pulp feek #09

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Marlon Teske, Victor Lorandi e Gabrielle Erudessa em mais uma edição da Semana Fantástica na Pulp Feek.

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Abrimos o terceiro mês da Pulp Feek, e vamos em frente com o projeto.

A Pulp é, para quem ainda não sabe, uma revista de literatura. Não uma revista de resenhas, mas uma revista que procura desenolver o cenário literário brasileiro. Pode parecer um exagero e uma pretensão ridícula e arrogante, mas nossa intenção é boa. Cremos que a leitura é parte essencial na formação das pessoas, e por isso queremos que novos autores brasileiros apareçam . E para isso, precisamos de novos leitores, e de uma equipe de apoio.

E é aí que você pode entrar, se quiser ajudar a revista. Para conti-nuar evoluindo, a revista precisa de uma equipe de Redatores, de uma equipe de Trabalho Gráfico e de uma equipe de Divulgação.

A função dos Redatores é escrever material não-ficcional para a revista. Resenhas, contato com os leitores e até notícias relevantes.

A função do Desenvolvimento Gráfico é auxilia nas artes usadas na revista. E a equipe de Divulgação tem como papel fazer a revista ser reconhecida e informar aqueles que já a conhecem dos acontecimentos, seja através da página de Facebook ou fechando parcerias.

Caso tenha interesse em nos ajudar em qualquer uma das fun-ções, basta que você nos informe através do inbox da nossa página do Facebook ou mandar um e-mail para [email protected].

E vamos em frente, sempre buscando um cenário melhor.

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PULP FEEK - #9

A QUEDA DE AQUERON - OS BECOS enquanto a estrela de Aqueron cai, a Sa-cra Doutrina tenta se manter de pé, sem se importar com o preço a ser pago por isso. -------------------------------------------------------------- Marlon Teske - Pág 3

RIXA - PARTE III a estrada ensina os que a seguem, e desta vez Marcus terá a chance de sentir o gosto de seus ensinamentos. ------------ Victor Lorandi - Pág 11

Séries

GÊNESE acompanhe essa lenda sobre quatro irmãos, com grande poderes e grandes planos. ------------------------------------------ Gabrielle Erudessa - Pag 23

One-Shot

FONTE DE INSPIRAÇÃO - ARMAS MEDIEVAIS Nesta semana conheça o lado psicopata de nosso editor-chefe e seu fanatismo, “inesperado” por Ar-mas Medievais, nesta que será uma série sobre o assunto começando pelas es-padas. ------------------------------------------------------- Lucas Rueles - Pág 39

Extra

Na Próxima Semana:

Notícias e fatos diretamente do mundo distópico de 4x2 por Alaor Rocha

E saiba mais sobre Deckard, o gatilho mais rápido do espaço.

Isso e as colunas de nossos Editores-Chefes e também algumas novidades, não percam.

COMO ESCREVER SOBRE - BLOQUEIO na coluna dessa semana nos-so Editor-Chefe mostrará os caminho para se livrar da crise criativa, o famo-so “bloqueio”, que assombra tantos autores. ---------------- Rafael Marx- Pág 47

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Arturo dava o polimento final em uma lente na qual havia trabalhado durante toda aquela semana, girando-a vez ou ou-

tra contra a luz da lamparina em busca de imperfeições. Era a última lâmina de vidro de uma sequência de três lentes côncavas, capazes de, num efeito óptico, aproximar imagens distantes várias e várias vezes. Com ela, provaria de vez a farsa da Igreja e talvez, enfim, obteria o per-dão de Ofélia, além de tranquilizar seu coração diante da ignomínia da Sacra Doutrina. Não via sua única amiga desde o dia em que discutira com ela so-bre a queda de Aqueron. Extremamente devota à Sacra Doutrina, a ga-rota benzia-se e orava por clemência a cada dia e a cada noite desde que o risco vermelho surgiu nos céus. Arturo, um cético de longa data, afirmara que aquilo caindo dos céus poderia ser qualquer coisa, menos uma pessoa imaginária que habitava sobre o manto celeste. Ela o acusou de heresia. Ele, de ignorância. Mal a mulher havia partido furiosa em direção à noite, sua mente já se agitava com possibilidades. Mestre vidraceiro desde os dezesseis anos, herdou a oficina e o ofí-cio do pai, mas seu intelecto, sem sombra de dúvidas, provinha da mãe, membro do clero da Sacra Doutrina. Foi através dos rascunhos e estudos dela que ele descobriu que a Fé não era nada além de fumaça e espelhos. Desanimado, viu a magia do mundo desmoronar diante de seus olhos de tal forma que rejeitou uma carreira invejável no clero para assumir o ofício do pai, plebeu e desconhecido, mas que, sob seu ponto de vista, lidava com uma das ciências mais fantásticas de seu tempo: a alquimia. O pai há muito se fora, mas ele próprio chegara aos trinta relativa-mente bem. Ainda possuía boa parte dos dentes, era magro e asseado.

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Seu cabelo começava a escassear na fronte, mas não podia se queixar dos anos. Quase não havia marcas de doença em seu rosto, e o castanho claro de sua barba lhe dava um ar cordial. Apenas seus pulmões já não eram mais os mesmos, e temia o próximo inverno. Sua mente divagava sobre isso enquanto encaixava as lentes em um tubo de cobre, uma após a outra, algo que iria potencializar seus efeitos. Quando se deu por satisfeito, virou-se na direção da janela e mirou Aqueron, procurando-o pelo céu. Foi difícil, a princípio, o foco da lente era tão distante que fazia com que o menor movimento de suas mãos o levasse por centenas de metros para um lado ou para o outro através do horizonte. Apoiou seus cotovelos sobre uma mesa, desencaixou e tornou a encaixar as lentes para uma segunda tentativa quando enfim o viu. Um sorriso de triunfo brotou em sua face pouco antes do barulho de pés explodirem de encontro à sua porta e um grupo de soldados aden-trar o lugar, dando-lhe voz de prisão. Ofélia estava com eles, os olhos vermelhos de tanto chorar. — O que significa isto? — perguntou, mesmo que já soubesse a res-posta. — É para o seu bem, Arturo. — disse Ofélia, e as lágrimas começa-ram a correr por seu rosto novamente. — E pela salvação de sua alma imortal.

(...)

Não havia um cheiro bom no ar, nem vento, tampouco o som de trombetas ou qualquer beleza para ser contemplada. Não havia nada

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disso ali. A bem da verdade é que era apenas um vão entre dois prostí-bulos. Sujo, miserável e molhado, como quase todo o resto do enclave de Castelo Azul. E, mesmo assim, era o palco de um pequeno milagre, e o berço de uma antiga maldição. Pessoas sisudas passavam todos os dias em frente ao lugar, sempre indiferentes, chapinhando pela estrada principal, chutando cachorros e ralhando com crianças enquanto iam de um lado para o outro, ocupa-das com seus próprios assuntos, mergulhadas em pensamentos egoístas. Sequer notavam a treva quase absoluta daquele canto, nem a força que permeava o ar. Os primeiros passos em direção à escuridão, de onde ninguém se aproximava, eram repletos de lixo e dejetos. Os últimos, de morte. Meia dúzia de corpos dos mais variados tipos e em diferentes estados de pu-trefação jaziam ali, roídos por roedores ou cães famintos, jogados uns sobre os outros desleixadamente. Todos vítimas de mortes horríveis e distintas. Doença, fome... e até mesmo um suicídio. E, agora, assassina-to. Apoiado na primeira muralha, que subia por quase quinze metros, isolando Castelo Azul do restante de Emperium, um homem ainda mor-ria, uma flecha enterrada em algum lugar em suas costas, a ponta de metal presa entre as costelas. A princípio, tentou arrancá-la. Algumas vezes esteve muito próximo de conseguir, mas seus dedos apenas roça-ram de leve o cabo da seta, milímetros além do ponto em que conseguia alcançar. Por fim, arrastou-se de volta até o beco e se resignou. É apenas uma outra vez. Mas a morte nunca vinha fácil. Naquela situação, até mesmo respirar

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doía. Não sentia mais suas pernas, tampouco suas mãos. A visão estava completamente turva pela perda de sangue, sentia um gosto amargo na língua e a sensação de seus músculos febris desistindo de viver subiam em calafrios. Era a parte ruim, e, de longe, a que Bartolomeu mais odia-va. Felizmente para ele, era passageira. Dentro em breve, a dor daria lugar à plácida inconsciência. Quando despertasse daquilo tudo, estaria bem. Fechou os olhos, procurando não pensar em mais nada, quando ouviu passos. Por um mero instante acreditou tratar-se de um sonho, mas um punho não tardou a trazê-lo de volta à realidade, erguendo-o do chão e o jogando contra as pedras da muralha. Eram quatro homens com espadas, vestindo um uniforme azul e dourado muito parecido com aquele que ele próprio usava, trazendo a mesma armadura e elmo com o brasão de Castelo em sua lapela: muros em torno de uma águia. Diante deles chegava o homem que o havia ferido de morte. Perguntou-se como conseguiu acertá-lo com uma flecha naquela distância. Estava prestes a deixar a Catedral quando sentiu o aço lhe mordendo a carne. Dali em diante, pouco a pouco, a dor. — É ele. — rosnou Lázarus diante do pequeno grupo vasculhando o lugar. Um dos soldados aproximava-se com o braço erguido trazendo a luz de uma lanterna a óleo. A cada novo corpo encontrado, o inquisidor que o acompanhava trincava mais os dentes pela ira. — Segurem-no. Bartolomeu tentou implorar por uma morte rápida, e lhe arranca-ram os dentes com os punhos das espadas por isso. Caiu sem forças, e no chão também o atingiram com chutes. Felizmente para ele, já era tarde demais para lhe impingir alguma punição pela dor. Não sentia

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quase mais nada, exceto o peculiar formigamento atrás da nuca. Estava escorregando para a morte. E, mesmo que não pudesse mais ver, ainda ouvia. A voz tonitruante do líder do grupo ecoava nas paredes sujas e dentro de seu próprio crânio. — Não o matem aqui, imbecis! — gritou. — Tirem-no do beco e o arrastem até o Portão dos Santos. — Não... — pediu Bartolomeu, tentando falar, mas sua voz era ape-nas um sussurro. — Não... — Não? — pilheriou o inquisidor com um sorriso feroz em sua face robusta, a barba rente bem cuidada, assim como seu caprichosamente costurado uniforme. Trazia uma espada a tiracolo, mas continuava ar-mado com a mesma balestra, girando lentamente uma manivela para puxar a corda e preparar um segundo disparo. — Quer que o deixemos aqui para que você possa continuar a assombrar esta cidade, monstro? O que eles acham que sabem? — perguntou-se Bartolomeu. Lamen-tava-se por seus erros, imaginando como haveria sido se não tivesse se deixado levar pela curiosidade durante o pronunciamento de Belze-quíades. Esteve tão próximo desta vez que falhar agora lhe parecia quase injusto. Mas ele tinha razão: era mesmo um amaldiçoado, um monstro sem direitos. Quase sem forças, foi agarrado pelos braços e puxado beco afora, arrastado pelo solo conspurcado em direção à lama da rua, e dali para além, até os portões por onde apenas os Diáconos da Sacra Doutri-na podiam trafegar.

(...)

— É aquela ali, a menorzinha de cabelos pretos. — falou a mulher

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suja com um meio decote que deixava a coroa dos seios à mostra. — A mãe morreu há dois anos, e desde então ela não fala com ninguém. Péricles já havia visto a garota antes em alguma das muitas noitadas que ele próprio havia passado naquele lugar. A zona de meretrício de Castelo Azul não existia oficialmente, mas era frequentada por boa par-te dos soldados da Guarda Celeste. E também pelo próprio clero, ainda que às escondidas. Tratava-se de uma menina magra, com uma crosta de sujeira sobre a pele, mas com aqueles olhos azuis tão fugidios que da-vam medo de olhar. Essa ai, sem dúvidas, tem o sangue dele — pensou. — Sabe — começou a mulher. —, é bem estranho isso de buscá-la agora. Em geral nós ficamos com todas as meninas e vocês só levam os garotos. Para transformá-los em soldados de pedra — pensou ele, mas não disse nada. Não devia explicações àquela mulher. E, de qualquer forma, ele próprio não sabia muito mais sobre sua missão além do mínimo que lhe foi dito. Jogou duas moedas novas para a mulher, o que tornou cla-ro que não iria responder qualquer outra pergunta. A prostituta deu de ombros, mordendo a moeda velha com o dente bom. Péricles ajoelhou-se ao lado da garota e, a meia voz, disse: — Vim buscá-la, criança. Mas não precisa ter medo, não vou lhe fa-zer mal. Nenhuma reação. Ela sequer o olhou nos olhos, mantendo-se per-dida em algum lugar além dos ombros dele. A megera começou a rir, e lembrou-lhe do que ela havia dito antes: — Ela é retardada, não fala com ninguém. Se quiser levá-la, jogue-a sobre os ombros e leve. Ela não vai nem reagir.

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E, de fato, não reagiu. Era bem mais leve do que ele havia imagina-do, e não esboçou a menor reação ao ser erguida daquela forma. Apesar de já ter algo próximo a treze anos de idade, tinha o corpo de uma me-nina de nove. Levou-a entre os braços, como faria com uma criança de colo, e, mesmo assim, ela continuou com o olhar perdido, fixo em um ponto qualquer. Péricles o procurou por algum tempo, mas tudo o que encontrou foi uma parede antiga, próxima às mesas da taverna, onde o reboco estava repleto de mensagens obscenas, escritas à de faca. — Aquilo não são para seus olhos, pequena — falou. Lembrava-lhe sua própria filha. Talvez até fosse bonita debaixo daquele emaranhado de cabelos sujos. — Venha, vou levá-la para conhecer seu pai.

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Boller olhou ao redor. A vila, mesmo sob a chuva torrencial, ainda fumegava.

— Bárbaros. — ele disse. — Como sabe? Boller apontou para um corpo no chão. Além de estar carbonizado, tinha uma machadinha cravada nas costas. — Quanta selvageria. — Fique perto. Os informantes de Pikkon dizem que Klorden veio por esses lados. Se ele se aliou aos bárbaros, pode ser que seja responsá-vel por isso. Um homem saiu de uma das casas despedaçadas. Ele usava vestes de fazendeiro. — Alto! — Boller gritou, sacando sua espada longa. O homem ergueu os braços. — Vocês são da Ordem de Ferro? — o homem perguntou. Boller aproximou o cavalo, sua espada apontada contra o homem. — Eu sou Senhor Boller, da Ordem de Ferro, sim. Este é Marcus. Quem é você? — Olek San’nnos, senhor. Eu sou de Sugra. — Você está longe de casa, Olek. O que aconteceu aqui? — Bárbaros, Senhor. Eles atacaram do nada. Pouco tempo faz. — E o que você está fazendo aqui? — Eu vim fazer trocas. Boller embainhou a espada e Olek abaixou os braços. — Você viu eles, Olek? — Boller perguntou. — Sim. Um grupo pequeno. Cinco ou seis bárbaros e um homem

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estranho com eles. Boller se virou no cavalo, encarando Marcus. — Um mago. — Marcus disse. Olek concordou. — Sim. Ele convocou as chamas que destruíram a vila. Os bárbaros pareciam seguir sua vontade. Marcus viu algo se movendo atrás de uma das casas. — Senhor, não estamos sozinhos. Boller olhou ao redor. — Três deles aqui. Olek, suba no cavalo de Marcus. — Venha comi-go, escudeiro. O cavaleiro sacou sua arma Um grupo de bárbaros surgiu da mata ao redor e atrás das casas adiante. Eles avançaram ferozes sobre Boller. Seu cavalo relinchou. Bol-ler ergueu sua espada longa, descendo-a com força contra o bárbaro à frente do grupo. Sangue espirrou com pedaços de ossos. Marcus se encolheu ao ser atingido pelo espirro. Seu cavalo relinchou também, mas não se moveu. Ele segurou as rédeas com força, puxando o cavalo para trás, sem efeito. — Lute, maldição! — Olek gritou. Boller esporou seu cavalo e atropelou o segundo bárbaro. Eles não conseguiam ver todos, metidos no meio da vila como estavam. Eles po-deriam estar completamente circulados, não podiam saber ao certo. Marcus puxou seu espadim e o brandiu contra o bárbaro que avan-çava contra seu cavalo. O atacante defendeu com facilidade o ataque e trespassou seu cavalo com a machadinha rudimentar, derrubando Mar-

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cus e Olek na lama. — Maldição, garoto! — Olek gritou ao se erguer da lama. Marcus, sentindo um impulso desconhecido, puxou a adaga de sua bota, arma dada a ele por Boller, e saltou sobre o bárbaro que estava com sua atenção focada em Olek. Ele sentiu apenas o visco e o calor do sangue escorrendo entre seus dedos enquanto cortava a garganta do bárbaro, um urro inumano esca-pando entre as golfadas de sangue. Olek pegou a machadinha da mão fria e morta do bárbaro. — Agora sim, garoto! Marcus olhou ao redor, procurando Boller, mas não encontrou o homem. — Cuidado! — Olek gritou enquanto avançava na direção de Mar-cus. O garoto se jogou no chão e ouviu o choque dos machados. Ele ro-lou na lama e agarrou seu espadim, virando-se. O bárbaro e Olek esta-vam travados em uma disputa de força e Olek estava perdendo. Marcus avançou e perfurou o torso do bárbaro na única abertura que havia em seu colete de couro. Ele sabia que o espadim não penetra-ria no couro endurecido, então atacou o único lugar que parecia macio o suficiente, logo abaixou do ombro. O bárbaro urrou de dor e fraquejou. Olek o empurrou com vontade e avançou, fúria em seus olhos. Ele cravou o machado no crânio do bár-baro com tal força que não conseguia mais retirá-lo. — Temos de encontrar Senhor Boller! Ele vai nos proteger. — Perdeu a cabeça, garoto? Ele está indo diretamente na direção

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daquele mago! Nós vamos morrer se formos pra lá. Marcus olhou ao redor. Pelo momento, ele e Olek estavam a salvo. Nenhum bárbaro parecia estar correndo na direção deles. — Vamos, senhor Olek, nós temos de ajudar Boller. — Garoto, ele é um caçador de magos, ele sabe se cuidar. — Mas ele é apenas um! Mesmo o mais proficiente e experiente ca-valeiro não tem mil braços. Vamos! — Eu não queria morrer aqui quando eles passaram a primeira vez, moleque! O que te faz pensar que eu vou morrer agora? Marcus ignorou Olek e pegou a machadinha da mão do bárbaro morto, guardando seu espadim. Caminhou até o outro bárbaro, aquele que Boller derrubou, e pegou a outra machadinha. Sem ter onde guar-dá-la, ele empunhou as duas armas, inseguro se saberia usá-las ou não. — Não faça isso, garoto. Vai morrer. — Pelo menos morro lutando, covarde. Marcus correu na direção em que ele tinha visto Boller pela última vez. Ele sabia que estava na rota certa quando encontrou três bárbaros mortos. Um deles segurava um arco. Havia um maço de flechas ao redor de sua cabeça, muitas delas partidas. Ele seguiu adiante, se enfiando nos pequenos vãos entre as casas, evitando as vias principais, agora ouvindo urros e o choque de armas. Acelerando o passo, Marcus alcançou a saída norte da vila, uma estrada inclinada. Boller estava no terreno inferior, em desvantagem. Três bár-baros atacavam o cavaleiro ao mesmo tempo, mas ele conseguia se de-fender. Quando ele dava passos para trás, os três paravam e esperavam a iniciativa do cavaleiro.

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Marcus hesitou. Onde estava o mago? Ele olhou ao redor. Muito acima dos bárbaros estava o mago. Era um homem velho coberto por um capuz cinzento. Ele gritava ordens aos bárbaros em sua língua. Se Marcus pudesse passar despercebido pe-los bárbaros, talvez pudesse matar o mago. Boller, entretanto, tinha outros planos. Ele arremessou a espada lon-ga contra um dos bárbaros, sem efeito algum. Marcus entrou em pânico, se perguntando o que diabos Boller estava pensando. O cavaleiro pareceu surpreso com o resultado de seu ataque, procu-rando ao redor por algo com o que se defender. Os bárbaros riram. O mago, no entanto, não parecia convencido. O primeiro bárbaro desceu devagar, machadinha em mão. Ele sabia como usar a arma. Marcus segurou suas machadinhas com força, per-guntando-se se deveria ajudar o cavaleiro. Não era possível que Boller fosse tão estúpido. Quando o bárbaro girou o machado, Boller pode apenas usar os braços para se defender. Marcus não podia olhar. O som foi de metal estilhaçando, mas quem gritou foi o bárbaro. Boller estava em pé, um sorriso em seu rosto. As manoplas esta-vam intactas. Ele agarrou o bárbaro com uma mão e com a outra ata-cou usando a manopla. Elas eram barbadas, como Marcus havia sentido quando as manejou de forma incorreta naquela manhã. O bárbaro gri-tou de dor, mas Boller não parou. Acertou mais dois golpes no bárbaro antes de soltá-lo, morto, no chão. Agora eram os bárbaros que andavam para trás, relutantes. — Desistam. Eu vou matar o mago. E se ficarem no meu caminho,

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matarei vocês também. Não precisam morrer por esse verme. Os bárbaros se entreolharam, desconfiados. Um deles saiu correndo para o mato que rodeava a estrada, perdendo-se de vista rapidamente. O último bárbaro, no entanto, se endireitou e segurou o machado com mais firmeza. — Eu sou Arkos, cavaleiro. Lembre do meu nome quando chegar no céu. — Eu sou Boller, Arkos. Lembre-se do meu quando chegar no infer-no. Arkos avançou com cautela, mas veloz. Boller correu em sua dire-ção. O mago se moveu. Marcus decidiu tomar ação naquele momento, esgueirando-se o melhor possível por trás das estruturas e entre as plan-tas até os dois lutadores. Se ele pudesse ocupar Arkos, Boller o derruba-ria e poderia ir atrás do mago. Os dois homens se engajaram em uma luta estranha, com empur-rões, chutes e socos. Todas as vezes que Boller atacava com suas mano-plas, Arkos se afastava. Marcus se esgueirou o máximo possível e espe-rou o momento certo. Quanto Arkos estava de costas, Marcus saltou de seu esconderijo. Houve um momento de confusão onde Arkos deu um passo para esquerda, Marcus brandiu as machadinhas em sua direção e Boller avan-çou com suas manoplas.Marcus atingiu a parte de trás do joelho de Arkos com uma machadi-nha e a outra bateu na perna de Boller, desviada pela armadura. Boller por sua vez, acertou um soco em cheio em Arkos, arrancado metade de seu rosto enquanto Arkos cravou sua machadinha no braço de Boller.

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Os três rolaram no chão. Boller e Arkos gemiam de dor. Marcus, caído no chão, estava preso pelas pernas dos outros dois. Foi quando o mago voltou. — Maldição, Marcus, saia daqui! Me dê espaço, ele vai atacar! — Mova-se, Arkos! — o mago gritou. Marcus tentou se soltar, sem sucesso. Arkos estava gemendo de dor no chão, segurando o joelho com uma mão e o rosto com outra. Boller não conseguia se levantar, visto que sua perna estava presa à de Arkos e a outra a um braço de Marcus. De repente, o mundo escureceu e Marcus sentiu o ar sumir. Não havia luz, não havia ar, apenas calor e umidade. Ele lutou, esperneou, tentou escapar, mas o chão pareceu sumir. Ele não conseguia ver nada nem ouvir a chuva que antes açoitava o mundo até poucos instantes. Ele começou a se desesperar. Ele sentiu a armadu-ra de Boller e se agarrou ao cavaleiro, esperando que o homem soubesse o que fazer. Mas ele sentiu, pelos movimentos do cavaleiro, que nem ele sabia o que estava acontecendo. Ele se debatia, tentando se libertar da escuri-dão, assim como Marcus. Com a cabeça prestes a explodir e os pulmões ardendo pela falta de ar, Marcus soltou um grito, mas não ouviu nada. Ele pensou no passado. Lembrou os tempos que passou no Castelo treinando para ser escudeiro. Ele tinha tido esperanças de aventuras, mas não esperava morrer em sua primeira missão. Luz e ar vieram novamente, queimando seus olhos e garganta. Ele tossiu com força, respirando com gosto. O cheiro era de lama e grama

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fresca. Boller levantou, se desvencilhando facilmente. Ele olhou ao redor, perturbado e tossindo. À margem da vila estava Olek. Ele segurava o arco em uma mão, um olhar de pedra para além dos guerreiros. Marcus seguiu seu olhar e viu o corpo do mago estirado no chão, uma flecha cravada em seu peito. Então, era assim fácil? Boller correu até o mago segurando seu braço e se debruçou sobre ele. Marcus se levantou com a ajuda de Olek. Seu corpo estava coberto de lama. Boller também. Ele olhou para o chão e viu Arkos. O homem não respirava. — Eu sempre achei que era mais difícil matar um mago. Uma flecha. Achei que só ia conseguir distrair ele e salvar vocês. Uma pena. Marcus recuperou suas machadinhas. Ele não se sentia pronto para andar apenas com seu espadim. Boller levantou e andou de volta aos dois. — Parece que o acertou em cheio, Olek. Obrigado pela ajuda. — Disponha. — E agora, Senhor? Nós devíamos levar ele de volta vivo, não? Boller assobiou com força. Seu cavalo apareceu por entre as casas da vila. — Não exatamente. Se tivermos que derrubá-los, nós devemos fazê-lo. Pelo menos matamos este. Vamos voltar pra casa. Pikkon terá uma nova missão para nós. Espero que ela já tenha decido quanto a meu ir-mão.

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Marcus olhou ao redor, vendo o sangue se misturar com a lama. Olek viu que o garoto observava o campo de batalha. — A vida de um cavaleiro é essa, garoto. Sangue e lama. Suor e lá-grimas. Tristeza. — Para onde você vai agora? — Boller perguntou, retirando sua capa enlameada e jogando-a sobre o cavalo. — Eu vou voltar para Sugra. Minha família me espera lá. — Faça boa viagem. — Marcus disse. — Obrigado, garoto. — Onde está seu cavalo, escudeiro? — Boller perguntou, olhando ao redor. — Um bárbaro o matou. — Maldição. Vamos, temos de pegar o equipamento dele. Será uma longa jornada com apenas um cavalo. — Tem cavalos no estábulo. Os bárbaros não os matam. Creem que traz má sorte. — Bem, um deles matou o cavalo de Marcus, então deve ser verda-de. Obrigado novamente, Olek. Boa sorte em sua viagem. O homem se despediu dos dois e pegou o arco, partindo sem olhar para trás. — Será que ele vai ficar bem? — Sim. — Boller disse. — Nós temos de voltar também. Venha, va-mos pegar um cavalo para você. Obrigado pela ajuda. Marcus sorriu, sentindo-se orgulhoso pela sua coragem. — Espero que não se repita, escudeiro. O sorriso do garoto se desmanchou.

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— Arkos me feriu com o golpe desalinhado dele. Se você não tives-se atacado naquele momento, eu estaria bem. Vou aplicar um curativo enquanto você pega seu cavalo. E pensa no que fez. Marcus foi ao estábulo, cabisbaixo.

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Gênese Gabrielle Erudessa

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Eram quatro irmãos Magos, herdeiros do reino: duas mulheres e dois homens. Cada qual chamava a atenção do seu próprio modo.

A quarta irmã, Arevam, estava sempre a explorar as ruínas encon-tradas no reino, com um sexto sentido incrível para descobrir coisas que pudessem fortificá-lo.

O terceiro irmão, Revni, poucas vezes era visto, imerso em experimen-tos mágicos e alquímicos, preferindo a companhia de frias paredes de pe-dra à companhia das pessoas, embora se importasse muito com o povo de sua pátria, provavelmente, o que pais se importava entre os quatro.

A segunda irmã, Notuo, era tranquila e quieta, geralmente era encon-trada dormindo em meio aos jardins, mas possuía um cérebro inteligente e recheado de conselhos sábios.

O primeiro irmão, Arev, era o mais brilhante e ambicioso dos quatro, e quase sempre acompanhava Arevam em suas aventuras, raramente ne-gando algo que a caçula pedia.

Apesar de tudo isso, nem mesmo seu próprio povo se enganava. Os quatro eram poderosos, chamados de A Última Defesa De Aisnemdia, sua pátria, e muitos inimigos tinham caído por suas mãos ao ousarem atacar seu lar, e muitos cairiam se o reino decidisse expandir as fronteiras. Além disso, conheciam as terras de Aisnemdia e arredores como se fossem ani-mais ali crescidos. Seus olhos mágicos estavam pousados em cada canto, e nada — ou quase nada — lhes escapava.

Uns dizem que foi no outono, outros dizem que foi no inverno, quan-do seus pais morreram devido a alguma doença ainda desconhecida na-queles dias. Aisnemdia temeu que uma guerra civil se iniciasse entre os

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Gênese Gabrielle Erudessa

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quatro irmãos em busca do trono, mesmo que este pertencesse, por direito, a Arev, o mais velho.

Arev surpreendeu ao dizer que não desejava reinar sozinho.Notuo alegou que não fora feita para reinar sozinha.Revni disse importar-se apenas com suas pesquisas e o que elas po-

diam fazer pelo povo.E Arevam...Arevam não era encontrada em lugar nenhum do reino.A quarta Maga havia sumido. Bem debaixo dos olhos mágicos de seus

irmãos.

— Acharam algum sinal dela? — Notuo assustou-se ao ver que a voz cheia de desespero pertencia a Arev. Parecia estranho, ver o irmão de cabelos louros como o sol, olhos de um amarelado escuro e pele quei-mada, não demonstrar sua determinação habitual.

— As regiões sul e oeste de Aisnemdia estão limpas. Nem mesmo vestígios. — a segunda respondeu, baixando os olhos castanho-outono com tristeza, algumas mechas do cabelo castanho claro se soltando da trança com o movimento, se perguntando o que ocorrera com a amada caçula.

— O norte e o leste também. Alguma pista com o povo? — a voz de Revni era baixa e controlada, combinando com sua pele pálida de veias azuladas, cabelo castanho escuro preso num coque e olhos azul-vidro. Círculos escuros estavam abaixo de seus olhos. Dos três, parecia o mais cansado.

— Nada. Ninguém viu nada. — Arev parou por um instante, re-

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moendo o nada que tinham encontrado até agora. — Como ela sumiu debaixo de nossos narizes?

Ficaram em silêncio por alguns minutos, refletindo como de fato aquilo fora possível.

— Será que Arevam fugiu? — Notuo levantou a questão, cautelosa. — É a única coisa plausível para explicar como passou por nós.

A pergunta ficou no ar, enquanto Revni olhava através da janela do quarto do mais velho, observando a cidade se expandindo ao redor do palácio até quase perder de vista. Estavam os três em silêncio, pensan-do se a irmã que conheciam seria capaz daquilo, de simplesmente fugir após a morte dos pais.

— Talvez ela ainda esteja aqui... — sussurrou o terceiro, desviando o olhar da cidade para os irmãos.

— Reviramos o palácio e o reino, Revni. Não existem sequer vestí-gios. Ninguém viu ou ouviu nada. — o primeiro respondeu, girando os olhos e cruzando os braços. O rapaz de cabelos castanhos balançou a cabeça.

— As fundações do palácio são antigas. Estavam aqui antes que nos-sos antepassados fundassem a cidade. É quase como se existisse outra cidade debaixo do palácio. — deu uma pausa. — Vocês sabem como ela gosta de explorar ruínas.

Arev ergueu uma sobrancelha.— Você parece saber muito...— Encontrei uma entrada por acidente. Venho explorando devagar.

— deu de ombros.— E não nos contou? — havia clara indignação na voz de Notuo.

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Novamente, Revni deu de ombros.— Estava vendo se valia a pena falar sobre. — parou por um instan-

te. — Talvez Arevam tenha encontrado uma entrada por acidente, como eu, e tenha se perdido. Aquele lugar é um verdadeiro labirinto. Podía-mos ir verificar.

Os dois mais velhos se olharam, pensando na proposta do terceiro, a simples troca de olhares de poucos segundos contendo uma conversa longa, o suficiente para tomarem a decisão.

Com um suspiro, concordaram com a ideia de Revni com um ba-lançar de cabeça. Era, de fato, a última esperança deles de descobrir o que acontecera com a caçula.

Revni os guiou para a torre onde costumava realizar suas pesquisas, mas em vez de subir a longa escadaria em caracol, desceu, criando uma bola de luz para guiá-los no escuro que se adensava conforme desciam os degraus.

— Estamos indo para um dos depósitos, não é? — Notuo pergun-tou, sua voz doce de alguém com sono ecoando nas paredes como a canção de uma ninfa.

— Sim. Faz menos de um mês que encontrei a tal entrada. Estava procurando uma planta específica para o anestésico que estou pesqui-sando atualmente. — Revni podia não demonstrar com seu jeito sério, mas se preocupava com o povo, contribuindo enormemente para a me-dicina com suas investigações. Sem algumas de suas descobertas, certas doenças poderiam ter se espalhado como fogo em mato seco e destruí-do o reino.

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Quando alcançaram o final da escadaria, o terceiro irmão estralou os dedos, e tochas se acenderam pelo amplo salão em forma de caixa, com barris, estantes e caixotes espalhados por todo o lugar. Apesar do difícil acesso, o lugar estava bem cuidado, sem mofo, umidade ou teias de aranhas correndo o risco de infectar e estragar os alimentos, ervas e remédios armazenados.

— O que é aquilo? — antes mesmo que o terceiro pensasse em abrir a entrada que encontrara, Arev apontou para a parede mais distante, onde um buraco negro quebrava o cinza claro das pedras que formavam as paredes do depósito.

— A entrada que achei. — Revni ergueu uma sobrancelha. — Eu tinha deixado-a fechada, então presumo que Arevam ou algum servo tenha encontrado e deixado aberta. — o Mago começou a andar na di-reção da passagem, mandando a bola de luz à frente, os irmãos quase correndo para acompanhar os passos largos que suas pernas compridas davam — ele era o mais alto de todos.

— Os criados reviraram o palácio. Por que ninguém nos falou sobre a passagem, se ela está aberta desde o sumiço da Arevam? — a voz da segunda estava preenchida com irritação.

— Eles praticamente esqueceram que esse depósito existe, já que só eu uso e não gosto que venham aqui, correndo o risco de bagunçarem tudo. Só está tão limpo por causa dos meus feitiços. — sem se deter pelo escuro iluminado somente por uma luz minúscula, Revni adentrou a passagem.

Arev e Notuo se entreolharam com receio e então correram para al-cançar o foco luminoso que se afastava cada vez mais, com medo de se

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perderem do único que já tinha ao menos adentrado o lugar.

— Estão ouvindo isso? — Revni parou de repente.Eles já tinham virado em dezenas de corredores, seguindo AMs bri-

lhantes que Arevam deixara para marcar o caminho, deixando as pró-prias assinaturas para tal, mas ainda não tinham encontrado a irmã. Com o aviso do terceiro, os dois mais velhos pararam de falar sobre o que fariam com relação ao reino, independente de encontrarem a caçula ou não, prestando atenção ao que seus ouvidos captavam.

Sons de passos apressados que seguiam na direção deles atingiram seus tímpanos. Se entreolhando, trocando palavras com breves relances de olhares, os três se deram as mãos e Revni desfez o globo de luz, espe-rando.

Passaram-se alguns minutos, e então, uma bola de luz surgiu lá na frente. Conforme se aproximou, no meio da luminosidade gerada, re-conheceram os cabelos cor de ébano e a pele morena de sol de Arevam, um sorriso delicado nos lábios. Parecia cansada e um pouco mais magra que o normal, mas, ainda assim, bem.

Respirando aliviado, Revni criou de novo a bola de luz. Ao vê-los, um sorriso enorme surgiu no rosto da caçula, que correu na direção de-les, se jogando na direção Notuo num abraço apertado.

— O que você estava pensando, sumindo assim?! Ficamos preo-cupados! — Arev falou, irritação mesclada com alívio na voz, antes de puxar a irmã para abraçá-lo, soltando-a da segunda.

— Desculpe, mas o que encontrei... Eu tinha de descobrir como ati-var!

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— Ativar o que? — a voz de Revni estava cautelosa. Rindo, ainda no abraço do mais velho, Arevam virou-se para ele.

— Eu não sei o que faz, as inscrições estão ilegíveis.— Você não ativou? — a segunda irmã virou seu rosto, olhando-a

seriamente nos olhos bicolores: um castanho escuro, o outro esverdea-do.

— Não consigo sozinha. Finalmente deduzi que precisa de mais três Magos. Por isso estava indo buscar vocês.

Os três mais velhos se entreolharam, pensando se era prudente ati-var o que quer que fosse aquilo que a caçula encontrara, e os três olhares diziam que era melhor voltar para o palácio e então discutir cuidadosa-mente o que fazer sobre o que quer que Arevam havia encontrado.

Arev, como o mais velho, daria o veredicto final, mas assim que viu a expressão de cachorro sem dono que a caçula fez quando a olhou, de-sistiu dessa resposta.

— Vamos logo. — mal falou isso, Revni e Notuo dardejaram olhares com raios de fogo em sua direção, mas antes que pudessem de fato in-vocar raios de fogo da ponta dos dedos, Arevam começou a puxá-lo na direção de onde tinha vindo.

Era um salão circular, de teto abobadado. O chão era fosco, cheio de sulcos que iam em direção ao centro do salão, e ao olhar, Arev pen-sou por um instante que pudesse ver um abismo profundo abaixo dele. Havia inscrições ao longo das paredes, a maior parte impossível de ser decifrada, corroídas pela água, separadas pela entrada do corredor de onde tinham vindo e por quatro painéis que eles identificaram facil-

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mente como retratando os Senhores Elementais em suas formas mais ancestrais, com pontos centrais e depressivos mais ou menos na altura dos ombros nesses painéis, com depressões semelhantes às do solo par-tindo desses lugares, se ligando aos sulcos do chão e percorrendo todo o teto abobadado, convergindo para o centro, logo acima do mesmo ponto.

— OK, Arevam... O que você descobriu? — Revni perguntou, relati-vamente mais calmo quando a curiosidade mordeu seu cérebro ao che-garem ao salão, analisando o painel que retratava o Senhor Elemental da Água.

— Para ativar... Isso... É preciso ativar os quatro painéis com a Magia Elemental correspondente.

— Senhor Elemental do Fogo, usar Magia Elemental do Fogo, e as-sim por diante... — Arev deduziu, parado diante do painel que ele aca-bara de falar, deslizando os dedos pelos sulcos que percorriam o mural.

— Exato. Primeiro eu tentei sozinha, mas os painéis se apagavam assim que eu partia para o próximo. — ela parou diante do painel que representava o Senhor Elemental da Terra, sorrindo. — Foi quando per-cebi que precisava ativar os quatro ao mesmo tempo.

— E um Mago só consegue usar uma Magia Elemental por vez. — Notuo falou, mais calma ao, como o terceiro, a curiosidade ter tomado conta dela ao vislumbrar o salão, andando na direção do painel que re-presentava o Senhor Elemental do Vento, um riso leve na voz enquanto admirava o trabalho.

— Exato. Por isso ia procurá-los. — a caçula deu uma pausa. — Va-mos ou não? — com a ausência de resposta negativa, um enorme sor-

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riso se abriu em seu rosto. — Coloquem as mãos nesse ponto central e direcionem a Magia Elemental correspondente para ele ao mesmo tem-po. — ela fez como disse que deviam fazer, embora ainda não tivesse começado a direcionar a Magia.

— Prontos? — a voz de Arev ecoou, os irmãos concordando com um resmungo que ele mal ouviu.

Os quatro, imediatamente, começaram a utilizar a Magia Elemental correspondente, direcionando-a para o ponto onde suas mãos estavam.

Os painéis começaram a se colorir, a voltar ao que eram antes da decadência daquele lugar. As cores eram tão harmoniosas que era quase como se os próprios Senhores Elementais tivessem pintado os murais.

Quando os quatro painéis estavam completamente de volta à vida, as inscrições se iluminaram, gravadas de novo na pedra como se nunca houvessem sido apagadas, e um som de água corrente começou a surgir, cada vez mais forte, até se estabilizar num sussurro tranquilizante.

— Acho que podemos parar... — Arev falou, parando o fluxo de Ma-gia e se voltando para observar as consequências do que tinham feito.

No ponto central do salão, uma coluna de água corria de baixo para cima, a água vinda desde os sulcos no chão, correndo então pelos sulcos do teto ao alcançá-lo, por entre as inscrições e os painéis, alcançando de novo o chão e assim num eterno ciclo. O chão, agora viam, era quase como vidro, filtrando uma luz multicolorida que refletia na água e trans-formava o lugar num sonho desperto, embora não pudessem definir de onde exatamente vinha aquela luz multicolorida e ondulante.

— De onde vem a luz? — Revni perguntou, se ajoelhando. A água não o molhou, quase como se houvesse uma fina película cobrindo as

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depressões.— Eu não sei... Ah, deuses... — a voz de Notuo atraiu a atenção dos

outros três, que ergueram a cabeça para ver a irmã, com uma das mãos encolhidas de encontro ao peito, olhando para a coluna de água com assombro.

— O que foi? — o primeiro irmão perguntou, se aproximando.— E-eu não sei... Eu coloquei minha mão dentro da coluna e... E...

— a irmã respirou fundo, o olhando atentamente. — Eu juro que senti o sol, tão quente quanto o do deserto, atingir a minha pele, e não a água...

Arev parou diante da coluna da água, analisando-a. Então estendeu a mão para a irmã quando tomou sua decisão: relativamente arriscada, mas necessária.

— Me segure. — assim que ela segurou sua mão com força, ele en-fiou a cabeça dentro da água, fechando os olhos e segurando a respira-ção.

Não a sentiu se molhar, experimentando puxar uma lufada de ar, confirmando que estava em um lugar seco. Quando abriu os olhos, não viu deserto, mas sim uma cidade majestosa e gigantesca, mil vezes maior que seu palácio — que estava longe de ser pequeno –, feita de mármore branco, com mosaicos feitos de pedras preciosas reluzindo ao sol. Aci-ma de um prédio, ele viu quando um ser longo e coberto de escamas coloridas, gigantesco, transformou-se em algo similar a ele, outros simi-lares àquele monstro voando pelo céu da cidade.

Seu queixo caiu, enquanto apertava com mais força a mão de Notuo e se puxava para trás com certa dificuldade, agradecendo que ninguém estava por perto para, provavelmente, ver uma cabeça flutuando no ar.

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Estava de volta ao salão. Revni e Arevam analisavam as inscrições avidamente.

— E então? — a segunda perguntou, os olhos do tamanho de pratos.— Uma cidade. Maravilhosa, feita de mármore com pedras precio-

sas do tamanho de ovos formando mosaicos. E seres... Eu não sei o que eram. Mas as escamas que cobriam seus corpos eram magníficas. — ha-via deslumbramento em sua voz.

— Era uma dimensão paralela. — Arevam falou, os olhos e as mãos percorrendo as inscrições como se elas fossem um oásis no deserto. — Esse... Equipamento... Permite que a gente vá para outras dimensões... E existem mais, espalhados pelo reino e em outros lugares do mundo... As localizações estão escritas aqui... — a voz da caçula era a voz de uma criança que ganhou um doce.

— E aqui tem instruções de como construir outros, inclusive de como fazer versões menores, que podem ser carregadas para outras di-mensões, para podermos voltar. — a voz de Revni era tão ou mais ma-ravilhada que a de Arevam. — Os conhecimentos dessas dimensões... As plantas, a medicina... Tudo que poderia trazer de benefício para o nosso povo... — Revni andou na direção do centro, a voz maravilhada e os olhos brilhando com inteligência.

— As riquezas, a Magia e os poderes naturais de seus habitantes... — havia um tom de cobiça na voz de Arev, expondo seu lado ambicioso.

— As riquezas de sua história... — a voz de Arevam estava embarga-da de emoção, correndo na direção dos irmãos, os olhos meio perdidos.

— Poderíamos comerciar com eles, conseguir mais recursos para dominar os inimigos de Aisnemdia mais facilmente... — Notuo falou,

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aconchegando a cabeça da irmã no ombro.Arev riu, fazendo-os pular.— Comerciar? Você tem ideia do poder que temos aqui, irmã? —

fitou os rostos dos irmãos, passando os braços em torno dos ombros da segunda e do terceiro. — Aisnemdia já é o reino mais poderoso de nosso mundo. Por que nos limitar a um único mundo? — ali estava, seu lado brilhante aliado à ambição.

— Está sugerindo que dominemos as outras dimensões? — Notuo piscou, incrédula.

— Por que não? Estaríamos unindo povos diferentes sobre uma mesma bandeira, dividindo conhecimentos por um bem maior. Apenas o comércio pode não ser suficiente para manter a paz, além de não sa-bermos como os outros povos aceitariam habitantes de outras dimen-sões. Juntando tudo num único império...

— Mas e se eles forem mais fortes que nós? — Revni ergueu uma sobrancelha para o irmão, que riu de novo.

— Por isso vamos conquistar e absorver os demais reinos daqui pri-meiro, enquanto enviamos exploradores para algumas dimensões, para analisar quais conquistar primeiro... Imagino que, se não essas inscri-ções, as dos outros portais possam dizer como marcar uma dimensão específica como destino. — Arev ria, feliz com a ideia.

— Com nós quatro dirigindo esse império, em que absorveríamos os outros povos, poderíamos dar uma vida boa a todos... Vocês sabem, Aisnemdia é o único lugar em nosso mundo em que não existe misé-ria... Poderíamos evitar que outros povos tivessem isso... — a caçula fa-lou, estranhamente tímida.

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— Você me entendeu, Arevam. — Arev sorriu para a caçula, bagun-çando seu cabelo e arrancando um sorriso aberto.

Revni franziu as sobrancelhas.— Mas não vamos viver para sempre, irmão. Se um de nós morrer

em algum momento, ou nós quatro... Essa utopia vai se quebrar.— Para isso também os exploradores... Precisamos nos tornar deu-

ses. — um sorriso que beirava a loucura surgiu no rosto de Arev. — E tenho certeza de que alguma dimensão possui esse segredo.

Os quatro estavam seguindo de volta pelo caminho por onde ti-nham vindo. Aparentemente, aquele salão era o centro das ruínas, pois agora uma estranha luz multicolorida parecia irradiar das paredes, sen-do desnecessário que usassem sua própria magia.

— Precisamos de um nome para o império...Arevam falou de repente, pensativa.Os irmãos se entreolharam, parando o olhar em Notuo, a que me-

lhor dava nome às coisas entre eles, que sorriu.— Que tal Dominadores de Dimensões?Revni ergueu uma sobrancelha, um ar incrédulo no rosto. Notuo

voltou a sorrir.— Nós dominaremos dimensões. Para que enfeitar muito, se po-

demos simplesmente falar a verdade, enchendo os povos das outras di-mensões de medo ao ouvirem sobre nós, quando a fama se espalhar?

— Você tem razão... — Arev falou, rindo, abraçando os irmãos pe-los ombros. — A verdade nua e crua é muito melhor...

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E os Quatro Irmãos Magos dominaram dimensões e dimensões, e se tornaram deuses, e até hoje dominam dimensões e evoluem e se tornam cada vez mais poderosos.

Isso posso garantir, pois vejo com meus próprios olhos, cada vez que sou tirada de minha cela para que eles usem de meu poder.

Mas se realmente o Império dos Dominadores de Dimensões é o pa-raíso com o qual eles sonharam no início...

Isso é outra história. Para quando meus libertadores chegarem.Eles vão chegar, de outras dimensões.Eu sei disso.Eu vi.Assim como vi outra centena de dimensões e a história dos Quatro

Irmãos antes que me encontrassem.

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As Espadas Definida como uma longa haste de ferro forjada e afiada, a espada foi usada em muitas civilizações. Sua construção é basicamente forma-da por uma lâmina e um cabo, com uma ou duas extremidades para golpear e cortar, e uma ponta para estocar. Apesar da intenção da esgrima ter permanecido basicamente o mes-mo ao redor dos séculos, as técnicas atuais variam entre as culturas e pe-ríodos como resultado dos diferentes projetos de laminas e propósito a elas dados. O combate com a espada não era tão bárbaro e bruto como é muitas vezes retratado. Sistemas codificados de lutas existiram com uma varie-dade de estilos e professores cada fornecendo um aspecto diferente para a arte da esgrima. A espada era uma arma rápida, eficaz e versátil, capaz de golpes mortais. Com destaque entre outras armas de uso militar, como o arco ou a lança, a espada tem seu uso puramente para a guerra, sendo símbolo para esta, e também em muitas culturas se tornando a representação do poder do estado. Na alta idade média a sociedade era estamental, ou seja, se dividia em classes fechadas e imóveis de servos, clero e nobreza. Aos servos cabia o lugar mais baixo dessa sociedade, a função de trabalhar para si e para os nobres e o clero. Ao clero cabia a função de rezar e orientar a sociedade em como se organizar. E aos nobres a tarefa de proteger essa sociedade através da guerra. Por isso logo as armas se tornaram símbolo de poder, dessa nobreza.

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Os nomes dados as espadas na mitologia, literatura e história refle-tem o alto prestigio desta arma. Um dos exemplos que podem ser cita-dos é a Excalibur do ciclo arturiano que dá o tom da história ao escolher o homem que governara a Bretanha.

Sword Arming¹

As “Sword Arming” é a única espada cruciforme de uma mão só da Alta idade Média, de uso comum entre 1000 e 1350 e, caindo quase em desuso no século XVI. São normalmente consideradas descendentes das espadas do período de migração “bárbara” e dos Vikings. Normalmente usada em acompanhamento com um escudo, era a espada militar padrão de um cavaleiro (apenas referida neste caso como “Espada de Guerra”, um título ambíguo dado a vários tipos de espadas fabricadas para batalha), até que algumas mudanças tecnológicas leva-ram a ascensão do modelo de Espada Longa no final do século XII. Há muitos textos e imagens que retratam eficaz combate com esta espada, sem o beneficio de um escudo. De acordo com os textos medie-vais na ausência de um escudo, normalmente o esquerdo, a mão vazia poderia ser usada para agarrar ou até mesmo golpear o adversário. Esta espada foi bastante versátil, usada tanto para corte ou para es-tocadas, dando ao seu usuário um excelente equilíbrio. Embora uma variedade de “design” tenha sido nomeada como Sword Arming, elas são normalmente definidas como espadas de uma mão, com dois gumes que foram projetados para o corte com empurrão. A maioria das lâmi-

[NT¹: Possivelmente poderia ser traduzida como Espada do Armamento, porém o nome é muito genéri-co, por isso preferi utilizar o nome original]

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nas do século XII-XIV parece variar entre 30 e 32 lâminas de polegada. Como regra geral, conforme o tempo esta espada começou a se tor-nar cada vez mais fina e apontada, ou mais longa e pesada. Isto refle-te dois métodos diferentes de adaptação encontrados para enfrentar as armaduras cada vez mais resistentes, seja tentando fazer lâminas mais pesada a fim de causar trauma através das armaduras, ou lâminas pon-tudas para perfurá-la. Sem duvida alguma essas duas formas acabaram por dar origem a Espada longa e a cimitarra.

Cimitarra A cimitarra (Alfanjes) é uma espada de uma mão de um único gume de origem européia, cujo design lembra a cimitarra persa. A arma combina o peso e o poder de um machado com a versatilidade de uma espada. Alfanjes são encontrados em diferentes formas a partir de em tor-no do século XI até o século XVI. Em algumas versões a cimitarra mais parece um Scramasax², ou em outra um sabre, algumas versões apre-sentam formas irregulares, ou se assemelham a um facão com guarda. Enquanto alguns propõem que os encontros com o Shamshir³ islâmico inspirou a sua criação, estas “cimitarras” da Pérsia não foram desenvol-vidas até muito tempo depois da cimitarra européia. O mais provável, foi que ela tenha se desenvolvido a partir das facas de fazendeiro ou de açougueiro. Sua forma concentra o peso na parte final da espada, tornado-a mais eficaz para cortes em armaduras, e em outras superfícies. O desenho desta lâmina variou através do continente e dos tempos. Quase sempre [NA²: Espécie de Facão][NA³: Espada Persa em formato curvo, cujo nome significa basicamente Espada]

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possuía uma única aresta de corte com uma ligeira curva na lâmina que se estendia até a ponta, muitas delas tinham também uma guarda cruci-forme como suas contemporâneas espadas longas. Presume-se que estas espadas tinham uma qualidade mais baixa que a média das espadas longas, estas mais caras. Existe também a possibili-dade de que eles fossem usados como ferramentas entre guerras e lutas, uma vez que eram peças práticas. É bem possível que estas fossem as armas preferidas de camponeses, mas também é uma arma que aparece frequentemente em ilustrações entre cavaleiros montados.

Espadas Longas

A espada longa é um tipo de espada utilizada na Europa durante o período final da idade média, cerca de 1350-1550 (com uso precoce e tardio chegando até os séculos XII e XVII). Com punhos longos cru-ciformes que variavam de 25 a 38 centímetros, tendo espaço suficiente para as duas mãos. Tinham lâminas retas de dois gumes que variavam entre 1 e 1,20 metros de comprimento e pesavam tipicamente entre 1,2 e 2,4 kg. O combate com esta espada era realizado com as duas mãos, em-bora dependendo do usuário ou da espada ela pudesse ser usada com uma única mão. Espadas longas são usadas cortando, esfaqueando, ou até mesmo golpeando, para isso se utilizava a guarda ou o punho da es-pada. Era uma espada versátil, onde todos os seus elementos poderiam ser usados para atacar. A espada com o cabo e lâmina mais longos, parece ter se tornado

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popular durante o século XIV e seu uso se tornou comum durante o pe-ríodo de 1250-1550. Seu uso principal era o combate de infantaria pes-soal, porém, era uma arma de poli-uso, e foi valorizada pela sua adapta-bilidade e capacidade de matar. Existiam diversas formas para estas espadas, porém ela normalmen-te apresentava algumas partes essenciais. A lâmina da espada era geral-mente de dois gumes, com uma variedade de tamanhos. As mais largas e finas eram utilizadas para obter cortes mais eficientes e orientados, enquanto as grossas tinham como fim a perfuração da armadura. A construção da lâmina é relativamente delicada, com uma força fornecida pela geometria cuidadosa. Ao longo do tempo elas se tornam mais longas e espessas quando vistas em corte transversal, menos larga, o que dá a espada uma configuração mais pontuda. Essas modificações ocorreram devido a necessidade de romper o sistema complexo de de-fesa das armaduras (do qual falarei em um artigo futuro). No entanto a capacidade de corte da espada nunca foi completamente removida, po-rém, foi consideravelmente superada pela capacidade de perfurar. Entre as variações de construção, a mais comum era a utilização da meia cana e lâminas de base oca. Ambos consistiam em retirar material da lâmina, porém, cada qual se preocupava em retirar uma quantidade metal de certa área da lâmina, se preocupando para não danificar a re-sistência dela. Existia também, uma grande variedade de estilos para as empunha-duras da espada-longa entre eles aqueles com e sem guarda, mudando ao longo do tempo para acomodar diferentes propriedades da lâmina e para atender as tendências estilísticas emergentes.

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Normalmente o combate com esta arma era normalmente realizado com as duas mãos no punho, deixando uma pequena folga entre a guar-da e a mão. No entanto, em algumas circunstancias, a arma poderia ser usada apenas com uma mão. Em uma representação de um duelo, os indivíduos poderiam ser visto empunhando espadas longas pontiagu-das em uma mão, deixando a outra mão livre para manipular o escudo grande de duelo. Outra variação do uso advém do uso da armadura. Meia-espada foi uma maneira de usar as duas mãos, uma no punho e uma lâmina, para melhor controlar a arma em golpes e jabs. Esta variabilidade é única, como varias obras sustentam a espada longa forneceu as bases para a aprendizagem de muitas outras armas, incluindo lanças, bastões e ala-bardas. O uso da espada no ataque, entretanto, não se limita apenas ao uso da lâmina, como vários pergaminhos da idade média explicam, o pu-nho e a guarda poderiam ser usados como armas ofensivas. A guarda em formato cruz foi muitas vezes usada como um gancho para fazer o adversário tropeçar no manejo de sua espada, ou ainda bater na lâmina tirando dele o equilíbrio.

[NA: Sou um profundo fã de Armas, principalmente medievais, eu já tive a honra de brandir uma das presentes nesta lista, uma réplica de espada bastarda (Espada Longa), mais precisamente uma réplica da Andúril do personagem Aragorn da Mitologia Tolkiana.]

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A folha em branco é o terror do autor. Ela incomodo, fere, machu-ca o escritor. É muito difícil lidar com a ausência de ideias. Mas ela, em parte, é um mito. O famoso “branco”, a crise criativa que todos os autores passam em algum momento de suas vidas, é na verdade uma falta de motivação. Os escritores já estão cansados de saber que não existe inspiração sem transpiração. Como, então, lidar com essa crise?A melhor forma é limpar a mente das antigas influências. Se com elas a criatividade não está funcionando, é hora de substituí-las por coisas novas. Ler um novo autor, ouvir uma banda que ainda não se conhecia, assistir uma série nova, todas essas são formas de renovar as influências. Porém, nem sempre a situação pode ser resolvida dessa maneira.Em algumas situações, a única forma de superar o bloqueio é com suor. Não adianta encarar a página e não escrever nada. É preciso começar a colocar palavras na folha, mesmo que para depois as alterar. Essa coluna por exemplo. Foi motivada por um bloqueio quanto ao que escrever a seguir sobre o assunto “dicas para escritores”. Veja bem: como autor dessa coluna, eu tenho ainda algum conhecimento que pos-so passar através dela. Entretanto, a crise no caso não é de falta, mas de excesso. Não saber para onde prosseguir é, em si, um grande causador de bloqueios, o qual muitos escritores tem que enfrentar. Suponhamos que em determinado momento seu personagem sal-vou o planeta, capturou o vilão, e conquistou sua amada. O normal se-ria encerrar a história ali, mas ainda existem ideias que você gostaria de aplicar, mas teoricamente não pode, pois a história está encerrada. E você não quer alterar o curso até o momento para as incluir.

Como Escrever Sobre Rafael Marx

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Como Escrever Sobre Rafael Marx

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Então, é hora de alterar seu paradigma. O vilão foi capturado para poder dar prosseguimento a um plano pessoal. O planeta, na verdade, ainda está em risco. E pior, a amada do herói se revela uma aliada do vilão. A história segue. Isso é chamado de “virada na trama”, ou no inglês “plot twist”. Mui-tos escritores acreditam que se trata, basicamente, de uma ferramenta para surpreender o leitor, quando a verdade é outra. A virada de trama é essencial para superar os bloqueios, pois altera os rumos da história que está sendo contada e permite ao autor usar novas ideias, diferentes daquelas que se esgotaram. Então é bem simples. Se você está, nesse momento, sem saber como continuar aquela sua história antiga, guardada no fundo da gaveta, res-gate-a e releia. Depois, pense como chacoalhar o mundo dos persona-gens, e volte a escrever. E pronto. Nunca mais você voltará a se preocu-par com um bloqueio.

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EDITORES-CHEFESLUCAS RUELESRAFAEL MARX

EDITORES SEMANAISERIC PAROJOÃO LEMESLUIZ LEALDIOGO MACHADO

DIAGRAMADORJOÃO LEMES

REVISORANDRÉ CANIATO

REDATOR-CHEFEALAN PORTO VIEIRA

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SEMANA HORROR

Horror: Amanda Ferrairo

Noir: Philippe Avellar

SEMANA FANTASIA MODERNA

Steampunk: Rafero Oliveira

Fantasia Urbana: Thiago Sgobero

AUTORES:

SEMANA FANTÁSTICA

Fantasia Épica: Marlon Teske

Espada e Magia: Victor Lorandi

SEMANA CIENTíFICA

Ficção Científica Social (Cyberpunk): Alaor Rocha

Ficção Científica Space Opera: Rodolfo Xavier

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