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1 O ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS QUAL A RELAÇÃO ENTRE ENSINAR E APRENDER HISTÓRIA NA ESCOLA E A HORA DO “RECREIO”? Diva Riciolina Machado 1 Lissandra Marques Martins Romagnolli 2 Quitéria Aparecida Batista 3 Silvana Muniz Guedes 4 Thamiris Bettiol Tonholo 5 Universidade Estadual de Londrina [email protected] RESUMO Qual a relação entre ensinar e aprender História na escola e a hora do “recreio”? Esse foi o desafio que tivemos que enfrentar no PIBID/UEL Pedagogia (o Programa conta com o apoio financeiro da CAPES). A proposta inicial objetivava trabalhar com Patrimônio Histórico, mas o cotidiano da escola era marcado por problemas vivenciados no horário do intervalo que invadiam a sala de aula comprometendo as relações de ensino e aprendizagem em todas as áreas do conhecimento. Ao buscarmos pesquisas que tivessem esse tempo/espaço como objeto de estudo compreendemos que o mesmo apresenta uma síntese do universo cultural na qual estão inseridos alunos, professores, funcionários... Enfim, a escola. Portanto, espaço de conhecer mais aos outros e a si mesmo, o que nos remete aos objetivos da História para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. O horário de intervalo pode ser considerado um termômetro para medir a sociabilidade no ambiente escolar. Assim sendo, esse artigo compõem-se por uma síntese de pesquisas sobre o horário de intervalo; sobre a importância da socialização no processo de ensino e aprendizagem (não só da História, mas nas demais áreas de conhecimento) e, por fim, sobre as ações que estamos desenvolvendo no intuito de contribuir para desafiar a imaginação dos alunos para viverem e agirem mantendo a autonomia e o respeito na relação com o outro. Palavras chave: socialização; recreio; ensino de História; cotidiano escolar. Introdução O PIBIB (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência) tem como objetivo a valorizar a docência visando o aperfeiçoamento da formação de professores 1 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES 2 Supervisora participante do sub projeto PIBID – Pedagogia/UEL 3 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES 4 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES 5 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES

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O ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS

QUAL A RELAÇÃO ENTRE ENSINAR E APRENDER HISTÓRIA NA ESCOLA E A HORA DO “RECREIO”?

Diva Riciolina Machado1

Lissandra Marques Martins Romagnolli2 Quitéria Aparecida Batista3

Silvana Muniz Guedes4 Thamiris Bettiol Tonholo5

Universidade Estadual de Londrina [email protected]

RESUMO

Qual a relação entre ensinar e aprender História na escola e a hora do “recreio”?

Esse foi o desafio que tivemos que enfrentar no PIBID/UEL Pedagogia (o Programa conta com o apoio financeiro da CAPES). A proposta inicial objetivava trabalhar com Patrimônio Histórico, mas o cotidiano da escola era marcado por problemas vivenciados no horário do intervalo que invadiam a sala de aula comprometendo as relações de ensino e aprendizagem em todas as áreas do conhecimento. Ao buscarmos pesquisas que tivessem esse tempo/espaço como objeto de estudo compreendemos que o mesmo apresenta uma síntese do universo cultural na qual estão inseridos alunos, professores, funcionários... Enfim, a escola. Portanto, espaço de conhecer mais aos outros e a si mesmo, o que nos remete aos objetivos da História para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. O horário de intervalo pode ser considerado um termômetro para medir a sociabilidade no ambiente escolar. Assim sendo, esse artigo compõem-se por uma síntese de pesquisas sobre o horário de intervalo; sobre a importância da socialização no processo de ensino e aprendizagem (não só da História, mas nas demais áreas de conhecimento) e, por fim, sobre as ações que estamos desenvolvendo no intuito de contribuir para desafiar a imaginação dos alunos para viverem e agirem mantendo a autonomia e o respeito na relação com o outro.

Palavras chave: socialização; recreio; ensino de História; cotidiano escolar.

Introdução

O PIBIB (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência) tem como

objetivo a valorizar a docência visando o aperfeiçoamento da formação de professores 1 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES

2 Supervisora participante do sub projeto PIBID – Pedagogia/UEL

3 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES

4 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES

5 Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBID – CAPES

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para a educação básica e melhoria de qualidade de educação pública brasileira.

Participamos do PIBID/PEDAGOGIA da Universidade Estadual de Londrina.

Inicialmente a proposta temática de trabalho para os anos de 2011 e 2012 era

trabalhar com o ensino de História nos Anos Iniciais com o tema Patrimônio Histórico.

O subprojeto elaborado denominou-se “A lente capta o que o coração sente:

permanências e transformações no patrimônio arquitetônico da cidade de Londrina”. No

entanto, ao iniciarmos nossos trabalhos em uma escola municipal da cidade de

Londrina, estado do Paraná, percebemos que a escola tinha demandas que precisavam

ser atendidas porque, direta ou indiretamente, acabavam influenciando negativamente

no processo de ensino e aprendizagem os alunos.

Por sugestão da professora supervisora (em cada escola que tem PIBID há um

professor vinculado ao programa, denominado de supervisor) e com o apoio da

professora coordenadora da área de Pedagogia assumimos o desafio de trabalhar com

uma dessas demandas: o horário de intervalo. Esse tempo que deveria ser de

“descanso” das atividades de sala de aula e de convivência entre os alunos, acabava por

ser um tempo marcado por brigas, discriminações e pequenas confusões. Partimos da

hipótese de que o horário de intervalo é desencadeador de situações (brigas e

desavenças) entre os alunos que ultrapassam o horário do mesmo, ocasionando que os

resultados posteriores em sala de aula, sejam menos potenciais do que os atingidos no

primeiro período.

Montamos um projeto para elaborar estratégias para que o momento de intervalo

das crianças fosse mais bem aproveitado por eles mesmos. No desenrolar do trabalho, e

conforme fomos conhecendo as diversas possibilidades do trabalho com a História na

escola por meio dos estudos teóricos sobre identidade e alteridade, percebemos que

havia muitas relações a serem pensadas entre o que ocorria no horário do intervalo,

nossos objetivos para modificar tal situação e o conhecimento histórico. Ao

avançarmos com nossas pesquisas sobre os significados de ensinar História nos Anos

Iniciais, encontramos nos Parâmetros Curriculares Nacionais de História (1997) a

seguinte assertiva:

O ensino de história possui objetivos específicos, sendo um dos mais relevantes o que se relaciona à constituição da noção de

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identidades [...] individuais, sociais e coletivas [...] e tende a desempenhar um papel mais relevante na formação da cidadania, envolvendo a reflexão sobre a atuação do individuo em suas relações pessoais com o grupo de convívio, suas afetividades e sua participação no coletivo (1997, p.26)

Desse modo, selecionamos alguns conceitos, como de identidade e autonomia, e

iniciamos um estudo aprofundado sobre os mesmos para que, na finalização do projeto,

previsto para Agosto de 2012, passamos apresentar os resultados finais desse trabalho

para professores da rede municipal de ensino, acadêmicos de Pedagogia e demais

interessados. Intentamos conscientizar a comunidade escolar que esse espaço/tempo que

hora recebe o nome de intervalo, hora recebe o nome de recreio, não é voltado somente

a alimentação dos alunos e precisa ser compreendido como um tempo de grande

importância na escola porque apresenta uma síntese do universo cultural da escola.

Portanto, trata-se de espaço/tempo potencial para se conhecer mais aos outros e a si

mesmo. Nosso primeiro objetivo foi planejar atividades recreativas que auxiliassem no

processo de convivência dos alunos, ou seja, na socialização também na construção da

autonomia.

Entendemos o conceito de autonomia a partir do preconizado por Lahire (1997)

que a define como atitude de uma vontade que aceita a regra, reconhecendo-a como

algo racionalmente fundado. Trata-se de desenvolver no sujeito um processo de

autodisciplina que contemple conter os desejos, portar-se bem, ficar calmo, ser

ordenado, saber fazer exercício sozinho, sem a ajuda do professor. Nada fácil para

qualquer sujeito, ainda mais para crianças. No entanto, tornar-se autônomo faz parte do

crescimento e quanto mais autônomo for o sujeito, maiores as possibilidades de agir de

forma consciente e transformadora no mundo

Ao processo de autodisciplina alia-se ao processo de auto avaliação. Um não se

concretiza sem o outro. O processo de auto avaliação é a ação na qual o educador media

as atividades com o objetivo de levar o aluno a ver a si mesmo e também a ver o outro.

Entendemos, juntamente com Lahire (1997) que tais ações podem auxiliar na

construção do respeito mútuo, indispensável a qualquer processo educativo cuja meta

seja formar sujeitos autônomos.

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Mas em se tratando de autonomia desenvolvida na escola, é preciso considerar

que nem todas as crianças interiorizam as normas de comportamento que estão na base

da socialização escolar e, ainda com Lahire (1997), a escola é um local onde a regra

deve ser impessoal “opõe-se as todas as formas de poder que repousam na vontade ou

na inspiração de uma pessoa”. Sendo assim, o educador exerce o papel de mediador e

construtor de tais relações auxiliando o aluno por meio de trabalhos específicos feitos,

repetidas vezes, com o objetivo de lembrar ou comentar a necessidade do respeito

mútuo. Não se trata de algo a ser ensinado em uma aula expositiva ou que possa ser

considerado como aprendido depois de uma roda na qual se elaboram regras que são

escritas em um papel e coladas na parede.

O processo de ensino e aprendizagem da autonomia e, consequentemente, do

respeito mútuo, é constante e educador, ao agir de forma coerente a partir de princípios

pré estabelecidos, vai auxiliando os alunos a cuidarem de si e dos outros, a ocuparem

seu tempo sozinho ou em grupo, enfim a serem mais autônomos na condução de sua

vida escolar.

Essa autonomia relaciona-se diretamente com outro objetivo da escola, a

construção de saberes científicos. Dessa maneira Lahire (1997) esclarece:

A escola, que pretende tornar os alunos autônomos os ensinado a virar-se sozinhos, diante de dispositivos de saberes objetivados, visa a produção de dispositivos cognitivos para poder apropriar-se de saberes escritos complexos, e, ao mesmo tempo, de disposições sociais a fim de poder agir nas formas particulares de exercício de poder. (Lahire, 1997, p. 64)

Nesse sentido, os dispositivos de saberes cognitivos objetivados parte das ações

que o professor seleciona para trabalhar, pois, conforme aponta Bondioli (2004):

Todo educador consciente pergunta-se que tipo de influência as atividades habitualmente propostas, as ocasiões sociais e de interação que preenchem a vida cotidiana e as situações de aprendizagem programadas e preparadas têm no desenvolvimento de cada criança e dos grupos infantis. Todo professor ou grupo de professores empenha-se em tornar a vida cotidiana nos contextos extradomiciliares de educação infantil agradável, motivadora, estimulante, significativa, do ponto de vista educativo, e vale-se, para tanto, da própria experiência profissional, da própria criatividade e dos recursos presentes no ambiente dentro dos limites organizacionais de cada escola (2004, p.19).

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Partindo desses pressupostos a supervisora do PIBID na escola verificou a

necessidade de trabalhar de forma diferenciada no horário do intervalo/recreio, devido a

situações de brigas e desrespeito entre os alunos. Sendo assim, nos foi solicitado que

inicialmente, acompanhássemos este período para que pudéssemos tomar conhecimento

dos ocorridos, analisássemos as situações e propuséssemos intervenções pedagógicas

com o objetivo de lidar com os conflitos.

Ao acompanharmos o horário do recreio nesta escola observamos muitos alunos

não respeitavam seus colegas, não respeitavam regras como, por exemplo, a regra

básica de uma fila. Havia muita agitação e gritos. As brincadeiras eram escassas e

sempre as mesmas: corda e amarelinha, esta ultima era pintada no pátio e já quase não

se via a cor das linhas. Como positivo, percebemos que as crianças tinham total

liberdade, mesmo havendo uma pessoa para cuidar de todos. Porém, os alunos não

sabiam como utilizar esse “espaço de liberdade” e acabavam envolvendo-se em

agressões, agitações e falta de respeito. A intervenção da pessoa que cuidava do horário

de intervalo acabava sendo por ser uma ação de separar as crianças para não acontecer

o “pior”. Destaca-se que por “pior” entende-se a agressão física que resulte em

machucados. Outras ações violentas como, por exemplo, a discriminação entre alunos,

acabava por passar despercebida pelo adulto.

A escola em questão situa-se em um bairro periférico na cidade de Londrina, no

qual, de acordo com o detalhamento do subprojeto de Pedagogia do PIBID, existem

sérios problemas como, por exemplo, trafico de drogas e violência doméstica, que faz

com que o cotidiano desses alunos seja permeado por diferentes questões que acabam

por interferir diretamente no trabalho dos professores e no processo de ensino-

aprendizagem dos alunos. Tal situação foi confirmada pela equipe pedagógica da escola

(gestores e professores).

Prosseguindo nosso processo de coleta de informações sobre a situação para a

qual deveríamos intervir, verificamos que a escola possui vários jogos recreativos de

tabuleiro, além de bolas, cordas, petecas, bambolês etc., que poderiam ser usados no

horário do recreio. Enfim, não se tratava de uma instituição sem recursos materiais. No

entanto, identificamos que não havia pessoas que orientassem as crianças quanto a

brincadeiras disponíveis e tais materiais não ficavam ao alcance dos alunos para que

estes pudessem utilizá-los.

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Torna-se importante registrar que, devido à forma como se organiza o tempo na

escola, o horário de intervalo é compreendido pelos professores como um tempo de

“intervalo” para eles. É fato que é nesse horário que os professores reúnem-se e

recebem recados, orientações e outras informações importantes sobre o andamento da

escola.

O que verificamos até aqui é que os professores não demonstravam interesse em

compartilhar desse período junto aos alunos, mas verbalizavam que algo tinha que ser

feito, ou seja, estavam cientes das violências, físicas e verbais que ocorriam e nas

demais consequências para o processo de ensino e aprendizagem, dentre a qual se

destaca a quase impossibilidade de um real aproveitamento do tempo de aula após o

intervalo.

Após discussões entre o grupo de estagiárias, concluímos que faltava uma

proposta e pessoas para desenvolver ações no horário de intervalo que promovessem a

socialização e o respeito entre essas crianças para que estas pudessem usufruir de seu

horário de “liberdade” das obrigações escolares sem agressões, brigas e gritarias.

Na cultura escolar, o recreio é, na maioria das vezes, pensando somente como

um “tempo livre”, sem ser visto como um relevante momento pedagógico, repleto de

detalhes e possibilitador de investigações pertinentes para a área de educação. Para

Paulo Freire “é uma pena que o caráter socializante da escola, o que há de informal na

experiência que se vive nela, de formação ou de deformação, seja negligenciado” (1996,

p.43). A partir dessa ideia de Freire, podemos refletir o quanto esses espaços informais

das escolas podem ser considerados objetos significativos de produção do conhecimento

e socialização.

Ao elaborarmos nossa proposta de intervenção, partimos do principio que o

horário do intervalo é um momento muito importante tanto para os alunos como para os

professores, pois proporciona uma oportunidade de reposição de energias e um descanso

mental, necessário para o melhor funcionamento do processo ensino-aprendizagem.

Além de ser um horário programado para a alimentação, o intervalo/recreio também

proporciona a socialização entre os alunos. Essa pausa é muito importante desde que

compreendamos este intervalo como sendo parte essencial do contexto escolar. Para

tanto, o intervalo/recreio escolar precisa ser reconhecido como um momento propulsor

de atividades e vivências culturais lúdicas, para que a criança/aluno possa usufruir desse

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espaço de tempo desenvolvendo também fora da sala de aula, algum tipo de saber, nesse

caso, o saber socializador.

Visto a importância de pesquisar a cerca desse assunto, realizamos uma

pesquisa via internet, por teses e dissertações que se dedicaram a estudar esse

tempo/espaço da escola. Foi possível constatar que o problema vivenciado pela escola

foco desse trabalho repetia-se em diversos e distintos lugares do país. Fizemos um

levantamento de propostas que vem sendo desenvolvidos em algumas escolas cujos

resultados proporcionam novos olhares e possíveis ideias para aprimorar o trabalho com

o recreio.

Optamos por montar um projeto que propiciasse aos alunos atividades que

contribuíssem para desafiar o pensamento e a imaginação dos mesmos, mas que

também levassem tais alunos, a médio e longo prazo, se conhecerem melhor como

sujeitos. Enfim, direcionamo-nos para ações que potencializassem o convívio mútuo

para efetivar uma ideia de escola que trabalhe com uma educação mais humanizada.

Nesse sentido, trabalhamos com a interpretação de que a escola é um espaço

para transmissão de uma cultura mais elaborada, sendo assim, planejar o trabalho

educativo e as formas de organização da vida das crianças na educação, é pensar e

projetar seu futuro para o desenvolvimento humano. No processo de assimilação de

experiências, as crianças foram incitadas a desenvolvem a personalidade, a inteligência,

as formas de se relacionar com outras pessoas, a imaginação, a autonomia, a autoestima

e o respeito pelo outro.

De acordo com o parecer CEB 02/200 do CNE “Inúmeras questões têm surgido

a respeito da atividade denominada “recreio” ou “intervalo” nas etapas da Educação

Infantil e do Ensino Fundamental”. Ainda com o CNE, no Parecer CEB nº 05/97

contempla o recreio e os intervalos de aula como horas de efetivo trabalho escolar:

"As atividades escolares se realizam na tradicional sala de aula, do mesmo modo que em outros locais adequados a trabalhos teóricos e práticos, a leituras, pesquisas ou atividades em grupo, treinamento e demonstrações, contato com o meio ambiente e com as demais atividades humanas de natureza cultural e artística, visando à plenitude da formação de cada aluno. Assim, não são apenas os limites da sala de aula propriamente dita que caracterizam com exclusividade a atividade escolar de que fala a lei. Esta se caracterizará por toda e qualquer programação

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incluída na proposta pedagógica da instituição, com frequência exigível e efetiva orientação por professores habilitados. Os 200 dias letivos e às 8:00 horas anuais englobarão todo esse conjunto." (Parecer CEB nº 05/97)

O Parecer acima contempla que as escolas, ao elaborarem a Proposta

Pedagógica, devem levar em consideração o período do recreio, pois as mesmas

possuem um enorme potencial educativo e, ao pensarem em intervalo ou recreio não se

remetam somente as crianças, pois esse período é também uma excelente oportunidade

para os educadores observarem o comportamento “livre” dos alunos, e assim exercerem

cada vez melhor sua ação educativa, inclusive fora da sala de aula.

No decorrer da pesquisa exploratória encontramos algumas experiências feitas

no horário do recreio que trouxeram bons resultados para escola na questão da violência

entre os alunos, e que contribuiu para uma socialização entre os mesmos. Essas

experiências se pautaram em jogos, atividades recreativas, oficinas diversas, dentre

outras propostas.

Uma das propostas que viabilizou uma melhora na socialização entre os alunos

foi a da Escola Estadual Wolfram Metzler, localizada no município gaúcho de Venâncio

Aires, próximo a Porto Alegre RS, conforme descreve a orientadora educacional,

Luciane da Cunha Mylius em entrevista ao Portal do Professor: “A realização de

atividades recreativas na hora do recreio, como pular corda, amarelinha, jogos com

bola e jogos de mesa, trouxeram mais calma ao período de intervalo entre as aulas”.

Outra proposta que também contribuiu para uma boa conduta do horário do

recreio foi a de uma escola de educação infantil na Zona Norte do Rio de Janeiro, na

qual a realização de um piquenique na própria escola, na hora do recreio, fez com que

este momento tivesse um sentido diferente. De acordo com a professora Janaína

Peçanha da Silveira as crianças ampliaram seus conhecimentos de higiene e manuseio

de alimentos, aprenderam a apreciar o sabor de legumes, verduras e frutas, bem como a

importância que eles têm para a saúde.

Nessas pesquisas também pudemos perceber que as oficinas de jogos também

eram uma opção de trabalho com o recreio. Pode-se perceber que os jogos estão

correlacionados com o ato de brincar e com o desenvolvimento físico, afetivo,

cognitivo, moral e social. Nessa correlação Almeida (1990) diz que o lúdico desenvolve

um papel importante no desenvolvimento integral da criança, pois:

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Brincar não significa passatempo. A criança se utiliza da brincadeira para conhecer o mundo que a cerca. Através do jogo a criança desenvolve a sua imaginação e seu pensamento abstrato. Através das brincadeiras a criança poderá ter um bom desenvolvimento psicomotor e psico-social, assim como as levará à socialização e à contribuição para a sua vida afetiva. As atividades lúdicas encorajam também o desenvolvimento intelectual, através da atenção e da imaginação, facilitando a sua expressão. (ALMEIDA, 1990).

Neste mesmo pensamento Kishimoto (1994) aponta:

Ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos simbólicos dispostos intencionalmente, a função pedagógica subsidia o desenvolvimento integral da criança. Neste sentido, qualquer jogo empregado na escola, desde que respeite a natureza do ato lúdico, apresenta caráter educativo e pode receber também a denominação geral de jogo educativo (1994: 22).

Nesse sentido, nossa proposta, enquanto bolsistas e estagiarias na escola se

baseia em desenvolver um recreio criativo e dirigido de tal modo que as oficinas de

jogos sejam diversificadas e envolvam a socialização e o desenvolvimento da

autonomia, cultivando relacionamentos e aprendendo mais sobre relações em grupo,

melhorando assim sua a integração social o que proporcionará aos alunos um momento

de prazer trabalhando com os movimentos corporais, entre outras habilidades de forma

diferente e divertida.

O horário do recreio desta escola se constitui em média de 15 a 20 minutos,

sendo que este tempo é destinado á alimentação e ao descanso de alunos e professores.

Propomos então que após os alunos se alimentarem, utilizem o tempo restante para

jogos e atividades direcionadas, contribuindo para que os mesmo não desenvolvam

praticas de violência e mau comportamento.

Tal proposta é composta por atividades recreativas, visto que é com certeza a

hora mais aguardada pelas crianças. Cada atividade possuiu instruções de como devera

ser realizado sendo orientadas pelas estagiarias.

O projeto começou a ser desenvolvido a princípio pelo acompanhamento de

como era o horário do recreio nesta escola, com filmagens no horário do recreio para

verificar como as crianças se organizam para realizar tais brincadeiras e posteriormente

passado para os alunos assistirem, uma atividade investigativa sobre como eles viam o

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horário do recreio e como gostariam que fosse, para isso montamos um gráfico (Anexo

1) bem como um questionário para os professores responderem acerca do horário do

recreio. Em seguida fomos conhecer os materiais, brinquedos e jogos disponíveis na

escola.

A partir dessa primeira etapa realizou-se a elaboração das atividades sempre com

filmagens, sendo que no término deste projeto elaboraremos um vídeo para exibir as

crianças e proporcioná-las um momento de reflexão, pois, de acordo com Moran (2006,

apud Rossato e Rossi):

Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido [...] Aprendemos quando equilibramos e integramos o sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social. Aprendemos pelo prazer, porque gostamos de um assunto, de uma mídia, de uma pessoa. O jogo, o ambiente agradável, o estímulo positivo podem facilitar a aprendizagem. (2006, p. 22. apud Rossato e Rossi)

Nosso objetivo de inserir o jogo e a brincadeira no horário do recreio é o

desenvolvimento da criança enquanto indivíduo e a construção do conhecimento,

socialização e desenvolvimento da autonomia bem como o respeito, de forma

prazerosa. As brincadeiras e os jogos são instrumentos importantes no desenvolvimento

dessas potencialidades e devem ser utilizados de maneira organizada com objetivos

definidos.

Considerações finais

Visto que este projeto ainda esta em andamento, algumas considerações

podemos fazer sobre o trabalho desenvolvido até o presente momento. Esperamos que a

escola se dedique em incorporar em seu Projeto Político Pedagógico as ações propostas

e vivenciadas porque os resultados tem apontado para uma melhora geral nas relações

sociais entre alunos e alunos e alunos e professores. Ao começarmos este projeto do

recreio dirigido com atividades como basquete, no qual eram colocadas duas cestas e

duas bolas para eles se revezarem em fila, bambolês para que pudessem além de

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brincarem de rebolar outras atividades foram criadas por eles com os bambolês e com

cones, o clássico pular corda, pular elástico, tapete do jogo da velha, roda de música,

onde as crianças dançavam conforme pedia a música, a brincadeira do lençol, dentre

outras. (Anexo 2)

Notamos através da convivência entre as crianças e das filmagens que o horário

de recreio precisa de um significado para as crianças, nos relatos dos alunos sobre suas

atitudes verificamos interesses e motivações e, com o passar das semanas, o respeito

entre os alunos foi se concretizando sem a intervenção das estagiarias.

As várias atividades para esses horários proporcionaram para essas crianças um

poder de escolha sendo este o facilitador da construção da autonomia. Observamos

também que elas passaram a sentir importantes por ter alguém se dedicando em algo

especialmente para elas, algo que elas gostam e que lhes dão prazer.

Sendo assim, através do feed back positivo da escola espera-se que a mesma

desenvolva uma conscientização sobre o horário do recreio, para que este faça parte da

rotina escolar, de modo que vejam este momento como sendo propulsor de vivencias e

experiências significativas, das quais professores e toda a equipe escolar se atentem a

esse espaço de tempo tão rico em significados pedagógicos.

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Referências:

ALMEIDA, P. N. Educação lúdica técnicas e jogos pedagógicos. 8 ed. São Paulo: Loyola,1990. BONDIOLI, Anna. O tempo no cotidiano infantil: Perspectivas de pesquisa e estudo

de casos/Anna Bondioli, (org.) ; tradução de Fernanda L. Orlate e Ilse Pachoal Moreira ;

Revisão técnica de Ana Lúcia Goulart de Faria Elisandra Girardelli Godoi. – São Paulo:

Cortez, 2004.

BRASIL, MEC. Recreio como atividade escolar (referente à Indicação CNE/CEB

2/2002, de 04.11.2002CNE/CEB 02/2002.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

Primeiro e Segundo Ciclos do Ensino Fundamental: Introdução aos Parâmetros

Curriculares Nacionais / Secretaria da Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF,

1997.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 34. Ed.

São Paulo: Paz e Terra, 1996.

KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1994

LAHIRE, Bernard. Sucesso Escolar nos Meios Populares. As Razões do Improvável.

Ática. São Paulo – SP. 1997

Portal do Professor, disponível em:

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.html?idConteudo=1010 , acessado

em 22/03/2012 as 17:11

ROSSATO, Maíara Suertegaray. ROSSI, Dariane Raifur. Um Pouco do Brasil Através

de Ritmos e Sabores: Uma Proposta para o Ensino de Geografia.

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Anexo 1:

Grafico de como os alunos veem o horario do recreio.

Grafico de como os alunos gostariam que fosse o horario do recreio

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Anexo 2

Figura 1: Apresentação aos alunos de como era o horário do recreio deles

Acervo do PIBID Pedagogia

Figura2: Brincadeira do lençol Figura3: Brincando com bambolê

Acervo do PIBID Pedagogia Acervo do PIBID Pedagogia

Figura 4: Roda de musica

Acervo do PIBID Pedagogia