qualidade do sêmen fresco e criopreservado de touros
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LUIS EDUARDO SENRA E SILVA
Qualidade do sêmen fresco e criopreservado de touros Pantaneiros: efeito da época
do ano e antioxidantes
Cuiabá
2014
LUIS EDUARDO SENRA E SILVA
Qualidade do sêmen fresco e criopreservado de touros Pantaneiros: efeito da época
do ano e antioxidantes
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de Mestre em Ciência Animal.
Área de Concentração: Manejo Reprodutivo Orientadora: Profª. Drª. Luciana Keiko Hatamoto Zervoudakis Co-orientador: Joanis Tilemahos Zervoudakis Co-orientador: Alexandre Floriani Ramos
Cuiabá
2014
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aluno: Luis Eduardo Senra e Silva
Título: QUALIDADE DO SÊMEN FRESCO E CRIOPRESERVADO DE TOUROS
PANTANEIROS: EFEITO DA ÉPOCA DO ANO E ANTIOXIDANTES
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso para obtenção do título de Mestre em Ciência Animal.
Aprovado em: 02/04/2014
Banca Examinadora:
Profa. Dra.: Luciana Keiko Hatamoto Zervoudakis
Instituição: PGCA/UFMT Assinatura:__________________________________
Prof. Dr.: Joanis Tilemahos Zeuvoudakis
Instituição: PGCA/UFMT Assinatura:__________________________________
Dr.: Alexandre Floriani Ramos
Instituição: EMBRAPA/CENARGEN Assinatura:___________________________
Dedicatória
À Deus
Aos meus pais Carlos Eduardo in memoriam e Jane
Ao meu irmão Luis Fernando
Aos meus amigos
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à Deus pela vida, saúde e paz.
À minha mãe Jane Ferreira Senra e Silva, pela educação, carinho, esforço para que
meu sonho se tornasse possível. Ao meu pai Carlos Eduardo da Silva, por ter me
ensinado que a graça da vida é ter sonhos, realiza-los e comemorar com um bom
samba e a presença dos amigos e que mesmo não estando mais aqui entre nós, sei
que está lá cima muito feliz por esta conquista. Ao meu irmão Luis Fernando Senra e
Silva, pelo companheirismo, amizade e por compartilhar os momentos bons e ruins.
Aos meus avós pelo carinho, sabedoria e dedicação.
Aos professores, Luciana Keiko Hatamoto Zervoudakis e Joanis Tilemahos
Zervoudakis, pelo conhecimento e por me fazerem entender que apenas os bons
chegarão a grandes lugares e farão a diferença no mundo em que vivem.
Ao professor Dr. Alexandre Floriani Ramos por aceitar participar da minha banca e
por trazer suas contribuições e ao professor Richard por ceder gentilmente o
microscópio de contraste de fase do laboratório de Biologia Molecular.
Aos amigos do NERP e ao professor Daniel de Paula Sousa, por me ensinarem ao
não ficar parado no tempo e que para chegar à lugares onde ninguém ainda chegou
é preciso fazer algo que ninguém ainda fez.
Ao grupo de samba, pescaria, churrasco e futebol Canarinhos: Japa, Renato, Samu
(Gordines), Breno (Mussum), Bieh, Murilo, Prof. Edivaldo (Major), Cara de Gato,
Endy, Gutão e as respectivas canarinhas.
Aos companheiros de sala Adriano (Shrek), Wagner (Cinquentinha) e Gessy pelas
risadas, aprendizados, aflições, enfim, pelos momentos juntos.
À equipe do Labra: Moacir, Pedro, Larissa, Fabiana, Ana, Rodrigo, Thiago, Ceará,
Lívia, Zepinha e Juliana pela ajuda durante a execução do experimento e por serem
mais que companheiros de pós-graduação ou estagiários e se tornarem verdadeiros
amigos.
Ao Thomas Horton e sua família por ceder a fazenda e os animais, bem como, todo
o apoio para realização do experimento.
Ao CNPq pela bolsa de estudos e ao Programa de Pós Graduação em Ciência
Animal pela estrutura oferecida.
Sumário
Lista de Tabelas .................................................................................................................................. 5
Lista de Figuras .................................................................................................................................. 6
Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos .................................................................................... 7
Resumo .................................................................................................................................................. 9
Abstract ................................................................................................................................................ 11
1. Introdução .................................................................................................................................. 13
2. Hipótese ...................................................................................................................................... 14
3. Revisão Bibliográfica .............................................................................................................. 14
3.1. Bovino Pantaneiro............................................................................................................ 14
3.2. Estresse térmico e fertilidade de machos ................................................................. 17
3.3. Criopreservação de sêmen ............................................................................................ 19
3.4. Estresse oxidativo............................................................................................................ 20
3.5. Estresse oxidativo e infertilidade em reprodutores bovinos ............................... 22
3.6. Espécies reativas de oxigênio ...................................................................................... 22
3.6.1. Ânion superóxido (O2) ............................................................................................. 23
3.6.2. Peróxido de Hidrogênio (H2O2) ............................................................................. 24
3.6.3. Radical Hidroxila (OH-) ............................................................................................ 24
3.7. Mecanismo antioxidante ................................................................................................ 25
3.7.1. Trolox (6-hydroxy-2,5,7,8-tetramethylchroman-2-carboxylic acid) ............. 25
3.7.2. Ácido ascórbico ........................................................................................................ 26
3.8. Vitaminas x Ruminantes ................................................................................................. 26
4. Considerações Finais.............................................................................................................. 28
5. Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 29
5
Lista de Tabelas
Tabela 1. Caracterização fenotípica dos bovinos Pantaneiros..................... 16
Tabela 2. Médias e valores de P de variáveis analisadas em função da
raça (Nelore x Pantaneiro), estação (verão x inverno) e a
interação entre eles....................................................................... 47
Tabela 3. Médias, desvio padrão dos valores de motilidade (MOT), vigor
(VIG), viabilidade (VIAB) e integridade de membrana
acrossomal (IMA) e valor de P para raça (Nelore x Pantaneiro)
estação (verão x inverno) e a interação entre eles....................... 47
Tabela 4. Atividade citoquímica mitocondrial de touros Pantaneiro e
Nelore em diferentes estações do ano.......................................... 48
Tabela 5. Média e desvio padrão de variáveis relacionadas à função
espermática de acordo com a suplementação do meio diluidor... 58
Tabela 6. Atividade citoquímica mitocondrial de acordo com a adição ou
não de vitamina C, Trolox ou a interação entre eles..................... 61
6
Lista de Figuras
Figura 1. Formação de espécies reativas de oxigênio (EROs).................... 23
Figura 2.
Efeito da raça e estação do ano sobre a porcentagem de
defeitos menores, maiores e totais (topo da coluna) do sêmen
fresco de touros Pantaneiro e Nelore............................................ 46
Figura 3.
Porcentagem de células com membrana íntegra e viáveis de
acordo com os antioxidantes no meio diluidor.............................. 60
7
Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos
ASBIA Associação Brasileira de Inseminação Artificial
ATP Adenosina Trifosfato
C Celcius
CBRA Colégio Brasileiro de Reprodução Animal
cm Centímetro
cv Cultivar
DAB Diaminobenzidina
DNA Ácido Desoxirribonucleico
EROs Espécies Reativas de Oxigênio
Fe2+ Ferro Bivalente
Fe3+ Ferro Trivalente
g grama
H2O2 Peróxido de Hidrogênio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
IMEA Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária Aplicada
Kg Quilograma
LOO- Radical Peroxil
m Metros
M Molar
MDA Malondialdeído
mg Miligrama
min Minuto
mL Mililitros
mm Milímetro
mM Milimolar
MS Mato Grosso do Sul
n Número
NaOH Hidróxido de Sódio
nm Nanômetro
NADPH Nicotinamida Adenina Dinucleótido Fosfato
O2 Oxigênio
O2- Ânion Superóxido
8
OH- Radical Hidroxila
p Página
P Probabilidade
PBS Solução Salina Fosfatada Tamponada
SAS Statistical Analysis System
TBA Ácido Tiobarbitúrico
TBARS Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico
TCA Ácido Tricloroacético
UI Unidade Internacional
v Volume
vs Versus
µg Micrograma
μL Microlitros
% Porcentagem
± Mais ou menos
α Alfa
º Graus
9
Resumo
O estresse térmico normalmente leva a degeneração testicular em reprodutores
bovinos e entre eles os Bos taurus são menos resistentes às alterações. Embora
sejam de origem europeia os animais da raça Pantaneiro estão adaptados à
região do Pantanal, e desse modo não se sabe qual a sua suscetibilidade as
altas temperaturas e a influência em relação à qualidade seminal. No que diz
respeito à criopreservação de sêmen, sabe-se que uma das principais causas da
redução da sua qualidade é o estresse oxidativo, embora muitas pesquisas
tenham sido feitas no sentido de fornecer agentes antioxidantes aos animais e
diminuir a peroxidação dos lipídios causadas pelos radicais livres, resultados
contraditórios tem sido encontrados e poucos pesquisadores têm levado em
conta o estado fisiológico dos animais. Neste contexto, nosso objetivo foi avaliar
a sazonalidade sobre a qualidade espermática de touros Pantaneiros, bem como,
identificar o efeito da adição de antioxidantes ao diluidor seminal em épocas de
características climáticas distintas. No experimento 1 foram utilizados 7
reprodutores Pantaneiros e 3 Nelore, a coleta de sêmen foi feita em Janeiro e
Julho de 2013 e foram avaliados, circunferência e consistência testicular,
motilidade, vigor, viabilidade, concentração, integridade de membrana
acrossomal, morfologia espermática, atividade citoquímica mitocondrial e a
quantidade de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico. O experimento foi
conduzido em delineamento inteiramente casualizado, e arranjo fatorial 2x2 (2
raças e 2 estações do ano). A integridade da membrana plasmática foi menor na
estação de inverno (95,76 ± 1,77% vs. 87,07 ± 4,78% P=0,03), os animais da
raça Nelore tiveram maior quantidade de defeito menor no verão (2,16 ± 1,09%
vs. 0,57 ± 0,31%; P=0,02), maior porcentagem de defeito maior (61,91 ± 5,92%
vs. 26 ± 3,83% P=0,01) e defeitos totais (62,58 ± 5,63% vs. 27,33 ± 3,91%
P=0,03) no inverno. O do sêmen congelado não sofreu influencia da raça,
estação do ano ou interação entre eles. Os resultados encontrados podem ser
explicados pela adaptação dos animais Pantaneiros ao Pantanal deste modo,
nesta região, reprodutores Pantaneiros são mais indicados, uma vez que sua
qualidade seminal não é afetada negativamente pela estação do ano. No
experimento 2 foram utilizados os mesmo animais, porém no momento da
diluição do sêmen foi adicionado 10 mM de Trolox/20x106 espermatozoides; ou
2,25 mg de ácido ascórbico/20x106 de espermatozoides; ou ainda a combinação
10
entre eles. Após a descongelação foi realizada a análise de motilidade, vigor,
viabilidade espermática, integridade de membrana acrossomal, atividade
citoquímica mitocondrial e peroxidação lipídica espontânea. O experimento foi
conduzido em delineamento inteiramente casualizado, e arranjo fatorial 2x2x4 (2
raças e 2 estações do ano e 4 tratamentos antioxidantes). Nenhuma das
variáveis apresentou diferença significativa. A motilidade, vigor, integridade
acrossomal e atividade mitocondrial foram reduzidas com a adição de
antioxidantes (P<0,05) em especial a interação entre vitamina C e Trolox. Ainda,
a adição de antioxidantes não mudou o nível de lipoperoxidação (P.0,05). Os
resultados podem ser explicados pela diminuição dos níveis de espécies reativas
de oxigênio causada pelos antioxidantes e uma possível inibição da sinalização
para eventos como movimento do espermatozoide e atividade das mitocôndrias,
dessa forma, pode-se inferir que os animais utilizados não apresentavam
deficiência de vitaminas e a sua demanda, especialmente de vitamina E, foi
atendida pela alimentação.
Palavras-chave: antioxidantes, estresse oxidativo, sazonalidade
11
Abstract
Heat stress usually leads to testicular degeneration in cattle breeding and Bos
taurus are less resistant to alterations. Although the Pantaneiro breed is
European origin the animals are adapted to Pantanal region, and thus it is unclear
what their susceptibility to high temperatures and influence in relation to semen
quality. Regarding the cryopreservation of semen , it is known that a major cause
of the reduction in quality is oxidative stress, although many investigations have
been made to provide antioxidants agents to animals and decrease the lipid
peroxidation caused by radical free, contradictory results have been found and
many researchers have taken into account the physiological status of the animals.
In this context, our objective was to evaluate the seasonality on sperm quality
Pantaneiro bulls, as well as identify the effect of adding antioxidants to semen
extender in times of different climatic conditions. In experiment 1, 7 Pantaneiro
breeding and 3 Nellore were used, semen collection was taken in January and
July 2013 were evaluated, circumference and testicular consistency, motility,
vigor, viability, concentration, acrosomal membrane integrity, sperm morphology,
activity mitochondrial cytochemistry and the amount of thiobarbituric acid reactive
substances. The experiment was conducted in a completely randomized design
and a 2x2 factorial arrangement (2 breeds and 2 seasons). The membrane
integrity was lower in the winter season (95.76% ± 1.77 vs. 87.07% ± 4.78,
P = 0.03 ), the Nelore breed had higher amount of minor defect in summer (2.16%
± 1.09 vs. 0.57% ± 0.31; P= 0.02 ), higher percentage of larger defect (61.91% ±
5.92 vs. 26% ± 3.83 P= 0.01) and total defects (62.58% ± 5.63 vs. 27.33% ± 3.91
P= 0.03) in winter. The frozen semen was not affected by breed, season or
interaction between them. These results can be explained by the adaptation of
animals Pantaneiro to the Pantanal region, breeding Pantaneiro are more
suitable, since his seminal quality is not adversely affected by the season. In
experiment 2, the same animals were used, but at the time of dilution of semen
was added 10 mM Trolox/20x106 sperm, or 2.25 mg of ascorbic acid/20x106
sperm, or even a combination of them. After thawing the analysis of motility,
viability, sperm viability, acrosomal membrane integrity, mitochondrial activity
cytochemical and spontaneous lipid peroxidation was performed. The experiment
was conducted in a completely randomized design, and 2x2x4 factorial
arrangement (2 breeds and 2 seasons and 4 antioxidants treatments). The
12
motility, viability, acrosome integrity and mitochondrial activity were reduced with
the addition of antioxidants (P<0,05) in particular the interaction between vitamin
C and Trolox. Although the addition of antioxidants did not change the level of
lipoperoxidation. The results can be explained by decreased levels of reactive
oxygen species caused by antioxidants and a possible inhibition of signaling
events such as sperm movement and activity of mitochondria, thus we can infer
that the animals had not used vitamin deficiency and their demand, especially
vitamin E, was met by supply.
Key words: antioxidant, oxidative stress, seasonality
13
1. Introdução
O Brasil possui o segundo maior rebanho bovino do mundo com cerca de 209
milhões de cabeças, das quais 80% são zebuínos (Bos indicus), que por sua vez
têm 90% desta fatia representada pela raça Nelore (IBGE, 2012). Dentre os estados
brasileiros, o que mais contribui para este efetivo é Mato Grosso, que em 2013
abateu 6,04 milhões de cabeças, 9,33% a mais que o ano anterior, sendo que neste
estado os animais de origem indiana também são maioria (IMEA, 2014).
Contudo, a raça Nelore nem sempre foi responsável pela maior parte de animais
no estado, até 1930 os bovinos hoje conhecidos como da raça Pantaneiro e outrora
chamados de Tucura, Jofreano ou Cuiabano, eram maioria principalmente na região
do Pantanal, onde se adaptaram bem, mesmo com as condições adversas
(Primo, 1992).
Sendo assim, levando em consideração a região do Pantanal, onde o emprego de
tecnologia como pastagens cultivadas é limitado e a exploração pecuária restringe-
se basicamente a fase de cria, o bovino Pantaneiro se consolidou no fornecimento
de bezerros para outras regiões de Mato Grosso e do Brasil que tinham maiores
condições de realizar a recria e engorda (Abreu et al., 2000).
Entretanto, esse sistema era, e em muitos casos ainda é, praticado de maneira
extensiva, apresentando taxa de natalidade, desmame e mortalidade de bezerros ao
redor de 58, 42 e 15% respectivamente, idade à primeira cria média de
47,78 meses, sem uso de estação de monta ou conhecimento da fertilidade dos
reprodutores (Abreu et al., 2000; 2008), e este é um dos gargalos da produção de
bezerros principalmente em condições tropicais e sistemas de produção extensivos
(Kumi-Diaka et al., 1981).
Além disso, já foi demonstrado, que touros europeus (Bos taurus) submetidos às
condições tropicais apresentam fertilidade reduzida em comparação aos animais de
origem indiana (Nichi et al., 2006). Porém, ainda não se sabe qual a influência da
sazonalidade no potencial fértil de reprodutores da raça Pantaneiro.
Além dos touros de campo, o mercado também recebe animais oriundos de
biotecnologias como a inseminação artificial, transferência de embrião e produção
in vitro de embriões que devido a sua considerável difusão nos últimos anos,
aumentou largamente a demanda por sêmen congelado (Asbia, 2012).
14
No ano de 2012, entre nacionais e importadas, foram comercializadas no Brasil
pouco mais que 12 milhões de doses de sêmen, o que representa um crescimento
de aproximadamente 27% em relação à 2010 (Asbia, 2012).
Contudo, os processos de resfriamento e criopreservação propriamente ditos têm
se mostrado deletérios à qualidade seminal, que após estes processos perde em
torno de 50% dos parâmetros relacionados à sua fertilidade (Watson, 2000). Isto se
dá, entre outros fatores, devido a injúrias por oxidação e lesão das biomembranas e
DNA do espermatozoide (Chatterjee e Gagnon, 2001).
Neste sentido, a adição de antioxidantes ao meio de congelação já foi
demonstrada como uma forma de diminuir os danos causados à célula espermática
em gatos (Thuwanut et al., 2008), cães (Michael et al., 2008), bovinos
(Hu et al., 2010), equinos (Silva, et al., 2009) e ovinos (Maia et al., 2009).
Ainda em relação a criopreservação, ela é uma ferramenta extremamente
interessante para formação do Banco de Germoplasma da raça Pantaneiro, visto
que o número de exemplares encontra-se reduzido e a raça é ameaçada pelo
processo de absorção por outros grupos genéticos (Mariante et al., 2011).
Contudo, pouco ainda se sabe sobre a fertilidade dos Pantaneiros, protocolos de
congelação específicos para raça, e visto que têm origem europeia (Bos taurus) se
apesar de ser uma raça adaptada as condições edafo-climáticas da região eles
sofrem alteração na fertilidade seminal em função da época do ano. Desta forma,
objetivou-se estudar o efeito da sazonalidade, bem como a adição de antioxidantes
sobre a qualidade seminal de touros Pantaneiros criados na mesma condição.
2. Hipótese
As hipóteses testadas foram de que a qualidade seminal de touros Pantaneiros
sofre decréscimo no verão e que a adição de antioxidantes previne o aparecimento
dessas alterações e diminui os prejuízos causados ao sêmen fresco e
criopreservado.
3. Revisão Bibliográfica
3.1. Bovino Pantaneiro
A importância do gado bovino para o Brasil se da praticamente desde a sua
descoberta e povoamento pelos povos portugueses e espanhóis
(Marques Júnior et al., 2012). Os primeiros bovinos aqui chegados datam de 1530 a
15
1554 e tratavam principalmente de raças advindas da Península Ibérica
(Sereno, 2002b).
Aos poucos os animais trazidos da Espanha e Portugal foram sofrendo
adaptações e deram origem às raças naturalizadas ou crioulas, sendo o Caracu,
Crioulo Lageano, Curraleiro, Mocho Nacional e Pantaneiro as principais
(Serrano et al., 2004).
Dessa maneira, os animais se espalharam pelas capitanias e contribuíram para a
expansão do território nacional. Até o início do século XX o gado encontrado no
Brasil era predominantemente ibérico (Assis, 2007), e à medida que escravos
africanos foram sendo trazidos, houve também uma introdução dos zebuínos
(Santos, 1993).
O estado de Goiás foi a principal passagem do atual bovino Pantaneiro para
chegar em Mato Grosso (Primo, 1992). Estes animais passaram por quase três
séculos de adaptação à região pantaneira e hoje a raça se destaca principalmente
por estar totalmente adaptada a condições adversas como altas temperaturas,
regiões alagadas, baixa qualidade da forragem nativa, endo e ectoparasitas que
afetam o desempenho produtivo e reprodutivo (Juliano et al., 2011).
Ao longo desse período, o gado Pantaneiro passou a representar muito mais que
importância econômica, mas também se tornou responsável por compor a
identidade cultural dos moradores e pecuaristas da região (Mazza et al., 1992).
Contudo nas últimas décadas houve uma forte introdução, principalmente da raça
Nelore, na região do Pantanal, uma vez que os bezerros do cruzamento entre
Pantaneiro e Nelore agradou os pecuaristas locais e o mérito deste produto foi
somente atribuído aos zebuínos (Santos et al, 2005), desta forma, embora haja
alguns núcleos de conservação in situ, esta raça corre risco iminente de
desaparecer (Abreu et al., 2007).
Na região Pantaneira, estima-se que existam 3 milhões de bovino, sendo que
deste total 95% é representado por zebuínos, em especial a raça Nelore e apenas
10 mil animais da raça Pantaneiro, aproximadamente, deste modo a raça é
considerada vulnerável (Sereno, 2002a).
Nesse sentido, existem ainda poucos rebanhos de gado Pantaneiro e estima-se
que 90% destes estejam no Pantanal de Mato Grosso, onde o processo de absorção
por outras raças foi minimizado em virtude da identificação dos criadores com a raça
(Mazza et al., 1992).
16
Na tentativa de conservar os exemplares ainda existentes e desta forma preservar
o recurso genético da raça, em 1984 foi criado o primeiro Núcleo de Conservação “in
situ” do bovino Pantaneiro, localizado na fazenda Nhumirim, propriedade da
Embrapa, sub-região da Nhecolândia, Corumbá-MS, que em um primeiro momento
fez estudos no sentido caracterizar a raça sob o ponto de vista genético e zootécnico
(Tabela 1) e neste momento toma medidas para aumentar o efetivo e melhorar
geneticamente o rebanho (Mariante et al., 2011).
Tabela 1. Caracterização fenotípica dos bovinos Pantaneiros
Características Descrição
Cabeça
Nas fêmeas é leve e pequena; tem coloração
amarelada a avermelhada. Nos macho, são pesadas
e pequenas, frequentemente pretas com tufos de pelo
na marrafa.
Perfil Predominância do subconvexo (79%), com alguns
casos de retilíneo.
Focinho Cor negra, com alta frequência (73%) de anel branco
ao seu redor.
Olhos Em alguns animais (44%), são escuros, com presença
de anel claro em seu entorno.
Orelhas Pequenas, arredondadas, com saída horizontal;
presença de pelos claros na parte interna.
Chifre
Marrom-esverdeado na base, claro no meio e negro
na ponta; forma arredondada, saindo lateralmente
para cima e para frente.
Corpo Pequeno a médio, com linha dorso-lombar geralmente
reta.
Pelagem
Predominância da cor amarelo-avermelhada (79%),
com presença de tonalidade mais escura nas
extremidades, principalmente nos machos; pelos
brancos na porção ventral. O pêlo é curto e sedoso.
Cauda Fina, com inserção alta.
Temperamento Dócil e calmo, com manejo constante, tornando-se
bravio quando mantido isolado.
17
Fonte: Mazza et al. (1992).
De maneira geral as raças bovinas podem ser dividas de acordo com seu porte
em: pequenas, médias e grandes (Alberti et al., 2008), nesse sentido,
Abreu et al. (2004) relatam que os animais da raça Pantaneiro são de pequeno porte
e que por este motivo têm exigência nutricional menor o que facilitou sua adaptação
ao ambiente do Pantanal, onde ocorrem períodos críticos de disponibilidade de
alimentos.
Outro ponto a ser destacado é a precocidade da raça, uma vez que
Juliano et al. (2011) verificaram que tourinhos Pantaneiros criados na região central
do Brasil e submetidos à coleta de sêmen a partir dos 10 meses de idade se
tornaram púberes aos 17,20 ± 0,786. Cabe lembrar que os animais foram
considerados púberes quando atingiram 50 milhões de espermatozoides por mL,
com pelo menos 10% de motilidade (Wolf et al., 1965).
Em condições de pastejo a puberdade em machos da raça Nelore varia entre 12 a
18 meses (Castro et al., 1989; Unanian et al., 2000), contudo estudos mais
aprofundados com diferentes raças no ambiente do Pantanal são necessários para
estabelecer melhores comparações.
Contudo, em relação a fêmeas, estudos têm mostrado que novilhas Pantaneiras
têm idade ao primeiro parto entre 40 (Abreu et al., 2007) e 42 meses
(Sereno et al., 2001) e são mais precoces que matrizes aneloradas típicas da região
do Pantanal, que dão a luz ao primeiro bezerro com 47 meses em média
(Abreu et al., 2000).
Nesse sentido, a raça Pantaneiro mostra-se como uma excelente opção para a
produção de carne de maneira sustentável na região do Pantanal
(Mariante et al., 2009). Além de poder ser utilizado em programas de melhoramento
genético e cruzamento industrial (Rangel et al., 2004).
3.2. Estresse térmico e fertilidade de machos
Os testículos da maioria das espécies domésticas são mantidos 4-5° C abaixo da
temperatura corporal (Kastelic et al., 1995). Deste modo, o efeito de temperaturas
estressantes, seja calor (Nichi et al., 2006) ou frio (Mcentee, 1990) em bovinos de
origem indiana (Fernandes et al., 2008) ou europeia (Meyerhoeffer, et al., 1985), tem
sido estudado e demonstrado por vários autores.
18
Nesse sentido, tem sido verificado que, principalmente, temperaturas elevadas
afetam os parâmetros reprodutivos de reprodutores bovinos, sendo que animais Bos
indicus são mais resistentes que os Bos taurus a estas alterações
(Kumi-Diaka et al., 1981; Oliveira et al., 2006).
Segundo Brito et al. (2003) essa resistência se deve ao fato de que animais de
origem indiana têm maior superfície de pele em relação ao tamanho corporal, bem
como, mais glândulas sudoríparas e maior suprimento sanguíneo ao testículo, que
conferem aos Bos indicus maior capacidade de termorregulação.
As principais alterações encontradas no ejaculado de touros submetidos ao
estresse térmico pelo calor são: diminuição do vigor e motilidade; aumento de
defeitos menores, maiores e totais (Oliveira et al., 2006), diminuição da porcentagem
de células vivas e concentração espermática (Kumi-Diaka et al., 1981), aumento da
peroxidação lipídica (Nichi et al., 2006).
Este estresse térmico pode levar a lesões reversíveis ou irreversíveis, dependo
do grau e da extensão da lesão. Neste contexto, Johnston et al. (1963), observaram
que touros europeus tiveram redução do potencial fértil quando submetidos a
temperatura de 40°C e ainda, que eles levaram mais tempo para recuperação da
qualidade seminal e não recuperaram no mesmo grau que os animais cruzados.
Além disso, a senilidade pode induzir a degeneração testicular em touros, bem
como, torná-los mais sensíveis a ela, por outros motivos. Kumi-Diaka et al. (1981)
observaram que bovinos com mais de 7,5 anos apresentaram um quadro
degenerativo mais severo, diminuição da produção de espermatozoides e perda de
qualidade quando comparados com animais mais jovens.
A indução da degeneração testicular experimentalmente, em trabalhos mais
antigos era feita usando câmaras com temperatura e umidade controlada
(Johnston et al., 1963; Meyerhoeffer et al., 1985). Contudo, os experimentos atuais
fazem o uso de bolsas colocadas nos testículos, método este que é chamado de
insulação escrotal (Brito et al., 2003).
Deste modo, estudos com insulação escrotal não observaram diferença no tempo
do ciclo no epitélio seminífero tampouco no trânsito epididimário
(Ross e Entwistle, 1979) nos animais insulados. Contudo as células germinativas
parecem ter sensibilidade variada ao aumento da temperatura, de modo que
espermatócitos e espermátides são mais sensíveis que as espermatogônias
(Setchell, 1998).
19
Adicionalmente, a degeneração testicular por insulação escrotal parece provocar
o aparecimento de defeitos espermáticos específicos como: Knobbed, contornos
anormais da cabeça (cabeça piriforme e microcefalia), defeitos de peça intermediária
e gota citoplasmática proximal (Brito et al., 2003; Barth e Oko, 1989).
O aumento da temperatura testicular, seja qual for o motivo, aumenta o
metabolismo e a demanda de oxigênio pelo tecido testicular, contudo a artéria
testicular não é calibrosa o suficiente para fornecer o aporte demandado. Sendo
assim, ocorre hipóxia testicular e formação de espécies reativas de oxigênio que
levam a produção de espermatozoides anormais (Setchell, 1998).
Diante do exposto, o estresse térmico é uma importante via de redução da
fertilidade em bovinos, especialmente de origem europeia, contudo ainda não se
sabe qual o seu impacto em touros da raça Pantaneiro.
3.3. Criopreservação de sêmen
A congelação ou criopreservação é o método pelo qual o sêmen é mantido
congelado em nitrogênio líquido a -196⁰C por tempo indeterminado, o que permite
seu transporte para qualquer distância, sendo este método a forma de
armazenamento de eleição para a constituição de Banco de Recursos Genéticos
(Reichenbach et al., 2008).
A preservação espermática por congelação compreende o período entre a
suspensão da motilidade espermática e o processo que demarca a continuidade das
reações que eventualmente levam à fertilização. Para uma conservação efetiva de
sêmen no estado congelado é necessário uma completa interrupção no metabolismo
dos espermatozoides (Watson, 1995).
Os protocolos de congelação de sêmen da maioria das espécies compreendem
as fases de resfriamento, pré-congelação e congelação propriamente dita. Na
primeira delas o sêmen diluído deve atingir a temperatura de 4-5°C
(Squires et al., 1999), contudo a velocidade e consequentemente a taxa de
resfriamento com que isso ocorre varia de acordo com o protocolo, ficando entre 2 e
4 horas. Nesta fase a célula espermática já começa a sofrer injúrias, uma vez que
ocorre a transição da membrana plasmática do estado líquido para o estado de gel
(Graham, 1996), porém uma quantidade de espermatozoides vivos próxima à inicial
ainda pode ser encontrada (Bispo et al., 2011).
20
Sem sombra de dúvida o pré-congelação é a etapa mais crítica à
criopreservação, isso porque o sêmen atravessa a barreira crítica de -5 a -60°C
quando em contato com o vapor de nitrogênio, nesta faixa de temperatura ocorre a
formação de cristais de gelo fora da célula, e por este motivo uma concentração dos
solutos no fluido extracelular, assim sendo, acontece a passagem de água do meio
intracelular para fora e o espermatozoide perde viabilidade (Holt, 2000). Contudo,
pode haver também a formação de cristais de gelo intracelulares que, na maioria
das vezes, culmina com perda da integridade da membrana espermática
(Denvireddy et al., 2002).
A perda de água e formação de cristais de gelo extracelulares ocorre quando o
processo de congelação é lento. Por outro lado a congelação rápida demais, não
permite a saída de água da célula e cristais de gelo são formados dentro do
espermatozoide (Mazur, 1985).
Ao fim do resfriamento (4-5°C) a água intra e extracelular ainda não está
cristalizada, sob a faixa de temperatura entre -5 e -10°C começam a serem
formados os cristais de gelo no meio extracelular e troca de água para manter o
equilíbrio osmótico, neste momento a curva de congelação deve ser lenta o
suficiente para evitar a congelação da água intracelular e rápida o bastante para
evitar que o espermatozoide perca água em excesso ao meio externo
hiperconcentrado (Medeiros et al., 2002). Por fim, na congelação propriamente dita,
as palhetas são mergulhadas em nitrogênio líquido e conservadas a -196°C.
Da mesma forma, a descongelação é importante para o equilíbrio osmótico do
meio. Espermatozoides congelados em curvas moderadas necessitam de curvas
moderadas de descongelação, neste caso, o gelo extracelular descongela
lentamente e diluirá o soluto aos poucos, o que permite a entrada lenta de água na
célula até atingir a concentração adequada. Ao contrário, se o espermatozoide é
descongelado rapidamente, a água entrará de forma rápida na célula danificando o
espermatozoide (Graham, 1996).
3.4. Estresse oxidativo
A criopreservação de sêmen bovino aumenta a taxa de anormalidades
espermáticas, reduzindo a longevidade dos gametas. Estima-se que durante o
processo de criopreservação, a fertilidade espermática avaliada através da
21
motilidade, vigor e integridade de suas membranas sejam reduzidas em 50%
(Ohashi, 2001).
Essas perdas podem ser ocasionadas por mudança na temperatura, formação de
cristais de gelo, alterações nas membranas plasmática e mitocondrial e lesões no
DNA (Ball e Vo, 2001). Contudo, segundo Beconi et al. (1991) o principal
responsável pelos danos causados ao espermatozoide se devem ao estresse
oxidativo.
Por sua vez, esse estresse é causado por excessiva presença de espécies
reativas de oxigênio (EROS) e/ou atuação ineficiente do sistema antioxidante em
removê-las, deste modo, pode ocorrer lesões às biomoléculas principalmente DNA,
lipídios, proteínas e carboidratos. Por isso, em humanos e animais, é considerada
uma importante causa de infertilidade ou subfertilidade (Pasqualotto et al., 2001;
Aitken et al., 1989; Nichi et al., 2006; Said et al., 2004.
O organismo produz EROS naturalmente em vários tecidos, como subprodutos da
respiração aeróbia e da síntese de estruturas mais complexas. Baixas
concentrações de EROS são importantes para processos bioquímicos normais como
na sinalização e controle do crescimento celular, no ataque de patógenos invasores,
na síntese enzimática e na detoxificação de substâncias, além de eventos como
capacitação espermática e reação acrossômica (Bauber et al., 2003), uma vez que a
concentração de oxigênio no sistema reprodutor feminino é reduzida exceto no
momento da ovulação (De Lamirande et al., 1997).
Porém, quando sua produção ocorre em quantidade superior à capacidade de
neutralização pelas células e seus antioxidantes, o metabolismo energético,
motilidade, viabilidade e integridade das membranas e DNA podem ser afetados
(Bilodeau et al., 2002).
Segundo Sikka (1996) as EROS que apresentam implicações na biologia
reprodutiva são: ânion superóxido (O2ˉ), peróxido de hidrogênio (H2O2), radical
peroxil (LOOˉ) e o radical hidroxila (OHˉ).
Trabalhos anteriores verificaram que o espermatozoide é especialmente sensível
ao estresse oxidativo, pelo fato de que possui citoplasma reduzido e pouca
capacidade de armazenar antioxidantes intracelulares (Vernet et al., 2004;
Aitken e Baker, 2002).
Além disso, membrana citoplasmática do espermatozoide é rica em ácidos graxos
poli-insaturados essa característica é importante, pois confere fluidez e facilita a
22
fusão para que ocorra a fertilização (Agarwal et al., 2003). Contudo estas moléculas
são especialmente sensíveis ao dano oxidativo causado pelas EROs
(Jones e Mann, 1977).
Esta oxidação dos lipídios celulares é conhecida como lipoperoxidação ou
peroxidação lipídica, este fenômeno gera uma substância conhecida com
malondialdeído (MDA), quando em contato com o ácido tiobarbitúrico (TBA) formam
uma coloração rósea que pode ser mensura por espectrofotometria
(Ohkawa et al., 1979). Contudo, como não se tem certeza de que toda a coloração
lida no espectrofotômetro é somente MDA, dá-se o nome de substâncias reativas ao
ácido tiobarbitúrico (TBARS).
3.5. Estresse oxidativo e infertilidade em reprodutores bovinos
O espermatozoide de bovinos em situações fisiológicas não é facilmente
peroxidado quando comparado com humanos, equinos e caprinos
(O’Flaherty et al., 1997). No entanto após os processos de resfriamento e
criopreservação observa-se diminuição significativa na motilidade, velocidade,
linearidade e frequência de batimento da cauda, além de aumento no nível de
peroxidação lipídica (Chatterjee e Gagnon, 2001).
Todavia, mesmo em sêmen fresco (Nichi et al., 2006) correlacionaram
positivamente a quantidade de espécies reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS)
com a porcentagem espermatozoides anormais em touros Simental em épocas mais
quentes do ano, sugerindo um efeito do estresse oxidativo sobre a morfologia
espermática.
Beconi et al. (1991) observaram correlação negativa entre o nível de TBARS e
porcentagem de espermatozoides com acrossoma e membrana plasmática íntegros
em touros holandeses.
Sendo assim, estes resultados indicam que o estresse oxidativo é uma das
causas de redução da qualidade do sêmen fresco e criopreservado em bovinos.
3.6. Espécies reativas de oxigênio
Radical livre é definido por um grupo de autores como, espécies que possuem
um ou mais elétrons desemparelhados (Halliwell e Gutteridge, 1990). Sendo que as
espécies reativas de oxigênio (EROs) incluem radicais livres e outras espécies que
não possuem elétrons desemparelhados, mas que devido sua reatividade,
23
atravessam com facilidade as membranas biológicas e causam lesões oxidativas
(Ribeiro et al., 2005).
O oxigênio é um elemento essencial à vida, contudo o seu metabolismo nos
meios biológicos leva a produção de radicais livres, que embora sejam essenciais
em algumas vias de sinalização celular (Haddad, 2002), podem levar a efeitos
deletérios em vários tecidos vivos (Ferreira e Matsubara, 1997).
A molécula de oxigênio (O2) sofre reações de oxidação (perde um elétron) ou
redução (ganha um elétron) constantemente. Em condições fisiológicas de
respiração aeróbia, 95 a 98% do O2 sofre redução tetravalente na mitocôndria, ou
seja, aceita quatro elétrons, o que resulta em uma molécula de H2O. Os 2 a 5%
restantes dão origem ao ânion superóxido que por sua vez desencadeia a formação
das demais espécies reativas de oxigênio (Ferreira e Matsubara, 1997).
Basicamente, a formação das três principais EROs pode ser explicada no
esquema de Chabot et al. (1998; Figura 1). Os elétrons (e-) adquiridos pela molécula
de oxigênio (O2) e seus metabólitos dão às espécies reativas de oxigênio a
necessidade de estabilização do elétron desemparelhado.
e- e- e- e-
O2 O2
- H2O2 OH- H2O
2H+ H+ H2O H+
Figura 1. Formação de espécies reativas de oxigênio (EROs). Adaptado de Chabot et
al. (1998).
3.6.1. Ânion superóxido (O2)
Após a primeira redução do O2 acontece a formação ânion superóxido ou radical
superóxido (Figura 1), essa produção acontece em praticamente todas as células
aeróbias (Ferreira e Matsubara, 1997; Halliwell e Gutteridge, 1986).
A formação do O2- acontece em ambientes ricos em elétrons e aeróbios, essa
característica é encontrada próximo à membrana mitocondrial interna, uma vez que
ocorre o “vazamento” de elétrons da cadeia respiratória (Nordeberg e Arnér, 2001).
O O2- pode agir como um agente antioxidante ou redutor e sua formação pode
ser catalisada pela enzima xantina oxidase, que cataboliza as purinas para formação
de ácido úrico, nessa situação o O2- (Ribeiro et al., 2005).
24
Embora seja considerado pouco reativo, devido a sua incapacidade de
atravessar membranas lipídicas e ficar restrito ao compartimento onde foi produzido
(Nordeberg e Arnér, 2001), já foi observado lesões relacionadas à sua presença
(Ferreira e Matsubara, 1997), contudo a importância do ânion superóxido se deve ao
fato de que ele contribui para origem ao peróxido de hidrogênio este sim com alta
reatividade (Chabot et al., 1998).
Outra via de formação do O2- é pelos neutrófilos, monócitos, macrófagos
eosinófilos que dão origem ao ácido hipocloroso que possui propriedade bactericida,
esta reação é catalisada pela NADPH oxidase e frequentemente dá início a
formação de EROs (Ribeiro et al., 2005).
3.6.2. Peróxido de Hidrogênio (H2O2)
Após a formação do O2- se ocorrer a incorporação de dois hidrogênios
carregados positivamente é formado o peróxido de hidrogênio (Figura 1). Apesar de
não ser um radical livre, pois não possui elétrons desemparelhados, é extremamente
deletério, uma vez que atravessa com facilidade as membranas lipídicas
(Ferreira e Matsubara, 1997).
Esta molécula possui uma habilidade particular em reagir com metais em
transição, principalmente o Fe2+ e consequentemente produzir o radical hidroxila,
este processo é chamado de reação de Fenton (Aitken et al., 1993).
De acordo com Armstrong et al. (2001) o H2O2 diminui os níveis intracelulares de
ATP, o que reflete diretamente na motilidade espermática. Lozano et al. (2009)
notaram que espermatozoides humanos em contato com o peróxido de hidrogênio
ativaram a enzima caspase 3 que culmina em apoptose celular.
3.6.3. Radical Hidroxila (OH-)
O radical hidroxila é considerado a ERO mais reativa, uma vez que reage quase
que instantaneamente com metais e outros radicais no próprio sítio onde foi
produzido. Deste modo, se for produzido próximo ao DNA por exemplo, pode ocorrer
mudanças nas bases purínicas e pirimidínicas levando a inativação ou mutação do
DNA (Ferreira e Matsubara, 1997).
A reação de Fenton tem sido proposta como o principal meio de produção do OH-
(Halliwell, 1991). Esta reação é mediada principalmente pelo Fe2+, nesse sentido
25
Halliwell e Gutteridge (1990) adicionando a enzima superóxido dismutase,
demostraram que a redução do Fe2+ a Fe3+ impede a formação do radical hidroxila.
3.7. Mecanismo antioxidante
Durante a espermatogênese o espermatozoide perde praticamente todo o seu
citoplasma e desta forma a quantidade de enzimas antioxidantes intracelulares
também é relativamente baixa (Iwasaki e Gagnon, 1992).
A gota citoplasmática distal é um resquício de citoplasma que não foi
completamente expulso durante o transito epididimário (Barth e Oko, 1989). Além
disso, segundo Nichi et al. (2007), correlação negativa foi encontrada entre a
porcentagem de gota citoplasmática distal e o nível de substâncias reativas ao ácido
tiobarbitúrico (TBARS), ainda segundo estes autores, os antioxidantes presentes na
gota previnem a oxidação dos lipídios espermáticos.
Para compensar a falta de antioxidantes intracitoplasmáticos, o espermatozoide
conta com antioxidantes enzimáticos e não enzimáticos presentes em seu plasma
seminal (Maia e Bicudo, 2009), e desta forma garantir equilíbrio entre agentes
antioxidantes e EROs e o perfeito funcionamento das células espermáticas
(Ferreira e Matsubara, 1997).
Os principais antioxidantes enzimáticos presentes no plasma seminal são:
superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidade (Sikka et al., 1995). Por
outro lado, os antioxidantes não enzimáticos são representados pelas vitaminas C e
E (Fraga et al., 1991).
O nome vitamina (vita: vida, amina: grupo de composto nitrogenado) foi dado
para indicar as substâncias orgânicas essenciais dieteticamente, distintas das
proteínas, dos glicídios e lipídios. Posteriormente foi descoberto que nem todas as
vitaminas eram formadas pelo grupamento amina, mas apesar do erro o nome se
manteve, uma vez que o termo já era convencionalmente empregado
(Mendonça Júnior et al., 2010).
3.7.1. Trolox (6-hydroxy-2,5,7,8-tetramethylchroman-2-carboxylic acid)
A vitamina E é lipossolúvel e advém de várias formas da natureza, os compostos
existentes nas plantas com atividade biológica de vitamina E são os derivados do
tocol, sendo o α-tocoferol a forma ativa mais abundante (Zeoula e Geron, 2006).
26
Comprovada interação entre vitamina E e selênio tem sido observada na ação
antioxidante em vários tecidos, dentre eles se destaca o a proteção aos macrófagos
e leucócitos durante a fagocitose e lise de bactérias (Zeoula e Geron, 2006).
Em todos os tecidos há um estoque mínimo de α-tocoferol, porém ele é mais
intensamente reservado nos tecidos hepático e adiposo
(Mendonça Júnior et al., 2010).
Várias formas de vitamina E têm sido empregadas no estudo da preservação
seminal. Seja a forma lipossolúvel (α-tocoferol) (Cerolini et al., 2000) ou um análogo
hidrossolúvel (Trolox) (Peña et al., 2003).
O Trolox (6-hydroxy-2, 5, 7,8-tetramethylchroman-2-carboxylic acid) é um análogo
da vitamina E (α-tocoferol) hidrossolúvel e apresenta elevada atividade antioxidante,
além de maior facilidade na diluição e preparo de soluções (Wu et al., 1991).
Tem sido verificado efeito antioxidante em sua adição ao meio diluidor, sendo
refletido em aumento da motilidade pós descongelação e diminuição de estresse
oxidativo induzido com a adição de ferro e ácido ascórbico (Maia et al., 2010;
Sicherle et al., 2011; Ondei et al., 2009).
3.7.2. Ácido ascórbico
O ácido ascórbico é um antioxidante não enzimático hidrossolúvel e, portanto
potencialmente envolvido na proteção das células contra estresse oxidativo
(Anane e Creppy, 2001; Sierens et al., 2001) na síntese de colágeno e carnitina
(Mendonça Júnior et al., 2010).
Estudos relatam o efeito da deficiência de vitamina C na fertilidade masculina.
Foram encontrados desempenho reprodutivo insatisfatório em bovinos (redução da
concentração e motilidade e aumento dos defeitos espermáticos
(Dawson et al., 1990), bem como degeneração testicular em cobaias (Luck, 1994).
Beconi et al. (1993) afirmam que a presença de 5mM ácido ascórbico no meio de
congelação exerceu um efeito antioxidante durante a congelação e descongelação
do sêmen bovino proporcionando melhora na qualidade seminal.
3.8. Vitaminas x Ruminantes
As vitaminas são compostos orgânicos necessários em pequenas quantidades
no organismo, entretanto são indispensáveis para a vida. Elas participam de reações
27
metabólicas do interior da célula, crescimento e manutenção da saúde animal
(Mendonça Júnior et al., 2010).
Estas se encaixam em dois grandes grupos, as lipossolúveis as quais têm
grande capacidade de armazenamento no organismo e lenta liberação, e as
hidrossolúveis que ao contrário praticamente não são armazedas
(Mendonça Júnior et al., 2010).
Os ruminantes obtem as vitaminas basicamente pela alimentação (vitamina E),
esta é mais abundantes em forragens frescas e grãos integrais, ou pela síntese dos
microrganismos (McDowell, 2001).
Entretanto, a vitamina C adquirida pela dieta, no caso de ruminantes é quase
totalmente destruída pelos microrganismos, em contrapartida ocorre a síntese
endógena pelo fígado, para isto são utilizados a glicose e a galactose como
substratos (Mendonça Júnior et al., 2010). Sendo assim, exceto em condições de
estresse ou doenças a suplementação com vitamina C não é necessária
(McDowell, 2001).
Os ruminantes adquirem a vitamina E através da ingestão de vegetais, no
entanto, a concentração de α-tocoferol nestes alimentos é extremamente variável e
difícil de quantificar, Ballet et al. (2000) constataram variação de 22% no nível de
vitamina E em quatro variedades de alfafa, além disso a idade da planta, relação
folha:colmo e temperatura sob a qual ela é cultivada podem afetar a concentração
de vitamina E. No que diz respeito a forragens conservadas, o método de
conservação tempo de estocagem interferem na proporção de vitaminas
(Mendonça Júnior et al., 2010).
Estudos em relação a degradação da vitamina E no rúmen tem encontrado que
ao contrário dos não-ruminantes apenas uma pequena parte da vitamina E ingerida
chega ao intestino delgado. Nesse sentido, segundo Shin e Owens, (1990) de 39 a
52% da vitamina E é degradada no rúmen e que em torno de 40% desaparece no
intestino delgado de novilhos em confinamento. Estes autores ainda verificaram que
a absorção intestinal foi maior em novilhos jovens, sugerindo maior exigência desta
categoria.
Os microrganismos ruminais necessitam de vitaminas para o seu metabolismo e
crescimento, principalmente aquelas que por eles não são sintetizadas, sendo a
vitamina E uma delas (Mendonça Júnior et al., 2010).
28
Já Alderson et al. (1971) encontraram que o desaparecimento da vitamina E
aumentou de 8 para 42% quando a proporção de milho na dieta passou de 20 a
80%. Ainda neste estudo, não foi observado aumento de vitamina E na
concentração sanguínea, sugerindo que não houve absorção significativa.
Porém, segundo Mendonça Júnior et al. (2010), a absorção de vitaminas
lipossolúveis depende das micelas formadas pelos ácidos biliares e após a absorção
no intestino delgado elas vão para a linfa, dessa maneira a mensuração no sangue
pode não trazer resultados fidedignos.
4. Considerações Finais
Diante do exposto sabe-se que o estresse térmico é uma importante forma de
queda da fertilidade principalmente em touros de origem europeia, contudo, em
relação aos animais da raça Pantaneiro, sua suscetibilidade às condições tropicais
ainda precisa ser estudada.
Adicionalmente, a ação de vitaminas no diluidor seminal tem ocasionado
resultados controversos na prevenção do estresse oxidativo, dessa forma, pesquisas
elucidando a interação entre o estado fisiológico dos animais e a condição
nutricional necessitam ser realizados.
O artigo “Sazonalidade e antioxidantes na qualidade seminal de touros
Pantaneiros” foi elaborado segundo as normas da revista Animal Reproduction
Science qualis A2.
29
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39
Capítulo 1
Sazonalidade e qualidade do sêmen fresco e criopreservado de touros
Pantaneiro e Nelore
Resumo
Objetivou-se avaliar o efeito da estação do ano sobre a fertilidade do sêmen fresco e
criopreservado de reprodutores da raça Pantaneiro (Bos taurus) criados em
condições tropicais. Foram utilizados 7 touros Pantaneiros e 3 Nelore, dos quais foi
coletado sêmen e realizada análise de motilidade, vigor, defeitos menores, maiores
e totais, concentração, viabilidade espermática e integridade de membrana
acrossomal. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente
casualizado, e arranjo fatorial 2x2 (2 raças e 2 estações do ano). A integridade da
membrana plasmática foi menor na estação de inverno (95,76 ± 1,77% vs. 87,07 ±
4,78% P=0,03), os animais da raça Nelore tiveram maior quantidade de
espermatozoides com defeito menor no verão (2,16 ± 1,09% vs. 0,57 ± 0,31%;
P=0,02), maior porcentagem de defeito maior (61,91 ± 5,92% vs. 26 ± 3,83%
P=0,01) e defeitos totais (62,58 ± 5,63% vs. 27,33 ± 3,91% P=0,03) no inverno. Os
parâmetros do sêmen congelado não foram influenciados nem pela raça nem
estação do ano. Portanto, nas condições edafoclimáticas encontradas na região do
Pantanal reprodutores Pantaneiros são mais indicados, uma vez que sua qualidade
seminal não é afetada negativamente pela estação do ano.
Palavras-chave: degeneração testicular, estresse térmico, bovino
Seasonality and quality of fresh and frozen bull semen Pantaneiro and Nelore
Abstract
The objective of this study was to evaluate the effect of season on fertility of fresh
and cryopreserved semen of breed Pantaneiro (Bos taurus) raised in tropical
conditions. Were used 7 Pantaneiro and 3 Nelore bulls, which were collected and
semen analysis performed motility, vigor, minor, major and total defects,
concentration, sperm viability and acrosomal membrane integrity. The experiment
was conducted in a completely randomized design and 2x2 factorial arrangement (2
breeds and 2 seasons). The membrane integrity was lower in the winter season
(95.76 ± 1.77% vs. 87.07 ± 4.78% P = 0.03), the Nelore breed had higher amount of
sperm with lower defect in summer (2.16 ± 1.09% vs. 0.57 ± 0.31%; P = 0.02), higher
percentage of major defect (61.91 ± 5.92 vs. 26 ± 3.83%.% P = 0.01), and total
40
defect (62.58 ± 5.63% vs. 27.33 ± 3.91% P = 0.03) in winter. The frozen semen
parameters were no influenced by treatments. Therefore, at conditions found in the
Pantanal region, Pantaneiro breed are indicated, since his seminal quality is not
adversely affected by the season.
Key words: testicular degeneration, heat stress, bovine
Introdução
A qualidade do sêmen fresco e criopreservado é influenciada pela saúde, estado
nutricional e condições edafoclimáticas as quais os animais doadores estão
submetidos. Sabe-se que touros europeus, em condições tropicais, têm fertilidade
reduzida quando comparados a animais zebuínos. Principalmente devido ao
mecanismo de hipóxia testicular, que por sua vez leva a maiores níveis de estresse
oxidativo no ejaculado (Nichi et al., 2006).
A raça Pantaneiro (Bos taurus) é de origem europeia e hoje está completamente
adaptada a região Centro Oeste do Brasil, sendo considerada uma raça naturalizada
e excelente opção para a manutenção da pecuária sustentável no Pantanal,
suportando áreas alagadas e oferta de forragem nativa que em muitos casos tem
baixa disponibilidade e qualidade (Mariante et al., 2009).
Contudo, pouco ainda se sabe sobre a fertilidade dos seus reprodutores, bem
como o ambiente da região central do Brasil pode influenciar a sua qualidade
seminal e o potencial de criopreservação (Santos et al., 2006).
Além disso, a partir da década de 1930 houve uma forte introdução
principalmente da raça Nelore na região do Pantanal, o que provocou diminuição do
contingente do bovino Pantaneiro, desse modo, a criopreservação de sêmen é uma
das melhores maneiras de conservar este recurso genético e disseminá-lo com o
uso de biotecnologias (Mariante et al., 2011).
Sendo assim, objetivou-se avaliar a qualidade do sêmen fresco e congelado de
touros Pantaneiros (Bos taurus) no verão e inverno em comparação aos animais
Nelore (Bos indicus) criados nas mesmas condições.
Material e Métodos
41
Local, animais e coleta
Foram utilizados 7 reprodutores da raça Pantaneiro (Bos taurus) e 3 da raça
Nelore (Bos indicus) com idade média de 48 meses e peso vivo médio de 606,1 ±
92,09 Kg, mantidos em pasto de Brachiaria brizantha cv.Marandu, com suplemento
proteico-energético nas águas e proteico na seca e água ad libitum, provenientes da
Fazenda Santo Augusto, município de Rochedo–MS, que está situado a 260 m
acima do nível do mar, a aproximadamente 19° sul e 54° oeste, o clima da região é
tropical, caracterizado por verão com altas temperaturas e inverno com temperaturas
amenas, a mínima, máxima e média são 10, 35 e 24°C respectivamente. A
precipitação pluviométrica anual varia entre 1500 a 1750 mm, sendo que acontece
predominantemente no verão.
As coletas e congelamentos do sêmen foram realizados a campo nos meses de
janeiro e junho de 2013 e a análise das amostras foi realizada nos laboratórios de
Biotecnologia e Reprodução Animal e Biologia Molecular da Universidade Federal de
Mato Grosso, campus Cuiabá.
Pouco antes da coleta foi mensurada a circunferência escrotal através de fita
métrica e consistência testicular por meio da palpação. O sêmen foi obtido pelo
método de eletroejaculação e imediatamente após, foi realizado as análises
imediatas: motilidade (MOT) e vigor (VIG) espermáticos sob microscopia óptica em
aumento de 400x (CBRA, 1998), uma alíquota de cada amostra foi diluída em formol
salino na proporção de 1:200 para análise de concentração do ejaculado (CONC)
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Tem
per
atu
ra (
°C)
Dias do Mês
Temp. Max. Janeiro
Temp. Min. Janeiro
Temp. Máx. Julho
Temp. Min. Julho
42
em câmara de Neubauer (CBRA, 1998) e morfologia espermática em microscopia de
contraste de fase (Barth & Oko, 1989), foram contadas 200 células e classificadas
em defeitos maiores (DEFMA) e menores (DEFME) (Blom, 1973). Além disso, foi
feito o preparo de lâminas para a avaliação de viabilidade espermática (VIAB)
(WHO, 1992) e integridade da membrana acrossomal (IMA) (POPE et al., 1991).
Após avaliação imediata, cada ejaculado foi diluído em extensor tris-gema
(3,187g TRIS-hidroximetil amino metano; 1,78g ácido cítrico monohidratado; 1,316g
frutose; 80 mL água destilada; 20 mL gema de ovo; 100000µg de estreptomicina;
100000UI de penicilina; 5 mL de glicerol para cada 100 mL de diluidor; Rota et al.,
1995) em fração única na concentração de 40x106 espermatozoides/mL, envasado
em palhetas de 0,5 mL e submetido à seguinte curva de congelamento: 2 horas de
resfriamento (4°C); 15 minutos em contato com o vapor de nitrogênio (a 5 cm do
nitrogênio líquido); em seguida submergidas em nitrogênio líquido e por fim
armazenadas em botijão criogênico.
Análises
As amostras foram descongeladas a 35-37 Cº durante 30 segundos e 10 µL
foram utilizados para análise de motilidade e vigor espermáticos em lâmina e
lamínula em microscopia óptica sob o aumento de 400x (CBRA, 1998). Foram
avaliados ainda viabilidade espermática (WHO, 1992) e integridade acrossomal
(Pope et al., 1991) em microscopia óptica sob o aumento de 1000x, com 200 células
contadas em ambos.
Substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (Tbars)
O estresse oxidativo espontâneo (TBARS espontâneo) foi calculado segundo a
metodologia de Buege e Aust (1978). Após a descongelação, a amostra de sêmen
foi com a finalidade de remover os resquícios de diluidor, isto foi feito com a adição
de 1600µL de PBS e posterior centrifugação (800 × g, 10 min), por fim foi retirado
1600µL sobrenadantes. Logo após, os 500μL de sêmen restante foi misturado a
1000μL de uma solução a 10% de ácido tricloroacético gelado (TCA 10%),
homogeneizados e centrifugados (18,000 × g, 15 min, 15 °C) para a precipitação de
proteínas. Após centrifugação uma alíquota do sobrenadante (500μL) foi misturado
com 500μL de ácido tiobarbitúrico a 1% (TBA 1%, diluído em 0,05N de NaOH) em
tubos e incubado em água fervente (90 a 100 °C) por 15 min. Após este período, os
43
tubos contendo a mistura foram imediatamente resfriados em banho de gelo (0 °C)
para parar a reação (Ohkawa et al., 1979). A absorbância das amostras foi então
quantificada utilizando-se um espectrofotômetro em comprimento de onda de 532
nm. Os resultados foram comparados a uma curva padrão previamente preparada
com uma solução padrão de MDA (malondialdeído). A concentração de TBARS foi
determinada utilizando um valor de 1.56 × 105 M/mL com o coeficiente de extinção
molar do MDA. O índice de peroxidação lipídica foi descrito em nanogramas de
TBARS por 106 espermatozoides (Buege e Aust, 1978).
Atividade citoquímica mitocondrial
A atividade citoquímica mitocondrial foi realizada de acordo com a metodologia
de Hrudka (1987), onde uma alíquota de 25 μL de sêmen foi incubada com 25 μL de
DAB (3,3'-diaminobenzidina) (1mg/mL PBS) a 37°C (banho maria), em condições de
luminosidade reduzida, durante uma hora. Após a incubação foram realizadas
extensões em lâmina, e fixadas em formaldeído a 10% por 10 minutos e secos ao ar
protegidas de luz. A avaliação foi realizada em microscopia de contraste de fase sob
aumento de 1000x, em imersão. Foram avaliados 100 espermatozoides por amostra,
e classificados segundo a atividade mitocondrial da peça intermediária, obedecendo
a escala de quatro classes propostas por Hrudka (1987), onde: classe I (todas as
mitocôndrias ativas, células espermáticas com peça intermediária totalmente
corada), classe II (células espermáticas com segmentos ativos e inativos com
predominância dos ativos, corados, indicando atividade mitocondrial média a alta),
classe III (espermatozoides com menos da metade da bainha mitocondrial ativa),
classe IV (espermatozoides completamente inativos com peça intermediária
totalmente descorada).
Delineamento experimental e análise estatística
O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, em
arranjo fatorial 2x2 (2 raças e 2 estações) e as médias foram analisados através da
ANOVA e comparados pelo teste de média de Tukey com nível de significância de
5%, o programa estatístico utilizado foi o SAS (versão 9.2).
44
Resultados e Discussão
A raça, estação do ano ou a interação entre eles, não alteraram
significativamente as médias de circunferência escrotal, consistência testicular,
motilidade, vigor, concentração e integridade de membrana acrossomal. Contudo a
viabilidade espermática sofreu influência da estação do ano e foi maior no verão
(Tabela 2).
Houve interação significativa (raça x estação) para a média de defeitos menores,
sendo que a raça Nelore apresentou maior porcentagem de espermatozoides com
defeitos menores no verão em relação à raça Pantaneiro (2,16% ± 1,09 vs. 0,57% ±
0,31; P=0,02). Os reprodutores da raça Nelore tiveram ainda, maior proporção de
defeitos maiores e totais no inverno (61,91% ± 5,92 vs. 26,0% ± 3,83; P=0,01;
62,58% ± 5,63 vs. 27,33% ± 3,91 respectivamente; P=0,03; Figura 2).
Segundo a metodologia proposta por Blom et al. (1973), são classificados como
espermatozoides com defeitos menores, aqueles que apresentam alguma alteração
que dificulte mas não impeça a fecundação. Além disso, mesmo havendo maior
proporção de defeitos menores no verão para os animais da raça Nelore, o nível
encontrado foi relativamente baixo (2,16%) o que provavelmente não trás prejuízos à
sua fertilidade.
Em um estudo semelhante, Nichi et al. (2006), encontraram maior porcentagem
de defeitos maiores no verão, no ejaculado de touros Simental (Bos taurus) em
comparação aos Nelore (Bos indicus) criados em condições tropicais do centro
oeste brasileiro.
Tabela 2. Médias e valores de P de variáveis analisadas em função da raça (Nelore x Pantaneiro), estação (verão x inverno) e a interação entre eles.
Variáveisa Verão
Inverno
Probabilidade (P)
Nelore Pantaneiro
Nelore Pantaneiro
Rb Ec R x E
CE 38,33±0,88 38,07±1,04
37,33±1,30 36,78±1,50
0,7942 0,4648 0,9266
CONSIST 3,00±0,00 3,00±0,00
3,33±0,33 2,85±0,14
0,1334 0,536 0,1334
MOT 75,00±7,63 70,71±3,99
76,66±4,40 65,83±4,90
0,1894 0,7741 0,5605
VIG 3,00±0,00 2,85±0,14
3,33±0,33 3,08±0,20
0,3663 0,2044 0,8029
CONC 545±142 572±448
497±119 488±872
0,7463 0,2575 0,6125
VIAB 94,16±2,45 96,44±1,10
89,50±5,77 85,62±3,80
0,8078 0,0308 0,3558
45
IMA 92,86±2,15 97,31±1,13
92,00±4,33 92,84±2,34
0,2903 0,2875 0,4668
DEFME 2,16±1,09 0,57±0,31
0,66±0,33 1,33±0,16
0,3266 0,4328 0,026
DEFMA 12,5±5,5 18,14±3,53
61,91±5,92 26,00±3,83
0,3306 0,0005 0,0163
DEFTO 14,66±6,05 18,71±3,71
62,58±5,63 27,33±3,91
0,2491 0,0008 0,0354
TBARS 90,24±16,17 120,22±16,32
121,32±26,91 178,3±20,22
0,3934 0,3424 0,6442
aCE, circunferência escrotal; CONSIST, consistência testicular; MOT, motilidade; VIG, vigor; CONC,
concentração; VIAB, viabilidade; IMA, integridade de membrana acrossomal; DEFME, defeitos
menores; DEFMA, maiores; DEFTO, totais; TBARS, substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico
Estes resultados podem ser explicados pelo mecanismo de degeneração
testicular, que é iniciado quando ocorre hipóxia no parênquima do testículo, dentre
outras causas, por vasoconstrição, seja ela causada pela temperatura ambiental
(Igboeli & Rakha, 1971), insulação escrotal induzida ou aplicação de dexametasona
(Barth & Bowman, 1994).
Nesse sentido, uma série de estudos tem sido feita correlacionando a
degeneração testicular com alteração da consistência do testículo, aumento de
defeitos espermáticos e peroxidação lipídica por ocasião do estresse térmico
(Brito et al., 2004).
Contudo, neste trabalho embora tenha sido utilizados reprodutores Pantaneiros
(Bos taurus), a raça foi introduzida na região à aproximadamente 300 anos e durante
este período sofreu adaptação ao clima da região pantaneira (Mazza et al., 1992).
Deste modo, os animais provavelmente se tornaram mais resistentes à degeneração
testicular causada pelo estresse térmico.
Além disso, nas condições extensivas praticadas no Pantanal onde os touros
permanecem com as vacas durante todo ano (Abreu et al., 2008), os animais da
raça Pantaneiro tem maior potencial fértil quando comparados com os Nelore, uma
vez que não sofrem influencia da estação do ano.
Por outro lado, embora existam poucos dados na literatura, a degeneração
testicular também pode ocorrer por estresse térmico causado pelo frio e
provavelmente raças zebuínas são mais sensíveis a ele, uma vez que estão mais
adaptadas ao clima tropical (Mcentee, 1990). Isto pode explicar o maior nível de
defeitos maiores e totais encontrados em touros Nelore no inverno.
46
Figura 2. Efeito da raça e estação do ano sobre a porcentagem de defeitos menores, maiores e totais (topo da coluna) do sêmen fresco de touros Pantaneiro e Nelore.
Teixeira et al. (2011) encontraram diminuição do comprimento e volume testicular
de touros Curraleiros (raça naturalizada) criados no centro oeste brasileiro nos
meses de abril e maio. Segundo Johnson et al. (2000) a diminuição do parênquima
testicular leva a redução do volume e concentração espermática e pode estar
relacionada com baixa disponibilidade e qualidade de alimentos.
Neste estudo, a circunferência escrotal e consistência testicular não sofreram
alteração em função da estação do ano, este talvez seja mais um indício de
adaptação da raça à essas condições.
Adicionalmente, a baixa ingestão de proteína pode afetar a taxa de crescimento
corporal, volume testicular e características físicas do ejaculado, como volume e
concentração (Abi Saab et al., 1997). Nesse sentido, sabe-se que a proteína
fornecida pelo pasto na época seca do ano é limitada (Van Soest, 1994) o que pode
0
10
20
30
40
50
60
70
Nelore Pantaneiro Nelore Pantaneiro
Verão Inverno
Defeito Maior
Defeito Menor
47
impactar em parâmetros reprodutivos. No presente estudo, embora os animais
tenham sido suplementados, os reprodutores Nelore obtiveram resultados pouco
satisfatórios na época seca do ano, o que nos permite especular que a quantidade
de nutrientes ofertada pode não ter sido suficiente para prevenir a queda da
qualidade seminal.
Além disso, os animais da raça Pantaneiro, mesmo submetidos às mesmas
condições não reduziram significativamente sua qualidade seminal. Abreu et al.
(2004) relatam que o bovino Pantaneiro, ao longo de sua adaptação, diminuiu seu
porte e consequentemente sua exigência de mantença, essa pode ser considerada
uma estratégia de sobrevivência para condições de baixa oferta de alimentos,
comumente encontradas na região pantaneira, sendo que o excedente à energia
demandada para funções vitais pode ser desviado à reprodução.
Tabela 3. Médias, desvio padrão dos valores de motilidade (MOT), vigor (VIG), viabilidade (VIAB) e integridade de membrana acrossomal (IMA) e valor de P para raça (Nelore x Pantaneiro) estação (verão x inverno) e a interação entre eles.
Variáveisa Verão Inverno Valor de P
Nelore Pantaneiro
Nelore Pantaneiro
Rb Ec R x E
MOT (%) 11,66±1,66 19,28±3,99
13,33%±1,66 17,00+7,00
0,5332 0,7489 0,2867
VIG (0-5) 1,33±0,33 2,14±0,14
2,00±0 2,00+0,31
0,1306 0,3164 0,1306
VIAB (%) 21,81±10,87 27,78±3,18
24,75±6,49 20,23±7,96
0,9223 0,757 0,4847
IMA (%) 94,66±1,16 97,42±0,66
97,25+0,72 96,33+0,76
0,3098 0,4099 0,0535
TBARS
(ng/ml) 90,24±16,17 120,22±16,32 121,32±26,91 178,3±20,22 0,3934 0,3424 0,6442
aMOT, motilidade; VIG, vigor; VIAB, viabilidade, IMA, integridade de membrana acrossomal;
TBARS, substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico; bRaça;
cEstação do ano; médias seguidas de
letras minúsculas diferentes na mesma linha, diferem estatisticamente entre si (P<0,05)
A motilidade, vigor, viabilidade, integridade de membrana acrossomal,
concentração de TBARS (Tabela 3) e porcentagem de células classificadas em DAB
1,2,3 ou 4 (Tabela 4) após o descongelamento não foram afetadas pela raça,
estação do ano ou a interação entre eles.
48
De acordo com o CBRA (1998), o sêmen descongelado deve apresentar pelo
menos 30% de motilidade e vigor 3. Embora os resultados encontrados neste estudo
estejam aquém dos supracitados, principalmente em relação à raça Pantaneiro,
mais estudos devem ser feitos a fim de encontrar protocolos de criopreservação e
meios diluidores que melhor se adaptem à raça.
Em relação a quantidade de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico
(TBARS), frequentemente trabalhos têm comprovado seu aumento no ejaculado de
reprodutores bovinos em situações de alta temperatura, sendo as raças de origem
europeia mais sensíveis (Meyerhoeffer et al., 1985; Nichi et al., 2006), isto se deve
ao fato de que os Bos indicus são mais eficientes em realizar a termorregulação,
(Brito et al., 2003), apesar de ser um Bos taurus a raça Pantaneiro parece ter
aumentado sua capacidade de troca de calor.
Além disso, muitas vezes o estresse oxidativo é correlacionado com a presença
de defeitos espermáticos, isso porque espermatozoides com patologias têm maior
capacidade de geração de EROs, por outro lado o estresse oxidativo pode levar a
formação de espermatozoides defeituosos (Oliveira et al., 2006), neste experimento,
embora tenha sido encontrado maior proporção de espermatozoides com defeitos
maiores no inverno não foi possível observar aumento da lipoperoxidação.
Tabela 4. Atividade citoquímica mitocondrial de touros Pantaneiro e Nelore em diferentes estações do ano.
Variáveisa Verão Inverno Valor de P
Nelore Pantaneiro
Nelore Pantaneiro
Rb Ec R x E
DAB 1 74,66±6,11 70,57±9,75
65,33±15,30 72,00±9,28
0,9129 0,7371 0,6481
DAB 2 12,33±3,38 17,00±3,41
21,33±12,41 12,00±4,39
0,6928 0,7347 0,2457
DAB 3 3,66±3,17 8,28±5,36
10,33±1,45 7,16±3,32
0,8891 0,596 0,4589
DAB 4 9,33±2,84 4,14±1,58 3,00±1,52 8,83±3,74 0,9186 0,7942 0,0951
aDAB, 3,3'-diaminobenzidina (atividade citoquímica mitocondrial);
bRaça;
cEstação do ano; médias
seguidas de letras minúsculas diferentes na mesma linha, diferem estatisticamente entre si (P<0,05).
Conclusões
Nas condições edafoclimáticas encontradas no Pantanal os reprodutores da raça
Pantaneiro são mais indicados para serem utilizados durante todo ano, visto que sua
qualidade seminal à fresco e após a criopreservação não foi influenciada pela
49
estação do ano. Contudo mais estudos são necessários para padronizar a técnica
de criopreservação na raça e obter doses com qualidade suficiente para serem
aplicadas em biotecnologias.
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52
Capítulo 2
Antioxidantes na criopreservação de sêmen de touros Pantaneiro e Nelore
Resumo
Objetivou-se avaliar o efeito da adição de vitamina C e Trolox (análogo hidrossolúvel
da vitamina E) sobre parâmetros relacionados à fertilidade do sêmen criopreservado
de touros da raça Pantaneiro (Bos taurus) e Nelore (Bos indicus) criados na região
central do Brasil em épocas de condições climática distintas. Foram utilizados 7
touros Pantaneiros e 3 Nelore, dos quais foi coletado sêmen e no momento da
diluição adicionado 10 mM de Trolox/20x106 espermatozoides; ou 2,25 mg de ácido
ascórbico/20x106 de espermatozoides; ou ainda a combinação entre eles. Após o
descongelamento foi realizada a análise de motilidade, vigor, viabilidade
espermática, integridade de membrana acrossomal, atividade citoquímica
mitocondrial e peroxidação lipídica espontânea. O experimento foi conduzido em
delineamento inteiramente casualizado, e arranjo fatorial 2x2x4 (2 raças e 2
estações do ano e 4 antioxidantes). Nenhuma das interações estudadas apresentou
diferença significativa. A motilidade, vigor, integridade acrossomal e atividade
mitocondrial foram reduzidas com a adição de antioxidantes em especial a interação
entre vitamina C e Trolox. Ainda, a adição de antioxidantes não foi impactou no nível
de lipoperoxidação. Os antioxidantes usados podem ter diminuído os níveis de
espécies reativas de oxigênio a ponto de inibir a sinalização para eventos como
movimento do espermatozoide e atividade das mitocôndrias, dessa forma, com os
resultados encontrados pode-se inferir que a necessidade de vitaminas,
especialmente a vitamina E, foi atendida pela alimentação a qual os animais
estavam submetidos, deste modo, a suplementação do meio diluidor não trouxe
benefícios ao potencial fértil das amostras de sêmen.
Introdução
O sêmen criopreservado é indispensável para a utilização em larga escala das
biotecnologias aplicadas à reprodução. Contudo o processo de criopreservação
comumente causa perdas na ordem de 50% sobre parâmetros relacionados à sua
fertilidade (Watson, 2000).
Sendo assim, sabe-se que guardadas as devidas proporções, o estresse
oxidativo é um dos principais mecanismos que leva à redução da fertilidade da
amostra de sêmen. Isso porque durante a congelação e descongelação há a
formação de espécies reativas de oxigênio (EROS) que podem levar a peroxidação
dos lipídios presentes na membrana plasmática do espermatozoide
(Maia e Bicudo, 2009).
53
Em contrapartida, a célula espermática tem dificuldade em remover o excesso de
metabólitos do oxigênio, uma vez que, praticamente não tem citoplasma e seu
estoque de antioxidantes fica restrito ao plasma seminal.
Desta forma, uma série de pesquisadores tem buscado estudar a inclusão de
antioxidantes enzimáticos ou não enzimáticos ao sistema vivo animal, seja ele por
suplementação oral (Xavier et al., 2008), administração parenteral ou adição ao
diluidor (Hu et al., 2010; Peña et al., 2003).
Contudo, resultados controversos têm sido encontrados, em função raça,
condições ambientais, dose utilizada. Deste modo, o objetivo foi verificar a influência
da adição de vitamina C e/ou Trolox ao meio diluidor do sêmen de bovinos da raça
Pantaneiro e Nelore criados sob clima tropical.
Material e Métodos
Local, animais e coleta
Foram utilizados 7 reprodutores da raça Pantaneiro (Bos taurus) e 3 da raça
Nelore (Bos indicus) com idade média de 48 meses e peso vivo médio de 606,1 ±
92,09 Kg, mantidos em pasto de Brachiaria brizantha cv.Marandu, com suplemento
proteico-energético nas águas e proteico na seca e água ad libitum, provenientes da
Fazenda Santo Augusto, município de Rochedo–MS.
As coletas foram feitas pelo método de eletroejaculação e os congelamentos do
sêmen foram realizados em dois meses de características climáticas diferentes. A
análise das amostras foi realizada nos laboratórios de Biotecnologia e Reprodução
Animal e Biologia Molecular da Universidade Federal de Mato Grosso, campus
Cuiabá.
Tratamentos
Cada ejaculado foi diluído em extensor tris-gema (3,187g TRIS-hidroximetil
amino metano; 1,78g ácido cítrico monohidratado; 1,316g frutose; 80 mL água
destilada; 20 mL gema de ovo; 100000µg de estreptomicina; 100000UI de penicilina;
5 mL de glicerol para cada 100 mL de diluidor; Rota et al., 1995) em fração única na
concentração de 40x106 espermatozoides/mL, envasado em palhetas de 0,5 mL.
Após a adição deste, as amostras foram divididas em quatro partes iguais e
receberam T1 Controle: apenas o diluente; T2: 10 mM de Trolox por palheta. T3:
54
2,25 mg de ácido ascórbico/palheta e T4: 10 mM de Trolox + 2.25 mg de ácido
ascórbico/palheta.
A curva de congelamento usada foi a seguinte: 2 horas de resfriamento (4°C); 15
minutos em contato com o vapor de nitrogênio (a 5 cm do nitrogênio líquido); em
seguida submergidas em nitrogênio líquido e por fim armazenadas em botijão
criogênico.
Análises
As amostras foram descongeladas a 35-37 Cº durante 30 segundos e 10 µL
foram utilizados para análise de motilidade e vigor espermáticos em lâmina e
lamínula em microscopia óptica sob o aumento de 400x (CBRA, 1998). Foram
avaliados ainda viabilidade espermática (WHO, 1992) e integridade acrossomal
(Pope et al., 1991) em microscopia óptica sob o aumento de 1000x, com 200 células
contadas em ambos.
Substâncias reativas ao ácidos tiobarbitúricos (Tbars)
Após a descongelação, foi adicionado à amostra de sêmen 1600µL de PBS e
posterior centrifugação (800 × g, 10 min), em seguida foi retirado 1600µL
sobrenadantes para que fosse removido os resquícios de diluidor. Logo após, foi
misturado aos 500μL de sêmen restantes, 1000μL de ácido tricloroacético gelado a
10% (TCA 10%), homogeneizados e centrifugados (18,000 × g, 15 min, 15 °C) para
a precipitação de proteínas. Após centrifugação uma alíquota do sobrenadante
(500μL) foi misturado com 500μL de ácido tiobarbitúrico a 1% (TBA 1%, diluído em
0,05N de NaOH) em tubos e incubado em água fervente (90 a 100 °C) por 15 min.
Após este período, os tubos contendo a mistura foram imediatamente resfriados em
banho de gelo (0 °C) para parar a reação (Ohkawa et al. 1979). A absorbância das
amostras foi então quantificada utilizando-se um espectrofotômetro em comprimento
de onda de 532 nm. Os resultados foram comparados a uma curva padrão
previamente preparada com uma solução padrão de MDA (malondialdeído). A
concentração de TBARS foi determinada utilizando um valor de 1.56 × 105 M/mL
com o coeficiente de extinção molar do MDA. O índice de peroxidação lipídica foi
descrito em nanogramas de TBARS por 106 espermatozoides (Buege e Aust, 1978).
Atividade citoquímica mitocondrial
55
A análise da atividade citoquímica mitocondrial foi realizada de acordo com a
metodologia de Hrudka (1987), onde uma alíquota de 25 μL de sêmen foi incubada
com 25 μL de DAB (3,3'-diaminobenzidina) (1mg/mL PBS) a 37°C (banho maria), em
condições de luminosidade reduzida, durante uma hora. Após a incubação foram
realizadas extensões em lâmina, e fixadas em formaldeído a 10% por 10 minutos e
secos ao ar protegidas de luz. A avaliação foi realizada em microscopia de contraste
de fase sob aumento de 1000x, em imersão. Foram avaliados 100 espermatozoides
por amostra, e classificados segundo a atividade mitocondrial da peça intermediária,
obedecendo a escala de quatro classes propostas por Hrudka (1987), onde: classe I
(todas as mitocôndrias ativas, células espermáticas com peça intermediária
totalmente corada), classe II (células espermáticas com segmentos ativos e inativos
com predominância dos ativos, corados, indicando atividade mitocondrial média a
alta), classe III (espermatozoides com menos da metade da bainha mitocondrial
ativa), classe IV (espermatozoides completamente inativos com peça intermediária
totalmente descorada).
Delineamento experimental e análise estatística
O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, em
arranjo fatorial 2x2x4 (2 raças, 2 estações e 4 antioxidantes) e as médias foram
analisados através da ANOVA e comparados pelo teste de média de Tukey com
nível de significância de 5%, o programa estatístico utilizado foi o SAS (versão 9.2).
Resultados e Discussão
Nenhuma das variáveis estudadas obteve interação estatística entre raça,
estação do ano e adição de antioxidantes ao meio diluidor ou entre raça e estação
do ano. Deste modo, os dados serão apresentados e discutidos apenas comparando
a ação de antioxidantes no extensor.
Tabela 5. Média e desvio padrão de variáveis relacionadas à função espermática de acordo com a suplementação do meio diluidor.
Variáveisa Controle Vit C Trolox Vit C + Trolox
56
Motilidade 15,57±2,45a 7,36±2,05b 3,31±0,89b 1,84±0,59b
Vigor 1,89±0,13a 1,52±0,17a 0,94±0,16b 0,73±0,10b
TBARS 130,32±10,08 153,22±29,58 98,42±12,95 91,06±11,29
aTBARS, substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico, médias seguidas de letras minúsculas
diferentes na mesma linha, diferem estatisticamente entre si (P<0,05).
A adição de antioxidantes ao diluidor alterou significativamente as médias de
motilidade e vigor no presente estudo, porém não apresentou efeito sobre a
quantidade de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS; Tabela 4), cabe
lembrar que as concentrações utilizadas foram 10 mM de Trolox/20x106
espermatozoides e 2,25 mg de ácido ascórbico/20x106 de espermatozoides.
Trabalhando com diferentes concentrações de Trolox (50, 100, 150 e 200 mM
Trolox/108 de espermatozoides) no diluidor, Sicherle et al. (2006) encontraram efeito
deletério sobre a motilidade progressiva na concentração de 150 mM. A razão para
isto pode ser que pequenos níveis de EROs são indispensáveis para a sinalização
de eventos como hiperativação e fecundação (O’Flaherty et al., 1999).
Proporcionalmente, a dose utilizada neste experimento foi 3 vezes menor que a
aquela usada por Sicherle et al. (2003) que provocou efeitos deletérios sobre a
motilidade, contudo ela pode ter sido alta o suficiente para inibir a sinalização de
eventos envolvidos com a movimentação do espermatozoide.
Em outro experimento da mesma equipe não foi possível observar efeito
significativo da adição de 100 mM Trolox/108 espermatozoides sobre motilidade
progressiva, peroxidação lipídica, produção de peróxido de hidrogênio (H2O2),
capacitação espermática e reação acrossômica (Sicherle et al., 2011).
O nível de TBARS em ng/mL encontrado no presente estudo foi menor que em
estudos com sêmen bovino criopreservado (Nichi et al., 2006). Maia et al. (2010) e
Sicherle et al. (2011) verificaram que o nível de peroxidação lipídica espontânea não
foi reduzido quando adicionado Trolox ao meio diluidor na concentração de
100µM/108 espermatozoides. Porém, quando a lipoperoxidação foi induzida com a
adição de ferro e vitamina C, menores níveis de TBARS (substâncias reativas ao
ácido tiobarbitúrico) foram encontrados nas amostras cujos meios foram
suplementados. Indicando que a adição de Trolox ao diluidor torna-se necessária em
situações onde o estresse oxidativo é estimulado (Ondei et al., 2009).
57
Nos experimentos feitos por Maia et al. (2010) e Sicherle et al. (2011) os
ejaculados foram avaliados imediatamente após a coleta e só foram processados
aqueles com valores mínimos de motilidade e concentração estipulados pelos
autores, havendo assim, uma seleção dos melhores ejaculados.
Como demonstrado por Colagar et al. (2013) existe uma correlação positiva entre
parâmetros espermáticos e lipoperoxidação, já que espermatozoides anormais são
potenciais geradores de EROs provavelmente por este motivo, não foi encontrado
efeito da adição de Trolox sobre a peroxidação lipídica espontânea nos
experimentos de Maia et al. (2010) e Sicherle et al. (2011). No presente estudo,
embora não tenha sido feita esta seleção, a motilidade média do sêmen fresco dos
animais foi de 72,05%, valor considerado adequado para a espécie bovina
(CBRA, 1998).
Figura 3. Porcentagem de células com membrana íntegra e viáveis de acordo com os antioxidantes no meio diluidor.
O uso de antioxidantes não afetou a viabilidade espermática, porém a interação
entre vitamina C e Trolox diminuiu a porcentagem de espermatozoides com
acrossoma íntegro (Figura 3).
Silva et al. (2012) não encontraram diferença na integridade de membrana
acrossomal com a adição de 30, 60 e 120 µM ao sêmen ovino, entretanto o método
usado para esta mensuração foi o uso da sonda fluorescente (FITC-PNA), diferente
do método usado neste experimento.
0
20
40
60
80
100
120
Integridade MembranaAcrossomal
Viabilidade
Po
rce
nta
gem
Controle
Vit C
Trolox
Vit C + Trolox
a ab ab b
NS
58
Adicionando 5 µM de Trolox ao sêmen de gatos (Thuwanut et al., 2008),
detectaram maior número de células com membrana plasmática íntegra. Sabe que a
membrana dos espermatozoides é rica em ácidos graxos poli-insaturados, que por
sua vez são extremamente sensíveis a oxidação por espécies reativas de oxigênio
(Aitken et al., 2006), porém o nível de TBARS encontrado por nós foi relativamente
baixo se comparado a outros estudos (Nichi et al., 2006), e provavelmente não foi
capaz de causar lesões oxidativas na membrana citoplasmática.
Tabela 6. Atividade citoquímica mitocondrial de acordo com a adição ou não de vitamina C, Trolox ou a interação entre eles.
Variáveisa Controle Vit C Trolox Vit C + Trolox
DAB 1 70,84±4,94a 40,1±4,68b 67,05±4,57a 24,52±4,29b
DAB 2 15,36±2,58b 31,84±2,15a 21,00±3,04b 31,10±2,89a
DAB 3 7,52±2,21b 20,21±4,55a 5,57±1,44b 29,47±3,74a
DAB 4 6,26±1,45b 7,84±1,44b 6,36±1,40b 14,89±2,18a
aDAB, 3,3'-diaminobenzidina (atividade citoquímica mitocondrial), médias seguidas de letras
minúsculas diferentes na mesma linha, diferem estatisticamente entre si (P<0,05).
A porcentagem de células classificadas em DAB 1 foi reduzida com a adição de
vitamina C e a interação entre vitamina C e Trolox, os mesmos tratamentos
aumentaram o número de espermatozoides DAB 2 e 3. E a proporção de células
DAB 4 aumentou no sêmen criopreservado com a interação entre vitamina C e
Trolox. Esta alteração não foi encontrada por Silva et al. (2012), onde a atividade
mitocondrial permaneceu igual apesar da adição de 30, 60 e 120 µM de Trolox.
Segundo (Koppers et al., 2008), a maior fonte de geração de EROs nas células
somáticas, é a mitocôndria, já que 2% do O2 consumido é convertido a em O2-, que
comumente é contrabalanceada por antioxidantes presentes na própria matriz
mitocondrial (Andreyev et al., 2005).
Na metodologia descrita por Hrudka, (1987), o 3,3’ diaminibenzidina (DAB) é
oxidado pelo complexo enzimático citocromo C oxidase presente nas mitocôndrias,
nesta reação o reagente é polimerizado e depositado no local da reação, e pode ser
identificado em microscopia óptica.
De Lamirande et al. (1997) discutem que as EROs além de serem importantes
para a movimentação do espermatozoide, agem estimulando o aumento do seu
59
metabolismo a ativação de enzimas, o que provavelmente esta relacionado com o
aumento da atividade mitocondrial.
No presente experimento a adição de antioxidantes foi prejudicial à atividade
mitocondrial, provavelmente porque eles neutralizaram as EROs que por sua vez
não tiveram concentração suficiente para estimular o metabolismo e a atividade das
mitocôndrias do espermatozoide.
Além disso, no tratamento com interação entre vitamina C e Trolox a queda de
atividade mitocondrial foi ainda maior. De acordo com Monteiro et al. (2005), a
vitamina E é regenerada pela vitamina C, sendo assim, a interação entre elas pode
ter potencializado o efeito antioxidante e a inibição das enzimas mitocondriais.
Com base no NRC, (1996) o requerimento de vitamina E para bovinos adultos
varia entre 50 a 100 UI/dia, ainda segundo esta fonte, os níveis desse nutriente nas
forragens é insignificante.
Todavia, as forragens são uma fonte importante de vitamina E para ruminantes,
uma vez que a concentração de α-tocoferol encontrada na carne de bovinos
produzidos em confinamento esta em cerca de 2 µg/g de músculo, enquanto a
mesma grama de tecido muscular de um boi produzido em pastejo varia entre 5 a
9,3 µg, (Yang et al., 2002). Desta forma, tem sido cada vez mais usado o
fornecimento de vitamina E dietética no fim do confinamento, já que este
componente em alimentos conservados sofre oxidação (Cusack et al., 2009).
Alguns autores demonstraram que a vitamina E é largamente destruída no rúmen
(Shin e Owens, 1990), porém estudos in vitro Han e Owens, (1999) demonstraram
que o líquido ruminal de animais alimentados com dietas ricas em concentrado ou
volumoso, incubados com α-tocoferol não resultou em desaparecimento significativo
desta substância.
Em experimento feito por Arguello, (2009) o suplemento forneceu 58 UI de
vitamina E, em contrapartida no presente experimento, os suplementos proteico e
proteico-energético fornecidos na época seca e chuvosa respectivamente, não
tinham concentrações significativas de vitaminas, contudo a demanda de α-tocoferol
para ação antioxidante no sêmen pode ter sido atingida apenas com a forragem.
Nesse sentido, mais estudos precisam ser realizados para elucidar o
metabolismo e absorção de vitaminas lipossolúveis no rúmen, bem como a
exigência delas para atividade antioxidante específica em cada tecido, dentre eles o
plasma seminal.
60
Conclusões
Portanto a adição de antioxidantes ao meio de criopreservação nas condições
estudadas não trouxe benefícios à oxidação dos lipídios espermáticos e ainda piorou
características como motilidade, vigor, integridade de membrana acrossomal e
atividade mitocondrial. Contudo, cabe lembrar que a demanda de vitaminas,
principalmente a vitamina E, pode ter sido suprida pela forragem consumida, nesse
sentido a suplementação do diluidor com antioxidantes tem potencial para ser usada
em situações de restrição alimentar.
61
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