q u a n d o a m íd ia s e t o r n a g e r e n ciá ve l...de uma dezena de livros que são...

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_________________________________________________________________________ Quando a mídia se torna gerenciável: Streaming, pesquisa de filmes e o Multiplex Celestial 1 David Bordwell 2 Tradução: Renato Cabral 3 Nunca será exibido no multiplex Celestial: Liberty Belles (Del Henderson, 1916) 4 Uma mesa redonda de diretores para o The Hollywood Reporter 5 diz muito em poucas palavras: Fernando Meirelles: Em junho, Dois Papas esteve em 35 festivais. Depois teremos duas ou três semanas nos cinemas. E então chegaremos na plataforma [Netflix]. Quero dizer, não poderia ser melhor. 1 Publicado originalmente em: When media become manageable: Streaming, film research, and the Celestial Multiplex - http://www.davidbordwell.net/blog/2020/01/22/when-media-become-manageable-streaming-film-research-and-the-celestial-multiplex/ 2 David Bordwell é professor emérito Jacques Ledoux de Estudos Fílmicos na Universidade de Wisconsin–Madison. As suas publicações, incluindo mais de uma dezena de livros que são referenciais para quem estuda cinema, foram traduzidas e publicadas internacionalmente. Entre seus livros estão A Arte do Cinema: uma Introdução (Editora da Unicamp, 2013), escrito em colaboração com a professora e investigadora Kristin Thompson. Bordwell escreve desde 2006, junto de Thompson, em seu blogue www.davidbordwell.net, onde este artigo está publicado originalmente. Em seu currículo ainda estão incluídos diversos artigos, entrevistas, apresentações em congressos e presença em festivais internacionais. 3 Renato Cabral é crítico de cinema, curador e mestrando em Estudos de Arte - Estudos Museológicos e Curatoriais pela Universidade do Porto, em Portugal. Graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) também escreve para o Calvero - Crítica de Cinema. 4 Imagem: http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/Liberty-Belles-600-1.jpg 5 https://www.hollywoodreporter.com/features/a-revolution-cinema-martin-scorsese-greta-gerwig-director-roundtable-1263404

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  • _________________________________________________________________________

    Quando a mídia  se torna gerenciável: Streaming, pesquisa de filmes e o Multiplex Celestial  1 David Bordwell  2Tradução: Renato Cabral  3

    Nunca será exibido no multiplex Celestial:  

    Liberty Belles (Del Henderson, 1916)  4

    Uma mesa redonda de diretores para o The Hollywood Reporter                   5

    diz muito em poucas palavras: 

    Fernando Meirelles: Em junho, Dois Papas esteve em 35 festivais.                   

    Depois teremos duas ou três semanas nos cinemas. E então                   

    chegaremos na plataforma [Netflix]. Quero dizer, não poderia ser                 

    melhor. 

    1 Publicado originalmente em: When media become manageable: Streaming, film research, and the Celestial Multiplex - http://www.davidbordwell.net/blog/2020/01/22/when-media-become-manageable-streaming-film-research-and-the-celestial-multiplex/ 2 David Bordwell é professor emérito Jacques Ledoux de Estudos Fílmicos na Universidade de Wisconsin–Madison. As suas publicações, incluindo mais                                       de uma dezena de livros que são referenciais para quem estuda cinema, foram traduzidas e publicadas internacionalmente. Entre seus livros estão A Arte                                             do Cinema: uma Introdução (Editora da Unicamp, 2013), escrito em colaboração com a professora e investigadora Kristin Thompson. Bordwell escreve                                       desde 2006, junto de Thompson, em seu blogue www.davidbordwell.net, onde este artigo está publicado originalmente. Em seu currículo ainda estão                                       incluídos diversos artigos, entrevistas, apresentações em congressos e presença em festivais internacionais. 3 Renato Cabral é crítico de cinema, curador e mestrando em Estudos de Arte - Estudos Museológicos e Curatoriais pela Universidade do Porto, em                                               Portugal. Graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) também escreve para o Calvero - Crítica de Cinema. 4 Imagem: http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/Liberty-Belles-600-1.jpg 5 https://www.hollywoodreporter.com/features/a-revolution-cinema-martin-scorsese-greta-gerwig-director-roundtable-1263404 

    http://www.davidbordwell.net/blog/2020/01/22/when-media-become-manageable-streaming-film-research-and-the-celestial-multiplex/http://www.davidbordwell.net/

  • Martin Scorsese: Estamos vivendo mais do que uma evolução.                 

    Estamos numa revolução da comunicação e do cinema ou dos                   

    filmes ou o que você quiser chamar.  

    Meirelles casualmente omite os DVDs, em determinado momento               

    o formato mais rápido de consumo adotado pelos consumidores                 

    de mídias. O que aconteceu com os discos? A seguir irei                     

    problematizar a afirmação de Scorsese que os streamings foram                 

    gatilho de uma revolução. É mais um caso de evolução do que a                         

    emissão de uma mudança radical, como Engels e a transformação                   

    de quantidade em qualidade, ou a afirmação de Hemingway que                   

    ele foi empobrecendo devagar, depois rapidamente. 

    Mais importante, eu tentarei avaliar o impacto que o streaming                   

    teve no que Kristin Thompson, eu e outros pesquisadores e                   

    professores tentamos — estudar o filme como uma forma de arte                     

    em suas dimensões históricas. 

    Gerenciando seu tempo, seus filmes 

     6

    Se estamos procurando por um ponto de virada revolucionário, eu                   

    sugeriria o momento em que os filmes deixaram de ser assistidos                     

    por compromisso. Quando eram exibidos nas salas você tinha um                   

    acesso limitado. O filme estava lá por um tempo (até A Noviça                       

    Rebelde eventualmente saiu de cartaz) e você tinha que assistir                   

    em horários específicos. Na televisão aberta ou a cabo, as mesmas                     

    6 Imagem: http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/VHS-display.jpg 

  • condições se aplicavam. Mas com a chegada do consumo das fitas                     

    cassetes nos anos 1970, o espectador recebeu um controle maior. 

    Akio Morita da Sony chamou de "mudança do tempo". A frase,                     

    astutamente posicionada como uma defesa da cópia off-air,               

    captura o apelo fundamental da mídia física. Você poderia assistir                   

    um filme em casa, quando você quisesse. Sim, o VHS e até mesmo                         

    a Beta produziam imagens gastas e som ainda pior, mas (a) as                       

    salas não eram necessariamente muito melhores, e (b) o aluguel                   

    de fitas era mais barato que um bilhete de cinema. Mais                     

    importante era a regra geral da tecnologia da mídia: para o                     

    mercado de massa, conveniência supera a qualidade. 

    O videocassete varreu o mundo nos anos 1980 e deu aos filmes                       

    mais um mercado. Muitos realizadores independentes podiam             

    conseguir financiamento para um projeto baseado na venda               

    antecipada das fitas. O laserdisc ganhou alguma atenção na década                   

    de 1990, tornando-se um tipo de formato transitório. Melhorou a                   

    qualidade (melhor imagem analógica, som digital), mas tinha               

    algumas desvantagens também. Um filme não caberia numa               

    única face do disco e seu preço era mais que das fitas. O laserdisc                           

    permaneceu um formato de nicho, principalmente por             

    educadores e entusiastas do home-theater. 

    Em uma resenha sobre O Irlandês, um crítico sugeriu que a                     7

    maioria das pessoas iria deixar de assisti-lo nos cinemas e iriam                     

    assistir na Netflix, onde é "mais manejável". Com fita ou disco,                     

    seja analógico ou digital, os consumidores ficaram acostumados               

    com o alto grau de gerenciamento. Eles poderiam pausar, pular                   

    para frente ou para trás, acelerar para frente ou para trás, tocar                       

    bem devagar e acima de tudo dar play no filme por diversas vezes.                         

    DVDs fizeram todas essas opções mais rápidas e mais                 

    convenientes do que as fitas. O mercado estourou. Videolocadoras                 

    tornaram os discos disponíveis para aluguel enquanto as fitas                 

    7 https://www.theatlantic.com/entertainment/archive/2019/11/netflix-irishman-review-martin-scorsese-robert-de-niro/601261/ 

    https://www.theatlantic.com/entertainment/archive/2019/11/netflix-irishman-review-martin-scorsese-robert-de-niro/601261/

  • eram oferecidas em lojas de varejo em liquidação por preços cada                     

    vez mais baixos.   

    Mas havia problemas. Nos anos 2000 houve um excesso de DVDs                     

    e os consumidores começaram a notar que após algumas                 

    semanas do lançamento, diversos títulos acabavam nos cestos de                 

    ofertas. Um rápido mercado secundário desenvolvido graças à               

    doutrina americana de "primeira venda", virtuosamente           

    explorado pela Redbox. Pior, havia a pirataria. Piratear fitas                 

    analógicas degradou a qualidade por gerações, mas com os discos                   

    digitais você poderia extrair clones perfeitos. Qualquer             

    adolescente poderia hackear o código da região e o software                   

    anticópia. 

    O disco Blu-ray foi um aprimoramento para a primeira geração                   

    de DVDs e surgiu junto de muitas pessoas adquirindo telas em                     

    alta definição e widescreen. Apropriadamente controlados, os             

    discos Blu-ray pareciam bons, eles possuíam maior capacidade               

    de armazenamento. Alguns consumidores ficaram         

    entusiasmados, mas o formato aprimorado não conseguia             

    impedir o declínio da venda dos discos . Para completar, a                   8

    justificativa da indústria para o Blu-ray era sua dificuldade para                   

    extração de dados, porém os hackers conseguiram violar os                 

    códigos com velocidade absurda. 

    Deste ângulo, o streaming é paralelo à projeção digital: uma nova                     

    fase na era contra a pirataria. Da mesma forma, como nas                     

    exibições de cinema, você está pagando por uma experiência e                   

    não um item. Você não está comprando um objeto que você pode                       

    copiar ou revender. Se um filme está disponível somente pelo                   

    streaming, você está alugando algo que é impossível de possuir                   

    legalmente. Um aspecto da capacidade de gerenciamento —               

    possuir um filme — é trocado por conveniência e, finalmente, por                     

    acesso limitado, como tentarei mostrar. 

    8 https://www.cnbc.com/2019/11/08/the-death-of-the-dvd-why-sales-dropped-more-than-86percent-in-13-years.html 

    https://www.cnbc.com/2019/11/08/the-death-of-the-dvd-why-sales-dropped-more-than-86percent-in-13-years.html

  • Não tão suavemente no stream 

     9

    Com o streaming, a era da exibição agendada parece mais ou                     

    menos terminada. E a visão infinita da Internet incentivou os                   

    técnicos a imaginar algo como o Celestial Jukebox, um vasto                   

    multiplex virtual no qual todos os filmes estarão disponíveis. Se o                     

    iTunes e Spotify fizeram algo assim com a música, por que não                       

    com o cinema?  

    Vamos considerar os prós e contras do streaming para os                   

    consumidores habituais e para os realizadores. 

    Obviamente, existe a conveniência. Depois de monstruosas fitas               

    cassete, DVDs pareciam adoravelmente finos. Agora, reunidos em               

    pilhas escorregadias, eles têm sua própria aura sinistra. Com o                   

    streaming, não há necessidade de correr até a loja de vídeos ou                       

    comprar uma nova prateleira para armazenar uma biblioteca               

    protuberante de discos. 

    Existe também o preço, comparado seja pelos bilhetes de cinema                   

    ou as mensalidades de tv a cabo. De $6.99 por mês (Disney+) a                         

    $12.99 (Netflix), serviços de streaming prometem disponibilizar             

    TV e filmes bem baratos. E existe o alcance de escolha, que                       

    mesmo em streamers de segunda categoria excedem à capacidade                 

    das videolocadoras da maioria das cidades no passado. Por fim,                   

    existem muitos filmes obscuros à espreita nos cantos da maioria                   

    9 Imagem: http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/Netflix-menu-500.jpg 

  • dos streamers, portanto, a alegria da descoberta ainda está                 

    presente de alguma forma. 

    No lado do contra, existe um que recebe mais atenção — a erosão                         

    adicional da "experiência do cinema". Críticos dão ênfase aos                 

    prazeres que surgem ao estar em uma plateia, mas isso sempre                     

    parece superestimado. Há mais valor para mim na escala da                   

    imagem e som que você recebe em uma sala de cinema. Eu gosto                         

    que meus filmes se imponham. 

    Acima de tudo, há uma virtude na falta de capacidade de                     

    gerenciamento. No cinema você não pode pausar o filme,                 

    retroceder ou pular para frente. Você pode fechar seus olhos,                   

    olhar para outro lugar ou ir embora, mas no fundo você está lá                         

    para entregar seu estado sensorial para o realizador, para passar                   

    por uma experiência que você não controla. Esse controle                 

    inabalável em sua atenção produz alguns dos efeitos mais                 

    poderosos do cinema. 

     10

    É claro que a condição da visualização privada não é única do                       

    streaming. Também não é outra desvantagem, a da expiração                 

    cíclica e atualização do "conteúdo" nas plataformas de               

    streaming. Estávamos avisados, certamente. Jornais e websites             

    alertam notificando quando um título está deixando o serviço —                   

    talvez por pouco tempo, talvez por muito ou até mesmo para                     

    10Imagem: http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/Leaving-Netflix-400.jpg 

  • sempre. E essa situação é um pouco como os DVDs fora de                       

    catálogo. Mas ao menos algumas cópias existem para serem                 

    vendidas usadas ou clonadas como arquivos. Enquanto             

    trabalhava no meu livro sobre a década de 1940, fui felizmente                     

    surpreendido ao saber que eu poderia rastrear títulos misteriosos                 

    em discos esgotados e a preços justos. Quando algo que não existe                       

    em disco deixa o streaming, como você o acessa? 

    Eu acho que haverá alguma contrariedade quando os assinantes                 

    aprenderem sobre os custos que mais e mais serviços estão                   

    enfrentando. Sim, com o Amazon Prime por US$ 119 por ano, você                       

    obtém acesso a muitos filmes, além de outros serviços. Mas para                     

    muitos filmes, a Amazon exige uma taxa extra de aluguel e acesso                       

    a muito curto prazo. Na Amazon, existem canais (Britbox, HBO                   

    Now, Starz, Cinemax, etc.), todos os quais exigem pagamentos                 

    adicionais por assinatura. Quando as pessoas começarem a               

    perceber que os streamers terão licenças exclusivas para títulos,                 

    eles sentirão a necessidade de se inscrever em muitos serviços.                   

    Aqui, como em outros lugares, o preço total do streaming começa                     

    a parecer taxas de cabo. Até o New York Times notou . 11

    Outro problema não irá incomodar a maioria dos consumidores,                 

    mas é importante. Um título transmitido na plataforma estará                 

    ocasionalmente em uma proporção de tela incorreta. Mais               

    comum, um Scope (2.39 ou mais) a imagem será cortada para                     

    1.85. Eu notei isso alguns anos atrás , confiando em um site que                       12

    mostra transferências defeituosas da Netflix, mas esse site parece                 

    ter sido assumido pela ... própria Netflix . 13

    A Netflix dirá, com todos os "provedores de conteúdo", que eles                     

    conseguem os melhores materiais de seus licenciadores. Eu não                 

    assisto streaming o suficiente para saber o quão comum                 

    aparecem errado os aspect ratios, mas se você souber de                   

    exemplos, gostaria de ouvir sobre. 

    11 https://www.nytimes.com/2020/01/20/opinion/future-dvds-streaming.html 12 http://www.davidbordwell.net/blog/2015/01/25/filling-the-box-the-never-ending-pan-scan-story/ 13 http://whatnetflixdoes.tumblr.com/ 

    https://www.nytimes.com/2020/01/20/opinion/future-dvds-streaming.htmlhttp://www.davidbordwell.net/blog/2015/01/25/filling-the-box-the-never-ending-pan-scan-story/http://whatnetflixdoes.tumblr.com/

  •  

    Finalmente, até mesmo as empresas de streaming podem entrar                 

    em colapso. A não ser que a Apple compre um estúdio (Lionsgate?                       

    MGM? Columbia?), elas precisam contar com conteúdos             

    originais, e podem muito bem fracassar. No dia em que escrevo                     

    este texto, um gerente de fundo de cobertura prevê que já                     14

    atingimos o pico Netflix. Dada a grande concorrência, o                 

    crescimento mais lento e a aceleração de cancelamentos, ele                 

    afirma que a Netflix está diminuindo. Se reduzir ou fracassar                   

    (atualmente possui uma dívida de US$ 12,43 bilhões ), o que                   15

    acontecerá com o material licenciado e o conteúdo original? 

    E os criadores? Cineastas, especialmente roteiristas, desfrutaram             

    de um boom. Pode ser uma bolha, com mais de 500 séries                       

    roteirizadas disponível na televisão aberta, no cabo e no                 

    streaming. Ainda assim, deu a todos muitas oportunidades. O                 

    documentário, em particular, desfrutou de uma sobrevida. 

    E os longas continuam muito bem, ao menos na Netflix. No top 10                         

    de lançamentos da plataforma de transmissão em 2019, sete eram                   

    longas-metragens. Mas essas proporções podem mudar. Além             

    dos grandes filmes licenciados pelos estúdios, o impacto na                 

    programação de filmes "eventos" que são proprietários (War               

    Machine, Bird Box) é um tanto efêmero. (Obviamente Roma e O                     

    Irlandês são exceções.) A força do streaming, parece para mim, é a                       

    mesma coisa que manteve a televisão aberta: narrativas em série.                   

    Daí a popularidade de Friends e The Office, além de House of Cards e                           

    Orange Is the New Black. 

    Como as redes de TV, um streamer precisa de um fluxo constante                       

    e confiável de conteúdo — não apenas muitos programas, mas                   

    muitos episódios. O modelo da série, mesmo que em seis ou oito                       

    partes, garante a lealdade do espectador a longo prazo. Mesmo                   

    que todos os episódios sejam disponibilizados de uma só vez, a                     

    14 https://www.hollywoodreporter.com/news/david-einhorn-netflix-narrative-is-finally-coming-an-end-1271703 15 https://variety.com/2019/digital/news/netflix-debt-junk-bond-2-billion-content-spending-1203377007/ 

    https://www.hollywoodreporter.com/news/david-einhorn-netflix-narrative-is-finally-coming-an-end-1271703https://variety.com/2019/digital/news/netflix-debt-junk-bond-2-billion-content-spending-1203377007/

  • promessa de continuação após um intervalo de um ano ou vários                     

    meses mantém o espectador disposto a esperar até a próxima                   

    temporada. 

    A pressão sobre os criadores é esperada. Como a forma segue o                       

    formato, escritores e produtores serão incentivados a apresentar               

    ideias de séries. Um amigo meu apresentou um filme para um                     

    serviço de streaming. Os executivos adoraram a ideia, mas a                   

    queriam como uma série e já estavam examinando o esboço do                     

    roteiro em busca de um ponto da trama que poderia lançar uma                       

    segunda temporada. Algumas das séries de streaming que eu já vi,                     

    principalmente Wormwood, de Errol Morris, pareciam esticadas. 

    Se um cineasta lança um filme numa plataforma de streaming,                   

    podem aparecer outros problemas. Somos todos conscientes que               

    realizadores independentes ganham poucos royalties do           

    streaming; o grande pagamento deles tende a ser a aquisição                   

    inicial. Ao mesmo tempo, eles não possuem a certeza de que as                       

    pessoas estão assistindo ao filme inteiro. Meu barbeiro não                 

    conseguiu acabar O Irlandês, mesmo com intervalos para ir ao                   

    banheiro. 

    Os streamers parecem ter aceitado ruminar como básico para a                   

    experiência de visualização. Para fins de avaliação da visualização                 

    total, a Netflix contabiliza como "exibição" de um filme ou                   16

    programa um mínimo de dois minutos. Nesse recorte da regra                   

    dos dois minutos, podemos esperar que os cineastas preencham                 

    suas cenas de abertura com o suficiente para nos prender a                     

    atenção. Isso vai ao encontro da televisão e dos filmes                   

    influenciados pela televisão, é claro, que costumam ter um teaser                   

    forte antes mesmo dos créditos. Agora, ao que parece, as músicas                     

    pop para os serviços de streaming estão sendo criadas com                   

    introduções mais curtas e refrões antecipados para "chegar na                 

    16 https://variety.com/2019/film/news/netflix-popular-movies-2019-murder-mystery-irishman-1203453297 

    https://variety.com/2019/film/news/netflix-popular-movies-2019-murder-mystery-irishman-1203453297/https://www.economist.com/finance-and-economics/2019/10/05/the-economics-of-streaming-is-changing-pop-songs

  • melhor parte o quanto antes" Talvez os cineastas tentarão a                   17

    mesma coisa. Talvez eles já estejam tentando. 

     

    Streaming e a pesquisa de filmes 

     18

    Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse, 2018) 

    Finalmente, quais são algumas das consequências do streaming               

    para pesquisadores, educadores e para tudo que está ao redor de                     

    uma cinefilia obsessiva? 

    Eu acho que é justo dizer que o home video, na forma de fita,                           

    laserdisc e disco digital, democratizou o estudo sobre filmes. Do                   

    fim dos anos 1960 em diante eu viajei para instituições de                     

    arquivos e distribuidores de filmes para assistir produções para a                   

    minha pesquisa. Era problemático, demorado e caro. Como um                 

    estudante de graduação eu pegava um ônibus da cidade de Iowa                     

    para Chicago e assim assisti produções em 16mm de Dreyer e                     

    Sontag. Eu dirigi para a sala Eastman House para ver filmes em                       

    projeção. Fiquei alguns meses em Paris para trabalhar na                 

    Cinémathèque Française, como um visionneuse de Marie Epstein. 

    Como comprovação, aqui na Universidade de Wisconsin-Madison             

    passei centenas de horas assistindo cópias no nosso Center for                   

    Film and Theater Research. Por décadas eu viajei à Dinamarca por                     

    causa do Dreyer e os filmes de 1910, para o Japão pelos filmes                         

    17 https://www.economist.com/finance-and-economics/2019/10/05/the-economics-of-streaming-is-changing-pop-songs 18 Imagem: http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/Spider-verse-500.jpg 

    10 

    https://www.economist.com/finance-and-economics/2019/10/05/the-economics-of-streaming-is-changing-pop-songs

  • silenciosos, para Paris e Munique e ao British Film Institute e                     

    MoMA e UCLA e Eastman House à Biblioteca do Congresso, e                     

    acima de tudo, Bruxelas para muitos, muitos projetos.               

    Colecionadores, de Manhattan, Tóquio e Milwaukee me ajudaram               

    também. Kristin [Thompson] e eu devemos tudo aos arquivistas. 

    A qualidade terrível dos filmes em fitas não me ajudava a estudar                       

    o estilo visual, mas os laserdiscs tiveram uma grande melhora.                   

    (Os filmes de Hong Kong tinham a tendência de não serem em                       

    Scope em fita, mas eram em laserdisc.) E um formato de                     

    laserdisc, CAV, era preciso quanto aos frames. Você podia estudar                   

    a tomada frame a frame, algo impossível com tantos DVDs. Existe                     

    sempre uma troca com qualquer tecnologia. 

    Mesmo depois da chegada dos DVDs, continuei minhas viagens.                 

    Eu poderia usar discos para visualização em massa em segundo                   

    plano, mas muitas vezes ainda precisava confiar em impressões.                 

    Às vezes eu queria contabilizar os frames (útil para observar a                     19

    montagem soviética e a ação de Hong Kong). De qualquer forma,                     

    ao olhar para as impressões de filmes revelou-se que as paletas                     

    de cores nos DVDs poderiam ser bem diferentes e as trilhas                     

    sonoras eram muitas vezes limpas para o mercado caseiro. E claro                     

    que milhares de filmes, especialmente de fora de Hollywood ou                   

    das primeiras décadas do cinema, nunca seriam disponibilizados               

    para o consumidor de vídeo. Minha estada mais prolongada em                   

    um arquivo recentemente foi em Washington, em 2017, graças ao                   

    cargo de professor pela Kluge, que me mostrou as glórias da                     

    década de 1910 em impressões que são acessíveis               20

    principalmente a pesquisadores. 

    O que os estudiosos de um desdobramento analítico precisam?                 

    Filmes inteiros podem ser pausados. Frame stills, feitos               

    fotograficamente ou através de um software. Trechos como               

    evidências das nossas afirmações. Stills e trechos são nossos                 

    19 http://www.davidbordwell.net/blog/2007/01/28/my-name-is-david-and-im-a-frame-counter/ 20 http://www.davidbordwell.net/blog/2017/02/27/anybody-but-griffith/ 

    11 

    http://www.davidbordwell.net/blog/2007/01/28/my-name-is-david-and-im-a-frame-counter/http://www.davidbordwell.net/blog/2017/02/27/anybody-but-griffith/http://www.davidbordwell.net/blog/2017/02/27/anybody-but-griffith/

  • equivalentes à citação para estudantes de literatura e ilustrações                 

    para historicistas da arte. 

    À parte da conveniência e das economias, a revolução do disco                     

    produziu algo que não poderia ter de outra forma. Em um arquivo                       

    é impossível estudar um filme em 3D. Mas graças ao Blu-ray eu                       

    posso parar em um frame 3D (...e, por exemplo, notar a maneira                       

    que Hitchcock faz com que o relógio suavemente saia da tela em                       

    Disque M para Matar, conforme imagem no final do artigo). Isso é                       

    um benefício único - mas minguante, já que os discos 3D são cada                         

    vez mais difíceis de encontrar e os televisores 3D quase não                     

    existem mais. Como eu disse antes, são trocas. 

    Desse ponto de vista, a Netflix e suas contrapartes oferecem uma                     

    redução em relação ao DVD e Blu-ray. Em termos de escolha,                     

    muitos filmes não estão atualmente disponíveis no streaming e                 

    muitos outros nunca estarão. Você pode pegar um DVD estando                   

    online ou não, mas para o streaming você precisa de uma boa                       

    conexão. Os controles para assistir as plataformas de streaming                 

    não são muito precisos como os de um aparelho de DVD; avançar                       

    devagar e retroceder para estudar cortes e gestos não são viáveis                     

    ao que parece. 

     

    12 

  •  21 22

    Quando os canais a cabo cortavam os filmes, como                 

    frequentemente faziam, você tinha o recurso dos DVDS, talvez até                   

    mesmo de regiões estrangeiras. Mas com as licenças exclusivas                 

    crescendo, somente um serviço de streaming terá um filme.                 

    Capturar frames é possível com alguns softwares, mas gravar                 

    trechos é ainda mais complicado. 

    Pior de tudo, muitos filmes aparentemente nunca encontrarão               

    seu caminho para o disco. Eu notei primeiramente isso em 2017                     

    quando quis comprar uma cópia de Já Não Me Sinto em Casa Nesse                         

    Mundo (I Don't Feel at Home in This World Anymore), um                     

    lançamento da Netflix de um título exibido em Sundance. Até                   

    onde eu sei, não está disponível em DVD. O mesmo destino                     

    aconteceu a um dos meus filmes favoritos de 2018, A Balada de                       

    Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs). Há alguns anos                   

    seria impensável para um filme dos irmãos Coen não ter um                     

    lançamento em DVD. Até mesmo Roma precisou esperar por um                   

    acordo com a Criterion para ser lançado em disco. Claramente a                     23

    Netflix, e talvez outros streamers, acreditam que colocar os                 

    21 Imagem: http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/Apple-tv.jpg 22 Imagem: http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/Oppo.jpg 23 https://www.criterion.com/films/30124-roma 

    13 

    https://www.criterion.com/films/30124-romahttps://www.criterion.com/films/30124-roma

  • filmes em disco danifica o seu plano de negócio. Então Meirelles                     

    não inclui DVDs na vida útil de Os Dois Papas. 

    Sem os DVDs alguns cinéfilos consumidores estão lamentando,               24

    corretamente, a perda dos materiais extras. A Criterion Channel                 25

    foi excepcionalmente generosa ao mudar seus suplementos para               

    a plataforma de streaming, mas outras companhias não fizeram o                   

    mesmo. Estudiosos e professores contam com os itens bônus,                 

    incluindo comentários de cineastas, para dar aos estudantes as                 

    informações de bastidores e o processo criativo. Existem, eu                 

    entendo, questões de direitos em torno dos suplementos e a taxa                     

    de transferência de banda larga é muito alta, mas não faz sentido                       

    fingir que a perda de versões de disco não foi importante. 

    Em 2013, Spielberg e Lucas declararam que "A TV na internet é o                         

    futuro do entretenimento" . Eles previram que a ida às salas de                     26

    cinema seria algo como uma peça da Broadway ou um jogo de                       

    futebol. Os multiplexes iriam hospedar produções espetaculares             

    com valores altos para os bilhetes, enquanto outros filmes seriam                   

    enviados para as casas dos espectadores. Lucas colocou a questão                   

    na mesa redonda dos diretores que eu mencionei: "A questão                   

    será: 'Você quer que as pessoas assistam ou você quer que as                       

    pessoas assistam na tela grande?" 

    Ainda assim, a grande mudança ainda não aconteceu. Todo ano                   

    tem seus blockbusters fracassados e os filmes grandes, medíocres                 

    e pequenos (Blumhouse, por exemplo) que continuam em               

    exibição. Cinemas de arte, que dependem de itens de médio porte,                     

    produção independente e fatias de estrangeiros, estão lutando               

    vigorosamente, enfatizando eventos ao vivo e o envolvimento da                 

    comunidade. 

    Enquanto isso, o streaming faz com que festivais de cinema e os                       

    arquivos fílmicos sejam ainda mais importantes. Festivais             27

    24 https://www.inputmag.com/culture/streaming-services-need-bonus-features 25 https://www.criterionchannel.com/ 26 https://variety.com/2013/digital/news/lucas-spielberg-on-future-of-entertainment-1200496241/ 27 Bordwell utiliza o termo film archives remetendo aos locais que cuidam dos acervos de filmes, os arquivos que ficam em cinematecas e outros espaços como até mesmo museus. [N.T] 

    14 

    https://www.inputmag.com/culture/streaming-services-need-bonus-featureshttps://www.criterionchannel.com/https://variety.com/2013/digital/news/lucas-spielberg-on-future-of-entertainment-1200496241/https://variety.com/2013/digital/news/lucas-spielberg-on-future-of-entertainment-1200496241/

  • podem exibir as poucas sessões que um filme consegue (como os                     

    35 festivais que exibiram Dois Papas), e cineastas, como Kent                   

    Jones aponta , estão ansiosos para que seus filmes sejam                 28

    exibidos nas telonas nestes locais. Os arquivos precisarão não                 

    apenas preservar filmes, mas também fazer clássicos e filmes                 

    atuais acessíveis para circunstâncias que envolvem as salas de                 

    cinema. Cineclubes espertos como o Chicago Film Society ou a                   29

    nossa Cinemateque manterão as exibições de filmes vivas. 30

    Antes do home vídeo, alguns estudiosos dos filmes               

    empreenderam o escrutínio de forma e estilo. Aqueles que                 

    tiveram que usar máquinas de edição como essas . (Um estudioso                   31

    chamou meu estudo sobre Dreyer, não admiravelmente, o               

    primeiro livro de moviola.) Ironicamente, assim como a               

    avalanche de filmes se tornou disponível para estudos               

    acadêmicos e as ferramentas para estudá-las de perto se                 

    tornaram acessíveis para todos, a maioria dos pesquisadores se                 

    afastou da história estética do cinema e do design específico de                     

    um filme para interpretar seus contextos culturais. Existem               

    exceções, como os esforços de Yuri Tsivian para estudar                 32

    sistematicamente os padrões de duração das tomadas, mas eram                 

    raros. 

    Qualquer que seja o valor da crítica cultural, um resultado foi                     

    deixar a análise estética de filmes em grande parte para cinéfilos                     

    e fãs. Felizmente, o surgimento do ensaio visual, nas mãos de                     

    cineastas experientes em tecnologia como kogonada , Tony Zhao               33

    e Taylor Ramos , acabou atraindo a atenção acadêmica . A                 34 35

    análise fílmica retornou veiculada como vídeo-ensaio, o que é                 

    estimulante e um formato de ensino fácil. Kristin Thompson, Jeff                   

    Smith e eu participamos dessa tendência através do nosso                 

    28 https://variety.com/2019/film/festivals/nyff-director-kent-jones-how-he-landed-the-irishman-premiere-1203347677/ 29 https://www.chicagofilmsociety.org/ 30 https://cinema.wisc.edu/ 31 https://www.google.com/search?q=steenbeck+editing+machines&client=safari&rls=en&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwio_6yJmprnAhWNK80KHdluC1gQ_AUoAnoECA0QBA&biw=1460&bih=850 32 http://www.cinemetrics.lv/ 33 http://kogonada.com/ 34 https://www.youtube.com/user/everyframeapainting 35 https://filmstudiesforfree.blogspot.com/2012/03/video-essays-and-scholarly-remix-film.html 

    15 

    https://variety.com/2019/film/festivals/nyff-director-kent-jones-how-he-landed-the-irishman-premiere-1203347677/https://variety.com/2019/film/festivals/nyff-director-kent-jones-how-he-landed-the-irishman-premiere-1203347677/https://www.chicagofilmsociety.org/https://cinema.wisc.edu/https://www.google.com/search?q=steenbeck+editing+machines&client=safari&rls=en&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwio_6yJmprnAhWNK80KHdluC1gQ_AUoAnoECA0QBA&biw=1460&bih=850http://www.cinemetrics.lv/http://kogonada.com/https://www.youtube.com/user/everyframeapaintinghttps://www.youtube.com/user/everyframeapaintinghttps://filmstudiesforfree.blogspot.com/2012/03/video-essays-and-scholarly-remix-film.html

  • trabalho com a Criterion e ocasionalmente com algumas aulas em                   

    vídeo linkadas ao meu site. 36

    Tudo isso foi possível através de uma revolução digital, ou                   

    evolução, e devemos ser gratos. Ainda assim, o streaming filtra                   

    muito do que queremos estudar. É notável que, apesar de todas as                       

    suas deficiências, a mídia física foi nosso melhor compromisso                 

    para manter viva a herança da análise crítica e histórica do                     

    cinema. Perdemos em grande parte os filmes físicos como um                   

    meio contemporâneo. (Quantos jovens estudantes ou cineastas             

    lidaram com uma cópia 35mm?) Agora, perder DVDs e Blu-rays é                     

    perder oportunidades preciosas de entender como os filmes               

    funcionam e funcionam em nós mesmos. 

    Agradecimentos a todos os arquivistas, colecionadores e             

    companheiros de investigação que fazem nossas pesquisas tão               

    frutíferas e desfrutáveis em uma era pré-digital.  

    Uma boa entrevista sobre o streaming como negócio neste 

    momento é "O futuro do entretenimento" , no The Economist. 37

     

    Kristin Thompson discute ainda sobre a fantasia do Multiplex 

    Celestial com os arquivistas Schawn Belston e Mike Pogorzelski. 38

    Por exemplo, como assistir a um filme lentamente, vá aqui . 39

    Amostras de mesas de edição vá aqui e especialmente na série 40

    de posts sobre a Library of Congress que começa aqui . Em uma 41

    outra postagem eu discuto o uso do 3D em Disque M para Matar. 42

     

    P.S. 24 de janeiro de 2020 - E então apareceu isso: 

     

    36 https://vimeo.com/user14337401 37 https://www.economist.com/briefing/2019/11/14/the-future-of-entertainment 38 http://www.davidbordwell.net/blog/2007/03/27/the-celestial-multiplex/ 39 http://www.davidbordwell.net/blog/2007/07/22/watching-movies-very-very-slowly/ 40 http://www.davidbordwell.net/blog/2013/01/22/sometimes-two-shots/ 41 http://www.davidbordwell.net/blog/2017/04/02/movies-in-the-mountain-and-on-the-machine/ 42 http://www.davidbordwell.net/blog/2012/09/07/dial-m-for-murder-hitchcock-frets-not-at-his-narrow-room/ 

    16 

    https://vimeo.com/user14337401https://vimeo.com/user14337401https://www.economist.com/briefing/2019/11/14/the-future-of-entertainmenthttp://www.davidbordwell.net/blog/2007/03/27/the-celestial-multiplex/http://www.davidbordwell.net/blog/2007/03/27/the-celestial-multiplex/http://www.davidbordwell.net/blog/2007/07/22/watching-movies-very-very-slowly/http://www.davidbordwell.net/blog/2013/01/22/sometimes-two-shots/http://www.davidbordwell.net/blog/2017/04/02/movies-in-the-mountain-and-on-the-machine/http://www.davidbordwell.net/blog/2012/09/07/dial-m-for-murder-hitchcock-frets-not-at-his-narrow-room/

  •  43

    Do Twitter da Netflix: "Incrivelmente animado e honrado em anunciar que 

    O Irlandês, História de um Casamento, Indústria Americana e Atlantics se 

    juntarão à @Criterion Collection no final deste ano." 

     44

    Disque M para Matar (Dial M for Murder, 1954). 

     

     

    43 http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/image001.jpg 44 http://www.davidbordwell.net/blog/wp-content/uploads/Dial-M-Clock-600.jpg 

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