas

e vereis como é mais bela a vida

entre relâmpagos e abismos!

Largai as velas que o mar é largo

e embala os corações

que não tremem diante do mistério. (O Pp.75)

Igaçaba, 11/04/2001, Roque Gonzales/RS, n° 46, No Mundo da Cultura.

L’osservatore Romano: 140 anos

No dia 1° de julho celebrou-se os 140 anos de L’OSSERVATORE

ROMANO, jornal da Santa Sé. O ano de 1861 marca uma época difícil para a

Igreja Católica e para a Itália, ameaças da derrubada dos Estados Pontifícios,

lutas contra as posições do Papa Pio IX que defende o cristianismo haurido no

Evangelho de Jesus Cristo e do Magistério eclesiástico. Surgiu entre as névoas

da descrença e do anticlericalismo o Observador, houve naqueles dias outros

jornais com esse nome na Inglaterra, na França e Estados Unidos. O n°1 de

L’OSSERVATORE se pergunta: “Em que momento o OR vem tomar lugar entre

o imenso número de jornais italianos? Essa é a grande pergunta que todos

fazem e que nós fizemos desde logo. A Itália dividida, a Igreja combatida, os

cristãos perplexos... Todos necessitam de uma diretriz de pensamento e de

182

conduta...” Aí está desde o começo dos 140 anos dileneada a missão do

Osservatore Romano. Vieram as tempestades da guerra contra os Estados

Pontifícios, a expoliação da Santa Sé. O Papa aprisionado em sua residência

vaticana. O 1°Concílio Ecumênico Vaticano, em 1870... A morte de Pio IX, o

longo e luzente pontificado de Leão XIII, depois seguiu-se a doçura e a firmeza

de São Pio X. A seguir veio Bento XV que sofreu com os horrores da I Grande

Guerra. Surgiu depois Pio XI, com a ação católica no enfrentamento dos

totalitarismos nazi-fascista-marxistas. O Beato Papa Giovanni com as luzes

do Concílio Vaticano II, continuado por Paulo VI, e em 1978 com João Paulo

II até hoje. L’OSSERVATORE ROMANO a tudo acompanhava, tudo

registrou em suas páginas que são a memória de século e meio de história

de lutas, de sacrifícios, de mortandades e de resurreição para nova VIDA, na

primavera dos tempos.

No dia 1º de julho, o Papa João Paulo II dirigiu comovente saudação à

família de L’OSSERVATORE ROMANO na hora do Angelus na Praça São

Pedro. Além disso escreveu importante mensagem ao corpo dirigente e a todos

os jornalistas, repórteres, gráficas, numa palavra a toda a família do jornal que

completou 140 anos, mantido pelos católicos italianos e pelos católicos de

Outros países.

O jornal teve papel importantíssimo no ano do jubileu: “além de dar uma

visão cósmica da vida da Igreja, fortemente unida à cátedra de Pedro, oferece a

imagem de uma Igreja aberta às expectativas do mundo, chamada a ser em

Cristo, como que sacramentou sinal e também instrumento da união íntima com

Deus e da Unidade de todo o gênero humano”. Bela lição de

L’OSSERVATORE! Vamos manter nosso jornal!

Igaçaba, 11/09/2001, Roque Gonzales/RS, n° 52, Cultura.

183

A liberdade de servir

Jesus Cristo ao entrar no mundo disse: “Meu Pai, estou aqui, para fazer

a tua vontade! Estarei sempre a serviço dos homens e mulheres segundo a

vontade do Pai celeste.”

Maria de Nazaré, ao ser visitada pelo arcanjo Gabriel, perguntada se

aceitaria ser a mãe de Jesus, respondeu: ‘Eis aqui a Serva do Senbor faça-se

em mim segundo a tua palavra.”...

Padre Marcelino Champagnat, diante do altar da Virgem em Fourvière,

naquele mês de julho de 1816, pronunciou no fundo de seu coração: “Eis-me,

aqui, minha Boa Mãe.”...

Três grandíssimos exemplos, espelhos das almas que procuram a vida

mais conforme a vontade de Deus, mais segundo as raízes do Evangelho, mais

radical, no serviço de Jesus Cristo e de seus irmãos e irmãs neste mundo.

Olhando para cada uma das pessoas mencionadas vemos quanto

sofreram, quanto se devotaram para servir os outros! E nós quereríamos imitar

os nossos modelos sem sofrer, sem servir os outros na alegria, na dor, na

saúde, na doença?!...

O santo homem Job exclamou: “Militia est vita hominis super terram”

(luta e trabalho é a vida do homem sobre aterra). Ninguém escapa a esse

imperativo, nem mesmo os comodistas que relutam em reconhecê-lo: desertam

das fileiras de Cristo e afadigam-se em outras contendas para satisfazerem a

sua poltronaria, a sua vaidade, as suas ambições mesquinhas; andam escravos

dos seus caprichos” (Bem-aventurado Josemaría Escrivá, em Amigos de Deus,

homilia p. 228).

Como está a tua vida, tu que me lês? Como está o teu serviço em tua e

à tua família ou à tua comunidade?

Segues o exemplo de quem veio ao mundo para servir ou estás nas

hostes de quem exclamou e viveu e vive: “Non serviam? (Não servirei!)

184

Para bem servir os outros é preciso começar a servir a Deus pela

oração e pela observância de seus mandamentos.

Com as bênçãos de Nossa Boa Mãe queremos ser os servos de nossos

irmãos e irmãs. Servindo sempre, porque servir é reinar!

Versão Semanal, 04 a 10/10/2001, Porto Alegre, p. 7, Opinião.

Adesão a Jesus Cristo

Antes de entrar no tema vejamos o significado de adesão: união

estreita, participação com alguém. Adesão a Jesus Cristo acontece quando

renunciamos ao “mundo”, aos vínculos familiares e àquilo que nos aprisiona.

Quem optar por Jesus Cristo está livre das armadilhas do mundo. Esta opção,

porém, exige maturidade, pois requer um comportamento baseado

essencialmente no ensinamento do Evangelho (Liturgia Diária p. 35). As leituras

propostas pelo XXIII domingo do tempo comum insistem na adesão total e

radical (na raiz) de nosso ser a Jesus Cristo que é ontem, é hoje e será sempre

o mesmo. Os tempos mudam, as gerações mudam Cristo é sempre o mesmo,

pois é Deus. O Evangelho de São Lucas 14, 25-33, fala claríssimamente: “Se

alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e

filhos, seus irmãos e suas irmãs e até de sua própria vida, não pode ser meu

discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode

ser meu discípulo.” A citação é longa e lúcida, a palavra de Jesus é clara e vital.

Devemos entendê-la no íntimo de seu amor supremo. Ele é o amor primeiro,

mais importante, o amor às pessoas mais caras deve ser em vista de seu Amor.

Como é belo aderir a Jesus Cristo, pois pertencemos a Ele pela nossa

criação e especialmente por nosso batismo. Mas ainda se tivermos a graça da

vocação religiosa ou da sagração sacerdotal. São degraus diferentes da adesão

185

formal a Jesus Cristo. A adesão pessoal a Jesus se mede pelo amor de cada

coração. A medida do amor é não ter medida pois extrapola todas as medidas.

A adesão a Jesus se manifesta na imitação das virtudes de Maria

Santíssima, a “Virgem Mãe” filha de seu filho (Divina Comédia). Como Maria ao

dealbar do dia rezam-se os salmos de louvor, que “despertam a aurora”, para

começar o convívio de amor de um novo dia. Consagram-se a Ele todas as

horas de trabalho. Volta-se a Ele, ao fim da manhã, glorificando a Deus na

recitação do terço, saltério precioso das almas simples e amorosas. Retomam-

se os trabalhos com as tarefas, as pessoas, as preocupações. Santa Missa,

pela manhã ou a tarde é o momento sublime da demonstração sincera e feliz de

nossa adesão a Cristo, gotas de água que se misturam com o vinho, que será

sangue do Senhor.

Ao cair da tarde, ao fechar-se a pálpebra do dia novamente volta-se aos

salmos, oração predileta de Jesus, em que pulsa o coração amoroso da Igreja,

corpo místico de Cristo. São as vésperas ou as completas, horas de louvor e de

ação de graças a Deus, junto com Nossa Senhora, como rezava São Marcelino,

como rezavam e como rezam tantos irmãos nossos. Eis a crônica da adesão a

Jesus, sendo fiéis a ela seremos os verdadeiros filhos de nossas famílias e

verdadeiros sustentáculos de nossas comunidades pois o nosso amor radical a

Jesus Cristo santifica os nossos atos, enraíza solidamente nossos afetos

regulados no amor supremo a Jesus. A alegria cantará em nossos lábios e o

nosso coração exultará em perene louvor nesta terra para perlustrar as moradas

eternas! Como é belo, como vale a pena aderir à pessoa de Jesus Cristo!

Igaçaba, 11/2001, Roque Gonzales/RS, n° 54, Cultura.

186

Como é belo viver!

Os dias e os anos sucedem-se na cremalheira da existência

trazendo horas alegres, minutos e jornadas tristes. Tudo isso compõe a vida

do ser humano que vem da infinita bondade de Deus e se realiza no

profundo gesto de amor de um homem e de uma mulher. Quantas coisas

acontecem do berço ao túmulo!... O santo homem Jó, personagem

misterioso da Bíblia Sagrada, aparece sem antecedentes e desaparece da

história num virar a folha, diz muitas coisas sobre a vida: felizes, tristes

sempre profundas e verdadeiras. Todos contemplamos a vida, nem todos a

vivemos pois ela exige nossa adesão, nossa entrega à missão pela qual

Deus no-la colocou à nossa disposição.

Não somos donos de nossa vida, somos arrendatários. Conseguiremos

a verdadeira VIDA se soubermos administrar os dias e os anos no peregrinar

terrestre. Temos diante de nós quem soube dar um sentido profundo da

existência: Jesus Cristo. Ele conhece o que há no homem e o que vale a vida

do homem, sopro e sombra que passam para o salmista, para Ele valor imenso

pelo qual morreu e ressurgiu! O Mestre intitulou-se: Caminho, Verdade e Vida.

Por isso é que vale à pena viver, por isso é que uma vida tem valor imenso... A

canção expressa com entusiasmo: Vivere che la vita è bella, vivere sempre più

(viver que a vida é bela, viver sempre mais!).

Paulo Corrêa Lopes, poeta da vida e do amor traduziu num poema todo

o mistério da vida, todas as provações, belezas, contradições, prostrações e

vitórias. Poema sublime pela sonoridade e pela luminosidade de suas

mensagens: Largai as velas. Largai as velas que o mar é largo! Para o longe,

para o fim de tudo! Largai as velas / e vereis como é mais bela a vida / entre

relâmpagos e abismos! Largai as velas que o mar é largo / e embala os

corações que não tremem diante do mistério.

187

(Obra poética, p. 75) Com tudo isso, como é belo viver, com a Luz

divina a conduzir os passos e a alegria a iluminar o coração.

Correio do Povo, 16/11/2001, p.4, Opinião e Igaçaba, 12/2001, nº 55/A,

p. 4, Cultura.

O Tempo Voa...

Bela expressão popular, ouvida tantas vezes: Como o tempo voa... como

corre. Já dizia o velho Parmênides: PANTA REI, (tudo corre)... E nós corremos junto

com as cascatas, com as corredeiras que tudo levam, tudo arrastam para o abismo

da eternidade. A existência do ser humano se esfuma e se fenece como a erva do

campo que nasce de manhã e à tarde se estiola e seca. A fugacidade do tempo, da

existência que se esvai, mas a vida é o grande dom que Deus confiou e confia a cada

pessoa para que a administre com cuidado, para que seja rentável para o próprio

bem, para o bem dos outros e para a glória de Deus Pai. Santo Inácio de Loyola

entendeu bem isso colocando para si e para a Sociedade de Jesus, o lema: AD

MAJOREM DEI GLORIAM (que tudo seja para a maior Glória de Deus). Com este

mote a vida se transforma em hino de louvor a Deus e aos nossos semelhantes.

O instante fugidio que serviu para enxugar uma lágrima; para fazer sorrir

alguém; para dar alento aos desfalecidos, para soerguer os desvalidos e deprimidos,

esta fração de tempo tem valor incalculável pois serviu ao outro, foi instante redentor.

À beira do lago que é o ano 2002, contemplamos o horizonte de indefinições,

de incertezas, de surpresas agradáveis ou de sobressaltos. São os segundos, os

minutos que se escoam lentos ou rápidos, carregados de graça, pois foram remidos

pelo sangue do Redentor. Na clepsidra do tempo quanta alegria, quanta dor

superada, quanto amor que rompe as paredes egotistas para tornar-se serviço ao

outro, para transformar-se em pão que sacia a fome de amor.

188

O ano 2002, palíndromo que deixa-se ler em dois sentidos e que

esconde segredos ocultos desde os arcanos do princípio do mundo, que a

Palavra que é o Jesus Menino sabe desvelar, tirar-lhe os véus para que se

contemple a maravilha do ser humano que vive, que morre e ressuscita a

cada dia, a cada hora e a cada instante. Fugaz é o tempo, estática é a

eternidade, como um sopro é a vida do homem, o espírito salva e vivifica

todos os mortos na planície dos anos e nos alcantis das tragédias ou nos

vales misteriosos da vida.

Como é belo o tempo! Como é maravilhoso o ano 2002, que nos

oferece tantas oportunidades e modalidades de sermos bons, de sermos

melhores para o nosso bem, para o bem dos outros, celebrando a

glória de Deus!

O Estafeta, 09/01/2002, p. 2, Opinião e Igaçaba, 02/2002, p. 4, Cultura.

A arte da oração

O papa João Paulo II não se cansa de exortar todas as pessoas do

mundo para a oração. No dia 8 de setembro, na breve alocução mariana

salientou: “Está na oração o segredo para enfrentar as vicissitudes

dramáticas que causam desorientação e angústia”. A oração é a respiração

das almas e das verdadeiras relações dos filhos de Deus. Não há encontro

com o Papa que Ele não recorde a força maravilhosa da oração.

No domingo 6 de outubro acontece na Praça São Pedro, em Roma, a

canonização de JOSEMARÍA ESCRIVÁ, fundador do movimento do OPUS DEI.

O novo santo nasceu em 9 de janeiro de 1902 em Barbastro (Espanha). Aos 16

anos sentiu o chamado para a vida sacerdotal, sendo ordenado em 1925. Antes

de concluir a Teologia estudou Direito Civil, resultando anos depois o duplo

189

doutoramento. Desenvolveu seu apostolado em Saragoça no atendimento de

crianças, jovens e doentes abandonados, mudando-se depois para Madri. No

dia 2 de outubro de 1928, viu claramente o objetivo de sua vida: a fundação do

OPUS DEI, para difundir o Reino de Deus.

A partir de 1930 resolveu estender a OBRA entre as mulheres. Abria-se

assim na Igreja um caminho novo, destinado a promover, entre pessoas de

todas as classes sociais, a busca da santidade, e o exercício do apostolado

mediante a santificação do trabalho de cada dia, no meio do mundo e sem

mudar de estado de vida. Na Guerra Civil espanhola foi capelão militar

assistindo os jovens soldados (1936-38). Em 1943, no dia 14 de fevereiro

fundou unida ao OPUS DEI a Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz. A partir de

1946, Monsenhor Escrivá passou a residir em Roma. Dali estimulou e orientou a

difusão do OPUS DEI, por todo o mundo. Em 26 de junho de 1975 faleceu.

Mons. Escrivá foi consultor da Comissão Pontifícia para intervenção do Código

de Direito Canônico e da Sagrada Congregação de Seminários e

Universidades. Prelado de honra de sua Santidade e Acadêmico ad honorem da

Pontifícia Academia Romana de Teologia. Foi Grão-chanceler das

Universidades de Navarra (Espanha) e Piura (Peru). Havia, então mais de 60

mil pessoas empenhadas na OBRA, exercendo apostolado, assistindo pessoas

de todas as idades e condições, com a fidelidade na prática da arte de reza e

de ser apóstolo do Evangelho de Jesus Cristo.

Correio do Povo, 05/10/2002, p. 4, Opinião.

MATEUS — Evangelista da Felicidade

Dom Dadeus Grings preparou na entrada do 3° Milênio, o livro

MATEUS — o Evangelista da Felicidade que a EDIPUCRS publica sob a

190

chancela do n° 23 da Coleção Teologia. A obra MATEUS, o Evangelista da

Felicidade está calcada nos textos bíblicos do Evangelho propostos para o

tempo comum do ano A, que é o ano litúrgico de 2002. Serve de preparação

para a Liturgia destes 34 domingos e de reflexão para as homilias, levando a

um aprofundamento teológico-pastoral das propostas litúrgicas e para o

conhecimento pessoal da proposta de salvação feita pelo primeiro Evangelho.

O livro destina-se à reflexão mais aprofundada da mensagem cristã e

suas exigências de proporcionar a verdadeira felicidade aos homens. A obra de

Dom Dadeus extrapola os limites litúrgicos para integrar uma exposição

sistemática, baseada na riqueza da exposição doutrinária e espiritual

apresentada pelo Evangelho de Mateus.

A felicidade cristã situa-se entre dois grandes marcos: é anunciada pelas

“bem-aventuranças” do capítulo 5 e concretizada pelos benditos do Capítulo 25. Os

vinte capítulos intermediários apresentam as exigências e propostas divinas para a

busca da humanidade rumo à felicidade.

Mateus é o apóstolo que antes do chamado de Jesus Cristo era Levi, o

cobrador de impostos a serviço de Herodes e de Roma. À voz de Cristo: Vem e

segue-me! O publicano se transforma em discípulo. Sempre fiel ao Mestre,

profundo conhecedor dos textos bíblicos explicados pelos rabinos nas sinagogas. O

programa de Mateus foi de mostrar aos hebreus que Jesus Cristo era o Messias

segundo os textos sagrados. Entre os primitivos cristãos os textos de Mateus

formaram o primeiro Evangelho, escrito em aramaico logo traduzido para o grego.

Mais tarde São Jerônimo passou todos os textos bíblicos para a VULGATA.

Dom Dadeus Grings, doutor em Teologia, é exímio escritor de livros

espirituais, exegéticos, adaptados às exigências de nossos dias. A presente

obra é uma tentativa de explicitar e sintetizar a grande caminhada cristã,

centrada na fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, feito homem: Síntese de

teologia e espiritualidade bíblica, litúrgica e pastoral.

191

É o livro que se oferece ao leitor para seu crescimento na Fé e para a

abertura do horizonte da verdadeira FELICIDADE, fruto do AMOR.

Versão Semanal, 23 a 29/05/2002, Porto Alegre, p. 6, Opinião.

Como são belos os pés...

Isaias o grande profeta era um exímio poeta, sabia usar a metonímia, a

metáfora e outras figuras. Como são belos os pés dos que caminham sobre os

montes e anunciam a paz aos povos. Todos ouvem com amor e esperança os

anunciadores da paz. O mundo de hoje aspira pela paz, como Carlos

Drummond de Andrade nos famosos versos: “Quero a paz das estepes/ a paz

dos descampados/ a paz do pico de Itabira quando hatia pico de Itabira/ a paz

acima das Agulhas Negras/ a paz de muito abaixo da mina, mais funda e

esboroada de Morro Velho/a paz/da paz”. Ouve-se o clamor dos corações

angustiados, todos aspirando pela paz. O mundo, os homens de boa vontade

contemplando o Rei da Paz, naquele descampado de Belém... Os anjos

cantando a melodia da Paz, e as pessoas que amam a Deus, alcançam a paz.

Ao mesmo tempo neste início de 2003 ouvem-se os rumores de preparativos

bélicos. Porta-aviões transportam homens e artefatos para a morte. Os Reis

magos foram do portal do sol às planícies da Judéia para levar seus presentes

ao Menino Deus recém-nascido.

Hoje observam-se movimentos inversos do Ocidente para o Oriente,

ações preparatórias para a guerra. A humanidade vê, contempla estupefata

toda o maquinário de destruição e de morte. E todos se perguntam: para que

tanto conspiração para a morte quando todos querem viver, querem a paz?!

192

Será que o grito de tantas criaturas inocentes ficará surdo perante os céus,

perante os ouvidos dos que querem a paz?

Boquiabertos homens livres convivem e exaltam a pessoa do tirano que

mantém nas masmorras um povo que suspira pela paz e pela liberdade... Tantas

contradições e tanto horror perante o céu da América perante o céu do universo!

Por que o homem louva os pés do mensageiro da paz e ao mesmo

tempo glorifica os átilas que procuram guerra, sob cujos passos não volta a

crescer a promessa de vida? Como associar na humanidade os mensageiros da

paz e os artífices da guerra, da tirania despótica? Os monarcas santos, os reis

magos, celebrados pelos cantadores de nosso folclore açoriano semeiam a paz,

a alegria de viver, porque acreditam na força suave, pacífica e divina daquela

criança que governa o mundo com a bondade do sorriso inocente, luzente de

Amor e de Paz!

Correio do Povo, 10/01/2003, p. 4, Opinião.

O Velho se faz Novo!

Vai 2002, trôpego, cansado, em seu caminhar inexorável de

Ashaverus...A meia-noite os relógios pararam, o velho cansado deixou cair

aquele saco escuro e pesado de 365 dias, todos vividos, sofridos, gozados,

ridículos de esperanças esfarrapadas... Por que tantas horas vividas, na

contradição, na contramão da Esperança e do Amor? Por que tanta mentira na

face da terra, na sociedade dos homens? É verdade que o salmista coloca em

dois versículos a tremenda e hilariante realidade:

Todo o homem é mentiroso... / Todo homem!...

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O poeta do salmo falou no masculino para atingir o feminino também.

Não se sabe quem mente mais. Infelizmente ou felizmente é uma prerrogativa

do gênero humano. Agora é preciso ver que o salmista também era HOMEM...

Mas no dia de Natal veio o Filho do homem, o Senhor da História. Aquele

que é a VERDADE, o CAMINHO e a VIDA. Ele nos indica a cada dia o CAMINHO

para andar na LUZ e não nas trevas.

Pois Ele disse: “Eu sou a LUZ do Mundo”. Porque os seus não o

conheceram, o mundo anda nas trevas, imersos em convulsões, em ameaças de

guerras e destruições. Por que tanto ódio no pequeno coração das pessoas? Por

que tantos projetos de terrorismo contra pessoas, contra grupos sociais, contra

cidades, contra nações e povos?

2003 vem mostrando seu rosto, risonho, hilariante, carrancudo,

ameaçador, carregado de ameaças, iracundo, inventando iraques de terror! As

alegrias de Natal persistem em sua força e em sua beleza para que o horizonte

rosicler possa anunciar a PAZ e a Beleza do viver das pessoas e dos povos!

Que Deus-Menino em seu sorriso pacífico e conquistador saiba nos dar

pela Virgem Mãe, horas de paz, de alegria e felicidade a todos os corações

abertos que amam o Senhor e sabem perdoar, para viver um ano feliz na

civilização do AMOR.

A platéia. 19/01/2003, Santana do Livramento, p. 6, Opinião, Jornal O

Mundo das Letras. 03/2003 Pelotas/RS, p. 6 e Jornal Braças Literárias, 04/ 2003,

Dom Pedrito/RS, p. 12.

Os 100 anos de Dom Vicente

No próximo dia 5 de fevereiro, Bom Princípio/RS e o Rio Grande do Sul

estarão em festa celebrando os 100 anos de nascimento de Dom Vicente

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Scherer, arcebispo e cardeal. A comissão central da celebrações presidida

por Mons. Antonio D. Lorenzatto já estabeleceu vasto calendário, a começar

pela Paróquia e pelo Município de Bom Princípio. Estão previstos os atos, no

dia 5 de fevereiro: Missa solene, oficiada pelo arcebispo Dom Dadeus

Grings; recepção festiva no Parque Municipal; inauguração do monumento;

abertura do Memorial Dom Vicente; almoço festivo, passeio de trenzinho

pela cidade, visita aos locais marcados pela vida do Cardeal Centenário. O

prefeito municipal, Jacob Nestor Seibel e o pároco P. Leonardo Reichert se

desvelam na preparação da abertura solene do centenário de Dom Vicente,

nascido no distrito de Santa Teresinha no dia 5 de fevereiro de 1903, 12°

filho da família de Pedro Scherer e de Ana Oppermann Scherer. Desde

adolescente resolveu seguir a vocação sacerdotal como outros dois irmãos.

Concluiu os estudos eclesiásticos em Roma, sendo ordenado em 1926.

Voltou para Porto Alegre, foi secretário particular do arcebispo Dom João

Becker (bispo de Porto Alegre 1912 a 1946). Em 1930 seguiu como capelão

militar os soldados gaúchos na Revolução de 1930. De retorno recebeu o

título de cônego. Em 1947 foi sagrado arcebispo de Porto Alegre, cargo que

exerceu até 1981. Por seus méritos apostólicos recebeu o titulo de Cardeal

pelo Papa Paulo VI. Participou dos conclaves que elegeram João Paulo I e

João Paulo II. Celebrar a vida apostólica do Cardeal Vicente Scherer

significa programar durante todo ano de 2003 solenidades nos diversos

setores beneficiados especialmente por ele. A Universidade Católica de que

foi professor titular e chanceler. A Santa Casa que o teve como provedor e

salvador a partir de 1981 até 1996. A voz do Pastor, suas falas das

segundas-feiras; o clero, o seminário de Viamão a paróquia da Catedral.

Haverá homenagens especiais na PUCRS, pequena biografia, conferências;

na Câmara Municipal, na Assembléia Legislativa, na Catedral. Durante todo

o ano centenário das dioceses, das paróquias, das famílias católicas do Rio

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Grande do Sul subirá um solene canto de ação de graças a Deus, pela vida

e pela obra imensa do Cardeal Vicente Scherer.

Jornal do Comércio, 27/01/2003, Porto Alegre, p. 4, Opinião.

Meus mestres, meus alunos

De passagem por Erechim tive a oportunidade de um gostoso diálogo

com os professores do colégio DOM. Foi na semana pedagógica daquela escola.

Levei o tema despretensioso: recordações de tempos idos e vividos. Recapitulei

meus dias de aluno, no Instituto Santo Antonio, de Garibaldi. Irmão Romualdo,

mestre de primeira viagem. Sessenta meninos no 1º Curso... A cartilha.

Ao voltar para casa, às 8h da noite, à luz do lampeão, meu pai que não

falava português, lia as páginas que eu repetia, não sei como. Depois veio o

Curso de admissão ao ginásio, em Bom Princípio, o Irmão Miguel Dario

preparava a redação, com esquema e os pontos principais. Mais adiante, o

Irmão Vendelino nos introduziu na dissertação dos textos argumentativos. Tive

mestres exigentes que amavam os alunos e queriam nosso progresso nos

estudos. Na Faculdade de Letras, no 1° ano tive os mestres Guilhermino César

em Língua Portuguesa; Elpídio Ferreira Paes, no Latim; Francisco Juruena nas

Literaturas Brasileira e Portuguesa. Deles recebi o exemplo de perseverança e

de entusiasmo pela investigação.

Não explicavam tudo, davam o início, indicavam o caminho. Essa

iniciação me acompanhou a vida inteira; Procurei transmitir a meus alunos o

entusiasmo pelo estudo e pela pesquisa em Língua Portuguesa. Lá em Rio

Grande, no Colégio São Francisco, os alunos escreviam belas descrições,

comoventes narrativas, sizudas dissertações. Faziam o que o Prof. Guilhermino

me ensinara: escrever ao correr da pena, preocupado com o relato, sem pensar

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na ortografia ou na correção dos textos. A partir de 1950 com pequenas

adaptações, os alunos dos Cursos de Letras escreviam textos bem

interessantes, discutiam elementos de estética literária; empreendiam as

aventuras da crítica. Em 1957 era introduzida a Estilística em Porto Alegre, em

nossas aulas. Depois vieram outros métodos, sempre, porém, a leitura séria,

amorosa e fecunda foi e é a base da crítica literária. Durante 50 anos tive

alunos e alunas maravilhosos. No percurso de meio século tive adolescentes,

jovens e adultos, todos alunos amados por mim. Sabia compreendê-los,

escutar-lhes as queixas, os temores e as limitações. Para o mestre o exemplo

de Jesus Nazaré é sempre novo, duradouro e iluminador. Marcelino

Champagnat, na França, Dom Bosco, na Itália no século XIX, foram os grandes

mestres, ambos tiveram como lema: “Para educar os alunos é preciso amá-los”.

Correio do Povo, 11/03/2003, p. 4, Opinião e A platéia. 06/03/2003,

Santana do Livramento, p. 6, Opinião.

Paz para o século XXI

João Paulo II recepcionou, na manhã de 14 de abril, milhares de jovens

de vários países que realizaram o encontro internacional em Roma. O lema do

encontro: “Construir a paz no século XXI”. O papa acolheu aquela juventude

com carinho e solicitude. Ao mesmo tempo em que o mundo tremia sob as

bombas e os mísseis no Iraque e alhures, a juventude reunida com o Papa,

rezando pela paz, procurando maneiras de construir a paz.

A primeira e fundamental ação em favor da paz é a oração, pois a paz é

dom do amor de Deus. O papa recordou o 400 aniversário da Carta de João

XXIII, PACEM IN TERRIS. O documento protagoniza os quatro pilares em que

se deve apoiar a paz a verdade, a justiça, o amor e a liberdade. Para construir a

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paz é preciso, acima de tudo viver na verdade. O apelo do papa: “Vós, jovens

tendes a coragem de fazer perguntas sinceras sobre o sentido da vida; formai

límpida retidão de pensamento e ação de respeito e diálogo com os outros.

Tende em primeiro lugar aquela relação para com Deus que pede conversão

pessoal e abertura ao seu mistério”. Em vão se procura a paz no mundo sem

pôr no coração o amor de Deus. A paz de Cristo é a do seu Reino, e o Reino de

Nosso Senhor funda-se no desejo de santidade, na humilde disponibilidade

para receber a graça, numa vigorosa obra de justiça, numa divina efusão de amor

(Escrivá). A verdade junta-se à justiça com o respeito pela dignidade de cada

pessoa. Sem amor sincero a própria justiça não assegura a paz. A verdadeira paz

floresce quando no coração se vence o ódio, o rancor e a inveja e quando se diz

não ao egoísmo.

Continua o Papa: “Se o amor sinal distintivo dos discípulos de Cristo, se

traduz em gestos de serviço gratuito e desinteressado, em palavras de

compreensão e de perdão, a onda pacificadora do amor alarga-se e estende-se

até interessar toda a comunidade humana. É, então, mais fácil compreender

também o quarto pilar da paz, a liberdade, o reconhecimento dos direitos das

pessoas e dos povos e o livre dom de si no cumprimento responsável dos

deveres que competem a cada um no próprio estado de vida”. De fato a paz

começa em cada pessoa, em cada família, em cada grupo social, em cada

comunidade civil ou citadina para estender-se à região, ao país. Na base de

tudo está a Paz de Cristo que deve estar em cada coração sustentada nos

quatro pilares: verdade, justiça, amor e liberdade.

Correio do Povo, 23/06/2003, p. 4, Opinião.1

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