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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA QUALIDADE DE VIDA E COMPORTAMENTO RELIGIOSO SUZANA MARTA BEDIN Itajaí, (SC) 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

QUALIDADE DE VIDA E COMPORTAMENTO RELIGIOSO

SUZANA MARTA BEDIN

Itajaí, (SC) 2007

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SUZANA MARTA BEDIN

QUALIDADE DE VIDA E COMPORTAMENTO RELIGIOSO

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.

Orientador: Prof° MSc Aurino Ramos Filho.

Itajaí (SC), 2007

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Agradecimentos

No caminho percorrido à realização deste trabalho, fizeram-se

presentes pessoas que dedicaram a atenção que puderam, fundamental

para que eu tivesse mais força e não desistisse nos momentos mais

adversos. Desta forma, agradeço a todos aqueles que de alguma forma

tiveram uma participação na história de consecução deste trabalho, me

auxiliando a realizá-lo com grande satisfação. Agradeço principalmente

a:

Meu orientador, Professor Aurino Ramos Filho, que nas horas mais

conflituosas me apoiou e jamais deixou de oferecer sua palavra

acolhedora.

Meus pais pelo amor, carinho e pela educação de valores tão

bonitos a serem professados. Aos meus irmãos pelo imenso carinho e

paciência nos momentos de estresse.

Minhas amigas Karoline, Josiely e Isabela pela amizade tão

preciosa e pela atenção quando eu mais precisei.

Meu namorado Anselmo pelo imenso incentivo e por me mostrar,

pelo seu grande exemplo de determinação, que tudo é possível quando

se deseja alcançar o próprio objetivo.

Deus, por estar sempre comigo.

MUITO OBRIGADA!

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SUMÁRIO

Resumo............................................................................................................5

1 Introdução ....................................................................................................6

2 Qualidade de vida e comportamento religioso.............................................9

2.1 Qualidade de vida......................................................................................9

2.2 Comportamento religioso.........................................................................16

2.3 Comportamento religioso e qualidade de vida.........................................27

2.4 Psicoterapia, comportamento religioso e espiritualidade.........................36

3 Análise e discussão dos resultados.............................................................44

4 Considerações Finais..................................................................................55

5 Bibliografias.................................................................................................58

5.1 Referências Bibliográficas........................................................................58 5.2 Leituras complementares..........................................................................61

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Qualidade de vida e comportamento religioso

Orientador: MSc. Professor Aurino Ramos Filho Defesa: junho de 2006. Resumo: O comportamento religioso é questão que vêm sendo estudada com muita atenção desde que a Psicologia se designa científica. Diversos autores renomados investigaram esse fenômeno humanamente essencial, como Sigmund Freud (1855-1939), Carl Gustav Jung (1875 - 1971), Viktor Emil Frankl (1905–1997) Frederic Skinner (1904 -1990), dentre outros. A qualidade de vida é construto priorizado universalmente, sendo sua avaliação abarcada por um instrumento da Organização Mundial da Saúde, o WHOQOL-100 (The World Health Organization instrument to evaluate quality of life: caracteristics and perspectives), que na última atualização do mesmo incluiu-se o domínio “religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais”, dada a importância atribuída a essas dimensões no mundo contemporâneo. Tratando-se de uma das facetas do instrumento de avaliação da qualidade de vida, o fenômeno religioso, e mais especificamente, o comportamento religioso que é expressão do comportamento humano, um dos principais objetos da Psicologia, tem de ser considerado e incluído na psicoterapia. Por conseguinte, esta pesquisa aborda o tema: a relevância do comportamento religioso na promoção da qualidade de vida. Tendo como objetivo investigar a relevância do comportamento religioso na promoção da qualidade de vida. A metodologia aplicada para a consecução deste trabalho foi a Pesquisa Bibliográfica, que envolve o levantamento de fontes secundárias e da bibliografia publicada sobre os assuntos comportamento religioso e qualidade de vida. Por meio desta pesquisa verificou-se que o comportamento religioso da pessoa envolve sua subjetividade, mas também as condições objetivas da experiência religiosa. Pôde-se verificar que o comportamento religioso possui fatores que influenciam em seu bem-estar, satisfação e na avaliação positiva de sua qualidade de vida. Os aspectos que influenciam a relevância do comportamento religioso na avaliação da qualidade de vida do sujeito é o modo como o mesmo o vivencia, a presença ou não de valores precípuos envolvidos na vida concreta dele a partir da expressão desse comportamento, e principalmente, os efeitos que o comportamento religioso exerce na saúde física e psicológica vida da pessoa, e no seu desenvolvimento pessoal, espiritual e social. Conclui-se que a experiência religiosa tem de ser positiva para a pessoa para que seja um dos fatores intervenientes na avaliação igualmente positiva de sua qualidade de vida; do contrário, é negativamente relacionada à qualidade de vida. A assunção do comportamento religioso pela Psicologia, inserida no universo científico, torna-se imprescindível, por ser este comportamento de extrema relevância à vida humana.

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Introdução

A questão-mor a que se propunha a investigar e que foi contemplada neste

trabalho refere-se à relevância do comportamento religioso na avaliação da

qualidade de vida. A escolha deste tema primeiramente envolve a importância que

sempre teve a religião na vida do ser humano, da sociedade, da cultura e da história.

Ademais, a primazia por esta temática se deu com a verificação de que a

Psicologia tem por um de seus objetos de estudo principais o comportamento

humano, que inclui também a dimensão religiosa. Assim como, a averiguação de

que o comportamento religioso foi amplamente estudado por autores reconhecidos

do universo Psicológico, já na era moderna. As concepções dos mesmos sobre o

comportamento religioso exerceram influência à consideração deste importante

fenômeno por parte da Psicologia, naquele momento e na atualidade. Os autores

são: Sigmund Freud (1855–1939), Carl Gustav Jung (1875 - 1971), Viktor Emil

Frankl (1905–1997), William James (1842-1910), Burrhus Frederic Skinner (1904-

1990), e outros.

A investigação dessa temática foi priorizada devido a importância que vem

sendo atribuída a mesma crescentemente no universo científico, com várias

pesquisas que vêm analisando a relação da religiosidade e da espiritualidade com a

qualidade de vida, sendo abarcado inclusive pela Organização Mundial da Saúde

(OMS) em um de seus domínios denominado “espiritualidade, religiosidade e

crenças pessoais”, presente no documento de avaliação de qualidade de vida.

A Psiquiatria igualmente incluiu uma categoria que alude aos “Problemas

Religiosos e Espirituais”, de mesmo nome, na última atualização do Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR, 2002, p. 693), dada a

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importância concebida atualmente ao fenômeno do comportamento religioso, sendo

imprescindível a sua abrangência também na psicoterapia. O comportamento

religioso contempla as dimensões da espiritualidade, da religiosidade e das crenças

pessoais, sendo fundamental ser investigada a relevância que o sujeito atribui ao

seu comportamento religioso na avaliação de sua qualidade de vida.

A escolha particular pelo tema deste trabalho refere-se à constituição de

minha história e da cultura da nação a qual me integro. O Brasil é país de inúmeras

tradições religiosas. Muitas delas são religiões institucionalizadas e que perdem

muitas vezes a essencialidade do caráter espiritual, tão importante à existência

humana e sua rede de relações. Cresci assistindo isso; vendo muitas pessoas

praticarem uma religião e não professarem seus princípios ao desenvolvimento de si

e de seus próximos. Por isso, acredito na imbricação da espiritualidade no

comportamento religioso e todos os aspectos que a mesma implica. Um

comportamento religioso tem de conclamar o amor, a compaixão, a tolerância, a

aceitação, o cuidado e demais valores benéficos ao sujeito e à vida, ao demandar

sua co-responsabilidade.

A metodologia utilizada para a consecução desse trabalho foi de pesquisa

bibliográfica, no levantamento de fontes secundárias, isto é, de bibliografia já

publicada sobre a temática em questão, para que pudesse compilar conhecimento

suficiente para responder à pergunta de pesquisa e aos objetivos geral e

específicos.

O objetivo geral refere-se a investigação da relevância do comportamento

religioso na promoção da qualidade de vida. Os objetivos específicos aludem a

definição de comportamento religioso segundo a Psicologia da Religião e de

qualidade de vida segundo a concepção da Organização Mundial da Saúde; a

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análise da relevância do comportamento religioso na promoção da qualidade de

vida; e a avaliação da importância do comportamento religioso, bem como da

espiritualidade na Psicoterapia. Os objetivos foram todos contemplados, inclusive o

objetivo geral que implica diretamente na consecução da resposta da pergunta de

pesquisa.

A resposta à pergunta de pesquisa envolveu a compreensão de que a

avaliação da qualidade de vida da pessoa é primeiramente subjetiva, mas que

integra a objetividade de suas experiências. O comportamento religioso da pessoa

envolve sua subjetividade, mas também as condições objetivas a partir de sua

manifestação afora do sujeito. Pôde-se verificar que o comportamento religioso

possui fatores que influenciam em seu bem-estar, satisfação e na avaliação positiva

de sua qualidade de vida.

A maior implicação que se observou da relevância do comportamento

religioso na avaliação da qualidade de vida do sujeito é a sua personalidade, o modo

como o mesmo o vivencia, a presença ou não de valores precípuos envolvidos na

vida concreta dele a partir da expressão desse comportamento, e, principalmente, os

efeitos que o comportamento religioso exerce na saúde física e psicológica, bem

como no seu desenvolvimento pessoal, espiritual e social.

Enfim, o comportamento religioso quando de conotação positiva dada pela

pessoa contribui para que seja um fator proferido por ela como interveniente à

promoção da qualidade de vida. Contrapondo-se à avaliação positiva de sua

qualidade de vida encontra-se o comportamento religioso de conotação negativa

para ela. Assim, compreende-se o quão relevante é à Psicologia a assunção do

comportamento religioso na vida humana.

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2. Qualidade de vida e comportamento religioso

2.1 Qualidade de vida

O cuidado com a maneira de se viver do homem advém de milênios atrás,

com a atenção de filósofos na sustentação de termos envolvidos com o bem-estar e

a satisfação do ser humano, estando presentes neste rol de termos o prazer, a

felicidade, a alegria, a dor e outros. Desde a era antiga, já se reflete sobre a

realização e o bem-estar plenos do ser humano, enquanto meio ou fim da existência,

avaliados por conteúdos subjetivos, contudo em interação com as condições

objetivas da experiência.

Platão, Aristóteles, Spinoza e Spencer assemelham-se em suas concepções

sobre o prazer, pois consideram que a experiência subjetiva do sujeito não é

suficiente para um critério de valor, sendo que depende de sua personalidade total.

O sujeito pode estar perturbado psicologicamente e pensar que possui prazer total.

Pode estar reprimindo completamente sua infelicidade e não ter a percepção da

mesma. Os autores também afirmam que há um critério objetivo para a avaliação do

prazer, que a felicidade associa-se ao bem moral (FROMM, 1986).

Spinoza acrescenta que a alegria é conseqüência da passagem do homem de

um estado de perfeição menor para um maior, sendo a tristeza o inverso. A

perfeição maior ou menor se iguala a maior ou menor poder de o sujeito realizar

suas potencialidades. O prazer não é a meta da vida, mas acompanha a atividade

produtiva do ser humano. A felicidade não é a recompensa da virtude, mas consiste

nela mesma.

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Fromm (1986) ressalta que felicidade e infelicidade são manifestações do

organismo inteiro e que a primeira produz aumento da vitalidade, intensidade de

sentimentos, pensamentos e produtividade. Na infelicidade ocorre a decadância

dessas capacidades e funções. Spencer (1902) salienta que o princípio de prazer e

de dor têm a função biológica de ajudar o homem no processo evolutivo. Para este

autor, o prazer é uma experiência subjetiva, mas não somente, pois envolve um

aspecto objetivo que é o bem-estar físico e mental do sujeito. Assegura que na

sociedade há casos pervertidos de prazer, devido às imperfeições da mesma e que

com o ajustamento dela as verdades virão a tona, trazendo o exame de que as

ações corretas acarretarão, no futuro, felicidade geral e não apenas imediata; a dor

é a equivalência às ações más. Portanto, ele concebe que a sociedade é fator que

influencia na avaliação do bem-estar em geral do ser humano (FROMM, 1986).

As reflexões sobre os referidos filósofos permanecem na atualidade,

entretanto em crescente desenvolvimento, abrangendo um conjunto maior de fatores

intervenientes à existência humana e aos aspectos que interferem na estimativa da

qualidade de vida, propiciado pelo interesse científico.

A origem do construto qualidade de vida é atribuída ao contexto político, pois

o presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, em uma de suas declarações,

em 1964, referiu o termo, sendo este priorizado primeiramente pelas Ciências

Sociais, Políticas e Filosóficas. Outras Ciências também contribuíram e atualmente

exercem função primordial para a difusão dos estudos em qualidade de vida, dentre

elas as Ciências das áreas Humana, Biológica e da Saúde.

O interesse específico sobre a aferição da qualidade de vida iniciou logo após

a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com estudos de cunho econômico,

vinculando qualidade de vida com a aquisição de bens materiais. Portanto, com o

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desenvolvimento econômico da sociedade. Em fase posterior, verificou-se que a

utilização exclusiva da questão econômica como medida comparativa de qualidade

de vida tornou-se insuficiente, requerendo a investigação do desenvolvimento social,

integrando os indicadores econômicos com os de desenvolvimento sócio-cultural.

As categorias de ordem social saúde, educação, moradia, transporte, lazer,

trabalho, crescimento individual tornaram-se prioritárias. A mortalidade infantil,

esperança de vida, taxa de evasão escolar, dentre outros de alusão social,

associaram-se ao Produto Interno Bruto (PIB), à renda per capita e outros

indicadores econômicos que avaliam a qualidade de vida objetiva (PASCHOAL,

2000).

Os aspectos objetivos de qualidade de vida referem-se às condições

verossímeis, disponíveis na sociedade ao suprimento das necessidades do sujeito,

as quais influenciam, sobremaneira, sua vida e todas as dimensões a ela

pertinentes. Os indicadores objetivos consistiam na principal referencia de avaliação

da qualidade de vida. Todavia, essas dimensões materiais e objetivas foram

perdendo seu status onipotente. A dimensão que perpassa pelo viés subjetivo do

sujeito, passou a exercer função primordial na abrangência do construto qualidade

de vida; com o questionamento da relação exclusiva entre recursos materiais e bem-

estar subjetivo.

Cada sujeito possui uma visão de mundo, estabelecida temporalmente,

inspirada por valores que podem ser dados por sua história, cultura, sociedade,

ambiente e subjetividade; incidindo em uma escala que determina sua escala de

valores. Os diferentes valores de cada pessoa influenciam substancialmente o modo

como concebem a sua qualidade de vida, a qual parece exprimir a relação entre as

expectativas e o grau de satisfação referente a essa escala. É de extrema

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importância a consideração do aspecto subjetivo para avaliar qualidade de vida. No

entanto, é um equívoco se excluir a dimensão objetiva, devido aos contextos sociais,

políticos e econômicos presentes na vida das pessoas.

Qualidade de vida configura-se como um construto de difícil definição, pois

seu significado diverge entre indivíduos, épocas, culturas, países e classes sociais

distintas. A dificuldade do alcance de uma definição concisa sobre este objeto

decorre, principalmente, da relevância atribuída tão-somente à sua questão subjetiva

ou objetiva. Além disso, a sua associação com a saúde garante posições

equivocadas em seu conceito. Percebe-se que após o surgimento da nova

concepção de Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) como “um completo

bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença”, muitos

autores acabaram por igualá-la a qualidade de vida, restringindo expressivamente o

termo. (FLECK, 2000, p.1-2).

Saúde sempre foi preocupação premente pelo fato de ser essencial à vida

humana. Entretanto, muito limitada ao contexto da doença. E compreendida,

exclusivamente, pela perspectiva biomédica. Mas no final dos anos de 1970, no

Canadá, ocorreu um movimento contrapondo-se à medicalização social da saúde e

do seu sistema, surgindo o conceito de promoção da saúde que visava à

responsabilização das pessoas, da comunidade e das organizações pela saúde.

Essa promoção relacionava-se ao estilo de vida do sujeito e propunha

medidas educativas à modificação de comportamentos com ênfase em uma melhor

condição de saúde. Porém, hoje o que se verifica é que há múltiplos determinantes

para o contexto da saúde. O governo, os setores sociais e econômicos,

organizações não governamentais, autoridades locais, indústria, medicina e setor

saúde são todos responsáveis pelas condições da mesma.

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A primeira Conferência Internacional de Saúde ocorreu em 1986, em Otawa

(Canadá), sendo até hoje a principal referência de saúde em todo o mundo. Nesta

Conferência foi estabelecida a necessidade de elaboração de Políticas Públicas

saudáveis, a criação de ambientes favoráveis à saúde, inclusive referindo-se a

conservação do meio-ambiente e de recursos naturais, bem como o ambiente de

trabalho, lazer, lar, escola e cidade; a aquisição de poder técnico e político da

comunidade para a promoção de sua saúde e por parte do sujeito e a reorientação

dos serviços de saúde.

A saúde refere-se a um imprescindível recurso para melhor se viver. Mas ela

tão-somente não garante o predomínio da qualidade de vida. A saúde locupleta as

características objetivas da qualidade de vida, pois os pré-requisitos para se obter

saúde consistem nas categorias paz, habitação, educação, alimentação, renda,

ecossitema estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Saúde é

dimensão inter-relacionada aos crescimentos econômico, sócio-cultural e humano,

assim como a qualidade de vida.

Na 4ª Conferência Internacional de Saúde, realizada em 1997 em Jakarta,

lançou-se os determinantes da saúde para o século XXI, conservando muitos

estabelecidos em Otawa, mas ampliando outros, mediante ás mudanças sócio-

históricas, culturais e do ambiente. Os pré-requisitos para a saúde passaram a ser:

paz, abrigo, instrução, segurança social, relações sociais, alimento, renda, direito de

voz das mulheres, ecossitema estável, uso sustentável dos recursos, justiça social,

respeito aos direitos humanos e eqüidade (BUSS, 2000). Em âmbito nacional, na 8ª

Conferência Nacional de Saúde, a elaboração das resultantes da saúde envolveram

condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,

transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra e acesso a serviços

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de saúde. Compreendendo o ser humano enquanto ser integral e a saúde como

condição à qualidade de vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

Muito embora haja discrepâncias e ausência de uma definição concisa de

qualidade de vida, há um consenso geral sobre as categorias que caracterizam-na: a

subjetividade e a multidimensionalidade. A subjetividade, conforme já descrita, é

considerada, mormente, relevante para a avaliação da qualidade de vida. A

multidimensionalidade diz respeito às diferentes dimensões que compõem o

conceito de qualidade de vida. As dimensões física, psicológica e social são incuídas

na qualidade de vida, sempre relacionadas á consecução subjetiva do sujeito: como

percebe seu estado físico, psicológico que compreende a cognição e a afetividade;

as relações interpessoais e os papéis sociais em sua vida (SEIDL et al, 2004).

Outra dimensão posteriormente acrescida e não menos importante, a

espiritual, pertencente ao domínio “espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais”

do documento de avaliação da qualidade de vida, diz respeito ao significado de vida

da pessoa de modo global, assim como às crenças pessoais que estruturam e

qualificam a sua experiência (FLECK et al, 2003, p.3). A bipolaridade, que consiste

nas dimensões positivas e negativas, percebidas pelo sujeito em relação aos vários

aspectos de sua vida, é também característica pertinente ao construto qualidade de

vida (PASCHOAL, 2000).

Partindo então da relevância atribuída à percepção (subjetividade) do sujeito

quanto á sua qualidade de vida própria, a Organização Mundial da Saúde (OMS),

organizou cuidadosamente um grupo de especialistas em qualidade de vida

(WHOQOL), a fim de trazer maiores contribuições sobre essa problemática. A

demanda de um instrumento de perspectiva transcultural de avaliação da qualidade

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de vida, até então, acarretou na reunião de especialistas para a construção do

mesmo.

O instrumento genérico WHOQOL-100 (The World Health Organization

instrument to evaluate quality of life: caracteristics and perspectives) foi então

desenvolvido, composto de cem questões. Mais tarde o WHOQOL-Bref, de vinte e

seis questões foi também construído, constituindo a versão abreviada daquele

instrumento. Qualidade de Vida para a Organização Mundial da Saúde indica a

“percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de

valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e

preocupações.“ Esta definição de qualidade de vida inter-relaciona o meio ambiente

com os aspectos físicos, psicológicos, nível de independência, relações sociais e

crenças pessoais, constituintes singulares do sujeito (FLECK, 2000, p. 2).

Qualidade de Vida, na abrangência de seu conceito, compreende uma

simbiose entre as dimensões objetivas e subjetivas da vida das pessoas, em

espectro global. Contudo, o que se percebe é a primazia dada pela Organização

Mundial da Saúde à valoração subjetiva realizada pelo sujeito frente a todos os

aspectos de sua vida. Neste processo valorativo de qualidade de vida, a dimensão

espiritual apresenta-se intrinsecamente associada, pois o desvela numa perspectiva

global.

O aspecto espiritual promove uma integração interna das faces física,

biológica, emocional, mental, dentre outras de qualidade do sujeito. Revela também

como a pessoa se insere e relaciona-se com as pessoas à sua volta, com a

comunidade, a natureza, o trabalho, a vida, Deus (MARQUES, 1996).

Percebe-se, portanto, que para se abarcar a qualidade de vida em sua

acepção completa deve-se coerentemente compreender o universo subjetivo do

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sujeito, o qual envolve todas as suas características, inclusive a espiritual que lhe é

inerente; relacionando de modo global o sujeito ao seu ambiente do qual é autor

protagonista e co-responsável.

2.2 Comportamento religioso

Antes de qualquer assunção ao universo que permeia o comportamento

religioso é imprescindível ter-se clara compreensão da experiência religiosa que o

constitui de qualidade imediata, possibilitada a partir da existência humana e que

propicia profundo sentido àquele que a vivencia intensamente. Neste sentido, a

experiência religiosa é fundamentalmente idiossincrática, pois possui características

de sentir, pensar, de posicionamento e atitude únicos a cada pessoa, devido ao

caráter existencial ímpar do ser humano.

A vivência intensa religiosa requer uma apropriação interior na transposição

de uma dada experiência religiosa a um profundo significado interno da mesma.

Esta qualidade de experiência vincula-se à experiência religiosa do tipo genuína, a

qual enriquece e completa o comportamento religioso, após passar pelo crivo da

emoção e do raciocínio e produzir valor e significado plenos ao sujeito. Do contrário,

configura-se a experiência inautêntica, que é apenas momentânea e parcial, estando

ausente a interiorização da experiência religiosa, faltando-lhe, especialmente, a

atribuição de um sentido maior.

Refere Kierkegaard (1813-1855) a despeito de que a verdade para o sujeito

deve ultrapassar a relação entre o ser e o pensar, transformando-se em verdade

subjetiva. Ele questiona sobre a validade de se conhecer as verdades objetivas se

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as mesmas não repercutirem em efeitos vivos na existência particular concreta e

integrada de cada sujeito (GILES, 1975).

A atribuição de significado e valor religiosos subordina-se às demandas do

consciente e inconsciente humano, sendo que na consciência pode haver escolhas

e intenções a um referido objeto religioso, demandando muitas vezes ações

propriamente religiosas. Na instância consciente, há reflexão de conteúdos, podendo

desencadear em ação, enquanto que no inconsciente, o conteúdo religioso é

inexprimível, de contato direto e imediato por parte do sujeito, sem a possibilidade

de quaisquer reproduções.

Os termos consciente e inconsciente são, mormente, relacionados ao

comportamento religioso, por ser o mesmo compreendido como fenômeno que

envolve o ser humano como um todo, inclusive a guisa de seus processos psíquicos.

Desta forma, os elementos que subsidiam a atuação destes processos são

relevados na análise das condutas religiosas.

A realidade religiosa é constitutivamente cultural, com a qual o ser humano

interage inteiramente com sua constituição biológica, afetiva, cognitiva e social.

Portanto, na atitude religiosa influem processos do organismo e do psíquico do ser

humano, assim como da cultura que contribui para sua conduta através da

linguagem e da memória (VALLE, 1998). A conduta religiosa é também inspirada

pela característica espiritual que direciona o sujeito a uma re-ligação de si com o

transcendente, com a natureza, a vida e o mundo das relações, integrando todos os

seus aspectos e revelando um significado único a sua existência.

De acordo com o desenvolvimento físico e psicológico, o sujeito manifesta um

tipo característico de comportamento religioso. No período da infância, a experiência

religiosa é variável com relação à significação a ela atribuída e à função que possui

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na vida do infante. Nesta fase específica, a religião configura-se como herança

sócio-cultural, a qual a criança naturalmente aprenderá. Por isso da importância dos

pais contribuírem para uma assimilação da experiência religiosa saudável por parte

da criança. Segundo Clarck (1959), o processo de desenvolvimento da consciência,

bem como da consciência religiosa, passa por uma fase de identificação, na qual a

criança identifica-se com os desejos e ideais dos pais. (ROSA, 1971).

Fromm (1986) denomina essa consciência de autoritária, a qual é

interiorizada pelo infante. Quando essa consciência é em extremo severa, sua

transgressão acarreta em um sentimento de culpa prejudicial ao desenvolvimento da

personalidade do sujeito. Assim como, a ausência da constituição da consciência

que Fromm chama de humanística, composta por elementos desenvolvidos pelo

sujeito importantes para suas habilidades e a sua criatividade, pode gerar uma

personalidade psicótica ou sem responsabilidade alguma para com a sociedade.

Desta forma, a colaboração dos pais torna-se imprescindível para a formação das

consciências autoritária e humanística na criança, para que ela apresente

sadiamente um comportamento religioso.

Rosa (1971) refere que na adolescência, a experiência religiosa se torna mais

pessoal e intensa na apreciação dos valores da vida, dentre eles o religioso. O

relacionamento e a consciência social se definem e ampliam-se nesta fase, pois o

adolescente sente a necessidade de edificar novos valores e assumir

responsabilidade social.

O adolescente desenvolve grandemente seu intelecto, demandando a

ampliação de seus conceitos religiosos, e a liberdade de assumir uma postura

religiosa congruente com o comportamento religioso dos pais ou não, contudo,

condizente com a experiência religiosa que lhe traz benefícios, estando

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amadurecida. O comportamento religioso na adolescência pode ter o essencial

propósito de ajustamento e apropriação de um conjunto de conceitos que ajude o

adolescente a compreender a si e ao mundo quando do questionamento existencial

que realiza quanto a sua origem e fim, bem como sobre quem ele é.

O mesmo autor afirma que na fase adulta, o propósito da religião é favorecer

o sujeito à formação de sua filosofia de vida, que inicia antes mesmo desta fase. A

filosofia de vida que ele aprendeu é contrastada constantemente com aquela que

efetivamente manifesta, na tentativa de alcançar uma equivalência de sua filosofia

com seu caráter. O estilo de sua filosofia de vida própria será essencial a

interpretação consciente de si, de sua própria história e do mundo em uma

totalidade integrada, ajudando-o também a usufruir de preceitos que lhe auxiliarão

no enfrentamento de problemas da vida.

Na velhice, o comportamento religioso tem por finalidade a renovação do

significado espiritual da vida e da morte, entendendo que a dimensão espiritual é

que está exigindo maior atenção, pois ela implica na atribuição de significados às

diversas circunstâncias da vida. Desta forma, há um processo de preservação do

que é necessário e eliminação do que não se torna importante neste momento.

O comportamento religioso que é significativo para o idoso, poderá contribuir

para a realização ou confirmação do sentido de vida, assim como para a

amenização de sua transição final de vida. Também pode ocorrer um

comportamento religioso manifestado por revolta contra a vida e contra um ser

superior, que é expressão de um afastamento abrupto da espiritualidade, a qual tem

por objetivo conferir significado e unir o homem com sua totalidade (ROSA, 1971).

O comportamento religioso é manifestação de uma experiência religiosa

subjetiva. Contudo, pode estar vinculado a um dado coletivo religioso, bem como a

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uma instituição. Ainda que esteja vinculado institucionalmente, preserva sua

singularidade. O referido comportamento é produto de múltiplas expressões, de

manifestação individual e/ou coletiva, com ou sem dogmas, ritos e práticas,

submetido a diferentes princípios, alicerçado a motivações distintas, mas sempre

prevalecendo a atitude religiosa.

A conduta religiosa subjetiva pode estar atrelada à experiência mística

subjetiva, que consiste em emoções e sentimentos apropriados pelo sujeito,

propiciando-lhe um estado de êxtase, de unidade e comunhão com o sobrenatural

ou divino. Pode também ser observada esta conduta na agregação a um grupo

religioso específico ou numa religião institucionalizada, que se denomina

religiosidade. A experiência religiosa mística liga-se à espiritualidade e à

autenticidade do comportamento religioso, permanecendo na essência de quem a

vivencia um valor de qualidade religiosa verossímil.

A mística é explicada por James (1958) como caracteristicamente inefável,

sendo que o sujeito que a experimenta não consegue descrevê-la verbalmente; é

noética, pois não se apresenta apenas na ordem do sentir, mas é conhecimento

verdadeiro a este ser humano, sendo a percepção de uma realidade realizada por

ele por vias de percepção que não as de comum uso; é transitória, pois alça uma

intensidade que não pode durar muito, no entanto, seus efeitos acabam

permanecendo na vida do sujeito; e tem caráter de passividade, excedendo o

controle consciente (ROSA, 1971).

As etapas daquela experiência iniciam pelo processo de purificação do eu, no

qual acontece o desprendimento de coisas não mais interessantes a nova realidade

de vida da pessoa, necessitando de desprendimento e de estratégias diferentes para

responder às demandas internas e externas. Após isso, verifica-se a etapa da

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iluminação do eu, na qual se obtém um conhecimento único da experiência,

adquirindo a concepção de mistério.

Pode ocorrer naquela experiência uma apreensão do transcendente, mas

permanecendo a distinção do eu e do Absoluto, ampliando por vezes a clareza da

realidade física e do infinito, assim como pode se dar a extensão da consciência

para além de seus condicionantes naturais, para a apreensão extra-sensória. O

último e mais elevado passo caracteriza-se pelo êxtase, em que o místico sente-se

unido com o transcendente. O comportamento religioso institucionalizado também

pode ser uma via de manifestação da experiência religiosa genuína, entretanto pode

ser o oposto na falta de um valor incomum referido ao mesmo (ROSA, 1971).

A ênfase sobre a impressão subjetiva do comportamento religioso relaciona-

se deveras a maturidade religiosa que requer o desenvolvimento do homem também

em nível espiritual. Fromm (1956) é partícipe desta idéia ao compreender que a

pessoa religiosamente amadurecida professa uma profunda espiritualidade no

sentimento de ligação com a vida, as pessoas e o universo. Tem responsabilidade

para consigo e com os outros, manifestando uma preocupação saudável com os

problemas da vida, do significado último desta e do mundo (ROSA, op.cit).

Em sua acepção, o comportamento religioso é todo aquele que se manifesta

em sua referência ao divino ou sobrenatural ou ainda ao transcendente sem

nomilização, em atitude de aceitá-lo, ou de rejeição pessoal do mesmo (PAIVA,

1999). O ateísmo caracteriza-se por uma conduta de rejeição da experiência

religiosa. Ademais, existem condutas religiosas que evidenciam a idéia de um ser

divino, externo e distinto da realidade humana, e outras que não contemplam um ser

externo divinizado, ainda assim entendem-no como sobrenatural ao humano.

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As religiões baseiam-se na relação do ser humano com o transcendente, seja

atribuída sua pertinência ao universo intrapsíquico ou interpessoal do sujeito. A

transcendência é atributo essencial ao comportamento religioso, pois este último em

sua autenticidade abrange o universo espiritual. A religião em sua realidade

funcional contempla a experiência espiritual. A institucionalidade das religiões

consistem em vias de acesso a experiência religiosa e espiritual, mas o que mais

importa é a experiência.

Para Boff (2001), a experiência religiosa do Oriente fundamenta-se na criação

de um centro interior de força que permite perceber a totalidade das experiências

internas e externas. O Ocidente visa à exterioridade no resgate do outro de fora para

dentro de si. Todavia, os dois caminhos se complementam, pois a função dos

mesmos é produzir um centro onde tudo se liga e religa, vivenciando a totalidade no

mundo interno humano.

Estes comportamentos são muito estudados pela Psicologia, em especial a

Psicologia da Religião, que em seu rol de temas de estudo da conduta religiosa,

contempla não só a atitude subjetiva da mesma, as experiências místicas, mas

também a tradição de fé religiosa em sua vinculação a um grupo ou instituição, e as

experiências espirituais que acreditam na transcendência humana, mas se recusam

a nominalizá-la. Além disso, a psicologia da religião objetiva estudar os

comportamentos ateístas.

As causas da existência e a permanência do comportamento religioso na

realidade humana também são prioritariamente investigados por diversos autores

ligados à psicologia. Um deles, Sigmund Freud (1855 – 1939), o criador da

Psicanálise, entende o comportamento religioso é causado por um sentimento de

absoluta dependência infantil de um pai, que na idade adulta é substituída por Deus.

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O comportamento religioso para este autor é uma neurose obsessiva, um processo

ilusório que deve ser sanado com a aquisição da maturidade emocional e o

desprendimento da ilusão religiosa. Apesar de sua contraposição ao comportamento

religioso, Freud considerava-o útil na adaptação, ainda que neurótica, do ser

humano frente a si, ao mundo e à natureza (FREUD, 1969).

Carl Gustav Jung (1875 - 1971), um dos colaboradores de Freud e que criou

com muito fundamento, sua própria teoria, se contrapõe à acepção de Freud quanto

ao comportamento religioso. Primeiro porque entende que a ausência de uma

conduta religiosa é sinônima de neurose, pois compreende que a religião existe para

tornar consciente os fenômenos religiosos de origem inconsciente, que são condição

do ser humano e independentes a ele. A qualquer momento pode haver a irrupção

de conteúdos religiosos do inconsciente (JUNG, 1999).

O inconsciente para Jung é subjetivo e coletivo. Subjetivo, pois o indivíduo é

para ele sustentáculo da existência, e coletivo mediante arquétipos, representações

de mitos e produtos primitivos individualizados, que são criações do espírito

humano, transmitidos culturalmente por gerações e também por condição

inconsciente a priori herdada. A religião é uma consideração consciente do

numinoso, seja qual nome se dê a este último. A conduta religiosa então significa a

busca pela compreensão da experiência religiosa imediata que se dá apenas no

inconsciente (JUNG, 1999).

Para o mesmo autor os sonhos, a intuição e algumas experiências místicas

religiosas, podem ser manifestação do numinoso à consciência. A ausência do

comportamento religioso acarreta em sentimentos de desmoralização e irrealidade,

por não estar sendo assumido o eu completo da pessoa, e estar sendo substituído o

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inconsciente por sucedâneos quaisquer, que acaba excluindo a dimensão imediata e

genuína da experiência religiosa (JUNG, 1999).

Outra teoria que afirma ser a religiosidade de origem inconsciente é a de

Viktor Emil Frankl (1905–1997), criador da Terceira Escola Vienense de

Psicoterapia, a Logoterapia, que objetiva ajudar o sujeito a encontrar seu sentido de

vida. Frankl refere o caráter inconsciente da espiritualidade ou dimensão noética

humana. Segundo ele, existe o inconsciente instintivo, conforme propunha Freud,

mas também a espiritualidade inconsciente, sendo o inconsciente dividido entre

essas duas qualidades.

Cada pessoa possui um centro espiritual em torno do qual se agrega seu

componente psicofísico. O elemento espiritual constitui a característica mais peculiar

do ser humano, que o torna um ser total. Frankl considera a instintividade do ser

humano, contudo ele ressalva a capacidade de auto-determinação deste último, pois

o que prevalece é a atitude que se toma em relação ao caráter e instintos de si

próprio (FRANKL, 1992).

Para Frankl, o homem possui em sua essência as dimensões liberdade, auto-

determinação, decisão e responsabilidade. O homem é ser livre de e livre para

realizar algo ou amar alguém, mas também é responsável à medida que decide e

responsabiliza-se perante alguém ou algo de sua existência. O homem então pode

ser livre e responsabilizar-se por sua existência de sua própria maneira, assim como

ele tem liberdade suficiente para aceitar ou recusar sua fé e religiosidade, as quais

existem incondicionalmente podendo ser reprimidas.

Nesse universo inconsciente se dá a autotranscendência, que possui

intencionalidade para orientar o homem para além de si mesmo, a fim de buscar um

sentido para sua existência, por meio da realidade concreta da vida, podendo ser

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encontrado com a realização de um trabalho, de um amor ou pela religiosidade,

sendo que esta garante o sentido último da existência e o valor supremo da mesma.

A busca de significados constitui a busca de valores concretos influenciados pela

vontade de significado que Frankl afirma toda pessoa possuir (FRANKL, 1992).

O comportamento religioso é a ligação transcendente com o Tu, Deus, em

nível inconsciente. Há uma relação com o transcendente que é imanente no homem,

todavia pode estar latente. A consciência do homem tem seu espaço no

inconsciente, por isso ela é, ademais, de qualidade transcendente. Ressalta Frankl

que o homem irreligioso ignora a transcendência da consciência. Portanto, aquele

que é irreligioso é cônscio e responsável por suas ações, entretanto, não questiona

da origem de sua consciência, nem pelo que é responsável (FRANKL, op.cit).

Frankl salienta que aquele que avoca sua religiosidade, assume um risco, que

é o de transcender a própria consciência, ir à busca do sentido último e original do

existir humano. Na Logoterapia é possível trazer à tona a fé reprimida no

inconsciente. A neurose é a relação prejudicada com a transcendência, acarretada

pela repressão de conteúdo religioso. Enquanto Freud concebe a religião como a

neurose obsessiva, Frankl afirma ser esta última conseqüência de uma religiosidade

psiquicamente doente, de uma fé reprimida, que reflete na consciência uma

distorção em relação a si mesmo, à religiosidade e a Deus (FRANKL, 1992).

William James (1842-1910), psicólogo fundador do pragmatismo na Ciência

Psicológica, utiliza o próprio fundamento de sua teoria pragmática, vertente

importante da filosofia ocidental e que difere do movimento empirista por se opor a

idéia de que a aparência é a realidade em si e que os conceitos não são

propriamente a realidade, mas os meios para se lidar com ela; para compreender o

comportamento religioso.

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James considerava a religião enquanto objeto científico, entretanto, sua teoria

sustentava críticas aos cientistas de sua época que entendiam o comportamento

religioso como manifestação de uma patologia. Percebia James que aqueles não

incluíam o sentido que continha a experiência religiosa para o sujeito. De acordo

com este autor, a fé não significa acreditar em algo que se saiba que não é verdade,

pelo contrário, o caráter passional, volitivo e de liberdade de escolha é acentuado na

teoria dele, pois salienta que as crenças, especialmente as religiosas são vivas e

independentes da natureza intelectiva do ser humano, configuram-se mais em nível

emocional (OLIVEIRA, et al, 2004).

James privilegia em sua teoria a funcionalidade da conduta religiosa à

existência humana e ressalta que se esta conduta traz benefícios precípuos à vida

cotidiana do sujeito ela tem de ser relevada, e em caso contrário, não. Também

contempla a característica sadia e doente da religiosidade, que na perspectiva sadia

ocorre a maturidade religiosa e o sentimento de união com um universo muito mais

amplo que o de si, suprimindo o egocentrismo e o interesse exclusivamente pessoal,

e estabelecendo relações socialmente favoráveis. Já a religiosidade doentia é o

oposto da saudável, além de incluir uma religiosidade do tipo neurótica e

demasiadamente individualista. James acentua mais o caráter introspeccionista e

subjetivo da religião, mas que não exclui a dimensão humana, relacional e

socialmente significativa do ser humano (ROSA, 1971).

A importância de caráter social religiosa é privilegiada pelo autor Burrhus

Frederic Skinner (1904-1990), que com base na teoria de Psicologia

Comportamental , concebe a religião enquanto posição de controle do sujeito e da

sociedade. A religiosidade possui sentido devido ao seu potente domínio sócio-

cultural e à concessão de liberdade pela eliminação de práticas aversivas, seja pela

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fuga ou pelo ataque às mesmas. A liberdade é retratada por figuras importantes da

sociedade, como os padres e pastores (SKINNER, 1983).

Existe também outro fator para se alcançar as tão almejadas liberdade e

felicidade, que é a prática de reforçamento positivo muito usufruído atualmente, que

substitui a atenção no controle aversivo pela ênfase na positividade de determinado

comportamento, como ocorre nas instituições religiosas que concentram-se no amor

de Deus ao invés de no discurso do mal. Mas para Skinner, a atitude de reforçar

positivamente somente adia o controle aversivo de comportamento (SKINNER,

1983).

Skinner reflete sobre a dimensão essencialmente social do comportamento

religioso, entretanto não contempla o aspecto subjetivo da conduta religiosa, que

possui motivações, desejos e escolhas tanto extrínsecas como intrínsecas, não

dadas somente pela função de controle social, outrossim, pela eminência da

existencialidade humana em si.

2.3 Comportamento religioso e qualidade de vida

O movimento pós-moderno de ascendência do aspecto espiritual remonta à

épocas anteriores a era moderna, quando não excludente da espiritualidade e

religiosidade do cotidiano das pessoas, bem como da relevância social que possuía.

Na idade média a religião apresentava-se como poder controlador e organizador da

sociedade. A religião vinculava-se mais às normas, regras e ética social. Deus era

concebido objetivamente enquanto princípio fundante do todo, não poderia haver

contestações, pois a Igreja que controlava o Estado era a verdade absoluta.

Contudo, no final da idade média houve uma revolução no pensamento, passando-

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se a acreditar na perspectiva subjetiva, no conhecimento e na experiência imediata

do real mediada pelo viés subjetivo. Em conseqüência, deixou-se para trás a crença

de causa primeira divina, pois esta poderia ser uma crença subjetiva, sem

necessariamente, dar-se em objetivo.

A espiritualidade e a religiosidade foram associadas desde os primórdios da

civilização, mas no final do século XX, o uso de ambos os termos foi segregado, em

decorrência da secularização, movimento pelo qual a religião deixa de caracterizar-

se sócio-cultural agregadora, assim como uma contraposição aos modelos da

predominância científica e tecnológica, que passaram a excluir a dimensão espiritual

da sociedade. Ocorreu, então, uma diferenciação desses dois termos em suas

compreensões ontológicas, bem como de suas práticas. Entretanto, por mais que

sejam de natureza distinta, a espiritualidade está essencialmente imbricada em um

comportamento religioso que proporciona significado e valor imensurável à vida

humana.

A ascensão da ciência e da tecnologia proporcionaram o aumento de estudos

e análises sobre fatores relacionados ao ser humano e o mundo em amplo sentido,

especialmente sobre a relação do homem e seus aspectos com a saúde e a

qualidade de vida. Contemporaneamente, começou a haver um interesse precípuo

pelas dimensões espiritual e religiosa na relação com a saúde e a qualidade de vida.

A constatação da relevância da espiritualidade em saúde ocasionou a

proposta de mudança do conceito de saúde, na Assembléia Mundial de Saúde em

1983, para “um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e

social. E a subseqüente agregação da espiritualidade, religiosidade e crenças

pessoais à estimativa de qualidade de vida (FLECK, 2000, p.6). A necessidade de

se olhar para o ser humano com uma visão mais global e holística, provocou o posi-

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cionamento de consideração das dimensões espiritual e religiosa pela Organização

Mundial da Saúde (OMS), incitando a criação de um domínio que contempla

aspectos sobre espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais, sendo este mesmo

o título, presente no WHOQOL-100 (The World Health Organization instrument to

evaluate quality of life: caracteristics and perspectives), instrumento de avaliação de

qualidade de vida. Esse domínio tem por finalidade atender às práticas religiosas

que apresentam ou não espiritualidade, bem como a dimensão espiritual

independente da religiosa e as crenças pessoais que em nada se assemelham à

religiosidade e à espiritualidade.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a espiritualidade e a

religiosidade divergem, pois a primeira não se enquadra em crenças ou práticas

específicas, ela envolve questões sobre significado de vida. Na religiosidade há um

sistema de crenças e práticas partilhadas em grupo. A religião, normalmente integra

a fé em um ser superior, criador e controlador do universo, que pode envolver o

aspecto espiritual e as crenças pessoais ou não, pois uma pessoa pode ser

espiritualizada sem, no entanto, acreditar em alguém ou algo que lhe tenha criado e

lhe seja superior. Apenas concretiza a experiência espiritual sem nominalizá-la.

Enquanto que as crenças pessoais não necessariamente são de ordem espiritual

e/ou religiosa, mas o inverso acontece.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a religiosidade e a

espiritualidade são alicerces às pessoas que estão em sofrimento ou doentes, sendo

positivamente associadas à saúde física, mental e social. O comportamento

religioso, que inclui a religiosidade e espiritualidade pode contribuir para a avaliação

positiva dos eventos da vida. A religiosidade e espiritualidade são fatores que devem

ser considerados associados nas análises científicas (HILL, et al, 2000 apud

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FARIA;SEIDL, 2005). A religiosidade pode ser benéfica ou não, estando sua função

relacionada ao modo como ela age na vida da pessoa (PALOUTZIAN, 1996 apud

ROEHE, 2004; PARGAMENT 1998 apud FARIA; SEIDL, 2005).

Pargament (1997) ressalta que diversas pessoas utilizam a religião como

sustentáculo cognitivo, emocional e comportamental para enfrentar problemas de

saúde. Aqueles que mais usufruem de crenças e/ou práticas religiosas possuem

uma orientação geral de mundo apoiada nas mesmas. No enfrentamento dos

eventos da vida, especialmente os eventos estressores, ocorre a atribuição de

significados, entendendo-os como parte de um propósito mais amplo. Dull & Skokan

(1995); Siegl e cols (1991) afirmam que as crenças e práticas religiosas intervém no

processo saúde-doença, devido ao desenvolvimento de esquemas cognitivos que

podem aumentar os recursos pessoais de enfrentamento, pela adição da sensação

de controle e da auto-estima. O que permitirá atribuir significado aos eventos

estressores (FARIA; SEIDL, op.cit).

Os fatores espiritual e religioso podem oferecer importante suporte e conforto

para pessoas acometidas por doenças graves, entre elas o câncer que atinge

mulheres. A fé e a confiança propiciam grande força, que adjunta à crença em um

ser superior ou Deus, proporcionam a elas esperança de cura da doença, sendo a

religião o seu maior suporte no processo de reabilitação e adaptação à doença

(LIDNARD, et al, 2002). São também fatores protetores para o risco de câncer, nível

de dor relacionado a esta patologia e a morte. Espiritualidade e religião são recursos

utilizados por pacientes oncológicos, os quais apresentam mais esperança,

correlacionando positivamente bem-estar espiritual, religioso e qualidade de vida

(CELLA, et al, 1999 apud TEIXEIRA, et al, 2004). No enfrentamento religioso,

definido como uma das estratégias de enfrentamento no contexto de ameaça à

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saúde, como no caso da Síndrome de Imunideficiência Adquirida (AIDS), as crenças

e práticas religiosas favorecem emoções e sentimentos de conforto, sensação de

força, poder e controle, suporte social, senso de pertencimento, aceitação da

doença, alívio do medo diante da morte, corroborando para a adaptação psicológica

perante esse contexto (SIEGL e SCHRIMSHAW, 2002 apud FARIA e SEIDL, 2006).

Estudando pacientes com Aids, por meio de uma escala de bem-espiritual e

desesperança, observou-se que pacientes com escores maiores em bem-estar

espiritual tendiam a ser mais esperançosos (ELERHOST-RYAN, 1996 apud

TEIXEIRA, et al, 2004). Paiva (1998 apud Faria e Seidl, 2005) ressalta que o

comportamento religioso não deve ser direcionado exclusivamente à doença, mas

incluindo outros aspectos da vida do sujeito para a obtenção de seu bem-estar geral.

Pargament (1997); Tarakwshwar & Pargament (2001) afirmam que quando as

pessoas se voltam para a religião para lidar com o estresse, acontece o coping

religioso-espiritual (CRE). Os objetivos do mesmo referem-se à busca de significado,

controle, conforto espiritual, intimidade com Deus e com outro membros da

sociedade e transformação de vida. Assim como, o bem-estar físico, psicológico e

emocional. As estratégias de CRE apresentaram correlação positiva com melhor

saúde mental, com menos sintomas depressivos e melhor qualidade de vida;

crescimento espiritual e cooperatividade. Estratégias negativas de CRE tiveram

correlação negativa com saúde física, depressão e qualidade de vida. Altos níveis de

religiosidade intrínseca, ou seja, valores e normas religiosas e éticas pessoais

interiorizadas, em pacientes idosos, estão associados à menor uso de cigarro e

álcool (PANZINI, et al, 2005).

Koenig (1991), salienta que a importância subjetiva dada a religião tem um

efeito maior do que a freqüência com que o sujeito vai à igreja. O comportamento

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religioso pode proteger contra a ansiedade, a qual poderia contribuir para a

hipertensão. Koenig (et al, 2001), diz que a prática religiosa levada ao extremo pode

influenciar negativamente tanto a saúde física quanto a mental. Pode, muitas vezes,

ser utilizada para justificar sentimentos de raiva, ódio, agressão e preconceito,

limitando o potencial psíquico, humano e espiritual (TEIXEIRA, et al, 2004).

Um estudo na Universidade do Rio Grande do Sul, sobre a prevalência de

transtornos psiquiátricos menores associados à espiritualidade, utilizou-se uma

escala de bem-estar espiritual. Verificando os dados dessa escala, constatou-se que

altos escores de bem-estar espiritual e existencial aumentam a possibilidade de

melhor saúde mental. Nos escores baixos, a probabilidade de apresentação de

transtornos psiquiátricos menores tornou-se duas vezes maior. No mesmo estudo,

indica-se que o bem-estar espiritual pode ser fator de proteção para pacientes

idosos com câncer, com atitudes de enfrentamento da doença. Em estudantes

universitários esse bem-estar relacionou-se a diminuição do risco de depressão e

suicídio, corroborando com pesquisas mundiais sobre esses aspectos (VOLCAN, et

al, 2003).

O envolvimento religioso pode atuar como fator protetor da saúde mental.

Aqueles, cujas crenças e práticas religiosas, que freqüentam cultos, oram e lêem

textos religiosos, apresentam maior bem-estar psicológico, menor risco de

depressão; menor uso, abuso ou dependência de substâncias; menor ideação e

possibilidade de comportamento suicida, assim como menores comportamentos

delinqüentes (MOREIRA-ALMEIDA apud DALGALARRONDO, 2007; KOENIG, 2001

apud PANZINI, 2005).

Em estudo sobre o uso e abuso de drogas, relacionadas ao comportamento

religioso dos adolescentes de Campinas, interior de São Paulo, verificou-se que os

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adolescentes que se consideravam mais religiosos, por meio da avaliação de

parâmetros de relação com a afiliação religiosa, freqüência a cultos e auto-avaliação

geral quanto a religiosidade, apresentaram menor freqüência de uso pesado (diário)

de drogas. Além disso, a categoria educação religiosa desde a infância, apresentou-

se influente quanto à inibição do uso de álcool e drogas pelos adolescentes. Outra

relação inversa que apareceu foi a de educação religiosa e sintomas

psicopatológicos, podendo-se supor que os adolescentes com menos educação

religiosa e menos comportamento religioso sentem-se psicologicamente pior

(DALGALARRONDO, et al, 2004).

Sobre a relação positiva do comportamento religioso e saúde mental,

acredita-se que possa haver fatores que ajam conjuntamente. Dentre eles: o apoio

social dos grupos religiosos, o possível sistema de crenças que propicia sentido a

vida e ao sofrimento, a motivação de comportamentos saudáveis e regras referentes

a estilo de vida, como o uso de substâncias e outros (DALGALARRONDO, op.cit). A

propensão a menores comportamentos de risco podem possibilitar melhor saúde

física e maior alcance da longevidade.

Quanto à dimensão social, o apoio social garantido nos grupos ou instituições

religiosos, acentua os aspectos positivos das relações sociais. A participação

comunitária pode acarretar no aumento da autoconfiança, da satisfação com a vida

e capacidade de enfrentar problemas. O suporte social e a rede de relações sociais

favorecem, portanto, o bem-estar e a manutenção da saúde mental dos membros do

grupo, com princípios de solidariedade e ajuda mútua. O apoio social, que pode ser

mediado pelos grupos ou instituições religiosos, pode ser relevante no aumento da

confiança pessoal, na regulação da emoção, satisfação com a vida e na capacidade

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de enfrentar problemas. Em situações de enfermidade, o apoio social propicia

sentido de vida e aumento da auto-estima (RESENDE, et al, 2007).

O comportamento religioso pode promover melhor relacionamento

interpessoal na família, na comunidade e no próprio grupo religioso, pois está

alicerçado sob a compreensão, reconciliação e divisão (MCCULLOUGH, 1995 apud

ROEHE, 2004). Além disso, o comportamento religioso, que tem por base a

solidariedade e a compaixão, exerce profundo efeito sobre os relacionamentos intra

e interpessoal.

A clareza quanto às espécies de comportamento religioso torna-se prioritária,

pois dependendo do tipo de comportamento, poderá não revelar qualidade de vida.

Os comportamentos religiosos extremistas, que consideram suas crenças e práticas

de único princípio correto e não aceitam a diversidade, não respeitando outras

crenças estão entre aqueles que não revelam qualidade de vida. Outro

comportamento deste tipo é próprio daquelas pessoas que o reproduzem em

demasia, sendo atribuídas todas as causas dos problemas à ordem sobrenatural,

não acarretando na co-responsabilidade da pessoa por sua própria vida, muitas

vezes deixando de cuidar de sua saúde, bem como do ambiente/mundo.

Um comportamento religioso que também pode caracterizar-se

psicopatológico configura-se como aquele que o sujeito o pratica em excesso,

desprezando outras áreas da vida dele que são importantes. Deve-se atentar,

igualmente, para os comportamentos religiosos que se qualificam inflexíveis e

rigorosistas, em que prevalece a culpa e a noção extrema de pecado, os quais

dificilmente admitem falhas e erros por parte do ser humano. Nesse tipo de

comportamento, a pessoa pode não se sentir amada e respeitada. Os seus próprios

limites são ultrapassados, sendo que a pessoa passa a se sentir sempre punida por

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um ser superior e pela instituição ou grupo religioso; constituindo-se em uma relação

de temor e pavor para com o sagrado.

O comportamento religioso pode proporcionar maior poder de enfrentamento

das situações difíceis, bem-estar subjetivo, fé, confiança, esperança, auto-estima

positiva, construção e/ou preservação de identidade, sentimento de pertença, melhor

qualidade de relacionamento intra e interpessoal, apoio social, minimização de

riscos sociais, de doenças físicas e psicológicas, significado e sentido de vida.

Enfim, propiciará maior bem-estar subjetivo frente aos múltiplos aspectos da

vida da pessoa, o que colaborará para a avaliação positiva de sua qualidade de vida.

Bem como, considerando variáveis como a personalidade do sujeito, suas cognições

e o modo como se vivencia o comportamento religioso, de forma negativa, pode

acarretar em conflitos psicológicos, medo, ansiedade e culpa exacerbadas.

As crenças e/ou práticas religiosas conferem sentido à vida que participam na

construção de identidades sociais e culturais, as pessoas orientam o cotidiano

mediante esses saberes. O comportamento religioso é essencial quando favorece o

desenvolvimento pessoal no ensejo da auto-estima e sensação de controle pessoal,

melhor entendimento, valores precípuos ao melhor conhecimento e aceitação de si e

de outras pessoas, sensação de liberdade de escolhas favoráveis a si e pelo seu

mundo, inclusive favorecendo uma relação eco-espiritual para com este e

autonomia.

O comportamento religioso é prescindível quando distorce as percepções da

realidade, contribuindo para a falta de entendimento e integração do sujeito com sua

realidade, também quando exclui as dimensões espiritual e social da vida do sujeito

e restringe sua possibilidade de abertura a novas experiências de crescimento e

desenvolvimento.

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Quando o mesmo contempla o aspecto espiritual, seja em religiosidade ou

não, perpassa para o cotidiano do sujeito, produzindo uma noção de significado e a

construção de uma escala de valores dos vários aspectos importantes em sua vida,

valoração esta que irá ser considerada na aferição da qualidade de vida. Este tipo

de comportamento reflete em atitudes perante a vida e para com outras pessoas,

sendo qualitativamente genuíno. O comportamento religioso torna-se relevante

quando se constitui em uma “fonte de conforto, bem-estar, segurança, significado,

senso de pertencer, ideal e força” (FLECK, 2000, p. 3). Do contrário em conotação

negativa para a pessoa, perde sua funcionalidade.

O comportamento religioso, bem como a espiritualidade, que destituem o ser

humano de sua co-responsabilidade, da ética, dos valores morais de bem, da

participação social e ecológica provavelmente terá dificuldades em conduzir a um

nível satisfatório de qualidade de vida. A liberdade de escolha conduz à

responsabilidade, que quando não efetivamente proferida, torna-se alienadora. A

conduta religiosa plausível possui propósitos de desenvolvimento pessoal, espiritual

e social.

2.4 Psicoterapia, comportamento religioso e espiritualidade

O movimento de reavaliação da dimensão espiritual enquanto expressão de

um fenômeno humano acarretou na necessidade de considerar este aspecto na

psicoterapia, técnica e instrumento que tem por objetivo final o restabelecimento da

saúde mental do sujeito e a promoção da qualidade de vida. Essa evolução de

pensamento remete a compreensão do progressivo estudo da Psicologia, que desde

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a era antiga até a época moderna considerava a psique enquanto alma ou espírito

humano, em âmbito subjetivo, como seu objeto de investigação.

Com a vinda do materialismo científico, a psicologia teve de se cientificar,

comtemplando apenas a objetividade da experiência, exceptuando a subjetividade

dos fenômenos humanos. Contudo, a reconsideração da espiritualidade na esfera

científica abrange necessariamente a subjetividade da experiência, passando a ser

compreendida em diversos contextos presentes na vida humana.

Religião e espiritualidade são fenômenos constantes da existência humana,

sendo fundamentais a serem apreciados. As investigações referentes à influência de

tais aspectos na saúde humana, em especial a saúde mental, provocou a reflexão

da Psicologia Clínica, no sentido de atentar para o fato de que há a manifestação

espiritual e religiosa, e neste sentido, de um comportamento religioso por parte de

muitos clientes. Esse fato precisa ser considerado e amplamente estudado,

carecendo de uma preparação especial para o manejo psicoterapêutico perante

essas essenciais questões.

O acolhimento do comportamento religioso na psicoterapia demanda o olhar

para com o sujeito como um ser total, integrando sua face espiritual e religiosa com

sua organização física e psíquica. Requer também a compreensão de que este

sujeito possui condições de escolha para suas crenças religiosas, pois tem liberdade

para realizá-las. Essas crenças e valores advindos do seu envolvimento religioso,

irão naturalmente caracterizar sua realidade subjetiva perante as experiências

objetivas e concretas de sua vida, possibilitando-lhe direcionar-se por um ou outro

caminho, baseado nesta realidade interior.

Os pressupostos da Filosofia do Existencialismo, a qual promoveu o

surgimento da Psicologia Existencial entende que o ser humano não pode prescindir

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de liberdade, que sua essência consiste em escolhas, as quais tem de ser feitas

com responsabilidade. É preciso se auto-conhecer para perceber as condições e

possibilidades existenciais perante a liberdade. As decisões em várias esferas da

vida demandam responsabilidade e coragem para que se direcione objetivando uma

transformação e realização quase plena, não atingindo este nível devido às

pressões, sejam elas de ordem interna ao sujeito, ou, estabelecidas externamente.

A Psicologia Existencial tem um posicionamento próprio na compreensão do

homem, pois propõe investigar a história de vida do paciente, mas não o trata

baseada em técnicas e mecanismos de entendimento da psicopatologia, pelo

contrário, procura conhecer o paciente em sua estrutura total com o mundo nas três

instâncias a que ele se insere: mundo interior, mundo natural e mundo das relações.

A Análise Existencial compreende não somente o psiquismo do paciente

como uma parte isolada, mas analisa o sujeito em perspectiva ontológica,

entendendo-o como um ser no mundo, como um ser vivo, existente, com o intuito

final de ele mesmo reconhecer e experimentar sua própria existência, a fim de

adquirir auto-consciência de sua existência, da liberdade e co-responsabilidade pela

vida e do sentido da mesma.

Nesse sentido, pode-se traçar um paralelo com a Logoterapia, a Terceira

Escola Vienense de Psicoterapia, criada pelo psiquiatra Viktor Emil Frankl (1905-

1997), a qual tem princípios e práticas baseados na análise existencial, mas que

reconhece um inconsciente que não se constitui apenas enquanto caráter instintivo,

todavia, de qualidade espiritual. O ser humano, portanto, constitui-se em corpo,

psiquismo e dimensão noética ou espiritual. É também um ser de qualidade

transcendente, rumo à busca de experiência afora de sua consciência, libertando-se

dos condicionantes psicológicos e sociais.

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No inconsciente espiritual, argüido por Frankl, sobrevém a religiosidade

inconsciente inerente a todo ser humano. Quando a fé ou a religiosidade deste

último é reprimida, sai do centro da pessoa, seu local próprio, transformando-se em

uma neurose. Ela aniquila a qualidade essencial da auto-transcendência, da

possibilidade de sair de si, para além da instância consciente. Apenas saindo da

consciência, em um movimento para outras coisas ou outras pessoas é que se

apreende um sentido único e original a pessoa. Além disso, a qualidade da

transcendência permite que se inquira sobre o sentido último da existência, que se

seja em natureza religioso, alcançando uma relação constante com o transcendente,

ou se queira se designar Deus. Toda pessoa pode estabelecer essa relação, que

quando não vivenciada, é por que a religiosidade, que é latente, está oculta e

reprimida.

Diante dos pressupostos da Logoterapia, o comportamento religioso por si só

propicia um sentido último para a existência humana. A existência humana se

direciona intencionalmente para um sentido. O sentido de vida propiciado pelo

comportamento religioso, que peculiarmente inclui a espiritualidade, abrange a fé e a

produção de uma hierarquia de valores já em nível inconsciente, que determina sua

visão de mundo e de homem, assim como suas decisões diante das diversas

situações concretas de sua vida.

A consciência humana está submersa no inconsciente. Por isso, em um

primeiro momento, a consciência que é ética e que estabelece os valores a priori, a

qual ainda virá a ser, é de propriedade irracional, mas que por meio da abstração

espiritual, pela intuição, poderá ser também do domínio da razão.

A Logoterapia tem a finalidade de ajudar a pessoa a encontrar um sentido

para sua vida, ou ainda, reavaliar seus valores, significados e o sentido que atribuiu

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à sua existência; quando há a possibilidade de haver distorções de valores, e a

incongruência das crenças interiores com o que se percebe na prática cotidiana do

sujeito. A Logoterapia tem faculdade para compreender o ser humano em uma

perspectiva ampla e de integração espiritual e religiosa. Por isso, pode ser

fundamento da edificação e operação de uma proposta psicoterapêutica com

recursos técnicos para ajudar aqueles que têm algum tipo de conflito em relação ao

seu comportamento religioso.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - IV (DSM-IV-TR,

2002, p.693), em sua última atualização incluiu “Problemas Espirituais e Religiosos”

como uma categoria diagnóstica, devido à emergência de se abordar a questão

espiritual e religiosa na psicoterapia. As subcategorias dela envolvem “experiências

angustiantes como perda ou questionamento da fé, problemas relacionados à

conversão a uma nova fé, questionamento dos valores espirituais que podem não

estar necessariamente, relacionados com uma igreja ou religião institucionalizada.”

As questões religiosas e espirituais vêm sendo investigadas pelos psicólogos

em várias nações, inclusive no Brasil, que possui psicólogos da religião que atentam

exclusivamente para essa demanda. Há um consenso geral sobre a necessidade de

se possuir referencial teórico para a abordagem do comportamento religioso entre os

psicoterapeutas, assim como se torna necessário conhecer sobre o comportamento

religioso e suas diversas implicações, uma delas, a espiritualidade. Bem como o

processo da conduta religiosa do próprio paciente.

É imprescindível ao psicoterapeuta obter conhecimento mais característico do

comportamento religioso do paciente, em âmbito pessoal e/ou social e até mesmo

familiar, pois sua conduta o paciente pode estar utilizando a religião como

subterfúgio para uma possível psicopatologia, ou pode estar enfrentando problemas

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de relacionamento no seu grupo religioso. É tarefa do psicoterapeuta avaliar se o

comportamento religioso do paciente está trazendo benefícios à saúde e à

qualidade de vida dele ou está o alienando e prejudicando-o substancialmente.

O psicoterapeuta, seja da área que for, precisa estar ciente das relações

constituídas pelo paciente intrapsiquicamente e no âmbito interpessoal nos tempos

passado e presente, considerando a possível participação daquele em um grupo

religioso. Desta forma, poderá compreender a atitude do paciente antes e depois de

seu comportamento religioso, e a função que este comportamento teve e está tendo

na vida do paciente. Também se faz necessário verificar se o comportamento

religioso do paciente advém desde a sua infância e como o constituiu enquanto

sujeito no mundo.

A conduta religiosa da família, quando consoante com a conduta do paciente,

também é importante ser investigada, pois o mesmo pode ter tido uma educação

religiosa muito rígida e pode estar há tempo em conflito por sentir-se obrigado a

responder a certos padrões religiosos que não gostaria , ou por vezes, não tem

consciência de que pode estar lhe fazendo mal.

Nesse sentido, um procedimento psicoterapêutico referenciado pela

Logoterapia, pode ajudar ao paciente se auto-conscientizar dos valores que ele

realmente acredita e que estão implícitos em si, ajudando-o a tomar a decisão certa

e tomar iniciativa pelos seus próprios valores concretos e pela busca de seu próprio

sentido. O que contribuirá para que o paciente tome consciência dos valores

envolvidos em seu comportamento religioso e de que forma eles estão sendo

concretizados na vida dele. Com relação à categoria conversão a uma nova fé, o

mesmo procedimento pode ser realizado.

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Na psicoterapia igualmente apoiada nos fundamentos Logoterapêuticos, a

perda ou questionamento da fé, subcategoria do DSM-IV-TR (2002, p.693) pode ser

abordada, ajudando o paciente a descobrir a possível autenticidade de sua fé

religiosa, podendo encontrar o sentido último de sua existência, propiciado por ela.

A conversão a uma nova religião também pode ser manejada, compreendendo que

o paciente tem livre responsabilidade perante suas opções, podendo contribuir para

que ele se conscientize da escolha que fez ou que deseja realizar, e que esta

decisão lhe trará possíveis efeitos, podendo ser benéficos de acordo com a atitude

que o paciente terá perante essa situação.

Alicerçado na Logoterapia, o psicoterapeuta possui condições de atender às

questões de valores espirituais relacionadas ou não a igreja ou instituição religiosa,

os quais envolvem valores precípuos ao sujeito. Também pode atender às

experiências místicas religiosas e as diversas expressões da espiritualidade

presentes em um comportamento religioso, de comunhão de com o transcendente e

integração das experiências subjetivas e objetivas. Pois entende o ser humano como

um ser único que possui exclusivamente um centro espiritual, que em seu redor

estão agregados os centros da psique e do físico humanos.

O inconsciente espiritual constitui a religiosidade inconsciente que possui

relação direta com o transcendente. Toda pessoa tem liberdade para optar por ter

um relacionamento de inclusão ou não de um comportamento religioso. Aquele que

o exclui não está usufruindo de sua transcendência, pois não está se permitindo

enxergar e questionar para além de si, esquecendo assim de perguntar pelo sentido

da própria existência. A construção de uma hierarquia de valores espirituais

relaciona-se diretamente a consecução de sentido a vida do sujeito.

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O psicoterapeuta que se apóia na Logoterapia, deve ter clareza que o

comportamento religioso só é genuíno quando a pessoa se decide por ele, e quando

há essa decisão ela precisa ser respeitada e incentivada. Pois com ela o sujeito

tende a construir uma hierarquia de valores que irá propiciar significado e valor às

dimensões da vida dele, e em conseqüência, encontrando sentido para sua

existência. A ausência de sentido acarreta no sujeito um vazio existencial e até

mesmo pode conduzir a uma depressão pela carência de um sentido motivador para

a existência. A sociedade contemporânea, superficial na tentativa de as pessoas

afirmarem-se para fora de si, pode trazer um vazio e falta de sentido grande.

Quando não se tem objetivo próprio, corre-se o risco de buscá-lo fora e perder a

identidade, afastando-se demais da centralidade, da essência. A busca do sujeito

para um sentido é a motivação primária em sua vida, sendo este sentido específico

a cada pessoa.

Para finalizar, o paciente pode auto-determinar suas escolhas e o caminho

que irá percorrer. Pode também continuar em sua neurose e angústia, mas é preciso

decisão, coragem e responsabilidade pelas próprias decisões no sentido de

modificar as concepções, os valores e a vida, com o intuito final de conquistar mais

bem-estar e qualidade de vida.

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3. Análise e Discussão dos Resultados

Para uma compreensão sobre a relevância do comportamento religioso na

promoção da qualidade de vida é mister o conhecimento da concepção de

comportamento religioso em suas diversas atribuições, especialmente a da

Psicologia da Religião que o entende como todo aquele que se manifesta em sua

referência ao divino ou sobrenatural ou ainda ao transcendente sem nomilização, em

atitude de aceitá-lo ou de rejeição pessoal do mesmo (PAIVA, 1999). Bem como o

estuda em todas as suas dimensões e os efeitos que produz na vida do sujeito que o

apresenta.

Após o entendimento do que se designa ser comportamento religioso pode-se

demarcar uma análise do mesmo com a qualidade de vida, a qual envolve os

aspectos subjetivos e objetivos da experiência do sujeito, sendo priorizada a

avaliação subjetiva que o mesmo profere em relação a todos os aspectos referidos

de sua vida; incluindo os valores que são essenciais a ele e que irão influenciar na

estimativa de sua qualidade de vida.

Qualidade de vida é construto em constante estudo pela Organização Mundial

da Saúde. O último domínio agregado ao instrumento de avaliação da qualidade de

vida alude-se a “espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais” (FLECK, et al,

2003, p.3). Ação essa que corrobora para a relevância que se concede

universalmente às dimensões do domínio referido. Por conseguinte, o

comportamento religioso que abarca essas questões é claramente merecedor de

apreciação pelas ciências, especialmente a Psicologia por se tratar de um

comportamento.

O comportamento religioso genuíno, ou seja, aquele de apreensão interior

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que efetivamente a pessoa manifesta e que naturalmente envolve o componente

espiritual, é uma categoria imprescindível a ser considerada na aferição da

qualidade de vida. Pois o mesmo, implica na edificação de uma hierarquia de

valores subjetivos que propiciam fundamento à vida do sujeito e dependendo de

como a pessoa o maneja, contribui para que lhe traga maior satisfação, bem-estar e

subseqüente qualidade de vida.

O comportamento religioso autêntico ou genuíno pode acarretar em uma

melhor saúde física, uma avaliação positiva quanto à doença física, ampliando os

recursos pessoais no enfrentamento de situações adversas; proteção contra

doenças de ordem física e psíquica, assim com suas reabilitações e melhor saúde

psicológica. Contribuindo para uma melhor qualidade de relacionamento intra e

interpessoal, na compreensão, empatia, compaixão e cuidado a si e aos seus

próximos.

A espiritualidade refere-se ao significado de vida atribuído pelo sujeito às

diversas circunstancias de sua vida, proporcionando-lhe sentido único, sendo

categoria essencial na revelação do comportamento religioso de qualidade genuína

e pode favorecer a promoção da qualidade de vida. A espiritualidade imbricada no

comportamento religioso pode proporcionar uma integração do sujeito com o seu

mundo externo, tornando-o propenso a preocupação para consigo, com o outro, com

o mundo em relação às questões políticas, econômicas, sociais e ecológicas, porque

o homem que a expressa sente que o transcendente está presente. Todavia, a

existência demanda a co-responsabilidade daquele pela vida e pelo mundo. Possui

liberdade para realizar, mas responsabilidade para assegurar uma existência com

qualidade e verdadeiro sentido.

Desde a era antiga até a moderna houve consideração do sentido espiritual

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aliado à religião, concedendo ao fenômeno religioso significativa importância. Mas o

cientificismo do mundo moderno delegou para segundo plano a qualidade de

experiência espiritual e religiosa, atribuindo à matéria a experiência plausível. O

movimento atual é de reconsideração do aspecto espiritual, associada ou não às

religiões; que tudo relaciona e liga na instância existente, acarretando em uma

estima pelo cuidado, devolvendo ao ser humano “o sentimento de pertença à família

humana, a Terra, ao universo e ao propósito divino (...) de re-ligação, de re-

encantamento pela natureza e de com-paixão pelos que sofrem; inaugura-se uma

nova ternura para com a vida e um sentimento autêntico de pertença amorosa à

Mãe-Terra (...) aumenta a consciência da responsabilidade pelo único planeta que

temos, por sua imensa biodiversidade e por cada ser ameaçado de extinção (BOFF,

1999, p. 25-26). Os valores de fé, amor, compaixão, respeito, tolerância, cuidado e

outros são enaltecidos pelo comportamento religioso que inclui a espiritualidade.

O comportamento religioso que não abarca as dimensões espiritual e social

da vida da pessoa torna-se egocentrado e alienante, pois não busca o

desenvolvimento pessoal, espiritual e social, bem como a responsabilização do

sujeito por si e pelo cuidado para com sua sociedade e com o mundo de modo geral.

A espiritualidade impulsiona também a responsabilização pela natureza e pelo

planeta dos quais o homem é parte integrante, sendo ela capaz de integrar as todas

as dimensões da vida da pessoa. A característica espiritual é que confere sentido

único à experiência religiosa interiorizada pela pessoa e influi nas atitudes positivas

frente à vida, ás outras pessoas e ao mundo.

O aspecto social também é contemplado na expressão do comportamento

religioso, especialmente quando do pertencimento do sujeito a um grupo ou

instituição religiosos, que se denomina religiosidade. As características de aceitação

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das pessoas e a identidade quando garantidas pela coesão grupal ou institucional

contribui para o senso de pertencimento e integração por parte do sujeito. O apoio

social quando presente nesse tipo de grupo é potencialmente relevante para que o

sujeito sinta-se seguro e confortado emocionalmente e com maior auto-aceitação,

compreensão de si e de outras pessoas e maior auto-estima.

Percebe-se, portanto, que para o comportamento religioso acarretar na

promoção da qualidade de vida deve contemplar não somente a apreciação pelo

valor que tem para o sujeito, mas também outros contextos que implicam na vida

dele. Além de seu universo inconsciente e da consciência que lhe orientam, a

cultura, sociedade e mundo com seus diversos contextos exercem influência sobre

sua existência. Dá-se primazia para a subjetividade do sujeito, contudo a

objetividade das experiências é imprescindível para a avaliação de sua vida e da

qualidade da mesma.

Independente da agregação a institucionalidade ou grupo religioso, o

comportamento religioso que contempla a dimensão espiritual pode atender ao

aspecto social de forma positiva, pois integra o individual, o coletivo, o universo e o

transcendente, sentindo-se o sujeito autor, partícipe e pertencente ao todo existente,

inter-relacionando na sua subjetividade suas características singulares e as distintas.

O comportamento religioso que não estiver trazendo bem-estar subjetivo e

satisfação à pessoa; assim como se estiver lhe causando problemas com relação

aos sentimentos, pensamentos, cognições, crenças, relacionamentos, seja intra ou

interpessoais; tem de ser verificado com atenção. O psicoterapeuta é o profissional

mais apto a realizar a investigação do fenômeno comportamento religioso e da

aplicação que a pessoa faz do mesmo. A personalidade do sujeito e a maneira como

vivencia seu comportamento religioso devem prioritariamente ser investigadas na

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psicoterapia, pois são características que influenciam nos efeitos finais produzidos

na vida do sujeito, propiciando ou não a sua melhor qualidade de vida.

Também é fundamental considerar o comportamento religioso da pessoa nos

tempos passado e presente, com o intuito de avaliar a personalidade e o

comportamento do sujeito antes e depois da manifestação de sua conduta religiosa,

bem como da funcionalidade desta na vida dele. É essencial verificar se o

comportamento religioso é o mesmo desde a sua infância e como constitui a sua

singularidade, principalmente se o psicoterapeuta suspeitar que o sujeito possui

sintomas psicopatológicos e pode estar utilizando a religiosidade como subterfúgio

para eles.

Torna-se igualmente prioritária a compreensão da ética predominante de

determinadas religiões em instituições ou grupos na aferição da qualidade de vida

em relação com o comportamento religioso. A ética que Fromm (1986) denomina

autoritária, baseada na obediência a um poder superior, seja ele transcendente ou o

líder religioso, que é visto pelo sujeito como uma imposição de poder e de forma

intimidante e desigual, acarreta na subverniência do sujeito, muitas vezes

apresentando sentimento de culpa e outros de caráter negativo, por sentir-se

deveras pressionado.

Esse tipo de comportamento religioso naturalmente não corroborará a

promoção da qualidade de vida. A ética humanista busca o desenvolvimento dos

verdadeiros valores singulares do ser humano, cultivando a afetividade a si e ao

próximo e uma comunhão do sujeito com universo. A realização pessoal é

priorizada, contribuindo para um bem-estar que é autêntico e positivo para a própria

pessoa e para o coletivo e a estimativa de qualidade de vida proferida por ela.

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A sujeição a normas e regras muito rígidas da ordem de uma instituição ou

grupo religioso, além de aniquilar a dimensão espiritual que confere significado

interior da experiência religiosa do sujeito, pode acarretar em um comportamento

extremamente neurótico e a possibilidade de produção de sentimento de culpa

exacerbado, medo e ansiedade por parte dele. “Ao substantivar-se e

institucionalizar-se em forma de poder, seja sagrado, social, cultural e militar (...) as

religiões perdem a fonte que as mantém vivas – a espiritualidade “ (BOFF, 2001, p.

28).

As religiões não podem ter a função de controlar o sujeito e a sociedade. O

comportamento religioso não deve ser expressão de uma ordem ou obrigação do

sujeito, deve outrossim, ter a finalidade de trazer bem-estar a sua pessoa de modo

geral, e aos demais que partilham de sua experiência, sendo meio de interpretação

de si, da vida e do universo; deve enfim proporcionar sentido amplo a sua existência

que não está sozinha, mas imbricada na rede de relações da vida.

A função que o comportamento religioso tem na vida do sujeito tem de ser

relevado na análise de sua qualidade de vida. Aquele comportamento que propicia

benefícios à vida dele é um importante preditor de uma vida com mais qualidade, do

contrário perde sua funcionalidade a uma vida com mais qualidade. James (1902

apud Rosa, 1971) ressalta as qualidades saudável e doente do comportamento

religioso. Em sua apreensão saudável, o comportamento religioso propicia uma

maturidade religiosa e o senso de comunhão com o universo em perspectiva mais

ampla que de sua existência, análogo ao que ocorre com a espiritualidade. Já

quando doente, o comportamento religioso é neurótico e em demasia individualista.

A fase do ciclo vital a que a pessoa se encontra naturalmente influi em sua

maturidade emocional, psíquica, religiosa e espiritual. A maturidade da experiência

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religiosa é fator que influencia substancialmente no tipo de conduta religiosa que a

pessoa possui e na análise quanto à sua qualidade de vida. Na infância, etapa em

que se imbutem os valores de vida, realizado principalmente pelos pais, é difícil não

haver uma experiência religiosa de caráter dependente, aquilo que Freud reporta-se

sobre absoluta dependência infantil de um pai relativo ao sentimento do sujeito para

com Deus, compreendendo que este último constitui a personificação de pai; o que

Frankl vem a se contrapor afirmando ser o pai a personificação de Deus e não o

contrário.

Verifica-se assim que enquanto infante, o sujeito não tem condições de aferir

sobre as implicações de seu comportamento religioso em sua vida, pois seu

desenvolvimento biológico, mental e psíquico não está em suficiência formado,

assim como ainda não estruturou os valores que são precípuos a si. Entretanto, ao

Psicoterapeuta é fundamental realizar a investigação do comportamento religioso

desde a infância até a idade cronológica atual do sujeito, pois precisa ter uma visão

global da conduta religiosa do sujeito e de sua família, para verificar o tipo de

educação religiosa que recebeu e de que forma isso reflete em seu comportamento

religioso.

O psicoterapeuta precisa investigar se há incongruência de valores do sujeito

e de sua família, e no caso de confirmar esta hipótese, a psicoterapia, e mais

especificamente uma proposta sustentada na Logoterapia, poderá contribuir para a

auto-conscientização do sujeito de seus próprios valores que estão em nível

inconsciente, colaborando para um encontro consigo mesmo, de valores concretos

que lhe trazem profundo significado diante de situações da vida dele e o encontro de

seu real sentido de vida.

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A partir da etapa da adolescência a pessoa já tem condições de abstrair o

conhecimento da experiência, sendo capaz de escolher entre as opções que possui,

construindo a partir de suas condições uma escala de valores que irá nortear a sua

vida. O adolescente tem capacidade para optar por um comportamento religioso

distinto ou não daquele dos pais ou da família, expressando muitas vezes sua

conduta em um grupo religioso que irá lhe beneficiar em sua face social.

O adulto segue o mesmo processo que o do adolescente, contudo o

comportamento religioso lhe auxilia a finalizar a formação de sua filosofia de vida

que contribuirá a compreensão e interpretação de si, de suas experiências, das

pessoas, da vida e do universo, também propiciando significado às suas

experiências. Nessa fase a pessoa tem capacidade de estabelecer os valores

concretos norteadores de sua existência.

O adulto que vivencia um comportamento religioso autêntico pode melhor

enfrentar as diversas situações de sua vida, interpretando-as cognitivamente de

modo positivo, podendo garantir melhor saúde física e mental. A participação a um

grupo religioso pode acarretar em maior auto-estima, sentimento de pertença,

segurança emocional, auto-compreensão, confiança em si, preservação do auto-

conceito e outras qualidades quando do seu relacionamento satisfatório propiciado

no grupo.

O adulto que professa uma conduta religiosa genuína pode apresentar amplo

desenvolvimento pessoal, social e espiritual. O desenvolvimento espiritual é

propiciado por um sentimento de integração de sua existência com o Todo existente

e do encontro de valores concretos que lhe proporcionam significado às suas

experiências, bem como sentido de vida. Segundo Frankl (1992) a religiosidade

pertence ao inconsciente espiritual do ser humano e se constitui na busca e na

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realização do sentido último da existência, consistindo na obtenção de valores

supremos a ela. A busca de significados é a busca de valores concretos incitados

pela vontade de sentido que é inerente a toda pessoa.

Na velhice o comportamento religioso é de extrema importância para a

realização e confirmação de seu sentido de vida. Sem objetivos, sem valores e sem

sentido, a vida torna-se vazia, acarretando no vazio existencial cunhado por Frankl

(op.cit). A presença desse vazio favorece ao aparecimento de sentimentos

negativos, podendo até mesmo acarretar em problemas psicológicos como

transtorno depressivo, diminuindo substancialmente a possibilidade de uma

avaliação positiva da qualidade de vida por parte do sujeito.

Na etapa da velhice, é preciso reavaliar os valores, pois há mudanças quanto

à capacidade física, de independência e autonomia, psíquicas e sociais, implicando

em uma reavaliação dele quanto ao que autenticamente lhe interessa e que lhe trará

benefícios. É comum se dar mais atenção à espiritualidade na velhice, entretanto há

aqueles que ficam estagnados espiritualmente, não encontrando sentido, ficando

isolados socialmente e com sentimentos negativos em relação à vida, ao mundo, ao

transcendente e à morte. A morte é objeto de reflexão por parte dos idosos.

O comportamento religioso que inclui a dimensão espiritual, bem como a

expressão do mesmo em um grupo religioso pode ajudar o sujeito a encontrar um

sentido essencial em sua vida e beneficiá-lo com sensação de controle e segurança,

maior auto-estima, visão positiva, esperança e otimismo com relação ao presente e

ao futuro, auto-aceitação, satisfação relativa ao relacionamento social, estímulo à

realização de caridade, dentre outros. Nas etapas da adolescência, adultez e

velhice, as pessoas já têm condições de avaliar se o comportamento religioso que

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possuem acarreta ou não em benefícios e se influi na promoção da qualidade de

vida delas.

A Logoterapia, psicoterapia aplicada ao encontro do sentido de vida, pode

subsidiar com sustentação uma proposta psicoterapêutica que atenda as demandas

do comportamento religioso e da espiritualidade a ele imbricada. Um procedimento

psicoterapêutico baseado na Logoterapia, pode inclusive ser apto a atender as

necessidades de “Problemas Religiosos e Espirituais” categoria incluída no Manual

Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – IV (DSM-IV-TR, 2002, p.693),

bem como suas subcategorias, pois concebe a existência humana essencialmente

espiritual agregada aos componentes físico e psíquico, e religioso. O ser humano é

possuidor de uma relação inerente com o transcendente em sua instância

inconsciente.

Jung (1999) também concebe a ligação do humano com a transcendência em

nível inconsciente. Os dois autores partilham a idéia de que sem a religiosidade a

pessoa não se realiza como existência plena. Mas Jung afirma sobre o caráter

instintivo inconsciente da experiência religiosa que pode a qualquer momento

irromper na consciência do sujeito. Enquanto Frankl (op.cit) afirma que a

religiosidade demanda que a pessoa se decida por ela. Quando da decisão por não

concebê-la o ser humano acaba reprimindo-a e não transcendendo sua consciência

para além de si, não inquirindo sobre a origem e fim de sua existência, sobre o

significado último dela.

Finalizando, há diversos fatores implicados na conduta religiosa do sujeito

que o favorecem ou não a uma apreciação positiva de sua qualidade de vida e da

possível promoção desta. As peculiaridades do sujeito, de sua família, das relações

sociais que aquele estabelece, seu nível intrapsíquico e interpessoal, os valores

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concretos subjetivos que norteiam sua vida, a expressão destes valores em sua vida

e para com o universo, a espiritualidade que torna a experiência religiosa genuína,

os efeitos que produz a sua atitude religiosa do sujeito, são assuntos que estão

imbricados em seu comportamento religioso, sendo importantes objetos de

investigação científica, bem como do Psicoterapeuta apto a realizar esse trabalho.

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4 Considerações Finais

Pode-se assegurar que os objetivos do presente trabalho foram contemplados

para responder de forma concisa à pergunta de pesquisa sobre se na avaliação da

qualidade de vida é relevante o comportamento religioso. O presente trabalho

conseguiu abranger o objetivo geral a que se propunha investigar, o qual se refere à

relevância do comportamento religioso na promoção da qualidade de vida, bem

como os específicos que aludem à concepção do comportamento religioso segundo

a Psicologia da Religião e de qualidade de vida segundo a Organização Mundial da

Saúde (OMS); a análise da relevância do comportamento religioso para a qualidade

de vida; e a avaliação da importância do comportamento religioso, bem como da

espiritualidade na psicoterapia.

Percebe-se que todos os aspectos referentes ao comportamento religioso

para a pessoa que o vivencia, podem ou não ter uma relação positiva com sua

qualidade de vida, pois há fatores outros envolvidos que interferem nas experiências

subjetiva e objetiva do sujeito. Há uma relação positiva do comportamento religioso

para a promoção da qualidade de vida quando da eficácia que esses objetos

produzem no universo intrapsíquico e interpessoal do sujeito. Esse tem de ser

compreendido em perspectiva global, integrando suas faces biológica, psíquica,

espiritual e social, enfim como um ser humano completo, pois o comportamento

religioso envolve a existência humana em todos os seus níveis, inclusive exercendo

efeitos sobre a sociedade, a história, a cultura e o universo do qual é parte

integrante.

A própria Organização Mundial da Saúde considera na atualidade a

relevância das faces religiosa, espiritual e das crenças pessoais para a vida do ser

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humano. O comportamento religioso que abrange essas faces tem de ser relevado

pelo universo científico, em especial pela Psicologia que tem o comportamento como

um de seus principais objetos de estudo. O Manual Diagnóstico e Estatístico de

Transtornos Mentais (DSM-IV-TR, 2002, p.693) já inclui a categoria que contempla

“Problemas Religiosos e Espirituais”, dada a ampla ascensão dos aspectos

religiosos e espirituais inclusive para a saúde psicológica.

Existem Psicólogos que vêm estudando com mais profundidade o

comportamento religioso, mas ainda não há um consenso em toda a Psicologia

sobre sua importância, especialmente no Brasil que possui inúmeros fenômenos e

comportamentos religiosos a serem investigados. Precisa haver estudos mais

contundentes sobre a maneira de se abordar esse tipo de comportamento na

Psicoterapia, bem como os procedimentos psicoterapêuticos a serem utilizados.

Torna-se imprescindível investigar o comportamento religioso que conduz e

aquele que, provavelmente, não terá condições de promover uma qualidade de vida

satisfatória. Dependendo da personalidade total do sujeito e do modo como vivencia

seu comportamento religioso, pode-se avaliar se este tem possibilidade de ser um

dos fatores que influencia significativamente a promoção da qualidade de vida do

sujeito.

Os valores concretos subjetivos envolvidos no comportamento religioso do

sujeito, também têm de ser relevados, pois para que produzam significados

profundos a vida da pessoa precisa haver uma interiorização da experiência

religiosa e um sentido único atribuído a mesma. A dimensão espiritual qualifica a

experiência religiosa genuína, possibilitando ao sujeito transcender para apreender

essa experiência e captar seu significado único. Conforme as palavras de Frankl,

significado último de vida.

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A espiritualidade contribui para a vivência de um comportamento religioso

genuíno, propiciando a integração do sujeito com o transcendente, a vida, a

natureza, o universo e as pessoas, sentindo-se o mesmo co-responsável por sua

existência, tendo cuidado para consigo e com os demais e com o mundo, pois

entende que sua existência é parte do Todo existente, exercendo influência e sendo

influenciado por ele.

Uma conduta religiosa autêntica pode colaborar para uma transformação

interior positiva e para o sentimento amplo de bem-estar. Os comportamentos

religiosos demasiadamente rígidos, extremistas, doentios e egocentristas, que

produzem conflitos psíquicos, conflitos intra e interpessoais, e principalmente, que

não consiste em bem-estar subjetivo. Assim como o comportamento religioso que

não promove o desenvolvimento pessoal, espiritual e social dificilmente leva a um

nível satisfatório de qualidade de vida.

O comportamento religioso quando em conotação positiva para a pessoa é

capaz de lhe proporcionar melhor saúde física, psicológica e social, bem como uma

avaliação potencialmente positiva de sua qualidade de vida, sendo um dos fatores

intervenientes a sua promoção.

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