manejo reprodutivo dos touros

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MANEJO PRODUTIVO DE TOUROS DE CORTEProf. Vencio Jos de Andrade Segundo estimativas do ANUALPEC (2004), em dezembro de 2003 o Brasil era detentor de um rebanho bovino estimado em 164.831.365 cabeas. Desse total 60.880.089 era constitudo por fmeas em idade de reproduo, das quais aproximadamente 6,0% eram submetidas ao protocolo de inseminao artificial (ASBIA, 2004). Baseado em tais estimativas conclui-se que aproximadamente 94,0% do rebanho bovino nacional servido em regime de monta natural a campo, o que impe aos tcnicos e criadores grande responsabilidade no tocante s avaliaes e critrios de seleo dos reprodutores a serem utilizados durante a estao reprodutiva. Um nico reprodutor pode servir a um grande nmero de fmeas, varivel com o sistema de acasalamento utilizado. A importncia de uma criteriosa avaliao dos mesmos, da puberdade maturidade sexual, envolvendo aferies peridicas das condies clnicas e fsicas dos rgos reprodutivos, dos membros locomotores, da qualidade fsica e morfolgica do smen, bem como do comportamento sexual, torna-se de grande importncia, uma vez que deles muito depender a taxa de fertilidade ao final da estao de monta. Deve-se ressaltar que o diagnstico da subfertilidade muito mais importante do que o da infertilidade, j que pode comprometer a produtividade do rebanho por um longo perodo quando no diagnosticada em tempo hbil. No entanto, o que se observa que os touros somente so submetidos a uma avaliao androlgica mais detalhada quando se observam problemas ou anomalias que afetam seu desempenho reprodutivo, ou as anormalidades so bastante perceptveis. Deve-se ter sempre em mente que os exames androlgicos, juntamente com as avaliaes do desempenho comportamental (libido e capacidade de servio) devem ser realizados rotineiramente, dentro de uma programao definida, o que resultar em benefcios em termos de aumentos da produtividade e do melhoramento gentico, uma vez que permitem a identificao e eliminao precoce de animais com problemas e seleo apenas daqueles que apresentam maiores potenciais reprodutivos. Segundo GALLOWAY (1989) e WILTBANK (1984) o touro considerado de alta fertilidade quando capaz de produzir em mdia 80 bezerros por ano ou quando em contato com um lote de 30-50 fmeas cclicas, fecundar em torno de 80-85% delas nos primeiros 21dias. Dentro deste conceito, todo cuidado deve ser dispensado na avaliao do futuro potencial reprodutivo dos touros. Devem ser avaliados aqueles aspectos inerentes idade puberdade e maturidade sexual, aos aspectos clnicos e androlgicos, biometria testicular, as caractersticas seminais, e ao comportamento sexual, o que permitir explora-los ao mximo pela adequao de seu potencial de servir ao maior nmero possvel de fmeas durante a estao de monta. ALTERNATIVAS DISPONVEIS Embora a fertilidade no touro merea maiores cuidados que na fmea, devido proporo de ventres servidos por um nico touro, seja no regime de monta natural ou no sistema de 1

inseminao artificial, o que se observa entre os criadores, que a nfase na seleo de caractersticas ponderais e de conformao racial, notadamente entre os criadores de raas puras, tem contribudo muitas vezes, para minimizar a ateno dispensada ao desempenho reprodutivo dos touros, no obstante a constatao de que em bovinos de corte, o desempenho reprodutivo cinco vezes mais importante que o crescimento e pelo menos dez vezes mais importante que a qualidade da carne produzida (Coulter, 1986). Se o objetivo fazer com que as fmeas do rebanho produzam uma cria a cada ano de sua vida produtiva, elas devero ficar gestantes nos primeiros dias da estao de monta, para que suas crias sejam produzidas nos primeiros dias da estao de nascimento, de tal forma que possam ter o tempo necessrio para a perfeita recuperao do trato genital bem como dos estresses da gestao anterior e assim se apresentarem em condies de serem servidas e fecundadas logo nos primeiros dias da estao de monta subseqente. Para que isto ocorra ser necessrio que os touros se apresentem em condies fsicas e fisiolgicas adequadas, notadamente naqueles aspectos relacionados aos eventos reprodutivos, logo no incio da estao de monta, principalmente naquelas situaes em que uma estao de monta limitada e bem definida utilizada. Vrios experimentos tm sido conduzidos em outros pases, bem como no Brasil, testando-se alternativas de manejo que possibilitem aos reprodutores atingirem a puberdade o mais precocemente possvel e apresentarem um adequado desempenho reprodutivo durante sua vida til, garantindo assim um alto percentual de fmeas gestantes, notadamente durante os primeiros dias da estao de monta, o que permitir a elas se tornarem produtoras regulares durante a vida produtiva. Considerando que um nico reprodutor pode servir a um grande nmero de fmeas, varivel com o sistema de acasalamento utilizado, a importncia de uma criteriosa avaliao dos mesmos, desde a puberdade at a maturidade sexual, envolvendo aferies peridicas das condies clnicas e fsica dos rgos reprodutivos, dos membros locomotores, da verificao da qualidade fsica e morfolgica do smen, bem como do comportamento sexual, torna-se de grande importncia, uma vez que deles muito depender a taxa de fertilidade ao final da estao de monta. Tais medidas iro no somente aumentar a taxa de nascimento, como tambm apresentar um retorno econmico mais elevado, considerando que touros testados, com smen de boa qualidade e de bom comportamento sexual podero servir a um nmero maior de fmeas, notadamente durante os primeiros dias da estao de monta, quando comparados queles que no se apresentam em adequadas condies fsicas, com problemas nos aspectos seminais e no comportamento sexual, bem como permitir uma maior presso de seleo daqueles reprodutores que realmente iro promover o melhoramento gentico das caractersticas de interesse zootcnico. IDADE A PUBERDADE E/OU MATURIDADE SEXUAL Tal como nas fmeas os machos possuem perodos que devem ser considerados, quando se trata do incio da atividade reprodutiva e desenvolvimento dos rgos genitais. A puberdade a idade onde o touro jovem apresenta libido, devido produo de testosterona (capacidade esteroidognica) e produz espermatozides (capacidade gametognica), funo esta coordenada por uma complexa inter-relao hormonal. O incio da manifestao destas

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caractersticas considerado como puberdade. Nesta fase o macho no possui ainda capacidade reprodutiva plena e deve ser utilizado na reproduo com reservas, pois embora possa ter libido, a quantidade e qualidade dos espermatozides no ejaculado so pequenas, e a fertilidade muito baixa. A maturidade sexual atingida cerca de dois a trs meses mais tarde em relao puberdade. a partir desta fase que o macho deve se iniciar na reproduo. Vale lembrar que pode iniciar a reproduo, mas ainda vai melhorar seu perfil espermtico at a idade adulta. Nesta fase, deve-se colocar o jovem touro com um nmero menor de fmeas, de tal forma que no venha a comprometer a eficincia reprodutiva do rebanho. Definir quando iniciar a reproduo dos machos um desafio maior que nas fmeas. No macho o incio da funo reprodutiva tem grande importncia, uma vez que um touro imaturo, com fertilidade no adequada pode prejudicar a taxa de gestao e comprometer a produo de um grande nmero de fmeas. Para que este problema no ocorra ser imprescindvel a avaliao androlgica de cada animal antes do mesmo iniciar a reproduo. Os resultados podem ajudar a determinar o nmero de fmeas a ser colocado com este touro. Fatores ambientes, tais como clima, manejo, nutrio, sanitrio, etc. podem afetar de forma marcante a idade em que os tourinhos atingem a idade puberdade e a maturidade sexual. Para as condies tropicais, onde 97,0% do Brasil se encontram, o fator de maior impacto sobre a idade puberdade est relacionado oferta quali-quantitativa de alimentos, notadamente durante os perodos de seca invernal, o que compromete sobremaneira o desenvolvimento dos animais. Aps atingir a puberdade, o animal precisar ainda de algum tempo para manifestar sua capacidade reprodutiva plena, uma vez que a quantidade e qualidade dos espermatozides no ejaculado so ainda inadequadas para se conseguir altos ndices de fertilidade. Somente aps a fase puberal, se observam marcadas mudanas quantitativas e qualitativas no potencial reprodutivas, expresso pelo aumento da concentrao espermtica, do volume seminal, da motilidade espermtica progressiva, do vigor espermtico, aliado reduo das patologias espermticas. Vrios estudos tm sido conduzidos no sentido de se estabelecer qual a idade mais apropriada para o incio da atividade sexual, bem como o grau de correlao entre algumas medidas testiculares e seminais com o comportamento sexual, no sentido de predizer precocemente possvel o futuro potencial do reprodutor, antecipando o incio da atividade reprodutiva, maximizando assim sua utilizao. A idade em que o animal atinge a puberdade e a maturidade sexual, o comportamento apresentado pelo mesmo durante a estao de monta em que esteja servindo, bem como as qualidades fsicas e morfolgicas do seu smen so fatores que podem impedir a obteno de uma alta eficincia reprodutiva. Considerando a idade puberdade como o momento em que o animal adquire capacidade para reproduzir, ou seja, quando o macho mostra interesse pela fmea (libido), produz espermatozides em qualidade e quantidade suficientes para promover a fertilizao (50 x 10 6 sptz/ml com no mnimo 10% de motilidade progressiva) mostra um completo desenvolvimento dos rgos sexuais primrios de forma a permitir a cpula, pode-se dizer que puberdade o primeiro potencial reprodutivo, enquanto que na maturidade sexual o reprodutor atingir seu potencial mximo. 3

Vista por este angulo, a puberdade , sem sombra de dvida, o marco inicial do processo reprodutivo e produtivo, com reflexos nos aspectos econmicos e no melhoramento gentico, uma vez que sua antecipao proporciona um mais rpido retorno do investimento, aumenta a vida til, ao mesmo tempo em que permite uma maior intensidade de seleo e reduz o intervalo entre geraes, resultando assim num maior ganho gentico por unidade de tempo. A idade puberdade e a durao do perodo de adolescncia (perodo compreendido entre a puberdade e a maturidade sexual) tm merecido grande ateno dos pesquisadores, uma vez que neste perodo ocorrer a grande maioria das transformaes que iro refletir no futuro desempenho do reprodutor. Nos trpicos, devido a fatores ligados aos rigores do clima e s condies genticas, tem sido demonstrado que a idade puberdade ocorre mais tardiamente. Na raa Nelore, este fato foi observado por Cardoso (1977) e por Fonseca et al (1975). Outros autores (Fields et al., 1982; Hardin et al., 1982 e Wildeus et al., 1984) estabeleceram uma idade entre 15 e 19 meses para verificao da puberdade em reprodutores Bos taurus indicus criados em regies de clima tropical. Em trabalhos conduzidos por Vale Filho (1986), no Canad, e por Cardoso (1977), em condies brasileiras (TAB. 9), foram observadas idades puberdade e maturidade sexual para Bos taurus taurus, respectivamente, de 6 a 8 e 12 a 14 meses e para Bos taurus indicus, variveis de 12 a 14 e de 24 a 30 meses. TABELA 9 - Idades puberdade e maturidade sexual em touros Bos taurus taurus e Bos taurus indicus, criados, respectivamente, em climas temperado e tropical Idade Puberdade (meses) Espcie Animal Puberdade Maturidade Sexual Bos taurus indicus* 12 - 14 24 - 30 Bos taurus taurus** 06 - 08 12 - 14 * Cardoso (1977); ** Vale Filho (1986) Em estudo com animais da raa Brahman (Hernandez-Prado et al., 1979), foi encontrado espermatozide no smen aos 12 meses de idade em 42% dos tourinhos. No entanto, ejaculados satisfatrios somente foram obtidos a partir dos 20 meses de idade. Embora poucos dados existam com relao s raas indianas, supe-se que para as condies nacionais, onde a quase totalidade dos rebanhos criada em regime extensivo, o fator primordial no atraso da idade puberdade e maturidade sexual se deva a deficincia nutricional. Os tourinhos devero ser alimentados nveis mais altos e, portanto obterem ganhos de pesos mais elevados, caso contrrio no alcanaro puberdade a uma idade mais precoce. Vale Filho et al. (1989), examinaram 55 tourinhos Nelore com 24 meses de idade quanto ao peso corporal, CE, volume ejaculado e percentagem de defeitos maiores (TAB 10). Trinta deles (grupo A) foram criados em pastagem artificial de Brachiaria decumbens e Andropogon sp, com suplementao protica durante o perodo de seca e 25 (grupo B), criados em pastagem nativa (Pannicum maximum) de baixa qualidade.

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TABELA 10 - Efeito da suplementao alimentar sobre a maturidade sexual em tourinhos Nelore de 24 meses de idade. Nvel Maturidade sexual Em fase de Com maturao Puberdade nutricional completa, % maturao, % retardada, % tardia, % Grupo A (n=30) 53,3 20,0 20,0 6,7 Grupo B (n=25) 0,0 32,0 36,0 32,0 Vale Filho et al. (1989) * Grupo A - pastagem de Brachiaria decumbens e Andropogon sp, mais suplementao protica durante o perodo de seca. Grupo B - Pastagem de Pannicum maximum. Observaram que, aos 24 meses de idade, no grupo A, 53,3% dos animais apresentavam caractersticas de maturidade sexual e 20% estavam em fase de maturao, comparados com 0,0% de tourinhos com maturao completa e 32,0% em fase de maturao no grupo B. Em estudos conduzidos por Waddad & Gaili (1985), comparou a idade a puberdade de tourinhos alimentados "ad libitum" com aqueles restritos em 35% em relao ao primeiro grupo. Observaram que a puberdade ocorria mais cedo e a um peso mais leve no grupo alimentado "ad libitum", em relao ao grupo restrito. A partir de ento vrios estudos tm demonstrado que touros Bos taurus indicus atingem a puberdade mais tardiamente que os Bos taurus taurus (Romo, 1981, no Texas e Fields et al. 1982, na Flrida). Em trabalho conduzido por Sosa Flores (1972), com animais da raa Brahman, ficou evidente que o peso ao nascimento, a desmama e aos 18 meses foi altamente correlacionado com a concentrao espermtica e medidas testiculares aos 22 meses de idade, evidenciando o efeito do fator nutricional. Pelos resultados relatados na literatura pode se observar, uma grande variao na idade puberdade, tanto dentro quanto entre raas. Tal variabilidade permite uma grande possibilidade de melhoria do nvel de produo desta caracterstica pelo uso de programas de seleo, bem como da melhoria das condies de meio ambiente, notadamente a nutrio. Vrios outros fatores podero, no entanto, provocar variaes considerveis na idade em que tais fenmenos so registrados, atravs de alteraes nas funes dos rgos reprodutivos. Dentre as alteraes que podero acometer o reprodutor esto a degenerao testicular, as doenas que podem afetar os testculos e as glndulas anexas e, conseqentemente, a fertilidade, sendo que, muitas delas so de origem gentica e outras, como a degenerao testicular, adquiridas. Da a importncia da avaliao clnica e androlgica completa de todos os reprodutores jovens e adultos que servem ao rebanho, no s com o objetivo de antecipar o incio da atividade reprodutiva, mas tambm objetivando eliminarem-se aqueles touros inaptos ao exerccio da funo reprodutiva, e que podero comprometer o retorno econmico da atividade. A maturidade sexual atingida cerca de dois a trs meses mais tarde que a puberdade. a partir desta fase que o macho deve iniciar a reproduo. Vale lembrar que pode iniciar a reproduo, mas ainda vai melhorar seu perfil espermtico at a idade adulta. Assim, nesta

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fase, deve ser executar um nmero menor de montas, ou seja, ser colocado com um nmero menor de fmeas. Definir quando iniciar a reproduo dos machos certamente uma dvida ainda maior que em relao s fmeas. No macho esta questo apresenta maior importncia, pois um touro imaturo, com fertilidade no adequada pode prejudicar a taxa de gestao e comprometer a produo de um grande nmero de fmeas. Para que este problema no ocorra imprescindvel a avaliao androlgica de cada animal antes do mesmo iniciar a reproduo, o que permitir o diagnstico de seu potencial atual, bem como determinar o nmero de fmeas no lote que ele ir servir. AVALIAO CLNICO-ANDROLGICA At final dos anos 80 a avaliao dos reprodutores contemplava apenas aspectos clnicos do animal e fsicos e morfolgicos do smen. Raramente a circunferncia escrotal era avaliada, com o objetivo de certificar o reprodutor para o exerccio da funo reprodutiva. Tambm no se levava em considerao aspectos comportamentais, os quais tm comprovado, juntamente com as avaliaes androlgicas, sua grande importncia na eficincia produtiva e reprodutiva dos rebanhos. O exame androlgico no deve ser entendido como um teste de fertilidade, mas sim, como um teste para detectar touros com baixo potencial reprodutivo. Antes de se iniciar o exame propriamente dito, observam-se as caractersticas externas do animal, com nfase para o sistema locomotor, uma vez que dele depende o sucesso da monta. Problemas como contuses, fibromas, problemas de casco so passveis de tratamento, no prejudicando a atividade sexual futura. Aqueles animais com defeitos de conformao, normalmente de origem gentica, devem ser descartados. Somente aqueles touros considerados fisicamente satisfatrios sero submetidos s avaliaes mais especficas. O exame androlgico no garante a aptido reprodutiva do animal por um perodo muito prolongado, principalmente no caso de touros de monta a campo, que esto expostos a muitos fatores que podem prejudicar sua fertilidade, como traumatismos, estresse trmico, ou mesmo doenas sistmicas. Portanto, importante que o exame androlgico seja repetido periodicamente, de preferncia uma vez por ano, antes do incio da estao de monta. O exame androlgico completo inclui o exame das glndulas seminais, dos testculos, dos parmetros espermticos (motilidade progressiva, vigor e patologia espermtica) e da capacidade de monta e teste da libido. O exame dos testculos muito importante, uma vez que os mesmos apresentam duas funes fundamentais: a espermatognese (produo de espermatozides), que dura cerca de 61 dias, e a produo do hormnio sexual masculino, a testosterona. Dessa forma, realizada cuidadosa palpao para se detectarem alteraes de conformao, de consistncia e sensibilidade. BIOMETRIA TESTICULAR Na maioria das propriedades, o nico exame aos quais os touros so submetidos, no sentido de certific-los como aptos reproduo se relaciona ao exame fsico e morfolgico do material ejaculado. No entanto, o fato do touro se apresentar com smen de boa qualidade no o credencia com um bom reprodutor, uma vez que outros fatores, tais como libido, capacidade

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de servio, aprumos, etc., desempenham um importante papel no resultado final da eficincia reprodutiva do plantel. Na avaliao da sade reprodutiva dos touros deve ser considerado o exame do sistema genital (testculos, prepcio, epiddimo, glndulas vesiculares), do material ejaculado, da capacidade de servir ou no a uma fmea em cio, bem como do aparelho locomotor, uma vez que no Brasil mais de 95% das fmeas em idade de reproduo so submetidas ao regime de monta natural, a campo. O exame das glndulas internas (prstatas e vesculas seminais) realizado por palpao retal e importante pelo fato de principalmente as vesculas seminais produzirem o lquido seminal, que entra em ntimo contato com as clulas espermticas e pode exercer efeitos marcantes sobre a capacidade fecundante dos espermatozides; a presena de alteraes nas mesmas (vesiculites), dificilmente so recuperveis. Objetivando desenvolver critrios de avaliao dos reprodutores, que permitam predizer o mais precocemente possvel o futuro potencial reprodutivo, vrios autores tm procurado quantificar as respostas dos mesmos naqueles aspectos relacionados s caractersticas seminais, biometria testicular e comportamento sexual, estabelecendo assim tabelas de pontos para suas classificaes. Dentre as diferentes caractersticas estudadas, ateno especial tem sido dada circunferncia escrotal, a motilidade e morfologia espermticas, associadas ao comportamento sexual, para determinao da habilidade reprodutiva e da relao touro/vaca, durante a estao de monta. CIRCUNFERNCIA ESCROTAL (CE) A biometria testicular est diretamente relacionada com o desenvolvimento testicular e proporciona uma medio indireta da capacidade de produo de espermatozides e da puberdade, apresentando correlao com vrias caractersticas reprodutivas do prprio animal e de sua prole. Portanto, a biometria testicular pode ser utilizada como um parmetro de seleo de touros jovens. A medida da CE um mtodo til na predio do futuro potencial reprodutivo dos touros jovens, uma vez que dentro da mesma raa, idade e condies de manejo, o tamanho dos testculos altamente correlacionado com a produo e concentrao espermticas em animais jovens (Amann & Almquist, 1962; Costa e Silva, 1994). um parmetro de alta confiabilidade, uma vez que apresenta alta repetibilidade entre tcnicos ou entre estaes do ano (Hanan et al., 1969; Falcon, 1981; Fonseca et al. 1992; Wildeus & Hammond, 1993; Costa & Silva, 1994). Segundo Coulter et al. (1976), a CE apresenta alta repetibilidade (0,98), moderada a alta herdabilidade (Coulter & Keller, 1979; Lunstra et al. 1988) e estreita relao com outras caractersticas reprodutivas no s nos machos, mas tambm nas fmeas (Toelle & Robinson, 1985). Para cada cm a mais na CE, acima da mdia da populao, registrou-se um incremento de 0,25 cm na circunferncia escrotal dos filhos e 3,86 dias de antecipao na idade da primeira ovulao de suas filhas (Brinks, 1978).

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Altas correlaes entre circunferncia escrotal e idade puberdade tm sido registradas, no s para raas europias, mas tambm para raas indianas. Lunstra et al. (1978) relataram correlao de -0,65 entre a circunferncia escrotal e idade puberdade, independente da idade, raa ou peso corporal. Resultados similares foram observados nas raas indianas e seus cruzamentos (Oyedipe et al., 1981; Vieira et al., 1988). Correlaes genticas entre a CE de tourinhos de sobreano e idade puberdade, de suas meioirms, variando de -0,71 a -1,07, foram relatadas por Brinks et al. (1978). Fmeas servidas por touros adultos, com CE abaixo de 30 cm exibiram taxas de gestao de apenas 31,0% (Smith et al., 1981). Correlaes positivas entre CE e produo quali-quantitativa de smen, motilidade progressiva, percentagem de espermatozides vivos, volume e concentrao, foram relatadas por vrios autores (Knights et al., 1984; Gipson et al., 1984; Brinks, 1987; Madrid et al., 1988; Temblador & Gonzales, 1988). Estudando a prognie de 63 touros Toelle & Robison (1985), em estao de monta de 90 dias, estimaram correlaes genticas entre a biometria testicular e a taxa de prenhez (r = 0,62), idade primeira cobrio (r = -0,55) e idade ao primeiro parto (r = -0,66) em 645 fmeas. Concluram eles que a seleo dos machos pelo tamanho testicular leva, indiretamente, a um melhoramento nos ndices reprodutivos da prognie feminina, particularmente aqueles referentes idade ao primeiro parto e s taxas de prenhez. No Brasil, Martins Filho & Lobo (1991), no nordeste do estado de So Paulo, mensuraram a CE de 393 touros Nelore e a idade ao primeiro parto de 703 de suas filhas. A correlao gentica entre ambas as caractersticas foi de - 0,44, sugerindo a possibilidade de seleo indireta de fmeas pela da seleo de reprodutores pela CE. Em touros Guzer e Nelore, com idade mdia de 18 meses, mantidos a pasto e suplementados com feno e concentrado (Troconiz et al., 1991) encontraram correlaes positivas, variando de moderadas a altas (p0,05 a = erro padro das mdias dos grupos No entanto, quando de usaram dois touros, um de baixa e outro de alta capacidade de servio, no mesmo lote de fmeas, no se registrou diferena no nmero de montas, mas o nmero de servios foi maior no touro de alta capacidade de servio (TAB. 12). Quando comparado ao lote com apenas um touro, o nmero de montas aumentou significativamente, tanto para o touro com baixa como para o com alta CS, possivelmente devido presena de um segundo touro no lote (Lunstra, 1986). TABELA 12 - Mdias dos quadrados mnimos de algumas caractersticas do comportamento de 10 touros com alta CS e 10 com baixa CS em lotes com apenas um ou com dois touros (relao touro:vaca 1:15). Lote com um touro Lote com dois touros Caracterstica Baixa CS Alta CS Baixa CS Alta CS EPa Nmero de montas 19,00c 14,30c 28,40d 24,90d 3,50 Nmero de servios 7,40e 7,20e 8,60e 14,90f 1,50 Eficincia dos servios 0,22g 0,36h 0,24g 0,39h 0,04 Relao monta:servio 2,70g 1,70h 4,80g 1,80h 0,90 Nmero de novilhas servidas 4,10e 3,90e 6,00e 8,90f 0,90 Servios/novilha servida 1,70 1,90 1,50 1,70 0,20 Godfrey & Lunstra (1989). a = Erro padro das mdias dos grupos Mdias dentro das linhas com letras diferentes diferem para tipo de teste (p 70 < 50 Total de pontos 20 12 10 3 MORFOLOGIA ESPERMTICA Defeitos maiores, % 10 - 19 20 - 29 < 10 > 29 Total de defeitos, % 26 - 39 40 - 59 < 25 > 59 Total de pontos 40 25 10 3 CIRCUNFERNCIA ESCROTAL, cm Idade em meses: 12 - 14 30 - 32 30 > 34 < 30 15 - 20 31 - 36 31 > 36 < 31 21 - 30 32 - 38 32 > 38 < 32 34 - 39 34 < 30 > 39 < 34 Total de pontos 40 24 10 10 American Soc. Theriogenology (1976), adaptado por Chenoweth & Ball (1980). Sistema classificatrio - Satisfatrio, de 60 a 100 pontos, Questionvel, de 30 a 59, Insatisfatrio, menos de 30 pontos. Em 1971, Osborne et al., propuseram um teste para avaliao da libido e habilidade de monta em touros de corte jovens, classificando os em uma escala de 0 a quatro, aps observao do comportamento sexual por um perodo de cinco minutos, em curral com fmeas com cio induzido. Em 1974, Chenoweth & Osborne, introduziram algumas modificaes, alterando o sistema de pontificao (TAB. 14), que passou a variar de zero a dez, pela utilizao de fmeas no obrigatoriamente em cio, e contidas em troncos preparados para este fim, observando-se todas 12

as atitudes que o touro demonstrava frente a uma fmea em estro, por um perodo de cinco minutos. TABELA 14 - Tabela de pontos para avaliao do comportamento sexual de touros. Notas A t i t u d e s 0 Touro no mostrou interesse sexual 1 Interesse sexual mostrado apenas uma vez (ex. cheirou a regio perineal) 2 Positivo interesse pela fmea em mais de uma ocasio 3 Ativa perseguio da fmea com persistente interesse sexual 4 Uma monta ou tentativa de monta, mais nenhum servio 5 Duas montas, ou tentativas de monta, mas nenhum servio 6 Mais de duas montas ou tentativas de monta, nas nenhum servio 7 Um servio (monta completa ou cpula), seguido de desinteresse sexual 8 Um servio, seguido por interesse sexual (montas ou tentativas de monta) 9 Dois servios, seguido de desinteresse sexual 10 Dois servios, seguido por interesse sexual (montas, tentativas ou servios).Osborne et al. (1971), modificado por Chenoweth & Osborne (1974). OBS - teste com durao de cinco minutos, no qual o touro era exposto a uma fmea em um pequeno curral de fcil observao.

A relao entre a capacidade de servio e a fertilidade do rebanho foi demonstrada por Blockey (1978). Touros de baixa, mdia e alta capacidade de servio apresentaram taxas de concepo ao primeiro servio e taxas mdias de gestao ao final da estao de monta significativamente diferentes (TAB. 15). TABELA 15 - Taxas de gestao ao primeiro servio e ao final da estao de monta, para touros com diferentes capacidades de servio. N de servios Taxa de concepo ao Taxa de gestao ao final da em 40 minutos primeiro servio estao de monta 0 - 2 (baixa) 21,0 (4,0 - 40,0) 33,0 (4,0 - 67,0) 3 - 6 (mdia) 60,0 (55,0 - 68,0) 92,0 (89,0 - 96,0) 7 - 11 (alta) 73,0 (70,0 - 78,0) 97,0 (90,0 - 100,0) Blockey (1978) P 11 136,0 95,0 80,0 13

Blockey (1978) Com ligeiras adaptaes, esta tabela vem sendo utilizada no Brasil para avaliao de animais das raas europias (Mies Filho et al., 1982). Para as raas zebunas, vrias tabelas para classificao dos reprodutores tm sido propostas (Fonseca et al., 1989; Vale Filho, 1989). A utilizao da tabela de pontos para avaliao androlgica de touros Zebu (TAB.17), proposta por Fonseca et al. (1989), juntamente com a tabela de pontos para avaliao do comportamento sexual dos touros (TAB. 14) proposta por Chenoweth & Osborne (1974), permite identificar aqueles reprodutores altamente frteis e que podero aumentar substancialmente as atuais taxas de fertilidade registradas. TABELA 17 - Classificao androlgica sugerida para touros Zebu, baseada na circunferncia escrotal e nas caractersticas fsico-morfolgicas do smen. C l a s s i f i c a o Parmetros analisados Excelente Muito bom Bom Questionvel MOTILIDADE ESPERMTICA Vigor (escala de 0 a 5) 5 4a 15 a 20 > 20 Total de defeitos, % 15 > 15 a 20 > 20 a 30 > 30 Total de pontos 35 - 40 25 - 34,99 15 - 24,99 0 - 14,99 CIRCUNF. ESCROTAL, cm Idade em meses : 24 - 35 > 32 30 < 32 28 < 30 < 28 36 - 47 > 34 32 < 34 30 < 32 < 30 48 - 59 > 36 34 < 36 32 < 34 < 32 < 60 > 38 36 < 38 33 < 36 < 33 Total de pontos 35 - 40 25 - 34,99 15 - 24,99 0 - 14,99 Total do Reprodutor (pontos) 86 - 100 62 - 86 40 - 62 < 40 Fonseca et al. (1989) A aplicao do teste de avaliao do comportamento sexual em duas fazendas do estado de Minas Gerais (TABELA 18), por ocasio do incio da estao de monta (Fonseca 1989), revelou que a libido de touros Zebu muito baixa, uma vez que de um total de 185 touros, 137 (74,0%) deles no conseguiram uma s monta completa (notas de zero a seis). TABELA 18 - Pontuao obtida por touros submetidos ao teste de libido, em duas fazendas. C l a s s i f i c a o Questionveis Bons Muito bons Excelentes Fazendas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 A 3 5 2 1 10 4 6 7 25 0 4 B 19 8 13 3 12 15 38 1 8 0 3 A+B 22 13 15 4 22 19 42 8 33 0 7 Fonte - Fonseca (1989) diferentes

Total 67 118 185

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Do ponto de vista da qualidade biolgica do smen e da biometria testicular os resultados obtidos nas mesmas fazendas, foram mais animadores, embora no totalmente satisfatrios. De um total de 171 touros testados 68 (39,76%) deles apresentavam algum distrbio de fertilidade no momento do exame (TAB. 19). TABELA 19 - Pontuao obtida por touros classificados com base na circunferncia escrotal e nas caractersticas fsico-morfolgicas do smen. F a z e n d a Classificao A B A+B Aptos Excelentes n 8 7 15 % 14,88 5,99 8,77 Muito Bons n 34 43 77 % 63,00 36,75 45,03 Bons n 3 8 11 % 5,55 6,84 6,44 Questionveis Aptos c/ restrio n 3 21 24 % 5,55 17,94 14,03 Inaptos recupervel. n 2 8 10 % 3,7 6,84 5,84 Inaptos definitivos N 4 30 34 % 7,40 25,40 19,89 Total n 54 117 171 % 100 100 100 Fonte - Fonseca (1989) Se forem considerados os problemas de baixa libido associados aos problemas da qualidade biolgica do smen, a situao torna-se ainda mais catica. Os dados observados anteriormente so suficientes para justificar a necessidade da avaliao androlgica e do comportamento sexual dos reprodutores quando do incio da estao de monta. Vale Filho (1989) prope, para as raas zebunas, a utilizao de uma Classificao Androlgica por Pontos (CAP), pela associao da tabela de classificao androlgica proposta por Chenoweth & Ball (1980), porm com adaptaes quanto circunferncia escrotal. Com base em estudos de Cardoso (1977) e de Vale Filho (1986 e 1987) o autor sugere para touros zebunos criados no Brasil, o dobro da idade para a mesma CE, nas diferentes faixas etrias discriminadas para Bos taurus taurus. Salienta ainda que dependendo das condies ambientes, notadamente nutricionais, as medidas preconizadas por Chenoweth & Ball (1980), para as raas europias aos 12-14 meses, somente sero atingidas pelas raas zebunas aos 30-36 meses de idade. Com relao libido, sugere que seja aferida pela presena do touro, por um perodo de cinco minutos, num lote de 20 fmeas, sendo trs em cio, considerando de alta libido o touro que apresentaram salto e galeio; mdia libido quando o touro saltar, mas no se observar galeio, e baixo libido, quando houver apenas identificao das fmeas em cio, porm sem salto.

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Em estudos conduzidos por Vale Filho et al. (1994a), na regio de Una, MG, com tourinhos da raa Nelore, com idade de dois, trs e quatro anos, criados extensivamente e submetidos classificao androlgica por pontos (CAP) de acordo com proposta de Vale Filho (1989), para seleo e uso como reprodutores em estao de monta de 58 dias, com um total de 20 fmeas, registraram-se os valores para CE e libido, de 31,9 1,4 e 1,9 1,0; 33,5 1,7 e 2,2 1,0; 34,2 2,1 e 1,5 1,0, respectivamente para touros de dois, trs e quatro anos de idade (TAB. 20) No tocante s caractersticas seminais e CAP, registraram-se, para defeitos maiores, total de defeitos, motilidade progressiva e CAP, respectivamente, 9,1 4,7, 14,9 7,7, 63,98 9,8, 68,4 8,8 para touros de dois anos; 4,7 2,6, 7,2 3,5, 77,3 10,1, 83,8 6,2 para touros de trs anos e 4,0 1,7, 8,0 4,1, 65,5 7,8, 75,6 8,9 para touros de quatro anos (TAB. 21). TABELA 20 - Biometria testicular e libido de touros Nelore, com dois, trs e quatro anos de idade, criados extensivamente na regio de Una, MG. I d a d e ( a n o s ) Caractersticas estudadas Dois (n=10) Trs (n=11) Quatro (n=11) Peso, kg 438,0 51,0 601,0 42,1 621,9 30,2 Circunferncia escrotal, cm 31,9 1,4 33,5 1,7 34,2 2,1 Libido* 1,9 1,0 2,2 1,0 1,5 1,0Vale Filho et al. (1994a) * aferida pela presena do touro, por um perodo de cinco minutos, num lote de 20 fmeas, sendo trs em cio, sendo considerado de alto libido o touro que apresentou salto e galeio; mdio libido quando o touro saltou mas no se observou galeio, e baixo libido, quando houve apenas identificao das fmeas em cio, porm sem salto.

Num segundo estudo Vale Filho et al. (1994b), utilizaram-se 13 tourinhos da raa Nelore, com dois e 13 com trs anos de idade, em estao de monta de 58 dias, com um total de 20 ou 30 novilhas por lote, separados em piquetes de Brachiaria decumbens, de 20 ha. Os tourinhos, aps exame clnico-androlgico e capacidade de servio, foram classificados pelo CAP e pela libido, para verificao do desempenho reprodutivo ao toque intermedirio e ao final da estao de monta (TAB. 22 e 23). TABELA 21 - Caractersticas do smen e classificao androlgica por pontos (CAP), de touros Nelore de dois, trs e quatro anos de idade, criados extensivamente na regio de Una, MG. I d a d e ( a n o s ) Caractersticas do smen Dois (n=10) Trs (n=110 Quatro (n=11) Tempo gasto no estmulo, segundos* 59,1 36,7 23,2 10,5 47,7 37,5 Defeitos maiores, % 9,1 4,7 4,7 2,6 4,0 1,7 Defeitos totais, % 14,9 7,7 7,2 3,5 8,0 4,1 Motilidade progressiva retilnea, % 63,5 9,8 77,3 10,1 65,5 7,8 CAP** 68,4 8,8 83,8 6,2 75,6 8,9Vale Filho et al (1994a). * smen colhido com auxlio de eletroejaculador. **CAP estabelecida numa escala de 1 a 100 sendo : muito boa (acima de 80 pontos), boa (de 70 a 80 pontos), regular (de 60 a 70 pontos).

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TABELA 22 - Classificao androlgica por pontos (CAP), versus libido, na eficincia reprodutiva de touros de dois e trs anos de idade, em estao de monta de 58 dias, criados extensivamente na regio de Una, MG. T a x a s d e f e r t i l i d a d e C A P * L i b i d o 3 2 1 Alta Mdia Baixa Ao toque intermedirio 70,4 72,0 74,3 74,0 75,1 67,6 Ao final da estao de monta 84,0 84,6 84,6 86,0 83,0 83,7 Vale Filho et al. (1994b).*CAP estabelecida numa escala de 1 a 100 sendo: Muito boa (acima de 80 pontos), Boa (de 70 a 80 pontos), Regular (de 60 a 70 pontos). ** aferida pela presena do touro, por um perodo de cinco minutos, num lote de 20 fmeas, sendo trs em cio, sendo considerado de alta libido o touro que apresentou salto e galeio; mdia libido quando o touro saltou, mas no se observou galeio, e baixa libido, quando houve apenas identificao das fmeas em cio, porm sem salto.

TABELA 23 - Taxa de gestao ao final da estao de monta (58 dias) para tourinhos Nelore de dois anos de idade, com diferentes CAP e Libido, em lotes de 20 fmeas. Classificao androlgica por pontos (CAP) Libido Regular Boa Muito Boa Baixa 84,5 0,7 83,0 8,9 Mdia 79,5 0,7 84,6 6,1 84,2 0,0 alta 88,0 2,6 85,0 21,2 84,9 14,7 Vale Filho et al. (1994b).*CAP estabelecida numa escala de 1 a 100 sendo: Muito boa (acima de 80 pontos), Boa (de 70 a 80 pontos), Regular (de 60 a 70 pontos). ** aferida pela presena do touro, por um perodo de cinco minutos, num lote de 20 fmeas, sendo trs em cio, sendo considerado de alta libido o touro que apresentou salto e galeio; mdia libido quando o touro saltou, mas no se observou galeio, e baixa libido, quando houve apenas identificao das fmeas em cio, porm sem salto.

PROPORCO TOURO/VACA DURANTE A ESTAO DE MONTA "Qual relao touro: vaca a ser utilizada?", esta pergunta se repete em toda estao de monta, e tradicionalmente observa-se a relao de um touro para cada 25 vacas. Esta relao, muitas vezes, subestima o potencial reprodutivo do touro, ocasionando em menor nmero de descendentes, prejudicando assim melhoramento gentico do rebanho. Diversos estudos tm sido conduzidos, procurando determinar o nmero ideal de fmeas a serem colocadas com um nico reprodutor durante a estao de monta, sem que haja prejuzo da fertilidade final. Os testes de avaliao tm mostrado que touros com maiores CE, com alto percentual de espermatozides mveis, com baixa patologia espermtica e com alta libido podem servir a um maior nmero de fmeas durante a estao de monta. Tais touros tm demonstrado serem capazes de servir a um grande nmero de fmeas nos primeiros dias da estao de monta, o que permite aumentar a quantidade de quilos de bezerros desmamados, uma vez que sero produzidos mais cedo durante a estao de

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nascimento, aumentando assim o retorno econmico da atividade, pela diminuio dos custos de produo dos bezerros. Por outro lado, o fato da fmea ser servida e ficar gestante nos primeiros dias da estao de monta, permite a ela produzir seu bezerro nos primeiros dias da estao de nascimento, de tal forma que ter o tempo suficiente para se recuperar dos estresses da gestao e da lactao e assim se apresentar em condies fsicas e fisiolgicas adequadas no incio da estao de monta subseqente, tornando-se assim uma produtora regular durante sua vida produtiva. Em estudo conduzido por Rupp et al. (1977), com touros em sistemas de acasalamento individual ou mltiplo, em lotes de 25, 40 ou 60 fmeas, em estao de monta de 21 dias, no foram constatadas diferenas significativas na taxa de fertilidade entre os trs grupos. Resultados similares foram registrados por Neville et al. (1979), trabalhando com touros de dois e trs anos de idade, selecionados de acordo com os critrios anteriormente descritos e utilizados em sistema de monta natural, em lotes de 25 ou 40 fmeas, em estao de monta de 90 dias, sem que fossem observadas diferenas significativas na fertilidade dos lotes. Tambm Neville et al. (1988) compararam o desempenho de touros Angus, Polled Hereford e Santa Gertrudis, expostos a lotes de 40 e 50 vacas em uma estao de monta de 90 dias. Os resultados aps trs anos de observao no revelaram diferenas entre grupos ou raas, concluindo que o custo de manuteno de touros pode ser grandemente reduzido pela mais adequada utilizao dos mesmos. Trabalhando com touros das raas europias, Galloway (1989) estimou um produo mdia diria de espermatozides de 4 200 x 106 (15 x 106 sptz/g) para touros com CE de 30 cm e peso testicular de 280g, o que seria suficiente para um total de quatro ejaculados dirios (1000 x 106 espermatozides em cada ejaculado), ou seja, 84 ejaculados no perodo de 21 dias, o que seria suficiente para fecundar 42 vacas, considerando-se dois ejaculados por fmea (TAB.24). TABELA 24 - Capacidade de servio de touros em termos da funo testicular e produo espermtica. Circunferncia Peso total Produo N de N de N de fmeas escrotal dos testculos diria de ejaculados ejaculados possveis de (cm) (g) espermatozides por dia em 21 dias serem servidas 30 280 4 200 x 106 4 84 42 35 450 6 750 x 106 6 126 63 6 40 700 10 500 x 10 10 210 105 Galloway (1989). Em outro estudo, Blockey (1981) observou, para touros com alta capacidade de servio, uma variao de 93 a 105 servios num perodo de 19 dias, ou seja, uma variao de 4,9 a 5,5 servios/dia, o que corresponde a um total de 59 a 85 fmeas servidas, considerando-se no mnimo um servio por fmea (TAB. 25). TABELA 25 - Desempenho de touros em termos de capacidade de servio, num perodo de 19 dias. Touro Servios Mdia de N de fmeas servidas no n em 19 dias servios/dia mnimo uma vez 9 105 5,5 85 18

7 96 5,0 59 3 93 4,9 75 Blockey (1981). Estudos com as raas zebunas so ainda escassos. No entanto, naqueles trabalhos onde se utilizaram touros avaliados pela CE, qualidade seminal e comportamento sexual, com propores de fmeas maiores que as comumente utilizadas, obtiveram-se resultados significativamente positivos (Fonseca, 1989; Crudeli et al., 1990; Vale Filho et al., 1994). Fonseca (1989) sugere que a proporo touro/vaca utilizada na grande maioria dos rebanhos nacionais poder ser grandemente modificada com a utilizao de touros com alta classificao nos aspectos relacionados CE, qualidade do smen e comportamento sexual. Trabalhando com touros Nelore com CE varivel de 33 a 37 cm e com capacidade de servio alta, mdia e baixa, em estao de monta de 120 dias, com uma proporo de 40,3 vacas por touro Crudeli (1990) no observou diferena (p>0,05) entre os grupos, com relao fertilidade a campo. Concluram que o nmero de vacas utilizado no foi suficiente para determinar diferenas na fertilidade entre os touros considerados superiores, dos quais se esperava melhor desempenho (TAB. 26). TABELA 26 - Taxas de gestao obtidas para touros Nelore, adultos, com alta, mdia e baixa capacidade de servio, aos 30 60, 90 e 120 dias da estao de monta. Capacidade T a x a s d e g e s t a o a o s, % de servio 30 dias 60 dias 90 dias 120 dias Alta 71,7 83,5 88,1 89,1 Mdia 68,6 80,5 91,06 91,8 Baixa 65,1 77,4 84,9 88,7 Mdia geral 68,5 5,2 80,5 4,6 88,4 6,1 89,9 4,0 Crudeli (1990) OBS - 40 fmeas por lote Santos et al. (2000) recentemente avaliaram o potencial reprodutivo de touros da raa Nelore submetidos a diferentes relaes touro: vaca, e seus efeitos sobre a fertilidade do rebanho. Foram selecionados 56 touros da raa Nelore, com sete a dez anos de idade, sendo estes submetidos avaliao androlgica e ao teste de libido. Destes animais foram selecionados apenas 20 touros com libido muito boa a excelente (7-10), que foram distribudos em acasalamento coletivo, em quatro tratamentos: T1=1:25, (5 touros para 125 vacas); T2=1:50, (5 touros para 250 vacas); T3=1:75, (5 touros para 375 vacas) e; T4=1:100 (5 touros para 500 vacas). Os touros usavam bual marcador com diferentes cores para identificar as fmeas cobertas. Os animais foram avaliados por 45 dias, sendo feitos rodeios e anotao diria das fmeas e cores marcadas. O diagnstico de gestao foi feito por palpao retal 60 e 90 dias aps o incio da estao de monta. Os autores observaram que a relao touro:vaca no alterou significativamente as taxas de gestaes para estao de monta de 45 dias, obtendo-se 42,2; 39,1; 50,8; e 41,5% de gestao nas propores de 1:25, 1:50, 1:75 e 1:100, respectivamente. Observou-se que das 1250 vacas que compunham os tratamentos, 738 (59,0%) foram marcadas pelos touros, destas, 624 (84,5%), 112 (15,2%) e 02 (0,3%) foram marcadas por um, dois e trs touros, respectivamente. Esses dados indicam que as maiorias das fmeas bovinas so cobertas por apenas um touro.

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Mais recentemente Fonseca (2000) sugeriu baseado no confronto dos testes de avaliao androlgica, em que os animais so classificados em excelentes, muito bons, bons e questionveis, e dos testes de comportamento, em que os animais receberam classificao idntica, a relao touro: vaca recomendada para cada categoria de touro durante a estao de monta (TAB. 27). TABELA 27 Nmero de vacas recomendado por touro, baseado no teste de avaliao fsico-morfolgica do smen e circunferncia escrotal (teste 1) e comportamento sexual (teste 2). Teste 2 Teste 1 Excelente Muito bom Bom Questionvel Excelente 80 70 60 50 Muito bom 60 55 50 40 Bom 50 45 40 30 Questionvel 40 30 25 15 Fonte: Fonseca (2000) Em um primeiro experimento Fonseca (2000) utilizou nove reprodutores, selecionados de um grupo de 74 touros classificados como excelentes, ou muito bons, bons e questionveis em ambos os testes, com CE variando de 33,0 a 37,0 cm e com defeitos maiores de 1,0 a 31,0% e totais de 5,0 a 60,0%, com lotes de 40 fmeas, obtendo-se os resultados de taxas de gestao apresentados na TAB. 28. TABELA 28 Taxas de gestao registradas por nove touros, em lotes de 40 fmeas solteiras, em estao de monta de 120 dias Gestao obtida aps o incio da EM, % N do touro 30 dias 60 dias 90 dias 120 dias 1 68,3 85,3 92,7 92,7 2 68,3 82,9 92,7 95,0 3 61,3 72,7 75,0 86,3 4 68,2 79,5 84,1 84,1 5 63,4 78,0 90,2 90,2 6 67,5 75,0 85,0 85,0 7 78,6 85,7 90,5 90,5 8 74,2 80,6 90,3 90,3 9 66,6 84,6 94,8 94,8 Mdia 68,4 5,2 80,5 4,6 88,3 6,1 89,9 4,0 Fonte : Adaptado de Fonseca (2000) P>0,05 O autor concluiu que no houve comprometimento da taxa de gestao, demonstrando a viabilidade da utilizao de uma proporo de vacas muito superior comumente utilizada pelos criadores, desde que os touros sejam avaliados quanto aos aspectos clinco-androlgicos e comportamentais. Com base nos resultados observados com a proporo touro:vaca de 1:40 Fonseca (2000) idealizou um segundo experimento utilizando-se a proporo 1:60, novamente trabalhando com novilhas e vacas solteiras, portanto com maior presso de cios, com o objetivo de se testar o limite da potencialidade dos touros Nelore.

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Foram utilizados 16 touros previamente avaliados, sendo selecionados oito deles para o teste com 60 fmeas, em lotes individualizados, em estao de monta de 90 dias. Os oito touros restantes receberam 40 fmeas cada e funcionou como lote testemunha. A CE variou de 33,50 0,5 a 41,83 0,76 cm, os defeitos maiores de 3,0 2,65 a 26,0 11,0 e defeitos totais de 8,67 2,52 a 56,52 3,21% (TAB.29) TABELA 29 Taxas de gestao registradas em dois rebanhos Nelore, servidas por touros com aptido reprodutiva previamente estabelecida, em acasalamentos individualizados, na proporo de 1:40 ou 1:60, aos 30, 60 e 90 dias de Estao de monta. Proporo Taxas de gestao , % touro:vaca 30 dias 60 dias 90 dias 1:40 64,31 84,18 92,26 1:60 68,60 89,02 93,29 Mdia 66,56 86,72 92,90 Fonte: Fonseca (2000) P>0,05 Observou-se que no houve diferena (P>0,05) entre as propores 1:40 ou 1:60 fmeas, demonstrando que os touros zebunos vm sendo subutilizados em monta natural, uma vez que tradicionalmente se utiliza um touro para lotes de apenas 25 fmeas. Diante do sucesso com as propores de 1:40 e 1:60 em acasalamentos individualizados, a preocupao passou a ser o comportamento dos touros em acasalamentos coletivos, ou seja, vrios touros com um lote de fmeas na mesma invernada, devido ao fator hierarquia social. Foi ento implantado um experimento, onde foram utilizados touros previamente avaliados nos testes clnico-androlgicos (teste1) e comportamentais (teste 2), sendo que neste caso utilizaram-se somente aqueles classificados como excelentes e muito bons no teste 1 e muito bons e bons no teste 2. Foram utilizadas 300 fmeas solteiras e no gestantes em uma invernada com rea de 400 ha, com manejo de rodeios a cada dois dias. O nmero de fmeas em cio, diariamente, impediu que os touros dominantes impedissem o acasalamento dos touros vassalos. Os resultados registrados (TAB.30), no mostraram diferenas (P>0,05) entre os grupos, quanto taxa de gestao em acasalamentos coletivos, viabilizando assim a utilizao do mtodo em grandes rebanhos, onde os acasalamentos individualizados seriam de difcil aplicao. TABELA 30 Taxas de gestao registradas em um rebanhos de fmeas Nelore, acasaladas coletivamente com touros previamente avaliados, na proporo touro:vaca de 1:40 ou 1:60, em estao de monta de 120 dias. Proporo N de N de Taxas de gestao, % Touro:vaca fmeas touros 30 dias 60 dias 90 dias 120 dias 1:40 353 9 42,29 79,88 89,53 93,78 1:60 297 5 60,26 92,26 95,96 97,98 Fonte: Fonseca (2000) P>0,05 Como nos testes anteriores os touros Nelore suportaram o desafio e no demonstraram sinais de esgotamento, o autor concluiu que os mesmos no haviam atingido o limite de suas 21

capacidades reprodutivas. Decidiu ento um novo desafio, dessa vez com 80 fmeas por touro, tambm em acasalamentos coletivos. Foram utilizados cinco touros classificados como excelentes no teste 1 e muito bons no teste 2 (G1), em grupos de 400 fmeas solteiras, em estao de monta de 90 dias. Para comparao foram utilizados dez touros tambm acasalados coletivamente num grupo de 400 fmeas, pelo mesmo perodo (G2). Novamente os resultados registrados para as taxas de gestao demonstraram que os touros suportaram, sem maiores problemas, a proporo de 1:80 (TAB. 31). TABELA 31 Taxas de gestao registradas em um rebanhos de fmeas Nelore, acasaladas coletivamente com touros previamente avaliados, na proporo touro:vaca de 1:40 ou 1:80, em estao de monta de 90 dias. Taxas d gestao, % N de N de 30 dias 60 dias 90 dias Grupos touros fmeas N % N % N % G1 5 400 248 62,0 338 84,5 374 93,5 G2 10 400 269 67,2 349 87,2 390 97,5 Totais 15 800 517 64,6 687 85,9 764 95,5 Fonte: Fonseca (2000) P>0,05 Objetivando demonstrar a importncia das avaliaes nos testes comportamentais e da classificao androlgica sobre o desempenho dos touros e a eficincia reprodutiva do rebanho, Pineda et al. (2000) acasalaram touros de muito alta, mdia e baixa habilidade de monta e excelentes, bons e questionveis na avaliao androlgica, com grupos de 80 fmeas durante um perodo de 63 dias. Os dados registrados mostraram diferena (P